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Pesquisa em artes visuais: linhas das áreas de
criação
Prof.ª Alexandra Cristina Moreira Caetano
Descrição
O papel do artista pesquisador nas linhas das áreas de criação em artes
visuais. Processos e metodologias envolvidos na pesquisa nas áreas de
criação.
Propósito
Entender as linhas das áreas de criação em artes visuais como prático-
teóricas é essencial para a compreensão do papel do artista-
pesquisador e dos aspectos metodológicos que diferenciam esse
formato de pesquisa. O estudo dos processos se torna uma chave para
a compreensão do fazer artístico e um ponto de partida para a escrita
da pesquisa, considerando as escolhas do artista, seus referenciais, seu
envolvimento com sua arte e seus processos de criação.
Objetivos
Módulo 1
O artista pesquisador
Reconhecer o artista pesquisador e seu papel na pesquisa em artes
visuais.
Módulo 2
Estudo dos processos artísticos em
artes visuais
Analisar os processos artísticos envolvidos em pesquisas nas áreas
de criação.
Módulo 3
A pesquisa em artes no meio
acadêmico
Identificar as metodologias de pesquisa em artes visuais no meio
acadêmico.
Introdução
Em artes visuais, há diferentes contextos e atores envolvidos nos
processos de pesquisa. Individualmente, há artistas que são
somente artistas. Imersos em sua arte, sua preocupação e seu
envolvimento se atêm a ela, assim como às suas referências e
aos seus processos de produção.
De forma paralela, há o pesquisador em artes. Teórico, ele
pesquisa contextos históricos, poéticas, linguagens, meios e
processos. Trata-se daquele que desvenda a cabeça do artista,
embora não tenha criado nenhuma obra de arte em sua trajetória.
Dividimos a pesquisa nas artes em pesquisa sobre as artes
(história da arte, movimentos, artistas ou produções já
consagradas), pesquisa para as artes (processos criativos em
artes visuais ou tecnologias sencientes aplicadas a tais artes) e
pesquisa em artes (produção em poéticas visuais ou de
instalações interativas), relacionando produção prática.
Certos vieses metodológicos acompanham os formatos de
pesquisas, como, por exemplo, a pesquisa baseada em arte, a

pesquisa em artes e a artografia (a/r/tografia). Nossa busca,
desse modo, é costurar a pesquisa envolvendo a criação artística
e os processos de criação com a figura do artista-pesquisador,
trazendo tal pesquisa para o contexto acadêmico a fim de
ampliar a percepção sobre a produção realizada.
1 - O artista-pesquisador
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o artista-pesquisador
e seu papel na pesquisa em artes visuais.
Origens do artista-
pesquisador
Será que todo pesquisador em artes é um artista? Frequentando o
ambiente acadêmico, certamente você já se deparou com artistas e
pesquisadores dos mais variados.
Ao mirar a pesquisa voltada para a criação artística, é impossível não
pensar no artista-pesquisador. Afinal, quando o foco está na criação, tê-
lo à frente da pesquisa é o natural.
Entretanto, a ideia de manter o artista-pesquisador à frente dela
começou a ser construída por Elliot Eisner e Tom Barone, entre os anos
1960 e 1980, a partir das discussões que se cruzam com o ensino da
própria arte. Os autores a viam como uma forma de construir
conhecimento. Foi aí que se estruturou a Arts based research (ABR)
traduzido em português para Pesquisa baseada em arte (PBA).
Difundida no meio acadêmico a partir de 1990, a PBA só se consolidou
na primeira década do século XXI. Na década de 1980, Fernando
Hernandez, lastreado pelas investigações de Eisner, desenvolveu um
método de pesquisa que se baseia nas artes: a IBA (Investigación
basada em las artes).
Capa do livro: Arts based Research.
Abordaremos aqui a PBA e a IBA não para falar da metodologia de
pesquisa em si, e sim como ponto de partida da reflexão do perfil do
artista-pesquisador, cuja obra de arte torna-se um objeto da pesquisa.
Segundo Hernández (2008), o importante é perceber como o artista
desenvolve suas obras, seus trabalhos ou seus projetos e qual processo
poético e prático de criação foi construído por ele para chegar à obra
final. Ao abordarmos o artista-pesquisador, retomaremos aquele que:
Produz suas obras;
Explora os processos de criação;
Pesquisa a partir das suas criações;
Explora referências pelo fazer de outros artistas ou de seus alunos.
No meio acadêmico, o fazer artístico se transforma em pesquisa. Com
isso, o artista passa a ser um pesquisador. O artista-pesquisador
investiga:
A criação artística;
Os processos criativos;
Os modos de fazer arte;
As linguagens e contextos (não apenas em trabalhos, projetos e
obras dele, mas também em projetos similares).
O artista pensa em processos e fluxos, além de estabelecer etapas e
passos para a execução da obra. Seu objetivo é a criação de um método
próprio que seja o resultado da combinação de suas referências. Por
isso, ele explora suas emoções nos processos de criação, sendo, muitas
vezes, contido no seu fazer. Cada artista tem sua forma de:
Aplicabilidade de determinada
técnica
Exploração de linguagem
Utilização e escolha dos
materiais (insumos de suas
criações)
Já o pesquisador é racional, crítico e distante. Trata-se, afinal, daquele
que revela, desvenda, registra, coleta dados, metrifica e aponta. Ele
preocupa-se com a qualidade dos dados coletados e dos registros
realizados.
