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1 2 LEI 11343/06 - LEI DE DROGAS 3ª EDIÇÃO/2024 1. INTRODUÇÃO 4 2. DOS CRIMES 4 2.1. PORTE E CULTIVO PARA CONSUMO PRÓPRIO 4 2.1.1. BEM JURÍDICO 4 2.1.2. NATUREZA JURÍDICA 5 2.1.3. CONDUTAS TÍPICAS 7 2.1.4. ELEMENTO SUBJETIVO 7 2.1.5. SUJEITO ATIVO 8 2.1.6. SUJEITO PASSIVO 8 2.1.7. OBJETO MATERIAL 8 2.1.8. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO 8 2.1.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 8 2.1.10. PENA 8 2.1.11. FIGURA EQUIPARADA 9 2.1.12. AÇÃO PENAL E PROCEDIMENTO 10 2.2. TRÁFICO DE DROGAS 10 2.2.1. BEM JURÍDICO 11 2.2.2. SUJEITO ATIVO 11 2.2.3. SUJEITO PASSIVO 11 2.2.4. CONDUTAS TÍPICAS 11 2.2.5. ELEMENTO SUBJETIVO 12 2.2.6. OBJETO MATERIAL 12 2.2.7. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO 13 2.2.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 13 2.2.9. PENA 14 2.2.10. AÇÃO PENAL 15 2.2.11. CONDUTAS EQUIPARADAS 15 2.3. TRÁFICO DE MATÉRIA-PRIMA, INSUMO OU PRODUTO QUÍMICO DESTINADO À PREPARAÇÃO DE DROGAS 19 2.3.1. OBJETO MATERIAL 19 2.4. SEMEADURA, CULTIVO OU COLHEITA DE PLANTAS QUE SE CONSTITUAM EM MATÉRIA-PRIMA PARA A PREPARAÇÃO DE DROGAS 22 2.4.1.CONDUTAS TÍPICAS 22 2.5. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE LOCAL OU BEM DE QUALQUER NATUREZA OU CONSENTIMENTO PARA QUE OUTREM DELE SE UTILIZE PARA O FIM DE TRÁFICO DE DROGAS 22 2.5.1. SUJEITO ATIVO 23 2.5.2. ELEMENTO SUBJETIVO 23 2.5.3. CONSUMAÇÃO 23 2.6. VENDA OU ENTREGA DE DROGAS OU MATÉRIA-PRIMA, INSUMO OU PRODUTO QUÍMICO DESTINADO À PREPARAÇÃO DE DROGAS A AGENTE POLICIAL DISFARÇADO 23 2.6.1.CONDUTAS TÍPICAS 24 2.6.2. OBJETO MATERIAL 24 2.7. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO USO DE DROGA 24 2.7.1. BEM JURÍDICO 25 2.7.2. SUJEITO ATIVO 25 2.7.3. SUJEITO PASSIVO 25 2.7.4. CONDUTAS TÍPICAS 25 2.7.5. ELEMENTO SUBJETIVO 25 2.7.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 26 2.7.7. PENA 26 2.7.8. AÇÃO PENAL 26 2.8. OFERTA EVENTUAL E GRATUITA PARA CONSUMO CONJUNTO 26 2.8.1. BEM JURÍDICO 27 2.8.2. SUJEITO ATIVO 27 2.8.3. SUJEITO PASSIVO 27 2.8.4. CONDUTA TÍPICA 27 2.8.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 27 2.8.6. PENA 28 2.8.7. AÇÃO PENAL 28 2.9. TRÁFICO DE DROGAS PRIVILEGIADO 28 2.9.1. HEDIONDEZ 29 2.9.2. REQUISITOS CUMULATIVOS 29 2.9.3. QUANTUM DE DIMINUIÇÃO 33 2.10. TRÁFICO DE MAQUINÁRIO 35 2.10.1. TIPO SUBSIDIÁRIO 35 2.10.2. BEM JURÍDICO 35 2.10.3. SUJEITO ATIVO 35 2.10.4. SUJEITO PASSIVO 35 2.10.5. CONDUTAS TÍPICAS 35 2.10.6. OBJETO MATERIAL 36 2.10.7. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO 37 2.10.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 37 2.10.9. VEDAÇÕES LEGAIS 37 2.11. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO 38 2.11.1. BEM JURÍDICO 38 2.11.2. SUJEITO ATIVO 38 2.11.3. SUJEITO PASSIVO 38 2.11.4. CONDUTAS TÍPICAS 38 2.11.5. REQUISITOS 39 2.11.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 39 2.11.7. HEDIONDEZ 40 2.11.8. CONDUTA EQUIPARADA 40 2.12. FINANCIAMENTO AO TRÁFICO 41 2.12.1. SUJEITO ATIVO 41 2.12.2. SUJEITO PASSIVO 41 2.12.3. CONDUTAS TÍPICAS 41 3 2.12.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 42 2.13. COLABORAÇÃO COMO INFORMANTE 42 2.13.1. SUJEITO ATIVO 42 2.13.2. SUJEITO PASSIVO 42 2.13.3. CONDUTA TÍPICA 42 2.13.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 43 2.14. PRESCRIÇÃO CULPOSA 43 2.14.1. BEM JURÍDICO 43 2.14.2. SUJEITO ATIVO 43 2.14.3. SUJEITO PASSIVO 44 2.14.4. CONDUTAS TÍPICAS 44 2.14.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 44 2.14.6. AÇÃO PENAL 44 2.14.7. PENA 45 2.15. CONDUÇÃO DE EMBARCAÇÃO OU AERONAVE APÓS O CONSUMO DE DROGA 45 2.15.1. BEM JURÍDICO 45 2.15.2. SUJEITO ATIVO 45 2.15.3. SUJEITO PASSIVO 45 2.15.4. CONDUTAS TÍPICAS 45 2.15.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 46 2.15.6. QUALIFICADORA 46 2.15.7. PENA 46 3. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA 46 3.1. TRANSNACIONALIDADE 46 3.2. QUANDO O AGENTE TIVER PRATICADO O CRIME PREVALECENDO-SE DE FUNÇÃO PÚBLICA OU NO DESEMPENHO DE MISSÃO DE EDUCAÇÃO, PODER FAMILIAR, GUARDA OU VIGILÂNCIA 48 3.3. QUANDO A INFRAÇÃO É COMETIDA NAS DEPENDÊNCIAS OU IMEDIAÇÕES DE ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS, DE ENSINO, HOSPITALARES, EM TRANSPORTE PÚBLICO E OUTROS 48 3.4. QUANDO O CRIME É COMETIDO COM VIOLÊNCIA, GRAVE AMEAÇA, EMPREGO DE ARMA DE FOGO OU QUALQUER PROCESSO DE INTIMIDAÇÃO DIFUSA OU COLETIVA 51 3.5. INTERESTADUALIDADE 52 3.6. QUANDO O CRIME ENVOLVER OU VISAR ATINGIR CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU A QUEM TENHA, POR QUALQUER MOTIVO, DIMINUÍDA OU SUPRIMIDA A CAPACIDADE DE DISCERNIMENTO OU DETERMINAÇÃO 52 3.7. QUANDO O AGENTE FINANCIAR OU CUSTEAR A PRÁTICA DO CRIME 53 4. DELAÇÃO EFICAZ 54 5. CRITÉRIO PARA FIXAÇÃO DA PENA 57 6. REDUÇÃO OU ISENÇÃO DE PENA 58 7. PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS 59 7.1. INFILTRAÇÃO DE AGENTES 59 7.2. ENTREGA VIGIADA 59 8. LAUDO DE CONSTATAÇÃO DA DROGA 59 9. DESTRUIÇÃO DA DROGA 60 4 1. INTRODUÇÃO A Lei n. 11.343/2006 veio em substituição à Lei n. 6.368/76 e instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, conhecido como SISNAD. Além disso, prescreve medidas para prevenção do uso indevido de entorpecentes, atenção e reinserção de usuários e dependentes de drogas, e estabelece normas para a repressão à produção não autorizada de tais substâncias e ao tráfico ilícito, além de definir os respectivos ilícitos penais e regulamentar o procedimento para a sua apuração.1 No âmbito criminal, que será detalhado mais profundamente nos tópicos específicos desse resumo, destacam-se o tratamento diferenciado em relação ao usuário, a tipificação de crime específico para a cessão de pequena quantia de droga para consumo conjunto, o agravamento da pena do tráfico, a criação da figura do tráfico privilegiado, a tipificação do crime de financiamento ao tráfico, bem como a regulamentação de novo rito processual.2 De modo geral, assim é estruturada a Lei n. 11.343/2006: 1. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD. 2. Prescreve medidas de prevenção ao uso indevido. 3. Prescreve medidas para atenção e reinserção social dos usuários e dependentes. 4. Estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas. 5. Define os crimes e dá outras providências. 2 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 1 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 2. DOS CRIMES Analisaremos, agora, cada um dos crimes previstos na Lei de Drogas e suas respectivas repercussões na doutrina e jurisprudência pátrias. 2.1. PORTE E CULTIVO PARA CONSUMO PRÓPRIO Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. A Lei n. 11.343/2006 trouxe inúmeras modificações relacionadas à figura do usuário de drogas, tendo como espírito uma punição mais branda e com caráter mais educativo, uma vez que não existe mais a previsão da pena privativa de liberdade para o usuário. 2.1.1. BEM JURÍDICO Tutela-se a saúde pública (crime vago). 5 2.1.2. NATUREZA JURÍDICA Muito se discutiu a respeito da natureza do art. 28. Existem, basicamente, 3 correntes: a. Descriminalização: para parcela da doutrina, houve a descriminalização da conduta, não constituindo mais crime o porte ou cultivo ilegal de droga para consumo pessoal. b. Infração Sui Generis: linha de pensamento defendida por Luiz Flávio Gomes, na qual a infração do art. 28 seria sui generis, inserida no âmbito do Direito Judicial Sancionador. Não seria norma administrativa nem penal.3 c. Despenalização: teria havido apenas uma “despenalização” da conduta, uma vez que as penas previstas pelo legislador não são privativas de liberdade, o que difere do que estipula o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal. Entretanto, conforme explica Fernando Capez,4 “o fato continua a ter a natureza de crime, na medida em que a própria Lei o inseriu no capítulo relativo aos crimes e às penas (Capítulo III). Além disso, as sançõesLENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 27 das penas previstas no art. 28. Tem-se, aqui, mais uma conduta que NÃO é equiparada ao tráfico de drogas, razão pela qual não se sujeita ao regime mais rigoroso da Lei n. 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos). 2.8.1. BEM JURÍDICO Protege a saúde pública. 2.8.2. SUJEITO ATIVO Qualquer pessoa pode cometer tal delito, trata-se de crime comum. 2.8.3. SUJEITO PASSIVO É a coletividade e a pessoa a quem é oferecida a droga.44 2.8.4. CONDUTA TÍPICA O delito em análise visou punir quem tem uma pequena porção de droga e a oferece, eventualmente e sem objetivo de lucro, a alguém próximo (de seu relacionamento), como um amigo ou namorada, para que juntos possam fazer o uso. Portanto, são requisitos cumulativos para a configuração de tal crime: a. Oferecimento de droga; b. Eventualidade do oferecimento: não pode ser algo rotineiro ou comum; c. Sem objetivo de lucro: o agente não pode cobrar para que a pessoa use a droga; d. Oferecimento à pessoa de seu 44 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. relacionamento: a pessoa a quem se oferece a droga não pode ser um desconhecido ou alguém que acabou de conhecer; e e. Consumo em conjunto: o oferecimento da droga deve ser com finalidade de que o uso seja em conjunto. Assim, aquele que oferece a droga para que a pessoa de seu relacionamento a use sozinha em momento posterior não se enquadra nesse tipo penal, mas sim no crime de tráfico de drogas. 2.8.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O crime em tela é classificado como crime formal, que se consuma no momento em que a droga é oferecida, ainda que não sobrevenha o resultado, isto é, o efetivo consumo conjunto do entorpecente. A tentativa não é possível, pois se o agente oferece a droga, o crime está consumado; se não o faz, o fato é atípico ou tipifica o delito de porte para consumo próprio do art. 28.45 Quanto ao iter criminis, recentemente, entendeu o Superior Tribunal de Justiça que a mera solicitação, sem a efetiva entrega do entorpecente ao destinatário no estabelecimento prisional, configura, no máximo, ato preparatório e, sendo assim, impunível, nos seguintes termos: 1. O exame da pretensão contida no recurso especial dispensa a análise do material probatório, uma vez que se restringe em saber se a interceptação da droga pelos agentes penitenciários antes de ela ser entregue ao seu destinatário, recolhido em estabelecimento prisional, impede a sua 45 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 28 condenação pela prática do delito do art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 na modalidade "adquirir", que viria, em tese, a ser por esse praticada, tratando-se, portanto, de questão eminentemente jurídica. 2. O apelo nobre foi interposto com fundamento na alínea "a" do permissivo constitucional, por ofensa ao art. 33, da Lei 11.343/06, não havendo que se falar na necessidade d e cotejo analítico para fins de comprovação de divergência jurisprudencial. 3. O agravado não praticou qualquer conduta que possa configurar o início do iter criminis do delito descrito no art. 33 da Lei 11.343/2006, porquanto limitou-se, supostamente, a solicitar à sua companheira (corré) a entrega da droga no interior do presídio em que se encontrava recolhido. 4. Esta Corte tem decidido que a mera solicitação, sem a efetiva entrega do entorpecente ao destinatário no estabelecimento prisional, configura, no máximo, ato preparatório e, sendo assim, impunível. Logo, é de rigor a absolvição do ora agravado, em razão da atipicidade de sua conduta, notadamente porque não comprovada a propriedade da droga. 5. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp n. 1.999.604/MG, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 20/3/2023, DJe de 24/3/2023.) 2.8.6. PENA Levando em consideração que a pena máxima do crime é de 1 ano, enquadra-se no conceito de infração de menor potencial ofensivo, sendo, portanto, cabível a proposta de transação penal no Juizado Especial Criminal. Além disso, a esse crime não se aplicam as vedações do art. 44, caput, quanto à liberdade provisória, sursis, anistia, graça e indulto.46 2.8.7. AÇÃO PENAL É pública incondicionada. 2.9. TRÁFICO DE DROGAS PRIVILEGIADO Art. 33. (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. O denominado “tráfico privilegiado” nada mais é do que uma causa de diminuição de pena aplicável ao crime de tráfico (art. 33, caput) e figuras equiparadas (art. 33, §1º). Tal modalidade foi criada com a finalidade de beneficiar pessoas primárias e de bons antecedentes, que sejam condenadas por referidos crimes, quando as provas indicarem que não se trata de traficante contumaz (que faz do tráfico um meio de vida) e que o réu não integra organização criminosa.47 O benefício legal deve ser concedido àquele que a doutrina chama de “traficante eventual” (ocasional), que praticou ato de comércio de droga de forma isolada. 47 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 46 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 29 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova MPE-SP - 2023 - VUNESP - Promotor de Justiça Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: “III - A condenação simultânea nos crimes de tráfico e de associação para o tráfico afasta a incidência da causa especial de diminuição de penas do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06 (tráfico privilegiado).” A questão foi elaborada com base na literalidade da Tese nº 3, da Edição nº 60, da Jurisprudência em Tese do STJ: "3) A condenação simultânea nos crimes de tráfico e associação para o tráfico afasta a incidência da causa especial de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei n. 11.343/06 por estar evidenciada dedicação a atividades criminosas ou participação em organização criminosa". 2.9.1. HEDIONDEZ Muito se discutiu na doutrina e jurisprudência acerca do caráter hediondo, ou não, da figura do “tráfico privilegiado”. Atualmente, o tema se encontra pacificado, prevalecendo o entendimento de que tal figura NÃO é equiparada a crime hediondo:48 “O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime equiparado a hediondo.” STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/6/2016 (Info 831). 48 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tráfico privilegiado não é hediondo (cancelamento da Súmula 512-STJ). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 06/08/2022 “O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.” STJ. 3ª Seção. Pet 11796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 595). 2.9.2. REQUISITOS CUMULATIVOS a. que o réu seja primário; b. que tenha bons antecedentes; c. que não se dedique às atividades criminosas; d. que não integre organização criminosa. Inicialmente, destaca-se que para concessão da causa de diminuição de pena todos os requisitos devem se fazer presentes, em outras palavras, são cumulativos: Jurisprudência em Teses do STJ: Tese 22: “A causade diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas só pode ser aplicada se todos os requisitos, cumulativamente, estiverem presentes.” O primeiro requisito é de que o réu seja primário. A respeito desse tema, cumpre observar que, para inaplicabilidade do benefício, a reincidência não precisa ser específica (dupla condenação por tráfico de drogas). Assim, qualquer espécie de reincidência impede o benefício: “Outrossim, a reincidência, seja ela específica ou não, constitui óbice à aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei 30 n.11.343/06, tendo em vista que um dos requisitos para a incidência do benefício é que o paciente seja primário. 5. Dessa forma, a reincidência pode ensejar o agravamento da pena, na segunda fase da dosimetria, bem como impedir a aplicação do redutor previsto no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006, na medida em que a primariedade é requisito para a incidência desse benefício. Ressalta-se que, por não ser a reincidência elemento constitutivo ou que qualifica o crime de tráfico de drogas, mas apenas um dos elementos que obstam determinado benefício penal, não há falar em bis in idem” (STJ — HC 393.862/DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, julgado em 26/09/2017, DJe 02/10/2017); No mesmo sentido: “A reincidência afasta a possibilidade de aplicação da causa de diminuição de pena do § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, não se exigindo que a reincidência seja específica em tráfico de drogas. Precedentes” (STJ — HC 244.611/SP, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ/SE), 6ª Turma, julgado em 05/12/2013, DJe 16/12/2013). ⚠ CUIDADO ■ Recentemente houve mudança no entendimento quanto à possibilidade/impossibilidade da utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para impedir a redução de pena pela configuração do chamado tráfico privilegiado. Vejamos o ATUAL ENTENDIMENTO: É VEDADA A UTILIZAÇÃO DE INQUÉRITOS E/OU AÇÕES PENAIS EM CURSO PARA IMPEDIR A APLICAÇÃO DO ART. 33, § 4.º, DA LEI N. 11.343/06. (TEMA REPETITIVO 1139) “A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob o rito dos recursos especiais repetitivos (Tema 1.139), estabeleceu a tese de que é vedada a utilização de inquéritos ou ações penais em curso para impedir a aplicação da redução de pena pela configuração do chamado tráfico privilegiado (artigo 33, parágrafo 4º, da Lei 11.343/2006). (...) Confirmando jurisprudência majoritária das turmas criminais do STJ, a seção considerou que, enquanto não houver o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, eventuais ações contra o réu não podem ser consideradas para impedir a redução da pena pelo tráfico privilegiado. "Todos os requisitos da minorante do artigo 33, parágrafo 4º, da Lei 11.343/2006 demandam uma afirmação peremptória acerca de fatos, não se prestando a existência de inquéritos e ações penais em curso a subsidiar validamente a análise de nenhum deles", afirmou a relatora dos recursos analisados, ministra Laurita Vaz.49” “Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou processos criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da presunção de não culpabilidade). Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em 49 https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/17082 022-Terceira-Secao-veda-uso-de-inqueritos-e-acoes-em-curso-para-imped ir-aplicacao-do-trafico-privilegiado.aspx#:~:text=Confirmando%20jurispru d%C3%AAncia%20majorit%C3%A1ria%20das%20turmas,da%20pena%20 pelo%20tr%C3%A1fico%20privilegiado. 31 condenações não alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada).” (STF. 1ª Turma. HC 166385/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020) - (Info 973); (STF. 2ª Turma. RE 1.283.996 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/11/2020); e (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 676.516/SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/10/2021). ■ Vale lembrar, ainda, que segundo entendimento do STJ a utilização da reincidência como agravante genérica e, concomitantemente, como circunstância apta a afastar a causa especial de diminuição da pena do crime de tráfico não caracteriza bis in idem. Nesse sentido: “A reincidência, específica ou não, não se compatibiliza com a causa especial de diminuição de pena prevista § 4.