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CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE 
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL 
 INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JURI SOB 
O OLHAR DA CRIMINOLOGIA MIDIÁTICA. 
 
 
 
Juliana de Barros Santana Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Volta Redonda, 2023 
 
Juliana de Barros Santana Pereira 
 
 
 
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO TRIBUNAL DO JURI SOB O 
OLHAR DA CRIMINOLOGIA MIDIÁTICA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo científico apresentado como requisito 
parcial para obtenção do grau de Bacharel em 
Direito pelo Curso de Bacharelado em Direito, 
do Instituto Superior de Educação, do Centro 
Universitário Geraldo Di Biase. 
 
Professora-orientadora: Lucia Studart 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Volta Redonda, 2023 
 
Resumo 
 
A relação entre a mídia e o sistema judicial, especificamente nas decisões do 
Tribunal do Júri, é um tema de crescente relevância. A mídia desempenha um papel 
significativo na formação da opinião pública e pode influenciar a maneira como as 
pessoas percebem casos criminais. Este estudo busca investigar a influência da 
mídia nas decisões do Tribunal do Júri, com base em uma abordagem criminológica 
midiática. O objetivo deste estudo é analisar como a mídia afeta as decisões dos 
jurados no Tribunal do Júri, como a criminologia midiática desempenha um papel 
nesse processo, e compreender como a cobertura sensacionalista de crimes pela 
mídia pode impactar a imparcialidade dos jurados e, consequentemente, a justiça 
dos vereditos. Para alcançar o objetivo proposto, este estudo empregou uma 
metodologia de pesquisa qualitativa. Foram analisados casos de julgamentos pelo 
Tribunal do Júri que receberam ampla cobertura midiática, examinando como a 
mídia retratou esses casos e como isso pode ter influenciado as decisões dos 
jurados. Também foram realizadas revisões de literatura para embasar a análise. A 
análise dos casos e da literatura revela que a mídia desempenha um papel 
significativo na formação da opinião pública e pode influenciar as decisões dos 
jurados no Tribunal do Júri. A criminologia midiática, quando sensacionalista e 
tendenciosa, pode prejudicar a imparcialidade do julgamento e afetar a justiça dos 
vereditos. Portanto, é fundamental que a mídia atue com responsabilidade, evitando 
o sensacionalismo e garantindo que os jurados tenham a oportunidade de julgar os 
casos com base em evidências imparciais. 
 
Palavras-Chave: Mídia, Tribunal do Júri, Criminologia Midiática, Influência, Justiça. 
 
 
Abstract 
 
The relationship between the media and the judicial system, specifically in Jury Court 
decisions, is a topic of increasing relevance. The media plays a significant role in 
shaping public opinion and can influence the way people perceive criminal cases. 
This study seeks to investigate the influence of the media on Jury Court decisions, 
based on a media criminological approach. The objective of this study is to analyze 
how the media affects jurors' decisions in the Jury Court, how media criminology 
plays a role in this process, and understand how sensationalist coverage of crimes by 
the media can impact the impartiality of jurors and, consequently, the justice of 
verdicts. To achieve the proposed objective, this study employed a qualitative 
research methodology. Cases of trials by the Jury Court that received extensive 
media coverage were analyzed, examining how the media portrayed these cases and 
how this may have influenced the jurors' decisions. Literature reviews were also 
carried out to support the analysis. Analysis of cases and literature reveals that the 
media plays a significant role in shaping public opinion and can influence the 
decisions of jurors in the Jury Court. Media criminology, when sensationalized and 
biased, can undermine the impartiality of the trial and affect the justice of the verdicts. 
Therefore, it is essential that the media act responsibly, avoiding sensationalism and 
ensuring that jurors have the opportunity to judge cases based on impartial evidence. 
 
