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SP1 1. Conhecer o conceito e os tipos de abdome agudo; Abdome agudo é uma síndrome clínica caracterizada por dor na região abdominal, não traumática, súbita e de intensidade variável associada ou não a outros sintomas e que necessita de diagnóstico e conduta terapêutica imediata, cirúrgica ou não. O diagnóstico varia conforme sexo e idade. Por isso os casos de abdome agudo são reunidos em cinco grupos: Inflamatório/infeccioso; Perfurativo; Obstrutivo; Vascular isquêmico; Hemorrágico. 1. Conhecer o conceito e os tipos de abdome agudo; O abdome agudo é uma síndrome clínica caracterizada por dor abdominal de início súbito e intenso, frequentemente associada a sinais de lesões peritoneal. Geralmente, indica uma condição ambiental grave que pode necessitar de avaliação rápida e tratamento cirúrgico ou clínico urgente. Tipos de Abdome Agudo Os tipos de abdome agudo são classificados conforme a fisiopatologia subjacente, que orienta a avaliação e o manejo clínico: Abdome Agudo Inflamatório : Resultado de processos inflamatórios em órgãos abdominais, como apendicite, colecistite, pancreatite e diverticulite. Esses processos podem evoluir para que a peritonite possa causar progressão ou propagação da infecção. Abdome Agudo Obstrutivo : Resultado de obstrução no intestino, frequentemente por tumores, hérnias ou volvos. Os sinais comuns incluem dor abdominal intensa, distensão e ausência de eliminação de fezes e gases. A conduta envolve jejum, colocação de sonda nasogástrica e cirurgia quando necessário.] Abdome Agudo Perfurativo : Decorre de perfurações em órgãos, como úlcera péptica, causando dor súbita e difusa e sinais de peritonite. Abdome Agudo Hemorrágico : Causado por sangramentos intra-abdominais, geralmente devido a ruptura de aneurismas ou traumas. Apresenta-se com dor súbita, palidez e sinais de choque, sendo necessária intervenção cirúrgica imediata. Abdome Agudo Vascular : Ocorre em casos de isquemia ou trombose mesentérica, caracterizando-se por dor desproporcional aos achados físicos. Exames como angiotomografia auxiliam no diagnóstico, a cirurgia é indicada para restaurar o fluxo sanguíneo. Abdome Agudo Inflamatório :Causada por processos inflamatórios nos órgãos abdominais, como em casos de apendicite, colecistite, pancreatite e diverticulite. A inovação pode progredir para peritonite se houver influência do órgão inflamado. Essas classificações ajudam a direcionar o diagnóstico e o tratamento, permitindo decisões rápidas para melhorar o prognóstico dos pacientes. 1. Compreender elementos propedêuticos e epidemiológicos que permitam se diferenciar os tipos de abdome agudo; Diferenciar os tipos de abdome agudo é essencial para um diagnóstico preciso e tratamento adequado. Os tipos principais são classificados como inflamatório, obstrutivo, vascular e perfurativo, e cada um possui características clínicas e epidemiológicas distintas. 1. Abdome Agudo Inflamatório Exemplos: Apendicite, colecistite, pancreatite, diverticulite. Propedêutica: Dor: Geralmente tem início gradual, localizada, com uma evolução lenta e progressiva, aumentando em intensidade com o tempo. Localização: Pode indicar o órgão afetado. Por exemplo, dor na fossa ilíaca direita é um sinal comum de apendicite. Sinais associados: Febre, náuseas e vômitos são sintomas frequentes, e o exame físico pode revelar leucocitose. A dor tende a piorar com o movimento, sugerindo possível peritonite localizada. Epidemiologia: Fatores de risco: Varia de acordo com a condição. Por exemplo, a colecistite é comum em pacientes com histórico de cálculos biliares, enquanto a apendicite é mais frequente em jovens. Incidência: A apendicite afeta principalmente jovens, enquanto a colecistite é mais prevalente em adultos mais velhos, especialmente mulheres. 2. Abdome Agudo Obstrutivo Exemplos: Obstrução intestinal por aderências, hérnia encarcerada, volvo, intussuscepção. Propedêutica: Dor: Caracteristicamente em cólica, com episódios de dor intensa alternando com períodos de alívio parcial. Sinais associados: Distensão abdominal, ausência de eliminação de gases e fezes, sugerindo íleo paralítico, e vômitos quando a obstrução progride. Ruídos intestinais: No início, são hiperativos, com som de borborigmos, mas tendem a desaparecer conforme a obstrução avança. Epidemiologia: Fatores de risco: Pacientes com cirurgias abdominais anteriores, que podem desenvolver aderências. Volvos são mais comuns em idosos e intussuscepção em crianças. Incidência: Esse tipo de abdome agudo é mais frequente em idosos e pessoas com histórico de cirurgias abdominais. 3. Abdome Agudo Vascular Exemplos: Isquemia mesentérica, trombose de artéria ou veia mesentérica, aneurisma de aorta abdominal roto. Propedêutica: Dor: É intensa e desproporcional aos achados no exame físico, com início súbito. Sinais associados: Pode haver sinais de choque, como hipotensão e taquicardia. A ausência de ruídos intestinais e a presença de acidose metabólica podem indicar isquemia. Epidemiologia: Fatores de risco: Pacientes com doenças cardiovasculares, fibrilação atrial ou idade avançada. Incidência: Esse tipo é mais comum em idosos e em pessoas com condições predisponentes, como aterosclerose e hipertensão. 4. Abdome Agudo Perfurativo Exemplos: Úlcera péptica perfurada, diverticulite perfurada, perfuração de vísceras ocas. Propedêutica: Dor: Início súbito e de forte intensidade, geralmente difusa, acompanhada de sinais de peritonite (dor intensa à palpação e defesa involuntária). Sinais associados: Abdome em tábua, sinais de sepse (febre, taquicardia) e leucocitose. Sinal de irritação peritoneal: Sensibilidade exagerada ao toque leve, e em alguns casos ocorre rigidez abdominal. Epidemiologia: Fatores de risco: Histórico de úlcera péptica, uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). Incidência: Esse tipo é comum em adultos e idosos com histórico de doenças gástricas ou uso crônico de AINEs. Esses elementos propedêuticos e epidemiológicos auxiliam o profissional de saúde a direcionar a investigação diagnóstica e, junto a exames de imagem e laboratoriais, permitem confirmar o diagnóstico específico, viabilizando o tratamento mais adequado para cada caso 3. Identificar as principais causas de abdome agudo perfurativo, e compreender a fisiopatologia das doenças correlatas; Abdome agudo perfurativo é uma síndrome que ocorre em virtude de perfurações de vísceras ocas do trato gastrointestinal, como estômago e intestino. Comumente ela é identificada como um quadro álgico, de início súbito, localização difusa e que pode ou não estar associado a sinais de septicemia e/ou choque. Dessa forma, pode ocorrer desde o esôfago até o reto. Suas causas podem ser iatrogênicas, decorrente de exames, por corpo estranho, obstrução intestinal, ou, a mais comum, por úlcera péptica perfurada. Abdome agudo perfurativo é um dos cinco tipos de abdome agudo e representa uma perfuração de víscera oca no trato gastrointestinal. Lembre-se que trauma não é abdome agudo. As perfurações por ferimento de arma branca ou arma de fogo são classificadas como trauma abdominal penetrante e não como abdome agudo perfurativo. Causas do abdome agudo perfurativo Úlcera péptica Úlceras pépticas perfuradas; Rotura apendicular e diverticular; Síndrome de Crohn; Apendicites; Ingestão de corpos estranhos; Neoplasias com alto grau de invasão; Salmonelose Citomegalovírus Dessa forma, pode ocorrer desde o esôfago até o reto. Suas causas podem ser iatrogênicas, decorrente de exames, por corpo estranho, obstrução intestinal, ou, a mais comum, por úlcera péptica perfurada. Abdome agudo perfurativo consiste em uma perfuração da espessura total da parede de uma víscera oca do trato gastrointestinal, que consequentemente leva a um extravasamento do seu conteúdo para a cavidade peritoneal ou retroperitoneal. Dessa forma, pode ocorrer desde o esôfago até o reto. Suas causas podem ser iatrogênicas, decorrente de exames, por corpo estranho, obstrução intestinal, ou, a mais comum, por úlcera péptica perfurada. Úlcera péptica perfuradaÉ a causa mais comum de abdome agudo perfurado, sendo mais frequente em homens. Geralmente, as úlceras que perfuram acometem a parede anterior do bulbo renal, seguidas das úlceras pré-pilóricas. Seus principais fatores de risco incluem infecção de H. pylori, uso de anti-inflamatórios não esteróides ou do ácido acetil salicílico, tabagismo e ingestão de etanol. O quadro clínico inclui dor abdominal súbita e intensa no epigastrio, geralmente irradiando para o abdome inteiro. Além de poder apresentar náuseas, vômitos, taquicardia, taquipneia