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51 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 3 Procedimentos contábeis específicos Este capítulo reúne temas específicos da contabilidade pública no Brasil. Ao longo dos anos, foram desenvolvidas atividades peculiares do serviço público, como: o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), para financiar a educação básica; a possibilidade de servi- ços públicos serem prestados pela iniciativa privada; e a criação de re- gulamentos específicos de previdência para determinados grupos da sociedade. Somam-se a essas peculiaridades a gestão financeira do recurso público, por exemplo, quando o cidadão ou a empresa contri- buinte deixam de pagar os tributos devidos por lei, originando a dívida ativa; ou quando as diferentes esferas de governos contraem dívidas 52 Normas e práticas de contabilidade do setor público M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .por meio de operações de crédito ou reconhecem dívidas por meio de precatórios. Este capítulo visa a conceituar, de forma clara e precisa, essas operações, mostrar seu respaldo legal e apresentar os procedi- mentos contábeis específicos de cada uma delas. 1 Fundeb O Fundeb existe desde 19 de dezembro de 2006 e tornou-se per- manente a partir de agosto de 2020. PARA SABER MAIS A origem do Fundeb está no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), que funcionou em todo o país de 1º de janeiro de 1998 e até 31 de dezembro de 2006. Em substituição ao Fundef, foi prevista a criação de um fundo, em cada estado e no Distrito Federal, com o objetivo de assegurar a destinação de recursos orçamentários para a educação, em obediência aos per- centuais estabelecidos no artigo 212 da Constituição Federal. Esses fundos teriam a duração de 14 anos, um ciclo escolar completo, e esperava-se, ao final do ciclo, uma melhoria nos resultados da educação básica pública. Ao não se verificarem melhorias significativas, o Con- gresso Nacional optou por atualizar o Fundeb, o transformando em ins- trumento permanente de financiamento da educação pública por meio da Emenda Constitucional no 108, de 27 de agosto de 2020. A Lei no 14.113 de dezembro de 2020 fez sua regulamentação (FNDE, 2017, n.p). Conforme dispõem o inciso IV do artigo 212-A da EC 108/2020 e o arti- go 4º da Lei no 14.113, a União complementará os recursos dos fundos estaduais quando o aporte da unidade federada for inferior ao mínimo estabelecido do valor anual por aluno. Ou seja: existe um subsídio do go- verno federal para os estados em que a arrecadação dos tributos esta- duais e outras fontes vinculadas ao financiamento da educação não to- talizem o valor legal mínimo necessário ao financiamento da educação. 53Procedimentos contábeis específicos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. O cuidado com o registro das operações do Fundeb inicia com a cor- reta contabilização das receitas tributárias de arrecadação própria e de repartição das unidades federadas. Essas informações são declaradas no sistema de informações sobre orçamentos públicos em educação (Siope), que segue com a atenção aos limites mínimos e máximos do uso dos recursos, em especial à remuneração mínima dos profissio- nais de educação do munícipio ou estado, e o total de recursos a serem aplicados na educação básica. Por fim, a prestação de contas se dá em relatórios mensais, bimestrais e anuais. 2 Concessões de serviços públicos A concessão de serviços públicos está prevista no artigo 175 da Constituição Federal, na Lei no 8.987 de 13 de fevereiro de 1995 e outras normas legais. A NBC TSP 5 estabelece os parâmetros para seu reco- nhecimento e registros contábeis, na entidade concedente, com base no Ipsas 32 (Service Concession Arrangements: Grantor). IMPORTANTE Conceitos para contabilização dos recursos envolvidos em concessões de serviços públicos Acordo vinculante: corresponde ao contrato ou outros acordos que conferem às partes direitos e obrigações tal como se estivessem na forma de contrato. Concedente: é a entidade que confere à concessionária o direito de ex- ploração dos serviços providos pelo ativo da concessão. Concessionária: corresponde à entidade que usa o ativo da concessão, sujeito ao controle da concedente, para fornecer serviços públicos. Acordo de concessão de serviços: corresponde a acordo vinculante en- tre uma entidade concedente e uma concessionária em que: (a) a concessionária usa o ativo da concessão, por prazo determinado, para prover serviços públicos em nome da concedente; e 54 Normas e práticas de contabilidade do setor público M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .(b) a concessionária é compensada por seus serviços durante o perío- do da concessão. Ativo da concessão de serviços: é o ativo usado para prover serviços públicos no acordo de concessão de serviços que: (a) é fornecido pela concessionária, sendo que: (i) constrói, desenvolve ou adquire o ativo de terceiro; ou (ii) é um ativo preexistente da concessionária; (b) é fornecido pela concedente, sendo que: (i) é um ativo preexistente da concedente; ou (ii) corresponde a uma melhoria em ativo preexistente da concedente. Fonte: NCB TSP 5 Os registros contábeis dessas operações/contratos para o ente pú- blico concedente podem ser classificados em dois grandes grupos: o reconhecimento e mensuração de ativos da concessão de serviço; e o reconhecimento e mensuração de passivos da concessão de serviço. Os registros acontecem quando o poder público, concedente do ser- viço, controla ou regula o serviço prestado pelo concessionário. O ati- vo será reclassificado de “ativo imobilizado” para ”ativo de concessão de serviços”, ou então, na impossibilidade de fazê-lo, será reconhecido como passivo. Existem três modelos de reconhecimento dos ativos envolvidos na concessão de serviços públicos: • Modelo de financiamento de passivos: quando o serviço pres- tado demanda pagamento obrigatório ao concessionário decor- rente da construção, reforma ou melhorias no ativo a ser usado para a prestação do serviço, o passivo é reconhecido como de financiamento. Os pagamentos pelos serviços prestados devem ser reconhecidos como despesa. 55Procedimentos contábeis específicos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. • Modelo de concessão de direitos à concessionária: é utilizado se o concedente precisa pagar as obras e reformas necessárias no ativo da prestação de serviço e concede à concessionária o direito de auferir receitas dos usuários ou outro ativo gerador de caixa. O passivo reconhecido é contabilizado como receita decor- rente da troca de ativos entre concedentee concessionária. Essa é uma transação que gera receita e será contabilizada do passi- vo reconhecido para a receita ao longo do período do contrato de concessão. • Modelo bifurcado: se a construção ou reforma do um ativo da concessão de serviço for paga pela concedente, em parte por meio da assunção de passivo financeiro e em parte pela conces- são de direito à concessionária, deve-se contabilizar separada- mente cada parte do passivo. 3 Operações de crédito A Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu artigo 29, inciso III, deixa claro o conceito de operação de crédito: compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros. (BRASIL, 2000) Há algumas características legais para a assunção de dívidas pelo ente público, conforme a Lei no 10.080, de 2000. O valor total a ser con- tratado deve estar expresso na lei orçamentária, no registro contábil no orçamento ou em créditos adicionais no mesmo exercício fiscal a que se refere o orçamento e a autorização do Senado Federal quando a ope- ração for contratada no exterior. 56 Normas e práticas de contabilidade do setor público M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .A contabilização das operações de crédito em suas diferentes for- mas deve primar pelo rigor contábil, mesmo quando os saldos obtidos venham a ultrapassar os limites de endividamento estabelecidos em lei. O rigor contábil independente da legalidade do ato administrativo relativo à gestão financeira. PARA PENSAR A limitação do endividamento público à capacidade de pagamento do estado, município ou qualquer ente público nos parece óbvia, não é mesmo? Deveria ser inerente ao gestor público a preocupação com o comprometimento das gerações futuras, ou seja, não onerar com dívi- das quem ainda não nasceu. Mas isso nem sempre acontece, pois, muitas vezes, governos (federal, estaduais, municipais) e outras organizações públicas preocupam-se com o sucesso a curto prazo e deixam volumosos compromissos fi- nanceiros para o futuro. 4 Regime Próprio de Previdência Social A Emenda Constitucional 103 de 2019 estabeleceu o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) para os servidores públicos ao alterar a redação do artigo 40 da Constituição Federal. O mesmo instrumento legal permite, no artigo 149, a criação de contribuições para custeio do RPPS; em casos de déficit atuarial, outras formas de tributos e contri- buições estão previstas, sempre mediante respaldo legal. Esses fundos são constituídos pelos diferentes entes federativos para as entidades públicas sob sua alçada, sempre mediante lei, e referem-se aos siste- mas de aposentadoria dos funcionários públicos, seja na esfera fede- ral, estadual, municipal e do Distrito Federal. No ano de 2020, existiam 2.150 RPPS no Brasil, envolvendo 10 milhões de segurados, entre servi- dores ativos, aposentados e pensionistas. 