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G1 PIDH - 30CPR - sistematizado

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PROTEÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
GRAAL DA PROVA ORAL DO 30º CPR – 03/2023
Organizado e revisado por Karen L L A S Reus 
Sumário
Sumário
1.	NOÇÕES GERAIS	1
1A. Direitos Humanos. Terminologia e a relação com direitos fundamentais. Estrutura. Fundamento. Evolução histórica. Os destinatários da proteção dos direitos humanos e os sujeitos passivos	1
2C. Interpretação dos direitos humanos. Resolução de conflitos entre direitos humanos. Limitabilidade dos direitos humanos. Restrições dos direitos humanos e suas espécies. Conteúdo essencial dos direitos humanos.	1
3A. Direitos Humanos. Classificações. Dignidade Humana e seus usos. Fontes internacionais da proteção de direitos humanos. O regime objetivo dos tratados de direitos humanos. Características das normas internacionais. Normas internacionais imperativas de direitos humanos.	1
4C. Universalidade dos direitos humanos. Multiculturalismo. Relativismo. Gramáticas diferenciadas de direitos. Abertura dos direitos humanos. Autonomia e indisponibilidade dos direitos humanos.	1
5A. Direitos humanos e superioridade normativa. Indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos. Eficácia dos direitos humanos nas relações entre particulares. Interseccionalidade e os direitos humanos.	1
6A. Direitos humanos e seu caráter erga omnes. Exigibilidade dos direitos humanos. Aplicabilidade imediata dos direitos humanos. As dimensões subjetiva e objetiva dos direitos humanos.	1
2.	DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS	1
7A. Internacionalização dos direitos humanos. Evolução histórica e antecedentes no Direito Internacional. O Direito Internacional de proteção às minorias. A Carta da Organização das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Declaração e Programa de Ação de Viena.	1
8A. Processos internacionais de proteção de direitos humanos. Espécies. Força vinculante dos tipos de deliberações internacionais de proteção de direitos humanos. Coordenação e conflito entre decisões internacionais de proteção de direitos humanos. Subsidiariedade da jurisdição internacional de direitos humanos.	1
2A. O sistema de petições individuais e interestatais nos tratados multilaterais de direitos humanos de âmbito global. A atuação da Corte Internacional de Justiça na proteção internacional de direitos humanos.	1
4A. Os direitos previstos em tratados internacionais de direitos humanos adotados no âmbito da Organização das Nações Unidas. Os direitos previstos nos tratados de direitos humanos celebrados no âmbito da Organização dos Estados Americanos.	1
7C. Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas: composição, competências e funcionamento. Procedimentos especiais no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas: evolução histórica, trâmites, tipos de deliberações e efetividade.	1
8B. O sistema de relatórios periódicos nos tratados multilaterais de direitos humanos de âmbito global. O conteúdo das observações gerais dos Comitês criados por tratados multilaterais de direitos humanos.	2
9A. A revisão periódica universal do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. A proteção de direitos humanos perante o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.	2
10B. O sistema europeu de direitos humanos. Evolução histórica. Jurisdição contenciosa e consultiva: trâmite e modos de funcionamento. Métodos de interpretação e execução de decisões do sistema europeu de direitos humanos.	2
3.	SISTEMA INTERAMERICANO	2
4B. Corte Interamericana de Direitos Humanos e sua Jurisdição Contenciosa e Consultiva. Procedimentos. O Conteúdo da Jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos.	2
6B. A Carta da Organização dos Estados Americanos e a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. A atuação dos órgãos da Organização dos Estados Americanos na proteção de direitos humanos.	2
10A. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e sua atuação no âmbito da Convenção Americana de Direitos Humanos e demais tratados celebrados sob o patrocínio da Organização dos Estados Americanos. Procedimento das petições individuais e interestatais na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.	2
4.	PROTEÇÃO HUMANITÁRIA E DIREITOS EM ESPÉCIE	2
1B. A proteção internacional no âmbito global e regional dos povos indígenas e comunidades tradicionais: órgãos, tratados e declarações. A proteção internacional da diversidade das expressões culturais. Os precedentes de tribunais e órgãos internacionais sobre os direitos dos povos indígenas.	2
2B. A proteção internacional da integridade pessoal. Tortura como crime internacional. Tratados internacionais contra a tortura, tratamento cruel ou desumano celebrados pelo Brasil. O Protocolo de Istambul. A jurisprudência internacional sobre a tortura, tratamento cruel ou desumano.	2
3B. Proteção dos direitos das mulheres no Direito Internacional. Igualdade de gênero. Tratados internacionais no âmbito global e regional. A implementação no Brasil da promoção e proteção dos direitos das mulheres.	2
3C. A proteção internacional dos direitos sociais, econômicos e culturais. Obrigações do Estado na garantia dos direitos sociais, econômicos e culturais e relações com os direitos civis e políticos. A defesa dos direitos sociais, econômicos e culturais no sistema global e no sistema interamericano de direitos humanos.	2
5B. A proteção penal dos direitos humanos e seus fundamentos. Mandados internacionais de criminalização. Responsabilidade não penal de indivíduos no direito internacional pela participação em graves violações de direitos humanos.	2
5C. Direito à igualdade. Dimensões da igualdade e dever de inclusão. A proibição de discriminação. Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (ONU). Convenção Interamericana contra o Racismo, Discriminação Racial e Formas Conexas de Intolerância. Princípios de Yogyakarta sobre orientação sexual. Opinião Consultiva nº 24/2017 sobre a identidade de gênero igualdade e não discriminação a uniões homossexuais (Corte IDH). Sistemas de proteção e monitoramento. Jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O combate à discriminação direta e indireta. Racismo institucional.	2
7B. Proteção dos direitos das pessoas com deficiência no direito internacional: órgãos, tratados e declarações. Direitos das pessoas com transtornos mentais. Direitos das pessoas com transtorno do espectro autista.	2
8C. Justiça de transição, direito à verdade e à justiça. A proteção internacional dos direitos sexuais e reprodutivos	3
9C. Liberdade de locomoção. Liberdade de associação. Liberdade de consciência e liberdade religiosa. Liberdade de pensamento e expressão. A proteção internacional aos direitos dos presos.	3
6.	DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO PÁTRIO	3
9B. Política Nacional de Direitos Humanos. O Conselho de Direitos Humanos. Institutos e Órgãos de Defesa de Direitos Humanos. A Instituição Nacional de Direitos Humanos e a Organização das Nações Unidas. O Ministério Público e a Defesa dos Direitos Humanos	3
1C. Os tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil. A formação, incorporação e hierarquia normativa. Duplo controle da proteção de direitos no Brasil. Os controles de convencionalidade e de constitucionalidade na proteção de direitos humanos.	3
6C. Execução interna das decisões internacionais de direitos humanos. Supervisão internacional do cumprimento pelo Estado das deliberações de direitos humanos. O incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.	3
1. NOÇÕES GERAIS
1A. Direitos Humanos. Terminologia e a relação com direitos fundamentais. Estrutura. Fundamento. Evolução histórica. Os destinatários da proteção dos direitos humanos e os sujeitos passivos
Atualizado por José Weverton A. Lucas
I. Direitos Humanos. Terminologia e a relação com direitos fundamentais
Segundo ACR, os direitos humanos consistem em um conjunto de direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade. São os direitos essenciais e indispensáveis àBoaventura.
Multiculturalismo vs. Interculturalismo (ou Interculturalidade): No multiculturalismo, como visto, estimula-se os vínculos entre os indivíduos e seus grupos culturais e defende a coexistência de culturas, independentemente da igualdade. Contudo, admite que diferentes culturas podem se mesclar e se integrar, embora não descarte a superioridade de uma cultura sobre outra. Por sua vez, o interculturalismo tem como parâmetro uma sociedade em que as comunidades étnicas se reconhecem em suas diferenças e buscam uma mútua compreensão e valorização (interação positiva), defendendo a coexistência das culturas em um plano de igualdade, combatendo o império de uma cultura sobre outra. Assim, tanto o multiculturalismo quanto a Interculturalidade aceitam a convivência entre diferentes grupos culturais, entretanto, uma admite a desigualdade entre os grupos e mesmo a hegemonia de um sobre outro (multiculturalismo), ao passo que outra defende um paradigma de sociedade na qual o norte seja a isonomia e o combate às desigualdades (interculturalismo).
Perspectivas interculturais no século XXI: há uma tendência de modificação na centralidade do debate entre universalismo e relativismo, visando construir as bases teóricas para um diálogo intercultural. É necessário estabelecer um duplo diálogo: primeiro, um diálogo interno no qual determinada cultura possa debater sua visão de dignidade da pessoa humana e dos direitos humanos; após, um diálogo externo, igualitário e baseado na reciprocidade, no qual as diversas concepções possam convergir. Tal diálogo só é possível a partir das seguintes premissas: a) todas as culturas e religiões comungam dos ideais gerais de igualdade e liberdade encontrados na DUDH, mas divergem quanto à extensão e conteúdo dos direitos em concreto, o que exigirá a reinterpretação dos preceitos locais (interpretação iluminista); b) o diálogo interno é essencial para pôr em cheque determinados dogmas culturais, levando à releitura de concepções locais, agora à luz dos direitos humanos; c) o diálogo externo (com outras culturas) acarreta a revaloração dos próprios padrões de direitos humanos, usados anteriormente como marcos hermenêuticos do diálogo interno; ocorre o fenômeno na legitimação retrospectiva dos padrões universais, que, antes de rejeitar tais padrões, busca por meio desse diálogo multicultural revalidá-los. Além disso, o século XXI conta com um instrumento eficaz para a superação da antiga dicotomia universalismo-relativismo: os processos internacionais de direitos humanos perante os tribunais internacionais. A atividade das cortes europeia e interamericana permite avaliar as objeções locais à implementação de direitos humanos pela própria lógica dos direitos, graças ao reconhecimento de diversos direitos em conflito. Assim, aquilo que era visto como um conflito ente uma opção cultural local e um direito previsto em um tratado passa a ser entendido como um conflito de direitos, entre o direito cultural e outro direito essencial em tela.
	GRAMÁTICAS DIFERENCIADAS DE DIREITOS: No artigo “A Gramática dos Direitos Humanos”, do prof. Oscar Vilhena Vieira, publicado no Boletim Científico da ESMPU, julho/setembro 2002, a expressão “gramática dos direitos” é utilizada como sinônimo de linguagem dos direitos. PIOVESAN também utiliza a expressão “gramática dos direitos humanos” como sinônimo de linguagem ou interpretação dos direitos humanos. A expressão “gramática dos direitos humanos”, assim, refere-se às diversas linguagens produzidas ao longo da história ou pelos diferentes povos acerca da concepção dos Direitos Humanos. Neste ponto, a Declaração de 1948 inovou a gramática dos direitos humanos, ao introduzir concepção contemporânea de direitos humanos, marcada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos e combinando o discurso liberal da cidadania com o discurso social, elencando tanto direitos civis e políticos (arts. 3 a 21), como direitos sociais, econômicos e culturais (arts. 22 a 28).
	ABERTURA DOS DIREITOS HUMANOS: A abertura dos direitos humanos consiste na possibilidade de expansão do rol dos direitos necessários a uma vida digna (ou seja, dos DH), consolidando, assim, a não exequibilidade dos direitos humanos, sendo o rol previsto na CRFB/88 e tratados internacionais meramente exemplificativo, não excluindo, portanto, o reconhecimento futuro de outros direitos. A abertura pode ser internacional, fruto do aumento do rol de direitos protegidos oriundo do DIDH, ou nacional, fruto do trabalho de interpretação ampliativa realizado pelo constituinte derivado e pelos tribunais nacionais. Segundo ACR, o art. 5, §2, da CRFB/88 teria adotado a abertura dos direitos humanos, por meio do princípio da não exaustividade dos direitos fundamentais. Importante ressaltar que a abertura está relacionada com a fundamentalidade dos direitos humanos no ordenamento jurídico. Os direitos humanos possuem uma fundamentalidade formal (por estarem previstos em normas constitucionais e em tratados de direitos humanos), mas possuem também uma fundamentalidade material (reconhecimento da indispensabilidade de determinado direito para a promoção da dignidade humana). 
29 Objetiva – 14, III – O princípio da não tipicidade dos direitos humanos é incompatível com a interpretação evolutiva dos direitos em tratados de direitos humanos. FALSO.
AUTONOMIA E INDISPONIBILIDADE DOS DIREITOS HUMANOS: Inicialmente, importante ressaltar que os direitos humanos são tidos como imprescritíveis, inalienáveis e indisponíveis (ou irrenunciáveis), o que, em seu conjunto, compõe uma proteção de intangibilidade aos direitos tidos como essenciais a uma vida digna. A imprescritibilidade implica reconhecer que tais direitos não se perdem pela passagem do tempo: existindo o ser humano, há esses direitos inerentes. A inalienabilidade pugna pela impossibilidade de se atribuir uma dimensão pecuniária desses direitos para fins de venda. Finalmente, a indisponibilidade ou irrenunciabilidade revela a impossibilidade de o próprio ser humano – titular desses direitos – abrir mão de sua condição humana e permitir a violação desses direitos.
A autonomia, componente do direito à liberdade e da própria dignidade da pessoa humana, dispõe que o indivíduo é livre para não exercer seus direitos. Contudo, essa autonomia não é absoluta. Há limites relacionados ao dever de proteção do Estado (dimensão objetiva dos direitos humanos), mesmo contra a vontade do titular, o que implica reconhecer a indisponibilidade como parte do regime jurídico dos direitos humanos. Pode-se concluir, portanto, que a indisponibilidade é uma limitação à autonomia quanto ao exercício dos direitos. 
Contudo, segundo ACR, essa indisponibilidade dos direitos humanos não pode gerar um paternalismo estatal exacerbado, que fulminaria a vontade de um indivíduo para protege-lo. Assim, por exemplo, a participação em reality show e o afastamento do direito à privacidade em um ambiente de consentimento livre e informado de indivíduos capazes é legítimo. 
5A. Direitos humanos e superioridade normativa. Indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos. Eficácia dos direitos humanos nas relações entre particulares. Interseccionalidade e os direitos humanos.
Atualizado por Renata Souza
Material base: Graal do 29º CPR (Laiz Mello). 
 Fontes utilizadas para a atualização: Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos de Caio Paiva e Thimotie Heemann (3ª edição – 2020); Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional de André de Carvalho Ramos (6ª edição – 2016); Curso de Direitos Humanos de André de Carvalho Ramos (9ª edição – 2022).
DIREITOS HUMANOS E SUPERIORIDADE NORMATIVA
O jus cogens internacional em matéria de direitos humanos
Normas imperativas em sentido amplo (jus cogens e obrigações erga omnes): as normas imperativas em sentido amplo são aquelas que contêm valores essenciais da comunidade internacional e que, por conseguinte, se impõem a cada Estado isoladamente considerado. Logo, não é facultado ao Estado o direito de violar normas imperativasou de aquiescer com violações por parte de outrem dessas normas. Há duas espécies de normas imperativas em sentido amplo: o jus cogens e as obrigações erga omnes. 
O jus cogens (ou norma imperativa em sentido estrito ou norma cogente internacional) consiste no conjunto de normas que contém valores considerados essenciais para a comunidade internacional como um todo, sendo por isso dotado de superioridade normativa no choque com outras normas de direito internacional. Pertencer ao jus cogens não significa ser tal norma considerada como obrigatória, pois todas as normas internacionais o são. Significa que, além de obrigatória, não podem os Estados comportar-se de modo a derrogá-la, a não ser que a derrogação seja oriunda de norma de igual quilate.
Já as obrigações erga omnes referem-se a obrigações internacionais cujo cumprimento interessa à comunidade internacional. Essas espécies não são estanques: normas pertencentes ao jus cogens são consideradas obrigações erga omnes. No entanto, o fato de uma norma pertencer ao conjunto de normas de obrigações erga omnes não implica no seu caráter cogente. O conceito de jus cogens implica o reconhecimento de uma qualidade do direito material (superioridade) e as obrigações erga omnes significam uma qualidade de implementação do direito material (todo Estado tem interesse no cumprimento dessa norma).
	O rol das normas imperativas: a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (CVDT, 1969) foi omissa na determinação do rol de normas pertencentes ao jus cogens. A origem, então, do rol das normas cogentes é o costume internacional. Todavia, não é impossível que os Estados editem tratado com essa finalidade[footnoteRef:5]. Da prática internacional, fica evidente a existência de poucas normas de jus cogens reconhecidas, podendo ser apontadas como exemplos as seguintes: I) Proibição do uso ilegítimo da força, agressão e guerra de conquista: o desenvolvimento do direito internacional gerou a importante proibição do recurso à força como mecanismo de solução de controvérsias entre Estados, sendo considerados ilegais a guerra e o recurso às represálias armadas. A CIJ consagrou tal entendimento no caso do Estreito de Corfu, considerando ilícita a chamada Operation Retail pela qual os navios de guerra do Reino Unido invadiram as águas territoriais da Albânia. Já no julgamento do litígio envolvendo Nicarágua vs. Estados Unidos, a CIJ reconheceu a existência de obrigação internacional de proibição do uso da força para a solução de controvérsias entre Estados. II) Princípio da autodeterminação dos povos: para ACR, autodeterminação dos povos é o direito à emancipação política de toda comunidade submetida à dominação estrangeira, jugo colonial e, recentemente, com base na experiência do Kosovo, grave situação de discriminação e violação dos direitos humanos (neste último caso o entendimento é minoritário). A CIJ reconheceu esse costume internacional no Caso do Timor Leste (Portugal versus Austrália, 1995), bem como nos Pareceres Consultivos sobre a Namíbia, 1971, e Saara Ocidental, 1975. No entanto, a consolidação consuetudinária do direito à autodeterminação não eliminou a dúvida sobre quem pode invocá-lo. A prática tradicional dos Estados indica que somente os povos sob dominação estrangeira ou jugo colonial é que estariam ao abrigo do jus cogens. Segundo ACR, o caso do Kosovo sugere que as minorias existentes podem buscar a emancipação extraordinariamente – em face do direito à integridade territorial do antigo Estado – caso haja discriminação e violação grave e sistemática dos direitos humanos, conforme consta do voto do Juiz Cançado Trindade no Parecer Consultivo da CIJ sobre a independência do Kosovo, de 2010 (tese, contudo, que não foi aceita pela maioria). A Declaração de Viena de Direitos Humanos (1993) assinala uma conciliação entre proteção de direitos humanos e o direito à emancipação de agrupamentos não submetidos à dominação estrangeira ou jugo colonial, pugnando pela inexistência do direito de secessão no plano internacional desde que o estado possua governo representativo de toda a população pertencente ao seu território, sem distinções de qualquer natureza, ou seja, desde que não haja discriminação odiosa que leve o grupo discriminado a buscar a emancipação. III) Determinadas normas de direitos humanos: no âmbito da ONU, a CDI já considerou, em várias ocasiões, que violações a direitos de defesa (direitos de primeira geração) ofendem valores essenciais (ou seja, jus cogens) da sociedade internacional. Os tribunais internacionais caminham no mesmo sentido. A Corte IDH possui jurisprudência constante no sentido de reconhecer a qualidade de jus cogens de determinados direitos fundamentais (ex.: no parecer consultivo nº 18 sobre a condição jurídica e direitos dos migrantes não documentados de 2003 a Corte considerou que o princípio da igualdade e não discriminação pertence ao jus cogens; no caso dos meninos de rua da Guatemala – Caso Villagrán Morales, Cançado Trindade sustentou que o desaparecimento forçado de pessoas viola direitos humanos inderrogáveis – liberdade, integridade física e psíquica e direito à vida – e, por isso, pertence ao rol do jus cogens). Em paralelo, houve inconteste esforço da comunidade internacional de prevenir violações graves de direitos humanos desde o final da 2ª Guerra Mundial, o que culminou com a redação do Estatuto de Roma (TPI). Hoje, os direitos humanos protegidos pela tutela internacional penal stricto sensu (crimes contra a humanidade, crimes de guerra, genocídio e agressão) são parte integrante do jus cogens, uma vez que a vontade de um Estado ou de Estados isolados não impedirá a ação punitiva dos tribunais penais internacionais. Para ACR, pode-se vislumbrar que, no futuro, a natureza de norma imperativa será reconhecida a todos os direitos humanos, sem qualquer distinção. [5: Na prova objetiva do 30º CPR foi considerada correta a seguinte assertiva: A norma de jus cogens do Direito Internacional não tem procedimento específico de elaboração, podendo ser de origem convencional ou consuetudinária. ] 
INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA DOS DIREITOS HUMANOS Para ACR, a indivisibilidade dos direitos humanos consiste no reconhecimento de que todos os direitos humanos devem ter a mesma proteção jurídica, uma vez que são essenciais para uma vida digna. Para o autor, a indivisibilidade possui duas facetas: a) o direito protegido apresenta uma unidade incindível em si; b) não é possível proteger apenas alguns dos direitos humanos reconhecidos. O objetivo do reconhecimento da indivisibilidade é exigir que o Estado também invista – tal qual investe na promoção dos direitos de primeira geração – nos direitos sociais, zelando pelo chamado mínimo existencial, ou seja, condições materiais mínimas de sobrevivência digna do indivíduo. A indivisibilidade também exige o combate tanto às violações maciças e graves de direitos considerados de primeira geração (direito à vida, integridade física, liberdade de expressão, entre outros) quanto aos direitos de segunda geração (direitos sociais, como o direito à saúde, educação, trabalho, previdência social etc.). Assim, pela indivisibilidade dos DH, a classificação entre direitos civis e políticos, de um lado, e direitos econômicos, sociais e culturais, de outro, perde a importância. A Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 adotou a indivisibilidade, consagrando a chamada concepção contemporânea de direitos humanos, conjugando o valor liberdade ao valor igualdade na seara dos direitos humanos. A DUDH parificou os direitos civis e políticos e os direitos econômicos e sociais, afirmando, ainda, a interrelação, indivisibilidade e interdependência de todos estes direitos: “Sem a efetividade dos direitos econômicos, sociais e culturais, os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais, enquanto sem a realização dos direitos civis e políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem de verdadeira significação” (Piovesan, pag. 142). A indivisibilidade foi reafirmadana Resolução 32/130 da AG-ONU e na Declaração de Direitos humanos de Viena (1993).
	Segundo ACR, a interdependência ou interrelação consiste no reconhecimento de que todos os direitos humanos contribuem para a realização da dignidade humana, interagindo para a satisfação das necessidades essenciais do indivíduo, o que exige, novamente, a atenção integral a todos os direitos humanos, sem exclusão. O conteúdo de um direito pode se vincular ao conteúdo de outro, demonstrando a interação e a complementaridade entre eles, bem como que certos direitos são desdobramentos de outros.	
	A indivisibilidade[footnoteRef:6] e a interdependência de tais direitos foram confirmadas em várias ocasiões. A Proclamação de Direitos Humanos da 1ª Conferência Mundial de Direitos Humanos da ONU realizada em Teerã (1968) foi o primeiro texto a reconhecer que “os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais resulta impossível”. Em 1986, na Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, ficou disposto que “todos os direitos humanos e todas as liberdades fundamentais são indivisíveis e interdependentes; a realização, a promoção e a proteção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais devem se beneficiar de uma atenção igual e ser encaradas com uma urgência igual” (art. 6º, § 2º). A Declaração de Viena (aprovada na 2ª Conferência Mundial de Direitos Humanos da ONU, 1993) repetiu a Proclamação de Teerã e reiterou que “todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase” (§ 5º). Reconheceu-se que os direitos humanos formam uma unidade de direitos tida como indivisível, interdependente e inter-relacionada. Como bem expressa a Declaração de Viena (em seu § 15º) “o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais, sem distinções de qualquer espécie, é uma norma fundamental do direito internacional na área dos direitos humanos”. Tendo em vista o incremento da proteção dada ao indivíduo, ficou assente que, se determinado direito é violado, todos os demais direitos ficam vulneráveis e comprometidos. [6: 28º CPR Oral - Voltando ao princípio da indivisibilidade dos direitos humanos, explique o impacto dessa visão de indivisibilidade dos direitos humanos na proteção judicial de direitos sociais.] 
Em face da indivisibilidade e interdependência de todos os direitos, que são indispensáveis para a vida digna do ser humano, desenvolveu- se, na jurisprudência internacional dos direitos humanos, dois modos de justiciabilidade dos direitos sociais: o modo indireto e o modo direto. O modo indireto consiste na proteção dos direitos sociais como facetas dos direitos civis e políticos. Há facetas dos direitos civis e políticos que afetam direitos sociais, e a violação dos direitos sociais é feita por derivação da justiciabilidade de um direito civil e político. A título de exemplo, a violação ao direito à saúde é apreciada por um órgão internacional em razão de ofender o direito à integridade física. Pelo modo direto, a violação a direito social, econômico, cultural ou ambiental é reconhecida enquanto tal, de forma autônoma (por exemplo, violação ao direito à saúde, à educação ou ao trabalho). Trata-se de forma tradicionalmente reservada aos direitos civis e políticos, vez que os tratados que contêm direitos sociais em sentido amplo adotaram apenas o dever dos Estados em desenvolver progressivamente tais direitos. O modo indireto é o mais usualmente encontrado na jurisprudência internacional de direitos humanos, cuja utilização recebe duas críticas: (1) seu uso gera baixa visibilidade e reconhecimento dos DESCAs enquanto direitos com força vinculante; e (2) exige que violações a direitos difusos ou coletivos sejam traduzidas como violações de direitos individuais. O modo direto de proteção de direitos humanos foi consagrado pela Corte IDH somente em 2017, no Caso Lagos del Campo vs. Peru, no qual foi declarada de ofício a violação ao art. 26 da CADH. A justiciabilidade direta dos direitos sociais implica no reconhecimento de direitos subjetivos oponíveis aos Estados (tais como os direitos civis e políticos), afastando-se a tese de que tais direitos representariam somente normas programáticas. As críticas ao modo direto referem-se à intervenção judicial na implementação de direitos que exigem prestações materiais, o que não seria atribuição do Poder Judiciário. 
EFICÁCIA DOS DIREITOS HUMANOS NAS RELAÇÕES ENTRE PARTICULARES Não há divergência em relação à projeção de direitos fundamentais sobre as relações entre os cidadãos e os poderes públicos, a denominada eficácia vertical dos direitos fundamentais. A eficácia horizontal (também chamada de: privada, externa, efeitos horizontais dos direitos fundamentais, eficácia em relação a terceiros dos direitos fundamentais, eficácia dos direitos fundamentais na ordem jurídica privada) refere-se à projeção dos direitos fundamentais às relações entre particulares[footnoteRef:7][footnoteRef:8]. [7: 27º CPR Subjetiva - O que se entende por eficácia horizontal ("Drittwirkung") da proteção internacional dos direitos humanos? A proibição da tortura se dá em eficácia horizontal? Os direitos fundamentais têm aplicação direta nas relações entre Estado e indivíduo. Entretanto, nas relações entre particulares, incide a chamada eficácia horizontal dos direitos fundamentais. O Tribunal Constitucional alemão, ao apreciar o Caso Lüth, concluiu que os direitos fundamentais aplicam-se, ainda que indiretamente, às relações entre particulares.; Para a Suprema Corte alemã, a aplicação dos direitos humanos às relações privadas se daria de forma indireta, dependendo da mediação do legislador ou do aplicador da lei. No Brasil, por outro lado, vigora a tese da aplicação direta e imediata, independente de mediação por parte do legislador, ressalvando-se a necessidade de ponderar o direito fundamental em jogo com a autonomia privada dos particulares envolvidos no caso. Segundo certos autores, como Canaris,,a eficácia horizontal dos direitos fundamentais cria para o Estado deveres de proteção, cabendo-lhe não apenas abster-se de violar tais direitos, como também criar o arcabouço necessário para proteger tais interesses de lesões ou ameaças causadas por terceiros. Alexy também faz menção a três níveis de efeitos decorrentes da eficácia horizontal dos direitos humanos: os deveres do Estado, os direitos perante o Estado e as relações entre os particulares. A proibição da tortura se dá nos três níveis: é dever do Estado não a praticar, mas também impedir sua prática, seja por agentes do Estado ou, como previsto na lei brasileira, nas hipóteses em que levada a efeito por particulares. Ademais, conforme afirmado pela Corte IDH, ao julgar o Caso Velásquez Rodriguez, os Estados têm uma obrigação de respeito aos direitos humanos (dever de abstenção) e uma obrigação de proteção dos direitos humanos, cabendo-lhes organizar um aparato que garanta aos indivíduos o pleno exercício de seus direitos. Também no Caso Ximenes Lopes, o Brasil foi condenado em razão de não ter investigado e punido tortura praticada em hospital psiquiátrico, vinculado ao SUS, embora a tortura não tenha sido praticada diretamente por agentes públicos.] [8: Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos (“Princípios de Ruggie”): Para ACR, o respeito aos direitos humanos pelas empresas é consequência do reconhecimento da dimensão objetiva (imposição de deveres de proteção) e da eficácia horizontal dos direitos humanos. Registre-se que a essência dos Princípios Orientadores é distribuir a responsabilidade pela proteção de direitos humanos nas atividades empresariais entre os Estados e também às empresas. Os princípios orientadores constituem-se em soft law, servindo para orientara interpretação das normas nacionais e internacionais, bem como podem espelhar – caso haja prática reiterada dos Estados com convicção de obrigatoriedade – costume internacional.] 
Para ACR, a eficácia horizontal dos direitos humanos é a aplicação, sem mediação de lei, dos direitos fundamentais nas relações entre particulares. Trata-se de característica do regime jurídico dos direitos humanos na ordem internacional. De acordo com a teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, estes se aplicam obrigatória e diretamente na realização dos atos jurídicos entre pessoas e entes privados. Adota-se, assim, a tese da eficácia plena dos direitos fundamentais, podendo cada indivíduo, sem qualquer necessidade de mediação concretizadora de atos normativos ou leis, invocar os direitos e garantias individuais nas suas relações privadas. 
Contudo, há forte e tradicional corrente doutrinária que sustenta a eficácia mediata ou indireta nas relações privadas, pois somente o legislador e o aplicador público das normas seriam vinculados à conformação constitucional dos direitos fundamentais. Consequentemente, o particular, amparado pela sua autonomia de vontade, é livre para agir quando, pela omissão do legislador, existe lacuna legislativa que impeça determinado comportamento.
	No Brasil predomina a teoria da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais na esfera privada, com a vinculação direta dos particulares aos direitos fundamentais, aceita pela maioria da doutrina (José Adércio, Sarmento, Barroso) e, na jurisprudência, é a tese que o STF vem adotando, antes sem mencionar diretamente tal teoria, mas já constando em julgados mais recentes (STF, RE 201819/RJ, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 11/10/2005).[footnoteRef:9]5 [9: 5 Sobre a eficácia horizontal existem ainda as seguintes teorias: • Na Alemanha prevalece a teoria da eficácia indireta (mediata) dos direitos fundamentais na esfera privada, que nega a possibilidade de aplicação direta nas relações privadas. Segundo essa teoria, a Constituição não investe os particulares em direitos subjetivos privados, mas ela contém normas objetivas, cujos efeitos de irradiação levam à impregnação das leis civis por valores constitucionais. Ao Judiciário sobraria o papel de preencher as cláusulas indeterminadas criadas pelo legislador, levando em consideração os direitos fundamentais ou rejeitar, por inconstitucionalidade, a aplicação de normas privadas incompatíveis com tais direitos. Prevalece tal teoria na Áustria e na França. • Teoria dos deveres de proteção. Na Alemanha, autores (Canaris, Isensee) consideram que o Estado tem a obrigação não apenas de abster-se de violar os direitos fundamentais, mas também de protegê-los diante de lesões e ameaças provenientes de terceiros, inclusive particulares. • Teoria da convergência estatista, de Jurgen Schwabe (Alemanha-1971): é sempre o Estado o responsável último por lesões a direitos fundamentais que têm origem nas relações privadas. • Robert Alexy tentou conciliar as correntes, pois todas elas reconhecem que as gradações da eficácia dos direitos decorrem da ponderação de interesses, propondo um modelo de três níveis de efeitos: o nível dos deveres do Estado, o nível dos direitos frente ao Estado e o nível de relação entre os particulares.] 
Segundo ACR, há duas modalidades de eficácia horizontal de normas de tratados internacionais de direitos humanos: a primeira modalidade consiste em reconhecer, no corpo do próprio tratado, a vinculação dos particulares aos direitos protegidos; a segunda modalidade consiste em fiscalizar o cumprimento, pelo Estado, de sua obrigação de garantia de direitos humanos. Tal obrigação de garantia consiste no dever do Estado de prevenir ou reprimir as violações de direitos humanos. Com isso, a consolidação da eficácia horizontal dos direitos humanos no plano internacional é fruto da obrigação do Estado de garantir e assegurar os direitos humanos. Neste ponto, diante do dever de prevenir violações de direitos humanos, é necessário que o Estado, por sua omissão, permita que um particular viole direitos de outro particular. A devida diligência deve ser aferida como uma obrigação de meio ou de conduta. Caso o Estado tenha agido de modo razoável no sentido de garantir os direitos humanos, os atos de particulares rompem, de regra, o nexo causal, já que não há omissão que tenha contribuído para a ocorrência do resultado lesivo[footnoteRef:10]6. No caso Godinez Cruz vs. Honduras, a Corte IDH explicitou que um fato inicialmente não é imputável diretamente a um Estado por ser obra de um particular, mas pode acarretar a responsabilidade internacional do Estado, não por esse fato em si mesmo, mas por falta da devida diligência para prevenir a violação. [10: 6 Caso X e Y v. Holanda. A Corte Europeia de Direitos Humanos já tomou posição favorável à aplicação direta, às relações privadas, dos direitos contidos na Convenção Europeia de Direitos Humanos. Os Estados são responsabilizados caso sejam omissos na prevenção e repressão de violações dos direitos humanos cometidas por particulares, devendo tomar todas as medidas para garantir o respeito aos direitos humanos, mesmo nas relações privadas.] 
Ainda acerca da eficácia horizontal, destacam-se os casos Damião Ximenes Lopes vs Brasil e o Caso Luth.
#NÃOCONFUNDA. Dimensão objetiva: implica reconhecer que os direitos humanos não devem ser entendidos apenas como um conjunto de posições jurídicas conferidas à seus titulares, mas também como um conjunto de regras impositivas de comportamentos voltados à proteção e satisfação daqueles direitos subjetivos conferidos aos indivíduos. A dimensão objetiva faz com que os direitos humanos sejam regras de imposição de deveres, em geral ao Estado, de implementação e desenvolvimento dos direitos humanos.
	Eficácia diagonal: A eficácia diagonal dos direitos humanos consiste na invocação de direitos nas relações entre os particulares nas quais uma das partes ostenta vulnerabilidade, fazendo nascer uma prevalência de determinado direito de um particular sobre o outro, por exemplo, nas relações envolvendo crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores, consumidores etc. A eficácia diagonal é um subtipo da eficácia horizontal, acrescida do peso maior dado a um dos direitos em conflito.
INTERSECCIONALIDADE E OS DIREITOS HUMANOS[footnoteRef:11]7 A interseccionalidade na temática dos direitos humanos consiste no estudo sistêmico das diferentes formas de opressão e tratamento discriminatório baseadas em raça, gênero, condição social, idade, orientação sexual, entre outras formas de identidade social, que se interrelacionam e exigem, por isso, reparações que levem em conta essas especificidades de modo a fomentar a igualdade material e a justiça social.[footnoteRef:12] [11: 7 No 29º CPR foi considerada correta a seguinte assertiva: A interseccionalidade dos direitos humanos, por detectar diferentes formas de opressão e tratamento discriminatório baseadas em raça, gênero, condição social, idade, orientação sexual, entre outras formas de identidade social que se inter-relacionam, exige reparações às vítimas que levem em conta essas especificidades.	] [12: CRENSHAW é considerada a pioneira na apresentação do conceito com foco na discriminação de gênero e de raça, tendo sustentado que não se pode desconsiderar a raça na análise da opressão e injustiça sobre a mulher. Não se trata de se somar violações por discriminação de raça e de gênero, mas sim de se considerar a identidade do indivíduo como sendo una, cujas especificidades são reconhecidas pela sociedade como um todo, reforçando-se e entrelaçando-se, e não como características independentes. Com isso, não se pode tratar a temática da incidência dos direitos humanos considerando que se trata de "mulher e negra", mas sim de "mulher negra".] 
A interseccionalidade na discriminação difere das chamadas discriminações múltiplas, que se constituem em qualquer distinção, exclusão ou restrição fundamentada em dois ou mais fatores de discriminação proibida.Nem toda discriminação múltipla gera uma discriminação interseccional: esta última tem como pressuposto a existência de diversos fatores de discriminação que interagem e reforçam a exclusão e a injustiça.
A discriminação interseccional tem como pressuposto a existência de múltiplos fatores referentes à identidade social do indivíduo que, interagindo em sinergia, criam uma carga de discriminação única e distinta da mera soma de discriminações. A singularidade da interseccionalidade na área dos direitos humanos é fruto de três elementos: (i) não ser possível separar os fatores que geram a discriminação, pois há interação entre eles; (ii) o indivíduo que sofre tal discriminação passa por experiência única, qualitativamente diferente daquele que sofre uma discriminação isolada; e (iii) a reparação deve levar em conta tal sinergia entre os fatores de discriminação, devendo ser especificamente voltada à superação desses obstáculos sociais à igualdade e à justiça material.
	Na jurisprudência internacional sobre a interseccionalidade na temática dos direitos humanos, destaca-se o caso Gonzales Lluy e outros vs. Equador (2015) da Corte IDH. Tratou-se de caso de contágio pelo vírus do HIV da menina Talía Lluy, que, à época, possuía três anos, fruto de transfusão de sangue contaminado. Aos cinco anos, Talía foi impedida de ingressar na escola (por suposto risco aos demais estudantes). A Corte IDH reconheceu que, no caso de Talía, confluíram, de modo interseccional, fatores múltiplos de vulnerabilidade e de discriminação associados à condição de criança, mulher, pessoa em situação de pobreza (condição econômica) e pessoa com HIV, que derivaram em uma forma específica de discriminação. A pobreza inicialmente gerou a deficiência no atendimento à saúde (sangue contaminado), impactando ainda no acesso ao sistema de ensino, no que contribuiu também sua situação de criança e pessoa com HIV; como mulher e pessoa com HIV há possibilidade de estigmatização futura. Em outras palavras, o caso de Talía demonstra que a discriminação da pessoa com HIV não impacta de modo homogêneo os indivíduos, mas possui efeitos mais gravosos em grupos que são vulneráveis. 
A interseccionalidade é mencionada na Declaração de Durban, firmada na III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, nos seguintes termos:
54. Insta os Estados a: 
a) Reconhecerem que a violência sexual que tem sido sistematicamente usada como arma de guerra e, algumas vezes, com a aquiescência ou pelo instigamento do próprio Estado, é uma grave violação do direito humanitário internacional o qual, em determinadas circunstâncias, constitui crime contra a humanidade e/ou crime de guerra e que a interseção das discriminações com base em raça e gênero faz com que mulheres e meninas sejam particularmente vulneráveis a este tipo de violência que é frequentemente relacionada ao racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata;
A Corte IDH reconhece a interseccionalidade dos DH e de sua violação, em diversos casos relacionados à proteção das mulheres, como no Caso Márcia Barbosa vs Brasil e Vicky Hernandez vs Honduras (mulher trans).
6A. Direitos humanos e seu caráter erga omnes. Exigibilidade dos direitos humanos. Aplicabilidade imediata dos direitos humanos. As dimensões subjetiva e objetiva dos direitos humanos.
Jéssica Flores Silva
	DIREITO HUMANOS E SEU CARÁTER ERGA OMNES: O caráter erga omnes dos direitos humanos no plano internacional tem duas facetas. A primeira consiste no reconhecimento do interesse de todos os Estados da comunidade internacional em ver respeitados os direitos protegidos pelo Direito Internacional. A segunda faceta diz respeito à aplicação geral das normas protetivas a todos os seres humanos sob a jurisdição de um Estado. Assim, as normas internacionais de direitos humanos aplicam-se a todos os indivíduos, pela simples condição humana, sem qualquer consideração referente à nacionalidade, orientação política, etnia, credo e outras.
Essa aplicação das normas de direitos humanos a todos que estejam sob a jurisdição a jurisdição de um Estado é reconhecida pelos diversos instrumentos do Direito Internacional dos Direitos Humanos (ex: art. 1º da CADH).
O impacto do caráter erga omnes da proteção internacional de direitos humanos, portanto, é evidente, uma vez que todos sob a jurisdição de um Estado podem invocar tais direitos, não importando a nacionalidade ou estatuto jurídico. Assim, um grupo vulnerável (ex: estrangeiro em situação irregular) que, em geral, não são protegidos pelo Direito Interno, não podem ter seus direitos básicos amesquinhados, tendo acesso às instâncias internacionais de proteção de direitos humanos.
OBS: O tema obrigações erga omnes foi abordado no ponto 3.a. Neste ponto, vale lembrar brevemente seu conceito. Obrigações erga omnes são aquelas que protegem valores de todos os Estados da comunidade internacional, fazendo nascer o direito de qualquer um dos membros da comunidade em ver respeitada tal obrigação. Assim, por exemplo, todos os Estados da comunidade interancional – e não somente os que firmaram a obrigação – têm interesse jurídico em sua proteção. A partir desse conceito, ACR preleciona que, quando se utiliza a expressão “obrigação erga omnes” de direitos humanos, consagra-se o direito subjetivo de toda a comunidade interancional na proteção de tais direitos. 
Opinião Consultiva nº 17 (2002) – Foi solicitada pela CIDH. A Corte emitiu parecer no sentido de que as obrigações de proteção dos direitos das crianças devem ser consideradas como obrigações erga omnes.
EXIGIBILIDADE DOS DIREITOS HUMANOS: a exigibilidade dos direitos humanos diz respeito à própria implementação desses direitos. O tema é de suma importância, visto que se trata de problema grave de nosso tempo, e, de acordo com a feliz expressão de BOBBIO, não é mais declarar ou fundamentar os direitos humanos, mas sim de protegê-los com efetividade. 
Para ACR, a implementação dos direitos humanos, na prática, é efetivada por meio da responsabilização do Estado infrator e de sua condenação à reparação do dano causado. Ou seja, a exigibilidade dos direitos humanos perpassa pela análise da responsabilidade interancional do Estado. Nesse ponto, insta ressaltar que existem dois modos de se constatar a responsabilidade de um Estado pela violação de seus compromissos internacionais: o modo unilateral e o modo coletivo ou institucional. 
O modo unilateral é aquele pelo qual o Estado dito ofendido afirma ter ocorrido violação de seu direito e exige reparação do Estado dito ofensor. Esse mecanismo, por definição, não possui condições de admissibilidade e requisitos para julgamento como ocorre nos mecanismos coletivos. Pelo contrário, o Estado é livre para fixar as formas pelas quais analisa a responsabilidade internacional de outro Estado por violações de direitos humanos. Ou seja, o pretenso Estado ofendido transforma-se em juiz e parte, o que acarreta perda de objetividade e de imparcialidade na aferição da conduta lesiva.
Já no modo coletivo ou institucional utiliza-se de mecanismos coletivos (criados por tratados internacionais) nos quais órgãos compostos por pessoas independentes e imparciais analisam os fatos, ouvem os interessados e decidem sobre a responsabilidade internacional do Estado pretensamente infrator.
APLICABILIDADE IMEDIATA DE DIREITOS HUMANOS: Para a melhor defesa dos direitos humanos, adota-se a aplicabilidade imediata dos textos normativos às situações fáticas existentes, segundo a qual tais direitos, sob o aspecto formal (jurídico-normativo), são tendencialmente completos, ou seja, aptos a serem invocados desde logo pelo jurisdicionado. A Constituição brasileira de 1988 expressamente estabelece, em seu artigo 5º, parágrafo primeiro, que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 
O Direito Internacional, por sua vez, possui regra própria (sem referência ao Direito Constitucional interno) para determinar a necessidade ou não de normasinternas que regulamentem a obrigação internacional no Direito interno, que consiste em diferenciar, na seara internacional, as normas internacionais self-executing e as normas not-self executing.
No contexto internacional, a diferenciação entre normas autoaplicáveis e normas que carecem de intermediação legislativa ou administrativa interna é revelada pela própria redação da norma, que permitirá ou não a sua aplicação imediata pelo juiz nacional. Ademais, o conceito de "normas autoaplicáveis" também pode ser estendido para normas internacionais não convencionais (como exemplo, às normas consuetudinárias).
Indaga-se se o Estado seria livre para decidir se determinada norma internacional seria ou não autoaplicável. Para ACR, o entendimento do órgão internacional sobre a autoaplicabilidade ou não de norma internacional deve prevalecer sob o do órgão nacional, tendo em vista não ser este tema considerado como um "tema de Direito Interno”. Assim, uma vez em vigor a Convenção, os direitos protegidos devem ser aplicados perante todos os órgãos estatais (tribunais inclusive), sem que haja ainda a necessidade de novas leis ou atos de aplicação dos citados direitos.
Opinião Consultiva nº 7 (1986) – Foi solicitada pela Costa Rica. A Corte esclareceu que o direito de resposta deve ser protegido pelos Estados, sendo adotadas as medidas legislativas que forem necessárias, independentemente de limitações do ordenamento jurídico interno. Assim, ficou estabelecido que a Convenção Americana de Direitos Humanos é autoaplicável.
	OBS: Autoaplicabilidade vs. Direitos Sociais: PIDH, ponto 3.a.
29 Objetiva – 16, I – A Corte Interamericana de Direitos Humanos, na Opinião Consultiva n. 07, decidiu que cabe aos Estados a decisão sobre a autoaplicabilidade das normas internacionais de direitos humanos. FALSO. Na referida OC, a Corte decidiu que não cabe aos Estados tal decisão.
	DIMENSÃO SUBJETIVA E OBJETIVA DOS DIREITOS HUMANOS: A dimensão subjetiva consiste na dotação de direitos subjetivos aos beneficiários da proteção do Estado, quanto aos direitos humanos. Por sua vez, a partir do século XX, passou a ser reconhecida a dimensão objetiva, que parte da ideia de que os DH não funcionam apenas como mecanismos de proteção e promoção individual, cabendo ao próprio Estado uma postura proativa na tutela desses direitos, prescindindo de sujeitos a demandar uma determinada pretensão jurídica. Essa dimensão objetiva faz com que direitos humanos sejam regras de imposição de deveres, em geral ao Estado, de implementação e desenvolvimento dos direitos individuais. 
A nova perspectiva impõe ao Estado uma conduta vigilante e ativa na proteção dos DH, o que gera uma série de desdobramentos, podendo ser citados como principais: (a) Eficácia vinculante: vinculação das funções estatais (executivo, legislativo e judiciário); (b) Eficácia irradiante: irradiação dos DH sobre o ordenamento jurídico, gerando uma constitucionalização do direito e uma eficácia dos direitos entre os particulares; e (c) Eficácia processual: eficácia vinculante aos processos públicos relativos a DH
Esse caráter objetivo decorre a chamada força expansiva dos direitos humanos, que consiste no fenômeno pelo qual os direitos humanos contaminam as mais diversas facetas do ordenamento jurídico. Tal fenômeno iniciou-se a partir da expansão qualitativa dos direitos humanos, com o surgimento da da constitucionalização do direito internacional, ou seja, o direito internacional mimetiza (adapta) institutos reservados ao direito interno, por exemplo, tribunais internacionais, separação dos poderes. Há, portanto, uma eficácia irradiante dos direitos humanos, que devem ser aplicados a todas as relações sociais e não somente às relações entre o indivíduo e o Estado. 
Ressalte-se que a dimensão objetiva revela um dever contraído pelos Estados de fornecer um amplo arcabouço institucional no qual os direitos humanos possam florescer, a exemplo da criação de procedimentos e estruturas que previnam a ocorrência de violações de direitos protegidos.
Esses deveres de proteção e a consequente dimensão objetiva dos direitos humanos já foram reconhecidos pelo Direito Internacional. Como exemplo, cite-se o artigo 1.1 da Convenção Americana de Direitos Humanos que estabelece que o Estado fica obrigado a zelar pelo respeito dos direitos humanos reconhecidos e a garantir o exercício destes por parte de toda pessoa que é sujeita à sua jurisdição.
Por outro lado, é importante destacar a correlação existente entre dimensão objetiva com a proibição da proteção insuficiente (entendida como a dimensão positiva do princípio da proporcionalidade), uma vez que essa decorre justamente do reconhecimento dos deveres de proteção, fruto da dimensão objetiva dos direitos humanos.
Frise-se que as dimensões subjetiva e objetiva mantêm uma relação de complementariedade, traduzindo o duplo caráter, também conhecido como dupla dimensão, dupla abordagem ou duplo conteúdo (Häberle) dos direitos fundamentais. 
Na jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, é possível destacar o caso Villagrán Morales e outros vs. Guatemala (Caso dos Meninos de Rua), fundado no entendimento de que o direito à vida compreende não somente o direito de todo ser humano de não ser privado da vida arbitrariamente, mas também o direito a que não sejam geradas situações que impeçam ou dificultem o acesso à uma existência digna, consagrando um novo conteúdo protetivo, sob a forma de prestações positivas do Estado vinculadas às condições de vida.
27 oral – Fale sobre as dimensões dos diretos fundamentais. Essas dimensões são também aplicáveis na ordem internacional, na jurisprudência da CIDH?
2. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 
7A. Internacionalização dos direitos humanos. Evolução histórica e antecedentes no Direito Internacional. O Direito Internacional de proteção às minorias. A Carta da Organização das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Declaração e Programa de Ação de Viena.
Gabriel Infante Martins
A internacionalização dos direitos humanos em sentido amplo (por meio de normas esparsas) apresenta-se inicial e fragmentada desde o século XIX e início do século XX. Nessa época, várias espécies de normas internacionais preocuparam-se com direitos essenciais dos indivíduos: combate à escravidão (proibição da escravidão); a busca da proteção dos direitos dos estrangeiros (costume internacional da proteção diplomática); a proteção dos feridos e enfermos nos conflitos armados (Direito Internacional Humanitário); a proteção das minorias logo após a 1ª Guerra Mundial, sob os auspícios da Liga das Nações (criada pelo Tratado de Versalhes, 1919); a proteção de direitos sociais pela OIT. 
A OIT, também criada pelo Tratado de Versalhes (1919), é o antecedente que mais se aproxima do atual Direito Internacional dos Direitos Humanos, pois o objetivo primário dessa organização é a defesa de direitos básicos de todo trabalhador. Tais normas antecederam o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH).
Essas normas esparsas, entretanto, são meros antecedentes da internacionalização em sentido estrito dos direitos humanos, que consiste na criação de um corpo sistematizado e coerente de normas, com princípios, objeto e metodologia próprios, o que inexistia na época de tais antecedentes.
De qualquer forma, nas normas esparsas há características próprias que as diferem da atual proteção internacional dos direitos humanos: 1) não são todos os direitos essenciais aos indivíduos que são protegidos; 2) a preocupação internacional depende de determinadas situações peculiares, como, por exemplo, ser estrangeiro etc.; 3) não há o acesso direto a instituições internacionais de supervisão e controle das obrigações assumidas pelos Estados; 4) há ainda, em certos antecedentes, a confusão entre direitos dos indivíduos e direito dos Estados, como se vê na proteção diplomática.
Até a consolidação da internacionalização em sentido estrito dos direitos humanos, com a formação do DIDH, os direitos dependiam da positivaçãoe proteção do Estado Nacional. Em outras palavras, eram direitos locais.
O regime totalitário do nazifascismo, contudo, produziu gigantescas violações de direitos humanos, desnudando a fragilidade de uma proteção meramente local (estatal) dos direitos. Ficou evidente para os Estados que organizaram uma nova sociedade internacional ao redor da ONU que a proteção dos direitos humanos não pode ser tida como parte do domínio reservado de um Estado.
As discussões sobre a criação da ONU ocorreram na Conferência de São Francisco (abril a junho de 1945), contendo no texto final da Carta da ONU sete passagens que usam expressamente o termo "direitos humanos". A Carta da ONU (Carta de São Francisco) é o marco histórico inicial do DIDH, em verdadeira evolução histórica.
No âmbito da ONU, a responsabilidade pela proteção de direitos humanos está a cargo da Assembleia Geral, por meio do Conselho Econômico e Social (ECOSOC, na sigla em inglês). Nesse sentido, o art. 68 da Carta da ONU dispõe que o Conselho Econômico e Social criará comissões para a proteção dos direitos humanos. Ficou aberto o caminho para a criação da Comissão de Direitos Humanos, que fez sua primeira reunião em 1947, mas foi extinta em 2006, substituída pelo Conselho de Direitos Humanos (Comissão –> Conselho). 
As menções esparsas a direitos humanos na Carta da ONU revelam ausência de consenso sobre o rol desses direitos. Assim, para explicitar quais seriam esses "direitos humanos" previstos genericamente na Carta da ONU, foi aprovada, sob a forma de Resolução da Assembleia Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948, em Paris, a Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH, também chamada de "Declaração de Paris"). 
Em que pesem a abrangência (rol amplo de direitos, direitos de todos sem qualquer diferenciação), o consenso (aprovação sem vetos ou votos contrários) e ainda a amplitude (menção à ordem internacional justa), a DUDH foi aprovada sob a forma de resolução da Assembleia Geral da ONU, que, nessa matéria não possui força vinculante.
Na doutrina, há divergência sobre a natureza jurídica da DUDH: 1) força vinculante, por se tratar de interpretação autêntica do termo direitos humanos previsto na Carta da ONU; 2) força vinculante, por se tratar de costume internacional sobre a matéria (posição da CIJ no Caso envolvendo o Pessoal Diplomático e Consular Norte-Americano em Teerã); 3) força vinculante e caráter inderrogável, por se tratar de jus cogens em sua inteireza; 4) soft law, por se tratar de mera orientação ou exortação aos Estados.
Vale mencionar, ainda, que a doutrina consagrou o termo "Carta Internacional de Direitos Humanos" para designar o conjunto dos instrumentos formados pela DUDH (1948), o PIDCP e o PIDESC (ambos de 1966), reconhecendo que os pactos não poderiam ser interpretados desconectados da DUDH (sistematicidade à proteção dos direitos humanos internacionais).
Nesse contexto, observa-se que a proteção dos direitos essenciais do ser humano no plano internacional recai em três sub-ramos específicos do Direito Internacional Público: o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH), o Direito Internacional Humanitário (DIH) e o Direito Internacional dos Refugiados (DIR). 
Os dois últimos ramos (DIH e DIR) são lex specialis em relação ao DIDH, que é lex generalis, e aplicável subsidiariamente a todas as situações, na ausência de previsão específica (relação de especialidade). Contudo, o DIH e o DIR possuem diversos pontos convergentes em relação ao DIDH (relação de identidade e convergência), de forma a não excluírem a aplicação geral das normas protetivas do DIDH (relação de complementaridade), até porque há o uso do DIDH para suprir eventuais insuficiências dos demais ramos, uma vez que somente no DIDH é que existem sistemas de acesso das vítimas a órgãos judiciais e quase judiciais internacionais, o que não ocorre no DIR ou no DIH (relação de complementaridade). Há ainda o fato de que as violações graves de direitos humanos em casos de conflitos armados são um dos fatores que contribuem à criação de refugiados, enquanto que o direito dos refugiados também está ancorado no direito de todos, previsto na DUDH de 1948, de procurar e obter, noutros países, asilo contra as perseguições de que sejam alvo (relações de influência recíproca). Percebe-se, assim, que são quatro as relações: 1) especialidade, 2) identidade, 3) complementariedade e 4) influência recíproca/Fertilização cruzada.
OBS.: no Caso Rodríguez Vera vs Colômbia (desaparecidos do Palácio de Justiça), a Corte IDH, confirmando o que já havia decidido no Caso Las Palmeras vs Colômbia, disse que pode utilizar as normas de DIH (direito internacional humanitário) para interpretar a CADH, reforçando a relação de influência recíproca. Já o termo “fertilização cruzada” é utilizado pela Corte IDH e outras Cortes de DH, como a Europeia, para assinalar a influência e interação das decisões dos órgãos proteção de DH dos diferentes sistemas (Global, Interamericano, Europeu, Africano).
O Direito Internacional de proteção às minorias consiste na parte dos direitos humanos que se destina a proteger os direitos de membros de minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, ainda que não nacionais do Estado em que se encontram, assegurando-lhes o usufruto de sua cultura, a prática de sua religião e o uso de sua língua.
O chamado Direito das Minorias serve como contraponto e mitigação do Direito dos Povos. Enquanto este último se relaciona com o direito das populações de se autogerirem e de se autodeterminarem (direito à autodeterminação, previsto no art. 1º da DUDH, do PIDCP e do PIDESC), formando um Estado nacional, aquele – o Direito das Minorias – relaciona-se com os deveres cometidos à nação assim constituída, o Estado, no sentido de respeitar as eventuais particularidades religiosas, culturais ou linguísticas de determinada parcela da população desse mesmo Estado (ver, por exemplo, o art. 2º da Convenção 169 da OIT). 
Ou seja, o direito de autodeterminação e de autogestão (Direito dos Povos) encontra-se juridicamente limitado pelo dever correlato de respeitar a livre expressão de eventuais minorias (Direito das Minorias).
A matéria, depois do fim da Primeira Guerra, passou a ser objeto de acordos internacionais específicos, no âmbito da Liga das Nações e da ONU. A Assembleia Geral da ONU (Resolução de 1992) adotou a “Declaração dos Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas”. Nela, às minorias não é reconhecida, em regra, capacidade jurídica coletiva, isto é, não lhes é reconhecida personalidade jurídica de direito público internacional. Entretanto, há concessões importantes ao reconhecimento da existência de direitos coletivos das minorias, como, por exemplo, o de “criar e gerir suas próprias associações” (art. 2, parágrafo 4).
Esse reconhecimento, ainda que eventual, de direitos coletivos é a novidade histórica trazida pela mencionada Resolução da ONU, que sinaliza, talvez, nova tendência para o tratamento futuro da matéria. Importante notar que o Direito das Minorias não autoriza movimentos em favor de secessão, porque seria contraditório com a própria ideia da existência da minoria (vedação expressamente prevista na Resolução).
Além disso, é importante ressaltar o art. 27 do PIDCP: “nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e usar sua própria língua.”
Por fim, importante destacar que há diversos instrumentos internacionais vinculantes ou não vinculantes que disciplinam direta ou indiretamente a proteção de minorias: como exemplo, é possível citar a Convenção da ONU para Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, Regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de Bangkok), Princípios de Yogyakarta, a Convenção169 da OIT, entre diversos outros.
Há, ainda, que se analisar a jurisprudência de direitos humanos na defesa das minorias, como no Caso Gonzales Lluy vs Equador (Corte IDH), em que a Corte atuou para proteger uma menina de 5 anos portadora do vírus HIV (interseccionalidade, termo que retrata a incidência de diversos fatores de discriminação em um caso concreto capazes de gerar uma violação interseccional) que havia sido recusada na escola. 
Declaração e Programa de Ação de Viena
A ONU patrocinou a primeira conferência sobre direitos humanos, de Teerã (Irã), em 1968; bem como, a II Conferência de Viena, em 1993. A Conferência de Viena caracterizou-se como um verdadeiro marco para o Direito Internacional, vista como a consagração da internacionalização dos direitos humanos no mundo pós-Guerra Fria. 
Foi adotada a Declaração e Programa de Ação de Viena, resultando em uma abrangente análise global do sistema internacional de direitos humanos e dos mecanismos de proteção destes direitos e, ainda, a consagração da universalidade como característica marcante do regime jurídico internacional dos direitos humanos, realçando também, a responsabilidade de todos os Estados desenvolverem e encorajarem o respeito a todos os direitos humanos.
A Declaração e Programa de Ação de Viena (1993) é um documento único que declara vários direitos e ações. Mencionam-se os seguintes:
-direito à autodeterminação dos povos: escolhem livremente o seu estatuto político e prosseguem livremente o seu desenvolvimento econômico, social e cultural;
-proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais, que devem ser considerados objetivos prioritários da ONU;
-direitos humanos como universais, indivisíveis interdependentes e interrelacionados, sendo que a comunidade internacional deve considerá-los, globalmente, de forma justa e equitativa; 
-direito à democracia, desenvolvimento e o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais como interdependentes e promovendo um reforço mútuo;
-direito ao desenvolvimento, como direito universal e inalienável, que deve ser realizado de modo a satisfazer, de forma equitativa, as necessidades de desenvolvimento ambientais das gerações presentes e vindouras, reconhecendo também que todos têm direito de usufruir os benefícios decorrentes do progresso científico;
-esforços para atenuar e eliminar a pobreza extrema generalizada, todas as formas de racismo e descriminação racial, xenofobia e manifestações conexas de intolerância e a combater o terrorismo;
-direitos humanos das mulheres e crianças do sexo feminino, eliminando discriminação e condenando a violência baseada no sexo da pessoa e todas as formas de assédio e exploração sexual;
-promoverem e protegerem os direitos das minorias, dos grupos vulneráveis, como trabalhadores migrantes e dos povos indígenas, ressaltando o direito das crianças e das pessoas com deficiência;
-direito de asilo e de regresso, reconhecendo a necessidade de adoção de estratégias para abordar as causas remotas e os efeitos das movimentações de refugiados e outras pessoas deslocadas;
-soluções pelos Estados para reparar injustiças ou violações dos direitos humanos, com ênfase na importância de uma administração da justiça forte e independente; 
-preocupação com a reiteração, em todo o mundo, de práticas de tortura e de penas ou tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, as execuções sumárias e arbitrárias, os desaparecimentos, as detenções arbitrárias etc.; 
-garantir que a educação se destine a reforçar o respeito aos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais, promovendo a compreensão, a tolerância, a paz etc.;
8A. Processos internacionais de proteção de direitos humanos. Espécies. Força vinculante dos tipos de deliberações internacionais de proteção de direitos humanos. Coordenação e conflito entre decisões internacionais de proteção de direitos humanos. Subsidiariedade da jurisdição internacional de direitos humanos.
Atualizado por José Weverton A. Lucas
I . Processos internacionais de proteção de direitos humanos
Processo Internacional de proteção de direitos humanos “consiste no conjunto de mecanismos internacionais que analisa a situação de direitos humanos em um determinado Estado, detectando violações de direitos humanos, fixando reparações cabíveis ou impondo sanções”.
II. Espécies
(1) Unilateral ou Coletivo: o modo unilateral é aquele em que o Estado dito ofendido afirma ter ocorrido violação de seu direito e exige reparação do Estado dito ofensor. Mecanismos coletivos são aqueles criados por tratados internacionais nos quais órgãos compostos por especialistas independentes e imparciais analisam os fatos e decidem sobre a responsabilidade internacional do pretenso Estado infrator. (2) Político ou Judiciário: o mecanismo político parte de uma apreciação discricionária de cunho político e pode ocorrer de modo unilateral ou coletivo (Conselho de Segurança, RPU no Conselho de Direitos Humanos, OEA). O mecanismo judiciário por sua vez utiliza-se de um procedimento no qual há ampla defesa e contraditório, bem como julgadores imparciais. Pode ser realizado em órgãos quase judiciais (Comitês/Treaty Bodies) ou em órgãos judiciais (Cortes). (3) Emitindo recomendações ou deliberações vinculantes. (4) Tendo como sujeito passivo indivíduo ou Estado. (5) Global (ONU) ou Regional (Interamericano, Europeu, Africano).
III. Força vinculante dos tipos de deliberações internacionais de proteção de direitos humanos 
Há uma preocupação da comunidade internacional com a implementação das deliberações internacionais relativas aos direitos humanos. A força vinculante das decisões internacionais deve ser analisada sob a ótica da obrigatoriedade e da executoriedade. A discussão acerca da obrigatoriedade ou não das decisões, por exemplo, assume protagonismo quando se trata de mecanismo extraconvencionais, pois muitas vezes as partes não se assumem como responsáveis pela infração. No plano dos mecanismos convencionais que criam mecanismos judiciais, a questão da obrigatoriedade pesa um pouco menos, pois já fica mais evidente tal obrigação, já que os Estados assinaram uma convenção assumindo compromissos de implementação. A obrigação internacional de cumprimento de decisão relativa a proteção de direitos humanos é uma obrigação de resultado, cabendo aos Estados a escolha dos meios para o seu cumprimento.
A finalização de um procedimento de responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos resulta em três tipos de decisões:
(1) Recomendação: trata-se de opinião não vinculante, fruto da existência de obrigação internacional de monitoramente e supervisão dos direitos protegidos. Existem três tipos de recomendações: (a.1) fruto da análise dos relatórios enviados pelos estados. Ex: relatórios e recomendações produzidas pelos Comitês previstos em pactos e Convenções, os Treaty Bodies. O segundo tipo de recomendação origina-se de procedimentos extraconvencionais fruto de relatorias especiais criadas no seio da ONU, por exemplo. O terceiro tipo constitui-se em recomendações relativas a casos individuais, e também se originam de mecanismos extraconvencionais. Muito se discute a respeito da força vinculante das recomendações, muitos dizem que as decisões oriundas de mecanismos extraconvencionais não são vinculantes e que sua principal função seria o “poder de embaraço ou a mobilização da vergonha” – o power of embarras, que por definição é uma pressão política. Questiona-se, de outro lado, se a prática atual dos Estados não criou um costume internacional de cumprimento dessas deliberações, o que lhes retiraria o caráter de mera exortação moral. Crítica. O segundo e terceiro tipo de recomendações tem base normativa genérica e a composição dos órgãos é intergovernamental, o que ocasiona os perigos da seletividade e do double standart.
(2) Decisões quase judiciais. São aquelas advindas de mecanismos quase judiciais previstos na fase de controle da observância dos direitos humanos, na qual analisam-se petições individuais e interestatais dedireitos humanos. O órgão de análise não é uma Corte Internacional, mas sim uma instância internacional não judicial. Ex.: Comitê de Direitos Humanos (monitora o PIDCP), Comissão IDH (OEA e Pacto San José). Há quem defenda o caráter não vinculante de tais deliberações em razão da falta de previsão expressa neste sentido. Por outro lado, há quem sustente que a interpretação sistemática e finalística dos tratados de direitos humanos deve ser feita em prol do aumento da carga protetiva. Além do que, o poder de análise de petições conferidos a tais instâncias não judiciais foi conferido pela adesão do Estado à cláusula facultativa.
(3) Decisão Judicial. Originam-se de Cortes e Tribunais previstos em convenções. Ex.: Convenção IDH e Convenção Européia. Há dispositivos expressos que estabelecem a competência do Tribunal e a força vinculante de suas decisões, sejam elas cautelares ou definitivas.
Executoriedade das decisões e a regra da 4ª instância. A decisão internacional constitui obrigação internacional de resultado ficando o Estado livre para escolher os meios internos para fazer o cumprimento da decisão. 
Valério Mazzuoli ressalta que as sentenças proferidas pela Corte Interamericana – assim como as de quaisquer tribunais internacionais – são sentenças internacionais, não estrangeiras. Tal significa que não necessitam passar pelo procedimento homologatório das sentenças estrangeiras previsto pela legislação nacional (CF, art. 105, I, i; CPC, arts. 960 a 965; LINDB, arts. 15 e 17) para que tenham exequibilidade doméstica. Em outros termos,as sentenças proferidas por tribunais internacionais dispensam, no Brasil, homologação pelo Superior Tribunal Justiça.
A regra da 4ª instância consiste na revisão das deciões domésticas por Cortes Internacionais, o que não é aceitável. Não há execução forçada das decisões internacionais. As soluções concretas para execuções de julgados internacionais ainda dependem dos institutos nacionais que incorporam o Direito Internacional para sua aplicação interna.
A CIDH não atua como quarta instância. Conforme leciona Portela, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, assim como a maioria dos órgãos internacionais voltados à proteção da dignidade humana, não substitui o judiciário nacional nem opera como corte de cassação ou como instância recursal dos tribunais internos, não podendo, portanto, reformar uma decisão de uma corte suprema de um ente estatal, por exemplo. Quando examina e julga um caso, a CIDH verifica a conformidade das ações dos governos estatais com as obrigações internacionais assumidas pelo respectivo Estado na matéria e, caso a decisão do Judiciário nacional não seja compatível com as normas do sistema interamericano de direitos humanos, pode determinar medidas voltadas a responsabilizar internacionalmente o ente estatal pela decisão e a proteger ou a reparar direito previsto de alguma forma, mas não altera nem elimina a decisão das cortes e tribunais internos. Continua Portela afirmando que: em todo caso, somos forçados a admitir que a CIDH acaba promovendo certo controle da atividade do Judiciário brasileiro e do próprio Supremo Tribunal Federal, avaliando-a à luz das normas internacionais de direitos humanos. É certo, porém, que esse controle é evidentemente limitado, por não poder afastar a aplicação de uma decisão judicial interna, restringindo-se a indicar sua compatibilidade ou não com as normas do sistema interamericano e a obrigar o Estado a arcar com a responsabilidade por uma eventual incongruência do provimento jurisdicional examinado com as obrigações internacionais do ente estatal em matéria de proteção dos direitos humanos. 
No ponto, Cançado Trindade destaca que: é certo que os tribunais internacionais de direitos humanos existentes - as Cortes Europeia, e Interamericana de Direitos Humanos - não "substituem" os tribunais internos, e tampouco operam como tribunais de recursos ou de cassação de decisões dos tribunais internos. Não obstante, os atos internos dos Estados podem vir a ser objeto de exame por parte dos órgãos de supervisão internacionais quando se trata de verificar a sua conformidade com as obrigações internacionais dos Estados em matéria de direitos humanos. A Corte pode verificar o cumprimento ou não das garantias processuais e dar, eventualmente, alguma reparação, como, talvez, o direito a um novo processo. Mas a Corte Interamericana não é um tribunal penal que substitui ao nacional. Esse é o único que pode ditar sentenças penais. A Corte Interamericana não é feita para se recorrer como outra instância penal.
Resoluções do Conselho de Segurança. Muitas decisões de responsabilização internacional por violação de direitos humanos pode resultar em uma “falta de obrigatoriedade”. No entanto, nestes casos é possível a edição de resoluções vinculantes pelo Conselho de Segurança da ONU, originadas de pedidos do Conselho de Direitos Humanos, órgão vinculado a Assembléia Geral da ONU. Desta forma, pode-se dizer que “o Conselho de Segurança é um mecanismo extraconvencional, que é vinculante e pode tornar vinculante os demais mecanismos extraconvencionais”. 
IV. Coordenação e conflito entre decisões internacionais de proteção de direitos humanos
O estímulo ao diálogo entre os orgãos nacionais e internacionais deve ser prática constante com fito de viabilizar a coordenação e evitar o conflito entre decisões. O diálogo possibilita o intercâmbio de ponderações e argumentos permitindo que haja uma influência recíproca na tomada de decisões. Um exemplo claro em que pode ocorrer conflito entre decisões internacionais de direitos humanos advém da elaboração de recomendações pelo sistema de relatórios, pois podem gerar deciões contraditórias e suicidas. No plano da coordenação entre decisões internacionais e internas, deve-se atentar para a impossibilidade de interpretação nacional dos tratados internacionais. Muitos Estados aceitam obrigações na área de direitos humanos, mas não aceitam a supervisão internacional no cumprimento dessas obrigações. Trata-se do truque do ilusionista, em que se veste uma capa internacional de respeito aos direitos humanos, mas na hora de ter atitudes concretas, se esquivam da responsabilidade, alegando que estão cumprindo as decisões de acordo com a sua própria interpretação.
Caso paradigmático do “beco sem saída” da interpretação nacionalista dos tratados ocorreu no chamado “Caso da Guerrilha do Araguaia”. Pela primeira vez, um tema (superação – ou não – da anistia a agentes da ditadura militar brasileira) foi analisado e decidido de forma diversa pelo Supremo Tribunal Federal e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
Como cumprir a decisão da Corte IDH? ACR indica que se deve partir da seguinte premissa: não há conflito insolúvel entre as decisões do STF e da Corte IDH, uma vez que ambos os tribunais têm a grave incumbência de proteger os direitos humanos. Adoto assim a teoria do duplo controle ou crivo de direitos humanos, que reconhece a atuação em separado do controle de constitucionalidade (STF e juízos nacionais) e do controle de convencionalidade internacional (Corte de San José e outros órgãos de direitos humanos do plano internacional).
Os direitos humanos, então, no Brasil possuem uma dupla garantia: o controle de constitucionalidade e o controle de convencionalidade internacional. Assim, ao mesmo tempo em que se respeita o crivo de constitucionalidade do STF, deve ser incorporado o crivo de convencionalidade da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Todo ato interno (não importa a natureza ou origem) deve obediência aos dois crivos. Caso não supere um deles (por violar direitos humanos), deve o Estado envidar todos os esforços para cessar a conduta ilícita e reparar os danos causados.
V - Subsidiariedade da jurisdição internacional de direitos humanos
Há um dever primário de cada Estado de proteger os direitos humanos. Consequentemente, tem-se que a jurisdição internacional é subsidiária, agindo na falha do Estado. 
Segundo Flávia Piovesan, elo princípio dasubsidiariedade cabe ao Estado a responsabilidade primária no tocante aos direitos humanos, tendo a comunidade internacional uma responsabilidade secundária e subsidiária. Isto é, o aparato internacional só pode ser invocado quando as instituições nacionais mostrarem-se falhas ou omissas na proteção dos direitos humanos. O objetivo é possibilitar, mediante o monitoramento internacional, que avanços e progressos relativos aos direitos humanos ocorram no plano interno.
O preâmbulo do Estatuto de Roma dispõe que “é dever de cada Estado exercer a respectiva jurisdição penal sobre os responsáveis por crimes internacionais”. Logo, estabeleceu-se mais um exemplo da subsidiariedade da jurisdição internacional, tal qual ocorre com os tribunais internacionais de direitos humanos. O princípio que espelha essa subsidiariedade é o princípio da complementaridade.
Nos casos de inadequação dos recursos internos existentes, o Estado responde duplamente: “pela violação inicial e também por não prover o indivíduo de recursos internos aptos a reparar o dano causado”.
1. SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
2A. O sistema de petições individuais e interestatais nos tratados multilaterais de direitos humanos de âmbito global. A atuação da Corte Internacional de Justiça na proteção internacional de direitos humanos.
Gabriel Infante Martins
	A apuração de violações de direitos humanos no âmbito da ONU é dividida em duas grandes áreas: I) convencional, originada por acordos internacionais; e II) extraconvencional, originada de resoluções da ONU e de seus órgãos. Ambas formam o sistema onusiano, universal ou global de proteção de direitos humanos.
	O sistema convencional, por sua vez, possui três divisões: I) o sistema não contencioso, aquele realizado a partir de técnicas de solução de controvérsias do Direito Internacional clássico, tais como os bons ofícios e a conciliação, com apelo à cooperação espontânea entre os Estados (ex.: Sistema de Relatórios Periódicos); II) sistema quase judicial, que possui duas espécies, que são a responsabilização iniciada a partir de petições dos Estados ou por petições de particulares; III) o sistema judicial/contencioso, no qual a responsabilidade internacional do Estado é estabelecida através de processo judicial perante a Corte Internacional de Justiça – CIJ (órgão judicial da ONU).
	Os mecanismos convencionais quase judiciais são geridos pelos comitês instituídos pelas diversas convenções internacionais da ONU (treaty bodies), que produzem, ao final, uma deliberação internacional sobre a violação dos direitos humanos protegidos. Como os comitês não são órgãos judiciais propriamente ditos, qualificam-se como mecanismos “quase judiciais”. Ademais, os textos convencionais são omissos em face da força vinculante dessas deliberações.
	Segundo ACR, o sistema de petições interestatais no âmbito global torna possível a um Estado apresentar petição contra outro Estado, acusando-o de violação de direitos humanos protegidos em seu território (demandas interestatais, actio popularis). A petição é autorizada por dispositivo previsto nos tratados de direitos humanos, regra geral de adesão facultativa. Cada Convenção atribui ao Comitê respectivo o dever de processar e julgar as petições estatais contra outros Estados. 
	Consoante Portela, o exercício de tal poder normalmente depende de aceitação prévia dos Estados e, em regra, antes de o órgão agir, o ente estatal deve inicialmente notificar o outro acerca da eventual violação, e este tem um prazo para indicar as providências eventualmente tomadas. Se isso não ocorrer, o Estado pode reclamar ao Comitê, que examinará o problema e emitirá as recomendações eventualmente cabíveis, seja diretamente, seja por meio de uma Comissão de Conciliação ad hoc. ACR ressalta que o procedimento é encerrado sem que, como regra, exista uma solução concreta aos Estados.
	O mecanismo das petições individuais (ou comunicações individuais) permite a indivíduos a apresentação de petições denunciando diretamente violações de direitos enunciados nos respectivos Pactos. Este sistema de petições, segundo Cançado Trindade, cristalizou a capacidade processual internacional dos indivíduos. Também só é admitida quando os Estados reconhecem a competência do Comitê para tanto, através de declarações ou Pactos Facultativos. Esta via de acesso também é aberta a pessoas coletivas, como representantes da sociedade civil e ONG’s.
	No que diz respeito ao trâmite, em primeiro lugar, o Estado-parte deve ter aceitado expressamente a competência do comitê respectivo em receber as petições de particulares. O procedimento é confidencial e obrigatório, pautado pela ampla defesa e contraditório. Sobre a questão de mérito, o respectivo comitê avalia, delibera e determina a existência ou não de violação de direito protegido; em caso positivo, fixará medidas de reparação. 
	São pressupostos para aceitação da petição, entre outros, o esgotamento prévio dos recursos internos e a inexistência de litispendência internacional (ou seja, que não haja outro órgão de monitoramento analisando a questão em âmbito internacional). Em tese, há um prazo para o Estado submeter ao Comitê explicações sobre a denúncia. O Comitê analisa as informações, faz as diligências necessárias e profere decisão. 
	As decisões dos Comitês neste procedimento não são obrigatórias, mas possuem um peso político expressivo de pressão sobre os estados (Power of embarassment). Contudo, para ACR, a deliberação em petição individual por parte do Comitê é vinculante ao Estado que aceitou tal competência de modo voluntário.
	O Brasil foi responsabilizado no Comitê da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, na sigla em inglês) no Caso Alyne Pimentel: em 2011, o comitê CEDAW decidiu que o Brasil violou os direitos da vítima que faleceu na ausência de tratamento adequado à mulher grávida, em Belford Roxo/RJ. A petição contra o Brasil foi proposta por sua mãe, com o apoio de ONGs. Foi o primeiro caso de morte materna (violência obstétrica) nesse Comitê, que recomendou ao Brasil, além de indenizar a família da vítima, que também assegurasse o direito das mulheres à maternidade segura e acesso à assistência médica emergencial adequada. 
	Além disso, o Brasil foi condenado no Caso Lula, que tramitou perante o Comitê de Direitos Humanos (órgão quase-judicial do PIDCP e criado pelo Protocolo Facultativo ao PIDCP), por ter violado o direito à liberdade, à imparcialidade do juízo, à presunção de inocência, à participação política etc. Ocorre que não houve a edição do Decreto de Promulgação do Protocolo Facultativo ao PIDCP, razão pela qual prevaleceu o entendimento, no TSE, em 2018 (apreciando, no bojo do processo de Registro de Candidatura, a medida provisória do Comitê de DH, que determinou que o Brasil tomasse medidas adequadas a proporcionar a candidatura do peticionário), seguindo o que já decidiu o STF em momentos pretéritos, de que as decisões do Comitê de DH não surtiriam efeitos internamente. O Min. Edson Fachin foi o único voto vencido, no sentido de que o Decreto de Promulgação não seria necessário para tanto (seguindo posição do ACR).
		
