Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DA IGREJA – ANTIGA 
E MEDIEVAL 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Heitor Alexandre Trevisani Lipinski 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Entramos em uma fase da história da Igreja que compreende o final do 
primeiro século até o terceiro século, quando o florescimento das missões de 
evangelização dos apóstolos e dos ministros por eles ordenados começa a 
mostrar sinais de força. A Igreja sai da clandestinidade e se torna uma estrutura 
institucionalizada, organizada e responsável pela orientação espiritual de 
numerosos grupos de fiéis, devotos convertidos ao cristianismo. Tudo isso à 
custa de inúmeros atritos com a comunidade judaica, que vê o número de 
seguidores minguar dia após dia. 
Houve também o incomodo do Império Romano, que passou a perseguir 
cristãos, cujas ideias eram consideradas subversivas e revolucionárias, ainda 
que o número de seguidores ultrapassasse os limites do domínio de Roma. É 
nesse período que são escritos os livros do Novo Testamento, além dos escritos 
paralelos de diversos autores e dos apócrifos que, apesar de não serem 
considerados pela Sé Apostólica, mostram que o cristianismo deixou de ser 
apenas uma instituição de encontros na igreja doméstica para ocupar espaços 
cada vez mais amplos até ser oficializada por Constantino. 
TEMA 1 – A IGREJA NOS TRÊS PRIMEIROS SÉCULOS 
A Igreja dá os primeiros passos para a consolidação como instituição 
notável no mundo. A Armênia é o primeiro país a se tornar cristão oficialmente, 
por decreto do governante. Existem duas versões para a decisão do rei em 
instituir o cristianismo como religião oficial. 
A primeira versão é que o rei havia enlouquecido por ter sido enganado 
pelo imperador romano, perdendo grande extensão de terras. A irmã do rei teria 
tido a visão de que havia um homem na prisão capaz de curar a consciência e 
trazer novamente sabedoria ao rei. Esse homem era Gregório, o Iluminador, que 
estava encarcerado por ser filho do inimigo do antigo rei. 
Ao sair da prisão, operou o milagre e curou Tirídates III, oficializando, em 
todo o reino, o cristianismo como religião oficial dos habitantes. No entanto, 
razões mais pragmáticas apontam que a religião na época era uma política de 
Estado que favorecia a união do povo, de modo que seriam mais resistentes às 
investidas armadas do Império Romano e Império Persa. 
 
 
3 
A Geórgia e a Etiópia também seguem o exemplo da Armênia e oficializam 
o cristianismo como religião de seus territórios, no entanto, o maior dos impérios 
da época – o Império Romano – resistia. Houve muita adesão das camadas 
populares, mas a penetração cristã nos círculos do poder e das elites romanas 
foi mais lenta, até que a primeira senhora da elite romana assume sua 
conversão. Chamada Pomponia Grecina, esposa de Aulo Plautius, conquistador 
da Bretanha, era uma aristocrata que vivia a intimidade palaciana da família do 
imperador Nero. Ao se converter ao cristianismo, desenrolou-se a acusação de 
“superstição estrangeira”. Por pertencer a uma ilustre família que colaborava 
para a expansão e manutenção do império, Pomponia foi julgada pelo próprio 
marido e absolvida. Em 325, ocorre o Concílio de Nicéia: 
Concílios são assembleias de dignitários eclesiásticos e especialistas 
em teologia legalmente convocadas com o propósito de discutir e 
regular matéria de doutrina da Igreja e disciplina. Os termos concílios 
e sínodos são sinônimos, ainda que na literatura cristã mais antiga as 
reuniões ordinárias de culto também sejam chamadas de sínodos, os 
sínodos diocesanos não são propriamente concílios, pois são 
convocados apenas para debate. (Carvalho Junior, 2013, p.11) 
 Nesse primeiro concílio, ocorrem discussões pertinentes para a unidade 
cristã. Nele é escrita a primeira parte do credo, ou profissão de fé, é fixada a data 
da Páscoa, institui-se a primeira Lei Canônica e, principalmente, são discutidos 
os temas ligados à divindade de Jesus e sua relação com Deus Pai. 
 O encontro dos bispos foi convocado por Constantino, imperador romano, 
e todos os cerca de 1.800 bispos da época foram chamados, porém um número 
bem menor (cerca de 318) compareceu, a maioria dos reinos orientais. Não se 
sabe o motivo da pouca adesão dos bispos, mas conjectura-se o temor de um 
atentado, considerando que Roma só oficializaria o cristianismo em 380. Outrora 
desinteressada pelo cristianismo, Roma torna-se perseguidora, portanto, alvo de 
dualidade na concepção de preservação dos membros da Igreja. 
Quando nos debruçamos sobre o estudo das relações entre 
cristianismo e o poder imperial no decorrer dos primeiros duzentos e 
cinquentas anos do Império Romano, período compreendido entre o 
surgimento e a irrupção das primeiras perseguições oficiais aos seus 
adeptos, somos surpreendidos por um flagrante desinteresse das 
autoridades romanas para com os cristãos. (Silva, 2006, p. 244). 
O cristianismo, apesar de avançar nos grandes centros populacionais da 
época, não tinha a mesma penetração em recôncavos interioranos e agrários, 
onde a cultura popular e a sabedoria no uso de medicinas alternativas serão 
vistas com preconceito pela Igreja em seus próximos passos. 
 