Keywords: Media, Jury Court, Media Criminology, Influence, Justice. 
3 
 
1 Introdução 
 
O presente estudo tem como tema o poder da influência que a mídia exerce 
sobre o Tribunal do Juri e seus respectivos vereditos, especialmente no que tange 
ao Conselho de Sentença formado pelos jurados. O Tribunal do Júri vem se 
mantendo imutável no que concerne à sua importante função de julgar os crimes 
dolosos contra a vida e costuma ser frequentemente alvo de críticas diversas pois, 
em seus procedimentos, a existência de questões por vezes altamente polêmicas é 
uma constante. 
Os graves delitos julgados no Tribunal do Júri frequentemente geram uma 
grande repercussão social, deixando toda a sociedade em polvorosa, tendo em vista 
o caráter violento desses delitos. E a mídia, por sua vez, ao agir de forma 
descomedida nesse aspecto, frequentemente interfere, dificultando sobremaneira a 
atuação do Júri. Isso acontece porque os jurados precisam elaborar seus vereditos 
de forma totalmente imparcial, ou o mais imparcial possível, a partir das informações 
obtidas e das provas produzidas pelas partes durante o julgamento e, a partir daí, 
serem norteados por suas próprias convicções. 
No contesto do Tribunal do Júri, a Criminologia Midiática pode influenciar a 
escolha dos jurados e sua decisão final. A exposição prévia a informações 
sensacionalistas ou preconceituosas pode levar a um julgamento enviesado e, 
portanto, injusto. Da mesma forma, a exposição a informações de uma maneira que 
sugere a culpabilidade do réu antes mesmo do julgamento pode levar a um veredito 
predeterminado e injusto 
Pretende-se, com esse trabalho, discutir a composição e a competência do 
Tribunal do Júri, da mesma forma que os princípios processuais que o norteiam, com 
ênfase aos princípios da imparcialidade e da presunção de inocência, fazendo uma 
análise crítica de como esses postulados podem ser afetados pela mídia em geral. 
Para tanto, serão utilizadas pesquisas documentais e referências bibliográficas. 
Também serão trazidos à baila casos reais e bastante conhecidos da sociedade 
onde, notadamente, a mídia possa ter exercido seu grande poder de influência sobre 
a decisão do Juri. 
A relevância de estudar o tema A influência da mídia no Tribunal do Júri sob o 
olhar da Criminologia Midiática se deve à importância de evidenciar que a mídia 
precisa se manter imparcial em suas publicações, limitando-se ao direito e dever de 
4 
 
informar. Não obstante, o que se observa é que a mídia não é munida de total 
veracidade acerca de suas publicações, muitas vezes ignorando os princípios e 
garantias previstos na Constituição Cidadã de 1988, como o da presunção de 
inocência, da imparcialidade e da dignidade da pessoa humana. 
A mídia pode afetar significativamente a forma como as pessoas percebem 
um caso criminal e os indivíduos envolvidos nele. Os meios de comunicação muitas 
vezes apresentam informações de forma sensacionalista, exagerando os aspectos 
mais dramáticos e violentos de um crime, e podem dar ênfase a determinados 
aspectos do caso em detrimento de outros. Isso pode levar a uma distorção da 
realidade dos fatos e a uma polarização das opiniões públicas. 
Para mostrar a seriedade do tema, o presente trabalho apresenta os mais 
contumazes corolários da violação de princípios fundamentais que se originam da 
influência da mídia sobre a sociedade, sendo esses corolários alavancadores de 
injustiça e falta de respeito. Finalmente, o trabalho se justifica pela premente 
importância de se discutir a respeito do comportamento midiático e de sua influência 
na seara criminal, principalmente nas decisões do Tribunal do Júri. 
Desse modo,o objetivo do presente trabalho é discorrer sobre os princípios 
constitucionais norteadores do direito do Tribunal do Júri para que fique 
demonstrado de que modo estes são feridos de forma arbitrária, através da 
influência midiática, buscando esclarecer a importância de maior rigor acerca do 
controle publicitário. 
 
 
2 O Tribunal do Júri 
 
O Tribunal do Júri, que é composto por um grupo de cidadãos que são 
selecionados para decidir o veredito em um caso criminal que envolva, 
necessariamente, um crime doloso contra a vida, recebeu os primeiros traços de sua 
forma definitiva na Inglaterra e ressurgiu na França revolucionária como instrumento 
de direitos e garantias fundamentais (BARBOSA apud FREITAS, 2016, p.5) é, 
portanto, ainda a única vertente constitucional da participação do povo no Poder 
Judiciário. 
O Júri deve ser entendido, com efeito, segundo Lênio Streck, “como um 
importante mecanismo democrático, precisamente porque permite o resgate de uma 
5 
 
