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Tendências pedagógicas do ensino de Artes Profª Dra. Vivien Kelling Cardonetti Diferentes movimentos, pensadores, leis, eventos, propostas e atividades atravessaram e deixaram seus rastros ao longo da trajetória histórica do ensino das artes visuais no Brasil. Em alguns casos, foram tão marcantes que acabaram produzindo vincos profundos no ambiente educativo. Por razões didáticas, essa escrita acompanhará um percurso histórico que segue uma cronologia, entretanto gostaria de enfatizar que a história do ensino das artes visuais não é tão linear assim, pois está repleta de rupturas, reviravoltas, sobreposições, ausências e exclusões. Quando pensamos na história do ensino da arte, é impossível não pensar nos dados e registros que escaparam dos historiadores. Afinal, como coloca Cherem (2009, p. 144): “atrás de toda a verdade existe uma proliferação de enganos”. Quantos mundos conviviam nesse mesmo mundo que faz parte do recorte da história do ensino da arte? Quantos acontecimentos foram invisibilizados em função das relações de poder e saber que dominavam na época? Mesmo que jamais saibamos o que teria sido invisibilizado, tais questões podem contribuir para pensarmos: o que as relações de poder e saber tornam visível e invisibilizam hoje? Os acontecimentos do passado podem nos ajudar a entender como a nossa subjetividade foi se produzindo ao longo do tempo e podem nos propiciar um exercício de suspeita a respeito de como passamos a ser de uma maneira e não de outra (NASCIMENTO, 2011). A partir desse momento as principais concepções e tendências formativas serão trabalhadas. É um esforço de abstração, pois sabemos que os modelos formativos surgem em condições socioculturais, econômicas e pedagógicas particulares. Ademais, como foi comentado, no processo de apropriação os modelos convivem e se mesclam uns com os outros. Apesar de saber das dificuldades e da limitação desta tarefa de abstração, acreditamos que vale a pena nomear cada tendência e buscar compreender os fundamentos pedagógicos, estéticos e culturais que justificam. A Escola Tradicional e o ensino das artes visuais A pedagogia tradicional é introduzida no Brasil no ensino da arte com a Academia de Belas Artes no século XIX, percorre todo século XX e permanece ativa ainda hoje, sobretudo, nos cursos universitários, onde nos formamos professores. Carrega uma concepção idealista de educação que “induz a acreditar que os indivíduos são „libertados‟ pelos conhecimentos adquiridos na escola e podem, por isso, organizar com sucesso uma sociedade mais democrática” (FUSARI; FERRAZ, 1993, p. 22-23). Creditar à educação e ao conhecimento um poder tão determinante é uma atitude ingênua e pouco crítica. O sistema educacional é um dos sistemas que compõem a sociedade, é um sistema entre outros, dependente, portanto de uma vasta rede de interesses e valores. A ideia de um conhecimento adquirido já revela uma concepção de educação pautada em valores instituídos, como um capital simbólico, usando aqui a terminologia de Pierre Bourdieu. No campo do ensino da arte, a partir desta concepção o valor do capital simbólico se define pelo valor do objeto artístico, valor esse predefinido pelas instituições que regem o próprio campo da arte. Portanto, esta é uma concepção que visa a manutenção e a reprodução de um sistema elitista. Imanol Aguirre nomeia esta concepção de logocentrista, ou seja, um modelo pedagógico que coloca no centro da ação educativa o próprio fato artístico e seus produtos (o conhecimento), de forma que seu objetivo principal consiste em dotar os indivíduos de ferramentas e conhecimentos precisos para conhecer e produzir tais artefatos (AGUIRRE, 2005, p. 205). Os fundamentos didáticos que sustentam esta concepção reforçam a importância da autoridade do professor, aquele que detém o conhecimento, e se ampara no valor formativo do próprio modelo. Acredita que o processo de aquisição dos conhecimentos se dá através de elaborações puramente mentais. São práticas que não levam em conta os aspectos sensoriais e emocionais, pois são apartadas da vida cotidiana dos sujeitos implicados no ato educativo. A configuração espacial e física de nossas escolas revela ainda muito dessa concepção. No campo do ensino da arte a pedagogia tradicional se associa a teoria estética mimética que pressupõe regras e princípios universais. Tem como fundamento metodológico a imitação e a progressão das dificuldades para a aquisição da perfeição tanto das formas como da destreza para executar tais formas. É associada ao padrão de beleza neoclássico e se fundamenta na historiografia da arte construída desde o Renascimento. Todas as práticas advindas do ensino divulgado pela Academia de Belas Artes se pautam neste modelo que se tornou também referência para os professores das disciplinas de Desenho das escolas primárias e secundárias da primeira metade do século XX. É através, sobretudo, do ensino de desenho que essas práticas se tornaram conhecidas no meio educacional, como a ênfase no produto do trabalho artístico através do domínio de técnicas. Fusari e Ferraz (1993, p. 25) elencam algumas modalidades desse modelo presentes nos programas da disciplina de Desenho e que ainda hoje nos soam familiares. -Desenho do natural (observação, representação e cópias de objetos); -Desenho decorativo (faixas, ornatos, redes, gregas, estudo de letras, barras decorativas, painéis); -Desenho geométrico (morfologia geométrica e estudo de construções geométricas) e ’ -Desenho “pedagógico” nas Escolas Normais (esquemas de construções de desenho para “ilustrar” aulas). A ideia de ensino da arte como técnica está ligada à origem do ensino no Brasil, com a vinda dos jesuítas, em 1549. Iniciou-se, neste período o ensino da arte através de processos informais, com as oficinas de artesões. A intenção era catequizar os povos, utilizando as técnicas artísticas. Já na educação formal, o ensino da arte é marcado com a chegada da Missão Francesa, em 1816. Formada por ilustres artistas da Europa, possuíam uma orientação neoclássica, que acabou marcando a forma de ensinar arte. Foi um dos poucos movimentos que vieram com atualidade do seu país de origem, pois quase sempre os modelos estrangeiros foram tomados de empréstimo de forma já enfraquecida. No ensino predominava basicamente o desenho do modelo vivo, do retrato e da cópia de ornatos e paisagens que vinham fora do Brasil, obedecendo a um conjunto de regras rígidas. Este panorama levava os alunos a valorizar esteticamente a natureza europeia em vez do ambiente tropical do Brasil. Pelos planos de Le Breton, chefe da Missão Francesa, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, criada por decreto de D. João VI, tinha como objetivo o equilíbrio entre a educação popular e a educação da burguesia. Contudo, quando começou a funcionar em 1826, com o nome de Academia Imperial das Belas-Artes, não somente o nome havia sido trocado, mas também a proposta de ensino, voltando-se para os interesses da corte. A crítica ao uso da arte na escola somente como adorno cultural, o desenvolvimento industrial e a necessidade de estabelecer uma educação aos escravos depois de libertos incentivou os intelectuais e políticos (especialmente liberais) a iniciarem campanhas para que o desenho se tornasse obrigatório no ensino. Os modelos de exercícios geométricos progressivos de desenho de Walter Smith (EUA) para o ensino da arte tiveram dois importantes divulgadores no Brasil: Rui Barbosa, nos pareceres sobre a reforma do ensino primário e secundário, e Abílio César Pereira Borges, através de seu livro Geometria Popular. O objetivo do livro, explicitado pelo próprio autor, era propagar o ensino do desenho geométrico e educar a nação para o trabalho industrial. Em 1890, o desenho geométrico foi introduzido no espaço escolar. Conforme apresentado neste breve sobrevoo, o ensino da arte tradicionalteve mais ou menos quatro séculos de existência, entretanto, ainda hoje observamos a técnica e a cópia presentes nas aulas de artes. O uso indiscriminado das reproduções, das pinturas em desenhos mimeografados/xerocados/impressos e dos desenhos geométricos é adotado ainda pelos professores. A Escola Nova (ou Pedagogia Renovada) e as heranças nas aulas em Artes Visuais Iniciemos nosso sobrevoo pela perspectiva da Escola Nova, conhecida também como Pedagogia Nova ou Renovada. Essa tendência pedagógica começa a ganhar consistência na Europa e nos Estados Unidos, no final do século XIX, passando a ganhar força no Brasil na década de 1930 (FUSARI & FERRAZ, 1993). Ela acontece como uma resposta às concepções extremamente disciplinares e autoritárias da Escola Tradicional em vigência até então. Ao mudar o enfoque na relação de ensino e aprendizagem do professor para o estudante, a perspectiva da Escola Nova buscava valorizar mais o processo dos estudantes, oferecendo um espaço educativo voltado à experiência e estimulador de um autoaprendizado. O professor autoritário dá lugar, assim, a um professor orientador, facilitador do processo de aprendizagem (auxiliando o estudante a se organizar) e atuando também como um observador desse processo de aprendizagem. Mas, se por um lado houve uma tentativa de rompimento com padrões estéticos e metodológicos em que a cópia, a técnica e as regras rígidas estavam presentes na Escola Tradicional, por outro, criou-se uma postura não diretiva no ensino da arte. Alguns dos autores que podemos mencionar enquanto mobilizadores dos pressupostos teóricos do movimento da Escola Nova e que influenciaram o trabalho de professores de arte brasileiros, foram: o filósofo americano John Dewey (1859-1952) e seus estudos que davam consistência à noção de arte como experiência; o educador e filósofo austríaco Viktor Lowenfeld (1903-1960) que apostava na investigação sobre o desenvolvimento natural do indivíduo com um enfoque não apenas intelectual, mas também social, emocional, físico, psicológico, permeado por experimentações que envolviam a sensibilidade e conscientização de todos os sentidos do corpo; o crítico de arte e de literatura britânico Herbert Read (1893-1968) que defendia a educação pela arte. Esses autores foram cruciais para propor um ensino de arte voltado para a experiência