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Autor: Prof. Euclides Pedrozo Jr. Colaborador: Prof. Mauricio Felippe Manzalli Organização Industrial / Regulação da Concorrência Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Professor conteudista: Euclides Pedrozo Jr. Economista pela Universidade São Judas Tadeu (1993). Mestre e doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV São Paulo, 2004, 2010). Atualmente, é professor titular da Universidade Paulista (UNIP) no curso de Ciências Econômicas. Também leciona como professor convidado nos cursos de mestrado profissionalizante em Economia da Escola de Economia de São Paulo (EESP-FGV) e de pós-graduação em Direito dos Contratos na FGV Direito SP (GVlaw). Como pesquisador e consultor, tem larga experiência em avaliação de impacto socioeconômico de políticas públicas, organização industrial e economia internacional. Autor dos seguintes livros-textos para a EaD: Microeconomia em Concorrência Perfeita, Microeconomia em Concorrência Imperfeita, Economia Internacional e Desenvolvimento Socioeconômico. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P372o Pedrozo Junior, Euclides. Organização industrial/Regulação da Concorrência. / Euclides Pedrozo Junior. – São Paulo: Editora Sol, 2017. 164 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-099/17, ISSN 1517-9230. 1. Organização industrial. 2. Regulação da concorrência. 3. Concentração industrial. I. Título. CDU 658 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Amanda Casale Ricardo Duarte Elaine Pires Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Sumário Organização Industrial / Regulação da Concorrência APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 ESTRUTURA DE MERCADO, BEM-ESTAR E INDICADORES DE PODER DE MERCADO .......... 11 1.1 Modelo estrutura-conduta-desempenho (ECD) ...................................................................... 14 1.2 Definição de mercados ....................................................................................................................... 20 1.3 Poder de mercado ................................................................................................................................ 24 1.3.1 Poder de mercado e bem-estar ......................................................................................................... 24 1.3.2 Lucro econômico e taxa de retorno sobre o investimento .................................................... 29 1.3.3 Ineficiência-X............................................................................................................................................ 32 1.3.4 Rent-seeking ............................................................................................................................................. 33 2 MEDIDAS DE CONCENTRAÇÃO DE MERCADO .................................................................................... 33 2.1 Medidas de poder de monopólio ................................................................................................... 35 2.1.1 Índice de monopólio de Lerner ......................................................................................................... 35 2.1.2 Índice de monopólio de Bain ............................................................................................................. 38 2.1.3 Índice de monopólio de Rothschild ................................................................................................ 39 2.2 Razão de concentração ...................................................................................................................... 39 2.3 Índice Herfindahl-Hirschman .......................................................................................................... 42 2.4 Limitações das medidas de concentração .................................................................................. 45 3 EQUILÍBRIO DE LIVRE ENTRADA ................................................................................................................ 46 3.1 A solução de Cournot ......................................................................................................................... 46 3.2 Quantidade de empresas sob livre entrada ............................................................................... 50 3.3 Número socialmente ótimo de competidores .......................................................................... 55 3.4 Número eficiente de competidores .............................................................................................. 58 4 COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO ............................................................................................................ 62 4.1 Decisões estratégicas ao longo do tempo .................................................................................. 63 4.2 Jogo de Stackelberg ............................................................................................................................ 66 4.3 Diferenciação de produtos ............................................................................................................... 72 Unidade II 5 BARREIRAS ESTRATÉGICAS À ENTRADA ................................................................................................ 82 5.1 Estratégia competitiva ....................................................................................................................... 82 5.2 Estratégia do preço-limite ................................................................................................................ 88 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 5.2.1 Modelo Bain-Sylos ................................................................................................................................. 88 5.2.2 Teorias estratégicas de preço-limite ............................................................................................... 90 5.3 Prevenção estratégica à entrada: o modelo de Dixit ............................................................. 94 5.4 Barreiras à saída .................................................................................................................................... 99 6 INTEGRAÇÃO VERTICAL ..............................................................................................................................100pelo menos, duas hipóteses: • O produto é homogêneo, e, portanto, nenhuma outra firma oferta produto similar. • Há barreiras à entrada, ou seja, a entrada nesse mercado é ignorada pelos demais ofertantes ou é bloqueada pelo empresário monopolista. Com base nessas informações, um monopolista pode ser facilmente identificado. Uma definição simples de poder de mercado do monopolista passa pela capacidade de a firma definir o preço de seu produto (Pi) acima do custo marginal (CMgi). Ao dividirmos a diferença entre preço e custo marginal pelo preço da mercadoria negociada pelo monopolista, podemos mensurar a intensidade de poder de mercado ou markup. Num mercado com n empresas, o poder de mercado de cada uma é conhecido como índice de Lerner (Li): L P CMg Pi i i i Os valores do índice de Lerner são estabelecidos no intervalo Li E [0,1). Quanto maior Li, maior o grau de poder de mercado em determinada indústria. Isto é, em certo mercado, quanto maior for o índice de Lerner, maiores serão, em média, as margens das empresas sobre o respectivo custo marginal. É importante observar que todos os valores do índice de Lerner são medidos a partir da quantidade produzida que maximiza o lucro da empresa. Sob a hipótese de maximização do lucro, o índice de Lerner também é igual ao inverso do valor da elasticidade-preço da demanda, denotado por εD P . L P CMg Pi i i i D P 1 Observação Elasticidade-preço da demanda representa a variação percentual na quantidade demandada de um bem (∆%QD) devido a uma variação percentual no próprio preço desse bem (∆%P). Matematicamente: D P D d DQ P P Q Q P % % Por exemplo, se o preço praticado pela firma monopolista for o dobro do custo marginal (P = 2CMg), o índice de Lerner será igual a 0,5 (L = 0,5). Podemos inferir, assim, que a elasticidade-preço da demanda, em valores absolutos, é 2: Índice de Lerner é como se fosse a taxa de "lucro" entre o preço e o custo marginal, mas sobre o preço e não sobre o custo Highlight Highlight Highlight Highlight 37 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA 2 2 1 0 5 1 2 CMg CMg CMg D P D P D P , Desse resultado, segue-se que elasticidades muito grandes implicam muito pouco poder de monopólio. Com isso, o índice de Lerner proporciona os seguintes resultados: • L = 0: o preço tende ao custo marginal, e temos uma condição em que a firma opera de forma competitiva, pois D P . • L → 1: o preço tende a ser muito superior ao custo marginal, P > CMg (Q) e D P 0 . No limite, a firma tem condições de impor poder de mercado absoluto. Os órgãos antitruste – que regulam a atuação das empresas nos diversos mercados – utilizam o índice de Lerner para apurar o poder de monopólio de uma empresa. É comum o uso da seguinte classificação: • L > 0,5: há uma condição monopolista forte. • Lo valor dos índices C4 e C8, maior o poder de mercado exercido pelas k maiores empresas do segmento industrial. Esse indicador varia da mais baixa concentração até a máxima, entre k / nque o IHH sempre decresça com o aumento do número de empresas. A entrada de uma empresa adicional na indústria é compatível tanto com um aumento quanto com uma redução na concentração medida pelo IHH. Isso pode ser visualizado expressando-se o valor do índice em termos do coeficiente de variação das parcelas de mercado. Em primeiro lugar, observe que o valor inverso do IHH propicia o número equivalente de empresas (N), definido pela seguinte fórmula: 45 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA N IHH = 10 000. Esse indicador revela o número de empresas de igual tamanho que teria de existir em determinado mercado para obtermos o mesmo IHH calculado para esse mercado. Nesse caso, em que todas as empresas têm a mesma participação, a participação média é dada por S = 1/N, e o IHH pode ser definido da seguinte forma: IHH N N 10 000 2. Em que σ2 é a variância do tamanho da firma. Essa fórmula indica que as variações no IHH dependem tanto da mudança no número absoluto de empresas quanto da distribuição de tamanho das empresas. Quanto maior for a variância do tamanho das firmas – indicando uma distribuição mais ampla do tamanho das firmas em torno da média –, maior será o IHH. O IHH apresenta uma clara desvantagem: requer informação sobre todas as empresas que atuam em determinado mercado. Assim, em mercados com uma franja significativa de pequenas empresas, o volume de informação pode tornar a probabilidade de erro do índice muito grande. Por outro lado, o IHH tem as seguintes vantagens: • O volume de informação que se capta acerca da concentração de mercado é maior. • Maior ponderação é atribuída às firmas de maior tamanho. • O valor calculado depende unicamente da dimensão relativa de cada empresa existente no mercado. 2.4 Limitações das medidas de concentração O cálculo dos indicadores de concentração apresenta algumas limitações e dificuldades associadas aos seguintes fatores: • Complexidade da definição do mercado relevante: como acontece quando as empresas oferecem diferentes bens ou serviços. No caso do sistema financeiro, por exemplo, devemos analisar a posição de cada banco em relação aos diferentes produtos (créditos, poupanças, seguros etc.) ou analisar a posição total de cada banco? • Evolução do grau de substituição entre os produtos: por diversas razões (como as tecnológicas), a possibilidade de substituição entre bens se altera. No setor de telecomunicações, por exemplo, verificam-se grandes alterações: atualmente várias empresas no mercado oferecem pacotes que incluem, além dos serviços de telecomunicações, acesso à internet, aluguel de filmes e seriados e TV por assinatura. 46 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I • Impacto da área geográfica relevante nas medidas de concentração: uma empresa pode não ter grande expressão em nível nacional, mas ser dominante em determinada região. Verifica-se esse fato, por exemplo, no caso dos inúmeros jornais regionais. • Impacto do comércio exterior: as medidas de concentração, frequentemente, são calculadas com base no faturamento das empresas nacionais devido à facilidade de acesso aos dados. Contudo, nos setores mais expostos ao mercado internacional, essa opção pode ocasionar distorções na aferição do grau de concorrência do mercado. Nesses casos, os indicadores de concentração deverão ser ajustados, de modo a levar em consideração o impacto do comércio internacional (importações e exportações). • Impacto de mercados contestáveis: relativo à não consideração da facilidade de entrada num determinando mercado ou à existência de barreiras. • Impacto de participações cruzadas de capital: dificuldade na avaliação do impacto na concentração decorrente de participações cruzadas de capital entre empresas, como no caso das holdings. 3 EQUILÍBRIO DE LIVRE ENTRADA Em nossa análise, até o momento, a competitividade em uma indústria foi medida pelo número de firmas ou por alguma medida de concentração de mercado. Outro fator igualmente relevante, no entanto, é a facilidade com que uma firma pode entrar ou sair de certo mercado. As condições de entrada são importantes por duas razões: • O número de empresas pode ser determinado pelo custo de entrada, bem como por outros fatores, como a existência de economias de escala. Assim, as condições de entrada desempenham um papel de destaque na determinação da concentração. • As condições de entrada determinam a extensão da concorrência potencial. Em geral, uma ameaça crível de entrada induz as empresas a competir com mais vigor. Caso não o façam, para que a indústria tenha uma margem de preço-custo elevada, a barreira à entrada terá lugar e conduzirá o preço para cima. De acordo com esses argumentos, as condições de entrada são importantes porque o custo elevado decorrente da dificuldade de entrada afeta a eficiência da concorrência potencial. Portanto, quando a entrada é relativamente barata, as empresas devem competir vigorosamente. Essa linha de análise será desenvolvida nas seções a seguir. 3.1 A solução de Cournot Uma das características relevantes do IHH é a de que esse indicador tem aplicações na teoria do oligopólio. Um oligopólio é uma indústria com um pequeno número de empresas – e, mesmo havendo muitas empresas, algumas poucas dominam o mercado. A essência dos oligopólios é a interdependência reconhecida entre as firmas. São exemplos de oligopólio os segmentos industriais de automóveis, de aço, de alumínio, de fornecimento de serviços de telefonia celular etc. Assistir playlist equilibrio de cournot e outros e fazer resumo pelos videos 47 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Suponha que as empresas pertencentes a determinado mercado ofertem produtos homogêneos e se envolvam no modelo de concorrência oligopolística de Cournot. Observação O modelo de oligopólio de Cournot refere-se a um tipo de mercado com poucos concorrentes, em que as empresas produzem mercadorias homogêneas, cada uma considera fixo o nível de produção da concorrente e todas decidem simultaneamente a quantidade a ser produzida. Suponha ainda que essas empresas tenham diferentes funções de custo. CMgt denotará o custo marginal (constante) da firma i, em que i = l, ..., n. Considerando que as n firmas pertencentes a determinado segmento industrial tenham uma participação percentual igual a 100Si, o índice de Lerner do mercado será dado por: L S P CMg P L ei n i n i i i i 100 0 1 1; , , Como o índice de Lerner é igual ao inverso da elasticidade-preço da demanda ( εD P ), podemos reescrever a fórmula desse índice por empresa da seguinte forma: L s P CMg P s P CMg P s P CMg i n 100 100 1001 1 1 1 2 2 2 2 1 11 1 100 P Si D P Logo, o índice de Lerner de cada empresa (Li) será igual à participação de mercado da empresa i dividida pela elasticidade-preço da demanda. Igualando o resultado anterior com a fórmula já vista do índice de Lerner por empresa, temos: P CMg P Si i i i D P 100 Multiplicando ambos os lados dessa equação por 100Si e somando o resultado de todas as i empresas, obtemos a solução de Cournot: Highlight Equilíbrio de Cournot: a maximização do lucro acontece quando a derivada da função lucro em função da quantidade é igual a zero (curva de reação). O exercício da a curva de demanda, isola pra achar preço. A quantidade é referente a quantidade de mercado (q1+q2+q3...). O lucro é a receita total (preço x quantidade) menos o custo total. O equilíbrio acontece quando as duas curvas de reação se encontram. Resolver com sistema. 