Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE DIREITO A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JURI SOB O OLHAR DA CRIMINOLOGIA MIDIÁTICA. Juliana de Barros Santana Pereira Volta Redonda, 2023 Juliana de Barros Santana Pereira A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JURI SOB O OLHAR DA CRIMINOLOGIA MIDIÁTICA. Artigo científico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito pelo Curso de Bacharelado em Direito, do Instituto Superior de Educação, do Centro Universitário Geraldo Di Biase. Professora-orientadora: Lucia Studart Volta Redonda, 2023 Resumo A relação entre a mídia e o sistema judicial, especificamente nas decisões do Tribunal do Júri, é um tema de crescente relevância. A mídia desempenha um papel significativo na formação da opinião pública e pode influenciar a maneira como as pessoas percebem casos criminais. Este estudo busca investigar a influência da mídia nas decisões do Tribunal do Júri, com base em uma abordagem criminológica midiática. O objetivo deste estudo é analisar como a mídia afeta as decisões dos jurados no Tribunal do Júri, como a criminologia midiática desempenha um papel nesse processo, e compreender como a cobertura sensacionalista de crimes pela mídia pode impactar a imparcialidade dos jurados e, consequentemente, a justiça dos vereditos. Para alcançar o objetivo proposto, este estudo empregou uma metodologia de pesquisa qualitativa. Foram analisados casos de julgamentos pelo Tribunal do Júri que receberam ampla cobertura midiática, examinando como a mídia retratou esses casos e como isso pode ter influenciado as decisões dos jurados. Também foram realizadas revisões de literatura para embasar a análise. A análise dos casos e da literatura revela que a mídia desempenha um papel significativo na formação da opinião pública e pode influenciar as decisões dos jurados no Tribunal do Júri. A criminologia midiática, quando sensacionalista e tendenciosa, pode prejudicar a imparcialidade do julgamento e afetar a justiça dos vereditos. Portanto, é fundamental que a mídia atue com responsabilidade, evitando o sensacionalismo e garantindo que os jurados tenham a oportunidade de julgar os casos com base em evidências imparciais. Palavras-Chave: Mídia, Tribunal do Júri, Criminologia Midiática, Influência, Justiça. Abstract The relationship between the media and the judicial system, specifically in Jury Court decisions, is a topic of increasing relevance. The media plays a significant role in shaping public opinion and can influence the way people perceive criminal cases. This study seeks to investigate the influence of the media on Jury Court decisions, based on a media criminological approach. The objective of this study is to analyze how the media affects jurors' decisions in the Jury Court, how media criminology plays a role in this process, and understand how sensationalist coverage of crimes by the media can impact the impartiality of jurors and, consequently, the justice of verdicts. To achieve the proposed objective, this study employed a qualitative research methodology. Cases of trials by the Jury Court that received extensive media coverage were analyzed, examining how the media portrayed these cases and how this may have influenced the jurors' decisions. Literature reviews were also carried out to support the analysis. Analysis of cases and literature reveals that the media plays a significant role in shaping public opinion and can influence the decisions of jurors in the Jury Court. Media criminology, when sensationalized and biased, can undermine the impartiality of the trial and affect the justice of the verdicts. Therefore, it is essential that the media act responsibly, avoiding sensationalism and ensuring that jurors have the opportunity to judge cases based on impartial evidence. Keywords: Media, Jury Court, Media Criminology, Influence, Justice. 3 1 Introdução O presente estudo tem como tema o poder da influência que a mídia exerce sobre o Tribunal do Juri e seus respectivos vereditos, especialmente no que tange ao Conselho de Sentença formado pelos jurados. O Tribunal do Júri vem se mantendo imutável no que concerne à sua importante função de julgar os crimes dolosos contra a vida e costuma ser frequentemente alvo de críticas diversas pois, em seus procedimentos, a existência de questões por vezes altamente polêmicas é uma constante. Os graves delitos julgados no Tribunal do Júri frequentemente geram uma grande repercussão social, deixando toda a sociedade em polvorosa, tendo em vista o caráter violento desses delitos. E a mídia, por sua vez, ao agir de forma descomedida nesse aspecto, frequentemente interfere, dificultando sobremaneira a atuação do Júri. Isso acontece porque os jurados precisam elaborar seus vereditos de forma totalmente imparcial, ou o mais imparcial possível, a partir das informações obtidas e das provas produzidas pelas partes durante o julgamento e, a partir daí, serem norteados por suas próprias convicções. No contesto do Tribunal do Júri, a Criminologia Midiática pode influenciar a escolha dos jurados e sua decisão final. A