º do art. 33 da Lei n.º 11.343/2006, dado que necessário, dentre outros requisitos, seja o agente primário. Tal óbice e a exasperação da pena, na segunda fase, não importam em bis in idem, mas em consequências jurídico-legais distintas de um mesmo instituto. Precedentes.” (AgRg no HC 468.578/MG, j. 19/02/2019) 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova MPE-SP - 2022 - MPE-SP - Promotor de Justiça Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: “a utilização da reincidência como agravante genérica e como circunstância que afasta a causa especial de diminuição da pena do crime de tráfico não caracteriza bis in idem”. No que diz respeito à necessidade de não integrar organização criminosa, a jurisprudência dos Tribunais Superiores têm entendido que o fato de ser “mula do tráfico” (indivíduo que transporta a droga ou faz sua entrega), por si só, não é fundamento suficiente para concluir que este integra organização criminosa e, por conseguinte, afastar a diminuição de pena do §4º. Vejamos:50 “É possível aplicar o § 4º do art. 33 da LD às “mulas”. O fato de o agente transportar droga, por si só, não é suficiente para afirmar que ele integre a organização criminosa. A simples condição de “mula” não induz automaticamente à conclusão de que o agente integre organização criminosa, sendo imprescindível, para tanto, prova inequívoca do seu envolvimento estável e permanente com o grupo criminoso. Portanto, a exclusão da causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 somente se justifica quando indicados expressamente os fatos concretos que comprovem que a “mula” integra a organização criminosa.” (STF. 1ª Turma. HC 124107, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04/11/2014.); (STF. 2ª Turma. HC 131795, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 03/05/2016.); (STJ. 5ª Turma. HC 387.077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 6/4/2017) - (Info 602); e (STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1052075/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/06/2017). (grifo nosso) 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova FCC - 2021 - TJ-GO - Juiz Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: 50 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível aplicar o § 4º do art. 33 da lei de drogas às “mulas”. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 06/08/2022 32 a) é inviável a aplicação da causa especial de diminuição da pena do art. 33, § 4° , da Lei 11.343/2006, quando há condenação simultânea do agente nos crimes de tráfico de drogas e de associação para o tráfico, mas possível que a fração de redução, em caso de exclusiva condenação por tráfico, seja modulada em razão da qualidade e da quantidade de droga apreendida, além das demais circunstâncias do delito, não obstando a aplicação da minorante, por si só, a condição de “mula”. Em relação ao requisito de não se dedicar a atividades criminosas, outro tema debatido na jurisprudência é se a prática anterior de atos infracionais pode ser utilizada para afastar a causa de diminuição do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas. O tema não é pacífico, vejamos:51 1ª TURMA DO STF: SIM É possível a utilização da prática de atos infracionais para afastar a causa de diminuição, quando se pretendeu a aplicação do redutor de pena do do§ 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006. Isso não significa que foram considerados, como crimes, os atos infracionais praticados. Significa, apenas, que o contexto fático pode comprovar que o requisito de não dedicação a atividades criminosas não foi 51 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A prática anterior de atos infracionais pode ser utilizada para afastar a causa de diminuição do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 06/08/2022 preenchido.” STF. 1ª Turma. HC 192147, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/02/2021. 2ª TURMA DO STF: NÃO A prática anterior de atos infracionais pelo paciente não configura fundamentação idônea a afastar a minorante do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006.” STF. 2ª Turma. HC 191992, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 08/04/2021. STJ: SIM O histórico de ato infracional pode ser considerado para afastar a minorante do art. 33, § 4.º, da Lei n. 11.343/2006, por meio de fundamentação idônea que aponte a existência de circunstâncias excepcionais, nas quais se verifique a gravidade de atos pretéritos, devidamente documentados nos autos, bem como a razoável proximidade temporal com o crime em apuração Ainda quanto ao requisito do agente não se dedicar a atividades criminosas, a jurisprudência do STJ entende que o fato do agente possuir condenação anterior pelo crime de associação para o tráfico (art. 35) impede a concessão da causa de diminuição de 33 pena do §4º do art. 33: “Quanto à incidência do redutor de pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, a jurisprudência desta Corte se firmou no sentido de que a condenação por associação para o tráfico de drogas obsta a aplicação do redutor previsto no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, uma vez que demanda a existência de animus associativo estável e permanente entre os agentes no cometimento do delito, evidenciando, assim, a dedicação do agente à atividade criminosa” (STJ — AgRg no HC 664.103/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, julgado em 18/05/2021, DJe 24/05/2021); (grifo nosso) “Nos termos da jurisprudência da Corte, não restam caracterizados os requisitos do art. 33, § 4º, Lei 11.343/2006, quando o recorrente foi concomitantemente condenado pelo delito de associação para o tráfico (art. 35 — idem), incidindo o óbice da Súmula 83/STJ” (STJ — AgRg no AREsp 1.787.852/PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF-1ª Região), 6ª Turma, julgado em 15/06/2021, DJe 18/06/2021); (grifo nosso) Vale ressaltar que não impede a aplicação da causa de diminuição de pena o fato do agente ter sido preso com grande quantidade de droga, pois, por si só, isso não pode levar à conclusão de que há dedicação a atividades criminosas. Nesse sentido: “AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA. MINORANTE PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006. REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS. DEDICAÇÃO A ATIVIDADES CRIMINOSAS. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. 1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, para afastar a benesse com suporte na dedicação a atividades criminosas não é suficiente a indicação da quantidade de drogas apreendidas, devendo haver outros elementos concretos suficientes que evidenciem que o agente se dedica a atividades criminosas e/ou integra organização criminosa. 2. Afastada a aplicação da minorante do tráfico privilegiado fundamentadamente, com base não apenas na grande quantidade de droga apreendida mas também em outras circunstâncias concretas indicativas de dedicação a atividades criminosas e/ou a integração a organização criminosa dedicada ao tráfico de drogas, a pretendida revisão do julgado não se coaduna com a estreita via do writ.” (...) (STJ. 6ª Turma: AgRg no HC 717974/MS, Min. Olindo Menezes. Data de publicação: 19/08/2022) (grifo nosso) 2.9.3. QUANTUM DE DIMINUIÇÃO O §4º estabelece que a pena será diminuída de 1/6 a 2/3. Ocorre que o artigo não estabelece nenhuma especificação quanto aos critérios a serem utilizados pelo magistrado para determinar o quantum a ser aplicado no caso concreto, afirmando apenas que para que essa diminuição ocorra “o agente deve ser primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa” Ocorre que o art. 42 da Lei 11.343/06 dispõe que, na fixação da pena-base, os principais fatores que o juiz deve ter em conta são exatamente aqueles atinentes à quantidade e à natureza da droga. 34 Nesse sentido, explica Victor Gonçalves e Baltazar52 que “tornou-se comum a aplicação, na 1ª fase da dosimetria, de pena acima do mínimo legal em razão da quantidade e da natureza da droga, atendendo-se ao disposto no art. 42, e, posteriormente, na 3ª fase da fixação da pena — na análise da causa de diminuição —, a redução em índice pequeno (1/6, 1/3 etc.), justamente em razão da quantidade e da natureza da droga.” Porém, a possibilidade acima exposta acabou sendo rechaçada pelo STF, ao entender que tal providência constitui bis in idem, porque a quantidade e a natureza da droga estariam a ser consideradas duas vezes na dosimetria. “Ademais, conforme entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, no julgamento do ARE 666.334/MG (Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJ 6/5/2014), está vedada a aferição concomitante da natureza e da quantidade da droga, na primeira e na terceira fase da dosimetria, sob pena de ofensa ao princípio do ne bis in idem” (STJ — AgRg no REsp 1726404/MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma, julgado em 02/08/2018, DJe 15/08/2018). (grifo nosso) 📌 OBSERVAÇÃO O Plenário da Corte Suprema definiu que o magistrado não pode utilizar o critério duas vezes (na primeira e terceira fase de dosimetria, concomitantemente), mas deixa ao livre-arbítrio do magistrado escolher se o utilizará na 1ª ou na 3ª fase 52 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. da dosimetria.53 O STJ tem seguido a mesma linha de pensamento do STF:54 “É possível a valoração da quantidade e natureza da droga apreendida, tanto para a fixação da pena-base quanto para a modulação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, neste último caso ainda que sejam os únicos elementos aferidos, desde que não tenham sidos considerados na primeira fase do cálculo da pena.” STJ. 3ª Seção. HC 725.534-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/04/2022 (Info 734). (grifo nosso) 🚨JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-RS - Defensor Público, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: Pedro foi preso em flagrante delito portando cinco quilos de maconha em sua mochila. Em seu interrogatório, negou a traficância, mas admitiu a posse da droga, afirmando que ela não lhe pertencia e que apenas a estava levando para guardá-la, em troca de recompensa financeira. Pedro, que não possuía antecedentes criminais, foi condenado por tráfico ilícito de entorpecentes. Considerando essa situação hipotética, julgue o item seguinte.] “A grande quantidade de maconha apreendida com Pedro não poderá ensejar, simultaneamente, o 54 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível utilizar a quantidade e natureza da droga apreendida para a modulação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da LD?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 06/08/2022 53 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 35 aumento da sua pena-base e a negação do benefício de redução da pena estabelecido no § 4.º do art. 33 da Lein.º 11.343/2006.” 2.10. TRÁFICO DE MAQUINÁRIO Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa. 2.10.1. TIPO SUBSIDIÁRIO Aqui, temos um tipo subsidiário, de maneira que o agente que pratica as condutas descritas nos arts. 33, caput (tráfico de drogas) e 34, no mesmo contexto fático, responde só crime de tráfico de drogas.55 Nesse sentido: “Nos termos da melhor doutrina, há nítida relação de subsidiariedade entre os tipos penais descritos no art. 12 e no art. 13 da Lei n. 6.368/1976 (atualmente, previstos nos arts. 33 e 34 da Lei n. 11.343/2006, respectivamente). Nada obsta, no entanto, que seja reconhecido o concurso material entre o crime previsto no art. 12 da Lei n. 6.368/1976 e o descrito no art. 13 da mencionada lei, na hipótese de o tráfico de drogas ser praticado em contexto diverso, 55 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. pelo mesmo agente, sem nenhuma conexão com o crime de posse e guarda de maquinário destinado à fabricação de drogas (art. 13). 2. O contexto fático não deixa dúvidas de que a apreensão de maquinários, aparelhos e instrumentos, na chácara Guatapará — SP, destinados à preparação, à produção e à transformação de substâncias entorpecentes, ocorreu em um mesmo contexto, de modo que não se identifica a autonomia fática necessária para embasar a condenação simultânea do paciente pelo crime previsto no art. 12 da Lei n. 6.368/1976 e pelo delito descrito no art. 13 da referida lei. Vale dizer, o maquinário, os aparelhos e os instrumentos destinados à fabricação, à preparação, à produção e/ou à transformação de substância entorpecente destinavam-se, precipuamente, a um só crime-fim: o tráfico de drogas” (STJ — HC 104.489/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em 05/04/2016, DJe 18/04/2016). (grifo nosso) 2.10.2. BEM JURÍDICO Tutela-se a saúde pública. 2.10.3. SUJEITO ATIVO Pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), não se exigindo qualidade especial do agente. 2.10.4. SUJEITO PASSIVO É a coletividade (crime vago). 2.10.5. CONDUTAS TÍPICAS É um crime plurinuclear, com diversas condutas punidas pelo tipo penal, assemelhando-se 36 ao disposto no art. 33, caput (tráfico de drogas). Porém, as condutas estão relacionadas a máquinas ou objetos em geral destinados à fabricação, preparação, produção ou transformação de substância entorpecente. Ademais, é um tipo penal misto alternativo, o que significa que a prática de mais de uma conduta nuclear, em um mesmo contexto fático, enseja a condenação por crime único. 2.10.6. OBJETO MATERIAL De maneira didática, Fernando Capez56 explica que “a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa distingue-se do crime previsto no art. 33, caput, pois aqui não se trata de tráfico de drogas, mas de maquinismo, aparelho, instrumento ou objeto destinado à produção de droga. Pode-se, com isso, afirmar que o crime aqui previsto é o de tráfico de aparelhos e máquinas voltados à produção da droga.” (grifo nosso) 📌 OBSERVAÇÃO Embora haja posicionamento doutrinário em sentido diverso, prevalece na jurisprudência e doutrina que o aparelho/maquinário/objeto não precisa ter a finalidade exclusiva de produzir a droga. Dessa forma, qualquer instrumento pode ser utilizado para produção da droga, o que vai determinar a destinação é o contexto fático no qual ele foi apreendido. 56 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. ⚠ ATENÇÃO O crime do art. 34 só se consuma quando o maquinário, aparelho ou objeto tiver o especial fim de fabricar, preparar, produzir ou transformar drogas, visando ao tráfico de drogas (art. 33, caput). Caso os instrumentos tenham a finalidade somente de uso da droga para consumo pessoal, ter-se-ia ato preparatório do crime do art. 28.57 1. O crime capitulado no art. 34 da Lei n. 11.343/2006 se destina a punir atos preparatórios e, portanto, é tido como subsidiário em relação ao crime previsto no art. 33 da mesma Lei, sendo por este absorvido quando as ações são praticadas em um mesmo contexto fático. 2. É possível, no entanto, que o crime previsto no art. 34 da Lei de Drogas se consume de forma autônoma, circunstância na qual "[d]eve ficar demonstrada a real lesividade dos objetos tidos como instrumentos destinados à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, ou seja, relevante analisar se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em tela" (AgRg no AREsp 303.213/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 08/10/2013, DJe 14/10/2013). 3. Nesse caso, para que se configure a lesão ao bem jurídico tutelado (saúde pública), a ação de possuir maquinário e/ou objetos deve ter o especial fim de fabricar, preparar, produzir ou transformar drogas, visando o tráfico. 4. Portanto, ainda que o crime previsto no art. 34 da Lei n. 11.343/2006 possa subsistir de forma autônoma, não é possível que o 57 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 37 agente responda pela prática do referido delito quando a posse dos instrumentos se configura como ato preparatório destinado ao consumo pessoal de entorpecente. 5. Considerando que, nos termos do § 1.º do art. 28 da Lei de Drogas, nas mesmas penas do caput incorre quem cultiva a planta destinada ao preparo de pequena quantidade de substância ou produto (óleo), seria um contrassenso jurídico que a posse de objetos destinados ao cultivo de planta psicotrópica, para uso pessoal, viesse a caracterizar um crime muito mais grave, equiparado a hediondo e punido com pena privativa de liberdade de 3 (três) a 10 (dez) anos de reclusão, além do pagamento de vultosa multa. 6. É consenso jurídico que o legislador, ao despenalizar a conduta de posse de entorpecente para uso pessoal, conferiu tratamento penal mais brando aos usuários de drogas. Nesse contexto, se a própria legislação reconhece o menor potencial ofensivo da conduta do usuário que adquire drogas diretamente no mercado espúrio de entorpecentes, não há como evadir-se à conclusão de que também se encontra em situação de baixa periculosidade o agente que sequer fomentou o tráfico, haja vista ter cultivado pessoalmente a própria planta destinada à extração do óleo, para seu exclusivo consumo. 7. Recurso ordinário em habeas corpus conhecido e provido para trancar a ação penal apenas no que refere ao crime do art. 34 da Lei n. 11.343/2006, sem prejuízo do prosseguimento da apuração das condutas previstas no art. 28, caput e § 1.º, da mesma Lei perante o Juízo competente. (STJ; Sexta Turma; RHC 135.617/PR; Relatora Ministra Laurita Vaz; Publicado no Dje 30/09/2021) 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova MPE-SC - 2023 - CESPE/CEBRASPE - Promotor de Justiça Substituto, tendo sido considerada errada a seguinte assertiva: “A posse de maquinário, aparelho ou instrumento de fabricação de drogas destinadas ao consumo pessoal é conduta penalmente típica, embora não equiparada a crime hediondo.” 2.10.7. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO Os elementos normativos do tipo são as expressões “sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”, não se punindo a conduta regular. 2.10.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O crime se consuma com a realização da conduta típica, dispensando-se a efetiva fabricação, preparação, produção ou transformação da droga.58 A tentativa é perfeitamente possível. 2.10.9. VEDAÇÕES LEGAIS O art. 44 da Lei de Drogas estabelece ser o crime em análiseinsuscetível de fiança e liberdade provisória, e, ao condenado, não poderá ser concedido o sursis. Além disso, não poderá ele obter anistia, graça ou indulto, bem como vedou-se a 58 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 38 substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. ⚠ CUIDADO Em que pese tal disposição legal, em 2010, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade de parte do art. 44 (HC 97.256/RS). Assim, passou-se a admitir a substituição por pena restritiva, nos termos do art. 44, I, do Código Penal, desde que as circunstâncias do crime indiquem que a medida é suficiente para a prevenção e repressão do crime (art. 44, III, do CP). Do mesmo modo, a vedação de liberdade provisória de maneira genérica já foi rechaçada em outras ocasiões pelo STF, sendo possível sua concessão. Por sua vez, o art. 44, parágrafo único, permite a obtenção do livramento condicional àqueles que já tiverem cumprido 2/3 da pena e desde que não sejam reincidentes específicos. 