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- Direitos Fundamentais, Tratados Internacionais e Novos Instrumentos de Efetivação dos Direitos Humanos Fundamentais E HIERARQUIA DOS TRATADOS- PIOVESAN

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Texto 7 - Direitos Fundamentais, Tratados 
Internacionais e Novos Instrumentos de Efetivação dos 
Direitos Humanos Fundamentais - Moraes 
 
Linguagem dos DH se transformaram na linguagem da política progressista Após a 
SEGUNDA GUERRA os DH foram parte integrante da política da Guerra Fria duplo 
critério na avaliação das violações de DH todos esses fatores trouxeram suspeição para os 
DH como guia emancipatório forças progressistas preferiram a linguagem da revolução e 
do socialismo crise desses projetos de emancipação 
Poderão realmente os DH preencher tal vazio? A 
resposta é um sim muito condicional 
identificar as condiçoes em que os DH podem ser colacados ao serviço de uma política progressista 
e emancipatória é necessário entender as tensões dialéticas que informam a modernidade ocidental 
o autor identifica 3 tensões dialéticas a primeira: regulação social e emancipação social a 
emancipaçao deixou de ser o outro da regulação para se tornar no duplo da regulação até os anos 60 
crises de regulação levavam ao fortelecimento de políticas emancipatórias 
hoje a crise do Estado regulador e do Estado-Providência é acompanhada da crise da revolução 
social e do socialismo 
os DH também padecem dessa dupla crise, tanto como política reguladora como política 
emancipatória 
a segunda tensão: Entre Estado e sociedade civil. O Estado moderno, não obstante apresentar-se 
como um Estado minimalista, é potencialmente um Estado maximalista 
a terceira tensão: Entre o Estado-nação e o que designamos por globalização: O modelo político 
ocidental é um modelo de Estados-nação soberanos, coexistindo num sistema internacional de 
Estados igualmente soberanos - o sistema interestatal 
Como poderão os DH ser uma política simultaneamente cultural e global? 
Como é possível reforçar o potencial emancipatório da política dos DH no duplo contexto da 
globalização e da fragmentação cultural e da política de identidades 
Como justificar uma política progressista dos DH com âmbito global e com legitimidade local? 
Globalizações 
O que se entende por globalização? 
as definições estão muito centradas em seu aspecto econômico, e o autor por outro lado acentua o 
aspecto social, político e cultural da globalização 
Globalizaçao: conjuntos diferenciados de relações sociais; diferentes coinjuntos de relações sociais 
dão origem a diferentes fenômenos de globalização; 
As globalizaçoes enquanto feixes de relaçoes sociais envolvem conflitos e por isso vencedores e 
vencidos 
Frequentemente o discurso sobre globalização é a história dos vencedores contada pelos próprios 
A globalizaçao é o processo pelo qual determinada condição ou entidade local consegue estender 
a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade de designar como local 
outra condição social ou entidade rival Algumas implicaçoes advem dessa definição perante as 
condições do sistema-mundo ocidental não existe globalizaçao genuína a globalizaçao é sempre a 
globalizaçao bem sucedida de determinado localismo 
a segunda implicaçao é que a globalizaçao pressupõe a localizaçao. Quer isto dizer que, uma vez 
identificado determinado processo de globalizaçao, o seu sentido e explicaçao integrais não podem 
ser obtidos sem se ter em conta os processos adjacentes de relcalizaçao com ele ocorrendo em 
simultâneo ou sequencialmente 
Um das transformações mais frequentemente associadas à globalizaçao é a compressao tempo-
espaço 
O processo social pelo qual os fenômenos se aceleram e se difundem pelo globo não pode ser 
analisado independentemente das relações de poder 
Para dar conta destas assimetrias, a globalização, tal como o autor sugere, deve ser sempre 
considerada no plural. Por outro lado, há que considerar diferentes modos de produção da 
globalizaçao 
O autor distingue 4 modos de produçao da globalização 
1. localismo globalizado: processo pelo qual determinado fenômeno local é globalizado com 
sucesso 
2. globalismo localizado: impacto específico de pra'ticas e imperativos transnacionais nas 
condiçoes locais, as quais sao, por essa via, desestruturadas e reestruturadas de modo a responder a 
esses imperativos transnacionais. Por exemplo, a conversao da agricultura de subsist6encia em 
agricultura para exportação 
os países centrais especializam-se em localismo globalizados, enquanto aos países periféricos é 
imposta a escolha de globalismo localizados 
terceiro processo é o cosmopolitismo: as formas predominantes de dominaçao não excluem aos 
Estados, regiões e grupos sociais subordinados a oportunidade de se organizarem 
transnacionalmente na defesa de interesses percebidos como comuns 
o quarto processo é a emergência de temas que pela sua natureza são tão globais como o próprio 
planeta, o que o autor chama de patrimônio comum da humanidade. 
É necessário distinguir a globalizaçao de cima-para-baixo da globalização de-baixo-paracima 
DH COMO GUIÃO EMANCIPATÓRIO 
DH pode ser localismo globalizada como cosmopolitismo 
UNIVERSAIS tenderão a ser localismo globalizado 
A sua abrangência global será obtida à custa da sua legitimidade local os DH 
precisam ser reconceptualizados como multiculturais os DH não são 
universais em sua aplicação os DH FAZEM PARTE DE UMA CULTURA 
GLOBAL? 
a questão da universalidade é uma questao específica da cultura ocidental 
pressupostos ocidentais dos DH: natureza humana universal, essencialmente superior e diferente do 
restante da realidade, e pode ser conhecida pela razão, o indivíduo possui uma dignidade absoluta e 
irredutível que tem de ser defendida da sociedade ou do Estado; a autonomia do indivídio requerer 
uma sociedade organizada de forma não hierárquica Premissas da transformação da política dos DH 
em uma política emancipatória superaçao do debate sobre universalismo e relativismo cultural 
Todas as culturas são relativas, mas o relativismo cultural enquanto atitude filosófica é incorreto. 
Todas as culturas aspiram a preocupações e valores universais, mas o universalismo cultural, 
enquanto atitude filosófica, é incorreto 
Contra o universalismo, há que propor diálogos interculturais sobre preocupaçoes isomórficas. 
contra o relativismo, há que desenvolver critérios políticos para distinguir política progressista de 
política conservadora, capacitação de desarme, emancipação de regulaçao. 
segunda premissa, todas as culturas possuem concepções de dignidade humana, mas nem todas elas 
a concebem em termos de direitos humanos. Torna-se necessário idenitificar preocupações 
isomórficas entre diferentes culturas. 
A terceira premissa, todas as culturas sao incompletas e problemáticas nas suas concepçoes de 
dignidade humana 
Quarta premissa, todas as culturas tem versoes diferentes de dignidade humana, algumas mais 
amplas do que outras, algumas com um círculo de reciprocidade mais largo, algumas mais abertas a 
outras culturas. 
A quinta premissa, todas as culturas tendem a distribuir as pessoas e os grupos sociais entre dois 
princípios de pertença hierárquica 
Princípio de igualdade, opera através de hierarquias entre unidades homogêneas 
Princípio da diferença, opera atraves da hierarquia entre identidades e diferenças consideradas 
únicas 
HERMENÊUTICA DIATÓPICA 
dialógo intercultural, diálogo entre universos de sentidos, e esses constituem em constelações de 
topoi forres. Os topoi são os lugares comuns retóricos mais abrangentes de determinada cultura 
Premissas de argumentaçao, tornam possível a troca de argumentos 
Topoi forres tornam-se altamente vulneráveis e problemáticos quando usados numa cultura 
diferente. 
A hermenêutica diatópica baseia-se na ideia de que os topoi de uma dada cultura, por mais forres 
que sejam, sao tão incompletos quanto a própria cultura a que pertencem 
o objetivo da hermenêutica diatópica nao é atingir a completude, mas ampliar ao máximo a 
consciência de incompletude 
exemplo de hermenêutica diatópica pode ser entre o topos da cultura ocidental, entre o topos do 
dharma eo topos da umma 
incompletudo dos DH pelo dharma, os DH São incompletos na medidade em que não estabelecem a 
ligaçao entre a parte e o todo, na medida em que se centram nos direitos em vez de se centrarem no 
imperativo primordial, o dever dos indivíduos de encontrarem o seu lugar na ordem geral da 
sociedade e de todo o cosmo existe uma simetria muito simplista e mecanicista entre direitos e 
deveres apenas garante direitos àqueles a quem pode exigir deveres 
Daí a dificuldade em pensar em direitos da natureza ou direitos das gerações futuras pois não pode 
lhes impor deveres 
incompletude dos DH pelo umma, com base neles é impossível fundar laços e as 
solidariedades colectivas sem as quais nenhuma sociedade pode sobreviver, e menos prosperar 
dificuldade dos DH em aceitar direitos colectivos de grupos sociais ou povos dificuldade de 
definir a comunidade enquanto arena de solidariedades concretas, campo político dominado 
por uma obrigação política horizontal 
a fraqueza da cultura ocidental consiste em estabelecer dicotomias demasiado rígidas entre o 
indivíduo e a sociedade 
a fraqueza do umma e do dharma dificuldade de reconhecer que o sofrimento humano tem uma 
dimensão individual irredutível 
Texto 9- DIREITOS HUMANOS E O D. CONSTITUCIONAL INTERNACIONAL- FLÁVIA 
PIOVESAN 
 
O bloco de constitucionalidade amplo 
O bloco de constitucionalidade consiste no reconhecimento, ao lado da 
Constituição, de outros diplomas normativos de estatura constitucional Direito 
Comparado decisão n. 71-44 DC de 16.07.71, do Conselho Constitucional francês 
relativa à liberdade de associação consagrou o valor constitucional do preâmbulo da 
Constituição francesa de 1958 
faz remissão ao preâmbulo da Constituição de 1946 e à Declaração de Direitos do Homem e do 
Cidadão de 1789 
m 2005, houve alteração do preâmbulo da Constituição francesa e foi agregada remissão à Carta do 
Meio Ambiente 
No Supremo Tribunal Federal em 2002, Celso de Mello constatou a existência do 
debate sobre o bloco de constitucionalidade 
Supremo Tribunal Federal, ADI 595/ES, Relator Celso de Mello, 2002. 