e exercícios livres em que prevaleciam a imaginação, a criatividade e a expressão dos sentimentos. Aqui cabe mencionar também que nesse momento os estudos psicológicos começam a ganhar força no território da educação, então, esse enfoque passa a produzir também essa tendência pedagógica, onde os conteúdos em si não eram o que mais importava, já que as atenções se voltavam para as questões psicológicas do desenvolvimento da capacidade de autoaprendizagem e de autonomia do estudante em seu processo expressivo. A Escola Nova, ao defender a ‘livre expressão’ (como fator da formação artística e estética), acabou gerando um „deixar fazer‟, um fazer em que a interferência do professor não era bem-vinda, nem mesmo as imagens adentravam a sala de aula para não interferir no processo do estudante. Sua produção se dava apenas como um exprimir de sua interioridade (um colocar para fora seus „sentimentos‟) a partir de uma variação de técnicas que, embora abarcassem os diferentes sentidos do corpo, não trazia movimentos de problematização para pensá-los, não havia também qualquer preocupação com alguma conexão com o campo das artes visuais enquanto área de conhecimento. O que importava era que o estudante colocasse para fora sua interioridade. Assim, a espontaneidade e a livre expressão, termos tão pronunciados nas aulas de artes durante a Escola Nova, podem ser responsáveis pelo entendimento que o planejamento não era relevante, já que a interferência do professor no processo de aprendizagem do estudante tinha restrições. Fusari e Ferraz (1993, p. 35) reforçam essa questão mencionando que Os professores da linha da livre expressão, implicitamente, pressupõem que o aluno tem dentro de si um mundo de „obras‟ que precisam ser postos para fora, expresso, mas não exprimido. Entendendo que a expressão dos alunos não podia sofrer qualquer interferência do professor, eliminando até mesmo atividades que na sua opinião prejudicam o „trabalho criativo‟. Rossi (2003, p. 14) comenta também que, nesse período, “a apresentação de modelos, a imagem, foi banida do ensino da arte. Para não contaminar o estudante”. A chamada „livre- expressão‟ visava preservar a espontaneidade do educando, protegendo-a de qualquer influência exterior. O professor, por sua vez, não deveria interferir no processo, com o intento de não „influenciar‟ o estudante. Por um lado, essa postura é compreensível, tendo em vista o modo hermético com que a educação tradicional oferecia as imagens aos estudantes, como modelo a ser copiado. Mas, banir a imagem da escola não levava em conta a possibilidade de se produzir outros encontros com elas, encontros que pudessem acionar outros possíveis. Nesse período o ensino da arte se ocupou da simples realização de atividades, muitas vezes sem um planejamento prévio, resultado do „fazer artístico‟ e do esvaziamento dos conteúdos específicos da área. Depois dos anos 60 a livre expressão acabou sendo levada ao extremo por alguns professores de artes, onde tudo era permitido. Vale lembrar também que essas heranças - posteriormente à década de 1980 - unidas a outros fatores como “a formação deficitária dos professores”, acabaram fazendo com que as artes corressem o risco de serem “extintas do currículo escolar” (ZORDAN, 2005, p. 4). É possível que decorra daí a visão equivocada que certos estudantes e professores têm da disciplina de artes, encarando-a como um momento livre, um espaço onde se pode fazer qualquer coisa para preencher o tempo. Cabe lembrar que ainda há professores com formações em outras áreas assumindo as disciplinas de artes nas escolas para complementar suas cargas horárias. Ao mesmo tempo em que esses efeitos são sentidos até hoje nas escolas formais (com a prática do desenho livre, por exemplo), há também muitas potências decorrentes da Escola Nova. Podemos citar, nesse sentido, algumas escolas que desviam do projeto disciplinar de concepção tradicional, às quais tem funcionado de forma fértil desde então e que perduram na contemporaneidade, como a Escola Summerhill, e as escolas com abordagens montessorianas1. Vale lembrar também que o terreno fecundo deixado pela tendência modernista (correntes artísticas expressionistas, futuristas e dadaístas difundidas na cultura brasileira através da realização da Semana de Arte Moderna, em 1922) e a influência da Escola Nova contribuíram para a criação da Escolinha de Arte do Brasil (1949). A Escolinha de Arte do Brasil surge do desejo de Augusto Rodrigues (artista pernambucano), Margaret Spencer (escultora norte-americana) e Lúcia Valentim (artista gaúcha) de produzir e oferecer um espaço de experimentação informal com a arte junto às crianças. Essa iniciativa se deu nas dependências da Biblioteca Castro Alves no Rio de Janeiro (RJ/Brasil) e foi denominada como „escolinha‟, pois era um modo afetivo com que as crianças se referiam a esse espaço, em contraposição à escola formal (LIMA, 2012). A proposta da Escolinha de Arte foi se disseminando, vindo a se tornar mais tarde um movimento: Movimento Escolinhas de Arte do Brasil. Apesar de ser um movimento extraescolar, as Escolinhas de Arte desempenharam