As artes e humanidades
proporcionaram uma longa tradição
de formas de descrever, interpretar,
e valorizar o mundo: história, arte,
literatura, dança, teatro, poesia e
música são algumas das formas
mais importantes por meio das
quais os humanos representaram e
configuraram as suas experiências.
Essas formas nunca foram
significativas para a indagação
qualitativa por razões que têm a ver
com uma concepção limitada e
limitante de saber.
(EISNER, 1998, p. 16)
O pesquisador também é detalhista e meticuloso, e procura ser fiel aos
fatos. Com isso, se aproxima de metodologias abraçadas pela ciência,
busca respaldo para suas pesquisas e confia nos registros de suas
observações, bem como em seus números. Todo pesquisador lida com:
A experimentação;
Não efetividade de seus testes;
O fazer e fazer novamente.
Em suma, o artista-pesquisador une o racional e o emocional/poético.
Ele precisa assumir um perfil investigativo, indo além da superfície e em
busca dos porquês, ao mesmo tempo que se deixa tocar, emocionando-
se com os resultados. Ele deve estar disposto a questionar sua forma de
fazer, arriscando-se a realizá-la de forma diferente pelo simples prazer
de testar novas formas. Por isso, ele está aberto aos seguintes desafios:
Criação
Nas áreas de pesquisa
em artes visuais que
envolvem a criação, o
Registro
No momento da
pesquisa, esse
pesquisador registra
artista-pesquisador
parte do processo da
sua obra ou dela
mesma. Essa
configuração é sua zona
de conforto, a criação
dele é o ponto de
partida para a
investigação de
materiais.
sua própria produção.
Com isso, cria
processos,
selecionando e
anotando dados
gerados nos processos
de criação. O registro é
parte desse processo –
e certamente dele
nascerá outra obra em
processo, isto é, em
desenvolvimento.
Diferentemente do pesquisador, que observa e faz a leitura e a
interpretação desses dados, na pesquisa de criação, que é uma
pesquisa prático-teórica, há tanto a produção quanto a fala sobre ela,
seja tal fala relativa ao processo ou à obra acabada. Manter a qualidade
em todas as etapas desse processo (na criação da obra e no registro da
pesquisa), portanto, é o que se espera do artista-pesquisador.
Artista e pesquisador?
Vamos aprofundar um pouco mais a relação entre o cotidiano artístico e
a vida acadêmica do profissional da área de Artes.
O papel do artista-
pesquisador
O papel do artista-pesquisador está em desvelar processos de criação.
As criações artísticas nascem na mente do artista e, muitas vezes,
permanecem por lá, sendo intocáveis.
Saindo do papel de gênio criativo, esse artista se coloca comoobservador, questionador e arqueólogo do próprio processo de
produção em arte. Seu papel principal está em se expor, retirando as


camadas poéticas e desconstruindo os passos da criação, além de
fazer com que tudo aquilo íntimo e próprio do artista que ele é faça
sentido para qualquer outro que venha a ler sua pesquisa.
O artista-pesquisador busca novos meios de aliar a pesquisa teórica à
sua produção prática. Na área de pesquisa em processos de criação, o
pesquisador mantém a produção artística ou inicia sua produção em
função da pesquisa.
Exemplo
Em busca de um embasamento sobre sua produção por meio de
métodos de pesquisa, ele faz um levantamento de um referencial
bibliográfico, seja com o foco na construção de referências para sua
produção artística, seja para a produção conceitual (que é parte da
pesquisa).
Esse artista explora os temas de seus processos de criação. Tais
processos são pertencentes à prática artística, pois é nela que se
apresenta a aproximação do artista com a sua produção poética.
Quanto mais estreita a relação dele com sua pesquisa, mais se
evidencia a concretização do seu pensamento na produção.
O artista-pesquisador é um alquimista que
busca no fazer as respostas que não encontra
em conceitos e teorizações.
Olhando para a pesquisa em arte, nota-se que o recorte se atém ao
processo metodológico do pesquisador. Tal metodologia se faz
presente na construção da prática na pesquisa em arte e nos modos de
se operar essa pesquisa. Porém, como a arte é um campo de invenção,
experimentação e subjetividade, os modos de pesquisa mais rígidos não
dariam conta de mencionar esses processos criativos.
Diante da rigidez do método científico, o artista-pesquisador não
consegue se ver mais espelhado na pesquisa que iniciou, não se
reconhecendo nos modos em que operou durante o processo de
investigação.
Isso demonstra a importância de se investigar a pesquisa em arte não
em busca de definir uma metodologia específica, e sim para apresentar
possibilidades na flexibilidade, na mobilidade e na mutabilidade, como
se dá, por exemplo, no próprio ato de fazer arte.
A teoria, os conceitos e os registros fazem parte do processo de
criação. Dessa forma, tal pesquisa é processual, sendo o fio condutor de
uma produção, pois:
A pesquisa em artes visuais implica
um trânsito ininterrupto entre prática
e teoria. Os conceitos extraídos dos
procedimentos práticos são
investigados pelo viés da teoria e
novamente testados em
experimentações práticas, da
mesma forma que passamos, sem
cessar, do exterior para o interior, e
vice-versa.