57Procedimentos contábeis específicos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Os trabalhadores da iniciativa privada estão sob a égide do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), conforme a Lei no 8.213 de julho de 1991. PARA SABER MAIS Se você quiser saber informações quantitativas sobre a previdência social dos servidores públicos, acesse a página de estatísticas e in- formações dos RPPS do Ministério da Economia: https://www.gov.br/ trabalho-e-previdencia/pt-br/assuntos/previdencia-no-servico-publi- co/estatisticas-e-informacoes-dos-rpps-1/estatisticas-e-informaco- es-dos-rpps. Os recursos dos fundos constituídos para cada um dos RPPS pro- vêm de duas fontes principais: contribuições dos trabalhadores da ativa e repasses do governo, como forma de complementar os déficits atua- riais do fundo. O quadro 1 apresenta as principais atividades de gestão de um RPPS. Quadro 1 – Atividades de gestão dos RPPS NOME DEFINIÇÃO ATIVIDADES Administrativa Área de suporte administrativo aos setores internos da unidade gestora. Contratos, compras, licitações, material de almoxarifado, imóveis, bens patrimoniais, recursos humanos, protocolo, arquivo geral, serviços gerais. Arrecadação Área de controle dos repasses das contribuições previdenciárias e aportes. Controle de repasse de contribuições e aportes, cobrança de débitos em atraso, parcelamentos de débitos, servidores licenciados, cedidos ou afastados sem remuneração. Atendimento Área de serviços de atendimento aos servidores, aposentados e pensionistas. Atendimento presencial aos segurados, atendimento telefônico, ouvidoria. Atuarial Área de estudos e acompanhamento dos resultados das avaliações atuariais. Acompanhamento atuarial, elaboração de relatório de gestão atuarial. (cont.) 58 Normas e práticas de contabilidade do setor público M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . NOME DEFINIÇÃO ATIVIDADES Benefícios Área de concessão, implantação, manutenção e pagamento dos benefícios previdenciários. Análise, concessão e revisão de benefícios, gestão da folha de pagamento. Compensação previdenciária Área de atividades específicas de compensação previdenciária, como regime instituidor – RI ou regime de origem – RO. Procedimentos de envio e análise de requerimentos via sistema COMPREV. Financeira Área da gestão e controle financeiro. Tesouraria, orçamento, contabilidade geral. Investimentos Área de estudos, tomada de decisão e acompanhamento dos resultados das aplicações dos recursos do RPPS. Operações de investimentos, análises de risco e gestão dos ativos mobiliários e imobiliários, elaboração da política de investimentos, credenciamento de instituições financeiras. Jurídica Área de consultoria e defesa judicial da unidade gestora do RPPS. Pareceres em processos de contratação, processos de concessão de benefícios e revisão de legislação, defesa em processos judiciais e cumprimento de decisões judiciais. Tecnologia da informação Área de apoio de informática e manutenção de bases de dados. Segurança, acesso e operacionalização dos sistemas de informática e das bases de dados. Fonte: Manual do pró-gestão RPPS, 2020, p.54. PARA SABER MAIS O Manual do pró-gestão RPPS, versão 3.1 aprovada em agosto de 2020, visa a facilitar a gestão dos 2.150 RPPS existentes no Brasil e orientar a criação de novos. Por meio de processo de certificação, o manual apresenta as premissas para a certificação dos gestores, os procedimentos e as entidades certificadoras. Além disso, dispõe sobre os controles internos, a governança corporativa e a educação previdenciária, fatores a serem desenvolvidos pelos entes públicos ao implantar os RPPS. Conheça o manual na íntegra, acessando 59Procedimentos contábeis específicos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas daLei. © Editora Senac São Paulo. sua página na internet: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/ pt-br/assuntos/previdencia-no-servico-publico/pro-gestao-rpps- certificacao-institucional/arquivos/2020/manual-do-pro-gestao- rpps-versao-3-1_1092020.pd%20f. 5 Dívida ativa O conceito de dívida ativa está no parágrafo segundo do artigo 39 da Lei no 4.320/1964, que diferencia a dívida ativa tributária e não tributária: Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa natu- reza, proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respecti- vos adicionais e multas, e Dívida Ativa não Tributária são os de- mais créditos da Fazenda Pública, tais como os provenientes de empréstimos compulsórios, contribuições estabelecidas em lei, multa de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, fo- ros, laudêmios, aluguéis ou taxas de ocupação, custas processu- ais, preços de serviços prestados por estabelecimentos públicos, indenizações, reposições, restituições, alcances dos responsáveis definitivamente julgados, bem assim os créditos decorrentes de obrigações em moeda estrangeira, de subrogação de hipoteca, fiança, aval ou outra garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações legais. A receita decorrente do pagamento dessas dívidas é registrada como relativa ao ano corrente, independente da data de origem da dívida, em consonância com o regime de caixa adotado para a contabilização da receita pública. O quadro 2 mostra os principais devedores, inscritos em dívida ativa da União, setor de informação e comunicação, com desta- que para os “Demais Débitos Tributários” e o valor total da dívida. 