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DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1 DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 2 Sumário DIREITO PENAL: DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ................................................................................... 1 1. FURTO (ART. 155, CP) .................................................................................................................................... 5 1.1 Furto Simples (art. 155, caput, CP) .......................................................................................................... 5 1.2 Furto noturno (art. 155, §1º, CP) ........................................................................................................... 11 1.3 Furto Privilegiado (art. 155, §2º, CP) ..................................................................................................... 13 1.4 Cláusula de equiparação ........................................................................................................................ 15 1.5 Furto Qualificado (art. 155, §4º, CP) ..................................................................................................... 17 1.5.1 Furto Qualificado x Princípio da Insignificância .............................................................................. 28 1.6 Furto de Coisa Comum .......................................................................................................................... 30 2. ROUBO (ART. 157, CP) ................................................................................................................................. 34 2.1 Roubo próprio (art. 157, caput, CP) ...................................................................................................... 34 2.2 Roubo impróprio (art. 157, §1º, CP) ...................................................................................................... 39 2.3 Roubo circunstanciado (art. 157, §2º, CP) ............................................................................................. 39 2.4 Roubo circunstanciado (art. 157, §2º-A e §2º-B) .................................................................................. 44 2.5 Roubo qualificado (Art. 157, §3º, CP) .................................................................................................... 47 2.6 Concurso de causas de aumento do §2º e do §2º-A: ............................................................................ 53 3. EXTORSÃO (ART. 158, CP) ............................................................................................................................ 56 3.1. Causas de aumento de pena: ............................................................................................................... 60 3.2 Extorsão qualificada pela lesão corporal grave ou morte ..................................................................... 61 3.3 Extorsão mediante restrição da liberdade da vítima ............................................................................ 61 4. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (ART. 159) ........................................................................................... 64 4.1 Extorsão mediante sequestro qualificada ............................................................................................. 66 4.2 Hediondez do crime de extorsão mediante sequestro: ........................................................................ 68 5. EXTORSÃO INDIRETA (ART. 160).................................................................................................................. 68 6. USURPAÇÃO (ARTS. 161 e 162) ................................................................................................................... 68 7. DANO (ART. 163) ......................................................................................................................................... 69 7.1 Dano Qualificado ................................................................................................................................... 71 7.2 Ação Penal ............................................................................................................................................. 73 8. APROPRIAÇÃO INDÉBITA (ART. 168, CP) ..................................................................................................... 73 8.1 Apropriação Indébita Previdenciária (Art. 168-A) ................................................................................. 76 9. ESTELIONATO (ART. 171, CP) ....................................................................................................................... 84 9.1 Fraude Eletrônica (§2º-A E 2º-B – inseridos Pela Lei 14.155/2021) ..................................................... 91 9.2 Estelionato Previdenciário (§3º) ............................................................................................................ 93 9.3 Causa De Aumento De Pena .................................................................................................................. 97 9.4 Ação Penal No Crime De Estelionato. .................................................................................................... 98 9.5 Competência no Crime de Estelionato (Lei 14.155/2021) .................................................................. 103 9.5.1 Estelionato praticado por meio de cheque falso (art. 171, caput, do CP) ................................... 104 9.5.2 Estelionato praticado por meio de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI) .................................. 105 9.5.3 Estelionato mediante depósito ou transferência de valores ....................................................... 107 10. RECEPTAÇÃO (ART. 180, CP) .................................................................................................................... 113 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 3 10.1 Receptação própria ........................................................................................................................... 114 10.2 Receptação imprópria ....................................................................................................................... 115 10.3 Receptação dolosa qualificada .......................................................................................................... 115 10.4 Receptação culposa ........................................................................................................................... 117 10.5 Receptação de Animal (Art. 180-A) ................................................................................................... 118 11. ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS (Arts. 181/183) ............................................................................................... 118 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 4 DIREITO PENAL: DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA CP ⦁ Art. 155 e 156 (furto) ⦁ Art. 157 (roubo) ⦁ Art. 158 (extorsão) ⦁ Art. 159 (extorsão mediante sequestro) ⦁ Art. 160 (extorsão indireta) ⦁ Arts. 161 a 162 (usurpação) ⦁ Arts. 163 a 167 (dano) ⦁ Arts. 168 a 170 (apropriação indébita e “derivados”) ⦁ Arts. 171 a 179 (estelionato e outras fraudes) ⦁ Art. 180 (receptação) ⦁ Arts. 181 a 183 (escusas absolutórias) ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER! CP ⦁ Art. 155, §§1º, 2º, 4º, 4º-A e 7º ⦁ Art. 157 (tudo) ⦁ Art. 158, §3º ⦁ Art. 159, §4º ⦁ Art. 163, §único e 167 ⦁ Art. 168-A ⦁ Art. 171, §§ 1º, 4º e 5º ⦁ Art. 179, §único ⦁ Art. 180 (tudo) – fazer paralelo com o crime de favorecimento real ⦁ Arts. 181 a 183 (tudo) SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA Súmula 511-STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado,circunstância acarreta uma maior dificuldade na identificação e eventual responsabilização penal dos envolvidos, justificando uma maior reprimenda. Inciso II - aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. ● Idoso: No Brasil, idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos (art. 1º, Lei nº 10.741/03). ● Vulnerável: como não foi dado um conceito específico, deve-se utilizar a definição do art. 217-A, caput e § 1º, do CP. Desse modo, podem ser considerados vulneráveis: · A pessoa menor de 14 anos; · A pessoa que, em razão de enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática de determinados atos; ou 1 (CUNHA, Rogério Sanches. Lei 14.155/21 e os crimes de fraude digital: primeiras impressões e reflexos no CP e no CPP. Disponível em https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2021/05/28/lei-14-15521-e-os-crimes-de-fraude- digital-primeiras-impressoes-e-reflexos-no-cp-e-no-cpp/) DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 27 · A pessoa que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. Art. 155, §5º: se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior Art. 155, CP. (...) § 5o A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Para incidir a qualificadora, o veículo deve ser efetivamente transportado para outro Estado ou para o exterior para incidir (diferente da lei de drogas, que basta a comprovação da intenção). É admissível a simultaneidade das qualificadoras dos §§4º e 5º. Cabe a incidência da qualificadora se o veículo for transportado para o DF? ∘ 1ª Corrente – NÃO! Não se aplica caso seja transportado para o DF, vez que não está incluso no artigo, não sendo cabível analogia in malam partem. ∘ 2ª Corrente – SIM! Não se trata de analogia “in malam partem”, mas de interpretação extensiva, possível em Direito Penal e autorizada, nesse caso, pela própria Constituição Federal, que confere ao Distrito Federal todas as competências reservadas aos Estados (CF, art. 32, § 1.º). Além disso, por uma questão de razoabilidade, o raciocínio não pode ser outro. Como fica a situação em caso de contrato exclusivo de transporte? Ou seja: acordo convencionado apenas para a pessoa transportar o veículo para outro estado ou exterior? ∘ 1ª situação – a pessoa foi contratada antes da subtração e estava ciente da sua prática: responde pelo furto qualificado (art. 155 §4º, IV e 5º) – a qualificadora é objetiva e se estende aos coautores e partícipes. ∘ 2ª situação – a pessoa foi contratada posteriormente à subtração e tinha ciência da origem ilícita do bem: responde por receptação própria (art. 180, caput, 1ª parte) ∘ 3ª situação – a pessoa foi contratada sem ter nenhum conhecimento da prática criminosa: fato atípico. Art. 155, §6º: se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração; Art. 155, CP. (...) § 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. Veja que o artigo não trata de animais domésticos, mas animais domesticáveis ou domesticados DE PRODUÇÃO (como bovinos, ovinos, suínos, caprinos, etc.). Contudo, como não há restrições, também podem ser enquadrados nesse conceito cães, gatos e aves, desde que contenham a finalidade de produção, ou seja, DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 28 que sejam idôneos a gerar algum retorno econômico ao dono, como no caso de quem os cria, visando à procriação para venda de filhotes. Portanto, animais domésticos, por si só, que não sejam voltados à produção, não entrarão nesta qualificadora. Animais selvagens ou abandonados também não. São requisitos da qualificadora: I. Animal domesticável; II. Destinado à reprodução; III. Tem que estar vivo no momento da subtração (ainda eu mate ou divida em partes no local da subtração). Nesta circunstância, o furto é chamado de “abigeato” (que envolve não só gado, como os demais animais domesticáveis de produção), não se confundindo com o “abacto” (que é o roubo de bovinos). Art. 155, §7º: se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Art. 155, CP. (...) § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Aqui, o artefato explosivo é objeto material do delito. É admissível a simultaneidade das qualificadoras dos §§4º e §6º, bem como a majorante do repouso noturno (STF) e o privilégio do §2º (furto híbrido). 1.5.1 Furto Qualificado x Princípio da Insignificância Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo quando presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida e/ou que demonstrem a ausência de interesse social na intervenção do Estado. (STJ). Jurisprudência sobre o tema: Jurisprudências em teses (STJ) ed. 221 – Princípio da insignificância 4) Não se aplica o princípio da insignificância ao crime de furto praticado com corrupção de filho menor, ainda que o bem possua inexpressivo valor pecuniário, pois as características dos fatos revelam elevado grau de reprovabilidade do comportamento. 5) A prática de furto qualificado, em regra, afasta a aplicação do princípio da insignificância, por revelar, a depender do caso, maior periculosidade social da ação e/ou elevado grau de reprovabilidade do comportamento do agente. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 29 6) É possível aplicar o princípio da insignificância ao crime de furto qualificado quando há, no caso concreto, circunstâncias excepcionais que demonstrem a ausência de interesse social na intervenção do Estado. A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. HC 553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665) O furto simples de quatro barras de chocolate, avaliadas em R$26,92, restituída à vítima, traz excepcionalidade que autoriza o reconhecimento da atipicicidade material (insignificância) ao multirreincidente. STJ, AgRg no REsp 1.899.839, Dje 19.05.22 A multirreincidência específica somada ao fato de o acusado estar em prisão domiciliar durante as reiterações criminosas são circunstâncias que inviabilizam a aplicação do princípio da insignificância. (...) No caso, é imputado ao acusado a subtração de 03 (três) desodorantes, cujo valor agregado, segundo a representante da empresa ofendida, é de R$ 38,00 (trinta e oito reais), tendo sido restituídos à vítima. (...) Extrai-se do caso que, além de estar em prisão domiciliar no momento em que praticou o furto, no dia 7/9/2016, o recorrente também já foi condenado em 20/12/2013 por furto praticado em 24/1/2013; em 18/6/2014, por furto e resistência praticados em 26/11/2013; em 28/2/2008, por tentativa de furto e uso de documento falso praticados em 22/5/2007, e, por fim, condenado em 7/12/2007 por tentativa de furto praticada em 22/8/2007. O entendimento, portanto, encontra-se em consonância com a orientação jurisprudencial da Terceira Seção desta Corte, no julgamento do EAREsp 221.999/RS, da relatoria do Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, de que a reiteração criminosa inviabilizaa aplicação do princípio da insignificância, ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem ser a medida socialmente recomendável, o que não se dá no caso. (STJ, Informativo n. 746) Lembrando que todas as qualificadoras do furto são objetivas e, por conseguinte, comunicáveis, com exceção do abuso de confiança. ESQUEMATIZANDO: DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 30 FURTO SIMPLES (caput) 1 a 4 anos e multa. FURTO NOTURNO (§1º) Aumento de 1/3 FURTO PRIVILEGIADO (§2º) (pequeno valor + primariedade do agente) a Substituir reclusão por detenção; b Diminuir de 1/3 a 2/3; c Apenas pena de multa. FURTO QUALIFICADO (§4º) 2 a 8 anos e multa. Se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. FURTO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE EXPLOSIVO OU DE ARTEFATO ANÁLOGO QUE CAUSE PERIGO COMUM (§4º-A) 4 a 10 anos e multa FURTO MEDIANTE FRAUDE COMETIDO POR MEIO DE DISPOSITIVO ELETRÔNICO OU INFORMÁTICO (§4º-B) 4 a 8 anos e multa CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (§4º-C): Critério – relevância do resultado gravoso ⮚ 1/3 a 2/3 – se o crime é praticado mediante utilização de servidor mantido fora do território nacional; ⮚ 1/3 ao dobro: se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. FURTO QUALIFICADO PELA TRANSPOSIÇÃO DE FRONTEIRAS (§5º) 3 a 8 anos (não foi prevista pena de multa). FURTO DE SEMOVENTE DOMESTICÁVEL (§6º) 2 a 5 anos (não foi prevista pena de multa). FURTO (QUALIFICADO) DE SUBSTÂNCIAS EXPLOSIVAS OU DE ACESSÓRIOS (§7º) 4 a 10 anos de reclusão e multa 1.6 Furto de Coisa Comum Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Somente se procede mediante REPRESENTAÇÃO. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 31 § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. O delito de furto de coisa comum em muito se assemelha com o furto do art. 155 do Código Penal, altera-se, porém o sujeito ATIVO e PASSIVO direito e o objeto material. Nessa esteira, melhor definindo a compreensão do delito de furto de coisa comum, ensina o autor Cleber Masson: O crime de furto de coisa comum é uma modalidade específica de furto. A conduta criminosa, assim como no delito tipificado pelo art. 155 do Código Penal, atinge uma coisa móvel. Falta-lhe, contudo, a qualidade de “alheia”, isto é, ser pertencente a outrem. De fato, a lei fala em coisa comum: o comportamento ilícito recai sobre coisa que não é completamente alheia, mas pertencente a mais de uma pessoa, aí se incluindo o responsável pela subtração. A coisa é comum por ser inerente a uma relação de condomínio, herança ou sociedade. De fato, é o condômino, o coerdeiro ou o sócio quem pode praticar o delito. E caso um dos condôminos, coerdeiros ou sócios subtraiam para si ou para outrem a coisa comum, incidem no 155? R.: Não. O crime é de furto de coisa comum, art. 156 do CP. Sujeito ativo: crime bipróprio ∘ Proprietário ∘ Possuidor ∘ Detentor da coisa alheia móvel ∘ Sócio ∘ Coerdeiro ∘ Condômino Considerações importantes: ● Crime de menor potencial ofensivo. ● Somente se procede mediante representação. ● Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. JULGADOS IMPORTANTES: Furto de “cofrinho” contendo R$ 4,80 de uma instituição de combate ao câncer, mediante induzimento de filho de 9 anos Não se aplica o princípio da insignificância ao furto de bem de inexpressivo valor pecuniário de associação sem fins lucrativos com o induzimento de filho menor a https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2f4ccb0f7a84f335affb418aee08a6df?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 32 participar do ato. STJ. 6ª Turma. RHC 93472-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/03/2018 (Info 622). Art. 102 do Estatuto do Idoso Se o funcionário do banco recebe o cartão e a senha da idosa para auxiliá-la a sacar um dinheiro do caixa eletrônico e, aproveitando a oportunidade, transfere quantias para a sua conta pessoal, tal conduta configura o crime previsto no art. 102 do Estatuto do Idoso. STJ. 6ª Turma. REsp 1358865-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/9/2014 (Info 547). Subtrair objeto do interior do automóvel mediante quebra do vidro: furto qualificado. A conduta de violar o automóvel, mediante a destruição do vidro para que seja subtraído bem que se encontre em seu interior — no caso, um aparelho de som automotivo — configura o tipo penal de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo à subtração da coisa, previsto no art. 155, § 4º, inciso I, do CP. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1364606-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 22/10/2013 (Info 532). STJ. 3ª Seção. EREsp 1079847/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 22/05/2013. Furto e imunidade patrimonial A coabitação, de que trata o art. 182, III do CP, significa residência conjunta quando da prática do crime, o que não se confunde com a mera hospedagem, a qual tem caráter temporário. STJ. 6ª Turma. REsp 1065086-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/2/2012. JURISPRUDÊNCIAS EM TESES DO STJ Jurisprudência em Teses do STJ EDIÇÃO N. 47: CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO - FURTO 1) Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. (Recurso Repetitivo - Tema 934) 2) Não há continuidade delitiva entre roubo e furto, porquanto, ainda que possam ser considerados delitos do mesmo gênero, não são da mesma espécie. 3) O rompimento ou destruição do vidro do automóvel com a finalidade de subtrair objetos localizados em seu interior qualifica o furto. 4) Todos os instrumentos utilizados como dispositivo para abrir fechadura são abrangidos pelo conceito de chave falsa, incluindo as mixas. https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/242c100dc94f871b6d7215b868a875f8?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/da11e8cd1811acb79ccf0fd62cd58f86?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/018b59ce1fd616d874afad0f44ba338d?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 33 5) É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. (Súmula n. 511/STJ) (Recurso Repetitivo - Tema 561) 6) A prática do delito de furto qualificado por escalada, destreza, rompimento de obstáculo ou concurso de agentes indica a reprovabilidade do comportamento do réu, sendo inaplicável o princípio da insignificância. 7) O princípio da insignificância deve ser afastado nos casos em que o réu faz do crime o seu meio de vida, ainda que a coisa furtada seja de pequeno valor. Obs.: Essa tese representa a regra geral, o que não impede que, excepcionalmente, a jurisprudência reconheça o princípio para réus reincidentes ou portadores de maus antecedentes. 8) Para reconhecimento do crime de furto privilegiado é indiferente que o bem furtado tenha sido restituído à vítima, poiso critério legal para o reconhecimento do privilégio é somente o pequeno valor da coisa subtraída. 9) Para efeito da aplicação do princípio da bagatela, é imprescindível a distinção entre valor insignificante e pequeno valor, uma vez que o primeiro exclui o crime e o segundo pode caracterizar o furto privilegiado. 10) É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo. (Súmula n. 442/STJ) 11) Para a caracterização do furto privilegiado, além da primariedade do réu, o valor do bem subtraído não deve exceder à importância correspondente ao salário mínimo vigente à época dos fatos. 12) O reconhecimento das qualificadoras da escalada e rompimento de obstáculo - previstas no art. 155, § 4º, I e II, do CP - exige a realização do exame pericial, salvo nas hipóteses de inexistência ou desaparecimento de vestígios, ou ainda se as circunstâncias do crime não permitirem a confecção do laudo. 13) Reconhecido o privilégio no crime de furto, a fixação de um dos benefícios do § 2º do art. 155 do CP exige expressa fundamentação por parte do magistrado. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 34 14) A lesão jurídica resultante do crime de furto não pode ser considerada insignificante quando o valor dos bens subtraídos perfaz mais de 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos. 15) Nos casos de continuidade delitiva o valor a ser considerado para fins de concessão do privilégio (artigo 155, § 2º, do CP) ou do reconhecimento da insignificância é a soma dos bens subtraídos. ATENÇÃO: O STJ tem decidido que, em regra, não se aplica o princípio da insignificância em caso de continuidade delitiva: A prática de crimes de furto em continuidade delitiva evidencia o maior grau de reprovabilidade da conduta do agente, não admitindo a aplicação do princípio da insignificância. Assim, o princípio da insignificância não tem aplicabilidade em casos de reiteração da conduta delitiva, salvo excepcionalmente, quando as instâncias ordinárias entenderem ser tal medida recomendável diante das circunstâncias concretas (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 396.667/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 06/12/2018). 2. ROUBO (ART. 157, CP) Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. 2.1 Roubo próprio (art. 157, caput, CP) Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa (violência própria), ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência (violência imprópria). Violência própria – é a imposição de força sobre o corpo da vítima, independentemente de produzir qualquer dano físico. Violência imprópria – qualquer outra forma que reduz a capacidade de resistência da vítima. Ex.: sonífero, embriaguez, etc. Cuidado! Se a incapacidade for provocada pela própria vítima ou por pessoa alheia à ação criminosa, não haverá crime de roubo, mas sim crime de furto! DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 35 Obs.: O uso de arma de brinquedo, com defeito ou desmuniciada caracteriza o crime de roubo pela grave ameaça. A polêmica diz respeito ao §2º, I, sobre a causa de aumento de pena (veremos adiante). a) Objeto jurídico: é crime complexo (podendo até ser ultracomplexo), além de ser crime pluriofensivo. ● Patrimônio; ● Integridade corporal, quando praticado com o emprego de violência; ● Liberdade individual, quando praticado com grave ameaça. No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, no modus operandi (modo de execução), seja utilizada violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa para a obtenção do resultado pretendido. Ex.: Maria estava saindo do banco, acompanhada de seu segurança. João, de arma em punho, deu uma coronhada no segurança, causando lesão leve, e subtraiu a mala que pertencia a Maria. O agente praticou um único roubo majorado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º, I do CP), considerando que somente um patrimônio foi atingido. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1490894-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/2/2015 (Info 556). O sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, subtrai apenas os bens que estavam na posse do cobrador de ônibus: R$ 30,00 e um aparelho celular, pertencentes ao funcionário, e R$ 70,00 que eram da empresa de transporte coletivo. Quantos crimes ele terá praticado? Um único crime (art. 157, § 2º, I, do CP). Em caso de roubo praticado no interior de ônibus, o fato de a conduta ter ocasionado violação de patrimônios distintos (o da empresa de transporte coletivo e o do cobrador) não descaracteriza a ocorrência de crime único se todos os bens subtraídos estavam na posse do cobrador. 5ª Turma. AgRg no REsp 1396144-DF, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme (Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em 23/10/2014 (Info 551). Agora, imagine a seguinte situação: o sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, subtrai os pertences de oito passageiros. Quantos crimes ele terá praticado? O agente irá responder por oito roubos majorados (art. 157, § 2º, I, do CP) em concurso formal (art. 70). Atenção: não se trata, portanto, de crime único. Confira: (...) É entendimento desta Corte Superior que o roubo perpetrado contra diversas vítimas, ainda que ocorra num único evento, configura o concurso formal e não o crime único, ante a pluralidade de bens jurídicos tutelados ofendidos. (...) (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 389.861/MG , Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/06/2014) Nesse caso, o concurso formal é próprio ou impróprio? Segundo a jurisprudência majoritária, consiste em concurso formal PRÓPRIO. Veja: (...) Praticado o crime de DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 36 roubo mediante uma só ação contra vítimas distintas, no mesmo contexto fático, resta configurado o concurso formal próprio, e não a hipótese de crime único, visto que violados patrimônios distintos. STJ. 5ª Turma. HC 455.975/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 02/08/2018 Caiu na prova Delegado - PCPB/2022! (CESPE/CEBRASPE) O roubo perpetrado contra diversas vítimas em um único evento, estando comprovados os desígnios autônomos do autor do fato, configura concurso formal impróprio. (item correto) → Concurso Imperfeito ou impróprio, é a modalidade de concurso formal que se verifica quando a conduta dolosa do agente e os crimes concorrentes derivam de desígnios autônomos (o propósito de produzir, com uma única conduta, mais de um crime). (MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 7ª ed. São Paulo: Método, 2019. p. 426-427). ATENÇÃO!!! Perceba que no comando da questão está comprovado desígnios autônomos. Apesar de existir jurisprudência no sentido de ser concurso formal próprio, é preciso ter atenção para ver o que a questão pede. Se não mencionar especificamente que existem desígnios autônomos, sugerimos adotar a posição do STJ mencionada no julgado acima. O roubo em transporte coletivo vazio é circunstância concreta que não justifica a elevação da pena-base. STJ, julgado em 15/02/2022 (info 727) Caiu na Prova Delegado ES/2022! (CESPE/CEBRASPE) A respeito dos crimes contra o patrimônio, assinale a opção correta: O roubo em transporte coletivo vazio é circunstância concreta que não justifica a elevação da pena-base (Item correto) b) Objeto material ● Coisa alheiamóvel; e ● Pessoa atingida pela violência ou pela grave ameaça. ● + integridade física, no caso de lesão grave; ● + vida, no caso de latrocínio. c) Núcleo do tipo: “subtrair” (inverter a posse do bem). Embora o núcleo do tipo seja idêntico ao furto, o roubo se reveste de maior gravidade em razão dos seus meios de execução, capazes de facilitar a prática do crime, sem prejuízo de causar maiores danos à vítima e à coletividade. Inclusive, justamente pelo emprego da violência ou grave ameaça, é que a jurisprudência é pacífica no sentido de não aplicar o princípio da insignificância ao crime de roubo, ainda que a coisa móvel tenha valor ínfimo, insignificante. (STF HC 96.671 e STJ HC 117.436). DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 37 d) Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa, exceto pelo proprietário do bem (a coisa deve ser alheia). e) Sujeito passivo: o proprietário ou o possuidor legítimo do bem subtraído, bem como qualquer outra pessoa atingida pela violência ou grave ameaça. f) Elemento subjetivo: dolo genérico + dolo específico ● Intenção de assenhoramento (“animus rem sibi habendi”). ● O sujeito ativo age com o propósito de ter a “res furtiva”, integrando-a ao patrimônio próprio ou de outrem. g) Consumação: Súmula 582, STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata do agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. ● Aqui se aplicam as mesmas considerações feitas no furto. ● Lembrando que os Tribunais Superiores adotam a Teoria da “Amotio”, segundo a qual o crime se consuma com a inversão da posse da coisa subtraída, independentemente da posse pacífica e desvigiada. CESPE/CEBRASPE – 2018 – Delegado de Polícia Federal: Severino, maior e capaz, subtraiu, mediante o emprego de arma de fogo, elevada quantia de dinheiro de uma senhora, quando ela saía de uma agência bancária. Um policial que presenciou o ocorrido deu voz de prisão a Severino, que, embora tenha tentado fugir, foi preso pelo policial após breve perseguição. Nessa situação, Severino responderá por tentativa de roubo, pois não teve a posse mansa e pacífica do valor roubado. Item errado. Tentativa: é cabível quando o agente emprega violência à pessoa ou grave ameaça mas, por circunstâncias alheias à sua vontade, não consegue se apoderar do bem. CESPE/CEBRASPE – 2013 – Delegado de Polícia Federal: Três criminosos interceptaram um carro forte e dominaram os seguranças, reduzindo-lhes por completo qualquer possibilidade de resistência, mediante grave ameaça e emprego de armamento de elevado calibre. O grupo, entretanto, encontrou vazio o cofre do veículo, pois, por erro de estratégia, efetuara a abordagem depois que os valores e documentos já haviam sido deixados na agência bancária. Por fim, os criminosos acabaram fugindo sem nada subtrair. Nessa situação, ante a inexistência de valores no veículo e ante a ausência de subtração de bens, elementos constitutivos dos delitos patrimoniais, ficou DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 38 descaracterizado o delito de roubo, subsistindo apenas o crime de constrangimento ilegal qualificado pelo concurso de pessoas e emprego de armas. Item errado. Comentários: Conforme narrado na assertiva, o objetivo dos criminosos era o de subtrair os valores que estariam no carro forte. Entretanto, os valores não foram subtraídos pelos agentes por motivos alheios a sua vontade, ocorrendo, portanto, o delito de roubo com causa de aumento de pena na modalidade tentada (art. 157, §2º, I, II, III, c/c o art. 14, II, ambos do Código Penal). A ausência dos valores não configura a impropriedade absoluta do objeto, mas sim relativa, de modo a não caracterizar a ocorrência de crime impossível, persistindo, portanto, o roubo na modalidade tentada. Roubo de uso: Ao contrário do furto de uso, que não é crime, o roubo de uso é considerado crime pela doutrina majoritária, em razão da violência ou grave ameaça (STJ, REsp 1323275-GO, julgado em 24/4/2014). Há quem entenda (Cláudia Barros e Rogério Grecco, por exemplo) que seria constrangimento ilegal, mas não é o que prevalece. Caiu na prova Delegado/PE 2024! (CESPE/CEBRASPE) De acordo com o entendimento jurisprudencial do STJ, o agente que, mediante violência ou grave ameaça pelo uso de arma fogo, subtrai coisa alheia móvel para usá-la, sem intenção de tê-la como própria, ou seja, sem o ânimo de apossamento definitivo, configura roubo consumado. (item correto) ATENÇÃO! Configura o crime de roubo (e não estelionato) a conduta do funcionário de uma empresa que combina com outro indivíduo para que este simule que assalta o empregado com uma arma de fogo e, dessa forma, leve o dinheiro da empresa. Julgado: João trabalhava em uma empresa, sendo responsável por receber pagamentos em dinheiro e levá-los para depósito no banco. João combinou com Pedro um plano criminoso. No dia do pagamento, Pedro entraria na empresa e, supostamente ameaçaria João (seu comparsa oculto), que a ele entregaria o dinheiro. Depois, os dois dividiriam a quantia subtraída. Assim, no dia dos fatos, Pedro, já sabendo que havia entrado uma grande soma em dinheiro, chegou na empresa e, simulando portar arma de fogo, exigiu que João e Ricardo (outro funcionário da empresa que não sabia do plano) entregassem o dinheiro, o que foi feito. Posteriormente, a polícia conseguiu prender Pedro, que confessou todo o plano criminoso. João e Pedro praticaram roubo majorado, e não estelionato. STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980). DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 39 2.2 Roubo impróprio (art. 157, §1º, CP) Ocorre quando, depois de subtrair a coisa, o agente emprega violência ou grave ameaça contra pessoa, com o objetivo de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Há um prévio apoderamento da coisa. Em suma, os requisitos são: 1 Subtração anterior ao constrangimento (a subtração, em si, é feita sem violência ou grave ameaça); 2 Relação de imediatidade entre a subtração e o constrangimento; 3 Violência ou grave ameaça como meios executórios (não admite outro meio); 4 Intenção especial de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa. Observações importantes: ∘ Violência imprópria não se confunde com roubo impróprio. ∘ Roubo impróprio só é admitido com violência própria. ● Consumação §1º: no momento em que o agente emprega violência à pessoa ou grave ameaça, com a finalidade de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro, ainda que este fim não venha a ser alcançado. Antes de empregar violência ou grave ameaça, o crime será de furto. ● Tentativa §1º: segundo o STJ (REsp 1.025.162) não cabe tentativa, pois trata-se de crime unissubsistente. Mas parte da doutrina admite (Nucci). ROUBO PRÓPRIO ROUBO IMPRÓPRIO Utiliza a violência/grave ameaça antes ou durante a subtração, objetivando alcançar a subtração do bem. Utiliza a violência/grave ameaça após a subtração, objetivando assegurar a impunidade do crime ou detenção da coisa. Admite a violência imprópria (redução da capacidade de resistência da vítima) Não admite a violência imprópria, somente a violência própria. 