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( 8 ) Moda Contemporânea mod. 4 Cultura de Moda Contemporânea Introdução Esse capítulo do curso de Moda Contemporânea tem como objetivo reunir os aspectos determinantes que caracterizam o momento atual da moda, suas simbo- logias, a relação com o coletivo e indivíduo. Para tal, serão abordados os temas a fim de compreender o resultado do consumo simbólico nos dias atuais; caracterizar a moda contemporânea com o intuito de elencar as mensagens que a moda tem utilizado para se comunicar com o usuário contemporâneo; e por fim, trataremos dos desafios das marcas de moda nesta época. Desta maneira, os seguintes tópicos serão tratados: · Hiperconsumo; · Característica da moda contemporânea; · Marcas de moda. Hiperconsumo Em outro capítulo, foi feita uma breve análise acerca da evolução histórica da indús- tria e o comportamento da sociedade, a fim de abordar as motivações de consumo na atualidade. A aquisição de novos bens e serviços realizados por influência de neces- sidades abstratas em consonância com tendências compartilhadas por um grupo de pessoas, é o que caracteriza o consumo simbólico. Neste modelo, o design e a publi- cidade são instrumentos da indústria de consumo, fundamentais para gerar na socie- dade o desejo por um novo bem, papel da publicidade, e o design por materializa-lo. Na atualidade, a nova era de consumo simbólico se manifesta resultando em um modelo de consumo exagerado, caracterizado pelo acúmulo de produtos e a sensação no consumidor de constante insaciedade. O modelo mais recente, o hiper- consumo é caracterizado por novas motivações simbólicas de consumo contínuo e excessivo, entretanto, tendo como estímulo à constante busca do indivíduo pelo melhor-viver. Esta nova era de consumo pode ser percebida como um movimento de busca de significado que justifique as já antigas atitudes de acúmulo e de dependên- cia, mas agora, estimulada pela melhor qualidade de vida associada a questões de saúde, cuidado com o meio-ambiente, com relações pessoais e com questões sociais. Este modelo de consumo é também mais exigente quanto à satisfação de suas necessidades, visto que o ponto central de motivação de consumo é o próprio eu do consumidor. Ou seja, os estímulos de compra deixam de ser o destaque social e o status e passa a ser a satisfação pessoal de questões estéticas, emocionais, senso- riais, sanitárias, lúdicas e recreativas, a fim de uma melhor qualidade de vida para si ou para o coletivo. ( UNIDADE ) ( Cultura de Moda Contemporânea ) ( 9 9 ) Figura 1 – Vestido de noiva vegano, de Renata Buzzo Fonte: Renata Buzzo | Reprodução O vestido de noiva ilustrado na Figura 1, da estilista Renata Buzzo, é um exemplo do produto de moda contemporâneo. A peça de roupa vegana não utiliza matéria- -prima ou processos de origem animal, é confeccionado de modo artesanal e utiliza tecidos e tipos de bordados que exaltam a identidade cultural brasileira. É um produ- to de moda que, para além das qualidades estéticas visuais, é referência dos valores contemporâneos de qualidade ética e cultural. Uma marca do hiperconsumo é a busca do indivíduo por produtos que possuam sua própria imagem. Por este motivo, o consumidor é o ponto central deste modelo de consumo. A busca por questões ligadas a equilíbrio, saúde, meio-ambiente, auto- estima e felicidade é um reflexo de como o consumidor da era do hiperconsumo se identifica (CECATTO et al., 2012). Características da Moda Contemporânea Para além dos aspectos da moda, ligados à indústria de cultura ou como parte do capitalismo industrial, a moda é um potente instrumento de comunicação que permi- te ao indivíduo a autoafirmação de suas singularidades por meio do pertencimento a grupos sociais, bem como de diferenciação dos mesmos. O vestuário e os adornos, desde as civilizações mais primitivas, além de promover a satisfação de necessidades práticas, promovia a diferenciação da hierarquia social, como também possibilitava a exaltação das preferências estéticas e simbólicas do indivíduo. Na era contemporânea, os aspectos estéticos e simbólicos são sua principal fun- ção, em consonância com os atuais códigos culturais, éticos, de comportamento e de consumo, características desta sociedade. A moda, enquanto um instrumento ar- tístico e de comunicação, retrata os anseios emocionais e aspiracionais em resposta ao contexto no qual está envolto. Ou seja, a moda contemporânea é tanto reflexo da sociedade, quanto parte estruturante do sistema que a constitui. Alguns aspectos importantes marcam o momento atual da moda, são eles: slow fashion e sustentabi- lidade, feminismo, agênero, arte e