📌 OBSERVAÇÃO A causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º (tráfico privilegiado) só é aplicável aos crimes descritos no caput (tráfico de drogas) e no § 1º (condutas equiparadas ao tráfico de drogas) do art. 33. Portanto, não se aplica ao crime em análise. 2.11. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei. 2.11.1. BEM JURÍDICO Protege a saúde pública. 2.11.2. SUJEITO ATIVO Trata-se de crime comum. Logo, pode ser cometido por qualquer pessoa. O crime em comento é plurissubjetivo (concurso necessário), o qual exige a união de pessoas visando à prática do crime. 📌 OBSERVAÇÃO Menores inimputáveis e doentes mentais podem ser computados para o fim de caracterizar o crime.59 2.11.3. SUJEITO PASSIVO É a coletividade (crime vago). 2.11.4. CONDUTAS TÍPICAS A conduta punida é a associação de duas ou mais pessoas para o fim de praticar qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput (tráfico de drogas) e § 1º (condutas equiparadas ao tráfico de drogas), e 34 (tráfico de maquinário). 59 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 39 2.11.5. REQUISITOS60 a. Envolvimento mínimo de 2 pessoas. Trata-se de crime de concurso necessário de condutas paralelas, porque os envolvidos ajudam-se na prática do delito. 📌 OBSERVAÇÃO Veja que a quantidade mínima de agentes é diferente do crime de associação criminosa (art. 288, CP), que pressupõe o envolvimento de pelo menos 3 pessoas; b. Intenção de cometer qualquer crime de tráfico de drogas (art. 33, caput), condutas equiparadas ao tráfico de drogas (Art. 33, § 1º) e o crime de tráfico de maquinário (art. 34). No crime de associação criminosa (art. 288, CP) os integrantes visam cometer crimes de outra natureza, tais como roubos, furtos, estelionatos, peculatos etc. c. No crime de associação para o tráfico, a intenção dos agentes em cometer os crimes pode ser de forma reiterada ou não. 📌 OBSERVAÇÃO No crime de associação criminosa (art. 288, CP) é necessária a intenção de reiteração delituosa. 60 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. ⚠ CUIDADO Embora a prática dos crimes visados pela associação não precise ser de forma reiterada, a associação deve ter permanência e estabilidade. Nesse sentido:61 “O crime de associação para o tráfico (art. 35 - Lei 11.343/2006), mesmo formal ou de perigo, demanda os elementos "estabilidade" e "permanência" do vínculo associativo, que devem ser demonstrados de forma aceitável (razoável), ainda que não de forma rígida, para que se configure a societas sceleris e não um simples concurso de pessoas, é dizer, uma associação passageira e eventual.” (STJ. 6ª Turma. REsp 1.978.266/MS, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), julgado em 3/05/2022); (grifo nosso). 2.11.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA A consumação ocorre quando da formação da associação para o fim de cometer tráfico, independentemente da eventual prática dos crimes pretendidos pelo bando, ou seja, para sua consumação é dispensável que ocorram os crimes visados pela associação. Trata-se de crime formal. 📌 OBSERVAÇÃO Caso os agentes venham a praticar os crimes visados, haverá concurso material com o crime de tráfico (seja de drogas ou de maquinário, 61 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É preciso atenção processual, sem estereótipos, para a distinção, em cada caso, entre o crime de associação para o tráfico, nos termos do art. 35 da Lei 11.343/2006, e a coautoria mais complexa, não podendo a associação ser dada como comprovada por inferência do crime de tráfico perpetrado. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 07/08/2022 40 previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34). Vejamos: “Os crimes de tráfico e de associação para o tráfico de drogas são crimes autônomos, porquanto a descrição típica de cada um deles se caracteriza por elementares específicas e distintas. Assim, não há falar em continuidade delitiva entre os crimes de tráfico e de associação para o tráfico de drogas, porquanto não são da mesma espécie” (STJ — HC 305.553/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, julgado em 4/11/2014, DJe 14/11/2014). Outro ponto de grande relevância é o entendimento dos Tribunais Superiores no sentido de que a apreensão da droga é desnecessária para configuração do delito de associação para o tráfico. Nesse sentido:62 “A ausência de apreensão de drogas na posse direta do paciente não afasta a prática do delito ou sua flagrância, eis que demonstrada sua ligação com os corréus e adolescentes, além de sua relação com os demais alvos da busca e apreensão” (STJ — HC 441.712/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 21/02/2019, DJe 12/03/2019); (grifo nosso). “Para a configuração do delito previsto no art. 35 da Lei n. 11.343/06 é desnecessária a comprovação da materialidade quanto ao delito de tráfico, sendo prescindível a apreensão da droga ou o laudo toxicológico. É indispensável, tão somente, a comprovação da associação estável e 62 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. permanente, de duas ou mais pessoas, para a prática da narcotraficância” (STJ — HC 432.738/PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, julgado em 20/03/2018, DJe 27/03/2018). (grifo nosso) Quanto à tentativa, prevalece o entendimento pela sua impossibilidade, uma vez que havendo o acordo de vontades entre os integrantes, com permanência e estabilidade, o crime estará consumado; caso contrário, o fato será considerado atípico.63 2.11.7. HEDIONDEZ A jurisprudência dos Tribunais Superiores é no sentido de que NÃO se trata de crime equiparado a hediondo por não ter sido mencionado na Lei n. 8.072/90. 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova FCC - 2022 - DPE-CE - Defensor(a) Público(a) de Entrância Inicial, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: Considerando a jurisprudência predominante do Superior Tribunal de Justiça, o crime de associação para o tráfico, previsto no art. 35, caput, da Lei nº 11.343/06,] a) não é equiparado a crime hediondo e o lapso temporal aplicável ao réu primário para fins de livramento condicional é de 2/3. 2.11.8. CONDUTA EQUIPARADA O parágrafo únicodo art. 35 prevê que 63 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 41 responde nas mesmas penas do caput (associação para o tráfico) aquele que se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 (financiamento ao tráfico), que será estudado a seguir. 2.12. FINANCIAMENTO AO TRÁFICO Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena – reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa. O tipo penal em análise foi considerado por muitos como uma das principais novidades da Lei 11.343/2006, pois, na vigência da legislação anterior, quem financiava o tráfico só poderia ser punido como partícipe desse crime. Assim, o financiamento ou custeio ao tráfico tornou-se crime autônomo. 2.12.1. SUJEITO ATIVO É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. 2.12.2. SUJEITO PASSIVO É a coletividade (crime vago). 2.12.3. CONDUTAS TÍPICAS Como bem explica Victor Gonçalves e Baltazar64, “a conduta ilícita abrange qualquer espécie de ajuda financeira, com a entrega de valores ou bens aos traficantes. Note-se, porém, que a configuração 64 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. do delito autônomo pressupõe que o agente atue como financiador contumaz (habitual), ou seja, que se dedique a tal atividade de forma reiterada. Essa conclusão é inevitável porque, àquele que financia o tráfico de forma isolada (ocasional), está reservada a causa de aumento do art. 40, VII, combinado com o art. 33, caput, da Lei.” (grifo nosso). 📌 OBSERVAÇÃO Caso o agente que financia o tráfico também pratique tal crime, responderá apenas por este. Nesse sentido:65 “Se o agente financia ou custeia o tráfico, mas não pratica nenhum verbo do art. 33: responderá apenas pelo art. 36 da Lei de Drogas. Se o agente, além de financiar ou custear o tráfico, também pratica algum verbo do art. 33: responderá apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (não será condenado pelo art. 36).” (STJ. 6ª Turma. REsp 1290296-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/12/2013) (Info 534). 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-TO - Defensor Público Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: “I - I O agente que realizar, direta e simultaneamente, a traficância e o custeio do tráfico não responderá pelos crimes de tráfico de drogas e de financiamento ao tráfico, em concurso material, mas apenas pelo tráfico majorado, na forma prevista na Lei n.º 11.343/2006.” 65 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Financiamento do tráfico e assemelhados (art. 36). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 07/08/2022 42 2.12.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA A consumação ocorre quando o agente financia ou custeia de modo habitual o tráfico de drogas. Já a tentativa é inadmissível, levando em consideração que, se existe a reiteração de atos, o crime está consumado; se não existe, o agente responde por participação no crime de tráfico, com a pena aumentada em razão do financiamento.66 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-SE - Defensor Público, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: O crime de associação para o tráfico de drogas, previsto no artigo 35 da Lei n.º 11.343/2006,] d) é aplicável também para quem se associa para a prática reiterada de financiamento do crime de tráfico de drogas. 2.13. COLABORAÇÃO COMO INFORMANTE Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa. 2.13.1. SUJEITO ATIVO Trata-se de crime comum, no qual qualquer pessoa pode praticá-lo. 66 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 2.13.2. SUJEITO PASSIVO É a coletividade (crime vago). 2.13.3. CONDUTA TÍPICA O tipo penal em análise não se satisfaz com a mera colaboração para o tráfico, exigindo-se que o agente atue como informante colaborador de grupo, organização ou associação voltados para o tráfico. 📌 OBSERVAÇÃO A colaboração como informante de apenas um traficante não caracteriza o crime em tela, pois o tipo penal fala em informante de grupo, organização ou associação.67 O informante é aquele indivíduo que, embora não integre efetivamente o grupo e não tome parte no tráfico, passa informações a seus integrantes. É o caso, por exemplo, do menino que fica na entrada das favelas anunciando aos traficantes, seja por meio de fogos de artifício ou com o uso de celulares ou rádio comunicadores, quando a polícia adentra. ⚠ CUIDADO Se o informante integrar o grupo, estando associado efetivamente aos demais integrantes, deve responder somente pelo crime de associação ao tráfico, pois é mais grave. Vejamos: “A norma incriminadora do art. 37 da Lei n. 11.343/2006 tem como destinatário o agente que colabora como informante com grupo (concurso eventual de pessoas), organização 67 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 43 criminosa (art. 2º da Lei n. 12.694/2012) ou associação (art. 35 da Lei n. 11.343/2006), desde que não tenha ele qualquer envolvimento ou relação com as atividades daquele grupo, organização criminosa ou associação para as quais atua como informante. Se a prova indica que o agente mantém vínculo ou envolvimento com esses grupos, conhecendo e participando de sua rotina, bem como cumprindo sua tarefa na empreitada comum, a conduta não se subsume ao tipo do art. 37 da Lei de Tóxicos, mas sim pode configurar outras figuras penais, como o tráfico ou a associação, nas modalidades autoria e participação, ainda que a função interna do agente seja a de sentinela, fogueteiro ou informante. 3. O tipo penal trazido no art. 37 da Lei de Drogas se reveste de verdadeiro caráter de subsidiariedade, só ficando preenchida a tipicidade quando não se comprovar a prática de crime mais grave. De fato, cuidando-se de agente que participa do próprio delito de tráfico ou de associação, a conduta de colaborar com informações para o tráfico já é inerente aos mencionados tipos. Considerar que o informante possa ser punido duplamente, pela associação e pela colaboração com a própria associação da qual faz parte, além de contrariar o princípio da subsidiariedade, revela indevido bis in idem” (STJ — HC 224.849/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª Turma, julgado em 11/06/2013, DJe 19/06/2013). (grifo nosso) 2.13.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O crime se consuma no momento em que o agente presta informações ao grupo. A tentativa, por sua vez, não é possível, pois ou o agente informa e o crime se consumou ou não informa e o fato é atípico.68 2.14. PRESCRIÇÃO CULPOSA Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente. 2.14.1. BEM JURÍDICO Tutela-se a saúde pública. 2.14.2. SUJEITO ATIVO Embora o tipo não indique expressamente, através de uma interpretação dos núcleos “prescrever” e “ministrar”, há de se concluir que se trata de crimepróprio que somente pode ser praticado por médico, dentista, farmacêutico ou profissional de enfermagem. Os farmacêuticos e profissionais de enfermagem somente podem praticar o crime na modalidade “ministrar”, pois, no ordenamento jurídico brasileiro, apenas médicos e dentistas podem prescrever substâncias entorpecentes com fins medicinais. 68 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 44 2.14.3. SUJEITO PASSIVO É tanto a coletividade quanto a pessoa em quem a droga foi ministrada de forma excessiva ou desnecessária.69 2.14.4. CONDUTAS TÍPICAS A lei descreve apenas duas condutas típicas para o crime, quais sejam: a. Prescrever: é o mesmo que receitar; e b. Ministrar: significa introduzir a substância entorpecente no organismo de alguém.70 📌 OBSERVAÇÃO O crime do art. 38 é exclusivamente culposo, uma vez que prescrever ou ministrar dolosamente constitui tráfico de drogas (art. 33, caput). ⚠ ATENÇÃO Via de regra, os crimes culposos possuem o tipo aberto, ou seja, a lei não descreve em que consiste a imprudência, negligência ou imperícia, cabendo ao juiz, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, verificar se o réu agiu ou não com as cautelas necessárias. Entretanto, o crime do art. 38 da Lei de Drogas foge a essa regra, uma vez que a lei menciona exatamente quais condutas culposas tipificam-no, sendo as seguintes:71 ■ Quando o paciente não precisa da droga: aqui, o agente se engana quanto ao quadro de saúde do paciente, acreditando que necessita do uso 71 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 70 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 69 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. de determinada droga, quando, em verdade, não precisava. ■ Quando a dose é receitada ou ministrada de forma excessiva: nessa situação, a droga é receitada ou ministrada em dose superior à quantidade necessária. Não é qualquer diferença de quantidade que ensejará o crime, deve ser uma diferença superior excessiva. ■ Quando a substância é ministrada em desacordo com determinação legal ou regulamentar: aplica-se quando ocorre outra espécie qualquer de engano, em desatenção ao que estabelece a lei ou o regulamento.72 2.14.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Na modalidade “prescrever”, a consumação ocorre quando a receita é entregue ao paciente, dispensando-se que este venha a comprar a droga prescrita. Já na modalidade “ministrar”, o delito consuma-se no instante em que a substância é inoculada na vítima.73 Quanto à tentativa, por ser crime culposo, não é admitida. 2.14.6. AÇÃO PENAL É crime de ação penal pública incondicionada, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal, uma vez que estamos diante de uma infração penal de menor potencial ofensivo. 73 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 72 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 45 2.14.7. PENA A pena para o crime é branda, até pela natureza culposa da infração, sendo punido com a pena de detenção de 6 meses a 2 anos (crime de menor potencial ofensivo). Outrossim, o parágrafo único do art. 38 estabelece que, em caso de condenação, deve o juiz comunicar ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertence o agente. 2.15. CONDUÇÃO DE EMBARCAÇÃO OU AERONAVE APÓS O CONSUMO DE DROGA Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa. Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros. 2.15.1. BEM JURÍDICO Tutela-se a segurança no espaço aéreo e aquático. 2.15.2. SUJEITO ATIVO Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime (crime comum), ainda que não habilitada para conduzir a embarcação ou aeronave. 2.15.3. SUJEITO PASSIVO É a coletividade (crime vago). 2.15.4. CONDUTAS TÍPICAS O presente tipo penal, que tutela a segurança no espaço aéreo e aquático, pune a condução perigosa de aeronave ou embarcação decorrente da utilização de substância entorpecente. Conforme explica Victor Gonçalves e Baltazar74: “para a configuração do delito, é necessário que, em razão do consumo da droga, o agente conduza a aeronave ou embarcação de forma anormal, expondo a perigo a incolumidade de outrem. Não é necessário, entretanto, que se prove que determinada pessoa foi exposta a uma situação de risco, bastando a prova de que houve condução irregular da aeronave ou embarcação. Estas, aliás, podem ser de qualquer categoria ou tamanho (exemplos: avião a jato, monomotor, turboélice, lancha, jet-ski, veleiro, navio).” Em resumo: o tipo penal exige que a condução da embarcação ou aeronave, após o consumo de drogas, exponha a dano potencial a incolumidade de outrem. 74 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 46 📌 OBSERVAÇÃO Caso a conduta esteja relacionada à condução de veículo automotor em via pública sob o efeito de entorpecente, o crime em tese cometido é do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503/97). 2.15.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA A consumação ocorre quando o agente dirige a embarcação ou aeronave de forma anormal. Por sua vez, a tentativa não é possível, uma vez que se o agente, em razão da substância, conduz de forma irregular, o crime está consumado, e, se não o faz, o fato é atípico.75 2.15.6. QUALIFICADORA O parágrafo único do art. 39 prevê uma pena mais severa para quando o veículo utilizado for de transporte coletivo de passageiros. 2.15.7. PENA Além da pena privativa de liberdade e multa, a lei determina a apreensão do veículo e cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada. 📌 OBSERVAÇÃO Na modalidade simples (caput) é cabível a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95, levando em consideração que a pena mínima não é superior a 1 ano. Diferentemente, não é cabível a aplicação do instituto na modalidade 75 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. qualificada do crime (parágrafo único), pois a pena mínima é de 2 anos. 3. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA As causas de aumento de pena previstas no art. 40 da Lei n. 11.343/2006 descrevem diversas situações nas quais o legislador entendeu por bem punir com maior severidade; entretanto, estas só se aplicam aos crimes previstos nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, ou seja, aos delitos relacionados ao tráfico de drogas. Nesse sentido, as causas de aumento de pena não incidem nos crimes em que a intenção do agente é o consumo próprio, nem no crime culposo previsto no art. 38 e no de direção de embarcação ou aeronave sob efeito de droga descrito no art. 39.76 O quantum de aumento varia de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços). 3.1. TRANSNACIONALIDADE Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a doisterços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; A “transnacionalidade” é um conceito mais amplo do que “internacionalidade”, uma vez que não se limita apenas à exportação ou importação 76 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 47 da droga. Assim, caso o agente venda drogas em território nacional a uma organização criminosa internacional, ainda que seja com a finalidade de distribuição interna da droga, incidirá a causa de aumento, bastando apenas que se constate o caráter transnacional do delito, ou seja, que há uma rede integrada e conectada entre países.77 Nesse sentido, vejamos o teor da Súmula 607 do STJ: Súmula 607 do STJ: “A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da lei 11.343/06) se configura com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras”. Como se percebe da simples leitura do verbete sumular, é dispensável que a droga consiga sair das fronteiras do país para que incida a causa de aumento de pena, bastando a mera comprovação de que tinha destino internacional. 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova FGV - 2022 - MPE-GO - Promotor de Justiça Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: Para configuração da majorante da transnacionalidade (Art. 40, inciso I, da Lei nº 11.343/2006), a persecução penal deve demonstrar elementos concretos aptos de que o agente:] a) pretendia disseminar a droga no exterior, sendo dispensável ultrapassar as fronteiras que dividem as nações; 77 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. Outrossim, o STF decidiu que a fração de aumento de pena pela transnacionalidade do delito de tráfico de drogas pode levar em consideração a longa distância percorrida:78 “As rés se deslocaram da Bolívia e foram presas no Brasil, quando embarcavam para a Espanha. A fração do artigo 40, I, da Lei 11.343/2006 foi majorada levando-se em consideração a longa distância percorrida. Ausência de ilegalidade.” (STF. 2ª turma. HC 191.131/MS AgR Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/06/2021.) No mesmo sentido, o STJ decidiu: (...) “3. Na espécie, o Tribunal de origem justificou a incidência da causa de aumento de pena da transnacionalidade em patamar acima do mínimo legal, com amparo na longa distância percorrida pelo agente, na complexidade da logística de transporte, na duração da viagem e na ocultação da droga em fundo falso, elementos que evidenciam o empenho do réu em transportar os entorpecentes para o exterior e o intuito de despistar o destino da droga por ele transportada (e-STJ fl. 412). Nesse contexto, não se revela desproporcional o patamar de aumento de 2/5 aplicado pelas instâncias de origem em decorrência da majorante do art. 40, inciso I, da Lei n. 11.343/2006. (...)” (AgRg no AREsp 1850965/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 22/06/2021, DJe 28/06/2021) 78 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A fração de aumento de pena pela transnacionalidade do delito de tráfico de drogas pode levar em consideração a longa distância percorrida. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 13/08/2022 48 3.2. QUANDO O AGENTE TIVER PRATICADO O CRIME PREVALECENDO-SE DE FUNÇÃO PÚBLICA OU NO DESEMPENHO DE MISSÃO DE EDUCAÇÃO, PODER FAMILIAR, GUARDA OU VIGILÂNCIA Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; Tem-se aqui duas hipóteses distintas. A primeira hipótese é a do agente público que pratica o crime prevalecendo-se de função pública (promotores de justiça, delegados de polícia, investigadores, escrivães, membros da Polícia Militar etc.), por exemplo, policial que, em virtude da apreensão de um carregamento de drogas, se vale dessa facilidade para traficar o produto.79 Já a segunda hipótese é aquela na qual o legislador entendeu ser necessária uma maior punição para aquele agente que pratica o crime no desempenho de missão de educação (professor que trafica durante aula), poder familiar (pai ou mãe que traficam na frente dos filhos), guarda ou vigilância.80 80 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 79 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 3.3. QUANDO A INFRAÇÃO É COMETIDA NAS DEPENDÊNCIAS OU IMEDIAÇÕES DE ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS, DE ENSINO, HOSPITALARES, EM TRANSPORTE PÚBLICO E OUTROS Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; A intenção do legislador foi agravar a pena nas hipóteses em que o crime for praticado perto ou no interior de locais que gozam de especial proteção. O termo “imediações” significa proximidades; o agente deve ter praticado o crime em um lugar do qual se tenha rápido e imediato acesso a um dos locais mencionados no inciso III.81 📌 OBSERVAÇÕES ■ Em que pese algumas decisões isoladas em sentido contrário, prevalece o entendimento de que a enumeração dos locais é taxativa, não podendo, pois, haver extensão analógica para incluir outros 81 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 49 locais.82 ■ Por não constar do rol do inciso III, o STJ decidiu que não incide a majorante caso o crime seja cometido próximo de igreja, vejamos: “O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem. Caso o legislador quisesse punir de forma mais gravosa também o fato de o agente cometer o delito nas dependências ou nas imediações de igreja, teria feito expressamente, assim como fez em relação aos demais locais.” (STJ. 6ª Turma. HC 528851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020) (Info 671). Vale ressaltar que a 5ª Turma do STJ decidiu de maneira diversa ao julgado acima transcrito. Entretanto, deve-se ter em mente que o caso concreto envolvendo o julgado indica que, além de ser uma igreja evangélica, o local também funcionava como entidade social, de modo a subsumir-se ao inciso III por esse outro motivo. Eis o julgado:83 “Justificada a incidência da causa de aumento prevista no art. 40, inciso III, da Lei nº 11.343/2006, uma vez consta nos autos a existência de igreja evangélica a aproximadamente 23 metros de distância do 83 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em caso de tráfico de drogas cometido nas dependências ou nas imediações de igreja?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 12/08/2022 82 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial.São Paulo: Editora Saraiva, 2022. local onde a traficância era realizada.” (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 668934/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/06/2021). Quanto à traficância em local próximo de estabelecimento de ensino, a jurisprudência entende ser desnecessária a comprovação de que o crime visava os frequentadores do local:84 “A prática do delito de tráfico de drogas nas proximidades de estabelecimentos de ensino (art. 40, III, da Lei 11.343/06) enseja a aplicação da majorante, sendo desnecessária a prova de que o ilícito visava atingir os frequentadores desse local.” (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1558551/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/09/2017.) No mesmo sentido: “Para a incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei nº 11.343/2006 é desnecessária a efetiva comprovação de que a mercancia tinha por objetivo atingir os estudantes, sendo suficiente que a prática ilícita tenha ocorrido em locais próximos, ou seja, nas imediações de tais estabelecimentos, diante da exposição de pessoas ao risco inerente à atividade criminosa da narcotraficância.” (STJ. 6ª Turma. HC 359.088/SP. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 04/10/2016.) Mais recentemente, o STJ decidiu que NÃO incide a causa de aumento de pena do art. 40, III, se o 84 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não incide a causa de aumento de pena do art. 40, III, da LD se o crime foi praticado nas proximidades de escola fechada em razão da COVID-19. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 13/08/2022 50 crime foi praticado nas proximidades de escola fechada em razão da COVID-19:85 “A razão de ser da causa especial de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei n. 11.343/2006 é a de punir, com maior rigor, aquele que, nas imediações ou nas dependências dos locais a que se refere o dispositivo, dada a maior aglomeração de pessoas, tem como mais ágil e facilitada a prática do tráfico de drogas (aqui incluído quaisquer dos núcleos previstos no art. 33 da Lei n. 11.343/2006), justamente porque, em localidades como tais, é mais fácil ao traficante passar despercebido à fiscalização policial, além de ser maior o grau de vulnerabilidade das pessoas reunidas em determinados lugares. Na espécie, não ficou evidenciado nenhum benefício advindo ao réu com a prática do delito nas proximidades ou nas imediações de estabelecimento de ensino – o ilícito foi perpetrado em momento em que as escolas estavam fechadas por conta das medidas restritivas de combate à COVID-19 – e se também não houve uma maximização do risco exposto àqueles que frequentam a escola (alunos, pais, professores, funcionários em geral), deve, excepcionalmente, em razão das peculiaridades do caso concreto, ser afastada a incidência da referida majorante.” (STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 728.750, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/05/2022.) Em relação à aplicação da causa de aumento por traficância nas proximidades ou interior de estabelecimento prisional, o STJ decidiu que é desnecessário que a droga passe por dentro do 85 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não incide a causa de aumento de pena do art. 40, III, da LD se o crime foi praticado nas proximidades de escola fechada em razão da COVID-19. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 13/08/2022 presídio para que incida a majorante:86 “Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. Esse dispositivo não faz a exigência de que as drogas efetivamente passem por dentro dos locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento dos crimes tenha ocorrido em seu interior.” (STJ. 5ª Turma. HC 440.888-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019) - (Info 659). Ademais, para incidência da majorante pouco importa se o comprador é detento ou outro frequentador do estabelecimento prisional:87 “A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006 se justifica quando constatada a comercialização de drogas nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator visa ou não aos frequentadores daquele local. Assim, se o tráfico de drogas ocorrer nas imediações de um estabelecimento prisional, incidirá a causa de aumento, não importando quem seja o comprador do entorpecente.” (STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/3/2017) - (Info 858). Em relação à incidência da causa de aumento pena quando o tráfico é cometido em 87 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de aumento do art. 40, III, da LD, não importando quem seja o comprador. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 13/08/2022. 86 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III, da Lei 11.343/2006. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 13/08/2022 51 transporte público, de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é preciso que a própria comercialização ocorra em transporte público ou suas proximidades (estações de trem ou metrô, rodoviárias, terminais de ônibus etc.), não bastando a utilização de trens ou ônibus para o transporte da droga. Vejamos: “Esta Corte Superior de Justiça consolidou o entendimento no sentido de que, para a incidência da majorante prevista do inciso III do art. 40 do Diploma Antidrogas, é imprescindível a demonstração da efetiva prática da comercialização do entorpecente no interior do veículo, não sendo suficiente para a exasperação da reprimenda com fulcro no referido dispositivo legal a mera utilização do transporte público como meio de locomoção. Na espécie, ante a ausência de comprovação do comércio ilícito no interior do veículo de transporte público coletivo, não há falar em majoração da pena” (STJ — HC 410.323/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, julgado em 13/03/2018, DJe 26/03/2018); (grifo nosso) “Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal firmaram o entendimento de que o simples fato de o agente utilizar-se de transporte público para conduzir a droga não atrai a incidência da causa especial de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei n. 11.343/2006, que deve ser aplicada apenas quando constatada a efetiva intenção de comercialização da substância em seu interior” (STJ — AgRg no REsp 1379010/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em 15/08/2019, DJe 29/08/2019); (grifo nosso) 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova INSTITUTO AOCP - 2022 - DPE-PR - Defensor Público, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: c) Para a incidência da causa de aumento de pena prevista quando o crime de tráfico de drogas é praticado em transporte público, é necessário demonstrar que a comercialização ocorria no interior do veículo, sendo insuficiente a utilização dele como meio de locomoção. 3.4. QUANDO O CRIME É COMETIDO COM VIOLÊNCIA, GRAVE AMEAÇA, EMPREGO DE ARMA DE FOGO OU QUALQUER PROCESSO DE INTIMIDAÇÃO DIFUSA OU COLETIVA Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; Pune-se mais severamente tanto se o crime é cometido com grave ameaça quantocom violência. Quanto ao emprego de arma, embora a lei somente tenha feito menção a arma de fogo, a intimidação exercida com emprego de punhal, canivete, faca, pedaço de pau, ou outro instrumento congênere, também caracteriza a majorante, em virtude da grave ameaça exercida.88 Por processo de intimidação difusa ou coletiva, podemos entender o agente que se serve de 88 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 52 artefato explosivo ou simulação de bomba (basta a idoneidade para intimidar, ainda que inexista perigo real), apenas para difundir temor em um número indeterminado de pessoas. Ex.: O sujeito que ameaça explodir uma bomba se um grupo de pessoas não dividir o uso de droga injetável. 3.5. INTERESTADUALIDADE Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; Seguindo a lógica da transnacionalidade, para caracterização da interestadualidade basta que se demonstre a finalidade de transportar a droga de um Estado a outro (ou para o Distrito Federal), isto é, é desnecessária a efetiva transposição da divisa do Estado. Nesse sentido: “A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que a configuração da interestadualidade do crime de tráfico de entorpecentes prescinde da efetiva transposição de divisa interestadual pelo agente, sendo suficiente que haja a comprovação de que a substância tinha como destino outro Estado da Federação” (STJ — HC 385.272/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, julgado em 02/05/2017, DJe 05/05/2017); Sedimentando o entendimento jurisprudencial, a Súmula n. 587 do STJ estabelece o seguinte: Súmula 587 do STJ: “Para a incidência da majorante prevista no art. 40, V, da Lei n. 11.343/2006, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da Federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual”. No que diz respeito à competência para julgamento, caberá à Justiça Estadual seu processo e julgamento, ainda que a investigação seja realizada pela Polícia Federal. Nesse sentido: Súmula 522 do STF: “Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.” 3.6. QUANDO O CRIME ENVOLVER OU VISAR ATINGIR CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU A QUEM TENHA, POR QUALQUER MOTIVO, DIMINUÍDA OU SUPRIMIDA A CAPACIDADE DE DISCERNIMENTO OU DETERMINAÇÃO Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; A causa de aumento de pena em análise será aplicada se os crimes dos arts. 33 a 37 envolverem ou visarem a atingir: 53 a. Criança (menor de 12 anos); b. Adolescente (idade igual ou superior a 12 anos e inferior a 18); ou c. Pessoa que tenha, por qualquer causa, diminuída ou suprimida a sua capacidade de entendimento ou de determinação, ou seja, esteja desprovida de normal elemento intelectivo (capacidade de entender), v.g., ébrios, pessoa senil, débil mental etc.89 📌 OBSERVAÇÃO A incapacidade de resistência a que se refere a lei pode ser de qualquer espécie, parcial ou total. Abrange, portanto, as hipóteses de venda ou entrega de droga a pessoa embriagada, doente mental, dependente de drogas etc.90 ⚠ ATENÇÃO Questão de grande relevância diz respeito ao caso do agente praticar delito previsto na Lei de Drogas, mas não aqueles previstos nos arts. 33 a 37. Nessa situação, não incidirá a causa de aumento do art. 40, VI, respondendo o agente pelo crime da Lei n. 11.343/2006 em concurso com o delito de corrupção de menores, previsto no art. 244-B, do ECA. Por sua vez, se o agente praticar um dos crimes previstos nos arts. 33 a 37, será aplicada a majorante em comento, mas não será punido pelo crime de corrupção de menores, sob pena de bis in idem.91 A propósito:92 92 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Agente que pratica delitos da Lei de Drogas envolvendo criança ou adolescente responde também por corrupção de menores?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 15/08/2022 91 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 90 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 89 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. “Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção de menores, porém, se a conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito, mas apenas a majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006.” (STJ. 6ª Turma. REsp 1.622.781-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/11/2016) - (Info 595). 