60 Normas e práticas de contabilidade do setor público M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Quadro 2 – Exemplo de devedores inscritos em dívida ativa da União (setor de informação e comunicação) CPF/CNPJ NOME DEMAIS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS VALOR TOTAL DA DÍVIDA 11.669.325/0001-88 Ympactus Comercial SA 3.044.924.901,05 4.931.378.714,92 08.362.807/0001-86 Simternet Tecnologia Da Informação LTDA 254.962.782,65 2.098.341.254,45 50.747.732/0001-18 Gazeta Mercantil SA 477.754.469,99 997.563.882,13 30.506.919/0001-12 Ebid Editora Páginas Amarelas LTDA 347.372.898,58 758.070.498,71 54.540.448/0001-27 Dynamix Sistemas LTDA 754.613.896,12 754.613.896,12 10.443.079/0001-89 Giovanni Zem Rodrigues 619.469.389,29 619.583.951,57 00.310.334/0001-61 Radio Club De Cuiabá Limitada 619.446.071,54 619.446.071,54 07.265.939/0001-27 Lider Telecom Comércio e Serviços em Telecomunicação LTDA em Recuperação Judicial 425.950.435,00 490.776.279,26 30.664.064/0001-58 TV Manchete LTDA 77.063.045,65 481.930.934,73 22.810.550/0001-09 IBD da Amazônia Impressos de Segurança LTDA 463.366.702,25 470.372.814,81 Fonte: Ministério da Economia, 2019. PARA SABER MAIS O site da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional permite a consulta dos devedores inscritos em dívida ativa da União. A pesquisa pode ser feita de diferentes formas. Os devedores com as dívidas já negociadas não aparecem nas listagens. 61Procedimentos contábeis específicos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 6 Precatórios em regime especial Precatórios são títulos emitidos pelo ente público em reconhe- cimento de dívida. Esses títulos são emitidos apenas quando não há mais possibilidade de recursos diante da decisão judicial (trânsito em julgado). O artigo 100 da Constituição Federal estabelece as condições de emissão, prioridades de pagamento e limites de endividamento do ente público. Os precatórios em regime especial se referem especificamente aos títulos a serem pagos em até 15 anos ou em parcelas anuais, pela des- tinação de 1% a 2% da receita líquida da entidade devedora, conforme permite a Emenda Constitucional 62/2009. Na prática, isso significa adequar o pagamento das dívidas em precatórios aos recursos dispo- níveis do ente devedor. No entanto, o respaldo legal para esse parce- lamento foi questionado e a Emenda Constitucional 99/2017 prevê a quitação dessas dívidas até 2024 e dá outras providências para a rea- lização de compensações e acordos. Em 2020, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) propôs a criação de um grupo de trabalho para pacificar essa questão dos precatórios em regime especial (COUTINHO, 2020). Os registros contábeis dos precatórios devem iniciar com o reco- nhecimento dos precatórios em conta de passivos não circulantes, por- que são dívidas de longo prazo. Ao vislumbrar espaço orçamentário, o saldo a ser pago no ano é transferido para passivo circulante, que deve ser extinto quando do pagamento, em contrapartida a saídas de caixa. 7 Consórcios públicos O consórcio público surge no Brasil a partir da Emenda Constitucional 19/1998, que alterou o artigo 241 da Constituição Federal, permitindo a gestão associada de serviços públicos e a transferência de encar- gos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços 62 Normas e práticas de contabilidade do setor público M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .transferidos. Pode se constituir na forma de associação pública, pessoa jurídica de direito público ou pessoa jurídica de direito privado, constitu- ída para prestar serviço público, regido pela Lei no 11.107/2005. O consórcio ou associação de direito público usualmente envolve apenas entidades do setor público – por exemplo, a associação entre universidades e institutos de pesquisa, prestação de serviço público de saúde, ou ainda projetos específicos envolvendo mais de uma es- fera de governo. NA PRÁTICA Um exemplo de consórcio público profícuo é o Paraná Saúde, que re- úne 398 dos 399 municípios do estado (apenas a capital do Paraná, Curitiba, não participa do consórcio). Surgiu em junho de 1999, com o objetivo de reunir as compras de medicamentos dos municípios do estado e obter ganhos de escala, já que 79% das cidades tinha menos de 20.000 habitantes à época. No site do consórcio, você pode consultar toda a movimentação de re- cursos destinados a aquisição de medicamentos no estado, desde a origem das receitas até a destinação de recursos. A partir de 2020, o site também destaca