e hipotensão arterial. Ao exame físico, é possível perceber um abdome tenso, com contração muscular involuntária, descompressão brusca localizada ou difusa, ruídos hidroaéreos diminuídos é possível Sinal de Jobert. Sinal de Jobert: timpanismo ao invés de macicez na loja hepática, indicando possível pneumoperitônio Nos exames complementares, pode apresentar leucocitose e aumento da amilase nos laboratoriais Já os de imagem, devem ser pedidas radiografias de tórax póstero-anterior em pé e de abdome ântero-posterior em pé e deitado, no qual é possível observar o sinal de Rigler em casos de pneumoperitônio. Porém, mesmo na ausência de pneumoperitônio, não exclui a possibilidade de o diagnóstico ser de abdome agudo perfurativo. Nesses casos, a tomografia computadorizada é o melhor exame para seu diagnóstico, pois é possível observar menores quantidades de ar e, além do pneumoperitônio, ajuda a indicar retropneumoperitônio. Também podem ser pedidos exames como ultrassonografia, endoscopia digestiva alta ou radiografia contrastada Seu tratamento é essencialmente cirúrgico e de emergência, pois é comum que os pacientes estejam com instabilidade hemodinâmica e choque séptico. Assim, deve ser realizada reanimação volêmica, com uso de cristaloides, correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia, antibióticos de largo espectro, e, se necessário, drogas vasoativas. O acesso cirúrgico é feito por laparotomia ou laparoscopia, se o paciente estiver estável. Veja a conduta cirúrgica de acordo com cada caso: Paciente instável, com perfuração a mais de 24 horas, peritonite difusa e alto risco cirúrgico: ulcerorrafia e epiploplastia, com patch de omento ou de Graham, com lavagem da cavidade; ressecção ou ao menos biópsia das bordas da úlcera; tratamento para H. pylori, se positivo. Paciente estável, com perfuração a menos de 24 horas, sem peritonite difusa e baixo risco cirúrgico – úlceras duodenais: fechamento com patch de omento e irrigação da cavidade com soro fisiológico; vagotomia, se necessária. A vagotomia é recomendada para pacientes que não aderiram ao tratamento médico ou apresentam histórico documentado de úlcera duodenal crônica significativa. Além da rafia ou ressecção da úlcera, pode ser realizada associada ou não à antrectomia para reduzir a secreção gástrica. Existem três opções cirúrgicas para a vagotomia. São elas: troncular, seletiva ou superseletiva, sendo a mais utilizada a troncular, que secciona os nervos vago direito e esquerdo, acima dos ramos hepático e celíaco, com necessidade de drenagem gástrica (geralmente a técnica mais usada é a piloroplastia a Heineke-Mikulicz, que faz uma aumenta o diâmetro do piloro). Paciente estável, com perfuração a menos de 24 horas, sem peritonite difusa e baixo risco cirúrgico – úlceras gástricas: ressecção da úlcera pelo risco de neoplasia, podendo ser realizada de forma local, por gastrectomia distal ou total, dependendo do seu diâmetro e localização. Iatrogenia: são as causadas por instrumentação ou cirurgia, como nos casos de endoscopia digestiva alta, sigmoidoscopia, colonoscopia, colocação de stent, entre outros. Pós-CPRE: a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica pode levar a algumas complicações, dentre elas a perfuração duodenal, elas podem ser tratadas clinicamente ou cirurgicamente, dependendo do caso. Corpo estranho: objetos pontiagudos, alimentos com superfícies pontiagudas podem causar as perfurações. Atente-se aos pacientes psiquiátricos! Obstrução: ocorrem principalmente em alça fechada; pode levar à isquemia, necrose e consequentemente à perfuração. Abdome agudo inflamatório: processos inflamatórios como apendicite ou diverticulite aguda, podem levar a perfuração ou formação de abcessos bloqueados os peritonite difusa. Abdome agudo vascular: isquemia intestinal pode levar a perfuração se não for tratado. Doença infecciosa: pode causar perfuração do intestino delgado (exemplos: febre tifoide, tuberculose, esquistossomose e citomegalovírus). independentemente da etiologia do pneumoperitônio, é recomendado tratamento cirúrgico, para evitar maiores riscos ao paciente, visto que os riscos de uma laparotomia exploradora são menores que os deixados por um possível pneumoperitônio não tratado. 4. Caracterizar as doenças disabsortivas, em especial as doenças inflamatórias intestinais e a doença celíaca; A doença celíaca é uma doença hereditária causada pela sensibilidade a uma fração de gliadina do glúten, uma proteína encontrada no trigo; proteínas similares estão presentes na cevada e no centeio. Em um indivíduo geneticamente predisposto, células T sensíveis ao glúten são ativadas quando peptídeos e epitopos derivados do glúten são apresentados. A resposta inflamatória provoca a característica atrofia dos vilos da mucosa do intestino delgado. O intestino delgado é a principal porção absortiva do trato gastrointestinal, embora a água e eletrólitos sejam absorvidos também no intestino delgado. Logo, quando pensamos em distúrbio disabsortivo, via de regra está relacionada a uma doença que afeta o intestino delgado. Além disso, a absorção de oligoelementos no intestino delgado varia de acordo com a porção intestinal, sendo o mais importante a vitamina B12 e os sais biliares, absorvidos no íleo. Por definição, distúrbios absortivos consistem na dificuldade de absorção de um ou mais nutrientes/substâncias, que podem ocorrer por problemas na digestão, defeito na superfície absortiva do trato gastrointestinal, anormalidades no transporte para circulação sanguínea/linfática ou uma combinação desses fatores. O intestino delgado é a principal porção absortiva do trato gastrointestinal, embora a água e eletrólitos sejam absorvidos também no intestino delgado. Logo, quando pensamos em distúrbio disabsortivo, via de regra está relacionada a uma doença que afeta o intestino delgado. Além disso, a absorção de oligoelementos no intestino delgado varia de acordo com a porção intestinal, sendo o mais importante a vitamina B12 e os sais biliares, absorvidos no íleo. Doença celíaca É uma afecção sistêmica autoimune provocada e perpetuada pelo consumo de glúten em indivíduos geneticamente predispostos. É causada por fatores genéticos, imunológicos e ambientais, principalmente pelo consumo de glúten. Ocorre por uma interação entre os 3 fatores citados que promovem alteração no epitélio intestinal, principalmente na porção proximal do intestino delgado, em que o paciente apresenta uma inflamação crônica da mucosa intestinal, que pode causa atrofia das vilosidades intestinais e déficit absortivo. Clinicamente, a maioria dos pacientes apresenta a chamada “DCe atípica” (todos os sintomas citados na introdução), assintomáticos ou oligossintomáticos. É frequente que os sintomas surjam ou se agravem com o consumo de alimentos ricos em glúten e desapareçam com dieta sem glúten (utilizada para o tratamento). Além disso, podem apresentar manifestações clínicas extra intestinais, como hipovitaminoses, raquitismo, fraturas, osteomalacia, baixa estatura, atraso puberal, menarca tardia, entre outras. Geralmente, a doença celíaca está associada à dermatite herpetiforme, diabetes mellitus tipo 1, síndrome de Down, doença hepática, deficiência de IgA, síndrome de Turner, esofagite eosinofílica, doenças da tireoide, entre outras. Seu diagnóstico é realizado pela clínica e pela identificação de 3 anticorpos principais: antitransglutaminase tecidual, antigliadina e antiendomísio. Se identificado positividade para antitransglutaminase tecidual IgA, deve ser realizada biópsia de intestino delgado (duodeno.) 5 Identificar as características histopatológicos e anatomopatológicas das doenças supracitadas; características histopatológicas e anatomopatológicas das doenças associadas aos principais tipos de abdome agudo (inflamatório, obstrutivo, vascular e perfurativo). Essas informações ajudam a identificar o processo patológico específico que ocorre em cada caso. 1. Abdome Agudo Inflamatório Apendicite: Histopatologia: Inflamação transmural (atingindo todas as camadas) da parede do apêndice, com infiltração de neutrófilos. Nos casos avançados, há necrose de mucosa e formação de abscessos intramurais. Anatomopatologia: O apêndice é aumentado, rígido e espesso, podendo conter exsudato purulento no lúmen. Em casos graves, o apêndice apresenta áreas de necrose ou perfuração. Colecistite: Histopatologia: Infiltração de neutrófilos na parede da vesícula biliar, especialmente nas camadas mucosa e muscular. Em casos crônicos, observa-se fibrose e infiltração de linfócitos e macrófagos. Anatomopatologia: Vesícula biliar edemaciada e espessa, podendo conter bile purulenta. Em casos de colecistite crônica, há fibrose e espessamento da parede com presença de cálculos biliares. Pancreatite: Histopatologia: Na pancreatite aguda, há necrose de ácinos, hemorragia intersticial e infiltrado inflamatório com neutrófilos. Na pancreatite crônica, observa-se fibrose, perda de parênquima e infiltrado inflamatório com linfócitos. Anatomopatologia: Na pancreatite aguda, o pâncreas pode apresentar áreas de necrose gordurosa e hemorragias. Na forma crônica, o pâncreas é endurecido e atrófico, com ductos dilatados e calcificações. Diverticulite: Histopatologia: Inflamação e infiltração de neutrófilos na parede dos divertículos. Em casos avançados, há ulceração da mucosa e presença de microperfurações. Anatomopatologia: Divertículos inflamados com edema e espessamento da parede intestinal. Pode haver abscessos peri diverticulares e, em casos graves, perfurações. 