No texto constitucional, o artigo 5o, § 2o, permite, ao dispor sobre os “direitos decorrentes” do regime, 
princípios e tratados de direitos humanos, o reconhecimento de um bloco de constitucionalidade 
amplo, que alberga os direitos previstos nos tratados internacionais de direitos humanos. 
Contudo, até a edição da EC n. 45/2004, o estatuto desses tratados, na visão do STF, 
era equivalente à mera lei ordinária 
faziam parte da constituição apenas normas expressas ou implícitas previstas na Constituição 
Com a introdução do artigo 5o, § 3o, o STF modificou sua posição, mas ainda situou os tratados 
aprovados sem o rito especial do citado parágrafo no patamar da supralegalidade. 
O bloco de constitucionalidade restrito artigo 5o, § 2o bloco de 
constitucionalidade amplo – posição minoritária 
bloco de constitucionalidade restrito - só abarca os tratados aprovados pelo rito especial do artigo 
5o, § 3o 
controle difuso e concentrado de constitucionalidade (artigos 102 e 103) - devem agora serem lidos 
como sendo componentes do mecanismo de preservação da supremacia do bloco de 
constitucionalidade 
A filtragem constitucional do ordenamento, ou seja, a exigência de coerência de todo o ordenamento 
aos valores da Constituição passa a contar também com o filtro dos valores existentes nesses tratados 
de rito especial. 
cabe acionar o controle abstrato de constitucionalidade, em todas as suas modalidades, para fazer 
valer as normas previstas nesses tratados 
cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental quer de preceito fundamental previsto na 
Constituição quer nesses tratados 
cabe recurso extraordinário quando a decisão impugnada contrariar dispositivo da Constituição ou 
dos tratados celebrados sob o rito especial 
Os primeiros tratados que foram aprovados de acordo com esse rito 
foram a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu 
Protocolo Facultativo 
submissão brasileira ao sistema de petição das vítimas de violação de direitos previstos ao Comitê 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 
agora temos, além da Constituição, um tratado de estatura constitucional e dois intérpretes: o Supremo 
Tribunal Federal, guardião do bloco de constitucionalidade, e o Comitê sobre os Direitos das Pessoas 
com Deiciência, que pode exarar recomendações gerais e específicas ao Brasil sobre a interpretação 
e implementação dos direitos da Convenção. 
Cabe ao Supremo Tribunal Federal levar em consideração os tratados internacionais – agora 
constitucionalizados na visão majoritária do próprio Tribunal – e apreciar as causas envolvendo seus 
dispositivos de acordo com a interpretação dada pelos órgãos internacionais 
O controle de convencionalidade internacional 
O controle de convencionalidade internacional é atividade de fiscalização dos atos e condutas dos 
Estados em confronto com seus compromissos internacionais. 
Em geral, o controle de convencionalidade é atribuído a órgãos compostos por julgadores 
independentes, criados por tratados internacionais, o que evita que os próprios Estados sejam, ao 
mesmo tempo, fiscais e fiscalizados 
Há ainda o controle de convencionalidade nacional, que venha a ser o 
exame de compatibilidade do ordenamento interno às normas internacionais feito pelos Tribunais 
internos 
mesmo se o juiz nacional realizar o controle de convencionalidade dito nacional, este não vincula o 
juiz internacional. 
O controle de convencionalidade internacional é fruto da ação do intérprete autêntico – os orgãos 
internacionais. 
Exemplo disso é a apreciação pelo STF da compatibilidade da Lei da Anistia brasileira 
Por isso, preferimos utilizar o termo “controle de convencionalidade” para nos referir ao controle de 
matriz internacional 
há diferenças entre o controle de convencionalidade internacional e o controle de convencionalidade 
nacional 
a hierarquia do parâmetro de confronto no controle de convencionalidade internacional (a norma 
paramétrica é a norma internacional, em geral um determinado tratado) é fruto das escolhas 
internacionais, em sintonia com o princípio de primazia do Direito Internacional já visto 
controle de convencionalidade internacional exercido pelos tribunais internacionais pode inclusive 
ser fiscal do Poder Constituinte Originário 
e O STF não tem jurisdição para fiscalizar a validade das normas aprovadas pelo poder constituinte 
originário 
no controle de convencionalidade nacional, a hierarquia do tratado-parâmetro depende do próprio 
Direito Nacional, que estabelece o estatuto dos tratados internacionais 
no caso brasileiro, há tratados de estatura legal, supralegal e constitucional, na visão atual do 
Supremo Tribunal Federal 
a interpretação do que é compatível ou incompatível com o tratado-parâmetro não é a 
mesma 
Por isso, o chamado controle de convencionalidade de matriz nacional é, na realidade, um controle 
nacional de legalidade, supralegalidade ou constitucionalidade, a depender do estatuto dado aos 
tratados incorporados 
O autêntico controle de convencionalidade de tratado internacional é aquele realizado no plano 
internacional. 
O controle dito nacional nem sempre resulta em preservação dos comandos interpretados das 
normas paramétricas contidas nos tratados. 
Isso desvaloriza a própria ideia de primazia dos tratados, implícita na afirmação da existência de um 
controle de convencionalidade. o verdadeiro controle de convencionalidade, em última análise, é 
internacional. 
a interpretação do conteúdo das normas sempre será uma fissura aberta entre os controles judiciais 
nacionais e o controle de convencionalidade internacional 
Defendemos, então, que os controles nacionais e o controle de convencionalidade internacional 
interajam, permitindo o diálogo e a fertilização cruzada entre o Direito Interno e o Direito 
Internacional 
O Brasil e os mecanismos de controlepertencentes ao Direito Internacional dos direitos humanos 
Os mecanismos aceitos pelo Brasil o Direito Internacional dos Direitos Humanos é hoje 
uma impressionante realidade 
Consequentemente, eventual alegação de “competência exclusiva dos Estados” ou mesmo de 
“violação da soberania estatal” no domínio da proteção dos direitos humanos encontra-se ultrapassada 
Retrato acabado da internacionalização da temática dos direitos humanos é a crescente adesão dos 
Estados a mecanismos internacionais judiciais ou quase judiciais, 
que analisam petições de vítimas de violação de direitos humanos, interpretam o direito envolvido e 
determinam reparações adequadas, que devem ser cumpridas pelo Estado 
O Brasil é um dos Estados que aderiu a tais mecanismos internacionais de proteção de direitos 
humanos, mesmo que de forma tardia 
inicialmente, o Brasil utilizou a possibilidade, tradicional no Direito Internacional, de não se submeter 
à jurisdição plena de determinado órgão criado por um tratado de direitos humanos no momento da 
ratificação 
Em 2010, a situação brasileira é a seguinte: 
1) em 1998, o Estado brasileiro reconheceu a jurisdição obrigatória e vinculante da 
CorteInteramericana de Direitos Humanos 
2) em 2002 o Brasil aderiu ao Protocolo Facultativo à Convenção para a Eliminação de 
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher 
conferindo, então, poder ao seu Comitê para receber petições de vítimas de violações de direitos 
protegidos nesta Convenção 
3) além disso, o Brasil também reconheceu a competência do Comitê para a Eliminaçãode Toda a 
Forma de Discriminação Racial para receber e analisar denúncias de vítimas de violação de 
direitos protegidos pela Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial 
4) também o Brasil adotou o Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e 
OutrosTratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que estabelece a competência, 
para fins preventivos, do Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas 
Cruéis, Desumanos ou Degradantes do Comitê contra a Tortura 
5) o Brasil reconheceu a competência do Comitê dos Direitos das Pessoas comDeficiência para 
receber petições de vítimas de violações desses direitos 
6) em 2002, o Brasil ratificou o Estatuto de Roma, o que implica o reconhecimento dajurisdição, 
sem reservas (porque o tratado não as admitia), do Tribunal Penal Internacional, que julga, em 
síntese, crimes graves contra os direitos humanos 
em 2009, o Brasil deu um passo adiante, após o Congresso ter aprovado a adesão brasileira ao 
Primeiro Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos [519], houve sua 
ratificação em 25 de setembro de 2009 [520], permitindo a propositura de petições de vítimas de 
violações de direitos protegidos no citado Pacto ao Comitê de Direitos Humanos. 