3.7. QUANDO O AGENTE FINANCIAR OU CUSTEAR A PRÁTICA DO CRIME Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. Como já estudado, o art. 36 prevê crime específico para o agente que financia ou custeia o tráfico, trazendo uma pena em abstrato de oito a vinte anos de reclusão. Dessa maneira, torna-se necessária uma diferenciação entre o crime autônomo e a presente causa de aumento. Parcela da doutrina93 aponta que o crime do art. 36 exige que o agente atue como financiador contumaz, que invista valores de forma reiterada no tráfico. Por sua vez, na causa de aumento, o que se verifica é a ocorrência de crime único de tráfico em que alguém atua, de forma isolada, como financiador e, por isso, responde pelo crime do art. 33, caput, com a pena aumentada em razão do art. 93 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 54 40, VII, da Lei n. 11.343/2006. Para outra corrente doutrinária, a causa de aumento em estudo aplica-se para aqueles que, além de participar do tráfico, financiam o delito, enquanto o crime autônomo do art. 36 só se aplica para aqueles que financiam o delito sem se envolver no tráfico em si. 4. DELAÇÃO EFICAZ Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. Tem-se aqui uma causa de diminuição de pena de 1/3 a 2/3. A colaboração pode se realizar tanto no curso do inquérito policial quanto durante o processo criminal, possuindo alguns requisitos: 1. Voluntariedade: o agente não pode ser obrigado a colaborar delatando os demais coautores e partícipes e ajudando na recuperação total ou parcial do produto do crime. 2. Eficácia: a incidência da minorante fica condicionada à identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e a recuperação total ou parcial do produto do crime. Em relação ao quantum de diminuição de pena, quanto maior a colaboração, maior será a redução da pena pelo juiz.94 ⚠ ATENÇÃO A causa de diminuição de pena é direito subjetivo do indiciado ou acusado, de maneira que, preenchidos os requisitos legais, torna-se obrigatória a redução da pena.95 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova FCC - 2021 - DPE-GO - Defensor Público,só podem ser aplicadas por juiz criminal e não por autoridade administrativa, e mediante o devido processo legal (no caso, o procedimento criminal do Juizado Especial Criminal, conforme expressa determinação legal do art. 48, § 1º, da atual lei).” (MAJORITÁRIA) O Supremo Tribunal Federal se posicionou no sentido de adotar a terceira corrente 4 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 3 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. (despenalização), vejamos: “1. O art. 1º da LICP – que se limita a estabelecer um critério que permite distinguir quando se está diante de um crime ou de uma contravenção – não obsta a que lei ordinária superveniente adote outros critérios gerais de distinção, ou estabeleça para determinado crime – como o fez o art. 28 da L. 11.343/06 – pena diversa da privação ou restrição da liberdade, a qual constitui somente uma das opções constitucionais passíveis de adoção pela lei incriminadora (CF/88, art. 5º, XLVI e XLVII). 2. Não se pode, na interpretação da L. 11.343/06, partir de um pressuposto desapreço do legislador pelo ‘rigor técnico’, que o teria levado inadvertidamente a incluir as infrações relativas ao usuário de drogas em um capítulo denominado ‘Dos Crimes e das Penas’, só a ele referentes (L. 11.343/06, Título III, Capítulo III, arts. 27/30). 3. Ao uso da expressão ‘reincidência’, também não se pode emprestar um sentido ‘popular’, especialmente porque, em linha de princípio, somente disposição expressa em contrário na L. 11.343/06 afastaria a regra geral do C. Penal (C. Penal, art. 12). 4. Soma-se a tudo a previsão, como regra geral, ao processo de infrações atribuídas ao usuário de drogas, do rito estabelecido para os crimes de menor potencial ofensivo, possibilitando até mesmo a proposta de aplicação imediata da pena de que trata o art. 76 da L. 9.099/95 (art. 48, §§ 1º e 5º), bem como a disciplina da prescrição segundo as regras dos arts. 107 e seguintes do C. Penal (L. 11.343, art. 30). 5. Ocorrência, pois, de ‘despenalização’, entendida como exclusão, para o tipo, das penas privativas de liberdade.” (...) (STF, RE-QO 430.105/RJ). (grifo nosso) 6 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1, tendo sido considerada errada a seguinte assertiva: “No entendimento dos tribunais superiores, a conduta de posse ou porte ilegal de droga para consumo pessoal e em desacordo com determinação legal e regulamentar não constitui infração penal, pois, nos termos da LICP, constitui infração penal apenas as condutas que sejam sancionadas com pena privativa de liberdade ou de multa.” ⚠ ATENÇÃO Em que pese os Tribunais Superiores considerarem que a natureza jurídica do porte de drogas para consumo pessoal é crime, a condenação por tal conduta NÃO gera reincidência por parte de quem comete novo crime posteriormente. O fundamento de tal conclusão é o fato de que reconhecer a reincidência ofenderia o princípio da proporcionalidade porque a condenação anterior por contravenção penal não gera reincidência, de modo que a condenação por crime para o qual não é prevista pena privativa de liberdade também não pode gerar.5 “Viola o princípio da proporcionalidade a consideração de condenação anterior pelo delito do art. 28 da Lei nº 11.343/2006, “porte de droga para consumo pessoal”, para fins de reincidência.” (STF. 2ª Turma. RHC 178512 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 5 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 22/3/2022) (Info 1048).6 No mesmo sentido: “O prévio apenamento do agente pela conduta de porte de drogas para consumo próprio (art. 28 da Lei de Drogas) não constitui causa geradora de reincidência. Precedentes. 2. Uma vez que a acusada registra, em sua folha de antecedentes penais, apenas uma condenação anterior relativa à prática da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas, deve ser afastada a agravante da reincidência” (AgRg no REsp 1.832.209/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em 30/06/2020, DJe 04/08/2020); (grifo nosso) Por fim, ressalta-se que o crime do art. 28 é de perigo abstrato, ou seja, para sua consumação basta a exposição a perigo de lesão do bem jurídico tutelado (saúde pública), sendo que tal perigo é presumido pela lei, não necessitando de comprovação no caso concreto. É por esse motivo que a pequena quantidade de droga não é fundamento suficiente para se reconhecer a atipicidade da conduta, ainda que pelo princípio da insignificância. 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-TO - Defensor Público Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: José, indivíduo com maus antecedentes, 6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) não configura reincidência. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 7 foi preso em flagrante com uma munição de arma de fogo de uso restrito, alguns gramas de crack e balança de precisão, não tendo sido encontrada arma de fogo em seu poder. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta com base no que prevê a legislação acerca de desarmamento e de tóxicos.] c) A pouca quantidade de droga não justifica a aplicação do princípio da insignificância tanto no tráfico quanto para consumo próprio por serem crimes de perigo abstrato. 2.1.3. CONDUTAS TÍPICAS Tem-se um tipo penal misto alternativo, ou seja, a realização de mais de uma conduta em relação à mesma droga constitui crime único. São incriminadas cinco condutas:7 a. Adquirir: é obter mediante troca, compra ou gratuitamente. b. Guardar: é a retenção da droga em nome e à disposição de outra pessoa, isto é, consiste em manter a droga para um terceiro. Quem guarda, guarda para alguém. c. Ter em depósito: é reter a coisa à sua disposição, ou seja, manter a substância para si mesmo. Essa conduta típica foi introduzida pela nova Lei. d. Transportar: pressupõe o emprego de algum meio de transporte, visto que, se a droga for levada junto ao agente, a conduta será a de “trazer consigo”. Trata-se de delito instantâneo, que se consuma quando o agente leva a droga por um meio de locomoção qualquer. Essa figura típica também foi introduzida pela nova Lei. e. Trazer consigo: é levar a droga junto a si, 7 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. sem o auxílio de algum meio de locomoção. É o caso do agente que traz a droga em bolsa, pacote, nos bolsos, em mala ou no próprio corpo. 2.1.4. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo. Ademais, o art. 28 exige que a droga seja exclusivamente para uso do agente (consumo próprio). De acordo com o art. 28, § 2º, para determinar se o agente tinha como finalidade o consumo pessoal ou o tráfico, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. Nesse sentido:8 “Nos termos do art. 28, § 2º, da Lei n. 11.343/2006, não é apenas a quantidade de drogas que constitui fator determinante para a conclusão de que a substância se destinava a consumo pessoal, mas também o local e as condições em que se desenvolveu a ação, as circunstâncias sociais e pessoais, bem como a conduta e os antecedentes do agente.” (STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1740201/AM, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/11/2020) (grifo nosso) 📌 OBSERVAÇÃO Caso o agente tenha a droga para uso 8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A quantidade de drogas, por si só, não é fator determinante para concluirtendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: No crime de tráfico ilícito de entorpecentes,] a) é cabível a aplicação de causa de diminuição de pena pela colaboração voluntária na identificação de coautores e na recuperação do produto do crime. Recentemente, entendeu o Superior Tribunal de Justiça que os requisitos legais previstos no art. 41 da Lei de Drogas são alternativos (e não cumulativos), nos seguintes termos: 1. Diz o art. 41 da Lei n. 11.343/2006 que "O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços". Na interpretação do referido dispositivo legal, dois pontos geram especial controvérsia: a) o conceito de "produto do crime" e b) a 95 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 94 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 55 cumulatividade ou a alternatividade dos requisitos legais. 2. Embora haja certa divergência quanto ao exato enquadramento técnico da droga como "produto do crime", há razoável consenso doutrinário de que, independentemente da categoria jurídica adotada, a interpretação da regra contida no art. 41 da Lei n. 11.343/2006 deve abarcar necessariamente a recuperação total ou parcial das drogas, tal como dispunha o revogado art. 32, § 2º, da Lei n. 10.409/2002, segundo o qual era possível a diminuição da reprimenda quando a colaboração do indiciado permitisse "[...] a apreensão do produto, da substância ou da droga ilícita [...]". 3. Mais do que isso, em consonância com o disposto no art. 4º, IV, da Lei n. 12.850/2013 - lei posterior responsável por sistematizar e disciplinar com maior detalhamento o tema da colaboração premiada -, o conceito de "produto do crime", no contexto do art. 41 da Lei n. 11.343/2006, deve ser interpretado para abranger tanto os produtos diretos propriamente ditos quanto a substância entorpecente e os proveitos (produtos indiretos) obtidos a partir da prática delitiva. 4. Naturalmente, não há como negar que a leitura do art. 41 da Lei n. 11.343/2006 aponta, ao menos à primeira vista, para a cumulatividade dos requisitos legais ali estabelecidos, em razão do emprego da conjunção coordenada aditiva "e" entre eles. Entretanto, a interpretação gramatical de um dispositivo legal, embora seja um importante ponto de partida, nem sempre reflete a mais adequada exegese para dele extrair a norma jurídica pertinente. 4.1. Situações nas quais a literalidade do texto não é suficiente para extrair o adequado sentido da norma nele contida podem ser constatadas com frequência na legislação, em que não raro o legislador se vale da conjunção "e" quando deveria empregar a conjunção "ou", e vice-versa. Basta lembrar do novel art. 28-A do CPP, segundo o qual "[...] o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal [...], mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente". Por certo que no lugar da conjunção "e" deve ser lida a conjunção "ou", visto que as expressões são mutuamente excludentes: ou as condições elencadas são fixadas juntas (cumulativamente) ou separadas (alternativamente). 4.2. A interpretação literal também já foi descartada por esta Corte ao definir que, em certas situações, apesar de o texto legal empregar a expressão "poderá", estabelece verdadeiro direito subjetivo do acusado. É o que ocorre, por exemplo, no livramento condicional, em que o art. 83 do CP estabelece que "O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que [...]", mas a jurisprudência do STJ se consolidou no sentido de que "O livramento condicional é direito subjetivo do reeducando" (AgInt no REsp n. 1.651.383/MS, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, 6ª T., DJe 15/5/2017), de modo que, se preenchidos os requisitos legais, o juiz deverá concedê-lo ao sentenciado. 4.3. Cumpre lembrar, por oportuno, que o atual art. 41 da Lei de Drogas tem origem no antigo art. 32, § 2º, da Lei n. 10.409/2002, o qual trazia a conjunção "ou" entre os requisitos para a colaboração premiada, ao dispor que "O sobrestamento do processo ou a redução da pena podem ainda decorrer de acordo entre o Ministério Público e o 56 indiciado que, espontaneamente, revelar a existência de organização criminosa, permitindo a prisão de um ou mais dos seus integrantes, ou a apreensão do produto, da substância ou da droga ilícita, ou que, de qualquer modo, justificado no acordo, contribuir para os interesses da Justiça". 4.4. Ademais, além de não se identificar nenhuma justificativa para que tal mudança gramatical decorresse de eventual propósito deliberado do legislador, não se pode desconsiderar o advento da Lei n. 12.850/2013, que cuidou de definir, regular e sistematizar diversos aspectos relativos ao instituto da colaboração premiada, oportunidade em que, ao estabelecer seus requisitos no art. 4º, fê-lo de forma alternativa. 4.5. Essa consideração ganha dimensão ainda mais significativa se ponderado que os crimes da Lei de Organizações Criminosas são plurissubjetivos, isto é, de concurso necessário de pessoas e, mesmo assim, o legislador não impôs obrigatoriamente a identificação dos demais coautores e partícipes, de modo que não se mostra razoável exigi-lo compulsoriamente nos crimes contidos na Lei de Drogas, em que o concurso de pessoas é meramente eventual. 4.6. Trata-se, ainda, de interpretação mais consentânea ao princípio da proporcionalidade, pois não desconsidera a relevante colaboração do réu com o Estado-acusação - para além da mera confissão -, dá maior efetividade a esse meio de obtenção de prova estabelecido pelo legislador e ainda evita a indevida confusão entre delação premiada e colaboração premiada, uma vez que a delação de comparsas é apenas uma das formas pelas quais o indivíduo pode prestar colaboração. 4.7. Assim, tanto sob a perspectiva de uma interpretação histórica quanto à luz de uma interpretação sistemática, é mais adequado considerar alternativos, e não cumulativos, os requisitos legais previstos no art. 41 da Lei n. 11.343/2006 para a redução da pena. 4.8. Isso não significa, frise-se, conceder ao acusado que identifica seus comparsas e ainda ajuda na recuperação do produto do crime o mesmo tratamento conferido àquele que só realiza uma dessas duas condutas, pois os distintos graus de colaboração podem (e devem) ser sopesados para definir a fração de redução da pena de um a dois terços, nos termos da lei. 5. No caso dos autos, policiais em patrulhamento de rotina suspeitaram que o réu trazia drogas consigo e o revistaram, oportunidade em que encontraram nove porções de maconha e R$35,50. Em seguida, de acordo com os militares, o paciente haveria supostamente confessado a traficância e indicado a eles o local onde ocultava o restante das drogas, as quais foram apreendidas. 5.1. As instâncias ordinárias consideraram suficiente para a condenação o relato dos agentes públicos e o Tribunal local ainda ressaltou no acórdão que "[...] segundo se extrai das declarações do militar Maurício em juízo, não fosse a colaboração do réu, indicando o local onde ocultadas as drogas, apenas 09 (nove) porções de maconha que estavam no bolso do réu teriam sido apreendidas e, nestas condições, a comprovação da traficância muito provavelmente restaria inviabilizada, uma vez que a abordagem foi ocasional, não havia 57 investigações em curso que apontassem o apelante como traficante e, como cediço, a quantidade e variedade das drogas é sim um fator determinante a distinguir o mercador do mero usuário" (fl. 113). 5.2.Fica evidente, portanto, que a colaboração do acusado, de acordo com a premissa fática estabelecida no acórdão, foi essencial para a comprovação do delito de tráfico em seu desfavor no caso em exame e deve ensejar a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 41 da Lei de Drogas, tal como reconhecido pelo Magistrado de primeiro grau na sentença. 5.3. Ainda que a confissão, por haver sido valorada na condenação, já tenha sido considerada para aplicar a atenuante da confissão espontânea em favor do réu, não se trata da mesma circunstância ora analisada. Isso porque a confissão, no caso, se limita à admissão da prática do tráfico de drogas, ao passo que a colaboração foi além e indicou aos policiais a localização do restante das drogas, que estavam escondidas e, segundo os próprios agentes afirmaram, não seriam por eles encontradas sem a ajuda do réu. Trata-se de institutos distintos e que podem (e devem) ser aplicados conjuntamente, se ambos estiverem configurados. 6. Ordem de habeas corpus concedida para restabelecer em favor do paciente a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 41 da Lei n. 11.343/2006, na fração de 1/3, nos termos da sentença de primeiro grau, e, por consequência, retornar sua reprimenda a 3 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão, em regime inicial fechado, mais 388 dias-multa, no valor unitário mínimo. (HC n. 663.265/SP, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 12/9/2023, DJe de 20/9/2023.) 5. CRITÉRIO PARA FIXAÇÃO DA PENA Conforme estabelece o artigo 42, “o juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente”. O legislador resolveu mesclar aspectos objetivos (natureza e quantidade da droga) e subjetivos (personalidade e conduta social). Esses aspectos servem de parâmetro para que o julgador possa avaliar o nível de gravidade do delito, seja pela quantidade e natureza da droga ou pela conduta social do agente.96 Por sua vez, quanto à aplicação da pena de multa, o art. 43 dispõe: “Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, valor não inferior a 1/30 (um trinta avos) nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário mínimo.” Caso haja o concurso de crimes, as penas são impostas cumulativamente. Além disso, a pena de multa pode ser aumentada em até 10 vezes, levando em consideração a situação econômica do acusado, se o juiz considerá-las ineficazes, ainda que aplicadas no máximo. 