2. Abdome Agudo Obstrutivo Obstrução Intestinal (por aderências, hérnia encarcerada): Histopatologia: Alterações na mucosa do intestino que variam conforme a duração da obstrução, com edema e necrose nas fases mais avançadas. Anatomopatologia: Presença de distensão intestinal acima do ponto de obstrução e edema da parede intestinal. As aderências, quando presentes, aparecem como faixas fibrosas unindo alças intestinais. Volvo e Intussuscepção: Histopatologia: Necrose isquêmica em casos avançados, com infiltrado inflamatório intenso na parede intestinal. Anatomopatologia: Intestino torcido no volvo, e prolapso de uma parte do intestino em outra na intussuscepção, levando à obstrução e isquemia local. 3. Abdome Agudo Vascular Isquemia Mesentérica: Histopatologia: Necrose coagulativa das camadas da parede intestinal, com perda de mucosa, e presença de células inflamatórias neutrofílicas. Em casos de trombose, observa-se áreas extensas de necrose e hemorragia. Anatomopatologia: Intestino edemaciado, escurecido e espessado nas áreas isquêmicas. Em casos graves, observa-se necrose extensa e perfuração do intestino. Aneurisma de Aorta Abdominal Roto: Histopatologia: Destruição da túnica média da aorta, com degeneração de fibras elásticas e infiltração de linfócitos e macrófagos. Anatomopatologia: Aneurisma expandido e rompido, com presença de hematoma retroperitoneal. Observa-se dilatação da parede da aorta, frequentemente com calcificações. 4. Abdome Agudo Perfurativo Úlcera Péptica Perfurada: Histopatologia: Ulceração profunda com perda da mucosa e submucosa gástrica, atingindo até a camada muscular. Infiltração de neutrófilos e presença de fibrose ao redor. Anatomopatologia: Perfuração gástrica ou duodenal, com saída de conteúdo gástrico para a cavidade abdominal e sinais de peritonite. A área ulcerada mostra bordas endurecidas e fundo erodido. Perfuração de Víscera Oca (diverticulite perfurada): Histopatologia: Necrose e ulceração da parede do divertículo, com infiltrado neutrofílico e destruição das camadas da parede intestinal. Anatomopatologia: Presença de divertículos perfurados com extravasamento de conteúdo intestinal na cavidade peritoneal, com sinais de peritonite difusa. Essas características histopatológicas e anatomopatológicas permitem entender o processo de doença em cada condição de abdome agudo, fornecendo uma base para o diagnóstico patológico e ajudando a direcionar o manejo clínico. 6. Conhecer as diferentes classes de fármacos utilizadas nessas situações, bem como seu perfil farmacodinâmico e farmacocinético: Em cada tipo de abdome agudo, há classes específicas de fármacos utilizados para manejo, controle da dor, combate à inflação, e estabilização hemodinâmica. Classes com seu perfil farmacodinâmico e farmacocinético: 1. Abdome Agudo Inflamatório Exemplos: Cefalosporinas de terceira geração (como ceftriaxona), fluoroquinolonas (como ciprofloxacino), metronidazol. Farmacodinâmica: Atuam inibindo a síntese da parede celular bacteriana (ceftriaxone) ou DNA bacteriano (fluoroquinolonas e metronidazol). Farmacocinética: Boa absorção oral ou IV, metabolização hepática (especialmente metronidazol), excreção renal e hepática. Penetram bem em tecidos abdominais. Analgésicos Opióides: Exemplos:Morfina, fentanil. Farmacodinâmica: Agem como agonistas dos receptores opióides μ, reduzindo a transmissão da dor. Farmacocinética: Absorção rápida por via IV, metabolismo hepático intenso (CYP450) e excreção renal. Meia-vida varia (morfina: 2-4 horas, fentanil: curta, necessitando ajuste). Antiespasmódicos: Exemplos: Butilbrometo de escopolamina. Farmacodinâmica: Bloqueia receptores muscarínicos, reduzindo espasmos viscerais. Farmacocinética: Absorção rápida, metabolização hepática e excreção renal, com meia-vida curta. 2. Abdome Agudo Obstrutivo Reposição de Volume: Exemplos: Soluções cristalóides (soro fisiológico, Ringer lactato). Farmacodinâmica: Restabelecem volume intravascular para prevenir hipovolemia e choque. Farmacocinética: Absorção e distribuição rápida no compartimento extracelular. Excretadas pelos rins rapidamente. Analgésicos Opióides: Exemplos: Morfina. Farmacodinâmica e farmacocinética: Conforme acima. Monitoramento rigoroso é necessário para evitar sedação excessiva. Antieméticos: Exemplos: Metoclopramida, ondansetrona. Farmacodinâmica: Metoclopramida é um antagonista da dopamina (D2), enquanto ondansetrona é um antagonista de serotonina (5-HT3), ambos reduzindo náusea e vômito. Farmacocinética: Boa absorção oral e IV; metoclopramida tem metabolismo hepático e excreção renal; ondansetrona é metabolizada pelo fígado. 3. Abdome Agudo Vascular Anticoagulantes: Exemplos: Heparina, enoxaparina. Farmacodinâmica: Inibem a coagulação ao ativar antitrombina III (heparina) ou inibir o fator Xa (enoxaparina), prevenindo a formação de trombos. Farmacocinética: A heparina tem ação rápida por via IV, com metabolismo hepático e eliminação renal. A enoxaparina tem meia-vida mais longa e é administrada por via subcutânea. Vasodilatadores (em casos de isquemia para melhorar o fluxo mesentérico): Exemplos: Nitroglicerina. Farmacodinâmica: Libera óxido nítrico, promovendo vasodilatação arterial e venosa. Farmacocinética: Absorção rápida por via sublingual ou IV, metabolização hepática, meia-vida curta. Analgésicos Opióides: Exemplos: Morfina (cuidado em caso de hipotensão). Farmacodinâmica e farmacocinética: Conforme descrito anteriormente. 4. Abdome Agudo Perfurativo Antibióticos de Amplo Espectro: Exemplos: Piperacilina-tazobactam, carbapenêmicos (como meropenem). Farmacodinâmica: Inibem a síntese da parede bacteriana (piperacilina e meropenem) e inativam β-lactamases (tazobactam), cobrindo gram-negativos, anaeróbios e gram-positivos. Farmacocinética: Boa distribuição IV, metabolismo hepático parcial e excreção renal, com meia-vida entre 1-2 horas. Analgésicos Opióides: Exemplos: Morfina. Farmacodinâmica e farmacocinética: Idêntico aos descritosacima. Antieméticos e Reposição Volêmica: Conforme descrito no abdome obstrutivo. Inibidores da Secreção Ácida: Exemplos: Omeprazol, ranitidina. Farmacodinâmica: Omeprazol inibe irreversivelmente a bomba de prótons, enquanto a ranitidina bloqueia receptores H2, ambos reduzindo a secreção de ácido gástrico. Farmacocinética: Absorção oral rápida, metabolização hepática (omeprazol é metabolizado pelo CYP450), excreção renal e hepática, com meia-vida de cerca de 1-2 horas. Essas classes de fármacos, combinadas com outras intervenções (cirúrgicas, quando necessário), permitem o manejo adequado dos quadros de abdome agudo, melhorando o prognóstico e aliviando os sintomas do paciente. 7. Revisitar o conhecimento sobre os testes de detecção das doenças dispépticas. Os testes de detecção para doenças dispépticas, como gastrite, úlcera péptica e infecção por Helicobacter pylori (H. pylori), são fundamentais para o diagnóstico preciso e a escolha do tratamento. Aqui estão os principais exames para investigar essas condições: 1. Testes para H. pylori Teste Respiratório com Ureia Carbono-13 ou Carbono-14: Descrição: O paciente ingere uréia marcada com isótopos (C13 ou C14), e se a bactéria estiver presente, ela produz urease, que quebra a uréia, liberando dióxido de carbono marcado, que é detectado no ar expirado. Vantagens: Não invasivo e muito sensível e específico. Indicações: Diagnóstico inicial de infecção e controle pós-tratamento. Teste de Antígeno Fecal: Descrição: Detecta antígenos de H. pylori nas fezes do paciente. Vantagens: Não invasivo, com boa sensibilidade e especificidade. Indicações: Diagnóstico de infecção e controle após o tratamento. Teste Sorológico para Anticorpos contra H. pylori: Descrição: Detecta anticorpos IgG contra H. pylori no sangue. Vantagens: Fácil acesso e não invasivo. Limitações: Menos útil para controle pós-tratamento, pois anticorpos podem permanecer detectáveis mesmo após erradicação. Teste Rápido da Urease (TRU): Descrição: Realizado durante endoscopia, uma amostra de mucosa gástrica é colocada em meio com uréia; se H. pylori estiver presente, a urease transforma a ureia, alterando o pH e a cor do meio. Vantagens: Rápido, com alta especificidade. Limitações: Invasivo e menos sensível em pacientes com sangramento gastrointestinal. 