 
4 
TEMA 2 – A EXPANSÃO CRISTÃ DENTRO E FORA DA ROMANIDADE 
A conduta dos primeiros cristãos que viveram o início do processo de 
evangelização é retratada na carta de Diogneto do século II: 
Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por 
sua terra, nem por língua ou costumes. Com efeito, não moram em 
cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo 
especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao 
talento e especulação de homens curiosos, nem professam, como 
outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em 
cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-
se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, 
testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, 
paradoxal. (Carta a Diogneto, s.d.). 
Para entender a expansão cristã fora do domínio romano, temos que 
considerar dois aspectos da sociologia: etnicidade e identidade. Podemos 
perceber, no testemunho, que há um desapego da etnicidade, nesse sentido, 
devemos entender os aspectos culturais regionais, como a língua, religião e 
costumes, como algo que distinga o grupo de pessoas, certa noção de cultura, 
aquilo que lhes dá identidade (Poutignat; Streiff-Fenart, 1998). Vale destacar que 
a etnicidade é dinâmica, não é algo uniforme e consolidado. Para os cristãos 
primitivos, apesar de ser algo a se considerar, foi deixada em segundo plano, 
visto que o intuito era expandir o movimento. 
Na Antiguidade, a identidade é fragmentada. O sujeito assumia diversos 
papéis em diferentes momentos e o migrante, que trazia a boa nova, vinha com 
marcas da própria constituição e, ao entrar em contato com novas realidades, se 
fundia, transformando ambas e resultando em uma nova síntese cultural. 
Ademais das transformações culturais, ao passo que as interações de 
conversão dos povos ocorrem, o cristianismo se manifestou preenchendo uma 
lacuna de comorbidade da fé em inúmeros deuses, cujas paixões humanas não 
diferenciavam o divino do mundano, por exemplo, no caso das culturas grega e 
romana, bem como o deus vingativo e feroz, como o judaico. A percepção de um 
deus de amor, perdão e acolhimento penetra as classes populares, utilizando 
uma tradição oral, em que as mensagens deixadas por Cristo e seus discípulos 
é transmitida e desenvolve uma alteração comportamental. Por consequência, 
modifica-se a cultura, a identidade e o desenvolvimento social dessas regiões. 
Outro instrumento bem utilizado eram as cartas apostólicas, que, embora 
fossem direcionadas a determinados grupos, passaram a transitar entre outras 
 
