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NUTRIÇÃO EM SAÚDE COLETIVA – POLÍTICAS PÚBLICAS EM NUTRIÇÃO AULA 6 Profª Edilceia Domingues do Amaral Ravazzani 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos refletir sobre a inserção do nutricionista junto ao Sistema Único de Saúde – SUS e sua responsabilidade na aplicação das estratégias de alimentação e nutrição em saúde. Para tanto, vamos estudar os níveis de atenção e serviços no SUS, com foco na atenção básica, devido à sua importante estratégia e aproximação com a população. O cuidado da saúde passa pela alimentação, que é um dos requisitos básicos para a garantia da promoção e proteção da saúde dos indivíduos e coletividades. Assim, a política de alimentação e nutrição defende a transversalidade às demais ações de saúde. Para tanto, nossos objetivos nesta aula são os seguintes: • Abordar os níveis de atenção e serviços de saúde no SUS; • Discutir a interface das ações da Política Nacional de Alimentação e Nutrição com outras políticas públicas ligadas a saúde; • Destacar o papel do nutricionista e suas ações em saúde. TEMA 1 – ORGANIZAÇÃO DO CUIDADO NUTRICIONAL NA ATENÇÃO EM SAÚDE De acordo com a Lei Orgânica da Saúde, Lei n. 8080/1990, o Sistema Único de Saúde – SUS é o conjunto de serviços e ações de saúde a ser prestados por órgãos e instituições públicas mantidas pelo poder público e complementarmente pela iniciativa privada (Brasil, 1990). Na sua agenda de responsabilidades e compromissos, estão incluídos a vigilância nutricional e a orientação alimentar, caracterizando a interface das políticas. O SUS é hierarquizado e centraliza a comunicação na atenção básica em que é reconhecidamente a coordenadora das ações e a porta de entrada principal do cuidado em saúde (Brasil, 1990; Jaime et al., 2018). Dentro desse contexto, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAN norteia a organização e a oferta do cuidado nutricional, junto ao SUS, com o intuito de melhorar a condição de alimentação, nutrição, a saúde e, por fim, enfrentar a insegurança alimentar e nutricional da população. Assim, a organização da atenção nutricional considera as caracteristicas de cada ciclo da vida, mas busca a identificação das fases e grupos de maior vulnerabilidade aos 3 problemas relacionados à alimentação e nutrição, de modo a colocá-los como prioridade das ações. Seus objetivos e público-alvo estão representados na Figura 1, apresentada a seguir. Figura 1 – Objetivos e foco de atenção das ações de atenção nutricional no SUS A atenção nutricional faz parte da Rede de Atenção em Saúde – RAS, a qual tem a Atenção Básica como coordenadora. A rede tem como função promover a integração dos sistemas que forma a atenção e cuidado em saúde, assim como alavancar as ações e serviços, garantindo a continuidade, integralidade da atenção, de forma humanizada. 1.1 Níveis de atenção em saúde e a Rede de Atenção à Saúde - RAS Primariamente, a atenção nutricional é direcionada ao espaço físico das Unidades Básica de Saúde, porém não deve ficar restrita ao seu espaço físico; precisa ir para fora desse espaço de forma a alcançar, além dos indivíduos, as famílias e a comunidade. A etapa inicial para organização da atenção nutricional envolve o diagnóstico nutricional, que permite a determinação da situação alimentar e o posterior desenvolvimento da agenda de alimentação e nutrição na rede de atenção, garantindo a especificidade de cada fase do curso da vida, de gênero e dos diferentes grupos populacionais, povos e comunidades tradicionais. Foco das ações Atenção nutricional Promoção Proteção a saúde e prevenção Diagnóstico Tratamento Individuos Famílias Comunidade Objetivos 4 Nesse cenário, o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN bem como outros sistemas de informação, disponiveis na atenção básica, tornam essa tarefa possível, uma vez que é de extrema importância que o diagnóstico correto seja levantado e que os grupos que apresentam agravos relacionados à alimentação e nutrição sejam identificados para que as ações sejam adequadamente direcionadas e que ainda seja possível manter a avaliação e monitoramento constantes (Brasil, 2000). Com base na descrição contínua e na predição de tendências das condições de alimentação e nutrição e dos fatores determinantes e condicionantes, o diagnóstico descritivo e analitico dos problemas de saúde são caracterizados. É possivel fazer um levantamento das áreas geográficas, grupos sociais e biológicos de maior risco e propor estratégias que possibilitem a prevenção dos agravos e a reversão dos cenários a um quadro de normalidade. São prioridades para