exposição prévia a informações sensacionalistas ou preconceituosas pode levar a um julgamento enviesado e, portanto, injusto. Da mesma forma, a exposição a informações de uma maneira que sugere a culpabilidade do réu antes mesmo do julgamento pode levar a um veredito predeterminado e injusto Pretende-se, com esse trabalho, discutir a composição e a competência do Tribunal do Júri, da mesma forma que os princípios processuais que o norteiam, com ênfase aos princípios da imparcialidade e da presunção de inocência, fazendo uma análise crítica de como esses postulados podem ser afetados pela mídia em geral. Para tanto, serão utilizadas pesquisas documentais e referências bibliográficas. Também serão trazidos à baila casos reais e bastante conhecidos da sociedade onde, notadamente, a mídia possa ter exercido seu grande poder de influência sobre a decisão do Juri. A relevância de estudar o tema A influência da mídia no Tribunal do Júri sob o olhar da Criminologia Midiática se deve à importância de evidenciar que a mídia precisa se manter imparcial em suas publicações, limitando-se ao direito e dever de 4 informar. Não obstante, o que se observa é que a mídia não é munida de total veracidade acerca de suas publicações, muitas vezes ignorando os princípios e garantias previstos na Constituição Cidadã de 1988, como o da presunção de inocência, da imparcialidade e da dignidade da pessoa humana. A mídia pode afetar significativamente a forma como as pessoas percebem um caso criminal e os indivíduos envolvidos nele. Os meios de comunicação muitas vezes apresentam informações de forma sensacionalista, exagerando os aspectos mais dramáticos e violentos de um crime, e podem dar ênfase a determinados aspectos do caso em detrimento de outros. Isso pode levar a uma distorção da realidade dos fatos e a uma polarização das opiniões públicas. Para mostrar a seriedade do tema, o presente trabalho apresenta os mais contumazes corolários da violação de princípios fundamentais que se originam da influência da mídia sobre a sociedade, sendo esses corolários alavancadores de injustiça e falta de respeito. Finalmente, o trabalho se justifica pela premente importância de se discutir a respeito do comportamento midiático e de sua influência na seara criminal, principalmente nas decisões do Tribunal do Júri. Desse modo,o objetivo do presente trabalho é discorrer sobre os princípios constitucionais norteadores do direito do Tribunal do Júri para que fique demonstrado de que modo estes são feridos de forma arbitrária, através da influência midiática, buscando esclarecer a importância de maior rigor acerca do controle publicitário. 2 O Tribunal do Júri O Tribunal do Júri, que é composto por um grupo de cidadãos que são selecionados para decidir o veredito em um caso criminal que envolva, necessariamente, um crime doloso contra a vida, recebeu os primeiros traços de sua forma definitiva na Inglaterra e ressurgiu na França revolucionária como instrumento de direitos e garantias fundamentais (BARBOSA apud FREITAS, 2016, p.5) é, portanto, ainda a única vertente constitucional da participação do povo no Poder Judiciário. O Júri deve ser entendido, com efeito, segundo Lênio Streck, “como um importante mecanismo democrático, precisamente porque permite o resgate de uma 5 dimensão tão cara ao Direito e à realização da Justiça: a participação popular”. (STRECK apud FREITAS, 2016, p.6). Na Constituição Federal Brasileira de 1988, a exemplo do que ocorreu em outros países, o Júri foi mantido e alçado a uma garantia individual fundamental, notadamente ao direito de liberdade. Paradoxalmente, em sua conformação prática estaria sendo, em muitos casos, utilizado como verdadeiro aparelho de opressão e não como um Tribunal especializado na concretização da Justiça. Outras vezes, como instrumento de violação justamente do direito pelo qual a Constituição Federal lhe incumbiu de velar. Assim, o Tribunal do Júri seria democrático no discurso jurídico porém profundamente autoritário na práxis. (FREITAS, 2016, p.7). Com base em casos que recentemente abalaram o país, pode-se observar como a opinião pública e a mídia influenciam as decisões do Tribunal do Júri e como esta influência deturparia a sua função garantista, razão de ser da organização estatal. (BOLDT, 2013, p.140). Ironicamente, o Júri surge no Brasil como forma de conter eventuais abusos por parte da mídia, naquela época dominada pela imprensa escrita. Após censurar, em 15 de janeiro de 1822, um dos periódicos de maior circulação no Rio de Janeiro, o jornal “Heroicidade Brasileira”, suspendendo a publicação e determinando o recolhimento de todos os seus exemplares em circulação, o governo, diante da repercussão negativa do seu gesto, baixou uma Portaria esclarecendo que a medida não se tratava de um comportamento generalizado, tão pouco de um atentado à liberdade de imprensa. (MARQUES apud FREITAS, 2016, p.15). A Portaria 19 regulamentou a atividade da imprensa e afirmava que ela seria livre para publicar, e que eventuais abusos de seus autores e redatores seriam punidos, mas a publicação não poderia sofrer censura prévia. Receoso, e