grande influência sobre o ensino da arte na escola e também na formação de muitos professores de arte. O espontaneísmo, a liberação emocional e a total liberdade passaram a serem práticas incentivadas nessas formações. A Escola Nova produziu potentes problematizações que contribuíram para pensar um ensino não pautado no autoritarismo do professor, assumindo, assim, um desvio de um sistema disciplinar pautado na Escola Tradicional.Mas, ao mesmo tempo, produziu algumas heranças que nos interessam problematizar nesse texto: A não interferência do professor no processo; a observação a partir de uma visão psicológica de desenvolvimento de autoaprendizagem; a questão da interioridade como se ela não fosse produzida também por uma exterioridade e por um fora; e a não utilização da imagem para evitar contágios. 1 Sobre a Escola britânica Summerhill ver: <https://novaescola.org.br/conteudo/1508/conheca-summerhill-a- escola-em-que-o-aluno-pode-quase-tudo> Sobre a precursora dessa perspectiva Maria Montessori, e a organização Montessori ver: < https://novaescola.org.br/conteudo/459/medica-valorizou-aluno> e <http://omb.org.br/> https://novaescola.org.br/conteudo/1508/conheca-summerhill-a-escola-em-que-o-aluno-pode-quase-tudo https://novaescola.org.br/conteudo/1508/conheca-summerhill-a-escola-em-que-o-aluno-pode-quase-tudo https://novaescola.org.br/conteudo/459/medica-valorizou-aluno http://omb.org.br/ Quanto à interferência do professor no processo dos estudantes, atentamos para as potências que podem ser disparadas nessa ação. Conforme Cardonetti et al. (2018, p. 78), interferir no processo desde que com elementos que podem potencializá-lo, ou disparar outras direções e questionamentos são sempre bem-vindos num processo de criação. A abertura ao que pode acontecer em meio ao processo também é relevante, pois algo que sob um determinado ponto de vista poderia ser considerado „um erro‟, pode abrir possibilidades outras que façam o trabalho se espalhar para outras problematizações e possibilidades de invenção. Isso supõe pensar o professor como alguém que está ali experienciando esse processo, aprendendo com ele, sendo afetado e também sendo produzido nesse percurso. Assim, um exercício de espreita que extravase o modo de observação escolanovista (ancorado em questões psicológicas do desenvolvimento, sem interferir no processo) pode ser potente, pois oferece subsídios para fomentar processos de criação de si e do mundo ao propiciar elementos disparadores de problematizações, elementos que possam instigar os estudantes e a nós mesmos enquanto docentes. Ao pensarmos na potência do contágio nas experiências educativas em artes visuais, podemos pensar também no quão limitador pode ser a exclusão da imagem dessas experiências. A presença das imagens pode atuar como disparadoras de encontros, pode acionar problematizações e processos de criação de si e do mundo que talvez não seriam possíveis sem elas. A escola tecnicista e o endurecimento das artes visuais No momento histórico em que o Brasil vivia uma ditadura militar (1964-1985), é promulgada a Lei 5692/71 que introduz a Educação Artística nas escolas brasileiras. Nesse período a tendência pedagógica que se buscava implementar nas escolas era de cunho tecnicista2. Nessa perspectiva não interessava muito uma educação que produzisse outros movimentos que não aqueles voltados para produção de sujeitos não-críticos e „úteis‟ a uma sociedade industrial e tecnológica, a própria educação era considerada “um recurso tecnológico por excelência” (LIBÂNEO, 1985, p. 8) para „modelar‟ o comportamento humano. Na tendência pedagógica tecnicista, o enfoque no planejamento de ensino era muito grande, a ênfase em sua estruturação e o cumprimento de seus objetivos e finalidades eram evidentes. Como afirmam Ferraz e Fusari (2018, p. 55, grifos no original), na pedagogia tecnicista o professor é responsável pelo seu planejamento, que se deve mostrar competente e incluir os elementos curriculares essenciais: objetivos, conteúdos, estratégias e avaliação. A dinâmica do ensino e da aprendizagem não é questionada, pois o elemento principal é o sistema técnico de organização da aula e do curso. Assim, através do planejamento, enquanto tecnologia educacional, organizar-se-iam os modos mais „eficientes‟ para a mudança de comportamento do indivíduo para um objetivo 2 Essa influência de cunho tecnicista remonta a segunda metade da década de 50 e ao programa PABAEE (Programa Brasileiro-Americano de Auxílio ao Ensino Elementar). No Brasil foi introduzida com mais ênfase no período em que o país era comandado por uma ditadura militar (década de 60), como um modo de “adequar o tema educacional à orientação político econômica do regime militar” (LIBÂNEO, 1985, p. 19). ao qual o professor (em consonância com a maquinaria social de orientação capitalista) desejaria que ele chegasse. Um plano educativo tinha assim objetivos muito bem delimitados e fixos que desconsideravam todos aqueles ruídos e escapes que são da ordem do desejo vital, criador e singular de cada estudante. Os conteúdos que eram matéria de ensino eram redutíveis ao