A implementação das obrigações internacionais: a federalização das graves violações de direitos 
humanos 
Em defesa, ainda, da maior eficácia dos Direitos Humanos Fundamentais, a EC 45/04 previu, nas 
hipóteses de grave violação de direitos humanos, a possibilidade do Procurador-Geral da República, 
com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de 
direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em 
qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça 
Federal (CF, art. 109, § 5º). Esse instituto, conhecido como “Incidente de deslocamento de 
competência” 
(IDC), durante esse período, foi utilizado cinco vezes pelo Superior Tribunal de Justiça, sendo que 
em duas oportunidades houve o deslocamento de competência, levando-se sempre em conta a 
necessidade da presença de três requisitos essenciais: (a) grave violação a direitos humanos; (b) risco 
de responsabilização internacional pelo descumprimento de obrigações derivadas de tratados 
internacionais, e (c) notória incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas 
efetivas. 
A busca pela aceitação do controle de convencionalidade internacional pelo ordenamento brasileiro 
deu um passo importante com a EC n. 45/2004 e a introdução da chamada “federalização das graves 
violações de direitos humanos”. 
A origem dessa alteração constitucional está na jurisprudência constante da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos 
O Estado Federal é uno para o Direito Internacional e passível de 
responsabilização, mesmo quando o fato internacionalmente ilícito seja da atribuição interna de um 
Estado-membro da Federação 
Esse entendimento é parte integrante do Direito dos Tratados e do Direito Internacional costumeiro. 
A ausência de “competência federal” é matéria de Direito interno e não de Direito Internacional. 
O Estado Federal responde pelo fato internacionalmente ilícito da mesma maneira que responde por 
atos ou omissões efetuadas por seu agente, mesmo quando este age em cumprimento estrito do Direito 
interno. 
Há diversos casos na Comissão Interamericana de Direitos Humanos e agora na Corte 
Interamericana de Direitos Humanos contra o Brasil por ato de ente federado 
no Caso Maria da Penha, o Brasil foi condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
por violação de direitos humanos das vítimas causada, basicamente, pela delonga do Tribunal de 
Justiça do Ceará em aplicar a lei penal em prazo razoável 
cabe mencionar o Caso Damião Ximenes Lopes no qual o Brasil foi condenado por conduta do 
Poder Judiciário do Ceará 
no plano internacional, compete à União Federal (e não aos entes federados) apresentar a defesa do 
Estado brasileiro e tomar as providências para a implementação da deliberação internacional, 
inclusive quanto às garantias de não repetição da conduta. 
as obrigações de reparar os danos e prevenir novas condenações internacionais comprovam o 
interesse jurídico da União Federal para agir no plano interno. 
Esse interesse jurídico motivou a elaboração da proposta de emenda à CF/88 de n. 368/96 - dar 
competência do julgamento de crimes contra os direitos humanos à Justiça Federal 
Após longo trâmite, foi aprovada a EC n. 45/2004 que introduziu novo inciso no artigo 109, dotando 
os juízes federais de competência para julgar “[...] V-A as causas relativas a direitos humanos a que 
se refere o § 5 o deste artigo” e ainda foi criado o novo § 5o do mesmo artigo, que estabelece que “§ 
5o Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador Geral da República, com a 
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de 
direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, 
em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça 
Federal”. 
Ficou consagrado, então, um instrumento que, ao lado da intervenção federal por violação dos direitos 
da pessoa humana (artigo 34, inc. VII, “b”, da CF/88) e da autorização prevista na Lei n. 10.446/2002 
para atuação da Polícia Federal em investigações de crime de competência estadual, possibilitam à 
União Federal fazer cumprir obrigações internacionais de defesa de direitos humanos. 
a medida em que haja inércia ou dificuldades materiais aos agentes locais, pode o Chefe do Ministério 
Público Federal, o Procurador Geral da República, requerer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o 
deslocamento do feito, em qualquer fase e de qualquer espécie (cível ou criminal) para a Justiça 
Federal. 
IDC 1 referente ao homicídio de Dorothy Stang - o STJ conheceu o pedido e assim conFirmou sua 
constitucionalidade 
este mesmo caso decidiu-se que o deslocamento de competência exige “demonstração concreta de 
risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais Firmados pelo Brasil, 
resultante da inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do Estado-membro, 
por suas instituições, em proceder à devidapersecução penal” 
ADI 3.493 e a ADI 3.486 – gera amesquinhamento do pacto federativo e violação do princípio do 
juiz natural e do devido processo legal 
o desenho anterior impedia uma ação preventiva que evitasse a responsabilização internacional 
futura do Brasil 
Houve caso em que o Brasil nem defesa apresentou perante a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos, pela diiculdade da União Federal em obter informações dos entes federados… 
Além disso, defendo a inexistência de ofensas ao devido processo legal e juiz natural pelo 
“deslocamento” uma vez que o próprio texto constitucional original convive com tal instituto. De 
fato, há a previsão de “deslocamento de competência” na ocorrência de vício de parcialidade da 
magistratura 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Texto 5- A incorporação dos tratados internacionais 
de direitos humanos; O impacto jurídico dos tratados 
internacionais de direitos humanos no Direito interno brasileiro- PIOVESAN 
11 Aplicabilidade imediata 
11.1 Noções gerais 
Para a melhor defesa dos direitos humanos adota-se a aplicabilidade imediata 
dos textos normativos às situações fáticas existentes tais direitos são aptos a 
serem invocados desde logo pelo jurisdicionado. 
A Constituição brasileira de 1988 expressamente estabelece, em seu artigo 5o, parágrafo 
primeiro, que as normas deinidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação 
imediata 
próprio Direito interno brasileiro não exige a edição de normas a regulamentar os direitos e 
garantias fundamentais. 
Para o Direito Internacional, há regra própria 
Essa regra consiste em diferenciar, na seara internacional, as normas internacionais selfexecuting e 
as normas not-self executing 
A diferenciação entre normas autoaplicáveis e normas que carecem de intermediação 
legislativa ou administrativa interna é revelada pela própria redação da norma, que permitirá 
ou não a sua aplicação imediata pelo juiz nacional. 
Para determinar se uma convenção internacional é autoaplicável internamente, vários 
critérios são utilizados recorre-se ao tradicional uso da análise da intenção das Partes 
(mens legislatoris) o critério gramatical, que enfatiza a terminologia utilizada pelo texto 
internacional 
análise da existência dos necessários elementos de concretização já no texto internacional, que 
permitiria ao juiz nacional a aplicação imediata da norma suficientemente clara e precisa. 
O conceito de “normas autoaplicáveis” pode ser estendido para normas internacionais não 
convencionais. 
dependerá do conteúdo da norma consuetudinária 
Por exemplo, observo que, no caso do Paquete Habana, a Suprema Corte americana decidiu pela 
autoaplicabilidade da norma costumeira internacional que previa que os barcos pesqueiros 
estrangeiros nãopoderiam ser confiscados como presas de guerra 
exsurge dessa análise a relevante questão de saber se o 
Estado é livre para considerar uma determinada norma internacional autoaplicável. 
Corte Interamericana de Direitos em porocesso consultivo firmou sua competência para decidir 
sobre a autoaplicabilidade ou não de norma internacional. 
a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em seu 
Parecer Consultivo 07/86, estabeleceu que a Convenção Americana de Direitos Humanos é 
autoaplicável. 
Uma vez em vigor a Convenção, os direitos protegidos devem ser aplicados perante todos os órgãos 
estatais (tribunais inclusive), sem que haja ainda a necessidade de novas leis ou atos de aplicação 
dos citados direitos. 
Prevalece o entendimento do órgão internacional sobre a autoaplicabilidade ou não de norma 
internacional, não podendo ser estetema, então, considerado como um “tema de Direito Interno” 
11.2 Os direitos sociais são autoaplicáveis? 
É importante lembrar que a aplicabilidade dos direitos humanos possui tratamento 
diferenciado quando se trata dos chamados direitos sociais 
No Direito Internacional dos Direitos Humanos há ainda um longo 
caminho a ser percorrido para que se consagre a aplicabilidade plena e imediata dos direitos sociais 
estatuto já atingido pelos direitos civis e políticos, o que, sem dúvida, viola a indivisibilidade dos 
direitos humanos 
é necessário que se indague, em face dos 
direitos sociais, sobre quais são as obrigações dos Estados e qual é o alcance da aplicabilidade 
imediata de tais direitos 
o artigo vinte e três do Pacto Internacional das 
Nações Unidas sobre Direitos Econômicos, Culturais e Sociais estipula que 
“Os Estados-Partes do presente pacto concordam em que as medidas de ordem internacional 
destinadas a tornar efetivos os direitos reconhecidos no referido Pacto incluem, sobretudo, a 
conclusão de convenções, a adoção de recomendações, a prestação de assistência técnica e a 
organização técnica e a organização, em conjunto com os governos interessados, e no intuito de 
efetuar consultas e realizar estudos de reuniões regionais e de reuniões técnicas”. 
Portanto, o dever maior do Estado contratante deste Pacto, que é o mais importante por ser fruto 
do sistema da Organização das Nações Unidas e contar com a pretensão de ser universal, reduz-
se à mera produção de relatórios a serem 
encaminhados ao Comitê instituído pelo próprio Pacto, contendo as principais realizações e o 
“progresso realizado com o objetivode assegurar a observância dos direitos reconhecidos no Pacto”. 
Os relatórios serão encaminhados ao Conselho Econômico e Social da ONU para 
fins de estudo e de recomendação de ordem geral 
claro que a recomendação geral evita a responsabilização de um Estado específico por violação 
destes direitos. 
É claro que a recomendação geral evita a responsabilização de um Estado especíico por violação 
destes direitos. 