dimensão tão cara ao Direito e à realização da Justiça: a participação popular”. 
(STRECK apud FREITAS, 2016, p.6). 
Na Constituição Federal Brasileira de 1988, a exemplo do que ocorreu em 
outros países, o Júri foi mantido e alçado a uma garantia individual fundamental, 
notadamente ao direito de liberdade. Paradoxalmente, em sua conformação prática 
estaria sendo, em muitos casos, utilizado como verdadeiro aparelho de opressão e 
não como um Tribunal especializado na concretização da Justiça. Outras vezes, 
como instrumento de violação justamente do direito pelo qual a Constituição Federal 
lhe incumbiu de velar. Assim, o Tribunal do Júri seria democrático no discurso 
jurídico porém profundamente autoritário na práxis. (FREITAS, 2016, p.7). 
Com base em casos que recentemente abalaram o país, pode-se observar 
como a opinião pública e a mídia influenciam as decisões do Tribunal do Júri e como 
esta influência deturparia a sua função garantista, razão de ser da organização 
estatal. (BOLDT, 2013, p.140). 
Ironicamente, o Júri surge no Brasil como forma de conter eventuais abusos 
por parte da mídia, naquela época dominada pela imprensa escrita. Após censurar, 
em 15 de janeiro de 1822, um dos periódicos de maior circulação no Rio de Janeiro, 
o jornal “Heroicidade Brasileira”, suspendendo a publicação e determinando o 
recolhimento de todos os seus exemplares em circulação, o governo, diante da 
repercussão negativa do seu gesto, baixou uma Portaria esclarecendo que a medida 
não se tratava de um comportamento generalizado, tão pouco de um atentado à 
liberdade de imprensa. (MARQUES apud FREITAS, 2016, p.15). 
A Portaria 19 regulamentou a atividade da imprensa e afirmava que ela seria 
livre para publicar, e que eventuais abusos de seus autores e redatores seriam 
punidos, mas a publicação não poderia sofrer censura prévia. 
Receoso, e antevendo os abusos que essa liberdade de imprensa poderia 
acarretar, o Senado da Câmara do Rio de Janeiro dirigiu-se ao Príncipe Regente D. 
Pedro, e solicitou a criação do Juízo dos Jurados, para execução da Lei de 
Liberdade da Imprensa naquele Estado. Na justificativa, o Senado do Rio de Janeiro 
esclareceu ao Governo que o Júri parecia ser factível e conveniente, notadamente 
porque a população do Estado era, naquele tempo, numerosa e razoavelmente culta 
e esclarecida. 
O Júri, então, foi criado pela lei de 18 de junho de 1822, antes mesmo da 
Independência, e antes mesmo que fosse implementado em Portugal, com a 
6 
 
competência restrita aos delitos de imprensa (MARQUES apud FREITAS, 2016, 
p.15), e o primeiro julgamento realizado pelo Tribunal do Júri no Brasil teve como 
veredito a absolvição de João Soares Lisboa, redator do jornal “Correio do Rio de 
Janeiro”. 
O Tribunal do Júri no Brasil adquiriu status constitucional logo na primeira 
Constituição Brasileira, a de 1824. Todavia, essa Constituição cuidava dos jurados 
no título “Do Poder Judiciário” (PORTO apud FREITAS, 2016, p.16), e não em um 
capítulo reservado aos direitos e garantias fundamentais. 
O legislador brasileiro fez diversas alterações, tanto ordinária como 
constitucionalmente, ao longo dos anos, quanto à composição, como relativamente 
ao funcionamento do Júri brasileiro. Mas a composição do júri em número ímpar de 
jurados e a sua competência para o julgamento apenas dos crimes dolosos contra a 
vida só veio mesmo a se concretizar com a Constituição de 1946, em modelo 
praticamente idêntico ao que é seguido até hoje. Como já mencionado 
anteriormente, o Júri no Brasil não surgiu inicialmente para julgar delitos graves 
contra a vida, mas sim para julgar os crimes de imprensa. (STRECK apud FREITAS, 
2016, p.17). 
Atualmente, nos termos da Constituição Federal de 1988 e do Código de 
Processo Penal que o regulamenta, o Júri é composto de homens e de mulheres, 
com a idade mínima de 18 anos, de reputação ilibada, e tem como competência 
apenas o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados. 
Para cada sessão de julgamento são sorteados vinte e cinco jurados, escolhidos de 
uma lista previamente organizada pelo Poder Judiciário, mas destes, apenas sete 
serão selecionados, por sorteio, para a composição do Conselho de Sentença. 
O Tribunal do Júri, da forma como foi previsto pela Constituição Federal de 
1988 é, ao mesmo tempo, uma garantia fundamental e um direito fundamental. 
Desde suas mais remotas origens, o Júri é a mais democrática das instituições. E 
surgiu como um instrumento destinado a garantir, de forma eficaz, a participação do 
cidadão comum na tomada de decisões do Poder Judiciário, evitando o arbítrio 
Estatal. 
O jurado no Brasil deve ser escolhido democraticamente, de forma a garantir 
a necessária representatividade da sociedade como um todo. Em outras palavras, o 
acusado da prática de um crime doloso contra a vida tem o direito constitucional de 
ser julgado por seus “pares”. No entanto, premente observar que o corpo de 
7 
 
jurados, formado por cidadãos comuns, está sujeito, assim como as demais 
pessoas, às influências da mídia, sejam estas positivas ou não. 
O Tribunal do Júri é um importante sistema reconhecido pela Constituição 
Federal, que configura e demonstra um Estado Democrático de Direito, em que todo 
e qualquer cidadão brasileiro, dos 18 aos 70 anos de idade, realizará o julgamento 
dos casos que lhes forem apresentados, bastando ter, nos termos da lei, a chamada 
notória idoneidade, conforme preleciona o artigo 436, parágrafo 1º do Código de 
Processo Penal: 
 
Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá 
os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade. 
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
§ 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou 
deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, 
profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução 
(BRASIL, 2008) 
 