conhecimento observável e mensurável, o que era da ordem subjetiva, não era considerado (LIBÂNEO, 1985). Não havia, assim, uma busca por modos potentes de relações de aprendizagem, mas sim por formas/técnicas de “preparação de recursos humanos (mão de obra para a indústria)” através de “técnicas (forma) de descoberta e aplicação” (LIBÂNEO, 1985, p. 8). Nesse sentido, passou-se a investir no enfoque voltado às formas mais produtivas de „adaptação, com intuito de que o estudante pudesse caber na “sociedade industrial e tecnológica” (LIBÂNEO, 1985, p. 8) que o aguardava a ser produtivo dentro dessas maquinarias, funcionando como parte dessa engrenagem de desenvolvimento econômico do país. Assim, ao adotar o modelo mecanicista de planejamento difundido pela tendência tecnicista, o professor acabava por se colocar como mais uma peça da engrenagem que contribuía para a formação de um nivelamento da subjetividade (dele e dos estudantes) em consonância com o sistema de produção capitalista3. O ensino de artes nesse momento se resumia, assim, aos “seus aspectos técnicos e uso de materiais diversificados” (FERRAZ & FUSARI, 2018, p. 55), adesão à variação de técnicas sem uma preocupação com a arte enquanto campo de conhecimento, de criação, de pensamento e problematização do mundo. Vale lembrar que nesse momento, os livros didáticos e a sistematização de manuais e módulos de ensino começavam a ganhar força. Como afirmam Ferraz e Fusari (2018, p. 56), “na ausência de bases teóricas mais fundamentadas”, muitos professores de artes - que naquele momento também necessitavam dar conta da exigência da polivalência4 e de sua formação deficitária nesse contexto - acabavam por seguir propostas planejadas e divulgadas pelos materiais didáticos (apostilas, livros e manuais curriculares). Ainda segundo as autoras, “os livros didáticos nos anos 70/80 estão em pleno auge mercadológico, apesar de sua discutível qualidade” (FERRAZ & FUSARI, 2018, p. 56). Um tensionamento interessante de trazermos nesse texto é que naquele momento histórico, décadas de 1960 e 1970, havia no Brasil uma série de artistas operando uma produção artística de caráter mais denso, conceitual e político, como podemos observar na produção de Arthur Barrio e Cildo Meireles, produções essas extremamente problematizadoras frente ao que estávamos vivenciando com a ditadura militar no Brasil, a qual questionava também a concepção de arte como representação. Mas a arte na escola se restringia a trabalhar elementos de ordem técnica, tanto que a própria definição do lugar a ser ocupado pela mesma no ensino escolar era a de mera „atividade educativa‟ e não 3 Segundo Guattari e Rolnik o modo com que as pessoas vivem a subjetividade “oscila entre dois extremos: uma relação de alienação e opressão, na qual o indivíduo se submete à subjetividade tal como a recebe, ou uma relação de expressão e de criação, na qual o indivíduo se reapropria dos componentes da subjetividade, produzindo um processo [...] de singularização” (2010, p. 42). Tendo em vista os aspectosda pedagogia tecnicista, não havia nos planejamentos esses espaços para singularização, os encontros educativos acabavam, assim, por contribuir com os processos de subjetivação enquanto nivelamento das subjetividades. 4 A Lei 5.692/71 estabeleceu um novo conceito de ensino da arte: a prática da polivalência. Segundo esta reforma, as artes plásticas, música e as artes cênicas (teatro e dança) deveriam ser ensinadas por um mesmo professor no 1º Grau (hoje ensino fundamental). Neste documento, a arte é afirmada no currículo escolar como mera atividade, destituindo-a de seu caráter de disciplina. Os professores da época (de desenho, música, trabalhos manuais, canto coral e artes aplicadas) viram seus saberes transformados em meras atividades artísticas. Despreparados e inseguros para atender outras áreas de conhecimento, passaram a se apoiar cada vez mais nos livros didáticos de Educação Artística. como disciplina. Essa ideia fica mais clara no parecer 540/77, quando coloca que “confirma-se a inequívoca importância da educação artística, „que não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos interesses’” (FUSARI & FERRAZ, 1993, p. 38, grifo nosso). Tendo em vista esse panorama, podemos perceber algumas heranças também da tendência tecnicista, grudadas ainda hoje em muitos de nós, ocasionando, em virtude disso, esse desencorajamento de produzir planos de aula, seja por entender o planejamento como algo bastante fechado em seus objetivos e interesses e atuando apenas como um modo de controle, seja pelo fato de acreditarmos em uma acentuada separação entre teoria e prática, entre o que se planeja e o que acontece em aula com o grupo com o qual atuamos. Dois dos depoimentos docentes, problematizados por Corazza em um de seus textos sobre o exercício do planejamento publicado em 1997, trazem para a arena essa discussão. Um desses depoimentos diz de algo que temos ouvido com frequência de professores e de estudantes com os quais temos trabalhado: “De que adianta planejar, se, na prática, faz-se outra coisa? Na prática, o plano, a teoria, são bem