(REY, 2002, p. 123)
A sociedade costuma aceitar bem a ideia de que o artista é um
pesquisador na construção de conhecimento. A dificuldade talvez esteja
no valor que esse conhecimento tem para a vida prática (resultado da
pesquisa acadêmica) na comparação, por exemplo, com o
conhecimento da ciência. Nessa perspectiva, o conhecimento da arte se
centra no produto da obra de arte, enquanto a pesquisa do artista se
fecha em sua autoexpressão. Essa é a crítica feita ao artista-
pesquisador, o qual, quando se fecha na investigação da obra dele,
pesquisa sobre sua identidade artística e seu universo paralelo antes de
investir na pesquisa sobre o que de fato interessa ao mundo exterior, ao
científico ou ao social. Veja a seguir algumas premissas do artista-
pesquisador:
A arte requer que o artista, ao criar uma obra, estabeleça seu
percurso, sua forma e seus modos de fazer. Como criador de
processos, projetos e obras de arte, ele tem a possibilidade de
estruturar seus caminhos no próprio universo de trabalho, pois
a pesquisa é resultado dos registros realizados pelo caminho
percorrido durante o trabalho de criação.
O artista-pesquisador transforma seu papel original de artista.
Ele estabelece o movimento de externalização da arte (no
geral) e da sua arte, a qual, em pesquisa, é analisada e
comparada ao trabalho de outros artistas, ao mesmo tempo
que é confrontada e desnudada em seus processos.
O que interessa ao artista-pesquisador são as rupturas na
ordem do discurso da arte, que estabelecem um fluxo linear
para tornar tal discurso didático e criam dicotomias entre belo
ou útil, sujeito ou objeto, teoria ou prática, corpo ou mente,
forma ou substância.
Artistas-pesquisadores:
referências históricas
Mas quem são esses artistas-pesquisadores? Na realidade, eles só
passaram a existir com esse nome, por direito, quando a pesquisa em
artes se concretizou nas universidades.
Silvio Zamboni (2006) usa o termo “pesquisa em arte" para diferenciar
as pesquisas empreendidas por artistas que objetivam obter como
produto final a obra de arte, em que o artista se assume como
pesquisador, daquelas desenvolvidas em outros campos das artes,
como história, teoria da arte, arte-educação, restauro e curadoria, entre
outros exemplos, que já possuem há mais tempo metodologias próprias
e uma área de atuação mais clara.
Saiba mais
O ensino superior em Artes Visuais demorou a ser estabelecido no
Brasil, o que só ocorreu em 1974. A Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA/USP) foi a precursora na implantação
de um programa de pós-graduação em Artes Visuais, introduzindo no
país as pesquisas referentes à teoria, à crítica, ao ensino e à história da
arte. Trata-se de um dos primeiros programas do mundo a estabelecer a
pesquisa do artista na universidade (GODÓI, 2021). Em 1980, já
professora do Colégio de Aplicação da ECA/USP, Regina Silveira foi a
primeira artista a defender uma dissertação no programa de pós-
graduação recém-criado. Com o título Anamorfas, o trabalho se trata de
uma produção artística e um texto descritivo com referências, a partir
de uma bibliografia, à produção anterior da artista e à história da arte
por meio de aspectos conceituais relacionados à obra.
De lá para cá, muita coisa mudou – a começar pelo fato de as
instituições de ensino terem desenvolvido grupos de pesquisa.
Atualmente, muitos deles são ativos e participantes em uma constante
construção das pesquisas em artes. Destacaremos a seguir alguns
desses grupos espalhados pelos quatro cantos do país:
Poéticas Digitais (com Gilbertto Prado); SCIArts (com uma
equipe interdisciplinar formada pelo artista visual Milton Sogabe,
pelo engenheiro e físico Fernando Fogliano e pela artista Anna
Barros, que contribui com suas experiências com nanoarte).
Grupo Nano, liderado por Malu Fragoso e Guto Nóbrega; REDE –
Arte e Tecnologia Redes Transculturais em Multimídia e
Telemática com Malu Fragoso.
LEVE – Laboratório de Estudos e Vivências da Espacialidade
coordenado por Maria Elisa Campos do Amaral; e Grupo de
Pesquisa nas Interfaces entre Arte e Tecnociência – UFJF
(Universidade Federal de Juiz de Fora) com Adriana Gomes de
Oliveira.
MediaLab/UNB (Universidade Nacional de Brasília) com Suzete
Venturelli; e Corpos Informáticos com Bia Medeiros.
São Paulo 
Rio de Janeiro 
Minas Gerais 
Distrito Federal 
MediaLab/UFG (Universidade Federal de Goiás) representado por
Cleomar Rocha; Criação e Ciberarte liderado Edgar Franco e
Fabio Oliveira Nunes.
Grupo Artecno/UCS (Universidade de Caxias do Sul) com Diana
Domingues; Labart/UFSM (Universidade Federal de Santa Maria)
com Nara Cristina Santos; e o Labinter/UFSM coordenado por
Andréia Oliveira Machado.
Há também outros grupos de pesquisadores presentes em:
Belém do Pará (Val Sampaio), Bahia (Karla Brunet e o grupo
Ecoarte) e Florianópolis (Yara Guasque).
Optamos por destacar os artistas-pesquisadores inseridos nas
academias. Por conta disso, não mapeamos – embora salientemos aqui
– o percurso do artista-pesquisador, o qual, autônomo, pesquisa a partir
do seu ateliê, explorando diversas conexões entre as artes visuais e as
outras áreas e construindo poéticas, o que nos leva a refletir sobre o
perfil do artista contemporâneo.