48 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e -Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I 100 100 100 100 100 1 S P CMg P S S S P CMg P S i i i i i i D P i n i i i i i n i 2 D P D PL P CMg P IHH Em que L é o índice de Lerner de mercado, P é o preço médio de Cournot e CMg é a média dos custos marginais da empresa ponderados pelas quantidades produzidas em equilíbrio. Essa equação revela que, quanto maior for o IHH (mantendo-se a elasticidade-preço da demanda), maior será o markup médio ponderado ou o índice de Lerner de poder de mercado da indústria. Logo, se a solução de Cournot capta corretamente a natureza da interação oligopolística em uma indústria, o IHH e a elasticidade-preço da demanda fornecem informações sobre o desempenho da indústria. Também é possível mostrar que a solução de Cournot indica a participação de mercado de uma empresa como negativamente relacionada ao seu custo marginal. Quanto mais baixo for o custo marginal da empresa i, maior será sua quantidade produzida de maximização de lucro e, portanto, maior será sua participação no mercado. Outro resultado importante é que o IHH está diretamente relacionado a uma média ponderada das margens preço-custo das empresas na solução de Cournot: • Se estivermos diante de um mercado potencialmente concorrencial (IHH → ), todas as empresas serão tomadoras de preço e o valor da elasticidade-preço da demanda será irrelevante (uma vez que o IHH será zero). Alternativamente, quanto maior a elasticidade-preço da demanda, para dado grau de concentração, menor o poder de mercado. • Quanto maior for o IHH, maior será a margem preço-custo da indústria. Dito de outro modo, quanto menor a elasticidade-preço da demanda, para dado grau de concentração, maior o poder de mercado. Até agora, assumimos que o número de empresas no modelo de Cournot é exógeno – tipicamente, apenas duas. Nesse caso, a estrutura de mercado é denominada duopólio. Observação Duopólio é um tipo de oligopólio em que somente duas empresas concorrem entre si. Highlight 49 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Um incentivo para a entrada de mais firmas no mercado passará a existir se uma empresa candidata (denominada entrante) previr que seus lucros possam ser positivos. Desse modo, devemos expandir o modelo de Cournot para que o número de empresas em equilíbrio seja endógeno, isto é, dependa da expectativa de lucros futuros positivos. Uma empresa que considera a possibilidade de entrada no mercado tem que antecipar a natureza da concorrência pós-entrada e seus lucros. Suponha que os participantes do mercado esperam que as empresas sejam concorrentes de Cournot e competem via definição das quantidades produzidas. Se todas as empresas tiverem a mesma função de custo, o equilíbrio será simétrico e elas apresentarão o mesmo nível de produção. Nesse caso, quando todas as N empresas têm a mesma participação de mercado (Si): s Ni = 1 Um entrante sabe que, se for uma das N empresas da indústria, seus lucros serão uma média do mercado (πN). Observação Empresas entrantes, também chamadas de empresas potenciais, correspondem a qualquer capital interessado em atuar na indústria ou no mercado em análise. Empresas estabelecidas, também chamadas de incumbentes, são aquelas que já atuam na indústria considerada. Em equilíbrio simétrico, a produção das N empresas estabelecidas irá satisfazer a solução de Cournot, ou seja: P CMg P N D P 1 Essa equação representa o equilíbrio de livre entrada. Ela mostra que, conforme o número de empresas aumenta, diminuem o exercício do poder de mercado e o markup médio na indústria. No limite, à medida que o número de empresas tende ao infinito, o preço é reduzido ao custo marginal. Outra proposição decorrente do equilíbrio de livre entrada é a de que haverá entrada de empresas se os lucros forem positivos. Um equilíbrio de livre entrada também requer que uma empresa que considera a entrada antecipe lucros negativos (prejuízos). Assim, o número de firmas de equilíbrio é igual à quantidade necessária de firmas para que os lucros esperados possam ser negativos. 50 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Observação Uma firma pode ter prejuízo no curto prazo desde que sua receita média seja maior do que seu custo variável médio. Nesse caso, ela poderá recuperar os investimentos iniciais (custos fixos de entrada) e, no longo prazo, passará a auferir lucro econômico. O aumento no número de empresas causa os seguintes efeitos: • A produção de cada empresa diminui, porque suas receitas marginais e demandas residuais (isto é, as parcelas da demanda que pertencem à cada empresa) diminuem. • A produção total aumenta, porque, à medida que são acomodados novos entrantes, a redução da produção individual das empresas que já pertencem ao mercado é menor do que a produção do entrante. • O preço tende a cair, porque a produção total aumenta. • Os lucros de cada empresa diminuem, devido à queda do preço e da produção individual da empresa. 3.2 Quantidade de empresas sob livre entrada Observamos de forma intuitiva que, no caso de o número de firmas ofertantes do mercado aumentar, o equilíbrio de Cournot tende ao equilíbrio competitivo. Para comprovar essa hipótese, consideremos o cálculo da quantidade de equilíbrio de Cournot para duas ou mais empresas a partir de uma função de demanda linear. Suponha que a demanda inversa para um bem homogêneo seja dada genericamente por: P = A - bQ (3.1) Em que A e b são parâmetros positivos (A, b > 0) da função de demanda, Q qii n 1 , e a participação de mercado das firmas é idêntica, ou seja, q1 = q2 = ... qn. Todas as empresas têm funções de custo total idênticas, dadas por: CTi = cqi Os custos marginais dessas empresas também são idênticos e iguais a: CMgi = c (3.2) 51 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Suponha adicionalmente que A > c. Assim, a curva de demanda estará acima da curva de custo marginal (caso contrário, a indústria não produzirá nada). O equilíbrio do modelo de oligopólio de Cournot para N empresas (com N → ∞) é obtido a partir da curva de demanda descrita na equação 3.1 transformada da seguinte forma: P = A = bqi - bX (3.3) Em que q1 é a quantidade produzida pela firma 1 e X representa a produção combinada de todas as outras N - 1 empresas. Desse modo, a receita total e a receita marginal da firma 1 são expressas, respectivamente, por: RT Pq A bq bX q Aq bq bq X RMg RT q A bq bX A 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 12 b q X2 1 (3.4) Fazendo RMg1 = CMg, obtemos o nível ótimo de produção da firma 1: A b q X c q A c b X 2 1 2 1 2 1 1 (3.5) Como em oligopólio de Cournot q1 = q2 = ... = qn e X = (N - 1) qi, a equação 3.5 se transforma em: q A c b N q q N A c b i i i 1 2 1 2 1 1 (3.6) O nível de produção total (Q*) é N vezes qi. Logo: Q Nq N N A c b Q N N A c b i * * 1 1 1 (3.7) Substituindo o resultado encontrado na equação 3.7 na função de demanda (equação 3.1), encontramos o preço de mercado para o equilíbrio de Cournot com N empresas: 52 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I P A b N N A c b N A N N c P N A Nc * * 1 1 1 1 1 1 (3.8) Os lucros de cada firma (πi) são definidos por: πi = RTi - CTi = Pqi - cqi. Logo: i i A Nc N N A cb c N A c b A Nc A c N b Ac c N 1 1 1 1 1 1 12 2 b A Nc A c N Ac c N b A Ac c N i i 1 1 2 1 2 2 2 2 2 2 1 1 b A c N b (3.9) As equações 3.6, 3.7, 3.8 e 3.9 confirmam os efeitos que a mudança no número de firmas tem sobre o equilíbrio de Cournot. O aumento no número de empresas (N) reduz a produção da empresa individual, aumenta a produção do mercado, diminui o preço e diminui o lucro por empresa. O equilíbrio de livre entrada é ilustrado na figura a seguir: Q* P* CMg CMe P 1 2 0 P (qi) RMgi PCP QCP Q0 Figura 9 – Equilíbrio de Cournot de livre de entrada Highlight 53 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Na quantidade produzida de equilíbrio de Cournot, Q*, as empresas estabelecidas maximizam seu lucro. O número de empresas na indústria ajusta-se no ponto de tangência entre a curva de custo médio de cada empresa, CMe, e sua curva de demanda residual, P(qi), a partir da produção de equilíbrio de Cournot. O efeito da variação do número de empresas é o deslocamento da curva de demanda residual de uma empresa. Observação A curva de demanda residual representa a parcela da curva de demanda dos consumidores pelos bens ofertados apenas por uma empresa individual. Logo, ela não considera os bens fornecidos por outras empresas do mesmo mercado relevante. Portanto, a demanda residual é a função de demanda do mercado menos a quantidade fornecida por outras empresas a um dado preço. O aumento no número de competidores desloca a curva de demanda residual para dentro, que fica cada vez mais próxima da curva de receita marginal (RMgi); a redução no número de concorrentes, por outro lado, desloca a curva de demanda para fora. O equilíbrio de livre entrada é caracterizado por duas condições: • Equilíbrio de Nash em quantidades: RMgi = Cmg (ponto 0 na figura anterior). Cada empresa é maximizadora de lucro, independentemente do número de empresas com capacidade de entrada e da quantidade produzida de equilíbrio de todos os concorrentes. • Condição de lucro zero: P* = CMe (ponto 2 na figura anterior). Considerando a produção de equilíbrio de Cournot e a livre entrada de empresas, o número suficiente de empresas para caracterizar um mercado como competitivo aufere lucro nulo e não há incentivo para saída e/ ou entrada. Portanto, à medida que o número de empresas em uma indústria aumenta infinitamente – ou seja, não há barreiras à entrada –, o equilíbrio de Cournot se aproxima da concorrência perfeita. Nesse caso, o preço cai até se igualar ao custo marginal, e os lucros tendem a zero. Exemplo de aplicação Suponha que o mercado apresente a seguinte demanda: P = A - bQ, em que Q qii n 1 , e que todas as empresas têm a mesma função de custo total: CTi = cqi + f, em que c representa o custo marginal e f representa o custo fixo de entrada no mercado. a) Qual é a expressão que define o número de empresas de equilíbrio de livre entrada, assumindo a concorrência de Cournot? 54 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Resolução Os incentivos para uma empresa produzir não são afetados pela introdução do custo fixo f, uma vez que este não altera o custo marginal. Dessa forma, o equilíbrio de Cournot em função do número de empresas – equações 3.6, 3.7 e 3.8 – continuará a caracterizar o equilíbrio da empresa N. A exceção é a equação 3.9, que representa o lucro bruto, ou seja, sem incluir o custo fixo de entrada (f). Os custos fixos alteram o incentivo à entrada no mercado. Uma firma será entrante somente se antecipar a possibilidade de recuperar os custos fixos de entrada. Isso exige que os lucros brutos sejam pelo menos tão grandes quanto f. Assim, as empresas deverão ter uma participação de mercado mínima e uma margem sobre o custo marginal para cobrir seus custos fixos. Portanto, aumentar o número de empresas diminui tanto a participação de mercado quanto o markup. O número de empresas de equilíbrio, nesse caso, é alcançado igualando-se os lucros brutos (equação 3.9) ao custo fixo de entrada f: A c N b f 1 12 Resolvendo para N, obtemos: A c N bf A c N bf A c N bf N bf A c N A c bf 1 1 1 1 1 2 2 1 b) Suponha que os parâmetros A, b, c e f tenham os valores indicados na tabela a seguir: Tabela 4 Parâmetro Valor A 10 b 1 c 2 f 3 Curva de demanda: P = a - bQ 55 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Qual a quantidade de empresas de equilíbrio de livre entrada sob concorrência de Cournot? Resolução Aplicando os valores na fórmula desenvolvida em (a), obtemos: N A c bf 1 10 2 1 3 1 3 6188, O número de firmas de equilíbrio de livre entrada com custo fixo é igual a 3. Nesse caso, deve-se sempre considerar o número inteiro e descartar os decimais. A tabela que se segue mostra os lucros de equilíbrio em função do número de empresas. Cada uma das três primeiras empresas estabelecidas na indústria obtém lucros positivos. A quarta empresa, por sua vez, não deve entrar, pois seu lucro líquido do custo fixo de entrada será negativo. Tabela 5 Número de firmas (i) qi CMe Q* P* Lucro líquido 1 4,00 2,75 4,00 6,00 13,00 2 2,67 3,13 5,33 4,67 4,11 3 2,00 3,50 6,00 4,00 1,00 4 1,60 3,88 6,40 3,60 -0,44 Observe nessa tabela que, à medida que uma firma a mais entra no mercado: a produção por empresa cai (qi ↓); o custo médio se eleva (CMe ↑); o produto total aumenta (Q*); o preço de mercado cai (P*); e o lucro líquido tende a zero. 3.3 Número socialmente ótimo de competidores Qual é a relação entre eficiência e número de concorrentes? O bem-estar da sociedade melhora com mais concorrentes? A teoria da concorrência perfeita sugere que a competição e a livre entrada são socialmente desejáveis. No exercício de aplicação anterior, observamos o efeito de um entrante no mercado: • Queda na produção por empresa, devido à elevação do custo médio. Isso provoca perda de bem-estar dos produtores. • Aumento na produção total e queda no preço de mercado. Isso provoca ganho de bem-estar para os consumidores. 56 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Portanto, de acordo com o modelo de Cournot, um aumento no número de empresas leva a uma maior concorrência e a uma redução no exercício de poder de mercado. Ter mais concorrentes significa, dessa forma, uma elevação na produção agregada e uma queda nos preços, o que conduzirá, por sua vez, a um aumento no bem-estar se a variação no excedente dos produtores e consumidores provocar um aumento no excedente total. No entanto, quando há economias de escala, não é necessariamente verdade que a presença de mais concorrentes seja melhor. Ter mais concorrentes, nesse caso, significa que cada firma produz em uma escala menor com aumentos no custo médio. Os aumentos no custo médio reduzem o excedente total líquido e o bem-estar. A ocorrência de economias de escala está frequentemente associada a casos em que são requeridos custos fixos para a entrada. O aumento no número de concorrentes envolve duplicar esses (e outros) custos fixos de longo prazo. Suponha que a função de custo total para todas as empresas do mercado seja dada por: CT = cq + f Em que c é o custo marginal constante de produção e f é a fonte de economias de escala baseada em um custo fixo de instalação ou de entrada. Suponha ainda que seja possível controlar o número de empresas em um mercado, mas não seucomportamento. Para tanto, devemos assumir que a quantidade de firmas de equilíbrio, os lucros, a produção agregada e o preço dependem do número de empresas do setor. Adicionalmente, suponha que existem N empresas no mercado. Quais são os custos e os benefícios de permitir a entrada de uma empresa adicional? O gráfico a seguir representa os custos e os benefícios de um entrante. O preço e a produção de mercado das N firmas são PN e QN. O preço e a produção de equilíbrio nesse mercado quando há N + 1 firmas são PN+1 e QN+1. O ganho de bem-estar (aumento do excedente total) a partir da expansão da produção é definido pela área sombreada da figura. 