 
Ocorre que, mesmo sendo uma cláusula pétrea da Constituição Federal, o 
Tribunal do Júri não está blindado de críticas. Ele é defendido por pessoas que 
sustentam que ele é o mais democrático entre os ritos existentes, pois permite a 
participação direta da população. No entanto, há entendimento que este mesmo 
argumento demonstra a fragilidade deste instituto. Na linha do que expõe Lopes 
Júnior (2019, p. 1036) o conceito de democracia é muito mais complexo que essa 
simples dimensão formal representativa e o seu maior valor não deve estar nesta 
mera participação do cidadão, mas, na dimensão substancial que valoriza o 
indivíduo na relação dele com o Estado e com outros indivíduos. 
O cidadão comum em regra não possui qualquer embasamento técnico ou 
jurídico e em razão disso são mais suscetíveis a pressões psicológicas, políticas e 
até mesmo midiáticas. Além disso, no Tribunal do Júri vigora o sistema da íntima 
convicção, não sendonecessário o jurado justificar ou mesmo fundamentar o seu 
voto, podendo absolver ou condenar com base em critérios subjetivos. Nesse 
sentido, segundo Nucci (2015, p. 547) “o veredito proferido no Tribunal do Júri é, 
constitucional e legalmente, imotivado, pois lastreado na convicção íntima dos 
jurados.” 
8 
 
É fato que os crimes dolosos contra a vida possuem maior repugnância e, 
diante da natureza complexa do delito surgem diversas discussões acerca do tema, 
questionando-se a falibilidade do instituto, considerando que, em julgamentos 
realizados neste contexto, “a prova não é produzida na frente dos jurados, o tempo 
de debate é completamente insuficiente e sequer existe tempo para os jurados, com 
tranquilidade, analisarem os autos, as provas e decidirem.” (LOPES JUNIOR, 2019, 
p. 1044). 
Outro fator importante consiste na atuação do Juiz de Direito, que se limita 
apenas a coordenação e fiscalização do julgamento. Juízes togados são substituídos 
por pessoas leigas, não podendo julgar ou decidir o mérito da causa. Crimes dolosos 
contra a vida são extremamente complexos e, o fato de pessoas leigas, com pouco 
ou nenhum conhecimento jurídico sentenciarem um indivíduo pode, 
consequentemente, gerar erros judiciais. 
 
 
3 A Criminologia 
 
A Criminologia é uma ciência que possui métodos próprios. É autônoma, 
empírica, interdisciplinar, e seu objeto de estudo é o crime, o delinquente, a vítima e 
os controles sociais formais de criminalidade (Polícia, Ministério Público, Forças 
Armadas, Justiça, Administração Penitenciária etc.) e os controles sociais informais 
de criminalidade (família, escola, religião, profissão, clubes de serviço etc.) 
(PENTEADO, 2020). 
A gênese da Criminologia se encontra no século XVIII, na obra “Dos Delitos e 
das Penas”, de Cesare Beccaria. Naquela época, as penas judiciais eram aplicadas 
como uma espécie de vingança coletiva, na maioria das vezes punindo o criminoso 
com castigos muito mais severos e cruéis do que os próprios males que ele havia 
praticado. Penas de morte, torturas, prisões deploráveis e banimentos eram comuns 
e se aplicavam mesmo aos crimes mais banais (BECCARIA, 2014). 
Cesare Beccaria foi a primeira voz a se levantar contra essas práticas cruéis 
de punição, defendendo que cada crime merecia uma pena proporcional ao dano 
causado e que as punições deveriam ser justas. Historicamente a Criminologia 
decorreu de longa evolução, marcada, muitas vezes, por atritos teóricos 
irreconciliáveis, conhecidos como “disputas de escolas”, entre elas a Escola 
9 
 
