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AN ÁLISE E D ECISÃO D E IN VESTIM EN TO S ED U ARD O KO G A EDUARDO KOGA ANÁLISEANÁLISE Código Logístico I000116 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6557-8 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 5 7 8 Análise e decisão de investimentos Eduardo Koga IESDE BRASIL 2021 © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Octus_Photography/Sittipong Phokawattana/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ K84a Koga, Eduardo Análise e decisão de investimentos / Eduardo Koga. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 140 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6557-8 1. Finanças. 2. Investimentos - Análise. I. Título. 21-72353 CDD: 332.6 CDU: 330.322 Eduardo Koga Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Nove de Julho. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (USP). Professor no ensino superior em cursos de graduação e pós-graduação, ministrando as disciplinas de Mercado Financeiro, Custos e Formação de Preços, Matemática Financeira, Gestão Financeira, Fundamentos Contábeis e Financeiros. Atua também como gerente de produtos e consultor de empresas.. SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! 1 Introdução à análise de investimentos 9 1.1 O valor do dinheiro no tempo 10 1.2 Elementos das análises dos investimentos 16 1.3 Métodos de avaliações de projetos de investimentos 22 1.4 Técnicas de planejamento e controle de investimentos 29 2 Características de investimentos 37 2.1 Tipos e modalidades de investimento 37 2.2 Estrutura do processo de investimentos 45 2.3 Influências na decisão de como investir 52 2.4 Planejamento de investimentos 57 3 Critérios para decisão de investimentos 64 3.1 Comparativo entre os principais métodos 64 3.2 Índices de rentabilidade, financeiros e de lucratividade 67 3.3 Riscos de investimentos 72 3.4 Retorno de investimentos 77 3.5 Outras considerações sobre investimento 81 4 Administração do caixa e gestão de investimentos 88 4.1 Demonstrativos financeiros, balanço e DRE 89 4.2 Orçamentos de capital 92 4.3 Fluxo de Caixa 96 4.4 Relações entre Fluxo de Caixa e lucro 103 4.5 Principais índices para análise e decisão de investimentos 105 5 Financiamentos de projeto de investimento 113 5.1 Estrutura de capital de projetos 114 5.2 Custos de capital 118 5.3 Fontes de financiamento 124 5.4 Comparativo entre Project Finance e Corporate Finance 129 Resolução das atividades 136 Esta obra apresenta aspectos relacionados a investimentos e projetos de investimento. Trabalhamos com os conceitos básicos relacionados a investimentos, métodos de análise, avaliação e escolha de uma fonte de financiamento de recursos que seja consistente com as necessidades de recursos para custear um investimento ou projeto de investimento. No primeiro capítulo a nossa abordagem tem como foco apresentar os conceitos e as ferramentas básicas para planejamento, controle e análise de avaliação de projetos de investimentos. Esses conhecimentos permitem aos profissionais de áreas financeiras fundamentar suas escolhas no processo de tomadas de decisão que envolvam investimento. Os conceitos básicos não servem apenas para preparar os futuros profissionais quanto à fundamentação das suas decisões financeiras, mas também para compreender a inter-relação entre as atividades operacionais e financeiras de uma empresa. Isso ocorre porque qualquer projeto relacionado a um planejamento de empresa necessita da definição sobre como serão custeadas as atividades propostas (tanto operacionais quanto relacionadas a investimentos e seus benefícios). Essa compreensão permite ao profissional de qualquer área contribuir para a discussão e implementação de um investimento ou projeto de investimento. No segundo capítulo tratamos das definições do que realmente é considerado um investimento sob a ótica da ciência contábil/financeira e das características que diferenciam os tipos de investimentos, conforme as principais peculiaridades na forma como se estrutura o processo de investimentos em mercados (incluindo a intermediação financeira), como se caracterizam os tipos de investidores e sua adequação com os diversos tipos de investimentos, quais são os principais fatores que interferem na decisão de investir etc. Dessa forma, o leitor conhece, de modo sucinto, as etapas do planejamento e os objetivos de um projeto de investimento. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Análise e decisão de investimentos No terceiro capítulo propomos reflexões relacionadas a comparações entre diferentes critérios de análise e avaliação de projetos, indicadores, riscos e retornos, bem como a abordagens que fundamentam os processos de tomadas de decisão relativas à escolha da seleção sobre melhor investimento considerando as incertezas e os riscos entre os diferentes métodos abordados. No quarto capítulo apresentamos os principais conceitos a respeito da utilização de informações contábeis que são extraídas das demonstrações financeiras obrigatórias e não obrigatórias e que, posteriormente, são essenciais para a determinação dos indicadores financeiros e para a análise e avaliação, processos que servem para fundamentar o processo de tomada de decisão sobre investimentos. Esses conceitos nos permitem compreender diversos aspectos relacionados a um projeto de investimento, como se relacionam e como podem ser melhorados – por exemplo, como recursos que originam seus bens e direitos relativos a um projeto de investimento estão relacionados com as obrigações referentes a ele e como a alteração de transações pode melhorar o desempenho dos investimentos feitos em projetos. No quinto e último capítulo abordamos os principais conceitos relacionados aos recursos de longo prazo para financiar investimentos ou projetos de investimentos, incluindo sua estrutura e melhor composição, meios/ modalidades de operações e fontes de recursos, seus custos individuais e globais e aspectos relacionados a necessidades de valores muito elevados para a execução de um projeto, como o Project Finance. Com base em uma revisão de conceitos e fatores relacionados a processos de investimentos, trazemos nesta obra conteúdos que esclarecem e auxiliam a aprendizagem a respeito de investimentos, abrangendo desde a definição de conceitos básicos até a maneira de obter informações para utilizar, avaliar, analisar e selecionar um investimento, quais são os métodos utilizados nessa escolha, assim como aspectos relacionados à obtenção de financiamentos quando a empresa estiver em uma situação de déficit ou falta de recursos. Bons estudos! Introdução à análise de investimentos 9 1 Introdução à análise de investimentos É comum nos depararmos, em nosso cotidiano, com várias oportuni- dades e opções deatingir nossos objetivos financeiros no futuro. Conforme afirma Assaf Neto (2020), os diferentes tipos de investi- mentos estão relacionados aos aspectos envolvidos nas diferentes si- tuações internas, que determinaram a necessidade da realização de estudos 1 , ou seja, o que se objetiva conhecer é como um projeto de investimento de capital afeta ou é afetado por outras eventuais propostas. A seguir veremos algumas formas de investimento. Investimentos economicamente independentes Dois ou mais projetos de investimentos são considerados inde- pendentes quando a aceitação de um deles não implica a recusa ou a impossibilidade de aceitação de outra opção de investimentos, principalmente considerando o aspecto de não ocorrência de in- fluências entre receitas e gastos de um projeto com as outras op- ções disponíveis. Um exemplo exposto por Assaf Neto (2020) ilustra esse conceito. Imagine que uma empresa necessite adquirir apenas uma máquina para ampliar a produção e tenha duas propostas de investimentos para ob- ter essa máquina: a compra em definitivo ou a realização de uma operação de arrendamento mercantil (que em inglês é chamado de leasing). Se ambos os projetos de investimento forem satisfatórios na rela- ção risco/retorno e não houver restrições orçamentárias, deve-se realizar apenas um dos dois projetos propostos, pois a necessidade que se apresenta é a de adquirir apenas uma máquina para suprir o objetivo de aumentar a produção da empresa. É importante observar que a escolha de uma das opções não afeta financeiramente a escolha da outra. Nesse caso, a aceitação de uma das propostas, quando for neces- sária a aquisição de apenas uma máquina e se optar por uma das al- ternativas, automaticamente inviabiliza a realização da outra proposta, ou seja, adquirir uma máquina é suficiente para aumentar a produção, tornando desnecessária a aquisição da segunda máquina. Referem-se às situa- ções com as quais uma empresa pode se deparar no instante em que toma suas decisões de investimentos. 1 M ac ro ve ct or / Sh ut te rs to ck 40 Análise e decisão de investimentos Dessa forma, considera-se que as alternativas de investimento não são economicamente independentes, pois se observa que a seleção das alternativas não se baseou em características nas quais a escolha de uma opção afeta a adoção da outra sob o ponto de vista financeiro. Ou seja, o que afetou a não aceitação da outra opção foi o fato de que a necessidade de aumentar a produção foi satisfeita com a aquisição de apenas uma máquina. Observe agora o mesmo exemplo, porém considerando que a em- presa necessite de duas máquinas para aumentar a produção. Nessa situação, a aceitação de uma das opções não inviabiliza a es- colha da outra, pois são necessárias duas máquinas para se atingir a produção desejada, e se não há restrição orçamentária, pode ocorrer a efetivação conjunta dos dois projetos. Dessa forma, ambos são consi- derados investimentos economicamente independentes. Investimentos com restrição orçamentária Em situações nas quais se apresentam restrições orçamentárias, a escolha de uma opção ou de alguma das alternativas de investimento pode ter sua implementação impedida pela falta de recursos suficientes para desenvolver algum dos projetos apresentados. Nesse caso a im- plementação de uma das propostas é impossibilitada pela insuficiência de recursos, e não pela negativa de satisfação das necessidades ou dos objetivos que motivaram a escolha entre os projetos de investimento. Por esse motivo, é importante destacar que uma das causas co- muns para que investimentos não sejam aprovados, mesmo quando os projetos são economicamente independentes, é a falta de recursos. Investimentos economicamente dependentes Assaf Neto (2020) afirma que existem três situações em que dois ou mais investimentos podem ser julgados como economicamente dependentes: I. Projetos substitutos – ocorrem quando a aceitação de um projeto afeta, de maneira negativa, outro projeto. Nessa situação a escolha de uma opção interfere nos resultados líquidos das demais opções de investimentos, reduzindo as receitas ou aumentando os custos e as despesas. A escolha de qualquer uma das opções não impossibilita a escolha da outra sob o ponto de vista financeiro. Atenção M ac ro ve ct or / Sh ut te rs to ck M ac ro ve ct or / Sh ut te rs to ck Características de investimentos 41 II. Projetos complementares – são aqueles em que a adoção de um projeto exerce influências positivas em relação aos demais projetos, seja pelo aumento das receitas ou pela redução dos gastos. III. Projetos tecnologicamente dependentes – são aqueles nos quais a implementação de um projeto depende previamente do desenvolvimento de outro que forneça avanços tecnológicos que viabilizem economicamente o projeto que será implementado. Investimentos mutuamente excludentes Não devem ser confundidos com os investimentos economicamen- te independentes, pois, segundo Assaf Neto (2020), os investimentos são mutuamente excludentes quando a escolha de uma opção de in- vestimento exclui a oportunidade de seleção de outra pelo motivo de as propostas serem muito semelhantes, a ponto de externarem a mes- ma função. Qualquer que seja a escolha da empresa, seus objetivos serão atingidos. Por exemplo, imagine que uma empresa opte por substituir o layout de sua área comercial e decida por trocar suas instalações de modo que modernize e torne mais aconchegante esse ambiente para recep- cionar seus clientes. Considere que duas propostas de diferentes fabricantes de instala- ções semelhantes são apresentadas. Nesse caso, esses investimentos são mutuamente excludentes, pois, mesmo havendo vantagens que sejam melhores sob o ponto de vista econômico, a aprovação de uma opção não deve ser efetuada pelo fato de que se preferiu escolher a outra. Investimentos com dependência estatística Os investimentos com dependência estatística são descritos por Assaf Neto (2020) como aqueles em que se identifica a manifestação de oscilações comuns em seus resultados conforme o tempo varia. Desse modo, comportamentos nos benefícios de caixa de um tipo de investimento fazem com que esses mesmos comportamentos se re- pitam nas variações nos benefícios das outras opções de investimentos semelhantes. M ac ro ve ct or / Sh ut te rs to ck M ac ro ve ct or / Sh ut te rs to ck 42 Análise e decisão de investimentos Por exemplo, investimentos para a produção de bens direcionados ao comércio exterior são classificados como independentes economi- camente. No entanto, o desempenho de diferentes alternativas está sujeito à influência dos mesmos eventos externos, por exemplo, a va- riação de moedas conversíveis, como o dólar americano e o euro, e o fato de que os negócios se referem ao comércio exterior. Para ilustrar, podemos imaginar uma indústria que atua no setor automotivo. Quando a empresa decide entre várias alternativas de in- vestimento para a produção de peças de reposição para veículos, com o objetivo de atender à demanda do mercado externo, qualquer que seja a opção de investimento escolhida, esta será afetada pela variação do câmbio: a empresa apresentará uma lucratividade maior em moeda nacional quando o real estiver desvalorizado diante da moeda estran- geira (nessa situação são necessários mais reais para trocar por uma unidade de moeda estrangeira), ou seja, a receita apurada em moeda estrangeira apresentará um volume maior quando for convertida para moeda local. Quando ocorrer uma situação inversa e a conversão do câmbio for desfavorável para a exportação, ocorrerá um lucro menor expresso em moeda local. Conforme apontam Gitman e Joenk (2005), também podemos dis- tinguir os indivíduos de empresas e governos, de acordo com a clas- sificação dos tipos de investidores. Desse modo, os investidores são agrupados à medida que se verifica quem investe e a que os recursos a serem investidos se referem:• Investidores individuais – são aqueles que administram recur- sos próprios e particulares para alcançar seus objetivos finan- ceiros específicos, geralmente direcionados a obter retornos financeiros sobre recursos ociosos para conseguir fontes de ren- da mais seguras no futuro e obter tranquilidade financeira pes- soal e para a família. • Investidores institucionais – são investidores especializados que são profissionais contratados para gerenciar recursos finan- ceiros de outras pessoas ou organizações, sejam elas públicas (governo) ou privadas (empresas). Investidores institucionais são profissionais especializados, pois negociam volumes maiores de recursos e também atuam na gestão Características de investimentos 43 de recursos no mercado financeiro. Tais profissionais possuem um conhecimento específico de características de produtos, sobretudo no que diz respeito à gestão de rentabilidade das alternativas de in- vestimento, e, ao se associarem às incertezas e aos riscos, assumem uma modalidade de investimentos do mercado financeiro. Outro aspecto importante que diferencia o investidor institucional do investidor individual é a complexidade que algumas das modalida- des de investimentos apresentam, pois a maior especialização e conhe- cimentos mais aprofundados permitem que o investidor institucional atue em qualquer tipo de projeto ou alternativa de investimento, do mais simples ao mais complexo. No mercado financeiro há uma ampla diversidade de modalidades de investimentos, que podem ser de prazos longos ou curtos, ter renda fixa ou variável e apresentar alto ou baixo risco; além disso, podem ser títulos públicos ou privados. Com tantas modalidades de investimento disponíveis no mercado financei- ro, qual a melhor alternativa a ser indicada para um investidor? Esse questionamento pode ter várias respostas. Os investimentos a serem indicados devem ser coerentes com as características próprias de cada investidor, pois o retorno de um investimento é proporcional ao risco que um investimento apresenta. Para aplicar os recursos em modalidades de investimentos, inicial- mente é importante compreender o conceito de juros ou encargos pré-fixados ou pós-fixados. Assaf Neto (2017) aponta que a diferenciação entre encargos pré-fi- xados e pós-fixados é a forma de rentabilização. • Quando um investimento for pré-fixado, isso significa que ele apresenta uma rentabilidade conhecida e preestabelecida, de acordo com uma expectativa ou prefixação. • Quanto a encargo pós-fixado, o investimento terá a rentabilida- de atrelada a um indexador que varia até a data do vencimento da operação financeira, ou seja, o investidor só saberá o valor da rentabilidade do investimento na data final da operação, de acordo com o comportamento do indexador a que a operação estiver atrelada. A aversão ou resiliência em relação a possíveis perdas deve ser compa- tível com o perfil de cada investidor. Atenção 44 Análise e decisão de investimentos No mercado financeiro uma forma de classificar um investimento é feita em duas categorias: renda fixa e renda variável. A principal característica de um investimento em renda fixa é a pos- sibilidade de existir um vínculo com um indexador com encargos pós- -fixados ou pré-fixados. Caso sejam encargos pós-fixados, é possível ao investidor definir uma estimativa de rentabilidade no momento ini- cial da aplicação de recursos. Em se tratando de encargos pré-fixados, o valor do resgate já é conhecido no momento da aplicação. As princi- pais alternativas de investimento em renda fixa no mercado são: • Certificados de Depósitos Bancários (CDB); • Recibos de Depósitos Bancários (RDB); • debêntures; • Letras de Câmbio; • Letras de Crédito Imobiliário (LCI); • Letras de Crédito do Agronegócio (LCA); • títulos do Tesouro Direto; • fundos de investimentos de renda fixa. Um ponto importante que devemos saber sobre as operações de ren- da fixa é a atuação do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que garante ao investidor os valores aplicados até um limite definido por investidor. Para caracterizar um investimento de renda variável, é importante mencionar o aspecto de imprevisibilidade de rentabilidade desse tipo de investimento, que é afetado pela oscilação de aspectos incontro- láveis, como políticas macroeconômicas, oscilações da economia in- ternacional, ações da alta gestão de uma empresa, leis, movimentos sociais, movimentações políticas etc. As modalidades de investimentos mais conhecidas em renda variá- vel no mercado brasileiro são: • ações; • mercado de derivativos da B3; • fundos de investimentos em ações; • fundos multimercados (compostos de carteiras de títulos de ren- da fixa e renda variável). A maioria das aplicações de renda fixa no mercado financeiro brasileiro são garantidas pelo FGC, que tem o propósito de aumentar a confia- bilidade das operações no mercado financeiro, protegendo os depositan- tes e investidores dentro de limites pré-definidos e contribuindo, dessa ma- neira, para a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional. Para conhecer os principais aspectos do FGC, acesse o link a seguir. Disponível em: https://www.fgc. org.br/. Acesso em: 18 maio 2021. Saiba mais https://www.fgc.org.br/ https://www.fgc.org.br/ Características de investimentos 45 O conhecimento das principais modalidades de investimentos no mercado financeiro e do modo como são rentabilizadas ou indexadas é importante para entender a adequação das expectativas de risco e ganho de cada tipo de investidor, seja ele um investidor individual ou institucional. A razão da importância é que há situações em que os recursos dis- poníveis excedem a necessidade a ser consumida num projeto de in- vestimentos e, portanto, esse excedente de recursos deve ser aplicado em uma modalidade de investimentos. Igualmente relevante é o fato de que cada alternativa de investi- mento é importante para melhor compreensão da forma como funcio- na a estrutura do processo de investimentos, pois há ocasiões em que não se dispõe de todos os recursos para realizar um projeto de inves- timentos. Dessa forma, é essencial verificar qual a melhor estrutura do processo de obtenção de recursos faltantes para ser utilizada e qual a melhor composição entre capital próprio e capital de terceiros. 2.2 Estrutura do processo de investimentos Vídeo Para compreender a dinâmica de como funciona a estrutura do pro- cesso de investimentos, vamos nos basear na hipótese de que você, leitor, é o responsável por analisar a possibilidade de sua empresa in- vestir e, portanto, deve executar um projeto de investimento e exercer a gestão financeira da empresa nesse projeto. Nesse contexto, sua análise se inicia com o levantamento de infor- mações relacionadas ao montante de recursos necessários. Verifica-se se o capital disponível na empresa é suficiente para o empreendimento ou se haverá a necessidade de buscar recursos de terceiros para suprir eventuais necessidades. Dessa maneira, evidencia-se a importância de conhecer como se movimentam os capitais no mercado financeiro, e para isso é essencial entender como funciona a estrutura do processo de investimentos e captação de recursos. 46 Análise e decisão de investimentos Gomes (2013) aponta que a preocupação do investidor se inicia com a estimativa do volume necessário para executar um projeto de inves- timento, definindo um orçamento para a identificação de todos itens e seus respectivos gastos para se aplicar de maneira correta os recursos. Nesse processo, também se leva em consideração o prazo de exe- cução para dimensionar se haverá disponibilidade dos recursos pró- prios por toda a extensão do projeto a ser executado ou se haverá a necessidade de se obter recursos de terceiros, para suprir eventuais faltas de recursos na execução do projeto. Consequentemente, é importante que o leitor esteja familiarizado com o funcionamento da dinâmica de captação e investimentos nomercado financeiro, associando quais modalidades de operações são mais adequadas aos projetos analisados e quais são as instituições que operam com essas modalidades. Gitman e Joenk (2005) declaram que a estrutura do processo de investi- mento no mercado financeiro agrupa os investidores ou fornecedores de recursos e os tomadores ou demandantes de capitais de uma sociedade. Nesse contexto, o mercado financeiro é descrito como sendo um ambiente controlado e regulamentado ou um local onde investidores (agentes superavitários) e tomadores de recursos (agentes deficitários) realizam as transferências de recursos por meio dos intermediários fi- nanceiros ou, de maneira direta, sem intermediários. Devemos frisar a importância de se atuar num ambiente controlado (atuação de órgãos fiscalizadores, como o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários), supervisionado (acompanhamento operacio- nal dos participantes de mercado) e regulamentado (com regras que definem o funcionamento dos mercados), pois essas condições dão se- gurança e credibilidade às operações realizadas. Assaf Neto (2018) aponta a importância da intermediação financeira ao promover um maior dinamismo à economia, ao possibilitar a aloca- ção de recursos dos agentes superavitários em operações de investi- mentos e a transferência desses recursos para os agentes deficitários. Para o autor, um exemplo de como ocorre a intermediação finan- ceira é quando uma instituição financeira atua como fornecedora de recursos e também como demandante de recursos. Características de investimentos 47 Intermediação financeira Agentes deficitários (demandantes de recursos) tomam recursos Agentes superavitários (investidores) aplicam recursos excedentes Instituição financeira capta recursos Fonte: Elaborada pelo autor. Figura 1 Processo de intermediação financeira A Figura 1 representa uma instituição financeira que atua como intermediária financeira, que capta recursos dos agentes superavi- tários da economia (investidores) e os repassa aos agentes econômi- cos deficitários (demandantes de recursos), os quais, no vencimento da operação, devolvem o dinheiro para a instituição financeira, que paga a remuneração aos investidores, e ainda lucram com a intermediação. Carrete e Tavares (2019) explicam que os investidores são atraí- dos pela remuneração representada pelo pagamento de juros. Esses recursos, obtidos com investidores, são repassados diretamente aos tomadores de recursos, por meio de operações de empréstimos nas quais são cobrados juros maiores (em relação aos juros pagos aos investidores). Assim, Carrete e Tavares (2019) explicam que o spread é formado pela diferença entre os juros cobrados nas operações de emprésti- mo e os juros pagos aos investidores ou poupadores, tendo como intermediário financeiro a instituição financeira que faz a interme- diação de recursos no mercado financeiro entre agentes deficitários e agentes superavitários. Essa inter-relação de intermediação de recursos pode ser verifi- cada no exemplo de um banco comercial na Figura 2. 48 Análise e decisão de investimentos Agente superavitário Agente deficitário (4) Resgate ($) (3) Vencimento ($) Captação Aplicação (2) Empréstimo ($)(1) Investimento ($) Banco comercial Fonte: Elaborada pelo autor. Figura 2 Exemplo de intermediação financeira no mercado brasileiro Na Figura 2, um banco comercial capta recursos por meio de um procedimento no qual um cliente superavitário realiza uma operação de investimento (1), disponibilizando recursos para que a instituição financeira contrate uma operação de empréstimo (2) com um cliente deficitário. No vencimento (3), esse agente deficitário devolve os recur- sos à instituição financeira acrescidos dos juros contratados. Com os recursos pagos pelo tomador de recursos, a instituição financeira de- volve (4) o valor investido acrescido dos juros ao cliente superavitário. A diferença entre o que é cobrado do agente deficitário (juros do em- préstimo) e o que é pago ao investidor (custo de captação) é o ganho dessa intermediação no mercado e se constitui no spread praticado pela instituição financeira. Há diversos tipos de instituições financeiras que podem atuar como intermediários financeiros: as corretoras e distribuidoras de investi- mentos; as financeiras; os bancos de investimentos ou bancos múltiplos com carteiras de investimentos; os bancos comerciais de investimentos ou bancos múltiplos com carteiras comerciais; entre outras. Todos as operações de intermediação financeira têm em comum promover a transferência de recursos de agentes superavitários para os agentes deficitários, que podem ter uma multiplicidade de finalidades para o uso dos recursos, como cobertura de capital de giro, compra de máquinas e equipamentos, projetos de expansão etc. Uma questão a ser respondida no processo de investimento é: quem são os participantes no processo de investimento? Quando uma instituição financeira realiza opera- ções de financiamentos ou de empréstimos, elas são conhecidas internamente como operações ativas, pois geram direitos futuros sobre os tomadores de recursos e, por essa razão, estão registradas no ativo da instituição financeira como direitos ou receitas a receber. De maneira análoga, quando uma instituição financeira é tomadora de recursos, realizando uma operação de captação de recursos, essa operação se constitui numa obrigação, que é registrada no passivo da instituição financeira (ob- serva-se que a instituição financeira deve restituir o valor captado com o investidor acrescido de juros); por esse motivo, as operações de captações são conhecidas interna- mente como operações passivas. Curiosidade Características de investimentos 49 Gitman e Joenk (2005) respondem a essa questão ao descrever os participantes como sendo Governo, empresas e indivíduos Nesse contexto, é importante destacar que os integrantes no pro- cesso de investimentos têm como característica mais importante a sua atuação, tanto como agentes superavitários quanto como agentes defi- citários, conforme destacam Gitman e Joenk (2005). • O Governo é um demandante costumeiro de recursos (agente deficitário), pois os projetos de longo prazo, como obras relacio- nadas a construções de rodovias, hospitais, habitações popu- lares, pontes, viadutos, entre outras, em geral são realizados e custeados por captações de recursos vinculados a emissões de títulos públicos federais (observa-se que atualmente os estados e municípios estão proibidos de emitir títulos públicos com a finali- dade de custear suas operações). Outra forma de o Governo captar recursos é representada pela arrecadação de impostos, sobretudo para custear os gastos ope- racionais relacionados a manter as atividades típicas da atuação pública, por exemplo, o pagamento de funcionários e a prestação de serviços à sociedade, como serviços da saúde, da segurança, da educação, entre outros 2 . Eventualmente, o Estado adquire características de agente supe- ravitário quando tem a posse de recursos transitórios e ociosos temporariamente. Para maximizar a eficiência do uso desses re- cursos, o Governo pode investi-los em operações de investimento de curto prazo até que sejam necessários para serem utilizados. • Nas empresas também é comum a necessidade de recursos (agentes deficitários) para amparar as necessidades financeiras, como: capital de giro; aquisição de máquinas, equipamentos e instalações; abertura de filiais; reformas; aquisições de patentes; empresas; entre outras. Assim como no caso do Estado, as empresas também podem ser fornecedoras de recursos (agentes superavitários) quando aplicam seus excedentes de caixa em instituições financeiras ou, eventualmente, em empresas não financeiras, adquirindo valo- res mobiliários como ações, debêntures ou outra espécie de títu- lo emitido por empresas não financeiras. Quando os gastos extra- polam valores definidos no orçamento,na esfera federal, é utilizada a emis- são de títulos públicos para cobrir os valores que ultrapassam os valores orçados. 2 50 Análise e decisão de investimentos • Nos indivíduos da sociedade é comum observarmos operações de financiamentos de bens de diversos tipos, como eletrodomés- ticos, móveis, automóveis, imóveis, entre outros, por grande par- te da sociedade. Também entre os indivíduos podemos verificar a ocorrência de agentes superavitários que investem os recursos excedentes em operações em contas de poupança, títulos de instituições finan- ceiras, ações etc. Existem operações no mercado financeiro realizadas de maneira direta entre agentes superavitários e agentes deficitários. Nesse caso, a negociação ocorre sem a intermediação de uma instituição financei- ra, conforme é mostrado na Figura 3. Agente superavitário Agente deficitário Figura 3 Transferência direta entre um agente superavitário e um agente deficitário na economia Investimento ($) Benefícios futuros ($) Fonte: Elaborada pelo autor. Na Figura 3, o investidor investe recursos com o objetivo de usufruir dos benefícios futuros que o agente deficitário proporcionará ao inves- tidor. A estrutura de projetos de investimentos mais comum encontra- da nas organizações é aquela em que se mesclam recursos próprios e recursos de terceiros. Um orçamento é a ferramenta que auxilia os gestores de uma em- presa que o utilizam para se orientar e ter uma visão geral no processo de elaboração de um projeto de investimentos. Com base na definição da necessidade de recursos para execução de um projeto de investimento, são levantados os valores dos capitais necessários e analisadas as formas de se obter recursos, se for verifica- da uma situação que caracterize uma insuficiência de fundos para exe- cução dos projetos. O esquema para a utilização do orçamento como ferramenta que permita uma visualização geral da necessidade de re- cursos próprios e de terceiros é ilustrado na Figura 4. No Brasil, não é permitida a emissão de títulos públi- cos nas esferas de poder municipal e estadual, pois atualmente a captação de recursos só é praticada em nível federal, desde a regulamentação da Lei da Responsabilidade Fiscal. A realidade de diversos estados e municípios no Brasil é a de uma situação de desequilíbrio orça- mentário, com falta de recursos para saldar seus débitos. Para saber mais, acesse o link a seguir. Disponível em: https://memoria. ebc.com.br/agenciabrasil/ noticia/2013-02-21/governo- federal-nao-pretende-autorizar- que-estados-e-municipios- emitam-titulos-publicos. Acesso em: 18 maio 2021. Saiba mais https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-02-21/governo-federal-nao-pretende-autorizar-que-estados-e-municipios-emitam-titulos-publicos https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-02-21/governo-federal-nao-pretende-autorizar-que-estados-e-municipios-emitam-titulos-publicos https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-02-21/governo-federal-nao-pretende-autorizar-que-estados-e-municipios-emitam-titulos-publicos https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-02-21/governo-federal-nao-pretende-autorizar-que-estados-e-municipios-emitam-titulos-publicos https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-02-21/governo-federal-nao-pretende-autorizar-que-estados-e-municipios-emitam-titulos-publicos https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-02-21/governo-federal-nao-pretende-autorizar-que-estados-e-municipios-emitam-titulos-publicos Características de investimentos 51 Figura 4 Representação do orçamento como uma visão geral de um processo de elaboração de um projeto Fonte: Elaborada pelo autor. Orçamento Projeção de resultados Fluxo de Caixa Recursos próprios Receitas geradas pelo projeto Recursos de terceiros Gastos associados ao projeto Investimento ($) Investimento ($) Na Figura 4, verificamos como os valores necessários são definidos num orçamento para a execução de um investimento, em que os valo- res necessários para a execução do projeto provêm de uma estrutura mista, com uma parte dos recursos originada pela empresa (recursos próprios) e outra oriunda de fontes externas (recursos de terceiros). Esses recursos fazem parte do Fluxo de Caixa projetado e são utilizados para cobrir os gastos (saídas de recursos) e contribuir para a geração das receitas (entrada de recursos) que formarão o resultado positivo estimado do projeto de investimentos. Para um investidor, o conhecimento das modalidades de investi- mentos, assim como a análise e definição da melhor configuração da estrutura de projetos de investimentos, estabelece a combinação dos recursos formados para a seleção de uma alternativa de investimentos, porém há outros fatores que devem ser considerados, como riscos e incertezas, aspectos relacionados à conjuntura econômica, alterações causadas por mudanças políticas e sociais, entre tantos outros elemen- tos incontroláveis que afetam uma empresa e seus investimentos. 52 Análise e decisão de investimentos 2.3 Influências na decisão de como investir Vídeo Uma questão básica a ser respondida quando estamos selecionan- do uma alternativa de investimentos está relacionada à identificação de quais são os fatores que influenciam a escolha da melhor opção de aplicação de recursos para o investidor. Nesse sentido, Assaf Neto e Lima (2019) destacam a importância de identificar, selecionar e avaliar as melhores alternativas de investimen- tos, pois esse tipo de decisão é uma atividade que ocorre de maneira efetiva e contínua nas empresas. 