Com efeito, os Estados, em geral, alegam a impossibilidade de serem obrigados juridicamente 
(no contexto de uma responsabilização internacional) a agir no campo social sem terem 
condições econômicas para tanto. 
Essas disposições amenas com os deveres sociais dos Estados-Partes no 
Direito Internacional dos Direitos Humanos refletem a dita progressividade e adstrição à realidade 
dos direitos sociais e econômicos enquanto obrigações primárias, que seriam cumpridas de acordo 
com o máximo de recursos estatais disponíveis e de maneira progressiva 
No contexto interamericano, a situação é similar à do plano universal. De fato, aceitando a 
dualidade de instrumentos existentes no sistema da ONU, foi elaborado o Protocolo Adicional à 
Convenção Americana de Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais (o chamado Protocolo de San Salvador) em 1988 
Tal protocolo, já em vigor, reconhece a importância dos direito econômicos e sociais para o 
exercício dos direitos civis e políticos, assumindo o princípio da indivisibilidade dos direitos 
humanos 
No artigo 1o do Protocolo encontra-se a obrigação internacional geral dos 
Estados em face dos direitos sociais, econômicos e culturais, que é o compromisso de adotar as 
medidas adequadas para efetivá-los, levandoem consideração os recursos disponíveis e a 
progressividade, no mesmo diapasão do Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e 
Culturais. 
. A postergação da efetivação de direitos sociais em sentido amplo é tida como consequência de 
uma disponibilidade limitada, porém temporária, de recursos . A lógica da postergação é sempre 
acompanhada da lembrança do caráter temporário das restrições para implementação destes direitos 
sociais, acenando-se com uma acumulação futura de recursos aptos a suprir as carências materiais 
da população. 
Ora, essa promessa de concretização futura de direitos protegidos não é aceita nos 
chamados direitos civis e políticos 
Como exemplo, cite-se o direito do detento a um tratamento digno, que exige prestações positivas 
do Estado para seu efetivo cumprimento. Entretanto, não é admitido que se condicione (e que se 
postergue) o desfrute do direito a um tratamento prisional digno, até o dia em que o Estado possua 
os recursos necessários para a manutenção deuma administração penitenciária na qual sejam 
respeitados os direitos do preso. 
Para BOLIVAR, esta incoerência é um produto da chamada Guerra Fria, refletindo o anseio pela 
caracterização dos direitos sociais em sentido amplo como meras orientações programáticas , que, 
se descumpridas, não ensejariam a responsabilidade internacional do Estado. 
No âmbito puramente empírico, observo que AMARTYA SEN, ao analisar casos históricos de 
fome maciça em um Estado (Etiópia, 1972-1974;Bangladesh, 1974, entre outros), comprovou que o 
principal problema não fora o da produção insuiciente de alimentos, mas sim o fracasso da elite 
governamental em distribuir os alimentos existentes. Assim, não houve carência de recursos, mas 
sim falta de políticas públicas de proteção do direito à alimentação. O mesmo pode ser dito do 
Brasil 
Portanto, o princípio do desenvolvimento progressivo no âmbito de direitos sociais deve ser 
aplicado com parcimônia e restrições, já que, em países como o nosso, o desenvolvimento é 
associado com políticas de concentração de renda, o que torna cada vez mais distante (e não mais 
próximo como seria natural) a concretização dos chamados direitos sociais 
Esta justificativa não é válida, sendo decorrente da perspectiva ex parte principis dos direitos 
humanos, que enfatiza a governabilidade em detrimento da exigência ética de respeito à dignidade 
da pessoa humana 
Pela perspectiva ex parte populis, pelo contrário, os direitos humanos são 
indivisíveis, porque complementares . Os direitos sociais, então, asseguram as condições para o 
exercício dos direitos civis e políticos 
d) A incorporação dos tratados internacionais de direitos humanos 
No capítulo anterior, apontou-se para o inédito princípio da aplicabilidade imediata dos direitos e 
garantias fundamentais, assegurado pelo art. 5º, § 1º, da Constituição de 1988. Ora, se as normas 
definidoras dos direitos e garantias fundamentais demandam aplicação imediata e se, por sua vez, 
os tratados internacionais de direitos humanos têm por objeto justamente a definição de direitos e 
garantias, conclui-se que tais normas merecem aplicação imediata. 
Portanto, como pontua Antônio Augusto Cançado Trindade, “se para os tratados internacionais em 
geral, se tem exigido a intermediação pelo Poder Legislativo de ato com força de lei de modo a 
outorgar às suas disposições vigência ou obrigatoriedade no plano do ordenamento jurídico 
interno, distintamente no caso dos tratados de proteção internacional dos direitos humanos em que 
o Brasil é parte, os direitos fundamentais neles garantidos, consoante os arts. 5º (2) e 5º (1) da 
Constituição brasileira de 1988, passam a integrar o elenco dos direitos constitucionalmente 
consagrados e direta e imediatamente exigíveis no plano do ordenamento jurídico interno 
Em outras palavras, não será mais possível a sustentação da tese segundo a qual, com a ratificação, 
os tratados obrigam diretamente aos Estados, mas não geram direitos subjetivos para os 
particulares, enquanto não advém a referida intermediação legislativa. 
A incorporação automática do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos pelo direito brasileiro — sem que se faça necessário um ato jurídico complementar para 
sua exigibilidade e implementação — traduz relevantes consequências no plano jurídico. 
De um lado, permite ao particular a invocação direta dos direitos e liberdades internacionalmente 
assegurados, e, por outro, proíbe condutas e atos violadores a esses mesmos direitos, sob pena de 
invalidação. Consequentemente, a partir da entrada em vigor do tratado internacional, toda norma 
preexistente que seja com ele incompatível perde automaticamente a vigência. 
Ademais, passa a ser recorrível qualquer decisão judicial que violar as prescrições do tratado — eis 
aqui uma das sanções aplicáveis na hipótese de inobservância dos tratados. 
Nesse sentido, a Carta de 1988 atribui ao Superior Tribunal de Justiça a competência para julgar, 
mediante recurso especial, as causas decididas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos 
Tribunais dos Estados, “quando a decisão recorrida contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes 
vigência”, nos termos do art. 105, III, a. 
Eventualmente, a depender do caso, cabe a esse Poder a imposição de sanções pecuniárias em favor 
da vítima que sofreu violação em seu direito internacionalmente assegurado. 
Importa esclarecer que, ao lado da sistemática da “incorporação automática” do Direito 
Internacional, existe a sistemática da “incorporação legislativa” do Direito Internacional. 
Isto é, se, em face da incorporação automática, os tratados internacionais incorporam-se de imediato 
ao Direito nacional em virtude do ato da ratificação, no caso da incorporação legislativa os 
enunciados dos tratados ratificados não são incorporados de plano pelo Direito nacional; ao 
contrário, dependem necessariamente de legislação que os implemente. 
Em suma, em face da sistemática da incorporação automática, o 
Estado reconhece a plena vigência do Direito Internacional na ordem interna, mediante uma 
cláusula geral de recepção automática plena. 
Essa sistemática da incorporação automática reflete a concepção monista, pela qual o 
Direito Internacional e o direito interno compõem uma mesma 
unidade, uma única ordem jurídica, inexistindo qualquer limite entre a ordem jurídica internacional 
e a ordem interna 
Por sua vez, na sistemática da incorporação legislativa, o Estado recusa a vigência imediata do 
Direito Internacional na ordem interna. Por isso, para que o conteúdo de uma norma internacional 
vigore na ordem interna, faz-se necessária sua reprodução ou transformação por uma fonte interna. 
Nesse sistema, o Direito Internacional e o Direito interno são duas ordens jurídicas distintas 
A sistemática de incorporação não automática reflete a concepção dualista, pela qual há duas ordens 
jurídicas diversas, independentes e autônomas: a ordem jurídica nacional e a ordem internacional, 
que não apresentam contato nem qualquer interferência 
Ainda sobre a matéria, esclarecem André Gonçalves Pereira e Fausto de Quadros: “Perante a 
existência de duas ordens jurídicas, a estadual e a internacional, ou se entende que as duas são 
independentes uma da outra e que cada uma delas precisa de ter normas específicas sobre a sua 
relação recíproca, ou se pensa, ao contrário, que o Direito constitui uma unidade, de que ambas são 
meras manifestações, ficando a validade das normas interna e internacional a resultar da mesma 
fonte a elas comum. No primeiro caso estamos perante o dualismo ou pluralismo; no segundo caso 
temos o monismo. 
Diante dessas duas sistemáticas diversas, conclui-se que o Direito 
brasileiro faz opção por um sistema misto, no qual, aos tratados internacionais de proteção dos 
direitos humanos — por força do art. 5º, § 1º —, aplica-se a sistemática de incorporação 
automática, enquanto aos demais tratados internacionais se aplica a sistemática de incorporação 
legislativa, na medida em que se tem exigido a intermediação de um ato normativo para tornar o 
tratado obrigatório na ordem interna 
Com efeito, salvo na hipótese de tratados de direitos humanos, no Texto Constitucional não há 
dispositivo constitucional que enfrente a questão da relação entre o Direito 
Internacional e o interno. Isto é, não há menção expressa a qualquer das correntes, seja à monista, 
seja à dualista. Por isso, a doutrina predominante tem entendido que, em face do silêncio 
constitucional, o Brasil adota a corrente dualista, pela qual há duas ordens jurídicas diversas 
ara que o tratado ratificado produza efeitos no ordenamento jurídico interno, faz-se necessária a 
edição de um ato normativo nacional81 — no caso brasileiro, esse ato tem sido um decreto de 
execução, expedido pelo Presidente da República, com a finalidade de conferir execução e 
cumprimento ao tratado ratificado no âmbito interno. 