antevendo os abusos que essa liberdade de imprensa poderia acarretar, o Senado da Câmara do Rio de Janeiro dirigiu-se ao Príncipe Regente D. Pedro, e solicitou a criação do Juízo dos Jurados, para execução da Lei de Liberdade da Imprensa naquele Estado. Na justificativa, o Senado do Rio de Janeiro esclareceu ao Governo que o Júri parecia ser factível e conveniente, notadamente porque a população do Estado era, naquele tempo, numerosa e razoavelmente culta e esclarecida. O Júri, então, foi criado pela lei de 18 de junho de 1822, antes mesmo da Independência, e antes mesmo que fosse implementado em Portugal, com a 6 competência restrita aos delitos de imprensa (MARQUES apud FREITAS, 2016, p.15), e o primeiro julgamento realizado pelo Tribunal do Júri no Brasil teve como veredito a absolvição de João Soares Lisboa, redator do jornal “Correio do Rio de Janeiro”. O Tribunal do Júri no Brasil adquiriu status constitucional logo na primeira Constituição Brasileira, a de 1824. Todavia, essa Constituição cuidava dos jurados no título “Do Poder Judiciário” (PORTO apud FREITAS, 2016, p.16), e não em um capítulo reservado aos direitos e garantias fundamentais. O legislador brasileiro fez diversas alterações, tanto ordinária como constitucionalmente, ao longo dos anos, quanto à composição, como relativamente ao funcionamento do Júri brasileiro. Mas a composição do júri em número ímpar de jurados e a sua competência para o julgamento apenas dos crimes dolosos contra a vida só veio mesmo a se concretizar com a Constituição de 1946, em modelo praticamente idêntico ao que é seguido até hoje. Como já mencionado anteriormente, o Júri no Brasil não surgiu inicialmente para julgar delitos graves contra a vida, mas sim para julgar os crimes de imprensa. (STRECK apud FREITAS, 2016, p.17). Atualmente, nos termos da Constituição Federal de 1988 e do Código de Processo Penal que o regulamenta, o Júri é composto de homens e de mulheres, com a idade mínima de 18 anos, de reputação ilibada, e tem como competência apenas o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados. Para cada sessão de julgamento são sorteados vinte e cinco jurados, escolhidos de uma lista previamente organizada pelo Poder Judiciário, mas destes, apenas sete serão selecionados, por sorteio, para a composição do Conselho de Sentença. O Tribunal do Júri, da forma como foi previsto pela Constituição Federal de 1988 é, ao mesmo tempo, uma garantia fundamental e um direito fundamental. Desde suas mais remotas origens, o Júri é a mais democrática das instituições. E surgiu como um instrumento destinado a garantir, de forma eficaz, a participação do cidadão comum na tomada de decisões do Poder Judiciário, evitando o arbítrio Estatal. O jurado no Brasil deve ser escolhido democraticamente, de forma a garantir a necessária representatividade da sociedade como um todo. Em outras palavras, o acusado da prática de um crime doloso contra a vida tem o direito constitucional de ser julgado por seus “pares”. No entanto, premente observar que o corpo de 7 jurados, formado por cidadãos comuns, está sujeito, assim como as demais pessoas, às influências da mídia, sejam estas positivas ou não. O Tribunal do Júri é um importante sistema reconhecido pela Constituição Federal, que configura e demonstra um Estado Democrático de Direito, em que todo e qualquer cidadão brasileiro, dos 18 aos 70 anos de idade, realizará o julgamento dos casos que lhes forem apresentados, bastando ter, nos termos da lei, a chamada notória idoneidade, conforme preleciona o artigo 436, parágrafo 1º do Código de Processo Penal: Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) § 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução (BRASIL, 2008) Ocorre que, mesmo sendo uma cláusula pétrea da Constituição Federal, o Tribunal do Júri não está blindado de críticas. Ele é defendido por pessoas que sustentam que ele é o mais democrático entre os ritos existentes, pois permite a participação direta da população. No entanto, há entendimento que este mesmo argumento demonstra a fragilidade deste instituto. Na linha do que expõe Lopes Júnior (2019, p. 1036) o conceito de democracia é muito mais complexo que essa simples dimensão formal representativa e o seu maior valor não deve estar nesta mera participação do cidadão, mas, na dimensão substancial que valoriza o indivíduo na relação dele com o Estado e com outros indivíduos. O cidadão comum em regra não possui qualquer embasamento técnico ou jurídico e em razão disso são mais suscetíveis a pressões psicológicas, políticas e até mesmo midiáticas. Além disso, no Tribunal do Júri vigora o sistema da íntima convicção, não sendonecessário o jurado justificar ou mesmo fundamentar o seu voto, podendo absolver ou condenar com base em critérios subjetivos. Nesse sentido, segundo Nucci (2015, p. 547) “o veredito proferido no Tribunal do Júri é, constitucional e legalmente, imotivado, pois lastreado na convicção íntima dos jurados.” 