2. Exames Endoscópicos Endoscopia Digestiva Alta: Descrição: Permite a visualização direta do esôfago, estômago e duodeno, com biópsia das áreas suspeitas para análise histológica. Indicações: Investigação de pacientes com sinais de alarme (perda de peso, anemia, sangramento gastrointestinal) e casos de dispneia refratária a tratamento empírico. Benefícios: Detecta erosões, úlceras e sinais de gastrite, além de permitir biópsias para teste da urease, cultura de H. pylori, e estudo histopatológico. 3. Exames Histológicos e de Cultura Histopatologia com Corante Especial: Descrição: Biópsias gástricas analisadas com coloração (como hematoxilina-eosina e Giemsa) permitem a visualização direta de H. pylori e avaliação da inflamação e metaplasia. Indicações: Diagnóstico diferencial de gastrite e confirmação de H. pylori. Vantagens: Alta sensibilidade e especificidade, principalmente em pacientes que não podem fazer teste da urease. Cultura de H. pylori: Descrição: Amostras de biópsia são cultivadas para isolamento da bactéria e determinação de sensibilidade a antibióticos. Indicações: Pacientes com falha de tratamento ou suspeita de resistência a antibióticos. Limitações: Técnica demorada e com custo elevado, requer laboratório especializado. 4. Outros Testes Laboratoriais Associados Hemograma Completo: Finalidade: Avaliar anemia por deficiência de ferro, que pode indicar sangramento gastrointestinal crônico, comum em doenças dispépticas ulcerativas. Testes de Função Hepática e Pancreática: Finalidade: Descarta outras causas de dor epigástrica e distúrbios dispépticos, diferenciando comorbilidades gastrointestinais. Esses testes são usados em conjunto para diferenciar as causas de doenças dispépticas, permitir a escolha de terapias adequadas e monitorar a resposta ao tratamento. A seleção dos exames depende dos sintomas, histórico clínico e fatores de risco de cada paciente. sp2 1. Conhecer a fisiopatologia da diarreia e suas classificações; A fisiopatologia da diarreia refere-se ao mecanismo pelo qual ocorre o aumento da frequência, volume e fluidez das fezes, geralmente devido a um distúrbio no trato gastrointestinal. Para entender os diferentes tipos de diarreia, é importante compreender os mecanismos de secreção, absorção e motilidade intestinal que podem ser alterados. Mecanismos Fisiopatológicos da Diarreia A diarreia pode ser classificada com base na alteração de diferentes mecanismos fisiológicos: Alteração na secreção intestinal: A secreção de água e eletrólitos no intestino pode ser aumentada, resultando em fezes líquidas. Isso ocorre quando há um aumento na secreção de fluido para a luz intestinal ou uma diminuição na absorção de água. Exemplo: Infecções bacterianas, como a cólera, onde a toxina Vibrio cholerae ativa uma proteína que aumenta a secreção de cloro, seguido por secreção de água e sódio. Alteração na absorção intestinal: A absorção de água e eletrólitos pode ser reduzida devido a danos na mucosa intestinal ou a perda da função de transporte de sódio e outros solutos. Exemplo: Doenças como a doença celíaca ou a enterite infecciosa podem danificar as vilosidades intestinais, resultando em absorção reduzida de líquidos. Alteração na motilidade intestinal: O aumento da motilidade pode reduzir o tempo de contato do conteúdo intestinal com a mucosa, resultando em menos absorção de líquidos. Exemplo: Síndrome do intestino irritável (SII), onde há hipermotilidade intestinal. Infecção por patógenos: A diarreia infecciosa pode ser causada por vírus, bactérias ou parasitas, que provocam inflamação na mucosa intestinal e afetam a absorção e secreção de água e eletrólitos. Exemplo: Rotavírus (vírus), Salmonella (bactéria) e Giardia (parasita). Disbiose intestinal: Alterações na microbiota intestinal, como no uso excessivo de antibióticos, podem levar a uma proliferação de organismos patogênicos que alteram os mecanismos de absorção e secreção, resultando em diarreia. Classificação da Diarreia A diarreia pode ser classificada de várias maneiras, sendo a mais comum a classificação em diarréia aguda e crônica, e também com base nos mecanismos fisiopatológicos e na duração da doença. 1. Classificação com base na duração Diarreia Aguda: Dura menos de 2 semanas. Geralmente associada a infecções agudas ou intoxicação alimentar. Causa comum: Infecções virais (ex: rotavírus, norovírus), bacterianas (ex: Salmonella, Escherichia coli), parasitárias. Fisiopatologia: Pode envolver secreção aumentada de fluido ou diminuição da absorção de nutrientes. Diarreia Crônica: Dura mais de 4 semanas e pode ser causada por condições subjacentes crônicas. Causa comum: Doenças inflamatórias intestinais, síndrome do intestino irritável, doenças endócrinas (ex: hipertiroidismo), malabsorção. Fisiopatologia: Pode envolver inflamação crônica, danos à mucosa intestinal ou alteração da motilidade. Classificação com base no mecanismo fisiopatológico Diarreia Secretora: Resulta de um aumento na secreção de água e eletrólitos no intestino. Exemplo: Cólera, que é causada por uma toxina que aumenta a secreção de cloro. Mecanismo: A toxina bacteriana ativa as células epiteliais, aumentando a secreção de eletrólitos e água. Diarreia Osmótica: Causada pela presença de substâncias não absorvidas no intestino que atraem água para a luz intestinal. Exemplo: Intoxicação alimentar com substâncias osmóticas (ex: sorbitol) ou condições como a síndrome do intestino curto. Mecanismo: A ingestão de substâncias não absorvíveis, como certos açúcares ou medicamentos, impede a absorção de água. Diarréia Exsudativa: Causada por inflamação na mucosa intestinal, que resulta em secreção de proteínas, células inflamatórias e muco para o intestino. Exemplo: Doençasinflamatórias intestinais (DII) como a Doença de Crohn e a colite ulcerativa. Mecanismo: A inflamação compromete a integridade da mucosa intestinal, resultando na perda de proteínas e células no intestino. 3. Classificação com base na etiologia Diarreia Infecciosa: Causada por agentes patogênicos como vírus, bactérias ou parasitas. Vírus: Rotavírus, norovírus (fisiopatologia geralmente envolve danos às células epiteliais e secreção excessiva). Bactérias: Salmonella, Shigella, Escherichia coli enterotoxigênica (fisiopatologia pode envolver secreção de toxinas ou invasão celular). Parasitas: Giardia, Entamoeba histolytica (fisiopatologia envolve tanto invasão das células intestinais quanto alteração da motilidade). Diarreia Não Infecciosa: Relacionada a causas como distúrbios funcionais ou doenças inflamatórias crônicas. Exemplo: Síndrome do intestino irritável (SII), doença celíaca, doença inflamatória intestinal. Fisiopatologia: Pode envolver alterações na motilidade intestinal, danos à mucosa intestinal, ou reações imunes. 4. Classificação com base na presença de sangue nas fezes Diarreia com Sangue (Disenteria): Pode ser causada por infecções bacterianas invasivas (ex: Shigella, Salmonella, Campylobacter). Fisiopatologia: A invasão bacteriana pode danificar a mucosa intestinal, resultando em sangramentos. Diarreia sem Sangue: Comum em infecções virais ou intoxicação alimentar não invasiva. A fisiopatologia da diarreia envolve alterações nos mecanismos de absorção e secreção de água e eletrólitos no intestino, sendo que as causas podem variar entre infecciosas, inflamatórias, funcionais e metabólicas. A classificação em aguda ou crônica, bem como em secreção, osmótica ou exsudativa, permite a orientação para um diagnóstico preciso e a escolha do tratamento adequado. 2.Compreender elementos propedêuticos e epidemiológicos que permitam se diferenciar os tipos de diarreia; A diferenciação dos tipos de diarreia envolve uma avaliação cuidadosa de vários elementos propedêuticos (métodos de investigação clínica) e epidemiológicos (dados relacionados a fatores de risco e prevalência). A compreensão desses elementos é fundamental para determinar a causa da diarreia e orientá-la para o diagnóstico e tratamento apropriados. 