a PNAN, no cenário epidemiológico atual, a obesidade e outras doenças crônicas, como hipertensão, diabetes; a desnutrição e carências nutricionais específicas, a exemplo da anemia e deficiência de vitamina A, mas a PNAN ainda destaca como uma necessidade, no âmbito do SUS, a atenção nutricional às necessidades alimentares e nutricionais especiais. TEMA 2 – INSERÇÃO DO NUTRICIONISTA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE A atenção nutricional, como vimos, prioriza suas ações no âmbito da atenção básica, porém todos os níveis de atenção são locais de ação, ou seja, apoio diagnóstico, terapêutico são também alvo do cuidado nutricional. A inserção do nutricionista no campo da saúde coletiva pode ser dividida em diferentes fases (Quadro 1) e ganhou expansão a partir da criação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição – INAN, já visto anteriormente, e pela questão emergente da fome, no início da década de 1970, intensificada pela crise mundial de alimentos. As condições de vida verificadas pelas pesquisas nacionais e a determinação do perfil nutricional e alimentar da população apontam para a necessidade de estruturação do serviço de nutrição em todos os âmbitos do cuidado, com a inserção do profissional de forma a contribuir com a saúde integral (Vasconcelos; Batista Filho, 2011). 5 Quadro 1 – Fases da história do desenvolvimento do conhecimento científico e da profissão na área da saúde coletiva no Brasil Fases do desenvolvimento da profissão 1930 a 1963 (Gênese do campo) - origem do campo encontra-se associada à disciplina “Higiene Alimentar” na academia. 1964 a 1984 (Consolidação do campo1964 a 1984) – emergência das pesquisas nutricionais de base populacional e tentativas de incorporação de técnicas de planejamento nutricional ao planejamento econômico, com a criação de organismos gestores. 1985 a 2010 (Novos paradigmas e a ressignificação do campo) – saúde e alimentação como um direito social trazendo fortalecimento das ações, publicação da PNAN. Fonte: Vasconcelos; Batista Filho, 2011. A transição epidemiológica e nutricional aponta para o crescimento de doenças associadas ao comportamento e uma grande associação com práticas alimentares pouco saudáveis. Ao lado dessas mudanças importantes, a reforma sanitária e a construção do SUS trouxeram para o setor público uma ressignificação e apontaram para a necessidade de novas propostas de ação. Assim, a Política de Alimentação e Nutrição traz novas propostas de ação e sua transversalidade com a Política Nacional de Saúde – PNS abre espaço para o nutricionista atuar em todos os níveis de atenção em saúde, mas especialmente junto à atenção primária à saúde. 2.1 Atenção Primária à Saúde – APS A atenção básica em saúde ou atenção primária corresponde aos cuidados essenciais à saúde, que se sustentam no uso de tecnologias acessíveis que permitam que os serviços de saúde cheguem mais aos lugares onde os indivíduos vivem ou trabalham e se constitui no primeiro nível de contato das pessoas com o sistema nacional de saúde e no início do processo contínuo de atenção. Ela vem, cada vez mais, exercendo um papel fundamental na reorganização das açõesdo sistema de saúde e especialmente no modelo assistencial (Pimentel; Souza; Ricardi, 2013; Junqueira; Cotta, 2014). Nesse contexto, as ações de alimentação e nutrição avançaram e se consolidaram no SUS A implementação da Estratégia Saúde da Família – ESF 6 na atenção básica trouxe mais desafios e, com o propósito de fortalecer o cuidado e a assistência nutricional à população, o nutricionista foi inserido junto às equipes a fim de a fortalecer e oportunizar a qualificação das ações de atenção nutricional (Borelli et al., 2015). TEMA 3 – ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) E OS NÚCLEOS DE APOIO A SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF) A Estratégia Saúde da Família (ESF) é uma proposta que está pautada nos princípios operativos do SUS: universalidade, integralidade e equidade que são conceitos (Figura 2) que preconizam que a todos seja garantida a saúde dentro de contexto que favoreçam a ampliação dos cuidados à saúde. Figura 2 – Princípios operativos do SUS A ESF busca a reorientação do modelo de atenção à saúde e nela as práticas de alimentação e nutrição estão principalmente direcionadas a vigilância à saúde. Esta, por sua vez, visa a resolução dos problemas alimentares e a prevenção de doenças que em geral estão associadas à situação de insegurança alimentar. De acordo com as determinações do Ministério, A ESF prioriza a aplicação de ações como promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e