8 É fato que os crimes dolosos contra a vida possuem maior repugnância e, diante da natureza complexa do delito surgem diversas discussões acerca do tema, questionando-se a falibilidade do instituto, considerando que, em julgamentos realizados neste contexto, “a prova não é produzida na frente dos jurados, o tempo de debate é completamente insuficiente e sequer existe tempo para os jurados, com tranquilidade, analisarem os autos, as provas e decidirem.” (LOPES JUNIOR, 2019, p. 1044). Outro fator importante consiste na atuação do Juiz de Direito, que se limita apenas a coordenação e fiscalização do julgamento. Juízes togados são substituídos por pessoas leigas, não podendo julgar ou decidir o mérito da causa. Crimes dolosos contra a vida são extremamente complexos e, o fato de pessoas leigas, com pouco ou nenhum conhecimento jurídico sentenciarem um indivíduo pode, consequentemente, gerar erros judiciais. 3 A Criminologia A Criminologia é uma ciência que possui métodos próprios. É autônoma, empírica, interdisciplinar, e seu objeto de estudo é o crime, o delinquente, a vítima e os controles sociais formais de criminalidade (Polícia, Ministério Público, Forças Armadas, Justiça, Administração Penitenciária etc.) e os controles sociais informais de criminalidade (família, escola, religião, profissão, clubes de serviço etc.) (PENTEADO, 2020). A gênese da Criminologia se encontra no século XVIII, na obra “Dos Delitos e das Penas”, de Cesare Beccaria. Naquela época, as penas judiciais eram aplicadas como uma espécie de vingança coletiva, na maioria das vezes punindo o criminoso com castigos muito mais severos e cruéis do que os próprios males que ele havia praticado. Penas de morte, torturas, prisões deploráveis e banimentos eram comuns e se aplicavam mesmo aos crimes mais banais (BECCARIA, 2014). Cesare Beccaria foi a primeira voz a se levantar contra essas práticas cruéis de punição, defendendo que cada crime merecia uma pena proporcional ao dano causado e que as punições deveriam ser justas. Historicamente a Criminologia decorreu de longa evolução, marcada, muitas vezes, por atritos teóricos irreconciliáveis, conhecidos como “disputas de escolas”, entre elas a Escola 9 Clássica, que despontou com seus principais intelectos sendo, além de Cesare Beccaria, Francesco Carrara e Giovanni Carmignani. A Escola Positiva, com raízes no século XIX, representada por Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Rafael Garófalo. E, mais recentemente, já no fim do século XX, a Escola Política Criminal ou Moderna Alemã, também denominada Escola Sociológica Alemã, que tem como principais expoentes Franz von Lizst, Adolphe Prins e Von Hammel. (PENTEADO, 2020). Atualmente a doutrina entende que a Criminologia é uma ciência aplicada que se subdivide em dois ramos, a Criminologia Geral, que consiste na sistematização, comparação e classificação dos resultados obtidos acerca de estudos do crime, do criminoso, da vítima, do controle social e da criminalidade em si, e a Criminologia Clínica, que aplica os conhecimentos teóricos da Criminologia Geral para o tratamento de criminosos. Por fim, pode também ser dividida em Criminologia Científica, Criminologia Aplicada, Criminologia Acadêmica, Criminologia Analítica, Criminologia Crítica ou Radical e, mais recentemente, em Criminologia Cultural, de onde deriva a Criminologia Midiática, objeto do presente estudo. (PENTEADO, 2020). Das várias colocações feitas até agora, é evidente que a Criminologia representa o estudo abrangente dos fatores individuais (personalidade) e sociais (ambiente) que estão na base da criminalidade, bem como o exame do fenômeno natural da luta contra o crime, com o objetivo de ressocializar o delinquente e prevenir a criminalidade (ZAFFARONI, 2013). Portanto, podemos afirmar que o objeto da Criminologia é o estudo do crime e do criminoso, o que pode às vezes gerar confusão com o Direito Penal, uma vez que ambos têm o crime e o criminoso como objeto de estudo. No entanto, é importante destacar que o Direito Penal e a Criminologia são duas disciplinas independentes e autônomas, abordando o delito sob um diferente viés (PENTEADO, 2020). O Direito Penal concentra-se no crime como uma violação das normas jurídicas, estabelecendo punições e regras para a repressão social do crime. Seu objeto é o crime como um conceito jurídico, sujeito a sanções legais. Por outro lado, a Criminologia é uma ciência que se preocupa não apenas com o crime, mas também com o estudo do criminoso. Seu objetivo inclui o desenvolvimento de estratégias de combate à criminalidade, a formulação de medidas preventivas e a 10 implementação de abordagens terapêuticas para tratar dos delinquentes, visando evitar a reincidência. Enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa, focada na repressão social do delito por meio de normas legais punitivas, a Criminologia é uma ciência causalexplicativa, com ênfase na prevenção, buscando entender as causas subjacentes dos delitos e empregando estratégias para reduzir os fatores que contribuem para a criminalidade (ZAFFARONI, 2013). Portanto, a principal diferença entre o Direito Penal e a Criminologia é que o primeiro trata das ações e omissões que constituem um delito, enquanto o segundo se concentra nas causas dessas ações e no estudo da personalidade do delinquente. Em resumo, a Criminologia não é uma parte do Direito Penal, mas sim uma disciplina independente que contribui para uma compreensão mais abrangente do crime e do comportamento criminoso, complementando o trabalho do Direito Penal (PENTEADO, 2020). 