Se pensarmos nos artistas contemporâneos mais conhecidos, veremos
que as suas formações são as mais diversaspossíveis, não seguindo
necessariamente apenas as artes visuais. Entre os artistas-
pesquisadores, é possível encontrar:
O autodidata;
O discípulo;
Aquele que frequenta cursos livres ou uma graduação em Artes;
Quem tem formação em cursos, como, por exemplo, Arquitetura,
Design Gráfico ou mesmo de outras áreas;
Imigrantes das áreas de exatas, perfazendo conexões com as artes
visuais.
Dessa forma, vamos nos concentrar na pesquisa-criação, pois o aspecto
presente em qualquer perfil de artista-pesquisador é justamente a
Goiás 
Rio Grande do Sul 
Outras localidades 
pesquisa com foco na criação, etapa na qual a obra/projeto/trabalho
constitui tanto o propósito da pesquisa quanto seu resultado esperado.
O espaço do artista-
pesquisador
Se precisamos escolher uma metodologia de pesquisa que se encaixe
perfeitamente com o perfil do artista-pesquisador, ela é a pesquisa-
criação, já que possibilita a intersecção dos campos artísticos tanto no
nível teórico quanto no prático, proporcionando, assim, o
desenvolvimento de experiências e habilidades essenciais para
transformar a criação artística.
A pesquisa por meio das práticas artísticas e inserida nelas abre um
leque de possíveis colaborações entre artistas, pesquisadores e
cientistas, estejam eles presentes em áreas acadêmicas ou não. Veja a
seguir:
É um espaço de experimentação e de hibridação entre
elaboração teórica, experiência prática e criação artística,
gerando a oportunidade de se estabelecer um diálogo
interdisciplinar e interartístico. É um convite para se considerar a
arte como o cruzamento entre teoria e prática, configurando um
espaço expandido de produção de conhecimento,
experimentação e renovação das relações entre o pensamento
crítico e teórico, a prática artística e a transmissão. Sua
metodologia, portanto, questiona o alcance dos conhecimentos e
das formas produzidas.
É procedente das nossas produções artísticas rumo a
elaborações teóricas, criando o meio do caminho, isto é, a
interseção entre teoria e prática circunscrita na construção
poética e na racionalização da pesquisa. O artista-pesquisador
entende a pesquisa como uma ação prático-teórica
indissociável.
Pesquisa-criação 
Pesquisa-ação 
Se compreendemos a criação como um ato de ordenar, selecionar,
relacionar e integrar elementos que inicialmente nos pareciam
impossíveis, então devemos entender que o processo de trabalho
criativo, a criação artística e a pesquisa se aproximam durante o
percurso (ZAMBONI, 2006). Por se tratar de uma pesquisa prática-
teórica, seu foco inicial está na produção artística, nas ideias e insights,
nos processos criativos e nos processos de pesquisa e de trabalho que
permeiam a criação, culminando na produção da obra.
Ao longo do processo de elaboração da prática, surgem demandas de
conhecimento. Elas dizem respeito à necessidade de referenciais
artísticos e teóricos e aos conhecimentos que o artista-pesquisador não
detém. A partir de tais demandas do processo artístico, desenvolvem-se
a fundamentação teórica e a construção dos referenciais bibliográficos,
webgráficos, artísticos e imagéticos que acompanham a pesquisa em
arte.
Ao considerar a pesquisa em arte na perspectiva da produção em
pesquisa-criação, percebe-se, na visão do artista-pesquisador, quão
necessário é buscar interfaces que resultem em trabalhos mais
dinâmicos e mais complexos e que demandem construções
colaborativas, processos coletivos e um trabalho em equipe.
Dica
O trabalho colaborativo com artistas envoltos em suas poéticas de
criação e aquele realizado pelo pesquisador representam dois
momentos distintos no interior do processo de pesquisa, ainda que
ambos sejam complementares.
A prática se processa em etapas. O incentivo da produção teórica
ocorre de forma simultânea ao registro do processo criativo e da
pesquisa conceitual e referencial. A produção prática, por sua vez, inicia-
se com um momento de introspecção do pesquisador.
Individual, a produção teórica é acompanhada por brainstorms
temáticos e contextuais, ou seja, o registro de ideias. No entanto, essa
pesquisa só conseguirá avançar e se expandir a partir da colaboração e
das parcerias. Conheça agora o registro do processo da pesquisa-
criação:
Brainstorms
Brainstorm ou braintorming, cuja tradução do inglês seria tempestade
mental, é uma técnica utilizada com objetivo de levantar ideias acerca de
determinado tema, mas sem amarras conceituais. Com isso, todos os
participantes falam suas ideias acerca da proposta feita, mesmo aquelas
que poderiam parecer exageradas e descontextualizadas. Após o registro
de todas essas ideias, a mesma equipe analisa sua pertinência e
A pesquisa-criação constitui o lugar do artista-pesquisador por levá-lo à
ação constantemente. Ela estabelece que a obra constitui o resultado
esperado e a necessidade de pesquisar tal obra, assim como de realizar
uma pesquisa sobre seus processos e seus entornos.
 Fase exploratória
Observar para reunir informações e construir um
contexto.
 Fase de ideação
Pensar, explorar, estabelecer processos e definir
poética.
 Fase de ação
Fazer, produzir, criar, intervir e moldar a criação.
 Fase de validação
Registrar, analisar, refletir e comunicar.
Como artista, desenvolve-se o processo poético de criação das obras,
trabalhos e projetos. Já como pesquisador, são desenvolvidas as
metodologias que caibam no formato de pesquisa, o qual, em primeiro
plano, considera a poética de criação da obra.