57 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA QN QN+1 PN PN+1 CMg P A D B C P (qi) RMgN RMgN+1 Q0 Figura 10 – Custos e benefícios de um entrante Mesmo que o aumento na produção decorrente da entrada de mais uma firma (de QN para QN+1) seja pequeno, esse acréscimo acarretará diminuição de preço (de PN para PN+1) e, consequentemente, o ganho de bem-estar passará a ser medido pelo retângulo ABCD. Essa área representa a variação incremental dos lucros brutos da indústria (∆Π) decorrente da expansão da produção (∆Q), ou seja: P c QN A variação do excedente total é aproximadamente igual à variação dos lucros brutos da indústria (∆Π), porque o excedente do consumidor no nível de produção QN é igual a zero. Em QN, o preço PN expressa a vontade de todos os consumidores de pagar essa quantidade. O custo associado ao entrante é igual a f. A entrada de mais uma empresa elevará o excedente total se a variação nos lucros brutos da indústria exceder os custos de entrada: P c Q fN A condição para a existência de um número socialmente ótimo de empresas (NS) é representada pela equiparação do benefício marginal P c QN S N S com o custo marginal (f) decorrente da entrada de mais uma empresa no mercado, ou seja: P c Q fN S N S (3.10) 58 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I 3.4 Número eficiente de competidores Como o número de empresas em equilíbrio de livre entrada se compara ao número socialmente ótimo de empresas? Haverá entrada excessiva ou insuficiente? A condição de livre entrada implica que o lucro de cada firma (πN) no mercado tenda a zero: πN = 0 O número de empresas de livre entrada (NE) num mercado é definido pela seguinte condição: N E f Em que πN E é o lucro bruto de uma firma quando há N empresas no mercado e f é o custo fixo do entrante. A condição de livre entrada, portanto, estabelece que a entrada ocorra até o ponto em que o lucro de uma empresa individual for igual aos custos fixos de entrada. A condição que definiu o número socialmente ótimo de empresas determinou que haverá entrantes até o ponto em que a variação incremental nos lucros brutos da indústria for igual aos custos fixos de entrada: N NP c Q f Em geral, as duas condições – a social e a de livre entrada – não são as mesmas, pois podemos derivar a condição de livre entrada da seguinte forma: N N N NN dq dN P c (3.11) Em que dqN / dN NS. Assim, o equilíbrio de entrada livre será caracterizado por um número excessivo de empresas que não podem apropriar todo o excedente que criam. O business-stealing effect acontece nos casos de concorrência imperfeita – em que os preços são maiores do que o custo marginal; o entrante penaliza a empresa estabelecida com redução de sua produção e de seu excedente. Na concorrência perfeita, as firmas tomadoras de preço igualam preço ao custo marginal, e o business-stealing effect é zero. Dessa forma, esse efeito enseja que um imposto governamental sobre a entrada limite o número de empresas e, com isso, haja uma elevação do bem-estar. Exemplo de aplicação Ineficiência do equilíbrio de livre entrada de Cournot O equilíbrio de livre entrada de Cournot é definido pela fórmula: N A c bf E 1 Que é equivalente a: N A c bf N A c bf N A c bf E E E 1 1 1 2 2 2 2 60 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Usando as equações 3.10 e 3.11, podemos definir o número eficiente de empresas da seguinte forma: N s N NN dq dN P c f Sabemos pelas equações 3.9 e 3.8 que: N s N s s A c N b P N A N c 1 1 1 1 2 Além disso, sabemos que qN, pela equação 3.6, é: q N A c b N A c bN s s 1 1 1 1 Ao derivarmos esse último resultado em relação a NS, obtemos: dq dN N A c b N s s 1 1 2 Substituindo os valores de πN, PN e dqN / dNS na equação que define o número eficiente de empresas, obtemos: 61 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA A c N b N N A c b A N c N cs s s s s 1 1 1 1 1 2 2 ff A c N b N N A c b A c N f A s s s s 1 1 1 1 2 2 cc v b N N A c b f A c b N N s s s 1 1 1 1 2 3 2 2 2 ss s s s s s A c b N f N A c N A c b N f A c b N 2 3 2 2 3 2 1 1 1 1 1 3 3 2 f N A c bf s Por fim, resolvendo para NS: N A c bf N A c bf s s 1 1 3 3 2 3 2 3 3 / Torna-se claro que, ao compararmos as duas condições de entrada, NE > NS, ou seja: N A c bf N A c bf E s 1 1 2 3 3 / 62 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Esse resultado revela um incentivo à entrada devido ao business-stealing effect. Suponha os valores para os seguintes parâmetros:A = 10, b = 1, e c = 2. A tabela a seguir mostra que, se o número socialmente justo de empresas fosse 2, o número de empresas de livre entrada deveria ser 4; se o número socialmente justo de empresas fosse 3, o número de empresas de livre entrada deveria ser 7. Tabela 6 NS NE A b c f 2 4,20 10 1 2 2,370 3 7,00 10 1 2 1,000 5 13,70 10 1 2 0,296 8 26,00 10 1 2 0,088 30 171,60 10 1 2 0,002 Portanto, à medida que o número de empresas socialmente justas (NS) aumenta, o número de empresas de livre entrada (NE) aumenta mais que proporcionalmente. Observe que esse viés é sempre crescente. Além disso, o aumento em NE envolve redução nos custos fixos de entrada f. Assim, a perda de excedente dos produtores estabelecidos devido à entrada excessiva não é crescente, mas decrescente. Saiba mais O modelo de crescimento econômico de Schumpeter destaca-se por incorporar um fenômeno observado na vida real: novas invenções tornam as tecnologias anteriores obsoletas. Esse fenômeno é descrito como destruição criativa. No entanto, as inovações correntes geram uma externalidade negativa para o produtor que está presente no mercado: o business-stealing effect. Esse efeito causa um crescimento econômico “excessivo”, mesmo em mercados perfeitamente concorrenciais. Para mais detalhes, consulte: AGHION, P.; HOWITT, P. Endogenous growth theory. Cambridge: The MIT Press, 1998. 4 COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO O comportamento estratégico, de acordo com Schelling (1960), envolve três conceitos: • Ameaças: denotam uma penalidade a ser imposta a um rival se ele tomar alguma ação. Nesse caso, a intenção é impedir uma ação. 63 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA • Promessas: envolvem uma recompensa a ser paga a um rival se ele fizer alguma ação. Nesse caso, há um incentivo para que ocorra uma ação. • Compromissos: uma ameaça ou uma promessa serão um compromisso se a punição for executada ou se a recompensa for, de fato, o melhor interesse do agente. A regra básica de um movimento estratégico é converter uma ameaça ou uma promessa em um compromisso. Uma questão-chave para a análise de comportamento estratégico é se as ameaças ou promessas são críveis. Se o agente a ser influenciado tomar uma ação indesejada, e não for do interesse deste efetuar uma ameaça, então essa ameaça será não crível. Esse raciocínio é o mesmo para uma promessa. O agente aprimora a sua credibilidade – ou seja, a estimativa de seus rivais sobre a disposição de cumprir – se ele pode se comprometer a cumprir suas ameaças e/ou promessas. Saiba mais Thomas Schelling iniciou o estudo formal do comportamento estratégico e introduziu muitos dos conceitos importantes em seu livro pioneiro The Strategy of Conflict (1960). Entre esses conceitos, encontram-se os três mencionados: ameaças, promessas e compromissos. Com base neles, o autor definiu o movimento estratégico como aquele que influencia a escolha de seu rival da maneira que você achar favorável, afetando as expectativas de seus rivais sobre como você vai se comportar no futuro. Mais detalhes podem ser vistos em: SCHELLING, T. The strategy of conflict. Cambridge: Harvard University Press, 1960. A seguir estudaremos os principais conceitos por trás do comportamento estratégico de uma empresa diante da ação de seus concorrentes. Finalizaremos o capítulo com o estudo de dois importantes jogos estratégicos em OI: o modelo de Stackelberg e a diferenciação de produtos. 4.1 Decisões estratégicas ao longo do tempo Schelling (1960) argumentou que são necessários quatro elementos para que determinada ação seja considerada um movimento estratégico: • Movimentos sequenciais: um agente é capaz de se mover antes que os outros oponentes façam seus próximos movimentos. • Comunicação: os outros jogadores devem estar cientes do movimento ou da ação do agente antes que eles se movam. 64 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I • Incentivos: o movimento do agente deve mudar os incentivos ou escolhas quanto ao futuro. • Expectativas racionais: o movimento do agente não deve mudar apenas seus incentivos ou escolhas, mas também deve mudar o que seus oponentes notam sobre qual é melhor curso de ação no futuro. Isso, por sua vez, deve afetar seu comportamento – e, para que o movimento estratégico seja bem-sucedido, essa mudança no seu comportamento deve elevar seu retorno (payoff). Essas quatro propriedades determinam que um movimento estratégico de sucesso requer que o agente olhe para frente (look forward) e antecipe seus resultados (reason back). Ao fazer uma escolha, o agente deve tentar antecipar como seus rivais reagirão, com base na sua percepção (hoje) de seus ganhos e recompensas (futuras). O estudo do comportamento estratégico envolve distinguir entre escolhas estratégicas e escolhas táticas. De modo geral, as escolhas estratégicas condicionam futuras escolhas táticas. Escolhas estratégicas e escolhas táticas diferenciam-se em dois aspectos: • Timing: as escolhas estratégicas devem ocorrer antes das escolhas táticas. • Compromisso: não é possível alterar decisões estratégicas quando as escolhas táticas estão sendo feitas. Podemos classificar os diferentes tipos de decisão que as empresas tomam ao longo do tempo em: de curto prazo, de médio prazo e de longo prazo. Essa classificação é apresentada na figura a seguir: Pesquisa e desenvolvimento (P&D) Capacidade Características de produção Integração vertical Marketing Competição via quantidades ou preços Resultados Longo prazoMédio prazoCurto prazo Figura 11 – Decisões estratégicas ao longo do tempo No curto prazo, as empresas competem apenas com base no preço ou na quantidade, elementos que afetam diretamente o resultado (lucro). Essas decisões tomam como dados: a tecnologia de produção, as características do produto (embalagem, diferenciação de público-alvo, propaganda etc.), o nível de capacidade instalada, a intensidade na utilização de capital etc. Essas são variáveis de médio prazo e têm impacto direto na forma de concorrência de curto prazo. A capacidade de uma empresa ou a natureza de seus produtos, por exemplo, definem as condições pelas quais as empresas fixam os preços e as quantidades produzidas. Finalmente, no longo prazo, as empresas tomam decisões sobre esforços de P&D. O resultado desses esforços determina, no médio prazo, o conjunto de escolhas com as quais as empresas devem se defrontar. Por exemplo, o resultado dos esforços de P&D determina os tipos de tecnologia que a As ações de maior prazo definem/condicionam as decisões do menor P&D condiciona caract de prod, que condiciona competição/preços 65 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA empresa poderá utilizar e os tipos e as características dos produtos que ela poderá produzir. As decisões de longo e médio prazo são estratégicas, pois condicionam as decisões táticas de curto prazo (preços, quantidades e, consequentemente, resultados). No curto prazo, as empresas podem ajustar os preços e a produção (esta, talvez, com menos espaço que os preços) mais facilmente do que alterar decisões com horizontes de tempo mais longos. Geralmente, leva mais tempo para uma empresa decidir sobre alterações em sua capacidade produtiva (médio prazo) do que para alterar seu preço (curto prazo). Do mesmo modo, normalmente leva mais tempo para as empresas iniciarem e levarem a bom termo projetos de P&D (longo prazo) do que para alterar o nível de capacidade que elas têm disponível (médio prazo). Os julgamentos sobre a velocidade com que as empresas podem ajustar os aspectos produtivos são, de fato, avaliações dos custos de oportunidade da mudança. Algumasdecisões apresentam horizontes de tempo mais longos, pois os custos de alterar a intensidade de produção mais rapidamente são muito caros. De modo geral, podemos classificar as ações de curto prazo como táticas e as de horizonte de tempo maior (médio e longo prazo) como estratégicas: • As decisões sobre preços e quantidades são táticas quando essas variáveis podem ser alteradas rapidamente e não exigem sunk costs significativos. • As decisões de médio e longo prazo são estratégicas, pois não podem ser rapidamente alteradas e exigem sunk costs significativos. Observação Sunk costs (custos irrecuperáveis) representam os custos que não podem ser evitados em determinada atividade produtiva, como o capital investido na realização de um projeto de expansão da capacidade ou o custo associado ao encerramento das atividades. As empresas que atuam estrategicamente consideram o impacto de suas decisões de longo prazo sobre o resultado de suas concorrentes no curto prazo. Assim, as decisões estratégicas podem ter: • Efeitos diretos: quando as decisões alteram a natureza da concorrência de curto prazo, afetando o custo marginal ou a receita marginal das empresas rivais. • Efeitos indiretos: quando as decisões alteram a natureza da competição de curto prazo, afetando o custo marginal ou a receita marginal da própria empresa. Mudanças no custo marginal ou na receita marginal de uma empresa afetarão seus incentivos para fixar preços ou o nível de produção. Além disso, a empresa deve entender que seus rivais irão responder às mudanças de preço ou decisões de produção da empresa, alterando também sua produção ou seu preço. 66 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Observação Em teoria dos jogos, as estratégias de um jogador dizem respeito aos movimentos permitidos e podem se referir a escolhas táticas e estratégicas. No jogo de Cournot, por exemplo, as estratégias dos jogadores consistem na definição das quantidades produzidas, mas a decisão de saída é tática, pois ocorre a partir da situação de mercado determinada por decisões estratégicas anteriores. 4.2 Jogo de Stackelberg Vejamos agora uma reinterpretação do modelo ou jogo de Stackelberg para demonstrar a importância do timing e do compromisso dos jogadores. O jogo de Stackelberg também é conhecido como modelo de liderança por quantidades. Nesse jogo, apenas uma firma (a líder ou incumbente) reconhece que, à medida que modifica sua quantidade produzida, pode induzir uma modificação no nível de produção de seus concorrentes (os seguidores). As demais empresas continuam a se comportar conforme o modelo de equilíbrio de Cournot. O jogo de Stackelberg é tradicionalmente exemplificado a partir de um duopólio composto de uma firma líder e outra seguidora. Nesse caso, o modelo apresenta as seguintes características em relação à definição do nível de produção: • A firma 1, a líder, decide antes da firma 2 a quantidade (q1) que irá produzir. • A firma 2, a seguidora, ajustará sua quantidade (q2) à escolha de q1 pela líder. O jogo de Stackelberg é idêntico ao jogo de Cournot, em que as empresas competem via quantidades, mas eles diferem no timing das decisões de produção. Enquanto no jogo de Cournot as empresas escolhem as quantidades produzidas simultaneamente, no jogo de Stackelberg as firmas seguidoras tomam a produção da líder como algo dado, sobre o qual não podem exercer nenhuma influência. Uma representação esquemática da forma extensiva do jogo de Stackelberg aparece na figura a seguir. Como a variável estratégica definida pela produção de cada firma (q1) pode assumir um número infinito de valores, são apresentadas apenas cinco opções de quantidades produzidas diferentes para as firmas 1 e 2. Quando a firma 2 se move, o número de subjogos é infinito, mas eles diferem apenas em função da definição da quantidade produzida pela firma 1. Desse modo, a produção da firma 1 é usada para indexar os subjogos que começam quando a firma 2 se move. Explicação dos cálculos no chatgpt. Basicamente monta eq do lucro, vai na l2 e maximiza pra descobrir q2 e jogar na q1 67 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA q 1 = 5 q 2 = 5 q 1 = 1 q 1 = 2 q1 = 3 q2 = 3 q 1 = 4 q 2 = 1 q 2 = 2 (π1 ; π2) q 2 = 4 1 2 2 2 2 2 Figura 12 – Forma extensiva do jogo de Stackelberg Uma estratégia para a firma 2 seria uma regra que dê a ela um nível maximizador de lucro para qualquer nível q escolhido pela firma 1. Por sua vez, a firma 1 também pode prever a resposta da firma 2, o que lhe permite fazer sua própria escolha da quantidade que maximiza seus lucros, levando em conta