II. A atuação da Corte Internacional de Justiça na proteção internacional de direitos humanos
No plano global, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) é o órgão judicial da ONU, tendo reconhecida sua competência para todos os litígios que as partes lhe submetam, em especial os temas previstos na Carta das Nações Unidas e nos tratados e convenções internacionais vigentes, não sendo órgão especializado para o acompanhamento de matérias referentes a direitos humanos. 
Segundo ACR, a Corte tem um modesto papel na proteção de Direitos Humanos, em virtude de dois limitativos: I) jus standi, ou legitimidade ativa e passiva nos processos submetidos à Corte, uma vez que ela, em sua jurisdição contenciosa, só reconhece como partes os Estados, o que limita sobremaneira a proteção judicial de direitos humanos, já que o acesso do indivíduo a instâncias internacionaisvida digna.
A CF/88 usa termos variados (DH, dir. fundamentais, direitos da pessoa humana, etc). No Dir. Internacional há livre uso dessas expressões também (ex. DADH – “direitos essenciais do homem”; DUDH – “direitos do homem”). A imprecisão terminológica é resultado da evolução da proteção de certos direitos essenciais do indivíduo: “direito natural” revela a opção pelo reconhecimento de que esses direitos são inerentes à natureza do homem (ideia ultrapassada ao se constatar a historicidade de cada um destes direitos, sendo os direitos humanos verdadeiros direitos “conquistados”); “direitos do homem” retrata a mesma origem jusnaturalista da proteção de determinados direitos do indivíduo (contexto das revoluções liberais e caráter sexista da expressão); “direitos individuais” é tida como excludente, pois só abarcaria o grupo de direitos denominados de primeira geração; “liberdade pública” (expressão, de inspiração francesa, que ficou enfraquecida com a expansão do Estado Social).
Chega-se às duas expressões de uso corrente atualmente: DH e dir. fundamentais. A seguir a definição da doutrina tradicional e a posição de ACR:
1) os DH servem para definir os direitos estabelecidos pelo Direito Internacional em tratados e demais normas internacionais sobre a matéria, enquanto a expressão “direitos fundamentais” delimitaria aqueles direitos reconhecidos e positivados pelo Direito Constitucional de um Estado específico. ACR: o Dir. Internacional não é uniforme e nem sempre usa a expressão DH. O dir. interno tb pode adotar a expressão DH (como na CF/88);
2) Os DH, por sua matriz internacional, não seriam sempre exigíveis internamente, tendo então uma inspiração jusnaturalista sem maiores consequências; já os direitos fundamentais seriam aqueles positivados internamente e por isso passíveis de cobrança judicial. ACR: No sistema interamericano e europeu de direitos humanos, os direitos previstos em tratados podem também ser exigidos e os Estados podem ser cobrados pelo descumprimento de tais normas. A aproximação entre o Direito Internacional e o Direito Nacional (ex. art. 5º, §3º, da CF; reconhecimento da jurisdição da Corte IDH) fez essa diferenciação perder a importância. Os dir. fundamentais espelham, então, os DH.
II. Direitos Humanos. Estrutura
ACR: Os DH têm estrutura variada e acarretam obrigações do Estado ou de particulares revestidas, respectivamente, na forma de: (i) dever, (ii) ausência de direito, (iii) sujeição e (iv) incompetência, como segue. Podem ser:
1) direito-pretensão é a busca de algo, gerando a contrapartida de outrem do dever de prestar. Nesse sentido, determinada pessoa tem direito a algo, se outrem (Estado ou mesmo outro particular) tem o dever de realizar uma conduta que não viole esse direito. Assim, nasce o “direitopretensão”, como, por exemplo, o direito à educação fundamental, que gera o dever do Estado de prestá-la gratuitamente (art. 208, I, da CF/88);
2) direito-liberdade consiste na faculdade de agir que gera a ausência de direito de qualquer outro ente ou pessoa. Assim, uma pessoa tem a liberdade de credo (art. 5º, VI, da CF/88), não possuindo o Estado (ou terceiros) nenhum direito (ausência de direito) de exigir que essa pessoa tenha determinada religião;
3) direito-poder implica uma relação de poder de uma pessoa de exigir determinada sujeição do Estado ou de outra pessoa. Assim, uma pessoa tem o poder de, ao ser presa, requerer a assistência da família e de advogado, o que sujeita a autoridade pública a providenciar tais contatos (art. 5º, LXIII, da CF/88);
4) direito-imunidade consiste na autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa, impedindo que outra interfira de qualquer modo. Assim, uma pessoa é imune à prisão, a não ser em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LVI, da CF/88), o que impede que outros agentes públicos (como, por exemplo, agentes policiais) possam alterar a posição da pessoa em relação à prisão.
III. Direitos Humanos. Fundamento
1) Jusnaturalista: existe um conjunto de normas vinculantes anterior e superior ao sistema de normas fixadas pelo Estado. Na Idade Média, é incentivado pela visão religiosa de São Tomás de Aquino, para quem a lex humana deve obedecer a lex naturalis, que era fruto da razão divina, mas perceptível aos homens. No plano internacional, Hugo Grotius sustentava, no século XVI, a existência de um conjunto de normas ideais, fruto da razão humana. Nos séculos XVII e XVIII, essa corrente jusnaturalista impõe a consagração da razão e laicidade das normas de direito natural. Os iluministas fundam o jusnaturalismo contratualista, que aprofunda o racionalismo e o individualismo (os DH são concebidos como direitos atemporais, inerentes à qualidade de homem de seus titulares). Traço marcante da corrente jusnaturalista (religiosa ou contratualista): cunho metafísico, pois se funda na existência de um direito preexistente ao direito produzido pelo homem, oriundo de Deus (escola de direito natural de razão divina) ou da natureza inerente do ser humano (escola de direito natural moderno).
2) Positivismo Nacionalista: A consolidação do Estado constitucional inseriu os direitos humanos tidos como naturais (jusnaturalismo de direitos humanos) no corpo das Constituições e das leis, sendo agora considerados direitos positivados. O fundamento dos DH aqui consiste na existência da norma posta, os DH justificam-se graças a sua validade formal. Risco aos DH gerado pela adoção do positivismo nacionalista: normas locais (inclusive as constitucionais) não protegerem ou reconhecerem determinado direito ou categoria de direitos humanos.
3) Utilitarismo Clássico: (Jeremy Bentham e Stuart Mill – Séc. XVIII e XIX). Crítica aos jusnaturalistas contratualistas. Sustenta, no campo dos direitos humanos, que a avaliação de uma conduta decorre de suas consequências e não do reconhecimento de direitos. Assim, determinado ato é – ou não – reprovável de acordo com as circunstâncias e consequências.
4) Socialismo e comunismo: Séc. XIX e XX. Compreensão das sociedades humanas no contexto da história da luta de classes e descrença na linguagem dos direitos das revoluções liberais, pois: os DH eram reconhecidos em abstrato, não levando em consideração os meios de implementação desses dispositivos; a eliminação da luta de classes e do próprio Estado tornaria dispensável a atuação dos DH no papel de restrição ao poder do Estado e promoção da autonomia do indivíduo.
IV. Direitos Humanos. Evolução histórica
a. Antiguidade: Comparato diz que é possível verificar um fragmento de preocupação com os DH em qualquer época da história da humanidade, o que ele chama de era axial da historia, porém não da forma como se entende hoje, porque ainda havia algumas incongruências (ex. escravidão), mas já se tinha certa preocupação.
b. Séc. XVII e XVIII: o momento de afirmação dos DH se deu nas revoluções liberais (inglesa de 1689; americana com a independência de 1776 e declaração de Virginia; e francesa). O iluminismo, com forte discurso jusnaturalista, reconheceu que os DH são direitos inerentes ao ser humano e por isso poderiam ser opostos às regras do Estado absoluto. Qual é a base desse discurso iluminista? Todos nascem livres e iguais. A rev. Francesa foi a que gerou maior impacto, pois, ao contrário das outras, teve consequências internacionais, foi universalista. Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão como sendo a primeira com vocação universal.
c. Séc. XIX e XX: Positivação Nacional dos DH pelas Constituições Nacionais: No Brasil, isso se deu a partir da Constituição de 1824. Qual é a vantagem e a desvantagem dessa terceira fase que se inaugurou no século XIX? Vantagem dessa fase: Uma efetividade maior aos DH, pois contavam com o força do Estado. Desvantagem: Os DH caíram numa “armadilha”. E se um Estado não reconhecesse um Direito? Se um Estado violasseé considerado um requisito indispensável para a correta garantia destes direitos; II) caráter facultativo, tendo em vista que a jurisdição da Corte depende da adesão (facultativa) dos Estados. Além disso, cada Estado pode condicionar sua declaração de aceitação ao princípio da reciprocidade.
Acordos com previsão da CIJ como mediadora: graças a esses tratados, há o surgimento de uma modesta proteção judicial dos direitos humanos na CIJ, pois tal proteção dependerá do impulso inicial de um Estado. Esse impulso inicial é verificado somente quando convém ao Estado, o que enfraquece a proteção aos indivíduos. Essa atuação, conduto, se dá em caráter subsidiário: como cláusula padrão dessas convenções, cite-se o art. 30 da Convenção contra a Tortura, a proteção judicial é somente invocável após o fracasso da conciliação e da arbitragem, o que indica o caráter subsidiário e de última ratio do recurso à Corte Internacional de Justiça.
A virada pro homine: se, por um lado, são necessárias modificações estatutárias que possibilitem uma atuação mais incisiva da Corte Internacional de Justiça na proteção de direitos humanos, por outro lado há uma série de casos contenciosos e consultivos da CIJ e da sua antecessora (CPJI, Corte Permanente de Justiça Internacional), abordando temas essenciais para a proteção de violação de direitos humanos, que emergiram na análise de pontos controvertidos entre os Estados. Logo, ao menos indiretamente, a CPJI e a CIJ contribuíram para o desenvolvimento da responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos. 
Um exemplo foi o julgado da CIJ no caso do Estreito de Corfu (Reino Unido vs Albânia, 1949), em que ficou estabelecido que a Albânia era obrigada pelo Direito Internacional a notificar os navios da existência de minas em águas territoriais albanesas, obrigação essa derivada de princípios gerais do Direito Internacional, em especial as considerações elementares de humanidade. 
Outro exemplo, mais recente, ocorreu em 2017, quando a Ucrânia processou a Rússia por violação da Convenção pela Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e por ofensa à Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do Terrorismo. O caso relaciona-se com a guerra civil na Ucrânia, disputa pela Crimeia (maioria da população russa, mas com plebiscito pela anexação à Rússia contestado) e ainda com o abate do avião Airbus malaio (rota Amsterdam – Kuala Lumpur). No tocante à discriminação racial, a Corte entendeu terem sido cumpridos os passos prévios referentes à negociação entre as partes e, diferentemente do caso da Geórgia, reconheceu sua jurisdição. Para a Corte, ficaram provados os atos referentes à negociação (fracassada) entre Ucrânia e Rússia a respeito da situação da Crimeia. A Corte, então, editou medida provisória, à luz do art. 41 do seu Estatuto, ordenando à Rússia que, no território da Crimeia: (i) respeitasse as instituições representativas próprias da comunidade tártara da Crimeia; (ii) assegurasse a oferta de ensino no idioma ucraniano.
Assim, sobretudo após 2008, observa-se uma busca de consolidação de uma “virada pro homine” da jurisprudência da CIJ, patrocinada em especial pela posse do Juiz Cançado Trindade. Suas posições refletem o reconhecimento da força expansiva dos direitos humanos, contaminando diferentes áreas do direito internacional. Essa força expansiva dos direitos humanos ficou clara no voto concordante dele no Parecer Consultivo sobre a independência do Kosovo (2009). Na visão do jurista brasileiro, essa declaração de independência não poderia ser tratada somente à luz dos preceitos tradicionais do Direito Internacional Geral, como por exemplo, o respeito à integridade territorial do Estado e as poucas exceções à autodeterminação (ocupação colonial ou dominação estrangeira – o que não seria o caso do Kosovo). Mas a questão deveria também ser avaliada em face do direito à igualdade e proibição de discriminação étnica. 
Assim, não é mais possível tratar de uma demanda internacional, mesmo interestatal, e olvidar que há indivíduos envolvidos, com direitos que possuem estatuto de jus cogens. Afinal, o indivíduo compõe o Estado (sua dimensão subjetiva), não podendo mais a CIJ ignorar o eventual impacto da demanda em relação a normas cogentes de proteção de direitos humanos.
	A necessidade de reformulação: observa-se que a experiência da CIJ no tocante à apuração de violações de direitos humanos não pode ser desprezada, tendo sido debatidas questões como a actio popularis, as obrigações erga omnes, o caráter vinculante de expressões genéricas de proteção de direitos humanos da Carta da ONU e outras, essenciais para o desenvolvimento do DIDH. Porém, embora relevante, vê-se que a jurisprudência da CIJ é episódica e fragmentada na promoção de direitos humanos, ou, muitas vezes, dependente de algumas poucas vozes. 
Para que isso mude, uma grande revisão do seu Estatuto é necessária, de modo que sejam enfrentados os seguintes pontos: 
I) Em primeiro lugar, a legitimidade para acionar a Corte é demasiadamente restrita. Na parte contenciosa, os Estados, mesmo democráticos, podem querer sacrificar a luta pelos direitos humanos no altar de outras considerações políticas, como se vê em vários momentos na política de apoio a ditaduras por parte de Estados ocidentais democráticos. Na parte consultiva, urge ampliar o número de entes para provocar a Corte com maior frequência; 
II) Em segundo lugar, a determinação da jurisdição contenciosa não pode depender da vontade do Estado infrator, quando o objeto da demanda for a violação de obrigações erga omnes e jus cogens; 
III) Em terceiro lugar, o procedimento tem que ser alterado para trazer ao litígio as contribuições das vítimas e das ONG’s. Em especial, em uma era de colisões de direitos, a participação dos indivíduos interessados é essencial para a obtenção de uma argumentação jurídica que leve em consideração os mais diversos direitos envolvidos em um litígio; 
IV) Em último lugar, o modo de escolha dos juízes da CIJ (maioria absoluta dos membros do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral) deve levar em consideração o histórico de atuação nas causas de defesa de direitos humanos.
4A. Os direitos previstos em tratados internacionais de direitos humanos adotados no âmbito da Organização das Nações Unidas. Os direitos previstos nos tratados de direitos humanos celebrados no âmbito da Organização dos Estados Americanos.
I. Os direitos previstos em tratados internacionais de direitos humanos adotados no âmbito da Organização das Nações Unidas. 
Atualizado por Caio T. A. Franco
- Carta Internacional dos direitos humanos: A doutrina consagrou como “Carta Internacional dos DH” (International Bill of Rights) o conjunto dos seguintes diplomas: Declaração Universal dos DH (DUDH), o PIDCP e o PIDESC. O uso do termo implicava no reconhecimento de que os dois Pactos não poderiam ser interpretados desconectados da DUDH, o que deu sistematicidade à proteção dos direitos humanos internacionais, bem como na reafirmação do objetivo da ONU de proteger os Direitos Humanos, já previsto na Carta de São Francisco.
1. Pacto internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP): Adotado no ano de 1966 em Assembleia da ONU, entrou em vigor em 1976 após a exigida ratificação por 35 Estados. Possui, em 2019, 173 Estados partes. No Brasil, foi aprovado em 1991, entrou em vigor internacionalmente e foi promulgado em 1992. Sua finalidade foi tornar juridicamente vinculante aos Estados alguns direitos previstos na Declaração Universal de 1948.
 Direito à vida; Direito de não ser submetido à tortura, a penas ou tratamentos cruéis, nem a experiências médicas ou científicas sem livre consentimento; Direito à liberdade e à segurança pessoais e de não ser preso ou encarcerado arbitrariamente, nem privado de liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei; Direito de que toda pessoa privada de liberdade seja tratada com humanidade e respeito à dignidade da pessoa humana; Direito de não ser preso apenas por não poder cumprir comuma obrigação contratual; Direito à livre circulação, direito de sair livremente de qualquer país e de não ser privado arbitrariamente de entrar em seu próprio país; Direito às garantias processuais; Direito à não ser condenado por atos ou omissões que não constituam delito de acordo com o direito nacional ou internacional, irretroatividade da lei penal mais gravosa e a retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu; Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica; Direito a não ser alvo de ingerências arbitrarias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu domicilio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação; Direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; Direito de reunião; Direito de Associação pacífica; Direito de contrair casamento e constituir família; Direitos específicos da criança de não sofrer discriminação, de adquirir nacionalidade e de ter medidas de proteção por parte da família, da sociedade e do Estado; Direito de participação política; Direito à igualdade.
2. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC): Adotado conjuntamente com o PIDCP em 1966. Possui, em 2019, 170 Estados partes. Promulgada no BRASIL em 1966.
Direito ao trabalho; direito ao gozo de condições de trabalho equitativas e satisfatórias; Direito de todos à previdência social; Direito de toda pessoa fundar sindicatos e se filiar ao de sua escolha; Direito de greve; Direito a proteção e assistência familiar, especialmente a mães e crianças; Direito a um nível adequado de vida; Direito à saúde física e mental; Direito à educação, Direito de participar da vida cultural, desfrutar o processo científico e suas aplicações, bem como se beneficiar da proteção de interesses morais e materiais decorrentes de toda a produção científica, literária ou artística de que seja autor.
3. Convenção Suplementar sobre a Abolição da escravatura, do tráfico de escravos e das instituições e práticas análogas à escravatura: Adotada em Genebra em 7 de setembro de 1956. Possui, em 2019, 124 Estados partes.
4. Convenção para a prevenção e a Repressão do crime de genocídio. foi aprovada e proposta para assinatura e ratificação ou adesão pela Resolução n. 260 A (III)da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948. Possui, em 2019, 152 Estados partes. Foi promulgada no BRASIL em 1952.
5. Convenção sobre imprescritibilidade dos crimes de guerra dos crimes contra a humanidade. Assinada em Nova York, em 26 de novembro de 1968. Possui, em 2019, 55 Estados partes. Não ratificada pelo Brasil. ACR defende que o Brasil deve cumprir a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade e dos crimes de guerra, mesmo não tendo ainda ratificado a presente convenção. Em 2016, o STF decidiu contra a imprescritibilidade dos crimes de jus cogens.
6. Convenção relativa ao estatuto dos Refugiados e seu Protocolo. adotada pela Conferência das Nações Unidas de Plenipotenciários sobre o Estatuto dos Refugiados e Apátridas, convocada pela Resolução n. 429 (V) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1950. Possui, em 2019, 146 Estados partes. Promulgada no Brasil em 1961.
Direito de receber dos Estados Partes tratamento pelo menos tão favorável como o que é proporcionado aos nacionais no que concerne à liberdade de praticar sua religião e no que concerne à liberdade de instrução religiosa dos seus filhos; Direitos de associação, quanto a associações sem fins políticos e lucrativos e a sindicatos profissionais; Direito de propugnar em juízo, assegurando-se o livre e fácil acesso aos tribunais, com o mesmo tratamento recebido por um nacional, incluindo-se aí a assistência judiciária e a isenção de cautio judicatum solvi; Direito a receber o mesmo tratamento dispensado ao estrangeiro no exercício de empregos remunerados; Direito a receber tratamento concedido ao nacional em caso de racionamento de produtos de que há escassez; Direito a receber tratamento concedido ao nacional em matéria de assistência e de socorros públicos; Direito a receber tratamento concedido ao nacional em matéria de oferecimento de ensino primário (quanto aos graus de ensino superiores ao primário, os Estados devem dar aos refugiados um tratamento tão favorável quanto possível, e em todo caso não menos favorável do que aquele que é dado aos estrangeiros em geral, nas mesmas circunstâncias); Direito de receber tratamento para a concessão de alojamentos tão favorável quanto possível e, em todo caso, não menos favorável do que aquele que é dado, nas mesmas circunstâncias, aos estrangeiros em geral; Direito a receber o mesmo tratamento dado aos nacionais quanto à legislação do trabalho (relativamente a remuneração, duração do trabalho, horas suplementares, férias pagas, restrições ao trabalho doméstico, idade mínima para o emprego, aprendizado e formação profissional, trabalho das mulheres e dos adolescentes e gozo das vantagens proporcionadas pelas convenções coletivas); Direito de receber o mesmo tratamento dado aos nacionais quanto a previdência social (acidentes do trabalho, moléstias profissionais, maternidade, doença, invalidez, velhice, morte, desemprego, encargos de família, além de qualquer outro risco que esteja previsto no sistema de previdência social); Direito de receber do Estado assistência administrativa para o exercício de direitos que normalmente exigem assistência estrangeira; Direito de receber do Estado Contratante documento de identidade, quando não possua documento de viagem válido, e documentos de viagem para viajar para fora do território; Direito à liberdade de movimento para escolha da residência e para circulação no território de livremente, com as reservas aplicáveis aos estrangeiros; Direito de não ser submetido a emolumentos alfandegários, taxas e impostos além do que cobrados dos seus nacionais em situações análogas; Direito de não ser submetido a sanções, caso o refugiado se apresente sem demora às autoridades e exponha razões aceitáveis para sua entrada ou presença irregulares; direito de que apenas restrições necessárias podem ser impostas ao seu deslocamento; Direito de não ser expulso, salvo por motivos de segurança nacional ou ordem pública, mediante decisão judicial proferida em atendimento ao devido processo legal.
7. Declaração de NY sobre Refugiados e migrantes. Em setembro de 2016, os Estados membros da ONU adotaram a Declaração de Nova York sobre Refugiados e Migrantes, que consiste em ato político e de natureza de soft law.
8. Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas. Assinada em 1954. Atualmente, a Convenção conta com 89 Estados partes, incluindo o Brasil, que a promulgou internamente em 2002.
9. Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia. Em vigor desde 1975. Atualmente, a Convenção conta com 69 Estados partes (No BRASIL entrou em vigor internacionalmente em 2008, mas só foi promulgada em 2015).
10. Convenção sobre a Eliminação de Todas as formas de discriminação racial. Adotada pela Resolução n. 2.106 (XX) da Assembleia Geral da ONU, em dezembro de 1965, sendo e aberta à assinatura em 7 de março de 1966.
Os Estados se comprometem, nos termos do artigo V, a proibir e eliminar a discriminação racial em todas as suas formas, garantindo a igualdade perante a lei sem qualquer distinção, principalmente no gozo do (i) direito a tratamento igual perante os tribunais ou qualquer outro órgão que administre justiça; (ii) do direito à segurança pessoal e à proteção do Estado contra violência ou lesão corporal cometida, inclusive por funcionários do governo; dos direitos políticos e de tomar parte no Governo; (iii) de outros direitos civis – tais como o de circular livremente e escolher residência dentro das
fronteiras do Estado, de deixar qualquer país, de ter uma nacionalidade, de casar-se e escolher o cônjuge, à propriedade, de herdar, à liberdade de pensamento, de consciência e de religião, à liberdade de opinião e de expressão, dentre outros – e de direitos econômicos, sociais e culturais – como o direito à habitação, à educação e ao acesso a todos os lugares e serviçosdestinados ao uso do público.
11. Convenção internacional sobre a supressão e punição do crime de apartheid. Não foi ainda ratificada pelo Brasil.
12. Convenção internacional contra o apartheid nos esportes. Não foi ainda ratificada pelo Brasil.
13.Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a mulher (CEDAW) e respectivo protocolo facultativo: No Brasil, foi assinada em 31 de março de 1981 com reservas (arts. 15, parágrafo 4º, e 16, parágrafo 1º, alíneas a, c, g e h), aprovada pelo Decreto Legislativo n. 93, de 14 de novembro de 1983, e ratificada em 1º de fevereiro de 1984. A Convenção entrou em vigor para o Brasil em 2 de março de 1984, com a reserva do art. 29, parágrafo 2º, que permite que o Estado não se considere obrigado ao dispositivo que determina a submissão da questão não resolvida por negociação a arbitragem. O Decreto Legislativo n. 26, de 22 de junho de 1994, revogando o anterior, aprovou a Convenção sem as reservas dos arts. 15 e 16, e o Brasil as retirou em 20 de dezembro 1994. A Convenção foi promulgada pelo Decreto n. 4.377, de 13 de setembro de 2002. Possui, em 2019, 189 Estados partes.
Direitos previstos: Direitos civis e políticos (de votar e ser votado; de participar da formulação de políticas públicas governamentais, exercício de cargos públicos; participar de organizações e associações não governamentais que s ocupam da vida pública e política do país e na oportunidade de representar seu governo no plano internacional e de participar dos trabalhos das organizações internacionais); Direito à Educação nas mesmas condições de orientação em matéria de carreiras e capacitação profissional, ao acesso aos estudos e obtenção de diplomas e a eliminação da estereotipização dos papéis masculino feminino; Direito ao Emprego, sobretudo, às mesmas oportunidades, aos mesmos critérios de seleção, à promoção e estabilidade no emprego, à igualdade de remuneração, à igualdade de tratamento com respeito à avaliação da qualidade do trabalho, à seguridade social, às férias, proibição de demissão por motivo de gravidez ou de licença maternidade ou de estado civil; Direito ao acesso a serviços médicos, com assistência apropriada em relação à gravidez, ao parto e ao período pós-parto; Outras esferas da vida econômica e social (direito a obter empréstimos bancários, hipotecas, direito de participar em atividade de recreação, esportes e em todos os aspectos da vida cultural); Reconhecimento de igual capacidade jurídica em matérias civis e das mesmas oportunidades para seu exercício.
14. Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes e Protocolo Opcional. Ratificada em 28 de setembro de 1989 e, finalmente, promulgada pelo Decreto n. 40, de 15 de fevereiro de 1991. Possui, em 2019, 167 Estados partes. O Protocolo Facultativo foi ratificado em 11 de janeiro de 2007 e o Protocolo foi promulgado pelo Decreto n. 6.085, de 19 de abril de 2007.
15. Protocolo de Istambul. Apresentado ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em 9 de agosto de 1999, manual para a investigação e documentação eficazes da tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, também denominado Protocolo de Istambul.
16. Regras mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de presos (100 regras de Mandela). Regras Mínimas para o Tratamento dos Presos foram adotadas pelo I Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e para o Tratamento de Delinquentes, que foi realizada em Genebra, em 31 de agosto de 1955. Foi aprovada, pela Assembleia Geral da ONU, a denominação honorífica da Resolução como “Regras Nelson Mandela”.
17. Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de Bangkok). As Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras resultam do trabalho de um grupo de especialistas, realizado em Bangkok, entre 23 e 26 de novembro de 2009, visando o desenvolvimento de normas específicas para o tratamento das mulheres submetidas a medidas privativas e não privativas de liberdade. Aprovadas pela Assembleia Geral da ONU, na Resolução n. 65/229, de 21 de dezembro de 2010.
18. Convenção Internacional para a proteção de todas as pessoas contra o desaparecimento Forçado. Ratificada em 29 de novembro de 2010 e sendo promulgada internamente seis anos depois da ratificação, pelo Decreto n. 8.767, de 11 de maio de 2016.
Principais direitos e garantias: nenhuma pessoa será submetida a desaparecimento forçado; nenhuma circunstância excepcional, seja estado de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública poderá ser invocada como justificativa para o desaparecimento forçado; direito de qualquer indivíduo que alegue que alguém foi vítima de desaparecimento forçado de relatar os fatos às autoridades competentes, as quais examinarão as alegações pronta e imparcialmente e, caso necessário, instaurarão sem de mora uma investigação completa e imparcial; direito de não ser detido em segredo; direito de informação acerca das pessoas privadas de liberdade; direito das vítimas saber a verdade sobre as circunstâncias do desaparecimento forçado, o andamento e os resultados da investigação e o destino da pessoa desaparecida.
19. Convenção sobre os direitos da criança e os protocolos facultativos à convenção sobre os direitos da criança relativos ao envolvimento de crianças em conflitos armados; referente à venda de crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil; relativo aos procedimentos de comunicação: Ratificada em 24 de setembro de 1990, sendo promulgada por meio do Decreto n. 99.710, em 21 de novembro de 1990. É a Convenção que possui o mais elevado número de ratificações, já que conta, em 2019, com 196 partes (incluindo a Santa Sé e o Estado da Palestina). Os Estados Unidos não a ratificaram, contudo. O primeiro e o segundo protocolos foram ratificados e promulgados em 2004. O terceiro protocolo foi ratificado em 2017 e ainda não promulgado. 
Direito à vida; Direito de que seja registrada imediatamente após o seu nascimento; Direito a ter, desde o nascimento, um nome, uma nacionalidade e, na medida do possível, de conhecer seus pais e a ser cuidado por eles; Direito de preservar sua identidade; Direito de que não seja separada dos pais contra a vontade destes, exceto em razão do melhor interesse da criança; Direito de manter regularmente relações pessoais e contato direto com ambos os pais; direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos com ela relacionados; Direito à liberdade de expressão, de pensamento, de crença e de consciência; Direito à liberdade de associação e de realizar reuniões pacíficas; Direito de acesso a informação; Direito à proteção contra interferências arbitrárias ou ilegais em sua vida particular, sua família, seu domicílio ou sua correspondência, e contra atentados ilegais a sua honra e reputação; Direito à proteção e assistência especiais do Estado para crianças privadas temporária ou permanentemente do seu meio familiar; Direito à proteção e a assistência humanitária adequadas para crianças refugiadas; Direitos específicos da criança com deficiência física ou mental, dentre outros.
20. Protocolo de Prevenção, Supressão e Punição do Tráfico de Pessoas, especialmente mulheres e crianças, complementar à Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional. Ratificado e promulgado em 2004. Adotado em Nova Iorque em 15 de novembro de 2000, foi firmado tendo-se em vista que a prevenção e o combate ao tráfico de pessoas requer atuação conjunta dos países de origem, trânsito e destino, com medidas destinadas a prevenir o tráfico, punir os traficantes e proteger suas vítimas, nos termos de seu preâmbulo. Possui, em 2019, 174 Estados partes. Em 2016, foi adotada a Lei n. 13.344 (Lei de Tráfico de Pessoas), atualizando a legislação interna, que, anteriormente, puniao tráfico de pessoas na sua finalidade de exploração sexual. (arts. 231 e 231-A do Código Penal). A nova lei é genérica e, na linha do que dispõe o Protocolo, é calcada em 3 eixos, a saber: prevenção (capítulo II), repressão (capítulo III) e proteção e assistência às vítimas (capítulo IV).
21. Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência e seu protocolo facultativo. Assinados em Nova York, em 2007. Ratificada em 2008 e promulgada em 2009. No BRASIL, possui hierarquia interna equivalente a EC. A espinha dorsal da Convenção é o seu compromisso com a dignidade e os direitos das pessoas com deficiência, que são tidos como titulares dos direitos e não como objeto ou alvo da compaixão pública. 
22. Tratado de Marraqueche sobre acesso facilitado a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso. Ratificado em 2015 e promulgado em 2018. Há críticas ao conteúdo do Tratado por parte de organizações não governamentais e por parte da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) do Ministério Público Federal, que apontam contradição entre a proteção dada pelo Tratado de Marraqueche e o teor da Convenção das Nações Unidas sobre Direito das Pessoas com Deficiência e da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), em especial: (i) uso do termo “entidade autorizada” previsto nos arts. 2º e 4º do tratado, o que poderia sugerir que somente essas poderiam editar o livro acessível, gerando uma tutela indevida sobre as pessoas com deficiência (retorno ao assistencialismo); (ii) como consequência da primeira crítica, o tratado teria violado o direito das pessoas com deficiência de acesso a bens culturais em formato acessível (art. 42 da LBI), eliminando o dever das editoras em fornecer esses bens, restando ao Estado fornecer subsídios às organizações não governamentais (“entidades autorizadas”).
23. Convenção Internacional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias: Ainda não ratificado (em tramitação no CN). Garantir os direitos da pessoa humana também com relação aos trabalhadores migrantes, o que inclui o direito à vida, direito à liberdade de expressão, direito de associação, etc.
24. Princípios de Yogyakarta sobre orientação sexual e o “Mais 10”: Em 2006, especialistas em direitos humanos (em nome próprio, sem representarem os seus Estados de origem ou mesmo os órgãos internacionais nos quais trabalhavam), reunidos em Yogyakarta, na Indonésia, elaboraram os Princípios sobre a aplicação do direito internacional dos direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero (Princípios de Yogyakarta). Direitos em espécie mencionados: Direito à igualdade e não discriminação, reforçando terem todos os indivíduos direito de desfrutar de todos os direitos , livres de preconceitos por suas escolhas sexuais e/ou de gênero; Direito de todos, sem preconceito sexual ou de gênero, à segurança pessoal e proteção do Estado contra qualquer forma de violência, proibindo-se a imposição de pena de morte por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero; Direito ao tratamento com dignidade durante a detenção e ao respeito ao devido processo legal, sem discriminação por orientação sexual. Direito de buscar asilo; Direito à família; Direito à concorrer a cargos eletivo e acesso a serviços públicos. Em 2017, foi adotado o documento denominado “Princípios de Yogyakarta Mais 10” (“Yogyakarta Principles plus 10”), em homenagem aos 10 anos da primeira edição (2006- 2016), trazendo novos nove princípios e 111 obrigações dos Estados, devendo ser lido em conjunto com os 29 princípios anteriores (totalizando 38 princípios).
25. Convenção n 169 da OIT sobre povos indígenas e tribais. Ratificado em 2002 e promulgado em 2004. Possui, em 2019, apenas 23 Estados partes. A Convenção trata dos direitos dos povos indígenas, com foco especial na igualdade e combate à discriminação.
26. Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas
Entre outros, a Declaração prevê os seguintes direitos: Pleno exercício dos direitos humanos, sem discriminação. Os indígenas têm direito, a título coletivo ou individual, ao pleno desfrute de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais reconhecidos pela Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o direito internacional dos direitos humanos (art. 1º); Autodeterminação; Direito ao território; Direito ao consentimento livre, prévio e informado; Direito à educação e saúde de acordo com suas práticas; Direito ao desenvolvimento; Direito à cultura; Direito à propriedade imaterial sobre o conhecimento tradicional; Direito à manutenção dos contatos transfronteiriços.
27. Convenção sobre a Proteção e Promoção da diversidade das expressões culturais. Ratificada e promulgada em 2007. Possui, em 2018, 145 Estados Partes. Visa – no atual cenário de globalização e risco a produções culturais de menor fôlego econômico – preservar a diversidade das expressões culturais.
28. Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos. Princípios de Ruggie. Elaborados por John Ruggie são um instrumento de soft law idealizados com a finalidade de guiar a prática das empresas, de forma que estejam de acordo com as normas básicas de respeito e garantia dos direitos humanos no ambiente empresarial. Foram erguidos sob os pilares de proteger, respeitar e reparar, pelos quais 1) cabe ao Estado proteger os direitos humanos; 2) às empresas cabe respeitar os direitos humanos; e 3) a ambos cabe reparar os danos causados pelas violações aos direitos humanos. A essência dos Princípios Orientadores é distribuir a responsabilidade pela proteção de direitos humanos nas atividades empresariais entre os Estados e também às empresas. Os princípios orientadores além de constituírem-se em soft law, podem espelhar – caso haja prática reiterada dos Estados com convicção de obrigatoriedade – costume internacional. Em 2017, o Conselho de Direitos Humanos, no bojo dos mecanismos dos procedimentos especiais, criou o Grupo de Trabalho sobre a questão de direitos humanos e empresas transnacionais e outras empresas comerciais. Em 2018, esse grupo de trabalho apresentou minuta de tratado sobre a temática (“Draft”), que está, em 2020, em discussão.
29. Convenção Quadro de Controle do Tabaco (CQCT). Ratificado em 2005 e promulgado em 2006. Seu objetivo básico é proteger as gerações presentes e futuras das “consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco, proporcionando uma referência para as medidas de controle do tabaco, a serem implementadas pelas Partes nos níveis nacional, regional e internacional, a fim de reduzir de maneira contínua e substancial a prevalência do consumo e a exposição à fumaça do tabaco”.
30. Princípios Básicos sobre a Independência do Poder Judiciário e os Princípios de Bangalore. Esses dois diplomas normativos buscam assegurar a independência do Poder Judiciário (e, por extensão, de órgãos públicos indispensáveis ao sistema de justiça, como o Ministério Público e a Defensoria Pública), a qual é condição necessária (embora não suficiente) para promover, (i) o acesso à justiça e (ii) zelar pela observância dos direitos humanos, em especial contra atos ofensivos do Poder Público. Os Princípios Básicos sobre a Independência do Poder Judiciário foram adotados com o objetivo de explicitar os mecanismos internos para assegurar a independência da função jurisdicional e, ao mesmo tempo, servir de parâmetro para que seja avaliada a real independência do Poder Judiciário em um determinado Estado. Os Princípios de Bangalore têm como meta a preservação da confiança da sociedade no Judiciário. Valor 1: independência; Valor 2: imparcialidade; Valor 3: integridade; Valor 4: idoneidade; Valor 5: igualdade; Valor 6: competência e diligência.
31. O Protocolo de Minnesota sobre Investigação de Mortes Potencialmente Ilícitas. Consiste em um conjunto de regras de orientação sobre como proceder a investigaçãode mortes que possam ser tidas como ilícitas.
32. Princípios básicos sobre o uso da força e armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Adotado pela AGNU em 1979. Prevê que os encarregados da aplicação da lei podem usar a força apenas quando: (i) estritamente necessário; (ii) na medida exigida para o cumprimento de suas obrigações. Estabelecem os parâmetros centrais para determinar a legalidade dos uso da força pelo pessoal da aplicação da lei e estabelecer padrões para responsabilidade e revisão.
33. Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento (1986)
34. Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano (1972)
35. Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento ("Declaração do Rio" - 1992).
36. Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
II. Os direitos previstos nos tratados de direitos humanos celebrados no âmbito da OEA
Atualizado por José Weverton A. Lucas
1. Carta da OEA (1948) e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
A Carta da OEA proclamou, de modo genérico, o dever de respeito aos direitos humanos pelos Estados membros, já a Declaração, que é anterior a Declaração Universal (DUDH) enumerou quais são os direitos fundamentais que deveriam ser observados e garantidos pelos Estados. De acordo com a Corte IDH, a Declaração Americana é considerada interpretação autêntica dos dispositivos genéricos de proteção de direitos humanos da Carta da OEA, conforme Parecer Consultivo.
2. Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto San José da Costa Rica)
Direitos civis e políticos: Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica; Direito à vida; Direito à integridade pessoas (física, psíquica e moral); Proibição da escravidão e da servidão; Direito à liberdade e à segurança pessoais; Direito de ser ouvido por tribunal competente, independente e parcial; direito à presunção de inocência; Direito de tempo e meios necessários de defesa (e de ser assistido por defensor); Direito de não ser obrigado a depor contra si mesmo; Princípio da legalidade e da retroatividade; Direito à indenização por erro judiciário; Proteção da honra e da dignidade; Liberdade de consciência e de religião; Liberdade de pensamento e de expressão; Direito de retificação ou resposta; Direito de reunião; Liberdade de associação; Proteção da família; Direito ao nome; Direitos da criança; Direito À nacionalidade; Direito à propriedade privada; Direito de circulação e de residência; Direitos políticos; Igualdade perante a lei; Proteção judicial.
Direitos Econômicos, sociais e culturais: É mencionado apenas o compromisso dos Estados Partes com seu desenvolvimento progressivo, sendo especificados no Protocolo de San Salvador (Protocolo adicional à CADH). Este Protocolo protegeu os seguintes direitos, dentre outros: Direito ao trabalho e de gozar esse direito em condições justas, equitativas e satisfatórias; Direitos sindicais; Direito à previdência social; Direito À saúde; Direito a um meio ambiente sadio; Direito à alimentação; Direito À educação; Direito aos benefícios da cultura; Direito à constituição e proteção da família; Direitos das crianças; Direitos das pessoas idosas; Direitos das pessoas com deficiência.
Vale ressaltar que Protocolo de San Salvador somente admite a judicialização internacional dos direitos sindicais e do direito à educação (art. 19.6). Entretanto, no julgamento do caso Lagos del Campo vs. Peru a Corte IDH declarou, pela primeira vez, violado o art. 26 da CADH, reconhecendo, assim, uma proteção direta dos DESC.
3. Protocolo à CADH referente à Abolição da Pena de Morte
Incorporado ao ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto n.º 2.754/1998, o referido protocolo restringiu a aplicação da pena de morte. No entanto, o Brasil depositou o Instrumento de Ratificação com a aposição de reserva no que diz respeito ao direito de aplicar a pena de morte em tempo de guerra, de acordo com o Direito Internacional, por delitos sumamente graves de caráter militar,
4. Convenção interamericana para prevenir a Tortura
Direitos das pessoas vítimas de tortura: direito de ser examinada de maneira imparcial; direito à compensação adequada.
5. Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher (Convenção de Belém do Pará) 
Direito de toda mulher ser livre de violência, tanto na esfera pública quanto privada, o que inclui o direito de ser livre de toda forma de discriminação e o direito de ser valorizada e educada livre de padrões estereotipados e comportamento e práticas sociais e culturais baseadas em conceitos de inferioridade ou subordinação; Direito ao reconhecimento, gozo, exercício e proteção de todos os direitos humanos e às liberdades consagradas pelos instrumentos regionais e internacionais sobre direitos humanos, os quais compreendem: o direito a que se respeite sua vida e sua integridade física, psíquica e moral; o direito à liberdade e à segurança pessoais; o direito a não ser submetida a torturas; o direito a que se respeite a dignidade inerente a sua pessoa e que se proteja sua família; o direito à igualdade de proteção perante a lei e da lei; o direito a um recurso simples e rápido diante dos tribunais competentes, que a ampare contra atos que violem seus direitos; o direito à liberdade de associação; o direito à liberdade de professar a religião e as próprias crenças, de acordo com a lei; e o direito de ter igualdade de acesso às funções públicas de seu país e a participar nos assuntos públicos, incluindo a tomada de decisões.
6. Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência
Impõe aos Estados Partes o deve de tomar as medidas de caráter legislativo, social, educacional, trabalhista, ou de qualquer outra natureza, que sejam necessárias para eliminar a discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência e proporcionar a sua plena integração à sociedade, entre as quais promover a integração na prestação ou fornecimento de bens, serviços, instalações, programas e atividades, tais como o emprego, o transporte, as comunicações, a habitação, o lazer, a educação, o esporte, o acesso à justiça e aos serviços policiais e as atividades políticas e de administração; eliminar, na medida do possível, os obstáculos arquitetônicos, de transporte e comunicações que existam, com a finalidade de facilitar o acesso e uso por parte das pessoas portadoras de deficiência.
7. Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado
Os Estados Partes firmaram o compromisso de: a) não praticar, nem permitir, nem tolerar o desaparecimento forçado de pessoas, nem mesmo em estado de emergência, exceção ou suspensão de garantias individuais; b) punir, no âmbito de sua jurisdição, os autores, cúmplices e encobridores do delito do desaparecimento forçado de pessoas, bem como da tentativa de prática do mesmo; c) cooperar entre si a fim de contribuir para a prevenção, punição e erradicação do desaparecimento forçado de pessoas; e d) tomar as medidas de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de qualquer outra natureza que sejam necessárias para cumprir os compromissos assumidos em decorrência da referida convenção.
Vale ressaltar que o Brasil já foi condenado pela Corte IDH em decorrência do desaparecimento forçado de pessoas no Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”).
8. Carta Democrática Interamericana
A CDI é valioso instrumento para a interpretação do direito à democracia e dos direitos políticos. O principal propósito desse instrumento interamericano é fortalecer e preservar as instituições democráticas dos Estados das Américas. A Carta define os elementos essenciais da democracia e sua relação com o desenvolvimento integral e o combate à pobreza. Também estabelece como a democracia deve ser defendida quando está sob ameaça. Além disso, promove uma cultura democrática e a organização de missões de observação eleitoral.
9. Carta Social das Américas Direitos sociais
Direitos sociais. Há reafirmação pelos Estados da OEA pela determinaçãoe compromisso de combater, com urgência, os graves problemas da pobreza, da exclusão social e da desigualdade, que afetam de maneiras distintas os países do Hemisfério; de enfrentar suas causas e consequências; e de criar condições mais favoráveis para o desenvolvimento econômico e social com igualdade, a fim de promover sociedades mais justas.
10. Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas 
Entre os principais direitos assegurados pela Convenção, estão: (i) Direito à vida digna na velhice; (ii) Direito à independência e à autonomia na tomada de suas decisões e na realização de seus atos em igualdade de condições com as demais pessoas, e não se veja obrigado a viver de acordo com um sistema de vida específico. (iii) Direito à participação e integração comunitária. (iv) Direito à saúde e consentimento livre e informado. (v) Direitos à seguridade social. (vi) Direito ao trabalho.
11. Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância
Direitos protegidos. A Convenção determina que todo ser humano é igual perante a lei e tem direito à proteção igualitária contra toda forma de discriminação e intolerância em qualquer âmbito da sua vida pública e privada. Nessa linha, todo ser humano tem o direito ao reconhecimento, gozo, exercício e proteção, em condições de igualdade, de todos os demais direitos e liberdades consagrados no direito nacional e internacional, tanto no âmbito individual quanto no coletivo.
12. Convenção Interamericana contra o Racismo, Discriminação Racial e Formas Conexas de Intolerância Direitos protegidos. 
Foi aprovado pelo rito do artigo 5º, 3º, da Constituição, de modo que possui status equivalente ao de emenda constitucional. A Convenção estipula que todo ser humano é igual perante a lei e tem o direito à idêntica proteção contra o racismo, a discriminação racial e formas conexas de intolerância em qualquer âmbito da vida pública e privada. Nessa linha, todo ser humano tem o direito ao reconhecimento, gozo, exercício e proteção, em condições de igualdade, de todos os demais direitos e liberdades consagrados no direito nacional e internacional, tanto no âmbito individual quanto no coletivo.
Há previsão expressa das ações afirmativas como sendo as medidas necessárias para assegurar o gozo ou exercício dos direitos e liberdades fundamentais das pessoas ou grupos sujeitos ao racismo, à discriminação racial e formas correlatas de intolerância, com o propósito de promover condições equitativas para a igualdade de oportunidades, inclusão e progresso para essas pessoas ou grupos. As ações afirmativas "não serão consideradas discriminatórias ou incompatíveis com o propósito ou objeto da Convenção, não resultarão na manutenção de direitos separados para grupos distintos e não se estenderão além de um período razoável ou após terem alcançado seu objetivo".
13. Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas
Direitos humanos e coletivos dos povos indígenas, gozo de todos os direitos humanos pelos indígenas, assim como dos direitos coletivos indispensáveis para a sua existência, bem-estar e desenvolvimento integral como povo; direitos das mulheres indígenas à proteção contra todas as formas de discriminação e violência; direito de expressão livre da sua identidade cultural, proibindo as tentativas externas de assimilação ou destruição da cultura indígena. Direito à educação a todas as crianças indígenas, sem discriminação em relação aos não indígenas, e a educação nos métodos culturais de aprendizagem indígena, inclusive em seus próprios idiomas. Direito à saúde indígena, o direito ao meio ambiente sadio. Direitos de organização e os direitos políticos. Direito dos indígenas sobre as terras e recursos que tradicionalmente ocupam e utilizam, bem como o reconhecimento das formas alternativas de propriedade, posse e domínio de terras. Direito de uma comunidade indígena manter-se em isolamento voluntário. Direitos trabalhistas dos indígenas, fixando a obrigação estatal de adotar medidas para eliminar práticas exploratórias e discriminatórias direitos ao desenvolvimento (político, social, econômico e cultural), à paz, à segurança e à proteção dos indígenas (limita-se a realização de atividades militares em territórios indígenas às situações de interesse público pertinente ou consentimento da parte).
14. Acordo de Escazú
Tratado celebrado sob os auspícios da ONU, mas restrito à celebração pelos países da América Latina e Caribe. Tem por objetivo assegurar a implementação plena e efetiva, na América Latina e no Caribe, de três direitos: (i) acesso à informação ambiental; (ii) participação pública nos processos de tomada de decisões ambientais; (iii) acesso à justiça em questões ambientais. A essência do documento é combater a desigualdade, a discriminação e garantir o direito a um ambiente saudável, especialmente em relação às pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade.
O Brasil ainda não ratificou, tendo apenas ratificado. Salienta-se que é o primeiro tratado que se refere expressamente às pessoas defensoras de direitos humanos, preocupando-se com sua segurança.
7C. Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas: composição, competências e funcionamento. Procedimentos especiais no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas: evolução histórica, trâmites, tipos de deliberações e efetividade.
Jéssica Flores Silva
Breve contextualização: Os Sistemas de Proteção dos Direitos Humanos surgem no contexto da internacionalização desses direitos. Existem duas espécies de Sistemas Internacionais: Sistema Global Onusiano (ONU) e os Sistemas Regionais (Europeu, Americano e Africano). Quanto ao sistema global, tem-se que a ONU é uma organização internacional multilateral e intergovernamental, tendo como objetivos a cooperação internacional, a manutenção da paz e a promoção e defesa de direitos, sendo composta por 6 órgãos internos, quais sejam: (1) Assembleia Geral; (2) Conselho de Segurança; (3) Conselho Econômico e Social (ECOSOC); (4) Conselho de Tutela (extinto); (5) Corte Internacional de Justiça; e (6) Secretariado.
	Especificamente em relação à proteção dos direitos humanos, o conjunto de mecanismos de proteção geridos tanto por órgãos onusianos quanto por órgãos previstos em tratados diversos apoiados pela ONU recebe o nome de “sistema global, onusiano ou universal de direitos humanos”. Dentro desse Sistema Onusiano, existem duas formas de tutela a proteção dos DH, os subsistemas Convencional e Extraconvencional. Os procedimentos convencionais distinguem-se dos procedimentos extraconvencionais, já que os primeiros obrigam os Estados contratantes, enquanto os procedimentos extraconvencionais buscam vincular os membros da ONU, sem o recurso a convenções específicas. 
	O ponto de união entre esses órgãos é a atuação da ONU, quer diretamente (por órgãos da própria organização) quer indiretamente (por órgãos independentes, previstos em tratados elaborados sob o patrocínio da ONU e recebem apoio técnico e administrativo daquela organização).
Em relação ao órgãos e entes internos da ONU voltados precipuamente à proteção dos direitos humanos, temos: (a) o Conselho de Direitos Humanos; (b) as Relatorias Especiais de Direitos Humanos; e (c) Alto Comissariado de Direitos Humanos. Por sua vez, são órgãos e entes externos, criados por tratados diversos elaborados com incentivo explícito da ONU e que recebem apoio da ONU: (a) Comitês criados por tratados internacionais de âmbito universal; e (b) Tribunal Penal Internacional.
No caso, vamos analisar especificamente o órgão mencionado no referido ponto, qual seja: O Conselho de Direitos Humanos.
	CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇOES UNIDAS: Até o ano de 2006, o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) era responsável pela Comissão de Direitos Humanos. Com o advento da Resolução 60/251, a Comissão foi extinta, sendo substituída pelo Conselho de Direitos Humanos, agora vinculado à Assembleia Geral. Ele é considerado o principalórgão de proteção dos DH no sistema onusiano. 
	Composição: O Conselho de Direitos Humanos é composto por 47 Estados-membros. A admissão dos novos membros ao Conselho de Direitos Humanos é regrada pela Resolução n. 60/251 da Assembleia Geral da ONU (criadora do Conselho), que, em seus §§ 7º, 8º e 9º, determina que o órgão deve contar com 47 membros, eleitos de modo direto e individualmente por voto secreto da Assembleia Geral, devendo ter representantes de várias regiões do globo (grupo dos Estados africanos – 13; dos Estados asiáticos – 13; da Europa do Leste – 6; da América Latina e Caribe – 8; da Europa Ocidental e outros Estados – 7).
A Resolução exige que sejam escolhidos membros comprometidos com a proteção de direitos humanos, ao mesmo tempo em que determina que os Estados eleitos sejam submetidos ao mecanismo da revisão universal periódica. Frise-se que, após a criação do Conselho, adotou-se o “Mecanismo de Revisão Periódica Universal”, que coexiste com os procedimentos especiais criados ainda na época da extinta Comissão de Direitos Humanos.
Também foi fixada possível sanção aos eleitos, por meio da suspensão do mandato de membro pela prática de grave e sistemática violação de direitos humanos, por votação da Assembleia Geral com maioria de 2/3 (dois terços). Essa suspensão foi posta em prática pela primeira vez em março de 2011, com a suspensão da Líbia por votação unânime da Assembleia Geral, em virtude da repressão sangrenta aos opositores da ditadura de Kadafi.
Competências: São competências do Conselho de Direitos Humanos da ONU promover e fiscalizar a observância da proteção de direitos humanos pelos Estados membros da ONU, assim como gerir o sistema dos procedimentos especiais e o mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU).
Funcionamento: O funcionamento do Conselho de Direitos humanos se dá com promoção e fiscalização da observância da proteção de direitos humanos pelos Estados membros da ONU, que se concretiza por dois meios principais: os Procedimentos Especiais e a Revisão Periódica Universal (RPU).
Comissão de DH vs. Conselho de Direitos humanos: Não confundir! O Comitê de Direitos Humanos da ONU existe desde 1976, e surgiu com o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP). Por sua vez, o Conselho de Direitos Humanos, como visto, está vinculado à Assembleia Geral, e surgiu em 2006 com o advento da Resolução 60/251, substituindo a Comissão então extinta.
	PROCEDIMENTOS ESPECIAIS NO ÂMBITO DO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS: Inicialmente, insta registrar que os procedimentos especiais no âmbito da ONU são mecanismos do subsistema extraconvencional, ou seja, não estão assentados em tratados, decorrendo de práticas e costumes internacionais, e regulamentado por atos normativos (ex: Resoluções). Os dois procedimentos desse mecanismo são: “procedimento 1.235” e o “procedimento 1.503”, que serão analisados a seguir.
	Evolução histórica: A primeira etapa do histórico de desenvolvimento dos mecanismos extraconvencionais é marcada pela aprovação da Resolução n. 1.235 do Conselho Econômico e Social (1.967). Por meio dessa Resolução, o Conselho autorizou a Comissão de Direitos Humanos (hoje extinta) a debater em público as violações notórias e sistemáticas de direitos humanos e liberdades fundamentais em países em que existiam políticas oficiais de dominação colonial, discriminação racial e de apartheid. Nasceu, então, o chamado “procedimento 1.235”, inicialmente criado para regular uma situação específica de violação de direitos humanos: dicriminação racial e apartheid. Nesse procedimento, cabia à Comissão de Direitos Humanos a decisão de estabelecer ou não um órgão especial de investigação da pretensa situação de violação sistemática dos direitos humanos.
A segunda etapa foi marcada pela edição da Resolução n. 1.503 do Conselho Econômico e Social (1.970), que introduziu um outro mecanismo extraconvencional, procedimento este confidencial de recepção e processamento de comunicações individuais submetidas a condições de admissibilidade. Ao contrário de seu precursor, o procedimento 1503 não é público, mas sim confidencial – o que significa que, do momento em que as petições individuais denunciando violações sistemáticas são admitidas pelo Conselho de Direitos Humanos, quando tem início o procedimento, até “a divulgação [...] dos nomes dos Estados que estavam sendo examinados e dos nomes dos Estados cuja situação deixou de ser analisada”, todo o procedimento ocorre sem que lhe seja dada qualquer publicidade.
Assim, a diferença marcante (além da publicidade e outros quesitos procedimentais) entre o “procedimento 1.235” e o “procedimento 1.503” era que a iniciativa da abertura do primeiro advinha dos representantes da Comissão de Direitos Humanos; já no segundo caso eram petições individuais que levavam ao início do procedimento.
A terceira etapa da evolução dos mecanismos extraconvencionais foi a fase da ampliação do alcance do "procedimento 1.235", com a criação de grupos ad hoc a partir de 1975, encarregados de investigar a situação de direitos humanos em determinados países. A Comissão, então, passou a criar órgãos especiais de investigação de caráter geográfico para estudar situações de violações graves e maciças de direitos humanos, sem que houvesse qualquer vínculo com o tema da colonização e do apartheid. Assim, surgiram os procedimentos esepciais a partir do “procedimento 1.235”, em razão da aceitação pelos Estados da investigação da Comissão de qualquer situação de ofensa maciça e sistemática de direitos humanos. 
A quarta etapa iniciou-se em 1980, quando a Comissão de Direitos Humanos incorporou outra novidade no "procedimento 1.235", que foi a criação de órgãos especiais de investigação por temas específicos. Os Grupos especiais de estudos, quer geográficos ou temáticos, eram compostos de diferentes maneiras: relatores especiais, grupos de trabalho, grupos de especialistas independentes e mesmo a própria figura do Secretário-Geral da ONU como relator privilegiado da situação de direitos humanos de determinado país. Os relatores especiais têm a incumbência de investigar situações de violação de direitos humanos, efetuar visitas in loco (com a anuência do Estado), bem como elaborar relatórios finais contendo recomendações de ações aos Estados.
Em uma quinta etapa de evolução, esses mecanismos extraconvencionais desembocaram na possibilidade da Comissão de Direitos Humanos aceitar petições individuais e solicitar que o Estado efetuasse reparação a título humanitário. 
Finalmente, a partir de 1991, desenvolveu-se um novo avanço nos mecanismos extraconvencionais que buscavam, agora, a responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos de indivíduos específicos. É o caso do Grupo de Trabalho sobre a Prisão ou Detenção arbitrária, que chegou a adotar decisões que redundavam em figuras próximas à do habeas corpus internacional.
OBS: A crescente opção pelo procedimento ostensivo e público, em detrimento do procedimento confidencial do “1.503”, acabou aumentando a sensação de arbitrariedade e condenações seletivas entre os Estados, o que redundou na extinção da Comissão de Direitos Humanos em 2006. Com a extinção da Comissão, a conclusão do procedimento atualizado em 2.007 foi mantida em seus aspectos principais. Caso o Estado não cumpra as recomendações do Conselho, este pode eliminar a confidencialidade do procedimento, tratando-o em sessão pública.
Trâmites: Será analisado separadamente o trâmite dos procedimentos “1.235” (e os procedimentos especiais dele decorrentes) e “1.503”.
"Procedimento 1.235”: O procedimento 1235 (e os dele decorrentes) tem caráter público, baseando-se na análise, realizada pelo Conselho de Direitos Humanos (antes pela extinta Comissão), de informações que denunciem quadros sistemáticos de violação (inclusive por meio de petições individuais). Com base nessas informações, o Conselho pode tanto realizar debates anuais, nos quais podem tomar parte desde governos até ONGs de direitos humanos, comoanalisar casos específicos – para o que contará com o auxílio de um órgão especial de averiguação, que pode ser unipessoal (relatoria especial) ou coletivo (grupo de trabalho), e cujos encargos são basicamente “investigar situações de direitos humanos, efetuar visitas in loco (com a anuência do Estado), bem como elaborar relatórios finais contendo recomendações de ações aos Estado”.
OBS: O Brasil recebe constantemente a visita de Relatores Especiais, uma vez que fez um convite permanente a todos esses especialistas de direitos humanos, que podem, então, fazer inspeções in loco sem que tenham de receber uma aprovação prévia do Estado brasileiro. Em 2011, o Conselho de Direitos Humanos aprovou a designação de uma Relatoria Especial sobre a situação de violação de direitos humanos no Irã, com o voto favorável do Brasil, o que demonstra que os procedimentos especiais ainda têm espaço e utilidade.
“Procedimento 1.503”: Seu funcionamento tem início com o oferecimento de uma petição individual, que se submete aos devidos critérios de admissibilidade, denunciando um quadro de violação sistemática de direitos humanos. Outra diferença para o procedimento público é que, enquanto o procedimento 1.235, embora informado por petição individual, só tem início quando o Conselho resolve agir, o procedimento 1.503 tem início tão logo a petição seja admitida. 
A análise de admissibilidade das petições é realizada pelo Grupo de Trabalho sobre Comunicações – integrado por 5 membros do Comitê Consultivo do Conselho. Uma vez admitidas, as petições são enviadas a outro grupo de trabalho, o Grupo de Trabalho sobre Situações, a quem caberá, sempre de maneira justificada, decidir pela adoção de uma de três medidas seguintes: submeter os casos ao Conselho, requerer informações adicionais junto ao Grupo de Trabalho sobre Comunicações ou simplesmente desclassificar a petição. Nos casos em que decidir submeter o caso ao Conselho, o Grupo de Trabalho sobre situações recomendará as medidas que entender necessárias para o enfrentamento do problema, normalmente sob a forma de uma proposta de resolução.
Por fim, no Conselho de Direitos Humanos, após os devidos esclarecimentos por parte do Estado denunciado, adotar-se-á uma das medidas arroladas no art. 109 do texto adotado pela Resolução: a suspensão do procedimento; a continuidade do procedimento com o pedido de mais informações ao Estado requerido; a continuidade do procedimento com a nomeação de um expert para monitorar o problema; a transformação do procedimento confidencial em público; e a recomendação ao Alto Comissariado para Direitos Humanos para que ofereça cooperação técnica ao Estado requerido.
Tipos de deliberação: Em relação à obrigatoriedade do acatamento das deliberações internacionais de proteção de direitos humanos, cabe, em primeiro lugar, diferenciar as principais espécies de deliberações internacionais resultantes dos processos de responsabilidade internacional do Estado e suas características. Nesse sentido, é possível classificar os produtos nascidos dos procedimentos de responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos em: (a) recomendação; (b) decisões quase judiciais; e (c) decisão judicial. Essa classificação tem o objetivo de clarificar a obrigatoriedade e a consequente executoriedade das deliberações internacionais lato sensu em face dos Estados.
No que se refere aos mecanismos extraconvencionais de proteção de direitos humanos (que são os procedimentos especiais aqui estudados nesse ponto e a RPU, estudada no ponto 9.a), o tipo de deliberação pertinente é a recomendação, que consiste, em síntese, em uma opinião não vinculante de órgão internacional de direitos humanos, fruto da existência de obrigação internacional de monitoramento e supervisão dos direitos protegidos. Referida recomendação pode originar-se do estudo de determinada situação ou tema por um grupo de trabalho ou da análise de casos individuais.
Efetividade das deliberações: É marcante a posição de alguns autores que defendem o caráter não vinculante dessas recomendações, com base na sua origem extraconvencional. Nessa linha, assentam que os Estados só concordam com os mecanismos extraconvencionais se os resultados não forem obrigatórios, devendo tais conclusões convencer os Estados e pressioná-los pelo poder de embaraço e pelo peso da opinião pública. Assim, a natureza jurídica dessas deliberações dos mecanismos extraconvencionais seria a de mero conselho ou exortação.
Contudo, ACR aponta existir divergência sobre se a prática atual dos Estados criou (ou não) um costume internacional de cumprimento das recomendações oriundas dos mecanismos extraconvencionais. De todo modo, André de Carvalho Ramos ressalta um fator complicador acerca de eventual vinculatividade das recomendações, consistente em serem exaradas por um órgão intergovernamental, o que ocasiona os perigos de seletividade e de "double standard". Assim, conclui que os mecanismos quase judiciais e judiciais, por contarem com órgãos imparciais e técnicos de análise de pretensas violações de direitos humanos, são as alteranativas mais efetivas de proteção aos direitos humanos.
Por fim, ACR ressalta que, apesar da falta de força vinculação dessas recomendações, há importante efeito jurídico indireto, que é o seu uso como prova para outro procedimento de julgamento interancional do Estado, que acarreta a submissão do Estado à recomendação porventura ignorada. Assim, por exemplo, tem-se buscado pela efetividade de deliberações, por exemplo, por meio da provocação do Conselho de Segurança. Essa provocação tem contribuído para o redirecionamento atual das decisões do Conselho de Segurança (tomadas com base em seu poder vinculante estabelecido na Carta) em prol da proteção de direitos humanos. 
A esse respeito, cite-se o caso da ex-Iugoslávia, no qual a antiga Comissão de Direitos Humanos solicitou ao Relator especial do caso que reunisse o maior número de evidências sobre a violação de direitos humanos na região. O Conselho de Segurança manifestou-se com a edição da Resolução 808, que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional de Haia para os crimes contra o Direito Humanitário cometidos na ex- Iugoslávia, mostrando um importante efeito do procedimento extraconvencional.
8B. O sistema de relatórios periódicos nos tratados multilaterais de direitos humanos de âmbito global. O conteúdo das observações gerais dos Comitês criados por tratados multilaterais de direitos humanos.
Atualizado por Renata Souza
Material base: Graal do 29º CPR (Camila Lauton).
Fontes utilizadas para atualização: Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos de Caio Paiva e Thimotie Heemann (3ª edição – 2020); Processo Internacional de Direitos Humanos de André de Carvalho Ramos (7ª edição – 2022). 
 