 
5 
comunidades a fim de refletir sobre os problemas recorrentes e comuns do 
cotidiano cristão. 
Apesar da expansão cristã, a falta,muitas vezes, de uma centralidade dos 
rumos da Igreja permitia excessos e até apostasias e heresias de alguns 
pregadores que passavam a pregar em causa própria ou à revelia daquilo que 
era entendido como o correto nas escrituras. Assim, destaca-se o papel de 
Irineu, bispo de Lyon, cujos escritos defendem a primazia papal, cuja sabedoria 
e inspiração do Espírito Santo, é capaz de dirimir os desígnios de Deus para a 
Igreja que deve tomar como base canônica os quatro evangelhos deixados por 
Marcos, Lucas, Mateus e João. 
TEMA 3 – AS PENDÊNCIAS SÃO RESOLVIDAS COM O MUNDO JUDAICO 
Se, por um lado, os romanos enxergavam com desdém e sem interesses 
em identificar distinções culturais ou religiosas dos povos dominados, sem 
perceber a cisão entre judaísmo e cristianismo, suas singularidades e rusgas, 
por outro lado, os judeus viam a doutrina cristã escancarada em suas portas e 
percebiam como afronta a aceitação de Jesus como o Messias, filho do Deus 
vivo. 
Apesar dessas diferenças e dos entraves, houve fatos históricos decisivos 
para os judeus e que não tiveram o envolvimento dos cristãos. O primeiro fato 
histórico foi a Revolta Zelote, do ano de 66, na qual os romanos, após seguidas 
tentativas, invadem e massacram os rebeldes, destruindo a cidade de 
Jerusalém, incendiando o grande templo. Como retaliação, os judeus 
aguardaram até 117 para empreender novas forças em rebeldia contra o domínio 
romano e, novamente, são derrotados. A última tentativa, todas sem apoio dos 
judeus cristãos, foi em 132 e a vitória romana foi não apenas devastadora, mas 
causou a grande diáspora dos sobreviventes, inclusive dos judeus cristãos. 
A amarga derrota veio com a perda de milhares de judeus, mortos na 
guerra ou de fome. Foram tantos capturados que o preço dos escravos 
despencou devido ao grande número de prisioneiros e aqueles cuja idade ou 
condição física não permitia o trabalho forçado eram entregues ao divertimento 
romano nas arenas. 
A cidade de Jerusalém recebe o nome de Élia Capitolina, com um decreto 
de que o judeu que ali entrasse seria condenado à morte. Toda a região da 
 
 
6 
Judeia passou a se chamar Síria Palestina e os preceitos religiosos foram 
proibidos, como a circuncisão e a ordenação de rabinos. 
Os poucos que restaram ficaram soltos no mundo, instalando-se nos mais 
variados países, e, no futuro, acabaram perseguidos pela Santa Inquisição. 
Alguns judeus cristãos ainda permaneceram na terra santa, a fim de manter as 
tradições dos lugares santos e, com o tempo, darão nova roupagem à cidade, 
com as construções de basílicas e santuários. 
A fé judaica, no entanto, permanece com Yohanan Ben Zakai: rabino 
sobrevivente que passa os conhecimentos da Torá para os de mesma fé, 
reerguendo o judaísmo com distinções do que se vivia anteriormente, a fim de 
se preservar do flagelo romano e, ao mesmo tempo, professar sua religião. 
Não podemos dizer que todos os atritos entre cristãos e judeus estão 
sanados, mas, com a diáspora, não havia como judeus combaterem o 
cristianismo, que futuramente é oficializado em todo o Império Romano, 
deixando a clandestinidade para entrar em evidência. 
Figura 1 – Obra do pintor alemão Wilhelm von Kaulbach mostra a destruição de 
Jerusalém por Tito. 
 
Crédito: Wilhelm Von Kaulbach/PD. 
 
 
7 
TEMA 4 – O LONGO PERÍODO DAS PERSEGUIÇÕES 
Em certo momento da história do cristianismo, o poder romano passa do 
desdém para, de fato, observar algumas nuances de distinções entre as religiões 
cuja matriz pertence à cultura judaica. Uma das constatações é o fato de que, 
assim como as aspirações políticas expansionistas romanas, a Igreja era 
universal e se propunha a propagar o evangelho em todos os lugares. Outro 
impasse foi a negação dos cristãos convertidos em Roma ao culto dos deuses e 
o decreto propunha a morte do súdito que negasse a divindade do imperador. 
Por isso, o caso de Pomponia Grecina, mulher da alta nobreza que adota o 
cristianismo como religião, expôs um impasse delicado no governo de Nero, pois 
o marido de Pomponia era um grande conquistador do império e, por isso, 
condenar a esposa à morte representaria uma afronta a todo exército que, com 
brutalidade e empenho, mantinha os domínios. 
Nero perseguiu os cristãos e, ao mesmo tempo que é acusado do incêndio 
a Roma, acusa os convertidos da mesma fatalidade. De fato, nem os 
historiadores conseguem entrar em consenso sobre o assunto. Alguns 
argumentam que Nero pretendia reformar a cidade de Roma e, por isso, recaia 
sobre ele a atitude de queimar a cidade para abrir espaço, mas, enquanto a 
cidade ardia, acredita-se Nero tocava lira no alto do palácio. Outros historiadores 
acreditam que o incêndio começou acidentalmente e se espalhou por quase toda 
cidade e o imperador teria auxiliado a brigada de incêndio, a fim de conter as 
chamas. Sobre o fato, o historiador Tácito escreveu: 
Foi o fogo mais horroroso e mais devastador de todos quantos nos 
tempos passados se tinham visto em Roma. O incêndio começou na 
parte do Circo, que está contígua aos montes Palatino e Célio; e dando 
nas lojas onde encontrou matérias de combustão apareceu logo com 
tal violência, ajudado pelo vento, que tomou todo o espaço do circo, 
em que os palácios não tinham pátios em roda, nem os templos muros 
alguns, e enfim nada havia que o pudesse retardar [...] Com efeito, das 
quatorze regiões (bairros) de Roma só quatro se conservaram inteiros; 
três ficaram completamente arrasados; e sete apenas mostravam 
alguns vestígios de edifícios abatidos, e meio devorados. (XV,38.40). 
(citado por Angelozzi, 2011, p. 72) 
Além do controverso incêndio, os impasses entre Roma e cristãos eram 
ainda mais delicados. A cultura romana era permissiva, tinha o divórcio instituído 
como direito e as práticas sexuais eram livres, em favor do prazer humano. 
Cristãos, por sua vez, viviam uma moral rigorosa, acreditavam na instituição do 
 