diferentes. Aqui, na escola, tudo muda. Não é nada daquilo que vocês ensinam na faculdade” (CORAZZA, 1997, p. 108). Acreditamos que ao entender teoria e prática como instâncias separadas acabamos por não permitir ou não atentar para o que respinga de uma na outra, para o que pode surgir em meio a elas. O fato de não termos controle sobre o que acontecerá com o que planejamos, de não sabermos que outros caminhos podem se abrir no encontro do planejamento com a sua operação „com‟ os estudantes na experiência educativa, pode ser tomado como uma potência para que uma teoria não termine na prática e uma prática não termine na teoria, mas que possam cada uma delas serem reviradas, continuadas e inventadas nesse revezamento entre uma e outra. Dificilmente tudo sai exatamente da forma como planejamos, pois, há uma multiplicidade envolvida em cada encontro singular. Talvez resida aí a beleza de todo esse processo, ou seja, quem sabe habite nesse percurso o que nos movimenta e instiga a produzir a cada vez outras teorias e outras práticas, não apartadas uma da outra, mas em constante provocação. Outro depoimento trazido por Corazza (1997) no texto já citado anteriormente, refere-se sobre o controle seletivo, tão presente na abordagem do planejamento na tendência tecnicista. “Planejar é um ato autoritário, pois expressa o controle das escolas e dos professores sobre os estudantes” (CORAZZA, 1997, p. 108). Com esse depoimento somos provocadas a pensar que sim, quando um planejamento é totalmente fechado e imune as intervenções dos estudantes, ele não convida a interagir e não possibilita conversações e partilhas entre os envolvidos, funcionando, portanto, como uma prática autoritária. Quando tudo está tão explicado a ponto de se tornar uma verdade absoluta, pode acontecer que as possibilidades de invenção e intervenção não surjam, pois não há abertura, espaço para escutar outras vozes, experienciar outras coisas de modos diferentes e pensar de outra maneira. Por isso, é importante que um planejamento em artes visuais ofereça respiros e brechas para que inusitadas possibilidades possam adentrar nele, para que possa ser um processo construído junto ao coletivo com o qual nos relacionamos e não apartado deles e de seus desejos. Aproximações com as abordagens contemporâneas: proposta triangular e cultura visual A concepção de ensino de arte como „conhecimento‟, no período „pós-modernista‟, é fruto da luta política e conceitual de arte-educadores que passaram a defender a ideia da arte na educação com ênfase na própria arte, buscando contribuir para uma mudança epistemológica na forma de conceber, filosófica e metodologicamente o ensino da arte na contemporaneidade. Neste mesmo período (década de 80), surge a escola histórico-crítica, perspectiva de educação que dá ênfase aos conteúdos, confrontando-os com a realidade social. Determinados estudos da arte emergiram nesta época. Na Inglaterra essa pós- modernidade na arte foi manifestada no Critical Studies, na década de 80. Compreendia a arte como expressão e como cultura, defendendo a apreciação da obra de arte. Esta análise estava voltada para a apreciação, leitura e análise crítica da imagem. Nos Estados Unidos a mais forte manifestação foi o Disciplined Based Art Education (DBAE), baseando- se nas disciplinas: estética, história da arte, crítica da arte e o fazer artístico. No Brasil, inspirada por essas teorias, Ana Mae Barbosa sistematizou a proposta triangular. - Proposta triangular A proposta triangular foi projetada por Ana Mae Barbosa e tem sua preferência formativa de convergência pós-moderna, pois compreende a arte como expressão e como cultura, sugerindo uma aprendizagem construtivista, dialógica e multicultural. Originalmente foi nomeada como Metodologia Triangular, mas foi revista pela própria pesquisadora, pois se caracterizava mais como uma abordagem do que um método. Para Barbosa (1998), a procedência dessa abordagem resulta de uma dupla triangulação sistêmica: de um lado, três eixos do ensino e da aprendizagem: leitura da imagem (obra de arte), contextualização (história da arte) e fazer artístico. Essa triangulação tem seus fundamentos teóricos em três pensadores: John Dewey, Paulo Freire e Elliot Eisner. A experiência de ‘ler’/ver formas artísticas emprega informações e qualidades perceptivas, sensoriais e imaginativas para estabelecer um diálogo com a obra de arte (percepção). Ler imagens contempla: -Ver, apreciar e interpretar; -Compreender seu significado, criando distintas interpretações e questionamentos; -Decompor a imagem visualmente. Existem diferentes abordagens de leituras de imagens: formalista, semiótica, icnográfica, estética, poética, etc. A experiência de refletir acerca da arte como objeto de conhecimento leva em consideração os dados sobre a cultura em que o trabalho artístico foi realizado, a história da arte e os elementos e princípios formais que constituem a produção artística, tanto de artistas quanto dos próprios estudantes (contextualização). Contextualizar abarca: -Conceituar, situar a imagem/objeto no tempo, explorando seu contexto histórico; -Alfabetizar