2.3 Roubo circunstanciado (art. 157, §2º, CP) Art. 157, CP. (....) § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018) I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018) II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtraçãofor de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art1 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 40 V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Trata-se das causas de aumento de pena ou majorantes. São aplicáveis ao roubo próprio (“caput”) e ao impróprio (§1°), contudo, conforme a doutrina majoritária, ao contrário do que se entende para o furto, não são aplicáveis às figuras qualificadas do §3º. Perceba que o furto tem uma única majorante (furto noturno) e o restante apenas qualificadoras. Já no roubo, são 2 qualificadoras (lesão grave e morte) e todas as demais são majorantes. Hipóteses: ● CONCURSO DE PESSOAS: Aqui, valem as mesmas considerações feitas para o furto. Para o STF, a aplicação em concurso material desta majorante com o crime de associação criminosa não é “bis in idem”, pois protegem bens jurídicos distintos e são delitos autônomos. A causa de aumento de pena é aplicável ainda que um dos envolvidos seja inimputável (pela menoridade ou qualquer outra causa) ou desconhecido (STF, HC 110.425/ES). ● SERVIÇO DE TRANSPORTE DE VALORES: Indispensável que a vítima esteja transportando valores a serviço de alguém. Se estiver transportando seus valores por si mesmo, não se aplica. O agente também deve ter ciência desta situação. “Valores” não é só dinheiro em espécie. O STJ já reconheceu em caso de transporte de grande quantidade de produtos cosméticos, por exemplo (STJ, REsp 1309966-RJ). No crime de furto contra empresa de segurança e transporte de valores, o prejuízo está inserido no risco do negócio e não autoriza a exasperação da pena basilar, porquanto ínsito ao tipo penal.STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.322.175- MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 30/5/2023 (Info 777). ● SUBTRAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR QUE VENHA A SER LEVADO PARA OUTRO ESTADO OU PARA EXTERIOR: No furto, essa é circunstância é uma qualificadora. A aplicação desta causa de aumento da pena reclama dois requisitos cumulativos: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 41 1. O objeto material da subtração deve ser veículo automotor; 2. Depende da efetiva transposição da fronteira do Estado ou da Nação. Para a doutrina majoritária: se capturado antes de ingressar com o veículo em outro território, ainda que haja a intenção de transportar, não será roubo majorado. ● RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA: No que tange ao verbo “manter”, entende-se que essa restrição da liberdade deve durar por tempo juridicamente relevante. O ladrão deve permanecer com a vítima por tempo superior ao necessário para execução do roubo, seja para assegurar o objeto do roubo, seja para escapar da ação policial. Logo, se o agente fica com a vítima somente pelo tempo necessário para prática do roubo, não incide o aumento (pois todo constrangimento causa uma supressão da liberdade de locomoção). Portanto, deve haver uma relação entre o roubo e a restrição da liberdade – como instrumento para assegurar o êxito do crime (Ex.: agente rouba um estabelecimento comercial, prende quem estava presente em uma sala e vai embora). Se a privação de liberdade é desnecessária ou dura mais que o necessário para a subtração, poderá haver concurso formal impróprio entre roubo e sequestro (agente rouba carro, prende o dono no porta- malas e sai durante o dia todo para efetuar outros roubos com ele lá – o que era desnecessário para que o primeiro roubo se consumasse). ROUBO Art. 157 §2º V ROUBO C/C SEQUESTRO Art. 157 c/c Art. 148 No roubo a privação ocorre por tempo suficiente para garantir a ação do agente. É uma privação necessária. A privação ocorre por tempo desnecessário para a ação do agente. Ex.: Coloca uma arma na cabeça, rouba o carro coloca a pessoa no porta-malas, chega numa rodovia, larga a pessoa em uma estrada e foge com o carro. Ex.: Rouba a vítima, coloca uma pessoa no porta- malas e pratica-se inúmeros roubos. Cesar Roberto Bitencourt: Quando o “sequestro” for praticado concomitantemente com o roubo de veículo automotor, ou pelo menos como meio de execução do roubo ou como garantia contra a ação policial, estará configurada a majorante. Cesar Roberto Bitencourt: Quando o “sequestro” for praticado depois da consumação do roubo de veículo automotor, sem nenhuma conexão com sua execução ou garantia da fuga, não se estará diante da majorante especial, pois haverá concurso de dois crimes. ● SE A SUBTRAÇÃO FOR DE SUBSTÂNCIAS EXPLOSIVAS OU DE ACESSÓRIOS QUE, CONJUNTA OU ISOLADAMENTE, POSSIBILITEM SUA FABRICAÇÃO, MONTAGEM OU EMPREGO: Aqui, a substância explosiva é OBJETO MATERIAL do crime de roubo. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 42 O agente, mediante violência ou grave ameaça, subtrai substância explosiva ou acessório que, conjunta ou isoladamente, possibilite a sua fabricação, montagem ou emprego. Ex.: sujeito que, mediante violência ou grave ameaça, subtrai uma banana de dinamite. ● EMPREGO DE ARMA BRANCA: A introdução do inciso VII, pela Lei nº 13.964/19, tem como escopo corrigir os erros realizados após a reforma da Lei 13.654/18 que aboliu o aumento de pena referente a qualquer arma (existente na redação original do CP) e passou a prever uma majoração (mais grave) apenas para o emprego de arma de fogo no §2º-A. Para entendermos especificamente as mudanças realizadas devemos inicialmente tratar sobre as alterações realizadas pela 13.654/18. Essa legislação alterou o §2º, I, CP, justamente a hipótese em que a pena do roubo era majorada de 1/3 a ½, se o delito fosse praticado mediante o emprego de arma. Dessa forma, após a legislação, a redação do dispositivo foi realizada da seguinte forma: Art. 157 (...) § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Repare de novo no inciso I acima. O roubo com emprego de arma de fogo deixou de ser previsto no inciso I do § 2º, mas continua a ser punido agora no inciso I do § 2º-A. Desse modo, quanto à arma de fogo não houve abolitio criminis, mas sim continuidade normativo- típica. O referido princípio se aplica “quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário” (Min. Gilson Dipp, em voto proferido no HC 204.416/SP). Desse modo, para as pessoas que foram condenadas por roubo com emprego de arma de fogo antes da Lei nº 13.654/2018, nada muda, já que a referida norma penal, naquilo que diz respeito a arma de fogo, é lei penal maléfica,a qual não possui o condão de retroagir para atingir situações anteriores a sua vigência. A problemática fica justamente naquilo que diz respeito a “novatio legis in mellius” para roubo com emprego de arma que não seja de fogo, pois como vimos, o roubo “com emprego de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no art. 157, § 2º. Agora, o roubo com emprego de arma de fogo passou a ser tratado no artigo 157, § 2º-A, inciso I: Art. 157, CP. (...) § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 43 Ocorre que o roubo com o emprego de arma “branca” não era mais punido como roubo circunstanciado. Tratava-se, em princípio, de roubo simples (art. 157, caput). Foi justamente no sentido de corrigir essa discrepância que o legislador previu nova causa de aumento de pena quando o roubo for praticado com o emprego de arma branca, vejamos: Art. 157, CP. (...) § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018) VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) No período de aplicação da Lei nº 13.654/18, o emprego de arma branca não pode ser utilizado como causa de aumento de pena, mas nada impede que o magistrado considere isso como circunstância judicial negativa (art. 59, CP), na primeira fase da dosimetria da pena. Foi o que decidiu o STJ: Nos casos em que se aplica a Lei nº 13.654/2018, é possível a valoração do emprego de arma branca, no crime de roubo, como circunstância judicial desabonadora A Lei nº 13.654/2018 entrou em vigor no dia 24/04/2018. Antes dessa Lei, o emprego de arma branca era considerado causa e aumento de pena no roubo. Essa Lei, contudo, deixou de prever a arma branca como majorante. Suponhamos que, no dia 25/04/2018, João, usando um canivete, ameaçou a vítima, subtraindo dela o telefone celular. O juiz, ao condenar o réu, não poderá, na 3ª fase da dosimetria da pena, utilizar a “arma branca” como causa de aumento de pena. Diante disso, nada impede que o magistrado utilize esse fato (emprego de arma branca) como uma circunstância judicial negativa, aumentando a pena-base na 1ª fase da dosimetria da pena. Assim, no período de aplicação da Lei nº 13.654/2018, o juiz está proibido de utilizar essa circunstância (emprego de arma branca) como causa de aumento de pena, mas nada impede que considere isso como circunstância judicial negativa, na fase do art. 59 do CP. STJ. 5ª Turma. HC 556629- RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/03/2020 (Info 668). ROUBO MEDIANTE EMPREGO DE ARMA BRANCA Antes da Lei 13.654/2018 Depois da Lei 13.654/2018 ATUALMENTE Tanto a arma de fogo como a arma branca eram causas de aumento de pena. Apenas o emprego de arma de fogo é causa de aumento de pena. O emprego de arma branca não é causa de aumento de pena. Podia ser usada como circunstância judicial Arma branca: + 1/3 a 1/2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/456048afb7253926e1fbb7486e699180?categoria=11&subcategoria=106&assunto=262 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/456048afb7253926e1fbb7486e699180?categoria=11&subcategoria=106&assunto=262 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/456048afb7253926e1fbb7486e699180?categoria=11&subcategoria=106&assunto=262 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 44 desabonadora (Info 668, STJ) 2.4 Roubo circunstanciado (art. 157, §2º-A e §2º-B) ● SE HÁ EMPREGO DE ARMA DE FOGO (DE USO PERMITIDO OU DE USO RESTRITO/PROIBIDO: Art. 157, CP. (...) § 2º-A. A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO; II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU PROIBIDO, aplica-se em DOBRO a pena prevista no caput deste artigo. As causas de aumento previstas nos parágrafos 2º-A e 2º-B foram introduzidas pela Lei 13. 654/18. Antes da alteração legislativa, o emprego da arma de fogo estava inserido no atualmente revogado inciso I do §2º do art. 157, que não especificava a natureza da arma. Assim, independente da categoria, se arma própria (onde estava incluída a arma de fogo) ou se arma imprópria (qualquer instrumento utilizado no constrangimento, desde que dotado de potencialidade lesiva), qualquer arma servia para aumentar a pena do delito, pois se encontrava no conceito genérico de “arma”. No entanto, a nova causa de aumento deixou de falar genericamente em emprego de arma e passou a usar o termo específico “arma de fogo”. Nesse sentido, podemos chegar às seguintes conclusões: ∘ Apenas a arma de fogo se presta à majoração da pena prevista nos parágrafos 2º-A e 2º-B (arma de uso restrito ou proibido). ∘ Em relação à arma de fogo, ocorreu o princípio da continuidade normativo-típica. ∘ A majorante acerca da arma de fogo passou a prever um aumento maior, sendo considerada, portanto, lei penal mais gravosa, que só se aplica aos fatos praticados após a sua vigência. Vamos esquematizar as mudanças envolvendo arma para facilitar? ROUBO MEDIANTE EMPREGO DE ARMA ANTES DA LEI 13.654/2018 DEPOIS DA LEI 13.654/2018 ATÉ A LEI 13.964/2019 DEPOIS DA LEI 13.964/2019 (ATUALMENTE) Tanto a arma de fogo como a arma branca eram causas de aumento de pena. Apenas o emprego de arma de fogo é causa de aumento de pena. Tanto a arma de fogo como a arma branca são causas de aumento de pena. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 45 O emprego de arma branca não é causa de aumento de pena (fica capitulado no roubo simples). Tal circunstância poderá ser considerada contudo, como circunstância judicial desfavorável (art. 59, CP). O emprego de arma branca é punido com aumento de 1/3 até 1/2 (metade). O emprego de arma (seja de fogo, seja branca) era punido com aumento de 1/3 a 1/2 da pena. O emprego de arma de fogo é punido com aumento de 2/3 da pena. O emprego de arma de fogo é punido com aumento de 2/3 da pena (P. da Continuidade Normativo-Típica). Ao emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica a pena em dobro. ● SE HÁ DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO MEDIANTE O EMPREGO DE EXPLOSIVO OU DE ARTEFATO ANÁLOGO QUE CAUSE PERIGO COMUM: Art. 157, CP. (...) § 2º-A. A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (...) II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. É difícil imaginar que quem vai utilizar substância explosiva não vai estar também armado. Assim, este inciso seria desnecessário, na visão da doutrina. Então, via de regra a pena já será majorada neste patamar pela arma e a questão da utilização de explosivos será considerada como agravante do 61, II, d, do CP. Caso a pessoa não esteja armada, portando somente os artefatos explosivos, é imprescindível que do seu emprego cause perigo comum, absorvendo o crime de incêndio pelo princípio da consunção. ATENÇÃO: Lembre-se que, com o advento do Pacote Anticrime, o crime de roubo mediante a restrição da liberdade da vítima e mediante o uso de arma de fogo, seja de uso permitido, restrito ou proibido, passaram a ser considerados crimes hediondos! Jurisprudência pertinente sobre o uso da arma: A utilização de simulacro de armaconfigura a elementar grave ameaça do tipo penal do roubo, subsumindo à hipótese legal que veda a substituição da pena. A controvérsia consiste em definir se configurado o delito de roubo, cometido DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 46 mediante emprego de simulacro de arma, é possível substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direito, nos termos do art. 44, I, do Código Penal. Segundo a doutrina, "grave ameaça consiste na intimidação, isto é, coação psicológica, na promessa, direta ou indireta, implícita ou explícita, de castigo ou de malefício. A sua análise foge da esfera física para atuar no plano da atividade mental. Por isso mesmo sua conceituação é complexa, porque atuam fatores diversos como a fragilidade da vítima, o momento (dia ou noite), o local (ermo, escuro etc.) e a própria aparência do agente". A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça não se mostra diferente, existindo diversos julgados no mesmo sentido, afirmando que a utilização do simulacro configura grave ameaça e que "exercida mediante simulação de porte de arma é circunstância que está englobada pela elementar do tipo e não extrapola a reprovabilidade já ínsita ao delito de roubo" (AgRg no HC n. 687.887/SP). Portanto, a utilização do simulacro de arma de fogo para prática do crime de roubo, configura, sim, grave ameaça nos termos do art. 157 do Código Penal, subsumindo-se ao disposto no art. 44, I, do Código Penal, impedindo a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos STJ. REsp. 1.994.182-RJ, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por maioria, julgado em 13/12/2023 (Tema 1171). (Info 799) Roubo circunstanciado pelo emprego de arma e desnecessidade de perícia: É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que incida a majorante do art. 157, § 2º-A, I, do Código Penal? NÃO. O reconhecimento da referida causa de aumento prescinde (dispensa) da apreensão e da realização de perícia na arma, desde que o seu uso no roubo seja provado por outros meios de prova, tais como a palavra da vítima ou mesmo de testemunhas. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1076476/RO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 04/10/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 449102/MS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 09/10/2018. Se, após o roubo, foi constatado que a arma estava desmuniciada no momento do crime, incide mesmo assim a majorante? Divergência STJ X STF! STJ: NÃO. O emprego de arma de fogo desmuniciada tem o condão de configurar a grave ameaça e tipificar o crime de roubo, no entanto NÃO É suficiente para caracterizar a majorante do emprego de arma, pela ausência de potencialidade lesiva no momento da prática do crime (STJ. 5ª Turma. HC 449.697/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 21/06/2018; STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1536939/SC , Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/10/2015). STF: SIM. É irrelevante o fato de estar ou não municiada para que se configure a majorante do roubo (STF. 2ª Turma. RHC 115077 , Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 06/08/2013). DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 47 Se a arma é apreendida e periciada, sendo constatada a sua inaptidão, não se aplica a majorante do art. 157, § 2º-A, I, do CP Se a arma é apreendida e periciada, sendo constatada a sua inaptidão para a produção de disparos, neste caso, não se aplica a majorante do art. 157, § 2º-A, I, do CP, sendo considerado roubo simples (art. 157, caput, do CP). O legislador, ao prever a majorante descrita no referido dispositivo, buscou punir com maior rigor o indivíduo que empregou artefato apto a lesar a integridade física do ofendido, representando perigo real, o que não ocorre na hipótese de instrumento notadamente sem potencialidade lesiva. Assim, a utilização de arma de fogo que não tenha potencial lesivo afasta a mencionada majorante, mas não a grave ameaça, que constitui elemento do tipo “roubo” na sua forma simples. STJ. 6ª Turma. HC 247669-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/12/2012. Fonte: Dizer o direito. CONCURSO DE CAUSAS DE AUMENTO: No caso de concurso de mais de uma das majorantes acima estudadas, surge a controvérsia se sua presença já justifica aumento da pena, na terceira fase da dosimetria, acima da fração mínima, ou se é necessária fundamentação específica pelo juiz para adoção de fração diversa da menor prevista na norma, caso a majorante esteja prevista no parágrafo segundo do artigo 157. O STJ já possui posição firmada, nos termos da súmula 443: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes. O STF coaduna do mesmo entendimento: Se houver pluralidade de causas de aumento no crime de roubo (art. 157, § 2º do CP), o juiz não poderá incrementar a pena aplicada com base unicamente no número de majorantes nem se valer de tabelas com frações matemáticas de aumento. Para se proceder ao aumento, é necessário que o magistrado apresente fundamentação com base nas circunstâncias do caso concreto (Súmula 443-STJ). STF. 2ª Turma. RHC 116676/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/8/2013 (Info 716). 2.5 Roubo qualificado (Art. 157, §3º, CP) Art. 157, CP. (...) §3º. Se da violência resulta: I – Lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0829424ffa0d3a2547b6c9622c77de03?categoria=11&subcategoria=106&assunto=262 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0829424ffa0d3a2547b6c9622c77de03?categoria=11&subcategoria=106&assunto=262 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 48 II – Morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa (LATROCÍNIO). ● Introdução Alterado pela Lei 13.654/2018, que aumentou a pena em caso de lesão grave (antes era de 7 a 15 anos) – devendo a nova lei mais gravosa ser aplicada somente aos fatos posteriores, e separou as duas qualificadoras em incisos diferentes. Lembrando que as qualificadoras previstas no §2º não são aplicadas aqui!!! Estes resultados podem ser dolosos ou culposos. NÃO SÃO NECESSARIAMENTE PRETERDOLOSOS. Porém, devem estar relacionados com a subtração. Em caso de desígnios autônomos, há concurso de roubo com outros crimes, como homicídio, por exemplo. Latrocínio não é “roubo seguido de morte” como dizem por aí. É roubo qualificado pelo resultado morte, que pode ocorrer antes ou depois da subtração, embora no mesmo contexto. É imprescindível, no entanto, que DA VIOLÊNCIA EMPREGADA NO ROUBO, advenha a lesão corporal grave ou a morte (aqui, não se admite que os resultados agravadores advenham da grave ameaça). Ex: Uma pessoa sofre um ataque cardíaco em razão da grave ameaça. Nesse caso, não haverá o enquadramento no tipo penal do latrocínio, devendo o agente responder por roubo agravado pelo emprego de arma em concurso formal com homicídio culposo. Obs.: Haverá roubo qualificado pela morte, ainda que a violência tenha sido empregada em face de pessoa diversa da proprietária do bem (Ex.: alguém foi ajudar a socorrer a vítima e morreu). Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte assertiva: Para a caracterização do latrocínio, é irrelevante que a pessoa morta em razão da violência empregada pelo agente não seja a mesma que detinha a posse da coisa subtraída. ● Requisitos A doutrina aponta os seguintes requisitos para restar configurado o crime de latrocínio: 1 Que a morte seja decorrente da violência empregada pelo agente; 2 Que a violência causadora da morte tenha sido empregada durante o contexto fático do roubo; 3 Que haja nexo causal entre a violência provocadora da morte e o roubo em andamento(violência empregada em razão do roubo). Para o STJ o latrocínio tentado, não importa a natureza das lesões, podendo ser leves, graves ou gravíssimas, desde que tenha sido demonstrado o “animus necandi” do agente (dolo de matar), não realizado por circunstâncias alheias à sua vontade. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 49 STJ pacificou-se no sentido de que o crime de latrocínio tentado se caracteriza independentemente da natureza das lesões sofridas pela vítima (se leves, graves, gravíssimas), bastando que o agente, no decorrer do roubo, tenha agido com o desígnio de matá-la. Assim, como a gravidade das lesões experimentadas pela vítima não influencia para a caracterização da tentativa de latrocínio, pouco importa que o laudo pericial que atestou as lesões tenha irregularidades. STJ. 5ª Turma. HC 201175-MS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/4/2013 (Info 521). · Ex.1: O agente emprega violência contra a vítima querendo matá-la e, efetivamente, provoca a morte. Responde por latrocínio consumado. O fato de a morte ter sido dolosa deve fazer o juiz aplicar a pena acima do mínimo legal. Trata-se de hipótese em que o latrocínio não é preterdoloso. · Ex.2: O sujeito emprega violência sem intenção de matar a vítima, porém, culposamente, dá causa ao resultado. Responde também por latrocínio consumado. Em tal caso, o crime é considerado preterdoloso. · Ex.3: O agente emprega violência querendo causar lesão grave na vítima e efetivamente o faz. Responde por roubo qualificado pela lesão grave. Ex.: disparo de arma de fogo na perna de vítima que lhe provoca incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias. · Ex.4: O agente emprega violência contra a vítima sem a intenção específica de lhe causar lesão grave, mas culposamente, a provoca. Também responde por roubo qualificado pela lesão grave (hipótese preterdolosa). · Ex.5: O agente emprega violência querendo causar lesão grave na vítima, mas não consegue. Responde pela tentativa de roubo qualificado pela lesão grave. · Ex.6: O ladrão usa de violência querendo matar a vítima, mas não consegue atingir seu intento, provocando apenas lesões graves. Para o STJ, responde tentativa de latrocínio, ainda que a vítima sofra lesão de natureza grave. Obs.: O STF possui 2 julgados antigos em sentido contrário. Para a Suprema Corte, se o ladrão atira contra a vítima, querendo matá-la, e não consegue, mas ela sofre lesões corporais graves, neste caso, o agente deveria responder por roubo majorado pela arma em concurso com tentativa de homicídio qualificado pela conexão (art. 121, § 2º, V, do CP). · HC 91585, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, julgado em 16/09/2008. · RHC 94775, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 07/04/2009. DICA DD: Em prova objetiva, aconselhamos a adotar a posição do STJ. - CESPE: Para se caracterizar o crime de tentativa de latrocínio, é necessário aferir a gravidade das lesões experimentadas pela vítima, não bastando a comprovação de atentado contra a vida da vítima, no decorrer do roubo, ainda que comprovado o claro desígnio de matá-la (ERRADO). Atenção! Vamos analisar uma jurisprudência do STJ que versa sobre o tema: DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 50 A existência de doença cardíaca de que padecia a vítima configura-se como concausa preexistente relativamente independente, não sendo possível afastar o resultado mais grave (morte) e, por consequência, a imputação de latrocínio. STJ. 6ª Turma. HC 704.718-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/5/2023 (Info 777). O caso apresentado tratou da discussão de existência, ou não, de concausa preexistente absoluta ou relativamente independente consistente na doença cardíaca da vítima. Pela teoria da conditio sine qua non eventual concausa absolutamente independente faria com que houvesse exclusão da imputação do resultado mais gravoso, respondendo o agente apenas pela tentativa. Tanto é assim que no laudo pericial do caso concreto o perito consignou que o infarto "pode ter sido ajudado pelo stress sofrido na data do óbito, pois há sinais de violência e tortura encontrados no exame", evidenciando que a vítima só faleceu em decorrência do crime praticado pelos agentes que a agrediram. Ademais, não sendo concausa absolutamente independente, no caso das relativamente independentes, somente haverá exclusão do nexo se ela for superveniente relativamente independente que por si só causou o resultado, conforme art. 13, §1º do CP – lembre-se do famoso exemplo do caso da ambulância, em que o agente, por exemplo, desfere tiros contra a vítima que, sendo socorrida, a ambulância capota e ela morre em decorrência do acidente – o agente só responderá pela tentativa neste caso). Mesmo se aplicada a teoria da imputação objetiva, ainda assim o crime de latrocínio estaria evidenciado. Isso porque com as suas condutas, os agentes criaram um risco proibido que se materializou no resultado, sendo- lhe, portanto, imputada a responsabilidade penal pelo latrocínio. Portanto, conclui-se que a grave ameaça não pode ser causa do latrocínio e a decisão do STJ não mudou este entendimento. Ademais, para que não haja entendimento equivocado, existe violência própria (de natureza física – gera lesão corporal ou vias de fato e é conhecida como vis absoluta); existe violência imprópria (não há conduta ostensiva violenta – não gera lesão – é o caso de qualquer meio capaz de reduzir a possibilidade de resistência da vítima – conhecida como vis compulsiva – lembre-se do golpe do “boa noite cinderela”); e existe a grave ameaça. A violência que pode gerar o latrocínio é a própria (física). Obs:. O STJ manteve a condenação de quatro pessoas por latrocínio, por entender que a morte da vítima em decorrência de um infarto agudo do miocárdio foi consequência da conduta dos criminosos. Eles invadiram a residência do idoso de 84 anos e o agrediram, amarraram e amordaçaram. Para a classificação do delito, o colegiado considerou irrelevantes as condições preexistentes de saúde, que indicaram doença cardíaca. Segundo a relatora, ministra Laurita Vaz, para se imputar o resultado mais grave (no caso, latrocínio em vez de roubo majorado), basta que a morte seja causada por conduta meramente culposa, não se exigindo comportamento doloso. "Por isso, é inócua a alegação de que não houve vontade dirigida com relação ao resultado agravador, porque, ainda que os pacientes não tenham desejado e dirigido suas condutas para obtenção do resultado morte, essa circunstância não impede a imputação a título de culpa", afirmou a ministra ao rejeitar o pedido de desclassificação feito pela Defensoria Pública de São Paulo. O crime de latrocínio tem pena prevista de 20 a 30 anos; já o roubo seguido de lesão corporal grave, de 7 a 18 anos. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 51 ● Momento consumativo do latrocínio (de acordo com o STJ/STF): ● Subtração consumada e morte consumada = latrocínio consumado. ● Subtração tentada e morte tentada = tentativa de latrocínio. ● Subtração consumada e morte tentada = tentativa de latrocínio. ● Subtração tentada e morte consumada = latrocínio consumado (súmula 610 do STF). Súmula 610- STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima. ● Pluralidade de vítimas x Único patrimônio: Como tipificar o latrocínio se foi atingido um único patrimônio, mas houve pluralidade de mortes? Ex.: Carlos e Luiza estão entrando no carro quando são rendidos por João, assaltante armado, que deseja subtrair o veículo. Carlos acaba reagindo e João atira contra ele e Luiza, matando o casal. João foge levando o carro. Haverá dois crimes de latrocínio em concurso formal de ou um único crime de latrocínio? ∘ STF e doutrina majoritária: sendo atingido um único patrimônio,haverá apenas um crime de latrocínio, independentemente do número de pessoas mortas. O número de vítimas deve ser levado em consideração na fixação da pena-base (art. 59 do CP). ∘ STJ: (ANTES) o STJ entendia que, ocorrendo uma única subtração, porém com duas ou mais mortes, haveria concurso formal impróprio de latrocínios. (INFO 789 STJ) Houve mudança de entendimento - overruling: técnica através da qual um precedente perde a sua força vinculante e é substituído (overruled) por um outro precedente. O STJ se adequa à jurisprudência do STF: Subtraído um só patrimônio, a pluralidade de vítimas da violência não impede o reconhecimento de crime único de latrocínio.É certo que o entendimento adotado pelas instâncias ordinárias encontra respaldo na jurisprudência do STJ, no sentido de que há concurso formal impróprio no crime de latrocínio quando, não obstante houver a subtração de um só patrimônio, o animus necandi seja direcionado a mais de um indivíduo, ou seja, a quantidade de latrocínios será aferida a partir do número de vítimas em relação às quais foi dirigida a violência, e não pela quantidade de patrimônios atingidos. No entanto, essa posição destoa da orientação do Supremo Tribunal Federal, que têm afastado o concurso formal impróprio, e reconhecido a ocorrência de crime único de latrocínio, nas situações em que, embora o animus necandi seja dirigido a mais de uma pessoa, apenas um patrimônio tenha sido atingido. Por essa razão, mostra-se prudente proceder ao overruling da jurisprudência deste Tribunal Superior, adequando-a à firme compreensão do STF acerca do tema. No caso, as instâncias ordinárias afirmaram que houve desígnios autônomos em relação ao animus necandi, motivo pelo qual entenderam pelo concurso formal impróprio, o qual deve ser afastado, nos termos do entendimento do STF. No entanto, é inviável o reconhecimento de crime único, porque foram atingidos dois patrimônios distintos. Nesse contexto, deve ser http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=610.