O SISTEMA DE RELATÓRIOS PERIÓDICOS NOS TRATADOS MULTILATERAIS DE DIREITOS HUMANOS DE ÂMBITO GLOBAL. 
O sistema de monitoramento multilateral de direitos humanos (special enforcement machinery) consiste em variados procedimentos de verificação, investigação e combate às ofensas a esses direitos. Estes mecanismos convencionais estão previstos para vários Comitês específicos de defesa dos direitos humanos. Um exemplo é o Comitê de Direitos Humanos do PIDCP. Compõe o chamado sistema vertical de proteção, tendo em vista que a responsabilidade de efetuar o monitoramento é atribuída a órgãos internacionais. Segunda PIOVESAN (2011, 222), “por meio de relatórios periódicos (reports), o Estado-parte esclarece o modo pelo qual está conferindo cumprimento às obrigações internacionais assumidas”. Os Comitês (treaty bodies) analisam os relatórios e tecem comentários e observações gerais a respeito, para, conforme o caso, submeter a outra instância. O princípio informador do sistema de relatórios é o da cooperação internacional e a busca de evolução na proteção de direitos humanos, baseado no consenso entre o Estado e o órgão internacional. É uma obrigação internacional assumida nos big nine.
Mecanismos de apuração no sistema global podem ser: (a) convencional– obrigações assumidas pela assinatura de tratados. Divide-se em (a.1) não contencioso; (a.2) quase judicial; (a.3) judicial/contencioso. (b) não convencional – obrigações originadas de resoluções da ONU. 
	O sistema de relatórios periódicos é o principal mecanismo convencional não contencioso por meio do qual os Estados comprometem-se a enviar informes relatando o (des)respeito aos direitos humanos. Tais informes são analisados por especialistas independentes. Baseia-se na ocorrência de um diálogo entre o especialista e o estado. 
Os “Big Nine”. A entrega de relatórios periódicos encontra-se prevista em 9 relevantes tratados de proteção aos direitos humanos: 1) Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação; 2) PIDCP; 3) PIDESC; 4) Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher; 5) Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes; 6) Convenção de Direitos da Criança; 7) Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência; 8) Convenção Internacional para a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e suas Famílias; 9) Convenção para a proteção de todas as pessoas contra desaparecimentos forçados.
	O sistema de relatórios possibilita uma supervisão geral da obrigação internacional primária de respeito aos direitos humanos. 
	Os Treaty Bodies são os comitês que realizam o controle dos relatórios periódicos. Um exemplo de Treaty Body, é o Comitê de Direitos Humanos que zela pelo cumprimento do PIDCP e seus dois protocolos facultativos. Todas as nove convenções acima mencionadas possuem um Comitê para monitoramento. Os Comitês possuem apoio administrativo do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. 
	A periodicidade com que os relatórios são apresentados pelos estados varia. Em média os informes são solicitados a cada 3 ou 4 anos, sendo comum a previsão do prazo de 01 ano para apresentação do informe inicial.
Procedimento de análise dos informes enviados pelos estados: Nomeia-se um relator que formulará as perguntas iniciais à delegação do estado, durante a apresentação formal do informe ao comitê em sessão especialmente designada para tanto. Após, deve haver um momento de diálogo entre as partes com fito de estabelecer medidas a serem tomadas para cessar a situação de desrespeito aos direitos humanos. Um diálogo construtivo entre as partes permite ao Especialista encarregado de elaborar o relatório observações finais mais críticas. Após os debates são adotadas as observações finais, que contêm a análise crítica do informe estatal, mencionando as recomendações e ações que devem ser adotadas para resolver os problemas encontrados. Nos informes posteriores há uma cobrança aos Estados sobre o que foi feito em prol de determinada questão, gerando a desconfortável posição de se justificar pelo descumprimento das recomendações do Comitê. As observações finais do Comitê são dirigidas à Assembleia Geral da ONU.
	Informações extra-estatais recebidas pelos Comitês: Os Comitês recebem ainda informações de órgãos internacionais que possuem índices indicativos de situações abusivas de direitos humanos, tais como a Organização Internacional do Trabalho, a OMS, o Banco Mundial. Há ainda o acesso a informações “não oficiais”, no sentido de que não emanam do Estado, mas sim da sociedade civil, que pode formular suas observações e relatos. São os denominados relatórios sombra (shadow report). 
	Importância dos relatórios sombra: evitam o oficialismo e a parcialidade estatal. Podem fazer sugestões de medidas a serem adotadas. O Brasil, por exemplo, inclui em suas delegações perante cada Comitê representantes do governo e de organizações não governamentais, conferindo representatividade a sociedade civil. 
	E no caso em que um Estado não presta os informes que se comprometeu? Os Comitês adotam um procedimento especial para tais casos, evitando que a falta de informes seja um obstáculo para a emissão de um informe com recomendação. 
	Dentre as funções dos Comitês encontra-se, ainda, a elaboração de comentários/observações sobre a interpretação dos direitos protegidos. Tais observações constituem “repertório precioso” sobre o alcance e o sentido das normas de direitos humanos. 
	Relevância da atividade dos Comitês: a atividade dos Comitês constitui um avanço na proteção dos direitos humanos, na medida em que combate as interpretações nacionalistas dadas por muitos Estados aos tratados internacionais, colaborando para o universalismo implícito no Direito Internacional dos Direitos Humanos. Muitos Estados ainda alegam o artigo 31 e seguintes da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, alegando ser monopólio dos Estados a interpretação de normas convencionais. Tais alegações não podem ser admitidas quando estão em jogo violações a direitos humanos.
	Críticas ao sistema de relatórios: (1) Pouca flexibilidade para combater situações de emergência de violações de direitos humanos. Alguns Comitês realizam investigações in loco, o que ajuda a abrandar. Existem também procedimentos preventivos, como o sistema de alerta rápido e o procedimento de urgência. Em 2010, por exemplo, o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial enviou carta ao governo brasileiro demonstrando preocupação com a situação da demarcação da terra indígena. (2) Concentração das informações nas mãos do Estado. Acima já foram explanados mecanismos que ajudam a minorar esta crítica: relatórios sombra, participação da sociedade civil organizada durante as reuniões dos Comitês. (3) A existência de múltiplos Comitês pode levar a emissão de relatórios e recomendações contraditórios entre si ou “suicidas”, o que acaba por enfraquecer o mecanismo. A ausência de força vinculante das recomendações ameniza esse problema. (4) Principal crítica – atenção: a ausência de um sistema mais efetivo de responsabilização internacional do Estado, já que o sistema convencional não contencioso se baseia no diálogo e na implementação voluntária dos direitos protegidos. A ausência de força vinculante das recomendações lhes confere pouca repercussão das observações formuladas.
Extra: Pode citar a prática do Comitê contra a Tortura que inova ao prever uma investigação ex officio e confidencial sobre o respeito às obrigações da Convenção. Em 2005 o Comitê visitou o Brasil para investigar o quadro sistemático de tortura especialmente no sistema prisional. O Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura estabelece um sistema regular de visitas efetuadas por órgãos nacionais e internacionais independentes. Para tanto formou-se um Subcomitê formado por 25 especialistas. Em 2013 o Brasil aprovou o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (lei n. 12.847/2013). 
Importância do mecanismo convencional não contencioso: (1) Prevenir violações e forçar os Estados a dirigirem esforços à concretização de políticas internas de defesa dos direitos humanos; (2) Fornecer informações sobre a situação dos direitos humanos em um estado; (3) Como os relatórios dos Comitês são encaminhados à Assembleia Geral da ONU, esta pode editar resolução condenando o Estado por repetidas violações aos Direitos Humanos. Ou pode ainda acionar o Conselho de Segurança, que pode editar resoluções vinculantes para a preservação dos direitos humanos em nome da paz e segurança mundial (link com o ponto 8.a). 
O CONTEÚDO DAS OBSERVAÇÕES GERAIS DOS COMITÊS CRIADOS POR TRATADOS MULTILATERAIS DE DIREITOS HUMANOS. 
Sobre os comentários/observações gerais dos Comitês, Caio Paiva e Thimotie Heemann explicam: "Os comentários gerais, que inicialmente tinham como objetivo auxiliar os Estados na apresentação dos relatórios periódicos - apontando, por exemplo, como e quais informações deveriam ser incluídas -, depois evoluíram para um documento mais amplo, por meio dos quais os comitês passaram a emitir uma espécie de 'interpretação autêntica' sobre o conteúdo e o alcance das obrigações dos Estados em relação ao respectivo tratado".
	Abaixo há menção ao conteúdo de alguns dos comentários gerais.COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS: 
- Comentário Geral nº 26/1997: o PIDCP, diversamente da CADH (art. 78), não prevê nenhuma disposição sobre a sua denúncia pelos Estados Partes. Para o Comitê, a ausência de disposição sobre denúncia no PIDCP não consiste em mera inadvertência, mas sim a vontade deliberada dos Estados Partes no Pacto de não admitirem a sua denúncia, e isso porque quando o PIDCP quis admitir a retirada ou denúncia, ele assim o fez expressamente, como no art. 41.2, que prevê a retirada da aceitação da competência do Comitê para receber e analisar comunicações individuais e também o seu Primeiro Protocolo Facultativo, que expressamente admite denúncia.
- Comentário Geral nº 34/2011: trata sobre o art. 19 do PIDCP (liberdade de opinião e de expressão). Merece destaque o seguinte trecho: "(...) no debate público sobre figuras políticas e das instituições públicas é muito importante que a liberdade de expressão possa ser exercida sem inibições. Portanto, o simples fato de considerar que uma declaração insulta uma figura pública não basta para justificar a imposição de sanções, ainda que as personalidades públicas também possam se beneficiar das disposições do Pacto. Ademais, todas as figuras públicas, inclusive as que exercem os cargos políticos de maior importância, como os Chefes de Estado ou de Governo, podem ser objeto legítimo de críticas e oposição política. Consequentemente, o Comitê tem expressado a sua preocupação em relação a leis sobre questões como a lesa majestade, o desacato, a falta de respeito pela autoridade, a falta de respeito pelas bandeiras e pelos símbolos, a difamação do Chefe de Estado e a proteção da honra dos funcionários públicos. As leis não devem estabelecer penas mais severas segundo quem seja a pessoa criticada. Os Estados partes não devem proibir a crítica das instituições, como o Exército ou a administração."
- Comentário Geral nº 35/2014: versa sobre o art. 9º do PIDCP (liberdade e segurança pessoais). Sobre a definição de prisão arbitrária (art. 9.1), o Comitê esclareceu: "O conceito de 'arbitrariedade' não deve ser equiparado com o de 'contrário à lei', mas sim deve ser interpretado de forma mais ampla, de modo que inclua considerações relacionadas com a inadequação, a injustiça, a imprevisibilidade e as devidas garantias processuais, além de considerações relacionadas com a razoabilidade, a necessidade e a proporcionalidade. Por exemplo, a prisão preventiva pela imputação de um crime deverá ser razoável e necessária em toda circunstância. Salvo no caso de sentenças condenatórias impostas judicialmente por um período determinado, a decisão de manter alguém em qualquer forma de prisão é arbitrária se a sua justificação não é avaliada periodicamente.” Sobre o art. 9.3, analisando a expressão "sem demora” (Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade), o Comitê aduziu que: "Ainda que o significado exato de 'sem demora' possa variar em função das circunstâncias objetivas, os prazos não devem exceder alguns poucos dias desde o momento da detenção. No entendimento do Comitê, um prazo de 48 horas é normalmente suficiente para conduzir a pessoa e preparar a audiência judicial; todo prazo superior a 48 horas deverá obedecer a circunstâncias excepcionais e estar justificado por elas. (...) No caso dos menores deverá ser aplicado um prazo especialmente restrito, por exemplo de 24 horas."
- Comentário Geral nº 36/2017: trata sobre o direito à vida. Cabe destacar a seguinte passagem: "Ainda que os Estados partes possam adotar medidas destinadas a regulamentar a interrupção da gravidez, estas medidas não devem resultar na violação do direito à vida da mulher grávida ou de seus outros direitos em virtude do Pacto, como a proibição de tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes. Portanto, todas as restrições jurídicas que limitam a capacidade das mulheres para submeterem-se a um aborto não devem, entre outras coisas, colocar em perigo suas vidas nem expô-las a dores ou sofrimentos físicos ou psíquicos porquanto isso suporia uma violação do artigo 7º do Pacto. Os Estados partes devem facilitar um acesso seguro ao aborto para proteger a vida e a saúde das mulheres grávidas, e também nas situações em que levar a gravidez até o final causaria à mulher graves dores ou sofrimentos, sobretudo nos casos em que a gravidez é produto de violação ou incesto, ou quando o feto apresenta uma anomalia grave.”
COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS: 
- Comentário Geral nº 07/1997: trata sobre o direito à moradia adequada e os despejos forçados. O Comitê advertiu que os despejos forçados não devem expor as pessoas a ficarem sem moradia ou a violações de direitos humanos, cabendo aos Estados a adoção das medidas necessárias, na maior medida que permitam seus recursos, para que se proporcione outra moradia, reassentamento ou acesso a terras produtivas. 
- Comentário Geral nº 12/1999: trata sobre o direito à alimentação adequada. Segundo o Comitê: "(...) o direito a uma alimentação adequada está inseparavelmente vinculado à dignidade da pessoa humana e é indispensável para o desfrute de outros direitos humanos consagrados na Carta Internacional de Direitos Humanos. É também inseparável da justiça social, pois requer a adoção de políticas econômicas, ambientais e sociais adequadas, nos planos nacional e internacional, orientadas à erradicação da pobreza e ao desfrute de todos os direitos humanos por todos.” Foi, ainda, esclarecido que conceito básico do direito à alimentação adequada compreende: " a disponibilidade dos alimentos em quantidade e qualidade suficientes para satisfazer as necessidades alimentares dos indivíduos, sem substâncias nocivas, e aceitáveis para uma cultura determinada; e a acessibilidade desses alimentos em formas que sejam sustentáveis e que não dificultem o gozo de outros direitos humanos."
- Comentário Geral nº 22/2016: trata do direito à saúde sexual e reprodutiva. Sobre a discriminação sexual, o Comitê afirmou que: "(...) as normas que dispõem que as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais sejam tratadas como doentes mentais ou psiquiátricos, ou sejam 'curadas' mediante um 'tratamento', constituem uma clara violação do seu direito à saúde sexual e reprodutiva. Os Estados partes também têm a obrigação de combater a homofobia e a transfobia, que conduzem à discriminação, incluída a violação do direito à saúde sexual e reprodutiva".
- Comentário Geral nº 24/2017: trata das obrigações dos Estados em virtude do PIDESC no contexto de atividades empresariais. De acordo com o Comitê, o PIDESC estabelece obrigações concretas dos Estados Partes em três níveis no contexto das atividades empresariais potencialmente violadoras de direitos humanos: respeitar, proteger e dar efetividade. Sobre a obrigação de respeitar, o Comitê ressaltou que ela é violada quando os Estados Partes dão prioridade aos interesses das empresas em detrimento dos direitos protegidos pelo PIDESC sem a devida justificação ou quando aplicam políticas que afetem negativamente esses direitos. A obrigação de proteger significa, de acordo com o Comitê, que os Estados partes devem prevenir de maneira eficaz toda violação dos DESC no contexto das atividades empresariais, o que demanda dos Estados partes a adoção de medidas legislativas, administrativas, educativas e outras medidas adequadas para assegurar uma proteção eficaz contra as violações dos direitos previstos no PIDESC relacionadas às atividades empresariais. E sobre a obrigação de dar efetividade, o Comitê ressaltou que os Estados Partes devem adotar as medidas necessárias, até o máximo de seus recursos disponíveis, para facilitar e promover o desfrute dos direitos do Pacto e, em alguns casos, proporcionar diretamente os bens e serviços essenciais para esse desfrute. Para o Comitê, "O cumprimentoo Direito de uma minoria? Esta previsão se concretizou durante a 2ª Guerra, o que levou a uma ruptura com o paradigma Positivista, e favoreceu a internacionalização e reconstrução dos DH.
d. Séc. XX até hoje: a internacionalização se inicia se inicia a partir da Carta da ONU de 1945 e da DUDH-1948. O direito internacional dos DH tem grandes antecedentes históricos: proteção diplomática; luta por direitos específicos (ex. combate ao tráfico de escravos); direito das minorias; direito trabalhistas (criação da OIT). Porém, ACR destaca que são antecedentes, em geral, temáticos ou discriminatórios, e não tem nada a ver com a proteção internacional dos dias de hoje, consagrada, como dito, com a Carta da ONU e DUDH.
V. Destinatários da proteção e sujeitos passivos
Os DH, por definição, são direitos de todos os indivíduos, não importando origem, religião, grupo social ou político, orientação sexual e qualquer outro fator. Esse é o sentido do art. 5º da CF/88, que prevê que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Apesar disso, há ainda direitos referentes a determinada faceta da vida social que são titularizados somente por determinadas categorias de pessoas. Por ex., a CF/88 elenca direitos referentes às mulheres, aos idosos, aos povos indígenas, aos presos, aos condenados, aos cidadãos, aposentados, aos necessitados, entre outros. A igualdade é respeitada, pois esses direitos específicos visam atender situações especiais voltadas a tais categorias, consagrando a máxima de “tratar desigualmente os desiguais” como forma de se obter a igualdade material de todos.
Na jurisprudência brasileira, foi controvertida a extensão dos direitos previstos na Constituição a estrangeiros não residentes. A origem da polêmica está na redação do art. 5º, caput, da CF/88, que garante “aos brasileiros e estrangeiros residentes” os direitos elencados no rol desse artigo. A redação da Constituição reproduz a tradição constitucional brasileira desde a Constituição de 1891, com apego ao termo “estrangeiro residente”. Porém, os direitos previstos na Constituição são estendidos aos estrangeiros não residentes, uma vez que ela própria defende a dignidade humana (art. 1º, III) e ainda prevê os direitos decorrentes dos tratados celebrados pelo Brasil (art. 5º, §§ 2º e 3º). Nesse sentido, decidiu o STF que “ao estrangeiro, residente no exterior, também é assegurado o direito de impetrar mandado de segurança, como decorre da interpretação sistemática dos arts. 153, caput, da Emenda Constitucional de 1969 e do 5º, LXIX, da Constituição atual” (RE 215.267, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 24-4-2001,Primeira Turma, DJ de 25-5-2001). No mesmo sentido, decidiu o STF que “a condição jurídica de não nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso País não legitimam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. Precedentes” (HC 94.016, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 16-9-2008, Segunda Turma, DJE de 27-2-2009). Entendemos, nessa linha, que não pode o estrangeiro não residente sofrer discriminação na matrícula na educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade (art. 208, I) ou na prestação de saúde pública, que, conforme o texto constitucional, é universal e gratuita (art. 196), bem como na assistência jurídica integral gratuita.
A segunda polêmica referente aos destinatários da proteção está na possibilidade de pessoa jurídica de direito privado ser titular de direitos fundamentais. A resposta da jurisprudência é positiva, desde que o direito invocado tenha pertinência temática com a natureza da pessoa jurídica. Por exemplo, as pessoas jurídicas têm direito à imagem e a honra objetiva, acesso à justiça e até mesmo assistência jurídica gratuita. Nesse último caso, contudo, cabe à pessoa jurídica provar e não somente alegar a insuficiência de recursos. Nesse sentido decidiu o STF que “ao contrário do que ocorre relativamente às pessoas naturais, não basta a pessoa jurídica asseverar a insuficiência de recursos, devendo comprovar, isto sim, o fato de se encontrar em situação inviabilizadora da assunção dos ônus decorrentes do ingresso em juízo” (Rcl 1.905-ED-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 15-8-2002, Plenário, DJ de 20-9- 2002).
No campo tributário, as pessoas jurídicas têm direito ao tratamento tributário constitucional, inclusive quanto à anterioridade tributária que o STF considerou parte integrante dos direitos e garantias individuais, ou ainda ao sigilo fiscal (que,na visão do STF, decorre do direito à intimidade).
Há ainda direitos que são titularizados especificamente pelas pessoas jurídicas de direito privado, como as associações, que são mencionadas nos incisos XVII a XXI do art. 5º, ou os sindicatos no disposto do art. 8º e os partidos políticos no art. 17.
Também a pessoa jurídica de direito público pode utilizar as garantias fundamentais para sua proteção. Nesse sentido, decidiu o STF: “Não se deve negar aos Municípios, peremptoriamente, a titularidade de direitos fundamentais e a eventual possibilidade de impetração das ações constitucionais cabíveis para sua proteção.
O STJ tem admitido a possibilidade de pessoa jurídica de direito público ser indenizada por danos morais relacionados à violação da honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os demais jurisdicionados em geral for evidente. (REsp 1.722.423-RJ, julgado em 24/11/2020).
São ainda destinatários da proteção de direitos humanos os entes despersonalizados, que podem invocar determinados direitos pertinentes com sua situação (por exemplo, acesso à justiça) como as sociedades de fato, condomínio, espólio, massa falida e o nascituro.
Rothenburg menciona a discussão recente (e minoritária) sobre a titularidade de direitos fundamentais por outros seres vivos (fauna e flora), projetando a gramática dos direitos humanos para um paradigma biocêntrico ou ecocêntrico. Como exemplo, o citado autor menciona o art. 71 da Constituição do Equador (2008), que prevê expressamente que “a natureza ou Pacha Mama, onde a vida se reproduz, tem direito a que se respeitem integralmente sua existência e a manutenção e regeneração de seus ciclos vitais, estrutura, funções e processos evolutivos”. 
Quanto aos sujeitos passivos, o Estado é, em geral, o responsável pelo cumprimento dos direitos humanos, de todas as gerações ou dimensões. Entretanto, há ainda a invocação dos direitos humanos em face de particulares (eficácia horizontal e diagonal) e ainda em face da sociedade. A CF/88 expressamente menciona a família no polo passivo do direito à educação (art. 205), além do Estado, a sociedade no polo passivo do direito à seguridade (art. 195) e a coletividade, no polo passivo do direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225).
No sentido de reconhecer o dever de todos na proteção de direitos humanos, o STF decidiu que o uso do amianto pelos agentes econômicos viola os direitos à vida, à saúde e o direito ao meio ambiente equilibrado. Assim, na ADI 3937 e nas ADIs 3406 e 3470, o STF decidiu que são constitucionais as leis estaduais que proíbem ou estabelecem a progressiva substituiçãodo produto. Também foi declarada, incidentalmente, a inconstitucionalidade do art. 2º da lei federal que autorizava o uso do amianto (ADI 3.937, rel. p/ o ac. Min Dias Toffoli, j. 24-8-2017, P, Informativo 874, e também ADI 3.406 e ADI 3.470, rel. Min. Rosa Weber).
2C. Interpretação dos direitos humanos. Resolução de conflitos entre direitos humanos. Limitabilidade dos direitos humanos. Restrições dos direitos humanos e suas espécies. Conteúdo essencial dos direitos humanos.
Atualizado por Karen L L A e S Reus
I. Interpretação dos Direitos Humanos
Interpretação conforme os direitos humanos
Segundo ACR, consiste na escolha, pelo intérprete, quando a norma impugnada admite várias interpretações possíveis, de uma que a compatibilize com os direitos humanos. Com base nessa interpretação,destas obrigações pode exigir a mobilização de recursos pelo Estado, entre outras coisas, mediante a aplicação de sistemas de tributação progressiva. Pode requerer a cooperação e o apoio das empresas para aplicar os direitos reconhecidos no Pacto e observar outras normas e princípios de direitos humanos".
COMITÊ PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL: 
- Comentário Geral nº 23/1997: as disposições da Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial se aplicam aos povos indígenas.
- Comentário Geral nº 31/2005: os membros do Ministério Público devem ser lembrados do interesse geral no processamento de atos racistas, incluídos os crimes menores inspirados em motivações racistas, pois todo crime de motivação racista atenta contra a coesão social e contra toda a sociedade. 
- Comentário Geral nº 34/2011: nos dizeres do Comitê: "O racismo e a discriminação estrutural contra afrodescendentes, enraizados no infame regime da escravidão, se manifestam em situações de desigualdade que afetam a estas pessoas e que se refletem, entre outras coisas, no seguinte: o fato de que formem parte, junto com as populações indígenas, dos grupos mais pobres da população; suas baixas taxas de participação e representação nos processos político e institucionais de adoção de decisões; as dificuldades adicionais a que fazem frente ao acesso à educação, à qualidade desta e às possibilidades de concluí-la, o que faz com que a pobreza se transmita de geração em geração; o acesso desigual ao mercado de trabalho; o limitado reconhecimento social e a escassa valoração de sua diversidade étnica e cultural, e sua desproporcional presença na população carcerária."
COMITÊ CONTRA A TORTURA: 
- Comentário Geral nº 02/2008: destaca-se a afirmação de que a proibição da tortura é absoluta e imperativa, não admitindo nenhum tipo de relativização, nem mesmo em circunstâncias excepcionais. O Comitê rechaça toda justificação da tortura fundada em emergências, na religião ou na tradição. Ademais, as leis de anistia ou outros obstáculos que impedem a punição dos autores de atos de tortura ou maus tratos violam o caráter imperativo da proibição. O Comitê chamou a atenção dos Estados para que exerçam um controle sobre seus agentes e sobre quem atue em seu nome para detectar e informar ao Comitê sobre os casos de tortura, especialmente a aplicação de medidas de luta contra o terrorismo.
COMITÊ SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: 
	- Comentário Geral nº 02/2014: trata sobre acessibilidade. Neste Comentário, o Comitê teceu considerações sobre as distinções entre acessibilidade e ajustes razoáveis. Nesta linha, acessibilidade se relaciona com grupos de pessoas, enquanto que os ajustes razoáveis se referem a casos individuais; a obrigação de proporcionar acessibilidade é ex ante, ou seja, o Estado deve proporcionar a acessibilidade antes de receber um pedido individual para entrar em um lugar ou utilizar um serviço; as normas de acessibilidade devem ser amplas e uniformes; a obrigação de garantir acessibilidade é incondicional, ao contrário do dever de ajustes razoáveis, que somente existe se a aplicação não representa uma carga indevida para a entidade; a obrigação de realizar ajustes razoáveis é ex nunc, o que significa que somente surge a partir do momento em que uma pessoa com deficiência necessita numa determinada situação; com a introdução de ajustes razoáveis, se pretende fazer justiça individual. 
	- Comentário Geral nº 05/2017: o art. 19 da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência trata da vida independente e da inclusão na comunidade. Segundo o Comitê, respeitar os direitos das pessoas com deficiência contemplados no art. 19 significa que os Estados devem eliminar a institucionalização. Neste sentido, não devem construir novas instituições nem renovar as antigas além das medidas urgentes necessárias para proteger a segurança dos residentes. Os Estados não devem ampliar as instituições, não devem admitir novos residentes quando outros as abandonem e não devem estabelecer sistemas de vida satélite (que têm uma aparência de forma de vida individual, mas gravitam em torno das instituições).
	- Comentário Geral nº 07/2018: para o Comitê, as organizações de pessoas com deficiência somente podem ser dirigidas, administradas e governadas por pessoas com deficiência e a maioria de seus membros devem ser pessoas com deficiência.
COMITÊ PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER: 
- Comentário Geral nº 31/2014 (adotado em conjunto com o Comitê dos Direitos da Criança): trata sobre práticas nocivas. Merece destaque a reprovação, pelos Comitês, de algumas práticas concretas, como a mutilação genital feminina e o casamento em idade precoce. Os Comitês também reprovaram o tratamento jurídico-penal que Estados conferem aos crimes praticados contra as mulheres, geralmente considerando-os "crimes de honra", sem acarretarem uma consequência mais gravosa para seus autores.
- Comentário Geral nº 33/2015: trata sobre acesso das mulheres à justiça. De acordo com o Comitê: "Os estereótipos e os prejuízos de gênero no sistema judicial têm consequências de grande alcance para o pleno desfrute dos direitos humanos das mulheres. Podem impedir o acesso à justiça em todas as esferas da lei e podem afetar particularmente as mulheres vitimas e sobreviventes da violência. Os estereótipos distorcem as percepções e dão lugar a decisões baseadas em crenças pré-concebidas e mitos no lugar de fatos. Com frequência, os juízes adotam normas rígidas sobre o que consideram um comportamento apropriado da mulher e castigam as que não se ajustam a esses estereótipos. O estabelecimento de estereótipos afeta também a credibilidade das declarações, os argumentos e os depoimentos das mulheres, como partes e como testemunhas. Esses estereótipos podem fazer com que os juízes interpretem erroneamente as leis ou as apliquem de forma defeituosa. Isso tem consequências de grande alcance, por exemplo, no Direito Penal, uma vez que eles resultam em não responsabilizar legalmente os responsáveis pelas violações dos direitos das mulheres, mantendo assim uma cultura de impunidade. Em todas as esferas da lei, os estereótipos comprometem a imparcialidade e a integridade do sistema de justiça, que por sua vez pode dar lugar à denegação de justiça, incluída a revitimização das denunciantes. Os juízes e os árbitros não são os únicos agentes do sistema de justiça que aplicam, reforçam e perpetuam os estereótipos. Os membros do Ministério Público, os encarregados de fazer cumprir a lei e outros agentes muitas vezes permitem estereótipos para influenciar investigações e julgamentos, especialmente em casos de violência baseados no gênero, e deixar que os estereótipos anulem as denúncias das vítimas e, ao mesmo tempo, apoiem as defesas apresentadas pelo suposto violador. (...) A eliminação dos estereótipos judiciais nos sistemas de justiça é uma medida essencial para assegurar a igualdade e a justiça para as vítimas (...)"
	- Comentário Geral nº 37/2018: segundo o Comitê: "Embora a mudança climática tenha repercussões para todos, os mais vulneráveis a seus efeitos são os países e as populações que menos têm contribuído para ele, em particular as pessoas que vivem na pobreza, os jovens e as gerações futuras. As mulheres, as meninas, os homens e os meninos se veem afetados de forma diferente pela mudança climática e pelos desastres, e muitas mulheres e meninas enfrentam maiores riscos, problemas e repercussões. As situações de crises ampliam as desigualdades de gênero já existentes e agravam as formas interrelacionadas de discriminação, especialmente contra as mulheres que vivem na pobreza, as mulheres indígenas, as mulheres pertencentes a grupos minoritários étnicos, raciais, religiosos e sexuais, as mulheres com deficiência, as refugiadas e as solicitantes de asilo, as deslocadas internas, as apátridas e as migrantes, as mulheres das zonas rurais, as mulheres solteiras, as adolescentes e as mulheres idosas, que sofrem as consequênciasde forma desproporcional na comparação com os homens e outras mulheres".
COMITÊ PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DE TODOS OS TRABALHADORES MIGRANTES E DOS MEMBROS DE SUAS FAMÍLIAS:
- Comentário Geral nº 2/2013: trata sobre trabalhadores migrantes em situação irregular. De acordo com o Comitê, "(...) as expressões 'em situação irregular' ou 'não documentados' são a terminologia adequada que deve ser empregada para fazer referência à situação destes trabalhadores. O uso do termo 'ilegal' para descrever os trabalhadores migrantes em situação irregular é inadequado e deve ser evitado, já que tende a estigmatizá-los ao vinculá-los à delinquência.”
- Comentário Geral nº 4/2017 (adotado em conjunto com o Comitê dos Direitos da Criança): trata das obrigações dos Estados relativas aos direitos humanos das crianças no contexto da migração internacional nos países de origem, trânsito, destino e retorno. Destaca-se o trecho: "Toda criança, a todo momento, tem um direito fundamental à liberdade e a não ser detido como imigrante. (...) a detenção de qualquer criança pela situação de residência de seus pais constitui uma violação dos direitos da criança e contradiz o princípio do interesse superior desta. (...) nunca se deve prender crianças por razões relacionadas com sua situação migratória ou dos seus pais (...). A detenção de qualquer criança como imigrante deve estar proibida pela lei e esta proibição deve ser plenamente aplicada na prática"
COMITÊ PARA OS DIREITOS DA CRIANÇA:
- Comentário Geral nº 12/2009: versa sobre o direito da criança de ser escutada. Segundo o Comitê: "O artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança é uma disposição sem precedentes num tratado de direitos humanos; aponta a condição jurídica e social da criança, que, por um lado, carece da plena autonomia do adulto, mas, por outro, é sujeito de direitos. No parágrafo 1° se garante a toda criança que está em condições de formar um juízo próprio o direito de expressar sua opinião livremente em todos os assuntos que afetam a criança, levando-se devidamente em conta as opiniões da criança, em função da idade e maturidade da criança. O parágrafo 2° afirma, em particular, que deve se outorgar à criança o direito a ser escutado em todo procedimento judicial ou administrativo que o afete".
- Comentário Geral nº 14/2013: sobre o interesse superior da criança, o Comitê afirma: "(...) O objetivo do conceito de interesse superior da criança é garantir o desfrute pleno e efetivo de todos os direitos reconhecidos pela Convenção e o desenvolvimento holístico da criança. (...) O Comitê ressalta que o interesse superior da criança é um conceito triplo: a) Um direito substantivo: o direito da criança a que seu interesse superior seja uma consideração primordial que se analise e tenha em conta ao sopesar distintos interesses para tomar uma decisão sobre uma questão debatida, e a garantia de que esse direito será colocado em prática sempre que se tenha que adotar uma decisão que afete uma criança, um grupo de crianças concreto ou genérico ou as crianças em geral. O artigo 3°, parágrafo 1°, estabelece uma obrigação intrínseca para os Estados, sendo de aplicação direta (aplicabilidade imediata) e pode ser invocado perante os tribunais; b) Um princípio jurídico interpretativo fundamental: se uma disposição jurídica admite mais de uma interpretação, se escolherá a interpretação que satisfaça de maneira mais efetiva o interesse superior da criança. Os direitos consagrados na Convenção e nos Protocolos facultativos estabelecem o marco interpretativo; c) Uma norma de procedimento: sempre que se tenha que tomar uma decisão que afete uma criança em concreto, um grupo de crianças concreto ou as crianças em geral, o processo de adoção de decisões deverá incluir uma estimativa das possíveis repercussões (positivas ou negativas) da decisão para a criança ou para as crianças interessadas. A avaliação e a determinação do interesse superior da criança requerem garantias processuais. Ademais, a justificação das decisões deve deixar claro que se levou em conta explicitamente esse direito. Neste sentido, os Estados partes devem explicar como se têm respeitado esse direito na decisão (...).”
9A. A revisão periódica universal do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. A proteção de direitos humanos perante o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
Atualizado por Karen L L A S Reus
Graal do 29 por Thales Cavalcanti Coelho
Fontes utilizadas para atualização: Curso de Direitos Humanos – André de Carvalho Ramos (9ª edição – 2022); Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos - Caio Paiva e Thimotie Heemann (3ª edição – 2020); Processo Internacional de Direitos Humanos de André - Carvalho Ramos (7ª edição – 2022). 
1. A revisão periódica universal do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas
No bojo da criação do Conselho de Direitos Humanos em 2.006, foi criado o Mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU). A essência do RPU é o peer review – monitoramento pelos pares – pelo qual um Estado tem a sua situação de direitos humanos analisada pelos demais Estados da ONU e que, futuramente, poderá vir a substituir os “procedimentos especiais”[footnoteRef:13]. [13: Cf. PONTO “7.c. Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas: composição, competências e funcionamento. Procedimentos especiais no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas: evolução histórica, trâmites, tipos de deliberações e efetividade”.] 
	O RPU prevê que todos os Estados da ONU serão avaliados em períodos de quatro a cinco anos, evitando-se a seletividade e os parâmetros dúbios da escolha de um determinado país e não outro. O trâmite é simples e previsto no anexo da Resolução n. 5/1 do Conselho de Direitos Humanos (2.007). De início, cabe ao Estado a ser examinado apresentar um relatório nacional oficial ao Conselho de Direitos Humanos sobre a situação geral de direitos humanos em seu território. Após, apresenta-se uma compilação de todas as informações referentes a direitos humanos no Estado examinado, constantes dos procedimentos especiais do próprio Conselho de Direitos Humanos e demais órgãos internacionais de direitos humanos. Por fim, as organizações não governamentais e a instituição nacional de direitos humanos[footnoteRef:14] podem também apresentar informes e outros documentos relevantes, que serão resumidos por equipe do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. [14: As instituições nacionais de direitos humanos são, grosso modo, órgãos públicos nacionais que agem com independência, com a missão específica de proteger e promover os direitos humanos, recebendo notícias de violações, recomendando ações e políticas de implementação de direitos. Embora a composição e funções concretas de tais instituições possam variar consideravelmente de país para país, elas compartilham a (i) natureza pública, esse (ii) objetivo comum e essa (iii) característica de agir com independência, sendo por isso denominadas, no plano onusiano, “instituições nacionais de direitos humanos” (INDH). O Conselho Nacional de Direitos Humanos foi criado com o intento de ser a INDH brasileira. Contudo, tal qualificação ainda não foi atribuída pela ONU, e poderá sofrer resistências em razão da forte presença de membros indicados pelos Poderes Executivo e Legislativo, o que pode ser interpretado como contrário à exigência de “autonomia” e “independência funcional” dos conselheiros.] 
Depois, o Estado a ser examinado é questionado no Conselho de Direitos Humanos em relação à promoção dos direitos humanos constantes da Carta da ONU, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos tratados internacionais de direitos humanos eventualmente ratificados. Esse exame tem como peça-chave o “diálogo construtivo” entre o Estado sob revisão e outros Estados-membros da ONU (membros ou não do Conselho). 
Para tanto, é formado um Grupo de Trabalho capitaneado pelo Presidente do Conselho e composto pelos seus 47 Estados-membros.Todos os documentos sobre a situação de direitos humanos devem ser apreciados em reunião desse Grupo de Trabalho. Esse diálogo permite ao Estado examinado responder às dúvidas e ainda opinar sobre os comentários e sugestões dos demais Estados. Não há, então, condenação ou conclusões vinculantes. Busca-se a cooperação e adesão voluntária do Estado examinado.
Para sistematizar o exame, são nomeados pelo Conselho três Estados (escolhidos entre os diversos grupos regionais, por sorteio), que compõem um grupo conhecido como “troika” e que atuam como verdadeiros relatores da revisão periódica do Estado examinado. Cabe à troika resumir as discussões, elaborando o chamado Relatório de Resultado ou Relatório Final, fazendo constar um sumário dos passos tomados no exame, observações e sugestões dos Estados, bem como as respostas e eventuais “compromissos voluntários” do Estado examinado.
Esse relatório será apreciado pelo colegiado do Conselho de Direitos Humanos. O art. 27 do Anexo da Resolução n. 5/1 deixa claro que a RPU é um “mecanismo cooperativo”. Assim, o conteúdo do resultado do exame deverá conter uma avaliação objetiva e transparente da situação de direitos humanos do país, que inclua os avanços e desafios ainda existentes, bem como os compromissos voluntariamente aceitos pelo Estado examinado. O Brasil foi pioneiro na proposição de um novo mecanismo de exame da situação de direitos humanos na ONU e, na condição de membro da primeira composição do recém-criado Conselho, acatou ser submetido a exame já na primeira sessão do Conselho. 
No primeiro ciclo da RPU (2.008-2.011), a “troika” indicada foi composta por Gabão, Arábia Saudita e Suíça, que editou um Relatório de Resultado sobre o Brasil em maio de 2.008. Em 2.012 o Brasil foi submetido a nova revisão, no segundo ciclo da RPU (2.012-2.016), e a “troika” foi composta por Equador, Polônia e China. O Brasil recebeu 170 recomendações, das quais acatou integralmente 159, rejeitou uma e acatou parcialmente 10. Em 2.017, o Brasil foi submetido ao terceiro ciclo da RPU, que teve início em 2017 e fim em 2021, tendo sido escolhidos Quirguistão, El Salvador e Botsuana para atuar vomo relatores (troika).
ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS ressalta que não é difícil para o Estado avaliado apontar o cumprimento das recomendações, que são propositalmente feitas de modo genérico e programático. Assim, basta apontar a edição de uma lei ou mesmo um investimento para que recomendações do tipo “fazer esforços”, “promover”, “adotar medidas” sejam consideradas cumpridas. Por outro lado, quando um Estado faz uma recomendação direta, cujo cumprimento é de fácil aferição (tudo ou nada), basta que o Estado avaliado a recuse. Por exemplo, em 2.012, a Dinamarca fez recomendação do tipo direto ao Brasil (união das polícias civil e militar, gerando a desmilitarização do policiamento ostensivo), que a recusou.
O terceiro ciclo resultou na apresentação de 246 recomendações ao Brasil. Várias delas programáticas e genéricas, como a de adotar medidas para reformar o sistema prisional à luz dos direitos humanos – feita pela Itália, Namíbia, Argélia, Áustria, Santa Sé e Irlanda e há inclusive recomendação com potencial discriminatório, como a feita pela Santa Sé, que sugeriu ao Brasil que continuasse a proteger a “família natural e casamento formado por marido e esposa”.
O Brasil rejeitou 4 recomendações do terceiro ciclo: a da Santa Sé, Venezuela (duas referentes ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e ao congelamento de gastos por 20 anos da EC 95/16) e ainda a do Reino Unido (referente à adoção de critério transparente e meritocrático para seleção de candidatos nacionais para órgãos da ONU).
O resultado desse mecanismo, caso continuem a existir essas recomendações genéricas, sem maior atenção a dados objetivos e mensuráveis, tende a se restringir a fornecer um espaço político de visibilidade sobre a situação de direitos humanos em um determinado país, sem maiores consequências ao Estado avaliado.
2. A proteção de direitos humanos perante o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas
Em 1944, na célebre reunião de Dumbarton Oaks, foi concebido o sistema de segurança coletiva a ser utilizado no pós 2ª Guerra Mundial, visando ao fim da ameaça e do uso da força nas soluções de controvérsias entre Estados. Tal conceito não era novo e já havia sido ensaiado na antiga Liga das Nações: a paz internacional seria garantida por um colegiado de Estados, que reuniria, no mínimo, os países militarmente dominantes, os quais, em nome da comunidade dos Estados, interviriam para assegurar o respeito à paz mundial.
Esse sistema foi consagrado na Carta de São Francisco em 1945 e possuía como pressupostos o abandono do recurso à força pelos Estados (excetuando-se a legítima defesa) e a existência de uma autoridade internacional (a então recém-criada ONU), por intermédio de um órgão (o Conselho de Segurança), atuando como coordenador de um esforço militar internacional conjunto. O sistema contava com a capacidade do Conselho de Segurança em diferenciar atos legais e ilegais do uso da força armada, de averiguar se o ato ameaçaria a paz e segurança mundiais e de agir diante da constatação da situação. Para tanto, compunham o Conselho de Segurança, de modo permanente, as cinco potências vencedoras da 2ª Guerra Mundial (Estados Unidos, a então existente União Soviética, Reino Unido, França e China). Completava o sistema a exigência de ausência de oposição dos citados membros permanentes para que uma decisão de fundo do Conselho de Segurança fosse tomada. Tal exigência era de cunho prático: o chamado poder de veto daria efetividade às decisões do Conselho de Segurança, pois assegurava que nenhuma potência militar de respeito viesse a se opor às decisões do órgão.
A ação do Conselho de Segurança inclui-se no campo das sanções coletivas autorizadas como reação à violação de prévia obrigação internacional por parte de um Estado. Utiliza-se aqui a definição do projeto finalizado sobre responsabilidade internacional do Estado da Comissão de Direito Internacional, pelo qual o termo “contramedidas” é utilizado para as reações descentralizadas de Estados e o termo “sanção” no sentido estrito deve ser reservado para as reações centralizadas no seio de organizações internacionais.
A missão precípua do Conselho de Segurança é assegurar a paz e a segurança mundiais, editando resoluções vinculantes a todos os Estados membros da ONU. Resta saber se o Conselho de Segurança pode agir, com força vinculante, em casos de violações graves e sistemáticas de direitos humanos ocorridas no seio de um único Estado. O cerne da questão está em poder o Conselho de Segurança determinar quais violações de direitos humanos constituem uma ameaça à paz mundial. Para uma visão tradicional, como a de KELSEN, “é completamente da alçada discricionária do Conselho de Segurança decidir o que constitui uma ‘ameaça à paz’”. Como consequência dessa margem de apreciação discricionária do Conselho de Segurança da ONU, surge a possibilidade da análise, perante o Conselho de Segurança (CS) de um quadro interno de violações de direitos humanos, sendo vinculante a decisão final do procedimento do CS.
Fundamentando essa nova competência do Conselho de Segurança, parte da doutrina aceita a existência de atribuição implícita do Conselho nesse campo, de acordo com a Carta da Organização das Nações Unidas. Com efeito, RAMCHARAM cita o artigo 24.2, pelo qual o Conselho deve agir de acordo com os princípios da Carta, sendo que, entre estes princípios, consta a promoção do respeito aos direitos humanos. Logo, conclui o autor, a atuação do Conselho de Segurança diante de violações graves de direitos humanos é perfeitamente possível e em sintonia com os dispositivos fundadores da Organização das Nações Unidas.
Entretanto, a Carta da ONU não atribui diretamente ao Conselho de Segurança um papel ativo na proteção de direitos humanos. A promoção e proteção de direitos humanos é incumbência do Conselho Econômico e Social, da Assembleia Geral e do já extintoConselho de Tutela, como explicitamente mencionado nos artigos 13(1)b, 62(2) e 76(c), entre outros. 
Nesse ponto, a prática inicial do Conselho de Segurança não aceitava a inclusão da defesa de direitos humanos em sua pauta de ação. De fato, já no ano de 1963, a então existente União Soviética pleiteou providências do Conselho de Segurança para reprimir a política iraquiana de genocídio contra os curdos. O Conselho considerou a questão como sendo de âmbito interno do Estado iraquiano, assumindo seu papel de defensor apenas da paz e segurança internacionais, de acordo com o Capítulo VII da Carta da ONU.
As políticas de apartheid, no entanto, geraram ações do Conselho de Segurança na defesa de direitos humanos. O caso da Rodésia do Sul (atual Zimbábue) é considerado um marco, pois o Conselho não fez menção, como justificativa de sua ação em 1968 (determinando um embargo econômico generalizado ao regime da minoria branca daquele país) às ameaças à paz e segurança internacionais, mas sim, à existência de um regime odioso de discriminação racial. Porém, no curso da Guerra Fria, as resoluções do Conselho de Segurança contra os regimes de apartheid da Rodésia do Sul e da África do Sul são consideradas exceções (relativas apenas ao direito à autodeterminação dos povos) à sua prática de considerar a defesa de direitos humanos fora de sua esfera de competência.
Após o fim da Guerra Fria, contudo, iniciou-se uma nova fase para a ONU. A ação do Conselho de Segurança para a promoção de todos os direitos humanos protegidos internacionalmente passou a ser novamente discutida na doutrina e na prática daquele órgão. Desde então, o Conselho de Segurança editou várias resoluções em face de situações de violações de direitos humanos, considerando-as como ameaças à paz, de acordo com o artigo 39 da Carta. Segundo esse artigo, o Conselho de Segurança “determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas de acordo com os arts. 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais”. Essas resoluções, ao determinarem a existência de ameaça à paz, adotaram, de regra, medidas fundadas no citado artigo 41, mas poderiam ter inclusive imposto medidas armadas, de acordo com o artigo 42 da mesma Carta.
A análise das resoluções do Conselho de Segurança em face de violações de direitos humanos demonstra uma preocupação constante de associar as ações do Conselho com a defesa da “paz e segurança internacionais”. Essa preocupação relaciona-se com o medo de acusações de abuso de poder na nova ação do Conselho de Segurança. Nesse diapasão, o Conselho busca justificar sua ação com base na tradicional concepção de “paz e segurança internacionais”. Exemplo disso é a Resolução n. 688 do Conselho de Segurança relativa ao tratamento dado pelo Iraque à minoria curda. No preâmbulo da resolução, esclareceu o Conselho de Segurança que sua preocupação com a repressão estatal aos membros da citada minoria era justificada pela ameaça à paz mundial gerada pelo fluxo de refugiados. 
Já situações recentes de violações de direitos humanos podem ser vistas como situações de guerra civil, com graves consequências para a paz. Desse modo, até o momento, ocorreram repetidas ações do Conselho de Segurança no âmbito da responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos. Como exemplo, cite-se as diversas resoluções em relação ao Haiti, assolado por instabilidade política e desrespeito ao regime democrático. Essas resoluções foram justificadas na defesa do direito à autodeterminação do povo haitiano. Cite-se, ainda, as várias resoluções do Conselho de Segurança contendo medidas coercitivas de vários tipos, diante de violações de direitos humanos em diversos países, dentre as quais as tomadas contra os seguintes países: Iraque, República Federal da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro), Somália, Líbia e Libéria.
O Conselho constata a violação, declara o Estado infrator responsável por ela, determinando as consequências do ilícito. Estas medidas adotadas pelo Conselho de Segurança caracterizam-se pela diversidade: declaração de nulidade de ato estatal, imposição de embargo de armas, embargo de espaço aéreo, embargo comercial, autorização do uso da força e mesmo a criação de um tribunal internacional penal como consequência de violações maciças de direitos humanos.
Em 1992, o novo entendimento da atribuição do Conselho de Segurança na proteção de direitos humanos foi consagrado na Declaração da Presidência do Conselho de Segurança de 31 de janeiro, na qual foi admitido que a paz e a segurança internacionais podem ser ameaçadas por outros eventos, além do uso ou ameaça da força. Citou-se, entre outros, a possibilidade de eventos relacionados com a proteção de direitos humanos afetarem a paz e segurança internacionais, o que exigiria, então, a ação do Conselho de Segurança no uso de sua competência prevista no Capítulo VII da Carta da ONU. Nos termos da declaração do Conselho, “(...) A ausência de guerra e conflitos militares entre Estados não assegura por si só a paz e segurança internacionais. As fontes não militares de instabilidade nos campos econômico, social, humanitário e ambiental têm se transformado em ameaças para a paz e segurança. Os membros das Nações Unidas como um todo, trabalhando por meio dos órgãos apropriados, necessitam priorizar do modo mais elevado a busca pela solução nessas matérias”.
Apesar dessa declaração episódica, ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS afirma que não houve continuidade nem desenvolvimento uniforme de uma política estável de defesa de direitos humanos por meio da ação vinculante do Conselho de Segurança, que se mostra reticente em utilizar seu poder vinculante de modo constante diante de violações de direitos humanos. Para HOOGH, a indefinição do Conselho de Segurança é gritante, tornando nebulosa sua nova atuação na proteção de direitos humanos. Assim, até o momento, a prática do Conselho de Segurança é ambígua, revelando apenas o uso esporádico de sua competência na adoção de resoluções vinculantes diante de violações graves de direitos humanos.
O Conselho de Segurança e os Tribunais Penais Internacionais
Nos anos 90 do século passado, o Conselho de Segurança da ONU determinou a criação de dois TRIBUNAIS INTERNACIONAIS PENAIS AD HOC E TEMPORÁRIOS.
De início, foi criado, em 8 de maio de 1993, pela Resolução n. 827, o TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA OS CRIMES CONTRA O DIREITO HUMANITÁRIO COMETIDOS NA EX-IUGOSLÁVIA, com o objetivo de processar os responsáveis pelas sérias violações ao direito internacional humanitário cometidas no território da antiga Iugoslávia desde 1991. 
O Estatuto do Tribunal Internacional Penal para a ex- Iugoslávia (TPII, com sede em Haia) fixou sua competência para julgar quatro categorias de crimes, a saber: graves violações às Convenções de Genebra de 1949; violações às leis e costumes da guerra; crimes contra a humanidade e genocídio.
Em 1994, o Conselho de Segurança (CS) determinou a criação de um segundo tribunal internacional penal ad hoc, com o objetivo de julgar as graves violações de direitos humanos, em especial genocídio, ocorridas em Ruanda e países vizinhos durante o ano de 1994 (TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PARA OS CRIMES OCORRIDOS EM RUANDA – TPIR). 
Os dois tribunais têm estruturas vinculadas, pois o Procurador do TPII também atua como órgão acusatório no TPIR; os juízes que compõem a Câmara de Apelação do TPII são também do órgão de apelação do TPIR, que possui sede em Arusha (Tanzânia).
A competência do Conselho de Segurança para criar órgãos judiciais internacionais voltados para a punição de perpetradores de violações graves e sérias de direitos humanos foi questionada. 
De fato, já no primeiro caso submetido ao TPII (caso Tadic), a defesa pugnou pela nulidade de todo o processo, em virtude do ilegal estabelecimento do Tribunal, fruto da atuação ultra vires do CS em ofensa à Carta da ONU.
Para o TPII, a Carta das Nações Unidas não criou o Conselho de Segurançapara ser um princeps legibus solutus (acima da lei). Ainda, o TPII ressaltou a importância do artigo 41 da Carta, que permite que o Conselho de Segurança adote medidas sem envolver o emprego da força. 
No caso DARFUR, houve a primeira resolução do Conselho de Segurança, autorizando o TPI, por intermédio do seu Procurador, a iniciar a persecução dos crimes de guerra e crimes contra a humanidade praticados na região, mesmo contra a vontade do Sudão (o Sudão não ratificou o Estatuto de Roma).
Em 31 de março de 2005, o Conselho de Segurança aprovou a Resolução n. 1593 e, pela primeira vez, acionou o TPI por violações graves de direitos humanos e Direito Humanitário.
Comparando o art. 13, “b”, do Estatuto de Roma e a Carta das Nações Unidas, vê-se que a adjudicação de um caso ao TPI exige a seguinte construção: 1) que o CS identifique um quadro que ameace ou já tenha rompido a paz e segurança internacionais (em nome da responsabilidade primária do CS de manter a paz internacional, ex vi o artigo 24.1 da Carta da ONU); 2) o próprio artigo 13, “b”, exige uma “situação”, ou seja, exige que o CS identifique um quadro generalizado de violações que supere meras violações individuais de direitos humanos e 3) que o CS cumpra o princípio da complementaridade e aponte, justificadamente, a falta de vontade ou capacidade do Estado (no caso, Sudão) de investigar e punir os responsáveis pelos crimes em questão.
A luta contra o terrorismo no conselho de segurança e a proteção internacional de direitos humanos
Desde o final da década de 80 do século passado, o Conselho de Segurança (CS) possui posição firme vinculando os atos terroristas a ameaças à paz e segurança internacionais. 
Em 1999, o CS consagrou esse vínculo entre paz e combate ao terrorismo internacional em sua Resolução n. 1269, que tratou do tema em termos gerais e conclamou os Estados a agirem em conjunto sob sua supervisão para combater esses indivíduos e suas organizações. 
Os principais pontos para a atuação interestatal (mantidos até hoje) consistem em atividades de prevenção e supressão dos atos de terrorismo, por meio de sustação de seu financiamento, restrição de movimento dos suspeitos (inclusive atingindo a eventual concessão de refúgio político) e acesso a material sensível.
Foi criado o Comitê de Contraterrorismo (Counter-Terrorism Committee), composto por todos os membros do CS e encarregado de fiscalizar a implementação das medidas contra o terrorismo. O Comitê é composto por uma Diretoria Executiva (CTED), que implementa as decisões adotadas e orienta especialistas dos 193 Estados membros das Nações Unidas. Há, atualmente (2022), mais de 20 resoluções do Conselho de Segurança sobre o CTC e o CTED, tendo sido o mandato do CTED renovado até 2025 pela resolução 2.617 (2021) do Conselho de Segurança, Essa resolução destaca a importância do CTED para implementar as ações contra o terrorismo nas Nações Unidas.
ACR frisa que as violações de direitos humanos na luta antiterrorista são contraproducentes, pois alimentam o ódio, atingem invariavelmente inocentes e fornecem combustível para o discurso de que os terroristas e seus oponentes são todos iguais.
A “lista suja” do conselho de segurança e os direitos humanos: o Caso Sayadi e Vinck
Há dois alvos de sanções determinadas pelo CS: o primeiro alvo é Estado ou região e atinge indiscriminadamente todos naquela situação, como, por exemplo, a proibição de importar determinados bens ou víveres. Essas sanções têm o defeito de prejudicar os vulneráveis e não pressionam as elites dirigentes do Estado alvo, que contam com uma série de válvulas de escape (compras no mercado paralelo, contrabando puro e simples etc.).
Um segundo alvo da sanção é uma pessoa ou ente específico, como, por exemplo, o congelamento dos haveres em nome de Usama Bin Laden e empresas associadas. 
A força vinculante de tais medidas é plena, devendo todo Estado da ONU cumprir tais sanções, mesmo se, para tanto, tiver que desrespeitar outras normas internacionais. O artigo 103 da Carta da ONU elimina qualquer dúvida dos Estados: no conflito entre um dever perante a ONU e outra norma, o dever onusiano deve prevalecer.
Ocorre que as medidas vinculantes do Conselho de Segurança foram inicialmente planejadas para surtirem efeito nas relações interestatais. Os Estados alvos têm uma opção: cumprir o desejado pelo CS ou sofrer as sanções impostas.
Porém, o CS nada quer dos indivíduos, impondo a sanção apenas para prevenir ameaças à paz. Essas sanções a indivíduos consistem, em geral, em congelamento de haveres, apropriação e destinação de bens particulares para outrem e proibição de viajar para fora do país. 
Há atualmente diversos Comitês de Sanções estabelecidos pelo Conselho de Segurança, tais como: 1) Comitê de Sanções sobre o Estado Islâmico e Al-Qaeda; 2) Comitê de Sanções sobre o Iraque; 3) Comitê de Sanções sobre a República Democrática do Congo; 4) Comitê de Sanções sobre o Sudão; 5) Comitê de Sanções referente à Res. CS 1.636 (Líbano); 6) Comitê de Sanções sobre a Coreia do Norte (Res. CS 1.718); 7) Comitê de Sanções sobre a Líbia; 8) Comitê de Sanções referente à Res. CS 1.988 (sanções ao Talibã, Al-Qaeda, Estado Islâmico – originalmente impostas pela Res. CS 1.267 de 1999); 9) Comitê de Sanções sobre Guiné Bissau; Comitê de Sanções sobre a República Centro-Africana; 10) Comitê de Sanções sobre o Iêmen; 11) Comitê de Sanções sobre o Sudão do Sul; 12) Comitê de Sanções sobre o Mali; 13) Comitê de Sanções sobre o Irã.
Há uma diversidade de objetivos declarados pelo Conselho de Segurança: apoio à transição democrática, desestímulo a rupturas ilegítimas no governo, combate ao terrorismo, evitar proliferação nuclear e proteção de direitos humanos.
O caso símbolo da emergência da revisão pro homine das sanções a indivíduos ordenadas pelo CS foi o chamado CASO SAYADI E VINCK contra a Bélgica no Comitê de Direitos Humanos do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.
Esse caso refere-se a um casal belga, Nabil Sayadi e Patricia Vinck, casados e com 4 filhos, que eram membros da organização não governamental Fondation Secours Mondial, filial europeia da Global Relief Foundation, uma organização islâmica filantrópica atuante nos Estados Unidos e suspeita de envolvimento no financiamento da Al-Qaeda, e sofreram sanções pelo estado belga e pelo Comitê de sanções do Conselho de Segurança, de forma infundada, sendo posteriormente declarado pelo Comitê de Direitos Humanos do PIDCP a violação de direitos humanos do casal, que teve seus bens e liberdade restringidos de forma ilícita, pela inclusão indevida na lista suja.
O Brasil e o cumprimento das sanções a indivíduos impostas pelo conselho de segurança
Em geral, o cumprimento, no Brasil, das medidas vinculantes determinadas pelo Conselho de Segurança é realizado por intermédio da edição de decreto presidencial. Não há necessidade de aprovação congressual, pois se tratam de atos de órgão interno de organização internacional cujo tratado institutivo já foi incorporado regularmente ao ordenamento jurídico brasileiro.
Para evitar eventual desrespeito a direitos individuais e permitir o devido processo legal em casos de medidas internacionais do CS que impactem diretamente em direitos individuais, foi editada a Lei n. 13.810/2019, que dispõe sobre “o cumprimento de sanções impostas por resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, incluída a indisponibilidade de ativos de pessoas naturais e jurídicas e de entidades, e a designação nacional de pessoas investigadas ou acusadas de terrorismo, de seu financiamento ou de atos a ele correlacionados” (revogou a Lei n. 13.170/2015).
De acordo com a citada lei, as resoluções sancionatórias do Conselho de Segurança das Nações Unidas e as designações de seus comitês de sanções são dotadas de executoriedade imediata devendo ser publicadas em língua portuguesa no Diário Oficial da União pelo Ministério das Relações Exteriores.
Além disso, a lei estabelece a proibição geral a todos os brasileiros, residentes ou não, ou a pessoas naturais, pessoasjurídicas ou entidades em território brasileiro, de descumprir, por ação ou omissão, sanções impostas por resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou por designações de seus comitês de sanções, inclusive para disponibilizar ativos, direta ou indiretamente, em favor dos sancionados.
Há também o dever de cumprimento imediato das sanções imposto especificamente aos entes listados no art. 9º da Lei n. 9.613/98 (Lei de Lavagem de Ativos), tais como bancos, bolsas de valores, administradoras de títulos ou valores mobiliários etc.
O controle da legalidade (judicial review) pela corte internacional de justiça
A Corte Internacional de Justiça tem o papel de aplicação do Direito no seio da solução pacífica de controvérsias e no âmbito de sua jurisdição consultiva. Já ao Conselho de Segurança incumbe assegurar a paz e segurança internacional, o que implica, também, na aplicação do Direito aos casos nos quais há ameaça ou lesão à paz.
Na medida em que tanto o Conselho quanto a Corte Internacional de Justiça têm o papel de aplicar o Direito, verifica-se a peculiar possibilidade de decisão do Conselho de Segurança (vinculante a todos os Estados) sobre determinado caso conflitar com decisão ou opinião consultiva da Corte Internacional de Justiça.
Tal duplicidade de avaliação ocorreu no CASO BÓSNIA e no CASO LOCKERBIE. Logo, surge, por via indireta, um verdadeiro sistema de controle da legalidade das resoluções do Conselho  de  Segurança.
A Corte Internacional de Justiça já defendeu, consistentemente, a sua posição de considerar adjudicáveis judicialmente todas as questões de Direito Internacional, inclusive as sujeitas a deliberações do Conselho de Segurança. 
Com efeito, no caso das atividades paramilitares na Nicarágua, a Corte foi clara: enquanto na Carta da ONU há restrição expressa (art. 12) à Assembleia Geral de deliberar sobre matéria já submetida ao Conselho de Segurança, nada há de semelhante em relação à Corte Internacional de Justiça.
No caso Bósnia, a Corte não analisou o conteúdo da Resolução do Conselho de Segurança, por ausência de jurisdição em face da proteção de direitos humanos, pois em relação às partes, só tinha jurisdição em virtude da Convenção de Genocídio o que não contemplava o caso em apreço.
Já no caso LOCKERBIE, a Corte Internacional de Justiça em sua decisão sobre medidas cautelares, assinalou que há a possibilidade de análise da legalidade das decisões do Conselho de Segurança. Para a Líbia, os Estados Unidos e o Reino Unido (foram propostas duas ações, uma contra os EUA e outra contra o Reino Unido). A Corte não apreciou a legalidade de decisão do Conselho de Segurança apenas por entender que a questão seria de mérito, não devendo  ser apreciada já no âmbito da medida cautelar pleiteada. Ou seja, a restrição para apreciar a legalidade de Resolução do Conselho de Segurança é de cunho somente procedimental, devendo, a contrario sensu, ser avaliada na fase de mérito. O voto concorrente de FRANCISCO REZEK é revelador: para o ex-juiz brasileiro da CIJ, a Corte é a intérprete definitiva da Carta da ONU e deve zelar por sua integridade, mesmo que, para isso tenha que enfrentar órgãos políticos da organização. Para Rezek, então, seria surpreendente que fossem defendidos poderes absolutos ao Conselho de Segurança.
Contudo, não houve deliberação da CIJ no mérito do caso, uma vez que Líbia, Estados Unidos e Reino Unido entraram em acordo. Os casos (Líbia vs. Estados Unidos e Líbia vs. Reino Unido) foram arquivados a pedido das partes em setembro de 2003.
Perspectivas da ação do conselho de segurança na proteção de direitos humanos
Há pontos positivos e negativos da ação do Conselho de Segurança na proteção de direitos humanos. Como ponto positivo, há o desejo de impedir que situações graves e sistemáticas de violações de direitos humanos persistam. 
Por outro lado, há vários aspectos negativos. Com efeito, para cada exemplo de mobilização dos Estados no âmbito do Conselho de Segurança em prol dos direitos humanos, surgem outros exemplos de imobilismo e indiferença, motivados pelos interesses geopolíticos dos cinco detentores do poder de veto.
O tradicional suporte norte-americano às políticas de ocupação de Israel em terras palestinas e às ditaduras no mundo petrolífero, a ocupação chinesa do Tibet, a repressão russa na Chechênia, a invasão da Ucrânia (2022) pela Rússia, enfim, há um número impressionante de situações de violações graves e sistemáticas de direitos humanos sem que haja qualquer reação do Conselho de Segurança. Logo, a proteção de direitos humanos por meio da ação do Conselho de Segurança pode tornar inviável a tutela destes direitos quando o Estado infrator for um dos membros permanentes do Conselho – detentor, assim, do poder de veto – ou for um de seus aliados.
Também cabe apontar, como grave ponto negativo, a lição de SALIBA, em essencial obra sobre o Conselho de Segurança da ONU: a ausência de remédio jurídico adequado para o Estado, indivíduo ou pessoa jurídica que tenha seus direitos violados por resolução vinculante do Conselho de Segurança. A Corte Internacional de Justiça, como dispõe seu Estatuto, só admite Estados como partes em sua jurisdição contenciosa.
10B. O sistema europeu de direitos humanos. Evolução histórica. Jurisdição contenciosa e consultiva: trâmite e modos de funcionamento. Métodos de interpretação e execução de decisões do sistema europeu de direitos humanos.
Gabriel Infante Martins
Logo após a 2ª Guerra Mundial, a Europa percebeu a necessidade de se integrar. Nesse contexto, é criado o Conselho da Europa, em maio de 1949, por dez Estados europeus ocidentais, tendo como objetivo principal a garantia dos direitos humanos, o regime democrático e o Estado de Direito. Assim, do ponto de vista militar, econômico e político, os países capitalistas europeus ocidentais se fortaleceram e para reforçar as forças políticas liberais internas. 
Sob o argumento de contrapor-se aos países socialistas e comunistas, os Estados fundadores do Conselho da Europa aceitaram e internalizaram a temática dos direitos humanos, firmando a Convenção Europeia de Direitos e Liberdades Fundamentais (ou Convenção Europeia de Direitos Humanos – CEDH), em novembro de 1950, que entrou em vigor em 1953. 
Essa Convenção já foi aditada com alguns protocolos adicionais. Os principais são:
Protocolo n. 4 = proibiu a prisão por dívida e a expulsão coletiva de estrangeiros (1968);
Protocolo n. 9 = vítima ganhou o direito de processar diretamente o Estado perante a Corte, mas ainda subsistia o procedimento bifásico com o trâmite perante a Comissão (que só foi extinto no protocolo 11).
Protocolo n. 11 = extinguiu a Comissão Europeia de Direitos Humanos, fundindo-a com a Corte Europeia de Direitos Humanos (entrou em vigor em 1998);
Protocolo n. 12 = combate à discriminação de todo tipo (em vigor desde 2005);
Protocolo n. 13 = abolição da pena de morte (em vigor desde 2003). Ninguém será condenado a tal pena, nem executado. Não cabe derrogação, nem reservas.
Protocolo n. 14 = foco na racionalização da jurisdição (julgamento sumário de casos repetidos, por exemplo) e na implementação de suas decisões (2010);
Protocolo n. 15 = adicionou a teoria da margem da apreciação no preâmbulo da CEDH, com expressa menção ao princípio da subsidiariedade; diminuiu de 6 para 4 meses o prazo para propositura da ação; facilitou o reconhecimento da insignificância para rejeição de demandas propostas (2013);
Protocolo n. 16 = permite que os Tribunais superiores dos Estados peçam opinião consultiva à Corte EDH sobre a interpretação ou aplicação dos direitos da Convenção (2013). 
A CEDH já foi ratificada por 47 Estados europeus. Todos os países membros do Conselho da Europa já ratificaram a CEDH e reconheceram a jurisdição da Corte Europeia de Direitos Humanos (Corte EDH).
A originalidade da Convenção Europeia de Direitos Humanos residiu no mecanismo coletivo de proteção aos direitos humanos, que se baseava na existência de um órgão de investigação e conciliação (Comissão Europeia de DireitosHumanos, existente até o Protocolo 11 de novembro de 1998), um órgão político de aferição da responsabilização (Conselho de Ministros do Conselho da Europa) e um órgão judicial de responsabilização dos Estados (a Corte Europeia de Direitos Humanos).
Em 1998, com a entrada em vigor do Protocolo n. 11, ocorreu a fusão da Comissão com a antiga Corte EDH, criando uma nova Corte EDH, agora de caráter permanente, com 47 juízes (um por cada Estado-membro do Conselho da Europa). Ou seja, o procedimento era bifásico (Comissão + Corte), como ainda é no Sistema Interamericano.
Em resumo: Convenção na redação originária = órgão de investigação e de conciliação (Comissão Europeia de DH, existente até o Protocolo 11 de 1988) + órgão político (Conselho de Ministros do Conselho da Europa) + órgão judicial (Corte EDH).
II. Comissão Europeia de Direitos Humanos
Criada pela Convenção Europeia de Direitos Humanos, era um órgão imparcial e independente dos governos dos Estados. Seus comissários eram eleitos para um período de 6 (seis) anos pelo Comitê de Ministros, possuindo as mesmas qualificações morais e de competência técnica de um juiz da Corte Europeia de Direitos Humanos. Era um órgão não permanente, com decisão coletiva e por maioria, de deliberação sigilosa. Possuía natureza jurídica de "quase judicial", pois era encarregado da investigação, e ainda titular da ação de responsabilidade internacional do Estado perante a antiga Corte Europeia de Direitos Humanos. Analisava demanda interestatal (petição de um Estado acusando outro de violar os direitos protegidos em seu próprio território – actio popularis) e demanda individual (legitimidade ativa de toda pessoa que sofresse violação de direitos humanos dentro dos limites da jurisdição do Estado contratante, não importando a nacionalidade).
Adotava, inicialmente, um procedimento de conciliação, informado pelos princípios do contraditório e da ampla defesa. Na falta de conciliação, caberia a Comissão elaborar um relatório final, formando uma peça conclusiva que representava a decisão da Comissão sobre o caso. Por não ter força vinculante, havia a necessidade da provocação da Corte Europeia ou ainda a adjudicação do caso ao Comitê de Ministros.
Esse procedimento bifásico era muito moroso. Assim, extinguiu-se a Comissão com o Protocolo 11, fundindo-a com a Corte. O direito dos indivíduos vítimas de violações de direitos humanos de ingressarem com suas petições diretamente na nova Corte EDH começou com o Protocolo 9 (direito de ação, jus standi), mas, antes do Protocolo 11, existia em concorrência com a legitimidade da Comissão.
III. Comitê de Ministros do Conselho Europeu
	Órgão principal do Conselho da Europa. Cada membro do Conselho da Europa possuía um representante no Comitê. 
	Esse órgão tinha competência decisória residual automática no mecanismo europeu de proteção aos direitos humanos, pois no caso da Corte não ser acionada pela Comissão ou por um Estado, o Comitê era chamado automaticamente para decidir sobre o caso.
A decisão do Comitê era um ato discricionário, não motivado, de mérito, estabelecendo um prazo no qual o Estado requerido deveria tomar as medidas reparatórias necessárias, se fosse o caso. Se isso não acontecesse, haveria uma reavaliação por parte do Comitê, que poderia então, estabelecer a suspensão ou mesmo a expulsão do Estado infrator do Conselho da Europa.
O Protocolo 11 suprimiu a função contenciosa do Comitê de Ministros, restando atualmente só um papel supervisor da execução fiel pelos Estados das decisões da Corte EDH (papel supervisor que, no âmbito do SIDH, é feito pela própria Corte IDH).
IV. Antigo Sistema Europeu de Proteção de Direitos Humanos
	No antigo procedimento, as vítimas de violações de direitos humanos ou os Estados-partes apresentavam suas petições à Comissão Europeia, que, após análise da admissibilidade e tentativa de conciliação, poderia arquivar o caso por inexistência de violação, ou propor uma ação a Corte Europeia de Direitos Humanos, ou ainda, adjudicar o caso ao Comitê de Ministros.
	Havia a fase propriamente judicial, na qual o Estado infrator era processado e poderia ser obrigado a reparar o dano causado, pela decisão de mérito da Corte. A vítima somente teve acesso à Corte com o Protocolo 9, mas, mesmo assim, teria que, necessariamente, passar antes pela Comissão. Com o Protocolo 11, a vítima (ao lado do Estado, actio popularis) passou a poder ingressar diretamente com sua petição perante a Corte EDH, agilizando o trâmite do procedimento internacional.
	O Protocolo 14, redigido em 2004 (em vigor em 2010), buscou otimizar a eficiência da Corte EDH e adaptar a Convenção ao futuro ingresso da União Europeia por meio de novos filtros de acesso.
V. Novo Procedimento Europeu de Apuração de Violações de Direitos Humanos após o Protocolo n. 14.
	Atualmente, o procedimento desenvolvido perante a nova Corte EDH é um verdadeiro procedimento judicial, informado pelos princípios do contraditório e da ampla defesa. A Corte EDH é composta por 47 juízes, da mais alta reputação moral, eleitos para mandato de 9 (nove) anos, sendo proibida a recondução, escolhidos pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, dentre uma lista tríplice feita pelos Estados. 
	O Protocolo nº 11 determinou que o reconhecimento da jurisdição da nova Corte é obrigatório pelos Estados-partes.
	Legitimidade Ativa para propor ações de apuração da responsabilidade internacional por violação de direitos humanos por parte do Estado-réu: indivíduos, grupos de indivíduos, ONG’s que estejam sob a jurisdição do Estado-membro e Estado-contratante. Indivíduos e ONGs agem em nome próprio na defesa de interesse próprio (no SIDH, existe a possibilidade de uma ONG atuar em legitimidade extraordinária, ou seja, processar um Estado por violação de DH de terceiros). Estados agem em nome próprio na defesa de interesse alheio (legitimidade extraordinária).
	Legitimidade Passiva é sempre do Estado. 
	Natureza Jurídica da Ação: declaratória. Busca-se a declaração da violação de direitos humanos, para que, depois, o Estado escolha os mecanismos internos mais adequados para a reparação devida, e na sua falta, pleiteia-se a condenação do Estado infrator ao pagamento de uma soma pecuniária (é a denominada “satisfação equitativa”, criticada por ACR). Atualmente, a Corte também tem fixado, além da satisfação equitativa, medidas de reparação ao direito violado.
O fundamento para a reparação consiste no fato de que a proteção dos direitos humanos é uma obrigação objetiva (ver Caso Irlanda vs Reino Unido, Corte EDH, 1978). Por isso mesmo, um Estado contratante pode apresentar a demanda perante a Corte contra outro Estado (é a denominada actio popularis) na defesa de um direito de qualquer indivíduo que sofreu violação de direitos humanos, bem como defender direitos de seu próprio nacional, assemelhando-se ao instituto da proteção diplomática (ex.: Caso Soering, em 1989, na qual a extradição de um cidadão alemão pelo Reino Unido para o corredor da morte nos EUA foi questionada pela Alemanha, com aplicação da Teoria da Proteção Indireta). 
VI. Trâmite da ação perante o mecanismo europeu após a entrada em vigor do Protocolo n.14.
	Com o Protocolo nº 14, atualmente, a Corte divide-se em cinco Seções, sendo que cada Seção (Chamber) é composta por 7 (sete) juízes, um Presidente e um Vice-Presidente. Há ainda o Tribunal Pleno (Grand Chamber) com 17 (dezessete) juízes, sendo que as Seções do tribunal constituem os Comitês (Committee) de 3 (três) juízes por período determinado.
O trâmite de um processo ajuizado por um particular tem início com a distribuição da petição entre as 5 (cinco) Seções, que, por sua vez, distribui a um de seus juízes, que atuará como juiz singular relator ("rapporteur", que foi inovação do Protocolo 14), para a análise de sua admissibilidade.
	Se o Juiz singular não declarar a inadmissibilidade, nem arquivar, deve transmitir a petição para um Comitê ou à Seção para posterior apreciação. Nos casos em que já há posição pacificada, adjudica-se ao Comitê,que irá sentenciar. Se for voto unânime, é possível: 1- declarar a inadmissibilidade, contrariando o juiz singular; 2- admitir e proferir sentença. Essas decisões são definitivas, não admitindo recurso, pois fundada em jurisprudência dominante. Caso não haja unanimidade, o caso é analisado por uma Seção.
Os casos que vão para a análise de uma Seção podem ser analisados pelos 7 (sete) juízes. Se houver controvérsia entre eles, o caso pode ser encaminhado ao Tribunal Pleno, e, nessa situação, qualquer parte pode recorrer dessa decisão ao Pleno. O Estado requerido apresenta observações aos juízes da Seção, sendo que as partes possuem acesso a estas manifestações, podendo na audiência oral apresentar eventuais réplicas oralmente. 
É admitida toda espécie de prova. É admitido amicus curiae. O Protocolo 14 permitiu ao Comissário de Direitos Humanos do Conselho da Europa apresentar como terceiro interessado sua opinião, em qualquer processo perante a Corte EDH. Incentiva-se a Conciliação. Há possibilidade de adoção de Medidas Cautelares para preservar o resultado útil do processo.
Após o julgamento pela Seção, cabe recurso das partes ao Tribunal Pleno (duplo grau de jurisdição), no prazo de três meses. Também cabe recurso de interpretação, no prazo de um ano, e ainda eventual recurso de revisão, desde que haja fato novo, apto a modificar a decisão e que ele seja interposto até 6 (seis) meses da ciência do fato novo, julgado pelo próprio órgão prolator.
	Motivos da Inadmissibilidade da petição: 1- ausência de esgotamento dos recursos internos; 2- perda de prazo, a contar da data da decisão interna definitiva, para peticionar à Corte EDH (o Protocolo 15 diminuiu o prazo de 6 para 4 meses); 3- anonimato da petição; 4- coisa julgada, caso a petição seja idêntica a outra já julgada na própria Corte ou outra instância internacional de direitos humanos sem qualquer fato novo; 5- teor incompatível com o disposto na Convenção ou manifestamente mal fundada (inovação do Protocolo 14) ou com caráter abusivo; 6- não ocorrência de qualquer prejuízo significativo (inovação Protocolo 14), salvo se o respeito pelos direitos exigir uma apreciação da petição.
	Motivos de Arquivamento, que pode ocorrer em qualquer momento do processo: 1- desistência do requerente; 2- resolução do litígio; 3- qualquer outro motivo constatado pelo Tribunal que não se justifica prosseguir com a ação (ausência de interesse de agir).
	Juiz ad hoc = Juiz “para isto” ou “para esta finalidade”, ou seja, juiz indicado para um caso específico. Só não pode analisar demanda individual contra um Estado que o tenha indicado, mas pode e deve integrar a Seção ou o Tribunal Pleno que eventualmente vier a julgar o litígio. No caso de ausência desse juiz, o Presidente do Tribunal escolherá uma pessoa dentre uma lista apresentada previamente pelo Estado-réu, atuando na qualidade de juiz ad hoc. 
	ACR critica esse procedimento do juiz ad hoc, entendendo que pode redundar em prejuízo ao universalismo, uma vez que esse juiz pode trazer ao processo internacional sua visão nacional sobre o tema. Trata-se de uma herança já ultrapassada pela consolidação dos mecanismos internacionais de apuração de violação de direitos humanos. Na Corte IDH, o juiz ad hoc foi restringido apenas às ações interestatais (inexistentes até hoje em dia) pela OC 20/09, afastando-o dos casos referentes a petições individuais.
VII - A prática da Corte Europeia e a Teoria da Margem de Apreciação Nacional.
	Os Estados, ao falharem na reparação da violação aos direitos humanos, apesar do esgotamento dos recursos internos, dão margem ao Direito Internacional proteger tais direitos (proteção subsidiária). A principal característica da interpretação internacional dos direitos humanos é o fato de ser contramajoritária, que concretiza o ideal universalista do DIDH, porque as violações que chegaram ao crivo internacional não foram reparadas mesmo após o esgotamento dos recursos internos (a visão majoritária). 
O uso da interpretação nacional dos direitos humanos consagra a "internacionalização ambígua ou imperfeita dos direitos humanos" (expressão de ACR), pois os Estados introduzem os tratados internacionais no seu ordenamento, dando-lhes uma interpretação nacional, e, muitas vezes, violam direitos essenciais. Porém, apesar de expressivos precedentes contramajoritários da Corte EDH, foi na jurisprudência dela que se desenvolveu a Teoria da Margem de Apreciação, uma espécie de relativismo na temática dos direitos humanos (crítica feita por ACR).
André de Carvalho Ramos conceitua a Teoria da Margem da Apreciação Nacional como "a abstenção de análise, pela Corte EDH, de casos polêmicos de direitos humanos, permitindo que cada Estado do Conselho da Europa possa exercer uma margem de apreciação sobre os contornos dos direitos protegidos". Isto é, ela prega que determinadas questões polêmicas relacionadas com as restrições estatais a direitos protegidos devem ser discutidas e dirimidas pelas comunidades nacionais, não podendo o juiz internacional apreciá-las. 
	A margem de apreciação foi adotada pela Corte EDH no “Caso Handyside”, que tratava do confisco de exemplares e proibição pelo Reino Unido de comercialização de livro considerado obsceno. Segundo a Corte EDH, caberia à sociedade britânica, com base em seus valores morais, adotar tais restrições ao direito à liberdade de expressão. 
Sempre se entendeu que a Corte IDH não aceita essa teoria, mas, recentemente, há quem diga que a adota minimamente, como, por exemplo, no Caso Castañeda Gútman vs México (Caio Paiva compreende que a Corte conferiu aos Estados uma “margem de apreciação” para definirem as características de seus sistemas eleitorais). 
O Protocolo 15 reforça o desejo dos Estados Europeus em adotar tal teoria, tendo sido inserido no preâmbulo o uso da teoria da margem de apreciação. Percebe-se, assim, que o Sistema Europeu de Direitos Humanos passa por uma fase de agudo relativismo dos direitos humanos como reação ao aumento de número de casos de interpretação internacionalista da Corte EDH. 
ACR elenca como pontos importantes da crise da interpretação universalista dos direitos humanos no sistema europeu: 1- crescente número de casos, ocasionando demora no julgamento; 2- resistência dos Estados em cumprir os julgamentos que não sejam as satisfações equitativas (pagamentos de valores irrisórios); 3 -fortalecimento dos reclamos de "subsidiariedade e margem de apreciação nacional" contra as deliberações internacionalistas contramajoritárias da Corte EDH, especialmente em países democráticos e influentes, como Reino Unido, Alemanha e Itália. 
	