visualmente; -Pesquisar, comparar com outros elementos; -Desmistificar, facilitar o entendimento. Barbosa coloca que contextualizar é estabelecer relações. Neste sentido, a contextualização no processo ensino-aprendizagem é a porta aberta para a interdisciplinaridade. (...). É através da contextualização que se pode praticar uma educação em direção à multiculturalidade e à ecologia, valores curriculares que definem a pedagogia pós- moderna (BARBOSA, 1998, p. 38). A experiência de produzir formas artísticas contempla tudo que entra em jogo na ação criadora: recursos pessoais, habilidades, pesquisade materiais e técnicas, a relação entre perceber, imaginar e concretizar um trabalho de arte (produção - releitura). Fazer artístico envolve: -Levar em consideração a interpretação e o processo criativo pessoal; -Primar pela diversidade de olhares, de materiais, de técnicas. Esses estudos deixaram seus vestígios, pois, ainda hoje, por falta de um estudo aprofundado, encontramos professores que incorrem no risco de considerar a proposta triangular como uma „receita‟ a ser seguida. A proliferação de trabalhos em cima de „releituras‟ de obras de arte ainda é frequente no âmbito escolar, detendo-se basicamente em reproduções das obras. Foi neste contexto de pesquisas e reinvindicações que, em 20 de dezembro de 1996, os arte-educadores brasileiros conquistaram a obrigatoriedade do ensino de arte para toda a educação básica, através da Lei 9.394/96, que depois de uma década revogou as disposições anteriores e consagrou, oficialmente, a concepção de ensino de arte (artes visuais, dança, música e teatro) como disciplina e não mais como atividade. Em 2006, a partir de normativas federais, passou-se a vigorar a nomenclatura de „Ensino da Arte‟, em vez de „Educação Artística‟. Na década de 80, o pesquisador espanhol Fernando Hernández, juntamente com outros teóricos da Europa, passou a difundir a perspectiva da cultura visual no ensino das artes visuais. - Cultura visual A cultura visual se mostra como um campo transdisciplinar que inclui imagens e artefatos de diferentes temporalidades e materialidades, e que se debruça em pensar o emaranhado de relações que nos produzem a cada vez, a partir do nosso encontro com elas (HERNÁNDEZ, 2011). Pesquisadores brasileiros passaram a se dedicar ao estudo e investigação da cultura visual desde então, dentre eles: Alice Fátima Martins, Irene Tourinho e Raimundo Martins (UFG), Erinaldo Alves do Nascimento (UFPB), Marilda Oliveira de Oliveira (UFSM), Belidson Dias (UnB), entre outros. Esse grupo de professores, ao lado de outros convidados, tem publicado nesses últimos anos um frutífero material sobre educação e cultura visual. É, justamente, a partir do viés desses pesquisadores que será realizado alguns recortes, explorando aspectos da cultura visual que parecem ser potentes para pensar o ensino de artes. A cultura visual nasce como um campo transdisciplinar que tenta explorar as diferentes imagens e suas potencialidades com intuito de indagar as práticas culturais do olhar e os efeitos desse olhar sobre quem vê. Neste sentido, além de trazer para a discussão imagens de diferentes ordens, não se importando em categorizar o que pertence ou não ao cenário artístico legitimado (sistema das artes), debruça-se em problematizar as diferentes visualidades que permeiam nosso cotidiano (revistas em quadrinhos, videoclipes, cartões postais, álbuns de fotos, filmes, videojogos, blogs, outdoors, tatuagens, artesanato, imagens dos livros didáticos e infantis, das revistas, dos muros, da televisão, dos brinquedos e dos grafismos das portas dos banheiros, etc). Este posicionamento epistemológico permite que imagens que fazem parte do cotidiano possam ser trazidas e entrelaçadas no debate em sala de aula, aproximando desse modo a escola da vida e a vida da escola. É interessante ressaltar que a cultura visual não se resume apenas em ampliar o espectro dos objetos eleitos como conteúdos curriculares, como muitas vezes é superficialmente compreendida, mas vai muito mais além, requer um posicionamento político e crítico diante dos contextos que perpassam as visualidades e os sujeitos. A cultura visual se dedica ao estudo de como nos relacionamos com esse campo expandido de imagens e na maneira como vamos nos produzindo nesta relação. Ela não busca oferecer um roteiro de como olhar para uma imagem, tal como, por exemplo, propunha as propostas do olhar ancoradas em uma tradição ocidental (formalista, iconográfica, semiótica, psicanalítica). Busca, sim, confrontar diferentes modos de ver, dizer, pensar uma mesma imagem. Ao pensar as visualidades a partir desse prisma, permitimos que se abram diferentes possibilidades de experimentação. Assim, o caráter fixo do seu significado é retirado, acentuando o que o encontro entre o visualizador e a imagem permite criar como produção de sentidos. Nesse viés, o foco não mais se centra unicamente no objeto que é visto, nem no sujeito que o produz, mas na relação que se estabelece. Ou seja, não busca decifrar o que o autor quis dizer com a obra, nem que verdades a obra esconde, como se tivesse uma única verdade