O § 3º do art. 5º tão somente veio a fortalecer o entendimento em prol da incorporação automáticados tratados de direitos humanos. Isto é, não parece razoável, a título ilustrativo, que, após todo o 
processo solene e especial de aprovação do tratado de direitos humanos (com a observância do 
quorum exigido pelo art. 60, § 2º), fique a sua incorporação no âmbito interno condicionada a um 
decreto do Presidente da República. 
Notese, todavia, que a expedição de tal decreto tem sido exigida pela jurisprudência do STF, como 
um “momento culminante” no processo de incorporação dos tratados, sendo uma “manifestação 
essencial e insuprimível”, por assegurar a promulgação do tratado internamente, garantir o princípio 
da publicidade e conferir executoriedade ao texto do tratado ratificado, que passa, somente então, a 
vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno. 
As normas internacionais respeitantes a essas matérias vigoram, portanto, na ordem interna 
independentemente de transformação; ao contrário, todas as outras vigoram apenas mediante 
transformação. Este sistema é conhecido por sistema da cláusula geral da recepção semiplena. 
Desse modo, no que se refere aos tratados em geral, acolhe-se a sistemática da incorporação não 
automática, o que reflete a adoção da concepção dualista. Ainda no que tange a esses tratados 
tradicionais e nos termos do art. 102, III, b, da Carta Maior, o Texto lhes atribui natureza de norma 
infraconstitucional. 
Enquanto os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos apresentam status 
constitucional e aplicação imediata (por força do art. 5º, §§ 1º e 2º, da Carta de 1988), os tratados 
tradicionais apresentam status infraconstitucional e aplicação não imediata (por força do art. 102, 
III, b, da Carta de 1988 e da inexistência de dispositivo constitucional que lhes assegure aplicação 
imediata). 
Em relação ao impacto jurídico dos tratados internacionais de 
direitos humanos no direito brasileiro, e considerando a hierarquia constitucional desses tratados, 
três hipóteses poderão ocorrer. O direito enunciado no tratado internacional poderá: a) coincidir 
com o direito assegurado pela Constituição (neste caso a Constituição reproduz preceitos do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos); b) integrar, complementar e ampliar o universo de direitos 
constitucionalmente previstos; ou c) contrariar preceito do Direito interno. 
Com efeito, no ângulo estritamente jurídico, um primeiro impacto observado se atém ao fato de o 
Direito interno brasileiro, e em particular a Constituição de 1988, conter inúmeros dispositivos que 
reproduzem fielmente enunciados constantes dos tratados internacionais de direitos humanos. A 
título de exemplo, merece referência o disposto no art. 5º, III, da Constituição, que, ao prever que 
“ninguém será submetido a tortura nem a tratamento cruel, desumano ou degradante”, é reprodução 
literal do art. V da Declaração Universal de 1948, do art. 7º do Pacto Internacional dos Direitos 
Civis e Políticos e ainda do art. 5º (2) da Convenção Americana. Também o princípio de que “todos 
são iguais perante a lei”, consagrado no art. 5º, caput, da Carta brasileira, reflete cláusula 
internacional no mesmo sentido, de acordo com o art. VII da Declaração Universal, o art. 26 do 
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o art. 24 da Convenção Americana. 
A reprodução de disposições de tratados internacionais de direitos humanos na ordem jurídica 
brasileira não apenas reflete o fato de o legislador nacional buscar orientação e inspiração nesse 
instrumental, mas ainda revela a preocupação do legislador em equacionar o Direito interno, de 
modo a ajustá-lo, com harmonia e consonância, às obrigações internacionalmente assumidas 
pelo Estado brasileiro. 
Um segundo impacto jurídico decorrente da incorporação do 
Direito Internacional dos Direitos Humanos pelo Direito interno resulta no alargamento do universo 
de direitos nacionalmente garantidos. Com efeito, os tratados internacionais de direitos humanos 
reforçam a Carta de direitos prevista constitucionalmente, inovando-a, integrando-a e completando-
a com a inclusão de novos direitos. 
A partir dos instrumentos internacionais ratificados pelo Estado 
brasileiro, é possível elencar inúmeros direitos que, embora não previstos no âmbito nacional, 
encontram-se enunciados nesses tratados e, assim, passam a se incorporar ao Direito brasileiro. A 
título de ilustração, cabe mencionar os seguintes direitos: a) direito de toda pessoa a um nível de 
vida adequado para si próprio e sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia, nos 
termos do art. 11 do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; b) proibição 
de qualquer propaganda em favor da guerra e de qualquer apologia ao ódio nacional, racial ou 
religioso, que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à 
violência, em conformidade com o art. 20 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o 
art. 13 (5) da Convenção Americana; 
Contudo, ainda se faz possível uma terceira hipótese no campo jurídico: eventual conflito entre o 
Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito interno. Esta terceira hipótese é a que 
encerra maior problemática, suscitando a seguinte indagação: como solucionar eventual conflito 
entre a Constituição e determinado tratado internacional de proteção dos direitos humanos? 
Poder-se-ia imaginar, como primeira alternativa, a adoção do 
critério “lei posterior revoga lei anterior com ela incompatível”, considerando a natureza 
constitucional dos tratados internacionais de direitos humanos. Contudo, exame mais cauteloso da 
matéria aponta para um critério de solução diferenciado, absolutamente peculiar ao conflito em tela, 
que se situa no plano dos direitos fundamentais. E o critério a ser adotado se orienta pela escolha da 
norma mais favorável à vítima. 
Logo, na hipótese de eventual conflito entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o 
Direito interno, adota-se o critério da prevalência da norma mais favorável à vítima. Em outras 
palavras, a primazia é da norma que melhor proteja, em cada caso, os direitos da pessoa humana. 
A respeito, elucidativo é o art. 29 da 
Convenção Americana de Direitos Humanos, que, ao estabelecer regras interpretativas, determina 
que “nenhuma disposição da Convenção pode ser interpretada no sentido de limitar o gozo e 
exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis de 
qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Convenções em que seja parte um dos referidos 
Estados”. 
Ressalte-se que os tratados de direitos humanos fixam parâmetros protetivos mínimos, 
constituindo um piso mínimo de proteção e não um teto protetivo máximo. Daí a hermenêutica 
dos tratados de direitos humanos endossar o princípio pro ser humano. 
Claúsulas de abertura constitucional e o princípio pro ser humano inspirador dos tratados de 
direitos humanos compõem os dois vértices — nacional e internacional — a fomentar o 
diálogo em matéria de direitos humanos. 
primeira parte foi acerca do modo pelo qual a Constituição brasileira de 1988 se relaciona 
com os tratados internacionais dos direitos humanos
nesta segunda parte se propõe um estudo aprofundado do sistema internacional de 
proteção dos direitos humanos, tanto no âmbito global como no regional
Acredita-se que o estudo dos precedentes históricos constitui referência fundamental para
que se compreendam os primeiros delineamentos do “Direito Internacional dos Direitos 
Humanos”, como fonte dos tratados de proteção desses mesmos direitos.
a) Primeiros precedentes do processo de internacionalização dos direitos humanos — o 
Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho
quais os precedentes históricos da moderna sistemática de proteção internacional desses 
direitos?
O Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho 
situam-se como os primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos 
humanos
Alguns passos foramnecessários no processo de internacionalização dos direitos 
humanos
- redefinição do âmbito e o alcance do tradicional conceito de soberania estatal
- redefinição do status do indivíduo no cenário internacional
essas noções contemporâneas encontram seu precedente histórico no desenvolvimento 
do Direito Humanitário, da Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho
Na definição de Thomas Buergenthal, o Direito Humanitário constitui o componente de 
direitos humanos da lei da guerra 
É o Direito que se aplica na hipótese de guerra, no intuito de fixar limites à atuação do 
Estado e assegurar a observância de direitos fundamentais. A proteção humanitária se 
destina, em caso de guerra, a militares postos fora de combate (feridos, doentes, 
náufragos, prisioneiros) e a populações civis.
Direito Humanitário foi a primeira expressão de
que, no plano internacional, há limites à liberdade e à autonomia dos Estados, ainda que 
na hipótese de conflito armado.
A Liga das Nações foi criada após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações tinha 
como finalidade promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando 
agressões externas contra a integridade territorial e a independência política dos seus 
membros
A Convenção da Liga das Nações (1920)
continha previsões genéricas relativas aos direitos humanos
destacando-se as voltadas ao mandate system of the League, ao sistema das minorias e 
aos parâmetros internacionais do direito ao trabalho
a Convenção da Liga estabelecia sanções econômicas e militares a serem impostas pela 
comunidade internacional contra os Estados que violassem suas obrigações
Ao lado do Direito Humanitário e da Liga das Nações, a Organização Internacional do 
Trabalho também contribuiu para o processo de internacionalização dos direitos humanos
Criada após a Primeira Guerra Mundial, a Organização Internacional do Trabalho tinha 
por finalidade promover:
- padrões internacionais de condições de trabalho e bem-estar.