Clássica, que despontou com seus principais intelectos sendo, além de Cesare 
Beccaria, Francesco Carrara e Giovanni Carmignani. 
A Escola Positiva, com raízes no século XIX, representada por Cesare 
Lombroso, Enrico Ferri e Rafael Garófalo. E, mais recentemente, já no fim do século 
XX, a Escola Política Criminal ou Moderna Alemã, também denominada 
Escola Sociológica Alemã, que tem como principais expoentes Franz von Lizst, 
Adolphe Prins e Von Hammel. (PENTEADO, 2020). 
Atualmente a doutrina entende que a Criminologia é uma ciência aplicada que 
se subdivide em dois ramos, a Criminologia Geral, que consiste na sistematização, 
comparação e classificação dos resultados obtidos acerca de estudos do crime, do 
criminoso, da vítima, do controle social e da criminalidade em si, e a Criminologia 
Clínica, que aplica os conhecimentos teóricos da Criminologia Geral para o 
tratamento de criminosos. Por fim, pode também ser dividida em Criminologia 
Científica, Criminologia Aplicada, Criminologia Acadêmica, Criminologia Analítica, 
Criminologia Crítica ou Radical e, mais recentemente, em Criminologia Cultural, de 
onde deriva a Criminologia Midiática, objeto do presente estudo. (PENTEADO, 
2020). 
Das várias colocações feitas até agora, é evidente que a Criminologia 
representa o estudo abrangente dos fatores individuais (personalidade) e sociais 
(ambiente) que estão na base da criminalidade, bem como o exame do fenômeno 
natural da luta contra o crime, com o objetivo de ressocializar o delinquente e 
prevenir a criminalidade (ZAFFARONI, 2013). 
Portanto, podemos afirmar que o objeto da Criminologia é o estudo do crime e 
do criminoso, o que pode às vezes gerar confusão com o Direito Penal, uma vez que 
ambos têm o crime e o criminoso como objeto de estudo. No entanto, é importante 
destacar que o Direito Penal e a Criminologia são duas disciplinas independentes e 
autônomas, abordando o delito sob um diferente viés (PENTEADO, 2020). 
O Direito Penal concentra-se no crime como uma violação das normas 
jurídicas, estabelecendo punições e regras para a repressão social do crime. Seu 
objeto é o crime como um conceito jurídico, sujeito a sanções legais. Por outro lado, 
a Criminologia é uma ciência que se preocupa não apenas com o crime, mas 
também com o estudo do criminoso. Seu objetivo inclui o desenvolvimento de 
estratégias de combate à criminalidade, a formulação de medidas preventivas e a 
10 
 
implementação de abordagens terapêuticas para tratar dos delinquentes, visando 
evitar a reincidência. 
Enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa, focada na repressão social 
do delito por meio de normas legais punitivas, a Criminologia é uma ciência 
causalexplicativa, com ênfase na prevenção, buscando entender as causas 
subjacentes dos delitos e empregando estratégias para reduzir os fatores que 
contribuem para a criminalidade (ZAFFARONI, 2013). 
Portanto, a principal diferença entre o Direito Penal e a Criminologia é que o 
primeiro trata das ações e omissões que constituem um delito, enquanto o segundo 
se concentra nas causas dessas ações e no estudo da personalidade do 
delinquente. 
 Em resumo, a Criminologia não é uma parte do Direito Penal, mas sim uma 
disciplina independente que contribui para uma compreensão mais abrangente do 
crime e do comportamento criminoso, complementando o trabalho do Direito Penal 
(PENTEADO, 2020). 
 
 
4 Criminologia Midiática 
 
O termo Criminologia Midiática foi criado pelo professor, criminólogo e 
penalista argentino, Eugenio Raúl Zaffaroni, um dos maiores pesquisadores nesse 
campo da Criminologia. 
Para o professor Zaffaroni, a Criminologia Midiática surge do populismo penal 
midiático, sobretudo no jornalismo justiceiro, com viés ideológico proveniente do 
neopunitivismo estadunidense das propostas de tolerância zero na busca incessante 
pela segurança absoluta, em detrimento de liberdades públicas fundamentais. Para 
ele, a Criminologia Midiática é constituída de um discurso que é o oposto do 
académico, geralmente oriundo do senso comum, da opinião pessoal (ZAFFARONI, 
2013). 
De acordo com a doutrina, a Criminologia Midiática refere-se ao estudo da 
interação entre o crime, o sistema de justiça criminal e a mídia de massa. A 
cobertura midiática de crimes tem o potencial de moldar a opinião pública sobre a 
criminalidade e os criminosos, bem como influenciar a formulação de políticas 
públicas relacionadas à justiça criminal. 
11 
 
Segundo Paulo Freitas, “a mídia tem um poder extraordinário uma vez que, 
dependendo como atue, tem a capacidade de formar opiniões pró e contra 
determinados assuntos”. (FREITAS, 2016, p.1). E isso ocorre de forma contumaz na 
área penal. Na verdade, a mídia, de uma forma geral, viu no crime, na prática da 
infração penal, uma fonte inesgotável de audiência, pois as pessoas têm um prazer 
mórbido de conhecer, mais profundamente, fatos dessa natureza, principalmente os 
crimes violentos, a exemplo do que ocorre com o delito de homicídio. 
Assim, são inúmeros os casos que ganharam repercussão nacional por conta 
da divulgação feita pela mídia. Não só homicidas famosos, ou seja, aqueles que, de 
alguma forma, eram conhecidos nacional e internacionalmente, mas também 
criminosos comuns que, devido ao modo ou aos motivos que praticaram o homicídio,passaram a receber a atenção da mídia, acabando por receber destaque. 
A mídia desempenha um papel significativo no Tribunal do Júri e na 
Criminologia Midiática, impactando tanto o sistema de justiça criminal quanto a 
opinião pública. A forma como os casos criminais são apresentados e discutidos pela 
mídia pode influenciar a percepção das pessoas sobre a culpa ou inocência de um 
réu, bem como sobre a eficácia do Sistema Judiciário como um todo. 
É através da mídia que as informações percorrem o mundo todo, contribuindo 
para a aproximação das pessoas e configurando como um dos principais poderes da 
sociedade. A responsabilidade de imprensa implica em responsabilidade com os 
fatos e com a verdade, sendo essa a real liberdade de expressão, um direito 
fundamental para a existência de um Estado Democrático de Direito, uma vez que o 
direito à informação e o direito de liberdade de expressão são amplamente 
protegidos pela nossa Constituição. 
Os crimes dolosos contra a vida geram curiosidade e causam grande 
comoção social, atraindo a atenção midiática e cada vez mais atraindo também os 
olhares do público. No entanto, através da midiatização dos crimes, os jurados estão 
suscetíveis a interferências externas. Bastos observa que: 
 