os recursos específicos para o COVID -19 (CON- SÓRCIO PARANÁ SAÚDE, n.d.). Outro exemplo foi o consórcio criado para as olimpíadas de 2016: Au- toridade Pública Olímpica (APO), que reuniu a União ao estado e ao mu- nicípio do Rio de Janeiro para garantir as obras e demais responsabili- dades do Brasil junto ao Comitê Olímpico Internacional. Esse consórcio foi extinto em 31 de março de 2017, com uma dívida de 124,5 mil reais junto a fornecedores (DOLZAN, 2019). Considerações finais A gestão pública vem criando instrumentos de ação peculiares para dinamizar a prestação de serviços públicos. Este capítulo apresentou 63Procedimentos contábeis específicos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. algumas dessas atividades sob a ótica doregistro contábil, à luz do MCASP. O Fundeb foi apresentado já em sua nova versão, aprovada em 2020. As diferentes formas de concessão do serviço público foram ex- plicadas desde sua conceituação até a normatização contábil relativa a seus registros. O capítulo explicou também as operações de crédito e seu registro contábil para as entidades públicas. Outro assunto abor- dado foi o RPPS, estratégia para equacionar o problema da previdência dos servidores públicos em diferentes níveis de governo. O conceito e as formas de registro contábil da dívida ativa também foram ilustra- dos, assim como os precatórios em regime especial, outra tentativa de equacionar problemas financeiros dos entes públicos – nesse caso, o reconhecimento de dívidas dos entes com pessoas físicas e jurídicas, a serem pagas ao longo dos anos. Por fim, os consórcios públicos foram explicados e exemplificados. Referências BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Emenda Constitucional no 19, de 4 de junho de 1998. Modifica o re- gime e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de ati- vidades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc19.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Emenda Constitucional no 62, de 9 de dezembro de 2009. Altera o art. 100 da Constituição Federal e acrescenta o art. 97 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, instituindo regime especial de pagamento de pre- catórios pelos Estados, Distrito Federal e Municípios. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc62.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. 64 Normas e práticas de contabilidade do setor público M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .BRASIL. Emenda Constitucional no 99, de 14 de dezembro de 2017. Altera o art. 101 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir novo regime especial de pagamento de precatórios, e os arts. 102, 103 e 105 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Disponível em: http://www.planal- to.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc99.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Emenda Constitucional no 103, de 12 de novembro de 2019. Altera o sistema de previdência social e estabelece regras de transição e dispo- sições transitórias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/emendas/emc/emc103.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Emenda Constitucional no 108, de 27 de agosto de 2020. Altera a Constituição Federal para estabelecer critérios de distribuição da cota mu- nicipal do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), para disciplinar a disponibilização de dados con- tábeis pelos entes federados, para tratar do planejamento na ordem social e para dispor sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb); altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/ emc/emc108.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. 2017. Disponível em: https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/bio- grafia. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Lei no 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e contrôle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 65Procedimentos contábeis específicos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. da Constituição Federal, e dá outras providências. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8987compilada.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Lei no 10.080, de 18 de dezembro de 2000. Abre ao Orçamento Fiscal da União, em favor de diversos órgãos do Poder Executivo, crédito suplementar no valor global de R$ 177.760.250,00, para reforço de dotações consignadas no orçamento vigente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l10080.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005. Dispõe sobre normas gerais de con- tratação de consórcios públicos e dá outras providências. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11107.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Lei no 14.113, de dezembro de 2020. 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