 
8 
matrimônio como único e consideravam a sexualidade sem fins reprodutivos 
como pecado de luxúria. 
Com esses impasses morais e culturais, a entrada do cristianismo em 
Roma foi combatida ferozmente por diversos imperadores: Nero, Domiciano, 
Trajano, Marco Aurélio, Décio, Septimo Severo, Diocleciano. Ao impor mortes 
trágicas e repletas de crueldades, esses imperadores possibilitaram, 
indiretamente, o surgimento um incontável número de mártires que não negaram 
a fé, muitos dos quais serão elevados aos altares com as canonizações. 
As perseguições cessam quando sobe ao poder Constâncio Cloro. Ainda 
que visto com desconfiança pelos fiéis, por conta da própria história que via os 
governantes como tiranos da sua fé, a medida imperial instaura um período de 
conciliação e abertura para a oficialização da religião. 
TEMA 5 – VIDA E ORGANIZAÇÃO INTERNA DA IGREJA ANTIGA 
Desde o princípio, a Igreja buscou uma organização pautada na liderança 
de um escolhido, assim como Pedro, escolhido por Cristo para dar início à 
missão evangelizadora e liderar os discípulos quando não mais estivesse com 
eles. 
Os primeiros concílios de que se tem notícia foram mencionados por 
Tertuliano e tinham como objetivo tratar da rejeição do Pastor de Hermas no 
cânon das escrituras de muitas igrejas locais no início do século III (Hess, 2002, 
p. 15). No entanto, o primeiro concílio cujas decisões foram conservadas por 
escrito é o de Elvira de 306, lugar hoje chamado de Granada, na região sul da 
Espanha. 
Após esse concílio, com o reinado de Constantino, a política imperial de 
opressão e perseguições aos cristãos tornou-se mais branda, favorecendo a 
promulgação de leis que se referiam à aceitação do cristianismo como religião 
legítima em paralelo com o politeísmo do império. 
Talvez o ápice da inclinação pelos cristãos veio a ser quando o próprio 
Constantino convoca e preside o concílio de Nicéia em 325. Não se pode afirmar 
que os concílios tenham impulsionado essas mudanças,mas auxiliaram na 
uniformização de crenças e práticas dos grupos religiosos que se consideravam 
cristãos (Young, 2007). O concilio ecumênico de Nicéia, apesar da pouca adesão 
dos bispos dentro do Império Romano, mostrou o caráter universal das 
 