2.3.1 A influência dos riscos e das incertezas operacionais e financeiras A avaliação se torna mais importante quando se considera que uma decisão de investimentos envolve incertezas, pois o resultado financeiro esperado num investimento se refere a uma expectativa futura, ou seja, envolve incerteza e risco de não acontecer conforme esperado. Dentro dessa lógica, Gomes (2013) explica que essa in- certeza abrange aspectos econômicos, legislativos, setoriais (onde a empresa atua), da concorrência, entre outros, que afetam a decisão de investir. Outro aspecto importante, que influencia a decisão de investimento, refere-se à abordagem inerente à distribuição de lucros (dividendos), pois os investidores aplicam recursos considerando a possibilidade de retorno financeiro. Desse modo, conforme Assaf Neto e Lima (2019), os acionistas de uma empresa têm suas expectativas de retorno finan- ceiro em conformidade com a distribuição de lucro, ou seja, os inves- tidores esperam receber um retorno financeiro (dividendos pagos) da empresa investida igual ou superior aos recursos investidos, conside- rando sua Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Bodie, Kane e Marcus (2015) indicam que o valor intrínseco de uma ação é determinado pela expectativa de pagamentos de dividendos, ou seja, a atratividade de uma ação de uma companhia, como um investi- mento, depende da perspectiva da distribuição de lucros. Características de investimentos 53 Valor intrínseco de uma ação é a denominação que se utiliza no mercado financeiro para designar o valor justo de uma ação de uma companhia. Muitas vezes, quando as ações de uma empresa são negociadas abaixo do valor intrínseco, isso é um sinal atraente para o investidor, pois indica que se trata de uma oportunidade de obter lucro. Portanto, é importante que o investidor avalie o risco e as incertezas que as possíveis alternativas de investimento apresentam em conjunto com a perspectiva de retorno representado pela política de distribuição de resultados que a empresa pratica. Assaf Neto e Lima (2019) apontam também a influência na decisão de como investir, no contexto do planejamento estratégico das empre- sas, ao considerar que a análise deve ser estendida às fontes de finan- ciamento e à constituição da proporção do capital próprio e de terceiros (que representa a melhor estrutura de financiamento para a empresa), de modo a resguardara capacidade da empresa de manter sua saúde financeira, no que se refere a saldar suas obrigações financeiras. Lapponi (2007) indica que o Capital de uma empresa se refere ao total de recursos próprios e de terceiros que suportam as atividades e necessidades de uma empresa, de maneira análoga, Gomes (2013) sa- lienta que as fontes de recursos para implantação de um projeto de in- vestimento são constituídas do Capital próprio e do capital de terceiros. Desse modo, entendemos que quando se decide sobre a aplicação de recursos em um empreendimento é necessário se avaliar como se constitui a estrutura de endividamento da empresa, representado pelo Passivo (obrigações com terceiros, ou seja, o capital de terceiros) e o Patrimônio Líquido (o capital próprio da empresa). Portanto, a análise da estrutura de endividamento da empresa que realizará o projeto de investimento deve ser considerada como crité- rio influenciador no processo decisório e seleção das alternativas de investimento. Gomes (2013) e Assaf Neto e Lima (2019) apontam que as empresas têm múltiplas alternativas à sua disposição para financiar suas ativida- des e projetos, por exemplo, fornecedores (faturam mercadorias), co- laboradores (trabalham e recebem depois), Governo (concede prazos para recolhimento de obrigações tributárias), instituições financeiras 54 Análise e decisão de investimentos (financiam o capital de giro e bens utilizados pela entidade), acionistas (participam do capital como sócios da empresa) etc. Essas diversas for- mas de fontes de recursos utilizados pelas empresas são arranjadas e combinadas pelos gestores, que buscam atingir os níveis ideais de rentabilidade e liquidez das aplicações desses capitais. Os autores também chamam atenção para o fato de que, quan- do efetuamos a escolha da melhor opção de aplicação de recursos, devemos também considerar a avaliação da relação entre custos e benefícios que o investimento irá proporcionar, levando em conta a performance operacional do projeto. Assaf Neto e Lima (2019) afirmam que os investidores têm o de- sempenho operacional de um projeto de investimento como medida da viabilidade econômica, pois o lucro operacional é resultado da per- formance do projeto e é afetado pelas decisões de investimentos e de financiamentos, conforme é possível visualizar na Figura 5. Essa relação define o risco operacional e financeiro de um empreendimento. Figura 5 Relação entre o resultado operacional e os custos de capital Fonte: Adaptada de Assaf Neto; Lima, 2019, p. xviii. Recursos de terceiros Recursos próprios Investimentos risco x retorno Decisões de investimento Decisões de financiamento Risco econômico Risco financeiro Lucro operacional Custo do capital próprio Custo de capitação A relação ilustrada na Figura 5 define o risco operacional e financeiro de um empreendimento. O resultado operacional é mostrado como a conse- quência das decisões de investimento em relação à atividade principal do empreendimento, que proporciona um parâmetro a respeito da atrativida- de econômica do empreendimento. Além disso, pode-se perceber como o resultado operacional está relacionado às decisões de financiamento, pois os custos de financiamento sacrificam o lucro e podem ser prejudiciais ao retorno do empreendimento (quando os custos forem superiores aos re- tornos operacionais), pois destroem a riqueza econômica. Características de investimentos 55 Assim, Assaf Neto e Lima (2019) enfatizam a necessidade de uma correspondência positiva entre o retorno do investimento e o custo dos recursos aplicados, o que possibilita uma relação harmônica entre a capa- cidade de geração de caixa e a necessidade de pagamentos a serem feitos. Com relação aos riscos, a Figura 5 mostra o risco econômico ou ope- racional, que se refere a características do negócio em que se atua, no setor em que se insere o empreendimento. Não há uma ligação entre a estrutura de financiamento e esse risco, ou seja, esse risco está limitado pela atividade e pelas decisões de investimento, e não de financiamento. Como exemplos do risco econômico, Assaf Neto e Lima (2019) ci- tam a sazonalidade de mercado em determinados setores, a evolução da tecnologia, os fatores relacionados à concorrência, a qualidade dos produtos negociados, as oscilações nos parâmetros econômicos (como nas taxas de juros de mercado) etc. É possível observar na Figura 5 que o risco financeiro está associa- do às decisões de financiamento, no que se refere à eficácia da empre- sa em honrar seus compromissos financeiros. Dessa forma, podemos assumir que quanto maior for o nível de endividamento, maior será o nível do risco financeiro, ou seja, o risco financeiro é diretamente pro- porcional ao grau de endividamento. 2.3.2 Influências que afetam todos na decisão de investir Existem situações ligadas ao ambiente econômico e político de uma sociedade que são muito importantes na escolha de um investimento e têm a particularidade de afetar todos. Diante dessa afirmação, vamos refletir e responder à seguinte questão: Se essas situações afetam todos, por que devemos nos preocupar em analisar seus efeitos quando decidimos investir? A resposta é que, apesar de serem comuns a todos, os efeitos afe- tam de modo diferente cada setor da economia, e se considerarmos um âmbito mais específico, as consequências são diferentes em cada empresa, ou seja, as variáveis que afetam são as mesmas, mas os efei- tos e as consequências são diferentes. • Inflação: na economia de um país, todos são afetados, e a infla- ção danifica o poder aquisitivo da moeda, provocando danos ao 56 Análise e decisão de investimentos poder de compra de bens em função da desvalorização da moe- da, que afeta todos na sociedade, mas de modo desproporcional, acentuando ainda mais o problema da distribuição desigual de riqueza. Para alguns, a inflação tem efeitos devastadores; a renda fica com- prometida e como consequência há maiores negativas nos resultados. Tais negativas prejudicam as decisões financeiras e, por isso, ocorre uma maior exposição ao risco, além das incertezas da conjuntura eco- nômica desfavorável. A inflação pode levar a uma percepção enganosa dos resultados projetados, pois, em função da perda de poder aquisitivo da moeda, pode ocorrer uma elevação da receita decorrente do aumento de pre- ços, que transmite uma falsa sensação de elevação no faturamento, mas que, ao se considerar os efeitos nocivos da inflação, podem estar camuflando uma realidade de queda no poder aquisitivo da moeda (declínio nos níveis reais de faturamento, ao descontar os efeitos da elevação de preços decorrentes da inflação). Num cenário de inflação elevada, algumas empresas podem apre- sentar riscos que comprometem sua própria sobrevivência, por exem- plo, quando comercializarem seus produtos. No momento em que forem repor seus estoques, podem sofrer uma descapitalização 3 , de- vido à corrosão do poder de compra causada pela inflação. Assim, numa projeção de resultados, valores nominais podem levar a conclusões erradas, e análises incorretas podem conduzir à tomada de decisões incorretas, relacionadas à seleção de possíveis alternativas de investimentos. • Alterações nas taxas de câmbio: alterações nas taxas de con- versão da moeda local para uma moeda de outro país afetam to- dos em uma sociedade, mas, assim como no caso da inflação, as alterações cambiais afetam de modo desproporcional os mem- bros de uma sociedade. Para explicar essa afirmação, analise como alterações cambiais afe- tam empresas cujas atividades se relacionam com o comércio exterior. Por exemplo: uma empresa importadora adquire mercadorias de em- presas no exterior e paga valores estipulados em moeda estrangeira (vamos considerar, para ilustrar, que seja o US$). Essa importadora paga a mercadoria em moeda estrangeira e recebe em R$ quando re- A descapitalização se refere à perda do valor do capital investido, ou seja, à diminuiçãodo capital de uma empresa. 3 Características de investimentos 57 vende esses produtos importados aqui no Brasil. Assim, está exposta ao risco de apresentar perdas decorrentes de uma desvalorização dos reais recebidos em relação aos dólares pagos. Da mesma forma, se analisarmos uma empresa exportadora, no caso de ocorrer uma desvalorização do R$ em relação ao US$, o quadro é favorável, pois a empresa exportadora recebe em moeda estrangeira (recebe uma quantidade maior de reais ao converter os valores recebi- dos em dólares) em contrapartida aos custos gastos no Brasil em reais. Nesse exemplo, a conclusão é a mesma: todos da sociedade estão ex- postos a oscilações das taxas de conversão da moeda local para moeda es- trangeira, mas os efeitos ocorrem de maneira desigual para as empresas. Por esse motivo, podemos concluir que alterações que afetam to- dos numa sociedade, como nos casos da inflação e do câmbio, entre outras variáveis, podem trazer consequências diferentes às empresas; sendo assim, é importante que seus efeitos sejam analisados quando decidimos sobre investimentos a serem realizados. Abordamos os principais efeitos que afetam a decisão de investir. No entanto, o assunto não se esgota com esses conteúdos. Por essa razão, alertamos que há diversos fatores que podem afetar a decisão de investimento, por exemplo: fatores inerentes à modalidade (renda fixa ou variável); eventos aleatórios, como a ocorrência de uma pande- mia; perspectivas mais amplas, que afetam a economia mundial, e não apenas economias locais ou nacionais; variáveis relacionadas à dura- ção dos investimentos, pois prazos maiores de investimento significam incertezas e riscos maiores (aumentando o prazo, aumentam as possi- bilidades de ocorrer erros nas estimativas), que podem acarretar com- plexidades maiores ao se considerar todo o período de investimentos; entre outros. No texto ONU: pandemia afeta consideravelmente investimentos estrangeiros diretos, do jornal Estado de Minas, é abordada a queda de investimentos estrangeiros diretos feitos por empresas sediadas em países desenvolvidos (considerados mais ricos). Esses países realizam investimentos, em menor grau, em países subde- senvolvidos, desde que haja um interesse co- mercial com os mesmos, durante a crise causada pelo Coronavírus. Disponível em: https://www. em.com.br/app/noticia/ internacional/2020/10/27/ interna_internacional,1198449/ onu-pandemia-afeta-considera- velmente-investimentos-estran- geiros-diret.shtml. Acesso em: 18 maio 2021. Leitura 2.4 Planejamento de investimentos Vídeo Um assunto bastante importante para desenvolvermos o conteúdo desta seção corresponde ao seguinte questionamento: O que seria um planejamento de investimentos? Aparentemente, a resposta tem um certo grau de complexidade, mas se iniciarmos com uma reflexão sobre o que aprendemos a respei- https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/10/27/interna_internacional,1198449/onu-pandemia-afeta-consideravelmente-investimentos-estrangeiros-diret.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/10/27/interna_internacional,1198449/onu-pandemia-afeta-consideravelmente-investimentos-estrangeiros-diret.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/10/27/interna_internacional,1198449/onu-pandemia-afeta-consideravelmente-investimentos-estrangeiros-diret.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/10/27/interna_internacional,1198449/onu-pandemia-afeta-consideravelmente-investimentos-estrangeiros-diret.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/10/27/interna_internacional,1198449/onu-pandemia-afeta-consideravelmente-investimentos-estrangeiros-diret.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/10/27/interna_internacional,1198449/onu-pandemia-afeta-consideravelmente-investimentos-estrangeiros-diret.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/10/27/interna_internacional,1198449/onu-pandemia-afeta-consideravelmente-investimentos-estrangeiros-diret.shtml 58 Análise e decisão de investimentos to do que é um investimento, podemos estruturar uma resposta para essa questão de maneira lógica. Vamos primeiramente relembrar o significado de investimento. Conforme foi abordado anteriormente, podemos definir o termo de maneira abrangente utilizando a definição de Bruni e Famá (2017) na qual um investimento se caracteriza por representar um sacrifício financeiro realizado no presente com o objetivo de se obter um be- nefício futuro. Por exemplo, na aquisição de títulos ou valores mobiliários no mer- cado financeiro com objetivos de obter ganhos com a valorização des- ses títulos ou na aquisição de bens que propiciem benefícios diversos, como ganhos de produtividade, custos menores, incorporação de no- vas tecnologias, entre outros. Retomando a definição, de modo sintético, podemos afirmar que: • sacrifício financeiro nos remete aos recursos necessários para realizar o investimento. • objetivo significa o que desejamos atingir ao aplicarmos os re- cursos (sacrifício financeiro) para efetivar o investimento. • benefício futuro se refere à estimativa do tempo necessário para atingir os objetivos do investimento. Para continuar o desenvolvimento de nosso raciocínio, vamos de- finir o que significa planejamento. Oliveira (2018) descreve o plane- jamento como uma técnica relacionada a um determinado assunto, por exemplo: desenvolvimento e produção de bens e prestação de serviços; comercialização e intermediação de produtos; marketing; finanças. Esses assuntos associam de modo específico objetivos, políticas internas, orçamentos, normas internas, entre outros elementos, uti- lizados de acordo com um prazo correspondente à necessidade do planejamento estratégico ou tático de unidades de negócios, grupos funcionais, divisões, departamentos etc. Resumidamente, o planejamento é conceituado como um mé- todo que visa alcançar um contexto futuro de uma circunstância (eficácia) de uma forma mais satisfatória (efetividade), com uma otimização no consumo de recursos e no gasto de esforços pela empresa (eficiência). O texto Princípios do investimento, da Comissão de Valores Mobiliários, aborda os princípios de um investimento e tira dúvidas do investidor em relação à escolha do melhor investimento, relacionado-o ao objetivo e à quantia a ser aplicada de acordo com o prazo pretendido de investi- mento e o perfil de risco do investidor. Essas são etapas importantes para se efetuar o planejamento de um investimento. Disponível em: https://www. investidor.gov.br/menu/primeiros_ passos/principios_investimento. html. Acesso em: 18 maio 2021. Leitura https://www.investidor.gov.br/menu/primeiros_passos/principios_investimento.html https://www.investidor.gov.br/menu/primeiros_passos/principios_investimento.html https://www.investidor.gov.br/menu/primeiros_passos/principios_investimento.html https://www.investidor.gov.br/menu/primeiros_passos/principios_investimento.html Características de investimentos 59 Observa-se nessa afirmação de Peter Drucker (1962) que o plane- jamento se refere às consequências futuras de decisões idealizadas no presente e que, portanto, não dizem respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões idealizadas no presente. Com essa definição, podemos associar planejamento a investi- mento, pois ambos necessitam de recursos para execução (sacrifício financeiro), possuem objetivos (benefícios futuros) e têm prazos de realização. Dessa forma, unindo esses aspectos, podemos definir o planeja- mento de investimentos de uma empresa como uma ferramenta ad- ministrativa que auxilia os gestores de uma empresa a organizar e estruturar, de maneira eficiente, recursos e esforços para atingir eficaz- mente determinado objetivo representado pelos benefícios financeiros que o investimento proporcionará. Oliveira (2018) alerta que o conceito de planejamento não deve ser confundido com: • Previsão, que seresume a um estudo de probabilidades de ocor- rência de possíveis eventos. • Projeção, em que se estabelece que uma situação futura tende a ser uma repetição de um evento ocorrido no passado e, portanto, pode ser afetada com ações efetuadas pela empresa. • Predição, que estabelece que uma situação futura não tem liga- ção com eventos passados; portanto, não se estabelece um con- trole da empresa sobre sua evolução. • Resolução de problemas, em que o horizonte temporal e causal é diferente de situações imediatistas para reparação de proble- mas relevantes decorrentes de distúrbios entre a empresa e o ambiente externo. • Plano, que corresponde a um documento formal e escrito que registra e descreve as informações e atividades apresentadas no planejamento de maneira estática. Não podemos confundir planejamento com esses termos, pois o pla- nejamento envolve conceitos mais amplos do que uma previsão, uma projeção ou uma predição, no seu desenvolvimento. O planejamento também não se resume a uma simples resolução de problemas, pois compreende questões mais profundas e complexas e se refere a situa- ções dinâmicas, que estão além das características estáticas de um plano. O planejamento tem o aspecto estático na sua formulação inicial, mas ad- quire o aspecto dinâmico conforme sua execução evolui e, por meio de uma revisão constante, pode sofrer alterações à medi- da que ocorram situações diferentes das que cons- tam no planejamento. Atenção 60 Análise e decisão de investimentos O planejamento se refere a uma técnica de execução contínua com foco nas alternativas de ações executadas, com implicações nos acon- tecimentos futuros para que os objetivos traçados sejam atingidos, com uma evolução de acontecimentos futuros que sofrem influências em circunstâncias não controláveis de um ambiente externo. 2.4.1 Vantagens de efetuar um planejamento de investimentos Uma pergunta que os alunos costumam fazer é: para que se exe- cuta um planejamento de investimentos? Essa questão pode ser res- pondida quando analisamos quais são as principais vantagens que a realização do planejamento de investimentos oferece: • Analisar a situação atual da empresa e avaliar qual a disponibi- lidade de recursos, quais são as fontes de recursos necessários e suas características, como é sua estrutura de capital etc. • Analisar a possibilidade de executar investimentos necessá- rios para melhoria da empresa, como modernização da empresa, desenvolvimento de novos produtos ou melhorias de qualidade de produtos atuais, diminuição de custos com investimentos que aperfeiçoem a produtividade etc. Enfim, obter vantagens compe- titivas que permitam à empresa ocupar uma posição de destaque em relação a seus concorrentes e conquistar uma maior partici- pação de mercado. • Selecionar investimentos mais rentáveis entre diversas op- ções e alternativas, evitando a escolha de investimentos menos rentáveis. • Definir prioridades de modo a racionalizar o uso de recursos e a execução de ações em busca do atingimento de objetivos preestabelecidos. • Agilidade nas ações ao fornecer um guia que orienta a tomada de decisões e as ações subsequentes em busca das metas. • Evitar que a empresa fique exposta a riscos desnecessários e não previstos e, assim, minimizar a ocorrência de possíveis per- das por falta de análises e estudos prévios que identifiquem in- vestimentos de riscos elevados. Características de investimentos 61 Realizar um planejamento de investimentos faz parte do processo de gestão dos recursos e tomada de decisões que envolvem a reali- zação de um investimento. Afinal, o planejamento orienta o gestor a aplicar os recursos disponíveis para atingir os objetivos propostos de modo racional, eficiente e adequado ao mesmo tempo que fornece pa- râmetros para que os colaboradores efetuem as atividades necessárias para a implementação do projeto de investimentos de maneira orde- nada e preestabelecida. 2.4.2 Etapas de um planejamento de investimentos Utilizando a definição de planejamento de investimentos como uma ferramenta administrativa que contribui para que os gestores orga- nizem e estruturem os recursos e esforços para cumprir um objetivo representado pelos benefícios que o investimento proporcionará, po- demos propor as etapas de um planejamento de investimentos: • O ponto inicial e mais importante de um planejamento de in- vestimento é definir os objetivos ou benefícios buscados com a execução do projeto de investimento, pois os objetivos a serem atingidos servirão de parâmetro para todo planejamento a ser executado. Aqui devemos enfatizar que os objetivos devem ser factíveis e compatíveis com o perfil de risco, a estrutura da em- presa e a realidade do setor e do mercado (variáveis econômicas), considerando uma análise prévia da empresa, do setor, da legis- lação, dos fornecedores, dos consumidores, dos concorrentes, entre outras variáveis de estudo. • Avaliar a situação financeira atual e levantar o total dos recursos disponíveis; se não forem suficientes, é preciso definir quais se- rão as fontes de recursos que serão utilizadas para executar o projeto de investimentos, definindo e selecionando a forma de captação de recursos que a empresa necessita complementar. • Diante da definição de objetivos e da situação financeira da em- presa, a etapa seguinte se refere a mapear e selecionar quais as melhores opções de investimentos que atendam aos objetivos esta- belecidos, considerando questões importantes como a quantidade de recursos necessários, prazos de término ou atingimento dos ob- jetivos, a relação custo-benefício, vantagens e desvantagens, riscos e incertezas, entre outros fatores. 62 Análise e decisão de investimentos • Detectar na estrutura da empresa quais são as unidades internas (divisões, departamentos, seções, colaboradores envolvidos etc.) que serão envolvidas na execução e no desenvolvimento, definin- do quais serão suas participações e responsabilidades. • Controlar de maneira contínua as ações desenvolvidas após o iní- cio da execução do planejamento, procedendo às devidas altera- ções e correções no planejamento. Figura 6 Representação de um esquema de planejamento de investimentos Fonte: Elaborada pelo autor. Definição de objetivos Mapear e selecionar opções de investimento Processos de controle e ajustes contínuos no planejamento, se necessários Avaliar a situação financeira e definir fontes de recursos Definir participantes e responsabilidades na estrutura interna Na Figura 6 podemos observar uma esquematização das etapas de um projeto de investimentos. A definição de objetivos de investimentos é a fase mais importante, pois norteia todas as etapas posteriores que são desenvolvidas no planejamento. Definir as etapas de um planejamento de investimentos faz parte da construção de um plano para definir a maneira mais adequada para selecionar uma alternativa de investimento e fazer com que a organiza- ção atinja seus objetivos. A organização analisa os aspectos internos e suas limitações. Caso necessite de recursos adicionais, busca alternativas para a captação de valores necessários para realizar o investimento. Os colaboradores seguem as etapas de planejamento e realizam suas atividades de maneira coordenada com as ações definidas pelos gestores no planejamento, que permitem efetuar controles e executar eventuais ações corretivas se forem necessárias. Portanto, a definição das etapas de um planejamento de investi- mentos é fundamental para que a organização defina seus objetivos e determine a melhor forma de atingi-los. Características de investimentos 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo foram discutidos os conceitos básicos referentes ao sig- nificado de investimentos, no sentido técnico, que associa um sacrifício finan- ceiro ao objetivo de usufruir de um benefício futuro, bem como quais são os critérios para definir seus tipos, suas modalidades e a estrutura em que se desenvolveo processo de investimentos. Além disso, verificamos quais são os principais fatores que exercem influência na decisão de investir. Por fim, apresentamos uma proposta de planejamento de investimentos. É importante destacar que o assunto apresentado não se esgota e, portanto, não deve se restringir a este capítulo, procuramos abordar os aspectos mais importantes do tema relativo a investimentos. Vale lembrar que existem diversos tipos de empresas e situações diferentes e imprevi- síveis de mercado que podem ocorrer. ATIVIDADES 1. O que são investimentos com restrições orçamentárias? Descreva as principais características. 2. O Governo atua como agente deficitário ou superavitário no mercado financeiro? Explique. 3. Como o câmbio afeta os membros de uma sociedade em termos financeiros? Afeta de modo igual ou desigual? Justifique sua resposta. REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Matemática financeira. Edição universitária. São Paulo: Atlas, 2017. ASSAF NETO, A. Mercados financeiros. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2018. ASSAF NETO, A. Tipos de investimentos que empresas podem se deparar. GEN Negócios e Gestão, 20 fev. 2020. Disponível em: https://gennegociosegestao.com.br/tipos-de- investimentos-que-empresas-podem-se-deparar/. Acesso em 17 maio 2021. ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Administração financeira. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2019. BODIE, Z.; KANE, A.; MARCUS, A. J. Investimentos. 10. ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2015. [e-book]. BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. As decisões de investimentos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CARRETE, L. S.; TAVARES, R. Mercado financeiro brasileiro. São Paulo: Atlas, 2019. DRUCKER, P. F. Prática de administração de empresas. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1962. GITMAN, J. L.; JOENK, M. D. Princípios de investimento. 8. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. GOMES, J. M. Elaboração e análise de viabilidade econômica de projetos: tópicos práticos de finanças para gestores não financeiros. São Paulo: Atlas, 2013. LAPPONI, J. C. Projetos de investimento na empresa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. MARTINS, E. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2018. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico. 34. ed. São Paulo: Atlas, 2018. Vídeo https://gennegociosegestao.com.br/tipos-de-investimentos-que-empresas-podem-se-deparar/ https://gennegociosegestao.com.br/tipos-de-investimentos-que-empresas-podem-se-deparar/ 64 Análise e decisão de investimentos 3 Critérios para decisão de investimentos Um investimento representa o compromisso de alocar recursos no presente com a expectativa de coletar vantagens no futuro. A decisão para a escolha de um investimento envolve a análise de al- ternativas que podem ter uma diversidade elevada de variáveis envolvidas, tais como: alternativas de investimento com prazos iguais ou com durações diferentes, com mais de uma Taxa Interna de Retorno (TIR), ou com Valores Presentes Líquidos (VPL) diferentes, entre várias combinações que repre- sentem incertezas sobre o melhor investimento a ser realizado. O objetivo deste capítulo é conscientizar o leitor a respeito de como analisar e abordar situações que geram incertezas na escolha da melhor alternativa para investir. Serão apontados elementos que auxiliem no processo de escolha de alternativas que apresentem características ou detalhes que as tornem superiores às demais opções de investimentos. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • estudar os conceitos relacionados a comparações entre di- ferentes métodos de avaliação de projetos; • identificar os indicadores financeiros, de rentabilidade e de lucratividade; • aprender sobre os riscos e retornos de investimentos; • conhecer outras abordagens que fundamentam os pro- cessos de tomada de decisão para a escolha do melhor investimento. Objetivos de aprendizagem 3.1 Comparativo entre os principais métodos Vídeo Vamos atentar às seguintes questões: ao avaliarmos uma al- ternativa de investimentos e decidirmos sobre a aprovação de um investimento, qual seria o melhor método para a avaliação de pro- jetos? Se escolhermos um projeto de acordo com um critério, deve- mos descartar os outros? Critérios para decisão de investimentos 65 Para responder a essas questões, é importante que se faça uma análise dos métodos utilizados para a avaliação de investimentos. Exis- tem diferentes métodos utilizados para a tomada de decisões relacio- nadas à escolha de um investimento. Os mais utilizados na análise de projetos de investimentos são: • Valor Presente Líquido (VPL); • Taxa Interna de Retorno (TIR). Os métodos de avaliação de investimentos mais importantes con- sideram o valor do dinheiro no tempo, isso inclui a aplicação da taxa de juros ao longo do período de análise, além da comparação das alternativas de investimentos com a Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Esses são os pontos considerados como os mínimos aceitáveis por um investidor, visando à remuneração de um investimento a ser realizado. Carvalho (2002) indica a situação em que, para alternativas de mesma duração, deve-se considerar o método do VPL ou o do Va- lor Atual (VA) e comparar em cada opção de investimento os valores estimados dos fluxos futuros, que são gerados e descontados pela TMA. Esses valores são subtraídos dos valores aplicados no projeto. Se o resultado for positivo, o projeto é aceitável, ou seja, projetos com VPL menor que zero devem ser descartados. Bruni e Famá (2017) concordam com esse raciocínio ao ratificarem que um critério básico para a aceitação de um projeto de investimentos ocorre quando o parâmetro avaliado pelo VPL for maior que zero. Dessa forma, ao compararmos as alternativas de investimento, quando forem positivas, a de maior VPL pode ser a opção escolhida, pois o VPL é uma medida direta, expressa em valores monetários da re- muneração que o projeto de investimento proporcionará ao investidor. Contudo, é importante lembrar que, para ser considerada uma al- ternativa de investimento viável, é necessário que o VPL encontrado também seja submetido a uma análise de sensibilidade de valor. Caso o VPL encontrado para o investimento escolhido seja positivo, mas com valor muito baixo, pode ocorrer, por estar de acordo com o critério de aceitação de um projeto de investimentos, ao mesmo tem- po em que pode representar um desestímulo, no sentido de o ganho representado pelo investimento ser muito baixo, mesmo considerando que se trata da melhor entre as alternativas apresentadas. 66 Análise e decisão de investimentos Para explicar esse fato, devemos nos lembrar que uma característi- ca da avaliação pelo método do VPL é descontar os valores estimados de um Fluxo de Caixa. Nesse sentido, Carvalho (2002) aponta a existên- cia da incerteza quanto ao futuro, pois o método do VPL utiliza valores do Fluxo de Caixa estimados. Assim, as receitas podem estar superestimadas ou as despesas su- bestimadas, e se o VPL for positivo, porém com baixo valor, pode ser considerado irrisório em relação às expectativas de retorno do inves- tidor e sujeito ao risco de um valor calculado para o VPL ser positivo pela imprecisão das variáveis utilizadas, mas, quando corretamente calculada, apresenta valor menor do que zero. Dessa forma, quando um investimento apresentar um VPL positivo e de baixo valor, o inves- timento deve ser descartado. Outro argumento para que uma alternativa de investimento seja viável pelo método do VPL é o de se considerar a inflação no cálculo, pois, se o valor encontrado nesse método for muito reduzido, depen- dendo do nível da taxa de inflação no período avaliado, o retorno en- contrado pode ser negativo em termos reais. O método do payback descontado 1 é utilizado para avaliar o tem- po necessário para que se recupere o valor investido. Esse método de avaliação de projetos de investimentos, assim como o método do VPL, apresenta a característica de utilizar Fluxos de Caixa estimados e des- contados até o instante inicial do investimento, segundo a utilização deuma taxa mínima de rentabilidade. A adoção desse método é importante para se avaliar o risco de um empreendimento. Quanto maior for o prazo de recuperação de um in- vestimento, maiores serão as incertezas referentes às variáveis envol- vidas na análise de retorno do investimento. Com incertezas maiores, aumentam-se os riscos e as possibilidades de ocorrências de problemas. Segundo Assaf Neto (2017), a TIR é definida com a taxa que iguala a zero a somatória de todos os valores de fluxos positivos e de todos os valores de fluxos negativos em determinada data, ou seja, é a taxa de juros utilizada para descontar no início do projeto de investimentos, assim, todos os valo- res do Fluxo de Caixa que somados ao capital investido resultam em zero. A TIR representa a taxa de rentabilidade de um investimento e pode ser entendida como a taxa implícita dos fluxos de um projeto de in- vestimentos. Quando a TIR do projeto for superior à TMA, o investi- Segundo Assaf Neto e Lima (2019) e Samanez (2007), esse mé- todo utiliza todos os valo- res de um fluxo trazidos a Valor Presente até que estes sejam suficientes para zerar ou trazer um retorno positivo ao inves- timento realizado. 