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RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO: A Lei de Execução Penal No Brasil Aluno 1Carlos Barbosa 2 Aluno 2 Gleiciane Amorim3 Professor(a)Danielle Seabra4 RESUMO Este trabalho aborda a evolução do sistema de execução penal no Brasil, destacando as principais mudanças nas leis e seus impactos no sistema prisional. A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) é o foco principal, pois trouxe avanços importantes na forma como os condenados são tratados, buscando uma abordagem mais humanizada e focada na ressocialização. Também são analisados marcos históricos, como o Código Criminal de 1830 e a Constituição de 1934, que ajudaram a moldar o sistema penal brasileiro. O estudo mostra como essas mudanças contribuem para reduzir a reincidência e promover a reintegração social dos presos. Palavras-chave: Execução Penal, Ressocialização, Sistema Prisional, Lei de Execução Penal. 1Paper apresentado à disciplina de Processual Penal III, da Faculdade Supremo Redentor. 2Aluno(a) Carlos Barbosa do 8° período do Curso de Direito, FACSUR. 3Aluno(a)Gleiciane Amorim do 8° período do Curso de Direito, FACSUR. 4Professor(a) orientador da disciplina: Danielle Seabra 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo explorar a evolução da execução penal no Brasil, desde as primeiras legislações até as normas atuais. A execução penal é a etapa do Direito Penal em que o Estado aplica a pena definida pelo juiz, garantindo que o condenado cumpra a punição de acordo com a lei. No entanto, esse processo nem sempre foi bem organizado ou focado na ressocialização dos presos, o que acabou resultando em problemas no sistema prisional ao longo do tempo. No início da história do Brasil, a Constituição de 1824 e o Código Criminal de 1830 não tratavam de maneira adequada a execução das penas. O foco era apenas punir, muitas vezes de forma desumana. Por exemplo, o Código Criminal de 1830 previa penas como o trabalho forçado e a pena de morte. Somente com a promulgação da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) é que houve uma mudança significativa, trazendo uma abordagem mais focada nos direitos humanos e na ressocialização dos presos. O presente estudo será baseado em uma pesquisa bibliográfica, ou seja, será feita a partir da leitura e análise de livros e artigos sobre o tema. Entre os autores que servem de base para essa pesquisa, estão Alexis Couto de Brito (2023), Norberto Avena (2019), Guilherme de Souza Nucci (2023) e Renato Marcão (2017). Esses autores discutem a evolução do sistema de execução penal no Brasil e como ele foi se ajustando ao longo dos anos para se tornar mais justo e humanitário. O objetivo geral deste trabalho é analisar como a execução penal no Brasil evoluiu ao longo do tempo, com foco nas principais leis e mudanças no sistema penitenciário. Mais especificamente, o trabalho busca, entender o impacto das primeiras constituições brasileiras e do Código Criminal de 1830 no sistema de execução penal, identificar as principais mudanças trazidas pela Lei de Execução Penal de 1984, que busca humanizar o tratamento dos condenados e discutir a autonomia do Direito de Execução Penal no sistema jurídico, ou seja, entender como ele se tornou uma área independente, com regras próprias, apesar de estar relacionado ao Direito Penal e ao Direito Administrativo. Esse tema é importante porque, ao longo dos anos, o Brasil enfrentou diversos desafios em seu sistema prisional. O estudo dessas leis e da evolução do sistema ajuda a compreender o que já foi feito e o que ainda precisa ser melhorado para garantir que as penas sejam aplicadas de forma justa e que os presos tenham chances reais de se reintegrar à sociedade. Além disso, essa discussão contribui para o debate sobre a importância de se respeitar os direitos humanos no processo de execução penal. Contudo este trabalho pretende mostrar como o sistema de execução penal no Brasil mudou ao longo do tempo, sempre com o foco em garantir que as penas sejam cumpridas de forma justa e que os direitos dos condenados sejam respeitados. A pesquisa oferece uma visão histórica e crítica sobre as transformações no sistema, destacando os desafios e avanços na busca por uma justiça penal mais humanizada e eficiente. 