VIII. O cumprimento da decisão da Corte EDH e a crise da "satisfação equitativa"
	A Corte EDH elabora uma sentença declaratória, que constata ou não a violação da Convenção pelo Estado requerido. Cabe ao Estado infrator tomar as medidas necessárias, segundo seu direito interno, para a reparação do dano. No caso do Estado demonstrar impossibilidade de restaurar o status quo ante ou de oferecer uma justa indenização, a Corte decidirá, sob provocação da vítima, sobre uma indenização pecuniária (satisfação equitativa).
Ocorre que a interpretação restritiva do artigo 41 do Estatuto (que prevê a satisfação equitativa) gerou, ao longo dos anos, aumento dos casos perante a Corte, por novas violações (em razão da não reparação das violações anteriores), além do fato de que coloca em risco a credibilidade do próprio Tribunal, já que suas decisões não teriam capacidade de reparar devidamente as violações praticadas. Com isso, houve uma mudança na interpretação dos textos dos artigos 41 e 46 do Estatuto.
Assim, em nome da força vinculante da decisão internacional, as decisões da Corte EDH para cessar o ilícito e restaurar a situação existente antes da violação determinam uma satisfação equitativa e obrigações de fazer e não fazer necessárias para a correta restauração dos direitos protegidos. O caso que marcou esse novo posicionamento da Corte foi Görgülü vs Alemanha, no qual a Corte EDH decidiu que, além da satisfaçãoequitativa, a Alemanha deveria possibilitar o acesso do peticionante ao seu filho. Outro exemplo foi o caso Sejdovic vs Itália, em que o Estado foi condenado a proporcionar um novo julgamento ao peticionante, já que o anterior ocorreu sem o devido processo legal.
IX. Procedimento Piloto
	Para enfrentar as demandas repetitivas (demandas clones), a Corte EDH adotou duas medidas em seus procedimentos. A primeira foi o poder do Comitê (extinto em 1998) em declarar, por unanimidade, a procedência da demanda, em virtude de estar o tema pacificado. A segunda providência foi a instituição do chamado "procedimento de julgamento piloto", consistindo na identificação, em caso individual, de causas estruturais de violações de direitos humanos, levando a Corte EDH a indicar ao Estado-réu medidas gerais para solucionar as causas de todos os casos, prevenindo o surgimento de novos.
O primeiro julgamento piloto ocorreu nos chamados Casos do Rio Bug: alguns habitantes de uma área entre a Polônia e a União Soviética foram forçados a abandonar suas terras entre 1944 e 1953, e um grupo de 80 mil pessoas não foi compensado. Assim, no primeiro caso individual, julgado em 2004, o Tribunal Pleno reconheceu que era resultado de falhas do ordenamento interno polonês, que afetava um grande número de jurisdicionados. A Corte, então, identificou mais de 160 ações nesse sentido, introduzindo na parte dispositiva de sua sentença o dever do Estado de adotar medidas gerais. 
Diante disso, a Corte EDH elimina as origens sistêmicas de casos em seus órgãos, sobrestando os casos semelhantes que aguardam as medidas a serem tomadas pelo Estado-réu, fortalecendo seu papel de tribunal internacional.
X. Procedimento perante o Comitê de Ministros do Conselho da Europa
Não obstante as mudanças no procedimento da Corte EDH, tais medidas também influenciaram um aperfeiçoamento da ação do Comitê de Ministros. Atualmente, o Comitê supervisiona a implementação de três tipos de medidas para o cumprimento de um julgamento da Corte EDH: o pagamento da satisfação equitativa, o cumprimento de medidas individuais (que pode ocasionalmente ocorrer) e a implementação de medidas estruturais (gerais). 
Assim que o Julgamento na Corte transita em julgado, o Estado deve encaminhar um "plano de ação" ao Comitê, com medidas já adotadas ou em planejamento. Existe dois tipos de procedimento: o procedimento reforçado (enhanced procedure), para casos de medidas individuais, estruturais (procedimento piloto) e nas demandas interestatais; e o procedimento padrão (standart procedure), para os demais casos de satisfação equitativa. 
Ainda, o Comitê pode acionar a Corte, por maioria de dois terços, para que forneça uma melhor interpretação sobre a execução, bem como para que se pronuncie sobre a falta de cumprimento da sentença por parte do Estado-réu. Isso significa um passo rumo à judicialização da execução. Porém, até o momento, o Comitê não adjudicou nenhum caso de descumprimento perante a Corte EDH.
XI. Jurisdição Consultiva
	A Jurisdição Consultiva serve para que a Corte responda uma pergunta sobre o real alcance e sentido da norma internacional. O Parecer Consultivo não vincula, somente esclarece o conteúdo. Desde o Protocolo 2, a Corte podia emitir Parecer Consultivo, com certas restrições (ex.: somente o Comitê poderia solicitar opinião consultiva; as perguntas não poderiam incidir sobre questões relativas ao conteúdo ou à extensão dos direitos e liberdades da Convenção e dos protocolos, nem sobre outras questões que poderiam ser submetidas ao Tribunal ou ao Comitê). 
O Protocolo 16 alterou a Jurisdição Consultiva, possibilitando aos Tribunais Superiores de um Estado que solicitem opinião consultiva sobre a interpretação e aplicação dos direitos previstos na Convenção, o que é muito bem visto pela doutrina (ACR, por exemplo). O Estado deve definir quais Tribunais internos podem solicitar a opinião consultiva. Não possui efeito vinculante.
XII. Corte EDH e União Europeia
O Artigo 6º do Tratado da União Europeia, com nova redação dada pelo Tratado de Lisboa (2009), consagra a garantia dos direitos fundamentais e dispõe que os direitos previstos na Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais (CEDH) são parte integrante do ordenamento da União Europeia. O Protocolo 14 (2004) já havia previsto a adesão da UE à Convenção, tendo inserido no artigo 59 desta um novo parágrafo estabelecendo que a União Europeia pode aderir à Convenção Europeia de Direitos Humanos.
Isso colocará término nas demandas de particulares perante a Corte EDH contra vários Estados da UE por violação de direitos humanos ocasionada pelo Direito da Integração Europeia, desprestigiando os Tribunais de Justiça da União Europeia. No Caso Matthews vs United Kingdom (1999), a Corte EDH afirmou que respeitava os processos de integração e transferência de soberania, mas não podia aceitar que um Estado utilizasse sua liberdade de pactuar tal transferência de soberania como escudo para descumprir a Convenção Europeia de Direitos Humanos.
 