se a pressão e a influência da mídia tendem a produzir efeitos sobre 
os juízes togados, muito maiores são esses efeitos sobre o júri 
popular, mais sintonizado com a opinião pública, de que deve ser a 
expressão. (...). Com os jurados é pior: envolvidos pela opinião 
pública, construída massivamente por campanhas da mídia 
orquestradas e frenéticas, é difícil exigir deles conduta que não seguir 
a corrente. (BASTOS, 1999, p. 115) 
12 
 
 
A imprensa acompanha de perto todo o desenrolar processual e a 
repercussão dos fatos leva muita informação aos jurados, informações essas que 
antecedem ao julgamento, eventualmente podem fazê-los firmar uma convicção. No 
entanto, ao tratar sobre os crimes dolosos contra a vida, na corrida para noticiar em 
primeira mão e buscando auferir lucros, informam de maneira errônea e imparcial. 
Neste sentido, Vieira aduz que: 
 
É ingênuo pensar que os meios de comunicação de massa sejam 
neutros e revelem o fato real com a evidência das imagens. Eles 
podem torcer a realidade e não cumprir a tarefa de transmitir os 
acontecimentos renunciando aos mecanismos técnicos e filtros de 
informações. A notícia do crime, selecionada para a publicação, pode 
ocultar de um lado e relevar de outro. É parte da realidade dos fatos: 
é outro fato estimulado pela criação da imagem do ocorrido, que a 
mídia faz sentir, faz ver pelo público (VIEIRIA, 2003, p. 154) 
 
 
Insta salientar que os espectadores atuarão como juízes, anuindo-lhes o ius 
puniendi. Ocorre que esta é uma questão problemática, uma vez que, com a 
influência externa, o acusado já chega ao seu julgamento previamente condenado, 
violando assim o princípio da presunção da inocência. Conforme observa Vieira: 
 
No clamor dos acontecimentos, o possível autor do crime quando por 
vezes é apenas suspeito de tê-lo praticado muitas vezes é julgado 
pela opinião contra ele publicada pela imprensa. Embora haja, ainda, 
dúvidas sobre o delito, suas circunstâncias e a autoria, mesmo que 
fundadas em elementos de prova, na mídia tornam-se certezas. 
(VIEIRA, 2003, p168) 
 
 
Verifica-se que a interferência da mídia poderá afetar os julgamentos do 
Tribunal do Júri, uma vez que o Conselho de Sentença, composto por pessoas 
leigas, decidem com base em sua íntima convicção, não exigindo nenhuma 
fundamentação de suas decisões, podendo afetar a plena defesa, como demonstra 
Vicenço (2012, p. 16) ao expor que “o jurado, cidadão comum, pode já estar com sua 
opinião formada pela mídia e não tenha condições de separar aquilo que a imprensa 
falou ou escreveu, dos fatos.” 
13 
 