 
9 
discussões que são tratadas a fim de dar sustentação teológica e de direito aos 
rumos da Igreja. 
Os sínodos são organizados regionalmente entre os bispos para dirimir 
questões pontuais e que fazem parte de um consenso em determinado 
momento. Recentemente, por exemplo, tivemos o sínodo da Amazônia, que 
reuniu lideranças católicas dos países que fazem parte da Bacia Amazônica para 
tratar de medidas não apenas relacionadas à preservação e proteção do meio 
ambiente da região, como também ao trabalho de evangelização e 
conscientização dos habitantes para o cuidado com seu habitat. 
Foi em um desses sínodos que iniciaram as discussões sobre o celibato 
dos sacerdotes, que será levado para discussão mais tarde em reuniões mais 
amplas e com participação não apenas local, mas de todos os líderes cristãos 
católicos. 
É um ensinamento permanente da comunidade eclesial que o celibato 
é sumamente conveniente ao ministério sagrado. As duas realidades 
se chamam, uma à outra. Ademais, desde a mais remota antiguidade 
cristã se fala da fecundidade pastoral de quem entregou toda a sua 
vida por Cristo (São Paulo, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, os 
mestres de espiritualidade, os Concílios, os Papas). Por essa razão já 
o Sínodo de Elvira (Granada), no começo do século IV, prescreveu a 
praxe celibatária. Posteriormente, além de inúmeras outras 
regulamentações, o Concílio de Trento confirmou tal atitude. Portanto, 
o que muitos reivindicam – a livre escolha entre ser Sacerdote 
celibatário ou casado – já existiu por vários séculos na Igreja, e os seus 
próprios membros é que chegaram à conclusão de que o celibato 
deveria ser exigido e não só proposto. No Vaticano II os Bispos 
poderiam ter mudado essa disciplina. Mas não. Encorajados pelos 
Bispos das Igrejas Orientais Católicas, cujo clero não é célibe, 
mantiveram e estimularam a prática. (Oppermann, 2010) 
Percebemos assim que questões morais, políticas, de direito e dever bem 
como as mudanças operadas pela Igreja não são discutidas apenas entre um 
seleto grupo, mas sim entre os sucessores dos discípulos, para buscar meios de 
consenso entre o mundo e a fé, a Igreja e a humanidade. 
NA PRÁTICA 
A Igreja, em seu início, foi perseguida pelo Império Romano, banhando 
com sangue dos mártires o seguimento a Cristo e impulsionando persistir na 
construção de uma evangelização futura, tanto que percebemos a Igreja Católica 
como a instituição mais antiga do mundo. Ainda hoje, em diversos países, 
principalmente naqueles em que o cristianismo não é reconhecido como religião 
oficial, ocorrem perseguições e martírio. 
 
 
10 
Com isso em mente, faça uma pesquisa no site do Vaticano sobre as 
direções da Igreja nas regiões em que ocorrem perseguições a cristãos. O que 
é feito para manter a fé e o ensino do evangelho? Verifique as garantias de 
direitos humanos e de integridade física dos religiosos. 
Por fim, recomendo que você assista ao filme Des Hommes et des dieux 
(Homens e deuses) que retrata os últimos meses de vida dos monges 
assassinados na Argélia em 1994. Escreva um artigo comparando as medidas 
dos líderes e a realidade imposta nesses locais. 
FINALIZANDO 
Vimos que a Igreja, durante os primeiros séculos, passou por um período 
de resistência e marginalidade, para viver o evangelho em sua plenitude. Muitos 
entregaram-se ao martírio, para divertimento de seus algozes, mas mirando a 
salvação da alma na persistência do segmento ao mistério divino proposto pelos 
sucessores dos apóstolos e evangelizadores. 
Ainda que alguns tenham sofrido com a morte, muitos cristãos surgiam. O 
apelo popular, aliando-se às camadas mais abastadas que passaram também 
pelo processo de conversão, força Roma a aderir ao processo, evitando os 
conflitos para que as perseguições tivessem um fim. Em meio às provações, a 
Igreja precisava se organizar, buscando na instituição dos concílios e sínodos 
discernir em conjunto os rumos locais e mundiais para os fiéis e a cristandade. 
 
 
 
11 
REFERÊNCIAS 
ANGELOZZI, G. A Águia e a Cruz: O Império Romano frente ao cristianismo 
dos séculos I e II d.C. Jundiaí: Paco Editorial, 2011. 
Carta de Diogneto – cerca do ano 120 d.C. Biblioteca Virtual de Direitos 
Humanos. Universidade de São Paulo. Disponível em: 
. Acesso em: 14 jul. 2020. 
CARVALHO JUNIOR, M. L. de. Concílios eclesiásticos no século IV: uma janela 
para a formação do cristianismo tardo-antigo. In: Simpósio Nacional de História, 
27., 2013, Natal. Anais... Anpuh, 2013. 
HESS, H. The Early Development of Canon Law and the Council of Serdica. 
Oxford: Clarendon Press, 2002 
OPPERMANN, D. A. R. Ainda o celibato sacerdotal. CNBB, 15 de fevereiro de 
2010. Disponível em: . 
Acesso em: 24 jun. 2020 
SILVA, G. V. da; MENDES, N. M. (org). Repensando o Império Romano. In: A 
Relação Estado/Igreja no Império Romano (séculos III e IV). Rio de Janeiro: 
Mauad; Vitória: Edufes, 2006.

Mais conteúdos dessa disciplina