3. SISTEMA INTERAMERICANO
4B. Corte Interamericana de Direitos Humanos e sua Jurisdição Contenciosa e Consultiva. Procedimentos. O Conteúdo da Jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Atualizado por Karen L L A e S Reus
A Corte IDH é uma instituição judicial autônoma criada pela CADH, possuindo sede em San José (mas pode realizar sessões em outros países). É composta por 7 juízes (o juiz brasileiro Roberto Caldas foi eleito para exercer mandato de 2013-2018), eleitos para mandato de 6 anos (permitida apenas uma reeleição), por escrutínio secreto na assembleia geral da OEA apenas por Estados-parte da Convenção Americana. Registre-se que o quórum para deliberação é de 5 juízes.
A Corte possui jurisdição consultiva e contenciosa sobre o Estado-parte. Na jurisdição consultiva, qualquer Estado membro da OEA e a Comissão podem solicitar pareceres ou opiniões consultivas não vinculantes (as OC's são encaradas pela Corte como uma espécie de controle de convencionalidade preventivo) sobre (i) interpretação da CADH ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos e (ii) compatibilidade da lei interna do estado e os instrumentos internacionais. No entanto, como a jurisdição contenciosa não é obrigatória, deve o Estado-Parte entregar uma declaração reconhecendo a jurisdição da Corte para todos os casos ou apenas para um caso específico (art. 62 da Convenção).
Apenas o Estado-parte da CADH e a Comissão possuem legitimidade ativa para submeter um caso à Corte. Os indivíduos não possuem legitimidade ativa (não pode ser apresentada petição individual diretamente à Corte) e nem passiva (a Corte não julga pessoas, apenas Estados). As sentenças são finais, inapeláveis (somente cabe recurso/pedido de interpretação que é semelhante ao nosso ED), vinculantes e os Estados se comprometem a cumpri-las. Caso Estado não cumpra, resta a Corte apresentar o caso na assembleia geral da OEA para adoção de medidas políticas contra o Estado-parte.
Petição inicial, Contestação, exceções preliminares e provas:
Caso o Estado não acate as conclusões do 1º informe da Comissão, esta poderá acioná-lo perante a Corte. A ação inicia com o envio do 1º informe à Corte. Após, as vítimas/representantes serão intimados para apresentar a petição inicial do processo internacional (no prazo de 2 meses) e a Comissão passa a atuar como custos legis.
O Estado réu é notificado para apresentar contestação também no prazo de 2 meses, devendo indicar na contestação as exceções preliminares (que não suspenderá o procedimento em relação ao mérito), as provas, os fundamentos de direito, as conclusões pertinentes e as observações às reparações e às custas solicitadas. Caso o Estado acate sua responsabilidade e não impugne os fatos/pretensões, a Corte já estará apta a sentenciar.
Amici Curiae: A petição escrita do amicus curiae poderá ser apresentada até 15 dias após a realização da audiência de coleta de testemunhosou após a resolução que outorga prazo para as alegações finais (caso não seja realizada a audiência). O amicus curiae poderá ser pessoa física ( ex.: Zaffaroni no Caso Fermín Ramírez Vs Guatemala).
Medidas provisórias (cautelares): “Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, só poderá atuar a pedido da Comissão” (art. 63, 2, da Convenção). Tem por finalidade assegurar a efetividade dos direitos humanos. Medidas provisórias adotadas em relação ao BRASIL até 2023: 
(i) Caso da Penitenciária de Urso Branco; 
(ii) Caso das crianças e adolescentes privadas de liberdade do “complexo do Tatuapé” da FEBEM; 
(iii) Caso das pessoas privadas de liberdade da penitenciária “Dr. Sebastião Martins Silveira”; 
(iv) caso do centro penitenciário de Curado Professor anibal bruno;
(v) caso do complexo de pedrinhas; 
(vi) Caso gomes lund e outros; 
(vii) caso da unidade de internação socioeducativa; 
(viii) caso do instituo penal plácido de sá carvalho. Ademais, em 13/02/2017 a Corte adotou uma resolução conjunta para determinados centros penitenciários no Brasil e, ainda, adotou outras duas resoluções, em 2018 e 2021, também acerca dos centros penitenciários acima, como resposta analítica dos relatórios periódicos encaminhados pelo Estado brasileiro.
Desistência por parte das vítimas, reconhecimento do pedido pelo Estado réu e solução amistosa: Em razão da indisponibilidade dos direitos humanos, a Corte poderá decidir pelo prosseguimento do exame do caso, logo, a ocorrência dessas situações não implica necessariamente na extinção do processo.
Defensor Público Interamericano: Desde 2009 representa judicialmente as vítimas que não têm recursos. A OEA tem convênio com a Associação Interamericana de defensorias públicas. Brasileiros com mandato de 2016 a 2019: Isabel Machado e Rivanda Barreto.
CONTEÚDO DA JURISDIÇÃO CONSULTIVA DA CORTE IDH:
OC nº 01/1982 (O Peru solicitou opinião acerca do conteúdo da jurisdição consultiva da Corte): A Corte concluiu que a sua competência consultiva pode ser exercida sobre qualquer tratado (bilateral ou multilateral) internacional de direitos humanos aplicável aos Estados Americanos.
OC nº 02/1982 (CIDH solicitou parecer sobre qual momento o Estado passa a fazer parte da CADH e em qual deixa de fazer): A Corte concluiu que a Convenção entra em vigor para o Estado que a ratificou(com ou sem reservas) a partir do depósito do instrumento de ratificação ou adesão. E, em razão da cláusula de pré-aviso, o Estado que denunciar a CADH ainda fica a ela submetido pelo prazo de 1 ano, após este prazo será consolidada a sua retirada.
OC nº 03/1983 (CIDH solicitou opinião acerca da admissão pela CADH da imposição de pena de morte): Acorte diviu a questão em 3 partes: a) Estados que não aboliram a pena de morte no momento da ratificação da CADH – estes não podem aplicar a pena de morte aos delitos para os quais a legislação interna não comine esta sanção; b) Estados que aboliram a pena de morte e pretendem reintroduzi-la em seu ordenamento- estes não podem posteriormente à entrada em vigor da CADH legislar impondo a pena de morte a delitos que não tinham previsão no momento da ratificação; c) tipos de crime que se tolera a pena de morte – os limites devem ser definidos no momento da ratificação.
OC nº 04/1984 (Costa Rica questionou sobre a compatibilidade entre uma proposta de alteração legislativa de suas normas internas referentes à nacionalidade com a CADH): A Corte concluiu que a alteração não violava a CADH pois é possível o estabelecimento de critérios diferenciados de naturalização para pessoas nascidas em determinados países.
OC nº 05/1985: (Costa Rica solicitou opinião sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercício da profissão): A Corte concluiu que a obrigatoriedade é inconvencional pois causa uma restrição desproporcional ao direito à liberdade de expressão, violando o art. 13 da CADH ( Da liberdade de pensamento e expressão).No mesmo sentido foi o entendimento do STF no RE 511.861, j. 17/06/2009, rel. Gilmar Mendes).
OC nº 06/1986 (Uruguai questionou o alcance da expressão “leis” empregada no art. 30 da CADH[footnoteRef:15]). A Corte concluiu que alcança qualquer norma jurídica de caráter geral emanada pelo Poder legislativo democraticamente eleito e constitucionalmente previsto no ordenamento jurídico interno. [15: As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promulgadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual houverem sido estabelecidas.] 
OC nº 07/1986 (Costa Rica questionou sobre a exigibilidade do direito de retificação/resposta): A Corte concluiu que o direito de resposta e de retificação deve ser reconhecido pelos Estados, independentemente da existência de legislação interna que o regule. (No julgamento da ADPF 130, Celso de Mello citou esta OC).
OC nº 08/1987 (CIDH solicitou opinião acerca de prisão realizada em período de exceção): A Corte concluiu que os procedimentos e “remédios” (tal como o HC) não podem ser suspensos (A Corte reiterou este posicionamento quando do julgamento do Caso Loayza, em 1997), vez que são indispensáveis para proteger direitos humanos básicos.
OC nº 09/1987 (Uruguai questionou quais direitos não podem ser suspensos em caso de guerra, perigo público ou emergência): A Corte concluiu que o HC e seus consectários (art. 27 CADH) não podem ser suspensos, assim como todo recurso destinado a garantir o respeito dos direitos e liberdades cuja suspensão não esteja autorizada na CADH.
OC nº 10/1989 (Colômbia questionou sobre a possibilidade de interpretação da Declaração Americana dos direitos e deveres do homem): A corte concluiu que esta declaração deve ser considerada um tratado internacional, sendo possível a emissão de pareceres consultivos acerca da mesma, desde que dentro dos limites da competência da Corte e conexão com a CADH.
OC nº 11/1990 (CIDH solicitou opinião acerca das possíveis exceções ao requisito do esgotamento dos recursos internos para a submissão de um caso à Corte IDH): A Corte concluiu que se o requerente for impedido de utilizar recursos internos necesários para proteger um direito garantido pela CADH o requisito pode ser excepcionado. (único exemplo dessa exceção ocorreu no caso Brewer Carías Vs Venezuela).
OC nº12/1991 (Costa Rica solicitou opinião acerca da compatibilidade de um projeto de lei interno com o direito ao duplo grau de jurisdição da CADH): A Corte decidiu que não ia se manifestar sobre o caso pois diversos casos concretos estavam em tramitação na Corte no âmbito de sua juridição contenciosa.
OC nº 13/1993 ( Argentina e Uruguai solicitaram opinião sobre as atribuições da CADH sobre as atribuições da CIDH): A Corte concluiu que (i) a CIDH pode qualificar uma norma como violadora ou não de obrigações da CADH, mas não pode determinar se a norma é compatível com o ordenamento interno do país; (ii) Pelo princípio da segurança jurídica e do estoppel, a CIDH após declarar que determinada petição é inadmissível, não pode mais se manifestar sobre o mérito daquela demanda; (iii) os relatórios do art. 50 e 51 da CADH não podem ser publicados no mesmo documento, pois possuem conteúdos diversos, sendo o 1º relatório sigiloso.
OC nº14/1994 ( CIDH solicitou opinião acerca da responsabilidade do Estado pela edição e aplicação de leis internas que violam a CADH): A Corte concluiu que um Estado ao editar lei que contrarie as obrigações internacionais por ele assumidas ao aderir à CADH, viola a Convenção e deve ser responsabilizado internacionalmente. Ademais, o cumprimento de um diploma inconvencional por funcionários e agentes do Estado gera responsabilidade internacional do próprio Estado ( se o ato constituiros direitos humanos influem em todo o Direito e nos atos dos agentes públicos e privados, concretizando seu efeito irradiante que os transformam no centro dos valores de um ordenamento. A interpretação conforme os direitos humanos é complexa, fruto da interdependência e indivisibilidade dos direitos humanos, já que a compreensão e aplicação de uma norma de direitos humanos são feitas levando-se em consideração os demais direitos atingidos. Por isso, os direitos humanos são direitos prima facie, isto é, asseguram em um primeiro momento posições jurídicas que, posteriormente, podem sofrer restrições pela incidência de direitos titularizados por outros indivíduos.
Interpretação para os direitos humanos: aspectos gerais
As regras tradicionais de interpretação são insuficientes no campo dos direitos humanos, já que as normas nesta matéria são redigidas de forma aberta, repletas de conceitos indeterminados e interdependentes e com riscos de colisão. Consequentemente, a interpretação é indispensável para que se possa precisar e delimitar os direitos humanos. As razões para a importância da interpretação dos direitos humanos, segundo ACR, são as seguintes: 1) superioridade normativa, pois não há outras normas superiores às quais pode o intérprete buscar auxílio; 2) força expansiva, que acarreta a jusfundamentalização do Direito, fazendo com que todas as facetas da vida social sejam atingidas pelos direitos humanos.
A função da interpretação é concretizar os direitos humanos por meio de procedimento fundamentado, com argumentos racionais e embasados, que poderá ser coerentemente repetido em situações idênticas, gerando previsibilidade jurídica e evitando o arbítrio e decisionismo do intérprete-juiz. A estrutura principiológica dos direitos humanos gera vários resultados possíveis em temas com valores morais contrastantes. Não há certo ou errado: chega-se a uma conclusão que deve atender a uma “reserva de consistência” em sentido amplo (Peter Häberle). 
Aplicada à seara dos direitos humanos, a reserva de consistência em sentido amplo exige que a interpretação seja: 1) transparente e sincera, evitando a adoção de uma decisão prévia e o uso da retórica da “dignidade humana” como mera forma de justificação da decisão já tomada; 2) abrangente e plural, não excluindo nenhum dado empírico ou saberes não jurídicos, tornando indispensável a participação de terceiros, como amici curiae; 3) consistente em sentido estrito, mostrando que os resultados práticos da decisão são compatíveis com os dados empíricos apreciados e com o texto normativo original; 4) coerente, podendo ser aplicada a outros temas similares, evitando as contradições que levam à insegurança jurídica. A adoção de um modelo aberto de processo de interpretação jusfundamental permite que os julgadores possam ter mais elementos para a tomada de decisão.
A máxima efetividade, a interpretação pro homine e a primazia da norma mais favorável
	O critério da máxima efetividade exige que a interpretação de determinado direito conduza ao maior proveito do seu titular, com o menor sacrifício imposto aos titulares dos demais direitos em colisão. Implica a aplicabilidade direta, pela qual os direitos humanos previstos na Constituição e nos tratados podem incidir diretamente aos casos concretos, bem como conduz à aplicabilidade imediata, que prevê que os direitos humanos incidem nos casos concretos, sem qualquer lapso temporal.
	A interpretação pro homine exige que a interpretação dos direitos humanos seja sempre aquela mais favorável ao indivíduo. Implica em reconhecer a superioridade das normas de direitos humanos, exigindo, no caso concreto, a aplicação da norma que dê posição mais favorável ao indivíduo. 
	O princípio da prevalência da norma mais favorável ao indivíduo defende a escolha, no caso de conflito de normas (nacionais ou internacionais), daquela que seja mais benéfica ao indivíduo. Não importa a origem, mas sim o resultado: benefício ao indivíduo. O princípio sofre desgaste profundo pelo reconhecimento da existência da interdependência e colisão aparente entre os direitos, o que faz ser impossível a adoção desse critério no ambiente do século XXI no qual há vários direitos (de titulares distintos) em colisão.
II. A resolução dos conflitos entre direitos humanos
Aspectos gerais. Delimitação dos Direitos Humanos
A força expansiva dos direitos humanos consiste no fenômeno pelo qual os direitos humanos contaminam as mais diversas facetas do ordenamento jurídico. Essa verdadeira jusfundamentalização do direito, inclusive atingindo relações entre particulares (eficácia horizontal de direitos humanos), gera conflito aparente entre direitos de titulares diversos, exigindo do intérprete sólida argumentação jurídica sobre os motivos da prevalência de um direito em detrimento de outro, em determinada situação.
Os direitos humanos encontram seus limites tanto na sua redação original quanto na interação com os demais direitos. Não existem direitos absolutos, porque os direitos humanos convivem com os demais direitos previstos na Constituição e nos tratados internacionais. 
A colisão de direitos (ou colisão de direitos em sentido estrito) é constatada quando o exercício de um determinado direito prejudica o exercício de outro direito do mesmo titular ou de titular diverso. Do ponto de vista subjetivo, essas colisões podem envolver direitos do mesmo titular ou de titulares diferentes. Nos casos em que o titular dos direitos é a mesma pessoa, existe a concorrência de direitos. Do ponto de vista objetivo, as colisões podem envolver direitos idênticos ou de diferentes espécies. Já a colisão de direitos em sentido amplo consiste no exercício de um direito que conflita ou interfere no cumprimento de um dever de proteção de um direito qualquer por parte do Estado.
Teoria Interna
Os conflitos são superados pela determinação do verdadeiro conteúdo dos direitos envolvidos. Trata-se de fórmula de superação dos conflitos aparentes entre direitos humanos, mediante o uso da interpretação sistemática e finalística, que determinaria o verdadeiro conteúdo dos direitos envolvidos e a adequação desse conteúdo à situação fática analisada. Para a teoria interna, há limites internos a todo direito, quer estejam traçados expressamente no texto da norma (direito fundamental traz, em seu texto, a própria ressalva que o exclui da aplicação no caso concreto), quer sejam imanentes ou inerentes a determinado direito, o que faz com que não seja possível um direito colidir com outro (trata-se do poder do intérprete de reconhecer qual é a estrutura e finalidades do uso de determinado direito, delimitando-o). Desse modo, a teoria interna nega os conflitos entre direitos humanos: “o direito cessa onde o abuso começa”. Resultado do uso da teoria interna: ou a situação fática é albergada no âmbito de incidência de um direito humano, ou não o é e consequentemente não há direito algum a ser invocado. Crítica: dificuldade do intérprete em delimitar, racionalmente, o conteúdo dos direitos em análise, tornando-se um critério arbitrário.
Teoria Externa
Adota a separação entre conteúdo do direito e limites que lhe são impostos do exterior, oriundos de outros direitos. Visa à superação dos conflitos entre direitos dividindo o processo de interpretação em dois momentos: 1) delimitação do direito prima facie envolvido (identificação sobre se o direito o direito aparentemente incide sobre a situação fática); 2) investigação sobre a existência de limites justificáveis impostos por outros direitos, de modo a impedir que o direito aparente (ou prima facie) seja considerado um direito definitivo. A justificação se dá pelo critério da proporcionalidade, que é, portanto, a chave mestra da teoria externa, pois garante racionalidade e controle da argumentação jurídica que será desenvolvida para estabelecer os limites externos de um direito e afastá-lo da regência de determinada situação fática. São nos casos difíceis (hard cases) que a insuficiência da teoria interna se apresenta. A adoção da teoria externa nestespor sisó crime internacional os agentes também serão responsabilizados).
OC n º 15/1997(Chile questionou os informes da CIDH): A Corte concluiu que a CIDH não está autorizada a modificar os dados dos informes transmitidos a Estado, salvo nas circunstâncias excepcionais(art. 54/59). REGISTRE-SE QUE EM NENHUMA HIPÓTESE A CIDH PODERÁ EXPEDIR UM 3º INFORME. Por fim, fixou o entendimento de que o Estado solicitante pode desistir da pretensão de obter uma opinião consultiva, mas isto não terá efeito vinculante para o tribunal Interamericano.
OC nº 16/1999 (México solicitou opinião sobre pena de morte e assistência consular do estrangeiro apenado): A Corte concluiu que este direito deve ser garantido ao estrangeiro, devendo o estado receptor cumprir o direito à assistência consular sem qualquer dilação, em respeito ao devido processo legal.
OC nº 17/1997 (CIDH solicitou que a Corte confeccionasse standards gerais para as obrigações de proteção dos direitos das crianças) : As diretrizes de Riad, Regras de Beijing e as Regras de Toquio devem ser citadas como diplomas internacionais a serem observados na interpretação dos arts. 8 e 25 da CADH.
OC nº 18/2003 (México questionou sobre a possibilidade da aplicação do princípio da igualdade e da não discriminação aos imigrantes ilegais): A Corte concluiu que estes princípios são normas jus cogens e devem ser aplicados independentemente do status migratório ou não do indivíduo.
OC nº19/2005 (Venezuela solicitou opinião sobre a existência ou não de um órgão no sistema interamericano de direitos humanos com competência para exercer controle de legalidade sobre a atuação da CIDH): A Corte exarou parecer no sentido de que a CIDH é órgão autônomo do sistema interamericano de direitos humanos e possui independência e autonomia no exercício de suas funções.
OC nº20/2009 ( Argentina solicitou opinião acerca da figura do juiz ad hoc e da possibilidade de magistrado da mesma nacionalidade do Estado réu processar e julgar a demanda): A Corte concluiu que a possibilidade de o Estado indicar juiz ad hoc quando não houver um juiz de sua nacionalidade se restringe aos casos contenciosos interestatais (nenhum até o momento). Decidiu, ainda, que a presença de um juiz nacional acaba por ocasionar a quebra do equilibrio entre as partes, não sendo possível, então, que o juiz nacional do Estado demandado participe no conhecimento de casos contenciosos originados em petições individuais
OC nº 21/2014 (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai realizaram consulta para saber quais as obrigações dos Estados em situações internas que envolvam os direitos das crianças e dos adolescentes migrantes.):A Corte estabeleceu alguns deveres do Estado para com os migrantes menores de 18 anos, a saber: a) notificação da abertura do processo migratório e o direito a esse processo ser conduzido por uma autoridade especializada no assunto; b) direito de ser ouvido e participar de diferentes fases processuais; c) ser assistido por tradutor e intérprete; d) direito à notificação consular (OC nº16). e) direito a ser assistido por um representante legal; f)dever de designação de um tutor caso esteja desacompanhado; g) observância do princípio do superior interesse da criança ( best interest of child). Nesta OC a Corte também decidiu ser possível utilizar opiniões consultivas podem ser parâmetro para o controle de convencionalidade.
OC nº 22/2016 (Panamá questionou sobre a possibilidade de pessoas jurídicas terem legitimidade de demandar a proteção de seus direitos humanos perante o sistema interamericano): A Corte concluiu que somente em duas situações as pessoas jurídicas poderiam obter tal acesso, qual sejam: a) legitimidade das comunidades indígenas; b) legitimidade dos sindicatos e das federações sindicais.
OC nº 23/2017 (Colômbia solicitou opinião para esclarecer a relação entre os compromissos com o respeito aos direitos humanos e os pactos internacionais para a proteção do meio ambiente). A Corte reconheceu a inegável relação de interdependência e indivisibilidade entre a proteção do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e a realização os direitos humanos. A Corte estabeleceu as obrigações do estado com o intuito de respeitar e garantir o direito à vida e à integridade pessoal no contexto da proteção do meio ambiente, determinando que os Estados devem: (i) prevenir os danos ambientais significativos, dentro e fora de seu território, devendo , ainda, regular, supervisionar e fiscalizar as atividades sob sua jurisdição, realizar estudos de impacto ambiental, estabelecer planos de contingência e mitigar os danos ocorridos; (ii) atuar conforme o princípio da precaução em possíveis danos graves ou irreversíveis ao meio ambiente, que afetem os direitos à vida e à integridade pessoal, ainda que ausente a certeza científica do dano; (iii) cooperar com outros Estados de boa-fé para a proteção contra danos ambientais significativos; (iv) garantir o acesso à informação sobre possíveis afetações ao meio ambiente; (v) garantir o direito de participação pública das pessoas na tomada de decisões e políticas que possam afetar o meio ambiente e (vi) garantir o acesso à justiça, em relação às obrigações estatais para a proteção do meio ambiente.
OC nº 24/2018 (Costa Rica solicitou opinião acerca do reconhecimento da mudança de nome de acordo com a identidade de gênero e também sobre o reconhecimento dos direitos econômicos derivados de união homoafetiva): A Corte concluiu que a orientação sexual e a identidade de gênero são direitos protegidos pela CADH. O direito à identidade de gênero está vinculado às garantias de liberdade e de autodeterminação e seu reconhecimento por parte dos Estados integrantes da OEA e é de vital importância para o pleno gozo dos direitos humanos. A Corte considerou que o nome e a menção a sexo nos documentos de registro de acordo com a identidade de gênero autopercebida são garantias protegidas pela CADH, devendo os Estados parte da OEA reconhecer, regular e estabelecer os procedimentos adequados para o alcance dessas garantias. Ademais, no que se refere à proteção dos direitos referentes à união homoafetiva “Como a própria definição de família não é exclusiva daquela composta por casal heterossexual, o Tribunal considera que o vínculo familiar que pode derivar de um casal do mesmo sexo se encontra protegido pela CADH. Por isso, todos os direitos patrimoniais que derivam desse vínculo devem ser protegidos – sem qualquer discriminação no que diz respeito às garantias já estabelecidas para uniões entre casais heterossexuais”. (informação retirada do site do MPF);
OC nº 25/2018: A instituição do asilo e seu reconhecimento como direito humano no sistema interamericano Resposta: compreende a figura do asilo em sentido amplo, abrangendo, assim, a totalidade das instituições vinculadas à proteção internacional das pessoas forçadas a sair do seu país de nacionalidade ou residência habitual. Ficam compreendidos, portanto, o asilo em sentido estrito, que a Corte chama de "tradição latino-americana do asilo", e também o asilo sob a condição de refugiado. Resposta: 1) O direito à buscar e receber asilo no marco do sistema interamericano se encontra configurado como um direito humano a buscar e receber proteção internacional em território estrangeiro, incluindo com esta expressão o estatuto do refugiado segundo os instrumentos pertinentes das Nações Unidas ou as correspondentes leis nacionais, e o asilo territorial conforme as diversas convenções interamericanas sobre a matéria; 2) O asilo diplomático não se encontra protegido pelo art. 22.7 da CADH e pelo art. 27 da DADDH, regendo-se pelas próprias convenções de natureza interestatal que o regulam e pelo disposto nas legislações internas; 3) O princípio da não devolução é exigível por qualquer pessoa estrangeira, incluídas aquelas em busca de proteção internacional, sobre a qual o Estado em questão esteja exercendo autoridade ou que se encontre sob seu controle efetivo, independentemente de se encontrar no território terrestre, fluvial, marítimoou aéreo do Estado; e 4) O princípio da não devolução não exige somente que a pessoa não seja devolvida, mas também impõe obrigações positivas para os Estados.
OC nº 26/2020: A denúncia da CADH e da Carta da OEA e seus efeitos jurídicos sobre as obrigações estatais em matéria de direitos humanos. Quando um Estado membro da OEA denuncia a CADH: As obrigações convencionais permanecem incólumes durante o período de transição até a denúncia efetiva. A denúncia efetiva da CADH não gera efeitos retroativos. A vigência das obrigações que surgem da ratificação de outros tratados interamericanos de direitos humanos mantém-se ativa. A denúncia efetiva da CADH não anula a eficácia interna dos critérios decorrentes da norma convencional interpretada como parâmetro preventivo de violações aos direitos humanos. As obrigações associadas ao umbral de proteção mínimo da Carta da OEA e da DADDH perduram sob a supervisão da CIDH. As normas consuetudinárias, as decorrentes de princípios gerais de direito e as pertencentes ao jus cogens continuam obrigando o Estado em virtude do direito internacional geral.
OC nº 27/2021: Direitos à liberdade sindical, negociação coletiva e greve, e sua relação com outros direitos, com perspectiva de gênero. Os direitos de reunião e liberdade de expressão, em sua relação com a liberdade sindical, a negociação coletiva e à greve, constituem direitos fundamentais para que os trabalhadores e as trabalhadoras, e seus representantes, se organizem e expressem as reivindicações específicas acerca de suas condições trabalhistas, e possam participar em questões de interesse público com uma voz coletiva, pelo que os Estados têm o dever de respeitar e garantir estes direitos. O direito trabalhista estabelece um piso mínimo de proteção dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, de modo que não podem renunciar em seu prejuízo seus direitos trabalhistas reconhecidos na legislação laboral por meio da negociação coletiva.
OC 28/2021: A figura da reeleição presidencial indefinida em sistemas presidencialistas no contexto do sistema interamericano. A reeleição presidencial indefinida não constitui um direito autônomo protegido pela CADH nem pelo corpus iuris do DIDH. A proibição da reeleição presidencial indefinida é compatível com a CADH, a DADDH e a Carta Democrática Interamericana. A habilitação à reeleição presidencial indefinida é contrária aos princípios de uma democracia representativa e, por isso, às obrigações estabelecidas na CADH e na DADDH.
OC nº 29/2022: Enfoques diferenciados a respeito de determinados grupos de pessoas privadas de liberdade. Os Estados devem aplicar um enfoque diferenciado na atenção das necessidades de distintos grupos populacionais privados de liberdade para assegurar uma execução da pena respeitosa da dignidade humana. Os Estados devem adotar um enfoque diferenciado no tratamento das mulheres grávidas, em período de parto, pósparto e lactância, bem como no tratamento de crianças que vivem em prisões com suas mães ou seus pais ou cuidadores principais, de pessoas LGBTI privadas de liberdade, de povos indígenas e de pessoas idosas.
CONTEÚDO DA JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE: De 1979 a 2023, a Corte já proferiu mais de 400 sentenças, dentre elas:
Velásquez RodriguesVsHonduras: Desaparecimento forçado. Inaugurou a jurisdição contenciosa da corte (ciclo hondurenho), a Corte inverteu o ônus da prova contra o Estado. Necessidade de realização de audiência de custódia para prevenir a ocorrência de tais desaparecimentos.
Genie LacayoVsNicarágua(Caso da comitiva de Ortega): Assassinato não investigado apropriadamente. Decidiu que houve violação do direito da vítima a um processo contra os violadores de Direitos Humanos em um prazo razoável.
Loayza TamayoVsPeru: Foi presa e ficou incomunicável por 10 dias, sendo submetida a tortura e tratamentos cruéis. A CADH proíbe o bis in idem contra os mesmos FATOS (mais abrangente). As recomendações da CIDH são vinculantes quanto ao 2º informe.1ª vez que a Corte reconheceu o dano ao “Projeto de Vida”.
Castillo PetruzziVsPeru(Caso dos juízes sem rosto): 1º precedente sobre a impossibilidade da justiça militar julgar civis (Em 2013 o PGR ajuizou a ADPF 289 sustentando que a submissão de civis justiça militar em tempo de paz fere o Estado Democrático de direito).
Villagrán MoralesVsGuatemala(Caso dos Meninos de Rua): Sequestro, tortura e morte de menores de rua. A limitação arbitrária da vida não se limita ao ilícito do homicídio, mas também ao direito de viver com dignidade.
BarriosAltosVsPeru: As leis autoanistia são incompatíveis com a CADH (art. 8º e 25º).
Comunidade Mayagna Awas TingniVsNicarágua: 1º caso envolvendo a relação entre as comunidades tradicionais e a propriedade de suas terras. Interpretação evolutiva do art. 21 da CADH para também abarcar a proteção da propriedade comunal dos indígenas. Restrições para a outorga a terceiros de direitos de exploração sobre recursos naturais em territórios indígenas.
BulacioVsArgentina: A conduta processual do acusado(expedientes protelatórios) tem relevância sobre o prazo máximo de duração do processo (Caso donadon – Brasil, 2013).Crimes que implicam em violações de direitos Humanos devem ser imprescritíveis.
Niñas Yean e BosicoVsRepública Dominicana: Crianças Haitianas que tiveram negados seus registros de nascimento e permaneceram apátridas por mais de 4 anos na República Dominicana. A Corte decidiu que os Estados não possuem discricionariedade ilimitada para definir quem é nacional, tendo o dever de evitar a apatridia. O direito ao nome constitui um elemento básico e indispensável da identidade de cada pessoa.
Masacres de ItuangoVsColômbia: 1º a abordar violação do art. 6.2 da CADH. A corte fixou parâmetros para identificar trabalho forçado: (i) ameaça de sanção; (ii) oferecimento não espontâneo para o trabalho; (iii) atribuição da violação a agentes do Estado.
ClaudeReyesVsChile: Acesso público a informação sobre impactos ambientais de uma obra. Houve ampliação do direito à liberdade de informação para abranger sua dimensão coletiva.
AmonacidArellanoVsChile: incompatibilidade da lei de anistia com a CADH. Corte inaugurou formalmente a doutrina do controle de convencionalidade.
Del Pueblo SaramakaVs Suriname: Parâmetros de consulta aos povos indígenas afetados por grandes projetos: a) consentimento livre, prévio e informado; b)garantia ao acesso às informações sobre os impactos sociais e ambientais; c) respeito aos métodos tradicionais da comunidade para a tomada de decisões
ChaparroÁlvarezyLapoÍñiguezVsEquador(caso audiência de custódia): A Corte exigiu o direito do preso de ser apresentado e ouvido, sem demora, perante autoridade judicial ou com poderes judiciais, não bastando apenas a análise documental da prisão pelo juiz.
VélezLoorVsPanamá:Caso de imigração irregular. Impossibilidade de fixação de políticas migratórias cujo foco principal seja a detenção arbitrária. Direito à realização de audiência de custódia em caso de prisão decorrente de situação migratória. Necessidade de defesa técnica nos procedimentos administrativos/judiciais que possam resultar em expulsão/deportação. Direito à assistência consular do preso migrante (OC nº 16). Necessidade de separar presos por situação migratória irregular dos que cometeram infrações penais. NO BRASIL: convergência entre o STF e a Corte acerca do direito à assistência consular (ex.: de diálogo entre as cortes); inconvencionalidade da interpretação dos tribunais superiores que admitem a incidência da SV nº 5 ao interrogatório de estrangeiro em processo administrativo de expulsão. (Ex.: STJ, em 2011, no HC 196570, decidiu com base na SV).
CabreraGarcia/MontielFloresVsMéxico: Caso de prisão em condições degradantes, tortura, falha na investigação, violaçãonoo devido processo. Necessidade de exclusão de provas obtidas mediante coação e das que dela derivarem.
Acosta Vs Nicarágua (sentença em 25/03/2017): O estado foi acusado de não investigar diligentemente e em prazo razoável a morte de defensor de direitos humanos dos povosindígenas, violando o direito à justiça e à verdade.
GelmanVsUruguai: Condenação da parte Uruguaia no contexto da Operação condor ( união de forças das ditaduras da Argentina, Brasil, Chile e Uruguai para troca de informações, tortura, perseguição e assassinatos dos opositores). A Corte julgou o Caso de Maria Macarena que foi tirada de seus pais biológicos argentinos e entregue à adoção no Uruguai. A Corte entendeu que a negação da própria identidade da criança foi um caso particular de desaparecimento forçado e condenou o Uruguai por violação do direito ao reconhecimento da personalidade jurídica, à nacionalidade, dentre outros.
BarretoLeivaVsVenezuela: A Corte decidiu que o foro por prerrogativa de função e a competência por conexão para esses caso é compatível com a CADH. Posicionou-se no sentido de que a garantia do duplo grau se aplica mesmo quando o acusado é julgado pela instância máxima do seu país. ACR afirma que este caso é frequentemente citado nos debates sobre a inconvencionalidade da competência constitucional do STF para julgar crimes de determinadas autoridades. (Ex: caso do mensalão).
Radilla PAchecoVsMéxico: A Corte reafirmou que a proibição do desaparecimento forçado tem status de jus cogens.
Povo indígena Kichwa de SarayakuVsEquador: É o mais recente caso sobre violações a direitos de comunidades indígenas e tradicionais e reitera a necessidade de se obter um consentimentos desses povos sobre as medias propostas após a realização da consulta prévia, livre e de boa-fé.
Furlan e Familiares Vs Argentina: Acidente sofrido pelo adolescente Furlan nas dependências de um quartel militar desativado, gerando incapacidade psíquica, cognitiva e motora. 1º caso envolvendo a atuação da Defensoria Pública Interamericana. A Corte destacou que a condição de pessoa com deficiência se inter-relaciona com as barreiras socialmente impostas para estas pessoas possam exercer seus direitos de forma efetiva, razão pela qual os Estados americanos têm o dever de incluir a pessoa com deficiência na sociedade e adotar medidas positivas para eliminar as barreiras impostas pela sociedade majoritária.
MohamedVsArgentina: Dever do Estado de adotar medidas para garantir à vítima o direito de recurso à decisão penal condenatória, além da suspensão da sentença. Segundo a Corte, a garantia do duplo grau de jurisdição se origina com a prolação de uma sentença desfavorável, assim, se o acusado for absolvido em 1ª instância e condenado após recurso do MP deve ser garantido um recurso ordinário em que ainda se possa discutir fatos, provas e matérias jurídicas. Ressalte-se que no Brasil, nos casos de absolvição no juízo de 1ª grau e condenação no TJ estadual, também não há recurso ordinário (aquele que devolve toda matéria inclusive fática ao Tribunal ad quem), apenas cabe Resp e RE em que não se pode mais discutir questões de fatos.
Defensor de Direitos Humanos Vs Guatemala: 1º caso em que a Corte estabeleceu uma definição clara para esta categoria, considerando que terá a qualidade de defensor de direitos humanos aquele que atuar na proteção e na promoção dos direitos humanos, independentemente de ser particular ou servidor público. A Corte criou standards para analisar a adequação de medidas adotadas pelos Estados para proteger as atividades de defensores, a saber: (i) estejam de acordo com as atividades desempenhadas pelos defensores; (ii) avaliação do nível de risco para adotar e monitorar as medidas que se encontrem vigentes; (iii) devem poder ser modificadas de acordo com a variação da intensidade do risco. NO BRASIL, caso do defensor Manoel Mattos foi o primeiro incidente de deslocamento de competência julgado procedente pelo STJ.
Comunidades Afrodescendentes Deslocadas do Rio Cacarica Vs Colômbia (Operação gênesis – operação militar contra guerrilheiros das FARC): 1ª vez que a Corte utilizou o termo “comunidade afrodescendente” em vez de “comunidade tribal”. A Corte estendeu de maneira direta e imediata os direitos diferenciados dos povos indígenas. Considerou que o deslocamento forçado viola normas de Direito Internacional Humanitário e a garantia do respeito ao núcleo familiar previsto na CADH, sendo a Colômbia responsabilizada pela violação do direito à liberdade de circulação e residência, à propriedade coletiva, à vida, etc.
J. Vs Peru: A Corte aplicou as regras de Bangkok sobre o tratamento de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras.
Família Pacheco Tineo Vs Bolívia:1ª vez que a Corte analisou um caso envolvendo o princípio do non-refoulement. Tendencia de absorção do Direito Internacional dos refugiados pelos processos internacionais de direitos humanos. Os institutos do refúgio e do asilo podem ser submetidos ao crivo dos tribunais internacionais de direitos humanos.
Norín CatrímanVsChile: Tratou-se de condenação de lideranças indígenas por condutas (protestos sociais pelo direito as terras ancestrais e aos recursos naturais) consideradas terroristas. A Corte entendeu que a aplicação da lei penal violou o princípio da não discriminação e da igualdade perante a lei por estar baseada em estereótipos negativos.
Brewer Carías Vs Venezuela: Pela 1ª vez a Corte não acatou o mérito e acolheu a preliminar de não esgotamento dos recursos internos.
Wong Ho Wing Vs Peru (sentença em 30/06/2015): Trata do pedido de extradição do Sr. Wing sob alegações de que este cometeu o crime de contrabando de mercadorias comuns que na China era punido com pena de morte. FOI O 1º CASO A VINCULAR A COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL AOS DIREITOS HUMANOS.
CASOS POR MATÉRIA
Direitos Políticos. Yatama Vs Nicarágua: 1º Caso em matéria de direitos políticos. Discriminação indireta/colateral/invisível e teoria do impacto desproporcional (casos no Brasil: teto para o salário maternidade; recepção ou não do crime de pederastia do CPM; para Barroso a criminalização do Aborto discrimina mulheres negras e de baixa escolaridade (HC 124306); ADI 4424 ajuizada pelo PGR para declarar inconstitucional a exigência de representação da vítima mulher para início de ação penal relativa a crime de lesão corporal leve praticado no ambiente doméstico. "A democracia representativa é determinante em todo o sistema do qual a Convenção integra e constitui um 'princípio' reafirmado pelos Estados americanos na Carta da OEA, instrumento fundamental do sistema interamericano".
Castañeda Gutman Vs México. A Corte IDH admitiu uma margem de apreciação nacional para o Estado regular a matéria de filiação partidária obrigatória e requisitos para definição das características dos seus sistemas eleitorais. A Corte entendeu que o art. 23.2 não pode ser interpretado literalmente - no que diz respeito às condições que podem limitar o exercício dos direitos políticos de votar e ser votado -, mas sim no contexto geral da CADH. Os Estados podem estabelecer outras condições para o exercício dos direitos políticos de votar e ser votado, desde que sejam estritamente legais, busquem uma finalidade legítima, sejam necessárias numa sociedade democrática e também proporcionais.
No Caso Pacheco León e outros vs. Honduras, a Corte afirmou que, entre os deveres do Estado para criar as condições efetivas para o gozo dos direitos políticos, está a prevenção de ameaças ou agressões à vida de uma pessoa por sua atividade política, o que contempla, segundo a Corte, as etapas prévias ao processo eleitoral em si, como as campanhas. Para a Corte, "Em termos gerais, existe uma obrigação dos Estados de prover medidas eficazes para garantir a realização de processos eleitorais adequados, e estas podem implicar ações de segurança ou proteção a respeito de candidatos ou outras pessoas intervenientes nestes processos".
No julgamento do Caso López Lone e outros vs. Honduras, fazendo menção aos Princípios Básicos das Nações Unidas relativos à Independência Judicial e também aos Princípios de Bangalore sobre a Conduta Judicial, a Corte admite que a garantia da independência e imparcialidade da Magistratura impõe algumas limitações para a liberdade de expressãodos juízes sobre assuntos políticos. Contudo, a Corte entendeu que os juízes têm o direito de se manifestar em defesa da democracia. "É possível concluir então que, em momentos de graves crises democráticas, não são aplicáveis às atuações dos juízes e das juízas em defesa da ordem democrática, as normas que ordinariamente restringem seu direito à participação na política. Neste sentido, seria contrário à própria independência dos poderes estatais, assim como às obrigações internacionais do Estado derivadas de sua participação na OEA, que os juízes e as juízas não possam se pronunciar contra um golpe de Estado".
No Caso do Tribunal Constitucional vs. Peru e Caso do Tribunal Constitucional vs. Equador a Corte analisou a convencionalidade de julgamentos de impeachment (pela casa legislativa). Para a Corte, embora a função jurisdicional pertença eminentemente ao Poder Judiciário, outros órgãos e autoridades públicas também podem exercer funções desse tipo, de modo que "quando a Convenção se refere ao direito de toda pessoa a ser ouvida por um juiz ou tribunal competente para a determinação de seus direitos, esta expressão se refere a qualquer autoridade pública, se administrativa, legislativa ou judicial, que através de suas resoluções determine direitos e obrigações das pessoas". A Corte concluiu que a pessoa sujeita a um julgamento pelo Poder Legislativo conserva seu direito de ser julgada por um órgão competente, independente e imparcial. O STF, na MC na ADPF 378 (Caso Dilma), adotou entendimento diverso.
Caso López Mendoza vs. Venezuela. Restrição a direitos políticos decidida em processo não penal. O art. 23.2 da CADH somente admite a limitação dos direitos políticos por condenação, por juiz competente, em processo penal. A LC 64/1990, alterada pela Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010), também admite inelegibilidade decorrente de condenação em ação cível de improbidade administrativa e até mesmo de sanção aplicada pelo órgão profissional competente (um processo administrativo). "O art. 23.2 da Convenção determina quais são as causas que permitem restringir os direitos reconhecidos no art. 23.1, assim como, se for o caso, os requisitos que devem ser cumpridos para que se proceda com tal restrição. No presente caso, que se refere a uma restrição imposta pela via de sanção, deveria tratar-se de uma 'condenação, por juiz competente, em processo penal'. Nenhum destes requisitos foi cumprido, pois o órgão que impôs estas sanções não era um 'juiz competente, não houve 'condenação' e as sanções não foram aplicadas como resultado de um 'processo penal' (...)".
Direito das Mulheres. González Vs México (Campo algodoeiro): 1º Caso apreciado sobre violência estrutural de gênero. 1ª vez que um tribunal internacional reconheceu a existência do feminicídio como crime. A sentença determinou a indenização dos familiares, a promoção de medidas que compatibilizem o direito interno com o internacional de proteção à mulher, sobretudo com a Convenção de Belém do Pará. A corte decidiu pela impossibilidade de reconhecer o dano ao projeto de vida quando a vítima não estiver viva. NO BRASIL, por meio da Lei nº 13.104/2015, o CP passou a prever o feminicídio como qualificadora objetiva (REsp 1.707.113/MG, de Relatoria do Ministro Felix Fischer, publicado no dia 7.12.2017) do crime de homicídio. No mesmo sentido de julgamento com perspectiva de gênero Caso Veliz Franco e outros vs. Guatemala. 
Caso Fernández Ortega e outros vs. México. Parâmetros que os Estados devem adotar na investigação de violência sexual contra mulher: A declaração da vítima deve realizar num ambiente cômodo e seguro, que lhe ofereça privacidade e confiança. A declaração da vítima deve ser registrada de forma tal que se evite ou se limite a necessidade de sua repetição. Seja oferecida atenção médica, sanitária e psicológica à vítima, tanto de emergência como de forma continuada se assim requer, mediante um protocolo de atenção cujo objetivo seja reduzir as consequências da violação. Seja realizado imediatamente um exame médico e psicológico completo e detalhado por pessoal idôneo e capacitado, se possível do sexo que a vítima indique, oferecendo-lhe que seja acompanhada por alguém de sua confiança se assim desejar. Sejam documentados e coordenados os atos investigativos e se maneje diligentemente a prova, tomando amostras suficientes, realizando estudos para determinar a possível autoria do fato, assegurando outras provas como roupa da vítima, investigando de forma imediata o lugar dos fatos e garantindo a correta cadeia de custódia. Seja oferecido acesso à assistência jurídica gratuita durante todas as etapas do processo.
Caso Velásquez Paiz e outros vs. Guatemala. "A vinculação da liberdade de expressão resulta do fato de que a escolha individual da vestimenta e dos acessórios que modificam a aparência física serve para exteriorizar a adesão a determinado grupo ou cultura, manifestação que, por isso mesmo, tem conteúdo político relevante. (...) O Estado tem a obrigação de garantir um ambiente seguro para que toda mulher que decida manifestar domínio sobre seu próprio corpo, usando roupas diferentes daquelas incentivadas pela sociedade, possa fazê-lo" .