Fluxos, processos e registros, assim como a criação da obra e a
pesquisa, são, portanto, simbióticos e indissociáveis.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O artista-pesquisador tem um perfil distinto tanto do artista, focado
na sua produção e nos seus processos de criação, quanto do
pesquisador, que desenvolve sua pesquisa, seja ela teórica ou
prática. Esse tipo de artista desenvolve ações que perpassam os
papéis referenciados, dando espaço para o surgimento de um novo
perfil prático-teórico. Assinale a alternativa que caracteriza o perfil
do artista-pesquisador.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Embora as outras opções destaquem as características do artista-
pesquisador, elas as apresentam de forma incompleta. Porém, ao
afirmarmos que “o artista-pesquisador analisa, compara, subverte a
ordem natural e externaliza sua arte”, destacamos os seguintes
pontos essenciais do personagem em questão: a capacidade
A
O artista-pesquisador mantém a integralidade do
papel original do artista.
B
O artista-pesquisador analisa, compara, subverte a
ordem natural e externaliza sua arte.
C
O artista-pesquisador busca a linearidade didática
do processo de criação.
D
O artista-pesquisador mergulha no processo
criativo, estando preocupado com a produção.
E
O artista-pesquisador concentra-se no levantamento
e no cruzamento referencial para registro.
reflexiva (graças a seu olhar de pesquisador) e, principalmente,
criativa dele frente ao mundo que observa, assim como sua
necessidade de externalizar o que nasce de sua
pesquisa/criatividade artística.
Questão 2
Definir a pesquisa-criação não é tarefa fácil, mas ela se torna
fundamental se queremos realmente compreender a extensão
dessa área de pesquisa no âmbito das artes visuais. Dessa
maneira, marque a opção que, de forma mais completa, descreve
uma das etapas da pesquisa-criação.
Parabéns! A alternativa C está correta.
O processo da pesquisa-criação abrange as seguintes fases: fase
exploratória: observar para reunir informações e construir um
contexto; fase de ideação: pensar, explorar, estabelecer processos e
definir poética; fase de ação: fazer, produzir, criar, intervir e moldar a
criação; e fase de validação: registrar, analisar, refletir e comunicar.
A
Fase exploratória: explorar, estabelecer processos e
fazer brainstorming.
B
Fase de ideação: observar, levantar dados, reunir
informações e construir um contexto.
C
Fase de ação:fazer, produzir, criar, intervir e moldar
a criação.
D
Fase de validação: análise de registro e definição do
formato e da obra.
E Fase de registro: pesquisa propriamente dita.
2 - Estudo dos processos artísticos em artes
visuais
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar os processos artísticos
envolvidos em pesquisas nas áreas de criação.
A pesquisa baseada em arte
A pesquisa baseada em arte (PBA) é uma metodologia que nasceu do
campo das Ciências Sociais, da Psicologia e da Educação para dar
suporte às pesquisas nessas áreas tendo como base a investigação de
imagens e de aspectos estéticos e performáticos, os quais, encontrados
em suas investigações, os pesquisadores consideraram que a arte tinha
uma melhor abordagem metodológica para o tema. A PBA, portanto, é
inspirada no modo de criar dos artistas, ou seja, no seu processo de
criação. Para Barone e Eisner (2006), a PBA reúne as seguintes
características:

Utiliza elementos artísticos e estéticos

Busca outras maneiras de olhar e representar a experiência

Trata de debelar aquilo do qual não se fala
A metodologia PBA apresenta a inclusão de características bastante
comuns na prática artística, que envolvem incerteza, imaginação, ilusão,
introspecção, improvisação, visualização e dinamismo nos processos
de pesquisa. As artes, em suma, levam o fazer para o campo da
pesquisa.
A prática e a teoria são indissociáveis quando a
proposta é realizar uma pesquisa prático-
teórica.
Como o processo da pesquisa teórica se constrói por uma demanda do
desenvolvimento da prática, quando se está em um processo do tipo, é
preciso, em diversos momentos, investigar certos pontos da teoria para
se desvencilhar de impasses no projeto. Dessa maneira, é fundamental
estar consciente dos próprios processos de criação.
Isso significa entender quão fundamental é inserir, no processo de
costrução, qualquer referencial válido, toda a proposta prática dessa
criação e sua história, reunindo-os como a costura de todos esses
elementos. No decorrer do processo, essa prática o transforma, assim
como os que mantêm contato com ela, pois tais pessoas adquirem
outras experiências e diferentes saberes.
A metodologia da pesquisa baseada nas artes
aumenta as possibilidades da prática de
pesquisa em praticamente qualquer área de
conhecimento.
Sob essa ótica, Barone e Eisner (2006) encontram sete aspectos para a
PBA:
1. Criação de uma realidade virtual em que a pesquisa se torna
palpável.
2. A presença da ambiguidade como estímulo.
3. Utilização de linguagem expressiva e poética.
4. Desafiar a linguagem contextualizada e vernacular.
5. Promover a empatia e a relação entre pesquisador e leitor, abrindo
espaço para o diálogo.
6. Demonstrar a autoria pessoal do pesquisador/artista/escritor. Isso
quer dizer que ele pode redigir a pesquisa em primeira pessoa e
falar sobre experiências pessoais pertinentes, fato que, muitas
vezes, foi justamente o que gerou o problema a ser pesquisado.