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 52 reconhecida a prática de dois delitos de latrocínio, na forma tentada, em concurso formal próprio, pois não foi mencionado pela Corte de origem que também teria havido autonomia de desígnios em relação às subtrações patrimoniais, mas tão somente no tocante ao animus necandi.STJ. AgRg no AREsp 2.119.185-RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 13/9/2023, DJe 19/9/2023. (Info 789) Resumindo: Situação Patrimônio Subtraído Número de Vítimas Desígnios Autônomos Tipificação 1 Único Múltiplas Não Crime único de latrocínio (STJ/STF) 2 Diversos Múltiplas Não Concurso formal PRÓPRIO de latrocínios 3 Diversos Múltiplas Sim Concurso formal IMPRÓPRIO de latrocínios O STJ agora se alinha ao entendimento do STF, pondo fim à divergência. Este é um tema relevante para concursos, especialmente para cargos como Delegado. Curiosidade: no CPM, a pluralidade de vítimas fatais no latrocínio caracteriza concurso de crimes, ainda que a subtração patrimonial seja única. ● Concurso de agentes e latrocínio: Via de regra, todos os envolvidos respondem pelo latrocínio, ainda que apenas um dos assaltantes tenha matado a vítima. Contudo, caso fique comprovado que um deles quis participar de apenas de crime menos grave (roubo simples ou majorado, por exemplo), responderá apenas pelo roubo, podendo sua pena ser aumentada de metade caso fosse previsível o resultado (art. 29, §2º, do CP). ● Continuidade delitiva x concurso de crimes Apesar de o latrocínio ser uma forma qualificada do crime de roubo, a doutrina e a jurisprudência não aceitam a configuração de crime continuado entre essas infrações penais, com o argumento de que o latrocínio atinge um bem jurídico a mais do que o roubo simples (a vida humana), de modo que não podem ser considerados crimes da mesma espécie, o que é requisito da continuação delitiva. Entre tais crimes, existe, portanto, concurso material. Ex.: dois indivíduos, após cometerem o latrocínio dentro de um banco, ao matar um policial durante um assalto ao estabelecimento, roubam o carro de um particular na saída da agência: “Concurso material. Latrocínio (roubo em banco e morte do agente policial) e o roubo de automóvel de particular, no qual os réus fugiram”. STF – Rel. Néri da Silveira – RT 695/416. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 53 ● Competência O crime de latrocínio não é da competência do Tribunal do Júri porque não se trata de crime contra a vida, mas sim contra o patrimônio, não obstante lesione também o bem jurídica vida. Súmula 603-STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do tribunal do júri. ● Crime hediondo Antes do advento do Pacote Anticrime (Lei nº 13.964 /19) somente o latrocínio era considerado crime hediondo. Contudo, com a inovação legislativa, o roubo qualificado pela lesão corporal grave também passou a ser considerado crime hediondo (“novatio legis in pejus”): Art. 1º, Lei nº 8.072/90. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º- B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 2.6 Concurso de causas de aumento do §2º e do §2º-A: Conforme o STF (embora seja um critério criticado pela doutrina, em razão da falta de segurança jurídica e discrepância que pode haver de um caso para outro a depender do magistrado), deve ser seguido o artigo 68 do CP: Art. 68, CP. (...) Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua. Como o termo é PODE, não é obrigatória a aplicação só de um. Assim, tem o magistrado duas opções: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art5 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 54 1ª: Aumentar a pena em 2/3, já que a do §2º-A é a que mais aumenta e utilizar a hipótese do §2º como circunstância judicial desfavorável (art. 59 do CP) ou agravante (arts. 61 e 62). 2ª: Aplicar as duas causas de aumento de pena, situação em que o segundo aumento incidirá sobre a pena já aumentada pela primeira causa. Roubo praticado com o emprego de arma de fogo, sem que o agente possua porte de arma: responde em concurso com o delito de porte ilegal? R.: Em regra, não. Geralmente, o crime de porte ilegal de arma de fogo é absorvido pelo crime de roubo circunstanciado, em razão do princípio da consunção, vez que é crime meio para o roubo. No entanto, se ficarem constatados desígnios autônomos, contextos fáticos diversos, haverá concurso. Pergunta: As majorantes do crime de roubo aplicam-se somente aos roubos próprios e impróprios? Resposta é sim!! "Ao latrocínio e ao roubo qualificado pelas lesões corporais de natureza grave não se aplicam as causas de aumentode pena prevista no § 2º do art. 157 do Código Penal, em virtude de sua localização topográfica. Imagine-se, por exemplo, que a vítima esteja a serviço de transporte de valores (inc. III), quando é interceptada por dois agentes (inc. I) que, munidos com arma de fogo (inc. I), contra ela atiram, querendo a sua morte, para que possam realizar a subtração. Por intermédio desse exemplo, podemos perceber a presença de três causas de aumento de pena. No entanto, nenhuma delas poderá ser aplicada ao latrocínio, a título de majorantes, uma vez que, se fosse intenção da lei penal aplicá-las às modalidades qualificadas, deveriam estar localizadas posteriormente ao § 3º do art. 157 do Código Penal. Assim, concluiu-se, as majorantes previstas pelo § 2º do mesmo artigo somente são aplicadas àquilo que as antecedem, isto é, às duas modalidades de roubo simples, seja ele próprio (caput) ou mesmo impróprio (§ 1º)". (GRECO, Rogério. Código Penal: comentado. 12. ed. Niterói: Impetus, 2018, p. 589-590) Os roubos qualificados pela lesão corporal grave (inciso I do § 3º do art. 157) e pelo resultado morte – latrocínio (inciso seguinte) constituem tipos derivados do roubo simples (próprio ou impróprio), com cominações particulares de penas mínimas e máximas (7 a 18 anos mais multa e 20 a 30 anos mais multa, respectivamente). Por isso, o Código Penal dispôs esses tipos derivados do tipo básico no § 3º do art. 157, após as majorantes (causas especiais de aumento), previstas no § 2º do referido artigo. Assim, não há, no Código Penal, a previsão do que seria o "roubo qualificado circunstanciado". STJ. 6ª Turma. HC 554.155/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/03/2021. Vamos fazer um link entre Crimes contra o patrimônio e parte geral? Jurisprudência pertinente: DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 55 Agente pretendia praticar roubo e foi surpreendido após romper o cadeado e destruir a fechadura da porta da casa da vítima; não se pode falar em tentativa de roubo. Adotando-se a teoria objetivo-formal, o rompimento de cadeado e destruição de fechadura da porta da casa da vítima, com o intuito de, mediante uso de arma de fogo, efetuar subtração patrimonial da residência, configuram meros atos preparatórios que impedem a condenação por tentativa de roubo circunstanciado. Caso adaptado: João e Pedro caminhavam nas ruas de um bairro e decidiram praticar assalto em uma das casas. Eles arrombaram o cadeado e destruíram a fechadura da porta da casa, no entanto, quando iam adentrar na residência, passou uma viatura da Polícia Militar. Os indivíduos correram quando perceberam a presença das autoridades de segurança. Os policiais perseguiram a dupla, conseguindo prendê-los. Com eles, foi encontrada uma arma de fogo de uso permitido. Vale ressaltar, contudo, que não possuíam porte de arma. Não se pode falar que houve roubo circunstanciado tentado. STJ. 5ª Turma. AREsp 974254-TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/09/2021 (Info 711). Existem algumas teorias que buscam definir em que momento se dá a passagem dos atos preparatórios para os atos executórios. Veja como o tema é tratado por Jamil Chaim Alves (Manual de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 370-371): → Teoria subjetiva Leva em consideração a vontade criminosa, o plano interno do autor. Logo, não há distinção entre atos preparatórios e atos executórias. Uma vez detectada a vontade de praticar a infração, é possível a punição. → Teoria da hostilidade ao bem jurídico Atos executórios são aqueles que atacam o bem jurídico, retirando-o do “estado de paz”. Era defendida por Nelson Hungria. → Teoria objetivo-formal ou lógico-formal Atos executórios são aqueles que iniciam a realização do núcleo do tipo penal (denomina-se “formal” porque parâmetro é a lei, ou seja, a prática do verbo nuclear descrito no tipo). Era defendida por Frederico Marques. → Teoria objetivo-material Atos executórias são aqueles que iniciam a realização do núcleo do tipo penal e também os imediatamente anteriores, de acordo com a visão de um terceiro observador. https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8e5231f0eadafd174b670e838e42d97d?categoria=11&subcategoria=106&criterio-pesquisa=e https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8e5231f0eadafd174b670e838e42d97d?categoria=11&subcategoria=106&criterio-pesquisa=e https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8e5231f0eadafd174b670e838e42d97d?categoria=11&subcategoria=106&criterio-pesquisa=e DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 56 → Teoria objetivo-individual A tentativa começa com a atividade do autor que, segundo o seu plano concretamente delitivo, se aproxima da realização. A origem dessa teoria remonta a Hans Welzel. Qual é a teoria adotada pelo STJ? O STJ tem a tendência de seguir a corrente objetivo-formal, exigindo início de prática do verbo correspondente ao núcleo do tipo penal para a configuração da tentativa. Qual foi a teoria adotada pelo STF e STJ para o momento da consumação do crime de roubo? A teoria da “APPREHENSIO” (“AMOTIO”). Súmula 582-STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. CAI MUITO! 3. EXTORSÃO (ART. 158, CP) Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. § 3º - Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009) a) Conceito: constrangimento de outrem, mediante violência ou grave ameaça, com o intuito de obtenção de vantagem econômica indevida, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. b) Bem jurídico tutelado: patrimônio e liberdade individual, além da integridade física e da vida no caso das qualificadoras. Trata-se, portanto, de crime pluriofensivo. A extorsão é crime pluriofensivo. A lei penal tutela o patrimônio, principalmente, pois o delito está previsto entre os crimes contra o patrimônio, mas não se olvida http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11923.htm#art1 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 57 da integridade física e da liberdade individual, uma vez que para executá-lo o sujeito se vale de grave ameaça ou violência à pessoa. (MASSON) c) Roubo x Extorsão: se o bem for subtraído, o crime será de roubo. Se a vítima entregar o bem ao agente, o delito poderá ser de roubo ou extorsão, a depender da imprescindibilidade da colaboração do ofendido. ● Roubo: o agente não depende da colaboração da vítima, embora possa ocorrer / o agente busca vantagem imediata; ● Extorsão: o agente depende da colaboração da vítima / o agente busca vantagem mediata. Obs.: Algumas majorantes são diversas, a exemplo do que explicamos sobre arma branca e arma de fogo. Roubo e Extorsão (pontos em comum) São crimes contra o patrimônio São praticados mediante violência ou grave ameaça Pena base de reclusão de quatro a dez anos e multa Atenção: ROUBO x EXTORSÃO -se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. Súmula 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto. Súmula 442-STJ: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo. Súmula 582-STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 5 recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. Súmula 443-STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes. Súmula 610-STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima. Súmula 96-STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida. Súmula 17-STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. Súmula 48-STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque. Súmula 24-STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da previdência social, a qualificadora do § 3º, do art. 171 do Código Penal. Súmula 554-STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal. Súmula 73-STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual. Súmula 246-STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos. 1. FURTO (ART. 155, CP) 1.1 Furto Simples (art. 155, caput, CP) Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Crime de médio potencial ofensivo (cabe suspensão condicional do processo). a) Objeto jurídico: Conforme a doutrina majoritária, propriedade, posse e detenção legítimas. Há doutrinadores como Nucci e Greco que entendem ser só a propriedade e a posse legítima, bem como Hungria, que entende ser só a propriedade. b) Objeto material: “coisa alheia móvel”. ● Ser humano pode ser objeto de furto? Não. Contudo, partes do corpo humano sim (ex.: cabelo, dentes), bem como instrumentos ligados a ele (ex.: dentadura). A depender da situação, pode configurar outros crimes, como um dos tipos de lesão ou até homicídio. ● Cadáver pode ser objeto de furto? Via de regra, também não, pois tem crime específico. Porém, excepcionalmente, quando o cadáver estiver destinado a uma atividade específica, passa a ser coisa, DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 6 podendo ser objeto de furto (ex.: cadáver de faculdade de medicina). Obs.: para a doutrina, o ouro da arcada dentária do cadáver pode ser objeto de furto. ● Coisa abandonada e coisa perdida podem ser objetivo de furto? Coisa abandonada não pode ser objeto de furto. Coisa perdida, por sua vez, também não configurará furto, pela ausência de subtração, mas será apropriação de coisa achada, caso não seja devolvida em 15 dias - crime a prazo (art. 169, II do CP). OBS: Ressalta-se que, apesar de haver divergência doutrinária, a maioria entende que para que configure o crime do art. 169, II o encontro da coisa deve ser ocasional (por um acaso), não se considerando perdida a coisa que fora simplesmente esquecida. ● E coisas de uso comum do povo, podem ser furtadas? Via de regra, não, já que todos são proprietários. Exceção: caso a coisa de uso comum esteja destacada para alguma finalidade econômica, ou seja, esteja sendo explorada por alguém, situação em que caracterizará furto. ● Cheque em branco pode ser objeto de furto? Em um primeiro momento, a jurisprudência do STJ entendia que folhas de cheque e cartões bancários não podiam ser objeto material do crime de furto, uma vez que desprovidas de valor econômico, indispensável para a caracterização dos delitos patrimoniais (REsp 150.908/SP). No entanto, ao examinar o CC 112.108/SP, a 3ª Seção desta Corte Superior de Justiça modificou tal posição, consignando que o talonário de cheque possui valor econômico, aferível pela provável utilização das cártulas para obtenção de vantagem ilícita por parte de seus detentores, podendo ser objeto dos crimes de furto e receptação. (AgRg no HC 410.154/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 03/10/2017, DJe 11/10/2017). ● “Móvel”: Todo e qualquer bem suscetível de apreensão e de transporte. Assim, imóveis não podem. Obs.: No CC há o conceito de imóveis por equiparação (exemplo: árvore, navios, aeronaves). Isso não se aplica ao Direito Penal. Sendo móvel, poderá ser objeto de furto. A subtração de terra, areia ou árvores, por exemplo, em imóvel alheio, configurará furto, caso o fato não constitua crime contra o meio ambiente. Atente-se à jurisprudência sobre o tema: A dívida de corrida de táxi não pode ser considerada coisa alheia móvel para fins de configuração da tipicidade dos delitos patrimoniais. A dívida de corrida táxi não pode ser considerada coisa alheia móvel para fins de configuração da tipicidade dos delitos patrimoniais. Ex: João pegou um táxi. Ao final da corrida, ele saiu do carro e disse que não iria pagar a corrida. O motorista também saiu do veículo e foi tentar segurá-lo para que ele não fugisse sem quitar o débito. João puxou, então, uma faca e desferiu um golpe no taxista, que morreu no local. O agente não praticou roubo com resultado morte (art. 157, § 3º, II, do CP). Isso porque não houve, no contexto delitivo, nenhuma subtração ou tentativa de subtração de coisa alheia móvel, o que afasta a conduta de roubo qualificado pelo resultado, composto pelo verbo “subtrair” e pelo complemento “coisa alheia móvel”. O agente se negou a efetuar o pagamento da corrida de táxi e desferiu um golpe de faca no motorista, sem (tentar) subtrair objeto algum, de modo a excluir https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/de58bfe3d33dada41a9398c30e21eeed?categoria=11&subcategoria=106&assunto=262 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/de58bfe3d33dada41a9398c30e21eeed?categoria=11&subcategoria=106&assunto=262 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 7 o “animus furandi”. Não se pode equiparar “dívida de transporte” com a “coisa alheia móvel” prevista no tipo do art. 157 do Código Penal, sob pena de violação dos princípios da tipicidade e da legalidade estrita, que regem a aplicação da lei penal. STJ. 6ª Turma. REsp 1757543-RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/09/2019 (Info 658). c) Sujeito passivo: ● Proprietário, possuidor ou detentor do bem (legítimos). ● Pode ser pessoa física ou jurídica. E se o ladrão1 subtrai do ladrão2 coisa que foi objeto de furto perpetrado por este, responde por algum crime, já que a posse do segundo é ilegítima? R.: Sim, responde normalmente por furto. Porém, o sujeito passivo não será o ladrão2, mas o proprietário legítimo do bem (lesado do crime de furto pelo ladrão1). d) Sujeito ativo: qualquer pessoa, menos o proprietário, possuidor ou detentor do bem (legítimos), já que nestes casos faltaria a elementar “alheia”. Caso o proprietário de um bem subtraia coisa sua que esteja sob a legítima posse de terceiro, a exemplo de um bem que está empenhado por dívida, cometerá crime de furto? R.: Conforme a doutrinaSTF, Info. 899 - Não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, ainda que praticados em conjunto. Isso porque os referidos crimes, apesar de serem da mesma natureza, são de espécies diversas. d) Sujeito ativo: qualquer pessoa, exceto o dono do bem. No caso do concurso de agentes a doutrina sustenta que aqui só são inclusos os executores, já que usa o termo “cometido”. e) Sujeito passivo: pessoa atingida em seu patrimônio (física ou jurídica) e pessoa vítima da violência ou grave ameaça. Pode haver mais de um sujeito passivo, na hipótese em que a pessoa vítima da violência ou da grave ameaça for diversa da proprietária/possuidora do bem. Portanto, pode ser sujeito passivo: ∘ A pessoa atingida pela violência ou grave ameaça; ∘ A pessoa que faz, deixa de fazer ou tolera que se faça algo; ∘ A pessoa que suporta o prejuízo patrimonial. f) Elemento subjetivo: apenas dolo, com fim especial de agir. ● Intenção de obter, para si ou para outrem, vantagem econômica indevida. ● É imprescindível o intuito de obter a vantagem para si ou para outrem, incorporando a coisa ao próprio patrimônio ou ao patrimônio alheio. Se não tiver a intenção de assenhoramento, será enquadrado em crime diverso. Ex.: constrangimento ilegal (art. 146, CP). DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 58 g) Tipo objetivo: A extorsão somente pode ser praticada através de um constrangimento. Ex.: sujeito ativo pratica um constrangimento para que o sujeito passivo adote um comportamento, ativo ou passivo, visando a obtenção de uma vantagem indevida. ● Tem que existir nexo causal entre o constrangimento empregado e o comportamento adotado pela vítima. ● Meios executórios: ∘ Violência (própria): “vis corporalis” – com atuação material sobre o corpo da vítima. ∘ Grave ameaça (violência moral): “vis compulsiva” – promessa de um mal grave. ∘ A extorsão não pode ser praticada mediante violência imprópria (por outra forma de redução da capacidade de resistência da vítima). No entanto, dentro da violência e da grave ameaça, qualquer meio executório é admitido. CESPE/CEBRASPE – 2004 – Delegado de Polícia Federal: Túlio constrangeu Wagner, mediante emprego de arma de fogo, a assinar e lhe entregar dois cheques seus, um no valor de R$ 1.000,00 e outro no valor de R$ 2.500,00. Nessa situação, Túlio praticou crime de roubo qualificado pelo emprego de arma de fogo. Item errado. Comentários: Túlio não praticou a conduta de subtrair os cheques de Wagner, mas sim o constrangeu, mediante a ameaça por emprego arma de fogo, a assinar e lhe entregar dois cheques nos valores mencionados. Sua conduta, portanto, não se subsome ao tipo penal atinente ao crime de roubo, mas ao de extorsão, nos termos do art. 158 do CP. Observações importantes: ∘ O mal prometido pelo agente pode ser justo ou injusto. Ex.: exigir vantagem econômica ameaçando entregar a vítima à polícia em razão de um crime que efetivamente ela cometeu. ∘ O mal prometido pode ser inverídico, desde que seja suficiente para infundir o temor da vítima. ∘ A extorsão pode ser praticada mediante a ameaça de causar um prejuízo econômico à vítima. Se o agente ameaça causar um prejuízo econômico à vítima, ainda assim haverá extorsão? A grave ameaça prevista no art. 158 pode ser econômica? SIM. O STJ decidiu que a extorsão pode ser feita mediante ameaça de causar um prejuízo econômico. Assim, não se exige que a ameaça se dirija apenas contra a integridade física ou moral da vítima. No caso concreto julgado, o agente estava com o carro da vítima e exigiu que ela fizesse o pagamento a ele de determinada quantia em dinheiro. Caso o pedido não fosse atendido, ele prometeu destruir o veículo. Dessa forma, o STJ decidiu que pode configurar o crime de extorsão a exigência de pagamento em troca da devolução do veículo furtado, sob a ameaça de destruição do bem. STJ. 5ª Turma. REsp 1207155-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 7/11/2013 (Info 531). DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 59 STJ: O crime de extorsão consiste em "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa". A ameaça de causar um "mal espiritual" contra a vítima pode ser considerada como "grave ameaça" para fins de configuração do crime de extorsão? SIM. Configura o delito de extorsão (art. 158 do CP) a conduta do agente que submete vítima à grave ameaça espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o pagamento de vantagem econômica indevida. STJ. 6ª Turma. REsp 1.299.021-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/2/2017 (Info 598). Via Dizer o Direito. A vantagem deve ser econômica e indevida. Se a vantagem for devida, por exemplo, o pagamento de uma dívida já vencida, o crime pode ser de exercício arbitrário das próprias razões. A vantagem pode ser mediata, como exigir que o concorrente não exerça comércio em determinado bairro no ano seguinte, ou imediata, como o constrangimento para que a vítima transfira dinheiro imediatamente. h) Consumação: Trata-se de crime formal, de consumação antecipada ou resultado cortado Para a doutrina, o crime se consuma no momento em que a vítima se sente constrangida a adotar o comportamento determinado pelo agente, ainda que ele não obtenha a vantagem econômica indevida. Assim, se o agente constrange a vítima e esta não adota o comportamento exigido, haverá tentativa de extorsão. Tentativa: é cabível por tratar-se de crime plurissubsistente, ou seja, a conduta pode ser fracionada em dois ou mais atos. CESPE/CEBRASPE – 2021 – Delegado de Polícia Federal: No que concerne aos crimes previstos na parte especial do Código Penal, julgue o item subsequente. Em se tratando de crime de extorsão, não se admite tentativa. Item errado. Súmula 96-STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida. Não se consuma o crime de extorsão quando, apesar de ameaçada, a vítima não se submete à vontade do criminoso, ou seja, não assume o comportamento exigido pelo agente. Nesse caso, haverá tentativa de extorsão. STJ. 6ª Turma. REsp 1094888-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 21/8/2012 (Info 502). DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 60 LINK COM PROCESSO PENAL: 1 – COMPETÊNCIA: Se o crime de extorsão se consuma com o comportamento passivo da vítima, a competência será firmada no local onde a vítima adotar o comportamento exigido. Ex.: Golpe do falso sequestro: indivíduo, preso em SP, liga para vítima no RJ e exige que esta efetue o pagamento para uma conta no PR. Caso a vítima efetivamente efetue esse pagamento, a competência será da justiça do RJ, local onde ela adotou a conduta exigida pelo agente. Não será a competência de onde saiu o constrangimento (SP) e nem de onde obteve a vantagem indevida (PR). 2 – PRISÃO EM FLAGRANTE: Se o crime se consuma no momento em que a vítima adota o comportamento exigido pelo agente, o momento da obtenção da vantagem econômica – se em momento posterior – não vai admitir a prisão em flagrante. 3.1. Causas de aumento de pena: Art. 158, CP. (...) § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. Ao contrário do que acontece no roubo, a jurisprudência ADMITE a aplicação das causas de aumento de pena à extorsão qualificada. O § 1º do art. 158 do CP prevê que se a extorsão é cometida por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, a pena deverá ser aumentada de um terço até metade. Essa causa de aumento prevista no § 1º do art. 158 do CP pode ser aplicada tanto para a extorsão simples (caput do art. 158) como também parao caso de extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (§ 3º). Assim, é possível que o agente seja condenado por extorsão pela restrição da liberdade da vítima (§ 3º) e, na terceira fase da dosimetria, o juiz aumente a pena de 1/3 até 1/2 se o crime foi cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma (§ 1º). STJ. 5ª Turma. REsp 1353693-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 13/9/2016 (Info 590). a) Cometido por duas ou mais pessoas ● O verbo “cometer” exige que ambos tenham praticado o constrangimento, de modo que, para a doutrina, o mero partícipe não é computado para o concurso de pessoas. ● Computa-se o inimputável e eventuais agentes não identificados. ● A jurisprudência admite o concurso de crimes entre extorsão majorada pelo concurso de pessoas e corrupção de menores ou associação criminosa, por se tratarem de bens jurídicos distintos. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 61 b) Mediante o uso de arma ● Engloba arma de fogo e arma branca. ● Lembrando que, quanto à arma de fogo, deve-se analisar a potencialidade lesiva. (Ex.: arma desmuniciada e arma de brinquedo). 3.2 Extorsão qualificada pela lesão corporal grave ou morte Art. 158, CP. (...) § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 Art. 157, CP. (...) § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a dezoito anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. O crime de extorsão é qualificado: i. Pelo resultado lesão corporal grave ou ii. Pelo resultado morte. Lembrando que os resultados qualificadores devem advir da violência (própria) empregada a extorsão! Obs.: Identidade total com o roubo qualificado: O §2º remete ao disposto no §3º do art. 157 – aplicam-se as mesmas considerações. 3.3 Extorsão mediante restrição da liberdade da vítima Art. 158, CP. (...) Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente. Trata-se do conhecido “sequestro relâmpago”. É uma modalidade qualificada de extorsão, que admite outras qualificações (se resultar lesão grave ou morte). Requisitos para o sequestro relâmpago: ✔ A vítima deve ter a sua liberdade de locomoção CERCEADA POR CERTO TEMPO, durante o qual fica submetida ao poder do agente. ✔ A restrição da liberdade deve ser usada como FORMA DE COMPELIR A VÍTIMA A SATISFAZER A PRETENSÃO DO AGENTE, somente alcançável através do comportamento dela. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 62 Ocorre que a subtração com privação da liberdade da vítima, não configura apenas este tipo penal, embora ele tenha sido criado com esse intuito. Temos três situações. i. Roubo majorado: o agente subtrai mediante privação de liberdade da vítima, sendo que a colaboração da vítima é dispensável; ii. Extorsão qualificada (art. 158, §3º): o agente constrange a vítima a entregar a vantagem econômica indevida, sendo esta colaboração indispensável para que atinja seu intuito. iii. Extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP): que vai se diferir dos anteriores porque aqui a privação da liberdade (sequestro ou cárcere privado) é o meio utilizado para fazer com que um TERCEIRO colabore e o agente obtenha a vantagem (pagamento de resgate). Vamos esquematizar as diferenças? ROUBO com restrição da liberdade (art. 157, §2º, V) EXTORSÃO com restrição da liberdade (art. 158 ,§3º) A restrição da liberdade é o meio executório para: a) facilitar a execução do delito o agente se vale da privação da liberdade da vítima para conquistar maior facilidade na subtração. Ex.: Prender a vítima em um cômodo da casa que rouba. b) garantir a impunidade: impedir que seu ato seja descoberto ou sua captura. Ex.: Sujeito leva consigo a vítima de um roubo de automóvel, abandonando- a em uma estrada deserta, onde não possa avisar à polícia com rapidez. O comportamento da vítima é prescindível/ dispensável para o alcance do desiderato criminoso. Ex.: Sujeito obriga a pessoa a entregar a sua carteira. Neste caso, mesmo que a vítima não entregue, o agente pode tomá-la. A restrição da liberdade é o meio executório para: Conseguir constranger a vítima, obrigando-a a realizar um comportamento que é imprescindível para a satisfação da pretensão do sujeito ativo. O comportamento da vítima é imprescindível/ indispensável para o alcance do desiderato criminoso. Ex.: Sujeito obriga a vítima a entregar sua senha do banco para subtrair dinheiro. Neste caso, caso o sujeito não dê a senha, o agente não poderá obter o dinheiro. EXTORSÃO QUALIFICADA COM RESTRIÇÃO DA LIBERDADE (ART. 158 ,§3º) EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (ART. 159, CP) A vantagem perseguida pelo agente deve ser prestada pelo próprio constrangido, por aquele que teve sua liberdade restringida. A vantagem perseguida pelo agente é prestada por 3º, por pessoa diversa daquela que tem sua liberdade ambulatorial cerceada. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 63 “O agente, dependendo da colaboração da vítima para alcançar a vantagem econômica visada, priva o ofendido de sua liberdade pelo tempo necessário até a concretização do seu locupletamento.” “O agente, privando a vítima de seu direito de ambulação, condiciona sua liberdade ao pagamento de resgate a ser efetivado por terceira pessoa”. Vale recordar, ainda, que a repressão desse delito, a lei n. 13.344/2016 incluiu os artigos 13-A e 13-B ao código de processo penal, possibilitando que o delegado de polícia ou membro do Ministério Público requisite dados e informações cadastrais das vítimas e suspeitos. É possível, ainda, a requisição, mas essa mediante autorização judicial, ás empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e ou telemáticas disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados, como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos em delito. EXTORSÃO QUALIFICADA COM RESTRIÇÃO DA LIBERDADE (ART. 158 ,§3º) CONCURSO DE CRIMES ENTRE EXTORSÃO SIMPLES E SEQUESTRO OU CÁRCERE PRIVADO A restrição da liberdade é meio para que o agente obtenha a vantagem econômica. Quando a privação da liberdade da vítima não servir para a prática da extorsão. Ex.: cerceamento da liberdade após a consumação da extorsão. ATENÇÃO! Hediondez após o advento do Pacote Anticrime! Art. 1º, III, Lei 8072/90 - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º); ANTES DA LEI 13.964/2019 DEPOIS DA LEI 13.964/2019 Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º). Ou seja: i. Extorsão simples com resultado morte (art. 158, §2º) é crime hediondo. ii. Qualquer extorsão que resulte lesão corporal não é hediondo. i. Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima; ii. Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima com ocorrência de lesão corporal; iii. Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima com morte. ATENÇÃO: Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o) pela taxatividade da lei de crimes hediondos deixou de fazer parte do rol, logo, não é mais hediondo! São crimes hediondos: DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 64 a) A extorsão com privação da liberdade, pura e simplesmente, já é hedionda: A norma não menciona que a extorsão mediante privação COM resultado lesão corporal ou morte é crime hediondo: aoinvés da palavra “com”, usa vírgula para separar os termos. Isso significa que a extorsão com privação da liberdade, pura e simplesmente, já é hedionda. b) Extorsão com privação da liberdade + lesão corporal grave O termo “lesão corporal” refere-se à lesão grave (adjetivo omitido pelo legislador), uma vez que eventuais lesões leves oriundas da extorsão violenta são absorvidas pelo crime patrimonial. c) Extorsão com privação da liberdade + morte E, caso ocorram os resultados lesão corporal e morte, também serão crimes hediondos. Não por outro motivo, à identificação do crime se segue uma referência genérica ao artigo 158, § 3º, onde encontramos todas essas hipóteses normativas. Obs.: Crítica da doutrina: A extorsão com restrição da liberdade da vítima sem resultados especialmente agravadores (ou seja, sem que produza morte ou lesão corporal grave) tem pena de 6 a 12 anos de reclusão (§ 3º) e é considerado hediondo. Ao passo que a extorsão qualificada pelo resultado (art. 158, § 2º) morte (pena de 20 a 30 anos) ou lesão grave (pena de 7 a 18 anos) não é considerada crime hediondo. Há, portanto, uma evidente violação ao princípio da proporcionalidade. EXTORSÃO SIMPLES EXTORSÃO MAJORADA EXTORSÃO QUALIFICADA SEQUESTRO RELÂMPAGO SEQUESTRO RELÂMPAGO QUALIFICADO 4 a 10 anos de reclusão e multa Aumenta de 1/3 a 1/2 ⦁ Uso de arma ⦁ concurso de pessoas Resultado LC grave: 7 a 18 anos e multa Resultado morte: 20 a 30 anos e multa Sequestro mediante a restrição de liberdade da vítima. 6 a 12 anos e multa Resultado LC grave: 16 a 24 anos (sem multa) Resultado morte: 24 a 30 anos (sem multa) 4. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (ART. 159) Art. 159, CP. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 Pena - reclusão, de oito a quinze anos. § 1º - Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 Pena - reclusão, de doze a vinte anos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8072.htm#art9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8072.htm#art9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8072.htm#art9 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 65 § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. § 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. a) Conceito: Trata-se de forma qualificada da extorsão, em que o meio executório – o cerceamento da liberdade de locomoção da vítima como forma de haver o recebimento de uma quantia por seu resgate – empresta maior reprovabilidade à sua conduta. b) Bem jurídico tutelado (crime pluriofensivo): ✔ Patrimônio alheio ✔ Liberdade individual (sequestro) ✔ Integridade corporal e saúde ✔ Vida c) Objeto material: ● Patrimônio lesado pela conduta ● A pessoa que sofre ataque à sua liberdade individual ao ser sequestrada (Pode ser pessoa diversa daquela que tem seu patrimônio violado). Sequestro de animal com o fim de obter de alguém vantagem indevida como resgate configura extorsão mediante sequestro? R: NÃO! O crime é apenas o de extorsão do art. 158, caput, do CP. A vítima do 158 é “alguém”, pessoa. Do 159 fala expressamente em pessoa. Assim, animal não pode ser vítima de sequestro. d) Sujeitos do delito: ● Sujeito ativo – crime comum ● Sujeito passivo – crime comum Obs.: Pessoa jurídica pode ser sujeito passivo – quando o prejuízo patrimonial recai na pessoa jurídica. e) Conduta: núcleo verbal é SEQUESTRAR ● Crime de forma livre: qualquer forma de execução para alcançar o cerceamento da liberdade é admitida ● Para a capitulação é irrelevante se há ou não deslocamento espacial da vítima (arrebatamento ou retenção). DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 66 Cuidado com a qualificadora do §1º: + de 24h – importa o tempo de privação de liberdade, não o tempo em que o resgate foi pago; menor de 18 anos – quando iniciada a conduta; maior de 60 anos – quando cessada a conduta. f) Tipicidade subjetiva: Dolo + Elemento subjetivo especial ● Dolo - vontade livre e consciente de privar alguém de sua liberdade individual ● Elemento subjetivo especial - “com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”. É o especial fim de agir que diferencia o crime de extorsão mediante sequestro e o crime de sequestro ou cárcere privado, que não tem outra finalidade especial a não ser o cerceamento do direito ambular da vítima. g) Consumação e tentativa: ● CRIME PERMANENTE - Sua consumação se inicia quando ocorre a privação da liberdade da vítima, perdurando durante todo o tempo de cerceamento. ● CRIME FORMAL - não se exige que o agente alcance a vantagem pretendida, basta agir com tal intenção. ● CRIME PLURISSUBSISTENTE – admite tentativa. Enquanto não houver submissão da vítima ao poder do agente, será apenas tentativa. CESPE/CEBRASPE – 2004 – Delegado de Polícia Federal: Rômulo sequestrou Lúcio, exigindo de sua família o pagamento de R$ 100.000,00 como resgate. Nessa situação, o crime de extorsão mediante sequestro praticado por Rômulo é considerado crime habitual. Item errado. Comentários: O crime de extorsão mediante sequestro é crime permanente, e não habitual. Permanente é o delito cuja consumação se prolonga no tempo e, no caso da extorsão mediante sequestro, enquanto durar a privação de liberdade, estará ocorrendo a consumação delituosa, permitindo a prisão em flagrante do agente. Já o delito habitual é aquele que exige reiteração de ações necessárias para constituir um único delito. 4.1 Extorsão mediante sequestro qualificada Art. 159, CP. (...) § 1º Se o sequestro dura mais de 24 horas, se o sequestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 67 § 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) a) Se o sequestro dura MAIS de 24 horas b) Se o sequestrado é MENOR de 18 anos ou MAIOR de 60 anos ⋅ Extorsão mediante sequestro é crime permanente, assim, caso a pessoa aniversarie durante o cativeiro, vindo a completar os sessenta anos exigidos na lei, o crime será qualificado. c) Crime for cometido por bando ou quadrilha ⋅ Lê-se: se for cometido por associação criminosa (art. 288, CP). ⋅ Lembrando que há uma associação criminosa (quadrilha ou bando) quando três ou mais pessoas se reúnem voluntária e conscientemente, de forma estável e permanente, para o fim de cometer uma série de crimes (no caso, extorsões mediante sequestro). ⋅ Obs.: É possível haver concurso de crimes entre extorsão mediante sequestro qualificada com associação criminosa. Essa é a opinião majoritariamente difundida, inclusive no STF: “A condenação pelos crimes de sequestro qualificado (art. 159, § 1º, do CP) em concurso material com o de quadrilha (art. 288, com redação anterior à Lei nº 12.850/2013) não configura bis in idem. Da diversidade entre os bens jurídicostutelados pelas normas penais decorre a autonomia dos delitos e das circunstâncias que os qualificam, sem que se possa cogitar de qualquer relação de dependência ou de subordinação entre eles”. d) Se resulta lesão corporal de natureza grave: Causas da lesão corporal grave: ● Maus tratos impostos pelo criminoso; ● Pela natureza da atividade criminosa; ● Pelo modo de execução. e) Se resulta morte Obs.: Para a doutrina majoritária, tanto na extorsão mediante sequestro qualificada pela lesão corporal grave como qualificada pela morte, é imprescindível que: ● Que o resultado qualificador se produza em face da pessoa sequestrada. ● Que o resultado lesivo ocorra no contexto do crime patrimonial. Obs.: Previsão específica de delação premiada no §4º. Todos os requisitos lá listados são cumulativos. Art. 159, CP. (...) § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996) DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 68 4.2 Hediondez do crime de extorsão mediante sequestro: São crimes hediondos: Art. 1º, IV da Lei 8072/90: ● Crime de extorsão mediante sequestro simples ● Crime de extorsão mediante sequestro qualificado. 5. EXTORSÃO INDIRETA (ART. 160) Extorsão indireta Art. 160, CP. EXIGIR ou RECEBER, como GARANTIA de DÍVIDA, abusando da situação de alguém, DOCUMENTO QUE PODE DAR CAUSA A PROCEDIMENTO CRIMINAL contra a vítima ou contra terceiro: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Leitura do Código Penal. Obs.: Caso após depois a obtenção do documento, o agente efetivamente dá início ao procedimento criminal do qual sabe ser a vítima inocente, haverá concurso material entre o crime de extorsão indireta com o de denunciação caluniosa. Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte assertiva: Agente que impõe à vítima, como garantia de dívida, a exigência ou o recebimento de documento que pode dar causa a procedimento criminal contra esta ou terceiro, responde pelo delito de extorsão indireta. 6. USURPAÇÃO (ARTS. 161 e 162) Leitura do Código Penal. DA USURPAÇÃO Alteração de limites Art. 161, CP. Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem: Usurpação de águas I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias; DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 69 Esbulho possessório II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. § 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada. § 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. Supressão ou alteração de marca em animais Art. 162, CP. Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. 7. DANO (ART. 163) Dano Art. 163, CP. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. (Infração de Menor Potencial Ofensivo) Dano qualificado Parágrafo único - Se o crime é cometido: I - com violência à pessoa ou grave ameaça; II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constituir crime mais grave III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos; (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017) IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Infração de Médio Potencial Ofensivo) a) Bem jurídico tutelado: patrimônio (propriedade e posse). b) Objeto material do delito: é a coisa alheia móvel ou imóvel. A coisa há que ter um dono, não ocorrendo o delito caso se trate de “res nullius” ou de coisa abandonada (“res derelicta”). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13531.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13531.htm#art2 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 70 Não há crime de dano se o indivíduo danifica coisa própria em poder de terceiro, pois ausente a elementar “coisa alheia móvel”. Pode, a depender do caso concreto, incorrer no crime do art. 346, CP. c) Princípio da Insignificância: Não há delito em caso de coisa com valor ínfimo, aplicando-se o princípio da insignificância. Assim decidiu o STJ, ao debater caso de detento que, tentando uma fuga, causou pequeno dano a obstáculo que buscava transpassar: “[…] O injusto penal, como fato típico e ilícito, exige a congruência do desvalor da ação e do desvalor do resultado. O desvalor do resultado consiste na lesão ou no perigo de lesão ao bem jurídico protegido. Inexistindo o desvalor do resultado, porque ausente ou ínfima a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido, o que se evidencia no dano ao Estado avaliado em R$ 10,00 (dez reais), não há injusto penal, não há tipicidade. Aplicação do princípio da insignificância. […]”. Não é cabível a aplicação do princípio da insignificância ao dano qualificado. Jurisprudência em teses (Edição nº 87): 5 - Não é possível a aplicação do princípio da insignificância nas hipóteses de dano qualificado, quando o prejuízo ao patrimônio público atingir outros bens de relevância social e tornar evidente o elevado grau de periculosidade social da ação e de reprovabilidade da conduta do agente. d) Sujeitos do delito: ● Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), EXCETO o proprietário da coisa. ● Sujeito passivo: proprietário e o possuidor da coisa. e) Tipicidade subjetiva: DOLO Não há dano culposo. f) Tipicidade objetiva: Há três verbos figurando no núcleo do tipo: ✔ Destruir - aniquilar, eliminar. ✔ Inutilizar - é tornar inservível, sem uso, sem aplicação para a sua finalidade. ✔ Deteriorar - significa estragar, arruinar, ou seja, mesmo sem a destruição da coisa ela perde parte de seu valor econômico ou sua utilidade, sendo algo mais leve que a inutilização. ● Tipo penal misto alternativo - a prática de mais de um desses verbos no mesmo contexto fático não importa pluralidade de delitos, mas crime único. ● Crime de forma livre – não há meios executórios específicos. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 71 ● Somente pode praticar o crime de dano através de uma CONDUTA COMISSIVA ou OMISSIVA IMPRÓPRIA. 7.1 Dano Qualificado Dano qualificado Parágrafo único - Se o crime é cometido: I - com violência à pessoa ou grave ameaça; II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave; III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos; (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017) IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. Inciso I: com violência à pessoa ou grave ameaça; A violência pode ser: Violência material (“vis corporalis”) ou Violência moral (“vis compulsiva”). A violência, material ou moral, não é a finalidade direta do agente, mas uma forma de se alcançar acessoà coisa que se pretende danificar. Por isso, a violência deve ser empregada ANTES do dano. Inciso II: COM emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave; O inciso II tipifica o dano praticado mediante o emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave. A ressalva do dispositivo se refere aos crimes de perigo comum previstos nos artigos 250 e 251 do CP, punidos de forma mais severa por exporem a um risco concreto de lesão à incolumidade pública. Nessa hipótese, o dano qualificado é absorvido sempre que a conduta gerar perigo comum. ● Inciso III: Contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos; O DF só foi incluído no inciso III do parágrafo único do artigo em 2017. Não se enquadra como dano qualificado a lesão a bens das entidades não previstas expressamente no rol do art. 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal, em sua redação originária - anterior à alteração legislativa promovida pela Lei n. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13531.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13531.htm#art2 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 72 13.531/2017 -, em razão da vedação da analogia in malam partem no sistema penal brasileiro. Por sua vez, a Quinta Turma, no acordão paradigma, decidiu que "o inciso III do parágrafo único do art. 163 do Código Penal, ao qualificar o crime de dano, não faz menção aos bens do Distrito Federal. Dessa forma, o entendimento desta Corte perfilha no sentido de que ausente expressa disposição legal nesse sentido, é vedada a interpretação analógica in malam partem, devendo os prejuízos causados ao patrimônio público distrital configurarem apenas crime de dano simples, previsto no caput do referido artigo". (Info 768 STJ) Nesse conceito estão integrados os bens públicos de uso comum ou especial (pois podem se transformar em bens patrimoniais, bastando a iniciativa do poder estatal) Não há menção ao chamado “terceiro setor” (os integrantes do “Sistema S”, como SENAI, SESC e outros, as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, as Organizações Sociais – OS, etc.). Cuidado! Segundo o STF e a doutrina, comete o crime de dano qualificado o preso que, para evadir- se, danifica o estabelecimento prisional (basta o dolo genérico). Para o STJ, por sua vez, o mero dano para fugir não configura crime de dano qualificado, tendo em vista que esse crime exige dolo específico consistente na intenção de prejudicar o poder público (no caso julgado, a municipalidade). Jurisprudência em teses (Edição nº 87): O delito de dano ao patrimônio público, quando praticado por preso para facilitar a fuga do estabelecimento prisional, demanda a demonstração do dolo específico de causar prejuízo ao bem público (animus nocendi), sem o qual a conduta é atípica. Jurisprudência em teses (Edição nº 220): Não é possível aplicar o princípio da insignificância ao crime de dano qualificado ao patrimônio público, diante da lesão a bem jurídico de relevante valor social, que afeta toda a coletividade. Se um indivíduo que tinha uma fazenda em uma terra indígena, ao receber ordem para desocupar o local, destrói as acessões (construções e plantações) que havia feito no local, ele pratica, em tese, o delito de dano qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do CP). Isso porque essas terras pertencem à União (art. 20, XI, da CF/88), de forma que, consequentemente, as acessões também são patrimônio público federal. STF. 2ª Turma. Inq 3670/RR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/9/2014 (Info 760). ● Inciso IV: Por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima. A última qualificadora refere-se ao motivo egoístico para o cometimento do delito ou ao considerável prejuízo causado à vítima. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 73 ● Motivo egoístico - é aquele baseado na satisfação de um interesse futuro, econômico ou moral, desde que exacerbado. ● Prejuízo considerável - não deve ser avaliado pelo valor da coisa danificada, mas pelas consequências econômicas que o ato acarreta ao sujeito passivo. 7.2 Ação Penal Art. 167, CP. Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa. ● Art. 163, caput: infração de menor potencial ofensivo. ● Art. 163, parágrafo único: infração de médio potencial ofensivo. ● Ação penal privada - dano simples (caput) e dano qualificado por motivo egoístico ou considerável prejuízo. ● Ação penal pública incondicionada - nas demais hipóteses. ARTS. 164 AO 166, CP: LEITURA DO CÓDIGO PENAL! Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia Art. 164, CP. Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico Art. 165, CP. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Obs.: A doutrina defende que o art. 165 foi revogado tacitamente pela Lei de Crimes Ambientais. Alteração de local especialmente protegido Art. 166, CP. Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 8. APROPRIAÇÃO INDÉBITA (ART. 168, CP) Art. 168, CP. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 74 Aumento de pena § 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: I - em depósito necessário; II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; III - em razão de ofício, emprego ou profissão. a) Conceito: Como já falamos um pouco antes, na explicação do furto, trata-se da conduta de apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção. ∘ Então, aqui, o agente recebe da própria vítima a posse desvigiada do bem e não a restitui. ∘ Não abrange coisa imóvel. b) Objeto jurídico e objeto material (mesmas considerações sobre o furto): Objeto material: coisa alheia móvel, podendo ser coisa fungível. c) Sujeitos do delito: ● Sujeito ativo - Crime comum ∘ Possuidor ou detentor (locatário, caixeiro-viajante, simples possuidor da coisa etc.) que tenha a coisa de forma legítima. ∘ Deve haver a POSSE LÍCITA e DESVIGIADA. ∘ O proprietário não pode figurar no polo ativo, pois a coisa deve ser alheia. ∘ Se o sujeito ativo for funcionário público no exercício de suas funções ou em razão delas, o delito será de peculato. ● Sujeito passivo - proprietário d) Elemento subjetivo: A apropriação indébita só existe na forma dolosa. Dolo - Vontade livre e consciente de fazer sua a coisa alheia móvel de que o sujeito ativo tem posse ou detenção. ATENÇÃO: O dolo de ficar com a coisa surge depois da entrega, de modo que, se restar demonstrado qualquer dolo “ab initio”, restará desconfigurada a apropriação indébita, podendo o agente incorrer em crime de furto ou estelionato. e) Requisitos ● Entrega voluntária do bem pela vítima; ● Posse ou detenção desvigiada; ● Boa-fé do agente ao tempo do recebimento do bem; DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 75 ● Modificação posterior no comportamento do agente: essa alteração pode se verificar de duas formas: (i) práticade algum ato de disposição; ou (ii) recusa na restituição. f) Consumação e tentativa Consuma-se no momento em que o agente inverte o título da posse ou da detenção, passando a exercer sobre a coisa atos de domínio. É difícil precisar, pois depende de uma atividade subjetiva. Para a doutrina majoritária, é possível a tentativa g) Extinção da Punibilidade: Houve uma evolução jurisprudencial acerca da possibilidade de extinção da punibilidade caso restituída a coisa. Em um primeiro momento, o STJ aceitava a extinção da punibilidade do crime de apropriação indébita, caso houvesse a restituição da coisa apropriada antes do recebimento da denúncia. O STJ fazia um paralelo com a jurisprudência já consolidada do STF referente à fraude no pagamento por meio de cheque, constante na súmula 554, “a contrário sensu”. (Inf. 409, STJ). No entanto, houve uma evolução jurisprudencial, de modo que, atualmente, a jurisprudência não mais aceita a extinção da punibilidade pelo delito de apropriação indébita. Portanto, caso restituída a coisa apropriada, poderá incidir o privilégio previsto no art. 155, §2º (nos termos do art. 170 do CP) ou arrependimento posterior (art. 16). “Assim, no delito de apropriação indébita, a devolução da quantia apropriada antes do recebimento da denúncia não enseja a extinção da punibilidade (HC n. 200.939/RS, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 9/10/2012 e REsp n. 843.713/RS) sendo apenas causa de redução de pena, nos termos do art. 16 do CP, razão pela qual deve ser retomado o curso da ação penal.” STJ, AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.156.218 – GO. h) Causas de aumento de pena: Tornam o delito de elevado potencial ofensivo; Aumento de pena § 1º - A pena é aumentada de 1/3, quando o agente recebeu a coisa: I - em depósito necessário; II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; III - em razão de ofício, emprego ou profissão. ⋅ Tutor - administra os bens e cuida de pessoa menor de dezoito anos. ⋅ Curador - cuida do maior de idade incapaz, também administrando seus bens. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 76 ⋅ Liquidatário - pessoa que tem o poder para promover a liquidação. ⋅ Inventariante - encarregado de administrar o espólio. ⋅ Testamenteiro - pessoa responsável por dar efetivo cumprimento às disposições do testamento. ⋅ Depositário judicial - pessoa responsável pela salvaguarda de objetos apreendidos em ações judiciais. ⋅ Síndico - o “síndico” que trata o artigo é síndico da massa falida (que hoje é chamado de administrador judicial), e não o síndico de condomínio. Atenção! O sócio-administrador, nomeado depositário judicial, que deixa de depositar, em Juízo, parte do faturamento da sociedade empresária, comete o crime de apropriação indébita? Para a 6ª Turma do STJ: SIM. O fiel depositário de penhora judicial sobre o faturamento está sujeito às penas previstas no art. 168, § 1º, II, do Código Penal. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.871.947/PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/4/2022. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.853.281/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 13/3/2023. Para a 2ª Turma do STF: NÃO. O sócio-administrador, nomeado depositário judicial, que deixa de depositar, em Juízo, parte do faturamento da sociedade empresária, não comete o crime de apropriação indébita, porquanto falta a elementar do tipo “alheia”. Caso equiparado à prisão do depositário infiel. Violação à Súmula Vinculante 25. O ordenamento jurídico prevê outros meios processual-executórios postos à disposição do credor-fiduciário para a garantia do crédito, de forma que a prisão civil, como medida extrema de coerção do devedor inadimplente, não passa no exame da proporcionalidade como proibição de excesso, em sua tríplice configuração: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. STF. 2ª Turma. HC 203217, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2021. STF. 2ª Turma. HC 215.102/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, redator do acórdão Min. Nunes Marques, julgado em 17/10/2023 (Info 1113). Obs.: Apropriação indébita x furto/estelionato ● No furto e no estelionato - o apossamento da coisa é revestido de ilegalidade, seja em virtude da subtração, seja em virtude da fraude. ∘ No furto qualificado pelo abuso de confiança, a posse é vigiada, ao passo que, na apropriação indébita, a posse é desvigiada. ● Na apropriação - o apossamento é legítimo, livre de qualquer vício. A conduta criminosa ocorre depois do apossamento. 8.1 Apropriação Indébita Previdenciária (Art. 168-A) DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 77 ATENÇÃO! Grande probabilidade de ser cobrado no concurso para Delegado Federal. O crime de apropriação indébita previdenciária é de competência da Justiça Federal, portanto, a investigação é conduzida, em regra, pela Polícia Federal. Importante saber diferenciar este delito da sonegação previdenciária, memorizar quais são as causas extintivas da punibilidade e quando ocorrem, bem como estar atendo à jurisprudência dos Tribunais Superiores, principalmente no que tange à natureza jurídica (a posição da jurisprudência é de que se trata de crime material) e impossibilidade de aplicação do princípio da insignificância. Apropriação indébita previdenciária (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Art. 168-A, CP. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art168a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art168a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art168a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art1 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 78 àquele estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 13.606, de 2018) a) Classificação ∘ Crime comum ∘ Crime doloso ∘ Crime de forma livre ∘ Crime unissubjetivo ∘ Crime unissubisistente ∘ Crime instantâneo b) Conceito e bem jurídico: Apesar de inserido no título referente aos crimes contra o patrimônio, o crime de apropriação indébita previdenciária tutela a Seguridade Social, mais precisamente o sistema previdenciário. Isso porque o crime consiste em deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional. Temos, portanto, o seguinte panorama: ∘ Bem jurídico imediato - seguridade social – definido constitucionalmente no art. 194, CF/88 ∘ Bem jurídico mediato - ordem tributária, pois contribuição previdenciária é espécie de tributo e ordem econômica, em razão da preservação da livre iniciativa em face das empresas que cumprem regularmente suas obrigações tributárias e são prejudicadas perante aquelas que não honram sua obrigação junto ao Fisco. c) Objeto material do crime - É a contribuição previdenciária arrecadada e não recolhida. d) Sujeitos do delito: ● Sujeito passivo – é a União Federal que, por meio da Receita Federal do Brasil, arrecada e fiscaliza as contribuições previdenciárias. ● Sujeito ativo: crime comum (para a doutrina majoritária) Considerações importantes sobre o sujeito ativo: ✔ Admite coautoria e participação. ✔ Pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo do crime por ausência de previsão constitucional. ✔ Empregador doméstico e administrador judicial de massa falida podem ser sujeito ativo. e) Conduta: O tipo objetivo tipifica como crime a conduta de deixar de repassar, à previdência social, os valores recolhidos dos contribuintes no prazo e forma legal (no caso de previdência oficial), ou no prazo e forma convencional (em se tratando de previdência privada). Deixar de repassar significa não recolher, ou seja, reter, de forma indevida, a quantia descontada ou cobrada do contribuinte. Ressalta-se que não basta deixar de repassar à previdência social as contribuições http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13606.htm#art17 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 79 recolhidas dos contribuintes, é indispensável que o não repasse seja feito “no prazo e forma legal ou convencional”, de modo que, sem esse elemento específico, não haverá crime. Considerações sobre o crime: ✔ Crime omissivo próprio, portanto, não admite tentativa. ✔ Norma penal em branco homogênea (deve ser complementada pela legislação previdenciária). ✔ §1º- Figuras equiparadas também omissivas. Juris em teses STJ ed. 220: O princípio da insignificância não se aplica aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária, pois esses tipos penais protegem a própria subsistência da Previdência Social. Juris em teses STJ – ed. 87: O delito de apropriação indébita previdenciária constitui crime omissivo próprio, que se perfaz com a mera omissão de recolhimento da contribuição previdenciária dentro do prazo e das formas legais, prescindindo, portanto, do dolo específico. A apropriação indébita previdenciária é crime instantâneo e unissubsistente, sendo a mera omissão de recolhimento da contribuição previdenciária dentro do prazo e das formas legais suficiente para a caracterização da continuidade delitiva. f) Elemento subjetivo: Dolo Ao contrário da apropriação indébita comum – cuja conduta típica é “apropriar-se”, a apropriação indébita previdenciária não pressupõe finalidade especial, pois consiste apenas em “deixar de repassar”. É prescindível o “animus rem sibi habendi”. STF - “A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que para a configuração do delito de apropriação indébita previdenciária não é necessário um fim específico, ou seja, o animus rem sibi habendi, bastando para nesta incidir a vontade livre e consciente de não recolher as importâncias descontadas dos salários dos empregados da empresa pela qual responde o agente”. STJ - “Em crimes de sonegação fiscal e de apropriação indébita de contribuição previdenciária, este Superior Tribunal de Justiça pacificou a orientação no sentido de que sua comprovação prescinde de dolo específico sendo suficiente, para a sua caracterização, a presença do dolo genérico consistente na omissão voluntária do recolhimento, no prazo legal, dos valores devidos”. g) Insignificância Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes de sonegação de contribuição previdenciária e apropriação indébita previdenciária, tendo em vista a elevada reprovabilidade dessas condutas, que atentam DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 80 contra bem jurídico de caráter supraindividual e contribuem para agravar o quadro deficitário da Previdência Social (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1783334/PB, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/11/2019). h) Consumação: Existe divergência sobre a classificação do crime quanto ao momento consumativo: ∘ 1ª Corrente - Doutrina majoritária: crime formal, de resultado cortado, de consumação antecipada. Consuma-se com a conduta negativa de “deixar de repassar”, não sendo necessário que o agente que deixa de recolher enriqueça ilicitamente e nem que haja o efetivo prejuízo ao erário. ∘ 2ª Corrente – Tribunais Superiores: crime material, dependendo da lesão aos cofres da União. É claro que a previdência social suporta prejuízo imediato no momento em que alguém deixa de repassar as contribuições já recolhidas dos contribuintes. O crime de apropriação indébita previdenciária, previsto no art. 168-A, § 1º, I, do Código Penal, possui natureza de delito material, que só se consuma com a constituição definitiva, na via administrativa, do crédito tributário, consoante o disposto na Súmula Vinculante n. 24 do Supremo Tribunal Federal. STJ. 3ª Seção. REsp 1.982.304-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 17/10/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1166) (Info 792) Inclusive, conforme entendimento do STJ, a prescrição da pretensão punitiva do crime de apropriação indébita previdenciária permanece suspensa enquanto a exigibilidade do crédito tributário estiver suspensa em razão de decisão de antecipação dos efeitos da tutela no juízo cível. A prescrição da pretensão punitiva do crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) permanece suspensa enquanto a exigibilidade do crédito tributário estiver suspensa em razão de decisão de antecipação dos efeitos da tutela no juízo cível. Isso porque a decisão cível acerca da exigibilidade do crédito tributário repercute diretamente no reconhecimento da própria existência do tipo penal, visto ser o crime de apropriação indébita previdenciária um delito de natureza material, que pressupõe, para sua consumação, a realização do lançamento tributário definitivo. STJ. 5ª Turma. RHC 51596-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/2/2015 (Info 556). ATENÇÃO!!! Os delitos de apropriação indébita previdenciária e desonegação de contribuição previdenciária, previstos respectivamente, nos arts. 168-A e 337-A do CP, embora sejam do mesmo gênero, são de espécies diversas; obstando a benesse da continuidade delitiva. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1868826/CE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/02/2021 i) Formas equiparadas (§1º) O § 1º do art. 168-A do CP traz três figuras equiparadas ao crime de apropriação indébita previdenciária. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 81 Art. 168-A, CP. (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: [conduta omissiva] Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. ● Inciso I – Nas palavras do professor Cleber Masson: “Este tipo penal visa incriminar a conduta do denominado “substituto tributário” ou “contribuinte de direito”, que recebe por lei a atribuição de arrecadar e recolher o tributo devido pelo contribuinte de fato. Ressalta-se que o objeto material também é diverso. Enquanto o caput limita-se às contribuições sociais, o inciso I criminaliza o não repasse de “outras importâncias destinadas à previdência social”. ● Inciso II - A grande diferença, nesse caso, é que não há ausência de repasse de importâncias descontadas do pagamento de terceiros, mas sim daquelas contabilizadas como embutidas nos custos de produtos ou serviços. Portanto, se no preço final do produto ou serviço há valor embutido a título de contribuição devida, mas não repassada à previdência social, restará caracterizado o presente delito. ● Inciso III - A conduta consiste no fato de o agente deixar de pagar ao segurado o benefício (Ex.: salário família), embora já tenha recebido recursos para tanto da Previdência Social. j) Causa extintiva da punibilidade (§2º). Art. 168-A, CP. (...) § 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. CESPE/CEBRASPE – 2018 – Delegado de Polícia Federal: Pedro é o responsável pelo adimplemento das contribuições previdenciárias de uma empresa de médio porte. Nos meses de janeiro a junho de 2018, a empresa entregou a Pedro o numerário correspondente ao valor das contribuições previdenciárias de seus empregados, mas Pedro, com dolo, deixou de repassá- lo à previdência social. Pedro é primário e de bons antecedentes. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 82 1) Nessa situação hipotética, a punibilidade de Pedro será extinta se, antes do início da ação fiscal, ele declarar, confessar e efetuar o recolhimento das prestações previdenciárias, espontaneamente e na forma do regulamento do INSS. Item correto. 2) Pedro praticou o crime de sonegação de contribuição previdenciária. Item errado. Comentários: A conduta narrada configura o crime de apropriação indébita previdenciária, previsto no tipo penal do artigo 168 -A do Código Penal. O crime se configura com a falta do repasse as contribuições previdenciárias de seus empregados, já recolhidas do empregado, que é o verdadeiro contribuinte. A empresa faz as vezes, no caso, de responsável tributário, que tem a atribuição legal de efetivar o repasse do tributo para Fisco ou para a Previdência Social. É importante ressaltar que, embora o artigo fale em “antes do início da ação fiscal, existem julgados dizendo que o pagamento integral do débito tributário, a qualquer tempo, até mesmo após o trânsito em julgado da condenação, é causa de extinção da punibilidade do agente, nos termos do art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003. Portanto, tenha cuidado se o enunciado vai pedir a letra da lei ou o entendimento dos Tribunais Superiores! · STJ. 5ª Turma. HC 362478-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/9/2017. · STF. 2ª Turma. RHC 128245, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/08/2016. O pagamento integral do débito previdenciário, ainda que no curso da execução penal, é causa de extinção da punibilidade (STF, 2ª Turma, RHC 128245, j. 23/08/16). k) Perdão judicial e aplicação isolada da pena de multa Art. 168-A, CP. (...) § 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. Exige-se como requisitos cumulativos para a aplicação isolada de multa ou para a concessão do perdão judicial (hipótese em que será extinta a punibilidade do agente), que: i. O agente seja primário; ii. O agente possua bons antecedentes. Em relação ao inciso I, explica o professor Cleber Masson: DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 83 A hipótese disciplinada pelo inciso I não mais se aplica, em decorrência da regra contida no art. 9º, § 2º, da Lei 10.684/2003 (ver art. 168-A, item 2.8.4.17), permissiva do pagamento do débito previdenciário a qualquer tempo, até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, para fins de extinção da punibilidade. Destarte, o pagamento da contribuição previdenciária, atualmente, é idôneo a acarretar a eliminação do direito de punir em um prazo mais dilatado, de modo mais interessante ao réu. Em relação ao inciso II, apesar de válido, é de difícil aplicação prática, pois os requisitos autorizadores do perdão judicial ou da pena de multa abrem ensejo para o princípio da insignificância, causa supralegal de exclusão da tipicidade, e, portanto, indiscutivelmente mais favorável ao réu. CUIDADO: Caso o agente seja beneficiado pela concessão do parcelamento do débito devido como contribuição social previdenciária, cujo valor seja superior ao estabelecido como mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais, não será possível aplicar-lhe isoladamente a multa ou o perdão judicial, por expressa previsão legal. Art. 168-A, CP. (...) § 4º A faculdade prevista no § 3º deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. l) Aspectos procedimentais ● Necessidade de prévio esgotamento da via administrativa: Para o STF e STJ, exige-se o prévio esgotamento da via administrativa. Assim, enquanto não encerrado o processo administrativo relativo à existência, valor ou exigibilidade do crédito tributário, o Ministério Público não pode oferecer a denúncia pelo crime previsto no art. 168-A, CP, tampouco pode ser instaurado inquérito policial para a investigação do delito. ● Competência: Em regra, a competência é da Justiça Federal, por se tratar de crime praticado em detrimento dos interesses da União, na forma do art. 109, IV, CF/88. Excepcionalmente, porém, poderá ser competência da Justiça Estadual se o tributo suprimido for a contribuição estabelecida no art. 149, §1º da CF/88. ARTS. 169 E 170, CP – LEITURADO CÓDIGO PENAL. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 84 Atenção para a previsão do art. 169, II – já comentamos que é crime a prazo (só é crime depois de preenchido o tempo legal) e de conduta mista (comissivo e omissivo). Há aplicação do privilégio do furto. Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza Art. 169, CP. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Na mesma pena incorre: Apropriação de tesouro I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio; Apropriação de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no PRAZO DE 15 DIAS. Art. 170, CP. Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º. 9. ESTELIONATO (ART. 171, CP) ESTELIONATO Art. 171, CP. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. (Vide Lei nº 7.209, de 1984) § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º. § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Disposição de coisa alheia como própria I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria; Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art2. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 85 I - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias; Defraudação de penhor III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado; Fraude na entrega de coisa IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém; Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro; Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro; Fraude no pagamento por meio de cheque VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. Fraude eletrônica § 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) § 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) § 3º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência. Estelionato contra idoso ou vulnerável § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a RELEVÂNCIA DO RESULTADO GRAVOSO. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 86 § 5º Somente se procede mediante representação, SALVO SE A VÍTIMA FOR: I - a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - pessoa com deficiência mental; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) a) Conceito: é o crime contra o patrimônio em que o agente se vale de fraude para enganar a vítima e obter, para si ou para outrem uma vantagem indevida em prejuízo alheio. Exige o binômio: VANTAGEM INDEVIDA + PREJUÍZO ALHEIO! ⋅ Se tenho fraude e não tenho prejuízo - não há estelionato. ⋅ Se tenho fraude e não tenho vantagem - não há estelionato. ⋅ Se tenho prejuízo e vantagem, mas não tenho fraude - não há estelionato. É necessário o prejuízo alheio para configuração do crime de estelionato! STJ b) Crime de médio potencial ofensivo – pena mínima de 1 ano, cabendo suspensão condicional do processo. c) Objeto jurídico: PATRIMÔNIO da pessoa que perde o bem - inviolabilidade patrimonial (interesse de cunho privado). d) Objeto material: pessoa física ludibriada pela fraude e a coisa ilicitamente obtida pelo agente. e) Núcleo do tipo: “obter” – tratando-se, portanto, de crime material. A obtenção da vantagem ilícita em prejuízo alheio deve ser: ● Induzindo (o próprio agente que gera na vítima a falsa percepção da realidade); ou ● Mantendo a vítima em erro (a vítima já está enganada e o agente se aproveita disso – fica em silêncio); ● Mediante: ∘ Artifício (fraude material – documento falso, falso bilhete premiado, falso uniforme) ∘ Ardil (fraude intelectual – conversa enganosa) ∘ Qualquer outro meio fraudulento (inclusive por omissão). Artifício é a astúcia ou dissimulação utilizada para que alguém interprete os fatos de forma errada. Ardil é a sagacidade, o estratagema, a armação ou cilada. Qualquer outro meio fraudulento traduz-se em uma cláusula de interpretação extensiva, que deve ser feita com base nos exemplos de artifício ou ardil. Obs.1: A vantagem deve ser indevida. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 87 Obs.2: Ficam excluídos os meios violentos, intimidadores ou clandestinos – exige-se a ilusão da vítima Há estelionato na hipótese de a pessoa pagar por um trabalho espiritual ou atividade mística? R.: A atividade nesse sentido pode configurar estelionato se: i. Patente a ineficácia da prática; ii. O sujeito passivo crê na possibilidade de ocorrência do resultado; iii. O sujeito ativo tem consciência de agir fraudulentamente. ⮚ Esta é justamente a diferença entre estelionato e curanderismo. Neste, o agente crê no resultado. No estelionato, não. O agente atua com consciência da fraude. Fique atento à jurisprudência pertinente sobre o tema: Adulterar o sistema de medição da energia elétrica para pagar menos que o devido: estelionato (não é furto mediante fraude) A alteração do sistema de medição, mediante fraude, para que aponte resultado menor do que o real consumo de energia elétrica configura estelionato. Ex.: as fases “A” e “B” domedidor foram isoladas por um material transparente, que permitia a alteração do relógio fazendo com que fosse registrada menos energia do que a consumida. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.418.119-DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 07/05/2019 (Info 648). CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIR: • Agente desvia a energia elétrica por meio de ligação clandestina (“gato”): crime de FURTO (há subtração e inversão da posse do bem). • Agente altera o sistema de medição para que aponte resultado menor do que o real consumo: crime de ESTELIONATO. f) Sujeitos do delito: ● Sujeito ativo: qualquer pessoa que emprega a fraude. ● Sujeito passivo: tanto quem é ludibriado pelo agente como quem sofre diminuição do patrimônio. A fraude deve ser endereçada a uma pessoa física, mas o dano patrimonial pode ser causado tanto a uma pessoa física como também a uma pessoa jurídica. O sujeito passivo do estelionato deve ser pessoa certa e determinada, por isso, as condutas dirigidas a pessoas incertas e indeterminadas não configurarão estelionato. O autor Cleber Masson exemplifica: a adulteração de bomba de posto de combustível ou de balança de supermercado configuram crime contra a economia popular (art. 2º, XI, Lei nº 1.521/51). Todavia, se alguém for efetivamente lesado, teremos concursos formal entre estelionato (contra vítima certa e determinada) e crime contra a economia popular (vítimas incertas e indeterminadas). Contudo, o STJ, no Informativo 711, decidiu que em crime contra a economia popular por pirâmide financeira, a identificação de algumas vítimas não autoriza a responsabilização do agente por estelionato. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 88 A controvérsia em análise cinge-se à configuração de crime único e à ocorrência de bis in idem, diante da imputação, ao ora recorrente, da incursão nos arts. 171 do Código Penal e 2º, IX, da Lei n. 1.521/1951: Importante distinção entre os aspectos material e processual do ne bis in idem reside nos efeitos e no momento em que se opera essa regra. Sob a ótica da proibição de dupla persecução penal, a garantia em tela impede a formação, a continuação ou a sobrevivência da relação jurídica processual, enquanto que a proibição da dupla punição impossibilita tão somente que alguém seja, efetivamente, punido em duplicidade, ou que tenha o mesmo fato, elemento ou circunstância considerados mais de uma vez para se definir a sanção criminal. 3. No caso em análise, vê-se que a descrição das circunstâncias fáticas que permeiam os ilícitos imputados ao recorrente – crime contra a economia popular e estelionatos – são semelhantes, pois mencionam a prática de "golpe" em que ele e os coacusados induziriam as vítimas em erro, mediante a promessa de ganhos financeiros muito elevados, com o intuito de levá-las a investir em suposta empresa voltada a realizar apostas em eventos esportivos. A diferença está na identificação dos ofendidos nos estelionatos. 4. Em situação similar, esta Corte Superior já decidiu que, nas hipóteses de crime contra a economia popular por pirâmide financeira, a identificação de algumas das vítimas não enseja a responsabilização penal do agente pela prática de estelionato. Precedentes. 5. Recurso provido para, diante do bis in idem identificado na hipótese, determinar o trancamento do processo, em relação ao ora recorrente, no que atine aos crimes de estelionato (fatos 4º ao 29º da denúncia). STJ, RHC 132.655/RS, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 28.09.2021, noticiado no Informativo 711. ATENÇÃO! Apesar desse julgado, a quinta Turma do STJ vê possível estelionato em ações de grupo acusado de explorar pirâmide financeira. Leia o julgado didático que expõe a possibilidade de se averiguar o crime de Estelionato: Configura crime contra a economia popular "obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos ("bola de neve' 'cadeias' 'pichardismo' e quaisquer outros equivalentes)", nos termos do art. 20, IX, da Lei 1.521/1951. Já o crime de estelionato (art. 171, caput, do CP) é dirigido contra o patrimônio individual. Como regra, a pirâmide financeira ou a criação de site na internet sob o falso pretexto de investimento emcriptomoedas subsume ao delito do art. 20, IX, da Lei 1.521/1951. Assim, narrados casos de prejuízos genéricos por infinidade de usuários, sem verificação de conduta transcendente, mas mera cooptação pelo site eletrônico, ainda que possível identificar algumas vítimas, verifica-se apenas o DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 89 crime contra a economia popular. Porém, havendo o aliciamento particularizado, mediante induzimento e convencimento, de vítimas determinadas, através de emissários dos agentes criminosos principais, torna-se possível falar, em tese, em concurso de crimes entre o delito contra a economia popular e o estelionato. Isto porque, paralelamente ao ato voltado contra o público em geral (sítio eletrônico para angariar vítimas), verificam-se condutas autônomas de aliciadores voltadas contra o patrimônio particular de vítimas específicas, cuja adesão ao site (instrumento para a fraude) se revela apenas como exaurimento do estelionato. STJ. 5a Turma. RHC 161.635/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/08/2022. Obs.1: Deve tratar-se de vítima com capacidade de discernimento. Caso seja incapaz, configura-se o delito de abuso de incapaz (art. 173 do CP). E se for sem qualquer capacidade de discernimento (ex.: doença mental permanente, cuja pessoa não é capaz de entender e discernir as consequências dos próprios atos), o delito será de furto. Obs.2: Prevalece na doutrina que a torpeza bilateral não afasta o crime! Entenda: O estelionatário muitas vezes se vale da “falsa esperteza”, da ganância da vítima. Assim, surge a seguinte dúvida: havendo fraude bilateral (do agente e da vítima), há exclusão do crime? NÃO, tendo em vista que a boa-fé da vítima não é elementar do tipo. g) Elemento subjetivo: dolo, com especial fim de agir. h) Consumação: Consuma-se com o emprego de fraude que deve causar a obtenção de vantagem ilícita e a efetiva causação de prejuízo alheio. Crime de duplo resultado. Em síntese, três coisas são necessárias: fraude, vantagem e prejuízo. Tentativa: é crime plurissubsistente, sendo cabível a tentativa. i) Privilégio: É aplicável a privilegiadora do furto Atenção: algumas situações possuem tipos penais específicos, como o caso de adulteração de combustível (art. 1º da Lei 8176/91); indução ou manutenção em erro relativa a operação financeira (art. 6º da Lei 7.492/86); fraude no resultado de competição esportiva (art. 41-E da Lei 12.299/10), dentre outros. Há também subtipos do estelionato: ● Inciso III - Defraudação de “Penhor”: Se for defraudação da “penhora” e com isso o devedor ficar insolvente, será o delito do art. 179 (fraude à execução), sendo que, caso não fique insolvente, será penalmente atípico. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 90 ● Inciso IV – Fraude na entrega de coisa: não é aplicável às fraudes no comércio. Nestes casos específicos, serão aplicáveis o CDC ou a Lei 8.137/90, conforme a situação. Antes seria o crime do artigo 175 do CP, mas a doutrina entende que foi tacitamente revogado pelos dispositivos já citados. ● Inciso V – Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro: é uma modalidade de estelionato que é CRIME FORMAL. Não há a necessidade de que venha efetivamente a receber indenização ou seguro. Caso um terceiro perpetre a fraude sem o conhecimento do segurado para beneficiar a si próprio, a figura penal é a do 171, caput. Obs.: Segurado não é nunca sujeito passivo. Se houver lesão ao seu corpo por terceiro, ele será vítima de lesão corporal ou outro crime violento, masmajoritária, NÃO. Justamente por ser coisa própria, faltando a elementar “alheia”. Pode ser caracterizado o crime previsto no art. 346 do CP, qual seja, defraudação de penhor. E se o sujeito ativo for um funcionário público, que subtrai em razão da facilidade que sua função lhe proporciona? R.: O funcionário público que subtrai ou concorre para que o bem, sob a guarda ou custódia da Administração Pública, seja subtraído, valendo-se da facilidade que seu cargo lhe proporciona, pratica o crime de peculato furto (CP, art. 312, § 1º), também conhecido como peculato impróprio. e) Elemento subjetivo: exige dolo genérico + dolo específico: ● Dolo genérico - furto é crime exclusiva e essencialmente doloso. ● Dolo específico - É necessário o “animus rem sibi habendi”, que é o dolo de assenhoramento definitivo da coisa, para si ou para outrem. É por esta razão que o “furto de uso” não configura crime (no CPM configura). No entanto, são necessários os seguintes requisitos para que seja enquadrado como FURTO DE USO: ✔ Intenção, desde o início, de uso momentâneo da coisa subtraída; ✔ Ausência do animus de assenhoramento. ✔ Coisa não consumível (se for coisa consumível, nunca será possível restituir as mesmas coisas nos mesmos moldes ao sujeito passivo); DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 8 ✔ Restituição imediata e integral à vítima. Ex.: empregada que subtrai o vestido de festa da patroa para usá-lo em determinada ocasião e o devolve em perfeito estado. No entanto, caso estrague ou não consiga restituir antes que a proprietária veja, há discussão se haveria o crime de furto ou não, prevalecendo que sim. Há discussão acerca do furto de uso de automóvel, em razão da gasolina, óleo etc., que são consumíveis. No entanto, prevalece que deve ser observado o bem principal, no caso o próprio veículo, sendo sim possível, desde que preenchidos os outros requisitos. f) Núcleo do tipo: “subtrair”. ● Subtrair consiste na retirada da coisa com consequência diminuição patrimonial para o lesado. ● Consumação: o furto se consuma com a inversão da posse do bem (STF-HC 114.329). ⮚ É prescindível (ou seja, dispensável) a posse mansa e pacífica do bem; ⮚ A consumação do furto reclama a lesão patrimonial da vítima; ⮚ O bem não precisa ser transportado para outro local. A subtração pode se dar em dois contextos: 1º) quando o bem é retirado da esfera de disponibilidade da vítima contra a sua vontade; ou 2º) quando o bem é entregue espontaneamente ao agente, mas sob vigilância do ofendido, e o sujeito dele se apodera (p. ex., alguém solicita de um conhecido que lhe mostre seu relógio, coloca-o no pulso e sai correndo). Nesse caso, não ocorre apropriação indébita (CP, art. 168), justamente porque a posse do agente era vigiada. Assim, se uma pessoa entra numa videolocadora, apodera-se de uma mídia qualquer, coloca-a em sua bolsa e a leva, há furto, ao passo que se a pessoa aluga o filme, mas posteriormente decide não o devolver, comete apropriação indébita. Há 4 correntes que tratam do momento consumativo do furto: I. Teoria da contrectatio: a consumação se dá com o SIMPLES CONTATO da pessoa com a coisa. II. Teoria da amotio (apprehensio): a consumação se dá quando há a INVERSÃO DA POSSE, ou seja, quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, ainda que por uma brevidade de tempo. Não há necessidade de deslocamento da coisa, nem de que haja a posse mansa e pacífica do bem. Havendo a inversão, estará consumado o crime de furto. Corrente adotada pelos Tribunais Superiores, objeto, inclusive, da súmula 582 do STJ – que trata do crime de roubo, mas serve também para o furto no que é cabível. Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 9 mansa e pacífica ou desvigiada. STJ. 3ª Seção. REsp 1524450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 572). III. Teoria da ablatio: a consumação ocorre quando, após o assenhoramento da coisa, o agente consiga se DESLOCAR com ela para outro lugar, que não esteja na esfera de vigilância do proprietário. Aqui, é indispensável o deslocamento. IV. Teoria da ilatio: a consumação se dá quando, após o apoderamento da coisa, o agente consegue se DESLOCAR COM ELA PARA UM LOCAL SEGURO. Não basta o deslocamento, deve se deslocar e assegurar a coisa. Assim, caso um funcionário subtraia algo da casa do patrão, por exemplo, mantendo a coisa com ele lá dentro da casa, ainda que seja descoberto antes de sair de lá, para a corrente majoritária, já restará configurado o delito de furto, vez que a coisa saiu da esfera de disponibilidade do dono, que não pode mais exercer livremente seu poder sobre ela, e passou a estar sob a posse do funcionário, dispensando-se qualquer deslocamento para a consumação. ● Tentativa: é admissível. A doutrina discute a seguinte hipótese: um sujeito, visando subtrair o dinheiro do bolso de um transeunte, coloca a mão no bolso da vítima, porém, encontra o bolso vazio. Haveria aqui algum crime? ● 1ª corrente: depende. Se o indivíduo tiver em algum dos bolsos algum bem passível de subtração, mesmo que o agente tenha colocado a mão no que estava vazio, haveria tentativa de crime de furto. Por outro lado, se o agente não tivesse qualquer bem em nenhum dos bolsos, tratar-se-ia de crime seria impossível, pois nunca poderia se consumar. (Cezar Roberto Bitencourt e Mirabete) ● 2ª corrente: Sim, haveria tentativa de furto. Independentemente de o agente ter algo a ser subtraído ou não. (Hungria) Ademais, definiu o STJ que a vigilância constante em supermercado, seja física ou eletrônica, não torna, por si só, o crime de furto um crime impossível. Faz-se necessário analisar se no caso concreto era possível a consumação ou haveria a absoluta ineficácia do meio. Caso a ineficácia seja apenas relativa, restará caracterizado o delito, ao menos na modalidade tentada. Súmula 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto. (CAI MUITO!!!) DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 10 CESPE/CEBRASPE – 2021 – Delegado de Polícia Federal: No que concerne aos crimes previstos na parte especial do Código Penal, julgue o item subsequente. A adoção de sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto. Item correto. CESPE/CEBRASPE – 2018 – Delegado de Polícia Federal: Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior. Sílvio, maior e capaz, entrou em uma loja que vende aparelhos celulares, com o propósito de furtar algum aparelho. A loja possui sistema de vigilância eletrônica que monitora as ações das pessoas, além de diversos agentes de segurança. Sílvio colocou um aparelho no bolso e, ao tentar sair do local, um dos seguranças o deteve e chamou a polícia. Nessa situação, está configurado o crime impossível por ineficácia absoluta do meio, uma vez que não havia qualquer chance de Sílvio furtar o objeto sem que fosse notado. Item errado. - FURTO FAMÉLICO – Também chamado de furto necessitado, é aquele praticado por sujeito que está em extrema miserabilidade e precisa saciar a fome. Pode configurar a causa excludente de ilicitude consistente no estado de necessidade, desde que presente seus requisitos. Caiu na provanão da fraude. Neste caso, o terceiro responderá pelo estelionato e pela lesão em concurso formal e o segurado apenas pelo estelionato, já que o direito brasileiro não pune a autolesão. ● Inciso VI: Sujeito ativo – emitente/sacador/endossante (controverso, mas prevalece que pode). Passivo: tomador/beneficiário do cheque, podendo ser qualquer pessoa. Dois núcleos: emitir ou frustrar. A súmula 246 do STF prevê que “comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos”. Assim, deve estar caracterizada a má-fé, a intenção de obtenção de vantagem indevida. Se for mero descuido, não configurará o crime, sendo fato atípico por ausência de previsão da modalidade culposa. Para o STJ, cheque pré-datado ou pós-datado não configura o delito, tendo em vista ser uma promessa futura de pagamento, uma garantia de crédito, não constituindo ordem de pagamento à vista. NO ENTANTO, caso reste demonstrado que a emissão desse cheque foi fraudulenta, com o objetivo de obter vantagem indevida, configurará o delito do 171, caput. Súmula 554-STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal. Da leitura da súmula a gente infere que o pagamento do cheque emitido sem provisão, ANTES do recebimento da denúncia, OBSTA o prosseguimento da ação penal. Trata-se de causa supralegal de extinção da punibilidade. Mas atenção: para o STF, tal entendimento apenas se aplica ao §2º, VI. Não se aplica caso a conduta da emissão de cheque sem fundos consistir na figura do 171, caput. Apenas caracterizará a causa de diminuição de pena do arrependimento posterior (art. 16, CP). Ex.: agente furtou o cheque e falsificou a assinatura do proprietário, emitindo-o sem provisão de fundos – não se aplica. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 91 9.1 Fraude Eletrônica (§2º-A E 2º-B – inseridos Pela Lei 14.155/20212) A Lei nº 14.155/2021 realizou três alterações no crime de estelionato: ∘ Inseriu o § 2º-A, prevendo a qualificadora do estelionato mediante fraude eletrônica; ∘ Acrescentou o § 2º-B, com uma causa de aumento de pena relacionada com o § 2º-A; ∘ Modificou a redação da causa de aumento de pena do § 4º. Veja a nova qualificadora: Fraude eletrônica Art. 171, CP. (...) § 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. Art. 171, CP. (...) § 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. a) Análise da conduta: O agente obtém vantagem ilícita por meio de informações da vítima que ele obteve da própria vítima ou de um terceiro que foi induzido a erro. O grande diferencial aqui é que a atuação do agente foi por meio eletrônico, ou seja, a vítima ou o terceiro foram induzidos a erro por meio de: · Redes sociais (Ex.: Facebook, Instagram); · Contatos telefônicos (Ex.: simulando que se trata de ligação da operadora de cartão de crédito); · Envio de correio eletrônico fraudulento (Ex.: e-mail que imita correspondência da loja, banco etc.); · Ou qualquer outro meio fraudulento análogo. Cuidado para não confundir: Furto mediante fraude por dispositivo eletrônico ou informático (art. 155, § 4º-B) Estelionato mediante fraude eletrônica (art. 171, § 2º-A) O agente subtrai coisa alheia móvel por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a O agente obtém vantagem ilícita com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, 2 Explicação do professor Márcio Cavalcante DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 92 violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. contatos telefônicos ou e-mail fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. Pena: 4 a 8 anos. Pena: 4 a 8 anos. Exemplo do autor Rogério Sanches: “Aproveitando a vulnerabilidade de pessoas que utilizam uma rede pública de internet, um hacker intercepta a conexão e obtém dados de acesso a contas bancárias. Com esses dados à disposição, acessa as contas e transfere quantias em dinheiro para outra conta da qual efetua saques. É um caso típico de furto mediante fraude, no qual a manobra ardilosa (interceptar os dados transmitidos entre o usuário e o ponto de conexão) é utilizada para que as vítimas sejam despojadas de seus bens sem que nada percebam.” (CUNHA, Rogério Sanches. Lei 14.155/21 e os crimes de fraude digital: primeiras impressões e reflexos no CP e no CPP. Disponível em https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/ 2021/05/28/lei-14-15521-e-os-crimes-de-fraude- digital-primeiras-impressoes-e-reflexos-no-cp-e- no-cpp/) Exemplo do autor Rogério Sanches: “Pretendendo adquirir um televisor, um indivíduo faz uma pesquisa na internet e encontra a página de uma conhecida rede varejista na qual o produto está sendo anunciado por um preço muito abaixo das concorrentes. Insere seus dados pessoais e bancários sem saber que, na verdade, se trata de uma página clonada, que apenas copia os caracteres da famosa rede varejista, para induzir as pessoas em erro. Efetuado o pagamento, o dinheiro é creditado ao autor da fraude, que evidentemente não pretende entregar o produto anunciado. Nesse exemplo, ao contrário do anterior, a vítima tem participação direta, pois, induzida por um anúncio enganoso, fornece os dados para que o autor da fraude possa obter a vantagem. Trata-se, portanto, de estelionato.” b) Causas de aumento de pena Art. 171, CP. (...) § 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. Já o parágrafo 2º-B, também inserido pela Lei 14.155/ 2021, traz uma causa de aumento de pena de um a dois terços. A fração deve ser escolhida pelo critério da relevância do resultado gravoso, como já previsto pela lei. Essa forma majorada incide sobre a forma qualificada do § 2º-A, se o crime for praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. Nesse caso, há maior gravidade pela dificuldade DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 93 de repressão a um delito praticado a partir de um servidor, de um equipamento de informática central, localizado fora do território brasileiro. 9.2 Estelionato Previdenciário (§3º) ATENÇÃO! Outro crime de competência da Justiça Federal, cuja investigação é conduzida pela Polícia Federal. Assim, da mesma forma que ocorre com o art. 168-A, estejam atentos a essa forma majorada de estelionato e na jurisprudência sobre o tema, pois há alta probabilidade de ser cobrado na prova para o cargo de Delegado Federal. Art. 171, CP. (...) § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência. A grande diferença entre o estelionato em seu tipo fundamental e o estelionato previdenciário reside no sujeito passivo, porquanto, no estelionato previdenciário, a fraude será empregada em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência, hipóteseem que haverá uma causa de aumento de pena. Aqui, é necessário diferenciar as duas condutas que ensejam o estelionato previdenciário: a do terceiro que implementa fraude para que uma pessoa diferente possa lograr o benefício – na qual resta configurado crime instantâneo de efeitos permanentes – e a do beneficiário acusado pela fraude, que comete crime permanente enquanto mantiver em erro o INSS. Na hipótese de terceiro implementar a fraude para que outra pessoa possa lograr o benefício: ∘ Ex.: um terceiro apresenta documentos falsos, em favor de alguém, para fraudar o Instituto Nacional da Seguridade Social – INSS, causando o recebimento indevido de benefícios previdenciários ao longo de vários meses, quiçá anos. ∘ Trata-se de crime instantâneo de efeitos permanentes – consumação ocorre em um momento determinado, mas seus efeitos prolongam-se no tempo; ∘ O termo inicial da prescrição é o recebimento da 1ª prestação do benefício indevido. Na hipótese de o próprio beneficiário implementar a fraude, cometendo o delito em benefício próprio ∘ Aqui, temos um crime permanente, que se protrai no tempo enquanto mantiver em erro o INSS. ∘ O termo inicial da prescrição é a data em que cessar a permanência, com o último recebimento indevido da remuneração. O denominado estelionato contra a Previdência Social (CP, art. 171, § 3º), quando praticado pelo próprio beneficiário do resultado do delito, é crime permanente. Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus no qual se pleiteava a declaração de extinção da punibilidade de condenado por fraude contra a Previdência Social em proveito próprio por haver declarado vínculo empregatício DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 94 inexistente com empresas, com o fim de complementar período necessário para a aposentadoria por tempo de contribuição. Consignou-se que o STF tem distinguido as situações: a do terceiro que implementa fraude para que uma pessoa diferente possa lograr o benefício — em que configurado crime instantâneo de efeitos permanentes — e a do beneficiário acusado pela fraude, que comete crime permanente enquanto mantiver em erro o INSS. STF: HC 99.112/AM, rel. Min. Marco Aurélio, 1.ª Turma, j. 20.04.2010, noticiado no Informativo 583. O Superior Tribunal de Justiça compartilha deste entendimento: HC 216.986/AC, rel. originário Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), rel. para acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6.ª Turma, j. 01.3.2012, noticiado no Informativo 492; e HC 181.250/RJ, rel. Min. Jorge Mussi, 5.ª Turma, j. 14.06.2011, noticiado no Informativo 477. O professor Cleber Masson assevera a compatibilidade do estelionato previdenciário com o instituto do crime continuado, previsto no art. 71 do Código Penal. Esse também é o entendimento do STJ: A regra da continuidade delitiva é aplicável ao estelionato previdenciário (art. 171, § 3.º, do CP) praticado por aquele que, após a morte do beneficiário, passa a receber mensalmente o benefício em seu lugar, mediante a utilização do cartão magnético do falecido. Nessa situação, não se verifica a ocorrência de crime único, pois a fraude é praticada reiteradamente, todos os meses, a cada utilização do cartão magnético do beneficiário já falecido. Assim, configurada a reiteração criminosa nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, tem incidência a regra da continuidade delitiva prevista no art. 71 do CP. A hipótese, ressalte-se, difere dos casos em que o estelionato é praticado pelo próprio beneficiário e daqueles em que o não beneficiário insere dados falsos no sistema do INSS visando beneficiar outrem; pois, segundo a jurisprudência do STJ e do STF, nessas situações o crime deve ser considerado único, de modo a impedir o reconhecimento da continuidade delitiva. ATENÇÃO! Quando o estelionato é praticado contra o FGTS ou Previdência Social, não se admite a aplicação do princípio da insignificância, em razão da relevância do prejuízo ocasionado. Também não se admite a extinção da punibilidade pelo pagamento antes do recebimento da denúncia. Estelionato e devolução da vantagem antes do recebimento da denúncia O art. 9º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu é causa de extinção de sua punibilidade. Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato contra o INSS, conhecido como estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP). Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente o prejuízo sofrido pela autarquia. Isso https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d10ec7c16cbe9de8fbb1c42787c3ec26?categoria=11&subcategoria=106&assunto=267 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 95 poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei 10.684/2003? NÃO. Não extingue a punibilidade do crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, do CP) a devolução à Previdência Social, antes do recebimento da denúncia, da vantagem percebida ilicitamente. O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art. 337-A do CP (sonegação de contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP) não está listado nessa lei. Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por analogia em favor do réu? NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais, delitos que são ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem bens jurídicos diferentes. Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia. O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal? SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior, tendo sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 16 do CP). STJ. 6ª Turma. REsp 1380672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/3/2015 (Info 559). 1. Hipótese em que o crime-meio é de gravidade igual (caso seja falsificação de documento particular) ou mais grave (caso seja falsificação de documento público) que o crime-fim, mas é por este absorvido. Contudo, para o STF o agente deve responder em concurso formal pelos dois delitos, justificando que há violação a bens jurídicos diversos (no entanto, já aplicou a súmula 17 do STJ também, de modo que o entendimento sumulado prevalece, mas é bom saber). Súmula 17 do STJ: quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido O delito de estelionato não será absorvido pelo de roubo na hipótese em que o agente, dias após roubar um veículo e os objetos pessoais dos seus ocupantes, entre eles um talonário de cheques, visando obter vantagem ilícita, preenche uma de suas folhas e, diretamente na agência bancária, tenta sacar a quantia nela lançada. A falsificação da cártula não é mero exaurimento do crime antecedente (roubo). Isso porque há diversidade de desígnios e de bens jurídicos lesados. Dessa forma, inaplicável o princípio da consunção. STJ. 5ª Turma. HC 309.939-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em 28/4/2015 (Info 562). 2. Emissão de cheque sem fundos para pagar dívida de jogo se amolda ao tipo penal de estelionato? Não, haja vista se tratar de dívida não exigível, conforme art. 814 do Código Civil. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 96 3. Estelionato judiciário – Se dá quando o agente, mediante documentos ou alegações falsas, ingressa em juízo com a intenção de obter vantagem econômica em prejuízo alheio. Indaga-se: é criminosa tal conduta? Consiste no tipo penal do art. 171? 1 – Entendimento que prevaleceno STJ: NÃO. Não configura estelionato. Na verdade, trata-se de conduta atípica, ou seja, não tipificada em nosso ordenamento jurídico, podendo o agente, no entanto, responder pela ilicitude dos documentos apresentados, como eventuais falsificações, caso o fato se amolde a elas ou outro delito autônomo. 2 – RESSALVA: A 5ª turma do STJ possui decisões no sentido de que, quando não é possível ao magistrado, durante o curso do processo, ter acesso às informações que caracterizam a fraude, é possível a caracterização do crime de estelionato. Por outro lado, caso seja possível que a fraude fique constatada no decorrer da demanda, por qualquer meio de prova, não haverá crime. Caso concreto: Um advogado se utilizou de procuração com assinatura falsa e comprovante de residência adulterado para propor ação indenizatória em nome de terceiro, com objetivo de obter para si vantagem indevida. Tais irregularidades foram constadas durante o próprio processo por meio de perícia determinada. Para o STJ, não houve crime, não ser adequando tal conduta ao tipo penal de estelionato. STJ. 5ª Turma. RHC 53.471-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/12/2014 (Info 554). STJ: O cometimento de estelionato em detrimento de vítima que conhecia o autor do delito e lhe depositava total confiança justifica a exasperação da pena-base em razão da consideração desfavorável das circunstâncias do crime. Existe um plus de reprovabilidade pelo fato de o agente ter escolhido para ser vítima do delito uma pessoa conhecida que lhe depositava total confiança (Inf. 576, STJ). Via Dizer o Direito. 4. Estelionato x crime impossível: a fraude utilizada não tiver qualquer aptidão para enganar um terceiro, o fato será atípico, em razão do reconhecimento de crime impossível, pela absoluta ineficácia do meio, nos termos do artigo 17 do CP. 5. Estelionato x crime impossível x falsificação: se a falsificação for grosseira, porém, com potencial para enganar a vítima, ao invés dos crimes de falso, o agente responderá por estelionato. Contudo, como mencionado antes, caso a falsificação não seja apta a enganar ninguém, será caracterizado crime impossível. Súmula 73 do STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da justiça estadual. Jurisprudência sobre o tema: DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 97 Juris em teses ed. 220:O princípio da insignificância é inaplicável ao crime de estelionato cometido contra a administração pública, uma vez que a conduta ofende o patrimônio público, a moral administrativa e a fé pública, e possui elevado grau de reprovabilidade. Juris em teses ed. 220: A obtenção de vantagem econômica indevida mediante fraude ao programa do seguro-desemprego afasta a aplicação do princípio da insignificância. Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de estelionato qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira do hospital. (...) Isso porque se identifica, neste caso, uma maior reprovabilidade da conduta delitiva. No caso concreto, o STJ afirmou que não era possível o trancamento da ação penal, sob o fundamento de inexistência de prejuízo expressivo para a vítima, considerando que, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos aos médicos são provenientes de verbas federais. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 548869-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 12/05/2020 (Info 672). 9.3 Causa De Aumento De Pena Alteração Pela Lei 14.155/2021 ANTES DA LEI 14.155/2021 DEPOIS DA LEI 14.155/2021 § 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. Estelionato contra idoso ou vulnerável (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021) § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021) Com relação ao crime cometido contra idoso, a lei penal é mais favorável (novatio legis in melius), já que a fração de aumento, antes fixada inexoravelmente no dobro da pena, agora passa a ser de um terço até o dobro. O critério para escolha da fração de aumento deve ser a relevância do resultado gravoso. Assim, caso o crime cometido anteriormente não tenha resultado gravoso de grande importância, a nova lei pode retroagir para beneficiar o acusado ou condenado. Por outro lado, no caso de crime cometido contra vulnerável, o aumento é o mesmo, de um terço até o dobro da pena, a ser escolhido pelo juiz com base na relevância do resultado gravoso. Por ausência de https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d5e705ceeeb7f7ece5dc5ee9bb5e148d?categoria=11&subcategoria=106&ano=2020 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d5e705ceeeb7f7ece5dc5ee9bb5e148d?categoria=11&subcategoria=106&ano=2020 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d5e705ceeeb7f7ece5dc5ee9bb5e148d?categoria=11&subcategoria=106&ano=2020 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 98 previsão anterior, cuida-se de majorante que só pode incidir, no caso de vulnerável, para os crimes cometidos após o início de vigência da lei, por constituir novatio legis in pejus. Tal como no caso do furto mediante fraude eletrônica, a lei não definiu, que é o vulnerável. Se utilizado o conceito do artigo 217-A, § 1º, do CP, com adaptações e em interpretação sistemática, pode-se compreender como o indivíduo que conta com menos de 14 anos, bem como aquele que, por enfermidade ou deficiência mental, apresenta maior vulnerabilidade a fraudes. É possível, ainda, entender que o juiz deve analisar caso a caso. 9.4 Ação Penal No Crime De Estelionato. Alteração pela Lei 13.964/2019 “Art. 171, CP. (...) § 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: I - a Administração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.” (NR) A alteração em relação ao delito de estelionato trata especificamente da titularidade da ação penal. ● Antes do Pacote Anticrime - O crime era de ação penal pública incondicionada ● Após o Pacote Anticrime – o crime passou a ser tratado, em regra, como crime de ação penal pública condicionada à representação. Regra: ação penal pública condicionada à representação Exceção: ação penal pública incondicionada quando o estelionato for perpetrado em face de: ✔ Administração Pública, direta ou indireta; ✔ Criança ou adolescente; ✔ Pessoa com deficiência mental; ✔ Maior de 70 (setenta) anos de idade (CUIDADO COM PEGADINHA DE PROVA OBJETIVA! Não é contra “idoso”, pois idoso é maior que 60 anos); ou ✔ Incapaz. Vamos contextualizar: Como dito, anteriormente, a ação era pública incondicionada à representação, e após o pacote anticrime passou-se a ser EM REGRA, condicionada à representação, salvo nos casos apresentados acima. Com isso, gerou uma série de divergências entre os tribunais superiores. ☞ Inicialmente, a alteração é mais favorável ou prejudicial aos autores do crime de estelionato? DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 99 Favorável, considerando que agora possui uma nova condição para que o Ministério Público possa ajuizar a ação penal contra o autor do estelionato: a representação da vítima. ☞ Tal norma que altera a espécie de ação penal de um crime é norma de direito material ouprocessual? As normas que tratam sobre a ação penal são de natureza híbrida, ou seja, são normas de direito processual penal que, no entanto, também apresentam efeitos materiais. A lei que dispõe sobre o tipo de ação penal aplicável a cada crime possui influência direta no jus puniendi (direito de punir do Estado), pois interfere nas causas de extinção da punibilidade, como a decadência e a renúncia ao direito de queixa. Logo, a lei que disciplina a espécie de ação penal possui também efeito material. ☞ As normas processuais são retroativas? NÃO. As leis processuais possuem aplicação imediata (tempus regit actum - art. 2º do CPP), não retroagindo para alcançar fatos anteriores à sua vigência e regulando os atos processuais a serem realizados após entrarem em vigor. ☞ As normas penais são retroativas? NÃO, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XL, da CF e art. 2º, parágrafo único, do CP). · Se a lei penal posterior é favorável ao réu: retroage. · Se a lei penal posterior é contrária ao réu: não retroage. ☞ E as normas híbridas? As leis híbridas, como possuem reflexos penais, recebem o mesmo tratamento que as normas penais no que tange à sua aplicação no tempo. Logo, as normas híbridas não retroagem, salvo se para beneficiar o réu. ☞ Então, essa alteração irá retroagir para alcançar fatos anteriores à sua vigência? SIM. O § 5º do art. 171 do CP apresenta caráter híbrido (norma mista) e, além disso, é mais favorável ao autor do fato. Logo, tem caráter retroativo. Segundo o autor Gustavo Badaró: “Inegavelmente, há normas de caráter exclusivamente penal e normas processuais penais. Todavia, a doutrina também reconhece a existência das chamadas normas mistas ou normas processuais materiais. Embora não se discuta a existência de tais normas, há discrepância quanto ao conteúdo mais restrito ou mais ampliado que se deve dar a tais conceitos. A corrente restritiva considera que são normas processuais mistas, ou de conteúdo material, aquelas que, embora disciplinadas em diplomas processuais penais, disponham sobre o conteúdo da pretensão punitiva. Assim, são normas formalmente processuais, mas substancialmente materiais, aquelas relativas: ao direito de queixa ou de representação, à prescrição DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 100 e decadência, ao perdão à perempção, entre outras. Mesmo que se adote a corrente restritiva, inegavelmente devem ser consideradas normas processuais materiais, ou normas mistas, com aplicação retroativa, por serem mais benéficas, os seguintes dispositivos da Lei 13.964/2019: a exigência de representação para o crime de estelionato (CP, art. 171, §5º), a possibilidade de celebração de acordo de não persecução penal (CPP, art. 28-A). Com relação à exigência para representação no crime de estelionato, trata-se de exigência superveniente de condição de procedibilidade para ação penal, mas que cuja ausência implica extinção da punibilidade pela decadência do direito de representação (CP, art. 107, IV, c.c. CPP, art. 38), advindo daí o seu conteúdo material. Diferentemente do que ocorreu com a criação de tal exigência para o crime de lesão corporal dolosa leve e lesão corporal culposa, pela Lei 9.099/1995 (art. 88), não se previu uma regra de transição. Assim sendo, é de se aplicar o prazo geral de 6 meses a contar do início de vigência a lei. Se em tal prazo, não houve o oferecimento de representação, deverá haver a extinção da punibilidade” (BADARÓ, G. Processo Penal, 8 ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. p. 113/114) Portanto, a norma retroage. No entanto, a dúvida reside na extensão dessa retroatividade (em que momento será aplicada), vamos aos entendimentos STJ e do STF: Segundo o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ): A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019, retroage para alcançar os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse denúncia oferecida, será necessário intimar a vítima para que ela manifeste interesse na continuidade do processo? NÃO! A exigência de representação da vítima no crime de estelionato não retroage aos processos cuja denúncia já foi oferecida. STJ. 3ª Seção. HC 610.201/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/03/2021 (Info 691). O § 5º do art. 171 é uma condição de procedibilidade (e não de prosseguibilidade): O novo comando normativo apresenta caráter híbrido, pois, além de incluir a representação do ofendido como condição de procedibilidade para a persecução penal, apresenta potencial extintivo da punibilidade, sendo tal alteração passível de aplicação retroativa por ser mais benéfica ao réu. Contudo, além do silêncio do legislador sobre a aplicação do novo entendimento aos processos em curso, tem-se que seus efeitos não podem atingir o ato jurídico perfeito e acabado (oferecimento da denúncia), de modo que a retroatividade da representação no crime de estelionato deve se restringir à fase policial, não alcançando o processo. Do contrário, estar-se-ia conferindo efeito distinto ao estabelecido na nova regra, transformando-se a representação em condição de prosseguibilidade e não procedibilidade. Assim, pode-se afirmar que a irretroatividade do art. 171, §5º, do CP decorre da própria mens legis, considerando que, mesmo podendo, o legislador previu apenas a condição de procedibilidade, nada dispondo sobre a condição de prosseguibilidade. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 101 OBS: Tanto neste STJ quanto no STF, o entendimento no sentido de que: “a representação, nos crimes de ação penal pública condicionada, não exige maiores formalidades, sendo suficiente a demonstração inequívoca de que a vítima tem interesse na persecução penal. Dessa forma, não há necessidade da existência nos autos de peça processual com esse título, sendo suficiente que a vítima ou seu representante legal leve o fato ao conhecimento das autoridades” (STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 435.751/DF, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, DJe 04/09/2018). Segundo o SUPERIOR TRIBUNAL FEDERAL (STF): ANTERIORMENTE, o STF estava dividido: A 1ª Turma do STF possui o mesmo entendimento do STJ acima explicado: Em face da natureza mista (penal/processual) da norma prevista no §5º do artigo 171 do Código Penal, sua aplicação retroativa será obrigatória em todas as hipóteses onde ainda não tiver sido oferecida a denúncia pelo Ministério Público, independentemente do momento da prática da infração penal, nos termos do art. 2º, do CPP, por tratar-se de verdadeira “condição de procedibilidade da ação penal”. Assim, é inaplicável a retroatividade do §5º do art. 171 do Código Penal, às hipóteses onde o Ministério Público tiver oferecido a denúncia antes da entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019; uma vez que, naquele momento a norma processual em vigor definia a ação para o delito de estelionato como pública incondicionada, não exigindo qualquer condição de procedibilidade para a instauração da persecução penal em juízo. A nova legislação não prevê a manifestação da vítima como condição de prosseguibilidade quando já oferecida a denúncia pelo Ministério Público. STF. 1ª Turma. HC 187341, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/10/2020. A 2ª Turma do STF, por sua vez, possui entendimento diferente: A alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que introduziu o § 5º ao art. 171 do Código Penal, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado à representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma retroativa a abranger tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em julgado. STF. 2ª Turma. HC 180421 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/6/2021. Nesse contexto, exsurge decisão do Plenário STF em 13/04/2023, mudando o posicionamento antes firmado e fixando o entendimento que, logo “venceu”o entendimento da 2º turma do STF – Ou seja, para o Supremo Tribunal Federal: a regra da representação deve retroagir a “todos” os casos de estelionato em andamento quando de sua promulgação (tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em julgado), tendo a vítima um prazo de 30 dias para manifestar-se sob pena de decadência e não importando a fase em que o procedimento se encontre (HC-AgR 208.817/RJ). DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 102 Vamos desenhar uma linha do tempo acerca dessas decisões dos tribunais superiores sobre o tema: A discussão teve início no STJ (HC 573.093), em 2020 e, desde então tem sido objeto de uma série de divergências. Veja a evolução jurisprudencial: (1) Em 14/04/2020, a 5ª Turma do STJ decidiu que a retroatividade da representação deve se restringir à fase policial, pois do contrário estar-se-ia transformando uma condição de procedibilidade em prosseguibilidade (HC 573.093). (2) Em 04/08/2020, a decisão da 6ª Turma do STJ foi no sentido de que, por ser lei mais benéfica, deve retroagir (HC 583.837). (3) Em 21/09/2020, a 5ª Turma do STJ reiterou o entendimento de que a retroatividade da representação no crime de estelionato deve se restringir à fase policial (ato jurídico perfeito). (4) Em 14/10/2020, a 1ª Turma do STF reconheceu não ser cabível a aplicação retroativa do parágrafo 5º do artigo 171 do CP, uma vez que no momento do oferecimento da denúncia a ação era incondicionada e não se exigia representação (HC 187.341/SP). (5) Em 13/04/2021, a 3ª Seção consolidou o entendimento das turmas criminais do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao definir que a exigência de representação da vítima como pré-requisito para a ação penal por estelionato – introduzida pelo Pacote Anticrime– não pode ser aplicada retroativamente para beneficiar o réu nos processos que já estavam em curso (Info 691). (6) Em 22/06/2021, a 2ª Turma do STF decidiu que a alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que introduziu o § 5º ao art. 171 do Código Penal, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado à representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma retroativa a abranger tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em julgado (Info 1023). Esse entendimento foi reiterado pela 2ª Turma em 02/09/2022 (HC-AgR 207.835/SP). (7) Em 13/04/2023, o debate foi levado ao Plenário do STF que decidiu a interpretação de normas constitucionais não podem limitar o alcance da retroatividade em benefício do réu e, sendo a exigência de representação para o crime de estelionato norma processual de caráter híbrido favorável ao acusado, há de ser aplicada retroativamente aos processos em curso, sendo conferido a vítima o prazo de 30 dias para oferecer a representação, sob pena de decadência do direito (HC-AgR 208.817/RJ) Logo, no cenário atual acerca da matéria, o tema está pacificado em cada Tribunal Superior, mas permanece a divergência entre eles. Temos o entendimento pacificado do STJ no sentido de que deve ser observada a retroatividade, respeitando-se a limitação do ato jurídico perfeito e acabado materializado com o oferecimento da denúncia. Já no STF, em decisão do Plenário, deve ser observada a extensão da retroatividade para todas as ações penais em curso que ainda não tenham transitado em julgado. Atenção! É preciso ficar atento às próximas decisões do STJ, diante da possibilidade de se curvar ao entendimento do STF. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 103 9.5 Competência no Crime de Estelionato (Lei 14.155/2021)3 O estelionato, previsto no art. 171, do CP, é um crime por meio do qual o agente, utilizando um meio fraudulento, engana a vítima, fazendo com que ela entregue espontaneamente uma vantagem, causando prejuízo à vítima. A competência para processar e julgar o crime de estelionato segue a regra geral consubstanciada no art. 70, caput, do CPP – será competente o juízo do local em que se consumar a infração, ou seja, o juízo do local da obtenção da vantagem ilícita. Art. 70, CPP. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Nesse mesmo sentido, a súmula 48 do STJ: Súmula 48-STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque. Porém, algumas vezes pode acontecer de a vantagem ilícita ocorrer em um local e o prejuízo em outro. Tais situações poderão gerar algumas dúvidas relacionadas com a competência territorial para processar e julgar esse crime. Caso hipotético: Dois agentes trabalhavam em uma agência de turismo, teriam simulado contratos de parcerias com empresas terceiras, com a intenção de obter para si vantagens ilícitas, a saber: passagens aéreas e reserva de veículos e hotéis, fazendo o uso próprio de tais passagens, bem como as repassava para terceiros, obtendo o proveito do crime. A empresa vítima possui sede em Brasília/DF, contudo o ex- funcionário apontado como estelionatário trabalhava como representante comercial na filial localizada no município de São Paulo/SP, onde os golpes teriam sido praticados em conluio com outro, também residente em São Paulo. Questiona-se: O julgamento do crime de Estelionato será em Brasília ou São Paulo? O conflito deixou de existir com o advento da Lei n. 14.155/2021, que acrescentou o § 4º do art. 70 do Código de Processo Penal. A alteração é muito bem-vinda porque anteriormente havia uma imensa insegurança jurídica diante da existência de regras distintas para situações muito parecidas, além da uma intensa oscilação jurisprudencial. Veja: Art. 70, CPP. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Código Penal, quando praticados 3 Explicação do Professor Márcio Cavalcante http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art171 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 104 mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) Observe que, com a Lei nº 14.155/21, em três casos específicos, a competência será do local do domicílio da vítima. São as hipóteses de estelionato praticado: 1. Mediante depósito; 2. Mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou pagamento frustrado; 3. Mediante transferência de valores. Retornando ao exemplo acima, observe que o caso não se enquadra em nenhuma das hipóteses mencionadas pelo § 4º do art. 70 do CPP. São situações específicas sem correspondência com o caso apresentado. Logo, não identificadas as hipóteses descritas no § 4º do art. 70 do CPP deve incidir o teor do caput do mesmo dispositivo legal, segundo o qual "a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução". Sobre o tema a Terceira Seção da Corte Superior, pronunciou-se no sentido de que nas situações não contempladas pela “novatio legis”, aplica-se o entendimento pela competência do Juízo do local do eventual prejuízo (CC n. 185.983/DF). Agora, vamos analisar três casos envolvendo estelionato para identificarmos as mudanças operadas pela novidade legislativa. 9.5.1 Estelionato praticado por meio de cheque falso (art.171, caput, do CP) Imagine a seguinte situação hipotética: João, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), achou um cheque em branco. Ele foi, então, até Juiz de Fora (MG) e lá comprou inúmeras roupas de marca em uma loja da cidade. As mercadorias foram pagas com o cheque que ele encontrou, tendo João falsificado a assinatura. Trata-se do crime de estelionato, na figura do caput do art. 171 do CP. De quem será a competência territorial para julgar o delito? Do juízo da comarca de Juiz de Fora (MG), local da obtenção da vantagem indevida. Existe até uma súmula tratando sobre o tema: Súmula 48-STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art2 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 105 Aplica-se aqui o § 4º do art. 70 do CPP? NÃO. Se você ler o § 4º, verá que ele não trata da hipótese de estelionato praticado por meio de cheque falso. Logo, esse dispositivo não incide no presente caso. A regra a ser aplicada, portanto, é a do caput do art. 70: Art. 70, CPP. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. O estelionato se consumou no momento em que João comprou as mercadorias da loja, pagando com o cheque falsificado. Nesse instante houve a obtenção da vantagem ilícita e o dano patrimonial à loja. Logo, nesta primeira hipótese, nenhuma mudança operada pela Lei nº 14.155/2021. Vale ressaltar que a Súmula 48 do STJ manteve-se válida com a novidade legislativa. CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIR • Estelionato que ocorre por meio do saque (ou compensação) de cheque clonado, adulterado ou falsificado: a competência é do local onde a vítima possui a conta bancária. Isso porque, nesta hipótese, o local da obtenção da vantagem ilícita é aquele em que se situa a agência bancária onde foi sacado o cheque adulterado, ou seja, onde a vítima possui conta bancária. Aplica-se o raciocínio da súmula 48 do STJ (Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.) O crime de estelionato praticado por meio de saque de cheque fraudado compete ao Juízo do local da agência bancária da vítima. STJ. 3ª Seção. CC 182977-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/03/2022 (Info 728). No crime de estelionato, não identificadas as hipóteses descritas no § 4º do art. 70 do CPP, a competência deve ser fixada no local onde o agente delituoso obteve, mediante fraude, em benefício próprio e de terceiros, os serviços custeados pela vítima. CC n. 185.983/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 11/05/2022, DJe 13/05/2022. 9.5.2 Estelionato praticado por meio de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI) Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), foi passar o fim de semana em Juiz de Fora (MG). Aproveitando que estava ali, ele foi até uma loja da cidade e comprou inúmeras roupas de marca, que totalizaram R$ 4 mil. As mercadorias foram pagas com um cheque de titularidade de Pedro. Vale ressaltar, no entanto, que Pedro sabia que em sua bancária havia apenas R$ 200,00, ou seja, que não havia fundos suficientes disponíveis. Ele agiu assim porque supôs que não teriam como responsabilizá- lo já que não morava ali. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 106 Qual foi o crime cometido por Pedro? Estelionato, no entanto, na figura equiparada do art. 171, § 2º, VI, do CP: Art. 171, CP. (...) §2º Nas mesmas penas incorre quem: Fraude no pagamento por meio de cheque VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. O cheque emitido por Pedro estava vinculado a uma agência bancária que se situa no Rio de Janeiro (RJ). Tendo isso em consideração, indaga-se: de quem será a competência territorial para julgar o delito? Aqui houve uma grande alteração promovida pela Lei nº 14.155/2021: ● Antes da Lei: a competência para julgar seria do juízo do Rio de Janeiro (RJ), local onde se situa a agência bancária que recusou o pagamento. Na teoria, o “dinheiro” que iria pagar a loja sairia da agência bancária na qual Pedro tinha conta, ou seja, no Rio de Janeiro. Quando a loja foi tentar sacar o cheque, lá em Juiz de Fora (MG), na teoria, a agência bancária localizada no RJ recusou o pagamento porque informou que ali não havia saldo suficiente. Nessas situações, a jurisprudência afirmava que a competência territorial era do local onde se situava a agência que recusou o pagamento: Súmula 244-STJ: Compete ao foro do local da RECUSA processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de FUNDOS. (Superada!) Súmula 521-STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de FUNDOS, é o do local onde se deu a RECUSA do pagamento pelo sacado. (Superada!) ● Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, do juízo de Juiz de Fora (MG). É o que prevê o novo § 4º do art. 70: Art. 70, CPP. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Código Penal, quando praticados (...) mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado (...) a competência será definida pelo local do domicílio da vítima (...). Isso significa que a Súmula 244 do STJ e a Súmula 521 do STF estão superadas!!! Obs.: Não confundir com a Súmula 48-STJ (Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque), que se manteve válida com a novidade legislativa. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 107 O que é o cheque com pagamento frustrado mencionado no § 4º do art. 70 do CPP? Ocorre quando o agente que emitiu o cheque tinha fundos disponíveis, no entanto, depois de emitir o cheque, ele saca o dinheiro que tinha no banco ou, então, simplesmente emite uma contraordem à instituição financeira afirmando que não é para ela pagar aquele cheque. Em nosso exemplo, imagine que, depois de emitir a cártula em favor da loja, Pedro entra em contato com a instituição financeira e susta o cheque. No que tange à competência, a regra é a mesma do cheque sem fundos. 9.5.3 Estelionato mediante depósito ou transferência de valores Imagine a seguinte situação hipotética: Carlos, morador de Goiânia (GO), viu um anúncio na internet que oferecia empréstimo “rápido e fácil”. Ele entrou em contato com a pessoa, que se identificou como Henrique. Carlos combinou de receber um empréstimo de R$ 70 mil, no entanto, para isso, ele precisaria depositar uma parcela de R$ 1 mil a título de “custas” para a conta bancária de Henrique, vinculada a uma agência bancária localizada em São Paulo (SP). Carlos efetuou o depósito e, então, percebeu que se tratava de uma fraude porque nunca recebeu o dinheiro do suposto empréstimo. Quem será competente para processar e julgar este crime de estelionato: o juízo da comarca de Goiânia (onde foi feito o depósito) ou o juízo da comarca de São Paulo (local onde o dinheiro foi recebido)? Aqui houve outra grande alteração promovida pela Lei nº 14.155/2021: ● Antes da Lei: o juízo competente seria, neste exemplo, o da comarca de São Paulo. O fundamento era o caput do art. 70 do CPP: No caso em que a vítima, induzida em erro, efetuou depósito em dinheiro e/ou transferência bancária para a conta de terceiro (estelionatário), a obtenção da vantagem ilícita ocorreu quando o estelionatário se apossou do dinheiro, ou seja, no momento em a quantia foidepositada em sua conta. STJ. 3ª Seção. CC 167.025/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/08/2019. STJ. 3ª Seção. CC 169.053/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2019. Segundo decidiu o STJ, o estelionato consuma-se no momento e no local em que é auferida a vantagem ilícita. O prejuízo alheio, apesar de fazer parte do tipo penal, está relacionado à consequência do crime de estelionato e não à conduta propriamente. O núcleo do tipo penal é obter vantagem ilícita, razão pela qual a consumação se dá no momento em que os valores entram na esfera de disponibilidade do autor do crime, o que somente ocorre quando o dinheiro ingressa efetivamente em sua conta corrente. Resumindo: Estelionato que ocorre quando a vítima, induzida em erro, se dispõe a fazer depósitos ou transferências bancárias para a conta de terceiro (estelionatário): a competência era do local onde o estelionatário possuía a conta bancária. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 108 ● Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, em nosso exemplo, do juízo de Goiânia (GO). É o que prevê o novo § 4º do art. 70: Art. 70, CP. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Código Penal, quando praticados mediante depósito (...) ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima (...). A competência para o julgamento do crime de estelionato, ainda que se tenha se utilizado de imagens digitais adulteradas de passaporte válido de terceiro e documentos emitidos por órgão públicos federais, quando inexistente evidência de prejuízo a interesses, bens ou serviços da União, é da Justiça Estadual, devendo ser respeitada a regra de foro do domicílio da vítima no caso de o crime ser praticado mediante depósito, transferência de valores ou cheque sem provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado. CC 178.697-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022, DJe 27/06/2022. Noticiado no Informativo 742 do STJ. E se houver mais de uma vítima, com domicílios em locais diferentes? Utilizando novamente o terceiro exemplo acima mencionado. Suponhamos que Henrique aplicou o mesmo “golpe” do empréstimo não apenas em Carlos, mas também em Luísa (domiciliada em Curitiba/PR), em Ricardo (Rio Branco/AC), em Vitor (Fortaleza/CE) e em outras inúmeras vítimas. De quem será a competência para julgar todas essas condutas? A competência será definida por prevenção, ou seja, será competente para julgar todos as condutas o juízo do domicílio da vítima que tiver praticado o primeiro ato do processo ou medida relativa a este, nos termos do art. 83 do CPP: Art. 83, CPP. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c). É o que preconiza a parte final do § 4º do art. 70: Art. 70, CPP. (...)§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 109 Esse novo § 4º do art. 70 do CPP aplica-se aos processos penais que estavam em curso quando entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021? O juízo que estava processando o crime deverá remeter o feito para o juízo do domicílio da vítima? R.: NÃO. Vigora aqui o princípio da “perpetuatio jurisdictionis” (perpetuação da jurisdição), previsto no art. 43 do CPC/2015 e que pode ser aplicado ao processo penal por força do art. 3º do CPP. Segundo esse princípio, uma vez iniciado o processo penal perante determinado juízo, nele deve prosseguir até seu julgamento. Assim, depois que o processo se iniciou perante um juízo, as modificações que ocorrerem serão consideradas, em regra, irrelevantes para fins de competência. Exceções ao princípio da “perpetuatio jurisdictionis”: Existem duas mudanças que irão influenciar na competência, ou seja, duas situações em que o juízo que começou a ação penal deixará de ser competente para continuar o processo por força de fatos supervenientes. Veja: a) Supressão do órgão judiciário: a lei (ou a CF) extingue o órgão judiciário (juízo) que era competente para aquele processo. Ex.: a EC 45/2004 extinguiu os Tribunais de Alçada e todos os recursos ali existentes foram redistribuídos. b) Alteração da competência absoluta: pode acontecer de determinadas modificações do estado de fato ou de direito alterarem as regras de competência absoluta para julgar aquele crime. Ex.1: imaginemos que viesse uma EC retirando da Justiça Federal a competência para julgar delitos contra servidores públicos federais no exercício de suas funções; Ex.2: o crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil, ainda que cometido em serviço, deixou de ser considerado crime militar e passou a ser crime comum por força da Lei nº 9.299/96, que alterou o art. 9º, parágrafo único, do CPM (atual § 1º, por força da Lei nº 13.491/2017). Obs.: A regra e as exceções estão previstas no art. 43 do CPC/2015 que, como vimos, aplica-se ao processo penal em virtude do art. 3º do CPP: Art. 43, CPC. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. Jurisprudência sobre o tema: Compete ao juízo estadual processar e julgar crime de estelionato contra fundo estrangeiro no qual os atos desenvolvidos foram praticados em território nacional, ainda que diverso o domicílio de sócio lesado. AgRg no CC 192.274-RJ, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 8/3/2023, DJe 10/3/2023. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 110 9.6 Crime de Fraude com utilização de ativos virtuais, valores mobiliários ou ativos financeiros (LEI 14.478/22) - ART.171-A A lei nº 14.478, publicada na data de 21 de dezembro de 2022 acrescenta um novo tipo penal: O crime de fraude com a utilização de ativos virtuais, valores mobiliários ou ativos financeiros. Ressalta-se que a própria lei conceitua ativo virtual conforme o seu artigo 3º: Para os efeitos desta Lei, considera-se ativo virtual a representação digital de valor que pode ser negociada ou transferida por meios eletrônicos e utilizada para realização de pagamentos ou com propósito de investimento, não incluídos: I - moeda nacional e moedas estrangeiras; II - moeda eletrônica, nos termos da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013; III - instrumentos que provejam ao seu titular acesso a produtos ou serviços especificados ou a benefício proveniente desses produtos ou serviços, a exemplo de pontos e recompensas de programas de fidelidade; e IV - representações de ativos cuja emissão, escrituração, negociação ou liquidação esteja prevista em lei ou regulamento, a exemplo de valores mobiliários e de ativos financeiros. O Código Penal passa a vigorar acrescido do seguinte art. 171-A: Fraude com a utilização de ativos virtuais, valores mobiliários ou ativos financeiros Art. 171-A. Organizar, gerir, ofertar ou distribuir carteiras ou intermediar operações que envolvam ativos virtuais, valores mobiliáriosou quaisquer ativos financeiros com o fim de obter vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. ATENÇÃO! Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial (vacatio legis). ARTS. 172 a 179, CP - LEITURA DO CÓDIGO PENAL. Duplicata simulada Art. 172, CP. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2014.478-2022?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5474.htm#art172 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 111 Abuso de incapazes Art. 173, CP. Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Induzimento à especulação Art. 174, CP. Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Fraude no comércio Art. 175, CP. Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor: I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada; II - entregando uma mercadoria por outra: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º. Outras fraudes Art. 176, CP. Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações Art. 177, CP. Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 112 § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de 1951) I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo; II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade; III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembléia geral; IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite; V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade; VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou dividendos fictícios; VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou parecer; VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII; IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo. § 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de assembléia geral. Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant" Art. 178, CP. Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Fraude à execução Art. 179, CP. Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L1521.htm DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 113 10. RECEPTAÇÃO (ART. 180, CP) Receptação Art. 180, CP. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Receptação qualificada § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: [RECEPTAÇÃO CULPOSA] Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. § 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017) a) Introdução: Caput: Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13531.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13531.htm#art3 DIREITO PENALDOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 114 Pena base de 1 a 4 anos e multa, sendo, portanto, crime de médio potencial ofensivo e admitindo a concessão da fiança por parte do delegado de polícia. Crime acessório/parasitário - depende da existência de crime antecedente (mas dispensa a sua punição, bastando indícios suficientes da sua ocorrência). Também não há necessidade de prévio ajuste entre o receptor e quem praticou o delito anterior. b) Bem jurídico tutelado: Patrimônio. c) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Cuidado! A pessoa que, de alguma forma, concorreu para o delito anterior, não será autor do crime de receptação, mas sim coautor ou partícipe do crime anterior, servindo algum ato que se enquadre nos núcleos que configuram receptação apenas como post factum impunível. d) Sujeito passivo: proprietário da coisa que foi objeto material do delito antecedente. e) Objeto material: coisa que o agente sabe SER PRODUTO DE CRIME. Prevalece que deve ser coisa móvel, embora haja quem defenda que imóvel também. ∘ Vítima que negocia com o furtador seu bem próprio (que foi furtado) de volta não pratica crime de receptação. ∘ Pessoa que compra bem usado como instrumento do crime não pratica receptação. ∘ Pessoa que compra produto de contravenção penal não pratica receptação. Cabe receptação de coisa própria? R.: O tipo penal não restringe. Porém, é de difícil configuração. Será possível caso o objeto esteja sob a posse legítima de terceiro (ex.: joia que estava empenhada foi furtada, tendo adquirido o dono pelo furtador). Cabe receptação de receptação? R.: Sim! Não há qualquer restrição, desde que não haja quebra da má-fé de uma conduta para outra. Cabe receptação de ato infracional análogo a crime? R.: Prevalece que sim, vez que o tipo não exige que o agente seja criminoso, mas que o fato se adeque à tipificação de algum crime. f) Elemento subjetivo: dolo direto (“SABE”), com finalidade especial de agir (proveito próprio ou alheio). Em caso de dolo eventual, poderá configurar receptação culposa. 10.1 Receptação própria Quando o agente pratica um dos primeiros núcleos, ficando ele próprio com a coisa que sabe ser produto de crime. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 115 ✔ Adquirir ✔ Receber ✔ Transportar ✔ Conduzir ✔ Ocultar Crime material, que é consumado com a prática de um dos núcleos. Alguns deles são permanentes. Tentativa cabível Jurisprudência em teses do STJ – Edição nº 87 12 - O delito de receptação (art. 180 do CP), nas modalidades transportar, conduzir ou ocultar, é crime permanente, cujo flagrante perdura enquanto o agente se mantiver na posse do bem que sabe ser produto de crime. 10.2 Receptação imprópria Quando o agente influi para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. É o intermediário. Crime formal, bastando a influência, não necessitando que o terceiro realmente adquira. Tentativa só é possível se a influência for por escrito. O tipo penal aqui exige que o terceiro esteja de boa-fé. Caso esteja de má-fé, este terceiro cometerá receptação própria e quem influiu será partícipe. Conclusão: Caso o agente influa para que terceiro de má-fé adquira, receba ou oculte, responderá na qualidade de partícipe do crime de receptação ou pelo parágrafo 1º do art. 180, CP. 10.3 Receptação dolosa qualificada Art. 180, CP. (...) §1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime. Pena: 3 a 8 anos e multa. O tipo é misto alternativo, sempre que a conduta recair sobre a mesma coisa. Elemento subjetivo especial: O crime deve ser praticado com a intenção de haver a coisa “em proveito próprio ou alheio”, ou seja, com animus lucrandi. Não se aplica o princípio da insignificância à receptação qualificada em razão da reprovabilidade da conduta. Nesse sentido, STF no informativo 663: “O princípio da insignificância, bem como o benefício da suspensão condicional do processo não são aplicáveis ao delito de receptação qualificada” HC 105963/PE, rel. Min. Celso de Mello, 24.4.2012.(HC-105963) http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=105963&classe=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=105963&classe=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 116 Veja a jurisprudência pertinente: O STF entende que o § 1º do art. 180 do CP é CONSTITUCIONAL. O objetivo do legislador ao criar a figura típica da receptação qualificada foi justamente a de punir de forma mais gravosa o comerciante ou industrial que, em razão do exercício de sua atividade, pratica alguma das condutas descritas no referido § 1°, valendo-se de sua maior facilidade para tanto devido à infraestrutura que lhe favorece. O crime foi qualificado pelo legislador em razão da condição do agente que, por sua atividade profissional, merece ser mais severamente punido com base na maior reprovabilidade de sua conduta. Para o STF, o § 1º do art. 180 pune tanto o agente que atua com dolo eventual como também no caso de dolo direto. STF. 1ª Turma. RHC 117143/RS, rel. Min. Rosa Weber, 25/6/2013 (Info 712). A receptação, em sua forma qualificada, demanda especial qualidade do sujeito ativo, que deve ser comerciante ou industrial. AgRg no AREsp 2.259.297-MG, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 18/4/2023, DJe 24/4/2023. Já caiu em prova: No delito de receptação qualificada, a expressão “coisa que deve saber ser produto de crime" possui interpretação do STF no sentido de que, A – Trata-se de norma inconstitucional com relação ao preceito secundário, por violar o princípio da proporcionalidade quando comparada à pena prevista para o caput. B - Se aplica apenas aos casos de dolo eventual, excluindo-se o dolo direto. C - Abrange igualmente o dolo direto. D -Configura má utilização da expressão, por ser indicativa de culpa consciente. E -Impede que no exercício de atividade comercial possa se alegar receptação culposa. GABARITO: LETRA C (§2º) - Cláusula de equiparação: Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. Crime próprio e que pode ser praticado tanto por dolo direto como por dolo eventual. Deve haver relação entre a coisa e a atividade DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 117 10.4 Receptação culposa Art. 180, CP. (...) § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: O agente não conhece a origem ilícita da coisa, tampouco assume o risco de adquirir ou receber produto de crime. Parte da doutrina entende que o dolo eventual também entra aqui. Menor potencial ofensivo. Diz-se que é um crime culposo de tipo penal fechado, já que, geralmente, a modalidade culposa apenas prevê “se é culposo...”, constituindo tipo penal aberto, não descrevendo a conduta, ao contrário do que foi feito aqui. Não é admissível a tentativa, pois se trata de conduta culposa. Considerações finais: ⋅ §4º: A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. Norma explicativa. ⋅ §5º: Benefícios: Perdão judicial para a receptação culposa e aplicação do privilégio do furto para a receptação dolosa. ⋅ §6º: Qualificadora: (para a maioria da doutrina – já que não há um quantum de aumento, mas novos limites mínimos emáximos) em razão do sujeito passivo. Só se aplica ao caput. As empresas públicas também estão inclusas, segundo o STF. Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: a absolvição pelo crime pressuposto da receptação impede a condenação do receptador quando não existir prova de ele ter concorrido para a infração penal, ficar provada a inexistência do fato, não houver prova da existência do fato, não constituir o fato infração penal ou existir circunstância que exclua o crime. Vale saber: FURTO X RECEPTAÇÃO X FAVORECIMENTO REAL FURTO RECEPTAÇÃO FAVORECIMENTO REAL Essência: subtração. Contudo, caso o agente “receptador” (ou seja, aquele que praticará algum dos núcleos do tipo do 180), ajuste, por exemplo, antes da ocorrência de um furto, que receberá a coisa furtada, o agente responderá pela participação no delito de furto. Essência: A intenção do agente em, por exemplo, receber a coisa que é produto de crime é obter proveito próprio ou alheio (de um terceiro que não seja o autor do delito antecedente). O ajuste entre o receptor e o autor do delito antecedente ocorre depois. Essência: A intenção do agente em, por exemplo, receber a coisa que é produto de crime é prestar auxílio ao criminoso, autor do delito antecedente. Muda aqui a finalidade especial de agir. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 118 10.5 Receptação de Animal (Art. 180-A) Art. 180-A, CP. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Inserido no CP pela lei 13.330/2016, visando punir mais severamente a conduta de receptar animais. Assim como na qualificadora do furto, que já explicamos, são animais domesticáveis de produção, ainda que abatidos ou divididos em partes. Contudo, mais uma vez o legislador não atingiu seu objetivo e abrandou a pena de quem pratica essa conduta, que antes respondia pela modalidade qualificada do artigo 180, §1º. Sendo, portanto, novatio legis in mellius, retroage. Crime de elevado potencial ofensivo (não admite suspensão condicional do processo). Admite dolo direto ou eventual. ENUNCIADO n° 6 da JDPP – Na observância dos pressupostos e requisitos à segregação cautelar, é incabível a decretação da prisão preventiva pelo crime de receptação exclusivamente em razão da suposta conduta ter ocorrido em área de fronteira. 11. ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS (Arts. 181/183) IMUNIDADES ABSOLUTAS: Art. 181, CP. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. IMUNIDADES RELATIVAS: Art. 182, CP. Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. EXCLUSÃO DAS IMUNIDADES Art. 183, CP. Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 119 II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. a) Natureza jurídica Imunidades absolutas: Prevalece ser causa extintiva da punibilidade ou causas pessoais de exclusão da pena. Assim, apesar de o delito restar configurado (consistindo em um fato: típico, antijurídico e culpável), por questões de política criminal é inviável o exercício da pretensão punitiva. No entanto, alguns autores criticam o termo e dizem que seriam, na verdade, causas de exclusão da punibilidade / causas negativas da punibilidade, pois impediria o próprio surgimento da punibilidade do agente. Imunidades relativas: Condição específica de procedibilidade da ação penal pública, já que convertem a ação penal pública incondicionada e condicionada à representação. Lei Maria da Penha X Escusas absolutórias: embora haja quem entenda que não se aplicam aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, prevalece que são sim aplicáveis, já que não há disposição em sentido contrário vedando a aplicação. Enunciado JDPP n° 9: A escusa absolutória do art. 181, inc. II, do Código Penal, abrange também a paternidade e filiação socioafetiva. Caiu na Prova Delegado PC-AL (2023) (CESPE/CEBRASPE) - Pedro ingressou na residência de sua avó Teresa e subtraiu o pequeno cofre do quarto, levando-o para um beco. Sem saber o segredo do cofre, abriu-o com um maçarico e subtraiu as joias de seu interior. Em seguida, levou as peças a uma tradicional joalheria da cidade e vendeu-as a João, comerciante de 20 anos, que comprou os objetos sem se importar em apurar a origem. Considerando essa situação hipotética, julgue os itens que se seguem. Em se tratando do crime cometido por Pedro, é prevista a exclusão de ilicitude em razão de Pedro ser neto da vítima, bastando, para tanto, que não haja a representação. (item incorreto). As escusas nos crimes contra o patrimônio são causas extintivas de punibilidade, não excludentes de ilicitude. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: - Direito Penal – Parte Especial – Volume 2 – 12ª edição – Cleber Masson; - Manual de Direito Penal – Parte especial – 11ª edição – Rogério Sanches Cunha. - Site Dizer o Direito – www.dizerodireito.com.br http://www.dizerodireito.com.br/Delegado/PE 2024 (CESPE/CEBRASPE)! No que se refere aos crimes contra o patrimônio previstos no CP, de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a restituição imediata, voluntária e integral do bem furtado constitui, por si só, motivo suficiente para aplicação do instituto do arrependimento posterior. (item correto) Jurisprudência sobre o assunto: Se o agente restituir o bem à vítima? Constitui motivo, por si só para aplicação do Princípio da insignificância? NÃO! Jurisprudências em tese (STJ) ed. 221 – Princípio da insignificância 3)A restituição da res furtiva à vítima não constitui, por si só, motivo suficiente para a aplicação do princípio da insignificância. Furto de alimentos nobres (como camarão descascado e cozido; condimento e sobremesa) descaracterizaram, no caso concreto, a tese de furto famélico. Espécie em que o Paciente foi condenado pelo crime de furto qualificado, na forma tentada, pela subtração, em 2021, de produtos expostos à venda em um supermercado localizado em Campinas - SP, por R$ 295,10 (duzentos e noventa e cinco reais e dez centavos). O valor venal das res furtiva supera 10% (dez por cento) do salário mínimo fixado à época - circunstância que, em regra, obsta a aplicação do princípio da insignificância. O fato de o produto do furto ter sido devolvido à Vítima não afasta, de per si, a tipicidade material da conduta delitiva. Os elementos probatórios da causa principal parecem indicar que houve certa sofisticação no planejamento na conduta, pois o Paciente encheu sua mochila de DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 11 alimentos e, no caixa, tentou pagar apenas os produtos que colocou na cesta do supermercado. O pagamento foi recusado e o Condenado, então, dirigiu-se ao estacionamento, para que pudesse sair do local sem pagar pelas mercadorias que escondeu na mochila. Ademais, foram apreendidos alimentos nobres (como camarão descascado e cozido), condimento e sobremesa. Essa conjuntura impede concluir, nesta via de cognição limitada, que o furto ocorreu tão somente para que o Paciente pudesse garantir sua subsistência, e que a atipicidade material da conduta na hipótese mostrar-se-ia socialmente recomendável. STJ. 6ª Turma. HC 747.651/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 02/08/2022. 1.2 Furto noturno (art. 155, §1º, CP) Art. 155, CP. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. a) “Repouso noturno” – aumento de pena – 1/3: Não há horário definido. Deve ser verificado o costume da localidade (“costume interpretativo”). Não é sinônimo de “noite”. Pode ser noite e não se verificar o repouso noturno. Ex.: avenida movimentada de bares em SP às 23h: embora seja noite, não há repouso noturno. No entanto, nunca será durante o dia, mesmo que a vítima esteja dormindo (Ex.: casa de quem trabalha à noite e dorme durante o dia – o agente furta durante o dia: não é repouso noturno). Obs.: Precisa ser casa habitada? Não. Pode ser estabelecimento comercial fechado durante à noite. b) Ratio da norma: A causa de aumento deve incidir, em face da menor vigilância decorrente do repouso da coletividade. Para a configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código Penal, basta que a conduta delitiva tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior precariedade da vigilância e a defesa do patrimônio durante tal período e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na empreitada criminosa, sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo no momento do crime, ou, ainda, que tenha ocorrido em estabelecimento comercial ou em via pública, dado que a lei não faz referência ao local do crime. STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.746.597- SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/11/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1849490/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 15/09/2020. Atenção ao Informativo 742 STJ (30/06/22) sobre as premissas da aplicação da majorante do furto noturno!!! 1. Nos termos do § 1º do art. 155 do Código Penal, DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 12 se o crime de furto é praticado durante o repouso noturno, a pena será aumentada de um terço. 2. O repouso noturno compreende o período em que a população se recolhe para descansar, devendo o julgador atentar-se às características do caso concreto. 3. A situação de repouso está configurada quando presente a condição de sossego/tranquilidade do período da noite, caso em que, em razão da diminuição ou precariedade de vigilância dos bens, ou, ainda, da menor capacidade de resistência da vítima, facilita-se a concretização do crime. 4. São irrelevantes os fatos de as vítimas estarem, ou não, dormindo no momento do crime, ou o local de sua ocorrência, em estabelecimento comercial, via pública, residência desabitada ou em veículos, bastando que o furto ocorra, obrigatoriamente, à noite e em situação de repouso. Caiu na Prova Delegado PC-ES/2022 (CESPE/CEBRASPE)! Durante o período de repouso noturno, Pedro cometeu o crime de furto de um veículo que estava guardado na garagem da casa da família Silva. No decorrer das investigações, foi possível constatar que Pedro era primário e que, pela análise das imagens das câmeras de segurança instaladas no jardim da residência, havia movimentação dentro da casa, ou seja, membros da família Silva estavam acordados dentro da residência. A partir dessa situação hipotética, assinale a opção correta: É irrelevante o fato de as vítimas estarem ou não dormindo no momento do crime, bastando que o furto tenha sido praticado à noite, durante o repouso noturno, para caracterizar a causa de aumento de pena (Item correto) Obs.: Haverá casos em que, mesmo nos furtos praticados no período da noite, mas em lugares amplamente vigiados, tais como em boates e comércios noturnos, ou, ainda, em situações de repouso, mas ocorridas nos períodos diurno ou vespertino, não se poderá valer-se dessa causa de aumento. INFO 742/STJ (30/06/22). ATENÇÃO – APLICAÇÃO DA MAJORANTE DO REPOUSO NOTURNO AO FURTO QUALIFICADO – DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. STF: Para o Supremo Tribunal federal, a mera disposição topográfica dos parágrafos no artigo não afasta a possibilidade de aplicação conjunta da majorante, pois evidente ter se tratado de mera ausência de técnica legislativa. A causa de aumento do repouso noturno se coaduna com o furto qualificado quando compatível com a situação fática. STF. 1ª Turma. HC 180966 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 04/05/2020. STJ: Desde 2014, o STJ também caminhava na esteira do entendimento perfilhado pelo STF. Porém, em maio de 2022, houve uma mudança de posicionamento na Corte Superior para entender que a causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do Código Penal (prática do crime de furto no período noturno) não incide no crime de furto na sua forma qualificada (§ 4º). Para a 3ª Seção, a topografia do art. 155 afasta a aplicação do DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 13 furto noturno à forma qualificada. Sob o prisma da proporcionalidade, argumentou-se, ainda, que se for possível aplicar a majorante do repouso noturno à forma, a pena poderia ser maior do que a do roubo. STJ. 3ª Seção. REsp nº 1.888.756/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 25/05/2022. A causa de aumento de pena do § 1º do art. 155 do CP, além de se aplicar para os casos de furto simples (caput), pode também incidir nas hipóteses de furto qualificado (§ 4º)? STF = SIM STJ = NÃO A causa de aumento do repouso noturno se coaduna com o furto qualificado quando compatível com a situação fática. A causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do Código Penal (prática do crime de furto no período noturno)não incide no crime de furto na sua forma qualificada (§ 4º). 1.3 Furto Privilegiado (art. 155, §2º, CP) Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Se o criminoso é primário e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. a) Natureza jurídica: causa de diminuição de pena O STJ vem entendendo que a causa de diminuição de pena do art. 155, §2º, CP, constitui direito subjetivo. Neste sentido, confira-se o seguinte excerto de resumo de acórdão: Em relação à figura do furto privilegiado, o art. 155, § 2º, do Código Penal impõe a aplicação do benefício penal na hipótese de adimplemento dos requisitos legais da primariedade e do pequeno valor do bem furtado, assim considerado aquele inferior ao salário mínimo ao tempo do fato. Trata-se, em verdade, de direito subjetivo do réu, não configurando mera faculdade do julgador a sua concessão, embora o dispositivo legal empregue o verbo 'poder'. (STJ; Quinta Turma; HC 583023/SC; Relator Ministro Ribeiro Dantas; Publicado no DJe de 10/08/2020). b) Requisitos: Primariedade do agente + pequeno valor da coisa ● Primariedade do agente: Pelas regras de reincidência do art. 62 a 65 do CP, é primário: DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 14 ⋅ Aquele não apresenta condenação irrecorrível anterior; ⋅ Aquele que, depois de 5 anos da extinção da pena a que foi condenado pela prática de outro delito, vier a cometer outro crime (não é reincidente, mas portador de maus antecedentes). ● Pequeno valor: a jurisprudência tem admitido em casos que a coisa tem valor de até 1 salário- mínimo: (Não se confunde com coisa de valor insignificante, cujo critério adotado é 10% do salário mínimo!) O salário-mínimo pode ser adotado como parâmetro de referência para conceituar coisa de pequeno valor, não podendo, entretanto, ser adotado como critério de rigor aritmético, impondo-se ao juiz sopesar outras circunstâncias próprias do caso. STJ AgRg no HC 478994/SC. Obs.: É indiferente que o bem furtado seja restituído à vítima. Para se ter o benefício é apenas primariedade e pequeno valor do objeto furtado – direito subjetivo do réu! Cuidado!!! Não confundir furto privilegiado (diminuição de pena) com furto insignificante (fato atípico). Para que seja aplicada a insignificância há necessidade de preenchimento dos 4 vetores que já mencionamos no arquivo que tratamos de princípios: mínima ofensividade da conduta, ausência de periculosidade social da ação, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade de lesão jurídica ao bem jurídico. Sobre o tema: Jurisprudência em tese (STJ) ed. 221 – Princípio da insignificância 1) Para fins de aplicação do princípio da insignificância na hipótese de furto, é imprescindível compreender a distinção entre valor irrisório e pequeno valor, uma vez que o primeiro exclui o crime (fato atípico) e o segundo pode caracterizar furto privilegiado. 