Caso Espinoza González vs. Peru. A Corte ODH considerou a palavra da vítima como prova fundamental sobre o fato, possuindo, então, um peso diferenciado para a formação da culpa do réu.
Caso do Presídio Miguel Castro Casto, Caso Velásquez Paiz e outro vs. Guatemala e Caso Favela Nova Brasília vs. Brasil. A Corte IDH afirmou que, em casos de participação de agentes estatais na prática de crime contra a dignidade sexual de mulheres, a Corte IDH entendeu por qualificar a conduta como tortura, tendo como consequência a imprescritibilidade.
Caso Artavia Murillo Vs Costa Rica: 1º precedente da Corte em que a fertilização in vitro(FIV) foi analisada a partir de direitos humanos. A proibição da FIV viola o direito à liberdade pessoal e à vida privada, vez que interfere na autonomia reprodutiva e no direito de gozar dos benefícios do progresso cientifico (acesso aos serviços de saúde reprodutiva). Ocasiona, ainda, a discriminação indireta de mulheres inférteis e casais sem condições de realizar FIV no exterior. A Corte decidiu que a Concepção a que se refere o art. 4.1 da CADH somente ocorre com a implantação do óvulo fecundado no útero, concluindo que o embrião ainda não pode ser considerado pessoa. NO BRASIL, o STF teve entendimento semelhante no caso da admissão de “pesquisa em células troncos” – ADI 3510.
Caso Manuela e outros vs. El Salvador. A Corte IDH embora não tenha reconhecido diretamente que o aborto seja um direito da mulher, sua crítica à criminalização está implícita em seus pronunciamentos sobre o assunto. Um outro ponto importante do Caso Manuela diz respeito ao sigilo médico em relação à notícia de aborto pela mulher quando em atendimento médico (mais detalhes do caso no Ponto de Direitos sexuais e reprodutivos – 8C).
Caso Brítez Arce e outros vs. Argentina. Violência obstétrica. Cristina Brítez Arce estava grávida de nove meses. Foi a um hospital público em Buenos Aires, onde fez uma ultrassom que indicou que o feto estava morto, motivo pelo qual foi internada para induzir o parto. A indução do trabalho de parto começou às 13h45 e se encerrou às 17h15, quando foi transferida para a sala de partos com dilatação completa. Durante esse tempo, teve que esperar por duas horas numa cadeira. Brítez Arce faleceu no mesmo dia, às 18h, por parada cardiorrespiratória não traumática. As instâncias nacionais - penal e cível - falharam na reparação da violação de direitos humanos.
Caso Angulo Losada vs. Bolivia. Sentença em 18.11.2022. Uma menina de 16 anos que foi vítima de violência sexual praticada por um primo, afirmou que as disposições penais relacionadas com a violência sexual devem conter a figura do consentimento como elemento central. Assim, "para que se pratique uma violação, não se deve exigir a prova da ameaça, o uso da força ou a violência física, bastando para isso que se demonstre, mediante qualquermeio probatório idôneo, que a vítima não consentiu com o ato sexual. Os tipos penais relativos à violência sexual devem se centrar no consentimento, elemento essencial no acesso à justiça das mulheres vítimas de violência sexual. (...) Cabe sublinhar que somente se pode entender que há consentimento quando este tenha sido manifestado livremente mediante atos que, em atenção às circunstâncias do caso, expressem de maneira clara a vontade da pessoa. O consentimento pode ser verbal ou pode decorrer de um comportamento evidentemente identificável como uma participação voluntária".
Caso Márcia Barbosa de Souza Vs Brasil. (abaixo).
Direitos LGBTQIA+. Caso Atala Riffo Vs Chile; 1º caso que a corte afirmou que orientação sexual e identidade de gênero são categorias protegidas pelo direito à igualdade e a não-discriminação previstos na CADH. A orientação sexual dos pais não pode servir como fundamento para decidir processo judicial de guarda. A CADH não estabelece o modelo tradicional de família como o único possível, nem tampouco exigiu o matrimônio para a sua configuração. A Corte condenou o Chile por violar, entre outros: 1) o direito à igualdade e à não discriminação; 2) o direito à vida privada; 3) o direito à honra e à dignidade; e 4) o direito à à proteção da família. A Corte afirmou que a orientação sexual e a identidade de gênero são categorias protegidas pela CADH por meio da expressão "outra condição social" prevista no art. 1.1, que proíbe qualquer norma, ato ou prática discriminatória baseada na orientação sexual pelo Direito interno, seja por parte de autoridades estatais ou por particulares.
Caso Duque Vs Colômbia (sentença em 2016): A Corte entendeu que orientação sexual não pode ser entendida como fator determinante para impedir a obtenção do benefício de pensão por morte. A Corte reconheceu o direito à pensão por morte ao senhor Duque em razão do falecimento do seu companheiro, condenando a Colômbia a implementar o benefício em virtude de uma questão de gênero.
Caso Flor Freire Vs Equador (sentença em 2016): Orientação sexual não pode ser fator determinante para definir quem pode ou não fazer parte das forças armadas. A Corte IDH decidiu no sentido da inconvencionalidade de se considerar a orientação sexual como fator determinante para selecionar quem deve ou não ser membro das Forças Armadas. Um precedente importante contra a homofobia e a discriminação de natureza sexual que tradicionalmente estiveram incorporadas no regime disciplinar e hierárquico das Forças Armadas.
Caso Azul Rojas Marin e outra vs. Peru. Sentença de 12.03.2020. O caso se relaciona com a prisão ilegal, arbitrária e discriminatória de Azul Rojas Marin supostamente para fins de identificação, seguida de graves atos de violência física e psicológica, havendo uma relação com a identificação ou percepção de Azul Rojas, naquele momento, como um homem gay. A Corte advertiu que "A violência contra as pessoas LGBTI tem um fim simbólico, a vítima é escolhida com o propósito de comunicar uma mensagem de exclusão ou de subordinação. (...) a violência exercida por razões discriminatórias tem como objetivo ou propósito impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício dos direitos humanos e liberdades fundamentais da pessoa objeto desta discriminação (...). Esta violência, alimentada por discursos de ódio, pode gerar crimes de ódio" .
Caso Vicky Hernández vs. Honduras. Julgado pela Corte IDH em 26.03.2021. Primeiro caso que aborda diretamente a violência contra pessoa trans. O caso se relaciona com a morte de Vicky Hernández, mulher trans e defensora de direitos humanos, entre a noite do dia 28 de junho e a madrugada de 29 de junho de 2009, na cidade de San Pedro Sula, enquanto estava vigente um toque de recolher. A Comissão indicou que a morte de Vicky ocorreu em dois contextos relevantes: violência e discriminação contra pessoas LGBTI em Honduras e, ainda, um golpe de Estado praticado em junho de 2009. No caso, a Corte ainda considerou violada a Convenção de Belém de Pará, que se aplica a mulheres transgênero. Investigar, processar e punir os responsáveis pelo assassinato. Ato público de reconhecimento da responsabilidade. Realizar um documentário audiovisual sobre a situação de discriminação e violência que experimentam as mulheres trans em Honduras. Criar o curso educativo "Vicky Hernández" para mulheres trans. Indenização.
Caso Pavez Pavez vs. Chile. Sentença proferida em 04.02.2022. A senhora Sandra Cecília Pavez Pavez foi declarada inabilitada, com base em sua orientação sexual, para o exercício do ensino religioso em uma escola pública. De acordo com um decreto do Ministro da Educação, professore(a)s de educação religiosa precisavam de um certificado de idoneidade expedido por uma autoridade eclesiástica. Pavez Pavez obteve esse certificado em 1982, com várias renovações. O Poder Judiciário chileno, provocado pela senhora Pavez Pavez, manteve a revogação do seu certificado de idoneidade, compreendendo que o ato da autoridade eclesiástica não poderia ser considerado ilegal ou arbitrário. Por essa razão, a Corte condenou o Chile, pela violação dos direitos humanos da senhora Pavez Pavez.
Liberdade de expressão. Caso Moya Chacón Vs Costa Rica. A Corte considerou que a proteção das fontes jornalísticas é a pedra angular da liberdade de imprensa e, em geral, de uma sociedade democrática, uma vez que permitem às sociedades se beneficiar do jornalismo investigativo com o fim de reforçar a boa governança e o Estado de Direito.
Caso Urrutia Laubreaux vs. Chile (2020) O juiz UrritIa sofreu penalidade de censura, depois reduzida a uma admoestação privada, ao juiz Daniel Urrutia Laubreaux, por produzir um trabalho acadêmico sobre a Suprema Corte de Justiça, criticando suas atuações durante o regime militar chileno. A Corte IDH concluiu que "(...) embora a liberdade de expressão de juízes possa estar sujeita a maiores restrições que a de outras pessoas, isso não implica que qualquer expressão de um juiz possa ser restringida. Neste sentido, não é compatível com a CADH punir as expressões realizadas em um trabalho acadêmico sobre um tema geral e não em um caso concreto, como o realizado pela vítima no presente caso.
Caso Carvajal Carvajal e outros vs. Colômbia. A Corte afirma que a liberdade de expressão tem uma dimensão individual e uma dimensão social (...). Este Tribunal entende que ambas as dimensões possuem igual importância e devem ser garantidas plenamente de forma simultânea para dar efetividade total ao direito à liberdade de expressão"
Caso Lagos del Campo Vs Peru. Paradigmático por ser a primeira vez que a Corte reconheceu violação direta ao art. 26 da CADH, superando o seu entendimento a respeito da judicialização indireta ou mediata dos direitos econômicos, sociais e culturais. a vítima do caso havia sido demitida como consequência de manifestações realizadas na condição de presidente do Comitê Eleitoral da Comunidade Industrial de uma empresa. Para a Corte a liberdade de expressão é uma condição necessária para o exercício de organizações de trabalhadores, a fim de proteger seus direitos trabalhistas, melhorar suas condições e interesses legítimos, pois sem este direito estas organizações careceriam de eficácia e razão de ser.
Caso Olmedo Bustos Vs Chile: Censura prévia ao filme “a última tentação de cristo”. Normas Constitucionais originárias podem ser objeto de controle de convencionalidade. O direito à liberdade de expressão possui uma dimensão individual (direito de se expressar) e uma social (direito de buscar e disseminar informações). NO BRASIL: Caso Ellwanger -; Caso Grald Thomas; Caso Jonas Abib.
Caso Palamara Iribarne vs. Chile: proibição de circulação de um livro sobre ética e serviço militar que estava editado e em processo de publicação para ser comercializado.
Caso Mémoli vs. Argentina: "(...) a Corte estima pertinente esclarecer que isso não significa que os jornalistas estão isentos de responsabilidade no exercício da sua liberdade de expressão. O exercício abusivo da liberdade de expressão, seja poruma pessoa particular ou um jornalista, pode estar sujeito ao estabelecimento de responsabilidades posteriores, conforme o art. 13.2 da Convenção". 
Caso Kimel vs. Argentina: a tipificação dos crimes contra a honra, como calúnia e difamação, desde que observada a exigência de previsão suficiente da normativa penal, é compatível com a liberdade de expressão, que é um direito relativo.
No Caso Palamara Iribarne vs. Chile (crime de desacato) assim como em outros casos, o desacato foi usado para restringir a liberdade de expressão na publicação e comercialização de livros, porém, não há um precedente da Corte IDH no sentido da compreensão da CIDH, isto é, que tenha afirmado claramente a inconvencionalidade do crime de desacato independentemente do contexto que ensejou a sua aplicação.
Caso Palacio Urrutia vs. Equador: A Corte tratou da utilização excessiva do Direito Penal para estabelecer responsabilidades posteriores resulta em uma violação da liberdade de expressão. "É sabido que existe uma corrente que postula a supressão dos tipos penais de crimes contra honra, para passar a resolver a conflitividade resultante destas lesões perante a justiça cível. A questão é discutível e em geral, na América Latina, não se tem seguido essa linha, tampouco a Corte já se pronunciou a respeito, o que é correto, pois incumbe a cada Estado decidir seus próprios critérios de política criminal, sempre que não violem a CADH nem outros instrumentos de direitos humanos" (Voto de Zaffaroni). No caso, a Corte ainda mencionou a vedação às chamadas “demandas SLAPP” - “strategic lawsuit against public participative” (demanda estratégica contra a participação pública)., do Estado, com o fim de tolher a liberdade de expressão. 
Caso Ricardo Canese vs. Paraguai: "A Corte considera que, no contexto de uma campanha eleitoral, a liberdade de pensamento e de expressão em suas duas dimensões, constitui um bastião fundamental para o debate durante o processo eleitoral, devido a que se transforma em uma ferramenta essencial para a formação da opinião pública dos eleitores, fortalece a disputa política entre os distintos candidatos e partidos que participam nos comícios e se transforma em um autêntico instrumento de análise das plataformas políticas abordadas pelos distintos candidatos, o que permite uma maior transparência e fiscalização das futuras autoridades e de sua gestão".
Caso Ivcher Bronstein vs. Peru: A Corte afirmou ser vedada também restrição indireta à liberdade de expressão, como por exemplo cancelar a naturalização de cidadão, o que o impede de exercer alguns atos e atividades como a de ter um canal de televisão. Embora tradicionalmente se tenha aceitado que a determinação e a regulação da nacionalidade sejam de competência de cada Estado, o Direito Internacional impõe certos limites à discricionariedade dos Estados, afirmando que a regulamentação da nacionalidade compete não somente aos Estados, mas também ao Direito Internacional. As garantias do devido processo também devem ser observadas no processo administrativo de cancelamento da naturalidade. Primeiro caso de violência indireta da liberdade de expressão.
DESCA. Caso Cuscul Pivaral e outros vs. Guatemala. "(...) a dimensão progressiva de proteção dos DESCA, embora reconheça uma certa gradualidade para sua realização, também inclui um sentido de progresso, que requer a melhora efetiva das condições de gozo e exercício desses direitos, de forma que se corrijam as desigualdades sociais e se facilite a inclusão de grupos vulneráveis. Nessa lógica, a obrigação de realização progressiva proíbe a inatividade do Estado em sua tarefa de implementar ações para obter a proteção integral dos direitos, sobretudo nas matérias em que a ausência total de proteção estatal coloca as pessoas ante a iminência de sofrer um dano a sua vida ou a sua integridade pessoal".
Caso Guachalá Chimbo e outros vs. Equador. Proibição de discriminação: no contexto do desenvolvimento progressivo, há uma obrigação imediata de não discriminar no que diz respeito ao desfrute dos direitos sociais em sentido amplo.
Caso Ximenes Lopes vs. Brasil.
Caso Poblete Vilches e outros vs. Chile. "(...) entendida a saúde não só como a ausência de afecções ou doenças, mas também como um estado completo de bem-estar físico, mental e social, decorrente de um estilo de vida que possibilite às pessoas alcançar um equilíbrio integral". Este foi o primeiro caso da Corte IDH sobre direitos das pessoas idosas em matéria de saúde.
Caso "Instituto de Reeducação do Menor" vs. Paraguai: direito à educação de crianças privadas de liberdade. Sucessivos incêndios que ocasionaram a morte de crianças dentro do estabelecimento de detenção. Obrigação de separar criança de adultos nos estabelecimentos prisionais. Relativizou o requisito de individualização das vítimas.
Caso da Comunidade Indígena Xákmok vs. Paraguai: direito à educação no seio de comunidades indígenas com uma perspectiva etnoeducativa. 
Caso Gonzales Lluy e outros vs. Equador: A criança Lluy foi contagiada pelo vírus HIV por conta de transfusão de sangue sem os devidos exames realizados. Após, por ser mulher, pobre e portadora do vírus foram impostos vários obstáculos para que ingressasse na escola e tivesse tratamento de saúde de qualidade (a Corte reconheceu de forma inédita – interseccionalidade dos direitos humanos). A corte responsabilizou o Estado por violação ao direito social a educação."(...) existem três obrigações inerentes ao direito à educação em relação às pessoas que vivem com HIV/AIDS: 1) o direito de dispor de informação oportuna e livre de preconceitos sobre HIV/AIDS; 2) a proibição de impedir o acesso das pessoas com HIV/AIDS aos centros educacionais; e 3) o direito de que a educação promova sua inclusão e não discriminação dentro do ambiente social".
Caso Guzmán Albarracín e outras vs. Equador: importância de um ensino para crianças que contemple o aprendizado sobre a violência de gênero, a violência sexual e a violência contra a mulher, além da educação sexual.
Caso Duque vs. Colômbia: proibição de discriminar o acesso ao benefício de pensão por morte com base na orientação sexual. No mesmo sentido, Caso Muelle Flores vs. Peru.
Populações Indígenas e comunidades tradicionais: Ver ponto 1B.
Penal: Ver ponto 5B.
CASOS BRASILEIROS JULGADOS PROCEDENTES PELA CORTE:
1. Damião Ximenes Lopes (sentença de mérito em 2006): Em 1999 houve o Assassinato do Sr. Damião, pessoa com doença mental, na Casa de Repouso de Guarape-CE. O paciente foi submetido a maus-tratos, sendo encontrado com as mãos amarradas, sangrando, com hematomas. 1º caso envolvendo violação de direitos humanos de pessoa com deficiência. Possibilidade de responsabilizar o Estado por atos cometidos por particulares (equipe médica de clínica privada). A Corte considera que a sujeição (qualquer ação que interfira na capacidade de um paciente tomar decisões ou que restrinja sua liberdade, ex: contenção física e medicamentos neutralizantes) deve ser empregada apenas em último caso e exclusivamente para proteger o paciente, vez que é altamente agressiva e violadora de sua integridade pessoal. A Corte estabeleceu o dever do Brasil elaborar uma política antimanicomial. O BRASIL violou o direito à vida; à integridade física; à integridade pessoal dos familiares; às garantias judiciais e à proteção judicial.
2. Escher e outros (sentença de mérito em 2009): Membros integrantes de organizações comunitárias que mantinham relação com o MST, dentre eles o Sr. Escher, tiveram suas ligações interceptadas a pedido da PM sem investigação criminal formal) e sem o conhecimento do MP (A corte acertadamente entende que a PM não tem legitimidade para requerer a interceptação), e ainda foram divulgados trechos das conversas telefônicas no JN e em coletiva de imprensa convocada pelo Secretário de segurança. A Corte entendeu que a divulgação de conversas telefônicas interceptadas consiste em ingerência arbitrária e ilegal na vida privada, na honra e na reputação dos indivíduos. ( Polêmica decisão do Juiz Sérgio Morode levantar o sigilo de comunicação interceptada entre o ex-presidente Lula e diversos interlocutores).
3. Garibaldi (sentença de mérito em 2009): Assassinato do Sr. Garibaldi (MST) por milícia rural em uma invasão de terras no Paraná (na mesma região do caso Escher), O BRASIL foi condenado por ter descumprido seu dever de investigar e punir violações de direitos humanos, extrapolando sobremaneira a razoável duração de uma investigação em um inquérito que já perdurava por 5 anos. Para a Corte o dever de investigar é uma obrigação de meio e não de resultado, não devendo ser apenas uma formalidade que já está fada ao insucesso ( No Brasil, somente 8% dos crimes contra a vida são elucidados pelo obsoleto sistema de inquérito policial brasileiro).
4. Gomes Lund e outros ( Caso Guerrilha do Araguaia, sentença de mérito em 2010): Desaparecimento forçado de mais de 60 pessoas durante o início da década de 70. A Corte condenou o Brasil por ter violado o direito ao reconhecimento da personalidade jurídica, à vida, à integridade física, à liberdade pessoal e de expressão, às garantias processuais e à proteção judicial ( por não ter investigado e por ter posteriormente concedido anistia aos assassinos e torturadores). A Corte considerou inconvencional a lei nº 6.683/79 (Lei de anistia), divergindo assim do controle de constitucionalidade realizado pelo STF no âmbito da ADPF 153 (que não excluiu os agentes da ditadura militar dos efeitos da lei de anistia). A Corte não acolheu a exceção preliminar do Brasil que afirmava que estaria exercendo um poder de 4ª instância, vez que considera que não há qualquer hierarquia entre suas decisões e as proferidas pelo STF, nem tampouco exerce o papel de revisor, exercendo tão somente o controle de convencionalidade de matriz internacional. Observa-se que o critério do Diálogo entre as Cortes se mostrou insuficiente para solucionar a divergência, devendo-se, nestes casos, partir para o segundo critério de solução, qual seja, a Teoria do Duplo controle/crivo. Ressalte-se que o caso envolve o tema JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO e suas 4 DIMENSÕES(direito à memória e à verdade; direito à reparação das vítimas e seus familiares; tratamento jurídico adequado aos crimes cometidos no passado; reforma das instituições para a democracia – políticas de veto “vetting”); 3 FASES(pós-guerra; pós guerra-fria e justiça de transição no estado estacionário); 4 NÍVEIS(individual – punição dos autores e reparação das vítimas; do Estado-nação; dos atores corporativos da sociedade – pessoas jurídicas; atuação dos tribunais internacionais). A Corte entendeu que é norma jus cogens o dever de investigar e punir os crimes lesa-humanidade. Como a obrigação de investigar e punir os violadores de direitos humanos é permanente, o BRASIL foi processado por violações de direitos humanos cometidos antes de sua adesão à jurisdição contenciosa da Corte. A Corte proferiu um mandado internacional implícito (porque adveio de uma sentença internacional e não de um tratado) de criminalização para a tipificação do delito de desaparecimento forçado. A criação da Comissão Nacional da Verdade (Lei nº 12.582/2011) foi uma das determinações da Corte.
5. Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde - PA (sentença em outubro de 2016): 1º Caso sobre escravidão contemporânea. Situação de discriminação estrutural histórica dos trabalhadores rurais. A exceção preliminar de incompetência ratione temporis foi aceita pela Corte, razão pela qual apreciou as ações e omissões na investigação a partir de 10/12/98 e nos processos relacionados a inspeção realizada na Fazenda no ano de 1997. Para a Corte ficou comprovado que os trabalhadores tinham sido vitimas de tráfico de pessoas, sendo captados por meio de fraude e falsas promessas. Para a Corte é inaplicável a prescrição interna para o crime de redução a condição análoga de escravos. Elementos que definem a escravidão contemporânea para Corte: (i) o estado ou condição de um indivíduo e (ii) o exercício de algum dos atributos do direito de propriedade, pelo qual o escravizador exerça poder ou controle sobre a pessoa escravizada, anulando a personalidade e independência da vítima. A proibição da escravidão é norma jus cogens.
6. Cosme Rosa Genoveva, Evandro de Oliveira e outros (Caso Favela Nova Brasília, sentença de mérito em fevereiro de 2017): Caso de violência, abuso sexual e morte de 26 moradores locais em operação realizada por agentes da Polícia Civil no Rio de Janeiro nos anos de 1994/1995. A Corte determinou que o Brasil realize investigações eficazes de modo a identificar, processar e punir os responsáveis, afastando a hipótese de prescrição para os casos de graves violações de direitos humanos. HÁ MENÇÃO EXPRESSA PARA QUE A PGR AVALIE SE É CASO DE PEDIDO DE IDC. A Corte também determinou que o Brasil publique anualmente relatório oficial com dados referentes às mortes ocorridas durante operações policiais em todos os Estados do país. Ademais, considerando que violência policial é encoberta pela elaboração dos “autos de resistência a prisão”, a Corte determinou que O Estado deve utilizar a expressão “lesão corporal ou homicídio decorrente de intervenção policial”, devendo o conceito de “oposição” ou “resistência” à ação policial” ser abolido dos relatórios.
7. Povo Indígena Xucuru (Brasil foi notificado da decisão em 12/03/2018: A Corte condenou o Brasil por violação aos direitos dos índios Xucuru à propriedade coletiva e à garantia e proteção judicial. O tribunal internacional concluiu que o Brasil não atuou em “prazo razoável” para demarcar o território Xucuru, afastando da terra as 2.300 famílias que formam a etnia, atualmente distribuídas em 24 comunidades. O governo brasileiro demorou 16 anos, entre 1989 e 2005, para reconhecer a titularidade e demarcar as terras dos índios, além de ter atrasado para retirar invasores do território. A Corte determinou que o Brasil garanta, “de maneira imediata e efetiva”, o direito de propriedade do povo Xucuru, conclua a retirada de indivíduos não indígenas das terras mediante o pagamento de indenizações pendentes, e pague indenizações por danos causados pela demora em realizar a demarcação. Apesar da condenação, a CIDH considerou que não há argumentos para que o país modifique sua legislação interna no que diz respeito às questões indígenas. Esta é a primeira vez que o Brasil é condenado em uma corte internacional por violações de direitos indígenas, tendo o prazo máximo de 18 meses para cumprir as determinações da Corte e, no período de um ano, deverá apresentar relatório sobre as medidas adotadas. (informação extraída na íntegra do site do MPF).
8. Vladimir Herzog: Na sentença proferida em março de 2018, a CIDH destaca que o episódio configura um crime contra a humanidade e que a Lei da Anistia não pode ser aplicada como razão para o Estado deixar de investigá-lo. Ainda que o STF tenha reconhecido em 2010 a constitucionalidade da lei, seu teor contraria parâmetros jurídicos internacionais de proteção aos direitos humanos.“A tortura e morte de Vladimir Herzog não foram um acidente, mas a consequência de uma máquina de repressão extremamente organizada e estruturada para agir dessa forma e eliminar fisicamente qualquer oposição democrática ou partidária ao regime ditatorial, utilizando-se de práticas e técnicas documentadas, aprovadas e monitoradas detalhadamente por altos comandos do Exército e do Poder Executivo”, ressalta a CIDH na sentença. O MPF instaurou um novo procedimento para investigar a responsabilidade criminal de agentes da ditadura militar pela morte de Vladimir Herzog, preso e torturado em 1975. A medida se baseia nas determinações da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que condenou o Estado brasileiro devido à falta de investigação, julgamento e punição dos envolvidos no assassinato do jornalista. (informação extraída na íntegra do site do MPF).
9. Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e Outros: Trata-se de caso referente a violações de direitos humanos decorrentes da explosão da fábrica defogos de artifício em Santo Antônio de Jesus/BA que causou a morte de 60 pessoas e lesão de outras 6, em 11-12-1998. Em razão da situação de pobreza da comunidade, as pessoas se submeteram a um trabalho de alto risco em troca de salários baixos. A fábrica possuía condições de trabalho extremamente precárias e guardava materiais proibidos sem condições mínimas de segurança. Ademais, contava com a negligência e conivência de órgãos públicos. Embora houvesse conhecimento dos riscos, nada foi realizado para regularizar a situação da fábrica e proteger os trabalhadores, apesar do desrespeito público às normas técnicas de segurança. Após 20 anos, apenas os processos administrativos e trabalhistas foram encerrados, porém sem garantia à reparação integral das vítimas. A ação penal não se encerrou e repercutiu na demora da apreciação judicial das ações cíveis. A Corte condenou o Brasil pela violação de seu dever de assegurar o direito ao trabalho, em condições de trabalho adequadas (segurança, saúde e higiene) e justas (sem superexploração de mulheres e crianças em trabalho perigoso), em um AMBIENTE DE POBREZA ESTRUTURAL (sem outros empregos disponíveis). O Estado foi também condenado pela falha na punição e reparação dos danos: quase 22 anos após a explosão, as ações penais ainda não transitaram em julgado (houve prescrição em relação a um dos principais responsáveis), tendo também sido insuficientes as reparações cíveis e trabalhistas (sentença de 15-7-2020). Em 22-1-2021, o Brasil apresentou um recurso de interpretação da sentença (art. 67 da CADH) questionando (entre outros aspectos) a jurisdição da Corte IDH para declarar violações do direito ao trabalho, pela mera menção ao art. 26 da Convenção. Na verdade, tratou-se de busca de rejulgamento de objeção ratione materiae já interposta pelo Brasil e rechaçada pela Corte no julgamento de mérito. A Corte IDH laconicamente repetiu ter jurisdição para apreciar e determinar litígios relativos ao artigo 26ª da Convenção, que agora tem natureza autônoma. Esse recurso brasileiro mostra a insatisfação de um Estado réu quanto à função de interpretar de um Tribunal internacional. Tal insatisfação obviamente é incoerente com a decisão adotada de ratificar um tratado (a CADH) que possui um tribunal encarregado de dar a interpretação internacionalista de seu conteúdo, mesmo que tal interpretação seja contrária à interpretação feita por algum Estado ou mesmo por todos os Estados celebrantes.
10. Márcia Barbosa de Souza e Outros: O caso versa sobre o FEMINICÍDIO de Márcia Barbosa de Souza (mulher, negra e pobre), cometido em 1998, pelo deputado estadual no Estado da Paraíba, Aércio Pereira de Lima. O acusado era deputado estadual e o caso só começou a ser julgado quando este deixou de ser parlamentar (em 2003). Embora condenado em 2007, faleceu antes de ser preso. O caso chama peculiar atenção para as interseccionalidades que comumente giram em torno dos casos de violência: pobreza, cor da pele e, no caso de Márcia, jovem estudante vinda do interior da Paraíba. A decisão da Corte no caso Márcia Barbosa destaca a violência contra as mulheres no Brasil, como um problema estrutural e generalizado. Ademais, a Corte asseverou que: i) as investigações não observaram o padrão mínimo de diligência; estavam repletas de estereótipos de gênero e revitimizantes, sem a necessária perspectiva de gênero. O Brasil foi responsabilizado por “violação de direitos e garantias judiciais, proteção judicial e igualdade perante a lei e por aplicação indevida da imunidade parlamentar.
11. Gabriel Sales Pimenta: O Brasil foi condenado pela Corte IDH por “graves falências” judiciais que resultaram na impunidade dos responsáveis pelo assassinato de Gabriel Sales Pimenta, um advogado de trabalhadores rurais assassinado a tiros em Marabá (PA), em 1982. Sua morte ocorreu no contexto da questão fundiária, sempre marcada pela violência no Brasil. O tribunal considerou que, ao se omitir de cumprir sua obrigação de investigar, processar e punir os autores do crime, o Estado brasileiro violou os direitos às garantias judiciais, à proteção judicial, à verdade e à integridade pessoal, previstos na CADH. A Corte sublinha que a violência contra pessoas defensoras de direitos humanos tem um efeito amedrontador (chilling effect), especialmente quando os delitos permanecem impunes. A esse respeito, as ameaças e os atentados à integridade e à vida dos defensores de direitos humanos e a impunidade dos responsáveis por estes fatos são particularmente graves porque têm um efeito não apenas individual, mas também coletivo, na medida em que a sociedade se vê impedida de conhecer a verdade sobre a situação de respeito ou de violação dos direitos das pessoas sob a jurisdição de um determinado Estado”. A Corte também ressaltou que Sales Pimenta não foi vítima de uma situação isolada, mas de um contexto de “impunidade estrutural” em crimes contra trabalhadores rurais e defensores de seus direitos no Pará.
Casos em trâmite contra o Brasil.
1. Tavares Pereira. A Comissão remeteu, em 6-2-2021 à Corte IDH caso (ainda em trâmite) relativo à morte de Antônio Tavares Pereira e às lesões sofridas por outras 185 pessoas trabalhadoras integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em virtude da atuação de agentes da polícia militar do Estado do Paraná, durante a repressão de uma marcha pela reforma agrária realizada em 2-5-2000.
2. José Airton Honorato. Em 28-5-2021, a Comissão IDH encaminhou o caso da “Castelinho”, que se refere às mortes de 12 pessoas (José Airton Honorato e outros) atribuídas a policiais militares em operação policial contra ônibus no qual estavam os mortos, na Rodovia conhecida como “Castelinho” no ano de 2002, e pela situação de impunidade ainda existente. Além da preparação da operação policial (com infiltração de preso em facção criminosa, entre outros aspectos), a Comissão acusou que a Polícia Militar possuía no local aproximadamente cem policiais e, sem a presença de testemunhas, promoveu um tiroteio – justificado contra ato de resistência do grupo no ônibus. Foram realizados mais de 700 disparos, sendo ferido um policial (lesões leves) e morreram as doze vítimas do presente caso. Para a Comissão, o Estado não confirmou a realização de certas diligências essenciais para o esclarecimento dos fatos, conforme os parâmetros interamericanos e seguindo o Protocolo de Minnesota. Finalmente, para que seja superada a impunidade, a Comissão sublinha que o Estado não pode invocar a garantia do ne bis in idem ou da prescrição para justificar o descumprimento da futura condenação da Corte IDH (violação do direito à vida, da proteção judicial, entre outros).
3. Comunidades Quilombola de Alcântara. Comunidades quilombolas pedem a responsabilização do Estado pela desapropriação de 52 mil hectares de território tradicional para a construção do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), uma base aeroespacial pertencente à Agência Espacial Brasileira, na costa do Maranhão. Segundo os quilombolas, 152 comunidades foram prejudicadas. Eles alegam que não conseguiram obter titulação das suas terras ali localizadas, que não houve consulta e anuência prévia para instalação da base aeroespacial, que a expropriação das terras tradicionais é ilegal e que não houve possibilidade judicial de reparar a situação. Segundo a denúncia, 32 comunidades foram reassentadas em sete agrovilas, enquanto as demais ficaram em seus territórios tradicionais. 
6B. A Carta da Organização dos Estados Americanos e a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. A atuação dos órgãos da Organização dos Estados Americanos na proteção de direitos humanos.
Jéssica Flores Silva
Breve contextualização: O Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH) foi fundado no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), grupo de países do continente americano que aborda pautas comuns em benefício da proteção dos DH. 
A proteção dos DH nas Américas é formada essencialmente por 4 (quatro) diplomas (estrutura básica do sistema interamericano):(a) Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem – DADDH (1948); (b) Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA, 1948); (c) Convenção Americana de DH (1969); e (4) Protocolo de San Salvador (1988).
Por sua vez, tem-se que o sistema interamericano se divide em dois subsistemas. O primeiro subsistema – normalmente denominado Sistema da OEA – tem por base a Carta da OEA e a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. O segundo subsistema – comumente denominado Sistema da Convenção Americana – tem por base a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). A existência desses dois subsistemas deve-se, por um lado, ao fato de que órgãos e procedimentos foram criados no âmbito da OEA, tendo por jurisdição todos os Estados-membros da Organização; e, de outro lado, quando elaborada a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH), esta previu também a existência de órgãos e procedimentos específicos. 
Na realidade, temos dois círculos concêntricos: um círculo amplo composto pelo sistema da Carta da OEA, com 35 Estados, e um círculo menor, com 24 Estados, que ratificaram a CADH. Portanto, os dois têm a mesma origem: OEA. Além do compromisso mais denso do segundo, uma das diferenças mais marcantes entre os dois subsistemas é a Corte IDH, que, de maneira geral, somente atua com base na Convenção Americana, e não com base na Carta da OEA e na DADDH – embora essa limitação de atuação esteja pouco a pouco, na prática, diminuindo. Assim, mesmo que um país pertença à CADH, pode ser avaliado pela Carta da OEA, uma vez que as regras do primeiro subsistema (OEA) aplica-se subsidiariamente ao segundo.
CARTA DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS: A Carta da OEA foi aprovada em 1948 durante a 9ª Conferência Interamericana realizada em Bogotá. Do mesmo modo que a Carta da ONU prescreve a estrutura e as atribuições dos órgãos que a compõe, a Carta da OEA prescreve a estrutura básica da OEA e as competência de seus órgãos integrantes. Ademais, a Carta prevê genericament alguns valores expressos, por exemplo: liberdade individual, justiça social, direitos sociais, garantia da não discriminação. Percebe-se assim a presença tanto de direitos civis e políticoscomo dos direitos sociais.
DECLARAÇÃO AMERICANA DE DIREITOS E DEVERES DO HOMEM: Assim como a Carta da OEA, a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Humanos foi aprovada durante a 9ª Conferência Interamericana em Bogotá. Como visto, a Carta da OEA proclamou, de modo genérico, o dever de respeito aos direitos humanos por parte dos Estados-membros da organização, cabendo à DADDH a responsabilidade de enumerar quais direitos que deveriam ser observados e garantidos pelos Estados, consagrando tantos direitos individuais como direitos econômicos e sociais, o que reforça o caráter da indivisibilidade dos direitos humanos. 
Nesse contexto, a DADDH surge, incialmente, como uma recomendação aos estados (soft law). Contudo, atualmente, doutrina majoritária defende a existência de força cogente nas disposições da Declaração Americana (hard law). Acerca do tema, a Corte IDH, na Opinião Consultiva n. 10 (1989), já manifestou no sentido de que, apesar de não poder ser considerada um tratado, por ausência dos pressupostos definidores do conceito, a Corte pode emitir opinião consultiva a respeito da Declaração Americana, uma vez que o parágrafo terceiro do preâmbulo da CADH faz referência expressa a DADDH. Portanto, a circunstância de a Declaração não se conformar como um tratado internacional não leva à conclusão de que a Corte esteja impossibilitada de interpretá-la.
OBS: Destaca-se que, embora tenham sido elaboradas em 1948, a Declaração Americana é anterior a Declaração Universal. Contudo, a Declaração Universal é reconhecida como o primeiro normativo jurídico a tratar, no plano global, sobre direitos individuais, econômicos e sociais em um único documento. Destaca-se também a previsão de deveres do cidadão, o que não é observado na DUDH.
A ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA) NA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: Como visto, a Carta da OEA prescreve a estrutura básica da OEA e as competência de seus órgãos integrantes. Nos termos do art. 53 da Carta, a OEA realiza seus fins por intermédio: (a) Da Assembleia Geral; (b) Da Reunião de Consulta de Ministros de Relações Exteriores; (c) Dos Conselhos da Organização; (d) Da Comissão Jurídica Interamericana; (e) Da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; (f) Da Secretaria Geral; (g) Das Conferências Especializadas; e (h) Dos Organismos Especializados.
Por sua vez, a OEA possui dois órgãos voltados à atuação na promoção de direitos humanos: (a) A Comissão de Interamericana de Direitos Humanos, na qual incumbe a tarefa principal de responsabilização dos Estados por Descumprimento dos civis e políticos expressos na Carta da OEA, e (b) O Conselho Interamericano para o Desenvolvimento Integral, que zela pela observância dos chamados direitos econômicos, sociais e culturais. 
OBS: Relação de subsidiariedade: a Comissão só se desenvolverá sob a égide da Carta da OEA se o Estado alvo ainda não tiver ratificado a CADH.
OBS: Como visto, a Carta prevê como órgão integrante da OEA a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (que será analisada melhor no ponto 10.a), cujo principal função é promover o respeito e a defesa dos DH e servir como órgão consultivo da OEA. Frise-se que, a Corte IDH somente foi criada em 1969, com a CADH, e não com a Carta da OEA. 
Atuação específica da OEA: Entre as várias atuações específicas da OEA na área dos DH, destaca-se (a) a valorização do trabalho dos Defensores Públicos na promoção de Direitos Humanos; e (b) a existência de Relatorias Especiais vinculadas à Comissão IDH. Em relação a essa última função, importante ressaltar a Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão, criada com caráter permanente, independência funcional e estrutura própria. Sua importância revela-se na força que tem a liberdade de expressão para o enraizamento da democracia. Apesar de tais relatórios não possuírem força vinculante, eles são amplamente divulgados e podem servir para que a Comissão IDH venha a processar estados infratores perante a Corte IDH.
Casos em que houve a condenação do Brasil por violação de direitos humanos anteriores a assinatura da Convenção Americana, ou seja, com base na Carta da OEA e na Declaração Americana: (1) Casos 1683 e 1684: durante o período de ferro e fogo da ditadura. (2) Caso dos Indios Yanomani.
10A. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e sua atuação no âmbito da Convenção Americana de Direitos Humanos e demais tratados celebrados sob o patrocínio da Organização dos Estados Americanos. Procedimento das petições individuais e interestatais na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Atualizado por Caio T. A. Franco
Aspectos Gerais: composta por 7 Comissários, eleitos para exercerem mandatos de 4 anos, podendo haver uma reeleição. Os Comissários são eleitos a título pessoal pela Assembleia Geral da OEA r atuam com independência e imparcialidade, não representando os Estados membros nem se subordinando às suas ordens. A Comissão IDH é o principal órgão da OEA. A CIDH atua também na Convenção Americana (Pacto San José), sendo o órgão responsável pelo processamento das petições individuais, uma vez que a Convenção Interamericana não admite que indivíduos levem casos a Corte IDH. 
Dupla Função da Comissão IDH: Fala-se na dupla função da Comissão IDH uma vez que é órgão da OEA e da Convenção Interamericana (Pacto San José).
Função da Comissão: É o órgão encarregado de promover e averiguar o respeito e a garantia dos direitos fundamentais humanos. Pode criar relatorias. Pode efetuar visita de campo a convite do interessado. A Comissão visitou o Brasil em 1995 emitindo suas recomendações para a promoção dos direitos humanos. Receber petições individuais é uma de suas funções. O sistema de petições individuais também é previsto no Sistema da OEA. Pode-se dizer que o processamento das petições é o mesmo daqueleexistente no Sistema da Convenção Americana, com uma única diferença: a Comissão não pode enviar suas conclusões à Corte Interamericana. Portanto, em relação aos Estados que não aceitaram a Convenção, o papel da Comissão Interamericana termina com a elaboração de um relatório final contendo considerações acerca dos fatos, conclusões e recomendações. Esse relatório final compõe o parecer anual da Comissão apresentado à Assembleia-Geral da OEA. O Pacto da São José estabelece três funções e atribuições relevantes que não estão previstas no Sistema da OEA: (a) a possibilidade de analisar petições interestatais (em cláusula facultativa): se o Estado demandante e o demandado tenham expressamente aceito essa possibilidade (art.45); (b) a possibilidade de levar petições individuais à Corte IDH; (c) a possibilidade de solicitar pareceres à Corte IDH. 
Relação de subsidiariedade na atuação da Comissão: Caso o Estado tenha ratificado a Convenção Americana, a Comissão atuará sob a égide de tal diploma; se pertencer ao grupo dos 12 Estados que ainda não a ratificou, a Comissão atuará de acordo com a Carta da OEA e a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. 
Petições individuais: a Comissão consagrou o procedimento bifásico. Há uma primeira etapa que corre na Comissão e uma segunda que ocorre na Corte IDH. A Corte IDH só pode ser acionada por Estados (jus standi) ou pela Comissão. A Comissão IDH analisa a admissibilidade e o mérito da demanda. Caso a Comissão arquive o caso, não há recurso disponível à vitima. Crítica: acaba transformando a Comissão no dominus litis da ação. Assim, ela tem importante papel de dar início -ou não- à ação de responsabilidade internacional e, caso decida não iniciar a ação, é a Comissão, em termos práticos, o interprete definitivo da Convenção. 
Petições Interestatais: Um terceiro estado pode entrar com a actio popularis perante a Comissão denunciado violações ocorridas no seio de outro Estado.
Procedimento:
1. Provocação e condições de admissibilidade: A Comissão é acionada por meio de petição escrita levada ao seu conhecimento pela própria vítima, por terceiros ou por Estados. A Comissão pode também iniciar motu proprio um caso contra um determinado estado. Condições de admissibilidade da petição individual: (a) esgotamento dos recursos locais (exigência fruto da subsidiariedade da jurisdição internacional); (b) ausência do decurso do prazo de 06 meses, contados do esgotamento dos recursos internos; (c) ausência de litispendência internacional; (d) ausência de coisa julgada internacional. Casos de dispensa da necessidade de prévio esgotamento dos recursos internos: (a) Não existir o devido processo legal; (b) falta de acesso da vítima aos recursos internos; (c) Houver demora injustificada na decisão dos recursos; (d) o recurso disponível for inidôneo; (e) o recurso for inútil (quando por exemplo já há decisão da Suprema Corte local em sentido diverso); (f) quando faltam defensores ou existem barreiras de acesso à justiça. 
Entendimento da Corte IDH: A exceção de admissibilidade por ausência de esgotamento de recursos internos tem que ser arguida pelo Estado já no procedimento que corre na Comissão. Do contrário, haveria violação ao princípio do estoppel (proibição de se comportar de modo contraditório a sua conduta anterior). 
2. Conciliação perante a Comissão: há possibilidade do caso se encerrar nesta fase mesmo. A Comissão elabora relatório contendo os fatos e o acordo celebrado. O Brasil conseguiu conciliar o caso dos Meninos Emasculados do Maranhão em 2005. 
3. Medidas Cautelares. A Comissão poderá, por iniciativa própria ou a pedido da parte (a vítima não precisa esgotar os recursos internos), adotar medidas CAUTELARES. O Estado deve ser ouvido antes da aplicação de medidas cautelares pela Comissão. Contudo, em casos urgentes tal oitiva pode ser dispensada. Não há previsão expressa das medidas cautelares na Convenção Americana De Direitos Humanos (Pacto San José), o que faz com que muitos Estados partes não aceitem sua força vinculante (natureza de recomendação). Contudo, as medidas cautelares encontram-se dispostas no Regulamento da Comissão. A Comissão pode ainda requerer medidas provisórias à Corte IDH. 
	Medidas Cautelares sobre:
	Casos emblemáticos envolvendo o Brasil
	