1 Critérios para decisão de investimentos 67 mento deve ser aceito, pois a expectativa de retorno apresenta uma rentabilidade que configura ganhos em relação ao parâmetro de retor- no mínimo de um investimento estabelecido pela TMA. Há casos em que as indicações para a decisão na escolha e aceitação de um proje- to são conflitantes, com respostas diferentes. Por exemplo, ocorrem processos de tomada de decisões a respeito da escolha de um proje- to de investimentos, em que a análise pelo VPL aponta um projeto de investimento que deve ser selecionado por apresentar o maior VPL. Utilizando-se do critério de análise da TIR, o método aponta que outra alternativa deve ser escolhida. Essa ocorrência é possível de acontecer com apontamentos diver- gentes para os recursos serem aplicados. Bruni e Famá (2017) explicam como é possível a ocorrência desses conflitos de escolha das alternati- vas de investimentos a serem selecionados para novos investimentos. Na metodologia do VPL, quando o custo de capital (k) apresenta va- lores elevados, o VPL apresenta valores menores, ou seja, são grande- zas inversamente proporcionais; quanto maior o valor de k, menor será o valor do VPL encontrado. Em projetos de duração maior, os custos de capital k apresentam valores maiores e, portanto, VPL menor. Ao analisar as alternativas de investimento e ao utilizar o méto- do do TIR, podem ocorrer resultados conflitantes dos apontados pela utilização do método do VPL. A regra de escolha, nesse caso, deve ser pelo que está apontado no método do VPL, pois coincide com o objetivo da gestão financeira, que é aumentar a riqueza de seus pro- prietários (acionistas). A utilização da ferramenta VPL para a análise de alternativas de investi- mento é fundamental no processo de decisão para a escolha de um projeto de investimentos. O artigo Avaliação da ferramenta VPL na análise de viabilidade de investimentos empresariais, de Guilherme Pimenta, aborda a utilização do VPL e discute situações nas quais ocorrem conflitos en- tre os métodos abordados. Disponível em: https:// administradores.com.br/artigos/ avaliacao-da-ferramenta- valor-presente-liquido-vpl- na-analise-de-viabilidade-de- investimentos-empresariais. Acesso em: 1 jul. 2021. Leitura 3.2 Índices de rentabilidade, financeiros e de lucratividade Vídeo A utilização de índices na análise de investimentos é importante para o en- tendimento e acompanhamento de oscilações de variáveis, que definem os resultados de um projeto específico, bem como para os resultados setoriais relacionados ao projeto. Nesse contexto, utilizamos os índices ou indicadores financeiros como ferra- mentas que auxiliam na avaliação e gestão de orçamentos e do Fluxo de Caixa de projetos de investimentos, por meio de métricas de fácil acesso para fornecer parâmetros e realizar uma análise clara e rápida. https://administradores.com.br/artigos/avaliacao-da-ferramenta-valor-presente-liquido-vpl-na-analise-de-viabilidade-de-investimentos-empresariais https://administradores.com.br/artigos/avaliacao-da-ferramenta-valor-presente-liquido-vpl-na-analise-de-viabilidade-de-investimentos-empresariais https://administradores.com.br/artigos/avaliacao-da-ferramenta-valor-presente-liquido-vpl-na-analise-de-viabilidade-de-investimentos-empresariais https://administradores.com.br/artigos/avaliacao-da-ferramenta-valor-presente-liquido-vpl-na-analise-de-viabilidade-de-investimentos-empresariais https://administradores.com.br/artigos/avaliacao-da-ferramenta-valor-presente-liquido-vpl-na-analise-de-viabilidade-de-investimentos-empresariais https://administradores.com.br/artigos/avaliacao-da-ferramenta-valor-presente-liquido-vpl-na-analise-de-viabilidade-de-investimentos-empresariais 68 Análise e decisão de investimentos 3.2.1 Índices financeiros Os indicadores ou índices financeiros têm como característica demonstrar como foi o comportamento e o desempenho passado e presente de um investimento, além de fornecer informações impor- tantes para fundamentar orientações objetivas voltadas ao planeja- mento futuro das ações a serem implementadas, com a finalidade de se atingir os objetivos pretendidos. Dessa forma, os índices financeiros auxiliam os administradores a antecipar situações e direcionar de maneira mais eficiente as ações para conquistar o sucesso nos objetivos estabelecidos. Por exemplo, dependendo do período analisado, os indicadores fornecem avalia- ções parciais dos antecedentes importantes ocorridos, tais como os efeitos sazonais que destoam do comportamento considerado normal no histórico de um empreendimento, os quais auxiliam na construção do planejamento das ações em que possam ocorrer si- tuações futuras semelhantes. O uso de índices financeiros permite aos gestores que tenham um controle detalhado da situação de uma empresa e agir, caso constatem a necessidade de efetuar algum ajuste. Isso constitui uma importante ferramenta para o acompanhamento eficiente de um projeto de inves- timentos ou de um negócio. Assim, os índices financeiros fornecem elementos que permitem controlar e verificar a situação atual de um investimento ou projeto de investimento ou de uma empresa, de maneira a orientar as ações necessárias que ocorrem em circunstâncias imprevistas ou, ainda, em situações estudadas e analisadas previamente. Segundo Gomes (2013), os valores de índices financeiros são deter- minados por meio de cálculos simples que envolvem o Demonstrati- vo de Resultados e o Balanço Patrimonial e devem ser analisados ao se considerar a oscilação dos valores calculados para acompanhar a evolução da empresa. Quando a análise se estender a diferentes em- presas, devemos comparar com os índices de outras, a fim de com- preender seu desempenho com relação às concorrentes. Direcionar o gerenciamento das empresas não é a única aplicação observada para a utilização dos índices financeiros. As práticas desenvolvidas no estudo concorrencial dentro do conceito de benchmarking, processo que busca as melhores práticas do setor, podem ser replicadas no projeto de investimentos de modo a aperfeiçoar sua execu- ção e implementação. Para saber mais sobre benchmarking na administração, leia o artigo Benchmarking como ferramenta de gestão na administração pública, de Felipe Chiamulera. Disponível em: https://www. nucleodoconhecimento.com.br/ administracao/benchmarking. Acesso em: 1 jul. 2021. Leitura https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/benchmarking https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/benchmarking https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/benchmarking Critérios para decisão de investimentos 69 De acordo com Gitman e Zutter (2017), seu emprego é de interes- se dos proprietários, acionistas e possíveis investidores, bem como deoutros elementos da sociedade que interferem em um projeto ou são afetados por ele, como fornecedores, credores, clientes, concor- rentes, colaboradores, sindicatos, órgãos regulamentadores, gover- no, parceiros comerciais etc. Os interesses nas informações são diversos e com finalidades di- ferentes para cada grupo de interessados. Vejamos alguns exemplos: • Proprietários, acionistas e possíveis investidores têm interesses relacionados ao nível de risco e rentabilidade. • Fornecedores e credores têm interesse na saúde financeira e são direcionados a avaliar de maneira direta e objetiva, com a análise numérica, a capacidade da empresa de honrar seus compromis- sos financeiros de curto prazo, como pagamento de juros e gas- tos referentes ao capital de giro. • Clientes necessitam ter informações da empresa para uma con- tratação mais assertiva, em termos de a empresa cumprir as cláu- sulas contratuais. • Concorrentes utilizam as informações fornecidas pela análise de índices financeiros para comparar a performance financeira de empresas do mesmo setor de atuação. • Sindicatos e colaboradores são usuários da análise de índices para conhecer a real situação das empresas e ter parâmetros para utilizar em assuntos de seus interesses, como em negocia- ções de reajustes salariais de uma categoria. • Órgãos reguladores e governo são usuários dessas informa- ções para ter parâmetros a serem utilizados em ações de fisca- lização de empresas. A utilização de índices, no sentido de avaliar desempenhos em períodos diferentes, tem o objetivo de proporcionar a evolução de uma empresa ou projeto de investimento, conforme decorre o tempo. O acompanhamento desse progresso no tempo auxilia os stakeholders a acompanharem o crescimento da empresa ou projeto de investimento, de modo a constatar se uma evolução no desem- penho foi uma ocorrência ou se trata de uma tendência de compor- tamento verificado em todo o setor. O grupo de interessados, além dos gestores, nas informações da empresa ou do projeto é conhecido como partes interessadas ou stakeholders. Eles afe- tam o projeto ou as ações de uma empresa ou são influenciados por estes. Curiosidade A análise que aborda a evo- lução de variáveis ao longo de intervalos de tempo é conhecida como análise horizontal e pode conside- rar a inflação que, no caso, define a evolução real do período considerado. Saiba mais 70 Análise e decisão de investimentos Essa comparação permite interpretar se o desempenho individual foi superior ou inferior ao setorial (representado pelos concorrentes) e fornece elementos de análise que ampliam as conclusões, pois, caso existam variáveis que favoreceram todas as empresas de um setor, um bom desempenho nos índices individuais de uma empresa não significa necessariamente um bom desempenho da empresa (interpretação do “vento a favor” que favorece todas as empresas de um mesmo setor). O resultado a respeito da conclusão do desempenho só pode ser obtido com a comparação entre desempenho individual x desem- penho setorial. Quando os desempenhos individuais inferiores se encontram na média de um setor, pode significar que existe um problema afetando o desempenho e, assim, os gestores podem identificar as causas e providenciar as medidas corretivas. Existem diversos índices financeiros e várias formas de classificar esses indi- cadores utilizados pelos gestores no mercado. A seguir, veremos os índices de desempenho financeiro, que in- cluem os índices de rentabilidade e lucratividade, os quais, em geral, são utilizados para tomar decisões a respeito de investimentos. 3.2.2 Índices de lucratividade Uma discussão inicial para esse tema é compreender qual é o signifi- cado do índice de lucratividade (IL). Segundo Souza (2020), a lucrativida- de é a aptidão de um empreendimento em gerar resultados, já Gitman e Zutter (2017) definem o IL como uma variação da regra do VPL. Sendo: VPL = � � � � � t n t t FC t FC 1 01( ) Ao utilizar partes da fórmula do VPL, temos: IL � � �� � � FC0 t n t t FC t1 1( ) Onde: FC0 = valor do Fluxo de Caixa no momento zero (recebimento – empréstimo ou pagamento – investimento). FCt = fluxos previstos de entradas ou saídas de caixa em cada período de tempo. n = último período considerado a partir do início do investimento. i = taxa mínima de atratividade. t = termo do Fluxo de Caixa representado. Critérios para decisão de investimentos 71 Para a aceitação de uma proposta de investimento, o valor de IL deve ser maior que 1,0. Esse resultado significa que a somatória dos Fluxos de Caixa futuros (convertidos a Valor Presente pela taxa mínima de atratividade i) é superior à saída inicial de caixa C0. No caso de aceitação, para se quantificar em termos percentuais o quanto o lucro é superior ao capital aplicado inicialmente, basta subtrair 1 de IL. Por exemplo, suponha que em um investimento o valor investido ini- cialmente seja de R$ 200.000,00 e que gere um Fluxo de Caixa, cuja soma- tória dos valores estimados dos Fluxos de Caixa futuros trazidos a Valor Presente por uma taxa mínima de atratividade i seja de R$ 300.000,00. Assim, temos: CF0 = R$ 200.000,00 t n t t FC i �R$ � � � � �� � � 1 1 300 000 00. , Como IL � � �� � � FC0 t n t t FC i1 1( ) O lucro�%�em�relação�ao�CF � � � �0 � � � � 300 000 200 000 1 0 50 50. . , % A previsão do lucro em relação ao capital investido trazido a Valor Pre- sente pela taxa mínima de atratividade representa 50% do valor aplicado. 3.2.3 Índices de rentabilidade Existem diversas ferramentas para se medir a rentabilidade de um projeto de investimentos ou atividades envolvendo investimentos, como a Margem de Lucro Bruto, a Margem de Lucro Líquida, a Margem de Lucro Operacional, o Lucro por Ação, o Retorno do Ativo Total, o Retorno do Capital Próprio etc. Gitman e Zutter (2017) apontam os três índices que frequentemente são mais utilizados: • Margem de Lucro Bruto (MLB): é dada pela relação entre a Re- ceita de Vendas (RV) de uma mercadoria, descontada dos Custos de Mercadorias Vendidas (CMV), em termos percentuais, em re- lação à RV: 72 Análise e decisão de investimentos (RV – CMV)MLB = RV Lucro BrutoMLB = Receita de Vendas • Margem de Lucro Operacional (MLO): é dada pela relação entre a RV de uma mercadoria, descontada de todos os custos e despe- sas (exceto despesas de juros, imposto de renda (IR) e dividendos distribuídos aos acionistas) em relação à RV: RV – (custos e despesas)*MLO = RV (*) Exceto juros, IR e dividendos distribuídos aos acionistas. Lucro OperacionalMLO = Receita de Vendas • Margem de Lucro Líquido (MLL): é dada pela relação entre a RV de uma mercadoria, descontada de todos os custos e despe- sas (incluindo despesas de juros, IR e dividendos distribuídos aos acionistas preferenciais) em relação à Receita de Vendas: Lucro disponível aos acionistas ordináriosMLL = Receita de Vendas A utilização de índices financeiros auxilia no processo de tomada de decisões, contudo, é importante destacar que mesmo assim afasta o risco de se cometer erros no processo decisório. 3.3 Riscos de investimentos Vídeo Quando analisamos oportunidades de investimentos é comum nos depararmos com situações em que temos dúvidas, sobre qual represen- ta a melhor escolha e quais seriam as variáveis que afetam essa decisão. Uma das variáveis mais importantes ao se analisar oportunidades de investimentos se relaciona à incerteza associada à aplicabilidade dos recursos e à expectativa de ganhos que esse investimento propor- cionará em termos de remuneração de capital. Gitman e Zutter (2017) definem que o risco representa um indicador do grau de incerteza que o retorno de uma aplicação de recursos irá gerar. Para os autores, investimentos com maior risco são aqueles que apresentam maiores incertezas, ou seja, há um alto grau de semelhan- ça entre os significados de risco e incerteza, podendo até ser referidos como sinônimos em um investimento. Oinvestimentos, projetos e empreendimentos. A dúvida então é: quais seriam os critérios para selecionar a melhor escolha em ter- mos de rentabilidade, riscos e incertezas e objetivos a serem alcançados? Neste capítulo discutiremos os princípios e os conceitos básicos para compreender como seriam analisadas e avaliadas as características de um investimento e, assim, decidir se ele deve ser aprovado ou reprovado. Iniciamos o capítulo com a perspectiva de compreender o valor do dinheiro no tempo, adotando o princípio básico, utilizado em matemática financeira, no qual só se comparam valores em uma mesma data. Dentro desse princípio, são admitidos os métodos matemáticos no qual se adotam Fluxos de Caixa estimados, sempre traduzidos em valores que remetem ao início do investimento em métodos de avaliação, como o Valor Presente Líquido e os fluxos futuros descontados. Veremos, ainda, como esses métodos definem as estimativas de valores futuros e quais são as técnicas de planejamento e controle de investimentos, que visam tornar mais assertivos os valores estimados para o Fluxo de Caixa Futuro – valores esses que serão utilizados na análise de investimentos. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • compreender os principais elementos relacionados à análise de investimentos; • conhecer as ferramentas básicas para planejamento, controle, análise e avaliação de projetos de investimentos. Objetivos de aprendizagem 10 Análise e decisão de investimentos 1.1 O valor do dinheiro no tempo Vídeo Quando se comparam valores monetários em épocas diferentes, uma das questões básicas é compreender se estamos utilizando uma conduta correta ou se estamos cometendo algum erro ao adotarmos esse procedimento. Essa comparação, no sentido que pretendemos abordar, é exem- plificada pela seguinte situação hipotética: imagine que você empresta uma determinada quantia para alguém hoje e essa pessoa se propõe a pagar essa mesma quantia daqui a cinco anos. Aparentemente, ela estará devolvendo seu dinheiro no final do período. Agora convido você a responder se é correto comparar valores em momentos diferentes do tempo, como nesse caso. Provavelmente sua resposta será não. Qual é a explicação? Muitos responderão que a explicação se deve ao aumento do preço dos bens, mas, se pararmos e refletirmos, essa resposta mostra o efei- to e não a causa. Vamos esclarecer melhor essa afirmação. Os preços sobem sob o ponto de vista econômico, conforme Assaf Neto (2018) e Gremaud et al. (2012) explicam, pois esse é um dos efeitos da inflação, causado por um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de bens na economia, o que afeta o poder de compra do dinheiro. Quando ocorre uma eleva- ção contínua e generalizada nos índices gerais de preços, o efeito senti- do pelos consumidores é a necessidade de desembolsar mais dinheiro para comprar uma mesma quantidade de bens ou serviços, ou seja, ocorre uma perda do poder aquisitivo da moeda devido à inflação 1 . Outra explicação embasada na economia seria a de que o capital é considerado um fator de produção e, por esse motivo, deve ser remu- nerado pelos juros, conforme afirmam Gremaud et al. (2012). Os juros são determinados em função do tempo. Enquanto o tempo decorre, o capital (dinheiro investido) deve estar sendo acrescido pelos juros nesta razão direta: quanto maior o tempo decorrido, maior será o valor dos juros associados ao capital aplicado no período considerado. Assaf Neto (2017) aponta outro fator importante que deve ser con- siderado nessa questão: trata-se do risco que envolve um empréstimo ou uma aplicação de um capital, pois geralmente não existe total cer- O artigo O valor do dinhei- ro no tempo, disponível no site Valor Investe, aborda a visão analítica central, na qual a matemática financeira, as finanças e os investimentos em geral são conceituados, de acordo com o estudo sobre a influência da variável tempo sobre o dinheiro nos resultados obtidos em investimentos. Discutem-se as razões pelas quais não é possível comparar diferentes valo- res ao longo do tempos, de modo direto, sem que se façam ajustes nos quais a variável tempo seja considerada. Disponível em: https://valorinveste. globo.com/blogs/carlos-heitor- campani/coluna/o-valor-do- dinheiro-no-tempo.ghtml. Acesso em: 8 abr. 2021. Leitura De maneira inversa, porém menos recor- rente, existe o efeito da diminuição de preços na economia, denominado deflação. 1 https://valorinveste.globo.com/blogs/carlos-heitor-campani/coluna/o-valor-do-dinheiro-no-tempo.ghtml https://valorinveste.globo.com/blogs/carlos-heitor-campani/coluna/o-valor-do-dinheiro-no-tempo.ghtml https://valorinveste.globo.com/blogs/carlos-heitor-campani/coluna/o-valor-do-dinheiro-no-tempo.ghtml https://valorinveste.globo.com/blogs/carlos-heitor-campani/coluna/o-valor-do-dinheiro-no-tempo.ghtml Introdução à análise de investimentos 11 teza quanto ao resultado econômico e financeiro de um empreendi- mento, projeto ou investimento. Há sempre uma incerteza quanto ao futuro, e, em razão dessa incerteza, o capital deve ser remunerado. No que diz respeito a um capital emprestado ou aplicado, uma in- terpretação de Assaf Neto (2017) se refere à necessidade de remune- rar o proprietário do capital (o investidor), que se priva do recurso por um período de tempo e que, portanto, deve ser remunerado por essa privação, como uma espécie de “aluguel” a ser pago pela ausência ou desprovimento desse capital que foi aplicado e que poderia ser utiliza- do em outras formas de investimento. Essa remuneração associada à privação do recurso é denominada custo de oportunidade. Agora podemos responder corretamente ao questionamento na si- tuação hipotética na qual você, leitor, emprestava um recurso e a pes- soa lhe devolveria o mesmo valor daqui a cinco anos: não podemos comparar o dinheiro diretamente em épocas diferentes, pois o capital tem valores diferentes conforme decorre o tempo. Esta é uma das re- gras básicas utilizadas na matemática financeira: só se comparam valo- res em uma mesma data. O valor a ser devolvido deve atentar à valorização do dinheiro no tempo e considerar o pagamento dos juros, que devem ser suficientes para remuneração do capital, bem como dar importância ao risco en- volvido nesse empréstimo – representado, por exemplo, pela incerteza de não haver recursos para quitar a operação após decorrer o prazo combinado); pela perda do poder aquisitivo de bens e serviços causado pela inflação, que corrói o poder de compra do dinheiro; e pela necessi- dade de ressarcimento a você, proprietário, pela privação dos recursos durante o período da operação. Portanto, deve-se considerar sempre a variável tempo associada ao valor do dinheiro, o que implica a regra de se comparar valores se estes estiverem referenciados na mesma data. 1.1.1 Regras básicas de matemática financeira A principal regra ou característica da matemática financeira refe- re-se ao valor do dinheiro no tempo. Para comparar valores, parte-se da premissa de que é necessário que eles estejam na mesma data. Os valores do dinheiro no tempo se desenvolvem mediante o pagamento de juros. 12 Análise e decisão de investimentos Gitman e Joenk (2005) esclarecem que os juros pagos ao investidor representam uma remuneração comparável a um “aluguel” pago para compensar a utilização do capital pelo tomador de recursos. Assaf Neto (2017) afirma que a atualização de valores é uma função matemática que utiliza um coeficiente numérico constante, representado pela taxa de juros, o qual cresce conforme aumenta a variável tempo de- corrido e descreve como os juros são formados e integrados ao capital. Um aspecto descrito por Assaf Neto (2017) e Gitman e Joenk (2005) diz respeito aos critérios utilizados para calcular e incorporar os juros ao capital. Esses critérios são conhecidos como regimes de capitalização e são dois: 1. Regime de capitalização simples ou juros simples, no qual o cálculo utilizadoartigo A importância de indicadores financeiros no seu negócio apresenta os principais aspectos sobre o uso de índices ou indi- cadores de investimento. O uso de indicadores financeiros é fundamen- tal para a utilização de controles sobre as ativi- dades de um empreendi- mento e, principalmente, para auxiliar os gestores a tomar decisões mais assertivas com base em critérios concretos e métricas desenvolvidas com essa finalidade. Disponível em: https://www. contabeis.com.br/artigos/6274/ a-importancia-de-indicadores- financeiros-no-seu-negocio/. Acesso em: 15 jun. 2021. Leitura https://www.contabeis.com.br/artigos/6274/a-importancia-de-indicadores-financeiros-no-seu-negocio/ https://www.contabeis.com.br/artigos/6274/a-importancia-de-indicadores-financeiros-no-seu-negocio/ https://www.contabeis.com.br/artigos/6274/a-importancia-de-indicadores-financeiros-no-seu-negocio/ https://www.contabeis.com.br/artigos/6274/a-importancia-de-indicadores-financeiros-no-seu-negocio/ Critérios para decisão de investimentos 73 Nesse contexto, Samanez (2007) aponta a noção primária de risco ligada à possibilidade de perdas ou danos em alguma situação gené- rica de incerteza. Contudo, quando se refere a investimentos, o autor descreve que o termo incerteza representa algo mais neutro, podendo significar ganhar menos que o esperado e não necessariamente estar associado a perdas. Se houver incerteza, há a possibilidade de não se cumprir as expectativas iniciais. Assaf Neto e Lima (2019) classificam os riscos em três categorias: I. Riscos estratégicos: são aqueles que estão envolvidos nas decisões tomadas pelos administradores ou gestores de uma organização, que os autores denominam de risco de negócio. Esses riscos assumidos pelos gestores objetivam gerar riquezas para os proprietários ou acionistas, conforme seu posicionamen- to diante do mercado com relação aos preços praticados, às es- tratégias de vendas desenvolvidas, às campanhas de marketing adotadas, à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos etc. É importante destacar que as ações e decisões tomadas pelos gestores de uma organização são afetadas por variáveis externas e incontroláveis que representam o segundo tipo de risco descri- to por Assaf Neto e Lima (2019). II. Riscos não estratégicos: riscos que causam influência sobre a performance de um investimento feito e não sofrem com as decisões tomadas pelos gestores de um empreendimento, ou seja, envolvem variáveis externas incontroláveis, como as que são representadas pelos riscos macroeconômicos ou conjunturais, tais quais as oscilações da renda, a inflação, que afeta o poder de compra dos consumidores, e as instabilidades políticas e econômicas implementadas pelos governos. Esses riscos não estratégicos podem ser entendidos como aque- les que ocorrem por fatores externos que afetam igualmente to- das as empresas de uma sociedade e se referem a aspectos da conjuntura, social e econômica do país. III. Riscos financeiros: Assaf Neto e Lima (2019) descrevem como os riscos ligados aos prováveis prejuízos ou insucessos ocorridos nos mercados financeiros, que podem ser causados por um grande número de oscilações possíveis ocorridas em variáveis financeiras, são capazes de afetar o comportamento e o resultado dos investimentos. 74 Análise e decisão de investimentos Os riscos financeiros são frequentes na atividade empresarial e são os que mais preocupam os investidores, pois afetam diretamente os resultados dos investimentos. Os autores abordam que os riscos financeiros podem ser subclassificados conforme sua relação ao tipo de exposição ao risco: • Risco de mercado: é caracterizado pela possibilidade de apre- sentar resultado negativo decorrente de alterações nos preços praticados no mercado financeiro ou de parâmetros de mercado, como: taxas de juros, taxas de conversão de moedas estrangei- ras, cotações de preços de ações, commodities e derivativos etc. Um exemplo deste tipo de risco ocorre em empresas que atuam no comércio exterior, no qual oscilações nas taxas de conversão do real para uma moeda estrangeira podem ser determinantes para o resultado (lucro ou prejuízo). Para ilustrar esse exemplo, imagine um exportador que recebe em dólar por suas vendas ao exterior. Ao converter o montante recebido (moeda estrangeira) em reais, caso a cotação do dólar esteja muito baixa em comparação ao real, o exportador receberá uma quantida- de de reais menor (muitas vezes abaixo de suas expectativas). Assim, ao receber menos reais que o esperado, o valor recebido em moeda nacional pode ser insuficiente para cobrir seus gastos de produção e, dessa forma, representa um prejuízo. De maneira inversa, caso a taxa de conversão do dólar para o real esteja muito alta, provavelmente a empresa apresentá um lucro acima do esperado. • Risco de crédito: refere-se à possibilidade de não pagamento ao investidor por descumprimento do tomador do recurso investido. Como todo investimento tem como característica a incerteza, é fácil compreender que existe a possibilidade de o investidor não receber, ao término do prazo, o valor prometido, por questões de inadimplência do tomador do recurso, como em casos de insol- vência caracterizados por falências e concordatas. Assaf Neto e Lima (2019) incluem o Risco Soberano, que repre- senta a possibilidade de ocorrência de insolvência de um país com relação aos credores estrangeiros (no caso do nosso país, esse risco é conhecido como risco-Brasil). Critérios para decisão de investimentos 75 • Risco de liquidez: é a possibilidade de o dinheiro não estar dis- ponível ao investidor, quando este tem a necessidade de utilizar o recurso dentro das regras definidas para o investimento. Este tipo de risco pode ocorrer em diversas situações, como quando um investidor adquire ações de uma empresa pouco negociada no mercado acionário. Caso necessite resgatar o valor aplicado, provavelmente terá dificuldade de reaver o capital, em função do impasse para encontrar um investidor disposto a aplicar em uma empresa com ações com baixo índice de negociações. O mesmo ocorre no mercado imobiliário, quando um imóvel é colocado à venda e decorre muito tempo para que ela seja concretizada. A saída para quem precisa de dinheiro, nesse caso, é diminuir o valor da oferta da venda que, muitas vezes, pode representar vender o bem abaixo do preço de mercado (deixar de ganhar o esperado ou até perder dinheiro). Existe a possibilidade de o to- mador de recursos não ser capaz de saldar um débito em função da insuficiência de recursos. • Risco operacional: é a possibilidade de ocorrer perda de dinhei- ro por mau funcionamento, erro, inadequação de processos, pro- cedimentos, sistemas ou falhas humanas, eventos inesperados externos etc. Este tipo de risco se refere a ocorrências de problemas de como as operações em uma empresa acontecem, sendo de natureza de problemas de funcionamento das operações, envolvendo ou não as pessoas que atuam nas operações ou até mesmo fraudes. As possibilidades nas quais se apresentam os problemas podem estar relacionadas a diversos fatores, como falta de planejamen- to, decisões incorretas dos gestores, falta de treinamentos ou competências, falta de materiais ou insumos para produção etc. • Risco legal: é descrito como sendo aquele que a empresa pratica em desacordo com as normas obrigatórias descritas para a sua atua- ção, ou em desacordo com as condições estabelecidas em contrato. Evidentemente, existe uma quantidade imensa de normas que se referem ao funcionamento das empresas no Brasil e a como este tipo de risco está associado ao não cumprimento de normas legais, relacionadas às atividades ou ao cumprimento de obriga- ções tributárias. Nesse sentido, devemos compreender que se As aplicações no mercado financeiro brasileiro apre- sentam diversos riscos. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) apresenta o artigo Riscos de investimen-to: entenda quais e como se proteger, que tem o propósito de aumentar a compreensão a respeito dos riscos envolvidos em operações de investimen- tos no mercado financeiro. Para conhecer os princi- pais aspectos sobre riscos de investimento, confira o link a seguir. Disponível em: https:// comoinvestir.anbima.com.br/ noticia/riscos-de-investimento/. Acesso em: 1 jul. 2021. Saiba mais https://www.contabeis.com.br/artigos/6274/a-importancia-de-indicadores-financeiros-no-seu-negocio/ https://www.contabeis.com.br/artigos/6274/a-importancia-de-indicadores-financeiros-no-seu-negocio/ https://www.contabeis.com.br/artigos/6274/a-importancia-de-indicadores-financeiros-no-seu-negocio/ 76 Análise e decisão de investimentos refere à aplicação de sanções legais (penalidades), por parte dos órgãos reguladores, como aplicação de multas e, em alguns ca- sos, perdas de benefícios quando for verificada a sua ocorrência. Outro caso de risco legal refere-se à não observância de cláusu- las contratuais, que está associada a possíveis perdas financei- ras referentes às compensações em caso de descumprimento das condições estabelecidas no contrato, decorrentes de con- tratos mal elaborados que permitem a contestação quando a relação estabelecida pelo contrato firmado não encontra am- paro legal na legislação vigente. A Figura 1 apresenta uma síntese dos diversos tipos de riscos classi- ficados e divididos em três grupos e seus respectivos subgrupos. Análise de riscos Riscos estratégicos Riscos de mercado Riscos não estratégicos Risco de crédito Riscos financeiros Risco de liquidez Risco operacional Risco legal • Risco de taxas de juros • Risco de taxas de câmbio • Risco de commodities • Risco de ações • Risco de derivativos • Risco de concetrações de investimentos • Riscos de inadimplências • Riscos de degradação de crédito • Risco soberano • Risco de liquidez de ativos • Riscos de Fluxo de Caixa • Risco de fraude • Risco de equipamentos • Risco de qualificação • Risco de erro não intencional • Risco de modelagem • Risco de imagem • Risco de obsolescência • Risco de catástrofes • Risco de legislação • Risco tributário • Risco de contrato • Riscos do setor econômico • Riscos de inovação tecnológica • Riscos de produção e preços • Risco de marketing • Risco de cenário econômico • Risco político Figura 1 Análise de riscos e configuração de seus tipos Fonte: Assaf Neto; Lima, 2019, p. 6. Assaf Neto e Lima (2019) alertam que, muito embora seja possível segregar os tipos de riscos individuais mostrados na Figura 1, na práti- ca, os riscos aparecem de maneira combinada, ou seja, mais de um tipo de risco pode estar presente em um único empreendimento. Riscos e incertezas são características presentes em todos os investi- mentos. Todos os métodos de avaliação de investimentos utilizam variáveis com valores estimados, portanto, ao se definir um retorno de investimen- Critérios para decisão de investimentos 77 tos, os cálculos podem apresentar valores incorretos quando comparados com valores reais. Sendo assim, é importante entender a sistemática e com- preender como são definidos os valores de retorno de investimentos. 3.4 Retorno de investimentos Vídeo Em um investimento, risco e incerteza estão sempre presentes, pois não se pode precisar com exatidão quais serão as taxas de retorno e quais serão as variáveis envolvidas, bem como o modo como elas po- dem afetar as taxas de retorno, uma vez que quando decidimos inves- tir utilizamos estimativas de valores para construir padrões e critérios que nos amparam no processo de tomada de decisões para a escolha da melhor alternativa de investimento. Dessa forma, Samanez (2007) alerta que quanto maior for o tama- nho das possíveis faixas de retorno de um investimento, maior será a incerteza e, consequentemente, maior poderá ser a exposição ao risco associado à aplicação de recursos analisada. 3.4.1 Medidas de retorno de um investimento Ao se analisar a rentabilidade de um investimento, procedemos a uma verificação de variação de valores de um ativo financeiro em determinado período. Para demonstrar essa afirmação, Samanez (2007) refere-se à remu- neração oferecida por uma ação representada pelos dividendos pagos acrescidos do ganho de capital (valorização do preço da ação no mer- cado). Essa remuneração pode ser expressa em termos percentuais, dividindo-se a remuneração de uma ação pelo preço inicial dela. Acompanhe o seguinte exemplo para compreender como se rea- liza esse cálculo: Imagine que um lote de ações de uma companhia é adquirido por R$ 100,00/ação. O valor do dividendo pago é de R$ 8,00/ação, quando a ação vale R$ 115,00. Nesse caso, a remuneração seria representada pelo ganho de ca- pital, R$ 15,00, acrescido do valor do dividendo pago, R$ 8,00, ou seja, R$15,00 + R$ 8,00 = R$ 23,00. Em termos percentuais, essa remunera- ção seria R$ 23,00 / R$ 100,00 = 0,23 = 23%. 78 Análise e decisão de investimentos Com esse exemplo, podemos afirmar, de modo simples, que a ren- tabilidade de um investimento está associada à valorização dele em relação ao capital investido expresso de modo percentual. 3.4.2 Retornos históricos: acumulado, médio aritmético e geométrico Os retornos históricos de um investimento representam os resul- tados que regressaram aos aplicadores de recursos em determinado período de tempo. Samanez (2007) classifica esses retornos como: • Retorno Acumulado (RA): representa o ganho acumulado que um investidor obteria se conservasse seus recursos aplicados em determinado período, que pode ser expresso em diferentes uni- dades de tempo, como dias, semanas, meses anos etc. O RA é dado pela fórmula: RA = [π (xi+1)] – 1 Onde: π: significa a produtória de termos xi, com i variando de 1 até n. xi: representa o retorno anual referente a um período i. Assim: RA = [(x1 + 1) · (x2 + 1) · (x3 + 1) · (x4 + 1) · ... · (xn–1 + 1) · (xn + 1)] –1 Observe o seguinte exemplo, supondo os retornos expressos em termos anuais dados pela Tabela 1: Tabela 1 Retorno anual de um investimento no período de 5 anos Ano Retorno 1 5% 2 2% 3 3% 4 8% 5 7% Fonte: Elaborada pelo autor. Ao se utilizarmos os dados da Tabela 1 para calcular o RA, teremos: RA = [(x1 + 1) · (x2+ 1) · (x3 + 1) · (x4+ 1) · ... · (xn–1 + 1) · (xn + 1)] –1 RA = [(0,05 + 1) · (0,02 + 1) · (0,03 + 1) · (0,08 + 1) · (0,07 + 1)] – 1 RA = [(1,05) · (1,02) · (1,03) · (1,08) · (1,07)] – 1 RA = [(1,274777028)] – 1 = 0,274777028 Critérios para decisão de investimentos 79 Nesse exemplo, o Retorno Acumulado no período de 5 anos é de 27,48%. Esse valor representa o percentual de rentabilidade acumula- da do investimento ao longo de 5 anos, ou seja, qual foi o retorno do investimento com relação ao capital investido no período de 5 anos. • Retorno Médio Geométrico (RG): o cálculo de retornos com base na média geométrica se baseia na premissa de que quando efetuamos cálculos em que se medem valores percentuais acu- mulados em determinado período, como no caso da fórmula de RA, que, fundamentalmente, é uma relação de fatores acumula- dos por meio de fatores multiplicados (produtória π), utiliza-se a média geométrica que expressa qual seria o valor médio dessas variações percentuais no período analisado. Para um conjunto de valores acumulados em n períodos, a média geométrica pode ser descrita como sendo calculada por meio de uma raiz enésima desse agrupamento de valores. Assim, o RG de um inves- timento é dado pela fórmula: RG = �� x � �� �n i �� � �1 1 Em que xi representa o retorno anual referente ao ano i, com i va- riando de 1 até n. Vamos utilizar os dados da Tabela 1 para exemplificar como se calcula o RG para o período de 5 anos representado pelos dados dessa tabela: RG = �� x �� �i� n �� � �1 1 RG = x x x x x �� � 1 2 3 4 5 5 1 1 1 1 1 1�� � �� � �� � �� � �� �� � �· · · · RG = 0 05 1 0 02 1 0 03 1 0 08 1 0 07 15 , · , · , · , · ,�� � �� � �� � �� � �� �� � � �� ��1 RG = 1 051 02 1 03 1 08 1 07 15 , · , · , · , · ,� � � � � � � � � �� � � �� � RG = 1 274777028 15 , ) �� �− RG = 1,0497523263 – 1 = 0,0497523263 RG = 4,98% Nesse exemplo, o Retorno Médio Geométrico calculado no período de cinco anos será de 4,98% ao ano. • Retorno Médio Aritmético (RAr): se utilizarmos o cálculo de re- tornos com base na média geométrica para expressar a média de valores percentuais acumulados em determinado período, por que devemos utilizar a média aritmética em uma série de valores? 