4 Criminologia Midiática O termo Criminologia Midiática foi criado pelo professor, criminólogo e penalista argentino, Eugenio Raúl Zaffaroni, um dos maiores pesquisadores nesse campo da Criminologia. Para o professor Zaffaroni, a Criminologia Midiática surge do populismo penal midiático, sobretudo no jornalismo justiceiro, com viés ideológico proveniente do neopunitivismo estadunidense das propostas de tolerância zero na busca incessante pela segurança absoluta, em detrimento de liberdades públicas fundamentais. Para ele, a Criminologia Midiática é constituída de um discurso que é o oposto do académico, geralmente oriundo do senso comum, da opinião pessoal (ZAFFARONI, 2013). De acordo com a doutrina, a Criminologia Midiática refere-se ao estudo da interação entre o crime, o sistema de justiça criminal e a mídia de massa. A cobertura midiática de crimes tem o potencial de moldar a opinião pública sobre a criminalidade e os criminosos, bem como influenciar a formulação de políticas públicas relacionadas à justiça criminal. 11 Segundo Paulo Freitas, “a mídia tem um poder extraordinário uma vez que, dependendo como atue, tem a capacidade de formar opiniões pró e contra determinados assuntos”. (FREITAS, 2016, p.1). E isso ocorre de forma contumaz na área penal. Na verdade, a mídia, de uma forma geral, viu no crime, na prática da infração penal, uma fonte inesgotável de audiência, pois as pessoas têm um prazer mórbido de conhecer, mais profundamente, fatos dessa natureza, principalmente os crimes violentos, a exemplo do que ocorre com o delito de homicídio. Assim, são inúmeros os casos que ganharam repercussão nacional por conta da divulgação feita pela mídia. Não só homicidas famosos, ou seja, aqueles que, de alguma forma, eram conhecidos nacional e internacionalmente, mas também criminosos comuns que, devido ao modo ou aos motivos que praticaram o homicídio,passaram a receber a atenção da mídia, acabando por receber destaque. A mídia desempenha um papel significativo no Tribunal do Júri e na Criminologia Midiática, impactando tanto o sistema de justiça criminal quanto a opinião pública. A forma como os casos criminais são apresentados e discutidos pela mídia pode influenciar a percepção das pessoas sobre a culpa ou inocência de um réu, bem como sobre a eficácia do Sistema Judiciário como um todo. É através da mídia que as informações percorrem o mundo todo, contribuindo para a aproximação das pessoas e configurando como um dos principais poderes da sociedade. A responsabilidade de imprensa implica em responsabilidade com os fatos e com a verdade, sendo essa a real liberdade de expressão, um direito fundamental para a existência de um Estado Democrático de Direito, uma vez que o direito à informação e o direito de liberdade de expressão são amplamente protegidos pela nossa Constituição. Os crimes dolosos contra a vida geram curiosidade e causam grande comoção social, atraindo a atenção midiática e cada vez mais atraindo também os olhares do público. No entanto, através da midiatização dos crimes, os jurados estão suscetíveis a interferências externas. Bastos observa que: se a pressão e a influência da mídia tendem a produzir efeitos sobre os juízes togados, muito maiores são esses efeitos sobre o júri popular, mais sintonizado com a opinião pública, de que deve ser a expressão. (...). Com os jurados é pior: envolvidos pela opinião pública, construída massivamente por campanhas da mídia orquestradas e frenéticas, é difícil exigir deles conduta que não seguir a corrente. (BASTOS, 1999, p. 115) 12 A imprensa acompanha de perto todo o desenrolar processual e a repercussão dos fatos leva muita informação aos jurados, informações essas que antecedem ao julgamento, eventualmente podem fazê-los firmar uma convicção. No entanto, ao tratar sobre os crimes dolosos contra a vida, na corrida para noticiar em primeira mão e buscando auferir lucros, informam de maneira errônea e imparcial. Neste sentido, Vieira aduz que: É ingênuo pensar que os meios de comunicação de massa sejam neutros e revelem o fato real com a evidência das imagens. Eles podem torcer a realidade e não cumprir a tarefa de transmitir os acontecimentos renunciando aos mecanismos técnicos e filtros de informações. A notícia do crime, selecionada para a publicação, pode ocultar de um lado e relevar de outro. É parte da realidade dos fatos: é outro fato estimulado pela criação da imagem do ocorrido, que a mídia faz sentir, faz ver pelo público (VIEIRIA, 2003, p. 154) Insta salientar que os espectadores atuarão como juízes, anuindo-lhes o ius puniendi. Ocorre que esta é uma questão problemática, uma vez que, com a influência externa, o acusado já chega ao seu julgamento previamente condenado, violando assim o princípio da presunção da inocência. Conforme observa Vieira: No clamor dos