Sistema Prisional Brasileiro
	Caso das Crianças Privadas de Liberdade na FEBEM Tatuapé, em São Paulo;
Caso dos Adolescentes Privados de Liberdade em Centros de Atenção Socioeducativa de Internação Masculina, no Ceará
Caso do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão;
Caso do Presídio Professor Aníbal Bruno, em Pernambuco;
Caso da Penitenciária de Urso Branco (caso já arquivado pela Comissão), em Rondônia;
Caso da Penitenciária Evaristo de Moraes, no Rio de Janeiro
	
Comunidades Indígenas
	Caso da Bacia do Rio Xingu (“Caso Belo Monte”)
Caso Povos Indígenas na Raposa Serra do Sol 
Caso Líderes Indígenas do Povo Xucuru. 
Caso Membros da Comunidade Guyrakorá do Povo indígena Guarani Kaiowá
Caso Membros dos Povos Indígenas Yanomami e Ye’kwana (2020)
Comunidade Tradicional do Quilombo do Rio dos Macacos (2020)
	Defensoras e Defensores de Direitos Humanos
	Caso de Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral da População em Situação de Rua (2019);
Jean Wyllys de Matos Santos (2018);
Monica Benício, ex-companheira da vereadora Marielle Franco;
Joana Darc Mendes.
União dos Povos Indígenas do Vale de Javari (2022) - A ampliação corresponde à medida cautelar MC 449-22, concedida em seu momento em favor do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips. 
4. Primeiro Informe/Relatório Preliminar/Relatório 50: trata-se do primeiro relatório elaborado pela Comissão encaminhado ao Estado infrator. Não é vinculante. É confidencial. Se em até 3 meses o caso não for solucionado, poderá ser encaminhado a Corte IDH. Na prática costuma conceder a prorrogação do prazo de 3 meses. Se o Estado não tiver reconhecido a jurisdição da Corte ou se os fatos forem anteriores ao reconhecimento da competência da corte, deverá a Comissão elaborar um Segundo Informe.
5. Segundo Informe: É público. Só será elaborado na ausência de ação judicial perante a Corte IDH. Este informe contém recomendações com prazo para cumprimento. Após, contata-se o que foi ou não cumprido, publicando as informações e encaminhando em seu relatório anual a Assembleia Geral da OEA. 
Força vinculante dos informes da Comissão Link com o ponto 8.a: Com a Caso Loayza Tamayo, a Corte IDH sustentou que o princípio da boa-fé obriga os Estados contratantes da convenção a realizar esforços para cumprir as deliberações da Comissão, que é também órgão principal da OEA. A Corte, contudo, diferenciou a força vinculante dos informes. O primeiro informe por não ser definitivo não é vinculante. Já o segundo informe, os Estados devem cumprir, já que ao aderir a Convenção tais Estados aceitam a competência da Comissão para processar petições individuais. O Brasil, por exemplo cumpriu um informe da Comissão no Caso Maria da Penha e no Caso José Pereira. Não obstante, no caso de descumprimento, a alternativa existente hoje é o apelo à Assembleia Geral da OEA, já que a CIDH é também órgão da OEA, devendo os Estados respeitarem suas deliberações. 
4. PROTEÇÃO HUMANITÁRIA E DIREITOS EM ESPÉCIE
1B. A proteção internacional no âmbito global e regional dos povos indígenas e comunidades tradicionais: órgãos, tratados e declarações. A proteção internacional da diversidade das expressões culturais. Os precedentes de tribunais e órgãos internacionais sobre os direitos dos povos indígenas.
Atualizado por Karen L L Arruda S Reus
I. A proteção internacional no âmbito global e regional dos povos indígenas e comunidades tradicionais: órgãos, tratados e declarações. A proteção internacional da diversidade das expressões culturais.
Legislação básica: Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2001). Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005). Convenção 169 da OIT. Declaração da ONU sobre os Direitos dos Indígenas.casos resulta em maior transparência do raciocínio jurídico do intérprete. Crítica: inflação de conflitos sujeitos ao Poder Judiciário. A resposta à crítica reside no reconhecimento da inevitabilidade dos conflitos de direitos humanos.
Princípio da proporcionalidade
Consiste na aferição da idoneidade, necessidade e equilíbrio da intervenção estatal em determinado direito fundamental. O princípio é utilizado em três situações típicas: i) existência de lei ou ato administrativo que, ao incidir sobre determinado direito, o restrinja; ii) existência de lei ou ato administrativo que, ao incidir sobre determinado direito, não o proteja adequadamente; iii) existência de decisão judicial que, em conflito de direitos humanos, opta pela prevalência de um direito, limitando outro. 
Originalmente, a proporcionalidade foi utilizada para combater os excessos das restrições a direitos, isto é, como instrumento de fiscalização da ação excessivamente limitadora dos atos estatais, sendo considerado o “limite dos limites” ou proibição de excesso (Übermassverbot). Contudo, atualmente, a proporcionalidade ganha a faceta de promoção de direitos, pela qual são fiscalizados os atos estatais excessivamente insuficientes para promover um direito (exemplo: direitos sociais), gerando a proibição de proteção suficiente (untermassberbot). A proporcionalidade também ganha a faceta da ponderação em conflito de direitos, pela qual é utilizada pelo intérprete para fazer prevalecer um direito, restringindo outro. Segundo ACR, é plenamente admissível a ponderação de 2º grau, uma vez que o Poder Constituinte não consegue esgotar a regência expressa de todas as hipóteses de colisão entre os direitos fundamentais. Apesar de, neste caso, a regra de colisão já ter sido previamente estabelecida na Constituição (e o constituinte ter ponderado a limitação dos direitos em colisão), submete-se essa regra a uma nova ponderação.
São elementos da proporcionalidade: 1) adequação das medidas estatais à realização dos fins propostos - examina-se se a decisão normativa restritiva de um determinado direito fundamental resulta, em abstrato, na realização do objetivo perseguido; 2) necessidade das medidas - busca-se detectar se a decisão normativa é indispensável ou se existe outra decisão passível de ser tomada que resulte na mesma finalidade almejada, mas que seja menos maléfica ao direito em análise; 3) proporcionalidade em sentido estrito - ponderação (ou equilíbrio) entre a finalidade perseguida e os meios adotados para sua consecução, mediante avaliação da relação custo-benefício da decisão normativa avaliada. 
A proibição da proteção insuficiente é o sentido positivo do critério da proporcionalidade: o critério não é apenas controle das restrições a direitos, mas também controle da promoção a direitos. Decorre do reconhecimento dos deveres de proteção, fruto da dimensão objetiva dos direitos humanos. A proibição da proteção insuficiente também utiliza os mesmos três elementos da proporcionalidade.
III. A proteção do conteúdo essencial dos direitos humanos
Consiste no reconhecimento da existência de núcleo permanente composto por determinadas condutas abarcadas pelo âmbito normativo do direito, que não pode ser afetado de forma alguma pela intervenção do Estado. Esse núcleo é intocável, constituindo-se em um “limite do limite” para o legislador e aplicador dos direitos humanos. A parte do direito que pode ser regulada ou limitada é somente aquela que não faz parte desse núcleo inexpugnável.
	A proteção do conteúdo essencial origina-se de dispositivos expressos de determinadas Constituições (Lei Fundamental de Bonn, Constituição de Portugal, Constituição da Espanha, Constituição do Chile), que foram redigidas após ditaduras. No plano internacional, a Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia estabelece a proteção do conteúdo essencial dos direitos humanos. No Brasil, não há previsão expressa da proteção do “conteúdo essencial”, mas determinados autores sustentam que as cláusulas pétreas previstas no art. 60, § 4º, da CF/88 implicitamente resultam na garantia do conteúdo essencial dos direitos humanos.
	As teorias a respeito de como delimitar o conteúdo essencial dos direitos humanos são as seguintes: 1) Teoria do “conteúdo essencial absoluto”: sustenta que o conteúdo essencial de um direito é determinado por meio da análise, em abstrato, de sua redação, o que seria suficiente para identificar e separar seus elementos essenciais dos não essenciais; 2) Teoria do “conteúdo essencial relativo”: sustenta que o núcleo essencial não é preestabelecido e fixo, mas determinável em cada caso, de acordo com as circunstâncias de cada caso concreto, após a realização de um juízo de proporcionalidade com outros direitos eventualmente em colisão. A teoria relativa utiliza o critério da proporcionalidade para, de acordo com as exigências do momento, ampliar ou restringir o conteúdo essencial de um direito.
	No Brasil, há poucos casos de invocação da garantia de conteúdo essencial e neles não há definição sobre a teoria (absoluta ou relativa) adotada. Quando se menciona a garantia do conteúdo essencial dos direitos humanos em precedentes do STF, há o uso de uma “garantia dupla” dos direitos humanos. Em primeiro lugar, verifica-se se a restrição a determinado direito é aceitável de acordo com o princípio da proporcionalidade; em seguida, avalia-se se essa restrição não esvaziou totalmente o “conteúdo essencial” do direito em análise.[footnoteRef:1] [1: Em caso envolvendo a não obrigatoriedade de diploma específico para o exercício da profissão de jornalista, o Min. Gilmar Mendes adotou essa “garantia dupla”, ao dispor que “a restrição legal desproporcional e que viola o conteúdo essencial da liberdade deve ser declarada inconstitucional” (RE 511.961, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 17-6-2009, Plenário, DJE de 13-11-2009).] 
IV. Espécies de restrições dos direitos humanos
	A restrição a direitos humanos é realizada por meio de lei ou por meio de interpretação judicial que decide o conflito entre direitos em colisão. A restrição em sentido amplo de um direito fundamental consiste em ação ou omissão do Estado, que elimina, reduz, comprime ou dificulta de alguma maneira o exercício de direito fundamental pelo seu titular, ou ainda enfraquece os deveres de proteção que dele resultam ao Estado, afetando negativamente o exercício desse direito por seu titular. A restrição em sentido estrito consiste em intervenções legislativas que foram autorizadas pela Constituição para limitar determinado direito, desde que respeitadas a proporcionalidade e o conteúdo essencial dos direitos humanos. São as chamadas restrições legais aos direitos humanos. Em relação às restrições legais, a Constituição de 1988 traz dois tipos claros de restrições permitidas: 1) Restrição ou reserva legal simples, que consiste na autorização dada pela Constituição a edição posterior de lei que adote determinada restrição a direito fundamental; 2) Restrição ou reserva legal qualificada, que é aquela em que a Constituição, além de estabelecer a reserva de lei, ainda estipula os requisitos e condições que a lei necessariamente deve observar. Toda reserva legal de um direito fundamental é, na verdade, uma “reserva legal proporcional”, ou seja, deve a lei que impôs a restrição ser aprovada pelo crivo da proporcionalidade.
	Há direitos sem qualquer menção à lei restritiva. Mesmo tais direitos estão sujeitos a uma reserva legal subsidiária, podendo o legislador regular esse direito em face dos demais valores constitucionais. Ademais, todos os direitos fundamentais, mesmo sem restrição expressa, estão sujeitos a uma “reserva geral de ponderação”, uma vez que esses dispositivos estão sujeitos à ponderação com outros valores previstos na Constituição, relacionados a outros direitos fundamentais em colisão.
	Há limitações de direitos humanos que resultam de inserção do titular desses direitos em uma situação de sujeição especial do indivíduo perante o Poder Público, decorrente da necessidade deDecreto 80.978/77 (Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1972). Decreto 2.519/98 (Convenção sobre Diversidade Biológica, de 1992). Decreto n.º 6.040/07 (Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais). Lei 14.458/22 (Barreiras Sanitárias em terras Indígenas). Resolução CNMP 230/2021.
Povos indígenas e comunidades tradicionais em face do DI. Para o DI a expressão "povo" está ligada ao princípio da autodeterminação dos povos (art. 1º, item 2, da Carta da ONU e art. 1º, item 1, do PIDESC), o que confere o direito de determinar livremente o seu "estatuto político". A resolução 1514 (XV), conhecida como Declaração sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos Coloniais, adotada em 1960, por 89 votos a 0, com 9 abstenções, afirmava categoricamente que "todos os povos têm direito a autodeterminação; em virtude desse direito, livremente determinam seu 'status' político e livremente buscam seu desenvolvimento econômico, social e cultural (Shaw, p. 188). A CF não utiliza a expressão "povos indígenas", mas sim "índios" (art. 20, XI, 231 e 232), "comunidade", "organização" ou "grupos" indígenas (art. 210, § 2º), "populações indígenas" (art. 22, XIV, 129, V) e "cultura indígena" (art. 215, § 1º). Conforme afirmou o Min. Ayres Britto, quando do julgamento da ação popular referente à terra indígena Raposa Serra do Sol, nenhuma das comunidades indígenas brasileiras detém estrutura normativa para comparecer perante a ordem jurídica internacional como 'nação', 'país', 'pátria', 'território nacional' ou 'povo independente' [...], o que de pronto nos leva a, pessoalmente, estranhar o fato de agentes públicos brasileiros aderirem, formalmente, aos termos da recente 'Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas [...], porquanto são termos afirmativos de um suposto direito à autodeterminação política a ser 'exercido em conformidade com o direito internacional'. 
Todavia, a legislação posterior a 1988 tem se valido do termo "povos indígenas", como se vê no Decreto de 13.7.06 e no Decreto n. 6.040/07. Este último, no art. 3º, I, define povos e comunidades tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos e inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. A Convenção 169 da OIT, ao se referir a "povos indígenas", não o faz no sentido que lhe é dado pelo DIP, conforme art. 1º, item 3: a utilização do termo "povos" na presente Convenção não deverá ser interpretada no sentido de ter implicação alguma no que se refere aos direitos que possam ser conferidos a esse termo no direito internacional, ou seja, "o direito de criação de novos Estados" (Ela Wiecko). 
A Convenção Sobre a Diversidade Biológica de 1992 não menciona "povo indígena", mas sim "comunidade indígena" (art. 8º, "j"). Contudo, a expressão "povos indígenas" foi incorporada a vários instrumentos internacionais. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas de 2007, adotou expressamente o termo "povos indígenas", mas ressalvou no art. 46 que nada do que nela estiver disposto se interpretará 'no sentido de que concede a um Estado, povo, grupo ou pessoa, qualquer direito de participar em qualquer atividade ou realizar qualquer ato contrário à Carta das Nações Unidas, nem se entenderá no sentido de que autoriza ou fomenta qualquer ação direcionada a desmembrar ou afetar, no todo ou em parte, a integridade territorial ou a unidade política dos Estados soberanos e independentes (Ela Wiecko). A autora destaca que não há mais por que recusar a expressão "povos" indígenas ou culturais, pois esta expressão é compatível com valores e princípios adotados na CF/88, bem como com direitos culturais dessas populações, e expressa melhor esses valores, princípios e direitos. Segundo Duprat, os documentos jurídicos alusivos à "povos" e "comunidades tradicionais" exprimem uma característica central: o princípio da DPH inclui a proteção à sua liberdade expressiva, em especial a de dizer, autarquicamente, quem é e quais são as suas convicções de vida" e lembra que a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural proclama, em seu art. 4º, que a 'defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito à dignidade da pessoa humana'. No Brasil, são reconhecidos como comunidades tradicionais as populações indígenas, quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, seringueiros, faxinalenses, comunidades de fundos de pasto, pomeranos, ciganos, geraizeiros, vazanteiros, piaçabeiros, pescadores artesanais, pantaneiros, afro-religiosos e demais sujeitos sociais emergentes, cujas identidades coletivas se fundamentam em direitos territoriais e numa autoconsciência cultural.
Convenção 169 da OIT. Promulgada pelo Decreto 5.051/2004.A Convenção 169 da OIT é o mais importante tratado internacional de direitos humanos sobre direitos dos povos indígenas e tribais.
Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais de 2005. Para esta convenção, "a diversidade cultural e uma característica essencial da humanidade e patrimônio comum da humanidade"; cria um mundo rico e variado que aumenta a gama de possibilidades; e um dos principais motores do desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e nações e ao florescer em um ambiente de democracia, tolerância, justiça social e mútuo respeito entre povos e culturas, é indispensável para a paz e a segurança no plano local, nacional e internacional. Em seu art. 1º fixa os seguintes objetivos: a) proteger e promover a diversidade das expressões culturais; b) criar condições para que as culturas floresçam e interajam livremente em beneficio mutuo; c) encorajar o diálogo entre culturas a fim de assegurar intercâmbios culturais mais amplos e equilibrados no mundo em favor do respeito intercultural e de uma cultura da paz; d) fomentar a interculturalidade de forma a desenvolver a interação cultural, no espírito de construir pontes entre os povos; e) promover o respeito pela diversidade das expressões culturais e a conscientização de seu valor nos planos local, nacional e internacional; f) reafirmar a importância do vínculo entre cultura e desenvolvimento para todos os países, especialmente para países em desenvolvimento, e encorajar as ações empreendidas no plano nacional e internacional para que se reconheça o autêntico valor desse vinculo; g) reconhecer natureza especifica das atividades, bens e serviços culturais enquanto portadores de identidades, valores e significados; h) reafirmar o direito soberano dos Estados de conservar, adotar e implementar as políticas e medidas que considerem apropriadas para a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais em seu território; i) fortalecer a cooperação e a solidariedade internacionais em um espírito de parceria visando, especialmente, o aprimoramento das capacidades dos países em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade das expressões culturais. Seus princípios estão no art. 2º: a) princípio do respeito aos Direitos Humanos e às liberdades fundamentais, especialmente a liberdade de expressão, informação e comunicação, e a de escolha pelos indivíduos das expressões culturais; b) princípio da soberania, o qual garante aos Estados o direito de adotar as medidas e políticas de proteção e promoção da diversidade das expressões culturais em seus territórios; c) princípio da igual dignidade e do respeito por todas as culturas; d) princípio da solidariedade e cooperação internacionais. Esse princípio visa criar e fortalecer os meios necessários à expressão cultural. e) princípio da complementaridade dos aspectos econômicos e culturais do desenvolvimento. Esse princípio considera a cultura um dos motores fundamentais do desenvolvimento. Considera os aspectosatendimento a determinadas necessidades sociais, que, sem tal sujeição, não teriam como ser atendidas (exemplo: regime jurídico dos direitos humanos de militares). A justificativa de legitimidade de tais restrições é o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado. Entretanto, é necessário que a restrição seja proporcional.
	