a melhor resposta da firma 2. Observação Um equilíbrio de subjogo perfeito de Nash é definido como um conjunto de estratégias que permite que a estratégia de cada jogador seja um equilíbrio de Nash em cada subjogo possível, dadas as estratégias dos outros jogadores. Para obter a estratégia de equilíbrio de subjogo perfeito de Nash da firma 2, devemos maximizar seu lucro para cada valor possível de q1. A curva de demanda residual da firma 2 mostra como o preço mudará à medida que a firma 2 alterar sua produção, mantendo q1 constante. A curva de demanda residual da firma 2 é denotada por P2(q1;q2). O problema que define a estratégia da firma 2 é: max ; ; q q q RT CT Q P q q q CT q 2 2 1 2 2 2 2 1 2 2 2 2 (4.1) Assim, a empresa líder escolhe uma quantidade total que deve induzir a empresa seguidora a produzir uma quantidade adequada à maximização dos lucros da líder. Para resolver o problema de otimização descrito na equação 4.1, a firma 2 deve obedecer a uma função de reação: q2 = f(q1) (4.2) 68 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I A firma 1 (líder) deve escolher uma quantidade a ser produzida que resolva seu problema de maximização de lucro sujeito à restrição da função de reação da firma 2 (seguidora), isto é: max ; . . q RT CT q P q q q CT q s a q f q 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 2 1 (4.3) A produção total da indústria é dada por Q = q1 + q2. A função de demanda inversa com que as firmas se defrontam pode ser especificada como: P(Q) = a - b (q1 + q2) (4.4) As receitas total e marginal da firma 1 são definidas da seguinte forma: RT P q q q a b q q q aq bq bq q RMg RT q 1 1 2 1 1 2 1 1 1 2 1 2 1 1 1 ; a bq bq2 1 2 (4.5) Em relação à firma 2, as receitas total e marginal são as seguintes: RT P q q q a b q q q aq bq bq q RMg RT q 2 1 2 2 1 2 2 2 2 2 1 2 2 2 2 ; a bq bq2 2 1 (4.6) As funções de custo total, por sua vez, são: CT1 = cq1 (4.7) CT2 = cq2 (4.8) Em que c é o custo marginal. A condição de máximo lucro das duas firmas prevê que a receita marginal seja igual ao custo marginal. A otimização para a firma 2 requer que primeiro seja igualada a equação 4.6 ao custo marginal em 4.8, e depois resolva-se a expressão para q2. Logo: 69 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA a bq bq c q b a bq c 2 1 2 2 1 2 1 (4.9) A equação 4.9 é a função de reação da firma 2, ou seja, o nível de produção da firma 2 depende da definição das quantidades produzidas pela firma 1. A firma 1 decide seu nível de produção, conforme a função de lucro descrita em 4.3. Assim, substituindo-se RT1 e CT1 pelos valores constantes das equações 4.5 e 4.7, a função de lucro da firma 1 passa a ser: 1 1 1 2 1 2 1 aq bqbq q cq (4.10) Por outro lado, a firma 2 deve considerar a função de reação descrita na equação 4.9 para decidir quanto ela deve produzir. Desse modo, a função de lucro da firma 2 é equivalente à da líder (equação 4.10), com a exceção de que q2 deve ser substituído pelo resultado alcançado em 4.9: 2 1 1 2 1 1 1 1 2 aq bq bq b a bq c cq (4.11) Para definir as quantidades produzidas pela firma 1, basta maximizar a função em 4.11 com respeito aq1: 2 1 1 1 1 1 2 2 2 0 2 2 1 2 q a bq a bq c c bq a c q a c b (4.12) Substituindo o resultado em 4.12 na função de reação da firma 2, obtemos: q b a b a c b c q a c b 2 2 1 2 1 2 1 4 (4.13) 70 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Logo, a quantidade produzida pela seguidora é metade da que a líder produz (q1 > q2). Por que a participação de mercado da firma líder é maior do que a da seguidora? Como a firma líder determina inicialmente a quantidade que irá produzir, ela também aufere um prêmio por ser a pioneira e, com isso, define um preço menor do que o praticado pela seguidora. Somando as quantidades produzidas de cada firma – equações 4.12 e 4.13 –, obtemos a produção da indústria: Q q q a c b a c b a c b 1 2 1 2 1 4 3 4 Substituindo os resultados obtidos em 4.12 e 4.13 na função de demanda (equação 4.4), encontramos o preço praticado nesse mercado: P Q a b a c b a c b P Q a b a c b 1 2 1 4 3 4 a a c a c 3 4 1 4 3 ( ) (4.14) Por fim, utilizando as equações 4.10 e 4.11, podemos descrever os lucros das firmas 1 e 2 da seguinte forma: • Firma líder: 1 21 2 1 2 1 2 1 4 a a c b b a c b b a c b a c b cc a c b a c b 1 2 1 81 2 (4.15) • Firma seguidora: 2 21 2 1 2 1 2 1 2 1 2 a a c b b a c b b a c b b a b a c b c c a c b a c b 1 2 1 162 2 (4.16) 71 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Exemplo de aplicação Comparação entre os jogos de Stackelberg e Cournot Confrontando as equações 3.6, 3.7, 3.8 e 3.9 (que descrevem os resultados do equilíbrio de Cournot) com as equações 4.12, 4.13, 4.14, 4.15 e 4.16 (que mostram o resultado do jogo de Stackelberg), podemos efetuar uma comparação entre os modelos de Cournot e de Stackelberg. Primeiramente, vamos analisar as quantidades individuais produzidas em cada modelo. O nível de produção individual sob duopólio de Cournot (com N = 2) é: q a c b C 12 1 3, Comparando com os resultados encontrados para as firmas líder e seguidora no duopólio de Stackelberg (equações 4.12 e 4.13), podemos verificar que: q a c b q a c b q a c b S C S 1 12 2 1 2 1 3 1 4 , Ou seja, a quantidade produzida pelas duas firmas no modelo de Cournot (QC 12, ) fica numa posição intermediária entre as quantidades produzidas pelas firmas líder e seguidora no modelo de Stackelberg. Esse resultado implica a seguinte comparação dos lucros auferidos em cada modelo: 1 12 2 S C S , Por outro lado, a quantidade total de mercado encontrada no duopólio de Cournot foi: Q q q Q a c b a c b a c b T C C C T C 1 2 1 3 1 3 2 3 Quanto ao modelo de Stackelberg, a quantidade total produzida sob esse modelo é a soma dos resultados encontrados para as firmas líder e seguidora, ou seja: Q q q Q a c b a c b a c b T S S S T S 1 2 1 2 1 4 3 4 72 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Comparando esse resultado com a quantidade total no modelo de Cournot: Q QT S T C> Logo, a oferta da indústria sob o oligopólio de Stackelberg é maior do que sob o oligopólio de Cournot. Em outras palavras, o modelo de Stackelberg proporciona maior bem-estar ou, ainda, é socialmente preferível ao modelo de Cournot. A tabela a seguir mostra a comparação dos principais resultados de ambos os modelos: Tabela 7 Indicador Stackelberg Cournot (N = 2) Firma 1 (líder) Firma 2 (seguidora) Indústria Firma 1 Firma 2 Indústria Produção q a c b1 1 2 q a c b2 1 4 Q a c b 3 4 q a c b1 1 3 q a c b2 1 3 Q a c b 2 3 Preço P a c 1 4 3 P a c 1 3 2 Lucro 1 2 1 8 a c b 2 2 1 16 a c b 1 2 1 9 a c b 2 2 1 9 a c b Está implícita no jogo de Stackelberg a suposição de que a firma 1 pode se comprometer com seu nível de produção. Para verificar como isso é importante, suponha uma mudança nas regras do jogo. Em vez de as duas empresas escolherem as quantidades sequencialmente, elas escolhem as quantidades simultaneamente (como no jogo de Cournot), mas a empresa 1 tem a oportunidade de anunciar à empresa 2 a produção que pretende produzir. O que aconteceria se a firma 1 anunciasse que iria produzir q1 = q2? O equilíbrio de Nash em quantidades seria q1 = q2 = Q? A resposta é não, pois esse equilíbrio envolve a firma 1 fazendo uma ameaça não crível de produzir uma quantidade q1, menor do que a que seria ideal para ela maximizar seu lucro, caso realmente imagine que a firma 2 vá produzir q2, que é maior do que ela poderia produzir dada a sua capacidade instalada. 4.3 Diferenciação de produtos Uma das formas mais expressivas de se apropriar de maiores participações de mercado ocorre quando as empresas tentam tornar seu produto único em relação aos outros produtos no mercado. A razão para tanto é que, quanto mais diferenciado for o produto, mais a empresa poderá agir como um monopolista. Dessa forma, uma empresa pode fixar um preço mais alto sem induzir uma parte dos consumidores a mudar suas compras para um concorrente. 73 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA No caso de disputa por participação de mercado entre empresas que produzam produtos diferenciados, é mais razoável supor que elas concorram a partir da definição simultânea de preços (jogo de Bertrand) do que de quantidades (jogo de Cournot). Observação O jogo de Bertrand é um modelo de oligopólio no qual as empresas produzem um produto homogêneo e cada empresa decide simultaneamente qual o preço a ser cobrado por essa mercadoria. A ideia de utilizar o jogo de Bertrand deve-se ao fato de que, mesmo que as empresas venham a concorrer via preços, nada garante que as parcelas de mercado sejam iguais quando há diferenciação de produto. Isso ocorre porque as empresas procuram diferenciar seus produtos – por embalagens, por localização ou por publicidade. Dessa forma, quando os produtos são diferenciados, as parcelas de mercado de cada empresa dependem não apenas do preço dos produtos, mas também de diferenças marcantes no desempenho, na durabilidade, no design etc. O equilíbrio de Bertrand com diferenciação de produtos é ilustrado na figura a seguir: Curva de reação da firma 1 P1 = f(Q2) Curva de reação da firma 2 P2 = f(Q1) P1 P2 B C A P1 Conluio P2 Conluio P1 CP P2 CP0 P1* P2* Equilíbrio de conluio Equilíbrio competitivo Equilíbrio de Bertrand com diferenciação de produtos Figura 13 – Jogo de Bertrand com diferenciação de produtos Portanto, quando há diferenciação de produtos, a guerra de preços leva a um equilíbrio parecido com o obtido no equilíbrio de Cournot, ou seja, no ponto de intersecção das funções de reação das firmas 1 e 2 (pontoA da figura anterior). Nesse caso, uma firma passa a definir o preço de seu produto como uma função do preço a ser definido pelo concorrente. Esse resultado não é tão bom quanto o socialmente desejado (equilíbrio de concorrência perfeita, ponto B), porém é melhor que o ponto C, de equilíbrio de conluio, em que as firmas definem o preço de forma cooperativa. Highlight 74 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Para considerar o papel da diferenciação de produtos, vamos assumir que as empresas tomem decisões de preço simultâneas com custo marginal constante, mas que os produtos comercializados por elas sejam ligeiramente diferenciados. Isso significa que os consumidores percebem que esses produtos são substitutos imperfeitos – isto é, há consumidores dispostos a comprar o produto de uma empresa ainda que ele tenha um preço mais alto que o de seus concorrentes. Também significa que uma pequena mudança no preço de uma empresa causa uma pequena alteração na quantidade demandada. Para um mercado em duopólio de Bertrand, q p pD 1 1 2; denota a quantidade demandada do produto da empresa i (i = 1: firma 1; i = 2: firma 2) quando os preços são P1 e P2, praticados, respectivamente, pelas firmas 1 e 2. São exemplos de curva de demanda quando os produtos são diferenciados as seguintes expressões: q p p p pD 1 1 2 1 2100 0 5; , (4.17) q p p p pD 2 1 2 2 1100 0 5; , (4.18) Observe que a demanda de uma empresa diminui em relação a seu próprio preço, mas aumenta em relação ao preço de seu rival. Essa propriedade reflete que os produtos são substitutos. Desse modo, quando a firma 2 aumenta seu preço, alguns consumidores que compram o produto dela decidem mudar para o produto da firma 1. Outra característica evidente das equações 4.17 e 4.18 é que, mesmo que P1 > P2, a firma 1 ainda tem demanda positiva (desde que a diferença entre os preços não seja muito grande). Como o produto da firma 1 é diferente do produto da firma 2, alguns consumidores estão dispostos a pagar um prêmio pelo produto da firma 1 – por exemplo, em razão de fidelidade à marca. Finalmente, a demanda de uma empresa é mais afetada por uma mudança em seu próprio preço do que por uma mudança no preço do concorrente. Para confirmar essa proposição, comecemos com a definição de lucro econômico para as duas firmas: i i i i i D i Dp p RT CT p q cq i1 2 12; , , (4.19) i i D i i Dp p q p cq1 2; (4.20) Se assumirmos que cada empresa tem um custo marginal constante (c) igual a 20, as funções de lucro das firmas 1 e 2, informadas pelas equações 4.17 e 4.18, passarão a ser descritas, respectivamente: 1 1 2 1 2 1100 0 5 20p p p p p; , (4.21) 75 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA 2 1 2 2 1 2100 0 5 20p p p p p; , (4.22) Nesse caso, as firmas 1 e 2 auferem pi - 20 para cada unidade vendida. Para derivar o equilíbrio de Nash para o jogo de preços com produtos diferenciados, podemos aplicar o mesmo método utilizado no jogo de quantidade de mercadorias homogêneas (equilíbrio de Cournot). O primeiro passo é determinar o preço de maximização de lucro de cada empresa, dado o preço de seu concorrente, ou seja, a função de reação. Para a firma 1, a função de reação é obtida derivando-se 4.21 em relação a pi: 1 1 2 1 1 2 1 2 120 2 0 5 0 60 0 25 p p p p p p p ; , , (4.23) De modo simétrico, a função de reação da firma 2 será: p2 = 60 + 0,25 p1 (4.24) Como no equilíbrio do jogo de Cournot, o equilíbrio de Nash no jogo de Bertrand com diferenciação de produtos é alcançado no ponto em que as duas funções de reação se encontram. Dessa forma, substituindo p2 em 4.23 pelo resultado obtido em 4.24, temos: p p p p p 1 1 1 1 1 60 0 25 60 0 25 60 15 1 16 80 , , (4.25) Como as funções de reação são simétricas, então p2 = 80. O equilíbrio de Nash ocorre no ponto em que ambas as empresas praticam o mesmo preço: p1 = p2 = 80. Um resultado importante decorrente dessa derivação é que, quanto mais diferenciados forem os produtos das empresas, maiores serão os preços de equilíbrio. Para entender essa intuição, consideremos inicialmente o caso extremo de os produtos serem homogêneos. Se o preço da firma 1 for praticado no mesmo nível do da firma 2, ambas as empresas compartilharão a mesma demanda de mercado, na medida em que os consumidores serão indiferentes à compra dos produtos das duas empresas. No caso da diferenciação, como os consumidores compram da empresa com o preço mais baixo, a firma 1 pode induzir todos os consumidores da firma 2 a comprar dela com um preço ligeiramente inferior ao da firma 2. Assim, uma pequena queda no preço da firma 1 produz uma duplicação de sua quantidade demandada. Esse forte incentivo para subcotar o preço de um concorrente resulta, em equilíbrio, em preços que são reduzidos até o custo marginal. Essa é a demonstração do paradoxo de Bertrand. 