famílias de forma contínua (Santos, 2005; Brasil, 2010). A ESF tem o intuito de substituir o modelo tradicional centrado no médico para um modelo interdisciplinar. Para tanto, o núcleo é composto de uma equipe • Garantia de acesso às ações e serviços de saúde de forma gratuita Universalidade • Garantia do atendimento nos diferentes níveis de complexidade Integralidade • Redução das disparidades sociais e regionais em busca do equilíbrio, elevando todos a um patamar mínimo para garantir a integralidade Equidade 7 de profissionais de nível superior de diferentes áreas que devem atuar em conjunto com os profissionais das equipes de Saúde da Família, de forma a apoiá-los nos atendimentos. As Unidades de Saúde que integram a estratégia mantêm equipes em número correspondente à população atendida, composta de médico de família, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, dentista, técnico em higiene dental e agente comunitário de saúde – ACS. Como proposta de qualificação da assistência, ampliação da abrangência e melhor resolutividade, o Ministério da Saúde, em 2008, criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF com a proposta de levar apoio matricial as equipes de saúde da família (Borelli et al., 2015). A criação dos núcleos propiciou a inclusão de mais profissionais para atuar dentro das seguintes diretrizes relativas à APS: • Ação interdisciplinar e intersetorial; • Educação permanente em saúde dos profissionais e da população; • Desenvolvimento da noção de território; • Integralidade, participação social, educação popular; • Promoção da saúde e humanização. O NASF deve buscar o atendimento compartilhado, com troca de saberes e experiências, e a capacitação para maior resolutividade. 3.1 Composição dos NASF e o matriciamento A composição do núcleo é de responsabilidade e decisão da gestão municipal. Dessa forma, quando o nutricionista é parte da equipe, ele é o responsável pela resolução de problemas alimentares e de insegurança alimentar, pois ele é o profissional apto a promover a reeducação dos hábitos alimentares de forma a prevenir doenças e assim contribuir para a promoção da saúde e qualidade de vida da população (Mattos; Neves, 2009). Os profissionais que compõem o NASF devem ter uma visão integral do indivíduo, família e da coletividade e devem ser capazes de atuar de forma humanizada, competente e com resolutividade de modo a atender às necessidades da comunidade. Ao nutricionista cabe a promoção de ações de educação em saúde e nutrição, tais como o estímulo ao consumo de alimentos saudáveis, o cuidado nutricional diferenciado a cada ciclo da vida, o desenvolvimento de planos terapêuticos tanto para doenças crônicas não 8 transmissíveis como para as deficiências nutricionais, ou seja, ações propostas na Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAN. Também é importante que o nutricionista compreenda o SUS, seus objetivos e como o sistema incorpora ações para a garantia do direito humano à alimentação adequada – DHAA e como ele contribui para a segurança alimentar e nutricional (Recine; Leão; Carvalho, 2015). A atuação interdisciplinar e multiprofissional permite a discussão e a implementação das estratégias e ações da PNAN e potencializa a prática de promoção da alimentação saudável junto aos profissionais e à comunidade. TEMA 4 – AÇÕES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA ATENÇÃO BÁSICA E ATRIBUIÇÕES DO NUTRICIONISTA Para se garantir o pleno crescimento e desenvolvimento humanos, a alimentação e a nutrição se tornam requisitos básicos. Por meio da implementação de ações na área, podemos promover e proteger a saúde da população, permitindo maior qualidade de vida e cidadania (Jaime et al., 2011; Recine; Leão; Carvalho, 2015). De acordo com as orientações da Portaria do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, vinculadas à atenção básica, devem dar respostas às principais demandas de promoção, prevenção, assistência e terapêutica nos equipamentos de saúde, de forma inicial, mas deve se estender às famílias e à comunidade. A situação alimentar e nutricional do indivíduo e comunidades exerce influência direta no processo de saúde e adoecimento e é uma questão complexa que envolve aspectos biopsicossociais e exige uma atuação interdisciplinar e multiprofissional. Nesse contexto, cabe destacar o importante papel do nutricionista. Cabe a esse profissional integrar a equipe e propor ações estratégicas (Quadro 2) que lhe permitam inicialmente reconhecer e compreender o perfil da população a fim de subsidiar as decisões para estabelecer linhas prioritárias de ação relativas à alimentação e nutrição juntamente aos outros componentes da equipe. 