80 Análise e decisão de investimentos A resposta, nesse caso, é que a média aritmética é utilizada para se calcular o desvio padrão da série analisada. O Desvio Padrão (DP) é uma medida de dispersão dos dados em torno da média aritmética encontrada (que indica a uniformidade do conjunto de dados analisados), ou seja, quanto menor for o DP, menor a incerteza do retorno do investimento, pois indica como estão agrupa- dos os dados em relação à média aritmética e, por conseguinte, quanto menor for o DP, menor será o risco associado ao investimento analisado. A fórmula para se calcular o DP é dada por: DP x RA n i i n r � � � � ( ) 1 2 Onde: DP: representa o valor do desvio padrão para um conjunto de dados. xi: é o termo genérico do conjunto de dados. n: representa o número de elementos do conjunto de dados analisados. RAr: é a média aritmética dos dados analisados (no caso seria a média aritmética dos retornos). O cálculo do Retorno Médio Aritmético é dado pela fórmula: RAr = ∑x n i xi representa o retorno anual referente ao ano i, com i variando de 1 até n. Novamente, para exemplificar o cálculo, vamos utilizar os dados da Tabela 1 e calcular o RAr. RAr = ∑x n i RAr = x x x x x1 2 3 4 5 5 + + + + RAr = 0 05 0 02 0 03 0 08 0 07 5 , , , , ,+ + + + RAr = 0 25 5 0 05 5 00, , ,= =� � � �%�ao�ano O RAr no período de cinco anos será de 5,00% ao ano. Um assunto que gera dúvidas entre investi- dores é qual o melhor método para se calcular o retorno de aplicações, pois existem diversas formas para se deter- minar esse valor. Para auxiliar na compreensão do assunto, indicamos a leitura do artigo Como calcular a rentabilidade dos seus investimentos? Um modelo fácil de entender!, de Flavio Moura. Nele a análise realizada aborda as diferentes maneiras para se determinar como realizar esse cálculo, as vantagens e desvantagens de cada método e qual seria o mais apropriado e em qual situação. Disponível em: https://financials. com.br/como-calcular-retorno- de-investimento/. Acesso em: 1 jul. 2021. Leitura https://financials.com.br/como-calcular-retorno-de-investimento/ https://financials.com.br/como-calcular-retorno-de-investimento/ https://financials.com.br/como-calcular-retorno-de-investimento/ Critérios para decisão de investimentos 81 A decisão de se aceitar um projeto de investimentos é facilitada pe- los métodos do TIR e do VPL, contudo, há aspectos importantes que devem ser considerados na obtenção de parâmetros definidos nos cál- culos quando utilizados esses métodos. 3.5 Outras considerações sobre investimento Vídeo Os métodos de avaliações de investimentos pelo TIR e VPL repre- sentam ferramentas objetivas, com base em números calculados por meio de modelos algébricos e premissas de estimativas variáveis di- versas relacionadas a comportamentos econômicos, políticos e outros. Neles verificamos os aprofundamentos e o entendimento a respeito de características dessas técnicas, que facilitam a utilização dos métodos em processos decisórios de seleção de alternativas de investimentos. 3.5.1 Considerações com relação ao Valor Presente Líquido (VPL) Bruni e Famá (2017) destacam que uma característica importante ao se utilizar o VPL para a avaliação e escolha de um projeto de inves- timentos é que, conforme o custo de capital investido (k) oscila, o VPL varia de maneira inversa, ou seja, quanto maior o valor de k, menor será o valor do VPL encontrado. Os autores exemplificam esse efeito utilizando o Fluxo de Caixa estimado de um projeto de investimento hipotético representado na Tabela 2, a seguir: Tabela 2 Fluxo de Caixa estimado de um projeto de investimento hipotético Ano 0 1 2 3 Fluxo de Caixa estimado (R$) –24,00 12,00 12,00 12,00 Fonte: Bruni; Famá, 2017. Para um custo de capital investido k = 5% ao ano, o valor do VPL será dado pelo seguinte cálculo: VPL � k ��� �� k � k � � � �� � � �� � � �� � 24 00 12 00 1 12 00 1 12 00 11 2 3 , , , , VPL = R$ 8,68 82 Análise e decisão de investimentos Se utilizarmos a mesma sistemática de cálculo para outros valores de custo de capital (k), construímos a Tabela 3: Tabela 3 Valores do VPL calculados por meio dos valores do Fluxo de Caixa representados na Tabela 2. k 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% VPL 8,68 5,84 3,4 1,28 –0,58 –2,21 –3,65 –4,93 Fonte: Bruni; Famá, 2017. Para ilustrar como o VPL apresenta o comportamento de maneira inversa à variação do custo de capital (k), observe a Figura 2, que ilus- tra esse efeito (quanto maior o valor de k, menor será o valor do VPL encontrado). 0% 10% 30%20% 40% 50% Área de rejeição de investimentos Área de aceitação de investimentos VPL k 15,00 10,00 (5,00) 5,00 (10,00) – (15,00) Figura 2 Gráfico da relação inversa que há entre o VPL e o k Fonte: Bruni; Famá, 2017, p. 86. TIR Percebemos no gráfico da Figura 2 que quando o custo de capital aumenta, o VPL decresce. Pelo uso do VPL, um investimento deve ser aceito quando o VPL for positivo. No gráfico, a área de aceitação do in- vestimento fica localizada à esquerda da Taxa Interna de Retorno, que é a taxa para qual os valores do Fluxo de Caixa se anulam. Da mesma forma, pelo gráfico, podemos indicar que devemos rejeitar as propostas de investimento quando o k for superior ao TIR e os VPLs calculados forem positivos. Para k maior que TIR, os VPLs tornam-se negativos. Nesse caso, o projeto de investimento deve ser rejeitado. Com esse exemplo, fica evidente a importância de definição de custos de capital que sejam compatíveis com a rea- lidade de mercado. Critérios para decisão de investimentos 83 Valores equivocados aumentam o risco de decisões incorretas: po- dem ser rejeitadas boas alternativas de investimento, assim como po- dem ser aceitas opções de investimento inapropriadas sob o ponto de vista de retornos gerados. 3.5.2 Considerações com relação à Taxa Interna de Retorno Esse método é conhecido por determinar o retorno de um investi- mento em termos de taxas percentuais ao período (dias, meses, anos ou outra unidade de tempo). O método da TIR pode ser descrito pelo objetivo de apontar uma taxa de juros, na qual a somatória dos valores futuros do Fluxo de Caixa descontados até o instante inicial do investimento se iguala ao valor investido inicialmente (em termos absolutos). Observe a equação a seguir, que representa essa descrição: FC0 1 1 � �� � FC i t t t n ( ) , ou seja, 0 11 0� � � � � FC i t t t n ( ) FC . Onde: FC0: valor do Fluxo de Caixa no momento zero (recebimento – empréstimo ou pagamento – investimento). FCt: fluxos previstos de entradas ou saídas de caixa em cada pe- ríodo de tempo. n: último período considerado a partir do início do investimento. i: Taxa Interna de Retorno, que representa a incógnita da equação. t: termo do Fluxo de Caixa representado. Desmembrando os termos dessa somatória, teremos: 0 1 1 1 1 1 2 2 3 3 0� �� � � �� � � �� � ��� �� � � � � �� � � � �� �� FC i FC i FC i FC i �FCn n Sendo que VPL = � FC i FC i FC i FC i �FCn n 1 2 2 3 3 01 1 1 1�� � � �� � � �� � ��� �� � � � � �� � � � �� � 84 Análise e decisão de investimentos Então, para o cálculo da TIR, temos: VPL = 0 1 1 1 1 1 2 2 3 3 0� �� � � �� � � �� � ��� �� � � � � �� � � � �� � FC i FC i FC i FC i �FCn n Um problema que pode ser associado à utilização do método da Taxa Interna de Retorno se refere a uma análise dessa fórmula sobo ponto de vista algébrico. Sendo i a incógnita que representa a TIR nessa fórmula, teremos que determinar o valor dela. Nesse caso, sob o ponto de vista algé- brico, trata-se de se definir esse valor em uma equação polinomial de grau n. Quando resolvemos uma equação polinomial, podemos encontrar mais de uma raiz, que cumpre os requisitos da equação utilizada para cálculo do valor de i. Bruni e Famá (2017) indicam a regra de Descartes utilizada para se prognosticar o número de raízes múltiplas, que é igual ou menor ao número de mudanças de sinais dos valores analisados (no caso de análise de um investimento, estamos utilizando os valores do Flu- xo de Caixa). Para ilustrar esse efeito, vamos utilizar o exemplo dado por Bruni e Fáma (2017) para analisar um projeto de investimento, no qual se desembolsa um capital inicial de R$ 3.000,00, com valores estimados de Fluxo de Caixa de R$ 7.650,00 para o final do 1º ano e –R$ 4.830,00 para o final do 2º ano (note que o sinal negativo representa a necessi- dade de capital adicional para esse projeto). Dessa forma, podemos representar o DFC na Figura 3: – 3.000 –4.830 2 Tempo decorrido (ano) 10 7.650 Figura 3 Diagrama do fluxo de caixa para a análise do projeto de investimento Fonte: Adaptada de Bruni; Famá, 2017, p. 90. Critérios para decisão de investimentos 85 O DFC representado na Figura 3 pode ser expresso pela fórmula a seguir para se determinar o valor do IRR do fluxo: VPL � � �i � � �i � � � � � � �� � � �� �� �FC FC it n t t0 1 11 3 000 7 650 1 4 830 1( ) . . . 22 0� 2 Onde: i = IRR, que representa a incógnita da equação. FC0 = valor do Fluxo de Caixa no momento zero (recebimento – empréstimo, ou pagamento – investimento). FCt = fluxos previstos de entradas ou saídas de caixa em cada período de tempo. n = último período considerado a partir do início do investimento. t = termo do Fluxo de Caixa representado. � � �� � � �� � �3 000 7 650 1 4 830 1 0 1 2 . . .� � �i � � �i –3.000 + 7.650 · (1 + i)–1 – 4.830 · (1 + i)–2 = 0 Para facilitar a resolução, vamos considerar que x = (1 + i)–1. Assim, a equação adaptada fica: –3.000 + 7.650 · x – 4.830 · x2 = 0 Como trata-se de uma equação do segundo grau, podemos resolvê- -la pela fórmula de Bhaskara: x � b� � b ac a � � ( ( � � � � � � � � � �2 24 2 7 650 7 650 4 4 830 3 000. ( . ) · . ) · . ) ( �� 2 4 830· . )� x � � ��� � � � � 7 650 58 522 500 57 960 000 9 660 . . . . . . x � � ��� � � � 7 650 562 500 9 660 . . . x � � ��� � � � 7 650 750 9 660 . . Temos dois valores para x: x1 = 0,8695652174 Como x = 1 1 0 8695685174 1 1151 1�� � � � � �� � ��i x i , , Lembrando que a Taxa Interna de Retorno re- presenta a taxa de juros, sendo o VPL igual a 0. 2 86 Análise e decisão de investimentos Ou seja, i = 0,15 = 15%. x2 = 0,7142857143 Como x = 1 1 0 7142857143 1 1 401 2�� � � � � �� � ��i x i , , Ou seja, i = 0,40 = 40%. Assim, temos dois valores da TIR. Figura 4 Gráfico entre as estimativas k do custo de capital e os respectivos VPL VPL 50 50 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% K 100 150 0 200 Fonte: Bruni; Famá, 2017, p. 91. Ao analisar o gráfico da Figura 4, conclui-se que teremos os valores de VPL entre os intervalos de taxa [15%, 40%]. Fora desse intervalo, deve-se rejeitar o investimento, pois VPLque envolvem os recursos de um projeto de investimento, suas obrigações e os efeitos de transações. Objetivos de aprendizagem Iudícibus e Marion (2018) descrevem que um relatório contábil é uma forma resumida e ordenada no qual se apresentam informações contá- beis, com o objetivo de representar a posição financeira, o desempenho e os principais fatos registrados de um projeto de investimentos, seja de uma filial, de um setor ou de qualquer unidade que se queira analisar, com base nos registros de valores em um determinado período já decorrido. Os relatórios contábeis são divididos em dois tipos: 1. relatórios não obrigatórios; 2. relatórios obrigatórios. Os relatórios não obrigatórios são aqueles que não são exigidos por alguma lei, mas podem ser elaborados pelas empresas para uso dos gestores. Como exemplos, podemos citar o Demonstrativo de Fluxo de Caixa (DFC) e o Demonstrativo de Valor Adicionado (DVA), os quais podem ser elaborados e utilizados por empresas de pequeno porte, no entanto, não são obrigatórios para esses tipos de empresas. Já os relatórios obrigatórios, de acordo com Iudícibus e Marion (2018), possuem como principal característica o aspecto de serem exi- gidos por lei. Assim, esses relatórios são conhecidos como demonstra- ções financeiras ou demonstrativos financeiros, cuja obrigação é exigida para as Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/1976, reformada pela Lei n. 11.638/2007) ou por legislações específicas que constam do Novo Código Civil ou outra, como o Código Comercial (Lei n. 556/1850), a Lei Complementar n. 123/2006 (Simples Nacional e Supersimples), entre outras normas que regulamentam as empresas. 90 Análise e decisão de investimentos A exigência legal, quanto aos relatórios contábeis, varia conforme a classificação da estrutura da organização: há uma exigência legal maior para as estruturas maiores ou mais complexas das empresas. Por exemplo, as sociedades limitadas, com um faturamento superior a R$ 300.000.000,00 ou que apresentam um ativo total superior a R$ 240.000.000,00, seja individualmente ou em sociedades sob o mesmo controle. Nesse caso, as sociedades limitadas de grande porte passam a ter que cumprir as mesmas exigências legais das sociedades anô- nimas e não mais das sociedades limitadas. Dessa forma, a obrigato- riedade de tipos e variedades de relatórios financeiros obrigatórios a serem publicados aumenta. Descrevemos as demonstrações contábeis exigidas para as Socie- dades Anônimas e Sociedades Limitadas de grande porte que têm a obrigação legal de apresentar, no final de cada exercício social, as se- guintes Demonstrações Financeiras (Contábeis): Caracteriza-se por mostrar a posição patrimonial e financeira da entidade em uma data específica. As informações do Ativo se referem aos bens e direitos ou aos recursos disponíveis para a organização em uma determinada data. Por isso, é considerada uma posição estática da organização. As informações do Passivo mostram as obrigações que a organização tem com terceiros. Já o Patrimônio Líquido representa a diferença entre o Total de Ativos subtraídos do total de Passivos. Um aspecto interessante do Balanço Patrimonial é que Ativos e Passivos se referem às informações presentes da organização, definidas por eventos passados que afetarão as posições futuras dessa organização. Exibe o valor das receitas, despesas e do resultado operacional em um período de tempo, geralmente, de 12 meses. A demonstração de resultado é considerada do tipo dinâmica, pois se refere a um período de tempo e não a uma data específica. Caracteriza-se por não ser obrigatório por lei, mas ter exigibilidade de publicação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apontar alterações no Patrimônio Líquido das organizações em um determinado período. O objetivo do uso desse relatório é evidenciar as movimentações de recursos na empresa. Evidencia qual é a destinação do resultado de um exercício, por meio de variações no saldo da conta de lucros ou prejuízos acumulados no Patrimônio Líquido, obtido por informações do Balanço Patrimonial. Balanço Patrimonial (BP) Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados (DLPA) (Continua) A leitura do texto Demonstrações contábeis: saiba quais são as obrigatórias, publicado no Jornal Contábil, exemplifica como os relatórios finan- ceiros obrigatórios variam conforme a estrutura e o porte das empresas, cada tipo de estrutura tem uma exigibilidade. Disponível em: https://www. jornalcontabil.com.br/demonstracoes- contabeis-saiba-quais-sao-as- obrigatorias/. Acesso em: 19 jul. 2021. Leitura https://www.jornalcontabil.com.br/demonstracoes-contabeis-saiba-quais-sao-as-obrigatorias/ https://www.jornalcontabil.com.br/demonstracoes-contabeis-saiba-quais-sao-as-obrigatorias/ https://www.jornalcontabil.com.br/demonstracoes-contabeis-saiba-quais-sao-as-obrigatorias/ https://www.jornalcontabil.com.br/demonstracoes-contabeis-saiba-quais-sao-as-obrigatorias/ Administração do caixa e gestão de investimentos 91 É exigida apenas para Sociedade Anônima de Capital Aberto e mostra, de maneira resumida, os valores que têm relação com a formação de riqueza gerada e distribuída em um determinado período. Apresenta as movimentações ocorridas no caixa das organizações (entradas e saídas de dinheiro). Segundo Salotti et al. (2019), a base das informações para se emitir esse relatório origina-se do registro das atividades operacionais, das atividades de financiamento e investimentos, sendo essas obtidas tanto no Balanço Patrimonial (BP) quanto na Demonstração de Resultados do Exercício (DRE). A utilização desse relatório é importante para se obter informações a respeito das origens e aplicações de caixa no período analisado. Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) Esses relatórios financeiros são utilizados para subsidiar o planeja- mento, com isso, pressupõe-se que comportamentos passados pos- sam servir de base para projetar situações e futuros comportamentos. É nesse sentido, que Iudícibus e Marion (2018) apontam as vantagens de se empregar a contabilidade como uma ciência ampla, fundamen- tada em princípios gerais, padronizados e universais, de modo que as informações contábeis, disponíveis por meio dos relatórios contábeis e financeiros, possam ser utilizadas e interpretadas para qualquer tipo de organização pelos interessados no conjunto de informações. Salotti et al. (2019) apontam que os demonstrativos contábeis e fi- nanceiros são utilizados por dois grandes grupos de interessados pelas informações contidas: os usuários internos e externos à organização. Os usuários internos são aqueles que possuem informações gerais detalhadas sobre as operações: volume de vendas por clientes, con- centração de vendas por produto, resultados por produtos, por filiais, concentração de negócios com fornecedores, entre outras operações. Já os usuários externos são aqueles que necessitam de elementos baseados na realidade para tomada de decisões, fundamentadas por análises em informações como: • investidores para aplicar recursos em uma empresa; • analistas para examinar e ponderar sobre a situação financeira da empresa; • governos para fiscalizar uma empresa; • sindicatos para subsidiar negociações trabalhistas; Além dos relatórios contá- beis e financeiros, existem as notas explicativas, as quais são informações adicionais que fazem parte e complemen- tam as demonstrações financeiras para auxiliar no entendimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício. Para saber mais, acesse o link a seguir. Disponível em: https://www. contabeis.com.br/contabil/ notas_explicativas/. Acesso em: 19 jul. 2021. Saiba mais https://www.contabeis.com.br/contabil/notas_explicativas/ https://www.contabeis.com.br/contabil/notas_explicativas/ https://www.contabeis.com.br/contabil/notas_explicativas/92 Análise e decisão de investimentos • bancos para a concessão de crédito e financiamento de bens; • fornecedores para concessão de crédito de bens e serviços. Iudícibus e Marion (2018) e Salotti et al. (2019) apontam que as in- formações devem ser registradas, padronizadas e estar de acordo com a normatização vigente. Salotti et al. (2019) descrevem que, no Brasil, a padronização obedece às normas internas e, no âmbito internacional, o padrão de divulgação era conhecido como BR Gaps (a partir de 2010, isso alterou). Logo, depois disso, até o presente, o padrão de divulgação das informações contábeis internacionais passou a ser obrigatório e esse deve ser elaborado confor- me os padrões internacionais de contabilidade da International Financial Reporting Standards (IFRS), e é aceito e adotado pela maioria dos países. O artigo Principais Consequências da Adoção das IFRS: análise da literatura existente e sugestões para investigação futura, dos autores: Isabel Maria Es- tima Costa Lourenço e Manuel Emílio Mota de Almeida Delgado Castelo Branco, apresenta como ocorre a adoção dos padrões internacionais de contabilidade da IFRS. A adoção desses padrões torna a utilização da contabilidade uma linguagem universal na qual as demonstrações financeiras são publicadas de maneira padronizada, conforme uma base de princípios em comum, permitindo que se comparem as empresas semelhantes em diversos países do mundo. Acesso em: 19 jul. 2021. https://www.scielo.br/j/rcf/a/ZLtwDr5mChxMYKMXLH8nR6f/?lang=pt&format=pdf Artigo Com o avanço dos recursos de tecnologia da informação, os siste- mas de informações internos se conectam e se integram com infor- mações, tanto do ambiente externo quanto do interno, para processar os dados contábeis, que são transformados em informações a serem utilizadas no processo de tomada de decisões. 4.2 Orçamentos de capital Vídeo Quando nos referimos a um orçamento, em nosso cotidiano, asso- ciamos o quanto deverá ser gasto para se atingir um objetivo, algo de que necessitamos, seja ele um produto, um serviço ou um projeto de investimentos. Administração do caixa e gestão de investimentos 93 Assim como utilizamos um orçamento em nossa vida privada, ele também é utilizado no âmbito organizacional/empresarial. Acerca disso, Hoji (2018) descreve o orçamento empresarial, que tem como objetivo antever os recursos a serem gastos, tendo em vista definir os passos que a empresa executará, a fim de obter o benefício pretendido. Assim, podemos compreender a relação es- tabelecida entre o planejamento das ações e o orçamento estabe- lecido para sua execução. De acordo com Hoji (2018), para que os insumos sejam gastos de maneira eficiente e eficaz, há a necessidade da utilização de um sistema de informações baseado em processos que sejam flexíveis para eventuais mudanças, pressupondo um ambiente dinâmico, que possibilite revisões e correções no planejamento e controle de operações. A Figura 1 mostra como deve ser o processo de planejamento, execução e controle baseado nesses pressupostos. PR O CE SS O D E D EC IS Õ ES Planejamento Execução Controle SI ST EM A DE IN FO RM AÇ Õ ES Sistema de orçamentos Sistema de desempenho Relatório de desempenho Orçamento aprovado Registro de contábeis Feedback 1 2 3 7 6 4 5 Fonte: Hoji, 2018. Figura 1 Processo de planejamento, execução e controle Vejamos de maneira detalhada a numeração das sequências das ações no planejamento, execução e controle apresentadas na Figura 1. 94 Análise e decisão de investimentos Mostra as três fases no processo de decisões: (i) planejamento; (ii) execução; e (iii) controle. O sistema de contabilidade confronta os dados contábeis gerados, com base nas atividades executadas, e os dados registrados no sistema de orçamentos. Após o orçamento ser aprovado, ele é registrado no sistema de orçamentos, o qual servirá de base para as atividades serem parametrizadas e realizadas. Exibe a composição do sistema de informações, sendo: sistema de orçamentos e sistema de contabilidade. Os gestores recebem o resultado de análises do desempenho, feito pelas áreas competentes e responsáveis para realizar essas análises. Caso ajustes sejam necessários, os gestores implementam ações corretivas. Os registros contábeis das atividades executadas são realizados. Hoji (2018) destaca que existem diversos tipos de orçamentos empresariais: É o tipo de orçamento mais conhecido e, por essa razão, é o mais difundido nas empresas. Uma característica desse tipo de orçamento é que não pode ser modificado após ser implantado e, assim, divergências entre os valores orçados e os valores verificados na prática devem ser justificadas pelos gestores. Trata-se de um orçamento muito utilizado por multinacionais, pois o planejamento e orçamento das filiais são fixados pelas matrizes e devem ser cumpridos pelas filiais em outros países. Pressupõe a realização de orçamentos que variam conforme níveis diferentes de atividades e, por esse motivo, também são conhecidos como orçamento variável. A principal característica desse tipo de orçamento é que existem diferentes metas associadas a diferentes níveis de atividades possíveis. Assim, o orçamento empresarial pode variar e se adaptar à realidade da atividade da empresa. Orçamento estático Orçamento flexível (Continua) Administração do caixa e gestão de investimentos 95 É indicado em casos nos quais o cenário econômico não tem oscilações bruscas, há um certo grau de previsibilidade no comportamento da economia, com base nos dados históricos de eventos passados. É o tipo de orçamento em que dados históricos não são utilizados, com o pressuposto de que equívocos e ineficiências ocorridos no passado não se repitam no futuro. Desse modo, todos os pressupostos utilizados nesse tipo de orçamento admitem uma similaridade com aqueles realizados em empresas que iniciam suas atividades, ou seja, não existem dados históricos a se considerar. É feita uma nova análise a cada novo orçamento realizado, em todos os setores da empresa, possibilitando detectar e corrigir eventuais deficiências na empresa. É o tipo de orçamento empresarial utilizado para produtos com um ciclo de vida curto, como nas empresas de tecnologia ou de vestuário e moda em geral. Neste caso, o orçamento abrange períodos muito curtos, em geral, de um a seis meses, pois as oscilações de demanda, nesses tipos de setores, podem ser muito voláteis. Orçamento de tendências Orçamento base zero ou Zero Based Budgeting Orçamento contínuo ou Rolling Budget É baseado no método de custeio baseado em atividades, Activity Based Costing (ABC), o qual analisa a relação de causa e efeito na utilização de recursos pelas empresas. Nesse tipo de orçamento, faz-se um mapeamento do uso de recursos, localizando em qual atividade se consumiu esse recurso e analisando qual o resultado obtido na utilização dele. Dessa forma, são estabelecidos elementos que permitem analisar a relação de causa e efeito dos gastos, localizados em uma determinada área da empresa e estudar meios de otimização no uso desses recursos. Orçamento baseado em atividades ou Activity Based Budgeting (ABB) É uma abordagem que tem alguns aspectos semelhantes ao orçamento flexível, pois não existem metas fixas na sua execução. A diferença é que, no método de orçamento variável, ocorrem metas definidas conforme níveis de atividade preestabelecidos, porém, no Beyond Budgeting, as metas são baseadas no momento vivenciado pela empresa e no benchmark externo à organização. Dessa forma, esse tipo de orçamento se caracteriza pela descentralização estratégica do planejamento. Beyond Budgeting 1 É importante destacar que um orçamento envolve a utilização e a compreensão de todas as fontes de recursos e as aplicações de capital, O texto O Método de Custeio ABC como instrumento de gestão, dos autores Cézar Volnei Mauss e Ricardo Migual Costi, publicadono III Seget, em 2006, apresenta informações sobre como o método de custeio ABC serve como base para se implementar o orçamento baseado em atividades numa empresa. Para saber mais sobre esse método, que associa custos utilizados em ativi- dades, permitindo identi- ficar ineficiências no uso de recursos nos diversos setores ou departamen- tos das empresas, acesse o link a seguir. Disponível em: https://www.aedb. br/seget/arquivos/artigos06/784_ Artigo%20Abc_Seget1.pdf. Acesso em: 19 jul. 2021. Leitura Hoji (2018) menciona que este método foi criado no início da década de 1970, os resultados foram positivos, porém não superiores aos apresenta- dos pelos concorrentes. 1 https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos06/784_Artigo%20Abc_Seget1.pdf https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos06/784_Artigo%20Abc_Seget1.pdf https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos06/784_Artigo%20Abc_Seget1.pdf 96 Análise e decisão de investimentos principalmente considerando os prazos de cada fonte de recursos, de modo que esses sejam suficientes para custear todos os gastos envol- vidos no projeto de investimentos. Nessa perspectiva, Salotti et al. (2019) apontam que o prazo de du- ração de um orçamento é de cinco exercícios, contudo, em casos em que o prazo de execução do projeto de investimentos ultrapasse esse período devido à execução de grandes obras de infraestrutura, às pes- quisas para desenvolvimento de aplicações científicas e tecnológicas em produtos comerciais, entre outras situações. Com essa compreensão de orçamento e sua relação acerca do seu prazo de duração, podemos definir o que é chamado de orçamento de capital. Segundo Gitman e Zutter (2017), o orçamento de capital pode ser descrito como sendo o processo de avaliação e seleção de investimen- tos de longo prazo, desde que estejam de acordo com o propósito de maximização da riqueza dos sócios ou proprietários de uma empresa. Ainda de acordo com os autores, o orçamento de capital é importante para se planejar os desembolsos que são feitos para se obter benefí- cios futuros, os quais são classificados em duas categorias: Capex significa Capital Expenditure e refere-se a quanto está investido ou gasto (dis- pêndio de fundos) em bens de capital, os quais se referem àqueles que proporciona- rão benefícios por um período superior a um ano. Opex significa Operational Expenditure e refere-se às despesas operacionais que trarão benefícios à empresa em até um ano, tais como: utilizações de serviços terceirizados, combustíveis para transporte e movimentação de mercadorias, gastos para realização de vendas, pagamentos de tributos. Em geral, a despesa do tipo Capex é realizada uma única vez, já os gastos classificados como Opex ocorrem de maneira contínua, confor- me transcorre a operacionalização das atividades de funcionamento da empresa. 4.3 Fluxo de Caixa Vídeo Inicialmente, precisamos entender que o Fluxo de Caixa mostra a distribuição de todas as entradas e saídas de recursos expressos em valores monetários e de equivalentes de caixa. Esses recursos finan- ceiros aplicados a curto prazo, os quais são representados por ativo de O texto A melhor opção é o CAPEX ou o OPEX, aborda como decidir orçamentos e a utilização de gastos em investimentos. Tam- bém explica a utilização dos conceitos de Capex e Opex para que os admi- nistradores de organiza- ções atinjam os objetivos desejados. Disponível em: https://www. contabeis.com.br/artigos/5404/a- melhor-opcao-e-o-capex-ou-o- opex/. Acesso em: 19 jul. 2021. Leitura https://www.contabeis.com.br/artigos/5404/a-melhor-opcao-e-o-capex-ou-o-opex/ https://www.contabeis.com.br/artigos/5404/a-melhor-opcao-e-o-capex-ou-o-opex/ https://www.contabeis.com.br/artigos/5404/a-melhor-opcao-e-o-capex-ou-o-opex/ https://www.contabeis.com.br/artigos/5404/a-melhor-opcao-e-o-capex-ou-o-opex/ Administração do caixa e gestão de investimentos 97 alta liquidez, podem ser rapidamente convertidos em valores disponí- veis para a empresa. Os responsáveis pela tomada de decisões utilizam as informações contábeis contidas nos relatórios financeiros, complementadas pelos dados obtidos com base no Fluxo de Caixa. Esse conjunto de dados e as informações fornecem elementos para que os gestores da empresa, e demais usuários dos relatórios financeiros, possam avaliar a aptidão da organização em gerar caixa e equivalentes desse quando houver necessidade de utilizar esses fundos. Dessa forma, prepara a organização para situações em que exis- ta previsão de saídas de caixa e não haja disponibilidade de recursos para cobrir essas saídas, bem como fornece previsões em situações nas quais haja excedentes de caixa. Desse modo, oferece informações para que a organização possa efetuar aplicações financeiras desses recursos, até datas futuras, quando houver necessidade de saídas de caixa das empresas. Além disso, a utilização das informações fornecidas pelo Fluxo de Caixa pode ser entendida como uma ferramenta de gestão, per- mitindo aos responsáveis pela administração dos recursos de uma empresa obterem informações do saldo de caixa de um período analisado. Normalmente, os gestores de organizações analisam as atividades de investimento à parte das atividades operacionais, de modo que possa se fazer uma análise, apenas dos efeitos proporcionados pelos investimen- tos, pois esses representam os resultados no futuro. Se os valores dos investimentos forem considerados na análise de Fluxo de Caixa Operacional corrente, podem fornecer informações que resultarão em análises sobreavaliadas de gastos, que diminuem o re- sultado corrente da entidade. Dessa forma, caso não separássemos as informações dos investi- mentos e dos lançamentos operacionais, haveria uma mistura de in- formações que poderiam ser utilizadas de maneira inadequada pelos gestores em um processo de tomada de decisões. Podemos exemplificar valores que podem ser considerados em Flu- xos de Caixa de atividades de investimentos: 98 Análise e decisão de investimentos • desembolsos e recebimentos de caixa para operações envolven- do ativos imobilizados e de longo prazo; • movimentos de caixa envolvendo transações com ativos intangíveis; • pagamentos ou recebimentos envolvendo aquisição ou venda de participações societárias; • movimentações financeiras relacionadas à liquidação de instru- mento de dívidas de outras entidades. Todas essas movimentações exemplificadas têm a característica de não estarem relacionadas às atividades operacionais da empresa ana- lisada. Podemos, então, entender que o Fluxo de Caixa deve ser anali- sado separando-se os valores operacionais de seus valores financeiros para que se faça a análise de seus valores. Essa separação de valores é utilizada no Demonstrativo de Fluxo de Caixa (DFC), sendo esse um relatório contábil utilizado para a análise financeira de uma organização. Além disso, esse relatório é dividido em três tipos de atividades que buscam fornecer informações utilizadas de maneira correta: 4. Atividades operacionais – referem-se às atividades próprias de produção de bens ou prestação de serviços relacionados às atividades principais das organizações. 5. Atividades de investimentos – relacionadas às oscilações em ativos de longo prazo ou imobilizados do Ativo não Circulante, como móveis, equipamentos, máquinas. 6. Atividades de financiamento – incluem-se operações, como empréstimos e financiamentos, que são realizadas na organização por sócios, investidores e credores da organização. Individualmente, esse tipo de relatório não fornece informações su- ficientes para analisar o resultado da empresa, uma vez que fornece informações apenas sobre os recursos disponíveis e suas movimenta- ções. Por esse motivo, essas informações devem ser utilizadas em con- junto com outros demonstrativos financeiros pelos gestores de uma organização, a fim de fornecer elementos de análise. Além disso, deve- -se avaliar, por exemplo, o resultado da empresa, a estrutura financei-ra, as alterações nos bens do ativo, a liquidez, a solvência, a capacidade de gerar caixa e os elementos equivalentes de caixa, entre as diversas análises que são feitas por meio da utilização dos relatórios financeiros de uma organização. Administração do caixa e gestão de investimentos 99 Um ponto importante: ao referirmo-nos ao Fluxo de Caixa, podemos apontar tanto as movimentações reais ocorridas no passado quanto as estimativas de valores que serão movimentados no futuro. As movimentações históricas dos Fluxos de Caixa referem-se aos valores que ocorreram de fato, ou seja, registros reais com aqueles re- gistrados no momento em que o fato gerador do lançamento contábil ocorre, segundo o princípio da tempestividade contábil. Esses valores reais são frequentemente utilizados para estimar os valores futuros de caixa, ou seja, o Fluxo de Caixa Projetado. O artigo Tempestividade da informação contábil em empresas brasileiras, dos autores Alini da Silva, Taciana Rodrigues de Souza e Roberto Carlos Klann, publicado na Revista de Administração de Empresas da FGV, em 2016, abor- da como o princípio da tempestividade se refere às informações contábeis registradas quando ocorrem os fatos que provocam variações patrimoniais em uma entidade, de modo que possibilite que essas informações estejam disponíveis aos usuários em tempo hábil para a sua utilização. Acesso em: 19 jul. 2021. https://www.fgv.br/rae/artigos/revista-rae-vol-56-num-5-ano-2016-nid-52727/ Artigo No caso de valores estimados no futuro, estas movimentações re- ferem-se a projeções do Fluxo de Caixa. Este tipo de Fluxo de Caixa afeta todas as áreas de uma empresa e antes de ser implementado deve ser discutido entre os usuários internos que são afetados pelas informações nele contidos. Um déficit ou sobra de caixa é afetado por prazos que são concedidos às empresas, pelos diversos públicos que se relacionam com ela e por diferentes motivos. Assim, pode-se citar: os fornecedores (de insumos e de produtos), os prestadores de serviços, a área comercial ou inclusive o Governo. Dessa forma, qualquer ato em que ocorra o envolvimento com ações, que afetam o prazo de movimentações de valores do Fluxo de Caixa estimado, deve ser discutido antes de ser implementado e aceito. Com isso, a área financeira deve utilizar o Fluxo de Caixa para me- lhorar o funcionamento, em termos globais da organização, pois os responsáveis das diversas áreas que compõe essas empresas são os agentes, dos quais as decisões tomadas têm impactos que afetam a configuração das entradas e saídas de caixa de uma organização. Desta forma, a área financeira não se configura como responsável pelos valores que constam no Fluxo de Caixa. O entendimento que se https://www.fgv.br/rae/artigos/revista-rae-vol-56-num-5-ano-2016-nid-52727/ 100 Análise e decisão de investimentos deve ter do papel da área financeira é que ela tem a responsabilidade de fazer a gestão dos recursos que entram, para que estes possam estar disponíveis quando sejam necessários, para honrar os compro- missos financeiros assumidos pela organização. Com relação a isso, a projeção do Fluxo de Caixa é uma ferramenta que mostra eventuais problemas que ocorrerão no futuro e, assim, an- tes que ocorram, devem ser tomadas medidas a fim de maximizar os objetivos de lucro das empresas. Para compreender essa questão, observe uma situação hipotética, na qual a área comercial de uma empresa adota uma estratégia de parcelar as vendas, porém não consulta a área financeira da empresa. Figura 2 Consequências imediatas de uma ação comercial na área financeira • Adota um maior parcelamento para facilitar o pagamento dos clientes na venda de seus produtos. • A empresa aumenta o volume das vendas (a prazo). • Aumento dos Custos de Produção, sendo ocasionados pela necessidade de produzir mais para suportar as vendas. • Aumento da Receita de Vendas, devido às facilidades no parcelamento. Área comercial Área financeira Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 2 mostra que: De fato, isso representa um incentivo ao aumento de vendas, no entanto, ao avaliarmos as consequências, percebemos a necessidade de uma discussão da área comercial com outras áreas antes de ela adotar a prática do parcelamento de vendas, afinal, sabemos que o aumento de vendas afeta a necessidade dos insumos obtidos com os fornecedores, pois quanto maior a venda maior será a necessidade de matérias-primas, gerando um aumento no consumo de energia, a fim de movimentar a linha de produção. Ocorre também um aumento no esforço dos trabalhadores na área de produção, o que aumenta o volume de impostos a serem pagos, entre outros fatores. Se por um lado o aumento de vendas implica elevação de receitas pelas vendas, por outro, acarreta o incremento dos valores a pagar. 