2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO REGIME DE EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL Conforme apontado por Brito (2023, p. 49), a história legislativa brasileira evidencia um notável desprezo pela execução penal, especialmente nos primeiros séculos de nossa formação como nação. A Constituição de 1824, por exemplo, não dedicava qualquer dispositivo específico à matéria, limitando-se a algumas menções esparsas sobre as condições de detenção. Essa negligência perdurou por décadas, resultando em um sistema penitenciário precário e marcado pela desumanidade. As primeiras leis a tratar do tema, como o Código Criminal do Império de 1830, apresentavam um enfoque punitivista e pouco humanitário, com penas cruéis e degradantes. A primeira Constituição do Brasil, em 1824, não tratava diretamente da execução das penas. Apenas alguns artigos, como o 179, tocavam no tema de forma indireta, falando sobre a proteção dos direitos dos condenados e as condições mínimas das prisões, mas sem criar regras específicas sobre como as penas deveriam ser cumpridas (BRITO, 2023, p. 49). Com o Código Criminal de 1830, houve algumas tentativas de organizar melhor o sistema de penas, como o uso de trabalhos forçados e a pena de morte. Mesmo assim, ainda faltava uma estrutura mais clara para garantir que essas punições fossem aplicadas de forma justa e individualizada, respeitando as características de cada preso, como mulheres e menores de idade (BRITO, 2023, p. 50). Durante o Império, várias leis isoladas trataram da execução penal, como a que permitia reduzir a pena pelo tempo de trabalho realizado na prisão (Decreto n. 1.696 de 1869). Apesar disso, uma regra mais completa sobre o tempo de prisão antes da condenação só veio depois, com a Proclamação da República, em 1890 (BRITO, 2023, p. 51). O Código Penal de 1890 trouxe novidades, como a prisão celular e o banimento, mas ele foi bastante criticado na época. O problema principal era que a execução das penas ainda era tratada de forma muito simples e não havia uma preocupação maior em regular como as penas deveriam ser cumpridas de maneira organizada (BRITO, 2023, p. 51). Um avanço importante ocorreu na Constituição de 1934, que deu ao governo federal a responsabilidade de criar regras para o sistema penitenciário. Mas, infelizmente essa questão foi deixada de lado na Constituição de 1937. Alguns especialistas, como Cândido Mendes, tentaram melhorar a situação com novos projetos de lei, mas esses projetos acabaram não sendo aprovados por causa de mudanças nas leis posteriores, como o Código Penal de 1940 (BRITO, 2023, p. 52). Somente na década de 1980, o Brasil começou a organizar melhor as regras para a execução das penas. Uma equipe de especialistas, como René Ariel Dotti, ajudou a criar a Lei de Execução Penal de 1984. Essa lei trouxe uma abordagem mais humanizada para o tratamento dos presos, além de garantir a proteção dos direitos humanos e a prevenção de novos crimes (BRITO, 2023, p. 54-55). Ao longo dos anos, o Brasil teve várias tentativas de melhorar a execução penal, mas muitas dessas tentativas falharam ou ficaram incompletas. Foi apenas na década de 1980 que o país conseguiu consolidar uma lei mais justa e organizada, focada em garantir que o sistema penal fosse mais eficiente e humanizado. 3 EXECUÇÃO DA PENAS A execução penal é a fase em que o Estado põe em prática a punição estabelecida na sentença, tornando efetiva a sanção aplicada ao condenado. Não há necessidade de uma nova citação do réu, já que ele foi devidamente informado do processo penal e teve a oportunidade de recorrer da condenação. O objetivo, aqui, é garantir que a pena seja cumprida de acordo com as finalidades estabelecidas (Nucci, 2023). No caso da execução de penas de multa, há um procedimento específico. O condenado deve ser citado novamente, pois a multa passa a ser tratada como uma dívidaativa da Fazenda Pública. No entanto, a cobrança ocorre no juízo de execuções penais, sendo uma ação