9 Quadro 2 – Estratégias de ação de responsabilidade do nutricionista no âmbito da Atenção Básica Ações de promoção da alimentação saudável na atenção básica Realizar o diagnóstico da situação alimentar e nutricional da população com a identificação de áreas geográficas e segmentos de maior risco aos agravos nutricionais. Realizar ações de promoção da alimentação saudável na rotina do serviço de saúde com foco na redução do consumo de alimentos ultraprocessados e com alto teor de sódio, açúcar, gordura saturada e gordura trans. Auxiliar na identificação de características domiciliares e familiares que orientem a detecção precoce de dificuldades que possam afetar o estado nutricional e a segurança alimentar e nutricional. Ampliar ações de promoção da alimentação saudável na infância, com foco nos primeiros dois anos de vida, estimulando o aleitamento materno exclusivo até 6 meses, e continuado até dois anos de idade ou mais. Promover atividades de orientação alimentar e nutricional que valorizem os alimentos regionais e os aspectos culturais da alimentação dos brasileiros. Elaborar rotinas de atenção nutricional e atendimento para doenças relacionadas à alimentação e à nutrição, de acordo com protocolos de atenção básica, organizando a referência e a contrarreferência. Elaborar planos terapêuticos, realizando ações multiprofissionais e interdisciplinares, desenvolvendo a responsabilidade compartilhada. Participar de ações vinculadas aos programas de controle e prevenção dos distúrbios nutricionais como carências por micronutrientes, sobrepeso, obesidade, Doenças Crônicas Não Transmissíveis e desnutrição. Estimular e apoiar professores e diretores na inclusão da promoção daalimentação saudável. Promover, incentivar e implantar hortas escolares e comunitárias Fonte: Jaime et al., 2011; Brasil, 2018. Para o levantamento do diagnóstico e dos grupos em situação de insegurança alimentar, o nutricionista conta com o Sistema de informações em saúde, e especialmente do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN, além de outros sistemas de informação e de inquéritos locais e nacionais que forneçam informações pertinentes. Ao analisar os dados, deve-se 10 considerar a intersetorialidade e a multicausalidade da situação alimentar e nutricional. Na proposição das ações, o nutricionista deve atuar em consonância com os profissionais do NASF e das equipes da Saúde da Família, com o objetivo melhorar a resolutividade. Deve ainda atuar de forma efetiva sobre os determinantes dos agravos e dos distúrbios nutricionais e alimentares e atuar na formação e na educação continuada das equipes. Para atuar na atenção à saúde, o profissional deve estar apto a lidar com as necessidades nutricionais da população e conhecer a estrutura da saúde brasileira. 4.1 Perfil do nutricionista para atuação na atenção básica Como vimos, a equipe do NASF pode ser composta de acordo com decisão da gestão municipal. Cada profissional é importante devido aos seus saberes e conhecimentos técnicos, mas especialmente a ausência do nutricionista confronta o princípio da integralidade das ações, uma vez que este profissional, por formação, é capacitado a atuar na área de alimentação e nutrição para promoção e recuperação da saúde (Pimentel et al., 2013). No Quadro 3, podemos observar a importância das ações de nutrição na atenção básica. Quadro 3 – Importância e ações de nutrição na atenção básica à saúde Importância do nutricionista Ações de nutrição Assistência ao usuário Atenção multidisciplinar Prevenção de doenças Educação em saúde Assistência nutricional Aspectos sociopsicoculturais da alimentação Fonte: Neis et al., 2012. O nutricionista não é parte integrante das equipes básicas de saúde da família, mas tem o importante papel no matriciamento das ações de alimentação e nutrição junto às equipes do NASF. Suas ações são fundamentais para conter os problemas relacionados à alimentação e à nutrição, mas, para atuar frente a essa demanda, ele deve apoiar a equipe com seu conhecimento, promover atendimento especializado, realizar orientações nutricionais e estar sempre em busca de conhecimento e aperfeiçoamento na área. 11 TEMA 5 – POLÍTICAS PÚBLICAS: IMPORTÂNCIA E TRANSVERSALIDADE DA POLÍTICA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Para o alcance de resultados mais positivos no campo da alimentação e nutrição em saúde pública, a articulação intra e intersetorial entre os diversos equipamentos públicos é necessária e podem com certeza colaborar para se atingirem os objetivos do Sistema de Saúde. O