V. Limitabilidade dos direitos humanos
	A limitabilidade consiste no reconhecimento de que a essencialidade dos direitos humanos e sua superioridade normativa não impedem a existência de limites impostos a um direito em nome da preservação de outro. 
	A limitação de um direito protegido pode ser fruto de restrições excepcionais e temporárias de defesa do próprio Estado de Direito. O espírito que rege a possibilidade de derrogação de direitos humanos em situações anormais é a prevalência do Estado Democrático de Direito, que deve possuir mecanismos transitórios que assegurem sua existência, em casos de perigos extremos. Contudo, o Direito Internacional dos Direitos Humanos impõe limites a tais suspensões: 1) materiais (alguns direitos são inderrogáveis); 2) temporais (a suspensão deve ser transitória); 3) processuais (os remédios judiciais básicos de garantia dos direitos humanos não podem ser suspensos)[footnoteRef:2]. Além disso, exige-se proporcionalidade, ou seja, que somente cabe suspender determinados direitos que guardem relação com as medidas excepcionais necessárias para o atendimento da emergência pública. [2: Na Convenção Americana de Direitos Humanos, há previsão expressa de que não é possível derrogar ou suspender as garantias judiciais durante um estado de emergência (art. 27.2).] 
	No âmbito dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP)[footnoteRef:3] e a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José)[footnoteRef:4] preveem a possibilidade de que certos direitos sejam suspensos, com as seguintes diferenças quanto às hipóteses de cabimento e quanto ao núcleo de direitos inderrogáveis: [3: Art. 4º do PICDP: “1. Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas oficialmente, os Estados Partes do presente Pacto podem adotar, na estrita medida exigida pela situação, medidas que suspendam as obrigações decorrentes do presente Pacto, desde que tais medidas não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhes sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social. 
2. A disposição precedente não autoriza qualquer suspensão dos artigos 6, 7, 8 (parágrafos 1 e 2) 11, 15, 16, e 18. 
3. Os Estados Partes do presente Pacto que fizerem uso do direito de suspensão devem comunicar imediatamente aos outros Estados Partes do presente Pacto, por intermédio do Secretário- Geral da Organização das Nações Unidas, as disposições que tenham suspendido, bem como os motivos de tal suspensão. Os Estados partes deverão fazer uma nova comunicação, igualmente por intermédio do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, na data em que terminar tal suspensão.”
Comentário Geral n. 29 Comitê de Direitos Humanos: O Comitê de Direitos Humanos, intérprete do PIDCP, salientou, em seu Comentário Geral n. 29, referente ao artigo 4º do PIDCP, que as medidas de emergência devem ser estritamente proporcionais.] [4: Art. 27 do Pacto de San José: “1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado Parte, este poderá adotar disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social. 2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados seguintes artigos: 3 (Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica); 4 (Direito à vida); 5 (Direito à integridade pessoal); 6 (Proibição da escravidão e servidão); 9 (Princípio da legalidade e da retroatividade); 12 (Liberdade de consciência e de religião); 17 (Proteção da família); 18 (Direito ao nome); 19 (Direitos da criança); 20 (Direito à nacionalidade) e 23 (Direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos. 3. Todo Estado Parte que fizer uso do direito de suspensão deverá informar imediatamente os outros Estados Partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos, das disposições cuja aplicação haja suspendido, dos motivos determinantes da suspensão e da data em que haja dado por terminada tal suspensão.”] 
HIPÓTESES DE CABIMENTO
	PIDCP
	PACTO DE SAN JOSÉ
	Situações excepcionais que ameacem a existência da nação e sejam proclamadas oficialmente.
	Guerra
	
	Perigo Público
	
	Outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado.
NÚCLEO DE DIREITOS INDERROGÁVEIS
	PIDCP
	PACTO DE SAN JOSE
	Direito à vida e proibição da pena de morte;
	Direito à vida;
	Proibição da tortura;
	Direito à integridade pessoal;
	Proibição da escravidão;
	Proibição da escravidão;
	Proibição da servidão;
	Proibição da servidão;
	Proibição da prisão por obrigação contratual;
	
	Proibição retroatividade lei penal;
	Princípio da legalidade e da retroatividade;
	Direito à personalidade jurídica;
	Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica;
	Liberdade de pensamento, consciência e religião.
	Liberdade de consciência e de religião;
	
	Proteção da família;
	
	Direito ao nome;
	
	Direitos da criança;
	
	Direito à nacionalidade;
	
	Direitos políticos.
Para ACR, é legítima a aplicação das restrições do art. 27 por decorrência do estado de calamidade pública e emergência da COVID-19, sendo possível a restrição de direitos humanos em prol de medidas de combate à pandemia. Se Trata de uma limitação temporal.
Acerca da questão, nas ADI 6586. 6587, o STF julgou parcialmente procedentes as ações, para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 3º, III, d, da Lei nº 13.979/2020 (Lei das medidas de combate à COVID-19), nos termos do voto do Relator e da seguinte tese de julgamento: “(I) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, porquanto facultada sempre a recusa do usuário, podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos imunizantes, (iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas, (iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade e (v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e (II) tais medidas, com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência”. 
Nesse sentido, a Corte considerou possível a limitação de direitos de liberdade religiosa e de crença, bem como liberdade de locomoção, trabalho, livre-iniciativa, exercício profissional, dentre outros, desde que não existam restrições ao núcleo intangível descrito na tabela acima.
3A. Direitos Humanos. Classificações. Dignidade Humana e seus usos. Fontes internacionais da proteção de direitos humanos. O regime objetivo dos tratados de direitos humanos. Características das normas internacionais. Normas internacionais imperativas de direitos humanos.
Gabriel Infante Martins
I. Direitos Humanos. Classificações
Os direitos humanos podem apresentar as seguintes classificações:
I.A) Teoria do status (Georg Jellinek). Pela teoria do status, o indivíduose encontra em quatro diferentes posições diante do Estado (verticalidade, relação desigual): 
a) status passivo (status subjectionis ou estado de submissão): o indivíduo está subordinado em face ao Estado (deveres individuais, como o de pagar tributos); 
b) status negativo (status libertatis): são o conjunto de limitações à ação do Estado (proteção do indivíduo); dimensão subjetiva, liberal ou clássica dos direitos humanos; 
c) status positivo (status civitatis): são as pretensões do indivíduo para invocar a atuação do Estado em prol de seus direitos; 
d) status ativo (status activus): refere-se ao exercício dos direitos políticos e de cidadania (participação da formação da vontade do Estado). Peter Häberle defendeu a ampliação deste para que se transformasse em status activus processualis (participação no procedimento da tomada de decisão por parte do Poder Público).
I.B) Teoria das gerações ou dimensões (Karel Vasak). Por tal teoria, os direitos humanos apresentam diferentes gerações ou dimensões. Deve-se observar que parte da doutrina critica a expressão “gerações”, por dar a ideia errada de que a existência de uma geração excluiria a outra (o que leva alguns autores, a exemplo do ACR a preferirem usar a expressão dimensões), e critica também a construção de Vasak, por apresentar os DH de forma fragmentada (ofensa à indivisibilidade dos DH). 
A) primeira dimensão: engloba os direitos de liberdade ou de defesa, ou seja, referem-se às prestações negativas por parte do Estado (verdadeiro âmbito de proteção do indivíduo face ao Estado). Revoluções liberais do século XVIII. Liberdades clássicas, negativas, formais. 
B) segunda dimensão: representa os direitos de igualdade e refere-se à atuação positiva do Estado em relação a direitos econômicos, sociais e culturais. Constituição Mexicana (1917), Alemã (1919, Weimar), OIT (1919, Tratado de Versalhes). Liberdades positivas, reais ou concretas. 
C) terceira dimensão: está relacionada aos direitos de solidariedade (ou fraternidade) e vinculam-se aos interesses transindividuais (de titularidade da comunidade), como o meio ambiente, o desenvolvimento, a autodeterminação etc. 
D) outras dimensões: Paulo Bonavides, por exemplo, defende a existência de uma quarta geração de direitos humanos, que corresponderia ao direito à participação democrática na sociedade, ao pluralismo e à bioética. Fala-se ainda que existiria uma quinta geração, que englobaria o direito à paz (Bonavides). Todavia, parte da doutrina critica essa extensão, por falhas na diferenciação entre as gerações e dificuldades em se precisar os conteúdos das novas gerações. 
I.C) Classificação pela finalidade. Há os direitos propriamente ditos, que são dispositivos que visam o reconhecimento jurídico de pretensões inerentes à dignidade de todo ser humano. Por outro lado, há as garantias fundamentais, que visam assegurar tais direitos. Tais garantias podem ser: a) institucionais (em sentido amplo): contemplam instituições e estruturas organizacionais que visam garantir os direitos fundamentais, como o Ministério Público, a Defensoria Pública, a liberdade de imprensa, a reserva de lei para a atuação do Poder Público etc.; b) garantias fundamentais em sentido estrito: referem-se às ações processuais destinadas a proteger os direitos essenciais dos indivíduos, como os remédios constitucionais e o direito de petição em órgãos internacionais.
I.D) Classificação pelas funções: 
A) direitos de defesa: são direitos que estabelecem uma esfera jurídica de autonomia e autodeterminação dos indivíduos contra o Poder Público (eficácia vertical) e contra particulares (eficácia horizontal ou diagonal);
B) direitos a prestações: são direitos que exigem uma obrigação estatal de ação.
C) direitos a procedimentos e instituições: são direitos que exigem do Estado a estruturação de instituições aptas a oferecer bens ou serviços indispensáveis à efetivação dos DH (ex.: restabelecimento, pelo STF, da composição do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – ADPF 607). 
I.E) Classificação adotada na CF/88: 
A) direitos individuais
B) direitos sociais
C) direitos de nacionalidade: o nacional é aquele que possui um vínculo jurídico com um determinado Estado, fixando direitos e deveres recíprocos. No Caso Ivcher Bronstein vs Peru (e em outros, como no Caso Meninas Yean e Bosico vs República Dominicana), a Corte IDH ressaltou que, embora tradicionalmente se tenha aceitado que a determinação da nacionalidade seja de competência de cada Estado, a evolução na matéria mostra que o DIDH impõe certos limites à discricionariedade (exigências da proteção integral dos direitos humanos). A nacionalidade gera direitos e deveres para o indivíduo, como proteção diplomática (para tanto, deve existir vínculo efetivo e genuíno entre o Estado e o indivíduo, conforme a CIJ no Caso Nottebohm – Lichtenstein vs Guatemala, 1955). 
D) direitos políticos: um conjunto de direitos de participação na formação da vontade do poder e sua gestão, permitindo o exercício do poder pelo povo de modo direto (democracia direta ou participativa, por meio de plebiscito, referendo ou iniciativa popular) e indireto (democracia indireta ou participativa). Essa participação também ocorre na ação fiscalizatória sobre os governantes (ação popular). Aquele que exerce direitos políticos é qualificado como “cidadão”, que é uma expressão contida (inserida) na ideia mais abrangente de nacionalidade. 
E) partidos políticos: associações de pessoas, de natureza de direito privado no Brasil, criadas para assumir o poder e realizar seu ideário ideológico.
I.F) Classificação pela forma de reconhecimento: expressos (expressamente previstos na CF/88), implícitos (decorrem implicitamente da essência da CF/88) e decorrentes (oriundos de tratados de DH).
II. Dignidade Humana e seus usos 
O princípio da dignidade da pessoa humana tem por objetivo proporcionar uma proteção integral à pessoa e é composto, de acordo com Daniel Sarmento, por cinco elementos: a) valor intrínseco da pessoa; b) igualdade; c) autonomia (tanto privada quanto pública); d) mínimo existencial; e) reconhecimento. 
Além disso, pode-se dizer que a dignidade humana tem tanto um viés positivo (dever de garantia, condições materiais mínimas) quanto negativo (dever de respeito, proibição de se impor tratamento ofensivo ou discriminação odiosa).
Para Barroso, a dignidade da pessoa humana possui três elementos: i) valor intrínseco – toda pessoa tem um fim em si mesmo; ii) autonomia – núcleo essencial da liberdade individual de poder realizar suas escolhas de vida; iii) valor comunitário/heteronomia – define contornos da dignidade e impõe limites à autonomia individual.
Dada a importância de tal princípio, ele apresenta diversas funções ou usos: 
a) princípio legitimador: confere fundamento moral ao Estado e à ordem jurídica, estabelecendo que eles existem em razão da pessoa humana e não o contrário; 
b) papel hermenêutico: tal princípio deve guiar a interpretação, a aplicação e a integração do Direito, irradiando-se para todos os ramos da ordem jurídica, inclusive para o Direito Privado (eficácia horizontal dos direitos fundamentais ou Drittwirkung); 
c) critério para a ponderação entre interesses constitucionais conflitantes: tal princípio atribui peso superior prima facie aos bens jurídicos mais importantes para a proteção e promoção da dignidade; 
d) limitação de direitos fundamentais: é possível limitar o exercício de direitos fundamentais se de tal exercício decorrer dano à dignidade de terceiro (princípio do dano, segundo concepção elaborada por John Stuart Mill); 
e) parâmetro para controle de atos estatais e particulares: a dignidade pode incidir diretamente às relações entre particular e Estado e entre particulares, sem a necessidade de mediação concretizadora de outros direitos fundamentais ou de atos normativos infraconstitucionais; 
f) identificação de direitos fundamentais: tendo em vista que os direitos fundamentais gozam de regime constitucional próprio (cláusulas pétreas), a dignidade da pessoahumana é de suma importância para a identificação dos direitos que merecem tal proteção, ainda que eles não estejam previstos no rol do art. 5º da Constituição (e sejam incluídos posteriormente, como ocorreu recentemente com o direito à proteção de dados, ou não, como é o caso do direito ao meio ambiente equilibrado previsto no art. 225 da CF/88) e mesmo que eles estejam fora do texto constitucional (vide art. 5º, § 2º, da CF/88).
III. Fontes internacionais da proteção de direitos humanos. Normas internacionais imperativas de direitos humanos.
A criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) está relacionada à nova organização da sociedade internacional após a 2ª Guerra Mundial e o surgimento da ONU. A Carta da ONU não listou o rol dos direitos considerados essenciais, o que foi feito por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), na qual se apontou diversos direitos (políticos, civis, econômicos, sociais e culturais). 
Na doutrina, haja vista que a DUDH é uma resolução da Assembleia Geral da ONU, há divergência sobre a natureza jurídica da DUDH: 1) força vinculante, por se tratar de interpretação autêntica do termo direitos humanos previsto na Carta da ONU; 2) força vinculante, por se tratar de costume internacional sobre a matéria (posição da CIJ no Caso envolvendo o Pessoal Diplomático e Consular Norte-Americano em Teerã); 3) força vinculante e caráter inderrogável, por se tratar de jus cogens em sua inteireza; 4) soft law, por se tratar de mera orientação ou exortação aos Estados.
Dito isso, as fontes internacionais da proteção de direitos humanos estão previstas no art. 38 do Estatuto da CIJ (Corte Internacional de Justiça): 
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; 
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; 
c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; e 
d) as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito, sob ressalva da disposição do art. 59 (a decisão da Corte só será obrigatória para as partes litigantes e a respeito do caso em questão).
e) equidade (ex aequo et bono), se as partes concordarem, pois o próprio art. 38 prevê que não prejudicará a faculdade da Corte de decidir dessa maneira. 
Desse rol, deve-se destacar o costume internacional, que é composto de dois elementos: aspecto material/objetivo, que é a reiteração generalizada da conduta, e o aspecto psicológico/subjetivo, que é a crença de que tal conduta é o Direito. 
Todas as normas de Direito Internacional, independentemente da sua fonte normativa (vide art. 38 do Estatuto da CIJ), podem adquirir força de norma imperativa de direito (jus cogens), caso em que só pode ser modificado por norma posterior de Direito Internacional da mesma hierarquia, ou seja, que também seja jus cogens (arts. 53 e 64 da CVDT). 
Vale lembrar que o costume internacional Embora não haja um rol específico de quais normas seriam imperativas de direito, a doutrina e a jurisprudência internacional têm reconhecido como tal 1) a vedação à tortura (Caso Chacina da Rochela vs Colômbia, Corte IDH), 2) a vedação ao genocídio, 3) a vedação aos crimes contra a humanidade, 4) a dignidade da pessoa humana, 5) a imprescritibilidade dos crimes de guerra e contra a humanidade (Caso Almonacid Arellano vs Chile, Corte IDH), 6) a vedação ao trabalho escravo (Caso Fazenda Brasil Verde vs Brasil, Corte IDH; Caso José Pereira vs Brasil, CIDH), 7) acesso à justiça (Caso Goiburu vs Paraguai, Corte IDH).
Deve-se apontar que as normas jus cogens não se confundem com as obrigações erga omnes, categoria reconhecida, em obter dictum, no Caso Barcelona Traction (1970, CIJ): as obrigações erga omnes são aquelas que obrigam toda a comunidade internacional, de forma que todos os Estados têm interesse em seu cumprimento. Por outro lado, as normas jus cogens não só têm a força obrigatória das obrigações erga omnes, como também contam com o reforço da superioridade hierárquica (questão de direito material). 
Essas normas são inderrogáveis, salvo por normas internacionais do mesmo status (jus cogens), e não admitem o objetor persistente (persistente objector), figura aplicável aos costumes internacionais, segundo a qual o Estado que persistentemente rechaça a existência de um costume não se vincula a ele.
Tratados a serem lembrados: Carta das Nações Unidas (Carta da ONU ou Carta de São Francisco, 1945), a Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH ou Declaração de Paris, 1948), Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP ou Pactos de Nova Iorque, 1966), Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC ou Pactos de Nova Iorque, 1966). 
IV. O regime objetivo dos tratados de direitos humanos 
Os tratados que contêm vantagens mútuas aos Estados contratantes (chamados sinalagmáticos) se baseiam na ideia da reciprocidade (quid pro quo). Os tratados de direitos humanos, por outro lado, são guiados por um regime objetivo, que significa que o Estado assume várias obrigações para com os indivíduos sob sua jurisdição, e não para com outro Estado contratante. 
Essa natureza objetiva implica reconhecer que a interpretação de tais tratados deve sempre ser feita em prol dos indivíduos (pro persona), e não dos contratantes (Estados). A noção contratualista da reciprocidade não se aplica aos direitos humanos, que devem ser garantidos ainda que um dos Estados contratantes os viole (ou seja, não se aplica, aqui, a teoria do contrato não cumprido).
Exemplo: a CIJ, no Parecer Consultivo sobre as Reservas à Convenção para a Prevenção e Repressão ao Crime de Genocídio esclareceu que os Estados contratantes não possuem interesses próprios, mas tão somente o interesse comum de proteger os seres humanos do crime de genocídio. 
O marco dessa concepção são as quatro Convenções de Genebra (1949) sobre Direito Humanitário, marcada por uma série de engajamentos coletivos no trato das pessoas submetidas a conflitos armados. 
V. Características das normas internacionais
Para se entender as características das normas internacionais, é necessário apontar que, na ordem internacional, não há um poder centralizador. A descentralização da ordem jurídica internacional implica a substituição da ideia de subordinação dos sujeitos de direito a um poder hierarquicamente superior pela ideia de coordenação, motivada pela vontade e pelo consentimento dos Estados.
Isso não implica, no entanto, que as normas internacionais não sejam cogentes: não só no âmbito da ONU, como também no âmbito regional (OEA, UE, UA etc.), existe um sistema de sanções, aptos a obrigar os Estados a cumprir os tratados aos quais aderiram voluntariamente. Isso se torna ainda mais importante quando estamos diante da proteção dos direitos humanos, dada a natureza objetiva de seu regime, e devido ao fato de que, neste âmbito, os costumes e o jus cogens ganham grande importância, mitigando o voluntarismo típico do Direito Internacional clássico.
VI. Normas imperativas de direitos humanos
De acordo com ACR, para a Corte IDH, são normas imperativas de direitos humanos (jus cogens): 1) princípio da igualdade e proibição de discriminação; 2)proibição absoluta de todas as formas de tortura, tanto física quanto psíquica; 3) proibição de tratamento ou punição cruel, desumana ou degradante; 4) proibição de desaparecimento forçado de pessoas; 5) proibição de escravidão e práticas semelhantes; 6) princípio da não devolução (proibição do rechaço; non-refoulement), incluindo a não expulsão na fronteira e a repulsão indireta; 7) proibição de cometer ou tolerar violações graves dos direitos humanos; 8) proibição de cometer crimes contra a humanidade e a obrigação associada de criminalizar, investigar e punir esses crimes.
4C. Universalidade dos direitos humanos. Multiculturalismo. Relativismo. Gramáticas diferenciadas de direitos.Abertura dos direitos humanos. Autonomia e indisponibilidade dos direitos humanos. 
Jéssica Flores Silva
UNIVERSALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS: A universalidade dos direitos humanos consiste na atribuição desses direitos a todos os seres humanos, não importando nenhuma outra qualidade adicional, como nacionalidade, opção política, orientação sexual, credo, etc. Assim, buscam os universalistas um valor mínimo que transcende as fronteiras dos países e alcança todos os povos tão somente em razão da sua condição humana. A universidade dos direitos humanos pode ser entendida em três planos: a) titularidade: direitos humanos são universais porque seus titulares são os seres humanos; b) temporal: os direitos humanos são universais, pois os homens os possuem em qualquer época da história; c) cultural: os direitos humanos são universais porque permeiam todas as culturas humanas, em qualquer parte do globo.
OBS: A universalidade possui vínculo indissociável com o processo de internacionalização dos direitos humanos. Internacionalização (em sentido amplo, em sentido estrito e consagração: PIDH, ponto 7.a).
Universalismo formal e universalismo em concreto: Com a internacionalização dos direitos humanos, implantou-se, formalmente, o universalismo dos direitos humanos (universalismo formal), difundido em especial pela ratificação, pelos Estados, dos mesmos tratados de direitos humanos. Contudo, não basta a adoção da mesma redação de um determinado direito para que o universalismo seja implementado, sendo necessário que haja também a mesma interpretação desse texto (universalismo em concreto). Assim, o DIDH é composto por duas partes indissociáveis: de um lado, o rol dos direitos, e, de outro, os processos internacionais de interpretação do conteúdo desses direitos e de cumprimento das obrigações deles decorrentes (interpretação internacionalista). Frise-se que a manutenção e primazia dada aos estados pela interpretação nacionalista dos tratados de direitos humanos torna o regime jurídico do DIDH manco e incoerente: universal no texto, nacional na aplicação e intepretação das normas na vida cotidiana. Essa dicotomia (universalismo na ratificação x localismo na aplicação) representa, de acordo com ACR, o “truque de ilusionista” na ordem internacional: os estados ratificam os tratados, os descumprem cabalmente, mas alegam que os estão cumprindo.
RELATIVISMO: A proposta do relativismo afasta a universalidade dos direitos humanos, uma vez que as peculiaridades culturais de cada povo impediriam a criação de uma moral universal. Para os relativistas, deve-se haver o reconhecimento e a valorização de comunidades locais e tradicionais, em especial, nos países do Eixo Sul e orientais enquanto fontes de costumes e normas socioculturais, em termos gradativos, equivalentes às comunidades centrais e “desenvolvidas”. 
Universalismo e relativismo cultural – “ser universal na diferença”: o principal desafio do DIDH é o de ser universal na diversidade, ou seja, o de criar, por meio de tratados e costumes internacionais, um rol amplo de direitos e um grupo de órgãos judiciais ou quase judiciais que, por sua vez, determinarão as interpretações comuns dos mais importantes temas das heterogêneas sociedades humanas. Surge daí o conflito entre aqueles que defendem a universalidade e aplicação geral dos direitos humanos e aqueles que pregam a possibilidade de opção local ou particular para, assim, preservar determinadas condutas ou práticas. ACR destaca que, embora a declaração de Viena tenha admitido que as particularidades locais devem ser levadas em consideração, assim como os diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever do estado promover e proteger todos os direitos humanos, independentemente de seus sistemas políticos, econômicos e culturais. Logo, as peculiaridades locais ou ocasionais, segundo o autor, não podem justificar a violação ou amesquinhamento desses direitos. Apesar disso, parte da doutrina e estados, em várias situações, opõem-se à aplicação de determinados direitos por considerá-los ofensivos às práticas culturais ou às opções legislativas locais.
Objeções à universalização dos direitos humanos: a) argumento filosófico: funda-se na existência de diversas percepções valorativas de mundo, típicas da comunidade humana, na qual nada é universal; b) argumento da falta de adesão dos estados: questiona a pretensa adesão dos estados à defesa dos direitos humanos como prova inequívoca do universalismo dessa temática no direito internacional atual, pugnando ora a falta de adesão formal, ora, na existência de adesão formal, a falta de engajamento prático, servindo a adesão apenas para efeito publicitário externo; c) argumento geopolítico: destaca o uso do discurso de proteção dos direitos humanos como um elemento da política de relações exteriores de vários estados, em especial dos estados ocidentais, que se mostram incoerentes em vários casos, omitindo-se na defesa de direitos humanos na exata medida de seus interesses políticos e econômicos; d) argumento cultural: diz respeito a diferenças culturais, focadas na relação do homem e sua comunidade existente na cultural ocidental e na cultura africana e asiática (dicotomia indivíduo-comunidade); outra objeção cultural relaciona-se a específicos direitos que refletiriam um viés cultural ocidental e muitas vezes apenas de algumas regiões; e) argumento desenvolvimentista: sustenta que direitos humanos exigem um estágio ulterior de desenvolvimento para sua correta proteção e implementação.
Reafirmação da universalidade dos direitos humanos: em relação às objeções filosóficas ao caráter universal dos direitos humanos, destaca-se que a teoria geral dos direitos humanos não pretende ser uma cosmovisão ou abranger todas as facetas da vida social. Em relação ao pretenso caráter ocidental (e consequentemente não universal) dos direitos humanos, ACR observa que não se trata de buscar um denominador comum mínimo dos diversos valores culturais, que aceita diversas condutas humanas apenas por serem integrantes de tradições culturais, em sacrifício da dignidade da pessoa humana, mas de se afirmar que a pluralidade de culturas e orientações religiosas (ou de cosmovisões) deve ser respeitada com o reconhecimento da liberdade e participação com direitos iguais para todos. A aceitação de justificativas culturais a condutas violatórias de direitos humanos carrega forte acento totalitário, na medida em que pode significar a coerção daqueles que, embora membros da comunidade, não mais se identificam com seus valores. O relativismo cultural da temática dos direitos humanos pode, à custa da liberdade, restringir os indivíduos a papéis pré-estabelecidos, o que mostra o caráter libertário e de ruptura da temática dos direitos humanos. Em relação à objeção geopolítica, ACR destaca que a mesma crítica pode ser feita em relação a qualquer tema do direito internacional. Por fim, aponta-se a falha do argumento desenvolvimentista por se basear na relação riqueza-proteção de direitos humanos, que é desmentida pela realidade.
MULTICULTURALISMO: O multiculturalismo é a coexistência de várias culturas em um mesmo ambiente. Ele surge como uma proposta de superação do debate universalismo/relativismo, desenvolvido por Boaventura de Souza Santos, como uma ferramenta de “globalização contra hegemônica”, ou seja, é uma forma de globalizar democraticamente (de forma não imperialista) os direitos humanos. O autor propõe um diálogo entre as diversas culturas, levando a uma concepção mestiça de DH. A hermenêutica adequada à concepção multicultural de direitos humanos é denominada por Boaventura de Souza Santos como hermenêutica diatópica (advém de diálogo, conversação, entre os pontos de partida), e diz respeito ao esforço intercultural na busca por uma compreensão dialógica da noção de dignidade humana. Alguns autores, como Herrera Flores, trabalham com os conceitos de “universalismo de chegada” ou “universalismo de confluência”, relacionados às noções de multiculturalismo e hermenêutica diatópica de

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