7. Utilização de uma forma estética de apresentação do trabalho (não
somente do ponto de vista visual, mas que também envolve todos
os sentidos) relacionada ao conteúdo do trabalho.
No Brasil, destaca Caetano (2015), algumas organizações que
promovem a pesquisa em artes (o que é diferente daquela baseada nas
artes) também englobam as PBA. Listemos alguns autores brasileiros
que trabalham com PBA: Sílvio Zamboni, Blanca Brittes, Elida Tessler,
Maria Carla G. A. Moreira, Ricardo Basbaum, João A. Telles e Bia
Medeiros.
Quanto à IBA, Hernández (2008) informa que os seguintes itens podem
ser considerados uma investigação baseada nas seguintes artes:
Ensaios visuais nos quais as imagens contam por si mesmas
um relato ou dialogam – o que é diferente de ilustrar – a partir
de outro plano em relação àquele que apresenta o texto.
Ensaios que usam diferentes formas de narrativa literária e
experiências de transição por meio da educação para permitir
ao leitor estabelecer uma ressonância com o texto que lhe foi
dado.
Investigações que apresentam o processo e o resultado,
utilizando formas não convencionais de investigação
(especialmente aquelas com recursos visuais ou
performáticos).
O valor desses exemplos depende de nosso foco. Afinal, o que
caracteriza a "investigação baseada nas artes" não é a inclusão de
imagens, textos literários, poesias ou desenhos para compor a pesquisa.
A IBA se caracteriza, na verdade, pelo modo como essas e outras
formas de representação artística se inserem na pesquisa, em que
ponto elas se situam e onde se encontram pesquisadores e leitores.
Não se trata, portanto, de usar determinados métodos ou práticas
"artísticas", e sim de se relacionar de "outro modo" com o que se
investiga, isto é, se apropriar de outro tipo de olhar que se reconhece
no "artístico" e que permite vislumbrar aquilo que, mediante outras
metodologias, seria impossível.
O cotidiano de um pesquisar
em artes visuais

Através de um relato pessoal e profissional, vamos entender como a
atuação pesquisador em artes, para um docente, é fundamental.
Processos criativos: o artista
sendo artista
Na pesquisa em artes visuais, a análise e os questionamentos precisam
estar vinculados tanto com o desenvolvimento da sensibilidade do olhar
quanto com a fundamentação teórica sobre o processo criativo. É
fundamental que o artista-pesquisador busque uma metodologia que
favoreça a expressão do processo criativo mediado pela postura de
pesquisador. As variáveis, portanto, devem ser mensuradas e analisadas
com o propósito de atingir um fim com o processo de pesquisa.
Nessa modalidade de pesquisa, o objeto vai se desvelando aos poucos.
À medida que o processo de investigação se consolida, as hipóteses
podem ser revistas. O percurso, assim, precisa ser ressaltado.
A poética dos processos de criação é marcada pela reflexão sobre os
meios em que a obra se realiza. É preciso pensar no ambiente, no
tempo/espaço e em como se desenrola a proposta criativa para que as
interfaces possibilitem e potencializem as conexões presentes no
discurso artístico.
As artes visuais exploradas em áreas de criação suscitam ambientes
nos quais é permitido ultrapassar a instrumentalidade e explorar outros
comportamentos e maneiras de se conectar uns aos outros.
É possível perceber, de acordo com Plaza e Tavares (1998), as
metodologias e as poéticas artísticas inerentes aos meios tecnológicos
que investigam os processos criativos subjacentes à metodologia das
obras computacionais. Os autores afirmam que criar com os meios
eletrônicos difere-se da prática artesanal, já que os produtos artísticos
derivam das potencialidades e das especificidades da infraestrutura
tecnológica e/ou da combinação algorítmica que estabelece um campo
de infinitas possibilidades a explorar.
Desse modo, nos processos
criativos em meios computacionais ,
a qualidade é evidenciada como
compromisso estabelecido entre a
subjetividade daquele que inventa e
as regras sintáticas inerentes aos
programas por ele utilizados: Essas
tecnologias, ao participarem deste
tipo de criação, instituem-se como
forma de expressão, manifestada
pelo diálogo entre a materialidade
do meio e o insight criativo.
(PLAZA; TAVARES, 1998, p. 63).
As diferentes poéticas revelam-se a partir de tais diálogos. Contudo,
antes de pensar no processo, é importante esmiuçar o potencial
conceitual dos termos “interatividade” e “interação”. Tais terminologias
eram empregadas pelos artistas nos anos 1980 quando a produção de
obras passou a incorporar o uso dos computadores, destacando a
possibilidade de uma maior participação do público.
Alguns artistas e pesquisadores se perguntam se a expressão “arte-e-
criação” requer um paradigma por si só. Não há uma resposta precisa,
pois existe uma vasta gama de pesquisas realizadas em artes. Além
disso, a investigação de vanguarda implantada por pesquisadores pós-
positivistas apresenta um trabalho que, às vezes, exibe uma notável
semelhançacom certas formas de práticas artísticas.
Na verdade, por causa das semelhanças entre a pesquisa realizada nas
artes e as alternativas conduzidas por investigadores em ciências
sociais, nossa tendência é situar a pesquisa-criação nas artes dentro de
um paradigma pós-positivista. Veja a seguir como a posição dos
artistas-pesquisadores varia quanto a esse requisito:
Pós-positivistas
“Por mais que os resultados de uma análise possam ser generalizados para
abranger uma ampla gama de situações, sempre haverá inconsistências
decorrentes da natureza dos fenômenos ou da própria incompletude do
pesquisador. Em razão disso, importante passo dado na ciência foi o
surgimento da concepção pós-positivista, que passou a assumir que a
realidade não é apreensível em sua totalidade, nem neutra e muito menos
objetiva, como defendiam (e ainda defendem) os cientistas positivistas.