a ser decifrada. A cultura visual, a partir desses autores mencionados anteriormente, fica à espreita dos efeitos produzidos pelo encontro entre o visualizador e a imagem, problematizando as interpretações desencadeadas. Por isso, a cultura visual como posicionamento epistemológico acolhe a problematização como uma forma de inquirir as imagens, permitindo assim, revisar os efeitos das narrativas hegemônicas que se apresentaram e ainda se apresentam, como formas de verdade sobre nós e nossas maneiras de ver o mundo. A problematização favorece que nossas histórias se cruzem com as histórias que são oferecidas pela imagem e pelo artista, propiciando outras formas de diálogos que não nos excluem, nem nos coloquem em uma posição subordinada de não saber. Quando falamos em cultura visual não estamos nos referindo a um novo paradigma que colocaria em xeque as artes visuais e tudo o que durante séculos se construiu nesse campo, tanto no que concerne à sua produção como ao seu ensino. É um equívoco ver a cultura visual como a solução para todos os males do ensino da arte, pois nem ela nem a próxima „perspectiva‟ que surgir no campo vão dar conta de tamanha tarefa. Contudo, incontestavelmente, ela tem muito a oferecer e a ser explorada, pois os estudos se mostram como uma possibilidade, uma vertente, um outro desejo, um caminho viável que acolhe nossos anseios contemporâneos, já que aportam a área perspectivas para trabalhar as visualidades sob outras formas menos rígidas, menos conclusivas e mais incertas. Considerações finais Após esse sobrevoo ao longo da história, é perceptível constatar o quanto o ensino das artes no Brasil apresentou influências de teorias estrangeiras (Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, França e Portugal). Sabe-se da importância de estarmos abertos ao que pensadores e teóricos de outros países têm a nos oferecer, contudo é pertinente pontuar que certas teorias foram apenas uma „colagem‟ distorcida e não aprofundada das implicações de seu uso. Por isso, toda e qualquer pesquisa, longe de ser uma sentença final sobre como devemos trabalhar a arte, são antes invenções, experimentações que respondem a certas urgências. Em cada tendência e proposta há uma estrutura composta de saberes e poderes, que abrigam a possibilidade de serem reforçadas, mas também de serem desconstruídas. Há sempre uma estrutura que indica um caminho e diz o que fazer, mas dentro dela há também a possibilidade de criação de outras possibilidades que escapam a este formato sugerido. Não se trata, portanto, de pensar qual delas é a melhor. Não se trata de substituir uma perspectiva por outra, mas perceber o que em cada uma delas pode funcionar como potência para o nosso trabalho, a partir contingências de cada situação e contexto. O problema das teorias pelas quais muitas vezes nos apaixonamos, é justamente isso, nos apaixonarmos cegamente por elas, entendendo-as como modelos e não como „ferramentas‟ (FOUCAULT,1991). O desafio consiste em colocá-las para vibrar em diferentes situações, produzindo desse modo variações na própria teoria ou metodologia, conforme as contingências do momento. Sabemos que esse não é um movimento fácil, pois convivemos com as abordagens de outros tempos e espaços, que coexistem no emaranhado que pulsa na superfíciecotidiana que habitamos. Carregamos heranças que muitas vezes não desejamos carregar, concepções que grudam em nosso corpo, e que muitas vezes acabamos por reproduzir, ou vemos reproduzidas por aí. Essas circunscrições vão persistindo e se infiltrando em tessituras atuais, e por vezes nos arrastam em concepções que já não dão conta do que vivenciamos, mas, por estarem coladas e aderidas em nós, por vezes não conseguimos nos desvencilhar delas. Nesse sentido, o que nos cabe? Talvez a resposta esteja em apenas lembrar... Lembrar? Sim... Lembrar que as nossas escolhas não são neutras, elas produzem realidades e modos de vida. Lembrar que as nossas escolhas foram inventadas por alguém... Lembrar que elas são apenas uma das possibilidades imagináveis... E lembrar que infinitas outras possibilidades permanecem aguardando a nossa invenção conforme as exigências de cada momento... Referências AGUIRRE, Imanol. Teorías y prácticas en educación artística. Barcelona: Octaedro, 2005. BARBOSA, Ana Mae. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. CARDONETTI, V. K., Mossi, C. P., Garlet, F. R. & Oliveira, M. O. Artes Visuais e Educação Especial (E-book). Acedido em janeiro, 6, 2018. CHEREM, Rosângela Miranda. Imagem – acontecimento. In: Linhas cruzadas: artes visuais em debate/organização: Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva, Sandra Makowiecky – Florianópolis: Ed. Da UDESC, 2009. CORAZZA, S. M. Planejamento de ensino como estratégia de política cultural. In: Moreira, A.F.B. (Org.). Currículo: questões atuais (pp.103-143). Campinas: Papirus, 1997. FERRAZ, M. H. C. de T. & FUSARI, M. F. R. Metodologia do ensino de Arte. (3nd ed). São Paulo: Cortez, 2018. FUSARI, Maria F. de Rezende; FERRAZ, Maria Heloisa C. de T. Arte na educação escolar. 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