76 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Lembrete O paradoxo de Bertrand postula que uma indústria com apenas dois competidores, concorrendo via preços num mercado de bem homogêneo, operaria do mesmo modo que uma firma em concorrência perfeita, com o preço igualando o custo marginal. Exemplo de aplicação Custos e produtos diferenciados Sejam duas firmas, A e B, com as seguintes funções de demanda: q p p q p p A A B B B A 60 4 2 5 50 4 2 , Em que q é a quantidade demandada e P é o preço em $. As firmas apresentam funções de custo diferentes para produzir as quantidades a serem vendidas no mercado. Logo, os produtos deverão ser necessariamente diferenciados. Os custos marginais dessas firmas são mostrados a seguir: CMg c CMg c A A B B = = = = $ $ 5 4 Por simplicidade, as firmas não apresentam custos fixos. As funções de lucro de cada firma são as seguintes: • Firma A: A A B A A A A A B A p p p p p p p p P 60 4 2 5 5 60 4 2 5 300 20 12 52 , , , AA A A A A B Ap p p p P 80 4 2 5 300 12 52 , , • Firma B: B B A B B B B B A B A B p p p p p p p p P p 50 5 2 4 50 5 2 200 20 8 70 2 BB B B A B Ap p p p P 5 2 200 20 82 77 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Diferenciando essas funções de lucro e igualando-as a zero, chegamos às funções de reação de cada firma: • Firma A: A A A B A B p p p p p 80 8 2 5 0 10 0 3125 , , • Firma B: B B B A B A p p p p p 70 10 2 0 7 0 2, Resolvendo as funções de reação simultaneamente para derivar o preço de equilíbrio: • Firma A: p p p p p A A A A A 10 0 3125 7 0 2 12 1875 0 0625 13 , , , , $ • Firma B: p p B B 7 0 2 13 9 6 , ( ) $ , Esses valores, bem como as funções de reação, são ilustrados no gráfico a seguir: 78 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I PB PA = f (PB) PB = f (PA) 9,6 7 0 0 10 13 PA Figura 14 Resumo Esta unidade foi reservada ao estudo introdutório das principais ferramentas de análise da organização industrial (OI). Vimos que o estudo moderno da OI parte do princípio de análise do modelo estrutura-conduta-desempenho (ECD). Essa abordagem assume uma relação estável entre as variáveis estruturais da indústria (concentração de mercado e barreiras à entrada) e6.1 Vantagens e desvantagens da integração vertical ...............................................................102 6.2 Monopolização vertical ...................................................................................................................105 6.3 Integração vertical e discriminação de preços .......................................................................109 6.4 Integração vertical e informação assimétrica ........................................................................110 7 CONCENTRAÇÃO HORIZONTAL ................................................................................................................111 7.1 Análise custo-benefício de fusões horizontais ......................................................................111 7.1.1 Análise custo-benefício da fusão considerando competição perfeita no estágio pré-fusão ......................................................................................................................................114 7.1.2 Análise custo-benefício da fusão considerando competição imperfeita no estágio pré-fusão ......................................................................................................................................118 7.2 O uso de indicadores de concentração na análise da concentração horizontal ......119 7.3 Conluio ...................................................................................................................................................124 7.3.1 A estratégia do gatilho ...................................................................................................................... 124 7.3.2 Formas de cooperação ....................................................................................................................... 133 8 INTRODUÇÃO A POLÍTICAS ANTITRUSTE E REGULAÇÃO ECONÔMICA ....................................137 8.1 Políticas públicas antitruste ...........................................................................................................137 8.2 Análise de antitruste no Brasil ......................................................................................................139 8.3 Fundamentos de regulação econômica ....................................................................................141 8.3.1 Monopólios naturais ........................................................................................................................... 142 8.3.2 Externalidades ....................................................................................................................................... 149 8.4 Regulação no Brasil ...........................................................................................................................154 7 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 APRESENTAÇÃO Era uma vez um industrial brasileiro que chegou a ser apontado como o oitavo mais rico do mundo. Foi celebrado como um dos maiores empresários do Brasil e tornou-se ídolo de novos milionários e políticos. Orgulhava-se de gerar empregos e competir honestamente. Entretanto, após investigações sobre a sua conduta e declarações sobre a inviabilidade de seus negócios, o império construído por esse industrial ruiu. Foi revelada uma série de fraudes que contribuíram para o seu enriquecimento, como prejuízos impostos a acionistas minoritários, exploração da fragilidade de agências reguladoras, financiamentos sem garantias em bancos públicos e capitalização de recursos a partir de fundos de pensão controlados por estatais. Essa fábula sobre empresários inescrupulosos mostra que a negligência de uma economia de mercado leva a um mau funcionamento das instituições legais, políticas e regulatórias. O efeito dessas más ações empresariais sobre o bem-estar da sociedade é a maior ineficiência da economia e uma maior desigualdade entre ricos e pobres. Em outras palavras, é importante uma compreensão lógica e útil a respeito do modo de operação das firmas e indústrias no mundo em que vivemos, e este é o objetivo primordial da disciplina Organização Industrial / Regulação da Concorrência. A disciplina ganha corpo não apenas pela curiosidade e interesse teóricos que suscita sobre a questão da concorrência na economia, mas primordialmente em função da necessidade prática de obtenção de subsídios analíticos para a formulação e avaliação das políticas públicas de fiscalização, regulação e ordenação dos fenômenos de mercado. O interesse científico sobre o comportamento e o desempenho das firmas e indústrias tornou-se mais efetivo a partir de meados do século XVIII, com os avanços tecnológicos e as repercussões sociais que marcaram a primeira Revolução Industrial. As invenções provenientes dessa época propiciaram e estimularam um forte movimento de urbanização e concentração das atividades econômicas, com o desenvolvimento de métodos de organização dos recursos compatíveis que, em larga medida, ainda deixam traços sobre as firmas e indústrias hoje observadas. As primeiras argumentações sobre a operação dos mercados, que semearam as bases da teoria da organização industrial (OI), foram propostas por Adam Smith em sua obra Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações (1776/1996). Os referenciais encontrados nessa obra permanecem fundamentais na análise teórica sobre a prática dos mercados e o comportamento dos agentes econômicos. Alfred Marshall, tentando evitar argumentos de natureza político-filosófica recorrentes nos trabalhos de Smith, reservou em seus Princípios de Economia (1920/1996) grande espaço à análise da organização industrial. Com sua peculiar objetividade e pragmatismo, Marshall abordou mais detalhadamente as questões da eficiência produtiva, das tecnologias, da localização fabril e dos investimentos produtivos, antecipando importantes aspectos da base temática com a qual posteriormente se ocuparia a moderna teoria da firma, em especial a OI. 8 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Deve-se notar, entretanto, que a OI só ganha feições de disciplina relativamente autônoma e delimitada do ponto de vista científico no período posterior à Segunda Guerra Mundial, processo que envolve nomes importantes, como Edward Chamberlin, Ronald Coase, Joe Bain, Edward Mason e John Nash. Mais atualmente, alguns autores procuram estabelecer uma fronteira entre as disciplinas de Microeconomia e OI. Richard Schmalensee (1988), por exemplo, entende que a OI está voltada para aspectos dinâmicos, como aqueles associados ao aparecimento e desenvolvimento histórico de firmas e indústrias. Por outro lado, a teoria dos preços neoclássica, base do estudo da Microeconomia tradicional, tem como foco a análise das estruturas de mercado sob uma perspectiva estática. Feitas essas considerações, é possível definir OI como o estudo da lógica de operação e comportamento das firmas nos mais diferentes mercados, enfatizando-se a busca de implicações sobre o bem-estar da sociedade, bem como a formulação, implementação e avaliação de políticas públicas que possam regulamentar a ação dessas firmas. Este livro-texto não tem como objetivo principal seguir rigorosamente todos os modelos microeconômicos associados à OI. Ele servirá, porém, para o propósito de traçar os modelos básicos que descrevem os processos de aparecimento e desenvolvimento das firmas, bem como as análises sobre regulação dos mercados. Por conta disso, sempre que possível, indica-se ao aluno complementar os tópicos contidos aqui com a leitura de livros indispensáveis sobre o assunto, como dos autores Carlton e Perloff (2004), Church e Ware (2000), Kupfer e Hasenclever (2013), Shy (1995) e Viscusi, Vernon e Harrington (2005). O aluno poderá encontrar casos de regulação econômica e de ações antitruste específicos para o Brasil em Mattos (2003).o desempenho do mercado, normalmente medido pelo grau de poder de mercado. A hipótese mais importante é a de que o poder de mercado deverá crescer na medida em que houver maior concentração de ofertantes e um aumento no número de barreiras à entrada. As empresas competitivas que maximizam lucros produzem até o ponto em que sua receita marginal se iguala ao custo marginal. Se os mercados são perfeitamente competitivos, a alocação de recursos é eficiente e maximiza o excedente total. Firmas com poder de mercado podem aumentar o lucro praticando preços acima do custo marginal. O poder de mercado de uma empresa varia inversamente à sua elasticidade-preço da demanda e, quando ocorre, gera um custo para a sociedade medido pelo peso morto. A seguir, foram estudadas várias formas de medir a concentração de mercado. Primeiramente, analisamos as medidas de poder de mercado dos 79 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA monopólios, como o índice de Lerner, o índice de Bain e o índice de Rothschild. No caso de mercados concentrados em poucas empresas, os indicadores mais utilizados pelas agências antitruste são: a razão de concentração (C4 ou C8) e o índice Herfindahl-Hirschman (IHH). No equilíbrio de Cournot, o IHH é uma medida do índice de Lerner de toda a indústria. Vimos, na sequência, que o equilíbrio de Cournot de livre entrada é definido por duas condições: equilíbrio de Nash em quantidades e existência de lucro zero. Sem barreiras à entrada que limitem a quantidade de firmas concorrentes, o equilíbrio de Cournot de livre entrada converge para o equilíbrio de concorrência perfeita, ou seja, o preço é igual ao custo marginal. Com a exceção do caso-limite de não haver barreiras à entrada, o número de empresas de equilíbrio de livre entrada não se iguala ao número eficiente de empresas. O número de empresas no equilíbrio de livre entrada pode ser excessivo quando ocorre o business-stealing effect e as empresas não podem apropriar todo o excedente que criam. A concorrência oligopolística efetuada a partir de variáveis não referenciadas em preços pode ser considerada estratégica. O objetivo desse tipo de estratégia é alterar o resultado da concorrência para favorecer determinada empresa. No comportamento estratégico, um compromisso é uma promessa ou uma ameaça crível. As ameaças ou promessas não críveis não fazem parte do interesse de um agente econômico. Movimentos estratégicos convertem ameaças ou promessas em compromissos. Os principais jogos estratégicos são o de Stackelberg (ou modelo de liderança por quantidades) e o de Bertrand com produtos diferenciados. Exercícios Questão 1. (Cespe 2013, adaptada) Em relação à análise da indústria e da concorrência, assinale a alternativa correta: A) Na teoria econômica ortodoxa, a estrutura de mercado refere-se a costumes, políticas, métodos de gestão e padrões de concorrência. B) A razão de concentração considera todas as firmas de modo diferenciado e ressalta a importância das grandes empresas, visto que há, sobre estas, uma ponderação maior do que nas pequenas firmas. C) Os modelos da nova organização industrial fornecem o instrumental necessário para quantificar o comportamento competitivo dos mercados, mas não consideram diretamente o número de firmas existentes nesses mercados. 80 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I D) O teste da razão de concentração na indústria implica a maximização do lucro pela firma quando a receita marginal iguala o custo marginal da produção, determinando produto de equilíbrio e número de firmas de equilíbrio. E) O grau de competição de uma indústria demonstra o relacionamento entre mudança no preço dos insumos e seu impacto na receita. Também indica que, em ambiente de conluio e havendo maximização do lucro, o aumento no preço dos insumos aumenta o custo marginal, reduz o produto de equilíbrio e aumenta a receita total. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o que caracteriza a estrutura de mercado é o número de vendedores e compradores, as barreiras à entrada de novas empresas e a diferenciação de produtos. B) Alternativa correta. Justificativa: a alternativa corresponde exatamente à razão de concentração em que a ponderação é dada pela participação no mercado, com maior atenção às maiores empresas do setor analisado. C) Alternativa incorreta. Justificativa: todos os modelos levam em conta o número de firmas em um setor, como forma de medir a participação ou o nível de concentração em dado mercado. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o teste da razão de concentração não considera a maximização do lucro das empresas, mas o comportamento das vendas para a definição do grau de concentração. E) Alternativa incorreta. Justificativa: o grau de competição de uma indústria ressalta a relação entre o poder de mercado e o impacto na receita de uma empresa ou firma, isso sendo analisado num setor específico. Questão 2. (Enade 2012) A entrada de uma empresa em uma indústria pode assumir diferentes formas, seja como uma nova empresa, seja como uma empresa existente que visa à diversificação de suas atividades ou do mercado geográfico. Para avaliar as condições de ingresso em determinado mercado, uma empresa potencial entrante pode deparar-se com condutas de inibição à sua entrada aplicadas por empresas estabelecidas. Constitui conduta adotada por empresas e estabelecida para inibir a entrada de empresa potencial entrante: 81 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA I – A restrição à empresa potencial entrante de acesso a canais de distribuição. II – O estabelecimento de preços elevados, que incitem a cooperação entre empresas. III – O estabelecimento de laços entre fornecedores e consumidores, que resultem em elevados custos de mudança para os consumidores. IV – A instalação de capacidade produtiva elevada diante de demanda estável desse mercado. V – O estabelecimento de reputação, que reflita fatores como qualidade, confiabilidade e relacionamento de longo prazo com os consumidores. É correto apenas o que se afirma em: A) I e II. B) I e III. C) II, IV e V. D) I, III, IV e V. E) II, III, IV e V. Resolução desta questão na plataforma.Por ser uma obra condensada, o texto corrido é substituído pela apresentação de modelos, gráficos e muitos exemplos de aplicação. Para aqueles alunos com dificuldade na utilização de ferramentas microeconômicas e de teoria dos jogos, é indicada a leitura, respectivamente, de Pindyck e Rubinfeld (2014) e Bierman e Fernandez (1998). Por fim, embora o conhecimento dos modelos econômicos e a realização dos exercícios sejam essenciais para a formação do aluno, também é preciso que você absorva a intuição por trás dos modelos. Ou seja, é necessário ter uma compreensão elementar sobre o funcionamento do desenvolvimento econômico das diversas nações. As ferramentas aqui apresentadas são utilizadas para analisar algumas das questões mais importantes da firma contemporânea, como crescimento industrial, ações antitruste e regulação econômica. Sem recorrer a gráficos e equações, alguns livros de divulgação da ciência econômica ajudam bastante a entender esses problemas de maneira objetiva – por exemplo, Chang (2015), Harford (2007, 2016) e Wheelan (2014). Bons estudos! 