avanço depende da composição de um conjunto de políticas públicas que, de forma síncrona, atuem no mesmo propósito, ou seja, promover a saúde e prevenir os agravos em saúde. Políticas públicas podem ser entendidas como as ações, programas e decisões desenvolvidas pelo Estado de forma a garantir o alcance dos direitos que estão previstos na Constituição Federal e em outras leis. Ela é abrangente e atinge todos os cidadãos, independente de sexo, raça, escolaridade, religião ou classe social e na sua aplicação estão envolvidas a implementação, execução e avaliação (Souza, 2006). Nesse sentido, de forma intersetorial, o Ministério da Saúde e o da Educação dividem a responsabilidade na promoção de hábitos alimentares saudáveis, como parte da estratégia que envolvem o cuidado da saúde. Assim, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) atuam de forma complementar ao lado de outros políticas públicas, tendo o Sistema Único de Saúde como escopo das ações (Figura 3). Figura 3 – Representação da intersetorialidade na saúde PNAN Outras políticas públicas PNAE SUS SUS 12 O PNAE garante alimentação e ações de educação alimentar e nutricional no intuito de promover a alimentação saudável a todos os estudantes da rede pública municipal e estadual, escolas filantrópicas e para entidades comunitárias que celebrem convênios com o poder público. Nesse cenário, a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio e a educação de jovens e adultos integram o programa e recebem alimentação no período em que estão na escola (Domene, 2008). O programa tem o objetivo de suprir parcialmente as necessidades dos alunos, por meio da oferta de no mínimo uma refeição diária, a fim de atender os requisitos nutricionais mínimos. O programa ainda contribui, de forma secundária, com a melhoria das condições fisiológicas do aluno e para o seu aprendizado. 5.1 Estratégias de promoção de hábitos alimentares saudáveis no PNAE O PNAE, que foi implantado em 1955, passou por adequações e avanços e hoje é considerado o mais antigo programa no Brasil e maior programa de alimentação escolar no mundo, sendo uma política pública que contribui com o cuidado nutricional. Os programas foram avançando, diversificando sua abrangência e permitiram que diferentes ações e públicos fossem atingidos. A promoção da intersetorialidade é uma tarefa desafiadora, mas é importante que seja estimulada devido ao incremento nos resultados obtidos para a saúde. A criação e incorporação de programas que atuam em outros setores, com mecanismos distintos, mas com o mesmo foco de melhorar a qualidade de vida da população, adubam o eixo da saúde. A transversalidade fortalece a luta para que toda a população tenha o direito à alimentação saudável e adequada e cabe ao nutricionista, como protagonista dessa luta, reconhecer seu valor e atuar com qualidade e competência. NA PRÁTICA O ambiente escolar é um espaço que traz ótimas condições para se trabalharem e se adotarem práticas alimentares saudáveis, uma vez que reúne um ambiente de aprendizado. Considere uma escola de educação básica, de 13 uma região de alta vulnerabilidade, em que você atua como nutricionista no Programa de Alimentação Escolar e observa alto índice de desperdício em especial de hortaliças. Qual é sua proposta de ação frente a essa realidade encontrada? FINALIZANDO Nesta aula, estudamos sobre a organização da atenção nutricional na atenção em saúde e como se dá a inserção do nutricionista nesse contexto. Vimos a importância da estratégia Saúde da Família, assim como dos núcleos de apoio, do qual o nutricionista é participante e destacamos o seu papel no matriciamento junto às equipes. Destacamos as ações e atribuições do profissional na política de saúde e nas outras políticas públicas que estão ao lado da política de alimentação e nutrição em busca da promoção e prevenção dos agravos à saúde. Nossos objetivos (abordar os níveis de atenção e serviços de saúde no SUS, discutir a interface das ações da Política de Alimentação e Nutrição com outras políticas públicas ligadas à saúde e destacar o papel do nutricionista e suas ações em saúde) foram atingidos. 14 REFERÊNCIAS BORELLI, M. et al. A inserção do nutricionista na Atenção Básica: uma proposta para o matriciamento da atenção nutricional. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 9, p. 2765-2778, 2015. BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 set. 1990. BRASIL. 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Ensinar jogos que permitam o aluno degustar o alimento, com os olhos vendados, para poder perceber o sabor e desenvolver paladar para as hortaliças.