Nesse diapasão, o baixo conhecimento técnico dos jurados ou até mesmo a 
falta total dele, somado ao prévio conhecimento dos fatos através da mídia, pode 
ocasionar inúmeros prejuízos ao indivíduo e à sociedade como um todo. A relação 
entre a mídia e o sistema penal ganha destaque quando examinamos casos reais e 
famosos que receberam ampla cobertura midiática. Esses casos ilustram como a 
criminologia midiática desempenha um papel crucial na formação da percepção 
pública sobre crimes e criminosos. 
Um exemplo notório é o "Caso Isabella Nardoni", que ocorreu em 2008 no 
Brasil. O assassinato de Isabella Nardoni, uma criança de 5 anos, chocou o país. 
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, respectivamente pai e madrasta da 
menina, foram condenados pelo crime. A cobertura midiática intensa e 
sensacionalista desse caso teve um impacto significativo na percepção pública e nas 
investigações, destacando como a mídia pode influenciar a opinião pública sobre um 
caso. 
Outro caso marcante é o "Caso Suzanne von Richthofen", que aconteceu em 
2002 no Brasil. Suzanne von Richthofen e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos 
planejaram e executaram o assassinato dos pais de Suzanne. A cobertura midiática 
maciça desse caso foi impulsionada pela conexão da família von Richthofen com a 
aristocracia alemã. A mídia desempenhou um papel importante na moldagem da 
percepção pública sobre o crime e os culpados. 
No "Caso Daniela Perez", uma atriz brasileira, ocorrido em 1992, Daniela 
Perez foi brutalmente assassinada por Guilherme de Pádua, à época colega de 
elenco da atriz, e sua esposa, Paula Thomaz. O julgamento desse caso atraiu uma 
atenção significativa da mídia, destacando questões como a violência contra as 
mulheres e o papel da mídia na cobertura de casos de alto perfil (GOMES, 2015, 
p.94). 
Por fim, o "Caso Flordelis" também ilustra a influência da mídia na percepção 
pública. O caso envolve a deputada federal brasileira Flordelis, que foi acusada de 
estar envolvida no assassinato de seu marido. A cobertura midiática desse caso 
lançou luz sobre as complexidades da política e do sistema de justiça criminal, e 
como a mídia desempenha um papel central na narrativa pública em torno de tais 
casos (GOMES, 2015, p.94). 
Esses exemplos reais demonstram como a criminologia midiática 
desempenha um papel fundamental na moldagem da opinião pública e na 
14 
 
compreensão dos casos criminais de alto perfil. A influência da mídia nesses casos 
destaca a importância de um exame crítico da relação entre a cobertura midiática e o 
sistema penal. 
 
 
5 A Influência da mídia nas decisões do Tribunal do Júri 
 
Na cobertura de casos de alto perfil, a mídia desempenha um papel crucial, 
fornecendo informações ao público em geral. No entanto, a forma como essas 
informações são alcançadas pode influenciar a opinião pública e, 
consequentemente, os jurados. A mídia muitas vezes se concentra em aspectos 
sensacionalistas dos casos destacando detalhes chocantes ou emocionais, o que 
pode distorcer a percepção dos fatos e influenciar a imparcialidade do Júri. 
A mídia exerce um papel preponderante na dinamização do sistema penal 
pósmoderno. E parte desse papel consiste justamente em disseminar a insegurança, 
explorando o crime de forma a incutir na crença popular um medo que não 
necessariamente corresponde à realidade da violência. A mídia reforça e dramatiza a 
experiência pública do crime colocando o fenômeno criminal na ordem do dia de 
qualquer cidadão, enfatizando, muitas vezes, casos de crimes sensacionalistas e 
violentos, criando uma percepção distorcida de que esses tipos de crimes são mais 
comuns do que realmente são, podendo levar a um sentimento de insegurança 
generalizado (FREITAS, 2016, p.1). 
O desenvolvimento do sentimento de medo e da necessidade de se ter mais 
segurança na sociedade pós-moderna, proporciona uma consequência que atinge 
as pessoas, causando um isolamento social. E esse isolamento causado pelo 
consumo desenfreado da violência e pela sensação depenal”, “você que defende 
bandido, adote um para você” etc. fazem parte de um discurso midiático, 
reproduzido pela população em geral, que não se dedica ao estudo do fenômeno 
criminal da Criminologia Académica, e costuma ser adotado pelo legislador, muitas 
vezes para atender àquilo que a população acredita ser a solução para resolver a 
criminalidade. 
No entanto, o Estado não pode e não deve adotar esse discurso midiático, 
desprovido de qualquer base bibliográfica, científica ou acadêmica. As políticas 
criminais devem estar baseadas nos resultados das pesquisas que são feitas no 
âmbito da Criminologia Científica e da Criminologia Académica. Não pode o 
legislador, muitas vezes com o objetivo de conquistar votos, adotar um discurso 
inflamado e, sobretudo, propor a alteração das leis penais sem base acadêmica e 
científica. 
Portanto, os legisladores e os operadores do Direito, que se dedicam ou 
pretendem se dedicar às ciências criminais devem abandonar o discurso da 
Criminologia Midiática. Do contrário terão dificuldades para compreender não 
só os institutos jurídicos, como também os direitos fundamentais decorrentes da 
Constituição Federal de 1988. 
E, por essa razão, e para que haja uma mudança nas concepções básicas 
atinentes a esse tema, seria de fundamental importância a inclusão do ensino 
jurídico já no Ensino Fundamental, versando sobre essa e outras matérias jurídicas, 
e atingindo a todos de forma indiscriminada, inclusive os futuros jurados e 
legisladores. Paralelamente, os parlamentares deveriam ser submetidos a cursos 
jurídicos sobre os princípios gerais do Direito Penal, para que pudessem 
compreender a forma como a legislação penal deve ser elaborada e como a 
Criminologia deve formar as políticas criminais de Estado. 
Observou-se ao longo desse artigo que a Criminologia Midiática é um 
fenômeno que se manifesta quando a mídia dramatiza e espetaculariza crimes, 
frequentemente retratando os acusados como culpados antes mesmo do 
julgamento. Isso pode levar os jurados a terem preconceitos preexistentes, 
dificultando a imparcialidade do julgamento. E é importante ressaltar que não se está 
buscando a censura prévia à imprensa ou a limitação da liberdade de expressão, 
que são direitos fundamentais em uma sociedade democrática. Pelo contrário, 
19 
 