promovida pelo Ministério Público (Nucci, 2023). Após o trânsito em julgado, ou seja, quando não há mais possibilidade de recurso, a sentença condenatória se torna um título executivo judicial. Nesse momento, o processo penal entra em uma nova fase, a execução da pena. Embora tenha algumas particularidades, como o fato de o juiz iniciar o processo de ofício na maioria dos casos, a execução penal é a etapa em que o Estado efetiva sua pretensão punitiva (Nucci, 2023). A sentença condenatória é o principal título a ser executado durante a fase de execução penal, geralmente em uma Vara de Execuções Penais especializada. No entanto, além da sentença, há também decisões interlocutórias ao longo da execução da pena, que devem ser cumpridas conforme a individualização da sanção imposta ao condenado (Nucci, 2023). Durante a execução penal, várias decisões interlocutórias podem ser tomadas pelo juiz, como a mudança de regime (fechado para semiaberto, semiaberto para aberto), a concessão de remição de pena, o deferimento de livramento condicional e a aplicação de indulto ou comutação de pena. Essas decisões são importantes para ajustar o cumprimento da pena às condições do condenado (Nucci, 2023). Ao final do processo de execução penal, o juiz deve proferir uma sentença declarando a extinção da punibilidade do condenado. Essa decisão finaliza a execução da pena, confirmando que o condenado cumpriu todas as obrigações impostas pelo Estado, encerrando, assim, o processo (Nucci, 2023). Destarte a execução penal trata de como a pena é cumprida após a condenação, evoluiu para ser considerada um ramo independente do direito. Isso porque ela envolve regras que combinam aspectos do direito administrativo, penal e processual penal. Essa evolução é reconhecida por diversos autores, como Armida Bergamini Miotto, que defende a autonomia do Direito Penitenciário (BRITO, 2023, p. 56-58). A execução penal é fundamental para garantir que a justiça seja feita e que os direitos dos condenados sejam respeitados. Ela busca encontrar um equilíbrio entre a punição do crime e a possibilidade de ressocialização do indivíduo, ou seja, de que ele possa voltar a viver em sociedade de forma produtiva. Um dos objetivos principais da execução penal é a ressocialização dos presos. Isso significa oferecer oportunidades para que eles possam se preparar para voltar à sociedade, através de programas de educação, trabalho e tratamento. Alguns especialistas discutem qual o melhor nome para essa área. Há aqueles que a chamam de Direito Penitenciário, enquanto outros preferem Direito da Execução Criminal. O termo "Penitenciário" vem da palavra "penitência", ou seja, está relacionado à ideia de punição. Se seguíssemos uma lógica estrita, deveríamos chamar o Direito Penal de Direito Criminal, porque ele trata do crime. No entanto, a expressão Direito Penal prevaleceu, e, da mesma forma, a nomenclatura Direito Penitenciário foi adotada para se referir às normas que regulamentam a execução da pena (BRITO, 2023, p. 57). No cenário internacional, o termo "Direito Penitenciário" é amplamente utilizado para tratar das normas relacionadas à execução penal. No entanto, no Brasil, essa expressão não reflete completamente o que a Lei de Execução Penal (LEP) propõe. A legislação brasileira, especificamente o art. 1º da LEP, vai além das questões do encarceramento e estabelece que a execução penal deve também garantir a reintegração social do condenado (Avena, 2019). No Brasil, a Lei de Execução Penal não se limita a questões sobre o sistema prisional, mas também envolve a reabilitação dos condenados. Por isso, o termo "Direito Penitenciário" é considerado insuficiente para abranger toda a complexidade da execução penal. Assim, o uso da expressão "Direito de Execução Penal" é mais adequado, pois se refere tanto ao cumprimento da sentença quanto às medidas de reintegração (Avena, 2019). Ao longo do tempo, houve uma discussão sobre qual seria a melhor denominação para o ramo que trata da execução das penas. Na Exposição de Motivos da LEP, ficou definido que o termo "Direito de Execução Penal" seria o mais apropriado. Autores como Roberto