Cada qual contribuiu para o processo de internacionalização dos direitos humanos: 
Seja ao assegurar parâmetros globais mínimos para as condições de trabalho no plano 
mundial, 
seja ao fixar como objetivos internacionais a manutenção da paz e segurança 
internacional, 
seja ainda ao proteger direitos fundamentais em situações de conflito armado
Esses precedentes registram o fim de uma época em que o Direito Internacional era, 
salvo raras exceções, confinado a regular relações entre Estados
Rompe-se com o conceito tradicional de Direito Internacional e com a noção de soberania
nacional absoluta
Aos poucos, emerge a ideia de que o indivíduo é não apenas objeto, mas também sujeito 
de Direito Internacional
consequências: 
estabelecimento da capacidade processual internacional dos indivíduos
direitos humanos constituem matéria de legítimo interesse 
internacional
b) A internacionalização dos direitos humanos — o pós-guerra
a verdadeira consolidação do Direito Internacional dos
Direitos Humanos surge em meados do século XX, em decorrência da Segunda Guerra 
Mundial.
Nas palavras de Thomas Buergenthal: “O moderno Direito Internacional dos Direitos 
Humanos é um fenômeno do pósguerra. 
Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos 
da era Hitler
e à crença de que parte destas violações poderiam ser prevenidas se um efetivo sistema 
de proteção internacional de direitos humanos existisse
Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a Era Hitler foi 
marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, o que 
resultou no extermínio de onze milhões de pessoas.
O legado do nazismo foi condicionar a titularidade de direitos, ou seja, a condição de 
sujeito de direitos, à pertinência a determinada raça — a raça pura ariana. 
reconstrução da ordem internacional
paradigma dos direitos humanos
surgimento de uma sistemática normatica de proteção internacional
torna possível a responsabilização do Estado no domínio internacional quando as 
instituições nacionais se mostram falhas ou omissas na tarefa de proteger os direitos 
humanos
os DH se tornam legítima preocupação internacional com a:
Criação das Nações Unidas, adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela
Assembleia Geral da ONU, em 1948
marcos da resposabilização dos agentes estatais
o Tribunal de Nuremberg, em 1945-1946
após intensos debates sobre o modo pelo qual se poderia responsabilizar os alemães 
pela guerra e pelos bárbaros abusos do período, os aliados chegaram a um consenso, 
com o Acordo de Londres de 1945, pelo qual ficava convocado um Tribunal Militar 
Internacional para julgar os criminosos de guerra
o Tribunal de Nuremberg teve sua composição e seus procedimentos básicos fixados pelo
Acordo de Londres
Nos termos do art. 6º desse Acordo, são crimes sob a jurisdição do Tribunal que 
demandam responsabilidade individual: a) crimes contra a paz (planejar, preparar, incitar 
ou contribuir para a guerra de agressão); b) crimes de guerra (violações ao direito e ao 
direito costumeiro da guerra); c) crimes contra a humanidade (assassinato, extermínio, 
escravidão, deportação ou outro ato desumano cometido contra a população civil, antes 
ou durante a guerra, ou perseguições baseadas em critérios raciais, políticos e religiosos)
O Tribunal de Nuremberg aplicou fundamentalmente o costume internacional para a 
condenação criminal de indivíduos envolvidos na prática de crime contra a paz, crime de 
guerra e crime contra a humanidade
Note-se que, nos termos do art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, o 
costume internacional — enquanto evidência de uma prática geral e comum aceita como 
lei — é fonte do Direito Internacional, ao lado dos tratados internacionais, das decisões 
judiciais, da doutrina e dos princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações 
“civilizadas”
Quanto ao costume internacional, sua existência depende:
a) da concordância de um número significativo de Estados em relação a determinada 
prática e do exercício uniforme dessa prática;
b) da continuidade de tal prática por considerável período de tempo — já que o elemento 
temporal é indicativo da generalidade e consistência de determinada prática; 
c) da concepção de que tal prática é requerida pela ordem internacional e aceita como lei,
ou seja, de que haja o senso de obrigação legal, a opinio juris
Atente-se que o costume internacional tem eficácia erga omnes, aplicando-se a todos os 
Estados
muita polêmica surgiu, com base na alegação da afronta ao princípio da legalidade do 
direito penal, sob o argumento de que os atos punidos pelo Tribunal de Nuremberg não 
eram considerados crimes no momento em que foram cometidos
O significado do Tribunal de Nuremberg para o processo de internacionalização dos 
direitos humanos é duplo: não apenas consolida a ideia da necessária limitação da 
soberania nacional como reconhece que os indivíduos têm direitos protegidos pelo Direito 
Internacional
c) A Carta das Nações Unidas de 1945
fortalecimento do processo de internacionalização dos direitos humanos
a maciça expansão de organizações internacionais com propósitos de cooperação 
internacional
A criação das Nações Unidas, com suas agências especializadas, demarca o surgimento 
de uma nova ordem internacional
Criação das Nações Unidas e seus objetivos:
manutenção da paz e segurança internacional, o desenvolvimento de relações amistosas 
entre os Estados, a adoção da cooperação internacional no plano econômico, social e 
cultural, a adoção de um padrão internacional de saúde, a proteção ao meio ambiente, a 
criação de uma nova ordem econômica internacional e a proteção internacional dos 
direitos humanos
Para a consecução desses objetivos, as Nações Unidas foram organizadas em diversos 
órgãos
Os principais órgãos das Nações Unidas são a Assembleia Geral, o Conselho de 
Segurança, a Corte Internacional de Justiça, o Conselho Econômico e Social, o Conselho 
de Tutela e o Secretariado,nos termos do art. 7º da Carta da ONU
Adiciona o art. 7º (2) que órgãos subsidiários podem ser criados, quando necessário.
Compete à Assembleia Geral discutir e fazer recomendações relativamente a qualquer 
matéria objeto da Carta.
Todos os membros das Nações Unidas são membros da Assembleia Geral, com direito a 
um voto (arts. 9º e 18).
As decisões em questões importantes são tomadas pelo voto da maioria de dois terços 
dos membros presentes e votantes.
Quanto ao Conselho de Segurança, é o órgão da ONU com a “principal responsabilidade 
na manutenção da paz e segurança internacionais” (art. 24).
É composto por cinco membros permanentes e dez não permanentes.
Os membros permanentes são China, França, Reino Unido, Estados Unidos e, desde 
1992, Rússia, que sucedeu a URSS. Os não permanentes são eleitos pela Assembleia 
Geral para mandato de dois anos
Cada membro do Conselho de Segurança tem direito a um voto
As deliberações do Conselho em questões processuais são tomadas pelo voto afirmativo 
de nove membros. 
Em relação às questões materiais, as deliberações também são tomadas pelo voto 
afirmativo de nove membros, incluindo, todavia, os votos afirmativos de todos os cinco 
membros permanentes 
A Corte Internacional de Justiça, nos termos do art. 92 da Carta, é o principal órgão 
judicial das Nações Unidas
composto por quinze juízes
Seu funcionamento é disciplinado pelo Estatuto da Corte, que foi anexado à Carta
Dispõe a Corte de competência contenciosa e consultiva. Contudo, somente os Estados 
são partes em questões perante ela
Por sua vez, o Secretariado é chefiado pelo Secretário-Geral, que é o principal funcionário
administrativo da ONU, indicado para mandato de cinco anos pela Assembleia Geral, a 
partir de recomendação do Conselho de Segurança
A competência do Conselho de Tutela atém-se a fomentar o processo de descolonização 
e de autodeterminação dos povos
quanto ao Conselho Econômico e Social, composto por
cinquenta e quatro membros, tem competência para promover a cooperação em questões
econômicas, sociais e culturais, incluindo os direitos humanos
Cabe ao Conselho Econômico e Social fazer recomendações destinadas a promover o 
respeito e a observância dos direitos humanos
Nos termos do art. 68, poderá o Conselho Econômico e Social criar comissões que forem 
necessárias ao desempenho de suas funções. Nesse sentido, foi criada a Comissão de 
Direitos Humanos da ONU.
Estabelecida em 1946, após mais de 50 anos de trabalho, em 24 de março de 2006, a 
Comissão teve sua última sessão, sendo abolida em 16 de junho de 2006 e substituída 
pelo Conselho de Direitos Humanos
agora os seus membros são eleitos diretamente pela Assembleia Geral da ONU
crise de credibilidade e profissionalismo.
formado por 47 membros, são eleitos levando em consideração a contribuição dos 
candidatos para a promoção e proteção dos direitos humanos
a Assembleia Geral, por voto de dois terços de seus membros, suspender os direitos do 
Estado-membro que cometer graves e sistemáticas violações de direitos humanos
reforma da ONU
fortalecer a Assembleia Geral, na qualidade de verdadeiro Senado mundial 
democratizar o Conselho de Segurança, tornando-o um órgão mais representativo da 
comunidade internacional e da geopolítica contemporânea
requer seja revitalizada a Assembleia Geral, racionalizando seu trabalho, acelerando os 
seus processos deliberativos, focando sua agenda em temas prioritários, estabelecendo 
mecanismos que permitam maior diálogo com a sociedade civil e conferindo maior 
efetividade às suas deliberações
é necessário restaurar o balanço entre os três Conselhos
a) paz e segurança internacional; b) questões sociais e econômicas; e c) direitos 
humanos, cuja promoção tem sido um dos propósitos da ONU desde sua criação, mas 
que agora claramente requer uma estrutura operacional mais efetiva
A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida, assim, o movimento de 
internacionalização dos direitos humanos
os arts. 1º (3), 13, 55, 56 e 62 (2 e 3), da Carta das Nações Unidas.
