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70 Unidade III Unidade III 7 FINANCIAMENTOS PÓS-FIXADOS Operações na modalidade pós-fixada significam que os juros podem ter conjugação com outros fatores, como variação de indicadores nacionais ou estrangeiros. Assim, os empréstimos em moeda nacional pós-fixados possuem os encargos financeiros (juros mais variação de indicadores) com lastro nacional, já os feitos em moeda estrangeira têm encargos financeiros tomando-se como base a variação de uma moeda estrangeira, por exemplo, o dólar. De acordo como Banco Central do Brasil, os principais indicadores econômicos nacionais que medem a variação da moeda no tempo são: • INPC/IBGE: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. • IGP-M/FGV: Índice Geral de Preços-Mercado, da Fundação Getúlio Vargas. • TJLP/BNDES: Taxa de Juros de Longo Prazo, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. 7.1 Diferenças entre os principais indicadores econômicos 7.1.1 IPC-Fipe Calculado semanalmente pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) – USP, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) mede a variação dos preços de produtos e serviços consumidos pelas famílias com rendas entre um e vinte salários mínimos na cidade de São Paulo. As variações são obtidas comparando-se preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os das quatro semanas anteriores (base). 7.1.2 IPCA O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é calculado mensalmente pelo IBGE. É o índice oficial do governo para medição das metas inflacionárias fixadas no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mede a variação nos preços de bens e serviços consumidos por famílias com rendimentos entre um e quarenta salários mínimos. A taxa é calculada nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além do Distrito Federal e do município de Goiânia. 71 CONTABILIDADE EMPRESARIAL 7.1.3 IGP A FGV calcula três índices gerais de preço – IGP-M, IGP-10 e IGP-DI –, que diferem entre si apenas pelo período de coleta de dados. Todos são calculados com base em outros três indicadores: Índice de Preços no Atacado (IPA), Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), que representam, respectivamente, 60%, 30% e 10% em cada um dos IGPs. A base é do Rio de Janeiro e São Paulo. • IGP-M: compreende o período entre o dia 21 do mês anterior ao de referência e o dia 20 do mês de referência. • IGP-10: avalia o intervalo entre o dia 11 do mês anterior ao de referência e o dia 10 do mês de referência. • IGP-DI: engloba o estágio entre o primeiro e o último dia do mês de referência. 7.1.4 INPC Apurado pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foi criado com o objetivo de orientar os reajustes dos salários dos trabalhadores. Mede a inflação para famílias com renda entre um e oito salários mínimos. A taxa é calculada nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, além do Distrito Federal e do município de Goiânia. 7.1.5 ICV Apurado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Índice do Custo de Vida (ICV) mede a variação dos preços de bens e serviços consumidos pelas famílias com renda entre um e três salários mínimos na cidade de São Paulo. Saiba mais Para obter mais conhecimento sobre os indicadores econômicos, consulte o site do Banco Central do Brasil: Disponível em: https://www.bcb.gov.br/. Acesso em: 16 jun. 2021. • A variação de um indicador econômico nacional pode gerar, em uma operação de financiamento, tanto um ganho quanto uma perda, dependendo da oscilação desse mesmo indicador no período de contratação do empréstimo. No caso do ganho, a conta contábil será registrada como “variação monetária ativa”; na perda, como “variação monetária passiva”. Ambas são contas de resultado, ou seja, registradas na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). 72 Unidade III • A variação de um indicador econômico estrangeiro pode gerar, em uma operação de financiamento, um ganho ou uma perda, porém também depende da oscilação desse mesmo indicador no período de contratação do empréstimo. No ganho, a conta contábil será registrada como “variação cambial ativa”; na perda, como “variação cambial passiva”, ambas contas de resultado, ou seja, registradas na DRE. A seguir acentuaremos um exemplo sobre um empréstimo realizado em dólar. O registro contábil deve ser efetuado com nossa moeda, ou seja, o valor em dólar (ou em qualquer outra moeda) deverá sempre ser convertido em real. 7.1.6 Exemplo de cálculo Faremos os lançamentos relativos à operação financeira a seguir e demonstraremos o efeito da operação no balanço de 31/12/20X8. • Empréstimo no Banco Yellow, em 1º/12/20X8, no valor de US$ 1.000.000,00 (câmbio do dia R$ 1,00), com vencimento para 31/12/20X9. Como garantia, foi assinada uma nota promissória em moeda estrangeira. • Despesas cobradas pelo banco: comissão de 1% sobre o valor do empréstimo; despesas de cobrança: US$ 1.400,00. • Juros de 3% ao mês, a ser aplicado sobre a dívida já atualizada. • Sabe-se que em 31/12/20X8 o câmbio estava cotado em R$ 1,05. Tabela 29 – Contabilização do empréstimo e registro dos encargos em 1º/12/20X8 D – Bancos conta movimento 1.000.000,00 C – Nota promissória em moeda estrangeira a pagar 1.000.000,00 US$ 1.000.000,00 x R$ 1,00 = R$ 1.000.000,00 2) D – Despesas bancárias 11.400,00 C – Bancos conta movimento 11.400,00 Despesa de comissão 1% sobre R$ 1.000.000,00 R$ 10.000,00 Despesa de cobrança US$ 1.400,00 x R$ 1,00 = R$ 1.400,00 73 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Bancos conta movimento NP em moeda estrang. a pagar Sl 34.715,00 11.400,00 2) 1.000.000,00 1) 1) 1.000.000,00 1.023.315,00 Despesas bancárias 2) 11.400,00 Em 31/12/20X8, será necessário apropriar as despesas com a variação cambial e os juros, já incorridos e não pagos, cujo teor será o seguinte: Em primeiro lugar, faremos o registro da variação cambial, que se incorpora à própria conta original da dívida, ou seja: US$ 1.000.000,00 x R$ 1,00 = R$ 1.000.000,00 x R$ 1,05 = R$ 1.050.000,00 (Berbel, 2000). Vejamos como apurar a variação cambial: Variação cambial = dívida corrigida (–) dívida original R$ 1.050.000,00 – R$ 1.000.000,00 = R$ 50.000,00 Observação Se o valor da dívida corrigida for superior ao valor da dívida original, a diferença será uma perda, ou seja, a empresa passará a dever um valor superior à dívida contratada, devido à desvalorização do câmbio, gerando uma “variação cambial passiva”. Se for inferior, a diferença será um ganho. Então, a empresa passará a dever um valor inferior à dívida contratada, devido à valorização do câmbio, criando uma “variação cambial ativa”. Lembrete Os empréstimos em moeda nacional pós-fixados possuem os encargos financeiros (juros mais variação de indicadores) com lastro nacional. Já os feitos em moeda estrangeira têm encargos financeiros tomando-se como base a variação de uma moeda estrangeira, por exemplo, o dólar. 74 Unidade III Agora citamos o lançamento contábil da variação cambial. 1) D – variação cambial passiva = 50.000,00 C – nota promissória em moeda estrangeira a pagar = 50.000,00 Em seguida, devemos apurar o valor dos juros sobre o montante da dívida atualizada, ou seja, 3% a.m. R$ 1.050.000,00 x 0,03 = R$ 31.500,00 2) D – despesa de juros = 31.500,00 C – juros a pagar = 31.500,00 Variação cambial passiva NP em moeda estrang. a pagar 1) 50.000,00 1.000.000,00 Sl 50.000,00 1) 1.050.000,00 Despesas de juros Juros a pagar 2) 31.500,00 31.500,00 2) Tabela 30 – Representação no balanço patrimonial em 31/12/20X8 Ativo Passivo Circulante ... ... ... Não circulante Circulante ... ... ... Nota promissória em moeda estrangeira a pagar 1.050.000,00 Juros a pagar31.500,00 Não circulante Patrimônio líquido Total Total A empresa deverá acompanhar o valor do câmbio mensalmente para ajustar a dívida contraída até o respectivo vencimento, registrando as variações cambiais (passivas ou ativas) bem como os juros da operação. 75 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Se a organização não saldar sua dívida no vencimento, deverá registrar tanto a variação cambial quantos os juros (e outros encargos financeiros cobrados, por exemplo, multa por atraso de pagamento) até a data da respectiva quitação. 7.1.7 Exercício resolvido É preciso fazer todos os lançamentos contábeis relativos à seguinte operação financeira efetuada pela Cia. Trading: • Empréstimo no Banco Orange, em 1º/10/20X1, no valor de US$ 100.000,00 (câmbio do dia R$ 1,00), com vencimento para 30/11/20X1. Como garantia, foi assinada uma nota promissória em moeda estrangeira. • Despesas cobradas pelo banco: comissão de 2% sobre o valor do empréstimo; despesas de cobrança: US$ 100,00. • Juros de 3% ao mês, a serem aplicados sobre a dívida já atualizada. • Em 31/10/20X1, o câmbio estava cotado em R$ 1,10 (o real se desvalorizou em relação ao dólar em 10%). • A quitação do empréstimo ocorreu na data de seu vencimento, ou seja, em 30/11/20X1, ao câmbio cotado a R$ 0,95 (o real valorizou-se em relação ao dólar em praticamente 14%). Em 1º de outubro de 20X1, o Banco Orange enviou para a Cia. Trading os seguintes dados: R$ 100.000,00 relativos ao empréstimo; R$ 2.000,00 com despesa de comissão e R$ 100,00 com despesa de cobrança. Tabela 31 – Contabilização do empréstimo e registro dos encargos em 1º/10/20X1 D – Bancos conta movimento 100.000,00 C – Nota promissória em moeda estrangeira a pagar 100.000,00 US$ 1.000,00 x R$ 1,00 = R$ 1.000,00 2) D – Despesas bancárias 2.100,00 C – Bancos conta movimento 2.100,00 Despesa de comissão 2% sobre R$ 100.000,00 R$ 2.000,00 Despesa de cobrança US$ 100,00 x R$ 1,00 = R$ 100,00 76 Unidade III Bancos conta movimento NP em moeda estrang. a pagar Sl 2.218,00 2.100,00 2) 100.000,00 1) 1) 100.000,00 100.118,00 Despesas bancárias 2) 2.100,00 Em 31 de outubro de 20X1, o Banco Orange enviou outra notificação com as seguintes informações: R$ 10.000,00 relativos à atualização da dívida em 10% (variação do dólar de R$ 1,00 para R$ 1,10); R$ 3.300,00 de juros, considerando 3% ao mês sobre a dívida já atualizada; R$ 110.000,00 relativos ao débito do valor da dívida atualizada. Em primeiro lugar, faremos o registro da variação cambial, que se incorpora à própria conta original da dívida, ou seja: US$ 100.000,00 x R$ 1,00 = R$ 100.000,00 x R$ 1,10 = R$ 110.000,00 Veja como apurar a variação cambial: Variação cambial = dívida corrigida (–) dívida original R$ 110.000,00 – R$ 100.000,00 = R$ 10.000,00 (–) variação cambial passiva Agora acentuamos o lançamento contábil da variação cambial. 1) D – variação cambial passiva = 10.000,00 C – nota promissória em moeda estrangeira a pagar = 10.000,00 Em seguida, deve-se apurar o valor dos juros sobre o montante da dívida atualizada, ou seja, 3% a.m. R$ 110.000,00 x 0,03 = R$ 3.300,00 2) D – despesa de juros = 3.300,00 C – juros a pagar = 3.300,00 77 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Variação cambial passiva NP em moeda estrang. a pagar 1) 10.000,00 100.000,00 Sl 10.000,00 1) 110.000,00 Despesas de juros Juros a pagar 2) 3.300,00 3.300,00 2) Tabela 32 – Representação no balanço patrimonial em 31/10/20X1 Ativo Passivo Circulante ... ... ... Não circulante Circulante ... ... ... Nota promissória em moeda estrangeira a pagar 110.000,00 Juros a pagar 3.300,00 Não circulante Patrimônio líquido Total Total Em 30 de novembro de 20X1, a empresa fará a quitação de seu empréstimo, mas precisa contabilizar a variação cambial e os juros referentes ao mês de novembro para depois efetuar o pagamento de sua dívida. Lembrando que a dívida atualizada em 31 de outubro de 20X1 era de R$ 110.000,00, e o câmbio para 30 de novembro de 20X1 está em R$ 0,95. Em primeiro lugar, faremos o registro da variação cambial. Nesse instante, precisamos de uma atenção maior: a dívida original foi de US$ 100.000,00, que à época da contratação do empréstimo era equivalente a R$ 100.000,00 devido ao câmbio de R$ 1,00. Contudo, na data do pagamento da dívida, o câmbio foi reduzido a R$ 0,95, ou seja, houve uma valorização da nossa moeda (o real). Isso significa que, em valores da moeda corrente nacional, a dívida foi reduzida. Em outras palavras, teremos um ganho (variação monetária ativa) com a operação. Vejamos os cálculos tomando-se como base o saldo da dívida atualizada do período anterior: Valor da dívida original: US$ 100.000,00 x R$ 1,00 = R$ 100.000,00 78 Unidade III Valor da dívida na data do vencimento: US$ 100.000,00 x R$ 0,95 = R$ 95.000,00 Observe como apurar a variação cambial. Variação cambial = dívida corrigida (–) dívida original R$ 95.000,00 – R$ 100.000,00 = R$ 5.000,00 (–) variação cambial ativa Todavia, temos que analisar qual é o saldo atualizado da dívida até o momento de sua quitação e, assim, efetuar o ajuste da variação cambial. Dívida atualizada em 31 de outubro de 20X1 = R$ 110.000,00 (-) Valor atual da dívida em 30 de novembro de 20X1 = R$ 95.000,00 (=) Variação cambial ativa = R$ 15.000,00 Verifique como fazer o lançamento contábil da variação cambial. 1) D – nota promissória em moeda estrangeira a pagar = 15.000,00 C – variação cambial ativa = 15.000,00 Em seguida, é preciso apurar o valor dos juros sobre o montante da dívida atualizada, ou seja, 3% a.m. R$ 95.000,00 x 0,03 = R$ 2.850,00 2) D – despesa de juros = 2.850,00 C – juros a pagar = 2.850,00 Variação cambial ativa NP em moeda estrang. a pagar 15.000,00 1) 1) 15.000,00 110.000,00 Sl 95.000,00 Despesas de juros Juros a pagar 2) 2.850,00 3.300,00 Sl 2.850,00 2) 6.150,00 79 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Fizemos os razonetes para um melhor entendimento. Agora vamos realizar a quitação dos empréstimos: D – notas promissórias em moeda estrangeira a pagar = 95.000,00 D – juros a pagar = 6.150,00 C – bancos conta movimento = 101.150,00 Conforme demonstrado no último exemplo, um financiamento, quando contratado na modalidade pós-fixada, poderá obter ganhos ou perdas durante o período de sua contratação, estando a dívida sujeita à variação do indexador base (podendo ser relativo aos indicadores econômicos nacionais ou estrangeiros). Tal variação ocorre de acordo com o momento econômico e, hoje, podemos afirmar que, com uma economia globalizada, conhecer a ciência econômica tornou-se fator imprescindível para um bom contador. Quanto ao financiamento na modalidade prefixada, há uma previsão dos encargos financeiros por parte daquele que concede o empréstimo, cabendo ao responsável pela área financeira da empresa, em conjunto com o contador, tomar a melhor decisão – pré ou pós-fixado. Não se trata, portanto, de uma modalidade melhor do que outra. Para uma decisão desse porte, os agentes envolvidos devem analisar a situação mais favorável. Observação O CPC 12 – Ajuste a Valor Presente envolve contas do ativo e do passivo. Contudo, é preciso ressaltar que os pronunciamentos técnicos publicados pelo Comitê (CPC) devem ser aplicados para as sociedades anônimas em geral (capital aberto ou fechado) ou para as empresas classificadas como de grande porte (Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007) (Brasil, 2007). Para as pequenas e médias empresas, o CPC publicou uma edição especial, atendendo às necessidades dessas instituições que, na prática, representam mais de 80% das empresas registradas no País. Lembrete Se a organização não saldar sua dívida no vencimento, deverá registrar tanto a variação cambial quanto os juros (e outros encargos financeiros cobrados, por exemplo, multa por atraso de pagamento) até a data da respectiva quitação. 80 Unidade III8 APLICAÇÕES FINANCEIRAS – OPERAÇÕES PREFIXADAS Aplicação financeira é uma operação que visa a um retorno financeiro, ou seja, que com o tempo devolva não só o capital investido como também uma componente de retorno em excesso, a título de rendimentos (ou juros). Com o objetivo de auferir receitas financeiras, as empresas aplicam em bancos praticamente todo dinheiro que elas têm disponível. Em geral, são aplicações de curto prazo em fundos de investimentos, certificados de depósitos bancários etc. Essas operações financeiras podem ser contratadas a taxas prefixadas ou pós-fixadas. Nas operações prefixadas, no momento da aplicação, os contratantes já conhecem a taxa de juros efetiva em que está sendo efetuada a transação e, assim, sabem o quanto de rendimento terão sobre a aplicação que está sendo realizada. Quanto aos rendimentos auferidos sobre aplicações financeiras, a Receita Federal determina que uma parte seja retida pela instituição financeira em que a aplicação foi executada, que fica responsável para enviar o valor aos cofres da Receita Federal. O imposto retido tem a seguinte denominação: Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), e sua alíquota varia conforme o lastro ao qual a aplicação estiver vinculada. Por tratar-se de legislação específica, os exemplos contemplados neste livro-texto terão uma alíquota fictícia apenas para informar e contabilizar o IRRF e seu reflexo nas demonstrações financeiras. Saiba mais Para mais informações em relação ao (IRRF), sobre rendimentos auferidos em aplicações financeiras, bem como rendimentos isentos a esse tributo e ainda sobre os tipos de aplicações financeiras, consulte o site da Receita Federal: Disponível em: https://www.gov.br/receitafederal/pt-br. Acesso em: 16 jun. 2021. 8.1 Exemplo de operação com taxa de juros prefixada A Empresa Reis Souza Ltda. fez uma aplicação no Banco Intercontinental S/A no valor de R$ 500.000,00, em Certificado de Depósito Bancário (CDB), por 90 dias, a uma taxa de juros de 1,5% ao mês. O IRRF está na ordem de 4% sobre o rendimento total e será apurado somente na data do vencimento, seguindo a legislação vigente. • data da aplicação: 1º de junho de 20X6; • data do vencimento: 1º de setembro de 20X6. 81 CONTABILIDADE EMPRESARIAL É importante destacar: para os 90 dias em que ficarão aplicados os recursos, a empresa precisará reconhecer mensalmente a receita dos rendimentos fixados pela operação, mas proporcionalmente ao número de dias em que o dinheiro ficará aplicado. Assim, estará cumprindo uma exigência legal – o uso do regime de competência, principalmente, em relação ao registro das contas de resultado – despesas e receitas. A proporcionalidade dos rendimentos sobre a aplicação financeira ficará distribuída da seguinte maneira: Tabela 33 Junho/20X6 = 29 dias (30 dias – 1 data da aplicação) Julho/20X6 = 30 dias (mês comercial) Agosto/20X6 = 30 dias (mês comercial) Setembro/20X6 = 1 dia (vencimento da aplicação) Total = 90 dias de aplicação ou 3 meses Vejamos a contabilização da aplicação em 1º/6/20X6. 1) D – aplicações financeiras (AC) = 522.500,00 C – bancos conta movimento (AC) = 500.000,00 C – rendimento a apropriar (AC) = 22.500,00 Observação A conta de rendimento a apropriar mostra o quanto a empresa ganhará com a operação efetuada. Trata-se de uma conta redutora do ativo circulante, em que será demonstrado o quanto a empresa terá de rendimento até ao fim da aplicação, conforme ilustra o balanço patrimonial em 30/6/20X6. Agora vamos acentuar a contabilização do rendimento referente ao mês de junho/20X6, considerando sempre o regime de competência. Cálculo e contabilização dos rendimentos proporcionais a 29 dias do mês de junho/20X6: R$ 22.500,00/90 dias = 250 x 29 dias = R$ 7.250,00 2) D – rendimento a apropriar (AC) = 7.250,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira (DRE) = 7.250,00 82 Unidade III Aplicações financeiras Bancos conta movimento 1) 522.500,00 Sl 510.815,00 500.000,00 1) 10.815,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 2) 7.250,00 22.500,00 1) 7.250,00 2) 15.250,00 Tabela 34 – Representação no balanço patrimonial em 30/6/20X6 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 522.500,00 (-) Rendimentos a apropriar (15.250,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total A seguir, é preciso fazer a contabilização do rendimento referente ao mês de julho/20X6, sempre concebendo o regime de competência. Cálculo e contabilização dos rendimentos proporcionais a 30 dias do mês de julho/20X6: R$ 22.500,00/90 dias = 250 x 30 dias = R$ 7.500,00 1) D – rendimento a apropriar (AC) = 7.500,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira (DRE) = 7.500,00 Aplicações financeiras Rendimentos a apropriar Sl 522.500,00 1) 7.500,00 15.250,00 Sl 7.750,00 Rend. sobre apl. financeiras 7.500,00 1) 83 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Tabela 35 – Representação no balanço patrimonial em 31/7/20X6 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 522.500,00 (-) Rendimentos a apropriar (7.750,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total Deve-se efetuar a contabilização do rendimento referente ao mês de agosto/20X6, também levanto em consideração o regime de competência. Cálculo e contabilização dos rendimentos proporcionais a 30 dias do mês de agosto/20X6: R$ 22.500,00/90 dias = 250 x 30 dias = R$ 7.500,00 1) D – rendimento a apropriar (AC) = 7.500,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira (DRE) = 7.500,00 Aplicações financeiras Rendimentos a apropriar Sl 522.500,00 1) 7.500,00 7.750,00 Sl 250,00 Rend. sobre apl. financeiras 7.500,00 1) Tabela 36 – Representação no balanço patrimonial em 31/8/20X6 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 522.500,00 (-) Rendimentos a apropriar (250,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total 84 Unidade III Contabilização do resgate da aplicação em 1º de setembro de 20X6, no qual, além de considerar o rendimento apenas sobre um dia, haverá a retenção do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre o total dos rendimentos auferidos, referente aos 90 dias que o montante de R$ 500.000,00 ficou aplicado. Cálculo e contabilização dos rendimentos proporcionais a um dia do mês de setembro/20X6: R$ 22.500,00/90 dias = 250 x 1 dia = R$ 250,00 1) D – rendimento a apropriar (AC) = 250,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira (DRE) = 250,00 Cálculo e contabilização de 4% do IRRF sobre o rendimento total da operação e resgate da aplicação financeira executada: R$ 22.500,00 x 0,04 = R$ 900,00 2) D – bancos conta movimento (AC) = 521.600,00 D – IRRF a recuperar (AC) = 900,00 C – aplicações financeiras (AC) = 522.500,00 Aplicações financeiras Rendimentos a apropriar Sl 522.500,00 522.500,00 2) 1) 250,00 250,00 Sl Rend. sobre apl. financeiras Bancos conta movimento 250,00 1) Sl 4.872,00 2) 521.600,00 526.472,00 IRRF a recuperar 1) 900,00 85 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Tabela 37 – Representação no balanço patrimonial em 30/9/20X6 Ativo Passivo Circulante ... ... IRRF a recuperar 900,00 Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total Observação O IRRF a recuperar registrado no balanço patrimonial poderá ser compensado com o Imposto de Renda Pessoa Jurídica a Pagar (imposto calculado sobre o resultado apurado no período) ou com quaisquer outros tributos federais, conforme determina a legislação vigente. 8.1.1 Exercício resolvido A Cia. Gama efetuou a seguinte aplicação financeira: • 1º/12/20X6 – data da aplicação. • R$ 100.000,00 – valor da aplicação. • 0,75% a.m. – taxa de juros simples. • 31/7/20X7 – vencimento daaplicação. • 4% de IRRF sobre rendimento total. A proporcionalidade dos rendimentos sobre a aplicação financeira ficará assim distribuída: Tabela 38 Dezembro/20X6 = 29 dias (30 dias – 1 data da aplicação) Janeiro/20X7 = 30 dias (mês comercial) Fevereiro/20X7 = 30 dias (mês comercial) Março/20X7 = 30 dias (mês comercial) Abril/20X7 = 30 dias (mês comercial) Maio/20X7 = 30 dias (mês comercial) Junho/20X7 = 30 dias (mês comercial) Julho/20X7 = 31 dias (vencimento da aplicação) Total = 240 dias de aplicação ou 8 meses 86 Unidade III Pede-se: contabilizar a aplicação financeira, respeitando o regime de competência, e demonstrar os efeitos da operação, mensalmente, no balanço patrimonial: • Contabilização da aplicação financeira em 1º/12/20X6 1) D – aplicação financeira = 100.000,00 C – bancos conta movimento = 100.000,00 Deve-se calcular e contabilizar os juros prefixados: R$ 100.000,00 x 6% = R$ 6.000,00 2) D – aplicação financeira = 6.000,00 C – rendimentos a apropriar = 6.000,00 Aplicações financeiras Bancos conta movimento 1) 100.000,00 Sl 105.209,00 100.000,00 1) 2) 6.000,00 5.209,00 106.000,00 Rendimentos a apropriar 6.000,00 2) • Contabilização do rendimento referente ao mês de dezembro/20X6, considerando sempre o regime de competência É preciso calcular e contabilizar os rendimentos proporcionais a 29 dias do mês de dezembro/20X6: R$ 6.000,00/240 dias = 25 x 29 dias = R$ 725,00 3) D – rendimento a apropriar = 725,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 725,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 2) 725,00 6.000,00 2) 725,00 5.275,00 87 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Tabela 39 – Representação no balanço patrimonial em 31/12/20X6 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 100.000,00 (-) Rendimentos a apropriar (5.275,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total • Contabilização do rendimento referente ao mês de janeiro/20X7, atendendo-se sempre ao regime de competência Deve-se calcular e contabilizar os rendimentos proporcionais a 30 dias do mês de janeiro/20X7: R$ 6.000,00/240 dias = 25 x 30 dias = R$ 750,00 1) D – rendimento a apropriar = 750,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 750,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 1) 750,00 5.275,00 SI 750,00 1) 4.525,00 Tabela 40 – Representação no balanço patrimonial em 31/1/20X7 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 100.000,00 (-) Rendimentos a apropriar (4.525,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total 88 Unidade III • Contabilização do rendimento referente ao mês de fevereiro/20X7, respeitando sempre o regime de competência É necessário calcular e contabilizar os rendimentos proporcionais a 30 dias do mês de fevereiro/20X7: R$ 6.000,00/240 dias = 25 x 30 dias = R$ 750,00 1) D – rendimento a apropriar = 750,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 750,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 1) 750,00 4.525,00 SI 750,00 1) 3.775,00 Tabela 41 – Representação no balanço patrimonial em 28/2/20X7 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 100.000,00 (-) Rendimentos a apropriar (3.775,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total • Contabilização do rendimento referente ao mês de março/20X7, considerando sempre o regime de competência É preciso calcular e contabilizar os rendimentos proporcionais a 30 dias do mês de março/20X7: R$ 6.000,00/240 dias = 25 x 30 dias = R$ 750,00 1) D – rendimento a apropriar = 750,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 750,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 1) 750,00 3.775,00 SI 750,00 1) 3.025,00 89 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Tabela 42 – Representação no balanço patrimonial em 31/3/20X7 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 100.000,00 (-) Rendimentos a apropriar (3.025,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total • Contabilização do rendimento referente ao mês de abril/20X7, atendendo sempre o regime de competência É necessário calcular e contabilizar os rendimentos proporcionais a 30 dias do mês de abril/20X7: R$ 6.000,00/240 dias = 25 x 30 dias = R$ 750,00 1) D – rendimento a apropriar = 750,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 750,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 1) 750,00 3.025,00 SI 750,00 1) 2.275,00 Tabela 43 – Representação no balanço patrimonial em 30/4/20X7 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 100.000,00 (-) Rendimentos a apropriar (2.275,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total 90 Unidade III • Contabilização do rendimento referente ao mês de maio/20X7, considerando sempre o regime de competência Deve-se calcular e contabilizar os rendimentos proporcionais a 30 dias do mês de maio/20X7: R$ 6.000,00/240 dias = 25 x 30 dias = R$ 750,00 1) D – rendimento a apropriar = 750,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 750,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 1) 750,00 2.275,00 SI 750,00 1) 1.525,00 Tabela 44 – Representação no balanço patrimonial em 31/5/20X7 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 100.000,00 (-) Rendimentos a apropriar (1.525,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total • Contabilização do rendimento referente ao mês de junho/20X7, respeitando sempre o regime de competência É preciso calcular e contabilizar os rendimentos proporcionais a 30 dias do mês de junho/20X7: R$ 6.000,00/240 dias = 25 x 30 dias = R$ 750,00 1) D – rendimento a apropriar = 750,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 750,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 1) 750,00 1.525,00 SI 750,00 1) 775,00 91 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Tabela 45 – Representação no balanço patrimonial em 30/6/20X7 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 100.000,00 (-) Rendimentos a apropriar (775,00) Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total • Contabilização do rendimento referente ao mês de julho/20X7, considerando sempre o regime de competência e também no vencimento da aplicação: 31/7/20X6 Deve-se calcular e contabilizar os rendimentos proporcionais a 31 dias do mês de julho/20X6: R$ 6.000,00/240 dias = 25 x 31 dias = R$ 775,00 1) D – rendimento a apropriar = 775,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 775,00 Então, é necessário calcular e contabilizar os 4% do IRRF sobre o rendimento total da operação, bem como o resgate da aplicação financeira: R$ 6.000,00 x 0,04 = R$ 240,00 2) D – bancos conta movimento = 105.760,00 D – IRRF a recuperar = 240,00 C – aplicações financeiras = 106.000,00 Rendimentos a apropriar Rend. sobre apl. financeiras 1) 775,00 775,00 Sl 775,00 1) Bancos conta movimento IRRF a recuperar Sl 2.118,00 2) 240,00 2) 105.760,00 107.878,00 Aplicação financeira Sl 106.000,00 106.000,00 2) 92 Unidade III Tabela 46 – Representação no balanço patrimonial em 31/7/20X7 Ativo Passivo Circulante ... ... IRRF a recuperar 240,00 Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total No Brasil, é muito forte o emprego dos agentes públicos como fonte de financiamento das empresas. Praticamente todo o financiamento empresarial é realizado via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Saiba mais Para verificar o que acentuamos, acesse: Disponível em: http://www.bndes.gov.br. Acessoem: 16 jun. 2021. 8.2 Aplicações financeiras – operações pós-fixadas Conforme estudamos, o que difere uma operação prefixada da pós-fixada nada mais é do que a maneira como se aplica a taxa de juros. Na prefixada, conhecem-se, no ato da operação, tanto os juros a serem pagos sobre os empréstimos contratados quanto os rendimentos sobre uma aplicação financeira efetuada. É preciso destacar um item: para as operações prefixadas, embute-se na taxa de juros uma expectativa inflacionária; para as pós-fixadas, tem-se somente a taxa de juros, ficando a representação da inflação exatamente registrada pela sua efetiva variação, podendo gerar um ganho ou uma perda inflacionária, ou seja, uma variação monetária ativa ou passiva, respectivamente. Assim, nas operações pós-fixadas, é aplicada uma taxa de juros mais um índice de preços, seja em relação a uma moeda estrangeira, seja a quaisquer outros indicadores econômicos (acordados entre as partes), que venha identificar a variação inflacionária do período contratado para a operação, independentemente do tipo de operação – financiamentos e/ou aplicações financeiras. 8.2.1 Exemplo: aplicação financeira com rendimento pós-fixado A empresa Reis Souza Ltda. fez uma aplicação no Banco Intercontinental S/A, no valor de R$ 200.000,00, com variação monetária com base no CDB mais juros de 1% ao mês sobre o valor atualizado (para fins didáticos, utilizaremos o método de juros simples). 93 CONTABILIDADE EMPRESARIAL • Data da aplicação: 5 de abril de 20X6. • Data do resgate: 2 de outubro de 20X6. • Juros de 1% ao mês, total de 6% (abril a outubro). • Variação do CDB no período: 9%. • IRRF sobre o total dos rendimentos: 4%. Agora faremos a contabilização da aplicação em 5/4/20X6. 1) D – aplicação financeira = 200.000,00 C – bancos conta movimento = 200.000,00 Aplicação financeira Bancos conta movimento 1) 200.000,00 Sl 203.122,00 200.000,00 1) 3.122,00 Tabela 47 – Representação no balanço patrimonial em 30/4/20X6 Ativo Passivo Circulante ... ... Aplicação financeira 200.000,00 Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total Acentuamos a seguir o cálculo e a contabilização das receitas auferidas somente na data do resgate da aplicação financeira: Variação monetária ativa = variação do CDB no período de 9%. R$ 200.000,00 x 0,09 = R$ 18.000,00 (ganho) Rendimentos = juros de 1% a.m = 6% sobre o valor da aplicação atualizada. R$ 218.000,00 x 0,06 = R$ 13.080,00. 94 Unidade III 1) D – aplicações financeiras = 31.080,00 C – variação monetária ativa = 18.000,00 C – rendimentos sobre aplicação financeira = 13.080,00 Observação Para fins didáticos, o resultado sobre a aplicação financeira, ganhos e rendimentos foram registrados no fim da operação. Contudo, numa situação empresarial, deve-se acompanhar a variação do índice escolhido para a operação e registrar mensalmente os ganhos, mesmo que sejam de forma aproximada, atendendo, assim, ao regime de competência. Ao fim da operação, serão feitos os devidos ajustes. Vejamos o cálculo e a contabilização do IRRF sobre o valor total dos rendimentos, bem como o resgate da operação de aplicação financeira em 2/10/20X6. IRRF sobre os rendimentos (R$ 31.080,00 x 0,04 = R$ 1.243,00) 2) D – bancos conta movimento = 229.837,00 D – IRRF a recuperar = 1.243,00 C – aplicações financeiras = 231.080,00 Aplicação financeira Bancos conta movimento Sl 200.000,00 231.080,00 2) Sl 8.487,00 1) 31.080,00 2) 229.837,00 238.324,00 Variação monetária ativa Rend. sobre apl. financeiras 18.000,00 1) 13.080,00 1) IRRF a recuperar 3) 1.243,00 95 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Tabela 48 – Representação no balanço patrimonial em 31/10/20X6 Ativo Passivo Circulante ... ... IRRF a recuperar 1.243,00 Não circulante Circulante ... ... Não circulante Patrimônio líquido Total Total Saiba mais Há um esforço do governo brasileiro em aumentar o financiamento privado no País. Em sua dissertação de mestrado, o pesquisador João Roberto Borin analisa o mercado privado de financiamento brasileiro: BORIN, J. R. O investimento empresarial privado no Brasil: um estudo de caso. Lume, 2003. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/4193. Acesso em: 23 mar. 2018. 8.2.2 Exercício resolvido A Cia. Beta S/A fez a seguinte aplicação financeira: • 1º/10/20X7 – data da aplicação. • R$ 50.000,00 – valor da aplicação. • 2% a.m. – variação do IGPM/FGV no período. • 1% a.m. – taxa de juros simples. • 31/12/20X7 – data do resgate. • IRRF sobre o total dos rendimentos: 4%. 96 Unidade III Pede-se: contabilizar toda operação – aplicação, atualização e resgate. 1) Contabilização da aplicação financeira em 1º/10/20X7: D – aplicação financeira = 50.000,00 C – bancos conta movimento = 50.000,00 2) Calcular e contabilizar a atualização da aplicação financeira pela variação do IGP-M até o resgate em 31/12/20X7: R$ 50.000,00 x 0,06 = R$ 3.000,00 D – aplicação financeira = 3.000,00 C – variação monetária Ativa = 3.000,00 3) Calcular e contabilizar os juros até o resgate em 31/12/20X7: R$ 53.000,00 x 0,03 = R$ 1.590,00 D – aplicação financeira = 1.590,00 C – rendimentos com aplicação financeira = 1.590,00 4) Calcular e contabilizar tanto o IRRF sobre os rendimentos quanto o resgate: IRRF equivale a: R$ 4.590,00 x 0,04 = R$ 183,00: D – bancos conta movimento = 54.407,00 D – IRRF a recuperar = 183,00 C – aplicação financeira = 54.590,00 Aplicação financeira Bancos conta movimento 1) 50.000,00 54.590,00 4) Sl 52.321,00 50.000,00 1) 2) 3.000,00 4) 54.407,00 3) 1.590,00 56.728,00 Variação monetária ativa Rend. sobre apl. financeiras 3.000,00 2) 1.590,00 3) IRRF a recuperar 4) 183,00 97 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Razonetes Em relação às aplicações financeiras, além dos CPC Conceitual Básico, Ajuste a Valor Presente e sobre as Pequenas e Médias Empresas, o CPC Custos de Transação e Prêmios na Emissão de Títulos e Valores Mobiliários deverá ser utilizado sobre as transações realizadas pelas sociedades anônimas (capital aberto ou fechado) e empresas de grande porte, conforme determina a Lei n. 11.638 de 28 de dezembro de 2007 (Brasil, 2007). Todos eles estão em Pronunciamentos Técnicos Contábeis (2012). Saiba mais Para consultar a lei na íntegra, leia: BRASIL. Lei n. 11.638 de 28 de dezembro de 2007. Brasília, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3wxc28g. Acesso em: 25 mar. 2018. Exemplo de aplicação 1) Defina, resumidamente, o que é cobrança. 2) Imagine a seguinte situação: você é procurado(a) pelo departamento de relações públicas da empresa em que trabalha para participar de uma matéria jornalística. No dia seguinte, uma conhecida jornalista faz-lhe a seguinte pergunta: – Quais as principais opções de financiamento que as empresas dispõem no momento atual e quais as vantagens de cada um deles? Como você responderia a essa pergunta? 98 Unidade III Resumo Nesta unidade, examinamos os financiamentos pós-fixados. Vimos que os empréstimos em moeda nacional pós-fixados possuem os encargos financeiros (juros mais variação de indicadores) com lastro nacional, já os executados em moeda estrangeira têm encargos financeiros tomando-se como base a variação de uma moeda estrangeira, por exemplo, o dólar. Continuando nossa análise, acentuamos as diferenças entre os principais indicadores econômicos, como IPCA, IGP, INPC etc. Destacamos que se a organização não saldar sua dívida no vencimento, deverá registrar tanto a variação cambial quantos os juros (e outros encargos financeiros cobrados, por exemplo, multa por atraso de pagamento) até a data da respectiva quitação. Por fim, discutimos as aplicações financeiras pré e pós-fixadas. O que difere uma operação prefixada da pós-fixada nada mais é do que a maneira como se aplica a taxa de juros. Na prefixada, conhecem-se, no ato da operação, tantoos juros a serem pagos sobre os empréstimos contratados quanto os rendimentos sobre uma aplicação financeira efetuada. Para esclarecer o conteúdo abordado, indicamos a contabilização do rendimento e sua representação no balanço patrimonial. 99 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Exercícios Questão 1. (Enade 2006) A empresa comercial Aurora Ltda. negociou, em 31.12.2005, uma operação de desconto de duplicatas no valor total de R$ 1.500.000, distribuídos conforme o fluxo de vencimento das duplicatas a seguir: 0 30 dias R$ 400.000 60 dias R$ 600.000 90 dias R$ 500.000 Figura 2 Nessa operação, a instituição financeira cobrou e recebeu juros antecipados no valor de R$ 155.000, calculados à taxa de 5% ao mês (juros simples), e taxas de serviços de R$ 500. Se a empresa encerrou o seu exercício contábil ao fim de dezembro, qual foi o efeito do registro dessa operação em suas demonstrações contábeis? A) Diminuição no resultado do exercício no valor de R$ 155.500. B) Diminuição no ativo no valor de R$ 155.500. C) Diminuição no ativo circulante no valor de R$ 500. D) Aumento de despesas financeiras no valor de R$ 155.000. E) Aumento do passivo circulante no valor de R$ 500. Resposta correta: alternativa C. Análise da questão Uma operação de descontos permite que a empresa antecipe o recebimento de duplicatas vencíveis em épocas futuras, com a dedução dos juros e da comissão de serviços. A operação, porém, não deve ser baixada do ativo da empresa, considerando que ela é responsável pelo reembolso ao banco caso uma ou mais duplicatas não sejam pagas pelo cliente devedor (denominado “sacado” na operação). Cria-se uma conta retificadora, denominada “duplicatas descontadas”, deduzida do saldo integral da conta de “clientes ou duplicatas a receber”. 100 Unidade III O total de juros pagos pela empresa não afeta o seu resultado no exercício de 2005, considerando que a competência de suas apurações é posterior àquele ano. O que altera o resultado de 2005 é apenas a taxa de serviços cobrada pelo banco para a realização da operação (R$ 500), que foi paga com recursos do ativo circulante, existentes em 31/12 daquele ano. Questão 2. (Enade 2009, adaptada) Constantemente, empresários encontram problemas na gestão de suas empresas. Todavia, aqueles relacionados à área financeira merecem atenção cuidadosa, uma vez que a empresa depende de recursos financeiros para continuar suas atividades. Caso os negócios da empresa não estejam bem e for necessário recorrer a empréstimos para a manutenção de sua atividade, o mercado financeiro será uma opção para captação de recursos. Alternativamente, caso os recursos financeiros da empresa sejam excedentes e não haja interesse no aumento de investimentos em sua atividade principal, será possível efetuar investimentos em diversas opções do mercado financeiro. Sobre o assunto operações financeiras, leia as afirmativas a seguir: I – Diretores financeiros são responsáveis por decisões acerca de como investir os recursos de uma empresa para expandir seus negócios e sobre como obter tais recursos. Investidores são instituições financeiras ou indivíduos que financiam os investimentos feitos pelas empresas e governos. Assim, decisões de investimento tomadas por diretores financeiros e investidores são, normalmente, semelhantes. porque II – As decisões de investimento dos diretores financeiros focalizam os ativos financeiros (ações e títulos de dívidas), enquanto as decisões de investimento dos investidores focalizam ativos reais (edificações, máquinas, computadores etc.). Com base nas asserções, é correto afirmar que: A) A primeira é falsa, e a segunda é verdadeira. B) A primeira é verdadeira, e a segunda é falsa. C) As duas são falsas. D) As duas são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. E) As duas são verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. Resposta correta: alternativa C. 101 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Análise das afirmativas I) Afirmativa incorreta. Justificativa: via de regra, pelo mercado financeiro os indivíduos financiam investimentos feitos pelas empresas e governos ao adquirem parcela do capital da empresa ou títulos da dívida pública. Nessa operação, cabe às instituições financeiras o papel de intermediador – e não o de investidor. Ademais, decisões de investimento tomadas por diretores financeiros e investidores não são semelhantes, pois enquanto diretores financeiros apresentam preocupação com a administração do capital da empresa e com sua operação de forma geral, os investidores preocupam-se apenas com o retorno financeiro do investimento efetuado, e não com a atividade empresarial. II) Afirmativa incorreta. Justificativa: as decisões de investimento dos diretores financeiros focalizam ativos reais, ou seja, todos os ativos que serão utilizados para que a empresa possa desenvolver sua atividade e gerar lucros. Por outro lado, as decisões de investimento dos investidores focalizam ativos puramente financeiros, a exemplo de ações e títulos de dívida. A afirmativa está incorreta por trocar os objetivos dos dois tipos de agentes. 102 REFERÊNCIAS Textuais BERBEL, J. D. S. Contabilidade comercial. Apostila do curso de Contabilidade. São Paulo: Faculdades Integradas Tibiriçá, 2000. BORIN, J. R. O investimento empresarial privado no Brasil: um estudo de caso. Lume, 2003. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/4193. Acesso em: 23 mar. 2018. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em: https://bit.ly/2SIxKY1. Acesso em: 31 mar. 2018. BRASIL. Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999. Brasília, 1999. Disponível em: https://bit.ly/3vvCT35. Acesso em: 22 mar. 2018. BRASIL. Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Rio de Janeiro, 1943. Disponível em: https://bit.ly/3zwrCmq. Acesso em: 29 mar. 2018. BRASIL. Decreto n. 9.580, de 22 de novembro de 2018. Brasília, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3gwqiXO. Acesso em: 16 jun. 2021. BRASIL. Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998. Brasília, 1998. Disponível em: https://bit.ly/2UgDDMN. Acesso em: 9 abr. 2018. BRASIL. IRPF (Imposto sobre a renda das pessoas físicas). Brasília: Receita Federal, 6 dez. 2017a. Disponível em: https://bit.ly/3zxzHY8. 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Duplicatas a receber Vendas de mercadorias 1 34.500 34.500 1 18.000 4 Saldo 16.500 Custo das mercadorias vendidas Estoques 1a 14.750 14.750 1a Títulos em cobrança Endossos para cobrança 2 34.500 34.500 5 5 34.500 34.500 2 Despesas de cobrança Bancos conta movimento 3 2.000 2.000 3 4 18.000 110 7 Despesas de protesto 6 110 106 107 108 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000