Lyra e Ítalo Luder sugeriram outros nomes, mas a escolha da denominação brasileira abrange de forma mais ampla as normas sobre o cumprimento das penas e a reintegração dos condenados (Avena, 2019). Atualmente, muitos autores preferem o termo Direito da Execução Penal, inspirados por doutrinas estrangeiras, como as de Stanislaw Plawski e Eugenio Cuello Calón. Essa expressão reflete melhor a natureza dogmática da área, que se concentra na aplicação normativa da pena e no cuidado com o egresso, ou seja, aquele que já cumpriu sua pena. O objetivo dessa área é garantir que a pena seja aplicada dentro dos limites da sentença e respeitando os direitos do preso, conforme estabelecido pela lei (BRITO, 2023, p. 57-58). Além disso, é importante entender que o Direito da Execução Penal envolve não apenas regras jurídicas, mas também aspectos administrativos, já que a execução da pena depende de várias normas administrativas. Assim, ele acaba se relacionando com outras áreas do direito, como o Direito Penal e o Direito Administrativo (BRITO, 2023, p. 58). O Direito da Execução Penal trata das regras que garantem o cumprimento da pena de forma justa e dentro dos limites legais, sendo um campo complexo que vai além da simples aplicação da sentença, envolvendo também aspectos administrativos e sociais. O Direito de Execução Penal deve ser tratado como um ramo autônomo do ordenamento jurídico, embora tenha uma relação estreita com o Direito Penal e o Processo Penal. Essas disciplinas fornecem os princípios constitucionais que guiam a execução penal, mas ela possui legislação própria e metas distintas (Nucci, 2023). Apesar de ser uma ciência independente, o Direito de Execução Penal mantém uma conexão natural com o Direito Penal e o Processo Penal. A sua base está nos direitos e garantias constitucionais derivadas dessas áreas, o que reforça sua vinculação, mas sem prejudicar sua autonomia (Nucci, 2023). A autonomia do Direito de Execução Penal é reforçada pela existência de Varas Privativas de Execução Penal, mostrando a especialização e a relevância desse ramo no âmbito judiciário. Além disso, sua natureza envolve tanto aspectos jurisdicionais quanto administrativos, o que o diferencia de outros ramos do Direito (Nucci, 2023). A Lei n. 9.099/95 criou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e, em seu art. 1º, estabeleceu a competência desses juizados para lidar com a conciliação, o processo, o julgamento e a execução das causas que lhes são apresentadas (COUTO DE BRITO, 2023, p. 61). Nos Juizados Especiais Criminais, pode-se realizar a transação penal. Isso significa que, se o autor da infração aceitar, pode-se aplicar uma pena alternativa imediatamente, como prestação de serviços à comunidade ou uma multa. A execução dessa pena, aplicada antecipadamente, é de responsabilidade do próprio juizado especial. Além disso, esses juizados também são responsáveis pela execução das penas restritivas de direitos, que são penas alternativas à prisão, mesmo que essas penas sejam aplicadas ao final do processo. Porém, se, após o procedimento sumaríssimo previsto pela Lei n. 9.099/95, o juiz decidir aplicar uma pena privativa de liberdade, ele deve encaminhar a carta de recolhimento ao juízo da execução penal. É esse juízo que ficará responsável por executar a sentença condenatória (COUTO DE BRITO, 2023, p. 61). 4 AUTONOMIA E COMPLEXIDADE DO DIREITO DE EXECUÇÃO PENAL A execução penal é um processo fundamental dentro do sistema de justiça, responsável por garantir que as penas estabelecidas pelas sentenças condenatórias sejam efetivamente cumpridas. O objetivo principal da execução penal é assegurar que o comando da sentença seja realizado, seja no caso de uma condenação (pena privativa de liberdade ou multa) ou de uma absolvição impropriamente considerada,como ocorre com as medidas de segurança. Conforme Renato Marcão (2017, p. 28), a Lei nº 7.210/1984, que trata da execução penal no Brasil, foi criada para implementar uma política voltada para a recuperação e ressocialização dos condenados. A lei define procedimentos e responsabilidades para a execução das penas, com um enfoque significativo na