reconhece-se o papel vital da mídia como um contrapeso ao poder estatal e como 
um meio de informação para o público. 
No entanto, é fundamental que a mídia atue com responsabilidade, evitando 
sensacionalismo e a disseminação de informações tendenciosas ou até mesmo 
falsas, que possam influenciar negativamente o processo de julgamento. Jurados, 
assim como todos os cidadãos, devem ter a oportunidade de ouvir evidências e 
argumentos imparcialmente, sem a interferência de narrativas sensacionalistas ou 
preconceituosas. 
Em conclusão, a relação entre a Criminologia Midiática e a influência da mídia 
nas decisões do Tribunal do Júri é um desafio importante para o sistema de justiça 
criminal. É essencial promover um equilíbrio entre o direito à informação e a garantia 
de um julgamento justo. Isso requer um esforço conjunto de todos os envolvidos, 
incluindo profissionais da mídia, da educação, advogados, magistrados e a 
sociedade em geral, para garantir que a justiça seja alcançada de forma imparcial e 
baseada em evidências, sem interferências externas que possam distorcer o 
processo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Referências 
 
BASTOS, Márcio Thomaz. Júri e mídia. In: Tribunal do júri: Estudo sobre a mais 
democrática instituição jurídica brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. 
 
BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martin Claret, 
2014. 
 
BOLDT, Raphael. Criminologia Midiática: do discurso punitivo à corrosão simbólica 
do garantismo. Curitiba: Juruá, 2013. 
 
BRASIL. Lei nº 11.689, de 9 de junho de 2008. Disponível em: 
. Acesso 
em: 23 de outubro 2023 
 
BURGARELLI, Vítor. Mídia, Direito Penal e Vulnerabilidade: a opinião pública na 
decisão penal. Belo Horizonte: Fórum, 2021. 
 
FREITAS, Paulo César de. Criminologia Midiática e Tribunal do Júri: a influência 
da mídia e da opinião pública na decisão dos jurados. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2016. 
 
GOMES, Marcus Alan. Mídia e Sistema Penal: as distorções da criminalização nos 
meios de comunicação. Rio de Janeiro: Revan, 2015. 
 
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 16 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 
 
PENTEADO, Nestor Sampaio e FILHO, Nestor Sampaio Penteado. Manual 
Esquemático de Criminologia. 10 ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2020. 
 
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri – símbolos e rituais. 3 ed. Porto Alegre: 
Livraria dos Advogados, 1998. 
 
VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. Editora Revista dos 
Tribunais. São Paulo, 2003. 
 
VINCENÇO, Daniele Medina. O poder da mídia na decisão do tribunal do júri. 
(2012). Disponível em . Acesso em: 20 de outubro 
de 2023. 
 
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http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.689-2008?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.639-2008?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.689-2008?OpenDocument
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htmpenal”, “você que defende 
bandido, adote um para você” etc. fazem parte de um discurso midiático, 
reproduzido pela população em geral, que não se dedica ao estudo do fenômeno 
criminal da Criminologia Académica, e costuma ser adotado pelo legislador, muitas 
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No entanto, o Estado não pode e não deve adotar esse discurso midiático, 
desprovido de qualquer base bibliográfica, científica ou acadêmica. As políticas 
criminais devem estar baseadas nos resultados das pesquisas que são feitas no 
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científica. 
Portanto, os legisladores e os operadores do Direito, que se dedicam ou 
pretendem se dedicar às ciências criminais devem abandonar o discurso da 
Criminologia Midiática. Do contrário terão dificuldades para compreender não 
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E, por essa razão, e para que haja uma mudança nas concepções básicas 
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compreender a forma como a legislação penal deve ser elaborada e como a 
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Observou-se ao longo desse artigo que a Criminologia Midiática é um 
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que são direitos fundamentais em uma sociedade democrática. Pelo contrário, 
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reconhece-se o papel vital da mídia como um contrapeso ao poder estatal e como 
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No entanto, é fundamental que a mídia atue com responsabilidade, evitando 
sensacionalismo e a disseminação de informações tendenciosas ou até mesmo 
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assim como todos os cidadãos, devem ter a oportunidade de ouvir evidências e 
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Em conclusão, a relação entre a Criminologia Midiática e a influência da mídia 
nas decisões do Tribunal do Júri é um desafio importante para o sistema de justiça 
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Referências 
 
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<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htm>. Acesso 
em: 23 de outubro 2023 
 
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http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.689-2008?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.639-2008?OpenDocument
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https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htm

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