1. Elementos Propedêuticos A avaliação propedêutica inclui a história clínica, exame físico, exames laboratoriais e exames de imagem. A partir de uma anamnese detalhada e de achados no exame físico, podemos inferir o tipo de diarreia. História Clínica A história clínica é fundamental para identificar as causas mais comuns e permitir a diferenciação entre os tipos de diarreia: Início da diarreia: A diarreia aguda (menos de 2 semanas) é frequentemente associada a infecções infecciosas, enquanto a diarreia crônica (mais de 4 semanas) pode indicar doenças inflamatórias ou funcionais. Sintomas associados: Febre, dor abdominal, náuseas, vômitos e sangue nas fezes são indicadores importantes para identificar a etiologia. Febre: Comum em infecções bacterianas (ex: Salmonella, Shigella, Campylobacter), mas menos frequente em diarreias virais ou funcionais. Sangue nas fezes: Indica diarréia exsudativa (inflamatória), como na doença inflamatória intestinal (DII) ou em infecções bacterianas invasivas (Shigella, Campylobacter). Muco nas fezes: Indica processos inflamatórios, como na colite ulcerativa Durabilidade: Diarreia aguda: Geralmente associada a infecções virais (ex: rotavírus, norovírus), bacterianas (ex: Salmonella, Escherichia coli), ou intoxicações alimentares. Diarreia crônica: Pode sugerir doenças como síndrome do intestino irritável (SII), doenças inflamatórias intestinais (DII), ou disbiose intestinal. Exposição a alimentos ou ambientes: Históricos de viagens recentes, ingestão de alimentos contaminados ou contato com pessoas doentes podem sugerir infecções bacterianas ou virais. Viagem para áreas endêmicas: Pode indicar infecções por Shigella, Vibrio cholerae, ou parasitas como Giardia. Ingestão de alimentos contaminados: Pode ser indicativo de intoxicação alimentar por toxinas bacterianas. Uso de medicamentos: O uso de antibióticos pode indicar diarreia associada a Clostridium difficile (diarreia associada ao uso de antibióticos), enquanto laxantes podem causar diarreia osmótica. Exame Físico O exame físico deve ser realizado para avaliar a desidratação, sinais de inflamação abdominal, presença de dor e alterações no abdômen. Sinais de desidratação: Boca seca, diminuição da turgor da pele, hipotensão, taquicardia. Indica a gravidade da diarreia, especialmente se for de origem secretora. Exame abdominal: Pode identificar sinais de dor à palpação, distensão abdominal ou peritonite, sugerindo uma causa inflamatória ou infecciosa grave (ex: apendicite, colite). Exames Laboratoriais Os exames laboratoriais são úteis para identificar o agente causal, avaliar a presença de complicações e diferenciar os tipos de diarreia: Fezes líquidas: Comuns em diarreia secretora e osmótica. Fezes com muco ou sangue: Sugerem diarréia exsudativa (inflamatória). Exame parasitológico: Para identificar parasitas como Giardia, Entamoeba histórica ou vermes. Cultura de fezes: Para detectar bactérias patogênicas, como Salmonella, Shigella, e Campylobacter. Teste de Clostridium difficile: Se houver suspeita de diarreia associada ao uso de antibióticos. Pesquisa de toxinas virais: Como rotavírus, especialmente em crianças. Exames sanguíneos: Hemograma: Para avaliar sinais de inflamação ou infecção. Eletrólitos: A diarreia pode causar desequilíbrios, como hipocalemia e hiponatremia. Função renal: Para avaliar sinais de desidratação grave. Exames de Imagem Exames como ultrassonografia abdominal ou tomografia podem ser indicados em casos de diarreia crônica ou em presença de sinais de complicações, como dor abdominal intensa ou distensão abdominal, para avaliar possíveis condições estruturais, como diverticulite, doença inflamatória intestinal (DII), ou câncer. Elementos Epidemiológicos Fatores epidemiológicos podem fornecer informações importantes sobre a causa da diarreia, ajudando a diferenciá-la entre os tipos mais comuns: Fatores de Risco Infecção alimentar: A ingestão de alimentos ou água contaminada é um fator importante. Se o paciente tem histórico de viagens para regiões endêmicas, pode sugerir doenças infecciosas. Contato com pessoas doentes: Pode indicar infecção viral ou bacteriana, com ênfase para doenças de transmissão fecal-oral, como o rotavírus. Uso de antibióticos ou inibidores da acidez gástrica: Pode predispor a infecções por Clostridium difficile, bem como alterações na flora intestinal que levam à diarreia. Imunossupressão: Pacientes imunossuprimidos podem ser mais suscetíveis a infecções parasitárias e virais, como o rotavírus, ou até infecções bacterianas graves. Epidemiologia por Etiologia Vírus: Rotavírus: Comum em crianças, especialmente em ambientes fechados, como creches. Causa diarreia aguda e desidratação severa. Norovírus: Comum em surtos em ambientes de aglomeração (ex: navios de cruzeiro, escolas). Bactérias: Salmonella: Geralmente associada à ingestão de alimentos mal cozidos (especialmente aves). Shigella: Transmissão fecal-oral, mais comum em ambientes com saneamento inadequado, e frequentemente associada a surtos. Escherichia coli enterotoxigênica: Frequentemente associada a água ou alimentos contaminados, causando diarreia secretora. Clostridium difficile: Associada a uso recente de antibióticos, especialmente em ambientes hospitalares. Parasitas: Giardia lamblia: Frequentemente associada à ingestão de água contaminada ou em regiões com saneamento precário. Entamoeba histolytica: Infecção em áreas endêmicas, com possível evolução para disenteria. Características Geográficas e Sociais Países em desenvolvimento: A diarreia infecciosa é uma causa comum de morbidade, com muitas infecções causadas por patógenos transmitidos por água e alimentos contaminados (ex: Vibrio cholerae, Escherichia coli). Ambientes hospitalares: Diarreias associadas ao uso deantibióticos (Clostridium difficile) são mais comuns em hospitais ou unidades de cuidados intensivos. Para diferenciar os tipos de diarreia, é essencial considerar os elementos propedêuticos (como história clínica detalhada, exame físico e exames laboratoriais) e os fatores epidemiológicos (exposição a agentes infecciosos, uso de medicamentos, histórico de viagens, etc.). Essas informações permitem identificar a causa subjacente da diarreia, que pode ser infecciosa, inflamatória, funcional ou relacionada a outras condições clínicas. 3. Identificar as principais causas de diarreia e disenteria, bem como as doenças que se manifestam por meio dela; A diarreia e a disenteria são sintomas clínicos que podem ser causados por uma variedade de condições, variando de infecções infecciosas a doenças inflamatórias, funcionais ou metabólicas. A identificação das causas subjacentes é fundamental para o diagnóstico e o tratamento adequados. 1.A diarreia é caracterizada pelo aumento na frequência, volume e fluidez das fezes, e pode ser classificada como aguda (menos de 2 semanas) ou crônica (mais de 4 semanas). A diarreia aguda,muitas vezes associada a infecções, é a forma mais comum de diarreia e pode ser causada por:Infecções Virais: Rotavírus: Principal causa de diarreia em crianças pequenas, transmitido por via fecal-oral. Norovírus: Frequentemente associado a surtos em ambientes fechados (ex: navios de cruzeiro, escolas), causa diarreia intensa e rápida. Adenovírus: Pode causar diarreia, especialmente em crianças. Salmonella: Causa diarreia invasiva, muitas vezes associada ao consumo de carne mal cozida, especialmente aves. Shigella (disenteria bacilar): Causa diarreia com sangue e muco, frequentemente associada à transmissão fecal-oral, especialmente em áreas com saneamento inadequado. Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC): Frequentemente associada a surtos de diarreia em regiões endêmicas, geralmente pela ingestão de alimentos ou água contaminada. Campylobacter: Causa diarreia associada a infecção alimentar, comumente por consumo de aves mal cozidas. Clostridium difficile (diarreia associada a antibióticos): Causa diarreia após o uso de antibióticos, muitas vezes em ambientes hospitalares. Pode evoluir para colite pseudomembranosa. Giardia lamblia (giardíase): Comum em áreas com saneamento deficiente e em contato com água contaminada, causa diarreia prolongada e cólicas. Entamoeba histolytica (amebíase): Causa diarreia com sangue e muco, frequentemente em áreas endêmicas. Cryptosporidium e Cyclospora (protozoários): Podem causar diarreia aquosa, particularmente em imunocomprometidos. Toxinas de Staphylococcus aureus: Podem causar diarreia rápida após ingestão de alimentos contaminados com toxina. Toxinas de Bacillus cereus e Clostridium perfringens: Também causam diarreia após ingestão de alimentos contaminados. Infecções Virais e Bacterianas Combinadas: Infecções mistas: É possível ter coinfecção viral e bacteriana, como uma infecção por rotavírus associada a uma infecção bacteriana por Escherichia coli. A diarreia crônica pode ser causada por doenças subjacentes que afetam a absorção ou a motilidade intestinal: Doenças Inflamatórias Intestinais (DII): Doença de Crohn: Pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, com episódios de diarreia crônica, dor abdominal e perda de peso. Colite Ulcerativa: Afeta o cólon, provocando diarreia com sangue, muco e cólicas abdominais. Síndrome do Intestino Irritável (SII): Causa diarreia intercalada com constipação, com alterações na motilidade intestinal. Os sintomas são crônicos e associados a estresse. Hipertireoidismo: Aumenta a motilidade intestinal, podendo causar diarreia. Acromegalia: Pode levar a diarreia crônica devido ao aumento da motilidade Doença Celíaca: Causa diarreia crônica devido à resposta imunológica ao glúten, resultando em danos à mucosa intestinal. Intolerância à lactose: A incapacidade de digerir lactose pode causar diarreia osmótica em pessoas com deficiência da enzima lactase. Antibióticos: Podem alterar a flora intestinal normal, levando a diarreia associada a Clostridium difficile. Laxantes: O uso excessivo pode causar diarreia osmótica. A disenteria é caracterizada pela presença de sangue e muco nas fezes, geralmente acompanhada de dor abdominal intensa e febre. Ela pode ser causada por infecções bacterianas invasivas ou parasitárias. Shigella (Disenteria Bacilar): Causa diarreia com sangue e muco, frequentemente associada a cólicas e febre. A transmissão é fecal-oral, comumente causada por alimentos ou água contaminados. Entamoeba histolytica (Amebíase): Causa disenteria com sangue e muco, associada a dor abdominal e febre. Pode evoluir para abscessos hepáticos. Campylobacter: Embora frequentemente causam diarreia aquosa, pode evoluir para disenteria em casos mais graves. Salmonella: Algumas cepas de Salmonella (como Salmonella enterica serovar Typhi) podem causar disenteria. Norovírus: Embora geralmente causam diarreia aquosa, pode ocasionalmente apresentar sintomas de disenteria em infecções mais graves. Balantidium coli (Balantidíase): Parasitose rara que causa disenteria e é comum em áreas tropicais, especialmente em regiões de sanitização precária. 3. Outras Doenças que se Manifestam com Diarreia ou Disenteria Além das causas infecciosas, a diarreia e a disenteria podem ser manifestações de outras condições clínicas: Doenças Metabólicas e Endócrinas: Hipertiroidismo: A aceleração da motilidade intestinal pode levar à diarreia. Feocromocitoma: Tumores adrenais que liberam catecolaminas, podendo induzir diarréia. Doenças Hepáticas e Pancreáticas: Cirrose Hepática: Pode causar diarreia devido a alterações na digestão e absorção de nutrientes. Insuficiência Pancreática Exócrina: Pode levar à diarreia devido à falta de enzimas digestivas adequadas. Intolerância à Lactose: A deficiência de lactase leva a diarréia osmótica quando há ingestão de produtos lácteos. Intolerância à Frutose: Deficiência de enzimas que digerem frutose pode resultar em diarreia após a ingestão dessa substância. A diarreia e a disenteria são sintomas que podem ser causados por uma ampla gama de condições, com infecções bacterianas, virais e parasitárias sendo as causas mais comuns. A disenteria, caracterizada por sangue e muco nas fezes, está frequentemente associada a infecções bacterianas invasivas, como Shigella e Entamoeba histolytica. Outras causas incluem doenças inflamatórias intestinais, doenças endócrinas, distúrbios metabólicos e intolerâncias alimentares. A diferenciação adequada das causas é essencial para a escolha do tratamento e manejo clínico adequado. 4. Caracterizar as doenças disabsortivas, em especial as doenças inflamatórias intestinais e a doença celíaca; As doenças disabsortivas (ou distúrbios da absorção intestinal) são condições em que há uma deficiência ou falha na capacidade do intestino de absorver adequadamente os nutrientes necessários, levando à má absorção. Esse processo resulta em diversos sintomas, como diarreia crônica, perda de peso, desnutrição e desequilíbrio eletrolítico. Entre as doenças disabsortivas, as doenças inflamatórias intestinais (DII), como doença de Crohn e colite ulcerativa, e a doença celíaca são das mais relevantes, com mecanismos fisiopatológicos distintos e manifestações clínicas específicas. As doenças inflamatórias intestinais englobam duas condições principais: doença de Crohn e colite ulcerativa. Ambas são doenças autoimunes crônicas que afetam o trato gastrointestinal e podem causar dis absortividade devido à inflamação prolongada e ao comprometimento da mucosa intestinal. Definição: A doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal crônica que pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus, mas é mais comumente encontrada no íleo terminal e no cólon. A doença é caracterizada por uma inflamação transmural (que afeta todas as camadas da parede intestinal) e irregular, o que pode resultar em estenoses, fístulas e abscessos. A inflamaçãocrônica leva a uma destruição parcial da mucosa intestinal, prejudicando a absorção de nutrientes, como lipídios e carboidratos, causando má absorção. A resposta imune exagerada e a disfunção na barreira intestinal também contribuem para a inflamação e a permeabilidade aumentada do intestino. Sintomas Comuns: Diarreia crônica (muitas vezes com sangue ou muco, dependendo da gravidade) Dor abdominal (particularmente no quadrante inferior direito) Anemia (devido à má absorção de ferro e vitamina B12) Distúrbios nutricionais (devido à incapacidade de absorver nutrientes essenciais, como cálcio e vitamina D) Estreitamentos intestinais (estenoses) que podem levar a obstruções intestinais. Fístulas (conexões anormais entre partes do intestino ou entre o intestino e outros órgãos). Uso de anti-inflamatórios, imunossupressores e biológicos (como infliximabe e adalimumabe) para reduzir a inflamação. Em casos graves, pode ser necessário realizar cirurgias para remoção de segmentos intestinais afetados. Definição: A colite ulcerativa é uma doença inflamatória crônica que afeta apenas o cólon e o reto, com a inflamação restrita à mucosa e submucosa da parede intestinal. Mecanismo Fisiopatológico: A inflamação é contínua, começando no reto e progredindo para o cólon proximal. A inflamação da mucosa intestinal pode causar ulcerações e sangramentos, prejudicando a absorção de nutrientes, especialmente água e eletrólitos. O comprometimento da mucosa pode levar à hipoalbuminemia e à desidratação devido à má absorção de líquidos. Diarreia com sangue e muco Dor abdominal (geralmente no quadrante inferior esquerdo) Urgência fecal Perda de peso e desnutrição (em estágios avançados) Fadiga Febre (em casos de colite ulcerativa grave) Megacólon tóxico (expansão do cólon com risco de perfuração). Risco aumentado de câncer colorretal com o tempo devido à inflamação crônica. Aminossalicilatos (mesalazina) e corticosteroides para controle da inflamação. Imunossupressores (azatioprina, mercaptopurina) e biológicos (adalimumabe) para formas moderadas a graves. Em casos de complicações graves, a colectomia (remoção do cólon) pode ser necessária. A doença celíaca (também conhecida como enteropatia sensível ao glúten) é uma doença autoimune crônica que afeta o intestino delgado, sendo desencadeada pela ingestão de glúten (proteína presente em trigo, centeio e cevada). A doença é caracterizada por uma resposta imunológica anormal ao glúten, o que resulta em inflamação da mucosa intestinal e dano à vilosidade intestinal, comprometendo a absorção de nutrientes. Mecanismo Fisiopatológico: A ingestão de glúten em indivíduos geneticamente predispostos (portadores dos genes HLA-DQ2 ou HLA-DQ8) leva a uma resposta imune que danifica a mucosa do intestino delgado. A inflamação crônica e a atrofia das vilosidades intestinais causam má absorção de nutrientes, como ferro, cálcio, vitamina D, e outras vitaminas e minerais. Isso leva a deficiências nutricionais, como anemia ferropriva e osteoporose. Sintomas Comuns: Diarreia crônica (pode ser aquosa e volumosa) Perda de peso e falta de crescimento (em crianças) Dor abdominal e distensão abdominal Flatulência (gases intestinais excessivos) Sintomas extraintestinais: Dermatite herpetiforme (erupção cutânea com bolhas e coceira) Anemia ferropriva (devido à absorção deficiente de ferro) Osteoporose (devido à absorção deficiente de cálcio e vitamina D) Fadiga e fraqueza Diagnóstico: Exame sorológico para detecção de anticorpos anti transglutaminase tecidual (tTG-IgA) e anti endomísio. Biópsia intestinal: Realizada para avaliar o grau de dano nas vilosidades intestinais e confirmar o diagnóstico. Tratamento: Dieta sem glúten: A única forma eficaz de tratar a doença celíaca é a eliminação total de glúten da dieta, o que permite a cicatrização da mucosa intestinal e a normalização da absorção de nutrientes. Suplementação de ferro, vitamina D e cálcio pode ser necessária, especialmente em casos de deficiências nutricionais. As doenças inflamatórias intestinais (DII) e a doença celíaca são causas significativas de dis absortividade, levando a mal absorção de nutrientes e desnutrição. Enquanto as DII (doença de Crohn e colite ulcerativa) envolvem inflamação crônica que afeta o trato gastrointestinal, a doença celíaca é uma condição autoimune desencadeada pela ingestão de glúten, que causa atrofia das vilosidades intestinais. Ambas as condições exigem diagnóstico precoce e tratamento adequado, com estratégias como o uso de medicamentos anti-inflamatórios e imunossupressores (nas DII) e a adoção de uma dieta rigorosamente sem glúten (na doença celíaca). 