função do Juiz da Vara das Execuções Penais. Isso significa que, além de aplicar as penas, o sistema também busca promover a reabilitação dos condenados, com o intuito de reintegrá-los à sociedade. A Lei nº 7.210/1984, conhecida como Lei de Execução Penal (LEP), incorporou princípios que visam não apenas punir, mas também reeducar o condenado. Segundo o Superior Tribunal de Justiça (STJ), a lei é um reflexo de um ideal mais amplo, que é a busca pela recuperação e reintegração do indivíduo à sociedade. Como observado no HC 19.614/MG, a atuação do Juiz da Vara das Execuções Penais é essencial nesse processo, pois ele é responsável por supervisionar e assegurar que a execução da pena esteja alinhada com os princípios de justiça e reabilitação (STJ, HC 19.614/MG, 6ª T., rel. Min. Vicente Leal, j. 12-3-2002, DJ de 7-10-2002, p. 302). Portanto, o objeto da execução penal não se limita apenas ao cumprimento das penas impostas pelo juiz, mas abrange também um esforço contínuo para a reintegração social dos condenados. A lei e a prática da execução penal buscam equilibrar a necessidade de justiça com a possibilidade de recuperação, refletindo um sistema que valoriza tanto a segurança pública quanto os direitos humanos e a dignidade do condenado. A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) tem um objetivo duplo, punir e humanizar. Isso significa que, além de aplicar a pena estabelecida pela justiça, a lei busca também promover a recuperação e reintegração social do condenado. Esse enfoque é conhecido como teoria mista ou eclética e reflete uma abordagem equilibrada entre a punição e a reabilitação. Renato Marcão (2017, p. 29) explica que a Lei de Execução Penal adota essa teoria mista para alcançar a reabilitação do condenado, oferecendo condições para sua reintegração na sociedade. O artigo 1º da Lei nº 7.210/1984 revela que o principal objetivo da pena é a reinclusão social do condenado, e não a sua exclusão. Esse princípio está alinhado com a Constituição Federal, que valoriza a dignidade humana e busca construir uma sociedade justa e solidária. A execução penal tem como um de seus principais objetivos a reforma e a reintegração social dos condenados. A Lei de Execução Penal adota uma perspectiva que visa não apenas a punição, mas também a humanização do tratamento dos condenados (Marcão, 2017, p. 30). Esse enfoque está alinhado com o Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), que estabelece que as penas privativas de liberdade devem buscar a readaptação social dos indivíduos (Marcão, 2017, p. 30). Contudo, a realidade nas prisões pode ser bem diferente do ideal. Segundo Manoel Pedro Pimentel, os condenados frequentemente se adaptam aos padrões do ambiente carcerário, desenvolvendo comportamentos adequados para sobreviver na prisão em vez de serem preparados para a vida fora dela. Pimentel argumenta que, em muitos casos, o condenado não está sendo reabilitado para a sociedade, mas sim "prisonizado", ou seja, adaptado à vida dentro da prisão (Pimentel, 1983, p. 158, citado por Marcão, 2017, p. 30). As Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos, conhecidas como Regras de Mandela, também enfatizam que o objetivo do encarceramento deve ser a proteção da sociedade e a redução da reincidência. Essas regras sugerem que o tempo na prisão deve ser utilizado para preparar o condenado para uma reintegração eficaz na sociedade, garantindo que ele possa levar uma vida autossuficiente e respeitar as leis após a soltura (Regras de Mandela, Regra 4, item 1, citado por Marcão, 2017, p. 30). Portanto, a harmônica reintegração social dos condenados é um componente essencial da execução penal. O sistema de justiça deve garantir que o tempo de prisão seja usado de maneira a promover a reintegração social, contribuindo para a segurança pública e a redução da reincidência criminal (Marcão, 2017, p. 30). Quando estudamos como as penas são aplicadas e executadas, precisamos entender que há três áreas diferentes, cada uma com seu foco específico. Essas áreas são o Direito da Execução Penal, o Direito Penitenciário e a Penologia. Direito da Execução Penal é o conjunto de