Nos termos do art. 1º (3), fica estabelecido que um dos propósitos das Nações Unidas é 
alcançar a cooperação internacional para a solução de problemas econômicos, sociais, 
culturais ou de caráter humanitário e encorajar o respeito aos direitos humanos e 
liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.
abe à Assembleia Geral iniciar estudos e fazer recomendações, art. 13 da Carta
Também ao Conselho Econômico e Social, como já visto, cabe fazer recomendações e 
preparar projetos de Convenções internacionais, art. 62 da Carta da ONU
O art. 55 reforça o objetivo de promoção dos direitos humanos: as Nações Unidas 
promoverão: ... c) o respeito universal e a observância dos direitos humanos e liberdades 
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”
O art. 56 reafirma o dever de todos os membros das Nações Unidas de exercer ações 
conjugadas ou separadas, em cooperação com a própria Organização, para o alcance 
dos propósitos lançados no art. 55.
A Carta não define o conteúdo dessas expressões, deixando-as em aberto. Daí o desafio 
de desvendar o alcance e significado da expressão “direitos humanos e liberdades 
fundamentais”, não definida pela Carta.
Três anos após o advento da Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, de 1948, veio a definir com precisão o elenco dos “direitos humanos e 
liberdades fundamentais” a que faziam menção os arts. 1º (3), 13, 55, 56 e 62 da Carta.
Considerando que três são os propósitos centrais da ONU — manter a paz e a segurança
internacional; fomentar a cooperação internacional nos campos social e econômico; e 
promover os direitos humanos no âmbito universal —, fez-se necessário que sua estrutura
fosse capaz de refletir, de forma mais clara, equilibrada e coerente, a importância destes 
três propósitos.
A ONU passa, então, a contar com três Conselhos — Conselho de Segurança; 
Econômico e Social; e de Direitos Humanos — que espelham a tríade temática que 
inspira a própria organização.
Quanto à composição, o Conselho de Direitos Humanos é integrado
por 47 Estados-membros eleitos diretamente, por voto secreto da maioria da Assembleia 
Geral, observada a distribuição geográfica equitativa dentre os grupos regionais, sendo 13
membros dos Estados africanos; 13 membros dos Estados asiáticos; 6 membros dos 
Estados do Leste europeu; 8 membros dos Estados da América Latina e Caribe; e 7 
membros dos Estados da Europa ocidental e demais Estados. O mandato dos membros 
do Conselho é de 3 anos
s países com reduzido e médio grau de desenvolvimento contarão com a expressiva 
maioria de 40 membros do universo total de 47 membros.
O Conselho de Direitos Humanos, como órgão subsidiário da Assembleia Geral, deve 
guiar-se pelos princípios da universalidade, da imparcialidade, da objetividade e da não 
seletividade na consideração de questões afetas a direitos humanos
Cabe ao Conselho responder a violações de direitos humanos, incluindo violações graves 
e sistemáticas, bem como elaborar recomendações.
Compete ao Conselho promover também a efetiva coordenação das atividades de direitos
humanos na ONU e a incorporação da perspectiva dos direitos humanos em todas as 
atividades da ONU 
Tem ainda por desafio estabelecer um diálogo transparente e construtivo com as 
organizações não governamentais para a promoção e proteção dos direitos humanos
É da competência do Conselho de Direitos Humanos: a) promover a educação e o ensino 
em direitos humanos, bem como assistência técnica e programas de capacitação; b) 
servir como um fórum de diálogo sobre temas de direitos humanos; c) submeter 
recomendações à Assembleia Geral para o desenvolvimento do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos; d) promover a plena implementação das obrigações de direitos 
humanos assumidas pelos Estados e realizar o follow-up dos objetivos e compromissos 
referentes à promoção e proteção dos direitos humanos decorrentesdas conferências da 
ONU; e) elaborar uma revisão periódica universal (universal periodic review), baseada em
informações objetivas e confiáveis, visando avaliar o cumprimento pelos Estados das 
obrigações em direitos humanos, de forma a complementar e não duplicar o trabalho 
realizado pelos treaty bodies; f) contribuir, por meio do diálogo e da cooperação, para a 
prevenção de violações a direitos humanos e responder rapidamente a situações de 
emergência; g) assumir as responsabilidades e as funções da Comissão de Direitos 
Humanos no que se refere ao204/782
trabalho do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos; h) trabalhar em estreita 
cooperação no campo dos direitos humanos com Estados, organizações regionais, 
instituições nacionais de direitos humanos e sociedade civil; i) propor recomendações 
acerca da promoção e proteção dos direitos humanos; e j) submeter um relatório anual à 
Assembleia Geral43.
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948
consagrar um consenso sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos 
Estados
Esta Declaração se caracteriza, primeiramente, por sua amplitude
Sua segunda característica é a universalidade
A Declaração Universal de 1948 objetiva delinear uma ordem
pública mundial fundada no respeito à dignidade humana, ao consagrar valores básicos 
universais.
para a Declaração Universal a condição de pessoa é o requisito único e exclusivo para a 
titularidade de direitos
Além da universalidade dos direitos humanos, a Declaração de
1948 ainda introduz a indivisibilidade desses direitos
ao ineditamente conjugar o catálogo dos direitos civis e políticos com o dos direitos 
econômicos, sociais e culturais.
Combina, assim, o discurso liberal e o discurso social da cidadania, conjugando o valor da
liberdade com o valor da igualdade.
O discurso liberal da cidadania nascia no seio do movimento pelo constitucionalismo e da 
emergência do modelo de Estado Liberal, sob a influência das ideias de Locke, 
Montesquieu e Rousseau.
Diante do Absolutismo, fazia-se necessário evitar os excessos, o abuso e o arbítrio do 
poder. Nesse momento histórico, os direitos humanos surgem como reação e resposta 
aos excessos do regime absolutista, na tentativa de impor controle e limites à abusiva 
atuação do Estado.
A não atuação estatal significava liberdade
Caminhando na história, verifica-se que, especialmente após a
Primeira Guerra Mundial, ao lado do discurso liberal da cidadania, fortalece-se o discurso 
social da cidadania, e, sob as influências da concepção marxista-leninista, é elaborada a 
Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado da então República Soviética 
Russa, em 1918
A Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado da República Soviética 
Russa de 1918, bem como as Constituições sociais do início do século XX (ex.: 
Constituição de Weimar de 1919, Constituição mexicana de 1917 etc.), primou por conter 
um discurso social da cidadania, em que a igualdade era o direito basilar e um extenso 
elenco de direitos econômicos, sociais e culturais era previsto.
Essa breve digressão histórica tem o sentido de demonstrar quão
dicotômica se apresentava a linguagem dos direitos: de um lado, direitos civis e políticos; 
do outro, direitos sociais, econômicos e culturais
a Declaração passa a elencar tanto direitos civis e políticos (arts. 3º a 21) como direitos 
sociais, econômicos e culturais (arts. 22 a 28)
inovações introduzidas pela Declaração: a) parificar, em igualdade de importância, os 
direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais; e b) afirmar a inter-
relação, indivisibilidade e interdependência de tais direitos.
Assim, partindo do critério metodológico que classifica os direitos humanos em gerações, 
compartilha-se do entendimento de que uma geração de direitos não substitui a outra, 
mas com ela interage. Isto é, afasta-se a equivocada visão da sucessão “geracional” de 
direitos, na medida em que se acolhe a ideia da expansão, cumulação e fortalecimento 
dos direitos humanos, todos essencialmente complementares e em constante dinâmica 
de interação.
Vale dizer, sem a efetividade dos direitos econômicos, sociais e
culturais, os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais, enquanto, 
sem a realização dos direitos civis e políticos, ou seja, sem a efetividade da liberdade 
entendida em seu mais amplo sentido, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem
de verdadeira significação.
Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993, que afirma, em seu § 5º, que os 
direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados.
Qual o valor jurídico da Declaração Universal de 1948?
A Declaração Universal não é um tratado.
Foi adotada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas sob a forma de resolução, que, por sua vez, não 
apresenta força de lei
Como acentuou Roosevelt, à época representante da Comissão de Direitos Humanos e 
representante dos Estados Unidos: “Ao aprovar esta Declaração hoje, é de primeira 
importância ter a clareza das características básicas deste documento. Ele não é um 
tratado; ele não é um acordo internacional. Ele não é e não pretende ser um instrumento 
legal ou que contenha obrigação legal. É uma declaração de princípios básicos de direitos
humanos e liberdades, que será selada com aprovação dos povos de todas as Nações” 
(Whiteman, Digest of international law, 623, 1965).
O propósito da Declaração, como proclama seu preâmbulo, é promover o reconhecimento
universal dos direitos humanos e das liberdades fundamentais a que faz menção a Carta 
da ONU, particularmente nos arts. 1º (3) e 55.
a Declaração Universal tem sido concebida como a interpretação autorizada da expressão
“direitos humanos”, constante da Carta das Nações Unidas, apresentando, por esse 
motivo, força jurídica vinculante.
Há, contudo, aqueles que defendem que a Declaração teria força
jurídica vinculante por integrar o direito costumeiro internacional e/ou os princípios gerais 
de direito, apresentando, assim, força jurídica vinculante.
três são as argumentações centrais:
a) a incorporação das previsões da Declaração atinentes aos direitos humanos pelas 
Constituições nacionais;
b) as frequentes referências feitas por resoluções das Nações Unidas à obrigação legal 
de todos os Estados de observar a Declaração Universal; 
c) decisões proferidas pelas Cortes nacionais que se referem à Declaração Universal 
como fonte de direito.
