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1.Colesterol lipídio essencial encontrado em todas as células do corpo. Função: manutenção da integridade estrutural das membranas celulares, produção de hormônios esteroides, como os sexuais (testosterona, estrogênio, progesterona) e hormônios do estresse (cortisol, aldosterona), além de servir como precursor para a síntese de ácidos biliares e vitamina D. A molécula de colesterol tem a fórmula química C₂₇H₄₆O, caracterizada por um núcleo esteroide de quatro anéis fundidos, uma cauda alifática, e um grupo hidroxila (-OH) na posição 3, que lhe confere propriedades anfipáticas, ou seja, possui uma parte hidrofóbica (não polar) e uma parte hidrofílica (polar), permitindo que se insira na bicamada lipídica das membranas celulares e modifique a fluidez e a permeabilidade da membrana. Triglicerídeos, ou triacilgliceróis: principal forma de armazenamento de energia nos organismos. Compostos por uma molécula de glicerol (C₃H₈O₃) ligada a três ácidos graxos por ligações éster. A estrutura química dos triglicerídeos é representada pela fórmula C₃H₅(O₂CR')₃, onde R' corresponde às cadeias alquílicas dos ácidos graxos, que podem ser saturadas ou insaturadas, influenciando as propriedades físicas do triglicerídeo (ex: ponto de fusão). A formação dos triglicerídeos se dá pela esterificação do glicerol com 3 moléculas de ácidos graxos, um processo que libera água (desidratação). No corpo humano, os triglicerídeos são armazenados principalmente no tecido adiposo, onde atuam como reserva de energia que pode ser mobilizada em períodos de jejum ou alta demanda energética, como durante o exercício físico intenso. A mobilização de triglicerídeos ocorre pela ação de enzimas como a lipase sensível a hormônio (HSL), que hidrolisa os triglicerídeos em ácidos graxos livres e glicerol, os quais podem ser transportados via corrente sanguínea para tecidos como músculo esquelético, coração e fígado, onde são oxidados para gerar ATP. 1.2 Biossíntese dos Triglicerídeos: Síntese de triglicerídeos ocorre no fígado e no tecido adiposo. Inicia-se com a formação de glicerol-3-fosfato a partir da glicose pela glicólise ou do glicerol livre pela ação da glicerol quinase. Os ácidos graxos são derivados da acetil-CoA (C₂₃H₃₈N₇O₁₇P₃S), que é carboxilada pela acetil-CoA carboxilase (ACC) para formar malonil-CoA, precursor essencial na síntese de ácidos graxos de cadeia longa realizada pela ácido graxo sintase (FAS). A esterificação ocorre no retículo endoplasmático, onde os ácidos graxos são ligados ao glicerol-3-fosfato para formar fosfatidato, que é convertido em diacilglicerol e finalmente em triglicerídeos: Glicerol-3-fosfato + 3 ácidos graxos-CoA → Triglicerídeo + 3 CoA + 3 H₂O A regulação da síntese de triglicerídeos é altamente dependente da insulina, que estimula tanto a captação de glicose pelas células adiposas quanto a atividade das enzimas lipogênicas, como a FAS e a ACC, enquanto inibe a lipólise (degradação dos triglicerídeos) por meio da supressão da lipase sensível a hormônio (HSL). Funções dos Triglicerídeos: Reserva energética. No tecido adiposo, eles fornecem isolamento térmico, ajudando a manter a temperatura corporal, sendo que o tecido adiposo atua como um amortecedor mecânico, protegendo órgãos internos contra traumas. São fonte de ácidos graxos livres na lipólise, que podem ser oxidados nas mitocôndrias para a produção de ATP, processo importante em tecidos como músculo esquelético e coração durante exercício ou jejum. Biossíntese do Colesterol: A síntese de colesterol ocorre através da via do mevalonato, iniciando com a condensação de 3 moléculas de acetil-CoA para formar HMG-CoA (C₂₇H₄₄O₅), que é reduzida a mevalonato pela HMG-CoA redutase, principal enzima reguladora da biossíntese de colesterol. A HMG-CoA redutase é inibida por feedback negativo pelo colesterol intracelular e por estatinas, medicamentos que reduzem os níveis de colesterol plasmático. O mevalonato é convertido em isopentenil pirofosfato, um precursor para a síntese de esqualeno, e finalmente em lanosterol, que após múltiplos passos enzimáticos é convertido em colesterol. A regulação da síntese de colesterol envolve o controle da transcrição de genes relacionados ao colesterol, mediado pela proteína SREBP (Sterol Regulatory Element-Binding Protein), que se ativa em resposta a baixos níveis de colesterol, promovendo a expressão de HMG-CoA redutase e receptores de LDL. Funções do Colesterol: Indispensável para a estrutura e função das membranas celulares, onde modula a fluidez e a permeabilidade, essencial para a integridade e a funcionalidade das células. É precursor de ácidos biliares, fundamentais para a digestão e absorção de lipídios na dieta. É a molécula precursora na síntese de hormônios esteroides, que incluem o cortisol, a aldosterona e os hormônios sexuais, todos os quais desempenham papéis críticos na regulação do metabolismo, da pressão arterial, e da reprodução. O colesterol também é precursor da vitamina D, crucial para a homeostase do cálcio e saúde óssea. 