regras que lida com a execução de todas as penas impostas pela justiça. Ele é mais amplo que o Direito Penitenciário porque cobre todo o processo de execução das penas, não apenas a forma como os presos são tratados dentro da prisão (MARCÃO, 2017, p. 31). Já o Direito Penitenciário se concentra apenas na vida dos presos. Seu objetivo é melhorar as condições dentro das prisões e assegurar que o tratamento dos reclusos seja o mais justo possível. Ou seja, enquanto o Direito da Execução Penal lida com a execução das penas de forma geral, o Direito Penitenciário está mais voltado para o ambiente prisional e o tratamento dos detentos (MARCÃO, 2017, p. 31). Penologia é o estudo das penas e medidas de segurança, e também do sistema de apoio aos condenados após a prisão. Ela examina como as penas são aplicadas e quais são os direitos e deveres dos condenados. A Penologia busca entender não só a execução das penas, mas também os princípios gerais que regem o sistema penal e as formas de reintegração dos condenados na sociedade (PIRES NETO; GOULART, 1998, p. 49, citado por MARCÃO, 2017, p. 31). Cada uma dessas áreas tem uma função específica no sistema de justiça penal. O Direito da Execução Penal é sobre a aplicação das penas, o Direito Penitenciário é sobre as condições dentro das prisões, e a Penologia estuda a teoria das penas e como reintegrar os condenados à sociedade. 1 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na análise apresentada ao longo deste trabalho, fica claro que a execução penal no Brasil passou por significativas transformações ao longo de sua história. Desde os primeiros marcos legislativos, como a Constituição de 1824 e o Código Criminal de 1830, até a criação da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984), o sistema penal brasileiro evoluiu de um modelo puramente punitivista para um enfoque mais humanitário, onde a ressocialização dos condenados passou a ser um dos objetivos centrais. A criação da Lei de Execução Penal representou um avanço importante, pois trouxe uma abordagem mais voltada aos direitos humanos, buscando equilibrar a necessidade de punir os crimes com a responsabilidade de reintegrar o condenado à sociedade. A implementação de medidas como a progressão de regime, a remição de pena por trabalho e estudo, além da ampliação dos direitos dos presos, são exemplos claros dessa mudança. No entanto, apesar dos avanços legislativos, a realidade do sistema prisional brasileiro ainda enfrenta desafios que dificultam a plena aplicação dos princípios estabelecidos pela Lei de Execução Penal. Superlotação, condições inadequadas das unidades prisionais e a falta de programas efetivos de ressocialização são problemas que comprometem a eficácia do sistema e o retorno dos presos à sociedade de maneira produtiva. Assim, é necessário que as políticas públicas continuem a buscar melhorias nas condições carcerárias e que a sociedade civil se engaje no processo de ressocialização, entendendo que a pena não deve apenas punir, mas também oferecer uma segunda chance para os condenados. Em conclusão, este trabalho reforça a importância da execução penal como ferramenta de justiça, que vai além da punição e se preocupa com a recuperação e reintegração dos apenados. A Lei de Execução Penal, apesar de seus desafios na aplicação prática, representa um marco de progresso no ordenamento jurídico brasileiro, e seu cumprimento pleno depende do esforço conjunto de toda a sociedade e das instituições envolvidas. REFERÊNCIAS AVENA Norberto. Execução penal / Norberto Avena. – 6. ed. – Rio de Janeiro:Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.> Disponivel em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788530987411/epubcfi/6/10[%3Bvnd.vst.idref%3Dhtml4]!/4/46/1:20[740%2C-4]. >acesso em: 07-09-2024. BRITO Alexis Couto de. Execução penal / Alexis Couto de Brito. – 8. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2023. > Disponivel em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786553624573/epubcfi/6/28[%3Bvnd.vst.idref%3Dmiolo10.xhtml]!/4/2/2/2.> acesso em: 08-09-2024. MARCÃO Renato. 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