9 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 INTRODUÇÃO A disciplina Organização Industrial / Regulação da Concorrência auxilia o aluno a analisar o posicionamento e as estratégias da firma sob o enfoque da interdependência e da complexidade dos mercados. A disciplina tem como objetivo principal avaliar o desenvolvimento e a aplicação de algumas teorias modernas de oligopólio, incluindo a teoria dos jogos. Este curso enfatiza dois aspectos fundamentais das empresas capitalistas modernas: em primeiro lugar, o fato de que essas empresas mostram uma evolução (quanto à determinação de preços, margens de lucro, crescimento, inovação tecnológica etc.) que reflete as mudanças da estrutura industrial em que elas se inserem; em segundo lugar, o fato de que a própria estrutura pode ser afetada pelo comportamento das grandes empresas, através da formação de cartéis e outras formas de conluio. Serão enfatizadas tanto a análise das organizações industriais e sua interação com instituições encontradas no mundo real quanto a análise da regulação governamental e da prática antitruste. Começaremos por conceitos necessários para o entendimento da disciplina. Introduziremos conceitos básicos da Microeconomia Neoclássica e mostraremos de que forma eles podem ser desdobrados em novas categorias analíticas. Nessa primeira parte do livro, também consideraremos: • A análise do modelo estrutura-conduta-desempenho. • A questão da concentração dos mercados e suas medidas. • O efeito de bem-estar decorrente da concentração de mercados. • A interação estratégica entre empresas pertencentes a um mercado, no sentido de que a decisão de cada empresa tem consequências sobre as demais, ao mesmo tempo que as decisões das demais determina a forma de atuação da indústria. Veremos, a seguir, as políticas e a regulação dos mercados. Trataremos essencialmente das políticas que fundamentam os princípios que devem nortear a intervenção do Estado nos mercados, bem como da institucionalidade específica da economia brasileira. Serão expostos em detalhes nessa etapa: • Questões relativas a barreiras à entrada e aspectos que dizem respeito a formas de prevenção, poder de mercado e conluio. • O impacto de fusões horizontais e integrações verticais. • Tópicos de análise antitruste. • Questões relacionadas às políticas públicas de regulação econômica. 11 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Unidade I 1 ESTRUTURA DE MERCADO, BEM-ESTAR E INDICADORES DE PODER DE MERCADO Este capítulo introduz o aluno aos conceitos básicos de organização industrial (OI). Esses conceitos serão analisados a partir de novas definições microeconômicas, além daquelas tratadas na visão tradicional neoclássica. Existem ao menos duas grandes abordagens no estudo de OI: • A teoria neoclássica de preços. • O modelo estrutura-conduta-desempenho (ECD). O primeiro modelo analisa os incentivos econômicos, caracterizados pelo preço de mercado dos mais diversos bens e serviços com que indivíduos e firmas se defrontam. Stigler (1968) foi o grande proponente dessa abordagem analítica da OI, que emprega a teoria microeconômica para delinear os estudos empíricos de mercado e os efeitos das políticas públicas utilizadas para combater o poder de mercado excessivo dos agentes econômicos. Atualmente, tal análise é aprofundada pelas ferramentas estudadas na disciplina Microeconomia em Concorrência Imperfeita. Mais recentemente, essa abordagem foi estendida por mais três aplicações teóricas específicas: • A teoria dos custos de transação. • A teoria dos jogos. • A teoria dos mercados contestáveis. Os custos de transação podem ser entendidos como as despesas relativas à negociação entre partes, despesas que estão além dos custos de produção que determinam os preços de negociação do bem, como: • Custos de negociar, elaborar e fazer valer contratos (enforcement). • Custos de mensuração e fiscalização dos direitos de propriedade. • Custos de monitoramento do desempenho e da eficiência de determinada atividade econômica. • Custos de organização das atividades, de modo geral. 12 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Observação Direitos de propriedade são conjuntos de leis que estabelecem o que os agentes econômicos podem fazer com suas respectivas propriedades. Enforcement de contratos é o custo para executar eficientemente as cláusulas compactuadas entre os agentes econômicos. Os custos de transação, portanto, são aqueles não ligados à produção, mas que aparecem à medida que os agentes se relacionam, quando surgem problemas de coordenação de suas ações. A teoria dos custos de transação tem início com os estudos efetuados, ainda na década de 1930, por Ronald Coase. Ele propôs que as firmas e os mercados podem ser vistos como meios alternativos de organização dos recursos econômicos. O argumento de Coase (1960) parte da ideia de que, quando os custos de transação são altos, as firmas se colocam como alternativas mais interessantes do que a utilização dos mercados na organização dos recursos. Os empresários, dessa forma, comparam os custos de produção dos insumos e serviços produtivos dentro da empresa com os custos da aquisição destes através dos mercados (ou seja, de terceiros). Saiba mais O economista britânico Ronald H. Coase foi agraciado, em 1991, com o Prêmio Nobel de Economia pelos trabalhos sobre a teoria da firma e a análise econômica do Direito. Coase demonstrou, pelo teorema de Coase, que existe a possibilidade de uma solução privada ótima às externalidades, isto é, uma solução sem a intervenção do Estado que maximiza o bem-estar social. Coase afirmou que, para lidar com externalidades, deve-se atentar para os direitos de propriedade, de modo que as ineficiências passem a ser identificadas e que seus custos de transação sejam negociáveis. Confira: COASE, R. H. The problem of social cost. Journal of Law and Economics, Chicago, v. 3, p. 1-44, Oct. 1960. Outro economista proponente da abordagem dos custos de transação, Oliver Williamson (1975), destaca pelo menos três conceitos básicos que fundamentam a análise de Ronald Coase: • A utilização dos mercados ou dos recursos próprios por parte de uma firma é determinada pelo custo correspondente à sua escolha. • Os custos de transação relativos a meio ambiente, direitos de propriedade e execução de contratos complexos variam, por um lado, com as características dos agentes tomadores de decisão envolvidos na transação (fatores humanos) e, por outro, com as particularidades de cada mercado (fatores ambientais). 13 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m ação : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA • Esses fatores humanos e ambientais afetam os custos de transação entre os mercados e entre as próprias empresas. Portanto, Williamson propõe que os custos de transação sejam uma categoria abrangente, podendo ser classificados em ambientais e humanos. Os custos ambientais estão associados à incerteza contratual e à quantidade de firmas envolvidas nas negociações de mercado. Para operações de mercado simples – de resolução imediata, como uma compra de material de escritório ou a contratação de uma assistência técnica de informática por uma consultoria –, o pagamento e a instalação por parte de terceiros são suficientes para eliminar a maior parte das incertezas envolvidas, sendo também fácil substituir o fornecedor ou o comprador caso esse relacionamento de mercado seja por algum motivo frustrado, uma vez que há uma infinidade de demandantes e ofertantes. Havendo grande incerteza e poucos agentes envolvidos, as dificuldades contratuais aumentam significativamente, dificultando (ou tornando mais custosa) a preparação, redação e controle dos contratos. Em diversas situações, esses fatores ambientais justificam a opção pela prestação direta dos serviços pelo próprio fabricante ou a decisão por fazer em vez de comprar. Os fatores humanos estão ligados à dificuldade que o Homem tem em lidar com situações complexas e fazer previsões. Essa característica é referida na literatura da Psicologia Econômica pela expressão bounded rationality (racionalidade limitada). Um fator tipicamente humano que cria obstáculos ao uso dos mercados decorre, por exemplo, da possibilidade de comportamentos oportunistas por uma ou por várias das partes contratantes na vigência dos contratos. As incertezas e os problemas estratégicos entre os agentes econômicos, para além dos problemas de custos de transação, são úteis à racionalização de diversos outros fenômenos na OI. A teoria dos jogos é a área da Economia que cuida da avaliação dessas interações estratégicas. Sua utilização nas Ciências Econômicas foi amadurecida a partir do argumento descrito pelos autores John von Neumann e Oskar Morgenstern (1944) sobre a teoria da utilidade esperada em interações estratégicas. Assim, os jogos cooperativos, por exemplo, podem ser usados para explicar a existência de conluios e cartéis. Os jogos não cooperativos, por sua vez, têm inúmeras configurações e aparecem como ferramenta auxiliar para a compreensão das práticas de mercado (lícitas e/ou ilícitas). Os agentes econômicos têm mostrado, ao longo do tempo, uma grande diversidade de estratégias na condução de suas negociações. Frequentemente suas táticas incorporam ações e reações esperadas tanto de seus concorrentes quanto do próprio governo. Ainda que esses jogos possam assumir alta complexidade e sofisticação, a teoria dos jogos tem se revelado um instrumento útil para a compreensão científica da conduta dos agentes, fazendo atualmente parte inseparável da moderna OI. Por fim, a teoria dos mercados contestáveis procura explicar a importância das barreiras para o processo de competitividade das firmas. Como será observado ao longo deste livro, o estudo das barreiras à entrada e saída nos mercados contribuirá muito para a compreensão dos processos competitivos. Demsetz (1968) e Baumol, Panzar e Willig (1982) enfatizam que segmentos industriais, ainda que compostos de poucas firmas (ou até mesmo uma), podem ser competitivos caso exista a ameaça de entrada de novas firmas. 14 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Com efeito, quando as barreiras à entrada em determinado mercado – podendo ser incluídos, também, os custos esperados de uma provável reversão dos investimentos realizados – são baixas, diz- se que esse mercado é altamente contestável. Caso contrário, se as barreiras à entrada são altas, o mercado é chamado de reduzidamente contestável. Diversos trabalhos mostram que a alta contestabilidade disciplina a conduta das firmas que efetivamente participam do mercado, uma vez que a tentativa de elevar preços ou reduzir as quantidades ofertadas pode ser rapidamente suprimida pela entrada de novos concorrentes ou potenciais entrantes. Essa questão – que é um elemento básico no estudo da OI – será retomada ao longo do livro. Como pode ser verificado nos três tipos de análise estudados, pertencentes à abordagem da teoria de preços de mercado, o instrumental da OI vem sendo construído aos poucos, de modo que já se dispõe, atualmente, de um conjunto de ferramentas bastante vigoroso para a organização e o desenvolvimento das ideias sobre o funcionamento das firmas e dos segmentos industriais. Em virtude de sua importância para o estudo da OI, a análise do modelo ECD será reservada para a próxima seção. 1.1 Modelo estrutura-conduta-desempenho (ECD) Um panorama dos temas tratados pela OI aparece esquematizado no modelo ECD, idealizado por Edward S. Mason na década de 1930 e posteriormente aperfeiçoado por diversos seguidores. O modelo ECD explora diferenças fundamentais entre a Microeconomia tradicional e a OI, além de revelar um modo geral de organização do estudo da disciplina. Esse modelo propõe: • Uma contextualização histórica da firma, bem como de sua relação com os segmentos industriais. • Um maior detalhamento e fundamentação em testes empíricos para a formulação e avaliação dos argumentos econômicos sobre o desempenho da empresa. Mason (1939) deixa claros esses pontos ao propor a utilização de uma classificação das estruturas de mercado como passo necessário à compreensão das práticas empresariais e posterior avaliação do desempenho da indústria. Observação A estrutura de mercado representa as características aparentes do setor ao qual pertence a firma, como: concorrência perfeita, concorrência monopolística (produtos diferenciados), monopólio, mercado com firmas dominantes, oligopólio não cooperativo ou concorrencial e oligopólio cooperativo ou cartel. 15 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA A abordagem ECD assume uma relação estável entre as variáveis estruturais da indústria (concentração de mercado e barreiras à entrada) e o desempenho do mercado (em geral, medido pelo grau de poder de mercado). A ideia central do modelo, portanto, é classificar as diferentes estruturas de mercado, tentando associá-las a tipos de conduta empresarial observados e, por fim, ao desempenho econômico das firmas envolvidas. Versões mais modernas dessa abordagem incluem, ainda, as condições básicas de oferta e demanda no mercado e o papel das políticas públicas nos mercados analisados. Essa esquematização pode ser observada na figura a seguir: Demanda Elasticidade Substitutos Sazonalidade Taxa de crescimento do PIB Localização Quantidade de pedidos Método de aquisição Quantidade de compradores e vendedores Barreiras à entrada de novas firmas Diferenciação do produto Integração vertical Diversificação Propaganda Pesquisa e desenvolvimento Precificação Investimento em capital fixo Táticas legais Escolha do nível de produção Conluio Fusões e aquisições Regulação Políticas antitruste Barreiras à entrada (políticas e fitossanitárias) Impostos e subsídios Políticas creditícias e parafiscais Incentivos ao investimento Incentivos ao emprego Políticas macroeconômicas Preço Eficiência produtiva Eficiência alocativa Quantidade produzida Nível de progresso técnico Lucratividade Oferta / Produção Tecnologia Matérias-primas Organização administrativa Durabilidade do produto Localização Economias de escala Economias de escopo Condições básicas Estrutura Conduta Políticas públicas Desempenho Figura 1 – Modelo estrutura-conduta-desempenho O modelo ECD apresentainicialmente as condições básicas necessárias para a definição da estrutura de mercado. Faz parte dessa análise, por exemplo, a avaliação das condições de produção ou oferta, como: o controle das tecnologias de produção, a identificação das potenciais economias de 16 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I escala e escopo, a localização das plantas, a durabilidade do produto, o acesso a matérias-primas e o poder de organização dos trabalhadores. Além disso, o arcabouço legal e institucional existente no país também é útil para a contextualização dos aspectos básicos que condicionam os ofertantes de determinados mercados. Pela ótica da demanda do consumidor, surgem como potenciais definidores de estruturas de mercado observadas na indústria: a especificação dos produtos e substitutos próximos disponíveis, a partir do conhecimento prévio das elasticidades próprias e cruzadas da demanda; a presença de sazonalidade ou ciclos nas compras; a distribuição espacial ou geográfica dos consumidores; a taxa de crescimento na demanda; a frequência das compras; e os canais de distribuição típicos. A estrutura de mercado normalmente é caracterizada pelo número de ofertantes e demandantes. A figura que se segue descreve as diversas estruturas de mercado a partir da quantidade de ofertantes num mercado: COMPETIÇÃO PERFEITA OLIGOPÓLIO DUOPÓLIO MONOPÓLIO ESTÁTICO NÃO COOPERATIVO COURNOT BERTRAND MOVIMENTOS SIMULTÂNEOS MOVIMENTOS SEQUENCIAIS COOPERATIVO JOGOS REPETIDOS ND NDD D DINÂMICO COMPETIÇÃO IMPERFEITA (comportamento: tomador de preços) Decisão: quantidade produzida (cada firma obtém a demanda residual) (o mesmo do duopólio) (modelos líder-seguidor) Decisão: quantidade ou preço Nota D = discriminação de preços; ND = não discriminação de preços Decisão: quantidade ou preço Decisão: quantidade Decisão: preço CARTEL: CONLUIO (conluio no preço ou na quantidade) Estruturas de mercado (cada firma obtém a demanda residual) (obtém a demanda de mercado) Figura 2 – Estruturas de mercado: classificação quanto ao número de ofertantes Highlight Highlight 17 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Observa-se, nesse esquema, que uma estrutura de mercado competitiva apresenta muitos vendedores, mas o bem ofertado deve ser perfeitamente homogêneo (portanto, sem substitutos próximos). Nesse caso, os agentes econômicos são tomadores de preços, e o máximo bem-estar pode ser atingido com as transações econômicas entre esses agentes. Se houver alguma diferenciação no produto vendido, mesmo em mercados com muitos ofertantes, a estrutura de mercado passará a ser chamada de concorrência monopolística. Quando o mercado é composto apenas de alguns vendedores (dois ou mais, mas não muitos), a estrutura de mercado é denominada de oligopólio. Nessa estrutura, os