96 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 58 6. REDUÇÃO OU ISENÇÃO DE PENA Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado. Como é possível concluir da leitura do dispositivo, duas situações distintas são previstas para a aplicação da isenção ou redução de pena: ■ Em razão de dependência; e ■ Sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga quando, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Na primeira situação, há uma relação de natureza fisiológica que se estabelece entre o indivíduo e a droga, na qual o indivíduo tem uma patológica necessidade de continuar a consumir o entorpecente. Isso é a dependência.97 Já a segunda hipótese diz respeito ao sujeito sob efeito de drogas proveniente de caso fortuito ou 97 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. força maior. Nesse caso, o indivíduo não é doente, nem possui qualquer dependência, tendo sido vítima do acaso. Fernando Capez98 apresenta o seguinte exemplo: “É o caso do indivíduo que é amarrado por assaltantes, e recebe droga injetada até perder a capacidade de discernimento.” Nesse sentido, se a incapacidade para entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento for total, o agente será absolvido do crime praticado, qualquer que tenha sido a infração. 📌 OBSERVAÇÕES ■ Nessa situação, não há falar em aplicação de medida de segurança, tratando-se de absolvição própria, uma vez que a incapacidade derivou de um caso fortuito ou força maior.99 ■ Seguindo, caso a incapacidade seja parcial, o agente deverá ser condenado, porém receberá condenação com pena diminuída. 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova FCC - 2022 - DPE-MT - Defensor Público de 1ª Classe, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: A Lei de Drogas estabelece] d) hipótese de isenção de pena, para qualquer delito, desde que satisfeitos os requisitos legais. 99 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 98 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 59 7. PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS O art. 53 dispõe que, em qualquer fase da persecução criminal (fase investigatória ou processual) relativa aos crimes previstos na Lei, são permitidos, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: Infiltração de Agentes e Entrega Vigiada. 7.1. INFILTRAÇÃO DE AGENTES Trata-se da possibilidade de agentes policiais se infiltrarem seja dentro grupo criminoso, fingindo ser um de seus membros, ou na comunidade próxima ao local do cometimento dos crimes, visando uma visualização mais clara da atividade criminosa. A finalidade do procedimento é propiciar a coleta de provas mais robustas quanto à materialidade e autoria dos crimes. 7.2. ENTREGA VIGIADA É a não atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. 📌 OBSERVAÇÃO Conforme estabelece o art. 53, parágrafo único, para que seja deferida a entrega vigiada é necessário que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores. 8. LAUDO DE CONSTATAÇÃO DA DROGA De acordo com o art. 50, §1º, para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade do produto, da droga ilícita, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea, escolhida, preferencialmente, dentre as que tenham habilitação técnica.100 O laudo de constatação também é chamado de laudo provisório, pois tem uma natureza superficial, destinando-se à mera constatação da probabilidade de que a substância apreendida seja mesmo entorpecente.101 A natureza jurídica do laudo provisório é de condição de procedibilidade. Embora haja divergência na jurisprudência, prevalece o entendimento de que é ilegal a prisão em flagrante efetuada sem que tenha sido realizado o laudo de constatação provisório. Nesse viés: “O laudo de constatação preliminar de substância entorpecente constitui condição de procedibilidade para apuração do crime de tráfico de drogas.” (Jurisprudência em Teses n. 131 – STJ) (...)“1. De acordo com a Lei 11.343/2006, não se admite a prisão em flagrante e o recebimento da denúncia pelo crime de tráfico de drogas sem que seja demonstrada, 101 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022 100 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022 60 ao menos em juízo inicial, a materialidade da conduta por meio de laudo de constatação preliminar da substância entorpecente, que configura condição de procedibilidade para a apuração do ilícito em comento.” (STJ. HC Nº 388.361 – SP; Min. Jorge Mussi; data de julgamento: 18/04/2017). Entretanto, a mera ausência da assinatura do perito criminal no laudo toxicológico é mera irregularidade, o que não gera a nulidade do exame: “A falta da assinatura do perito criminal no laudo toxicológico é mera irregularidade que não tem o condão de anular o referido exame.” (Jurisprudência em Teses n. 131 – STJ) Outro ponto de atenção é o entendimento jurisprudencial no sentido de que o laudo pericial definitivo atestando a ilicitude da droga afasta eventuais irregularidades do laudo preliminar anterior: “O laudo pericial definitivo atestando a ilicitude da droga afasta eventuais irregularidades do laudo preliminar realizado na fase de investigação.” (Jurisprudência em Teses n. 131 – STJ) 📌 OBSERVAÇÃO Para fins de condenação, faz-se necessária a elaboração de um laudo pericial definitivo, não bastando o preliminar. O laudo definitivo é aquele que resulta do exame químico-toxicológico, feito de forma científica e minuciosa, devendo constar a existência do princípio ativo, a quantidade da droga e a metodologia empregada para a realização do exame. Demais disso, o art. 50, § 2º, estabelece que o perito que elaborou o laudo de constatação não está proibido de participar do exame químico-toxicológico. Vejamos: “2. Conquanto para a admissibilidade da acusação seja suficiente o laudo de constatação provisória, exige-se a confecção do laudo definitivo para que seja prolatado um édito repressivo contra o denunciado pelo crime de tráfico de entorpecentes.” (STJ. HC Nº 388.361 – SP; Min. Jorge Mussi; data de julgamento: 18/04/2017) 9. DESTRUIÇÃO DA DROGA O art. 50, § 3º, da Lei de Drogas, estabelece que recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 dias, certificará a regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo. A destruição é executada pelo delegado de polícia competente, no prazo de 15 dias, na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. Posteriormente, será lavrado auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a destruição total delas.102 Caso as drogas sejam apreendidas sem a ocorrência de prisão em flagrante, o art. 50-A estabelece que a destruição será feita por incineração, no prazo máximo de 30 dias, contados da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo. Quanto à destruição da amostra guardada para realização do laudo definitivo, a regulamentação 102 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022 61 se encontra no art. 72 da Lei de Drogas, segundo o qual, encerrado o processo penal ou arquivado o inquérito policial, o juiz, de ofício, mediante representação do delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Público, determinará a destruição das amostras guardadas para contraprova, certificando isso nos autos.se era para consumo pessoal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 8 próprio, mas acabe vendendo parte dela, responde apenas pelo crime de tráfico (o porte fica absorvido). Igualmente, o traficante que faz uso de pequena parte do entorpecente que tem em seu poder só responde pelo tráfico.9 2.1.5. SUJEITO ATIVO Qualquer pessoa (crime comum). 2.1.6. SUJEITO PASSIVO É a coletividade (crime vago). 2.1.7. OBJETO MATERIAL A Lei n. 11.343/2006 utiliza o termo “droga”. De acordo com o art. 1º, parágrafo único, “para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”. Já o art. 66 do mesmo diploma legal dispõe que “para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS n. 344, de 12 de maio de 1998”. Vide comentários mais adiante sobre o art. 66 desta Lei.10 Logo, “droga” é uma das substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, desde que esteja prevista na Portaria SVS/MS n. 344. 10 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 9 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) não configura reincidência. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 Tem-se, aqui, uma norma penal em branco, pois o preceito primário do tipo penal necessita de complementação. 2.1.8. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO Nas palavras de Fernando Capez11 “elemento normativo do tipo é aquele cujo significado exige prévia interpretação pelo juiz. O elemento normativo dos crimes de tóxicos está descrito na seguinte expressão: “sem autorização” ou “em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. 2.1.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O crime na modalidade “adquirir” é instantâneo e sua consumação ocorre quando há o acordo de vontades entre o vendedor e o comprador. Por sua vez, as modalidades “trazer consigo”, “guardar”, “ter em depósito” e “transportar” constituem crimes permanentes e consumam-se quando o agente obtém a posse da droga, protraindo-se no tempo enquanto ele a mantiver. Quanto à tentativa, nas modalidades permanentes, ela é inadmissível.12 2.1.10. PENA Como já citado, uma das grandes novidades trazidas pela Lei n. 11.343/2006 foi deixar de prever pena privativa de liberdade para o crime de porte para consumo próprio. Com o novo regramento, as penas passaram a ser: a. advertência sobre os efeitos da droga; 12 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 11 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 9 b. prestação de serviços à comunidade; e c. medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova VUNESP - 2022 - PC-RR - Delegado de Polícia Civil, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: Para quem transporta, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, a Lei nº 11.343/2006 – Lei Antidrogas prevê a pena de] a) advertência sobre os efeitos das drogas. Importante salientar que as penas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas, umas pelas outras, a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor. Em razão das penas impostas não serem privativas da liberdade do agente, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 127.834, entendeu que não cabe habeas corpus para trancamento de ação penal que apura o crime de porte para consumo próprio. Quanto ao prazo de aplicação das penalidades, a prestação de serviços e medida educativa de frequência a cursos serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 meses, mas em caso de reincidência poderão ser aplicadas pelo prazo máximo de 10 meses. Para a garantia do cumprimento dessas penas, leia-se, no caso de descumprimento injustificado, poderá o juiz submeter o condenado, sucessivamente, às seguintes medidas: a. admoestação verbal; b. multa. 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova VUNESP - 2022 - PC-SP - Delegado de Polícia, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: a) para garantia do cumprimento da medida educativa de prestação de serviço à comunidade, havendo recusa injustificada, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a admoestação verbal e multa. ⚠ CUIDADO Veja que a “admoestação verbal” e a “multa” não são penas do crime do art. 28, mas, sim, medidas aplicadas no caso de descumprimento injustificado das penas. Por fim, o art. 30 da Lei n. 11.343/2006 dispõe que prescrevem em 2 anos a imposição e a execução das penas previstas para esse crime. 2.1.11. FIGURA EQUIPARADA Aquele que, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica, incide nas mesmas penas no porte de drogas para consumo pessoal. O dispositivo é aplicado, em geral, para pessoas que plantam algumas poucas mudas de maconha em sua própria residência para consumo pessoal. Porém, se a intenção do agente for a venda ou a entrega ao consumo de terceiro, a conduta será enquadrada no art. 33, § 1º, II, que é equiparada ao 10 tráfico de drogas.13 ⚠ ATENÇÃO Quanto à possibilidade de o Poder Judiciário conceder autorização para que a pessoa faça o cultivo de maconha com objetivos medicinais, havia divergência entre a 5ª e 6ª turmas do STJ quanto ao tema. A 5ª turma costumava negar pedidos semelhantes a este, enquanto a 6º turma deferia os pedidos. Atualmente, a 5ª Turma passou a alinhar o seu entendimento com a 6ª turma. As condutas de plantar maconha para fins medicinais e importar sementes para o plantio não preenchem a tipicidade material, motivo pelo qual se faz possível a expedição de salvo-conduto, desde que comprovada a necessidade médica do tratamento. STJ. 5ª Turma. HC 779.289/DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/11/2022 (Info 758). 2.1.12. AÇÃO PENAL E PROCEDIMENTO Assim como todos os outros crimes da Lei n. 11.343/2006, trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Quanto ao procedimento, salvo se houver concurso com crime mais grave, seguirá os ditames dos arts. 60 e seguintes da Lei n. 9.099/95, sendo, assim, de competência do Juizado Especial Criminal. 📌 OBSERVAÇÃO Por ser crime que, em regra, é da 13 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. competência do Juizado Especial Criminal, quem for flagrado na prática de infração penal dessa natureza não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juizado competente, ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando a autoridade policial as requisições dos exames e perícias necessários. 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: a) Tratando-se da conduta prevista no art. 28 dessa lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente, que lavrará o termo circunstanciado e providenciará as requisições dos exames e perícias necessárias; se ausente o juiz, as providências deverãoser tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente. Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2022 - MPE-TO - Promotor de Justiça Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: b) A pessoa flagrada praticando quaisquer das condutas previstas no art. 28 da Lei Antidrogas deve ser encaminhada ao juiz, e, na ocasião, ele próprio deverá lavrar o termo circunstanciado e requisitar as perícias necessárias. 2.2. TRÁFICO DE DROGAS Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à 11 venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Trata-se de um crime de gravidade exacerbada e tratado com rigor pelo legislador. Outrossim, é crime equiparado a hediondo, sendo vedada a concessão de graça e anistia, além de ser delito inafiançável. 📌 OBSERVAÇÃO O advento da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime) não retirou o caráter hediondo do crime de tráfico de drogas. Do mesmo modo, o fato do agente ser considerado semi-imputável não afasta o caráter hediondo do crime. Nesse sentido:14 “A revogação do § 2º do art. 2º da Lei 8.072/90 pela Lei 13.964/2019 não tem o condão de retirar do tráfico de drogas sua caracterização como delito equiparado a hediondo, pois a classificação da narcotraficância como infração penal equiparada a hedionda decorre da previsão constitucional estabelecida no art. 5º, XLIII, da Constituição Federal.” (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 729.332/SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 19/04/2022.) 14 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O pacote anticrime não retirou o caráter hediondo do tráfico de drogas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 03/08/2022 “A semi-imputabilidade, por si só, não afasta o tráfico de drogas e o seu caráter hediondo, tal como a forma privilegiada.” (STJ. 6ª Turma.AgRg no HC 716.210-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/05/2022) (Info 737). 2.2.1. BEM JURÍDICO Tutela-se a saúde pública, colocada em risco pela disseminação de substâncias que provocam dependência e expõem a perigo a saúde física e mental dos usuários.15 2.2.2. SUJEITO ATIVO Pode ser qualquer pessoa (crime comum). A coautoria e a participação são possíveis em todas as condutas descritas no tipo penal. 📌 OBSERVAÇÃO Caso o agente pratique o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de função de educação, poder familiar, guarda ou vigilância, a pena será aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), devido à maior gravidade da conduta. 2.2.3. SUJEITO PASSIVO É a coletividade (crime vago). 2.2.4. CONDUTAS TÍPICAS Como se percebe da própria leitura do tipo penal, trata-se de um crime plurinuclear, contendo, ao todo, dezoito condutas típicas. Porém, trata-se de 15 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 12 tipo penal misto alternativo, o que significa que a prática de mais de uma conduta prevista no tipo, no mesmo contexto fático, enseja a prática de um único crime de tráfico de drogas. Outro ponto de destaque é que se considera tráfico a prática de quaisquer condutas descritas no tipo, ainda que de forma gratuita. 📌 OBSERVAÇÃO16 Especificamente quanto à conduta “prescrever”, a maioria da doutrina entende ser sinônimo de receitar, o que faria que o crime fosse próprio nessa modalidade, uma vez que só médicos e dentistas podem receitar medicamentos. Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça possui precedente no sentido de que o crime também pode ser cometido por quem não é médico: “quando o agente no exercício irregular da medicina prescreve substância caracterizada como droga, resta configurado, em tese, o delito do art. 282 do Código Penal — CP, em concurso formal com o do art. 33, caput, da Lei n. 11. 343/2006” (Jurisprudência em teses, edição n. 126 — maio de 2019). Nesse sentido: HC 139667/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, julgado em 17/12/2009, DJe 01/02/2010; HC 9126/GO, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, 6ª Turma, julgado em 05/12/2000, DJ 13/08/2001. ⚠ ATENÇÃO A prescrição culposa de entorpecente (em dose maior que a necessária ou em hipótese em que não é recomendável o seu emprego) caracteriza crime 16 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. específico, previsto no art. 38 da Lei de Drogas. 2.2.5. ELEMENTO SUBJETIVO Todas as figuras relacionadas ao tráfico de entorpecentes são dolosas, ou seja, o agente deve ter a intenção de praticar uma das condutas descritas no tipo penal. Trata-se de crime que não admite a modalidade culposa. 2.2.6. OBJETO MATERIAL Consoante exposto no item 2.1.7, “droga” é uma das substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, desde que esteja prevista na Portaria SVS/MS n. 344. Mais uma vez, tem-se, aqui, uma norma penal em branco, pois o preceito primário do tipo penal necessita de complementação. 