Nessa ótica, por exemplo, a proibição da escravidão, do genocídio, da tortura, de 
qualquer tratamento cruel, desumano ou degradante e de outros dispositivos da 
Declaração consensualmente aceitos
assumem o valor de direito costumeiro internacional ou princípio geral do Direito 
Internacional, aplicando-se a todos os Estados e não apenas aos signatários da 
Declaração.
visão defendida por juristas
reiterada por conferências
internacionais
pela prática dos Estados e inclusive por decisões judiciais
Para esse estudo, a Declaração Universal de 1948, ainda que não
assuma a forma de tratado internacional, apresenta força jurídica obrigatória e vinculante, 
na medida em que constitui a interpretação autorizada da expressão “direitos humanos” 
constante dos arts. 1º (3) e 55 da Carta das Nações Unidas. Ressalte-se que, à luz da 
Carta, os Estados assumem o compromisso de assegurar o respeito universal e efetivo 
aos direitos humanos.
leciona Jorge Miranda: “O que resta saber é se o conteúdo da
Declaração não pode ser desprendido dessa forma e situado noutra perspectiva. Parte da
doutrina contesta tal possibilidade, por não atribuir às cláusulas da Declaração senão o 
valor de recomendação. Outra, pelo contrário, vê nela um texto interpretativo da Carta, 
pelo que participaria da sua natureza e força jurídica. E ainda há aqueles que perscrutam 
nas proposições da Declaração a tradução de princípios gerais de Direito Internacional”
Seu principal significado é consagrar o reconhecimento universal dos direitos humanos 
pelosEstados, consolidando um parâmetro internacional para a proteção desses direitos.
A Declaração ainda exerce impacto nas ordens jurídicas nacionais, na medida em que os 
direitos nela previstos têm sido incorporados por Constituições nacionais e, por vezes, 
servem como fonte para decisões judiciais nacionais
Qual é o real valor da Declaração?
a Declaração é um dos parâmetros fundamentais pelos quais a comunidade internacional 
‘deslegitima’ os Estados. Um Estado que sistematicamente viola a Declaração não é 
merecedor de aprovação por parte da comunidade mundial
Universalismo e relativismo cultural
A concepção universal dos direitos humanos demarcada pela Declaração sofreu e sofre, 
entretanto, fortes resistências dos adeptos do movimento do relativismo cultural.
dilema sobre o alcance das normas de direitos humanos
Para os relativistas, a noção de direito está estritamente relacionada
ao sistema político, econômico, cultural, social e moral vigente em determinada 
sociedade.
acreditam os relativistas, o pluralismo cultural impede a formação de uma moral universal,
tornando-se necessário que se respeitem as diferenças culturais apresentadas por cada 
sociedade
Na ótica relativista há o primado do coletivismo. Isto é, o ponto de
partida é a coletividade, e o indivíduo é percebido como parte integrante da sociedade. 
Como se verá, diversamente, na ótica universalista, há o primado do individualismo
relativismo: sustenta que as regras sobre a moral variam de lugar para lugar; afirma que a
forma de compreensão dessa diversidade é colocar-se no contexto cultural em que ela se 
apresenta; as reivindicações morais derivam de um contexto cultural, que em si mesmo é 
a fonte de
sua validade
buscar uma universalidade, ou até mesmo o princípio de universalidade clamado por 
Kant, como critério para toda moralidade, é uma versão imperialista de tentar fazer com 
que valores de uma determinada cultura sejam gerais.
Note-se que os instrumentos internacionais de direitos humanos são
claramente universalistas
Há diversas correntes relativistas: “No extremo, há o que nós denominamos de relativismo
cultural radical, que concebe a cultura como a única fonte de validade de um direito ou 
regra moral. (...) Um forte relativismo cultural acredita que a cultura é a principal fonte de 
validade de um direito ou regra moral. (...) Um relativismo cultural fraco, por sua vez, 
sustenta que a cultura pode ser uma importante fonte de validade de um direito ou regra 
moral”
Note-se que os instrumentos internacionais de direitos humanos são
claramente universalistas
ainda que a prerrogativa de exercer a própria cultura seja um direito fundamental 
(inclusive previsto na Declaração Universal), nenhuma concessão é feita às 
“peculiaridades culturais” quando houver risco de violação a direitos humanos 
fundamentais
poder-se-ia sustentar a existência de diversos graus de universalismos, a depender do 
alcance do “mínimo ético irredutível”
crítica dos relativistas: O universalismo induz, nessa visão, à destruição da diversidade 
cultural.
crítica dos universalistas: a posição relativista revela o esforço de justificar graves casos 
de violações dos direitos humanos que, com base no sofisticado argumento do relativismo
cultural, ficariam imunes ao controle da comunidade internacional
A Declaração de Viena, adotada em 25 de junho de 1993, buscou
responder a esse debate quando estabeleceu, em seu § 5º: “Todos os direitos humanos 
são universais, indivisíveis, interdependentes e interrelacionados. A comunidade 
internacional deve tratar os direitos humanos globalmente, de maneira justa e equânime, 
com os mesmos parâmetros e com a mesma ênfase. As particularidades nacionais e 
regionais e bases históricas, culturais e religiosas devem ser consideradas, mas é 
obrigação dos Estados, independentemente de seu sistema político, econômico e cultural,
promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais”
Adotando a lição de Jack Donnelly, pode-se concluir que a Declaração de Direitos 
Humanos de Viena de 1993 acolheu a corrente do forte universalismo ou fraco relativismo
cultural. No entendimento do autor: “Eu acredito que nós podemos, justificadamente, 
insistir em alguma forma de um fraco relativismo cultural — que é, por sua vez, um 
razoavelmente forte universalismo. É preciso permitir, em grau limitado, variações 
culturais no modo e na interpretação de direitos humanos, mas é necessário insistir na 
sua universalidade moral e fundamental. Os direitos humanos são, para usar uma 
apropriada frase paradoxal, relativamente universais”
Boaventura de Sousa Santos - concepção multicultural de direitos humanos - decorre do 
diálogo intercultura e o aumento da consciência de incompletudes culturais mútuas
Joaquín Herrera Flores - universalismo de confluência - a universalidade como ponto de 
chegada e não de partida
Bhikhu Parekh - universalismo pluralista - diálogo intercultural - A preocupação não deve 
ser descobrir valores, eis que os mesmos não têm fundamento objetivo, mas sim buscar 
um consenso em torno deles. 
A ESTRUTURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL 
DOS DIREITOS HUMANOS
O processo de universalização dos direitos humanos traz em si a necessidade de 
implementação desses direitos, mediante a criação de uma sistemática internacional de 
monitoramento e controle — a chamada international accountability
À luz desse raciocínio e considerando a ausência de força jurídica
vinculante da Declaração instaurou-se larga discussão sobre qual seria a maneira mais 
eficaz de assegurar o reconhecimento e a observância universal dos direitos nela 
previstos. Prevaleceu, então, o entendimento de que a Declaração deveria ser 
“juridicizada” sob a forma de tratado internacional, que fosse juridicamente obrigatório e 
vinculante no âmbito do Direito Internacional.
processo de “juridicização” da Declaração começou em 1949
e foi concluído apenas em 1966
elaboração de dois tratados internacionais distintos — o Pacto Internacional dos Direitos 
Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
transformaram os dispositivos da Declaração em previsões juridicamente vinculantes e 
obrigatórias
A partir da elaboração desses pactos se forma a Carta Internacional
dos Direitos Humanos, International Bill of Rights, integrada pela Declaração Universal de 
1948 e pelos dois pactos internacionais de 1966.
visão moral da natureza humana, ao compreender os seres humanos como indivíduos 
autônomos e iguais, que merecem igual consideração e respeito
O sistema global, por sua vez, viria a ser ampliado com o advento
de diversos tratados multilaterais de direitos humanos, pertinentes a determinadas e 
específicas violações de direitos
Atente-se que o Direito Internacional dos Direitos Humanos, com
seus inúmeros instrumentos, não pretende substituir o sistema nacional. Ao revés, situa-
se como direito subsidiário e suplementar ao direito nacional, no sentido de permitir sejam
superadas suas omissões e deficiências.
o Estado tem a responsabilidade primária pela proteção desses direitos, ao passo que a 
comunidade internacional tem a responsabilidade subsidiária
Os tratados de proteção dos direitos humanos consagram, ademais, parâmetros 
protetivos mínimos, cabendo ao Estado, em sua ordem doméstica, estar além de tais 
parâmetros, mas jamais aquém deles
Os dois pactos apesar de aprovados em 1966 entraram em vigor apenas dez anos 
depois, em 1976, tendo em vista que somente nessa data alcançaram o número de 
ratificações necessário para tanto.
intenso debate que marcou o processo de elaboração desses pactos 
A questão central, ao longo do processo de elaboração dos pactos,
ateve-se à discussão acerca da conveniência da elaboração de dois pactos diversos
Com efeito, no início de suas atividades (de 1949 a 1951), a Comissão de Direitos 
Humanos da ONU trabalhou em um único projeto de pacto, que conjugava as duas 
categorias de direitos. Contudo, em 1951 a Assembleia

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