2) A lesão jurídica resultante do crime de furto, em regra, não pode ser considerada insignificante quando o valor dos bens subtraídos for superior a 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos. Admite-se reconhecer a não punibilidade de um furto de coisa com valor insignificante, ainda que presentes antecedentes penais do agente, se não denotarem estes tratar-se de alguém que se dedica, com habitualidade, a cometer crimes patrimoniais. AgRg no REsp 1.986.729-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 28/06/2022, DJe 30/06/2022. Disponível no Info 722/STJ. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 15 Jurisprudência em Teses do STJ (edição nº 47): 7) O princípio da insignificância deve ser afastado nos casos em que o réu faz do crime o seu meio de vida, ainda que a coisa furtada seja de pequeno valor. 13) Reconhecido o privilégio no crime de furto, a fixação de um dos benefícios do § 2º do art. 155 do CP exige expressa fundamentação por parte do magistrado. ● Furto privilegiado cometido durante o repouso noturno: o furto cometido durante o repouso noturno é causa de aumento de pena compatível com o privilégio. ● Furto privilegiado-qualificado (furto híbrido): Súmula 511, STJ “é possível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora de ordem objetiva”. Segundo a doutrina, a única qualificadora de ordem subjetiva é a do abuso de confiança. Já o STJ, em julgado, também cita como de ordem subjetiva que inviabiliza o benefício penal é a de abuso de confiança. Entretanto, em julgado mais recente, também foi considerado o emprego de fraude como incompatível por possuir também natureza subjetiva. STJ, AgRg no AREsp 1841048/MS 19/12/2019 Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte assertiva: No caso de crime de furto qualificado, tratando-se de réu primário, se o objeto subtraído for de pequeno valor e a qualificadora for de ordem objetiva, será permitido o reconhecimento de furto privilegiado. 1.4 Cláusula de equiparação Conforme o art. 3º do CP, é equiparada à coisa móvel a energia elétrica, ou ainda qualquer outra energia capaz de ter valor econômico (ex.: energia genética - sêmen de animais). ● Furto de energia elétrica (“gato”) x Estelionato para o consumo com fraude no medidor: No primeiro, o agente não está autorizado a consumir a coisa – há uma ligação clandestina. No segundo, o agente está autorizado a consumir a coisa, mas utiliza a fraude para que o medidor não mostre seu real consumo, para pagar menos. A ligação da energia é legítima, o que é adulterado é o medidor. A alteração do sistema de medição, mediante fraude, para que aponte resultado menor do que o real consumo de energia elétrica configura estelionato. Ex.: as fases “A” e “B” do medidor foram isoladas por um material transparente, que permitia a alteração do relógio fazendo com que fosse registrada menos energia do que a consumida. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.418.119-DF, Rel. Min. JoelIlan Paciornik, julgado em 07/05/2019 (Info 648) about:blank about:blank about:blank about:blank DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 16 Caiu na prova Delegado PC-PB (2022) (CESPE/CEBRASPE): Conforme entendimento do STJ, o uso fraudulento de material transparente nas fases “a” e “b” do medidor de consumo de energia elétrica que permita a alteração do relógio para reduzir a quantidade registrada e consumida e induza a erro a companhia de eletricidade, gerando a obtenção de vantagem ilícita, configura o crime de estelionato. (item correto) Atenção à jurisprudência sobre o tema: O pagamento do débito oriundo de furto de energia elétrica antes do recebimento da denúncia não é causa de extinção da punibilidade. No caso de furto de energia elétrica mediante fraude, o adimplemento do débito antes do recebimento da denúncia não extingue a punibilidade. O furto de energia elétrica não pode receber o mesmo tratamento dado ao inadimplemento tributário, de modo que o pagamento do débito antes do recebimento da denúncia não configura causa extintiva de punibilidade, mas causa de redução de pena relativa ao arrependimento posterior (art. 16 do CP). Isso porque nos crimes contra a ordem tributária, o legislador (Leis nº 9.249/1995 e nº 10.684/2003), ao consagrar a possibilidade da extinção da punibilidade pelo pagamentodo débito, adota política que visa a garantir a higidez do patrimônio público, somente. A sanção penal é invocada pela norma tributária como forma de fortalecer a ideia de cumprimento da obrigação fiscal. Já nos crimes patrimoniais, como o furto de energia elétrica, existe previsão legal específica de causa de diminuição da pena para os casos de pagamento da “dívida” antes do recebimento da denúncia. Em tais hipóteses, o Código Penal, em seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior, que em nada afeta a pretensão punitiva, apenas constitui causa de diminuição da pena. Outrossim, a jurisprudência se consolidou no sentido de que a natureza jurídica da remuneração pela prestação de serviço público, no caso de fornecimento de energia elétrica, prestado por concessionária, é de tarifa ou preço público, não possuindo caráter tributário. Não há como se atribuir o efeito pretendido aos diversos institutos legais, considerando que o disposto no art. 34 da Lei nº 9.249/1995 e no art. 9º da Lei nº 10.684/2003 fazem referência expressa e, por isso, taxativa, aos tributos e contribuições sociais, não dizendo respeito às tarifas ou preços públicos. STJ. 3ª Seção. RHC 101299-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 13/03/2019 (Info 645). CAIU PROVA CESPE/2020: Joaquim, com o intuito de fornecer energia elétrica a seu pequeno ponto comercial situado em via pública, efetuou uma ligação clandestina no poste de energia elétrica próximo a seu estabelecimento. Durante dois anos, ele utilizou a energia elétrica dessa fonte, sem qualquer registro ou pagamento do real consumo. Em fiscalização, foi constatada a prática de crime, e, antes do recebimento da denúncia, Joaquim quitou o valor da dívida apurado pela companhia de energia elétrica. Consoante a jurisprudência do STJ, nessa situação hipotética, Joaquim praticou o crime de furto mediante fraude, cuja https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/dead35fa1512ad67301d09326177c42f?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 17 punibilidade não foi extinta com o pagamento do débito, apesar de essa circunstância poder caracterizar arrependimento posterior. (item correto) ● Sinal de TV à cabo – “gatonet” – acabou a divergência entre o STF e o STJ: O STJ em sintonia com precedente do Supremo Tribunal Federal, entendeu que a captação clandestina de sinal de televisão por assinatura não pode ser equiparada ao furto de energia elétrica, tipificado no art.155, § 3º, do Código Penal, pela vedação à analogia “in malam partem”. A captação clandestina de sinal de televisão por assinatura não pode ser equiparada ao furto de energia elétrica, tipificado no art. 155, § 3.º, do Código Penal, pela vedação à analogia in malam partem. 2. Os equipamentos utilizados na prestação dos serviços de telecomunicações estão sujeitos à fiscalização e certificação pela Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, segundo previsto do art. 19, incisos XII e XIII, da Lei n. 9.472/1997, podendo tais objetos, inclusive, ser alvo de busca e apreensão por parte da referida Agência, segundo autorização contida no inciso XV, do mesmo artigo. Sendo assim, a montagem e comercialização de aparelhos em desacordo com as regras estabelecidas pelo mencionado Órgão caracteriza ofensa ao serviço por ela regulado e fiscalizado. 3. A conduta investigada, de venda de aparelhos para desbloqueio clandestino de sinal de televisão por assinatura, configura, em tese, o crime do art. 183, parágrafo único, da Lei nº 9.472/1997. 4. Havendo, em tese, a prática de crime contra as telecomunicações, tipificado na Lei n. 9.472/1997, está configurada a competência da Justiça Federal, por haver lesão a serviço da União, nos termos do art. 21, inciso XII, alínea a, c.c. o art. 109, inciso IV, da Constituição da República. 5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 7.ª Vara Criminal de São Paulo – SJ/SP, o Suscitante. (CC 173.968/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/12/2020, DJe 18/12/2020) 1.5 Furto Qualificado (art. 155, §4º, CP) Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619836/artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619746/par%C3%A1grafo-3-artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619836/artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619746/par%C3%A1grafo-3-artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11283426/artigo-19-da-lei-n-9472-de-16-de-julho-de-1997 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11283042/inciso-xii-do-artigo-19-da-lei-n-9472-de-16-de-julho-de-1997 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11283003/inciso-xiii-do-artigo-19-da-lei-n-9472-de-16-de-julho-de-1997 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103340/lei-geral-de-telecomunica%C3%A7%C3%B5es-lei-9472-97 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11268605/artigo-183-da-lei-n-9472-de-16-de-julho-de-1997 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11268558/par%C3%A1grafo-1-artigo-183-da-lei-n-9472-de-16-de-julho-de-1997 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11268558/par%C3%A1grafo-1-artigo-183-da-lei-n-9472-de-16-de-julho-de-1997 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103340/lei-geral-de-telecomunica%C3%A7%C3%B5es-lei-9472-97 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103340/lei-geral-de-telecomunica%C3%A7%C3%B5es-lei-9472-97 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639099/artigo-21-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10720935/inciso-xii-do-artigo-21-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10720727/alinea-a-do-inciso-xii-do-artigo-21-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/1148741/artigo-109-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10683505/inciso-iv-do-artigo-109-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 18 § 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) § 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) II – Aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) § 5º - A pena é de reclusão de trêsa oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) § 6o - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016) § 7º - A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) Trata-se de crime de elevado potencial ofensivo, não sendo aplicável nenhum dos benefícios da Lei 9.099/95. Hipóteses: Inciso I: Cometido com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa: ● Na destruição o obstáculo desaparece. No rompimento o obstáculo é danificado, mas continua existindo. ● O rompimento deverá ser sobre uma coisa exterior à coisa subtraída. Se a violência for aplicada contra a própria coisa, não incidirá a qualificadora. Ex.: quebrar o vidro do carro para furtar o som: furto qualificado. Quebrar o vidro do carro para furtar o próprio carro: furto simples (Obs.: Situação criticada em razão da ausência de proporcionalidade, mas os Tribunais Superiores vêm decidindo assim – em congruência com a letra de lei). ● Cão de guarda: é obstáculo. ● Bolsa que tem carteira dentro: bolsa não é obstáculo; caso o agente corte a alça da bolsa para furtar a carteira, por exemplo, não incide a qualificadora do rompimento de obstáculo, mas pode incidir a da destreza caso a vítima não perceba o ato, estando a bolsa junto ao seu corpo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14155.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13330.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13654.htm#art1 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 19 ● Há exigência de perícia, vez que deixa vestígio, salvo em caso de desaparecimento deles, quando a prova testemunhal pode suprir a falta. O reconhecimento da qualificadora de rompimento de obstáculo exige a realização de exame pericial, o qual somente pode ser substituído por outros meios probatórios quando inexistirem vestígios, o corpo de delito houver desaparecido ou as circunstâncias do crime não permitirem a confecção do laudo. Ainda que a presença da circunstância qualificadora esteja em consonância com a prova testemunhal colhida nos autos, mostra-se imprescindível a realização de exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1814051/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 07/11/2019. Como a banca CESPE/CEBRASPE já cobrou o tema: Delegado de Polícia – 2024 – PCPE: João, às 4 h da manhã, arrombou o cadeado da residência de Sebastião, adentrando o interior da casa da vítima. De forma sorrateira e sem fazer barulho, para evitar que acordasse a família da vítima, que lá dormia, João subtraiu uma televisão de 48 polegadas, levando-a consigo. Dez minutos após sair da casa de Sebastião, ao ser abordado por policiais militares, João acabou confessando a prática delituosa. Na situação hipotética apresentada, segundo o entendimento jurisprudencial do STJ, João praticou furto qualificado. Item correto. Delegado de Polícia – 2023 – PCAL: - +Pedro ingressou na residência de sua avó Teresa e subtraiu o pequeno cofre do quarto, levando-o para um beco. Sem saber o segredo do cofre, abriu-o com um maçarico e subtraiu as joias de seu interior. Em seguida, levou as peças a uma tradicional joalheria da cidade e vendeu-as a João, comerciante de 20 anos, que comprou os objetos sem se importar em apurar a origem. Considerando essa situação hipotética, julgue os itens que se seguem. O ato praticado por Pedro configura crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo e o praticado por João, crime de receptação qualificada. Item errado. Comentários: Pela análise da assertiva percebe-se que ele não rompeu o obstáculo para subtrair a res furtiva, mas arrombou o cofre, que tinha as jóias dentro, depois de já ter o subtraído, logo, não deve incidir a qualificadora objetiva (STF HC 98606/RS e HC 77675 / PR) O rompimento deverá ser sobre uma coisa exterior à coisa subtraída. Se a violência for aplicada contra a própria coisa, não incidirá a qualificadora. Nesse sentido, a destruição ou rompimento do obstáculo deve ocorrer antes ou durante a consumação do furto, ou seja, quando servir como meio de execução para a subtração da coisa alheia móvel. Inciso II: Cometido com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; a) Abuso de confiança – única qualificadora de ordem subjetiva. Segundo o autor Cleber Masson: “Confiança é o sentimento de credibilidade ou de segurança que uma pessoa deposita em outra. Cuida-se de circunstância subjetiva, incomunicável no concurso de pessoas, a teor da regra delineada pelo art. 30 do Código Penal. Esta qualificadora consiste na traição, pelo agente, da DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 20 confiança que, oriunda de relações antecedentes entre ele e a vítima, faz com que o objeto material do furto tenha sido deixado ou ficasse exposto ao seu fácil alcance” Requisitos cumulativos do abuso de confiança: ∘ O agente tem uma especial confiança da vítima (tem que ser de verdade, pois caso o agente se passe por um grande amigo da vítima pedindo dinheiro ao telefone, por exemplo, será a da fraude), ∘ O agente se aproveita dessa confiança para subtrair a coisa (deve haver relação de causa e efeito). ∘ Obs.: A relação de emprego, por si só, não configura a qualificadora se não preencher os requisitos acima. É preciso que haja uma verdadeira relação de confiança entre empregado e patrão. #NOMENCLATURA: FAMULATO é o furto doméstico, praticado por empregados. ● Diferencia-se da apropriação indébita: ∘ Furto qualificado pelo abuso de confiança: o agente não detém a posse efetiva do bem, mas pode ter simples contato com a coisa ou o que a doutrina chama de “posse vigiada”, abusando da confiança para efetuar a subtração (o dolo de ficar com a coisa é antecedente à posse). ∘ Apropriação indébita: o agente exerce a posse desvigiada do bem em nome de outrem e seu dolo de ficar com a coisa é superveniente. Não há subtração, a coisa é entregue ao agente e ele não a restitui. b) Mediante Fraude Ocorre quando o agente utiliza artifício (fraude material – Ex.: falso uniforme de garçom do local para subtrair pertences da mesa de clientes) ou ardil (fraude intelectual – conversa enganosa) para enganar a vítima e subtrair seus bens. Diferencia-se do estelionato, vez que nesse a fraude é empregada para ludibriar a vítima, para que ela própria entregue livremente seu bem ao agente (Ex.: falso assistente técnico de TV – a vítima entrega para consertar e o agente foge com o aparelho), enquanto no furto, a fraude é para facilitar a subtração. ● Hipóteses casuísticas: i) Falso “test drive”: subtração de veículo posto à venda mediante solicitação ardil de teste drive. Prevalece que é furto mediante fraude, vez que não é dada a posse desvigiada do bem. A posição do STJ é nesse sentido (HC 8179/GO, STJ) ii) Cartão clonado: se o agente “engana” a “máquina”, ou seja, o caixa eletrônico, é furto mediante fraude, vez que a fraude foi meio paraa subtração, não havendo entrega livre do bem por “alguém”. Se o agente se dirige a um estabelecimento bancário, por exemplo, e utiliza o cartão digitando a senha da vítima e obtém DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 21 valores em razão de enganar o funcionário, caracteriza estelionato, vez que a fraude foi contra alguém que lhe entregou livremente os valores. iii) Fraude em compras: se o agente coloca um produto caro dentro de uma caixa de produtos baratos, por exemplo, enganando o caixa acerca do conteúdo que está levando, é furto mediante fraude, já que o funcionário não sabe nem deixou que a coisa fosse levada. No entanto, caso o agente troque os códigos de barras de produtos, por exemplo, passando com eles normalmente no caixa e o funcionário não perceba a troca de valores e permita a retirada dos bens, será estelionato, vez que não houve subtração. iv) Gerente de banco que falsifica assinaturas em cheques de titularidade de correntistas com os quais, por sua função, mantinha relação de confiança, comete furto mediante fraude. A Turma deu provimento ao recurso especial para subsumir a conduta do recorrido ao delito de furto qualificado pela fraude (art. 155, § 4º, II, do CP), não ao de estelionato (art. 171 do CP). In casu, o réu, como gerente de instituição financeira, falsificou assinaturas em cheques de titularidade de correntistas com os quais, por sua função, mantinha relação de confiança, o que possibilitou a subtração, sem obstáculo, de valores que se encontravam depositados em nome deles. Para o Min. Relator, a fraude foi utilizada para burlar a vigilância das vítimas, não para induzi- las a entregar voluntariamente a res. REsp 1.173.194-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/10/2010. Disponível no Informativo 453/STJ. c) Mediante escalada A escalada aqui não significa, necessariamente, subir em algum lugar. Ou seja: não há altura definida, podendo ser ao alto ou subterrâneo, como é o caso de túnel. (Ex.: assalto ao Banco Central). O sentido de escalada, para os fins do art. 155, § 4º, II do CP é o de transpor um difícil obstáculo. Portanto, o furto qualificado pela escalada exige uma via de acesso anormal + esforço incomum. Não importa se é por habilidade do agente ou por utilização de objetos auxiliares, mas é necessário que haja um esforço considerável (Ex.: muro de 1m não incide). No furto de fios de cobre de postes: não incide, já que a escalada (a subida no poste) é via normal, leia-se, essencial, para a possibilidade de subtração do bem. Exige perícia do local, salvo impossibilidade de fazê-la, em razão da ausência de vestígios, hipótese em que pode ser suprida pelo exame indireto. O reconhecimento das qualificadoras da escalada e rompimento de obstáculo (previstas no art. 155, § 4º, I e II, do CP) exige a realização do exame pericial, salvo nas hipóteses de inexistência ou desaparecimento de vestígios, ou ainda se as circunstâncias do crime não permitirem a confecção do laudo. Quanto à escalada, a jurisprudência do STJ entende que a incidência da qualificadora prevista no art. 155, § 4º, inciso II, do Código Penal exige exame pericial, somente admitindo-se prova indireta quando justificada a impossibilidade de realização do laudo https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/1cecc7a77928ca8133fa24680a88d2f9?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/1cecc7a77928ca8133fa24680a88d2f9?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/1cecc7a77928ca8133fa24680a88d2f9?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/1cecc7a77928ca8133fa24680a88d2f9?categoria=11&subcategoria=106&assunto=261 DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 22 direito, o que não restou explicitado nos autos. STJ. 5ª Turma. HC 508.935/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 30/05/2019. É imprescindível, para a constatação da qualificadora referente à escalada no crime de furto, a realização do exame de corpo de delito, o qual pode ser suprido pela prova testemunhal ou outro meio indireto somente quando os vestígios tenham desaparecido por completo ou o lugar se tenha tornado impróprio para a constatação dos peritos, o que não foi evidenciado nos autos. STJ. 6ª Turma. HC 456.927/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 12/03/2019. Excepcionalmente, presentes nos autos elementos aptos a comprovar a escalada de forma inconteste, a prova pericial torna-se prescindível. Não se olvida que esta Corte firmou a orientação de ser imprescindível, nos termos dos arts. 158 e 167 do CPP, a realização de exame pericial para o reconhecimento das qualificadoras de escalada e arrombamento no caso do delito de furto (art. 155, § 4º, II, do CP), quando os vestígios não tiverem desaparecido e puderem ser constatados pelos peritos. No caso, a circunstância qualificadora foi comprovada pela prova oral, inclusive pela confissão do próprio réu, além da existência de laudo papiloscópico que identificou impressões digitais no local apontado pela vítima como sendo o local onde o réu pulou o muro. AgRg no REsp 1.895.487-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 02/05/2022. d) Mediante Destreza: Habilidade incomum que permite ao agente subtrair o bem que está junto ao corpo da vítima sem que esta note. Não incide a qualificadora quando a vítima que foi furtada estava desmaiada, embriagada, em sono profundo. Ex.: cochilou no ônibus. O agente delituoso é chamado pela doutrina de “punguista”, batedor de carteira. No crime de furto, não deve ser reconhecida a qualificadora da “destreza” (art. 155, § 4º, II, do CP) caso inexista comprovação de que o agente tenha se valido de excepcional — incomum — habilidade para subtrair a coisa que se encontrava na posse da vítima sem despertar-lhe a atenção. DESTREZA, para fins de furto qualificado, é a especial habilidade física ou manual que permite ao agente subtrair bens em poder direto da vítima sem que ela perceba o furto. É o chamado “punguista”. STJ. 5ª Turma. REsp 1478648-PR, Rel. para acórdão Min. Newton Trisotto (desembargador convocado do TJ/SC), julgado em 16/12/2014 (Info 554). A destreza deve ser analisada sob a perspectiva da vítima: ∘ Se a vítima percebe que está sendo furtada – tentativa de furto simples; DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 23 ∘ Se a vítima não percebe que está sendo furtada, mas terceiros percebem – há destreza: furto qualificado; ∘ Se a vítima não percebe que está sendo furtada, mas terceiros percebem e impedem o furto – tentativa de furto qualificado. Inciso III - Cometido com emprego de chave falsa; Chave falsa é qualquer instrumento, com ou sem a forma de chave, que se destine a abrir fechaduras (Ex.: arame, grampo, prego, mixa, etc.). Casuísticas trazidas pela doutrina: ∘ Cópia da chave verdadeira – incide a qualificadora. ∘ Chave verdadeira obtida fraudulentamente - não incide a qualificadora, pois não é falsa. ∘ Chave falsa para ligar o motor, mas não para abrir o veículo: prevalece que configura. ∘ “Ligação direta”: não configura, pois não há emprego de chave. ∘ A chave mestra de uma camareira, que abre as portas de todos os quartos do hotel, não é chave falsa. Jurisprudência em teses do STJ (edição nº 47) 4) Todos os instrumentos utilizados como dispositivo para abrir fechadura são abrangidos pelo conceito de chave falsa, incluindo as mixas. Inciso IV: Cometido mediante concurso de duas ou mais pessoas; Para a doutrina majoritária, autores e partícipes são contabilizados, inclusive os inimputáveis. No roubo, o concurso de agentes é apenas majorante, não qualificadora. Tentaram aplicá-la ao furto, aduzindoser mais benéfica (chama-se hibridismo penal). Contudo, tal posicionamento não foi aceito pelo STJ, já que não existe lacuna. Súmula 442-STJ: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo. Para o STF, a aplicação em concurso material desta qualificadora e do crime de associação criminosa não é “bis in idem”, pois protegem bens jurídicos distintos e são delitos autônomos. Art. 155, §4-Aº: se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. O objetivo dessa qualificadora é punir com mais rigor os furtos realizados em caixas eletrônicos localizados em agências bancárias ou em estabelecimentos comerciais mediante o emprego de explosivos etc. Aqui, o explosivo ou artefato análogo é o INSTRUMENTO para a prática do crime. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 24 Trata-se de qualificadora de ordem objetiva, motivo pelo qual se comunica aos coautores e partícipes do crime (art. 30, CP). Ressalta-se que, antes da lei, o agente que utilizava explosivos respondia por furto qualificado (por rompimento de obstáculo) somado com o crime de explosão majorada (art. 251, § 2º, do CP), em concurso formal impróprio. Os tribunais superiores entendiam não haver consunção. Porém, com a previsão específica do §4º-A, não é possível o concurso dos dois crimes, respondendo o agente apenas pela qualificadora, o que, na verdade, tornou mais branda a sanção, dando direito à redução da pena imposta aos condenados anteriormente. Antes da Lei 13.654/2018 Depois da Lei 13.654/2018 O agente respondia pelo art. 155, § 4º, I c/c o art. 251, § 2º do CP. Pena mínima: 6 anos. O agente responde apenas pelo art. 155, § 4º-A do CP. Pena mínima: 4 anos. É imprescindível que o emprego do explosivo cause perigo comum, ou seja, deve haver o risco ou a probabilidade de dano à vida, à integridade física ou patrimônio de um número indeterminado de pessoas. Assim, se o agente utilizar o artefato explosivo e deste não resultar perigo comum, ele incorrerá no furto qualificado pelo rompimento de obstáculo. Como essa modalidade de meio de execução deixa vestígios, o exame pericial é imprescindível, inclusive para atestar a potencialidade lesiva do explosivo e sua capacidade de gerar perigo comum. O furto qualificado pelo uso de explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum é perfeitamente compatível com o furto privilegiado, majorado e com as demais qualificadoras. Confira: · Ex.1: Indivíduo primário furta, mediante o uso de explosivo, coisa de pequeno valor. (Furto qualificado privilegiado). · Ex.2: Indivíduo furta, mediante uso de explosivo, caixas eletrônicos durante o repouso noturno. Para o STF: furto qualificado majorado. Para o STJ, apenas furto qualificado, sem a majorante. · Ex.2: Três indivíduos furtam caixas eletrônicos mediante o uso de explosivos (concorrência de qualificadoras – prevalece a qualificadora do §4º-A) Obs.1: Com o advento do Pacote Anticrime, o crime de furto com emprego de explosivos passou a ser considerado CRIME HEDIONDO (art. 1º, IX, Lei nº 8.072/90). Portanto, cuidado com as regras diferenciadas acerca da prisão temporária, tempo do inquérito policial, livramento condicional, progressão de regime, etc. Obs.2: Concurso de crimes entre furto qualificado e posse de explosivo sem autorização ou em desacordo com as normas legais (art. 16, §1º, III, Estatuto do Desarmamento): ∘ Se a posse de explosivo é direcionada apenas para a prática do furto – o furto absorve o crime do estatuto do desarmamento. ∘ Se a posse de explosivo é autônoma (Ex.: 2 dias após o furto, policiais encontram em sua casa diversos explosivos) – haverá concurso de crimes. DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 25 Art. 155, §4-B: Furto mediante fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático A Lei nº 14.155/2021 inseriu o § 4º-B, prevendo a qualificadora de furto mediante fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático e acrescentou o § 4º-C, prevendo duas causas de aumento de pena relacionadas com o § 4º-B. Art. 155, CP. (...) § 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o FURTO MEDIANTE FRAUDE é COMETIDO POR MEIO DE DISPOSITIVO ELETRÔNICO OU INFORMÁTICO, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. A nova modalidade de furto qualificado, com pena de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, incidirá se o furto mediante fraude for cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático. A conduta será qualificada se o furto mediante fraude ocorrer INDEPENDENTEMENTE de: · Estar conectado ou não à rede de computadores; · Haver ou não violação de mecanismo de segurança (ex.: hackear senha); · Haver ou não utilização de programa malicioso (Ex.: instalar programa que capta senha do usuário); Note que, pela extensão da previsão, basta que a fraude seja eletrônica, já que não é necessário que haja violação de senha nem mesmo conexão à internet. Se o agente invade o computador da vítima, instala um “malware” (programa malicioso), descobre sua senha e subtrai valores de sua conta bancária, comete qual delito? · Antes da Lei nº 14.155/2021: essa conduta se amoldava ao crime de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II, do CP). · Depois da Lei nº 14.155/2021: passou a existir um tipo penal específico para tratar sobre essa hipótese. Trata-se do art. 155, § 4º-B, do CP: Por se tratar de “novatio legis in pejus”, já que a pena desta modalidade de furto qualificado aumentou para 4 a 8 anos, tal dispositivo só deverá ser aplicado após a publicação da Lei 14.155/2021, de 27 de maio de 2021, não alcançando os crimes praticados antes da lei. Art. 155, §4-C: Causas de aumento de pena da conduta prevista no §4-B Art. 155, CP (...). § 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso: DIREITO PENAL DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 26 I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional; II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. Com a Lei nº 14.155/21, a pena do crime de furto mediante fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático será aumentada de 1/3 a 2/3 (causa de aumento de pena variável), a ser escolhida pelo critério da relevância do resultado gravoso. Assim, por exemplo, se o idoso teve um prejuízo patrimonial muito elevado, o magistrado poderá utilizar essa circunstância para impor um aumento no patamar de um terço até o dobro. Para que o autor responda pelas causas de aumento de pena é indispensável que exista dolo (consciência e vontade), ou seja, é necessário que o agente saiba que, no caso concreto, está sendo utilizado um servidor mantido no exterior ou que a vítima seja idosa ou vulnerável. O autor Rogério Sanches foi quem alertou para essa exigência1: “Note-se, por fim, que a majoração da pena pressupõe a ciência das circunstâncias referidas no § 4º-C. O autor da subtração deve ter conhecimento de que sua conduta se vale de conexão internacional. Ou deve saber que a vítima é idosa ou vulnerável, o que nem sempre ocorrerá, em razão das circunstâncias dos crimes cibernéticos, nos quais muitas vezes o criminoso não tem nenhum contato – nem mesmo remoto – com sua vítima.” Inciso I - aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional; A pena é aumentada em razão do fato representar, de algum modo, uma ameaça à soberania nacional. Além disso, essa