📌 OBSERVAÇÃO Assim como já dito em relação ao crime de porte de droga para consumo pessoal, o crime do art. 33 (tráfico) também é de perigo abstrato, ou seja, para sua consumação basta a exposição a perigo de lesão do bem jurídico tutelado (saúde pública), sendo que tal perigo é presumido pela lei, não necessitando de comprovação no caso concreto. É por esse motivo que a esmagadora maioria dos precedentes dos Tribunais Superiores são contrários à aplicação do princípio da insignificância, vejamos: “Não há falar-se em incidência do princípio da insignificância na espécie, porquanto inaplicável, nos termos da jurisprudência, ao delito de tráfico ilícito de drogas, na medida em que se trata de crime de perigo abstrato, 13 sendo irrelevante a quantidade de droga apreendida em poder do agente” (STJ — AgRg no HC 645.726/SP, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), 6ª Turma, julgado em 08/06/2021, DJe 14/06/2021); (grifo nosso) “Esta Corte Superior de Justiça há muito consolidou seu entendimento no sentido de que não se aplica o princípio da insignificância ao delito de tráfico ilícito de drogas, uma vez que o bem jurídico protegido é a saúde pública, sendo o delito de perigo abstrato, afigurando-se irrelevante a quantidade de droga apreendida (AgRg no REsp 1.578.209/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, julgado em 07/06/2016, DJe 27/06/2016)” (STJ RHC 67.379/RN, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma, julgado em 20/10/2016, DJe 09/11/2016). (grifo nosso) Em sentido diverso, embora de forma minoritária, tanto o STJ quanto o STF possuem precedentes admitindo a aplicação do princípio da insignificância de pequena quantidade de sementes de droga: “É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha.” (STJ. 3ª Seção. EREsp 1624564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 - Info 683). (STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2018 - Info 915). (grifo nosso) 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: a) A importação de pequena quantidade de sementes da planta conhecida como maconha é atípica. 2.2.7. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO O elemento normativo do crime de tráfico é a expressão “sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. Por se tratar deelemento normativo do tipo, necessita-se de uma valoração pelo juiz, à luz das circunstâncias do caso concreto, no sentido de verificar se há ou não autorização, se ela é ou não válida, e se o agente observou ou não os seus limites.17 Ex.: determinado laboratório pode ser autorizado a transportar e armazenar determinadas drogas com fins de pesquisa científicas. Nesse caso, salvo se tal autorização fosse extrapolada, não haveria crime. 2.2.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O momento da consumação do crime de tráfico depende de qual das condutas típicas está sendo praticada pelo agente. Como explicam Victor Gonçalves e Baltazar18 “algumas constituem crimes instantâneos, como, por exemplo, vender, adquirir, oferecer etc. Há também aquelas que constituem delitos permanentes, como os verbos transportar, trazer consigo, guardar, ter em depósito etc. Nestas, a 18 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 17 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 14 consumação se alonga no tempo, ou seja, durante todo o período em que o agente estiver com a droga o crime estará em plena consumação, de forma que a prisão em flagrante será possível em qualquer momento. É possível, inclusive, a prisão em flagrante do responsável pela droga quando ela for encontrada em sua casa, mas ele estiver em outro local, já que as condutas “guardar” e “ter em depósito” constituem crime permanente. Em relação ao verbo “adquirir”, para fins de tráfico, deve-se salientar que a compra e venda aperfeiçoa-se com o simples acordo de vontades entre vendedor e comprador, já que se trata de contrato consensual. Assim, se um traficante, por exemplo, entrar em contato pela internet com o fornecedor (outro traficante), efetuar o pagamento da droga e ficar de recebê-la pelo correio, mas a droga acabar sendo apreendida antes de chegar ao destino, o tráfico já está consumado também para o comprador, pois ele já tinha adquirido a substância (o efetivo recebimento, portanto, não é requisito para a tipificação ou para a consumação do ilícito penal).” (GONÇALVES, Victor Eduardo R; JÚNIOR, José Paulo B. 2022). 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova INSTITUTO AOCP - 2022 - MPE-MS - Promotor de Justiça Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: c) O tipo penal descrito no art. 33 da Lei nº 11.343/2006 é de ação múltipla e de natureza permanente, razão pela qual a prática criminosa se consuma, por exemplo, a depender do caso concreto, nas condutas de "ter em depósito", "guardar", "transportar" e "trazer consigo", antes mesmo da atuação provocadora da polícia, o que afasta a tese defensiva de flagrante preparado. Quanto à tentativa, é possível, embora de difícil verificação prática, uma vez que, por se tratar de crime plurinuclear, muitas vezes a prática de uma conduta antecedente já consumou o delito. Ex: traficante que é surpreendido e impedido por policiais quando ia vender a droga a terceiros. Nesse caso, muito provavelmente, o crime já se consumou quanto à conduta “trazer consigo”, “ter em depósito”, “guardar” ou “transportar”, a depender das circunstâncias do caso concreto. 2.2.9. PENA A pena prevista no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 é de reclusão de 5 a 15 anos e pagamento de 500 a 1.500 dias-multa. Quanto à dosimetria da pena, o art. 42 estabelece que o juiz considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. ⚠ ATENÇÃO A quantidade mínima de dias-multa (500) estabelecida no art. 33 foi considerada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, vejamos:19 19 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A multa mínima prevista no artigo 33 da Lei 11.343/06 é constitucional. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 15 “A multa mínima prevista no artigo 33 da Lei 11.343/06 é opção legislativa legítima para a quantificação da pena, não cabendo ao Poder Judiciário alterá-la com fundamento nos princípios da proporcionalidade, da isonomia e da individualização da pena.” STF. Plenário. RE 1347158/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/10/2021 (Repercussão Geral – Tema 1.178). (grifo nosso) 2.2.10. AÇÃO PENAL Trata-se de crime perseguido mediante ação penal pública incondicionada. 2.2.11. CONDUTAS EQUIPARADAS As condutas equiparadas ao tráfico, que serão estudadas detalhadamente em separado, possuem previsão no § 1º do art. 33: no inciso I consta o tráfico de matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas, ao passo que, no inciso II, a semeadura, o cultivo e a colheita de plantas que constituam matéria-prima para a preparação de drogas. O inciso III, por sua vez, prevê a conduta de utilizar local ou bem ou consentir que outrem dele se utilize para o tráfico ilícito de drogas. Já o inciso IV, recentemente inserido pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), pune aquele que vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. As condutas equiparadas surgem com o intuito do legislador de abranger um maior número de situações possíveis, evitando a impunidade do agente.20 ⚠ ATENÇÃO Questões probatórias: a produção de provas para a demonstração da autoria e materialidade nos crimes de tráfico de drogas tem sido objeto de uma série de precedentes dos Tribunais Superiores, sobretudo quanto à (i)legalidade. Vejamos os principais: 1. A ausência de comprovação do exercício de atividade lícita não é apta a gerar presunção da dedicação ao tráfico:21 “A ausência de comprovação do exercício de atividade lícita não é apta a gerar presunção da dedicação ao tráfico. A premissa de que o Agente acusado de tráfico que não tem ocupação lícita (e, portanto, não tem como comprová-la) dedica-se à traficância consubstancia ônus do qual o Réu não pode se desincumbir, em evidente violação tanto do sistema acusatório quanto do Direito Penal do fato, além de significar indevida incidência do Direito Penal do autor (Direito Penal do Inimigo).” (STJ. 6ªTurma. HC 665.401/SP. Relª Min. Laurita Vaz, julgado em 01/06/2021) (grifo nosso) 21 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A ausência de comprovação do exercício de atividade lícita não é apta a gerar presunção da dedicação ao tráfico. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 20 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 16 2. (Des)Necessidade de apreensão da droga para condenação por tráfico:22 Recentemente, entendeu o Superior Tribunal de Justiça que a apreensão e perícia da substância entorpecente é imprescindível para a comprovação da materialidade do crime de tráfico de drogas. Explica o prof. Márcio Cavalcante o julgado, nos seguintes termos: 23 Caso hipotético: A polícia investigava há alguns meses João, Pedro e Tiago, suspeitos de praticarem tráfico de drogas na região. Havia, inclusive, o depoimento de pessoas que afirmaram que adquiram drogas com o grupo.Com base nesses elementos informativos, a polícia requereu a interceptação telefônica dos suspeitos, o que foi deferido.Foram então captadas conversas que indicavam a existência de negociações de drogas entre os membros do grupo, com detalhes sobre venda, compra e ofertade substâncias ilícitas a terceiros.O juiz também autorizou a realização de busca e apreensão nas residências dos suspeitos. Apesar disso, não foram encontradas drogas no local.Com base nos depoimentos dos compradores e nas conversas telefônicas, o Ministério Público estadual denunciou João, Pedro e Tiago por tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006).Em resposta à acusação, dentre outros argumentos, os réus alegaram não haver provas da materialidade dos crimes, pois não foram apreendidas quaisquer substâncias entorpecentes com os acusados 23 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A apreensão e perícia da substância entorpecente é imprescindível para a comprovação da materialidade do crime de tráfico de drogas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 09/04/2024 22 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A condenação por tráfico pode ocorrer mesmo que não haja a apreensão da droga?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 e, por consequência, não havia laudo de constatação nem exame químico-toxicológico nos autos. O STJ concordou com os argumentos dos acusados. A apreensão e perícia de drogas se revelam imprescindíveis para a condenação do acusado pela prática do crime de tráfico de drogas. Na ausência de apreensão de substâncias entorpecentes, os demais elementos de prova, por si sós, ainda que em conjunto, não se prestam à comprovação da materialidade delitiva. STJ. 3ª Seção. HC 686.312/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, relator para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 12/4/2023. STJ. 5ª Turma.REsp 2.107.251-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/2/2024 (Info 801). Contudo, há decisões anteriores em sentido diverso: “É imprescindível a apreensão da droga para que a materialidade delitiva, quanto ao crime de tráfico de drogas, possa ser aferida, ao menos, por laudo preliminar.” STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1655529/ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 06/10/2020. (Grifo nosso) “Hipótese em que o édito condenatório pelo delito do art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 está amparado apenas em testemunhos orais e informações extraídas de interceptações telefônicas. Não houve a apreensão da droga e, obviamente, inexiste o laudo de exame toxicológico, único elemento hábil a comprovar a materialidade do delito de 17 tráfico de drogas, razão pela qual impõe-se a absolvição do paciente e demais corréus.” STJ. 5ª Turma. HC 605.603/ES, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/03/2021. (grifo nosso) “A ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se existirem outros elementos de prova aptos a comprovarem o crime de tráfico.” STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1662300/RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/06/2020. (grifo nosso) 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova MPE-SP - 2023 - VUNESP - Promotor de Justiça Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: “I. Para configuração do delito de tráfico de drogas, previsto no artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06, é desnecessária a aferição do grau de pureza da substância apreendida a fim de estabelecer o seu poder viciante.” A questão foi elaborada com base na Tese nº 1 da Ed. 126, da Jurisprudência em Teses do STJ: “1) Para a configuração do delito de tráfico de drogas previsto no caput do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, é desnecessária a aferição do grau de pureza da substância apreendida”. “A mera ausência de apreensão da droga não invalida a condenação por tráfico de drogas, quando presentes robustas provas da prática do delito: auto de prisão em flagrante, auto de apreensão e apresentação, relatório fotográfico, relatório policial, laudo pericial do exame realizado nos aparelhos telefônicos e depoimentos colhidos na fase extrajudicial e judicial.” STF. 2ª turma. HC 213.896/MS AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/05/2022. (grifo nosso)24 3. Denúncia anônima e fundadas razões para ingresso em residência: “A denúncia anônima acerca da ocorrência de tráfico de drogas acompanhada das diligências para a constatação da veracidade das informações prévias podem caracterizar as fundadas razões para o ingresso dos policiais na residência do investigado.” STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no RHC 143.066-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 19/04/2022 (Info 734). (grifo nosso)25 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RO - Delegado de Polícia, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: Policiais militares receberam uma ligação telefônica anônima, a qual informava a ocorrência de tráfico de drogas em uma residência onde estariam sendo vendidos entorpecentes mediante “disque-droga”. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta conforme o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ). ] b) Os policiais podem ingressar na residência, sem ordem judicial ou autorização do morador, desde que 25 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A denúncia anônima acerca da ocorrência de tráfico de drogas acompanhada das diligências para a constatação da veracidade das informações prévias podem caracterizar as fundadas razões para o ingresso dos policiais na residência do investigado. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 24 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A mera ausência de apreensão da droga não invalida a condenação por tráfico de drogas, quando presentes robustas provas da prática do delito. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 18 estejam amparados em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, as quais indiquem que a situação que se passa no interior da casa configure flagrante delito. 4. Atitude suspeita e busca pessoal: “A mera alegação genérica de “atitude suspeita” é insuficiente para a licitude da busca pessoal. (...) O fato de haverem sido encontrados objetos ilícitos após a revista não convalida a ilegalidade prévia, pois é necessário que o elemento “fundada suspeita de posse de corpo de delito” seja aferido com base no que se tinha antes da diligência. Se não havia fundada suspeita de que a pessoa estava na posse de arma proibida, droga ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, não há como se admitir que a mera descoberta casual de situação de flagrância, posterior à revista do indivíduo, justifique a medida. A violação dessas regras e condições legais para busca pessoal resulta na ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem como das demais provas que dela decorrerem em relação de causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal do(s) agente(s) público(s) que tenha(m) realizado a diligência.” STJ. 6ª Turma. RHC 158.580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/04/2022 (Info 735). (grifo nosso)26 5. Nervosismo e fundada suspeita:27 27 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A percepção de nervosismo do averiguado por parte de agentes públicos é dotada de excesso de subjetivismo e, por isso, não é suficiente para caracterizar a fundada suspeita para fins de busca pessoal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2022 26 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A mera alegação genérica de “atitude suspeita” é insuficiente para a licitude da busca pessoal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: 4c2e24438b59f0d2109fec67f6b20>. Acesso em: 04/08/2022 “A percepção de nervosismo do averiguado por parte de agentes públicos é dotada de excesso de subjetivismo e, por isso, não é suficiente para caracterizar a fundada suspeita para fins de busca pessoal, medida invasiva que exige mais do que mera desconfiança fundada em elementos intuitivos. À falta de dados concretos indicativos de fundada suspeita, deve ser considerada nula a busca pessoal amparada na impressão de nervosismo do Acusado por parte dos agentes públicos.” STJ. 6ª Turma. REsp n. 1.961.459/SP, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe de 8/4/2022. (grifo nosso) 6. Fuga da polícia e ingresso sem prévia autorização judicial em moradia:28 “A violação de domicílio com base no comportamento suspeito do acusado, que empreendeu fuga ao ver a viatura policial, não autoriza a dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial para a entrada dos agentes públicos na residência.” STJ. 6ª Turma. HC 695.980-GO, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 22/03/2022 (Info 730). (grifo nosso) “A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal 28 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A violação de domicílio com base no comportamento suspeito do acusado, que empreendeu fuga ao ver a viatura policial, não autoriza a dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial para a entrada dos agentes públicos na residência. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 03/08/2022 19 do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados.” STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015 (repercussão geral – Tema 280) (Info 806). 7. Fishing Expedition:29 “Admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não significa conceder um salvo-conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistintamente, em verdadeira pescaria probatória (fishing expedition), sob pena de nulidade das provas colhidas por desvio de finalidade.” STJ. 6ª Turma. HC 663.055-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/03/2022 (Info 731). 2.3. TRÁFICO DE MATÉRIA-PRIMA, INSUMO OU PRODUTO QUÍMICO DESTINADO À PREPARAÇÃO DE DROGAS Art. 33. (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I – importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; Tem-se, aqui, uma figura equiparada ao 29 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. crime de tráfico (art. 33, caput), ou seja, sujeito às mesmas penas. Por possuir grande familiaridade com o crime do caput e para evitar repetições, trataremos apenas dos pontos divergentes do crime de tráfico de drogas. 