participantes podem concorrer entre si via definição de quantidades produzidas e/ou preços. No monopólio, por sua vez, existe apenas um único vendedor de um produto único para inúmeros compradores, de modo que ele é capaz de obter a totalidade da demanda de mercado. Em cada uma dessas estruturas, o bem-estar da sociedade é reduzido em função da ineficiência produzida pela imperfeição dos mercados. A definição de uma estrutura de mercado também depende da presença (ou ausência) de barreiras à entrada e/ou saída. Essas barreiras são representadas por qualquer ação que impede um empresário de criar (ou fechar) uma firma instantaneamente. Existem as mais variadas formas de criação de barreiras, podendo ser tanto governamentais quanto privadas. As barreiras estruturais mais comuns são as seguintes: • Vantagem absoluta de custos: normalmente associada à existência de licenças, patentes, investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e autorizações especiais de exploração de algum recurso natural. • Estruturas de custos com significativas economias de escala: economias de produção em larga escala requerem maiores gastos com capital. • Diferenciação de produtos: relacionada aos bens e serviços que têm variações em suas características para que os consumidores não os vejam como substitutos. • Patentes e concessões: são proteções legais para o uso exclusivo do produto pela empresa que o desenvolveu, permitindo a recuperação dos investimentos assumidos e fomentando a inovação. • Poder de influência nos mercados: a imposição da marca ou conquista de consumidores (fidelização) a partir de anúncios, publicidade e merchandising, em geral, pode tornar uma entrada no mercado mais dispendiosa. • Restrições do comércio internacional: é o caso de tarifas e quotas estabelecidas para proteger os ofertantes situados no mercado doméstico. Afora o número de ofertantes e a existência de barreiras, a estrutura de mercado também pode ser influenciada pelo tipo de produto ofertado (padronizado, único ou diferenciado), pelo poder que a firma tem de afetar os preços e por outras estratégias de competição que não a determinação de preços (non- price competitions). O quadro a seguir resume as características das principais estruturas de mercado: 18 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Quadro 1 – Características das estruturas básicas de mercado Estrutura de mercado Quantidade de ofertantes Tipo de produto Barreiras à entrada Poder de afetar preços Outras estratégias de competição Concorrência perfeita Muitos Padronizado Nenhuma Nenhum Nenhuma Concorrência monopolística Muitos Diferenciado Baixa Baixo Publicidade e diferenciação Oligopólio Poucos Padronizado ou diferenciado Alta Médio Publicidade intensiva, diferenciação e inovação tecnológica Monopólio Um Produto único Muito alta Alto Publicidade Adaptado de: Carlton e Perloff (2004, p. 7). Determinadas, ainda que parcialmente, pelas condições básicas de estrutura de mercado, as condutas ou práticas mercadológicas fazem parte da essência do modelo ECD. A conduta de mercado refere-se aos padrões de comportamento que as firmas seguem para se ajustar ao mercado no qual operam. Especificamente, a conduta das firmas pode levar a um distanciamento (ou a uma aproximação) das condições de concorrência perfeita. Tais condutas podem ser relacionadas a: • Técnicas de determinação de preços (discriminação de preços em primeiro, segundo e terceiro graus). • Estratégias de escolha de produtos e propaganda. • Investimentos com pesquisa e desenvolvimento. • Acordos entre concorrentes (acordos horizontais, fusões e aquisições) e entre agentes que operam em diferentes elos da cadeia produtiva (integração e restrições verticais). • Práticas propositalmente formuladas para fragilizar ou disciplinar concorrentes (preços predatórios, conluios e cartéis). O desempenho de mercado refere-se aos resultados finais atingidos pelas firmas em função da estrutura e da conduta do mercado no qual se encontram. Esse desempenho não pode ser aferido de forma unidimensional. São atributos tradicionalmente usados para sua avaliação: • A eficiência na produção e na alocação de recursos – por exemplo, a ausência de desperdício e a adequação em quantidade e qualidade às demandas de mercado. • Os padrões de preço e lucro observados. • Os efeitos do investimento em pesquisa e desenvolvimento no progresso tecnológico. • A justiça na distribuição dos resultados gerados no mercado específico. 19 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Por fim, o esquema ECD é complementado pelas políticas governamentais, que impactam, direta ou indiretamente, no livre funcionamento do mercado. Entre as inúmeras possibilidades de intervençãogovernamental, podem-se destacar as políticas macroeconômicas, de incentivo ao investimento (incluindo políticas creditícias), à educação ou ao emprego, bem como os impostos e subsídios e as barreiras ao comércio internacional. Tais ações, muitas vezes, compõem um pacote amplo conhecido como políticas industriais e visam, de modo geral, à obtenção de ganhos de desempenho industrial considerado desejável socialmente. Merecem especial atenção, principalmente por afetar a OI diretamente, as políticas públicas de defesa da concorrência e de regulação. Os governos providenciam a defesa da concorrência a partir de políticas antitruste, com os seguintes objetivos: • Reforço dos mecanismos de mercado. • Foco mais restrito em eficiência alocativa. • Ações mais tópicas para restabelecer os mecanismos de mercado. Lembrete Legislação antitruste é o conjunto de leis utilizadas pelos países e aplicadas pelos órgãos de defesa da concorrência para restringir a ação de monopólios ou de práticas contrárias à competição dos mercados. A criação de marcos regulatórios pelas agências governamentais, por sua vez, tem como objetivo limitar e regulamentar a substituição dos mecanismos de mercado em virtude da presença de monopólios naturais. Nesse caso, os governos atuam traçando metas mais amplas, como universalização dos serviços, integração regional, proteção ambiental e promoção de ações contínuas de fiscalização e controle. Lembrete Marco regulatório é o conjunto de leis utilizadas pelos países e aplicadas pelas agências reguladoras para disciplinar mercados em monopólio natural. Em suma, o modelo ECD integra a análise das seguintes questões: • Quanto uma estrutura de mercado se distancia da concorrência perfeita? • Qual a natureza da conduta dos agentes quando estes não são tomadores de preço? • Como o desempenho desses mercados se afasta da eficiência dos mercados competitivos? 20 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I 1.2 Definição de mercados São objeto de análise da OI a firma e a indústria. A firma ou empresa é representada por uma unidade voltada para a produção de bens ou serviços com um duplo objetivo: satisfazer as necessidades ou o bem-estar dos demandantes nos mercados e atender o próprio bem-estar da firma e de seus proprietários ou acionistas, via maximização de lucros. Indústria é o conjunto de firmas envolvidas na produção de um mesmo bem ou serviço. Os mercados são ambientes em que atuam as firmas e as indústrias, quer como demandantes, quer como ofertantes. Nas aplicações práticas, é necessário delimitar rigorosamente esses mercados em relação: • Ao leque de produtos ou serviços envolvidos. • Aos seus limites geográficos. • Aos fatores demográficos (sexo, faixa etária etc.). • Ao nível de rendimento. Exemplo de aplicação Extensão de um mercado Quando o produto é bem conhecido, ou seja, quando se conhece perfeitamente sua utilização, suas correlações e sua vida útil, é possível determinar sem grande dificuldade quais são os consumidores potenciais do produto. Assim, para determinarmos um mercado, devemos definir quais compradores e quais vendedores devem ser incluídos nele. A seguir, mostramos alguns exemplos de extensão de mercado para certos segmentos industriais: 1) Em relação ao leque de produtos: • Gasolina: comum, aditivada, alta octanagem, para aviação. • Transportes: veículos terrestres (de passeio, de carga, de transporte coletivo, agrícolas, ferroviários etc.); aeronaves (aeroplanos, aviões, helicópteros etc.); veículos marítimos (navios, balsas, lanchas, iates etc.). • Confecções: linha lar (cama, mesa e banho); vestuário (roupas e acessórios); linha técnica (sacarias, encerados, fraldas, correias, automotivos etc.). 2) Em relação aos limites geográficos: • Gasolina comum: local. • Aeronaves: nacional e/ou internacional. 21 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA • Vestuário: local, regional, nacional e internacional, podendo ainda ser delimitado pela forma de comercialização (física, eletrônica ou por catálogo). 3) Em relação aos fatores demográficos: • Gasolina comum: qualquer gênero; faixa etária: maiores de 18 anos. • Veículos de passeio sedãs: qualquer gênero; faixa etária: adultos de meia idade (40 anos ou mais). • Vestuário: moda feminina e/ou masculina; faixa etária: linhas infantil, juvenil e adulta. 4) Em relação ao nível de rendimento: • Gasolina aditivada versus gasolina comum. • Veículos de passeio de luxo (Mercedes-Benz, BMW etc.) versus veículos de passeio populares (automóveis com motorização 1.0). • Acessórios de luxo de vestuário feminino (bolsa Louis Vuitton, bota Burberry etc.) versus acessórios populares de vestuário feminino (bolsa Corello, calçados Arezzo etc.). Os mercados, de modo geral, podem ser entendidos como o ambiente em que ocorrem interações entre agentes econômicos ofertantes e demandantes, que buscam realizar, de forma voluntária, trocas mutuamente benéficas. Na perspectiva da OI, um mercado é composto de empresas que produzem um mesmo produto (bem ou serviço) ou um conjunto de bens ou serviços relacionados entre si. Logo, o conjunto de produtos pertencentes a determinado mercado inclui apenas os produtos cujos preços afetam a demanda ou a oferta de outros produtos nesse mercado. Uma das maneiras de delimitar um mercado é considerar as elasticidades-preço cruzadas. Observação A elasticidade-preço cruzada da demanda εij é a variação percentual na quantidade demandada Q do produto i devido a uma variação percentual no preço P do produto j: ij i j Q P % % 22 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I A elasticidade de substituição pode ser um número positivo ou negativo, de modo que: se εij > 0, o bem é substituto; se εijserviços específicos. Logo, uma atividade é caracterizada pela entrada de recursos, um processo de produção e uma saída de produtos (bens e serviços) (IBGE, 2007, p. 20). 23 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Portanto, uma unidade de produção é enquadrada numa classe ou subclasse da CNAE quando sua atividade econômica atende à definição dessa classe ou subclasse, conforme se dá seu processo produtivo. Exemplo de aplicação Extensão de um mercado pela CNAE O critério básico de classificação das unidades de produção em categorias da CNAE consiste em classificar cada firma de acordo com sua atividade principal. A natureza hierárquica da CNAE permite a identificação instantânea das categorias em que a unidade está classificada nos demais níveis da classificação: subclasse, classe, grupo, divisão e seção. O nível mais alto de agregação da CNAE 2.0, também chamado de seção, está organizado em 21 categorias, discriminadas no quadro a seguir: Quadro 2 – Seções da CNAE Seção Denominação A Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura B Indústrias extrativas C Indústrias de transformação D Eletricidade e gás E Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação F Construção G Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas H Transporte, armazenagem e correio I Alojamento e alimentação J Informação e comunicação K Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados L Atividades imobiliárias M Atividades profissionais, científicas e técnicas N Atividades administrativas e serviços complementares O Administração pública, defesa e seguridade social P Educação Q Saúde humana e serviços sociais R Artes, cultura, esporte e recreação S Outras atividades de serviços T Serviços domésticos U Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais Fonte: IBGE (2017). 24 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Assim, por exemplo, uma fazenda de cultivo de arroz num município do estado do Rio Grande do Sul, a qual representa a menor unidade estatística, ou seja, a firma, faz parte da seguinte classificação: • Seção A: Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura. • Divisão 01: Agricultura, pecuária e serviços relacionados. • Grupo 01.1: Produção de lavouras temporárias. • Classe 01.11-3: Cultivo de cereais. • Subclasse 0111-3/01: Cultivo de arroz. Outras estruturas de mercado, de acordo com a CNAE 2.0, podem ser verificadas em IBGE (2017). 1.3 Poder de mercado 1.3.1 Poder de mercado e bem-estar Um mercado é perfeitamente concorrencial quando ele é composto de muitos agentes econômicos comprando e vendendo determinado bem homogêneo, de modo que nenhum desses agentes individualmente consegue gerar um impacto significativo no preço de mercado do bem ou serviço. São seis as hipóteses básicas do modelo de concorrência perfeita: • Grande número de vendedores e compradores. • Produto homogêneo. • Ausência de barreiras à entrada e à saída. • Informações completas dos agentes. • Ausência de custos de transação. • Maximização de lucros e de bem-estar. Os produtos oferecidos por todas as empresas desse mercado são substitutos perfeitos, ou seja, não existe diferenciação dos produtos vendidos dentro do mercado relevante (o espaço composto de um grupo de empresas que produzem e comercializam o mesmo bem que seus concorrentes). Highlight 25 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Observação Os agentes são tomadores de preço quando, num mercado com grande número de compradores e vendedores transacionando um bem homogêneo, cada empresa vende uma parte suficientemente pequena do total da produção desse mercado e cada consumidor adquire uma quantidade mínima dessa produção, sem que haja estoques nem escassez do produto. Nesse caso, os agentes econômicos não apresentam influência no preço de equilíbrio desse mercado, ou seja, aceitam o preço vigente. Eficiência e máximo bem-estar são propriedades desejáveis do equilíbrio de competição perfeita. A partir do primeiro teorema do bem-estar, é possível demonstrar que o mercado competitivo traz ganhos tanto para os consumidores quanto para os produtores de determinado bem ou serviço. Observação O primeiro teorema do bem-estar diz que todo equilíbrio competitivo gera alocações de recursos eficientes, independentemente da dotação inicial desses recursos. Isto é, se os agentes tomarem suas decisões livremente, em condições de competição perfeita, o resultado será eficiente e, portanto, maximizará o bem-estar da sociedade. No equilíbrio competitivo, o preço que prevalece é o de mercado (p*). O ganho da sociedade, nessas condições, é traduzido pela soma do excedente de consumidores (obtido a partir da maximização do bem-estar) com o de produtores (alcançado a partir da maximização dos lucros). Essa medida é máxima quando as quantidades produzidas e demandadas da sociedade (Q*) se estabelecem no nível eficiente, ou seja, no ponto de equilíbrio competitivo (ponto E da figura a seguir). Excedente do consumidor (EC) Excedente do produtor (EP) S D E 0 Q P Pmáx Pmín Ps = Pd = p* Q* = Qs = Qd Figura 3 – Equilíbrio de mercado e máximo bem-estar 26 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I Se o mercado não for perfeitamente competitivo, isto é, se um dos agentes tiver excessivo poder de mercado (por exemplo, um monopolista), a alocação dos recursos não será eficiente. Esse fato aponta para a presença de desperdícios na atividade econômica, que implicam custos para a sociedade pelo fato de o mercado não funcionar perfeitamente. Note, no gráfico a seguir, que a produção Q1, fixada abaixo do nível ótimo, acarreta perdas de bem-estar para consumidores (área A) e ganhos para produtores (área C). Além disso, sobre a sociedade incide um custo extra (área B+D) devido à ineficiência decorrente de uma produção inferior ao socialmente ideal. A diferença de preços entre PS e P* é considerada a ineficiência do monopólio. Esse custo extra é conhecido como peso morto. Peso morto EC EP S D E 0 QQ*Q1 C D B A P Pmáx Pmín Ps Pd Ps = Pd = p* Figura 4 – Perda de bem-estar devido à ineficiência de mercado Lembrete Peso morto é o ônus infligido à sociedade em função da ineficiência de mercado, que faz o nível de produção ser menor do que o socialmente ótimo e os consumidores pagarem um preço maior do que o preço competitivo. Highlight 27 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Exemplo de aplicação Monopólio versus competição perfeita Para reforçar os pontos sobre poder de mercado, podemos usar funções específicas de demanda e de custos. Em particular, vamos assumir: Demanda (D): P = 100 - Q Custo marginal (CMg) e custo médio (CMe) constantes: CMg = CMe = 20 Em primeiro lugar, devemos obter a receita marginal do monopolista a partir da derivação da função de receita total: RT P Q Q Q Q Q RMg RT Q Q 100 100 100 2 2 Um empresário racional maximiza seu lucro igualando a receita marginal ao custo marginal. Logo, as quantidades produzidas pelo monopolista (QM) e o preço por ele praticado (PM) serão: RMg CMg Q 100 2 20 Q e PM M40 100 2 20 60$ O equilíbrio competitivo (QCPe PCP) é obtido a partir do equilíbrio entre as curvas de demanda (D) e oferta (S), sendo que esta última é dada pela curva de custo marginal constante: D CMg Q 100 20 Q e PCP CP80 10080 20$ Assim, o preço de equilíbrio competitivo é exatamente igual ao custo marginal. O gráfico que se segue mostra os resultados encontrados para as duas estruturas de mercado: 28 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I QM = 40 PM = 60 CMg = CMe = S 100 P A 1 B 0 2 DRMg D C PCP = 20 QCP = 80 Q0 Figura 5 Os excedentes do consumidor (EC) e do produtor (EP) bem como o benefício líquido total (BLT), para cada estrutura de mercado, podem ser verificados a seguir: Monopólio: EC rea A EP rea B BL Á Á $ $ . 