1.3 Lipoproteínas no Transporte do Colesterol : O colesterol, por ser hidrofóbico, precisa ser transportado no plasma em associação com lipoproteínas, que são partículas compostas de lipídios e proteínas. As principais lipoproteínas que transportam colesterol no sangue incluem: VLDL (Very Low-Density Lipoprotein): Produzido no fígado, o VLDL é rico em triglicerídeos e colesterol e serve para transportar triglicerídeos endógenos dos hepatócitos para os tecidos periféricos. No processo de transporte, os triglicerídeos são removidos pelo efeito da lipoproteína lipase (LPL), convertendo o VLDL em IDL (lipoproteína de densidade intermediária) e posteriormente em LDL (lipoproteína de baixa densidade). IDL (Intermediate-Density Lipoprotein): O IDL é um intermediário no processo de conversão do VLDL em LDL. Cerca de metade do IDL é captado pelo fígado, enquanto a outra metade é convertida em LDL pela remoção adicional de triglicerídeos. LDL (Low-Density Lipoprotein): O LDL é a principal lipoproteína responsável pelo transporte de colesterol para os tecidos periféricos. "Colesterol ruim" devido à sua associação com o aumento do risco de aterosclerose, uma vez que níveis elevados de LDL podem levar à deposição de colesterol nas paredes arteriais, contribuindo para a formação de placas ateroscleróticas. HDL (High-Density Lipoprotein): O HDL é envolvido no transporte reverso de colesterol, removendo colesterol das células periféricas e das paredes arteriais e transportando-o de volta ao fígado para excreção ou reutilização. O HDL é considerado "colesterol bom" porque seu papel no transporte reverso de colesterol ajuda a proteger contra a aterosclerose. O HDL exerce efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, e antitrombóticos, o que contribui ainda mais para suas propriedades cardioprotetoras. 1.4 Efeitos da Desregulação do Metabolismo do Colesterol :Hipercolesterolemia Familiar: condição genética autossômica dominante que resulta em mutações nos genes que codificam os receptores de LDL, levando à redução da captação de LDL pelas células. Os níveis de LDL-C no sangue aumentam, elevando o risco de aterosclerose precoce e doenças cardiovasculares. Aterosclerose: Deposição de colesterol, principalmente na forma de LDL oxidado, nas paredes das artérias, resultando na formação de placas ateroscleróticas. Essas placas podem restringir o fluxo sanguíneo e levar a complicações, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (NAFLD): Associada a altos níveis de colesterol e triglicerídeos, o que leva ao acúmulo de gordura no fígado, resultando em esteatose hepática, inflamação, e potencialmente em cirrose hepática. Pancreatite: A hipertrigliceridemia extrema pode causar pancreatite, uma inflamação aguda do pâncreas. Níveis elevados de triglicerídeos (>1000 mg/dL) podem induzir a formação de microêmbolos de gordura, causando dano ao pâncreas. 2.1 Digestão Mecânica e Química dos Lipídios : Começa na boca com a mastigação, que quebra alimentos empartículas menores, aumentando a área de superfície disponível para as enzimas . A lipase lingual é secretada pelas glândulas salivares e atua no estômago, onde continua a digestão dos triglcerídeos, principalmente em bebês e crianças, para quem o leite materno é fonte de gordura. No estômago, a lipase gástrica, produzida pelas células principais, continua a digestão, mas tem papel secundário em adultos devido ao ambiente ácido. No intestino delgado, os lipídios são emulsificados pelos sais biliares secretados pela vesícula biliar, sob a influência da colecistoquinina (CCK), hormônio liberado em resposta à presença de gorduras no intestino. A emulsificação aumenta a solubilidade dos lipídios, permitindo que as lipases pancreáticas atuem com eficácia. A principal lipase pancreática hidrolisa os triglicerídeos em monoglicerídeos e ácidos graxos livres, que são absorvidos pelos enterócitos. A fosfolipase A2 hidrolisa os fosfolipídios, e a colesterol esterase libera o colesterol dos ésteres de colesterol. 