tecnologia. Sustentabilidade e Slow Fashion A moda, nas últimas décadas, tem buscado caminhos sustentáveis diante da rea- lidade de se mostrar como principal gerador de problemas ambientais graves, como o aquecimento global, a perda da biodiversidade e da diversidade cultural. Susten- tabilidade é a competência de se manter de forma independente, sem colocar em risco os elementos do meio ambiente. Desenvolvimento sustentável é aquele que melhora a qualidade da vida do homem na Terra ao mesmo tempo em que respeita a capacidade de produção dos ecossistemas nos quais vivemos. Ele busca solucionar as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades. Aplicação da sustentabilidade significa que todas as atividades realizadas devem sofrer avaliação mais aprofundada para determinar todos os seus efeitos sobre meio ambiente (Figura 2). · Transparência Contábil · Governança Corporativa · Performance Econômica · Objetivos Financeiros Sustentabilidade · Políticas Públicas · ( ECONÔMICO SOCIAL AMBIENTAL )Investimento Comunitário · Condições de Trabalho · Saúde/ Nutrição · Diversidade · Direitos Humanos · Investimento Social Responsável · Anticorrupção e Suborno · Segurança · Energia · Água · Gases do Efeito Estufa · Reciclagem · Repreocessamento/ Reuso · Limpeza Verde ( 10 )Figura 2 – Tripé da sustentabilidade Diferentes atores da indústria da moda têm criado ações que visam a construir uma nova estrutura de produção e de consumo que gere menos impacto no meio ambiente. Slow fashion é um movimento que propõe uma moda devagar em resposta ao fast fashion, no sentido de desacelerar o consumo e a produção desse setor em respeito ao meio-ambiente. Tem como objetivo a preservação dos recursos naturais ( 11 11 ) e o resgate de processos com menor impacto ambiental. Propõe também o resgate de técnicas, materiais e estéticas culturais, a fim de promover as identidades cultu- rais. Para o desaceleramento da produção e do consumo, promove a adoção de um número reduzido de coleções. O slow fashion lança olhar para os meios produtivos do mercado da moda, propon- do laços de mais valor e respeito aos setores de modelagem, de corte, de costura e de montagem, também em resposta ao que, normalmente, se pratica na larga indústria que remunera de forma inadequada estes profissionais e que, em muitos casos, traba- lham em situações de exploração, principalmente em regiões menos desenvolvidas. Diante desse contexto, a moda ética está comprometida com esses valores, e preocupa- -se com todo ciclo de vida do produto da moda, os aspectos sociais da mão-de-obra envolvida, o uso responsável de recursos naturais e a valorização da diversidade cultural. Veganismo A moda vegana surge como resultado da transformação no consumo, optando por escolhas mais conscientes que prezam por produtos e roupas livres do sofrimento animal e, são, frequentemente, feitas de modo artesanal (Figura 3). O veganismo se baseia na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, feita pela UNESCO, que condena o abuso e a exploração de quaisquer produtos que tenham sua origem e não utilizam materiais como: lã, seda e couro. É uma nova tendência de compor- tamento característico da sociedade contemporânea que se reflete no mercado de moda, a fim de suprir uma nova necessidade de consumo e de pertencimento social. Figura 3 – Marca vegana SvetianaFonte: Divulgação ( 12 ) ( Quer conhecer mais iniciativas nacionais de marcas de moda com iniciativas que inovam nos segmentos de slow fashion e veganismos? Disponível em: https://bit.ly/2FOLZEt ) Feminismo A moda sempre foi uma ferramenta de comunicação e de difusão do feminismo, no sentido de criar peças utilitárias adequadas às novas demandas da mulher, como também refletir as transformações sociais que aconteciam. O feminismo e a moda caminham juntos há décadas, muito antes das camisetas estampadas com afirma- ções de empoderamento. Nas décadas de 1915, mulheres precisaram assumir postos de trabalho a fim de suprir a ida de homens para os campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. Para atuar em funções como carteiros, cobradores de ônibus, entre- gadores em geral e mesmo os da indústria bélica, peças de indumentárias que antes eram exclusivamente masculinas, passaram a fazer parte do cotidiano destas mulhe- res que trabalhavam fora de casa. Foi o caso da calça comprida, o sapato pesado, o funcionalismo das roupas com abotoamento frontal e o uso do cinto de maneira aparente. Na década de 1920, a moda aproximou os limites do vestuário masculino e feminino, com destaque para a Chanel. ( Blusas com dizeres feministas nos desfiles da Dior em 2016 e 2018: https://bit.ly/2Ex2XX i ) Em 1940, a mulher retoma papel de destaque na sociedade e, nos anos de 1960, com a pílula anticoncepcional, se estabelece de modo mais marcante no mercado de trabalho. Na moda, a minissaia e as versões femininas de smolkins de Yve Saint Lourent refletem estes passos de independência. O movimento hippie dos anos 1960 e 1970, popularizaram ascalças jeans. Em 1980, o terno é relançado em con- sonância com a mulher em posição de poder na sociedade. Este poder foi retratado também na década de 1990, na tendência Lesbian Chic, trazendo elementos da estética de moda masculina para o feminino. Na atualidade, a diversidade dos padrões de beleza e o empoderamento femi- nino são algumas das causas feministas que a moda tem assumido em favor da equidade de gênero (figura do link anterior). O empreendedorismo feminino é um tema comum no feminismo dos últimos anos, em reação aos modelos tradicionais do mercado executivo que ainda hoje não favorece a presença feminina. A mulher recorre ao próprio negócio como estratégia de independência, principalmente, em negócios nas áreas da moda. ( 13 13 ) ( Leia mais sobre o feminismo na moda contemporânea. Veja os links a seguir: Moda e feminismo, disponível em: https://bit.ly/2EwhoL3 Muito mais que tendência: moda feminista é uma causa, disponível em: https://bit.ly/3j0cqFm Movimento Feminista na moda, disponível em: https://bit.ly/3j4LLr1 A moda como forma de ativismo feminista, disponível em: https://bit.ly/2Gb4F12 ) Agênero A moda sem segmentação de gênero é conhecida como unissex, plurissex, gender- -bender, agênero ou andrógenas. A diversidade sexual e de gênero é uma caracterís- tica contemporânea da sociedade que reflete nos modos de consumo de moda. Esta última é concebida sem a necessidade de se encaixar em noções binárias de gênero e a personalidade do consumidor decide o que lhe cai bem. Uma das falsas concep- ções a respeito da moda agênero a interpreta como formada por peças básicas, sem estampas, de modelagem baggy, composta por calças de moletom e t-shirts. ( Para conhecer mais sobre a tendência da moda agênero, acesse: O que é moda agênero e como ela se relaciona com o movimento body positive , disponível em: https://bit.ly/33ZFmH9 Conheça mais sobre a moda agênero e as empresas que investem nesse conceito, disponível em: https://bit.ly/3mOB8Ll ) Arte e tecnologia A moda não retrata apenas as transformações sociais, mas as tecnológicas tam- bém, obviamente. As inovações nas áreas de tecnologia influenciam não apenas os novos tecidos e processos produtivos, mas produtos de moda que agregam a solução de necessidades também práticas. A tecnologia digital utilizada na moda, chamada de wearable, lança roupas que interagem com o usuário, detectando ações que po- dem ser acionadas automaticamente. Isto resulta em tecidos que se adaptam às mu- danças de temperatura do corpo ou que se regeneraram sozinhos após de rupturas. As inovações da tecnologia digital está presente na moda, também, como novas possibilidades de expressão artística. Chamada de wearable art, a arte vestível ex- pressa novas possibilidades estéticas que remetem a futurismo, agênero de maneira transgressora e artística, agregando à moda, a experiência ligada à arte. Esta ten- dência pode ser associada aos parâmetros contemporâneos de diversidade social refletidos nos padrões de beleza, de gênero, de sexo e de estética. ( 14 ) ( Para conhecer outros casos interessantes de arte e de tecnologia na moda, acesse os links a seguir: Tecnologia wearable: como combinar tecnologia e design de moda, disponível em: https://bit.ly/366bbkg World of WearableArt , disponível em: https://bit.ly/2G8DovQ ) ( Wearable Art , de Van Der Wat & Karl Van Der Wat, 2013: https://bit.ly/32TEswM ) Marcas de Moda Contemporânea A roupa é um elemento que distingue o ser humano enquanto cidadão e o faz a partir dos novos significantes que surgem na vida em sociedade. Na sociedade de hiperconsumo, a marca de moda conquista importância à medida que se conecta às necessidades imaginárias e aspiracionais do seu nicho. São os novos códigos sociais, as simbologias, os hábitos, as tendências de comportamentos, as novas expressões artísticas que influenciam as tendências de moda. Sendo assim, é fundamental à marca de moda contemporânea compreender as relações sociais da sua época, es- tando atentas aos anseios do consumidor. O gestor de uma marca de moda precisa se manter constantemente atento às mudanças sociais, a fim de se adaptar às novas demandas práticas e simbólicas do seu consumidor (CECATTO et al., 2012). image3.png image4.png image5.png image6.png image7.png image8.png image9.jpeg image2.jpeg image1.png