2.3.1. OBJETO MATERIAL Aqui, o objeto material difere da figura do caput (tráfico), sendo a matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas. Nas lições de Vicente Greco Filho30: “Matéria-prima é a substância da qual podem ser extraídos ou produzidos entorpecentes ou drogas afins, que possam causar dependência física ou psíquica. Não há necessidade de que as matérias-primas tenham, em si mesmas, capacidade de produzir a dependência, ou que estejam catalogadas nas portarias do Serviço de Vigilância Sanitária, sendo suficiente que tenham as condições e qualidades químicas necessárias para, mediante transformação, resultarem em entorpecentes ou drogas análogas. São matérias-primas o éter e a acetona, conforme orientação do Supremo Tribunal Federal e a consagração da Convenção de Viena de 1988”. ⚠ ATENÇÃO Diversamente do que ocorre no tráfico, no crime sob análise não se exige que a matéria prima, insumo ou produto químico conste na Portaria do Ministério da Saúde ou qualquer outra lista de produtos. 30 Vicente Greco Filho, Tóxicos, 11. ed., São Paulo, Saraiva, 1996, p. 163. 20 📌 OBSERVAÇÃO Tanto o STJ quanto o STF já decidiram que a semente de maconha não pode ser considerada matéria-prima ou insumo destinado à preparação de drogas. Isso porque ela não é um “ingrediente” para a confecção de drogas, visto que a semente de maconha não tem substância psicoativa (ela não tem nada em sua composição que atue no sistema nervoso central gerando euforia, mudança de humor, prazer etc.).31 “É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha.” (STJ. 3ª Seção. EREsp 1624564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020) (Info 683); e (STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2018) (Info 915). 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova FCC - 2022 - DPE-MT - Defensor Público de 1ª Classe, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: [ENUNCIADO: De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a importação de pequena quantidade de sementes de maconha configura] c) conduta materialmente atípica, o que afasta a imputação do crime de contrabando (art. 334-A do Código Penal) diante da apreensão de ínfima quantidade de mercadoria proibida. De maneira diversa, a jurisprudência dos Tribunais Superiores considera matéria prima as folhas de coca: 31 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Atipicidade da importação de pequena quantidade de sementes de maconha. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 05/08/2022. “(...)folhas de coca constituem matéria-prima destinada à preparação de drogas e, seu transporte se amolda ao delito do art. 33, § 1º, I, da Lei n. 11.343/2006.” (STJ. 3ª Seção. CC 172.464-MS, rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 10-6-2020. Info 673). Deve-se ressaltar que não há necessidade, para configuração do crime, de que o agente queira destinar a matéria-prima à produção de droga, bastando que saiba ter ela as qualidades necessárias para tal. É suficiente, portanto, que o agente queira realizar o verbo do tipo, sabendo que a substância é própria para a preparação da droga. Em resumo, dispensa-se a intenção do agente em destinar a matéria-prima para produção da droga.32 Recentemente, entendeu o Superior Tribunal de Justiça que a apreensão de pequenas quantidades de droga junto com o ácido bórico não implica, necessariamente, a conduta do tráfico de drogas, nas seguintes palavras: I - A Súmula nº 284, STF, deve ser afastada quando for possível compreender a controvérsia a partir do inteiro teor da petição recursal. II - Não se aplica a Súmula nº 7, STJ, quando o recurso especial pretende discutir a tipificação a ser dada à situação tal qual reconhecida no acórdão recorrido, por meio da revaloração jurídica dos fatos, sem que seja necessário o reexame de fatos e provas. Precedentes. III - Na hipótese dos autos, o agravante foi condenado como incurso no 33, § 1º, inciso I, da Lei nº 11.343/2006 porque portava, em via pública, 0,32 g de crack e 164,80 g de 32 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 21 ácido bórico. IV - A posse de ácido bórico, por si só, é um indiferente penal, haja vista que é largamente utilizado para fins lícitos, como tratamentos de saúde, desinsetização, adubamento ou retardação de chamas, podendo ser adquirido com relativa facilidade em farmácias ou lojas de insumos para agricultura, em preparações que vão de 50 g até 1 kg. V - Não se está a ignorar que o ácido bórico seja utilizado, também,para os fins de preparação de drogas ilícitas. Ocorre que, nesses casos, a condenação deve se pautar em outros elementos que apontem, de modo inequívoco, para a traficância, como a apreensão de consideráveis quantidades de droga, balanças de precisão, embalagens plásticas, somas de dinheiro etc. Precedentes. VI - Presumir, nas circunstâncias dos autos, que a conduta constituiu tráfico de drogas, pelo simples fato de o réu portar ácido bórico e pequena quantidade de crack, importa em ignorar a realidade social que, nos termos do § 2º do art. 28 da Lei nº 11.343/2006, deveria ter sido avaliada para os fins de determinar se o entorpecente encontrado se destinava ao consumo pessoal. VII - Em 2016, pesquisadoras da Fiocruz, da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Federal de São Paulo entrevistaram 1.062 usuários de crack e observaram que 54,3% deles já haviam utilizado o chamado "pó virado", consistente na mistura de crack ao ácido bórico para os fins de consumo pela via nasal. Em outro estudo, pesquisadoras observaram que a preparação do "pó virado" é feita pelos próprios usuários, em grupos e de forma compartilhada, a fim de obter efeito mais duradouro e, consequentemente, menores níveis de fissura e paranoia decorrentes do uso da droga. Além disso, não raro o "pó virado" era uma alternativa para os usuários de cocaína que precisavam lidar com a abstinência diante da impossibilidade de obter sua droga de escolha. VIII - Diante desses achados, é preciso cuidado redobrado ao avaliar se a conduta de portar drogas e ácido bórico deve ser tipificada como tráfico de drogas ou posse de drogas para uso pessoal. IX - Na hipótese dos autos, a pequena quantidade da droga apreendida (0,32g de crack), bem como a ausência de outros elementos caracterizadores da traficância, levam à conclusão de que os fatos se ajustam melhor ao disposto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006. X - Os precedentes do Superior Tribunal de Justiça já reconheceram que a apreensão de pequenas quantidades de droga junto com o ácido bórico não implica, necessariamente, a conduta tipificada no art. 33 da Lei nº 11.343/2006, e que é possível caracterizar a posse de drogas para uso pessoal em circunstâncias envolvendo a apreensão de entorpecentes em quantidade superior à dos autos. XI - Convém destacar, ainda, que o agravante possuía duas anotações por posse de drogas para uso pessoal em sua folha de antecedentes e que, inicialmente, os primeiros agentes de segurança pública que tiveram contato com os fatos não identificaram elementos caracterizadores de traficância. Agravo regimental provido para conhecer do recurso especial e lhe dar provimento para 22 desclassificar a conduta imputada ao agravante para aquela descrita no art. 28, caput, da Lei n. 11.343/2006. (AgRg no AREsp n. 2.271.420/MG, relator Ministro Messod Azulay Neto, Quinta Turma, julgado em 27/6/2023, DJe de 3/7/2023.) 2.4. SEMEADURA, CULTIVO OU COLHEITA DE PLANTAS QUE SE CONSTITUAM EM MATÉRIA-PRIMA PARA A PREPARAÇÃO DE DROGAS Art. 33. (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem: II – semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; Trata-se de mais uma figura equiparada ao crime de tráfico (art. 33, caput), ou seja, sujeito às mesmas penas. Por possuir grande familiaridade com o crime do caput e para evitar repetições, trataremos apenas dos pontos divergentes, que diferem do crime de tráfico de drogas. 2.4.1.CONDUTAS TÍPICAS As condutas típicas são diferentes daquelas previstas para o crime de tráfico de drogas (art. 33, caput). a. Semear significa espalhar, propalar, lançar sementes ao solo para que germinem. Nessa modalidade, o crime é instantâneo, pois se consuma no instante em que a semente é colocada na terra.33 b. Cultivar é o mesmo que fertilizar a terra pelo trabalho, dar condições para o nascimento da planta, cuidar da plantação, para que esta se desenvolva. É figura permanente, protraindo-se a consumação do delito enquanto estiverem as plantas ligadas ao solo e existir um vínculo entre o indivíduo e a plantação.34 c. Colher é retirar, recolher a planta, extraindo-a do solo. Também é modalidade de crime instantâneo, consumando-se no momento da coleta. 📌 OBSERVAÇÃO Aquele que, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica, responde pelo crime previsto no art. 28, §1º. 2.5. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE LOCAL OU BEM DE QUALQUER NATUREZA OU CONSENTIMENTO PARA QUE OUTREM DELE SE UTILIZE PARA O FIM DE TRÁFICO DE DROGAS Art. 33. (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem: (...) III – utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou 34 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 33 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 23 consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. Trata-se de figura equiparada ao crime de tráfico (art. 33, caput), ou seja, sujeito às mesmas penas. 2.5.1. SUJEITO ATIVO Trata-se de crime próprio, que só pode ser praticado por pessoa qualificada, ou seja, aquela que tenha propriedade, administração, posse, vigilância ou guarda do local ou de bem de qualquer natureza. 📌 OBSERVAÇÃO Fernando Capez salienta que “a posse pode ser legítima ou ilegítima, assim como qualquer relação de fato que existir entre o agente e o local é suficiente, ou seja, a relação entre o agente e o local não precisa ser jurídica, bastando o simples poder de fato sobre o imóvel.”35 2.5.2. ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de utilizar o local ou bem de qualquer natureza ou de consentir que outrem dele se utilize, com a consciência de que será para tráfico ilícito de drogas. Entretanto, não se exige qualquer finalidade especial, estando ausente o chamado elemento subjetivo específico do tipo.36 36 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 35 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 2.5.3. CONSUMAÇÃO A consumação ocorre com a conduta de contribuição, não se exigindo o uso da droga em consequência do incentivo.37 📌 OBSERVAÇÃO Para consumação não se exige habitualidade. Portanto, se o local é utilizado uma única vez, estará configurado o crime. ⚠ CUIDADO A conduta daquele que utiliza o local ou bem ou consente que outrem dele se utilize para o fim de uso indevido de drogas não comete crime algum. 2.6. VENDA OU ENTREGA DE DROGAS OU MATÉRIA-PRIMA, INSUMO OU PRODUTO QUÍMICO DESTINADO À PREPARAÇÃO DE DROGAS A AGENTE POLICIAL DISFARÇADO Art. 33 (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem: IV — vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. 37 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 24 Trata-se de nova figura equiparada ao tráfico de drogas que foi inserida pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime). É rotineiro na atividade policial que agentes, estando à paisana e fingindo serem usuários, dirijam-se ao local onde ocorre a traficância e tentam realizar a compra da droga. Nesse contexto, quando o traficante entrega a droga aos policiais acaba sendo preso em flagrante. O questionamento que surge é o seguinte: Nesse caso, o flagrante não foi preparado pela polícia e, portanto, a prisão foi ilegal? Como sabido,a Súmula nº 145 do Supremo Tribunal Federal diz ser nulo o flagrante quando sua preparação pela polícia torna impossível a consumação do delito, tornando atípico o fato. Nesse sentido, analisando a situação hipotética apresentada à luz da súmula, não restam dúvidas de que, em relação à compra, a consumação seria impossível, já que os policiais não queriam realmente efetuá-la. Ocorre que, o flagrante não será nulo porque o traficante, na hipótese, deverá ser autuado pela conduta anterior, seja ela ter a guarda, trazer consigo ou ter em depósito, que constitui crime permanente e, conforme já estudado, admite o flagrante em qualquer momento, sendo, assim, típica a conduta.38 Nesse sentido: “Não há falar em flagrante preparado se o comportamento policial não induziu à prática do delito, já consumado em momento anterior. 2. Hipótese em que o crime de tráfico de drogas estava consumado desde o armazenamento do entorpecente, o qual não foi induzido pelos policiais, perdendo relevância a indução da venda pelos agentes. 3. Writ denegado” (STJ — HC 245.515/SC, Rel. 38 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, julgado em 16/08/2012, DJe 27/08/2012); 🚨 JÁ CAIU Veja como tema foi cobrado na prova MPE-MG - 2023 - FUNDEP - Promotor de Justiça Substituto, tendo sido considerada correta a seguinte assertiva: “Para a configuração do crime tipificado no art. 33, §1°, IV, da Lei de Drogas, não se exige, na lei, que a atuação do policial disfarçado tenha sido previamente autorizada judicialmente.” 2.6.1.CONDUTAS TÍPICAS O tipo pune a venda ou entrega de droga ou matéria-prima a agente policial disfarçado, desde que estejam presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente, tal qual o armazenamento da droga. 2.6.2. OBJETO MATERIAL Pode ser tanto a droga quanto a matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas. 2.7. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO USO DE DROGA Art. 33. (...) § 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. 25 2.7.1. BEM JURÍDICO Mais uma vez, busca-se proteger a saúde pública. 2.7.2. SUJEITO ATIVO É qualquer pessoa (crime comum), não se exige qualidade especial do agente. 2.7.3. SUJEITO PASSIVO É a coletividade (crime vago). 2.7.4. CONDUTAS TÍPICAS Induzir significa dar a ideia e convencer alguém a fazer o uso, ou seja, é fazer nascer na mente de alguém o interesse pelo uso indevido de drogas. Na instigação, a pessoa já estava pensando em fazer uso da droga, e o agente reforça essa ideia, encorajando-a. Por fim, no auxílio o agente colabora materialmente com o uso, fornecendo, por exemplo, seda para que outra pessoa enrole um cigarro de maconha ou uma caneta para que alguém cheire cocaína.39 Outrossim, mencione-se que, por não constituir figura equiparada ao tráfico ilícito de drogas, o mencionado crime não se sujeita ao tratamento mais gravoso da Lei dos Crimes Hediondos. Da mesma forma, não se aplica o art. 44 da Lei de Drogas.40 ⚠ ATENÇÃO 40 CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 39 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. Deve-se ter muita atenção ao fato de que o tipo penal em análise pune apenas o incentivo ou contribuição ao uso. Por sua vez, quem, por exemplo, incentiva terceira pessoa a vender droga é partícipe no crime de tráfico de drogas (art. 33, caput).41 2.7.5. ELEMENTO SUBJETIVO O elemento subjetivo exigível na espécie é o dolo, a vontade livre e consciente de auxiliar, induzir ou instigar. 📌 OBSERVAÇÃO É necessário que o induzimento, o auxílio ou a instigação sejam voltados a pessoa(s) determinada(s). Caso a conduta se destine a pessoas indeterminadas, poder-se-ia falar no delito de incitação ao crime, previsto no art. 286 do Código Penal. Nesse contexto, é importante salientar que a simples opinião no sentido de ser legalizado o uso ou a venda de droga não é crime, pois é um mero desdobramento do direito constitucional de livre manifestação do pensamento. Seguindo essa linha de pensamento, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a realização da manifestação chamada “marcha da maconha”, na qual manifestantes realizam passeata, pleiteando a liberação do uso e porte de referido entorpecente, não configura o crime do art. 33, §2º, da Lei 11.343/2006, vejamos: “1. Cabível o pedido de “interpretação conforme à Constituição” de preceito legal portador de mais de um sentido, dando-se 41 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 26 que ao menos um deles é contrário à Constituição Federal. 2. A utilização do § 3º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 como fundamento para a proibição judicial de eventos públicos de defesa da legalização ou da descriminalização do uso de entorpecentes ofende o direito fundamental de reunião, expressamente outorgado pelo inciso XVI do art. 5º da Carta Magna. Regular exercício das liberdades constitucionais de manifestação de pensamento e expressão, em sentido lato, além do direito de acesso à informação (incisos IV, IX e XIV do art. 5º da Constituição Republicana, respectivamente). 3. Nenhuma lei, seja ela civil ou penal, pode blindar-se contra a discussão do seu próprio conteúdo. Nem mesmo a Constituição está a salvo da ampla, livre e aberta discussão dos seus defeitos e das suas virtudes, desde que sejam obedecidas as condicionantes ao direito constitucional de reunião, tal como a prévia comunicação às autoridades competentes. 4. Impossibilidade de restrição ao direito fundamental de reunião que não se contenha nas duas situações excepcionais que a própria Constituição prevê: o estado de defesa e o estado de sítio (art. 136, § 1º, inciso I, alínea “a”, e art. 139, inciso IV). 5. Ação direta julgada procedente para dar ao § 2º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 “interpretação conforme à Constituição” e dele excluir qualquer significado que enseje a proibição de manifestações e debates públicos acerca da descriminalização ou legalização do uso de drogas ou de qualquer substância que leve o ser humano ao entorpecimento episódico, ou então viciado, das suas faculdades psicofísicas” (ADI 4.274, Rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, DJe 084, publicada em 02/05/2012). (grifo nosso) 2.7.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA A consumação ocorre quando a pessoa a quem a conduta foi dirigida efetivamente faz uso da droga, não bastando, portanto, o mero induzimento, instigação ou auxílio. Isso porque a própria lei exige, na descrição típica, o uso da droga.42 Quanto à tentativa, por ser crime plurissubsistente, é possível. 2.7.7. PENA A pena é aplicada ao delito é menos gravosa do que aquela prevista para o tráfico de drogas, qual seja 1 a 3 anos de detenção, admitindo, inclusive, a suspensão condicional do processo, o sursis e a substituição por pena restritiva de direitos, bem como o acordo de não persecução penal. Trata-se, outrossim, de crime afiançável e suscetível de liberdade provisória.43 2.7.8. AÇÃO PENAL É pública incondicionada. 2.8. OFERTA EVENTUAL E GRATUITA PARA CONSUMO CONJUNTO Art. 33. (...) § 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo 43 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.; LENZA, Pedro. Esquematizado - Legislação Penal Especial. São Paulo: Editora Saraiva, 2022. 42 GONÇALVES, Victor Eduardo R.; JÚNIOR, José Paulo B.;