5. Reconhecer os fatores de risco biomédicos, psíquicos e socioculturais/epidemiológicos para a as doenças diarreicas; As doenças diarreicas podem ser causadas por diversos fatores, que variam de condições biomédicas a psíquicas e socioculturais/epidemiológicas. Esses fatores influenciam a susceptibilidade das pessoas a infecções intestinais e a outros tipos de distúrbios relacionados à diarreia. Reconhecer esses fatores é essencial para implementar estratégias de prevenção e controle mais eficazes. 1. Fatores de Risco Biomédicos Os fatores biomédicos incluem condições fisiológicas e patológicas que aumentam a vulnerabilidade a doenças diarreicas, como infecções intestinais e distúrbios de absorção. a) Idade Crianças: São mais suscetíveis a doenças diarreicas devido ao sistema imunológico ainda em desenvolvimento e maior risco de desidratação. A diarreia infantil é uma das principais causas de morbidade e mortalidade. Idosos: Também são mais vulneráveis, especialmente aqueles com sistema imunológico comprometido e doenças crônicas, como doenças cardíacas ou diabetes, que podem reduzir a capacidade de resistir a infecções e aumentar o risco de desidratação. b) Imunossupressão Pacientes que utilizam medicações imunossupressoras (como corticosteróides ou quimioterápicos) ou aqueles com doenças autoimunes, como HIV/AIDS ou transplantes de órgãos, têm maior risco de infecções intestinais, incluindo aquelas causadas por bactérias oportunistas (ex. Clostridium difficile). c) Doenças Subjacentes Doenças intestinais: Pacientes com doenças inflamatórias intestinais (como doença de Crohn e colite ulcerativa) podem ter maior risco de diarreia, especialmente quando em surtos ou com comprometimento da absorção intestinal. Doenças metabólicas/endócrinas: Distúrbios como hipertireoidismo e diabetes mellitus podem afetar a motilidade intestinal e a absorção, contribuindo para episódios de diarreia. d) Alterações na Microbiota Intestinal O uso indiscriminado de antibióticos pode levar a disbiose intestinal, favorecendo o crescimento de patógenos como Clostridium difficile, que causam diarreia associada ao uso de antibióticos (diarréia do viajante e colite pseudomembranosa). Cirurgias intestinais: Remoções de partes do intestino delgado ou cólon também alteram a microbiota intestinal, dificultando a absorção e aumentando o risco de diarreia. 2. Fatores de Risco Psíquicos Os fatores psíquicos envolvem aspectos emocionais, psicológicos e comportamentais que podem influenciar a ocorrência de doenças diarreicas, particularmente aquelas associadas ao estresse e à ansiedade. a) Estresse e Ansiedade O estresse pode afetar diretamente a motilidade intestinal, contribuindo para distúrbios como síndrome do intestino irritável (SII), que pode se manifestar com episódios de diarreia ou constipação, frequentemente exacerbados por fatores emocionais. A ansiedade pode afetar o sistema nervoso autônomo, alterando a função intestinal e promovendo uma maior predisposição a diarreias funcionais ou psicossomáticas. b) Transtornos Psicossociais Transtornos alimentares como bulimia ou anorexia nervosa podem prejudicar a absorção de nutrientes e alterar a motilidade intestinal, resultando em episódios de diarreia. Distúrbios emocionais graves, como depressão, podem afetar a alimentação e os hábitos intestinais, predispondo a episódios de diarreia como consequência do uso de substâncias(como laxantes) ou do impacto psicológico na função gastrointestinal. 3. Fatores Socioculturais/Epidemiológicos Os fatores socioculturais e epidemiológicos referem-se a condições sociais, econômicas e culturais que afetam a prevalência e a gravidade das doenças diarreicas. Esses fatores estão intimamente ligados ao acesso a cuidados de saúde, condições sanitárias e hábitos culturais. a) Condições Socioeconômicas Pobreza: Em comunidades com baixa renda, o acesso à água potável, saneamento básico e cuidados de saúde adequados pode ser limitado. Isso aumenta o risco de doenças diarreicas causadas por agentes infecciosos, como bactérias (ex. Escherichia coli, Salmonella) e parasitas (ex. Giardia lamblia). Desnutrição: A desnutrição predispõe ao desenvolvimento de doenças diarreicas, pois enfraquece o sistema imunológico, reduzindo a capacidade do organismo de combater infecções. Crianças desnutridas têm risco maior de complicações e mortalidade devido a diarréias infecciosas. b) Acesso a Saneamento e Água Potável A falta de acesso a saneamento básico e água tratada é um dos maiores determinantes das doenças diarreicas em áreas rurais ou em países em desenvolvimento. O consumo de água contaminada é uma causa importante de infecções gastrointestinais. c) Comportamentos Culturais e Hábitos Alimentares Hábitos alimentares: O consumo de alimentos contaminados ou mal cozidos, especialmente em países com baixo controle sanitário, aumenta o risco de infecções gastrointestinais e diarreia. Frutas e vegetais crus ou mal lavados podem ser veículos de patógenos como Salmonella e Shigella. Práticas culturais: Em algumas culturas, certos alimentos podem ser consumidos de forma inadequada (ex. alimentos armazenados em condições insalubres), aumentando o risco de contaminação por agentes infecciosos. d) Idade e Educação Crianças pequenas: Crianças em idade escolar e pré-escolar são mais vulneráveis a infecções intestinais devido à imaturidade do sistema imunológico e a hábitos de higiene inadequados. Baixa escolaridade: Níveis mais baixos de educação e falta de conscientização sobre higiene estão associados a maior exposição a práticas de risco, como a ingestão de água não tratada ou a manipulação inadequada de alimentos. e) Epidemiologia Global Em regiões tropicais e subtropicais, onde as condições de higiene e saneamento são precárias, as doenças diarreicas são mais prevalentes. Viagens internacionais também podem aumentar a exposição a agentes patogênicos, resultando em diarreia do viajante. A ocorrência de doenças diarreicas é influenciada por uma combinação de fatores biomédicos, psíquicos e socioculturais/epidemiológicos. Entre os fatores biomédicos, as condições de saúde pré-existentes, como doenças intestinais, imunossupressão e idade, podem aumentar a vulnerabilidade. No aspecto psíquico, o estresse e transtornos emocionais influenciam diretamente a função intestinal. Já os fatores socioculturais, como acesso limitado à água potável e saneamento básico, comportamentos alimentares inadequados e condições socioeconômicas precárias, são determinantes essenciais para a prevalência e gravidade das doenças diarreicas. A prevenção eficaz exige um enfoque multidisciplinar, considerando esses diversos fatores de risco. 6. SP3 1. Conhecer a fisiopatologia das principais hepatites, da cirrose e da insuficiência hepática, bem como de suas principais complicações; As hepatites, a cirrose e a insuficiência hepática possuem mecanismos fisiopatológicos específicos e evolutivos que desencadeiam alterações complexas no fígado, afetando sua capacidade de realizar funções essenciais. Vamos abordar a fisiopatologia desses quadros e suas complicações. 