Contudo, ainda hoje, os elementos caracterizadores do positivismo são
considerados por muitos pesquisadores como critérios essenciais para o
rigor e a cientificidade das pesquisas” (FURTADO PINTO et al., 2022, p. 2).
Teórico
Por um lado alguns
artistas permanecem
reticentes sobre essa
parte da pesquisa. Seu
argumento é que o
processo criativo e a
obra de arte são
suficientes, não
havendo a necessidade
de uma parte escrita.
Discursivo
Por outro, sobretudo,
alguns artistas querem
aprofundar o
componente discursivo
da pesquisa-criação.
Eles almejam entender
melhor sua prática
artística – ou, pelo
menos, compreendê-la
de forma diferente.

Processos criativos:
procedimentos artísticos
Cada procedimento artístico implica o estabelecimento de um conceito
sobre o processo expressivo. Ao analisar a obra, o artista-pesquisador
cria novos sentidos, ampliando a percepção e a compreensão sobre a
arte. Para concretizar a ação da pesquisa em artes visuais, explicam
Plaza e Tavares (1998), é necessário que o artista-pesquisador:
Verbalize suas ideias.
Crie estratégias.
Esteja atento às ambiguidades.
Utilize instrumentos para a pesquisa.
Conceitualize.
Redija pequenos ensaios ao longo do processo.
Apresente suas ideias com clareza.
Possa expressar-se com propriedade.
Faça análises comparativas.
Apresente os resultados de forma criativa.
A partir dessa percepção do papel da criação na pesquisa em artes, que
ainda poderia ser mais amplo, extrai-se que o espaço que reservamos
às artes (no sentido de criação artística) em uma investigação é, na
melhor das hipóteses, desigual. Na maioria dos estudos de caráter
narrativo, a etnografia continua sendo a forma mais comum de
"observar" o vivido.
As "artes" costumam ser vistas como uma possibilidade "alternativa" no
modo de dar conta, ou seja, de reconstruir ou comunicar o que é
aprendido na pesquisa. Sendo assim, poderíamos questionar:
Re�exão
Em que casos podemos falar de uma "investigação baseada nas artes"?
Em quais casos as artes constituem apenas uma estratégia pontual,
isolada, complementar e residual? Será que não podemos desenvolver
estratégias de "registro" baseadas nas artes? Que implicações teria esse
posicionamento para as pesquisas desenvolvidas no campo da
educação?
A partir desse ponto de vista, percebemos que o que está em jogo
nessas questões não é apenas a noção de "investigação baseada nas
artes", a qual manipulamos, mas também a própria noção de pesquisa,
de metodologia, de subjetividade ou de arte (no contexto de uma
investigação). O processo criativo, afinal, é inerente à prática do artista.
Uma possibilidade para o artista pesquisador dar sentido à prática seria,
em seu processo de criação, buscar a teoria e os conceitos que rodeiam
todos os pontos abordados na produção prática, tentando cercar todo
conhecimento capaz de justificar as escolhas feitas no desenvolvimento
da prática. Nesse processo, podemos sugerir as seguintes ações:
Até chegar à etapa das experimentações de fato, há um longo caminho
a ser percorrido entre tentativas e erros, o que abarca estudos,
rascunhos e rasuras, além das necessárias escolhas e definições para
limitar o escopo da pesquisa e manter o foco nos processos – e não
nos resultados. O processo criativo é parte do artista que produz, isto é,
que cria sua obra. Como você descreve a forma com que se relaciona
com os materiais, os métodos de pesquisa e os seus registros?
 Mergulhar em sons, cores, abstrações envolvendo
cores, linguagens de programação, dispositivos,
interfaces e sistemas.
 Criar obras que sejam instalações interativas.
 Explorar referências e artistas que criam
instalações.
 Buscar fazer a engenharia reversa para apropriar-se
dos processos de outros artistas enquanto registra
seus apontamentos e considerações.
 Redigir notas de pesquisa (usadas para organizar a
prática).
Artogra�a: artista/
pesquisador/ professor
A a/r/tografia se trata de uma prática da "investigação baseada nas
artes" de perspectiva narrativa que parte do acrônimo a/r/t:
"a" de artist (artista).
"r" de researcher (pesquisador).
"t" de teacher (professor).
A a/r/tografia é um tipo de pesquisa realizada/produzida por um
pesquisador que também exerce a função de professor e artista.
Considerando que o artista-pesquisador, via de regra, está em um
ambiente acadêmico, existe uma grande probabilidade de que ele exerça
a docência.
Esse método aproxima-se da tríade: teoria, prática e ensino,
estabelecendo um diálogo entre esses elementos. Ao propor que o
pesquisador utilize a imaginação, a incerteza, a introspecção, a dúvida e
o erro como meios para a construção do conhecimento, a pesquisa
sobre artes, nessa concepção, não é neutra, mas, apesar de tais regras,
é flexível, adaptando-se aos campos dos saberes em que a arte é
produzida, vivenciada e apreciada.
A a/r/tografia reúne as pesquisas desenvolvidas a partir de diferentes
manifestações, como por exemplo: manifestações artísticas,
manifestações escritas, performances, artes visuais, visualidades.