2 Muitas empresas adotam uma política de incentivos aos clientes para aumentar o volume de vendas, via oferta de produtos vendidos om parcelamento. Desta forma, a divisão do pagamento possibilita que muitos clientes que antes não eram capazes de comprar os produtos a vista, possam com a adoção de um parcelamento, adquiri-los com prestações que não comprometem sua saúde financeira. 1 Administração do caixa e gestão de investimentos 101 Pergunto a você, estudante, qual é o problema? Nos preços de venda estão incluídos os lucros que se referem aos ganhos da empresa, correto? Ao refletir sobre essa questão, o problema está no maior prazo con- cedido aos clientes da empresa. Se o aumento nos prazos de efetivação das receitas (parcelamentos oriundos das vendas) não for acompanha- do de negociações no prazo de pagamento das matérias-primas, dos serviços utilizados na produção, dos insumos, de qualquer outro fator de produção ou tributos, a empresa necessitará de recursos financeiros para o pagamento dessas obrigações. A empresa recorre às instituições financeiras e outros agentes superavitários da economia para suprir o déficit de caixa (que se formará com a adoção dessa política agressiva adotada pela área comercial) e então gera despesas financeiras. Acerca disso, o descompasso entre o prazo de recebimentos e paga- mentos é conhecido como descasamento de prazos. Este, reconhecida- mente, consome os resultados operacionais de uma empresa, os quais são corroídos pelo aumento de despesas e encargos financeiros que surgem para cobertura das necessidades de uma empresa. A gestão e o planejamento de uma empresa não podem ser descen- tralizados, pois se cada área tomar suas próprias decisões, haverá a inci- dência de inúmeros problemas que surgirão e afetarão não só o aspecto financeiro, mas também a própria performance de outras áreas. Vamos imaginar o exemplo do descompasso entre os prazos de recebimento e pagamento, para compreender o aspecto negativo de uma descentralização de decisões importantes. A área de compras pode ter uma meta de aquisições de matérias-primas mais baratas. Esta consegue uma redução nos valores, condicionada a uma aquisição com maiores quantidades junto a fornecedores. A área de compras bate sua meta relacionada a aquisições de matérias-primas mais baratas. 1 A área de produção aumenta suas atividades e consegue atingir suas metas de quantidades a serem produzidas. 3 Isso gera um problema para a área de gestão de estoques, a qual pressiona a área de produção para diminuir os estoques de matérias primas. 2 (Continua) 102 Análise e decisão de investimentos A área comercial tem metas de vendas e promove políticas de parcelamento que favorecem o consumidor e aumentam as quantidades vendidas e, assim, bate suas metas. 4 Finalmente, o resultado dessa sequência de ações da empresa chega à área financeira a qual precisa fazer a gestão da tesouraria e honrar os compromissos financeiros assumidos. Para isso, contrata empréstimos e financiamentos a fim de cobrir as necessidades de caixa. 5 Por fim, o resultado da empresa é muito baixo, pois o resultado operacional é consumidopelas despesas financeiras. 6 Para resolver essa problemática, o Fluxo de Caixa projetado pelas empresas deve ser elaborado com a participação de todas as áreas da empresa, de modo a detectarem possíveis distorções que uma área possa provocar em outra. Frezatti (2014) sugere que, ao se estruturar um Fluxo de Caixa e suas projeções, considere-se os grandes grupos de entradas e saídas de caixa: • Fluxo de Caixa Operacional – as entradas de caixa se referem aos resultados de movimentações de caixa originadas pela ven- da de produtos e serviços e a saídas de caixa, que devem estar ligadas ao pagamento de atividades relacionadas ao consumo de recursos utilizados para se obter essas vendas, como propagan- das custo de mercadorias vendidas, salário de vendedores, co- missões de vendas, entre outras a serem integradas. • Fluxo de Caixa Permanente – relaciona-se às movimentações de recursos originadas em aquisições, vendas e reformas de itens do Ativo permanente e de longo prazo. • Fluxo de Caixa dos Acionistas – é formado pelas movimenta- ções de valores relacionados a contas do Patrimônio Líquido e, portanto, afetam os proprietários e sócios da empresa (acionis- tas), em decorrência de decisões de capitalização, distribuição de dividendos e decisões de destinação dos lucros. • Fluxo de Caixa Financeiro – trata-se da soma de todos os Flu- xos de Caixa anteriores, envolvendo entradas de caixa, as quais Administração do caixa e gestão de investimentos 103 são representadas pelas necessidades de obtenção ou captação de recursos e pelas saídas de caixa como aplicações de recursos, além de recebimento ou pagamento de juros. Além disso, é importante mencionar o que verificamos no início des- te capítulo, sobre a análise de projeções de Fluxos de Caixa segregadas, lembrando que elas se originam quando realizamos os orçamentos de projetos de investimentos para se analisar isoladamente os resultados obtidos envolvendo projetos de investimentos. Com base nisso, um dos pontos a ser considerado é a compreensão entre regimes de com- petência e regime de caixa, pois eles afetam os lançamentos contábeis e o Fluxo de Caixa das empresas. 4.4 Relações entre Fluxo de Caixa e lucro Vídeo No processo de estruturação de uma projeção de Fluxo de Caixa é importante a participação das diversas áreas de uma empresa, como visto, pois os resultados de uma empresa são afetados de maneira ne- gativa, por fatos com origem em problemas de disponibilidades de re- cursos que são detectados nos Fluxos de Caixa projetados. Para entender conceitualmente qual é a relação entre o Fluxo de Caixa e o lucro que geram as diferenças de valores projetados, deve- mos revisar o que é regime de competência e o que se entende por regime de caixa. Quando projetamos os orçamentos operacionais de uma empresa, consideramos os resultados operacionais de uma organização com a previsão do volume de vendas e do volume de gastos futuros. Acerca disso, utilizamos o conceito de regime de competência, em que os lan- çamentos gerados pela contabilidade não levam em consideração os impactos financeiros que uma venda pode gerar. Ou seja, quando se registra uma operação de vendas, se for à vista, não ocorre nenhuma distorção nas informações geradas, pois o recebi- mento à vista proporciona valores que constam no Fluxo de Caixa, de maneira instantânea e real, contudo, se esse recebimento for a prazo, o resultado da venda pode não representar o resultado projetado pela empresa em suas operações. As vendas em si, que constam no demonstrativo de resultados, ocorreram e são registradas pela contabilidade; porém, o recebimento 104 Análise e decisão de investimentos dessas vendas, se forem negociadas a prazo, pode não ocorrer, por mais que sejam consideradas valores reais em ambos os relatórios. As razões podem ser relacionadas à inadimplência dos clientes ou outras, como fraudes ou erros na negociação. Por que isso ocorre em termos teóricos e como utilizar corretamente os relatórios contábeis? A resposta para esse questionamento leva em consideração as dife- renças conceituais na elaboração do Fluxo de Caixa e do Demonstrati- vo de Resultados. Com relação a isso, o Fluxo de Caixa tem como base o regime de caixa, o qual efetivamente se refere aos valores de entrada e saída de caixa e leva em consideração quando essas movimentações ocorrem, pois podem gerar déficit de caixa que deve ser coberto. Como visto anteriormente, os recursos que são alocados para sanar a necessidade de caixa e cobrir os eventuais déficit de caixa podem gerar encargos financeiros, os quais sacrificam os resultados operacionais previstos no Demonstrativo de Resultados. Com base nisso, podemos estabelecer as causas das diferenças que ocorrem entre o que está registrado em um Demonstrativo de Resultados e o que ocorre na realidade: a explicação das diferenças e distorções entre estimado e real ocorrem porque Demonstrativo de Resultados é elaborado por lançamentos contábeis, obedecendo o re- gime de competência, que se referem a lançamentos relacionados a fatos registrados no momento de fechamento das vendas e dos gastos relacionados à obtenção destas receitas. Os registros contábeis não re- fletem o que efetivamente ocorrerá até o momento de movimentações dos registros contábeis do Fluxo de Caixa. O regime de caixa reflete o que efetivamente ocorre na realidade, no momento da liquidação dos lançamentos contábeis registrados e previstos no Demonstrativo de Resultados, ou seja, o Fluxo de Caixa estimado das empresas considera valores futuros registrados no De- monstrativo de Resultados, que podem não ocorrer por eventos não previstos, por exemplo, em casos de não pagamento motivado pela inadimplência do consumidor. Marion (2018) descreve o regime de caixa como uma forma simplifi- cada de contabilidade utilizada na apuração de resultados, aplicado em O texto O que é e quais as diferenças entre regime de caixa e regime de compe- tência, do Jornal Contábil, apresenta a definição e as diferenças dos conceitos de regime de competência e regime de caixa. Estes são conceitos básicos de finanças para os gestores de uma empresa. Disponível em: https://www. jornalcontabil.com.br/o-que-e-e- quais-as-diferencas-entre-regime- de-caixa-e-de-competencia/ Leitura https://www.jornalcontabil.com.br/o-que-e-e-quais-as-diferencas-entre-regime-de-caixa-e-de-competencia/ https://www.jornalcontabil.com.br/o-que-e-e-quais-as-diferencas-entre-regime-de-caixa-e-de-competencia/ https://www.jornalcontabil.com.br/o-que-e-e-quais-as-diferencas-entre-regime-de-caixa-e-de-competencia/ https://www.jornalcontabil.com.br/o-que-e-e-quais-as-diferencas-entre-regime-de-caixa-e-de-competencia/ Administração do caixa e gestão de investimentos 105 empresa de pequeno porte (microempresas) e entidades sem fins lucra- tivos, como igrejas, clubes, associações e sociedades filantrópicas, entre outras de igual proporção. As empresas enquadradas no Simples Nacional podem optar por tributar suas receitas pelo regime de caixa ou pelo regime de compe- tência. Esse é um dos motivos por que os pequenos empresários con- fundem o regime de caixa e o regime de competência no Brasil. Muitos microempresários optantes pela tributação pelo regime de caixa obtém sucesso em seus empreendimentos e aumentam suas empresas, as quais acabam faturando mais e são reenquadradas pelo aumento do faturamento em empresas que são obrigadas a alterar seus relatórios contábeis e obrigações assessórias para apresentar à fiscalização, alterando seus registros de regime de caixa para regime de competência como base de tributação. Logo, o uso de relatórios contábeis, elaborados por lançamentos contábeis que utilizam o regime de competência permite a elaboração de índices financeiros que servem de ferramentas de análise da situa- ção financeira das empresas. O texto, Simples Nacional: Entenda como funciona a apuração pelo Regime de cai- xa, publicado no Jornal Con-tábil, apresenta a definição e as diferenças dos regime de caixa ou pelo regime de competência e como ocorre a tributação optantes pelo Simples Nacional. Disponível em: https://www. jornalcontabil.com.br/simples- nacional-entenda-como-funciona- a-apuracao-pelo-regime-de-caixa/. Acesso em: 19 jul. 2021. Leitura 4.5 Principais índices para análise e decisão de investimentos Vídeo Os índices ou coeficientes financeiros são ferramentas de análise que auxiliam os investidores no processo de decisão para seleção das melhores alternativas de investimento, pois permitem obter diagnósti- cos, evidências ou características que evidenciem a situação econômica ou financeira de todos os tipos de organização. Segundo Ribeiro (2018), é possível obter grandes quantidades de índices, pois podemos inter-relacionar os diferentes grupos de contas de um mesmo demonstrativo contábil ou, ainda, integrar um grupo de contas de um relatório contábil com grupos de contas de outros demonstrativos contábeis. Dessa forma, podemos, por exemplo, re- lacionar contas do Ativo com contas do Passivo (que fazem parte do Balanço Patrimonial) ou ainda utilizar o Ativo Total (uma conta do Pa- trimônio Líquido) com o Lucro Operacional (uma conta do Demons- trativo de Resultados). https://www.jornalcontabil.com.br/simples-nacional-entenda-como-funciona-a-apuracao-pelo-regime-de-caixa/ https://www.jornalcontabil.com.br/simples-nacional-entenda-como-funciona-a-apuracao-pelo-regime-de-caixa/ https://www.jornalcontabil.com.br/simples-nacional-entenda-como-funciona-a-apuracao-pelo-regime-de-caixa/ https://www.jornalcontabil.com.br/simples-nacional-entenda-como-funciona-a-apuracao-pelo-regime-de-caixa/ 106 Análise e decisão de investimentos Nesse sentido, Iudícibus (2017) aponta que a análise da situação fi- nanceira de uma empresa, que se utiliza de índices ou quocientes é fundamentada na comparação e relação entre as diversas contas dos Demonstrativos Financeiros e não de uma conta ou demonstrativo con- tábil isoladamente. Com relação a isso, os índices obtidos são reunidos em grupos de interesse de análise, conforme aponta Iudícibus (2017): I. Índices de liquidez • Índice de Liquidez Imediata: representa o que a empresa tem disponível para liquidar as obrigações de curto prazo (Passivo Circulante): Índice de Liquidez Imediata = Passivo Circulante Disponibilidades • Índice de Liquidez Corrente: representa o quanto a empresa possui disponível somado aos ativos que podem ser convertidos em dinheiro comparados ao total de obrigações que vencem a curto prazo (Passivo Circulante): Índice de Liquidez Corrente = Passivo Circulante Ativo Circulante • Índice de Liquidez Seca: representa uma medida de liquidez considerada conservadora, em casos nos quais os estoques gi- ram com elevada rotatividade, pois desconsideram os estoques que podem ser convertidos rapidamente em dinheiro. Índice de Liquidez Seca = Passivo Circulante Ativo Circulante – Estoques • Índice de Liquidez Geral: determina em que situação está a saú- de financeira da empresa, considerando-se o aspecto de liquidez da empresa analisada sob a perspectiva a longo prazo: Índice de Liquidez Geral = Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo Ativo Circulante + Ativo Realizável a Longo Prazo II. Índices de endividamento (estrutura de capital) • Índices de Participação de Capitais de Terceiros sobre Recur- sos Totais: representa o percentual da participação de capitais de terceiros em relação ao capital total da organização. Esse ín- dice é importante para verificação da dependência de capitais de terceiros, que poderá indicar uma situação de gastos financeiros Administração do caixa e gestão de investimentos 107 adicionais caso apresente longos períodos de déficit de caixa co- bertos por operações de empréstimo. Índice de Participação de Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais Exigível Total + Patrimônio Líquido Exigível Total = • Índices de Participação de Capitais de Terceiros sobre Capi- tais Próprios: representa a proporção da participação de capitais de terceiros em relação ao capital próprio da organização. Aque- les que apresentam resultados superiores a 1 poderão indicar uma situação de risco aparente caso esses apresentem longos períodos de déficit de caixa cobertos por operações de emprésti- mo ou captação de recursos de terceiros. Nesse caso, a empresa deverá considerar alternativas de captação de recursos próprios para diminuir essa dependência dos recursos de terceiros e de- finir uma correta combinação de capital próprio e de terceiros. Índice de Participação de Capitais de Terceiros sobre Capitais Próprios Patrimônio Líquido Exigível Total = • Índices de Participação de Dívidas de Curto Prazo sobre En- dividamento Total: representa a proporção da participação de capitais de curto prazo em relação ao endividamento total da or- ganização. Esse índice poderá indicar uma situação de risco, caso represente uma situação na qual ocorra uma expansão finan- ciada por empréstimos a curto prazo originadas de recursos de terceiros, pois, normalmente, projetos de expansão têm prazos longos de amortização. A exceção para esse comentário ocorre quando o período do payback dos ativos adquiridos para a expansão desses seja a cur- to prazo. Índices de Participação de Dívidas de Curto Prazo sobre Endividamento Total Exigível Total Passivo Circulante = III. Índices de rotatividade (giro) • Índice de Rotatividade do Estoque de Produtos Acabados: ex- pressa a velocidade com que os estoques de produtos acabados são renovados em função das saídas de produtos provocadas pelas vendas, ou seja, estabelece elementos dinâmicos (rotativi- dade expressa movimentações de produtos) que demonstram o número de vezes em que um estoque foi renovado em um perío- do de tempo. 108 Análise e decisão de investimentos Índice de Rotatividade do Estoque de Produtos Acabados Estoque Médio dos Produtos Acabados Custo dos Produtos Vendidos = • Prazo Médio de Recebimento de Contas a Receber (origina- das de Contas a Receber): mostra qual é o prazo médio espera- do de recebimento da empresa de suas vendas a prazo. Assim, o valor de “Contas a Receber Médio” deve representar a média do maior número possível de saldos da conta “Contas a Receber” observado ao longo do período de análise. Prazo Médio de Recebimento de Contas a Receber Vendas a Receber Médio Contas a Receber Médio = • Prazo Médio de Contas a Pagar (originadas da compra de in- sumos básicos a prazo): mostra qual é o prazo médio espera- do de pagamento da empresa de suas compras a prazo. O valor de “Contas a Pagar Médio” deve ser obtido por meio do maior nú- mero possível de saldos do “Contas a Pagar” e deve representar a média do maior número possível de saldos da conta “Contas a Pagar” do período considerado. Prazo Médio de Contas a Pagar Vendas a Pagar Médio Contas a Pagar Médio = • Índice de Posicionamento Relativo: este índice indica a relação entre o prazo médio de recebimento e de pagamentos da empresa e de suas compras a prazo. Quanto maior for o valor deste índice maior o risco de a empresa estar deficitária em suas contas. Valo- res inferiores a 1,0 indicam que a empresa tende a ter períodos maiores de posições superavitárias, mas não afasta a ocorrência de estar deficitária, por tratar-se de valores médios. Quando esse valor for próximo ou superior a 1,0 a empresa necessita analisar se a margem de lucro praticada é suficiente para suportar os custos de cobertura dos caixas deficitários. Índice de Posicionamento Relativo Prazo Médio de Pagamentos Prazo Médio de Recebimentos = • Índice de Rotatividade do Ativo (Giro do Ativo): indica quantas vezes o Ativo foi renovado em relação às suas vendas. Podem ser feitas análises específicas de grupos do Ativo, como Ativo Circu- lante, Ativo Permanente etc. Para efetuar essa análise específica, basta considerar o numerador da fórmula utilizada para calcular este índice,para determinar o valor dos juros incide exclusivamente sobre o capital inicial, ou seja, nesse critério o valor dos juros é calculado como uma progressão aritmética 2 . Para exemplificar como é feito esse cálculo, vamos acompanhar os conceitos básicos de álgebra matemática. Imagine um investidor que aplica um valor de R$ 10.000,00 no regime de capitalização de juros simples, a uma taxa de juros de 5,00% ao mês por um período de 4 meses. Qual é o valor a ser resgatado no final do período da operação? Para analisar, resolver e compreender essa questão, acompanhe a tabela a seguir. Tabela 1 Demonstrativo do cálculo do exemplo utilizando juros simples Tempo (meses) Saldo ini- cial (R$) Cálculo dos juros (R$) Acréscimo mensal (R$) Saldo devedor final (R$) 1 10.000,00 10.000,00 · 0,05 = 500,00 500,00 10.500,00 2 10.500,00 10.000,00 · 0,05 = 500,00 500,00 11.000,00 3 11.000,00 10.000,00 · 0,05 = 500,00 500,00 11.500,00 4 11.500,00 10.000,00 · 0,05 = 500,00 500,00 12.000,00 Fonte: Elaborada pelo autor. O valor a ser resgatado no final do período é de R$ 12.000,00. É importante destacar alguns procedimentos nesse cálculo: I. A matemática financeira adota em suas fórmulas o pressuposto da uniformidade de número de dias, ou seja, a variável tempo é medida em termos comerciais, não em termos civis: A progressão aritmética é uma sequência de números na qual o pri- meiro termo representa a base de cálculo e os termos subsequentes são determinados a partir de uma soma de um número constante. 2 Introdução à análise de investimentos 13 Medida do tempo Medida comercial (dias) Medida civil (dias) Ano 360 365 ou 366 dias Mês 30 28, 29, 30 ou 31 II. Deve-se realizar os cálculos utilizando a notação numérica e não a percentual. Assim, no exemplo, 5,00% é convertido para 0,05. Observe que na Tabela 1 os valores formam uma sequência com acréscimo constante: R$ 10.000,00; R$ 10.500,00; R$ 11.000,00; R$ 11.500,00 e R$12.000,00 – com valor inicial de R$ 10.000,00 soman- do-se o valor constante de R$ 500,00 em cada mês, caracterizando o comportamento de uma progressão aritmética, na qual o valor de juros incide somente sobre o valor inicial. 2. Regime de capitalização composta ou juros compostos, em que o cálculo para determinar o valor dos juros incide sobre o capital acrescido dos juros. Nesse critério, o valor dos juros é calculado sobre o capital acumulado, ou seja, como uma progressão geométrica 3 . Vamos retornar ao exemplo proposto no caso dos juros simples, agora mudando para o regime de capitalização composta para compa- rar os valores. Considere que o investidor aplica um valor de R$ 10.000,00 no regi- me de capitalização composta, a uma taxa de juros de 5,00% ao mês, por um período de 4 meses. Qual é o valor a ser resgatado no final do período da operação? Para analisar e resolver essa questão, acompanhe a tabela a seguir. Tabela 2 Demonstrativo do cálculo para resolução do exemplo utilizando juros compostos Tempo (meses) Saldo ini- cial (R$) Cálculo dos juros (R$) Acréscimo mensal (R$) Saldo devedor final (R$) 1 10.000,00 10.000,00 · 0,05 = 500,00 500,00 10.500,00 2 10.500,00 10.500,00 · 0,05 = 525,00 525,00 11.025,00 3 11.025,00 11.025,00 · 0,05 = 551,25 551,25 11.576,25 4 11.576,25 11.576,25 · 0,05 = 578,81 578,81 12.155,06 Fonte: Elaborada pelo autor. Progressão geométrica é uma sequência de números na qual a base de cálculo dos termos subsequentes é determi- nada a partir do capital inicial acrescido dos juros acumulados. 3 14 Análise e decisão de investimentos O valor a ser resgatado no final do período, obtido pelo método de cálculo do regime de capitalização composta, é de R$ 12.155,06. Quando comparamos esse valor com o resultado de R$ 12.000,00 obtido pelo método de cálculo dos juros simples, percebemos o efeito de se ter a base de cálculo crescente nos juros compostos, pois a di- ferença de R$ 155,06 entre os resultados dos dois métodos refere-se justamente ao fato de incorporar ao capital inicial o valor dos juros acu- mulados na base de cálculo, conhecido como juros sobre juros. No Brasil, a maioria das operações envolvendo a remuneração do dinheiro corresponde ao regime de capitalização composta, pois o país passou por vários períodos de inflação elevada no passado e, por esse motivo, existe uma prática de realizar operações que adotam a incorpo- ração dos juros ao saldo devedor como base de cálculo para o período subsequente. É raro o uso de operações de juros simples no país. Em operações financeiras internacionais e adotadas na maioria dos países desenvolvidos, o regime de capitalização predominante é de ju- ros simples. A seguir veremos as fórmulas para cálculo de juros. I. Juros simples: • Relacionando o Valor Inicial para o Valor Final da operação ou Valor de Resgate: VF = VP · (1 + i · n) • Cálculo dos juros de uma operação. J = VP · i · n Onde: VF = Valor de Resgate ou Valor Futuro. VP = Valor Inicial ou Valor Presente. i = taxa de juros a ser adotada na operação. n = prazo da operação. J = valor dos juros acumulados. Para exemplificar a utilização dessas fórmulas de juros simples e comparar o resultado com o mesmo problema visto na Tabela 1: Valor Aplicado VP = R$ 10.000,00 Taxa de juros i = 5,00% ao mês (lembre-se de converter a taxa expressa em porcentagem para a notação numérica, considere: 5% = 0,05 para então substituir o valor da taxa “i” nas fórmulas). Introdução à análise de investimentos 15 Período n = 4 meses. Qual é o valor a ser resgatado no final da operação (VF) e qual o é valor dos juros (J) desta operação? Resolução: Cálculo do Valor de Resgate, ou Valor Futuro da operação: VF = VP · (1 + i · n) VF = 10.000,00 · (1 + 0,05 · 4) VF = 10.000,00 · 1,20 VF = 12.000,00 Cálculo dos juros da operação: J = VP · i · n J = 10.000,00 · 4 · 0,05 J = 10.000,00 · 0,20 J = 2.000,00 Perceba que, se somarmos o valor aplicado aos juros simples no período da operação, teremos como resultado o Valor de Resgate: VF = VP + J VF = 10.000,00 + 2.000,00 VF = 12.000,00. II. Juros compostos • Relaciona o Valor Inicial ao Valor Final da operação: VF = VP · (1+ i)n • Cálculo dos juros. J = VP · [(1+ i)n – 1] Onde: VF = Valor de Resgate ou Valor Futuro. VP = Valor Inicial ou Valor Presente. i = taxa de juros a ser adotada na operação. n = prazo da operação. J = valor dos juros acumulados. Novamente, para exemplificar a utilização dessas fórmulas de juros com- postos, vamos utilizar o problema visto na Tabela 2 e comparar os resultados. Valor aplicado VP = R$ 10.000,00 Taxa de juros i = 5,00% ao mês (juros compostos). Período n = 4 meses. Qual é o valor a ser resgatado no final da operação (VF) e qual é o valor dos juros (J) dessa operação? 16 Análise e decisão de investimentos Resolução: Cálculo do Valor de Resgate ou Valor Futuro da operação: VF = VP · (1+ i)4 VF = 10.000,00 · (1+ 0,05)4 VF = 10.000,00 · 1,2155062 VF = 12.155,06 Cálculo dos Juros da operação: J = VP · [(1 + i)n –1] J = 10.000,00 · [(1 + 0,05)4 –1] J = 10.000,00 · 0,2155062 J = 2.155,06 Ao somarmos o valor aplicado aos juros compostos no período da operação, teremos como resultado o Valor de Resgate: VF = VP + J VF = 10.000,00 + 2.155,06 VF = 12.155,06 As regras matemáticas básicas que foram apresentadas nessa se- ção são imprescindíveis para se calcular o valor do dinheiro em diferen- tes instantes. Como verificamos, conforme o tempo varia, precisamos calcular o seu respectivo valor, pois não podemos comparar valores em datas diferentes. Abordaremos a seguir outras técnicas que serão utilizadas na análise de investimentos. 1.2 Elementos das análises dos investimentos Vídeo Para exercer suas atividades de modo eficiente, é comum que o gestor financeiro de uma empresa utilize diversas ferramentas admi- nistrativas. Uma que se destaca na avaliação de investimentos é o Fluxo de Caixa. Para Silva (2018), o Fluxo de Caixade acordo com o saldo do grupo de Ativo que se deseja estudar. Valores baixos desse índice podem indicar ineficiências Administração do caixa e gestão de investimentos 109 financeiras, como estoques elevados, quando é feita uma análise do grupo específico para o Ativo Circulante. Nesse caso, valores muito elevados em estoque podem significar excesso de dinheiro investido sem render nos estoques, porém essa conclusão deve ser complementada com o estudo de características próprias do setor, como prazos de reposição de estoques e comparação des- te índice com outras empresas do setor. Rotatividade do Ativo (Giro do Ativo) Ativo Médio Vendas = IV. Margem de lucro sobre as vendas • Margem Operacional: aponta qual é a rentabilidade da empresa com relação ao volume de vendas, ou seja, expressa a rentabi- lidade operacional (obtida por meio das vendas e descontando os gastos para a produção e a comercialização dos produtos). As vendas consideradas para cálculo são as vendas líquidas, porém é importante analisar o efeito das devoluções e vendas cancela- das com base em uma análise adicional para detectar e corrigir algum problema que motive essas devoluções e cancelamentos, quando forem valores expressivos. Margem Operacional Vendas Líquidas Lucro Operacional = • Margem Líquida: aponta qual é a rentabilidade líquida da em- presa com relação ao volume de vendas, ou seja, expressa a ren- tabilidade obtida com as vendas, deduzindo todas as despesas de produção e comercialização e, com isso, inclui na dedução todas as outras despesas (por exemplo, as despesas financeiras) e o Imposto de Renda. Margem Líquida Vendas Líquidas Lucro Líquido = V. Giro do ativo sobre as vendas • Giro do Ativo Operacional: indica a rotatividade e é uma varian- te de análise que tem como foco o volume de vendas em relação aos Ativos Operacionais, ou seja, mede a eficiência das vendas com relação ao valor investido nos Ativos Operacionais médios em um determinado período. Giro do Ativo Operacional Ativo Operacional Médio Receitas Operacionais Líquidas = 110 Análise e decisão de investimentos • Giro do Ativo Total: da mesma forma que o índice anterior, tam- bém indica a rotatividade, porém é uma variante de análise que tem como foco o volume de vendas em relação aos Ativos Totais, ou seja, mede a eficiência das vendas com relação ao valor in- vestido em todos os bens e direitos médios da empresa em um determinado período. Giro do Ativo Total Ativo Total Médio Receitas Operacionais Líquidas = VI. Retorno sobre investimentos • Retorno Líquido sobre o Investimento em Ativos Totais: mede uma relação entre o resultado financeiro líquido de um investi- mento (lucro ou prejuízo) e o montante de recurso investido na empresa para obtê-lo. Margem Líquida · Giro do Ativo Total Médio Vendas Ativo Médio Ativo Médio Resultado Líquido · = Vendas Resultado Líquido = Retorno Líquido do Ativo = • Retorno Líquido sobre o Investimento em Ativos Operacio- nais: relaciona o resultado financeiro líquido de um investimento (lucro ou prejuízo) e o total de recursos operacionais investidos na empresa para obtê-lo. Ativo Operacional Médio Resultado Líquido = Vendas Ativo Operacional Médio Resultado Líquido · = Vendas Retorno Líquido sobre investimento em ativos operacionais = Margem Líquida · Giro do Ativo Operacional Médio VII. Retorno sobre o Patrimônio Líquido • Retorno Líquido sobre o Patrimônio Líquido: mede uma rela- ção entre o resultado financeiro líquido de um investimento (lu- cro ou prejuízo) e o total de recursos próprios para obtê-lo. Retorno Líquido sobre o Patrimônio Líquido Patrimônio Líquido Resultado Líquido = Perceba que a análise desses índices pode ser descrita como uma re- lação numérica extraída de dados expressos em relatórios financeiros. É importante destacar que cada índice ou quociente obtido expressa o objetivo da análise que se procura evidenciar isoladamente. Contudo, Ribeiro (2018) alerta que o estudo deve ser sempre complementado Administração do caixa e gestão de investimentos 111 com a análise com outros índices e, posteriormente, utilizam-se os con- ceitos de análise horizontal e vertical. Para Iudícibus (2017), a análise horizontal tem o objetivo de me- dir a variação (crescimento ou diminuição) de itens constantes dos Balanços ou dos Demonstrativos de Resultado, de modo a identifi- car tendências desses valores utilizados a fim de se fazer estimati- vas de comportamentos futuros das empresas. Já a análise vertical, fornece subsídios para estudar a estrutura dos itens de um relató- rio financeiro e analisar a sua evolução ao longo do tempo. Para efeito de conclusões sobre a análise de índices horizontal e vertical a serem utilizadas no processo de decisões sobre investi- mentos, estas devem ser feitas de maneira conjunta, ou seja, as con- clusões devem ser definidas com base em um estudo e uma análise fazendo uso de índices financeiros e análises horizontais e verticais de uma empresa. Estudos e análises parciais podem levar a conclu- sões equivocadas e, consequentemente, a decisões incorretas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os demonstrativos financeiros ou contábeis são elaborados com base em padrões estabelecidos pela contabilidade. A padronização é importante para que os usuários das informações geradas por meio dos relatórios contábeis possam ser utilizadas por todos os interes- sados (stakeholders), pois seguem padrões utilizados em qualquer tipo de organização, o que possibilita serem conhecidos, interpreta- dos e aprimorados por meio do uso de ferramentas gerenciais, como os índices obtidos com base em informações extraídas dos relatórios financeiros ou contábeis. A possibilidade de utilização dessas informações auxilia todas as partes interessadas no processo de tomada de decisões. No entanto, é importante que analisem possíveis incertezas que possam afetar as informações obtidas nos relatórios contábeis e financeiros, pois muitas informações se referem a dados já ocorridos ou estimados. Por fim, como o processo de tomada de decisões se refere a ações que terão efeitos no futuro, é importante que se acompanhem e con- trolem as ações e os resultados esperados com resultados reais e, quando houver diferenças, fazer as correções necessárias para se atingir os resultados esperados. O texto A análise de De- monstrativos Financeiros: uma ferramenta para tomada de decisões nas micro e pequenas empresas aborda a importância das análises que utilizam uma análise de demons- trativos financeiros no gerenciamento financeiro e tomada de decisões as empresas de menor porte. Disponível em: https:// administradores.com.br/artigos/a- analise-de-demonstrativos- financeiros-uma-ferramenta-para- tomada-de-decisao-nas-micro-e- pequenas-empresas. Acesso em: 19 jul. 2021. Leitura 112 Análise e decisão de investimentos ATIVIDADES 1. Qual a diferença entre os usuários internos e externos dos demonstrativos financeiros? 2. O que são orçamentos de capital? 3. O que é um Fluxo de Caixa Operacional? REFERÊNCIAS FREZATTI, F. Gestão do Fluxo de Caixa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. GITMAN, L.; ZUTTER, C. J. Princípios de Administração Financeira. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. HOJI, M. Orçamento empresarial. 1. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. IUDÍCIBUS, S. Análise de Balanços. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2017. IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Curso de Contabilidade para não contadores. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MARION, J. C. Contabilidade Básica. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2018. RIBEIRO, O. M. Estrutura e análise de balanços. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2017. SALOTTI, B. M. et al. Contabilidade financeira. Curitiba: Atlas, 2019. Vídeo Financiamentos de projeto de investimento 113 5 Financiamentos de projeto de investimento Para a execução dos projetos de investimento, devemos conhecer as diversas modalidades de captação de recursos que vão financiar as ativi- dades desseprojeto. Ao mesmo tempo, para obter êxito no planejamento e execução, um projeto de investimentos deve envolver decisões por par- te dos responsáveis por essas atitudes, abrangendo assuntos ligados aos recursos utilizados nas atividades do projeto. Em um projeto de investimentos, os recursos empregados são basi- camente divididos em recursos próprios e de terceiros. Essa divisão é im- portante, pois auxilia na tomada de decisões mais assertivas, além de ser necessária para conhecer as diversas fontes de recursos que permitem que se realizem os projetos de investimento. Neste capítulo abordaremos quais são as fontes de financiamento da estrutura de capitais, os custos envolvidos, como agrupá-los e suas prin- cipais características. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • reconhecer as características da estrutura capital de projetos; • estudar os custos de capital que permitem acompanhar o projeto de investimento; • conhecer as fontes de financiamento que tornam o projeto financeiro economicamente viável; • identificar as diferenças entre Projetc Finance e Corporate Finance, no que tange a captação de recursos para o finacia- mento de projetos complexos. Objetivos de aprendizagem 114 Análise e decisão de investimentos 5.1 Estrutura de capital de projetos Vídeo Uma das características das demonstrações financeiras e contábeis, segundo Iudícibus (2017), é que representam a posição financeira e pa- trimonial de uma entidade em determinado período ou no fim do seu exercício financeiro. No Balanço Patrimonial temos a representação contábil constituída por bens e direitos (Ativo) e obrigações (Passivo e Patrimônio Líquido) de uma empresa. No Ativo estão representados os investimentos e as aplicações de recursos, enquanto no Passivo estão representadas as obrigações, que são os recursos de terceiros (investidores e financiadores alheios à em- presa). No Patrimônio Líquído, por sua vez, está representado o capital próprio (dos sócios ou proprietários das empresas). Os investidores são atraídos pela perspectiva de obter ganhos (lu- cros) e decidem investir dentro dessa perspectiva, considerando o re- torno, conforme apontado por Bruni e Famá (2017). Esses dois agrupamentos contábeis relacionam-se à composição das fontes de financiamento ou estrutura de capital de uma empresa de terceiros, conforme definem Assaf Neto e Lima (2019), e podem ser visualizados a seguir. Figura 1 Balanço Patrimonial e estrutura de capital Fonte: Elaborada pelo autor. Capital permanente e de longo prazo Capital de curto prazo Capital de terceiros Capital próprio Ativo (bens e direitos) PASSIVO CIRCULANTE (curto prazo) PASSIVO NÃO CIRCULANTE (longo prazo) PATRIMÔNIO LÍQUIDO Dessa forma, podemos entender que a estrutura de capital é a for- ma como uma empresa compõe suas diferentes fontes de recursos Financiamentos de projeto de investimento 115 para poder executar as operações, na qual o capital próprio e o de ter- ceiros representam as origens dos recursos que vão custear as aplica- ções de recursos que representam as contas do Ativo. Em uma empresa, a estrutura de capital é uma informação fácil e simples de ser obtida. Ela é encontrada por meio de informações con- tábeis extraídas do Balanço Patrimonial, especificamente do Passivo não circulante (parte do capital de terceiros) e do Patrimônio Líquido (capital próprio), que podemos observar na Figura 1. É importante destacar que Silva (2018) aponta que a estrutura de capital refere-se aos recursos de longo prazo. Do mesmo modo, como justificam Assaf Neto e Lima (2019), no Brasil o termo é empregado de maneira incorreta para o total de fundos da organização devido à gran- de participação de recursos de curto prazo nas empresas. Assim, quando analisamos um projeto de investimentos, a estru- tura de capital a ser considerada é composta de recursos próprios e de terceiros de longo prazo, ou seja, recursos que são do Ativo não Circulante e do Patrimônio Líquido ou Capital Permanente. Então, cabe ao responsável pela condução das decisões de financiamento verificar se a estrutura vigente é a mais adequada para a empresa e para seus investimentos e operações. Neste ponto, é importante destacar que cada empresa apresenta um projeto de investimento com características peculiares, com uma adequação correspondentemente particular na proporção e na com- posição entre recursos próprios e de terceiros que são obtidos no mer- cado financeiro, conforme esclarecem Gitman e Joenk (2005). Uma explicação para essa não uniformidade da composição da es- trutura da empresa pode ter origem em aspectos operacionais, caracte- rizados pelas atividades principais das empresas, pois existem aquelas que necessitam de uma quantidade maior de recursos de longo prazo em suas atividades – como na construção de um navio transatlântico –, que diferem bastante de outros tipos de empresas, as quais, por exem- plo, necessitam de um montante menor para executar seus projetos em atividades de comercialização de bens. Para Assaf Neto e Lima (2019), tanto diferentes setores de atividade quanto empresas de um mesmo segmento de negócios podem apre- sentar composições com estruturas de capital diferentes. 116 Análise e decisão de investimentos O responsável pela tomada de decisões financeiras pode adotar qualquer configuração de composição de financiamento, com maior endividamento com terceiros ou optando por uma maior participação do capital próprio, sempre tendo como objetivo de decisão a estrutura que apresentar o menor custo total. A importância da decisão da configuração da estrutura de capital deve-se à sua influência na definição do custo de capital da empresa e ao fato de afetar o nível de risco financeiro da empresa. Assaf Neto e Lima (2019) destacam que o custo do capital de tercei- ros é inferior ao custo do capital próprio em decorrência de: • o credor (capital de terceiro) estar exposto a um risco inferior ao do proprietário ou acionista (capital próprio), possibilitando uma remuneração inferior aos recursos próprios da empresa; • as despesas financeiras, representadas pelos juros e pagas pelo uso de recursos de terceiros (passivos), serem utilizadas para re- duzir os resultados operacionais da empresa, que diminuem os ganhos com a dedução dessas despesas, para efeitos da base de apuração do Imposto de Renda, tendo como efeito imediato o custo financeiro associado ao capital de terceiros. Assaf Neto e Lima (2019) apontam que esse é um processo que afeta as empresas de maneira contínua em função das oscilações nas demandas operacionais de curto e de longo prazo e da constante in- fluência de variáveis econômicas que interferem nas atividades de uma empresa, como ocorrem nos projetos de investimento. Silva (2018) explica que o estudo da estrutura de capital foi desen- volvido inicialmente por Franco Modigliani e Merton Miller, com a cria- ção da tese M&M, ou Teorema de Modigliani e Miller, em 1958, na qual o valor de uma empresa não dependia da combinação entre capital próprio e de terceiros (independência ou irrelevância da estrutura de capital da empresa sobre seu valor). Esses autores apresentaram algumas premissas simplificadoras da realidade nessa proposição inicial sobre estrutura de capital ideal de uma empresa, como inexistência de impostos, condição de taxas de juros iguais para todos os tomadores de empréstimos e inexistência de risco crescente em função do nível de endividamento de uma em- presa. A importância da tese M&M é sua contribuição como marco ini- Franco Modigliani e Merton Miller desenvol- veram, em 1958, a tese M&M, que serviu de base para diversas teorias sobre a composição da melhor estrutura de capitais para as empresas. Essa tese sofreu altera- ções para corrigir algumas imperfeições no decorrer do tempo. Assim, diversos estudos foram desenvol- vidos nesse sentido, entre eles o do próprio Franco Modigliani, que o levou a ganhar o prêmioNobel de Economia em 1985. Para conhecer os principais aspectos sobre o desen- volvimento de teorias relacionadas à tese M&M no decorrer dos últimos anos, acesse e explore o texto a seguir. Disponível em: https://www.scielo. br/j/rae/a/NSK46bbndQSnKRvw- dXWMrVf/?lang=pt. Acesso em: 2 ago. 2021. Saiba mais https://www.scielo.br/j/rae/a/NSK46bbndQSnKRvwdXWMrVf/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rae/a/NSK46bbndQSnKRvwdXWMrVf/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rae/a/NSK46bbndQSnKRvwdXWMrVf/?lang=pt Financiamentos de projeto de investimento 117 cial de estudos modernos a respeito da estrutura ótima de capital para as empresas. A tese M&M apresenta um conjunto de hipóteses que simplificaram o estudo e que são a origem de diversas limitações e críticas, as quais posteriormente foram revistas por outros estudiosos e adaptadas con- forme a necessidade em cada realidade estudada. Assim, devemos atentar quanto às características sob as quais a teo- ria de Modigliano e Miller foi desenvolvida, pois a legislação tributária brasileira é diferente da americana, na qual se desenvolveu o estudo: o retorno exigido por investidores cresce conforme aumenta o risco; a taxa de juros praticados em empréstimos é diferente para cada em- presa devido ao nível de risco apresentado etc. Até mesmo a realidade econômica em cada empresa, em diferentes países, pode afetar a apli- cabilidade da tese M&M. Imagine, por exemplo, um contexto macroe- conômico de elevação de preços, como ocorre no Brasil, com influência direta da inflação sobre as atividades de uma empresa. Os efeitos da inflação aumentam as incertezas e, consequentemen- te, o risco com relação às atividades futuras da empresa, principalmen- te quando se alongam os prazos. Partindo do pressuposto de que a estrutura de capital se refere a obrigações de longo prazo, representa- das pelos Passivos não Circulantes e pelo Capital Permanente (oriundo do Patrimônio Líquido), é natural que uma empresa evite aplicar recur- sos em atividades de maior prazo, pois, conforme aumentam os pra- zos, crescem as incertezas quanto ao futuro, e assim as empresas ficam ainda mais expostas a riscos decorrentes desse aumento de incertezas. Nesse caso, em um cenário de indefinições macroeconômicas, como aumenta o risco na utilização de capitais de terceiros, é natural esperar uma redução desses recursos em sua estrutura de capitais. Avaliar o valor a ser desembolsado na execução de um proje- to de investimentos e o benefício obtido é um dos pontos iniciais e principais para se avaliar a possibilidade de realização de um projeto de investimento. No processo para a tomada de decisão são definidos os custos das di- versas fontes de financiamento de longo prazo disponíveis no mercado, como recursos próprios originados dos proprietários atuais ou obtidos pela captação de recursos de novos investidores, por meio de uma subs- crição em uma emissão de novas ações ou até mesmo usando recursos A tese M&M sofreu correções e permitiu um estudo sobre o padrão da estrutura de capitais em países de economias emergentes, como o Brasil. Para conhecer os principais aspectos sobre o desenvolvimento de estudos relacionados à tese M&M em países emergentes, leia o texto a seguir. Disponível em: https://www.scielo. br/j/rae/a/3qN9PdCVnV4FcSjhR rjnHgy/?lang=pt. Acesso em: 2 ago. 2021. Saiba mais O Corporate Venture é uma das opções de captação de recursos de empresas consideradas startups, levando em conta recur- sos próprios captados por meio da aquisição de participações de empre- sas no mercado acionário. Para conhecer uma das modalidades de captação das startups, acesse o link a seguir. Disponível em: https://www. corporateventurebrasil.com. br/o-que-eacute.html. Acesso em: 2 ago. 2021. Saiba mais https://www.scielo.br/j/rae/a/3qN9PdCVnV4FcSjhRrjnHgy/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rae/a/3qN9PdCVnV4FcSjhRrjnHgy/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rae/a/3qN9PdCVnV4FcSjhRrjnHgy/?lang=pt https://www.corporateventurebrasil.com.br/o-que-eacute.html https://www.corporateventurebrasil.com.br/o-que-eacute.html https://www.corporateventurebrasil.com.br/o-que-eacute.html 118 Análise e decisão de investimentos originados de uma Corporate Venture (uma das formas como empresas com ideias inovadoras e poucos recursos viabilizam suas atividades). Também devemos considerar captações de recursos de terceiros ori- ginadas por captação de novos investidores não sócios, como em uma emissão de debêntures, comercial paper, financiamentos bancários etc. Agora que sabemos que a estrutura de capital de uma empresa é financiada por recursos próprios e de terceiros e que existem diversas formas de obter os recursos, a questão que necessitamos entender é como determinamos o custo de capital de uma empresa. 5.2 Custos de capital Vídeo De acordo com Silva (2018), o sucesso de uma empresa está relacio- nado à maximização do lucro dos proprietários (acionistas, no caso das Sociedades Anônimas), que são afetados pelo êxito nos investimentos. Os investimentos de projetos são financiados pelo capital próprio e de terceiros de longo prazo, que compõem a estrutura de capital. Quando nos referimos ao capital próprio, estamos falando do custo de recursos oriundos dos sócios da empresa que estão contabilizados no Patrimônio Líquido. Bruni e Famá (2017) apresentam um método simples para o cálculo do custo de capital próprio de uma empresa, que se baseia na consi- deração da geração de lucros ou dividendos, dotados de crescimentos constantes utilizados no modelo de Gordon e Shapiro para precificação de ações. Segundo Bruni e Famá (2017), o modelo de Gordon e Shapiro pode ser descrito como um método desenvolvido em 1956 por Myron J. Gordon e Eli Shapiro para precificar o preço de uma ação. Nesse mode- lo, a ideia central parte do pressuposto de que o valor de uma empresa é afetado pela expectativa dos dividendos que serão pagos. Os auto- res descrevem o pressupostos para desenvolver o modelo de Gordon e Shapiro: • os dividendos pagos pelas ações apresentam um crescimento uniforme e constante, descrito no modelo como sendo uma taxa g, a cada período considerado; • o custo de capital próprio (K) é constante, considerando ainda que existe a relação K > g. Financiamentos de projeto de investimento 119 Para encontrar o preço de uma ação por meio do método de Gordon e Shapiro atualmente se utiliza a seguinte expressão algébrica: P D K g � � Onde: P = preço unitário da ação. D = expectativa do dividendo a ser pago. K = taxa mínima de atratividade ou retorno que o investidor es- pera por ação. g = taxa de crescimento dos dividendos pagos em cada ano (constante). Exemplo: Considere que foram utilizados os seguintes valores para uma empresa: • expectativa de pagamento de dividendos no próximo ano no va- lor de R$ 1,20/ação; • Taxa de Retorno ou rentabilidade mínima de 10%; • crescimento no valor do dividendo a ser pago de 2%. Calculado o preço justo a ser pago: P D K g � � � � � � � 1 20 10 2 1 20 8 1 20 0 08 15 00, % % , % , , , Portanto, o valor unitário dessa ação definido pelo método de Gordon e Shapiro é R$ 15,00. Se o preço de mercado for inferior a R$ 15,00, conclui-se que se trata de uma oportunidade a ser considera- da, pois o preço de mercado é inferior ao valor justo da ação. A principal crítica a esse modelo é não ser possível prever o valor do dividendo de uma ação e muito menos admitir que o comportamento de crescimento dos dividendos a serem distribuídos será constante. Mesmo com as críticas, esse modelo ainda é utilizado para estimar oportunidades no mercado de ações, principalmente das ações de em- presas sólidas e maduras nas análises fundamentalistas para busca de oportunidades no Mercado de Capitais. Para definir a taxa mínima de atratividade ou retorno, vamos partir da fórmula de Gordon e Shapiro: P D K g K g D P K D P g� � � � � � � � 120 Análise e decisão de investimentos Quando nosreferimos ao custo de capital de terceiros, utilizamos os respectivos custos de financiamentos e empréstimos praticados no mercado. Como existem diversas fontes de captação de recursos para custear as operações de um projeto de investimentos, percebe-se a ne- cessidade de definir um custo único ou médio. O método utilizado para isso é o Custo Médio ou Ponderado, que determina o custo médio ou custo de capital. Para entender o que é o custo da estrutura de capital de uma empresa, Silva (2018) aponta o método do Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC), traduzido do inglês, Weighted Average Cost of Capital (WACC). Gitman e Joenk (2005) explicam que o WACC reflete o valor médio esperado de custo de recur- sos de longo prazo, obtido pela ponderação dos diversos tipos de capi- tal por sua participação relativa na composição da estrutura de capital. O WACC, de acordo com Assaf Neto e Lima (2019), é calculado pela ponderação do custo de cada fonte de recurso de longo prazo e a res- pectiva participação no total do investimento considerado. Os autores destacam que esse método pode utilizar valores obtidos com base em valores contábeis, valores de mercado ou valores admitidos como meta pela empresa: • os valores contábeis são obtidos diretamente dos registros e demonstrativos contábeis da empresa; • os valores de mercado refletem uma maior precisão no cálculo do WACC, pois os valores contábeis do Passivo podem estar vin- culados a taxas definidas em um momento anterior. Esse é o mo- tivo para que se utilizem os valores de mercado em vez de valores contábeis, pois assim são usados valores vigentes ou esperados no futuro analisado pelo mercado; • os valores admitidos como meta são utilizados pelas empresas para atingir uma posição desejada, que a empresa adota como composição ótima da estrutura de capital, formada por capitais próprios e de terceiros e, por essa razão, a proporção definida como meta deve ser alcançada. A expressão matemática que define o WACC é obtida por: WACC Wi i n � � � . Ki 0 Financiamentos de projeto de investimento 121 Onde: WACC = Custo Médio Ponderado de Capital. Ki = custo específico de cada fonte de financiamento (capital pró- prio e capital de terceiros). Wi = participação relativa (proporção) de cada fonte de capital no financiamento total. Para ilustrar como funciona um cálculo do WACC, vamos utilizar o exemplo a seguir, empregando as ações ordinárias de uma empresa que valem R$ 2,50 cada unidade, as ações preferenciais que valem R$ 2,20 cada no Mercado de Capitais e sua respectiva proporção, mos- trada a seguir. Quadro 1 Exemplo de valores, proporção e custos para cálculo do WACC com valores de mercado Fonte de capital Montante (R$) Proporção de cada fonte Custo após IR Capital Ordinário 300.000 ações · R$ 2,50 = R$ 750.000,00 30% 24% a.a. Capital Preferencial 500.000 ações · R$ 2,20 = R$ 1.100.000,00 44% 21% a.a. Financiamentos R$ 650.000,00 26% 18% a.a Total R$ 2.500.000,00 100% 21,12% a.a Fonte: Elaborado pelo autor. Cálculo do WACC: WACC = (24% · 0,30) + (21% · 0,44) + (18% · 0,26) WACC = 7,20% + 9,24% + 4,68% WACC = 21,12% a.a. Uma observação importante sobre o cálculo do WACC é que, ao cal- cular o capital de terceiros, deve ser considerada a retirada do Imposto de Renda (IR) devido ao efeito dos benefícios fiscais que a utilização de recursos de terceiros propicia. Assim, podemos definir a seguinte fórmula para obtenção do Ki para recursos de terceiros: Ki = Ci · (1 – IR) 122 Análise e decisão de investimentos Onde: Ki = custo específico de capital de terceiros, considerando o IR (longo prazo). Ci = custo nominal do capital de terceiros (longo prazo). IR = alíquota do Impostos de Renda aplicado à empresa analisada. Nesse caso, o valor do Ki, ou custo específico do capital de terceiros considerando o IR, é menor que o custo nominal de capital de tercei- ros. Essa redução de custos reflete o benefício fiscal obtido pelo uso de capital de terceiros, obtido pela redução da base do resultado que será tributado (quando houver resultado positivo). Um exemplo da aplicação dessa fórmula pode ser observado com a utilização do Quadro 2, que possui uma estrutura de capi- tal de terceiros que totaliza R$ 1.000.000,00 e cobrança de juros anuais de 20%. Quadro 2 Exemplo numérico da aplicação da fórmula para obtenção de Ki Lucro operacional R$ 2.500.000,00 (–) Despesa com Juros (20%) – R$ 200.000,00 (=) Lucro antes do Imposto de Renda R$ 2.300.000,00 (–) Imposto de Renda (15%) – R$ 345.000,00 (=) Lucro Líquido R$ 1.955.000,00 Fonte: Elaborado pelo autor. O exemplo considera o benefício fiscal do IR para recursos de terceiros na estrutura de capital de uma empresa. Ki = Ci · (1 – IR) = 0,20 · (1 – 0,85) = 17% Ci = custo do capital de terceiros da estrutura de capital sem considerar o benefício do Imposto de Renda = 20%. IR = 15%. Considerando o benefício fiscal, o custo de capital de terceiros se reduz de 20% para 17% no período analisado. Assaf Neto e Lima (2019) descrevem que a utilização do WACC deve objetivar encontrar uma referência de remuneração mínima dos inves- timentos de uma empresa, pois representa qual é o retorno mínimo que uma aplicação de recursos deve produzir. Dessa forma, o nível do risco do investimento é diretamente proporcional à sua remuneração, Financiamentos de projeto de investimento 123 ou seja, quanto maior for o risco de não se atingir o retorno esperado, maior deve ser a remuneração esperada. Nesse sentido, o objetivo de maximização da riqueza dos acionistas é definido pela qualidade da relação de equilíbrio entre risco e retorno, em que os Fluxos de Caixa esperados em um projeto devem ser su- periores ou no mínimo se igualar aos valores obtidos pelo método do WACC. Pode-se concluir então que, caso os valores encontrados pela aplicação do WACC sejam maiores que os retornos esperados, o proje- to deve ser rejeitado. Assim, o método do WACC assume a relação do risco associado a cada modalidade de captação de recursos (sejam próprias ou de tercei- ros) e o retorno gerado por esses investimentos. Em uma hipótese im- plícita desse método descrita por Assaf Neto e Lima (2019), a estrutura de capital permanece inalterada, o que na prática é impossível. A explicação para que o WACC não permanece inalterado é simples. Retome o exemplo que utilizamos no Quadro 1 e perceba que, quando nos referimos às ações preferenciais e ordinárias e utilizamos os valo- res 1 para calcular o WACC, que são as cotações de mercado dessas ações em determinado momento para serem analisados. Sabemos que no Mercado de Capitais os valores das cotações de ações se alteram a cada momento, pois o mercado acionário é dinâmico, com negociações que alteram o valor das ações a cada momento durante o pregão da Bolsa de Valores. Este fato – com o dinamismo do mercado – reforça a utilização do método dos valores como meta para a definição do WACC, pois o mer- cado não é estanque. Pelo contrário: em determinadas situações, pode ser extremamente volátil. Caso um projeto de investimentos apresente um risco associado divergente do utilizado no cálculo do WACC, a tomada de decisões a respeito da aceitação do projeto deve ser revisada e tomada após ser recalculado o valor do WACC. No processo de gestão de uma empresa, um dos aspectos funda- mentais para tomada de decisões é saber levantar os custos dos capi- tais de longo prazo utilizados, como o método do WACC, mas também é essencial que se conheçam as principais fontes de recursos de longo prazo que são utilizadas em projetos de investimentos. Valores utilizados repre- sentam as cotações das ações nu determinado instante do mercado acionário, ou seja, seria análogo a uma fotogra- fia que capta cotações fixas num determinado momento de um mercado acionário dinâmico. 1 O WACC é utilizado pelas empresas como ferramenta de análise e pode gerar dúvidas sobre quais valores devem ser considerados para seu cálculo:o valor de mer- cado (dinâmico) ou um valor contábil (fixo). Para conhecer melhor essa questão, acesse e leia o texto a seguir. Disponível em: http://atena.org. br/revista/ojs-2.2.3-08/index.php/ Ambiente/article/view/1782/1658. Acesso em: 2 ago. 2021. Saiba mais http://atena.org.br/revista/ojs-2.2.3-08/index.php/Ambiente/article/view/1782/1658 http://atena.org.br/revista/ojs-2.2.3-08/index.php/Ambiente/article/view/1782/1658 http://atena.org.br/revista/ojs-2.2.3-08/index.php/Ambiente/article/view/1782/1658 124 Análise e decisão de investimentos 5.3 Fontes de financiamento Vídeo O custo médio da estrutura, como já vimos, é definido pelo mé- todo do WACC, enquanto o financiamento de recursos da estru- tura de capital de uma empresa é composto de recursos próprios e de terceiros. As principais fontes de recursos envolvem títulos negociados no Mercado de Capitais e por modalidades de financia- mento e empréstimos praticados por instituições financeiras que envolvem o Mercado de Crédito. Assaf Neto e Lima (2019) indicam as origens das captações de longo prazo que envolvem o Mercado de Capitais e que podem ser obtidas em uma subscrição de ações, envolvendo os atuais ou novos acionistas 1 . Os autores ainda descrevem que, no caso de subscrição de ações, estas sempre envolvem uma instituição in- termediadora especializada entre investidores de mercado (agen- tes superavitários) e empresas que necessitam captar recursos no Mercado de Capitais. O intermediário, nesse caso, é uma empresa financeira não bancária (sociedades corretoras ou distribuidoras de valores ou um banco de investimentos). Corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários também são instituições financeiras não bancárias, atuando na intermediação entre agentes superavitários e deficitários. Ante- riormente havia a diferença entre as duas, sendo que somente as corretoras podiam atuar com ações. Atualmente não existem di- ferenças entre essas instituições não bancárias, pois, a partir de março de 2009, pela decisão conjunta n. 17, a Comissão de Valores Mobiliários e o Banco Central autorizaram as distribuidoras a ope- rar no mercado acionário. O papel do intermediário financeiro é auxiliar as empresas to- madoras de recursos a encontrar os investidores que tenham in- teresse em aplicar seus recursos nas empresas que lançam esses títulos no Mercado de Capitais. Por exemplo, observe o processo de captação envolvendo recursos próprios utilizando a emissão de novas ações, que é descrito de maneira simplificada a seguir. Em qualquer dessas situações de subscrição, estamos nos referindo a recursos próprios, pois os acionistas são considera- dos sócios das empresas. 1 Um banco de investimen- to não é considerado uma instituição financeira bancária, apesar de rece- ber a denominação banco. Ele atua com repasse de recursos governamentais de crédito, repasses de recursos captados no exterior etc. Para ser considerada instituição financeira bancária, é ne- cessário ter uma carteira comercial. Saiba mais Uma questão que levanta muita dúvida a respeito dos intermediários finan- ceiros refere-se à diferen- ça entre uma corretora e uma distribuidora. Saiba mais assistindo ao vídeo Qual é a diferença entre corretora e distribuidira, do canal Yubb. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=M4XOAyJXE3M. Acesso em: 2 ago. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=M4XOAyJXE3M https://www.youtube.com/watch?v=M4XOAyJXE3M https://www.youtube.com/watch?v=M4XOAyJXE3M Financiamentos de projeto de investimento 125 Empresa emitente Emissora de novas ações Instituição financeira Intermediária da operação Mercado Primário Colocação inicial Mercado Secundário Negociações posteriores Figura 2 Processo de captação originado na emissão de novos títulos Fonte: Elaborada pelo autor com base em Assaf Neto e Lima, 2019, p. 571. Inicialmente, os intermediários financeiros atuam na negociação direta entre as empresas emissoras de ações e os investidores que subscrevem as ações emitidas (venda ou colocação inicial) no chamado Mercado Primário. Posteriormente, no Mercado Secundário, os investi- dores renegociam suas ações adquiridas na operação de colocação ini- cial por meio do repasse das ações subscritas para outros investidores, que também podem renegociá-las em outras operações posteriores. O ambiente de renegociação dessas ações ocorre com a participa- ção das chamadas instituições auxiliares, que, nesse caso específico, são as Bolsas de Valores. Assaf Neto e Lima (2019) explicam que essas bol- sas são organizações responsáveis por oferecer um local apropriado e seguro, onde ocorrem as negociações com títulos e valores mobiliários e outros ativos financeiros. Trata-se de uma entidade que existe para viabilizar a negociação entre tomadores de recursos e investidores, propiciando condições para dar a liquidez necessária de que os investidores necessitam para realizar suas negociações com títulos e valores mobiliários. A forma de se obterem recursos próprios para financiar as atividades de uma em- presa não se restringe a subscrições de ações. Outra forma de financiamento de uma empresa com recursos pró- prios descrita por Assaf Neto e Lima (2019) é o autofinanciamento, no qual a retenção de lucros é utilizada para custear as atividades de proje- tos de investimentos. Nesse caso, a decisão de reinvestir os recursos pro- venientes deve ser embasada em relatórios e orçamentos e submetida a votação pelos acionistas que detêm direito de voto, considerando a justi- ficativa dessa decisão de utilizar recursos provenientes dos resultados da empresa em detrimento de decisões de pagamento de dividendos. No Brasil, a principal Bolsa de Valores é a B3, originada pela união de três instituições atuantes no mercado financeiro: a Bolsa Mercantil e de Futuros (BM&F), a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados (CETIP). Para saber mais sobre Bolsa de Valores no Brasil, acesse o link a seguir. Disponível e: https://invest.exame. com/guia/o-que-e-bolsa-de- valores-e-o-que-e-a-b3. Acesso em: 3 ago. 2021. Saiba mais A política de distribuição de uma empresa deve ser pautada pela norma legal para as sociedades anônimas. Há muitos detalhes que devem ser observados pelas empre- sas quando se trata de distribuição de dividen- dos. Para conhecer essa questão, acesse e leia o texto do link a seguir. Disponível em: http://www. normaslegais.com.br/guia/clientes/ sociedade-anonima-dividendos. htm. Acesso em: 3 ago. 2021. Saiba mais https://invest.exame.com/guia/o-que-e-bolsa-de-valores-e-o-que-e-a-b3 https://invest.exame.com/guia/o-que-e-bolsa-de-valores-e-o-que-e-a-b3 https://invest.exame.com/guia/o-que-e-bolsa-de-valores-e-o-que-e-a-b3 http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/sociedade-anonima-dividendos.htm http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/sociedade-anonima-dividendos.htm http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/sociedade-anonima-dividendos.htm http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/sociedade-anonima-dividendos.htm 126 Análise e decisão de investimentos Esse é um ponto delicado para as empresas, pois pode gerar descon- tentamento dos acionistas minoritários e daqueles que não têm direito a voto, desestimulando esses acionistas ou, eventualmente, a captação de novos acionistas investidores. Outro cuidado a ser considerado é a obrigatoriedade que as empresas têm de distribuir dividendos. Outra forma de captação de recursos envolvendo ações e que se refere a fontes de financiamento direcionadas a empresas pequenas ou de médio porte em fase de crescimento ou expansão (em geral, startups) – as quais se baseiam em produtos inovadores e que tenham potencial de crescimento rápido –, é o Capital Venture (CV) 2 , em um ambiente de incertezas e riscos. Há, ainda, o Private Equity (PE), uma modalidade semelhante ao CV. A diferença apontada por Meirelles,Pimenta Júnior e Rebelatto (2008) entre as duas é o estágio em que a empresa captadora de recursos se encontra. No PE as operações de investimentos são efetuadas em em- presas em um estágio de crescimento mais amadurecido, ao passo em que no CV as operações de investimento ocorrem em empresas que estão nos estágios iniciais de operação. Segundo Meirelles, Pimenta Júnior e Rebelatto (2008), o aporte de capital por meio de uma CV é feito por fundos de investimento espe- cializados em CV e PE, nos quais os recursos são temporários e direcio- nados para empresas em estágios iniciais de desenvolvimento ou em um estágio mais avançado. Isso acarreta um elevado envolvimento dos gestores do fundo de investimentos em CV/PE nas empresas que cap- taram esses recursos. Por esse motivo, em muitas situações os fundos de CV/PE tornam-se acionistas majoritários. Uma explicação para essa elevada participação dos gestores do fun- do refere-se ao fato de que as atividades das empresas investidas apre- sentam elevados riscos e incertezas, o que demanda um maior cuidado e acompanhamento das suas atividades para reduzir esses riscos. Tan- to o CV quanto o PE são modalidades de investimento que captam re- cursos por meio de fundos de investimento regulamentados pela CVM. A Figura 3 mostra os principais participantes do processo de finan- ciamento de operações de Capital Venture e Private Equity, considerando sua participação no processo de financiamento da estrutura de capital de empresas. O CV se caracteriza por apresentar conceitos inovadores envolvendo riscos, e é conhecido tam- bém por outros nomes como Capital de Risco, Capital Empreendedor, entre outros. 2 Uma startup é caracteriza- da por ser uma empresa criada com base em con- ceitos inovadores e que possui elevado potencial de ganhos, porém envolve grandes incertezas e riscos. Há muitos con- ceitos envolvendo o que realmente é uma startup. Para conhecer melhor esse assunto, acesse e o material desenvolvido pelo Sebrae, O que é uma startup. Disponível em: https://www.sebrae. com.br/sites/PortalSebrae/artigos/ o-que-e-uma-startup,6979b2a178 c83410VgnVCM1000003b74010aR CRD. Acesso em: 3 ago. 2021. Saiba mais https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-uma-startup,6979b2a178c83410VgnVCM10000 https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-uma-startup,6979b2a178c83410VgnVCM10000 https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-uma-startup,6979b2a178c83410VgnVCM10000 https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-uma-startup,6979b2a178c83410VgnVCM10000 https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-uma-startup,6979b2a178c83410VgnVCM10000 Financiamentos de projeto de investimento 127 Figura 3 Os principais participantes de financiamento de operações de CV e PE e suas atividades na estrutura de capital. Fonte: Meirelles, Pimenta Júnior e Rebelatto, 2008, p. 13. Investidores: Bancos de investimento Bancos de desenvolvimento Fundos de pensão Investidores individuais retorno retorno Companhia de VC/PE Administra Fundo de VC/PE Saída: IPO Fusão Aquisição Liquidação InvestimentoAvaliação Solicitação de capital Desinvestimento Empreendimentos (Empresas investidas) $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ Para uma captação do tipo CV, os recursos são temporários pelo fato de o fundo de investimentos de CV/PE definir seu tempo de perma- nência como sócio da empresa tomadora de recursos até que esta atin- ja os objetivos de crescimento e valorização estabelecidos no momento da decisão de investir nas empresas inovadoras. Quando os objetivos são atingidos, os fundos de investimento PV/PE vendem suas ações e procuram novas empresas para operar com potencialidades de ganhos semelhantes. Outra fonte de financiamento de projetos de empresas é o inves- tidor-anjo. Ele é muito semelhante à captação do CV, com a diferença de que seu foco de atuação se concentra em startups de menor porte, com pouco capital, ideias inovadoras, elevado potencial de crescimento e lucro. Fundamentalmente, o sócio investidor é uma pessoa física com participação minoritária na empresa investida, portanto ele não assu- me uma posição na empresa. Há ainda fontes de financiamento envolvendo recursos de terceiros. A seguir, apresentamos as principais nessa categoria. • Empréstimos bancários de longo prazo realizados por bancos comerciais ou bancos múltiplos com carteiras comerciais. Nesse caso, estamos nos referindo a operações de empréstimos com prazos superiores a um ano para pagamento de principal e juros. O mercado brasileiro de Capital Venture ainda se encontra em fase de desenvolvimento e é regu- lamentado pela CVM. Para conhecer mais sobre esse assunto, acesse o material Capital Venture, da Capital Aberto. Disponível em: https:// capitalaberto.com.br/secoes/ explicando/venture-capital/. Acesso em: 3 ago. 2021. Saiba mais Investidor-anjo é um investidor direcionado a startups de pequeno porte com elevado poten- cial de crescimento. Para saber mais sobre esse assunto, leia o texto Afinal, o que é investimento anjo?. Disponível em: https://endeavor. org.br/dinheiro/afinal-o-que-e- investimento-anjo/. Acesso em: 3 ago. 2021. Saiba mais https://capitalaberto.com.br/secoes/explicando/venture-capital/ https://capitalaberto.com.br/secoes/explicando/venture-capital/ https://capitalaberto.com.br/secoes/explicando/venture-capital/ https://endeavor.org.br/dinheiro/afinal-o-que-e-investimento-anjo/ https://endeavor.org.br/dinheiro/afinal-o-que-e-investimento-anjo/ https://endeavor.org.br/dinheiro/afinal-o-que-e-investimento-anjo/ 128 Análise e decisão de investimentos • Financiamento de bens praticados por sociedades de crédito, financiamento e investimento, que financiam bens para a so- ciedade. Nesse caso, são os financiamentos de máquinas, equi- pamentos, instalações realizadas pelas financeiras, com prazos superiores a um ano. • Empresas de leasing que realizam operações de arrendamen- to mercantil de bens. Por esse motivo, não são reconhecidas como instituições financeiras. Essas operações são semelhan- tes a financiamento de bens, mas são consideradas como sendo um aluguel. Esse é o motivo de não haver cobrança do imposto sobre operações financeiras (IOF), pois não são reco- nhecidas como tal. • Empresas de crédito imobiliário que realizam operações de fi- nanciamento de imóveis. Nesse caso, o produto a ser financiado está exclusivamente ligado a recebíveis originados de imóveis. • Linhas de crédito e financiamentos governamentais, como o BNDES, que atuam no financiamento de máquinas, equipamen- to etc. As operações do BNDES são executadas por instituições financeiras com carteiras comerciais por meio de repasse de li- nhas. O motivo de o BNDES repassar esses recursos é viabilizar sua distribuição para a sociedade, afinal o BNDES não possui rede de agências nem colaboradores para atender demandantes desses recursos repassados. • Emissão de títulos privados que representam uma relação de investimento entre a empresa captadora de recursos (devedora) e a investidora. O principal título emitido pelas empresas são as debêntures. Existem outras modalidades, como comercial papers. A relação entre devedor e investidor é semelhante a operações de empréstimos, pois envolve valores, prazos de operação, paga- mento