100 60 40 2 800 60 20 40 1 600 TT EC EP 800 1 600 2 400. $ . Concorrência perfeita: EC rea A B D EP BLT EC EP Á $ . $ . 100 20 80 2 3 200 0 3 200 0 $$ .3 200 A área D representa a perda de eficiência devido à atuação do monopólio. Essa perda de eficiência equivale a: Peso morto = Área D = 60 20 80 40 2 800 $ 29 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Uma política pró-mercado por parte do governo levaria a um aumento no benefício total de $ 2.400 para $ 3.200. Observe, no entanto, que o excedente do produtor cai de $ 1.600 para zero. O monopolista, dessa forma, é prejudicado. Os consumidores, por sua vez, ganham o suficiente para compensar a perda dos proprietários de monopólios e ainda ficar em melhor situação em termos de bem-estar. Isto é, os consumidores ganhariam $ 3.200 - $ 800 = $ 2.400. Em princípio, os consumidores poderiam compensar os proprietários de monopólios com, por exemplo, $ 1.600 e ainda ter um ganho líquido de: $ 2.400 - $ 1.600 = $ 800. Essa compensação, porém, não precisa ser realizada. A não compensação pode ser justificada caso o governo esteja preocupado com o nível de renda dos proprietários de monopólio (ou com aquilo que eles podem ofertar em termos de bens e serviços). Por outro lado, o governo pode lidar com essa preocupação diretamente por meio da política tributária. 1.3.2 Lucro econômico e taxa de retorno sobre o investimento Lucro econômico (π) é a diferença entre as receitas totais (RT) e o custo total de produção (CT): π = RT - CT Entende-se por custo total de produção o custo de oportunidade de todos os insumos. O custo total pode ser subdividido entre custos diversos com outros insumos (CD) e custo de capital (CK): CT = CD + CK Portanto, o lucro econômico pode ser definido como: π = RT - CD - CK Observação O custo de capital consiste na soma da depreciação econômica (δ) com a taxa de retorno do melhor investimento disponível (r). Assim, a soma desses dois custos, expressos em termos de percentagem, é igual à taxa de retorno do capital obtido de terceiros (i): i = r + δ No longo prazo, os lucros econômicos são um indicador de poder de mercado. Em mercados competitivos, os lucros econômicos tendem a zero no longo prazo devido à ausência de barreiras à entrada. Lucros de monopólios, por sua vez, só podem persistir no longo prazo se existirem barreiras à entrada que propiciem poder de mercado à empresa. Highlight 30 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I No entanto, os lucros são um indicador imperfeito de poder de mercado, uma vez que uma empresa pode ter poder de mercado, mas não auferir lucros econômicos significativos ou, até mesmo, enfrentar prejuízos. Além disso, no curto prazo, as firmas tomadoras de preço podem alcançar lucros econômicos. A taxa de retorno sobre o investimento (r) é definida como a relação entre ganhos (ou rendimentos) líquidos e o investimento efetuado pela empresa. Matematicamente: r RT CD D K Em que RT e CD são, respectivamente, a receita total e o custo dos demais insumos, D é a depreciação econômica e K é o investimento total da empresa em ativos. Se o lucro econômico for positivo, a taxa de retorno da empresa será maior do que a taxa de retorno do mercado competitivo. Lucros econômicos e taxas de retorno altas indicam rentabilidade em excesso sobre o custo de oportunidade. Observação Custo de oportunidade não representa o custo absoluto da firma. Ele deve ser considerado como uma segunda melhor oportunidade de benefícios não aproveitados. Logo, quando a decisão de investir em um projeto A exclui a escolha de um melhor projeto B, podem ser considerados os benefícios não aproveitados decorrentes de B como um custo de oportunidade. Como a quantidade de investimento de capital varia de acordo com o conjunto de indústrias da economia, as taxas de retorno são muitas vezes a medida preferida de rentabilidade. Uma indústria pode ter grandes lucros econômicos por ser capital-intensiva, mesmo que sua taxa de retorno seja apenas marginalmente superior à alternativa de mercado competitivo. As taxas de retorno usadas para medir a lucratividade incluem a taxa de retorno sobre os ativos e a taxa de retorno sobre o patrimônio líquido (investimento). Exemplo de aplicação Retorno do investimento em serviços de transporte por aplicativo Um estudante de economia comprou um automóvel para utilizá-lo no transporte de pessoas via aplicativo de celular. O veículo custou $ 10.000 no início do ano. Seu valor de revenda no final do ano foi de $ 7.000, e o melhor investimento alternativo (por exemplo, uma aplicação financeira) representava um ganho de 10% ao ano. A taxa de retorno do capital de terceiros é de 40%, igual à soma da melhor taxa alternativa de retorno com a taxa de depreciação econômica (30%), ou seja: i r 0 10 0 30 0 40 40, , , %ou Highlight Isso aqui é o ROI Lucro / investimento Lucro: receita - custo explicito - custo de oportunidade (investimento melhor) Lê isso aqui de novo e faz um resuminho explicando 31 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA O investimento inicial (K) foi de $ 10.000. Logo, o custo total do capital investido é igual à taxa de retorno do capital de terceiros multiplicada pelo investimento: CK = i x K CK = 0,40 x 10.000 = $ 4.000 No entanto, os investidores devem se preocupar com o retorno após a depreciação. Se a taxa de retorno realizada após o investimento fosse usada apenas para determinar a taxa de custo de capital (i), o lucro econômico da empresa seria igual a zero. Dessa forma, a taxa de retorno realizada após o investimento é aquela além da taxa de recuperação do capital. A taxa de retorno obtida pelo estudante de economia depende de suas receitas e outros custos. Suponha que as receitas do estudante com os serviços de transporte por aplicativo fossem $ 20.000, os custos de combustível $ 3.000, o seguro $ 2.000, e o custo de oportunidade relativo ao tempo destinado ao serviço prestado $10.000. Os lucros econômicos do estudante são receitas menos custos de oportunidade: RT CD CK 20 000 3 000 2 000 10 000 4 000 1 000. . . . . $ . Sabendo-se que a depreciação do investimento do estudante é igual a: D K D 0 30 10 000 3 000, . $ . A taxa de retorno realizada após o investimento é definida como: r RT CD D K r R ou 20 000 3 000 2 000 10 000 3 000 10 000 0 2 . . . . . . , 220% Portanto, quando uma empresa aufere lucro econômico, ela também obtém uma taxa de retorno maior do que a taxa competitiva de retorno (ou sua melhor alternativa) usada para definir o custo de capital de terceiros. Os lucros econômicos (π) igualam o investimento (K) da empresa ponderado pela diferença entre a taxa de retorno realizada (r) e o próximo melhor retorno alternativo utilizado para determinar a taxa de retorno do capital de terceiros (i). Para o nosso motorista: r i K 020 0 10 10 000 1 000, , . $ . 32 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I 1.3.3 Ineficiência-X O conceito de ineficiência-X foi formulado por Leibenstein (1966) e refere-se à existência de uma relação positiva entre as pressões externas sobre uma empresa e o esforço despendido pelos funcionários. Em particular, Leibenstein propôs que há um custo social significativo devido ao poder de mercado exercido por uma empresa. Isso decorre da elevação dos custos da empresa monopolista, pois seus funcionários percebem que a maximização do esforço não é necessária. Essa relação exposta por Leibenstein é semelhante à hipótese levantada por Hicks (1935) sobre poder de mercado, em que “[…] o melhor de todos os lucros do monopólio é ter uma vida tranquila” (apud CHURCH; WARE, 2000, p. 145). Observação A hipótese de vida tranquila (quiet life hypothesis) sugere que a ineficiência gerencial, ou ineficiência-X, será maior quanto mais amplo for o poder de mercado praticado por uma empresa. Se isso for verdade, os custos sociais relacionados ao monopólio poderão ser ainda mais elevados. Suponha que o efeito da ineficiência-X aumenta os custos unitários de CMg0 para CMg1. Na figura a seguir, o excedente da sociedade perdido por conta do monopólio consiste em dois componentes. O nível socialmente ideal de produção é QCP e a área E + F é a perda de peso morto associada à produção de monopólio QM. Ademais, sobre a sociedade incide um custo adicional igual à área D devido ao desperdício de insumos causado pela ineficiência do monopolista em minimizar seus custos. QM PM CMg1 CMg0 P A 1 B 0 2 DRMg D E F C PCP QCP Q0 Figura 6 – Ineficiência-X RESUMO: Quando o poder de mercado é alto (monopólio) a empresa vive uma vidinha "fácil". Nesse caso os funcionários não vão querer se esforçar ao máximo (além de outros fatores) porque já ta tudo "de boa". Essa tranquilidade toda [hipótese de vida tranquila (quiet life hypothesis)] vai fazer com que os custos aumentem. Isso vai gerar perda de lucro econômico para o monopolista e custo pra sociedade é ainda maior. Exemplo: gestor não se preocupa em conseguir melhores negociações com fornecedor porque já tem lucros satisfatórios. Está desperdiçando capacidade 33 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA 1.3.4 Rent-seeking Rent-seeking refere-se aos custos sociais adicionais decorrentes dos esforços das empresas em adquirir e manter poder de mercado. Nessa visão de mundo, os lucros de monopólio são vistos como um prêmio – como aquele que se ganha em uma loteria. O rent-seeking diz respeito aos esforços das empresas em ganhar esse “concurso”. A hipótese de busca de renda consiste em duas possibilidades: • O desperdício: os gastos com rent-seeking representam um desperdício – os recursos utilizados pelas empresas para adquirir poder de monopólio são mal aproveitados. Em vez de produzir bens e serviços que podem ser consumidos pela sociedade, o rent-seeking procura apenas produzir lucros de monopólio, sem qualquer subproduto socialmente útil. • A dissipação completa do rendimento: às vezes, as empresas estão dispostas a incorrer em custos improdutivos até o valor total das receitas para obter poder de mercado, e todo o lucro de monopólio pode ser desperdiçado. Se ambos os casos forem verdadeiros, os custos sociais do monopólio não consistirão apenas na perda de peso morto devido aos preços de monopólio; além disso, o lucro de monopólio será uma medida dos recursos produtivos desperdiçados em atividades improdutivas. As duas proposições mencionadas dependem da fonte de poder de mercado – por exemplo, a natureza da barreira de entrada que protege o lucro de monopólio – e do tipo de concorrência. O comportamento de rent- seeking pode advir de lobby com o governo, suborno a funcionários públicos, pressão sobre as autoridades reguladoras e outros tipos de prática não competitiva, com o objetivo de obter empréstimos de bancos públicos com juros subsidiados, redução de impostos ou proteção tarifária. Muitas vezes, essas atividades não criam qualquer benefício para a sociedade: apenas redistribuem recursos dos indivíduos para o rent-seeker. Lembrete O comportamento de rent-seeking refere-se ao uso dos recursos de uma empresa, de uma organização ou de um indivíduo para obter ganhos econômicos de outros agentes sem reciprocidade em termos de geração de riqueza para a sociedade. 2 MEDIDAS DE CONCENTRAÇÃO DE MERCADO Uma vez conhecida a delimitação do mercado, é relevante medir o quanto ele é concentrado em uma ou mais firmas. À medida que o nível de concentração aumenta, ou seja, conforme cresce o poder de mercado, o grau de concorrência e o nível de eficiência tendem a diminuir. Além disso, com o aumento do grau de concentração do mercado, a probabilidade de observância de comportamentos de conluio entre empresas ou de atingir um monopólio também aumenta. influenciar decisões políticas 34 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I As causas pelas quais um nível de concentração em determinado mercado é alto são diversas, sendo preponderantes aquelas relacionadas com: • A dimensão do mercado. • O comportamento estratégico das empresas. • A tecnologia da indústria, como a existência de economias de escala ou de escopo, que tendem a resultar em estruturas de mercado mais concentradas. •Os fenômenos de externalidades de rede. • A legislação específica sobre concorrência no mercado (leis antitruste). Observação Economias de escala estão associadas às firmas que apresentam custos médios de longo prazo decrescentes. Economias de escopo ocorrem sempre que o custo para produzir dois (ou mais) produtos conjuntamente por uma firma é menor do que o custo de produzir esses produtos por firmas diferentes. As medidas de concentração, portanto, buscam quantificar o poder de mercado, isto é, a proximidade da estrutura de um mercado relativamente às situações de monopólio ou de concorrência perfeita. As principais medidas de concentração são: • As medidas de poder de monopólio ou índices de lucratividade (índice de Lerner e índice de Bain). • As razões de concentração. • O índice Herfindahl-Hirschman. 35 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Saiba mais Externalidades de rede ocorrem quando a utilidade proporcionada por determinado bem ou serviço depende não só das suas características intrínsecas, mas também da dimensão e/ou da tipologia da rede de consumidores instalada. Verifica-se esse tipo de externalidade em setores como telecomunicações, mídias, comércio eletrônico e, frequentemente, em indústrias com as características de two-sided markets (ou seja, firmas que dividem seu espaço em atividades tradicionais e em prestação de serviços). Para mais informações sobre esse fenômeno, consulte: VISCUSI, W. K.; VERNON, J. M.; HARRINGTON, J. E. Economics of regulation and antitrust. 4th ed. Cambridge: The MIT Press, 2005. chap. 9. 2.1 Medidas de poder de monopólio 2.1.1 Índice de monopólio de Lerner O equilíbrio do monopolista pode ser verificado na figura a seguir. O monopolista é o único fornecedor do produto Q e, assim, escolhe a quantidade QM, em que a receita marginal (RMg) é igual ao custo marginal (CMg). O lucro econômico do monopolista é representado pela área B + E. QM PM CMg CMe P A 1 B 0 D = RMeRMg E F Pmín Q0 Figura 7 – Equilíbrio do monopolista 36 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade I A análise de equilíbrio do monopólio contém,