acontecimentos, o possível autor do crime quando por vezes é apenas suspeito de tê-lo praticado muitas vezes é julgado pela opinião contra ele publicada pela imprensa. Embora haja, ainda, dúvidas sobre o delito, suas circunstâncias e a autoria, mesmo que fundadas em elementos de prova, na mídia tornam-se certezas. (VIEIRA, 2003, p168) Verifica-se que a interferência da mídia poderá afetar os julgamentos do Tribunal do Júri, uma vez que o Conselho de Sentença, composto por pessoas leigas, decidem com base em sua íntima convicção, não exigindo nenhuma fundamentação de suas decisões, podendo afetar a plena defesa, como demonstra Vicenço (2012, p. 16) ao expor que “o jurado, cidadão comum, pode já estar com sua opinião formada pela mídia e não tenha condições de separar aquilo que a imprensa falou ou escreveu, dos fatos.” 13 Nesse diapasão, o baixo conhecimento técnico dos jurados ou até mesmo a falta total dele, somado ao prévio conhecimento dos fatos através da mídia, pode ocasionar inúmeros prejuízos ao indivíduo e à sociedade como um todo. A relação entre a mídia e o sistema penal ganha destaque quando examinamos casos reais e famosos que receberam ampla cobertura midiática. Esses casos ilustram como a criminologia midiática desempenha um papel crucial na formação da percepção pública sobre crimes e criminosos. Um exemplo notório é o "Caso Isabella Nardoni", que ocorreu em 2008 no Brasil. O assassinato de Isabella Nardoni, uma criança de 5 anos, chocou o país. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, respectivamente pai e madrasta da menina, foram condenados pelo crime. A cobertura midiática intensa e sensacionalista desse caso teve um impacto significativo na percepção pública e nas investigações, destacando como a mídia pode influenciar a opinião pública sobre um caso. Outro caso marcante é o "Caso Suzanne von Richthofen", que aconteceu em 2002 no Brasil. Suzanne von Richthofen e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos planejaram e executaram o assassinato dos pais de Suzanne. A cobertura midiática maciça desse caso foi impulsionada pela conexão da família von Richthofen com a aristocracia alemã. A mídia desempenhou um papel importante na moldagem da percepção pública sobre o crime e os culpados. No "Caso Daniela Perez", uma atriz brasileira, ocorrido em 1992, Daniela Perez foi brutalmente assassinada por Guilherme de Pádua, à época colega de elenco da atriz, e sua esposa, Paula Thomaz. O julgamento desse caso atraiu uma atenção significativa da mídia, destacando questões como a violência contra as mulheres e o papel da mídia na cobertura de casos de alto perfil (GOMES, 2015, p.94). Por fim, o "Caso Flordelis" também ilustra a influência da mídia na percepção pública. O caso envolve a deputada federal brasileira Flordelis, que foi acusada de estar envolvida no assassinato de seu marido. A cobertura midiática desse caso lançou luz sobre as complexidades da política e do sistema de justiça criminal, e como a mídia desempenha um papel central na narrativa pública em torno de tais casos (GOMES, 2015, p.94). Esses exemplos reais demonstram como a criminologia midiática desempenha um papel fundamental na moldagem da opinião pública e na 14 compreensão dos casos criminais de alto perfil. A influência da mídia nesses casos destaca a importância de um exame crítico da relação entre a cobertura midiática e o sistema penal. 5 A Influência da mídia nas decisões do Tribunal do Júri Na cobertura de casos de alto perfil, a mídia desempenha um papel crucial, fornecendo informações ao público em geral. No entanto, a forma como essas informações são alcançadas pode influenciar a opinião pública e, consequentemente, os jurados. A mídia muitas vezes se concentra em aspectos sensacionalistas dos casos destacando detalhes chocantes ou emocionais, o que pode distorcer a percepção dos fatos e influenciar a imparcialidade do Júri. A mídia exerce um papel preponderante na dinamização do sistema penal pósmoderno. E parte desse papel consiste justamente em disseminar a insegurança, explorando o crime de forma a incutir na crença popular um medo que não necessariamente corresponde à realidade da violência. A mídia reforça e dramatiza a experiência pública do crime colocando o fenômeno criminal na ordem do dia de qualquer cidadão, enfatizando, muitas vezes, casos de crimes sensacionalistas e violentos, criando uma percepção distorcida de que esses tipos de crimes são mais comuns do que realmente são, podendo levar a um sentimento de insegurança generalizado (FREITAS, 2016, p.1). O desenvolvimento do sentimento de medo e da necessidade de se ter mais segurança na sociedade pós-moderna, proporciona uma consequência que atinge as pessoas, causando um isolamento social. E esse isolamento causado pelo consumo desenfreado da violência e pela sensação depenal”, “você que defende bandido, adote um para você” etc. fazem parte de um discurso midiático, reproduzido pela população em geral, que não se dedica ao estudo do fenômeno criminal da Criminologia Académica, e costuma ser adotado pelo legislador, muitas vezes para atender àquilo que a população