de compensações financeiras (juros e correção monetária e garantias). As fontes de financiamento descritas permitem que você analise e identifique diversas fontes de recursos para suprir as necessidades de recursos disponíveis no mercado, contudo há características que pre- cisam ser conhecidas e que são importantes quando são necessários recursos para custear projetos de grande porte envolvendo valores muito elevados. Esse assunto inclui conhecer as diferenças e similari- dades entre o Project Finance e o Corporate Finance. Financiamentos de projeto de investimento 129 5.4 Comparativo entre Project Financee Corporate Finance Vídeo Um problema presente em projetos de grande porte é a dificulda- de em encontrar recursos necessários para executar esses empreen- dimentos. A causa desse problema está relacionada à exigência de garantias reais, impostas pelos investidores como proteção dos seus recursos devido ao grande volume de capitais envolvidos. Para Pereira (2003), no processo de globalização da economia mun- dial, a economia brasileira foi se adaptando com a abertura de merca- do nos anos 1990, quando muitas empresas brasileiras necessitavam de grandes volumes de recursos para se adaptar à concorrência de em- presas internacionais que ingressariam no mercado brasileiro. Além disso, na mesma época, iniciaram-se as implementações nas ofertas de projetos de infraestrutura e no processo de privatizações, que o Governo Federal estabeleceu para desonerar o setor público e desenvolver a melhora dos serviços prestados pelas empresas públicas. Nesse contexto, Gonçalves (2019) também aponta que as grandes empresas privadas brasileiras necessitavam de um volume elevado de recursos, com novas formas de crédito, para participar das transfor- mações que estavam em curso no Brasil a partir da década de 1990. As características das operações que eram praticadas no Brasil antes desse processo eram as descritas para o Corporate Finance. Nesse mo- delo, os recursos obtidos com instituições financeiras têm as seguintes características principais: • os empresários têm a liberdade na gestão e condução dos negó- cios, ou seja, têm autonomia na tomada de decisões e não pres- tam contas aos financiadores; • não há separação entre a gestão financeira das atividades ope- racionais da empresa e daquelas relacionadas à motivação da tomada de recursos de longo prazo, apesar de essa última ser motivada segundo uma finalidade específica (por exemplo, uma modernização da linha de produção; uma expansão da empresa; um processo de privatização etc.), ou seja, o Fluxo de Caixa Ope- racional da empresa se mistura ao fluxo do empreendimento que gerou a necessidade de financiamento; 130 Análise e decisão de investimentos • a autonomia da gestão financeira da empresa tomadora de re- cursos é embasada no crédito concedido com base nas garantias em ativos reais que fornecem proteção aos investidores, em caso de insucesso dos empreendimentos dessas empresas; • tanto o controle quanto o monitoramento das atividades da em- presa são exercidos por responsáveis indicados pelas empresas tomadoras de recursos. Para atender a essas novas necessidades financeiras na década de 1990, as fontes de financiamentos praticados no Brasil não eram sufi- cientes e adequadas, pois havia uma elevada demanda de recursos, de que muitas das empresas privadas necessitavam, mas que não conse- guiam obter por não serem capazes de cumprir as exigências quanto às garantias estabelecidas. Borges (1998) menciona que, nesse período, os agentes tradicionais de apoio às empresas, como o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Eco- nômica Federal, estavam com dificuldades de fornecer recursos para atender às novas demandas de crédito de longo prazo. Por essa razão, também procuravam alternativas para diminuir seus percentuais de participação de financiamento dos projetos. Dessa forma, Borges (1998) aponta que o BNDES produziu, no ano de 1995, um trabalho jurídico que tinha como objeto de estudo outras modalidades operacionais, em especial o Project Finance, com suges- tões e recomendações de operações de financiamento que utilizavam garantias ligadas ao Fluxo de Caixa (no caso, os recebíveis futuros que o projeto a ser desenvolvido propiciaria), solucionando a questão da im- possibilidade de as empresas apresentarem garantias e enfrentarem as restrições de crédito das financiadoras. Borges (1999) descreve que os estudos a respeito dos aspectos ju- rídicos ligados ao Project Finance são componentes importantes na im- plementação e adaptação dessa forma de obtenção de recursos pelas empresas no Brasil. Pereira (2003) menciona que o modelo de viabilização do Project Finance tem origens em empréstimos realizados no século XIII, quando a Coroa Britânica negociou um empréstimo com o Banco de Investi- mentos Frescobaldi para desenvolver minas de prata. Com esse con- trato, o banco poderia explorar durante um ano a extração de minério em troca de arcar com todos os custos de operação das minas, ou seja, Financiamentos de projeto de investimento 131 utilizava possíveis gerações de recursos futuros para pagar os recursos que custearam os projetos. O modelo de apoio e financiamento de grandes empreendimentos associados à geração de recursos no Fluxo de Caixa Futuro evoluiu e, conforme Pereira (2003), foi utilizado para financiar projetos de empre- sas do ramo petrolífero nos Estados Unidos na década de 1930. Durante a década de 1970, com a primeira crise do petróleo, novos projetos na área de energia se utilizaram dessa forma de estruturação de projetos. A partir de então, esse modo de apoio para financiamen- tos começou a se disseminar com projetos de empresas petrolíferas e de mineração em diversos países do mundo. A regulamentação desses tipos de negócios foi se aperfeiçoando, e, em 1978, eles se tornaram um estímulo para os envolvidos com a aprovação da Public Utility Regu- latory Policies Act (lei de políticas regulatórias de serviços públicos) pelo Congresso Americano. Dessa forma, o Project Finance se apresenta como uma forma mais adequada para empresas que necessitam de altos volumes de recursos de longo prazo para financiar seus projetos. Historicamente, esses fatos ilustram como ocorre a evolução do fundamento que alicerçava a realização das operações, que antes, no Corporate Finance, eram baseadas nas condições econômicas do tomador de recursos e estavam associadas às garantias patrimoniais apresentadas para assegurar o pagamento da operação e que pos- teriormente evoluíam para a constituição de garantias vinculadas ao potencial de gerar recursos no Fluxo de Caixa Futuro com a própria implementação do empreendimento. É óbvio que essa mudança de estruturação financeira de um projeto representa um avanço e uma ampliação das possibilidades de as em- presas obterem grandes volumes de recursos, os quais seriam amor- tizados por recursos que ainda não existiam e seriam gerados em um Fluxo de Caixa Futuro. A questão que trazemos para que você reflita é: o que ainda falta para compreender o modelo do Project Finance? A resposta se relaciona aos riscos envolvidos nesse tipo de operação. Por exemplo, será que a empresa tomadora de recursos utilizará os recursos financiados para implementação do projeto? 132 Análise e decisão de investimentos Pereira (2003) aponta que, para responder a essa questão, inicial- mente é preciso que se isolem os ativos do projeto dos ativos da em- presa, de modo a possibilitar a análise do projeto em si, sem misturá-lo com as atividades normais da empresa estudada. Trata-se, portanto, da estruturação de um projeto com a construção financeira segundo novas regras e, sobretudo, com novos controles ad- ministrativos que segreguem os riscos do projeto, rateiem os riscos do financiamento em vários investidores (no Corporate Finance o risco era somente do financiador, geralmente uma instituição financeira), elimi- nem a necessidade de garantias reais e as substituam por valores futu- ros que serão gerados com o desenvolvimento do projeto. Ainda de acordo com Pereira (2003), no modelo de Project Finance os investidores passam a controlar e administrar o projeto e todos os fa- tos ligados à operação da empresa, visando à mitigação de riscos, pois essas ações objetivam que a programação das proposições fixadas na negociação inicial para que se concretize o investimento seja seguida, inclusive quanto à negociação com fornecedores, clientes, empresas seguradoras, entre outras partes envolvidas, e à utilização de muitos instrumentos jurídicos que garantam uma estruturade divisão de ris- cos, garantias e responsabilidades. Dessa forma, preliminarmente a uma operação de financiamento, os investidores avaliam a capacidade financeira do projeto proposto em termos de gerar Fluxos de Caixa positivos para pagamento das obrigações decorrentes do fornecimento dos recursos. O foco para os investidores decidirem se aplicam seus recursos em uma empresa não é o conjunto representado por empresas/proprie- tários e seus bens oferecidos como garantia do empréstimo, e sim os recursos gerados no futuro para amortização dos valores aplicados. Ocorre algo a que Gonçalves (2019) se refere como despersonaliza- ção da relação contratual entre os financiadores, pois substitui-se a rela- ção entre financiadores e financiados e suas garantias por uma relação entre financiadora e projeto, associada à sua capacidade de gerar valo- res positivos no Fluxo de Caixa Futuro. Essa despersonalização faz com que se crie uma Sociedade de Propósito Específico, conhecida como SPE, que é uma Sociedade Anônima na qual os próprios proprietários da empresa tomadora de recursos são os acionistas. Financiamentos de projeto de investimento 133 A razão para a criação de uma SPE é a segregação das atividades relacionadas ao projeto que receberá os recursos dos investidores das atividades gerais da empresa (a empresa que solicita os recursos é co- nhecida como patrocinadora do projeto). Assim, a SPE atua com uma operação de securitização de recebíveis. Borges (1999) explica que a securitização é a palavra que especifica uma operação na qual os valores recebíveis ou direitos de recebimen- tos futuros servem de lastro (fundamento ou base) para emissão de títulos ou valores mobiliários. Assim, podemos concluir que o Project Finance possibilitou a deso- neração principalmente dos bancos ligados ao governo, pois vincula a concessão de crédito à emissão de títulos no Mercado de Capitais, que são adquiridos por investidores. A emissão desses títulos apresenta valores, prazos e remunerações que têm como base os recebimentos previstos no Fluxo de Caixa. É importante destacar que no Project Finance a administração exer- cida pelos investidores não elimina os riscos, nem em caso de contin- gências. Assim, na totalidade dos recursos investidos no projeto, deve prever a cobertura de eventuais faltas de recursos decorrentes de des- vios ou variações de resultados previstos no planejamento. No Brasil, os financiamentos de projetos por meio de mecanismos estruturados pelo Project Finance têm sido cada vez mais utilizados em diversos ramos, como: • shopping centers, que têm como base de remuneração os fluxos gerados por aluguéis futuros e venda de unidades; • faculdades, que têm como base o recebimento de mensalidades futura dos alunos; • empreendimentos imobiliários diversos, que têm como lastro de emissão de títulos o recebimento de aluguéis; • concessões de estradas, que têm como lastro de emissão a co- brança de pedágios. O financiamento de projetos de investimento de grande porte no Brasil por meio de mecanismos relacionados ao Project Finance é rela- tivamente recente, iniciando-se na década de 1990, quando o Governo Federal, por meio do BNDES, elaborou como objeto de estudo o as- pecto jurídico envolvendo o Project Finance para disseminar sugestões securitização: termo com origem na palavra de língua inglesa security, que é traduzida como valor mobiliário ou título. Glossário A securitização faz parte da estruturação de um Project Finance. Para co- nhecer mais detalhes so- bre o que isso representa, leia o texto Securitização: o que é, exemplos e títulos no mercado. Disponível em: https://www. capitalresearch.com.br/blog/ investimentos/securitizacao/. Acesso em: 3 ago. 2021. Saiba mais https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/securitizacao/ https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/securitizacao/ https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/securitizacao/ 134 Análise e decisão de investimentos e recomendações de operações de financiamento, as quais utilizavam garantias ligadas aos recebíveis futuros que seriam gerados pelos re- sultados que a implementação do projeto propiciaria. É necessário conhecer melhor esse assunto, que, talvez em razão da sua complexidade na estruturação e implementação, é pouco di- vulgado. Por esse motivo, torna-se cada vez mais importante que os estudantes de finanças o conheçam, pois a utilização desses mecanis- mos está progressivamente mais presente na realidade econômica brasileira. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo apresentamos os principais conceitos relacionados aos financiamentos de projetos de longo prazo. Fizemos uma descrição da estrutura de capital de uma empresa, com a participação de recursos pró- prios e de terceiros, e como determinar seus custos de modo individual e de maneira global, por meio do método do WACC. Vimos que, tradicionalmente, os recursos eram originados de opera- ções conhecidas como Corporate Finance, nas quais os financiadores eram instituições financeiras ligadas ao governo. Vários processos que ocorre- ram no Brasil – como a abertura de mercados a partir dos anos 1990, privatizações, necessidades de obras de infraestrutura, entre outros, que necessitavam de valores elevados de financiamento – fizeram com que o país iniciasse a adoção de operações de Project Finance. Nelas, o objeto de negociação passa a ser analisado pela capacidade de gerar recursos para amortização dos valores financiados pelo Fluxo de Caixa Futuro, e não mais pelo patrimônio e pelas garantias oferecidas para realização das operações de financiamento. O assunto não se esgota neste conteúdo, pois o mercado é dinâmico e sofre constantes alterações, seja do ponto de vista operacional e técnico ou jurídico e econômico. ATIVIDADES 1. Qual é a importância da configuração da estrutura de capital de uma empresa? 2. Explique o que é o Weighted Average Cost of Capital (WACC). 3. O que é um Project Finance? Vídeo Financiamentos de projeto de investimento 135 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Administração Financeira. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2019. BORGES, L. F. X. Project Finance e Infra-estrutura: descrição e críticas. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 5, n. 9, p. 105-122, jun. 1998. Disponível em: https://web.bndes.gov. br/bib/jspui/bitstream/1408/11922/1/RB%2009%20Project%20Finance%20e%20infra- estrutura%20-%20descri%c3%a7%c3%a3o%20e%20cr%c3%adticas_P_BD.pdf. Acesso em: 2 ago. 2021. BORGES, L. F. X. Securitização como parte da segregação de riscos. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 6, n. 12, p. 123-136, dez. 1999. Disponível em: https://web.bndes.gov.br/bib/ jspui/bitstream/1408/16504/1/PRArt122810_Securitizacao%20como%20parte%20da%20 segregacao%20de%20risco_compl_P_BD.pdf. Acesso em: 2 ago. 2021. BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. As decisões de investimentos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017. GITMAN, J. L.; JOENK, M. D. Princípios de investimento. 8. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. GONÇALVES, R. P. M. A viabilidade de utilização dos Project Finance no Brasil. Revista Científica Multidiscilinar Núcleo do Conhecimento, ano 4, ed. 6, v. 8, p. 159-186, jun. 2019. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/viabilidade-de-utilizacao. Acesso em: 2 ago. 2021. IUDÍCIBUS, S. de. Análise de balanços. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MEIRELLES, J. L. F.; PIMENTA JÚNIOR, T.; REBELATTO, D. A. do N. Venture capital e private equity no Brasil: alternativa de financiamento para empresas de base tecnológica. Revista Gestão e Produção, São Carlos, v. 15, n. 1, p. 11-21, jan./abr. 2008. Disponível em: https:// www.scielo.br/j/gp/a/hsngkDHTxbMkX96TwZFfZNF/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 2 ago. 2021. PEREIRA, R. S. Project Finance como fonte de alternativa de recursos. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,2003. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/85734. Acesso em: 2 ago. 2021. SILVA, F. P. da. Análise de investimento e fontes de financiamento. Porto Alegre: SAGAH, 2018. https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/11922/1/RB%2009%20Project%20Finance%20e%20infra-estrutura%20-%20descri%c3%a7%c3%a3o%20e%20cr%c3%adticas_P_BD.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/11922/1/RB%2009%20Project%20Finance%20e%20infra-estrutura%20-%20descri%c3%a7%c3%a3o%20e%20cr%c3%adticas_P_BD.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/11922/1/RB%2009%20Project%20Finance%20e%20infra-estrutura%20-%20descri%c3%a7%c3%a3o%20e%20cr%c3%adticas_P_BD.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/16504/1/PRArt122810_Securitizacao%20como%20parte%20da%20segregacao%20de%20risco_compl_P_BD.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/16504/1/PRArt122810_Securitizacao%20como%20parte%20da%20segregacao%20de%20risco_compl_P_BD.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/16504/1/PRArt122810_Securitizacao%20como%20parte%20da%20segregacao%20de%20risco_compl_P_BD.pdf https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/viabilidade-de-utilizacao https://www.scielo.br/j/gp/a/hsngkDHTxbMkX96TwZFfZNF/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/gp/a/hsngkDHTxbMkX96TwZFfZNF/?format=pdf&lang=pt https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/85734 Resolução das atividades 1 Introdução à analise de investimentos 1. Quais são os critérios para calcular juros no mercado? Descreva as principais características desses critérios. Os critérios utilizados para calcular e incorporar os juros ao capital são dois e são conhecidos como regimes de capitalização: regime de capitalização simples ou juros simples, no qual o cálculo para determinar o valor dos juros incide exclusivamente sobre o capital inicial e regime de capitalização composta ou juros compostos, caso em que o cálculo para determinar o valor dos juros incide sobre o capital acrescido dos juros. Neste, o valor dos juros é calculado sobre o capital acumulado. 2. O que representa o resultado obtido na aplicação do método de avaliação de investimentos do Valor Presente Líquido (VPL)? O resultado obtido nesse método consiste na somatória de todos os valores das entradas positivas de um investimento, descontados por uma taxa, conhecida como taxa mínima de atratividade, e então, desse resultado, subtrai-se o valor investido inicialmente. O resultado obtido representa qual é o valor do retorno do investimento, avaliado em termos de valor presente (todos os valores dos fluxos futuros estão no início do projeto de investimento). Quando o VPL for positivo, entende-se que o projeto é viável; caso o valor seja negativo, o projeto deve ser rejeitado. 3. O que é árvore de decisão? Pode ser definida como um diagrama gráfico ou ferramenta administrativa que representa as possíveis opções de decisões em ordem cronológica e sequencial (contínua), as quais proporcionam uma melhor visualização das alternativas (inter-relações) de escolhas possíveis, com destaque para os resultados associados aos riscos identificados em cada uma dessas escolhas. 2 Características de investimentos 1. O que são investimentos com restrições orçamentárias? Descreva as principais características. 136 Análise e decisão de investimentos São aqueles em que a seleção de alguma opção entre as alternativas de investimento pode ter sua realização bloqueada pela insuficiência de capital para implementar o projeto em questão. A execução da referida proposta é impedida pela falta de recursos, e não pela impossibilidade de atingir os objetivos propostos ou por não satisfazer as necessidades relacionadas aos projetos de investimento. 2. O Governo atua como agente deficitário ou superavitário no mercado financeiro? Explique. O Governo, tradicionalmente, é demandante de recursos (agente deficitário), pois suas atividades próprias incluem projetos de longo prazo como os relacionados a obras de infraestrutura, construções de edificações destinadas à saúde e outras necessidades da sociedade. Essas atividades são custeadas, na sua maior parte, por captações de recursos vinculados a emissões de títulos públicos federais. No entanto, o Estado é um agente superavitário quando tem a posse de recursos transitórios e temporários, que podem ser investidos em operações de curto prazo até que sejam necessários para serem utilizados em alguma de suas atividades. 3. Como o câmbio afeta os membros de uma sociedade em termos financeiros? Afeta de modo igual ou desigual? Justifique sua resposta. Todos em uma sociedade são afetados por alterações nas taxas de conversão da moeda local para uma moeda de outro país. Quando comparamos empresas que atuam em setores relacionados ao comércio exterior, elas podem ser beneficiadas ou prejudicadas pela ocorrência de uma alteração nas taxas de conversão do câmbio, como nos casos de uma empresa importadora e de uma empresa exportadora. O fato de o câmbio sofrer alteração impacta de maneira diferente as duas empresas, pois a importadora tem suas receitas em reais e seus custos em moeda estrangeira; já na empresa exportadora as receitas são em moeda estrangeira e os custos são em reais, ou seja, os efeitos são invertidos. Quando uma é favorecida pela oscilação da taxa de conversão da moeda estrangeira para o real, a outra é prejudicada, e vice-versa. Portanto, apesar de as alterações da taxa de conversão do câmbio afetarem todos em uma sociedade, a forma como os membros de uma sociedade são afetados não é uniforme. Resolução das atividades 137 3 Critérios para decisão de investimentos 1. O que são indicadores ou índices financeiros e para que servem? Demonstram como foi o comportamento e o desempenho passado e presente de um investimento e fornecem informações importantes para fundamentar orientações para o planejamento futuro das ações a serem implementadas para se atingir os objetivos pretendidos. Auxiliam os administradores a antecipar situações e direcionar de maneira mais eficiente as ações para conquistar o sucesso nos objetivos estabelecidos e permitir o controle da empresa e a efetivação de ajustes quando necessários. 2. O que são riscos financeiros? São os riscos ligados aos prováveis prejuízos ou insucessos ocorridos nos mercados financeiros, cuja causa é um grande número de oscilações em variáveis financeiras que podem influenciar o comportamento e o resultado dos investimentos. 3. Como é o comportamento do VPL em relação à variação no custo de capital (k)? Existe algum tipo de correlação entre essas variáveis? No cálculo do VPL, há uma correlação inversa entre o custo de capital (k) e o VPL. Portanto, quando o custo de capital (k) apresenta valores elevados, o VPL apresenta valores menores. Dessa forma, em projetos de maior duração, os custos de capital (k) apresentam valores mais elevados, pois há um risco superior relacionado ao prazo longo, dado que há uma maior incerteza quanto ao futuro afetado pelo elevado prazo dessas operações. 4 Administração do caixa e gestão de investimentos 1. Qual a diferença entre os usuários internos e externos dos demonstrativos financeiros? Os usuários internos são aqueles que por pertencerem à organização possuem informações com maior detalhamento sobre as operações, como volume de vendas por clientes, concentração de vendas por produto, resultados por produtos, por filiais, concentração de negócios com fornecedores, entre outras informações. Já os usuários externos, são aqueles que necessitam de elementos baseados na 138 Análise e decisão de investimentos realidade para tomada de decisões, fundamentados por análises em informações da organização. Por exemplo: investidores interessados em aplicar; analistas externos para examinar e ponderar sobre a situação financeira da empresa; Governo para fiscalizar; sindicatos para subsidiar negociações trabalhistas; instituições financeiras para a concessãode crédito e financiamento de bens; fornecedores para concessão de crédito de bens e serviços, entre outros. 2. O que são orçamentos de capital? São ferramentas importantes para planejar os desembolsos que são feitos para obter benefícios futuros e são classificados em duas categorias: (i) Capex, que se refere a quanto está investido ou gasto (dispêndio de fundos) em bens de capital que proporcionarão benefícios por um período superior a um ano; (ii) Opex, que se refere às despesas operacionais que trarão benefícios à empresa em até um ano. 3. O que é um Fluxo de Caixa Operacional? É um grupo de entradas e saídas de caixa que se referem aos resultados de movimentações de caixa originadas pela venda de produtos e serviços e a saídas de caixa e são ligadas ao pagamento de atividades relacionadas ao consumo de recursos utilizados para obter vendas, como propagandas, custo de mercadorias vendidas, salário de vendedores, comissões de vendas e demais recursos. 5 Financiamentos de projetos de investimento 1. Qual é a importância da configuração da estrutura de capital de uma empresa? A configuração da estrutura de capital é importante por influenciar diretamente o custo de capital da empresa, pois o custo de capital próprio é considerado superior ao de capital de terceiros em função da possibilidade de se diminuir a base do lucro operacional da empresa , que será tributada e por afetar o nível de risco financeiro da organização, uma vez que fatores como a disponibilidade de recursos dependem de outros ligados à economia, por exemplo, em momentos de instabilidade econômica, uma empresa pode ter dificuldade em obter recursos de terceiros em função da escassez desses recursos nesse tipo de situação. Resolução das atividades 139 2. Explique o que é o Weighted Average Cost of Capital (WACC). É um método utilizado para determinar o custo médio da estrutura de capital estimado para uma empresa. A metodologia empregada é a média ponderada dos custos, tendo como pesos para a ponderação os valores de capital associados a cada custo. 3. O que é um Project Finance? Pode ser descrito como uma forma de captação de recursos de longo prazo, na qual são considerados os valores a receber de um Fluxo de Caixa que gerará recursos para amortizar o capital investido no projeto. 140 Análise e decisão de investimentos AN ÁLISE E D ECISÃO D E IN VESTIM EN TO S ED U ARD O KO G A EDUARDO KOGA ANÁLISEANÁLISE Código Logístico I000116 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6557-8 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 5 7 8é uma ferramenta de adminis- tração e controle de uma empresa que retrata as entradas e saídas de recursos (movimentação financeira) em um determinado intervalo de tempo. Esse intervalo inclui períodos futuros, configurando, então, a projeção de valores em períodos vindouros e permitindo determinar o comportamento do saldo de caixa estimado em datas futuras. Nesse sentido, o Fluxo de Caixa é utilizado para antecipar qual será a situação do caixa, prevenindo necessidades de cobertura de valores em caso de desembolsos a serem efetuados. A utilização dele é impor- tante, ainda, para antecipar a ocorrência de possíveis recursos exce- dentes, auxiliando no planejamento da destinação desses valores. Por este motivo, constitui o principal instrumento da gestão financeira ao Introdução à análise de investimentos 17 ser utilizado nas atividades de controle e análise de receitas, despesas e investimentos. Para compreender a importância desses aspectos para a gestão fi- nanceira, convido você a refletir: quais são as consequências da falta de recursos em um determinado período? A resposta é que, além de gerar atrasos dos compromissos financei- ros, esses atrasos geram outras consequências indesejadas, como per- da de crédito com fornecedores, que compromete o capital de giro das empresas; atrasos de pagamentos de funcionários, que geram perda de produtividade por insatisfações geradas devido ao não pagamento de salários na data prevista; atrasos em recolhimentos de obrigações tributárias, que motivam a visita da fiscalização fazendária para veri- ficar as causas do não recolhimento, entre outras. Para evitar esses problemas, é comum que a empresa recorra a empréstimos com insti- tuições financeiras. A utilização dessa solução tem efeitos indesejados, que acarretam dimi- nuição nos lucros ou prejuízos, pois os empréstimos geram despesas finan- ceiras, e estas corroem os resultados financeiros das empresas. Então, para evitar esses efeitos indesejados, os quais são originados por saldos negativos no Fluxo de Caixa, e prevenir suas consequências em períodos mais extensos, uma solução simples é negociar os paga- mentos em períodos em que há previsões de sobra de recursos no Fluxo de Caixa, evitando-se tomar empréstimos para suportar a falta de dinheiro, já que eles originam o pagamento de despesas financeiras. Samanez (2007) descreve o Fluxo de Caixa como um resumo das entradas e saídas efetivas de valores monetários, não apenas com o propósito de planejar ou definir a capacidade de pagamento de dívi- das, mas também como uma ferramenta que possibilita identificar a rentabilidade de um projeto de investimento e, dessa forma, analisar, avariar e decidir sobre sua viabilidade. Andrich e Cruz (2013) conceituam o Fluxo de Caixa como uma de- monstração de entradas e saídas de valores previstos pela empresa em um determinado intervalo de tempo 4 . Com base nessas definições, entende-se que o Fluxo de Caixa é uma ferramenta que resume informações associando valores monetários positivos (entradas de recursos) e valores monetários negativos (saídas de caixa) estimados à cronologia da sua ocorrência. O artigo O fluxo de caixa como ferramenta de gestão financeira e estratégica nas empresas, das autoras Danielle Zanetti Guima- rães da Silva e Roberta Mendes Neiva, publicado em 2010 na Revista da Faculdade de Administra- ção e Economia (ReFAE), aborda aspectos gerais do Fluxo de Caixa e permite ao leitor desenvolver uma melhor compreensão sobre a importância dessa ferramenta – considerada essencial – para o gestor financeiro executar suas atividades de maneira assertiva e sob o ponto de vista estratégico, uma vez que o Fluxo de Caixa utiliza dados que permi- tem a tomada de decisões que afetarão o futuro das empresas, diferencian- do-se das informações contábeis, que também são importantes para o gestor, mas apresentam a limitação de registrar informações de fatos que ocorreram no passado, sem incluir o dinamismo que a conjuntura econô- mica impõe às empresas atualmente. Disponível em: https://core.ac.uk/ download/pdf/229080247.pdf. Acesso em: 9 abr. 2021. Artigo Andrich e Cruz (2013) advertem para não confundir Fluxo de Caixa ou Orçamento de Caixa (previsões de valores) com Demonstrativos de Fluxo de Caixa (entradas e saídas passadas). 4 https://core.ac.uk/download/pdf/229080247.pdf https://core.ac.uk/download/pdf/229080247.pdf 18 Análise e decisão de investimentos Há diversas formas de representar um Fluxo de Caixa, seja utilizando tabelas ou planilhas, seja por recursos visuais, como uma representação gráfica de valores por meio de diagramas de fluxos de caixa (Figura 1). Os diagramas de fluxo de caixa (DFC) são formas de representação de valores conforme ocorre a movimentação de recursos ao longo do tempo. Figura 1 Representação de um DFC 0 2 4 6 Tempo (meses) 1 3 5 7 Fonte: Elaborada pelo autor com base em Assaf Neto, 2017. Na Figura 1, o eixo horizontal representa a marcação da variação do tempo na unidade de representação do Fluxo de Caixa no tempo. Já a direção vertical representa os valores desse Fluxo de Caixa, no qual se adota a convenção de valores positivos (entradas de caixa) sendo caracterizados por seta no sentido para cima, enquanto as setas têm sentido para baixo para indicar valores negativos (desembolso) . Eventualmente podem acontecer casos em que ocorram entradas e saídas em um mesmo momento do DFC, como ilustrado na Figura 2. Figura 2 Representação de um DFC, no qual ocorre uma entrada e uma saída em um mesmo instante do fluxo (período 3). Fonte: Elaborada pelo autor com base em Assaf Neto, 2017. 200 200 RESULTANTE 150 – 50 = 100 0 2 4 6 Tempo (meses) 1 100 3 50 150 150 75 50 5 7 0 2 4 6 Tempo (meses) 1 100 100 3 150 75 50 5 7 Introdução à análise de investimentos 19 Na Figura 2 adota-se a possibilidade de se considerar a resultan- te quando, em um mesmo instante do fluxo, ocorrer uma entrada e uma saída 5 (observe o 3º período), pois em muitas análises associadas ao DFC é importante trabalhar com a resultante para fins de análise – por exemplo, da Taxa Interna de Retorno (TIR), que reflete a taxa im- plícita do Fluxo de Caixa analisado correspondente a um projeto de investimentos. Um ponto interessante para o DFC é a possibilidade de representar um parcelamento de uma operação com parcelas de valores iguais. Po- demos visualizar essa representação na figura a seguir. Figura 3 Exemplo de representação de dois DFCs com parcelamento, no qual o primeiro DFC representa um devedor, ou tomador de recursos, e o segundo DFC, um credor, ou investidor. Fonte: Elaborada pelo autor com base em Assaf Neto, 2017. 0 0 2 2 4 4 6 6 1 1 6.000 6.000 3 3 5 5 1.200 1.200 Tempo (meses) Tempo (meses) Tomador de recursos Investidor (credor) A Figura 3 mostra a representação de 2 DFCs, em que há, no iní- cio do 1º fluxo, um valor positivo indicando uma entrada de recursos (6.000) e, posteriormente, saídas com 6 parcelas idênticas (1.200), uma em cada mês, de modo consecutivo, ou seja, trata-se de uma operação na qual um tomador de recursos tem um valor liberado no valor de 6.000 e depois efetua 6 pagamentos contínuos e com valores idênticos de 1.200. No 2º fluxo ocorre, inicialmente, um desembolso de 6.000, que representa um investimento, e, depois, a entrada de 6 valores po- sitivos idênticos e consecutivos, indicando o recebimento das parcelas com valor de 1.200. O uso de uma resultante quando existem valores em um DFC com sinais in- vertidos é similar ao con- ceito de somas vetoriais utilizados na matemática vetorial ou na Física quando ocorrem forças de sentidos contrários. 5 20 Análise e decisão de investimentos Com esses conceitos, é possível compreender como identificar ope- rações de empréstimos (tomadores de recursos) e aplicações ou inves- timentos (credores ou aplicadores de recursos). Para entender o funcionamento de umFluxo de Caixa em uma em- presa, observe a Figura 4. Figura 4 Exemplo de representação de um Fluxo de Caixa de uma empresa Mão de obra Matérias- -primas Produtos em elaboração Produtos acabados Imposto de Renda Vendas Contas a receber Ativo fixo Participação Exigível curto e longo prazo Fluxos operacionais Fluxos de Caixa da empresa Pagamento provisionado Fluxos de investimentos Fluxos de financiamentos Pagamento de fornecedores Depreciação Compras Compras Vendas Vendas Empréstimos Pagamentos Vendas de ações Recompra de ações Pagamentos de dividendo Pagamentos Restituição Venda à vista Recebimento de vendas a prazo Patrimônio Despesas operacionais com depreciação e juros Despesas gerais Contas a pagar Salários Caixa e títulos negociáveis Fonte: Adaptado de Gitman; Madura, 2003, p. 251. Introdução à análise de investimentos 21 Observe na Figura 4 que Gitman e Madura (2003) demonstram que o Fluxo de Caixa de uma empresa pode ser dividido conforme a ne- cessidade do gestor financeiro, com o objetivo de melhor controlar e avaliar cada parte da movimentação de caixa em separado. Nesse exemplo, o autor dividiu em três tipos de fluxos: • Fluxo de Caixa Operacional: associado às entradas e saídas de valor relacionadas com as vendas e os gastos para a obtenção de produtos e serviços. • Fluxo de Investimentos: relacionado aos Fluxos de Caixa que têm como referência transações de compra de ativos ou de par- tes de empresas e valores positivos relacionados aos retornos que essas aquisições proporcionariam ou, eventualmente, às transações de vendas desses bens e direitos. • Fluxo de Financiamentos: no qual se analisam os resultados da utilização de capitais próprios e de terceiros no financiamento das atividades da empresa, por exemplo o pagamento de divi- dendos aos acionistas e uma recompra de ações próprias como uma saída de caixa, além de uma venda de ações próprias como uma entrada de caixa. O estudo de movimentações de recursos pelo Fluxo de Caixa, para efeito de análise de um investimento, necessita do componente que correlaciona os valores nos diferentes períodos dos Fluxos de Caixa, que, no caso, é a taxa de juros, conhecida como taxa mínima de atra- tividade. Assaf Neto e Lima (2019) definem que essa taxa diz respeito à remuneração mínima aceita pelos investidores em função do risco assumido em um projeto de investimento. Assim, quando se analisa a aceitação de uma proposta de investi- mento, a rentabilidade apresentada pelo projeto deve ser comparada à taxa mínima de atratividade. Portanto, considera-se o investimento como satisfatório ou aceitável quando a rentabilidade implícita do pro- jeto de investimento proposto for superior ou, no mínimo, igual à taxa mínima de atratividade. A taxa mínima de atratividade é utilizada diretamente (taxa utilizada para descontar os valores dos Fluxos de Caixa futuros) nos métodos de avaliações de investimentos do Payback Descontado e do Valor Presen- te Líquido, e indiretamente (utilizada como taxa comparativa de renta- bilidade mínima) no método de Taxa Interna de Retorno. 