1. Hepatites As hepatites são inflamações do fígado que podem ter causas infecciosas (como os vírus das hepatites A, B, C, D e E) ou não infecciosas (como o consumo de álcool, doenças autoimunes, fármacos e toxinas). Fisiopatologia Infecção viral: Na hepatite viral, o vírus invade os hepatócitos e, ao se replicar, ativa uma resposta imunológica. A resposta celular mediada por linfócitos T leva à destruição dos hepatócitos infectados, resultando em inflamação e lesão hepática. Resposta imunológica: Na fase aguda, o organismo tenta eliminar o vírus. Em casos de infecção crônica (principalmente por hepatites B e C), a persistência viral causa inflamação prolongada, fibrose e possível progressão para cirrose. Lesões não infecciosas: Na hepatite alcoólica, por exemplo, o etanol e seus metabólitos, como o acetaldeído, causam estresse oxidativo, induzem a produção de citocinas inflamatórias e levam à formação de tecido fibroso. Complicações Fibrose hepática: A lesão persistente promove a cicatrização do tecido com deposição de colágeno e formação de fibrose, o que prejudica a arquitetura hepática. Carcinoma hepatocelular (CHC): A inflamação crônica e a regeneração celular aumentam o risco de mutações e desenvolvimento de CHC. 2. Cirrose A cirrose é o estágio avançado de fibrose hepática, caracterizada por uma desorganização da arquitetura do fígado com nódulos de regeneração, substituindo o tecido saudável. Fisiopatologia Fibrose e regeneração anômala: A cicatrização contínua leva à formação de septos fibrosos, que desorganizam a microcirculação hepática, causando hipertensão portal e dificultando o fluxo sanguíneo. Hipertensão portal: A resistência ao fluxo sanguíneo no fígado causa aumento da pressão na veia porta, levando à congestão venosa e à formação de colaterais portossistêmicas. Alteração metabólica e hormonal: O fígado cirrótico perde a capacidade de metabolizar hormônios e toxinas, afetando a função endócrina e excretora. Complicações Ascite: O aumento da pressão portal e a baixa albumina sérica provocam extravasamento de líquido para a cavidade abdominal. Hemorragia digestiva alta: As varizes esofágicas e gástricas, resultantes da hipertensão portal, podem romper, causando sangramento grave. Encefalopatia hepática: A incapacidade de metabolizar substâncias tóxicas, como a amônia, afeta o sistema nervoso central. Síndrome hepatorrenal: A vasoconstrição nos rins, causada por alterações hemodinâmicas, leva à insuficiência renal funcional. 3. Insuficiência Hepática A insuficiência hepática é a perda da função hepática, que pode ocorrer de forma aguda (falência hepática fulminante) ou crônica, geralmente após a progressão da cirrose. Fisiopatologia Perda massiva de hepatócitos: Na insuficiência hepática, a extensa necrose ou disfunção de hepatócitos compromete a síntese de proteínas, a desintoxicação e a função imunológica. Distúrbios de coagulação: Com a queda na síntese de fatores de coagulação, o paciente torna-se mais propenso a sangramentos. Alterações no metabolismo de amônia: O acúmulo de amônia e outras toxinas agrava o quadro de encefalopatia hepática. Inflamação sistêmica: Na insuficiência hepática aguda, pode ocorrer resposta inflamatória exacerbada e disfunção multiorgânica. Coagulopatia: A deficiência na síntese de fatores de coagulação hepáticos leva a risco elevado de sangramento. Encefalopatia hepática severa: O acúmulo de neurotoxinas pode levar a coma. Edema cerebral: Em casos de insuficiência hepática fulminante, o acúmulo de toxinas e o aumento da permeabilidade vascular cerebral podem causar edema e hipertensão intracraniana. Síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SDMO): Em casos graves, a insuficiência hepática leva à falência de múltiplos órgãos, geralmente fatal 1. 2. Compreender elementos propedêuticos e epidemiológicos que permitam se diferenciar as hepatopatias; Para diferenciar as hepatopatias, a abordagem propedêutica e epidemiológica é fundamental para identificar as características específicas de cada condição hepática, como hepatites, cirrose e insuficiência hepática. Esses elementos permitem direcionar diagnósticos diferenciais e definir condutas mais adequadas. Abaixo, estão os principais aspectos a serem considerados. 1. História Clínica e Epidemiologia Fatores de Risco: Hepatite Viral: História de exposição a fatoresde risco específicos para os diferentes tipos de hepatite. Por exemplo: Hepatite A: Saneamento básico precário, contato próximo com pessoas infectadas, ingestão de alimentos ou água contaminados. Hepatites B e C: Histórico de transfusões de sangue, compartilhamento de seringas, tatuagens, múltiplos parceiros sexuais, contato com sangue e fluidos corporais contaminados. Alcoolismo e Fármacos: Consumo crônico de álcool (hepatite alcoólica) e uso prolongado de fármacos hepatotóxicos, como paracetamol em altas doses e alguns anti-inflamatórios, estão associados a lesão hepática. História Familiar: Doenças Autoimunes e Hereditárias: Doenças autoimunes (como hepatite autoimune) e condições genéticas (como hemocromatose e doença de Wilson) frequentemente apresentam histórico familiar. Fatores Geográficos e Socioeconômicos: Regiões endêmicas: Algumas hepatites virais, como as causadas pelos vírus da hepatite A e E, têm alta prevalência em regiões com saneamento deficiente. Estilo de Vida e Nível Socioeconômico: Populações com maior exposição a fatores de risco para hepatite alcoólica e doenças metabólicas hepáticas são frequentemente encontradas em áreas de baixa renda ou com acesso limitado a cuidados de saúde. 2. Exame Físico e Sinais Propedêuticos Icterícia: A icterícia (coloração amarelada da pele e mucosas) é um sinal comum em doenças hepáticas, mas a intensidade e o contexto clínico variam: Hepatite Aguda: Icterícia de início súbito, frequentemente acompanhada de febre, fadiga e sintomas gripais. Cirrose: Icterícia em estágios avançados, geralmente associada a sinais de hipertensão portal. Ascite: Observada principalmente em cirrose avançada devido à hipertensão portal e hipoalbuminemia. Na propedêutica, é confirmada por manobras de macicez móvel e piparote. Sinais de Hipertensão Portal: Circulação Colateral Abdominal: Varizes visíveis na parede abdominal, indicando circulação compensatória. Esplenomegalia: Detectada em hepatopatias crônicas, principalmente na cirrose. Edema Periférico: Comum na cirrose e insuficiência hepática, devido a alterações na síntese proteica e na retenção de sódio. Asterixis (flapping tremor): Observado na encefalopatia hepática, associado ao acúmulo de toxinas como amônia em hepatopatias graves. Outros Sinais Cutâneos: Eritema Palmar e Telangiectasias: Comuns em cirrose devido à alteração no metabolismo hormonal e vascular. 3. Exames Laboratoriais e Marcadores Epidemiológicos Transaminases (ALT e AST): AST/ALT > 1: Sugere hepatite alcoólica ou cirrose. ALT predominantemente elevada: Indica hepatite viral ou toxicidade por medicamentos. Fosfatase Alcalina e GGT: Elevadas em obstruções biliares e colestase; geralmente indicam hepatopatias colestáticas. Bilirrubinas: Bilirrubina Direta: Aumenta em doenças hepatocelulares e obstrutivas. Bilirrubina Indireta: Aumenta em condições pré-hepáticas, como hemólise. Albumina e Tempo de Protrombina: Hipoalbuminemia: Indicativa de hepatopatia crônica avançada (como cirrose). Tempo de Protrombina Prolongado: sinal de disfunção hepática grave. Marcadores Virais e Autoimunes: Anti-HAV, HBsAg, Anti-HCV: Diagnóstico de hepatites virais A, B e C. ANA, LKM, AML: Marcadores de hepatite autoimune. Ferro, Cobre e Ceruloplasmina: Exames utilizados para doenças hereditárias, como hemocromatose (sobrecarga de ferro) e doença de Wilson (acúmulo de cobre). 4. Epidemiologia Específica para Diferenciação Prevalência de Doenças Hepáticas: Hepatite Viral C: Mais prevalente em populações com histórico de transfusão de sangue antes de 1993. Hepatite Alcoólica: Mais comum em países com alto consumo de álcool. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA): Elevada em países ocidentais, relacionada à obesidade e síndrome metabólica. Mortalidade e Complicações Crônicas: Cirrose e CHC: Doenças hepáticas crônicas estão entre as principais causas de transplante de fígado e mortalidade por câncer de fígado em todo o mundo. Resumo dos Principais Elementos Propedêuticos e Epidemiológicos Aspecto Hepatite Aguda Cirrose Insuficiência Hepática Icterícia Súbita Progressiva Intensa 3. Identificar as principais causas de doenças hepáticas; 4. Caracterizar a ascite, a hemorragia digestiva alta e a encefalopatia hepática, seus elementos propedêuticos e seu tratamento; 5. Reconhecer os fatores de risco biomédicos, psíquicos e socioculturais/epidemiológicos para a as doenças hepáticas; 6. Identificar as características histopatológicas e anatomopatológicas das doenças supracitadas; 7. Conhecer as diferentes classes de fármacos utilizadas nessas situações, bem como seu perfil farmacodinâmico e farmacocinético; 8. Revisitar o conhecimento sobre os testes de detecção das doenças hepáticas.