2.2 Absorção dos Lipídios nos Enterócitos e Apolipoproteínas : Os produtos da digestão lipídica são incorporados em micelas, que facilitam sua absorção pelos enterócitos através da membrana apical. Dentro deles, ácidos graxos de cadeia longa são reesterificados em triglicerídeos no retículo endoplasmático liso e embalados em quilomícrons, com apolipoproteínas, como ApoB-48, essencial na montagem e secreção dos quilomícrons, e ApoC-II, que ativa a lipoproteína lipase na superfície das células endoteliais, promovendo a hidrólise dos triglicerídeos. 2.3 Transporte por Via Linfática, Quilomícrons e Albumina: Quilomícrons são partículas lipoproteicas que transportam lipídios dietéticos, principalmente triglicerídeos, do intestino para tecidos periféricos através da via linfática. Os recém-sintetizados, quilomícrons nascente, contêm grande quantidade de triglicerídeos. À medida que circulam pelo sangue, os triglicerídeos são removidos pela lipoproteína lipase (LPL), enzima ancorada na superfície das células endoteliais, em tecidos adiposo e muscular. A hidrólise dos triglicerídeos nos quilomícrons libera ácidos graxos livres, que são captados pelos tecidos para oxidação ou armazenamento, e glicerol, que é transportado de volta ao fígado para reutilização. Após a remoção de grande parte dos triglicerídeos, os quilomícrons remanescentes (quilomícrons maduros) são ricos em colesterol e são captados pelo fígado através de receptores específicos, como o receptor de LDL. A albumina, principal proteína do plasma, desempenha papel fundamental no transporte de ácidos graxos livres (NEFAs) que são liberados pela lipólise dos triglicerídeos armazenados nos adipócitos. Essas NEFAs ligadas à albumina são transportadas para tecidos periféricos, onde são utilizadas como combustível energético. 2.4 Regulação Hormonal do Metabolismo dos Lipídios: A insulina é um hormônio anabólico que promove a lipogênese, ou seja, a síntese de triglicerídeos, ao aumentar a captação de glicose e estimular enzimas como a acetil-CoA carboxilase (ACC) e a ácido graxo sintase (FAS). Além disso, a insulina inibe a lipólise, suprimindo a atividade da lipase sensível a hormônio (HSL). Em contraste, o glucagon e a epinefrina são hormônios catabólicos que estimulam a lipólise, ativando a HSL e promovendo a liberação de ácidos graxos livres dos adipócitos. Esses ácidos graxos são então transportados para tecidos como o músculo e o fígado, onde são oxidados para gerar ATP. A leptina, um hormônio produzido pelo tecido adiposo, também regula o metabolismo lipídico, sinalizando o estado de energia ao cérebro e modulando o apetite e o armazenamento de gordura. Além disso, hormônios esteroides como o cortisol aumentam a lipólise durante o estresse, proporcionando uma fonte rápida de energia para o corpo. 3.1 Conceito de Perfil Lipídico e Exames Compreendidos: Perfil lipídico é uma ferramenta diagnóstica para avaliar o risco cardiovascular e monitorar o manejo terapêutico de distúrbios lipídicos. Exames laboratoriais que medem as concentrações plasmáticas de diferentes lipídios (colesterol total, LDL-C, HDL-C, e triglicerídeos). Esses parâmetros são fundamentais para a identificação de hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, e outras dislipidemias que podem predispor a doenças cardiovasculares (aterosclerose, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral). Exames que Compõem o Perfil Lipídico: Colesterol Total: Soma das diferentes frações de colesterol no plasma, incluindo LDL, HDL, e VLDL. É um indicador geral da carga lipídica, mas não diferencia entre lipoproteínas aterogênicas e antiaterogênicas. LDL-C (Colesterol de Baixa Densidade): "Colesterol ruim", é a principal fração lipídica associada à aterogênese. Níveis elevados de LDL-C são um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. HDL-C (Colesterol de Alta Densidade): “Colesterol bom", o HDL-C é inversamente relacionado ao risco cardiovascular. Níveis elevados de HDL-C estão associados a um menor risco de aterosclerose, devido à sua função no transporte reverso de colesterol. Triglicerídeos: Níveis elevados de triglicerídeos estão associados a um risco aumentado de pancreatite e, quando combinados com baixos níveis de HDL-C e/ou elevados níveis de LDL-C, podem indicar um risco aumentado de síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. 3.2 Valores de Referência e Interpretações : Colesterol Total: ○ Desejável: