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Segurança do Paciente e Biossegurança MARIANA ZANCAN 1ª Edição Brasília/DF - 2023 Autores Mariana Zancan Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4 Introdução ..............................................................................................................................................................................6 Capítulo 1 A biossegurança e a biossegurança em saúde ....................................................................................................9 Capítulo 2 Biossegurança em Saúde e a Gestão do Risco Hospitalar ........................................................................... 20 Capítulo 3 Saúde Ocupacional dos Profissionais de Saúde .............................................................................................. 31 Capítulo 4 Gestão de resíduos ..................................................................................................................................................... 44 Capítulo 5 Comissão de controle de infecção hospitalar ................................................................................................... 54 Capítulo 6 Desafios na área da biossegurança em saúde .................................................................................................. 69 Referências .......................................................................................................................................................................... 78 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Gotas de Conhecimento Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento, cápsulas de conhecimento etc. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução A segurança do paciente e a biossegurança são temas críticos e interconectados na área da saúde. A segurança do paciente se refere à prevenção de erros e danos associados à assistência médica, enquanto a biossegurança envolve a proteção dos pacientes, profissionais da saúde e do ambiente contra riscos biológicos. A segurança do paciente é uma prioridade global de saúde pública e é fundamental para a qualidade da assistência médica. É reconhecido que os pacientes podem ser prejudicados durante o processo de assistência médica, e a maioria desses incidentes são evitáveis. A biossegurança, por sua vez, envolve a prevenção da propagação de agentes infecciosos, proteção contra exposição ocupacional e ambiental a materiais biológicos, e a implementação de medidas de contenção para prevenir a disseminação de patógenos em um ambiente de saúde. A interconexão entre segurança do paciente e biossegurança se dá pelo fato de os pacientes estarem expostos a riscos biológicos durante a assistência médica, seja pelo contato com profissionais de saúde ou pelo uso de equipamentos e dispositivos médicos. A falta de práticas de biossegurança pode aumentar a incidência de infecções associadas à assistência médica, o que pode levar a complicações e até desfecho não favorável do paciente. Para garantir a segurança do paciente e a biossegurança, é necessário implementar uma abordagem sistemática e integrada que envolve a adoção de práticas baseadas em evidências, políticas e procedimentos claros, treinamento e educação dos profissionais de saúde, monitoramento e avaliação contínua, além da aplicação de tecnologias inovadoras para melhorar a segurança do paciente e a biossegurança. Em resumo, a segurança do paciente e a biossegurança são temas críticos e interconectados na área da saúde. A implementação de práticas eficazes de biossegurança é fundamental para prevenir a propagação de doenças infecciosas e proteger a saúde dos pacientes, enquanto a segurança do paciente é fundamental para prevenir erros e danos associados à assistência médica. Ambos são essenciais para garantir a qualidade da assistência médica e proteger a saúde dos pacientes e profissionais da saúde. 7 IntRODuçãO Objetivos » Entender o conceito de biossegurança e biossegurança em saúde. » Elucidar os tipos de risco no ambiente hospitalar. » Compreender a gestão dos Riscos nos Serviços Hospitalares. » Aprender sobre a normatização do Ministério do Trabalho para garantia da saúde ocupacional. » Explicar a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e suas atividades dentro da instituição. » Discutir os desafios na área da Biossegurança em Saúde. 8 9 Introdução Ao entender a importância da segurança em ambientes de saúde, a biossegurança tem como um de seus principais objetivos a porposta de criação e manutenção desses locais de forma segura. Para atingir esse fim, diversas medidas devem ser adotadas, abrangendo diferentes tipos de ambiente. No Brasil, a legislação relacionada à biossegurança é relativamente recente, tendo iniciado com ações específicas voltadas a essa área nos anos 1980. A primeira Lei de Biossegurança foi publicada em 1995, sendo posteriormente revogada pela segunda lei, em 2005. Neste capítulo, serão abordados os aspectos legais relacionados à biossegurança, bem como as interfaces que envolvem a aplicação da biossegurança na prática diária. Objetivos » Descrever os principais conceitos e definições utilizados nessa área. » Estudar a classificação de risco biológico e os níveis de biossegurança. » Conhecer as principais legislações relacionadas à biossegurança no Brasil. 1.1 Conceitos de biossegurança A biossegurança engloba um conjunto de medidas, técnicas, equipamentos, dispositivos, metodologias e procedimentos que têm como objetivo eliminar ou reduzir os riscos inerentes que podem afetar a saúde humana.21. Saúde mental no ambiente de trabalho. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hands-holding-green-happy-smile-face-2029247285. 42 CAPÍTULO 3 • SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE É fato que o trabalho é essencial para o ser humano, pois é por meio dele que o indivíduo se coloca na sociedade e constrói sua identidade, autoestima e bem-estar psicológico. Desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, o trabalho tem sido uma parte fundamental da vida das pessoas. Embora seja uma conquista, o trabalho também pode causar desgaste mental ao longo do tempo. Todos os trabalhadores estão sujeitos ao desenvolvimento de doenças ocupacionais, não apenas devido às pressões do ambiente de trabalho, mas também a situações adversas em outros aspectos da vida, como problemas familiares ou interpessoais. Desde o momento do nascimento, o ser humano é constantemente influenciado pelo ambiente, pelas pessoas ao seu redor e pelo seu próprio organismo. Essas influências provocam uma série de reações essenciais para a sua sobrevivência. Conforme o indivíduo vai envelhecendo, ele se adapta gradualmente ao mundo. Essas adaptações podem ocorrer de maneira tranquila ou problemática, dependendo da natureza dos estímulos recebidos. Figura 22. Assistência especializada. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/close-psychiatrist-hands-together-holding-palm-1918859816. No atual cenário empresarial, caracterizado por inovações frequentes e crescente pressão sobre os trabalhadores, a busca por melhorias na produtividade e competitividade em nível global vem intensificando-se. Tal fato tem contribuído para o aumento da incidência de doenças ocupacionais, demandando atenção por parte das lideranças empresariais. Nesse sentido, a pesquisa de clima organizacional tem sido amplamente empregada como ferramenta para minimizar os efeitos negativos sobre o desempenho dos profissionais. 43 SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE • CAPÍTULO 3 Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » A Norma Regulamentadora 32 (NR 32) foi aprovada em 2005 e tem como foco a segurança do profissional da área da saúde. Essa norma estabelece diretrizes para a implementação de medidas de proteção em estabelecimentos de saúde, a fim de garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores. O objetivo principal da NR 32 é regulamentar os riscos de exposição ocupacional a agentes biológicos, químicos e físicos, bem como a gestão adequada de resíduos gerados nos serviços de saúde. Além disso, a norma estabelece padrões para garantir o conforto em refeitórios, lavanderias, limpeza e manutenção de máquinas e equipamentos. » Ao conhecer o papel dos profissionais que compõem a equipe do SESMT, é possível elaborar as ações de prevenção, promoção e proteção da saúde dos trabalhadores que estão expostos a riscos ocupacionais nos ambientes de trabalho. Dessa forma, cada profissional, de acordo com suas competências e atribuições, deve planejar e executar o seu papel, visando eliminar ou minimizar os riscos oriundos das atividades laborais, para melhor qualidade de vida e trabalho do indivíduo. » Em razão da ocorrência de acidentes de trabalho e do surgimento recorrente de doenças ocupacionais em diferentes atividades e contextos laborais, a saúde e a segurança foram ganhando importância. Inicialmente, surgiram comissões para discutir sua importância e, posteriormente, normas jurídicas e programas de saúde e segurança ocupacional, obrigatórios pela legislação, com a finalidade de reduzir acidentes e doenças ocupacionais. 44 Introdução O gerenciamento de resíduos sólidos é um desafio para as cidades, que produzem toneladas de lixo todos os dias. Os aterros sanitários já não são suficientes para comportar toda a quantidade de resíduos, o que torna ainda mais urgente a necessidade de se adotar medidas eficazes para o descarte adequado. O impacto ambiental gerado pelo descarte inadequado de lixo é grande, tanto em curto quanto em longo prazo, o que aumenta a importância da conscientização sobre a necessidade de reduzir a quantidade de resíduos produzidos. Essa conscientização deve ser promovida tanto pelo poder público quanto pela sociedade em geral, com medidas de preservação do meio ambiente sendo implementadas em todas as esferas. Os resíduos sólidos do serviço de saúde são, sem dúvida, um dos grandes desafios para gerenciar em uma instituição de saúde. O impacto dos resíduos hospitalares no meio ambiente e o risco de contaminação são reais se as normas e a regulamentação não forem devidamente observadas. Dessa forma, na evolução do manejo correto dos resíduos sólidos em saúde, a legislação avançou, determinando a necessidade de planejamento específico e tratamento minucioso. A implementação de ações como a coleta seletiva e a logística reversa, aliadas a campanhas de conscientização da sociedade, são medidas eficazes para lidar com o problema do descarte inadequado de lixo. Além disso, é importante lembrar que o descarte irregular de resíduos sólidos pode trazer consequências graves à saúde humana e ao meio ambiente, tanto de forma direta quanto indireta. Neste capítulo, vamos estudar as fontes de resíduos hospitalares. São resíduos que apresentam características distintas, inclusive quanto à periculosidade, mas interferem diretamente na qualidade de vida e na saúde da sociedade. Objetivos » Relacionar os processos de segregação, tratamento e destinação final dos resíduos hospitalares. 4CAPÍTULO GEStãO DE RESÍDuOS 45 GEStãO DE RESÍDuOS • CAPÍTULO 4 » Compreender a importância da gestão correta dos resíduos hospitalares. » Identificar as interferências que os resíduos domésticos e hospitalares causam na saúde e na sociedade. 4.1 Resíduos sólidos de serviços de saúde e regulamentação As instituições de saúde são responsáveis pela geração dos resíduos sólidos de serviços de saúde. A produção desse tipo de resíduo pode provocar a contaminação do ambiente hospitalar e, se o manejo não for correto, também a contaminação ambiental, impactando a saúde pública. Esses aspectos negativos podem ser observados em muitas partes do Brasil, quando a legislação não é corretamente obedecida e não há investimento adequado para o manejo seguro desse material. Figura 23. Resíduos hospitalares. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/photo-boxes-hospital-shows-medical-waste-73758964. De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n. 222/2018, o manejo dos resíduos de serviços de saúde refere-se a: [...] atividade de manuseio dos resíduos de serviços de saúde, cujas etapas são a segregação, acondicionamento, identificação, transporte interno, armazenamento temporário, armazenamento externo, coleta interna, transporte externo, destinação e disposição final ambientalmente adequada dos resíduos de serviços de saúde (Brasil, 2018, p. 5). De acordo com o “Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde”, os resíduos de serviços de saúde são produtos dos serviços de prestadores de assistência tanto humana quanto animal. Entretanto, esses resíduos nem sempre estarão em estado sólido: 46 CAPÍTULO 4 • GEStãO DE RESÍDuOS [...] resíduos nos estados sólido e semissólido que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola e de serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (Brasil, 2006, p. 19). Os resíduos sólidos podem ser classificados de acordo com sua origem: “industrial, doméstica, hospitalar, pública, comercial, agrícola, de serviços e varrição” (ABNT, 2004), conforme determina a AssociaçãoBrasileira de Normas Técnicas (ABNT). Nesse sentido, cabe destacar que os resíduos sólidos de origem hospitalar representam cerca de 1% a 2% do volume total de resíduos gerados de outras origens, mas têm características próprias que podem causar riscos ao meio ambiente e à saúde pública. Se os resíduos de origem hospitalar não forem adequadamente coletados, armazenados e eliminados, podem contaminar pacientes, profissionais e toda a instituição de saúde, podendo, ainda, tornar-se um risco ambiental. Os resíduos sólidos são classificados de diversas formas, o que determina como deverá ser o seu manejo, sendo: “[...] 1) por sua natureza física: seco ou molhado; 2) por sua composição química: matéria orgânica e matéria inorgânica; 3) pelos riscos potenciais ao meio ambiente; quanto à origem” (Brasil, 2006, p. 20). A classificação dos resíduos sólidos atende à normatização NBR 10.004/2004 da ABNT, a partir de duas classes, conforme segue: Quadro 7. Classificação dos resíduos sólidos. Risco potencial Características Resíduos Classe I Perigoso Apresentam uma ou mais das seguintes características: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. Resíduos Classe II não perigoso Classe II A – são classificados como não inertes e podem ter as seguintes propriedades: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Classe II B – são inertes e não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, com exceção dos aspectos de cor, turbidez, dureza e sabor Fonte: Brasil (2006). Quanto à origem e natureza, os resíduos sólidos podem ser classificados em resíduo “[...] domiciliar, comercial, varrição e feiras livres, serviços de saúde, portos, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários, industriais, agrícolas e construção civil” (Brasil, 2006, p. 20). Os resíduos sólidos de origem hospitalar são definidos como aqueles derivados de: Qualquer atividade de natureza médico-assistencial humana ou animal – clínicas odontológicas, veterinárias, farmácias, centros de pesquisa – 47 GEStãO DE RESÍDuOS • CAPÍTULO 4 farmacologia e saúde, medicamentos vencidos, necrotérios, funerárias, medicina legal e barreiras sanitárias (Brasil, 2006, p. 21). Dessa forma, a composição e a periculosidade dos resíduos sólidos de saúde são compostas por resíduos infectantes ou sépticos, resíduos especiais e resíduos comuns (Brasil, 2006). Resíduos infectantes ou sépticos: » meios de cultura; » vacinas vencidas; » sangue e hemoderivados; » tecidos; » órgão; » produto de fecundação; » materiais resultantes de cirurgia; » agulhas; » ampola; » pipeta; » bisturi; » animais contaminados; » resíduos que entraram em contato com pacientes (secreções, refeições etc.). Figura 24, Resíduos perfurocortantes. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hospital-waste-120931711. 48 CAPÍTULO 4 • GEStãO DE RESÍDuOS Resíduos especiais: » rejeitos radioativos; » medicamentos vencidos ou contaminados; » interditado e resíduos químicos perigosos. Figura 25. Os resíduos radioativos, cujo símbolo é o mostrado nesta figura, também fazem parte dos resíduos hopitalares. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/radioactive-waste-barrel-vector-icon-1825573985. Resíduos comuns, que não entram em contato com pacientes: » materiais de escritório e outras áreas administrativas; » restos de alimentos etc. Figura 26. Resíduo oriundo de material de escritório. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/woman-putting-paper-waste-bin-separate-2165116481. 49 GEStãO DE RESÍDuOS • CAPÍTULO 4 Atualmente, a classificação dos resíduos sólidos de saúde atende à normatização e regulamentação vigente, isto é, a RDC n. 358/2005, do Conama, e RDC n. 306/2004 e RDC n. 222/2018, da Anvisa, levando em consideração sua origem e risco potencial ao meio ambiente. Eles são classificados segundo os cinco grupos descritos a seguir. » Grupo A: envolve componentes com possível presença de agentes biológicos, seja por virulência ou concentração, representando risco de infecção, como “[...] placas e lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas (membros), tecidos, bolsas transfusionais contendo sangue, dentre outras” (Brasil, 2006, p. 29), conforme o quadro a seguir: Quadro 8. Componentes do Grupo de risco A. A1 Entre os resíduos gerados na área da saúde, podemos citar aqueles provenientes da manipulação de microrganismos, como culturas e estoques de microrganismos, bem como os resíduos de fabricação de produtos biológicos, excluindo hemoderivados. Também incluem-se nesta categoria os descartes de vacinas de microrganismos vivos ou atenuados, meios de cultura e instrumentais utilizados para transferência, inoculação ou mistura de culturas, além dos resíduos gerados em laboratórios de manipulação genética. Outros resíduos provenientes da área da saúde incluem aqueles gerados durante a assistência à saúde de indivíduos ou animais que apresentam suspeita ou certeza de contaminação biológica por agentes da classe de risco 4, microrganismos com relevância epidemiológica e risco de disseminação ou causadores de doença emergente que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido. também devem ser considerados os resíduos provenientes de bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes que foram rejeitados por contaminação ou má conservação, ou que tenham ultrapassado o prazo de validade, bem como aqueles oriundos de coleta incompleta. Por fim, destacam-se as sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos, recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos na forma livre. A2 Os restos mortais de animais utilizados em experimentos científicos com a inoculação de microrganismos, incluindo suas forrações, assim como os cadáveres de animais suspeitos de abrigar microrganismos de relevância epidemiológica e risco de disseminação, que foram ou não submetidos a estudos anatomopatológicos ou diagnósticos confirmatórios. A3 Restos anatômicos humanos, incluindo membros, bem como produtos de concepção com peso inferior a 500g, estatura menor que 25cm ou idade gestacional menor que 20 semanas, sem sinais vitais e que não possuem valor científico ou legal, não tendo sido requisitados pelo paciente ou familiares. A4 Kits utilizados para linhas arteriais, endovenosas e dialisadores após o uso, filtros de ar e gases sugados de áreas contaminadas, membranas filtrantes de equipamentos médico-hospitalares e de pesquisa, entre outros similares, também são considerados resíduos de saúde. Sobras de amostras de laboratório contendo fezes, urina e secreções, provenientes de pacientes que não contenham agentes de risco 4, microrganismos com relevância epidemiológica e risco de disseminação, ou que sejam causadores de doenças emergentes, são considerados resíduos de saúde, desde que não apresentem suspeita de contaminação com príons. Resíduos de tecido adiposo provenientes de procedimentos de lipoaspiração, lipoescultura ou outros procedimentos de cirurgia plástica que gerem esse tipo de resíduo também são considerados resíduos de saúde. Além disso, recipientes e materiais utilizados no processo de assistência à saúde, que não contenham sangue ou líquidos corpóreos na forma livre, e peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de procedimentos cirúrgicos ou de estudos anatomopatológicos ou de confirmação diagnóstica também estão incluídos na categoria de resíduos de saúde. Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós-transfusão também são consideradas resíduos de saúde. E, finalmente, carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais que não foram submetidos a processos de experimentaçãocom inoculação de microrganismos, bem como suas forrações, também são considerados resíduos de saúde. A5 Materiais orgânicos provenientes de assistência à saúde de seres humanos ou animais, que contenham materiais perfurocortantes ou escarificantes, bem como órgãos, tecidos, fluidos corpóreos e outros materiais suspeitos ou confirmados de contaminação com príons. Fonte: Brasil (2006). 50 CAPÍTULO 4 • GEStãO DE RESÍDuOS » Grupo B : inclui produtos químicos que apresentam risco potencial à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas propriedades, como inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade, como “[...] medicamentos apreendidos, reagentes de laboratório, resíduos contendo metais pesados [...]” (Brasil, 2006, p. 29). » Grupo C: são aqueles que contêm radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear e que são eliminados pelo serviço de medicina nuclear e de radioterapia (Brasil, 2006). » Grupo D: não apresentam risco como os resíduos anteriores e são comparados aos resíduos domésticos, por exemplo, sobra de alimentos e do seu preparo e resíduos de áreas administrativas (Brasil, 2006). » Grupo E: é composto de material perfurocortante ou escarificante, como bisturi, agulhas, lâminas de barbear, ampolas de vidro, pontas diamantadas, lancetas, fios agulhados, entre outros (Brasil, 2006). Figura 27. Agulha (material perfurocortante). Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/putting-needle-into-safety-plastic-bottle-497751472. Os resíduos sólidos de serviços de saúde podem ser potencialmente um risco ocupacional relacionado ao pessoal vinculado à assistência aos cuidados humanos e animais, bem como aos serviços de apoio, como limpeza e manutenção. Há também o risco potencial de contaminação ambiental do solo, de lençol freático e águas superficiais, bem como em deposição em lixões e aterros sem o devido tratamento, provocando risco a catadores. Existe ainda risco de contaminação do ar, seja por material particulado contaminado em suspensão ou resíduos provocados por incineração, como a dioxina e os furanos. 51 GEStãO DE RESÍDuOS • CAPÍTULO 4 Segundo o “Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde”, os resíduos do grupo A necessitam de tratamento específico e, portanto, devem ser acondicionados ou em saco vermelho ou branco leitoso: Os resíduos do grupo A, que necessitam de tratamento, devem ser inicialmente acondicionados de maneira compatível com o processo de tratamento a ser utilizado. Os resíduos dos grupos A1, A2 e A5 devem ser acondicionados após o tratamento, da seguinte forma: » havendo descaracterização física das estruturas, podem ser acondicionados como resíduos do grupo D; » se não houver descaracterização física das estruturas, devem ser acondicionados em saco branco leitoso (Brasil, 2006, p. 107). 4.2 Aspectos históricos, legais e normativos dos resíduos sólidos de serviços de saúde A legislação e a normatização dos resíduos sólidos de saúde ocorreram gradativamente, adequando ações e rotinas às mudanças necessárias ao contexto ambiental. À medida que a quantidade de resíduos foi aumentando e a conscientização da necessidade de proteção do meio ambiente cresceu na sociedade, houve a necessidade de contextualizar a regulamentação sobre a temática. A evolução se deu a partir da década de 1980, quando os movimentos de preservação do meio ambiente tomaram força. Em 1981, foi instituída a Política Nacional do Meio Ambiente. Essa legislação trouxe avanços para estabelecer a primeira regulamentação ampla, reconhecendo o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como a responsabilidade do Poder Público e da sociedade na defesa do patrimônio ambiental ao presente e às gerações seguintes (Brasil, [2015]). Na sequência das mudanças políticas que culminaram na nova Constituição, todo o contexto legal foi dando respaldo para novas regulamentações em todas as esferas, visando à preservação do meio ambiente. A Constituição de 1988 trouxe a autonomia aos municípios, que conseguiram, então, independência para lidar com as questões ambientais, tornando-se titulares do manejo e gestão dos resíduos sólidos: Os municípios passam a ser um ente federativo autônomo, dotados de competências próprias, independência administrativa, legislativa e financeira e, com faculdade de legislar sobre assuntos de interesse local; suplementar a legislação federal e a estadual e, ainda, organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local de caráter essencial (art. 30, incisos I, II e V ) (Silva; Matos; Fisciletti, 2017, pp. 128-129). 52 CAPÍTULO 4 • GEStãO DE RESÍDuOS Nesse sentido, ao passo que os municípios foram organizando as ações de preservação do meio ambiente, surgiram novas regulamentações, como, por exemplo, o Decreto n. 96.044, de 18 de maio de 1988, que regulamentou o transporte rodoviário de produtos perigosos e deu outras providências. A partir disso, os atos que são lesivos ao meio ambiente foram reconhecidos, criminalizados e passaram a sofrer as penalidades da Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, a Lei de Crimes Ambientais (LCA), que “[...] dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente” (Silva; Matos; Fisciletti, 2017, p. 129). No entanto, a regulamentação da LCA só ocorreu sete anos depois, por meio do Decreto n. 6.514, de 22 de julho de 2008, que dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelecendo o processo administrativo federal para apuração dessas infrações. Desse modo, a regulamentação reconheceu a responsabilidade penal da pessoa jurídica dos crimes de ordem ambiental. Após, a Resolução da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT ) n. 420, de 2 de fevereiro de 2004. aprovou as instruções complementares ao regulamento do transporte terrestre de produtos perigosos e determinou os parâmetros internacionais como padrão de regulamentação de toda a cadeia de atividade (Silva; Matos; Fisciletti, 2017). Figura 28. O descarte correto dos resíduos hospitalares reduz o risco de acidentes. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/zutphen-netherlands-january-15-2021-monochrome-1896200149. A partir da RDC n. 306, as bases para novas mudanças na legislação foram alicerçadas, ampliando cada vez mais as regulamentações pertinentes aos resíduos sólidos de saúde. Assim, a Política Nacional de Saneamento Básico foi instituída pela Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007, estabelecendo as diretrizes para o saneamento básico. Essa legislação definiu várias ações de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, 53 GEStãO DE RESÍDuOS • CAPÍTULO 4 determinando o conjunto de atividades necessárias e a infraestrutura, como instalações para a coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final de lixo doméstico, de varrição e limpeza pública, por exemplo (Silva; Matos; Fisciletti, 2017). À medida que a percepção da importância da preservação do ambiente foi deflagrada pelas diversas regulamentações, criou-se a necessidade de estabelecer a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, e regulamentada pelo Decreto n. 10.936, de 12 de janeiro de 2022. A importância da sequência de regulamentações sobre resíduos sólidos, cadastro de potenciais poluidores, operadores de resíduos perigosos, entre outros, determinou instrumentos de monitoramento e gestão dos resíduos. É importante destacar como ocorreu essa longa caminhada que estabeleceu as políticas que regulamentaram os resíduos sólidos de saúde, estabelecendo uma linha do tempo, a partir de 1991, com a tramitação do Projeto de Lei n. 203, que dispunha sobre condicionamento, coleta, tratamento, transporte e destinação dos resíduos de serviços de saúde (Silva; Matos;Fisciletti, 2017). Embora a legislação tenha avançado na proteção do meio ambiente e gerenciamento dos resíduos sólidos de serviços de saúde, a conscientização e a mudança de paradigma da sociedade e das instituições na percepção da responsabilização coletiva se fazem também necessárias. Essa mudança de percepção coletiva deve conscientizar que os resíduos são fontes de poluição do meio ambiente e a educação em saúde é uma poderosa ferramenta de transformação. O gerenciamento dos resíduos sólidos é determinado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, para que o manejo dos resíduos seja adequado e seguro. Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » Os serviços de saúde são responsáveis por produzir resíduos sólidos que, se não atenderem a determinadas normas, podem comprometer o meio ambiente e a saúde das pessoas. Nesse sentido, os Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde (RSSS) têm a regulamentação específica que envolve a sua classificação, o modo de descarte, o transporte, a destinação final e a regulamentação. » Além da legislação que normatiza todo o fluxo dos RSSS, o planejamento de implantação do processo de gerenciamento é obrigatório e fundamental para que as instituições de saúde introduzam as rotinas de manejo correto dos resíduos e obedeçam à regulamentação vigente. 54 Introdução A segurança do paciente é uma das principais preocupações em um ambiente hospitalar, e o controle da infecção hospitalar é uma atividade prioritária nesse sentido. Com o passar do tempo, a necessidade de controle do risco de infecção nas instituições tornou-se cada vez mais prioritária, e a regulamentação federal reflete a preocupação da Vigilância Sanitária em manter o controle ambiental nas instituições de saúde, estabelecer as melhores práticas e implantar ações regulatórias de controle de infecção. Uma dessas ações obrigatórias é a normatização da formação de Comissões de Controle de Infecção Hospitalar nas instituições de saúde, o que contribui para o desenvolvimento da cultura de biossegurança e o controle da infecção hospitalar. Este capítulo, explora mais detalhadamente o controle de infecção, a implantação e o funcionamento das Comissões de Infecções Hospitalares, bem como os principais indicadores dessas infecções. Objetivos » Explorar as normas relativas à criação das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, bem como as ações educativas e preventivas relacionadas às infecções hospitalares. » Reconhecer a importância das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar na prevenção e controle das principais síndromes infecciosas. » Analisar modelos de vigilância epidemiológica relacionados aos indicadores epidemiológicos das infecções hospitalares. 5 CAPÍTULO COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR 55 COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR • CAPÍTULO 5 5.1 Formação das comissões de controle de infecção hospitalar e ações educativas e preventivas As políticas públicas de saúde abrangem a prevenção e o monitoramento de agravos em saúde, buscando o bem-estar dos usuários do sistema de saúde. Nesse sentido, a prevenção da infecção hospitalar começou a ser foco da legislação à medida que a complexidade da assistência em saúde foi aumentando nas instituições e as questões da segurança do paciente, bem como a resistência microbiana, tornaram-se cada vez mais relevantes. A Lei n. 9.431, de 6 de janeiro de 1997, tornou obrigatória a criação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) em todos os estabelecimentos de saúde. A CCIH é uma peça fundamental do Programa de Controle de Infecções Hospitalares, o qual consiste em um conjunto intencional e sistemático de medidas visando à redução ao máximo da incidência e gravidade das infecções hospitalares (Brasil, 1998). A CCIH, portanto, é uma das estratégias utilizadas para controlar a disseminação de infecções em estabelecimentos de saúde. Figura 29. Controle de infecção no ambiente hospitalar. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/medical-staff-personal-protective-equipment-infection-653489446. A normatização das CCIH segue a determinação da Portaria n. 2.616, de 12 de maio de 1998, que indica como devem ser a composição, os objetivos e as ações educativas 56 CAPÍTULO 5 • COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR e de monitoramento da infecção hospitalar. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) é uma exigência legal em todas as instituições de saúde e serve como um órgão de assessoramento à autoridade máxima da instituição, ou seja, à diretoria administrativa e clínica. Sua responsabilidade é implementar ações de controle de infecção hospitalar, tornando-se a estrutura principal para atuar nesse sentido. A constituição da CCIH segue regulamentação por meio de uma portaria e é composta por profissionais da saúde que possuam formação de nível superior e sejam formalmente nomeados para o cargo. A comissão é formada por dois tipos de membros: os executores e os consultores. Assim sendo, a composição da CCIH em relação aos membros consultores é constituída por representantes de serviços específicos da instituição, tais como “serviço médico, serviço de enfermagem, serviço de farmácia, laboratório de microbiologia e administração” (Brasil, 1998). Já os membros executores são representados pelos profissionais responsáveis pelo serviço em si, e têm a responsabilidade de executar as ações planejadas de controle de infecções hospitalares. A Portaria esclarece como deve ser organizado: Os membros executores serão, no mínimo, 2 (dois) técnicos de nível superior da área de saúde para cada 200 (duzentos) leitos ou fração deste número com carga horária diária, mínima, de 6 (seis) horas para o enfermeiro e 4 (quatro) horas para os demais profissionais; Um dos membros executores deve ser, preferencialmente, um enfermeiro; A carga horária diária, dos membros executores, deverá ser calculada na base da proporcionalidade de leitos indicado no número; Nos hospitais com leitos destinados a pacientes críticos, a CCIH deverá ser acrescida de outros profissionais de nível superior da área de saúde. Os membros executores terão acrescidas 2 (duas) horas semanais de trabalho para cada 10 (dez) leitos ou fração (Brasil, 1998). Assim, o número de profissionais executores depende do número de leitos do hospital e de suas características de complexidade, pois quanto mais leitos de pacientes críticos, como pacientes de terapia intensiva adultos, pediátricos e neonatal, de berçário de alto risco, queimados, submetidos a transplantes de órgãos, hemato-oncológicos e com síndrome da imunodeficiência adquirida, mais profissionais são necessários para a execução das ações da CCIH (Brasil, 1998). 57 COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR • CAPÍTULO 5 Figura 30. todos os colaboradores da instituição hospitalar são responsáveis pela minimização do risco de infecção. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/fight-covid19-corona-virus-concept-doctor-1693983643. A determinação das competências da CCIH é regulamentada pela Portaria n. 2.616/1998 e é descrita pela legislação, tornando-se de suma importância para o desenvolvimento das atividades e o cumprimento dos objetivos da CCIH. Entre as competências citadas pela portaria, destacam-se algumas que refletem o contexto educacional da CCIH em uma instituição: 3.1.2 – adequação, implementação e supervisão das normas e rotinas técnico-operacionais, visando à prevenção e controle das infecções hospitalares; 3.1.3 – capacitação do quadro de funcionários e profissionais da instituição, no que diz respeito à prevenção e controle das infecções hospitalares; 3.5 – elaborar, implementar e supervisionar a aplicação de normas e rotinas técnico-operacionais, visando limitar a disseminação de agentes presentes nas infecções em curso no hospital, por meio de medidas de precaução e de isolamento; 3.6 – adequar, implementar e supervisionargeralmente, os agentes etiológicos são: “Streptococcus grupo A, Staphylococcus aureus, enterobactérias, Pseudomonas spp., Aeromonas hydrophila, Vibrio vulnificus, Bacteroides spp., Clostridium spp., cocos anaeróbios, cocos microaerófilos, Fusobacterium spp” (Brasil, 2013). As infecções intestinais podem provocar danos consideráveis e causam 2,5 milhões de óbitos anuais de crianças menores de cinco anos de idade no mundo inteiro, principalmente em países sem saneamento e políticas de tratamento da água. Em países pobres onde há problemas de saneamento e tratamento de água ocorrem outras doenças que podem provocar quadro diarreico infeccioso, tornando-se, especificamente, impactante e expondo mais a população vulnerável a um número maior de infecções diarreicas por ano. Figura 33. Patógenos também podem se instalar no trato digestório causando infecção. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/woman-on-blurred-background-using-digital-1647269665. Sendo assim, as principais causas das infecções intestinais são as “infecciosas, causadas por bactérias, fungos (menos frequentes), vírus, parasitas e protozoários e as não infecciosas, alérgicas, causadas por erro alimentar, envenenamento etc.” (Brasil, 2013). 63 COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR • CAPÍTULO 5 No caso das diarreias consideradas hospitalares, com mais episódios ocorrendo após três dias de internação e em crianças, o agente etiológico prevalente é o rotavírus, e, em adultos, o Clostridium difficile, Norovirus e E. coli. Um dos riscos de infecção de maior relevância envolve as infecções sistêmicas, como a bacteremia. Nesse sentido, a infecção envolve presença de microrganismos na corrente sanguínea e é associada à mortalidade em episódios de infecção hospitalar: Bacteremia é o termo que designa a indicação da presença de micro-organismos viáveis na corrente sanguínea. É um fenômeno de grande relevância diagnóstica, pois frequentemente está associado a um aumento considerável nas taxas de morbidade e mortalidade, além de representar uma das mais significativas complicações no processo infeccioso, o que torna a hemocultura um exame de importante valor preditivo de infecção (Brasil, 2013). Esse tipo de infecção pode ser classificado como bacteremia primária, isto é, tem origem no próprio sistema circulatório do paciente ou por meio de entrada direta de microrganismo causada por agulhas, cateteres, infusões contaminadas ou outros dispositivos que entram em contato com o sistema circulatório do paciente. Por outro lado, a bacteremia secundária ocorre através de drenagem de pequenos vasos sanguíneos ou linfáticos, seguindo para a corrente circulatória como consequência de um foco de infecção definido em outro sítio do organismo (Brasil, 2013). A infecção da corrente sanguínea tem como fontes tanto as infecções comunitárias quanto as infecções hospitalares: “dispositivos intravasculares (19%), trato geniturinário (17%), trato respiratório (12%), intestino e peritônio (5%), pele (5%), trato biliar (4%), abscesso intra-abdominal (3%), outros sítios (8%) e de sítios desconhecidos (27%)” (Brasil, 2013). As infecções do trato respiratório superior são as mais comuns, geralmente de origem viral ou por bactérias que, no caso, devem ser combatidas com antimicrobiano. As infecções das vias aéreas respiratórias superiores envolvem laringe, nasofaringe, orofaringe, nariz, seios paranasais e ouvido médio. A infecção sofre influência da idade, condição de nutrição e imunidade, vacinação, ambiente e uso prévio de antimicrobiano. É possível que o paciente portador tenha as bactérias na flora normal, tornando-se portador de alguns microrganismos patogênicos, como: Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Haemophilus influenzae, Neisseria meningitidis, enterobactérias e leveduras 64 CAPÍTULO 5 • COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR como Candida albicans podem ser componentes transitórios da microbiota da orofaringe em indivíduos saudáveis, sem desenvolvimento de doença. A principal causa de faringite bacteriana é o Streptococcus pyogenes (Brasil, 2013). As infecções do trato respiratório inferior são de extrema importância devido à frequência com que ocorrem e à morbidade que apresentam associadas, principalmente, no contexto hospitalar. São classificadas como traqueobronquites e pneumonias: A pneumonia de origem hospitalar é definida como aquela que aparece após um período maior ou igual a 48 horas de admissão e não está incubada no momento da hospitalização. Segundo dados relatados pela American Thoracic Society ocorrem entre 6 a 10 casos a cada 1.000 admissões hospitalares e a segunda maior causa de infecções relacionadas à assistência à saúde nos Estados Unidos da América do Norte, associada à elevada morbimortalidade. Pacientes com pneumonia hospitalar têm um aumento de permanência hospitalar entre 7 e 9 dias (Brasil, 2013). Entre as causas frequentes da ocorrência de pneumonia, no contexto hospitalar, temos a intubação orotraqueal e traqueostomia associadas à ventilação mecânica, que determina risco de sete a 21 vezes maior de ocorrência comparado a pacientes sem ventilação mecânica, levando à morte entre 13% a 55% dos casos (Brasil, 2013). Figura 34. Patógeno no trato respiratório pode causar pneumonia. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/composite-image-highlighted-red-injured-lungs-1381662914. 65 COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR • CAPÍTULO 5 O tipo de agente causador depende de fatores como idade e aspectos predisponentes, como alcoolismo, exposição a animais, fumo, higiene oral deficiente, imunossupressão, broncoaspiração etc. No entanto, os agentes etiológicos mais frequentes na pneumonia hospitalar são: Enterobactérias: Klebsiella spp., E. coli, Enterobacter spp. Bacilos gram-negativos não fermentadores : P. aeruginosa, Acinetobacter baumannii etc. Cocos gram-positivos, principalmente Staphylococcus aureus . Outros agentes, tais como Legionella pneumophila e Vírus Respiratório Sincicial ( VRS) aparecem em casos de surto e em pacientes imunodeprimidos, assim como Aspergillus spp. e Pneumocystis carinii (Brasil 2013). A bacteremia é caracterizada por infecção por um único agente etiológico, no entanto, há situações em que a etiologia pode ser polimicrobiana, isto é, ter mais de um agente infeccioso. O termo sepse se refere à condição pela qual a resposta do organismo ao agente infeccioso se manifesta, por meio de sinais e sintomas da doença, como a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, independentemente da presença ou não de hemocultura positiva (Brasil, 2013). Os sinais da sepse envolvem a presença de vários sintomas, indicando o comprometimento de múltiplos sistemas e órgãos. Segundo Westphal et al. (2019), a longa permanência na unidade de terapia intensiva contribui para o aparecimento da sepse de origem hospitalar. Nesse contexto, a síndrome é mais grave e associada a desfechos de mortalidade dos pacientes. Cabe ressaltar que, apesar do diagnóstico precoce e intervenção rápida, muitos casos de sepse evoluem para o óbito. Sendo assim, é importante o controle do ambiente e as boas práticas na assistência em saúde no combate à instalação da sepse de origem hospitalar. 5.3 Modelos de vigilância epidemiológica relacionados a indicadores epidemiológicos das infecções hospitalares A ampliação das ações da Vigilância em Saúde é regulamentada pelo art. 4o da Portaria GM/MS n. 1.378, de 9 de julho de 2013, em que foi estabelecido que ficam especificadas as ações abrangentes, não apenas à população em geral, mas incluindo práticas e processos de trabalho: I – a vigilância da situação de saúde da população, com a produção de análises que subsidiem o planejamento, estabelecimento de prioridades e estratégias, monitoramento e avaliação das ações de saúde pública. 66 CAPÍTULO 5 • COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR II – a detecção oportunae adoção de medidas adequadas para a resposta às emergências de saúde pública. III – a vigilância, prevenção e controle das doenças transmissíveis. IV – a vigilância das doenças crônicas não transmissíveis, dos acidentes e violências. V – a vigilância de populações expostas a riscos ambientais em saúde. VI – a vigilância da saúde do trabalhador. VII – vigilância sanitária dos riscos decorrentes da produção e do uso de produtos, serviços e tecnologias de interesse a saúde. VIII – outras ações de vigilância que, de maneira rotineira e sistemática, podem ser desenvolvidas em serviços de saúde públicos e privados nos vários níveis de atenção laboratórios, ambientes de estudo e trabalho e na própria comunidade (Brasil, 2013). A Vigilância em Saúde atua nas diferentes instâncias hierárquicas, nas esferas federal, estadual, municipal e regional, determinando sempre a importância e relevância da informação regional denominada de microárea. Nesse contexto, a Vigilância em Saúde é responsável por: Ações de vigilância, prevenção e controle de agravos, prioritariamente com ações de promoção à saúde, com o monitoramento epidemiológico das doenças transmissíveis e não transmissíveis, de atividades sanitárias programáticas, de vigilância em saúde ambiental e saúde do trabalhador, elaboração e análise de perfis demográficos epidemiológicos, proposição de medidas de controle etc. (Boccatto, [2013). Assim, a vigilância epidemiológica também atende à determinação da Lei n. 8.080/1990, art. 6o, § 1o que a define como: Um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse à saúde (Brasil, 1990). O quadro a seguir apresenta as diferentes áreas de atuação da Vigilância em Saúde. 67 COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR • CAPÍTULO 5 Quadro 9. As áreas de atuação da vigilância Sanitária. Epidemiológica Propõe um conjunto de atividades que permitem o conhecimento, a detecção ou a prevenção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual ou coletiva. Seu objetivo é recomendar e adotar medidas de prevenção e controle de doenças e enfermidades. As ações realizadas abrangem diversas doenças, incluindo as sexualmente transmissíveis, transmissíveis agudas e crônicas, imunopreveníveis, investigações e respostas a casos, surtos e epidemias, além de doenças emergentes e agravos incomuns. O Programa Nacional de Imunização (PNI), que é descentralizado para os municípios, também faz parte das atividades realizadas pela vigilância em saúde. Ambiental É encarregado de coordenar diversas tarefas que envolvem zoonoses e problemas sanitários relacionados ao meio ambiente, como qualidade da água, do ar e do solo, em conjunto com outras secretarias e subprefeituras. Seus objetivos incluem a elaboração de políticas e ações de saneamento básico, além de garantir a segurança e a saúde da população em relação aos riscos ambientais. Saúde do trabalhador Realiza diversas atividades, utilizando ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, para proteger a saúde dos trabalhadores. O objetivo principal é prevenir e controlar os riscos e danos decorrentes das condições de trabalho, além de proporcionar recuperação e reabilitação para trabalhadores que tenham sido expostos a riscos. As atividades incluem identificação de riscos à saúde, avaliação da exposição e investigação de doenças relacionadas ao trabalho, entre outras ações. Imunização Realiza diversas ações com o intuito de eliminar, reduzir ou prevenir os riscos à saúde, intervindo nos problemas sanitários relacionados ao meio ambiente, produção e circulação de bens e prestação de serviços na área da saúde. Infraestrutura Este conjunto de recursos inclui a infraestrutura laboratorial e de apoio diagnóstico, bem como o sistema de informações que permite o registro e notificação obrigatória de doenças. Tais medidas são cruciais para o monitoramento e controle das doenças, especialmente as transmissíveis, garantindo que as medidas de prevenção e controle sejam implementadas com eficiência. Fonte: adaptado de Boccatto (2013). Cabe verificar o conceito de vigilância epidemiológica no monitoramento das infecções dos estabelecimentos de saúde. Assim, no contexto das instituições de saúde e controle das infecções hospitalares, e sobre a Vigilância Epidemiológica das Infecções Hospitalares, podemos considerar que: A Vigilância Epidemiológica das Infecções Hospitalares compreende a observação ativa, de forma sistemática e continuada dos fenômenos de ocorrência nos pacientes que podem estar internados ou não, verificando a distribuição das ocorrências e da forma e condições que provocaram os eventos de infecção (Brasil, 1998). Dessa forma, a vigilância epidemiológica tem como objetivo dar subsídios às ações de controle e prevenção das infecções hospitalares, sendo a base para o desenvolvimento das ações da CCIH, escolhendo o método mais adequado ao tipo de instituição, estrutura e características dos recursos humanos e grau e natureza do risco da assistência, usando como base os “critérios de magnitude, gravidade, redutibilidade das taxas ou custo” (Brasil, 1998). 68 CAPÍTULO 5 • COMISSãO DE COntROLE DE InFECçãO HOSPItALAR Figura 35. Controle de infecção faz parte das medidas adotadas para segurança do paciente. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/corona-virus-2019-most-transmission-bacterai-1628740948. A partir dos métodos escolhidos, é possível verificar as taxas de incidência e prevalência de infecção hospitalar nos serviços hospitalares. Os métodos prospectivos, retrospectivos e transversais são altamente indicados para a obtenção dessas taxas específicas, como, por exemplo, taxa de incidência e prevalência, além da busca ativa de coleta de dados para a verificação da infecção hospitalar nas instituições de saúde. Esses dados monitoram o comportamento epidemiológico e são focos de investigação visando à adequação das ações de prevenção da infecção hospitalar. Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » A Comissão de Infecção Hospitalar é uma ferramenta importante para o monitoramento e o controle da infecção nas instituições de saúde. A criação e a manutenção da comissão são obrigatórias e regulamentadas por lei, em relação à sua composição, à finalidade e às atividades. » Tal comissão tem um papel educacional fundamental nas instituições, influenciando na cultura de segurança, no desenvolvimento e na manutenção de comportamentos na prevenção da infecção hospitalar. » A Comissão de Infecção Hospitalar tem um papel fundamental na prevenção da resistência microbiana e das principais síndromes infecciosas. O uso de indicadores determinados pela Vigilância em Saúde é fundamental para o monitoramento dos índices e o controle de infecção em níveis de segurança para pacientes, equipe e ambiente. 69 Introdução De acordo com Teixeira e Valle (2010), a biossegurança é um conjunto de ações voltadas para eliminação ou minimização de riscos à saúde humana, dos animais ou do meio ambiente, além da garantia da qualidade dos produtos desenvolvidos durante a pesquisa. O laboratório, principal área para desenvolvimento de estudos científicos, deve ser compreendido como uma área complexa e perigosa, bem como passível de ocorrência de acidentes (Molinaro; Caputo; Amendoeira, 2013). Muitas vezes, esses riscos não são visíveis, como a contaminação por microrganismos, reagentes presentes em uma bancada ou aerossóis, por isso é importante que o trabalhador, antes de iniciar qualquer trabalho laboratorial, esteja ciente sobre eles. Neste capítulo, vamos conhecer os desafios da biossegurança e como as instituições trabalham para minimizar riscos e garantir a saúde dos seus trabalhadores. Objetivos » Identificara necessidade de implantação do Programa Hospital Seguro e as suas contribuições na minimização de riscos. » Reconhecer a importância do Programa Hospital Seguro, priorizando a eficiência e a sustentabilidade. » Analisar as abordagens de educação e de gestão dentro do tema biossegurança. 6.1 A implantação do Hospital Seguro O Hospital Seguro é um programa crucial para o atendimento das necessidades da população, especialmente no que diz respeito à qualidade ambiental, por meio do monitoramento de fatores de risco. O programa visa garantir o funcionamento contínuo dos hospitais em emergências, bem como na fase de recuperação dessas emergências. 6 CAPÍTULO DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE 70 CAPÍTULO 6 • DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE Com a globalização, houve mudanças significativas no cenário socioambiental, que resultaram em desigualdades econômicas e no crescimento desordenado das cidades. Essas mudanças têm impacto direto em questões como o uso do território, os padrões de consumo e a geração de resíduos, entre outras. Esse cenário é caracterizado por contextos de risco que podem ser verificados nas análises do aquecimento global e na emergência e reemergência de doenças. Diante desse panorama, um dos maiores desafios atuais, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change, IPCC), estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), é enfrentar as adversidades causadas pelos desastres e transformar o risco em uma preocupação coletiva. Figura 36. Hospital. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/staff-busy-lobby-area-modern-hospital-479614822. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (United Nations Development Programme – UNDP) criou o Disaster Risk Index (DRI), um índice que visa avaliar a relação entre desenvolvimento, risco e desastres. O DRI é composto pela análise dos níveis de exposição, vulnerabilidade e risco de um país em relação a três tipos de desastres: ciclones tropicais, secas e enchentes. A partir dessas informações, o índice promove a criação de escalas nacionais para visualizar os padrões de risco e orientar o gerenciamento de riscos e mudanças na política de desenvolvimento e planejamento local. A magnitude do risco é determinada pela combinação entre exposição e vulnerabilidade, sendo a vulnerabilidade influenciada por variáveis demográficas, socioeconômicas, técnicas e ambientais que afetam a capacidade da população de absorver o impacto de um evento perigoso e se recuperar dele. Além disso, o risco 71 DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 6 está relacionado à frequência, severidade, extensão e previsibilidade dos desastres. Para enfrentar esses riscos, é crucial investir em infraestrutura no planejamento de enfrentamento de desastres, garantindo medidas de estabilidade das edificações para viabilizar respostas imediatas e controlar os riscos operacionais. As instituições de saúde, especialmente os hospitais, são consideradas cruciais em situações de desastre. Identificar vulnerabilidades e seus efeitos na edificação hospitalar é importante para a criação de soluções de arquitetura e engenharia projetadas para garantir o desempenho das edificações. Quando um hospital é afetado por um desastre, as implicações de longo prazo vão além da incapacidade de tratar vítimas, já que esses estabelecimentos têm alto valor econômico e social. A falta de manutenção, projetos inadequados e localização em zonas de risco são as principais causas de comprometimento infraestrutural desses estabelecimentos. Para garantir um hospital seguro, é necessário seguir diretrizes que envolvem ações multidisciplinares. A Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborou três critérios básicos para orientar o planejamento dessas edificações: proteção da vida, investimentos e função. Em outras palavras, é fundamental que a estrutura seja capaz de permanecer em pé, suportar impactos dos fenômenos destrutivos com danos mínimos e continuar operando para manter a oferta dos serviços de saúde como parte da rede à qual pertence. Figura 37. O planejamento do hospital seguro engloba a proteção da vida. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/doctors-nurses-walking-hospital-hallway-blurred-1723539223. Existem duas categorias de vulnerabilidades que podem afetar a edificação hospitalar: estruturais e não estruturais. As vulnerabilidades estruturais estão relacionadas às 72 CAPÍTULO 6 • DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE partes responsáveis pela sustentação da construção, como muros, vigas, lajes, concreto e armaduras. Por outro lado, as vulnerabilidades não estruturais são associadas a componentes ligados aos elementos estruturais, tais como janelas, portas, teto, paredes, painéis de vidro e telhados, além de componentes essenciais, como instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias, fluido-mecânicas, sistemas de ar condicionado, equipamentos médicos e móveis. Além das vulnerabilidades estruturais e não estruturais, existe também a vulnerabilidade administrativo-organizacional, que está relacionada à gestão da edificação, distribuição de espaços arquitetônicos, serviços médicos e de apoio (como fornecimento de água, eletricidade e insumos), processos administrativos (como contratos, compras, manutenção de prédios e equipamentos) e interdependência física e funcional entre diferentes áreas de um hospital (rotas de acesso e fluxos). A separação adequada das áreas por zonas e a relação entre elas garantem o funcionamento do hospital em situações de emergência, além da preparação do estabelecimento de saúde por meio de planos e procedimentos de emergência, incluindo exercícios simulados. Embora as diretrizes para a programação de hospitais seguros tenham deixado de lado os conceitos de biossegurança, é fundamental que os diversos profissionais trabalhem juntos para planejar o projeto arquitetônico e estabelecer padrões que garantam as condições de segurança necessárias. Isso envolve a necessidade de modificar as concepções de espaços, materiais de acabamento, mobiliário e sistemas de tratamento e renovação do ar para minimizar os riscos inerentes às atividades de assistência e pesquisa. O projeto arquitetônico de hospitais é composto por várias funções inter-relacionadas, que envolvem alta tecnologia e processos especializados e complexos de cuidado e atuação profissional. O anexo da RDC n. 50 estabelece uma série de aspectos que devem ser considerados na definição da arquitetura hospitalar: Consiste na definição gráfica do partido arquitetônico, através de plantas, cortes e fachadas (opcional) em escala livre e que contenham graficamente: » a implantação da edificação ou conjunto de edificações e seu relacionamento com o local escolhido; » acessos, estacionamentos e outros – e expansões possíveis; » a explicitação do sistema construtivo que serão empregados; » os esquemas de zoneamento do conjunto de atividades, as circulações e organização volumétrica; » o número de edificações, suas destinações e locações aproximadas; 73 DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 6 » o número de pavimentos; » os esquemas de infraestrutura de serviços; » o atendimento às normas e índices de ocupação do solo (Brasil, 2002). A RDC n. 50 é a principal legislação aplicada à arquitetura para serviços de saúde, mas existem outras normas complementares relevantes. Elaborada em 21 de fevereiro de 2002, a RDC n. 50 estabelece as diretrizes técnicas para o planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS). Essa regulamentação inclui conceitos fundamentais para a compreensão e o correto design de projetos em arquitetura hospitalar (Brasil 2002). Além disso, é necessário identificar as categorias de pessoas que circulam no espaço para determinar as relações entreas diferentes atribuições dos EAS, a fim de definir os fluxos e acessos adequados. Figura 38. Arquitetura hospitalar seguindo a RDC n. 50. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/modern-building-public-hospital-clinic-ambulances-1913656510. A arquitetura hospitalar deve considerar também conceitos relacionados ao conforto ambiental, como as condições agradáveis em relação a temperatura, ruído, vibração, segurança, iluminação, ventilação e privacidade. É fundamental que essas condições humanizadas estejam presentes no ambiente que irá acolher as pessoas. Além disso, a importância da arquitetura hospitalar está intimamente ligada à hospitalidade e humanização, uma vez que o planejamento e construção de estruturas saudáveis e voltadas para as pessoas podem contribuir para a promoção da saúde e do bem-estar. Com as mudanças de paradigmas no modelo de atenção à saúde, que buscam desenvolver espaços saudáveis e focados nas necessidades dos pacientes, a relação entre arquitetura hospitalar, hospitalidade e humanização torna-se cada vez mais relevante para o processo de cura (Soethe; Leite, 2015). É evidente que o bem-estar está intrinsecamente ligado à humanização quando presente em um ambiente que promove o bem-estar em todas as suas dimensões. A relação entre a arquitetura hospitalar, hospitalidade e a humanização tem se tornado cada 74 CAPÍTULO 6 • DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE vez mais forte ao longo do tempo, à medida que as estruturas hospitalares obsoletas foram substituídas por novos modelos voltados para o conforto ambiental e o bem-estar. Estudos recentes destacam a importância de desenvolver uma nova geração de EAS com outras funcionalidades e estruturas, uma vez que os estabelecimentos podem influenciar positivamente na melhoria da saúde das pessoas (Soethe; Leite, 2015). Alguns requisitos para essa nova geração incluem a eliminação de fatores estressantes do ambiente e a promoção de atividades que tenham potencial para distrair e relaxar os pacientes. Assim, é fundamental que a arquitetura hospitalar e a hotelaria sigam critérios específicos para desenvolver projetos e criar ambientes com as características adequadas para a promoção da humanização. A relação entre a pessoa e o ambiente é crucial, especialmente durante momentos de doença, levando à reflexão sobre como os ambientes podem contribuir para a recuperação das pessoas, tornando o processo de cuidado mais eficiente e fluido. 6.2 Educação e gestão como desafios da biossegurança em saúde A área da saúde é altamente complexa e necessita ter, em sua gestão, profissionais capacitados e dinâmicos, capazes de lidar com toda imprevisibilidade e incerteza que marcam o setor. O dia a dia de um hospital é dinâmico, com muitas atividades acontecendo ao mesmo tempo e com grande fluxo de profissionais, pacientes e seus familiares em suas instalações. Figura 39. Educação em saúde por meio da educação continuada. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait-young-doctor-teaching-on-seminar-2135069875. 75 DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 6 Em unidades assistenciais em saúde, a gestão se dedica tanto à administração quanto à saúde. Esse modelo de gestão está inserido em toda e qualquer instituição de saúde. Os principais objetivos da gestão em saúde incluem otimizar os recursos, controlar os custos envolvidos, garantir a qualidade dos serviços prestados e melhorar a eficiência dos processos. O setor da saúde é marcado por grandes e contínuas transformações que contribuem cada vez mais para o aumento da complexidade de suas organizações. Os avanços tecnológicos, a evolução da medicina, o crescimento de doenças crônicas e o aumento da expectativa de vida da população são alguns aspectos que vêm contribuindo para isso. Aqui no Brasil, as instituições de saúde têm sido cada vez mais cobradas, no sentido de oferecer serviços de saúde com maior qualidade à sociedade e, portanto, necessitam de uma gestão qualificada, com práticas de gestão inovadoras e capazes de aumentar a produtividade e a qualidade da organização. Com certeza, você também sabe que as pessoas são vistas hoje pelas organizações como elementos-chave para seu sucesso e sobrevivência. Ou seja, são as pessoas que assumem maior importância no contexto das organizações, uma vez que são capazes de aumentar ou diminuir a produtividade, de melhorar ou piorar a qualidade dos serviços e de gerar maior ou menor lucro para elas. Dessa forma, podemos dizer que não bastam as melhores estruturas, recursos e tecnologia, se as empresas não puderem contar com profissionais qualificados e comprometidos, ou seja, o funcionamento das organizações e dos hospitais depende muito de seus funcionários (La Forgia; Couttolenc, 2009). Para que isso aconteça, o administrador deve abandonar a mentalidade tradicional de gestão e adotar um conjunto de políticas, práticas e padrões atitudinais, empregar ações e instrumentos capazes de interferir no comportamento humano e direcioná-lo no ambiente de trabalho, como, por exemplo, estruturas de trabalho mais flexíveis; descentralização dos processos decisórios; implementação de mudanças; maior envolvimento entre todos os setores da organização na busca por resultados comuns e incentivo a relações de trabalho mais integradas e dinâmicas. É papel ainda do administrador, e isso cabe também para as unidades de saúde e hospitais, adotar na gestão de pessoas um conjunto de políticas e práticas integradas que atendam, ao mesmo tempo, aos interesses e expectativas da organização e das pessoas. Cabe destacar que equilibrar esses interesses e às expectativas para que essa relação seja produtiva e as responsabilidades compartilhadas é um dos desafios da gestão de pessoas. Cabe à organização estimular e dar o suporte necessário para que as pessoas possam entregar o que têm de melhor, oferecendo a elas também o seu melhor. 76 CAPÍTULO 6 • DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE Figura 40. Administração no ambiente hospitalar. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/happy-manager-man-positive-talking-group-1122512282. No entanto, apesar de tantas ações positivas, a gestão de pessoas nas unidades de saúde e hospitais, principalmente pela complexidade que os envolve, aliada à diversidade dos profissionais que compõem seu quadro, ou seja, são diferentes formações e níveis de complexidade de atuação e uma grande variedade de atividades em todos os níveis e setores, que necessitam ser gerenciados. No cenário nacional e internacional, são desafios organizacionais comuns na área de gestão de pessoas: aumentar a cobertura e as equipes de profissionais, garantindo a assistência de saúde de forma adequada e igualitária; desenvolver e manter competências e habilidades essenciais para os profissionais de saúde; melhorar o desempenho da equipe de profissionais de acordo com os objetivos definidos; fortalecer a capacidade de planejamento e gerenciamento do setor de gestão de pessoas na saúde; fortalecer e melhorar as práticas de recrutamento e diminuir a rotatividade dos trabalhadores (Organização Mundial da Saúde, 2006). A equipe e os colaboradores em geral devem se atualizar constantemente em relação aos conhecimentos que são produzidos na área da saúde e às inovações que forem surgindo, além de desenvolver a capacidade de dialogar de forma não conflituosa com os pacientes. Assim, será possível estabelecer uma comunicação adequada com pacientes e familiares, que tenderão a ficar mais abertos ao diálogo e receptivos a diagnósticos e orientações sobre cuidados. É fundamental, portanto, que a equipe mantenha uma educação continuada, isto é, esteja sempre se atualizando em relação a novas diretrizes e conhecimentos da sua área de atuação. A inserção da educação continuada nas unidades assistenciais também é papel do gestor em saúde, que 77 DESAFIOS nA áREA DA BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 6 deve estimulara equipe a constantemente buscar atualização, além de auxiliar os profissionais em seu processo de aprendizagem. Com uma educação continuada, a equipe proporcionará aos pacientes um cuidado atualizado e eficaz. Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » Para garantir a segurança em hospitais, é necessário um planejamento que envolva conhecimentos multidisciplinares, incluindo biossegurança e arquitetura hospitalar. Essa programação deve buscar soluções arquitetônicas que promovam a inter-relação entre as diversas áreas, centralizando as atividades hospitalares. É uma síntese de saberes que envolve a alta complexidade de processos especializados e tecnologia avançada presente na arquitetura hospitalar. » A programação de um hospital seguro requer a síntese de conhecimentos de diversas áreas, incluindo biossegurança e arquitetura hospitalar. O planejamento hospitalar deve ser baseado em questões multidisciplinares para promover soluções arquitetônicas que facilitem a interação entre as atividades hospitalares. A inter-relação é uma ferramenta fundamental para garantir a segurança e a eficiência das operações hospitalares. » A relação entre biossegurança e arquitetura hospitalar deve ser considerada no processo de planejamento do hospital seguro, levando em conta as políticas de implantação e buscando soluções projetuais que reforcem essa interação. » Dada a natureza dos serviços hospitalares, que abrange uma diversidade de atividades, processos e atores envolvidos na promoção da saúde, torna-se fundamental a qualificação das equipes nas instituições de saúde. 78 Referências ARAUJO, Aurigena Antunes de et al. Representações sociais sobre o risco ocupacional na perspectiva do trabalhador da saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem (UFRGS), v. 30, pp. 99-105, 2009. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/ RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/8881. Acesso em: 20 out. 2023. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS - ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. 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Acesso em: 4 out.Ela desempenha papel crucial na promoção da saúde, pois inclui medidas de controle de infecção para proteger os trabalhadores da área da saúde, além de contribuir para a preservação do meio ambiente, especialmente em relação ao descarte seguro de resíduos gerados nesses ambientes. Essas ações são importantes para reduzir os riscos à saúde de todos (Chaves, 2016). 1 CAPÍTULO A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE 10 CAPÍTULO 1 • A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE O objetivo principal da biossegurança é criar um ambiente de trabalho onde se promova a contenção do risco de exposição a agentes potencialmente nocivos ao trabalhador, aos pacientes e ao meio ambiente, de modo que esse risco seja minimizado ou eliminado. Essas definições mostram que a biossegurança envolve as relações tecnologia/risco/homem, e que o controle dos riscos na área da saúde inclui o desenvolvimento e a divulgação de informações, além da adoção de procedimentos relacionados às boas práticas de segurança para profissionais, pacientes e meio ambiente, de forma a controlar e minimizar os riscos operacionais das atividades de saúde (David et al., 2012). Figura 1. Práticas de biossegurança. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-washing-hands-1123561595. O conceito de biossegurança começou a ser desenvolvido mais intensamente no início da década de 1970, após o surgimento da engenharia genética. Na década de 1980, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a biossegurança como um conjunto de práticas preventivas para trabalhar com agentes patogênicos em laboratórios e classificou os riscos em categorias como biológicos, químicos, físicos, radioativos e ergonômicos. Na década seguinte, foram adicionados tópicos como ética na pesquisa, meio ambiente, animais e tecnologia de DNA recombinante aos programas de biossegurança (Penna, et al., 2010). Os avanços nos dispositivos legais relacionados à biossegurança no Brasil têm sido significativos. Em 24 de março de 2005, a Lei n. 11.105, foi estabelecida, apontando as diretrizes para controlar as atividades e produtos gerados pela moderna biotecnologia – a tecnologia do DNA recombinante (Brasil, 2005). A legislação de biossegurança no Brasil, a Lei n. 8.974/1995, adaptada da legislação europeia, apontou normas de segurança e mecanismos de fiscalização do uso de técnicas de engenharia genética em diversos aspectos, desde a construção até o descarte de OGMs e seus derivados (Brasil, 1995). 11 A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 1 Em 2002, foi criada a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), com o objetivo de definir estratégias para a atuação, avaliação e acompanhamento das ações de biossegurança no Brasil. A CTNBio, definida por lei como o órgão responsável pelo controle da tecnologia de biossegurança no Brasil, tem como uma de suas competências a emissão de parecer técnico sobre a liberação de organismos geneticamente modificados (OGMs) no meio ambiente, além de acompanhar o desenvolvimento técnico e científico na área, visando à segurança dos consumidores e da população em geral, com cuidado constante com a proteção do meio ambiente. A Lei de Biossegurança n. 11.105/2005 foi posteriormente criada para atualizar os termos de regulação de organismos geneticamente modificados (OGMs) no País, revogando a Lei n. 8.974/1995. A avaliação de risco envolve a identificação dos agentes biológicos e a probabilidade de dano associada a eles, considerando o tipo de ensaio e o trabalhador envolvido. Além disso, os agentes biológicos são classificados de acordo com o grau de risco que representam para humanos, animais e plantas. A avaliação de risco é composta por diversas medidas com o objetivo de identificar e reconhecer os agentes biológicos, bem como a possibilidade de danos provenientes destes, levando em consideração diversos critérios, tais como o tipo de ensaio realizado, o agente biológico manipulado e o próprio trabalhador. Com isso, os agentes biológicos que podem afetar a saúde humana, animal ou vegetal, são classificados em diferentes níveis de risco, que são definidos de acordo com o grau de periculosidade associado ao agente biológico manipulado. Figura 2. Importância da avaliação dos riscos para identificação dos agentes biológicos. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/risk-assessment-concept-using-wooden-blocks-1894259455. 12 CAPÍTULO 1 • A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE As Diretrizes Gerais para o Trabalho em Contenção com Material Biológico, desenvolvidas em 2004 pela Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS) do Ministério da Saúde, estabelecem a classificação de agentes biológicos em cinco classes distintas. » Classe de Risco 1: envolve agentes biológicos que são conhecidos por não causarem doenças em indivíduos e animais saudáveis. O exemplo dado é o Lactobacillus sp. » Classe de Risco 2: inclui agentes biológicos que possuem um risco moderado para indivíduos e um risco limitado para a comunidade, e que podem causar infecções tanto em humanos quanto em animais. No entanto, sua propagação na comunidade e no meio ambiente é controlada por medidas profiláticas e terapêuticas eficazes. O Schistosoma mansoni é um exemplo desse tipo de agente biológico. » Classe de Risco 3: envolve agentes biológicos com alto risco individual e moderado risco para a comunidade. Eles possuem a capacidade de se propagar por via respiratória e podem causar patologias letais em humanos e animais. Esses agentes podem se disseminar na comunidade e no meio ambiente, e podem ser transmitidos de pessoa para pessoa. Um exemplo desse tipo de agente biológico é o Bacillus anthracis. » Classe de Risco 4: é reservada para os agentes biológicos com alto risco tanto para indivíduos quanto para a comunidade. Esses agentes têm alto poder de transmissão por via respiratória ou transmissão desconhecida e, até o momento, não existem medidas profiláticas ou terapêuticas eficazes contra suas infecções. Eles podem causar doenças graves humanas e animais e se disseminar amplamente na comunidade e no meio ambiente. Essa classe é predominantemente composta por vírus, como é o caso do Vírus Ebola. » Classe de Risco Especial: inclui agentes biológicos que apresentam alto risco de causar doenças graves em animais e de se disseminar no meio ambiente. Embora esses agentes não sejam necessariamente patogênicos para humanos, eles podem causar perdas econômicas significativas e impactar a produção de alimentos. Um exemplo desse tipo de agente biológico é o caramujo-gigante- africano, também conhecido como Achantina fulica, que foi introduzido no Brasil para a produção e comercialização de escargots. (Brasil, 2006; Araújo et al., 2009). 13 A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 1 Figura 3. As classes de risco incluem diversos agentes biológicos, e a classe especial considera agentes biológicos de doença animal não existente no País. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hand-hold-wooden-cubes-risk-word-755088883. Assim, para manipular microrganismos de diferentes classes, é necessário cumprir requisitos de segurança específicos que variam de acordo com o nível de contenção requerido. Esses requisitos são conhecidos como Níveis de Biossegurança e os laboratórios são classificados de acordo com suas capacitações e características para manipular microrganismos de risco 1, 2, 3 ou 4. Essa classificação é representada pelos níveis de biossegurança P1, P2, P3 e P4, respectivamente, e indica diferentes graus de proteção e contenção de risco (Chaves, 2016). Os quatro níveis de biossegurança (NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4) são classificados em ordem crescente de complexidade e contenção, de acordo com o grau de proteção necessário. nB-1: nível de Biossegurança 1 São exigidos procedimentos específicos para trabalhar com microrganismos classificados como de risco 1, que2023. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Conama n. 358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2005. Disponível em: http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=5046. Acesso em: 19 mar. 2023. BRASIL. Decreto n. 10.936, de 12 de janeiro de 2022. Regulamenta a Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.936-de- 12-de-janeiro-de-2022-373573578. Acesso em: 20 out. 2023. BRASIL. Ministério da Saúde. 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Esses procedimentos incluem: » manipulação de agentes bem caracterizados e conhecidos por não serem patogênicos; » trabalho em bancadas abertas; » ausência de separação do laboratório das demais áreas do edifício; » uso obrigatório de equipamentos de proteção individual (EPIs), como jaleco, óculos e luvas. 14 CAPÍTULO 1 • A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE nB-2: nível de Biossegurança 2 É necessário seguir determinados procedimentos para manipular microrganismos de classe de risco 2, que possuem capacidade de causar doenças em seres humanos ou animais de laboratório, mas que não representam um risco significativo para os trabalhadores, a comunidade ou o ambiente. Esses agentes não são transmitidos pelo ar e existem tratamentos efetivos e medidas preventivas disponíveis, o que diminui o risco de contaminação. Para garantir a segurança na manipulação desses microrganismos, é importante seguir as especificações estabelecidas para o NB-1 e mais, tais como: utilizar autoclave, trabalhar em cabine de segurança biológica, restringir o acesso ao local durante os procedimentos operacionais e utilizar proteção facial, aventais e luvas. Além disso, é necessário limitar o acesso ao local onde os microrganismos são manipulados. nB-3: nível de Biossegurança 3 A manipulação de microrganismos de classe de risco 3 exige a adoção de procedimentos específicos, já que estes geralmente causam doenças em seres humanos ou animais e podem representar riscos se disseminados na comunidade. No entanto, medidas de tratamento e prevenção estão disponíveis para esses microrganismos. Para evitar a transmissão pelo ar, é necessário garantir a contenção adequada durante a manipulação. Além disso, é imprescindível que todo o processo seja realizado em cabine de segurança biológica, e que todos os resíduos e materiais utilizados sejam descontaminados ou autoclavados antes de saírem do local. O acesso ao espaço de trabalho deve ser controlado e é importante ter sistemas de ventilação adequados para manter o ambiente seguro. nB-4: nível de Biossegurança 4 O trabalho com microrganismos de classe de risco 4 requer a adoção de procedimentos extremamente rigorosos, já que esses agentes podem causar doenças graves ou letais em seres humanos e animais e são facilmente transmissíveis por contato individual casual. Não existem medidas preventivas ou de tratamento efetivas disponíveis para esses microrganismos. Para garantir a máxima segurança durante a manipulação desses agentes, é necessário seguir uma série de medidas, tais como: construir a instalação em um prédio separado ou em uma zona completamente isolada, ter cabines de segurança biológica ou utilizar macacões individuais com pressão de ar positivo. O acesso ao local de trabalho deve ser controlado de forma rigorosa e apenas permitido a pessoas que tenham sido devidamente treinadas e autorizadas. 15 A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 1 1.1.1. Elementos de contenção O objetivo da contenção no ambiente hospitalar é minimizar ou eliminar a exposição de indivíduos em laboratórios, outras pessoas e meio ambiente aos agentes potencialmente perigosos. Para isso, são utilizadas técnicas de biossegurança, que oferecem tanto a contenção primária quanto a secundária. A contenção primária é fornecida por meio de técnicas de biossegurança que requerem treinamento para serem implementadas. Cada unidade hospitalar deve desenvolver seu próprio manual de biossegurança, identificando os riscos e procedimentos operacionais de trabalho, que deverão ser disponibilizados a todos os usuários do local. Além disso, as boas práticas constituem um conjunto de normas, procedimentos e atitudes de segurança que visam minimizar os acidentes envolvendo atividades laboratoriais, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade dos serviços e manter o ambiente seguro. Os equipamentos de segurança são considerados barreiras primárias de contenção, juntamente com as boas práticas, e visam proteger os indivíduos e os locais. Esses equipamentos são classificados como equipamentos de proteção individual (EPI) e equipamentos de proteção coletiva (EPC). Figura 4. Biossegurança no ambiente hospitalar. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/woman-researcher-holding-clear-plastic-bag-1946694640. EPIs são dispositivos destinados ao uso individual e têm como finalidade preservar a saúde e a integridade física do trabalhador. A NR-06, regulamentada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), estabelece as normas e diretrizes para a utilização desses equipamentos. Por outro lado, os EPCs são dispositivos que visam proteger todos os profissionais que estão expostos a riscos no ambiente de trabalho (Brasil, 1978). 16 CAPÍTULO 1 • A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE A cabine de segurança biológica é um exemplo comum de barreira de contenção, amplamente utilizada para evitar a disseminação de aerossóis ou borrifos infecciosos durante procedimentos microbiológicos. Existem três tipos principais de cabines de segurança biológica: Classe I, II e III, cada uma adequada para diferentes níveis de proteção. As cabines Classe I e II possuem frente aberta e oferecem proteção significativa para a equipe do laboratório e o meio ambiente, desde que utilizadas com técnicas microbiológicas adequadas. A Classe II também previne a contaminação externa de materiais manipulados dentro da cabine, como culturas de células e estoques microbiológicos. Já a cabine Classe III é totalmente hermética e à prova de gases, fornecendo o mais alto nível de proteção para os trabalhadores e o ambiente. Figura 5. Cabine de segurança biológica. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/laboratory-technician-analyzes-covid-19-fume-1796227573. Para proteger a equipe de trabalho, a comunidade e o meio ambiente de agentes infecciosos que possam ser liberados acidentalmente do laboratório, é necessário ter contenção secundária. Essa contenção é alcançada por meio do planejamento e da construção de instalações com barreiras secundárias, que incluem sistemas de ventilação especializados para garantir o fluxo unidirecional do ar, sistemas de tratamento de ar para descontaminação ou remoção do ar liberado, zonas de acesso controlado e câmaras pressurizadas com entradas separadas para o laboratório ou módulos de isolamento. A elaboração e adaptação da estrutura física deve ser feita por uma equipe multidisciplinar composta por pesquisadores, técnicos de laboratório, arquitetos e engenheiros para estabelecer padrões e normas específicas para garantir a segurança do local (Sangioni et al., 2010). 17 A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 1 1.2 Biossegurança em saúde De acordo com estudos históricos, acredita-se que o uso do jaleco tenha se iniciado na Idade Média. Naquela época, resíduos e manchas de sangue na roupa dos médicos eram vistos como um sinal de muitos pacientes, o que lhes conferia respeito e prestígio. No entanto, com a comprovação científica de que muitas doenças eram transmitidas por falta de limpeza e desinfecção, o jaleco branco e limpo tornou-se a norma. Esse hábito se estendeu também ao ambiente em que os procedimentos médicos eram realizados, de forma a garantir a segurança do paciente e dos profissionais da saúde (Passos, 2016). Figura 6. uso de jaleco em ambiente hospitalar. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/two-confident-doctors-safety-medical-masks-1869793978. No Brasil, recentemente foi instituída uma lei com o objetivo de conscientizar os profissionais sobre os riscos associados ao uso do jaleco em locais públicos, como restaurantes, lanchonetes, padarias e transportes públicos. É importante lembrar que muitos micro-organismos são invisíveis a olho nu e a aparência ou cheiro de limpeza podem ser enganosos. O jaleco é um equipamento de proteção no ambiente detrabalho, mas fora desse ambiente, pode ser um meio de transporte de doenças e de contaminação, representando riscos para pacientes, colegas de trabalho e outras pessoas que frequentam esses espaços. O exemplo do jaleco é apenas uma ilustração, pois há muito tempo as consequências do trabalho na vida e saúde humana são objeto de estudos e análises. Consequentemente, tornou-se claro que as medidas de biossegurança são fundamentais para proteger a vida e promover a saúde e o bem-estar da população (Fiocruz, 2020). 18 CAPÍTULO 1 • A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE Conforme discutido anteriormente, a biossegurança abrange um conjunto de medidas direcionadas à prevenção, redução e eliminação de riscos associadas a atividades de pesquisa, ensino, produção, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, com o objetivo de promover a saúde humana e animal, preservar o meio ambiente e garantir a qualidade dos resultados obtidos (Fiocruz, 2020). Perceba que o conceito de biossegurança é amplo e complexo. A biossegurança não se limita a lidar com micro-organismos e seus riscos, mas abrange todos os ambientes em que os seres humanos interagem e os impactos que podem ter na saúde humana e no meio ambiente. Portanto, a biossegurança é uma ferramenta fundamental para a preservação da saúde e do meio ambiente. Os princípios gerais da biossegurança incluem: Quadro 1. Princípios gerais da biossegurança. » Levantamento dos riscos; » utilização de equipamentos de segurança; » Técnicas e práticas de laboratório; » Estrutura física dos ambientes de trabalho; » Correto descarte de resíduos; » Gestão administrativa dos locais de trabalho em saúde. Fonte: Fiocruz (2000). As atividades laborais estão diretamente ligadas à vulnerabilidade a doenças, pois estão expostas a diversos procedimentos e fatores de risco. Alguns desses fatores incluem exposição a temperaturas extremas, radiação, produtos químicos, estresse, agentes infecciosos e riscos ergonômicos, entre outros, que podem contribuir para o agravamento de problemas de saúde de diversas maneiras, muitas vezes cumulativas (Silva; Barbosa; Duarte, 2014). Para refletir Como mencionado neste capítulo, os profissionais da saúde estão em constante contato com agentes de riscos. Por exemplo, o profissional da saúde ou o colaborador que transita em ambiente hospitalar deve estar atento ao atendimento do paciente com tuberculose, por exemplo, pois ele pode estar em contato e manipulando um agente de classe de risco 3, que pode causar patologias graves no indivíduo, além de expor outras pessoas ao contágio, podendo propagar-se de uma pessoa infectada para outra. O profissional deve ter extrema atenção às normas de biossegurança na manipulação desse paciente. Você já parou para pensar sobre a importância do uso de equipamentos individuais de proteção? No âmbito do Ministério da Saúde, a biossegurança é tratada pela Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS) (Portaria n. 1.683, de 28 de agosto de 2003), que tem como objetivo definir as estratégias de atuação, avaliação e acompanhamento das ações envolvidas na biossegurança (Brasil, 2003). 19 A BIOSSEGuRAnçA E A BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE • CAPÍTULO 1 As infecções hospitalares constituem um grande problema de saúde pública e, considerando o fato de que a prevenção e controle destas envolvem medidas voltadas para a qualificação de assistência hospitalar, o Ministério da Saúde institui o Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH), que objetiva a redução máxima da incidência e da gravidade das infecções hospitalares. O PCIH foi estabelecido pela Lei Federal n. 9.431, de 6 de janeiro de 1997 e mantido por meio da Portaria MS n. 2.616, de 12 de maio de 1998. Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » O conceito de biossegurança, que define um conjunto de ações voltadas para prevenir, controlar, atenuar ou eliminar riscos ligados às atividades que venham a interferir ou comprometer a qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. » A Lei n. 8.974/1995 foi substituída pela Lei n. 11.105, que estabelece regras de segurança e mecanismos para supervisionar atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGMs) e seus derivados, com o objetivo de proteger a saúde humana, animal e vegetal, bem como o meio ambiente. » A classificação dos agentes biológicos conforme seus critérios de patogenicidade. » As barreiras de contenção são essenciais para proteger os profissionais da saúde contra agentes contaminantes, garantindo a segurança no ambiente de trabalho. Isso é alcançado por meio do uso adequado de EPIs e EPCs, bem como a adoção das boas práticas de laboratório (BPLs) e vacinação adequada. O uso correto de EPIs e EPCs reduz ou elimina a exposição da equipe de trabalho, de outras pessoas e do meio ambiente a agentes potencialmente perigosos. » Os princípios gerais de biossegurança e algumas estratégias para ações de biossegurança. 20 Introdução O campo da biossegurança em saúde vem se desenvolvendo cada vez mais com o objetivo de prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos relacionados às atividades que possam comprometer a qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. A gestão dos riscos hospitalares tem se esforçado em garantir a proteção e segurança dos trabalhadores de saúde, implementando um conjunto de normas e regulamentações para proporcionar melhor qualidade de vida e segurança no local de trabalho. A biossegurança é baseada em normas e regulamentações governamentais que são fiscalizadas por órgãos responsáveis, tornando-se, assim, fundamental para a promoção da saúde dos trabalhadores nos ambientes de trabalho. É responsabilidade do profissional de saúde gerenciar a qualidade do serviço prestado e garantir a integridade física de seus pacientes. Para isso, é crucial que ele saiba identificar os fatores de risco de acidentes presentes em seu ambiente de trabalho. Dessa forma, é possível adotar práticas de biossegurança e reduzir os riscos ocupacionais. Neste capítulo, você vai entender o conceito e o contexto histórico da biossegurança em saúde e das respectivas legislações no Brasil. Além disso, vai aprender a identificar os principais riscos existentes nos ambientes hospitalares, como os riscos físicos, químicos e ergonômicos. Objetivos » Descrever os principais conceitos e definições aplicados à biossegurança. » Identificar as principais normas e leis relacionadas à biossegurança no contexto brasileiro. » Reconhecer e identificar a classificação de riscos ocupacionais no ambiente hospitalar. 2 CAPÍTULO BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR 21 BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR • CAPÍTULO 2 2.1 Biossegurança em Saúde e a Gestão da Qualidade Hospitalar A biossegurança é uma estratégia fundamental para o desenvolvimento sustentável, uma vez que visa prevenir e eliminar os riscos associados às novas tecnologias da área da saúde. No Brasil, os debates acerca da importância da biossegurança surgiram na década de 1970, quando se percebeu a necessidade de implementar programas de proteção e segurança para os trabalhadores, especialmente para aqueles envolvidos em pesquisas com microrganismos. A partir desse cenário, iniciaram-se as discussões sobre a exposição ocupacional, que está diretamente relacionada ao conceito de biossegurança. Inicialmente, o foco estava nos trabalhadores de laboratórios de análise de material biológico, que apresentavam alta incidência de doenças como tuberculose e hepatite B (Brasil, 2005; 2011). No entanto, a biossegurança foi oficialmente estabelecida no Brasil apenas na década de 1980, quando o País participou de um programa de treinamento internacional em biossegurança organizado pela Organização Mundial da Saúde. A partir desse momento, foram implementadas medidas para acompanhar os avanços tecnológicos na área e garantir a segurança dos profissionais e da população emgeral. Figura 7. Boas práticas de segurança no ambiente hospitalar. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/close-medical-staff-washing-hands-317573693. A partir de 1985, foram iniciados no Brasil cursos de biossegurança, com o objetivo de introduzir medidas de segurança nas atividades dos profissionais de saúde. Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde começou um projeto para aprimorar a capacitação científica e tecnológica, para lidar com doenças emergentes e reemergentes, e fortalecer a implementação da biossegurança em instituições de saúde. No entanto, foi somente na década de 1990 que a primeira lei de biossegurança foi promulgada, 22 CAPÍTULO 2 • BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR a Lei n. 8.974, em 5 de janeiro de 1995, posteriormente substituída pela Lei n. 11.105, em 24 de março de 2005 (Brasil, 2010). A implementação de medidas de biossegurança tem proporcionado resultados significativos na proteção dos profissionais de saúde, porém, essas ações ainda carecem de maior reconhecimento e divulgação entre os trabalhadores e instituições, a fim de reduzir os riscos ocupacionais de contaminação durante o processo de trabalho. Figura 8. Profissionais de saúde com seus equipamentos de proteção garantindo biossegurança. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/professional-doctors-nurses-posing-together-hospital-1666530439. Ao falarmos sobre riscos de acidentes, geralmente pensamos em situações dramáticas, sem considerar que pequenas ações cotidianas também podem oferecer alto grau de risco para nossa saúde. A palavra risco é definida pelos dicionários da língua portuguesa como “perigo, probabilidade ou possibilidade de perigo; estar em risco”. Apenas a partir dessa definição, podemos inferir que mesmo fora de uma situação de risco explícito, ainda há a possibilidade implícita de estarmos em perigo. A formação do entendimento acerca dos perigos relacionados ao trabalho não se restringe apenas ao aspecto informativo, mas abrange também a percepção individual do problema, ou seja, a habilidade de compreender e absorver tais informações. As atividades laborais frequentemente envolvem riscos à saúde dos trabalhadores, os quais são conhecidos como agentes de risco. Esses agentes podem ser classificados em duas categorias, dependendo do tipo de ação e reação que provocam quando o indivíduo é exposto a eles. A ação direta ocorre quando há contato direto entre o 23 BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR • CAPÍTULO 2 agente de risco e o trabalhador, como no caso de substâncias químicas. Já a ação indireta ocorre por meio das mudanças ocasionadas pela presença do agente de risco no ambiente de trabalho, que podem ter efeitos sobre os indivíduos, como é o caso de fiações elétricas expostas que aumentam o risco de choques elétricos ou incêndios. Figura 9. Ações de segurança no trabalho. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/3d-isometric-flat-conceptual-illustration-safety-2191287817. 2.2 Conceitos e tipos de risco no ambiente hospitalar A avaliação de riscos é essencial para garantir a segurança e a saúde dos profissionais da saúde no ambiente de trabalho. Isso se deve às atividades diárias que esses profissionais executam, que frequentemente envolvem exposição a fatores de risco. Esses fatores de risco podem ser encontrados em atividades assistenciais diretas e indiretas, como cuidados prestados a pacientes e em atividades de organização, limpeza e desinfecção de materiais, equipamentos e ambientes. A avaliação de riscos pode ajudar a identificar esses fatores e tomar medidas para reduzir a exposição e proteger a saúde dos trabalhadores. A exposição a riscos biológicos no ambiente de trabalho ocorre quando há contato com materiais que possivelmente contêm agentes infecciosos, e é definida por Marino et al. (2001, documento on-line, tradução nossa) como “[...] a possibilidade de contato com sangue e fluidos orgânicos no ambiente de trabalho e as formas de exposição incluem inoculação percutânea, por intermédio de agulhas ou objetos cortantes, e o contato direto com pele e/ou mucosas”. Além disso, os profissionais da saúde também estão expostos a outros agentes biológicos, como bactérias, fungos e parasitas, que podem causar doenças infecciosas. Esses agentes podem estar presentes em fluidos corporais, como sangue, urina, fezes e secreções, além de serem transmitidos pelo contato com 24 CAPÍTULO 2 • BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR superfícies contaminadas. Por isso, medidas de biossegurança são essenciais para prevenir a exposição e reduzir o risco de contaminação por esses agentes. Figura 10. As classes de risco incluem diversos agentes: biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e de acidente. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/risk-word-magnifying-glass-vector-icon-1563839734. De acordo com uma pesquisa realizada por Godfre (2001), acidentes com materiais perfurocortantes, especialmente agulhas, são responsáveis por 80% a 90% das transmissões de doenças infecciosas entre trabalhadores da área da saúde. O risco de contrair uma infecção através de uma agulha contaminada é de um em três para hepatite B, um em 30 para hepatite C e um em 300 para HIV. Existem perigos físicos que surgem quando o trabalhador se depara com situações que envolvem radiação, vibrações, ruídos, temperatura ambiente, iluminação e eletricidade. Esses fatores podem causar desconfortos visuais, auditivos e térmicos, bem como danificar os olhos devido à exposição à radiação ultravioleta. Além disso, eles podem resultar em mudanças na morfologia das células sanguíneas, afetar a capacidade reprodutiva de homens e mulheres, produzir efeitos teratogênicos, radiodermatite e carcinogênese. Os r iscos ergonômicos estão relacionados à adaptação do indivíduo ao seu ambiente de trabalho, especialmente quando se trata de posturas inadequadas ou prolongadas e erros posturais durante o manuseio de pacientes, equipamentos e materiais. Além disso, a presença de móveis inadequados, como mesas e cadeiras 25 BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR • CAPÍTULO 2 que não são ajustáveis ou que não têm tamanho ou altura apropriados, também é classificada como risco ergonômico. Os riscos químicos são frequentemente associados à desinfecção, esterilização, administração de medicamentos, uso de compostos químicos e outros procedimentos similares no ambiente de trabalho. Esses riscos podem levar a queimaduras na pele e nas mucosas, dermatites de contato, alergias respiratórias, intoxicações agudas e crônicas, mudanças na estrutura das células sanguíneas, conjuntivite química e, em casos mais graves, o desenvolvimento de câncer. Guimarães (2006) afirma que os fatores de risco psicossocial no trabalho são definidos como características do trabalho que agem como estressores e que o trabalhador não possui recursos adequados para lidar com eles. Esses fatores podem ser vistos como percepções subjetivas do trabalhador em relação à organização do trabalho, à carreira, ao cargo, ao ritmo de trabalho, ao ambiente social e técnico. Atenção A Organização Internacional do Trabalho (OIT) (OFICINA…, 1986), definiu que o risco psicossocial é resultado da interação entre o conteúdo do trabalho, a sua organização e gerenciamento, bem como outras condições ambientais e organizacionais, por um lado, e as habilidades e necessidades dos trabalhadores, por outro. Os riscos psicossociais no ambiente de trabalho podem ser divididos em duas categorias: estressores e disponibilidade de recursos pessoais e de trabalho. Os estressores referem-se às dimensões físicas, sociais e organizacionais do trabalho que exigem manutenção e estão ligados aos custos psicológicos e fisiológicos envolvidos no processo de trabalho. Já a disponibilidade de recursos pessoais e laborais diz respeito aos aspectos psicológicos, físicos, sociais e organizacionais necessáriospara atingir objetivos, reduzir as demandas do trabalho e estimular o desenvolvimento profissional. Em contrapartida, os riscos de acidentes estão relacionados a fatores que colocam o trabalhador em situações perigosas e afetam sua saúde física. Exemplos incluem manuseio inadequado de materiais sem o uso de equipamentos de proteção, armazenamento impróprio de substâncias tóxicas, disposição física do ambiente de trabalho, entre outros. No cotidiano dos profissionais de saúde, a implementação de medidas de biossegurança é uma das ações necessárias para o gerenciamento da qualidade, já que questões relacionadas à qualidade do serviço prestado estão diretamente ligadas ao uso de práticas seguras. 26 CAPÍTULO 2 • BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR Figura 11. Biossegurança no ambiente hospitalar. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/medical-worker-holds-test-tube-monkeypox-2159985719. Para melhor entendimento sobre os riscos ocupacionais, é importante conhecer os grupos, as cores e as especificidades de cada tipo de risco, conforme estabelecido nas regulamentações das NRs 05 e 09. Quadro 2. Riscos físicos. Grupo 1 Verde Riscos físicos Ruídos, vibrações, radiações ionizantes e não ionizantes, frio, calor, pressões anormais, umidade. Fonte: Brasil (2011). Quadro 3. Riscos químicos. Grupo 2 Vermelho Riscos químicos Poeiras, fungos, névoas, gases, vapores, substâncias, compostos ou produtos químicos em geral. Fonte: Brasil (2011). Quadro 4. Riscos biológicos. Grupo 3 Verde Riscos biológicos Vírus, bactérias, protozoários, fungos, parasitas, bacilos. Fonte: Brasil (2011). Quadro 5. Riscos ergonômicos. Grupo 4 Marrom Riscos ergonômicos Situações como esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, postura inadequada, pressão por produtividade, ritmos excessivos, trabalho noturno, jornadas prolongadas, monotonia e repetitividade são exemplos de fatores que podem causar estresse físico e/ou psicológico no ambiente de trabalho. Fonte: Brasil (2011). 27 BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR • CAPÍTULO 2 Quadro 6. Risco de acidentes. Grupo 5 Azul Riscos de acidentes Arranjo físico inadequado, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inadequada, eletricidade, probabilidade de incêndio ou explosão, armazenamento inadequado, animais peçonhentos, outras situações de risco que poderão contribuir para ocorrência de acidentes. Fonte: Brasil (2011). Figura 12. uso de jaleco como barreira de proteção. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-scientists-white-uniform-working-laboratory-97043522. 2.3 Gestão dos riscos nos serviços hospitalares A percepção refere-se a um conjunto de processos que nos permitem reconhecer, organizar e interpretar as sensações que recebemos dos estímulos do ambiente. No contexto dos riscos ocupacionais, a percepção individual dos trabalhadores sobre os riscos é um elemento importante a ser considerado. A compreensão e a capacidade de assimilação das informações sobre os riscos podem variar entre os trabalhadores, e essa percepção pode influenciar o comportamento e as atitudes em relação à segurança no trabalho. Portanto, é importante que os programas de prevenção de riscos ocupacionais considerem não apenas a informação objetiva sobre os riscos, mas também a percepção individual dos trabalhadores em relação a esses riscos. Além disso, a avaliação dos riscos no local de trabalho deve levar em consideração também as condições de trabalho, as características dos profissionais, as atividades exercidas, o ambiente físico e organizacional, bem como as medidas de prevenção e controle já implementadas. A análise dos riscos é um processo contínuo e deve ser revisada periodicamente, a fim de garantir que as medidas de controle adotadas estejam sendo efetivas e adequadas às condições de trabalho e aos riscos identificados. 28 CAPÍTULO 2 • BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR Figura 13. Descarte correto de resíduos. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/biohazards-waste-icons-trash-garbage-bag-2003661959. A NR 32 tem como finalidade estabelecer princípios e medidas básicas para a garantia da segurança e saúde dos trabalhadores que atuam nos serviços de saúde, visando prevenir acidentes e doenças ocupacionais. Além disso, a norma também objetiva assegurar a promoção da qualidade de vida no trabalho e aprimoramento das condições de trabalho desses profissionais. A NR 32 engloba diversas áreas, incluindo a adoção de medidas para prevenção e controle de riscos biológicos, químicos, físicos e ergonômicos, a disponibilização de equipamentos de proteção coletiva e individual, a realização de treinamentos e capacitações para os trabalhadores, entre outros. A mesma normativa exige que os empregadores realizem a análise de risco e adotem medidas preventivas e corretivas, bem como a capacitação e o treinamento dos trabalhadores em relação aos riscos ocupacionais. A norma também estabelece medidas específicas para áreas como laboratórios, unidades de saúde animal, serviços de radiologia, entre outras. A NR 32 é de extrema importância para a saúde e segurança do trabalhador em serviços de saúde, uma vez que esses profissionais estão expostos a diversos riscos, como exposição a agentes biológicos, químicos e físicos, acidentes com materiais perfurocortantes, entre outros. O cumprimento da norma pode contribuir para a redução de acidentes e doenças ocupacionais nesses locais de trabalho. 29 BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR • CAPÍTULO 2 A Norma Regulamentadora 06 (NR 06) torna obrigatório o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Por meio da adoção de precauções padrão e medidas de proteção, os profissionais de saúde podem evitar a transmissão de doenças aos pacientes e a si mesmos. Independentemente da presença ou não de uma doença transmissível comprovada, é fundamental que essas medidas sejam tomadas, e o uso de EPIs, como luvas, máscaras, gorros, óculos de proteção, aventais e botas, é indispensável. Além disso, a lavagem adequada das mãos, o descarte correto de roupas e resíduos, o armazenamento apropriado de materiais perfurocortantes e a vacinação de todos os profissionais contra a hepatite B também são medidas cruciais para garantir a segurança dos profissionais de saúde e de seus pacientes. Ao adotar essas medidas, os profissionais de saúde podem trabalhar com mais confiança e segurança, contribuindo para a melhoria dos cuidados prestados aos pacientes. Figura 14. Exemplos de equipamentos de proteção individual. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-set-medical-personal-protective-equipment-1714715302. A notificação como registro documental é de extrema importância para permitir a divulgação de estimativas da ocorrência de acidentes biológicos, bem como da letalidade das infecções, a fim de orientar a tomada de medidas para melhorar a notificação dos acidentes e encaminhamento dos trabalhadores acidentados aos serviços especializados. Além disso, a notificação é fundamental para adotar medidas preventivas em relação aos acidentes nos locais de trabalho. Por meio da análise das notificações, é possível identificar as principais causas dos acidentes biológicos, os grupos mais afetados, as regiões com maior incidência e outras informações relevantes. Com base nessas informações, é possível elaborar estratégias mais eficazes de prevenção e controle dos acidentes biológicos. Portanto, a notificação é uma ferramenta essencial para aprimorar a vigilância epidemiológica e a saúde e segurança dos trabalhadores. É imprescindível que os profissionais compreendam a importância da notificação e que as instituições de saúde e segurança do trabalho forneçam suporte para a realização desse registro. 30 CAPÍTULO 2 • BIOSSEGuRAnçA EM SAÚDE E A GEStãO DO RISCO HOSPItALAR Pararefletir Estudos recentes reforçam a importância da adoção de medidas efetivas para prevenir acidentes e doenças ocupacionais, não apenas para garantir a segurança e saúde dos trabalhadores, mas também para evitar prejuízos econômicos. Além disso, a implementação de políticas de segurança e saúde no trabalho pode trazer benefícios significativos para as empresas, como a redução do absenteísmo, aumento da produtividade e melhoria da reputação corporativa. No entanto, é essencial que os profissionais da saúde tenham conhecimento sobre os riscos presentes em seus ambientes de trabalho e compreendam a gravidade de cada fator para minimizar os riscos eficazmente. Além disso, é importante que eles executem suas atividades laborais de maneira apropriada, sempre tentando prevenir ou reduzir a ocorrência de acidentes ocupacionais. A conscientização e a educação contínua são cruciais para garantir que os profissionais da saúde estejam atualizados e preparados para enfrentar os riscos presentes em seus locais de trabalho. Tais medidas podem incluir treinamentos específicos, instruções sobre o uso correto dos equipamentos de proteção individual (EPIs) e medidas preventivas de acidentes, bem como a promoção de uma cultura de segurança no ambiente de trabalho. Por meio dessas ações, é possível reduzir significativamente a ocorrência de acidentes ocupacionais e, portanto, melhorar a saúde e a segurança dos profissionais da saúde, proporcionando um ambiente de trabalho mais seguro e saudável. Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » A biossegurança, que visa promover ações voltadas para prevenir, controlar, atenuar ou eliminar riscos ligados às atividades que venham a interferir ou comprometer a qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. » A classificação dos riscos ocupacionais. Pode haver diversos agentes agressores no ambiente de trabalho. Para que fosse possível identificá-los de forma mais fácil, foram separados em cinco grupos, que são os riscos físicos, biológicos, químicos, ergonômicos e de acidente. » O conhecimento sobre os riscos ocupacionais permite a correta prevenção destes, bem como a gestão deles. » As atividades rotineiras desenvolvidas pelos profissionais da saúde frequentemente afetam sua qualidade de vida. Devido à grande responsabilidade inerente às suas obrigações e à variedade de atividades em que estão envolvidos, é comum que sua capacidade de concentração em tarefas básicas diminua, o que aumenta a probabilidade de ocorrência de acidentes de trabalho. 31 Introdução Para garantir a segurança dos profissionais da área da saúde, que estão sujeitos a vários riscos que podem resultar em acidentes de trabalho, foi criada a Norma Regulamentadora 32 (NR 32). A norma estabelece orientações para prevenir esses riscos e proteger a saúde dos trabalhadores da área da saúde. No entanto, muitos empregadores em estabelecimentos de saúde tendem a ignorar aspectos importantes dessa norma. Os profissionais da área da saúde devem estar cientes das diretrizes descritas na NR 32, que abrangem medidas preventivas para lidar com os riscos biológicos, químicos e de radiação ionizante, bem como gerenciamento de resíduos de saúde, condições adequadas para as refeições dos trabalhadores, lavanderia e limpeza e manutenção de equipamentos. Neste capítulo, você vai estudar os principais pontos que constam na NR 32 e a sua influência para os profissionais da saúde. Objetivos » Identificar o campo de aplicação e os objetivos da Norma Regulamentadora 32. » Explicar como a NR 32 influencia os profissionais da área de saúde. » Descrever as ações que devem ser realizadas no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional em caso de exposição acidental dos trabalhadores a agentes biológicos. 3.1 normatizações do Ministério do trabalho e Emprego para garantia da saúde ocupacional Aprovada em 2005, a Norma Regulamentadora 32 (NR 32) de Segurança de Trabalho nos Estabelecimentos da Saúde é uma legislação do Ministério do Trabalho e Emprego 3 CAPÍTULO SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE 32 CAPÍTULO 3 • SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE que tem como objetivo assegurar a proteção e a promoção da segurança e da saúde dos trabalhadores que atuam na área da saúde. Além dos trabalhadores diretamente envolvidos, a NR 32 também abrange profissionais de outras empresas que atuam nessa área, como prestadores de serviço, cooperativas e empresas terceirizadas. É importante destacar que a responsabilidade pelo cumprimento da norma é compartilhada entre contratantes e contratados. Figura 15. Proteção dos trabalhadores. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/epidemiology-health-danger-risk-spread-laboratory-1662212323. A NR 32 estabelece a necessidade de adotar medidas preventivas para proteger os profissionais da área da saúde em todas as situações de risco possíveis, além de promover a capacitação desses trabalhadores. O principal objetivo da norma é controlar os riscos de exposição ocupacional a agentes biológicos, químicos e físicos, bem como gerenciar os resíduos gerados pelos serviços de saúde e garantir condições adequadas de higiene e segurança em relação a refeições, lavanderias, limpeza, conservação e manutenção de equipamentos e máquinas. Conforme a NR 32, os estabelecimentos de saúde são considerados como qualquer local destinado a fornecer serviços de saúde, abrangendo atividades de assistência, recuperação, promoção, pesquisa e ensino em saúde em diferentes níveis de complexidade. É importante ressaltar que a definição de serviço de saúde inclui a edificação, o que significa que todos os trabalhadores que atuam em um prédio da área de saúde, independentemente de suas funções estarem relacionadas com promoção e assistência à saúde, são abrangidos por esta norma. Assim sendo, os profissionais responsáveis pela limpeza, administração e manutenção em estabelecimentos de saúde também devem seguir as diretrizes estabelecidas pela NR 32. 33 SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE • CAPÍTULO 3 Figura 16. A NR 32 e sua aplicação em todas as atividades da área de saúde (atenção primária, secundária e terciária). Promoção Recuperação AssistênciaPesquisa Ensino Fonte: elaborada pela autora (2023). A NR 32 tem como objetivo principal proteger os trabalhadores da área da saúde e afeta diretamente esses profissionais de diversas maneiras. É necessário que eles estejam cientes das diretrizes descritas na NR 32, que dizem respeito a medidas preventivas para lidar com os possíveis riscos do local de trabalho, como riscos biológicos, químicos e radiações ionizantes, além de gerenciamento de resíduos de saúde, conforto durante as refeições, lavanderias, limpeza e manutenção de equipamentos. Todos os trabalhadores da área da saúde, incluindo aqueles que não têm atividades relacionadas à saúde, mas trabalham em estabelecimentos de saúde, devem ser capacitados para executar essas medidas preventivas. A NR 32 também influencia diretamente o empregador, que deve implementar as diretrizes estabelecidas, como elaboração de documentos, análise de riscos, medidas preventivas, capacitação e treinamento de funcionários. A NR 32 tem atuação ampla no sentido de reduzir os índices de acidentes de trabalho na área da saúde. Dados do Ministério do Trabalho, de 2014, apontam para 74.276 casos de acidentes de trabalho registrados nesse setor. O risco de acidentes com materiais biológicos é uma questão de saúde pública mundial, o que acaba gerando prejuízos financeiros para o País, já que muitas vezes o trabalhador precisa se afastar de sua atividade laboral. Há cerca de 22 doenças que podem ser transmitidas por meio da interação entre pacientes e profissionais de saúde, sendo as mais preocupantes aquelas causadas pelos vírus da hepatite C, da hepatite B e do HIV, que afetam a saúde do trabalhador de forma significativa. A NR 32 busca prevenir esses acidentes e proteger a saúdedo trabalhador, o que é essencial tanto para o próprio profissional quanto para a sociedade em geral (Magagnini; Rocha; Ayres, 2011). 34 CAPÍTULO 3 • SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE No âmbito da NR 32, o risco biológico é definido como a possibilidade de exposição ocupacional a agentes biológicos, tais como microrganismos, parasitas, toxinas, príons, bem como culturas de células, sejam eles geneticamente modificados ou não. Com o propósito de estabelecer regras para a exposição dos profissionais a esses perigos, a NR 32 determina a obrigatoriedade de dois documentos em todas as organizações: o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Figura 17. O profissional está exposto a diversos microrganismos. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/scientist-makes-laboratory-analysis-life-system-2164518965. No âmbito da NR 32, o risco biológico refere-se à possibilidade de exposição ocupacional a agentes biológicos, incluindo microrganismos, parasitas, toxinas, príons e culturas de células, independentemente de serem geneticamente modificados ou não. A fim de regular a exposição dos trabalhadores a esses riscos, a NR 32 estabelece normas para dois documentos obrigatórios em todas as empresas: o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). A NR 32 exige a identificação dos riscos biológicos mais prováveis em conformidade com a localização geográfica e as características do serviço de saúde e seus setores. Para isso, é necessário considerar as fontes de exposição e reservatórios, as vias de transmissão e entrada, a transmissibilidade, patogenicidade e virulência do agente, a persistência do agente biológico no ambiente, estudos epidemiológicos ou dados estatísticos e outras informações científicas relevantes. Além disso, é importante 35 SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE • CAPÍTULO 3 avaliar o local de trabalho e o trabalhador, levando em conta a finalidade e descrição do local de trabalho, a organização e os procedimentos de trabalho, a possibilidade de exposição, a descrição das atividades e funções de cada local de trabalho, as medidas preventivas aplicáveis e seu acompanhamento. Tudo isso é feito com o objetivo de proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores da área da saúde. O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) tem como objetivo promover a saúde ocupacional dos trabalhadores. A elaboração desse programa é obrigatória para todos os empregadores e instituições que contratarem trabalhadores como empregados, conforme estabelecido na NR 07. Além das diretrizes previstas na NR 07, a NR 32 estabelece que o PCMSO deve incluir os seguintes itens: » identificação e avaliação dos riscos biológicos; » localização das áreas de risco; » lista com a identificação nominal dos trabalhadores, sua função, o local onde atuam e o risco ao qual estão expostos; » acompanhamento médico dos trabalhadores potencialmente expostos; » programa de vacinação. Além disso, o PCMSO deve incluir medidas referentes à eventual exposição acidental aos agentes biológicos, tais como: » os procedimentos a serem adotados para o diagnóstico, acompanhamento e prevenção da soroconversão e das doenças; » as medidas para descontaminação do local de trabalho; » o tratamento médico de emergência para os trabalhadores; » a identificação dos responsáveis pela aplicação das medidas apropriadas; » a lista de estabelecimentos de saúde que podem prestar assistência aos trabalhadores; » os procedimentos para remoção dos trabalhadores para atendimento médico; » a lista de estabelecimentos de saúde depositários de imunoglobulinas, vacinas, medicamentos necessários, materiais e insumos especiais (Portaria GM n. 1.748/2011 –NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde) (Brasil, 2011). Depois de identificar os possíveis riscos no ambiente de trabalho, é essencial implementar medidas de proteção para mitigá-los. Tais medidas são estabelecidas e incluídas no PPRA. No entanto, é importante destacar que, de acordo com a NR 32, em 36 CAPÍTULO 3 • SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE caso de exposição acidental, medidas de proteção devem ser adotadas imediatamente, mesmo que não estejam previstas no PPRA. As medidas de proteção recomendadas pela NR 32 para riscos biológicos incluem: » Para garantir a segurança dos trabalhadores da área da saúde, a NR 32 estabelece ações específicas para a prevenção da exposição ao risco biológico. Uma dessas medidas é a disponibilização de lavatórios exclusivos para a higiene das mãos em todas as áreas onde possa haver exposição ao agente biológico. Esses lavatórios devem estar equipados com água corrente, sabonete líquido, toalhas descartáveis e lixeira com sistema de abertura sem contato manual. » Nos quartos ou enfermarias destinados ao isolamento de pacientes com doenças infectocontagiosas, é necessário que haja um lavatório interno para uso dos profissionais que estão em contato com esses pacientes. » É importante ressaltar que o uso de luvas não substitui a lavagem das mãos, que deve ser realizada antes e após o uso delas, no mínimo. Essas medidas têm como objetivo proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores da área da saúde. Figura 18. Lavagem das mãos. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/hand-washing-mandatory-vector-sign-blue-1702708156. 37 SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE • CAPÍTULO 3 » Os trabalhadores que apresentarem feridas ou lesões nos membros superiores só poderão iniciar suas atividades após passarem por avaliação médica e terem um documento de liberação emitido. » Todos os trabalhadores que possam ser expostos a agentes biológicos devem utilizar roupas de trabalho adequadas e confortáveis. » Os trabalhadores não devem sair do local de trabalho com o EPI ou as roupas utilizadas durante suas atividades laborais. Além disso, é necessário garantir que os materiais perfurocortantes possuam dispositivos de segurança. » Realizar o procedimento de reencape e desconexão manual de agulhas é proibido. » Os trabalhadores que utilizam materiais perfurocortantes são responsáveis pelo descarte adequado destes. » Cabe ao empregador proibir a utilização das pias de trabalho para outros fins, bem como o uso de adornos, manuseio de lentes de contato, consumo de alimentos e bebidas e fumar no local de trabalho. » Cabe ao empregador a responsabilidade de proibir o uso de calçados abertos e o armazenamento de alimentos em locais não apropriados para essa finalidade. » Deve-se garantir a conservação e a higienização dos materiais de trabalho. » Para garantir a segurança dos trabalhadores é preciso oferecer recipientes apropriados para o transporte de materiais infecciosos e providenciar capacitação adequada, atualizada conforme novos conhecimentos e riscos biológicos identificados. A Norma Regulamentadora 32 estabelece medidas preventivas para evitar doenças infecciosas e contagiosas no ambiente de trabalho. Cabe ao empregador fornecer de forma gratuita a todos os seus funcionários um programa de vacinação, que engloba as vacinas contra tétano, difteria e hepatite B, bem como outras imunizações que possam ser indicadas pelo Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Essa responsabilidade do empregador visa garantir a prevenção de doenças relacionadas ao ambiente de trabalho e, consequentemente, proteger a saúde dos trabalhadores. O PCMSO é responsável por avaliar os riscos à saúde dos trabalhadores e indicar as medidas preventivas adequadas, incluindo as vacinações necessárias. 38 CAPÍTULO 3 • SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE Figura 19. vacinas. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/male-doctor-holding-syringe-making-covid-1859217856. Dessa forma, também cabe ao empregador: » Disponibilizarvacinas para proteção contra outros agentes biológicos aos quais os trabalhadores possam ser expostos. » Acompanhar a eficácia da vacinação, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde e órgãos competentes, e fornecer reforços quando necessário. » Informar aos trabalhadores sobre os benefícios, efeitos colaterais e riscos envolvidos na recusa da vacinação, e manter registros documentais disponíveis para inspeções de trabalho. » Registrar todas as vacinas aplicadas no Prontuário Médico Ocupacional. » Fornecer comprovantes de vacinação aos trabalhadores. 3.2 Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do trabalho (SESMt) e as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipa) A assistência ao trabalhador hospitalar é amparada pela Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978, do Ministério do Trabalho e Emprego (Brasil, 1978). A NR 4, que trata dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT ), menciona que as empresas públicas e privadas, assim como os órgãos públicos, que tenham trabalhadores contratados conforme a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT ), precisam possuir, obrigatoriamente, os SESMT, para promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no ambiente laboral (Brasil, 2016). 39 SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE • CAPÍTULO 3 As orientações sobre a organização do trabalho dos profissionais do SESMT estão presentes na NR 4, no item 4.12. Nesse item, é possível observar as competências, as qualificações, os campos específicos de trabalho, o grau de risco das empresas, o dimensionamento de funcionários e a carga horária dos profissionais em cada tipo de empresa, conforme o ramo de atividade e o número de funcionários. A equipe do SESMT deve ser multiprofissional, contemplando: engenheiro e técnico em segurança do trabalho, médico e enfermeiro do trabalho, auxiliar e/ou técnico em enfermagem do trabalho (Brasil, 1978). As competências da equipe que integra o SESMT também constam no item 4.12 da NR 4 e estão descritas a seguir (Brasil, 1978): a. expandir o conhecimento sobre a engenharia de segurança e da medicina do trabalho no ambiente laboral a todos os trabalhadores, inclusive máquinas e produtos, para que os riscos que existem sejam minimizados; b. decidir, quando não houver mais meios de eliminar riscos e houver persistência dele, que seja reduzido, sobre o uso pelo trabalhador dos EPIs adequados, conforme recomendado pela NR 4; c. contribuir, quando solicitado, com os projetos para implantar novas instalações físicas e tecnológicas da empresa; d. tornar-se responsável tecnicamente por orientações relacionadas ao cumprimento do que está descrito nas NRs necessárias nas atividades executadas pela empresa; e. estabelecer um relacionamento permanente com a Cipa, auxiliar as suas observações ao máximo, assim como apoiar, treinar e atender; f. realizar atividades de educação, conscientização e orientação aos trabalhadores sobre as formas de prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, por meio de campanhas e programas de duração permanente; g. promover a conscientização dos empregadores sobre os riscos de acidentes e doenças ocupacionais, incentivando-os a adotar medidas preventivas; h. estimular a análise e o registro sistemático de todos os documentos referentes aos acidentes e doenças ocupacionais ocorridos na empresa. Esses registros devem descrever com precisão a história e as características do incidente ou doença, além de destacar os fatores ambientais, as condições do agente causador e do indivíduo afetado; i. verificar e registrar os dados atualizados dos acidentes de trabalho, das doenças ocupacionais e dos agentes de insalubridade todos os meses. É necessário que a empresa envie anualmente um mapa com a avaliação dos dados sobre segurança e medicina do trabalho à Secretaria competente até o dia 31 de janeiro, utilizando o órgão regional do Ministério do Trabalho e Emprego; 40 CAPÍTULO 3 • SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE j. Os registros referentes às alíneas h e i devem ser conservados na sede do SESMT ou em um local de fácil acesso, utilizando o método de arquivamento escolhido pela empresa, desde que garanta fácil localização e entendimento do seu conteúdo. Somente os mapas anuais correspondentes às alíneas h e i devem ser arquivados por um período de cinco anos; k. As atividades desempenhadas pelos profissionais do SESMT são voltadas para a prevenção, mas também podem incluir o atendimento emergencial em caso de necessidade. Além disso, a elaboração de planos de controle de catástrofes, a disponibilidade de recursos para combate a incêndios e salvamento, bem como a atenção imediata às vítimas de tais acidentes ou de qualquer outra natureza estão entre as suas responsabilidades. Nessa mesma linha de raciocínio, garantir a segurança e a saúde do trabalhador deve ser uma preocupação constante das organizações, sendo uma responsabilidade que já está, inclusive, prevista na legislação trabalhista. Com esse intuito, as organizações precisam ter um grupo de trabalho formado por representantes designados pela empresa e representantes eleitos pelos funcionários. Esse grupo é denominado Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) e tem como objetivo identificar riscos inerentes às atividades desempenhadas pelo empregado, seja por acidentes ou por doenças decorrentes do trabalho, promovendo formas de prevenção e promoção da saúde do trabalhador. Os profissionais que compõem o SESMT têm como objetivo principal a prevenção de acidentes, no entanto, podem também prestar atendimento emergencial em caso de necessidade. Além disso, é de responsabilidade do SESMT a elaboração de planos de controle de catástrofes, a garantia de disponibilidade de recursos para combate a incêndios e salvamento, bem como o pronto atendimento às vítimas de acidentes ou situações emergenciais de qualquer natureza. Figura 20. Prevenção de acidentes de trabalho. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/work-safety-concept-businessman-touching-icon-2147431633. 41 SAÚDE OCuPACIOnAL DOS PROFISSIOnAIS DE SAÚDE • CAPÍTULO 3 Na eleição da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), o empregador indicará o presidente da comissão, enquanto os representantes dos funcionários escolherão o vice-presidente dentre seus titulares. O secretário e seu substituto serão indicados de forma colaborativa entre todos os membros, mas caso não façam parte da comissão, a aprovação do empregador será necessária. Os membros escolhidos pelo empregador para compor a Cipa devem receber o suporte necessário e dispor do tempo adequado para realizar as atividades previstas no plano de trabalho registrado no Ministério do Trabalho e Emprego. Além disso, eles devem discutir questões de segurança e saúde no trabalho e buscar soluções para os problemas identificados, analisando e avaliando as opções disponíveis. Conforme previsto na NR 5, a empresa deve oferecer treinamento para todos os membros eleitos da Cipa (titulares e suplentes) antes de sua posse, após a apuração da eleição. É importante destacar que essa medida é aplicável apenas nos casos em que os membros da Cipa foram reeleitos, uma vez que o item 5.32.1 da NR 5 determina que o treinamento para membros em primeiro mandato deve ser realizado em até 30 dias após a data de posse (Brasil, 1978). 3.3 Demais fatores que impactam na segurança dos profissionais de saúde Profissionais que trabalham sob pressão em qualquer parte da organização têm risco aumentado de desenvolver doenças ocupacionais, mas essas doenças não estão exclusivamente relacionadas a pressões no ambiente de trabalho. Situações como desavenças com colegas, discussões com subordinados, erros de comunicação que resultam na perda de vendas e problemas pessoais e familiares podem causar reações adversas, aumentando o risco de doenças ocupacionais com o passar do tempo. FiguraBiossegurança em Saúde e a Gestão do Risco Hospitalar Capítulo Saúde Ocupacional dos Profissionais de Saúde Capítulo Gestão de resíduos Capítulo Comissão de controle de infecção hospitalar Capítulo Desafios na área da biossegurança em saúde Referências