22 Análise e decisão de investimentos 1.3 Métodos de avaliações de projetos de investimentos Vídeo Abordamos, aqui, os métodos quantitativos de avaliações de inves- timentos alinhados à premissa básica da matemática financeira, que considera o valor do dinheiro no tempo. Esses métodos de avaliações levam em consideração três enfoques: o primeiro tem como base o tempo de retorno de um investimen- to (Payback Descontado); o segundo utiliza uma avaliação baseada no valor do retorno do valor investido, considerando esse valor no pre- sente (Valor Presente Líquido – VPL, ou Net Present Value – NPV); e, fi- nalmente, o terceiro método de avaliação, tendo como base a taxa de retorno do investimento, ou projeto de investimento (Taxa Interna de Retorno – TIR, ou Internal Rate of Return – IRR). 1. Payback Descontado: segundo Assaf Neto e Lima (2019) e Samanez (2007), esse método utiliza todos os valores de um fluxo trazidos a Valor Presente até que estes sejam suficientes para zerar ou trazer um retorno positivo ao investimento realizado. Uma fórmula matemática pode ser expressa para encontrar qual é o tempo “T”, no qual o capital investido retorna em termos de valores descontados até o instante inicial do projeto de investi- mento, segundo a fórmula descrita por Samanez (2007, p. 22): I FC kt T t t � �� �� � 1 1 Onde: I = valor investido no início do projeto. t = tempo decorrido a cada entrada do fluxo do investimento. ∑ = representa a somatória de uma série de dados. FCt = fluxos previstos de entradas ou saídas de caixa em cada período de tempo. k = taxa de remuneração do capital. T = prazo decorrido para que a somatória dos valores desconta- dos se iguale ao valor I. Introdução à análise de investimentos 23 Exemplo: Considere a seguinte tabela, que representa um investimento com desembolso inicial de R$ 15.000, duração prevista de 5 anos e taxa mí- nima de atratividade (TMA) de 10% a.a. Ano 0 1 2 3 4 5 Fluxo de Caixa (R$) -15.000 7.000 6.000 3.000 2.000 1.000 Calcule em quanto tempo o capital investido será recuperado. Resolução: Para resolver essa questão, vamos descontar cada valor do fluxo futuro para o início do investimento 6 utilizando a fórmula de desconto a Valor Presente, até que o saldo a Valor Presente se torne positivo. Assim, no 1º ano: CF1 1 7 000 1 0 10 � �� � � . , 6.363 (esse valor está na 3ª linha da Tabela 3). O saldo a recuperar do investimento, utilizando esse valor descon- tado que representa a somatória, é obtido por –15.000 + 6.363 = –8.637 (esse valor está expresso na 4ª linha da Tabela 3). No 2º ano: CF2 2 6 000 1 0 10 � � � . ( , ) 4.959 (esse valor está expresso na 3ª linha da Tabela 3). O saldo a recuperar do investimento, utilizando este valor descon- tado, é obtido por –8.637 + 4.959 = –3.678 (esse valor está expresso na 4ª linha da Tabela 3). No 3º ano: CF3 3 3 000 1 0 10 � � � . ( , ) 2.254 (esse valor está expresso na 3ª linha da Tabela 3). O saldo a recuperar do investimento, utilizando esse valor descon- tado, é obtido por –3.678 + 2.254 = –1.424 (esse valor está expresso na 4ª linha da Tabela 3). No 4º ano: CF4 4 2 000 1 0 10 � � � . ( , ) 1.366 (esse valor está expresso na 3ª linha da Tabela 3). O saldo a recuperar do investimento, utilizando este valor descon- tado, é obtido por –1.424 + 1.366 = –58 (esse valor está expresso na 4ª linha da Tabela 3). No 5º ano: CF5 5 1 000 1 0 10 � � � . ( , ) 621 (esse valor está expresso na 3ª li- nha da Tabela a 3). Um dos princípios da matemática financeira refere-se a comparar valores somente se estes estiverem na mesma data. Nesse caso, todos os valores futuros do fluxo estão sendo descontados para o instante do início da operação. 6 24 Análise e decisão de investimentos O saldo a recuperar do investimento, utilizando este valor descon- tado é obtido por –58 + 621 = 563 (este valor está expresso na 4ª linha da Tabela 3 e finalmente o saldo do investimento a Valor Presente se torna positivo). O valor de R$ 563 é o retorno que o investimento trará ao final de 5 anos em termos de valor trazido ao início do investimento, ou seja, quando o investidor decide aplicar R$ 15.000, ele sabe que terá um va- lor adicionado que representa R$ 563 em termos de valor comparativo no instante do investimento. O resultado ainda não expressa a resposta da questão. Observan- do-se a Tabela 3, no final do 4º ano ainda faltam R$ 58 para serem re- cuperados. O investimento retorna, então, entre o final do 4º e 5º ano (passa de –R$ 58 para R$ 563). Para determinar quando isso ocorre (aproximadamente), utiliza-se o seguinte raciocínio: • No final do 4º ano faltam R$ 58, e no 5º ano gera um resultado de R$ 621. • Então isto ocorre aproximadamente em 58 621 0 0933977= , anos 7 . • Sabendo-se que um ano tem 12 meses, multiplica-se0,0933977 por 12; então: 0,0933977 · 12 = 1,1208 mês, ou seja, recupera-se o valor de R$ 15.000 em 4 anos e 1,1208 mês. • Para ser mais preciso, pode-se determinar que 0,1208 mês repre- senta 0,1208 · 30 = 3,623 dias , isto é, o valor é recuperado em 4 anos, 1 mês e 4 dias (aproximadamente). Tabela 3 Valores de Fluxo de Caixa descontado a Valor Presente e o respectivo saldo a recuperar Ano 0 1 2 3 4 5 Fluxo de Caixa (R$) –15.000 7.000 6.000 3.000 2.000 1.000 Fluxo Desconta- do (R$) –15.000 6.363 4.959 2.254 1.366 621 Saldo do Fluxo Descontado (∑) (R$) –15.000 –8.637 –3.678 –1.424 –58 563 Fonte: Elaborada pelo autor. Lembre-se de que o dinheiro tem valores dife- rentes conforme o tempo decorre, então todos os valores do fluxo foram trazidos ao instante do vencimento (descontados) e somados ao valor inicial (desembolso tem sinal ne- gativo, e entradas têm si- nal positivo). Dessa forma, comparam-se valores em uma mesma data, que, no caso, referem-se, por convenção, ao instante inicial do investimento. Atenção Se no 5º ano se recu- peram R$ 621, então é necessário definir quanto tempo representa essa fração do 5º ano para recuperar R$ 58. 7 Introdução à análise de investimentos 25 2. Valor Presente Líquido (VPL) ou Net Present Value (NPV): segundo Assaf Neto (2017), esse método requer a definição de uma taxa a ser utilizada para descontar (trazer o valor futuro ao início do investimento). Nesse método, o resultado obtido consiste na somatória de to- dos os valores de um investimento descontados a Valor Presente pela taxa mínima de atratividade 8 e, então, subtrai-se do valor investido inicialmente. Para Samanez (2007), esse método de análise de investimentos baseia-se no cálculo em valores presentes (no início do projeto de investimento) de todos os valores gerados pelo projeto ao longo de sua vida útil. Quando não existem restrições de valores de capital, segundo Samanez (2007), o objetivo do método é encontrar valores de in- vestimento que determinem o maior VPL positivo, considerando o custo de capital, o risco ou a incerteza dos valores envolvidos. Se o VPL encontrado for negativo, o projeto de investimento deve ser rejeitado. De acordo com Assaf Neto (2017, p. 201), esse método pode ser expresso pela seguinte fórmula matemática: NPV FC i FC i FC i FCn n � �� � � �� � � � �� � � � � � � � � � �1 2 2 01 1 1 ... Ou na forma de somatória: NPV FC i FCj j j n � �� � � � � 11 0 Onde: FC0 = quantia no momento inicial (recebimento no caso de ser um empréstimo, ou pagamento quando se tratar de um investimento). FCj = valores previstos na admissão de recursos futuros no caixa ou desembolsos de caixa em um determinado período de tempo. i = taxa de desconto utilizada para trazer, no instante do início da operação, as entradas e as saídas previstas de caixa. Taxa mínima de atrativida- de é a aquela que reflete a remuneração mínima aceita pelos investidores, segundo Assaf Neto e Lima (2019). 8 26 Análise e decisão de investimentos j = termo genérico das parcelas para especificar as parcelas quan- do se desenvolve a fórmula do NPV na forma de somatória das parcelas. n = representa o termo genérico que simboliza o último termo das parcelas na somatória (entendemos que o valor de j varia de 1 até n). Exemplo: Uma proposta de investimentos foi oferecida com um investimen- to inicial de R$ 103.000,00, e pelo plano de negócios apresentado foi demonstrado que esse investimento gerará retornos líquidos estimados ao final de cada ano conforme a tabela a seguir. Ano 0 1 2 3 4 5 Fluxo de Caixa (R$) –103.000 30.000 35.000 32.000 28.000 27.000 Considerando que é utilizada uma taxa mínima de atratividade de 15% a.a., qual é o VPL desse investimento? O projeto deve ser aceito ou reprovado? Assim, no 1º ano: CF1 1 30 000 1 0 15 � � � . ( , ) 26.086,96 No 2º ano: CF2 2 35 000 1 0 15 � � � . ( , ) 26.465,02 No 3º ano: CF3 3 32 000 1 0 15 � � � . ( , ) 21.040,52 No 4º ano: CF4 4 28 000 1 0 15 � � � . ( , ) 16.009,09 No 5º ano: CF5 5 27 000 1 0 15 � � � . ( , ) 13.423,77 Aplicando a fórmula do VPL= NPV: NPV FC i FCj j j n � �� � � � � 11 0 NPV = VPL = 26.086,96 + 26.465,02 + 21.040,52 + 16.009,09 + 13.423,77 – 103.000,00 VPL = 103.025,37 – 103.000,00 = 25,37 Introdução à análise de investimentos 27 Resposta: considerando que o retorno é positivo, teoricamente este investimento deveria ser aceito, por se tratar de um retorno posi- tivo, contudo este valor é muito baixo e provavelmente, os investidores devem rejeitá-lo, pois um retorno esperado de R$ 25,37 é muito infe- rior ao valor investido de R$ 103.000,00 (arrisca-se muito para ter um retorno tão baixo). Desta forma, em princípio, o projeto deve ser rejei- tado, pois uma alteração nas taxas de mercado (se a taxa de mercado se alterar para uma taxa acima dos 15% a.a.), podem alterar o retorno positivo para negativo, ou seja, neste exemplo, o retorno esperado, mesmo sendo positivo, não vale o risco. 3. Taxa interna de Retorno (TIR) ou Internal Rate of Return (IRR): para Assaf Neto (2017), esse método consiste em determinar uma taxa de juros na qual a somatória dos valores dos fluxos futuros descontados até o instante inicial do projeto de investimento se iguala ao valor inicial em termos absolutos, ou seja, se trouxermos os valores dos fluxos futuros à taxa da TIR em valores absolutos no instante inicial da operação e subtrairmos o valor inicial, o resultado é 0. Para Samanez (2007), o método da TIR é encontrar uma taxa in- trínseca de rendimento do Fluxo de Caixa do investimento. Bruni e Famá (2018) descrevem de maneira simples que a TIR corresponde ao valor do custo de capital que iguala o VPL a zero. Ainda segundo Assaf Neto (2017, p. 195), as fórmulas matemáti- cas deste método podem ser expressas por: FC FC i FC i FC i FC i n n0 1 2 2 3 31 1 1 1 � �� � � �� � � �� � ��� �� � Na forma de somatória: FC FC ij n j j0 1 1 � �� �� � Esta fórmula pode ser desenvolvida algebricamente, passando o termo FC0 para o lado direito do sinal de igual (lembrando-se de inverter o sinal positivo para negativo). 0 FC i FC j n j j � �� � � � � 1 0 1 28 Análise e decisão de investimentos Onde: FC0 = valor do Fluxo de Caixa no momento zero (empréstimo se for valor positivo, ou investimento se for um valor negativo). FCj = fluxos previstos de entradas ou saídas de caixa em cada período de tempo. n = o último período considerado, a partir do início do investimento. i = Taxa Interna de Retorno, que representa a incógnita da equação. A incógnita, no caso, é a variável i da equação de grau n. j = é o termo genérico das parcelas, que varia de 1 até n, quando se desenvolve a soma dos fluxos descontados na somatória. Portanto, para resolver um problema envolvendo o cálculo da TIR, é necessário utilizar recursos que apresentem formas específicas de resolução desses cálculos mais complexos envolvendo equa- ções polinomiais de grau n, como a calculadora financeira HP 12c ou planilhas eletrônicas – o Excel da Microsoft, por exemplo. Exemplo: Considere um investimento no qual se aplica um valor inicial de R$ 5.000,00 e que proporcione retornos anuais de R$ 1.000,00 ao fi- nal dos dois primeiros anos; R$ 2.000,00 no terceiro ano e, finalmente, R$ 3.000,00 no quarto ano, quando termina o projeto. Sabe-se que o retorno mínimo aceito pelos investidores é 10% a.a. Nessas condições, o investimento deve der realizado? Resolução: Podemos visualizar o problema conforme o seguinte DFC: 0 2 4 anos 1 1.000 1.000 2.000 3.000 5.000 3 5 Um emulador é um software que permite reproduzir e executar o funcionamento de outro software ou mesmo de um equipamento (hardware). Aqui vai uma dica: você, estudante, não precisa comprar uma calculadora financeira para utilizar em seus estudos, pois existem diversos emuladores que imitam as funcionalidades desse tipo de calculadora e quepodem ser baixados no seu equipamento ou utilizados on-line (alguns são de utilização gratuita). Portanto, fica a sugestão para que você obtenha um desses emuladores grátis. Curiosidade Introdução à análise de investimentos 29 Nesse exemplo, ao desenvolvermos a equação da TIR, constatamos ter uma equação polinomial de 4º grau, na qual a incógnita é a variável i, que representa a Taxa Interna de Retorno (TIR) do fluxo: 5 000 1 000 1 1 000 1 2 000 1 3 000 11 2 3 4 . � . � . � . � . � �� � � �� � � �� � � �� �i i i i Por se tratar de uma equação de 4º grau – de difícil resolução al- gébrica –, vamos utilizar uma ferramenta para resolvê-la (neste caso, utilizaremos, para resolver o problema, a calculadora HP 12c, cujo uso é bastante difundido). Os passos são: f CLX; 5000 CHS gCF0; 1000 gCFj; 1000 gCFj; 2000 gCFj; 3000 gCFj; f IRR. A resposta que surgirá no visor será 12,157492025 ou, arredondan- do, 12,16. A interpretação, aqui, é que a Taxa Interna de Retorno deste in- vestimento é 12,16% ao ano. Ao compararmos com a taxa mínima de retorno do investimento, que é de 10% ao ano, concluímos que esse investimento deve ser aceito, sob o ponto de vista de avaliação de taxa implícita do investimento. Um ponto importante sobre o qual alertar o aluno é que aqui a aná- lise se baseia na utilização de previsões de valores de Fluxo de Caixa Futuro, que possuem o risco de não se concretizarem. Os riscos relacionados a essas incertezas podem ser atenuados com a utilização de técnicas de planejamento e controle de investimentos. 1.4 Técnicas de planejamento e controle de investimentos Vídeo As técnicas de planejamento e controle de investimentos visam di- minuir incertezas quanto aos investimentos. Neste tópico abordare- mos as técnicas mais utilizadas. Samanez (2007) afirma que, para se conseguir uma análise econômi- ca de investimento mais assertiva, devem ser utilizadas algumas técnicas de investimento, como: análise de sensibilidade; análise de cenários; si- mulação de Monte Carlo; árvores de decisão, dentre outros. Pereira (2010) descreve o uso de técnicas complementares que per- mitem compreender como alterações nas principais variáveis podem O artigo Análise de Investimentos, escrito por Reinaldo Luiz Lunelli e disponível no Portal de Contabilidade, apresenta os métodos de avaliações de investimentos, abor- dando visões de retornos de investimentos, de acordo com conceitos de matemática financeira. O texto avalia questões rela- tivas ao tempo de retorno do capital (payback des- contado, importante sob a premissa de quanto maior o prazo para recuperar o capital, maior o risco, levando-se em conside- ração as incertezas que envolvem um investimen- to); à previsão em valor atual de um investimento (Valor Presente Líquido); e à rentabilidade estimada, em termos de taxa que um investimento repre- senta (Taxa Interna de Retorno). Disponível em: http://www. portaldecontabilidade.com.br/ tematicas/analiseinvestimentos. htm. Acesso em: 9 abr. 2021. Leitura http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/analiseinvestimentos.htm http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/analiseinvestimentos.htm http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/analiseinvestimentos.htm http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/analiseinvestimentos.htm 30 Análise e decisão de investimentos representar riscos por ampliarem as incertezas e por serem determi- nantes em cenários previstos ou imprevistos. 1.4.1 Análise de sensibilidade Pereira (2010) descreve que a análise de sensibilidade é um método que permite uma melhor compreensão das causas de possíveis fracas- sos ou sucessos de maneira mais assertiva, diminuindo as incertezas quanto a estimativas do VPL de um Fluxo de Caixa estimado. Nesse caso, a técnica mede o quão sensível é o VPL quando ocorrem oscila- ções em variáveis que afetam os cenários, que determinam os valores de Fluxos de Caixa futuros estimados. Para Samanez (2007), quando utilizamos as projeções de Fluxos de Caixa, é importante identificar quais seriam as variáveis mais signifi- cativas nas estimativas de valores que compõem esses fluxos e, dessa forma, separar esses fatores e estudar o comportamento destes man- tendo todo o resto de variáveis constante. Essa análise é conhecida como análise unidimensional, na qual utilizamos o estudo de uma variá- vel de cada vez com base no uso de técnicas estatísticas, como probabi- lidades, médias ponderadas de valores, médias aritméticas, medianas, modas, tipos de distribuições etc. Samanez (2007) afirma que a aplicação dessa técnica é hoje amplia- da com a utilização de modelos multidimensionais, viabilizados pelos avanços tecnológicos (recursos de hardware e software) que permitem o estudo na variação de diversas variáveis ao mesmo tempo, com a proposição de um cenário hipotético e o estudo simultâneo da oscila- ção de diversas variáveis. O uso da análise de cenários é justificado para simplificar a corre- lação estatística entre um grande número de variáveis na análise de sensibilidade. Por esse motivo, Samanez (2007) considera como uma variante da análise de sensibilidade. Na análise de cenários admite-se isolar um grupamento de parâme- tros, cuja variação guarda uma correlação e uma consistência com um determinado cenário. Assim, criam-se condições para a identificação das principais variáveis que afetam um cenário, o que significa reco- nhecer características que podem definir o êxito ou o fracasso do pro- jeto analisado. A técnica identificada com o uso da expressão em latim coeteres paribus, que pode ser traduzida como “mantido todo o resto constante”, significa isolar uma variável, mantendo todas as outras variáveis fixas, em uma análise que permite uma simplificação para explicar e estudar somente o efeito da osci- lação dessa variável, em um entendimento de um fenômeno. Um exemplo é o estudo da oferta e da demanda em microecono- mia. Isolando uma variável – a renda, por exemplo – e admitindo que todas as outras permaneçam fixas, pode-se estudar e anali- sar qual é o efeito que a variação da renda exerce no comportamento da oferta e da demanda de um produto. Curiosidade Introdução à análise de investimentos 31 A aplicação dessa técnica poderia ser exemplificada na pandemia da Covid-19, na qual se apresentam cenários de maior liberdade co- mercial e outros que pressupõem cenários mais restritivos. Em cada fase é possível estudar e se antecipar a comportamentos diferentes nas atividades e possíveis efeitos no Fluxo de Caixa para tomar medi- das específicas em cada situação possível. Na hipótese de ocorrer uma oscilação nas variáveis estudadas, a empresa poderia ter condições de decidir e dar uma resposta instantâ- nea mais ágil e assertiva, pois teria desenvolvido estudos antecipados para a ocorrências das possíveis situações (cenários possíveis). 1.4.2 Simulação de Monte Carlo Samanez (2007) aborda o método conhecido como Simulação de Monte Carlo (SMC), cujo objetivo não é encontrar uma única solução, mas uma distribuição de valores que descreva o comportamento de um evento estudado. Portanto, esse método é utilizado quando não se dispõe de uma fórmula matemática que demonstre a elucidação de um problema de modo satisfatório, por isso procura uma aproximação da solução que seja suficiente para explicar de maneira convincente o fenômeno estudado. Samanez (2007) descreve que o método se baseia em aplicações de ensaios estatísticos, e nele se analisam fatores não conhecidos ou variáveis aleatórias e sua distribuição de probabilidades de acordo com sua correspondente detecção do evento observado. Saraiva Júnior, Tabosa e Costa (2011) especificam o método com o uso de variáveis aleatórias e probabilidades para descrever e resolver problemas; os autores ainda apontam a origem desse método no Proje- to Manhattan – no qual foram desenvolvidas armas nucleares durante a Segunda Guerra Mundial –, por John Von Neumanne Stanislaw Ulam, com uma metodologia que utiliza a geração de números aleatórios. Samanez (2007) e Saraiva Júnior, Tabosa e Costa (2011) apontam que essa técnica é utilizada em diversos ramos da ciência, envolvendo toma- da de decisões nas quais se apresentem situações de incerteza e risco. A Figura 5 mostra um exemplo de operacionalização do método de Simulação de Monte Carlo (SMC), no qual se descreve o sequenciamen- to das etapas até a simulação dos experimentos. O artigo A simulação de Monte Carlo como instrumento para a análise econômico-financeira em investimentos de risco – O caso de uma decisão de investimento na abertura de uma filial para revenda de equipamentos pesados no Estado do Ceará, escrito por Erivelton Meneses Rodrigues, Rosângela Venâncio Nunes e Nayana de Almeida Adriano, pu- blicado no XV Congresso Brasileiro de Custos , em 2010, exemplifica como é possível utilizar uma SMC em diversas áreas do co- nhecimento. O uso desta ferramenta é indicado no processo de tomada de decisões, por diminuir a incerteza na avaliação e no controle de um proje- to, por meio da criação de cenários que permitem aos responsáveis pela to- mada de decisões façam inferências (previsões baseadas em análises estatísticas) a respeito de possíveis resultados de eventos futuros. Desta forma, o artigo em questão descreve como a SMC se constitui numa referência para apoiar a aceitação de se aplicar re- cursos num investimento, por meio da utilização de um sistema simulador de possíveis resultados, que permitem determinar a probabilidade de sucesso ou fracasso de um projeto de investimento. Disponível em: https://anaiscbc. emnuvens.com.br/anais/article/ viewFile/899/899. Acesso em: 12 abr. 2021. Artigo https://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/viewFile/899/899 https://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/viewFile/899/899 https://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/viewFile/899/899 32 Análise e decisão de investimentos Passo 1: Seleção das variáveis incluídas no sistema analisado, fundamentado na subjetividade dos gestores ou no comportamento passado das variáveis que compõem o sistema. Passo 3: Definição dos intervalos de classe para cada uma das variáveis selecionadas no sistema analisado, fundamentadas nas distribuições de fre- quências acumuladas projetadas. Passo 2: Estruturação das distribuições de frequência absoluta, relativa e acumulada estimadas para cada variável selecionada. Passo 4: Geração de números aleatórios e de acordo com a ocorrência do evento observado; utilizar na definição da distribuição de probabilidades correspondente. Figura 5 Passos a serem seguidos no método da SMC Passo 5: Inclusão das ocorrências dos números aleatórios nos intervalos de classe de cada variável para efetuar o cálculo de probabilidade de ocorrência do resultado de uma simulação. Passo 6: Simulação dos experimentos e definição da probabilidade, de acordo com a distribuição de resultados obtidos. Fonte: Elaborada pelo autor com base em Samanez, 2007; Saraiva Júnior; Tabosa; Costa, 2011. Uma dificuldade na aplicação do modelo, descrita por Pereira (2010), refere-se ao custo e à complexidade para construir um modelo, que em geral é elaborado por um especialista ou por consultores, o que cria uma situação na qual quem constrói o modelo o compreende, mas quem decide não entende sua essência e, por esse motivo, mui- tas vezes não confia na utilização da SMC como base para a tomada de decisão em um projeto de investimentos. Introdução à análise de investimentos 33 1.4.3 Árvores de decisão Assaf Neto e Lima (2019) explicam que uma árvore de decisão é um diagrama gráfico que representa as possíveis opções de decisões em ordem cronológica e sequencial, algo que proporciona uma melhor vi- sualização das alternativas de escolha possíveis, com destaque para os resultados associados aos riscos identificados em cada escolha possível. Samanez (2007) define as árvores de decisão como uma ferra- menta que considera as possíveis decisões contínuas em um in- tervalo de tempo e suas inter-relações, em termos de decisões no presente, possíveis eventos e suas consequências. Assaf Neto e Lima (2019) esclarecem que uma árvore de decisão é constituída por nós, que descrevem os possíveis cenários que po- dem ocorrer e cuja representação gráfica é um círculo. Além dessa simbologia gráfica, os autores explicam que essa técnica utiliza um quadrado para simbolizar as possíveis decisões que podem ser es- colhidas. Adicionalmente, um caminho ou sequenciamento de uma alternativa selecionada é representado por retas, denominadas ra- mos a serem seguidos. Um exemplo da aplicação da técnica de árvore de decisão, com base em Assaf Neto e Lima (2019), é apresentado de modo resumido a seguir. Considere um investimento inicial de R$ 100.000,00 que possibilita os seguintes Fluxos de Caixa nos próximos dois anos, conforme a Tabela 3. Tabela 3 Informações dos possíveis valores de Fluxos de Caixa gerados e suas respectivas probabilidades de ocorrência nos próximos 2 anos, a partir de um investimento inicial no valor de R$ 100.000,00. Ano 1 Ano 2 Fluxos de Caixa (R$) Probabilidade (E1) Fluxos de Caixa (R$) Probabilidade (E2/E1) 9 60.000,00 70% 70.000,00 80.000,00 60% 40% 70.000,00 30% 75.000,00 85.000,00 50% 50% Fonte: Elaborada pelo autor com base em Assaf Neto; Lima, 2019, p. 466. Com base nessas informações, é possível identificar os quatro resul- tados possíveis de Fluxo de Caixa que serão gerados nesse investimen- to e a respectiva probabilidade combinada nos dois anos seguintes ao início do investimento, como se observa na Tabela 4. A Probabilidade (E2/E1) é a chamada probabilidade condicional do evento E2, que representa a probabilidade de ocorrer o evento E2, dado que o evento E1 ocorreu. Utiliza-se a probabilidade condicionada no diagrama de árvores de decisão, pois o modelo pressu- põe analisar eventos sequenciais. 9 34 Análise e decisão de investimentos Tabela 4 Cálculo da probabilidade combinada dos dois anos obtido pela multiplicação das probabilidades das ocorrências sequenciais do Fluxo de Caixa em cada ano do investimento. Combinações Fluxos de Caixa Probabilidade CombinadaAno 1 Ano 2 R$ Probabilidade R$ Probabilidade 1 60.000,00 70% 70.000,00 60% 0,70 · 0,60 = 0,42 2 60.000,00 70% 80.000,00 40% 0,70 · 0,40 = 0,28 3 70.000,00 30% 75.000,00 50% 0,30 · 0,50 = 0,15 4 70.000,00 30% 85.000,00 50% 0,30 · 0,50 = 0,15 Fonte: Elaborada pelo autor com base em Assaf Neto; Lima, 2019. Se considerarmos uma taxa de desconto de 10% a.a. para analisar a proposta do investimento em questão, podemos calcular o Valor Pre- sente Líquido dos quatro resultados possíveis do investimento, confor- me a Tabela 5, que mostra o valor do VPL em cada fluxo estimado de retorno do investimento. Tabela 5 Valor do VPL em Fluxo de Retorno Combina- ções Fluxo Descontado (R$) Valor Presente Líquido VPL (R$) 1 60.000,00 ÷ 1,10 + 70.000,00 ÷ 1,102 = 112.396,69 12.396,69 2 60.000,00 ÷ 1,10 + 80.000,00 ÷ 1,102 = 120.661,16 20.661,16 3 70.000,00 ÷ 1,10 + 75.000,00 ÷ 1,102 = 125.619,83 25.619,83 4 70.000,00 ÷ 1,10 + 85.000,00 ÷ 1,102 = 133.884,30 33.884,30 Fonte: Elaborada pelo autor com base em Assaf Neto; Lima, 2019. Na Tabela 6 é calculado o valor esperado dos quatro resultados pos- síveis do investimento para calcular seu valor esperado, conforme as possibilidades combinadas. Nela vemos o valor do VPL esperado do retorno do investimento. Tabela 6 Valor do VPN no retorno do investimento Combinações Fluxos de Caixa Probab. combinada VPL (R$) Valor esperado Valores Ano I (R$) Valores Ano II (R$) 1 60.000,00 70.000,00 42% 12.396,69 0,42 · 12.396,69 = 5.206,61 2 60.000,00 80.000,00 28% 20.661,16 0,28 · 20.661,16 = 5.785,12 3 70.000,00 75.000,00 15% 25.619,83 0,15 · 25.619,83 = 3.842,98 4 70.000,00 85.000,00 15% 33.884,30 0,15 · 33.884,30 = 5.082,26 Soma 19.917,36 Fonte: Elaborada pelo autor com baseem Assaf Neto; Lima, 2019. Introdução à análise de investimentos 35 Com base nessas informações, constrói-se a árvore de decisão des- se exemplo, como mostra na figura a seguir. CFO0 = R$100.000,00 CFO1= R$ 70.000,00 CFO2= R$ 85.000,00 CFO2 = R$ 75.000,00 CFO2= R$ 80.000,00 CFO2= R$ 70.000,00 R$ 19.917,36 R$ 20.661,16 R$ 12.396,69 R$ 33.884,30 R$ 25.619,83 CFO1= R$ 60.000,00 Probabilidade = 70% Probabilidade = 30% Probabilidade = 50% Probabilidade = 50% Probabilidade = 40% Probabilidade = 60% Probabilidade = 28% Probabilidade = 42% Probabilidade = 15% Probabilidade = 15% 0 1 1 2 2 2 2 Figura 6 Árvore de decisão do exemplo Fonte: Elaborada pelo autor com base em Assaf Neto; Lima, 2019. Uma árvore de decisão é uma ferramenta de suporte ao processo decisório que utiliza um diagrama gráfico com o mapeamento das pos- síveis opções de decisões, de maneira a proporcionar para o responsá- vel pela tomada de decisões uma visualização dos possíveis resultados do projeto de investimentos e suas consequências. Desta forma, por meio do uso desta ferramenta de análise, é possível se mapear todos os resultados possíveis do investimento e assim, se determinar uma estimativa do resultado mais provável, com a aplicação de um método, baseado numa média ponderada de cada resultado possível e suas res- pectivas probabilidades de ocorrências. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo foram apresentados os principais conceitos e ferra- mentas básicas e introdutórias utilizadas na análise e avaliação de inves- timentos para embasar tecnicamente o processo de tomada de decisões da aprovação e seleção de projetos. O assunto não se esgota neste conteúdo; neste capítulo abordamos os mais essenciais. Além disso, é importante mencionar a existência de outras 36 Análise e decisão de investimentos ferramentas e técnicas mais específicas, não abordadas aqui, mas que são adotadas no mercado conforme peculiaridades de determinadas empresas e em situações de mercado particulares. ATIVIDADES 1. Quais são os critérios para calcular juros no mercado? Descreva as principais características desses critérios. 2. O que representa o resultado obtido na aplicação do método de avaliação de investimentos do Valor Presente Líquido (VPL)? 3. O que é árvore de decisão? REFERÊNCIAS ANDRICH, E. G.; CRUZ, J. A. W.. Gestão financeira moderna: uma abordagem prática. Curitiba: Intersaberes, 2013. ASSAF NETO, A. Matemática financeira. Edição universitária. São Paulo: Atlas, 2017. ASSAF NETO, A. Mercados financeiros. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2018. ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Administração financeira. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2019. BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Matemática financeira com HP 12c e Excel. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. GITMAN, J. L.; JOENK, M. D. Princípios de investimento. 8. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. GITMAN, J. L.; MADURA, J. Administração financeira. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2003. GREMAUD, A. et al. Introdução à economia. São Paulo: Saraiva, 2012. PEREIRA, J. dos S. Contribuição da análise de sensibilidade e da simulação de Monte Carlo na análise financeira de projetos. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2010. Disponível em: https://www.ufjf.br/ep/files/2014/07/2011_1_Janusa.pdf. Acesso em: 8 abr. 2021. SAMANEZ, C. P. Gestão de investimentos e geração de valor. São Paulo: Pearson Prntice Hall, 2007. SARAIVA JÚNIOR, A. F.; TABOSA, C. de M.; COSTA, R. P. da. Simulação de Monte Carlo aplicada à análise econômica de pedido. Produção, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 149-164, jan./ mar. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/prod/v21n1/aop_t6_0003_0208.pdf. Acesso em: 8 abr. 2021. SILVA, E. C. da. Como administrar o Fluxo de Caixa das empresas. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2018. Vídeo https://www.ufjf.br/ep/files/2014/07/2011_1_Janusa.pdf http://www.scielo.br/pdf/prod/v21n1/aop_t6_0003_0208.pdf Características de investimentos 37 2 Características de investimentos Investimentos é um termo comum no nosso dia a dia. Por ser muito utilizado, passa a ideia de ser um termo simples e de que todos sabemos o seu significado e qual a sua utilidade. Apesar de sua citação frequente em nosso cotidiano, nem todos sabem o correto significado dessa palavra para a economia. Neste capítulo, discutiremos as definições e os conceitos básicos para compreender o significado correto de investimentos, qual o critério para definir seus tipos e suas modalidades, como é a estrutura em que se de- senvolve o processo de investimentos e quais são os principais fatores que definem as influências na decisão de investir. Finalmente, mostraremos um sequenciamento de uma proposta de planejamento de investimentos. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer os tipos e modalidades de investimentos; • compreender como se estrutura o processo de investimen- tos em mercados; • aprender sobre as etapas de um planejamento de investimentos. Objetivos de aprendizagem 2.1 Tipos e modalidades de investimento Vídeo Caro estudante, é comum nos depararmos com abordagens refe- rentes a investimentos, planejamento para o futuro e garantias de tran- quilidade. Assim, muitas vezes nos interessamos e acabamos sendo enganados pela falta de conhecimentos básicos. Nesse sentido, vamos iniciar o estudo deste capítulo convidando você à seguinte reflexão bá- sica: o que é um investimento? 38 Análise e decisão de investimentos Podemos responder a esse questionamento de diversas manei- ras, mas é importante fundamentar nossa resposta. Veremos a seguir como alguns autores definem o investimento. Martins (2018) define investimento, para a ciência da contabilidade, como sendo um sacrifício originado na obtenção de um bem registrado no ativo de uma organização para amortização ao longo de sua vida útil ou, num sentido genérico, como um gasto no presente associado à possibilidade de usufruir de um benefício futuro. Para Gitman e Joenk (2005), um investimento é todo mecanismo no qual recursos disponíveis podem ser aplicados com a probabilidade de gerar retornos positivos e em que seu valor original será protegido, acrescido de pagamento de juros periódicos (como numa operação de investimento em poupança) ou apresentar uma expectativa de aumen- to do valor (como ocorre numa valorização em uma compra de ações, em que se espera que o valor do preço da ação suba de cotação no mercado em determinado período). Já Assaf Neto e Lima (2019) exemplificam um investimento no mercado financeiro, na situação em que uma entidade (pessoa física ou jurídica) possui sobras de recursos e decide aplicar esses valores numa operação financeira representada por um título emitido por um banco, como um Certificado de Depósito Bancário (CDB). Nesse caso, os autores explicam que o investidor está emprestando seu dinheiro à instituição financeira por um determinado período, tendo como be- nefícios o pagamento de juros e a devolução do capital investido ao término da operação. Por fim, Bruni e Famá (2017) definem que um investimento se ca- racteriza por representar um sacrifício no presente para se obter be- nefícios futuros, cuja análise se baseia na projeção de Fluxos de Caixa futuros estimados de títulos adquiridos no mercado financeiro (investi- mento financeiro) ou na aquisição de bens (projetos de investimentos ou investimentos de capital). Podemos perceber que todos os autores se referem a investimento como um mecanismo financeiro baseado numa aplicação de recursos (sacrifício financeiro) que tem o objetivo de obter um benefício futuro, como aumentar o capital aplicado inicialmente após decorrido um de- terminado período. Características de investimentos 39 Esse conhecimento é importante, pois muitas das questões presen- tes no cotidiano de nossas vidas e das empresas se referem a conhe- cermos os tipos e as modalidades de investimentos para