acredita ser a solução para resolver a criminalidade. No entanto, o Estado não pode e não deve adotar esse discurso midiático, desprovido de qualquer base bibliográfica, científica ou acadêmica. As políticas criminais devem estar baseadas nos resultados das pesquisas que são feitas no âmbito da Criminologia Científica e da Criminologia Académica. Não pode o legislador, muitas vezes com o objetivo de conquistar votos, adotar um discurso inflamado e, sobretudo, propor a alteração das leis penais sem base acadêmica e científica. Portanto, os legisladores e os operadores do Direito, que se dedicam ou pretendem se dedicar às ciências criminais devem abandonar o discurso da Criminologia Midiática. Do contrário terão dificuldades para compreender não só os institutos jurídicos, como também os direitos fundamentais decorrentes da Constituição Federal de 1988. E, por essa razão, e para que haja uma mudança nas concepções básicas atinentes a esse tema, seria de fundamental importância a inclusão do ensino jurídico já no Ensino Fundamental, versando sobre essa e outras matérias jurídicas, e atingindo a todos de forma indiscriminada, inclusive os futuros jurados e legisladores. Paralelamente, os parlamentares deveriam ser submetidos a cursos jurídicos sobre os princípios gerais do Direito Penal, para que pudessem compreender a forma como a legislação penal deve ser elaborada e como a Criminologia deve formar as políticas criminais de Estado. Observou-se ao longo desse artigo que a Criminologia Midiática é um fenômeno que se manifesta quando a mídia dramatiza e espetaculariza crimes, frequentemente retratando os acusados como culpados antes mesmo do julgamento. Isso pode levar os jurados a terem preconceitos preexistentes, dificultando a imparcialidade do julgamento. E é importante ressaltar que não se está buscando a censura prévia à imprensa ou a limitação da liberdade de expressão, que são direitos fundamentais em uma sociedade democrática. Pelo contrário, 19 reconhece-se o papel vital da mídia como um contrapeso ao poder estatal e como um meio de informação para o público. No entanto, é fundamental que a mídia atue com responsabilidade, evitando sensacionalismo e a disseminação de informações tendenciosas ou até mesmo falsas, que possam influenciar negativamente o processo de julgamento. Jurados, assim como todos os cidadãos, devem ter a oportunidade de ouvir evidências e argumentos imparcialmente, sem a interferência de narrativas sensacionalistas ou preconceituosas. Em conclusão, a relação entre a Criminologia Midiática e a influência da mídia nas decisões do Tribunal do Júri é um desafio importante para o sistema de justiça criminal. É essencial promover um equilíbrio entre o direito à informação e a garantia de um julgamento justo. Isso requer um esforço conjunto de todos os envolvidos, incluindo profissionais da mídia, da educação, advogados, magistrados e a sociedade em geral, para garantir que a justiça seja alcançada de forma imparcial e baseada em evidências, sem interferências externas que possam distorcer o processo. 20 Referências BASTOS, Márcio Thomaz. Júri e mídia. In: Tribunal do júri: Estudo sobre a mais democrática instituição jurídica brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martin Claret, 2014. BOLDT, Raphael. Criminologia Midiática: do discurso punitivo à corrosão simbólica do garantismo. Curitiba: Juruá, 2013. BRASIL. Lei nº 11.689, de 9 de junho de 2008. Disponível em: . Acesso em: 23 de outubro 2023 BURGARELLI, Vítor. Mídia, Direito Penal e Vulnerabilidade: a opinião pública na decisão penal. Belo Horizonte: Fórum, 2021. FREITAS, Paulo César de. Criminologia Midiática e Tribunal do Júri: a influência da mídia e da opinião pública na decisão dos jurados. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016. GOMES, Marcus Alan. Mídia e Sistema Penal: as distorções da criminalização nos meios de comunicação. Rio de Janeiro: Revan, 2015. LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 16 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. PENTEADO, Nestor Sampaio e FILHO, Nestor Sampaio Penteado. Manual Esquemático de Criminologia. 10 ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2020. STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri – símbolos e rituais. 3 ed. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 1998. VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo, 2003. VINCENÇO, Daniele Medina. O poder da mídia na decisão do tribunal do júri. (2012). Disponível em . Acesso em: 20 de outubro de 2023. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. A Questão Criminal. São Paulo: Revan, 2013. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.689-2008?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.639-2008?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.689-2008?OpenDocument https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htmpenal”, “você que defende bandido, adote um para você” etc. fazem parte de um discurso midiático, reproduzido pela população em geral, que não se dedica ao estudo do fenômeno criminal da Criminologia Académica, e costuma ser adotado pelo legislador, muitas vezes para atender àquilo que a população acredita ser a solução para resolver a criminalidade. No entanto, o Estado não pode e não deve adotar esse discurso midiático, desprovido de qualquer base bibliográfica, científica ou acadêmica. As políticas criminais devem estar baseadas nos resultados das pesquisas que são feitas no âmbito da Criminologia Científica e da Criminologia Académica. Não pode o legislador, muitas vezes com o objetivo de conquistar votos, adotar um discurso inflamado e, sobretudo, propor a alteração das leis penais sem base acadêmica e científica. Portanto, os legisladores e os operadores do Direito, que se dedicam ou pretendem se dedicar às ciências criminais devem abandonar o discurso da Criminologia Midiática. Do contrário terão dificuldades para compreender não só os institutos jurídicos, como também os direitos fundamentais decorrentes da Constituição Federal de 1988. E, por essa razão, e para que haja uma mudança nas concepções básicas atinentes a esse tema, seria de fundamental importância a inclusão do ensino jurídico já no Ensino Fundamental, versando sobre essa e outras matérias jurídicas, e atingindo a todos de forma indiscriminada, inclusive os futuros jurados e legisladores. Paralelamente, os parlamentares deveriam ser submetidos a cursos jurídicos sobre os princípios gerais do Direito Penal, para que pudessem compreender a forma como a legislação penal deve ser elaborada e como a Criminologia deve formar as políticas criminais de Estado. Observou-se ao longo desse artigo que a Criminologia Midiática é um fenômeno que se manifesta quando a mídia dramatiza e espetaculariza crimes, frequentemente retratando os acusados como culpados antes mesmo do julgamento. Isso pode levar os jurados a terem preconceitos preexistentes, dificultando a imparcialidade do julgamento. E é importante ressaltar que não se está buscando a censura prévia à imprensa ou a limitação da liberdade de expressão, que são direitos fundamentais em uma sociedade democrática. Pelo contrário, 19 reconhece-se o papel vital da mídia como um contrapeso ao poder estatal e como um meio de informação para o público. No entanto, é fundamental que a mídia atue com responsabilidade, evitando sensacionalismo e a disseminação de informações tendenciosas ou até mesmo falsas, que possam influenciar negativamente o processo de julgamento. Jurados, assim como todos os cidadãos, devem ter a oportunidade de ouvir evidências e argumentos imparcialmente, sem a interferência de narrativas sensacionalistas ou preconceituosas. Em conclusão, a relação entre a Criminologia Midiática e a influência da mídia nas decisões do Tribunal do Júri é um desafio importante para o sistema de justiça criminal. É essencial promover um equilíbrio entre o direito à informação e a garantia de um julgamento justo. Isso requer um esforço conjunto de todos os envolvidos, incluindo profissionais da mídia, da educação, advogados, magistrados e a sociedade em geral, para garantir que a justiça seja alcançada de forma imparcial e baseada em evidências, sem interferências externas que possam distorcer o processo. 20 Referências BASTOS, Márcio Thomaz. Júri e mídia. In: Tribunal do júri: Estudo sobre a mais democrática instituição jurídica brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martin Claret, 2014. BOLDT, Raphael. Criminologia Midiática: do discurso punitivo à corrosão simbólica do garantismo. Curitiba: Juruá, 2013. BRASIL. Lei nº 11.689, de 9 de junho de 2008. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htm>. Acesso em: 23 de outubro 2023 BURGARELLI, Vítor. Mídia, Direito Penal e Vulnerabilidade: a opinião pública na decisão penal. Belo Horizonte: Fórum, 2021. FREITAS, Paulo César de. Criminologia Midiática e Tribunal do Júri: a influência da mídia e da opinião pública na decisão dos jurados. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016. GOMES, Marcus Alan. Mídia e Sistema Penal: as distorções da criminalização nos meios de comunicação. Rio de Janeiro: Revan, 2015. LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 16 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. PENTEADO, Nestor Sampaio e FILHO, Nestor Sampaio Penteado. Manual Esquemático de Criminologia. 10 ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2020. STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri – símbolos e rituais. 3 ed. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 1998. VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo, 2003. VINCENÇO, Daniele Medina. O poder da mídia na decisão do tribunal do júri. (2012). Disponível em <http/tcconline.utp.br/wp-content/2014/03/O-PODER- DAMIDIA-NA-DECISAO-DO-TRIBUNAL-DO-JURI.pdf>. Acesso em: 20 de outubro de 2023. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. A Questão Criminal. São Paulo: Revan, 2013. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.689-2008?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.639-2008?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.689-2008?OpenDocument https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htm