Enquanto o artista mergulha nos processos criativos envolvidos em sua
arte, o professor distancia-se do objeto e ensina seus alunos. Já o
pesquisador observa o fazer deles, que seguem os passos de seu
professor. Ao ensinar como professor, o artista-pesquisador tem a
chance de:
Testar suas teorias.
Verificar se seus processos funcionam com outros.
Experimentar.
Averiguar se a forma como explica, registra e processa é clara e
objetiva para outras pessoas.
Em vez de ser o artista que se fecha em sua arte e sua produção, o
artista/pesquisador/professor instiga a pesquisa-criação.
A a/r/tografia provoca o questionamento. Em permanente movimento,
ela permite ao pesquisador manter um olhar investigativo a partir da sua
práxis como artista/pesquisador/educador. Com isso, ele se torna um
pesquisador que também aprende, gerando o desejo premente no aluno
de investigar as próprias práticas. Na a/r/tografia, saber, fazer e realizar
se fundem e se dispersam, criando uma linguagem mestiça e híbrida.
Ao colocar a criatividade à frente no
processo de ensino, pesquisa e
aprendizagem, a a/r/tografia gera
insights inovadores e inesperados
ao incentivar novas maneiras de
pensar, de engajar e de interpretar
questões teóricas como um
pesquisador e práticas como um
professor. O ponto crítico da
a/r/tografia é saber como
desenvolvemos inter-relações entre
o fazer artístico e a compreensão do
conhecimento.
(DIAS, 2013, p. 9-10)
Essa prática procura maneiras de acolher as imagens em seus
processos e produtos. Ela atua não apenas em suas atividades de
ensino/aprendizagem, mas também em sua prática de
pesquisa/questionamento, para complementar ou romper com a ordem
do texto escrito.
A a/r/tografia oferece outra forma de escrita e criação dentro da
pesquisa educacional, dando ênfase à imagem. O a/r/tógrafo integra
esses múltiplos e flexíveis papéis nas suas vidas profissionais. Ele,
afinal, não está interessado em identidades, só em papéis temporais e
transitórios.
O a/r/tógrafo habita intervalos, espaços limiares,terceiros espaços e
entrelugares. Ele, enfim, vive o trabalho dele, representando sua
compreensão e executando suas práticas pedagógicas.
Enquanto integram teoria, prática e criação por meio de suas
experiências estéticas, os a/r/tógrafos "produzem sentido" no lugar de
fatos e dados. Isso pode ser compreendido como um método de
pesquisa híbrido, mestiço e fronteiriço, situando-se entre a pesquisa em
artes visuais e aquela sobre artes visuais. Tal processo, frisa Irwin
(2013), é desenvolvido a partir de seis conceitos:
Contiguidade
Respeito aos saberes como:
artista/pesquisador/professor.
Questionamento
Ênfase em práticas e relações
vivenciadas.
Metáfora e metonímia
Construção de novos
significados interligados.
Aberturas
F t b l i t d
Seu método: validando sua
metodologia de pesquisa
Desconsiderando o lado do artista, quando decidimos iniciar uma
pesquisa, somos instantaneamente guiados por seus métodos
tradicionais. Tais métodos estão presentes nos livros clássicos de
metodologia científica. Vamos descrevê-los em detalhes a seguir.
Métodos de abordagem
Os métodos de abordagem estão divididos da seguinte forma:
Parte das premissas particulares em direção às gerais. Pode ser
estruturado com as seguintes etapas: observação, hipótese(s),
experimentação, comparação, abstração e generalizações.
Parte do específico para o geral. Assim, de premissas
Foco no estabelecimento de
links entre esferas do
conhecimento.
Reverberações
Busca do movimento, do
dinamismo e da busca de novos
olhares.
Excesso
Um olhar voltado para o que está
fora de padrão.
Método dedutivo 
Método indutivo 
particulares chega-se a uma generalização universal.
Caracteriza-se pelo seu aspecto lógico, estando fundamentado
na experimentação.
Método de investigação dos fenômenos em constante mudança.
Métodos de procedimento
Os métodos de procedimento estão divididos da seguinte forma:
Investiga os fenômenos sociais e humanos nos seus processos
históricos.
Realiza comparações para verificar semelhanças e explicar
divergências.
Utiliza a perspectiva estatística para lidar com probabilidades.
Enfatiza as relações e o ajuste entre os diversos componentes
de uma cultura ou sociedade.
Método hipotético-dedutivo 
Método dialético 
Método histórico 
Método comparativo 
Método estatístico 
Método funcionalista 
Método monográfico ou estudo de caso 
Parte da análise de um caso cuja sistematização pode ser
significativa para a compreensão de outros.
Não necessariamente esses métodos servem às artes visuais, afinal, em
tal processo, você reúne a sua produção artística, considera a
subjetividade do seu processo criativo e faz emergir a obra, o projeto ou
o trabalho que permeará toda sua proposta de pesquisa.
Por isso, falaremos sobre um método para você poder entender como
construir o seu dentro da pesquisa. Considere a pesquisa prático-teórica
e defina o objeto da pesquisa e sua pergunta de partida, além de
delimitar o seu campo de investigação.
Foi dada a largada para que você comece a sistematizar suas
informações e a coleta de dados. Comece por realizar uma auditoria.
Levante todos os referenciais compatíveis com a pesquisa proposta e
organize em pastas os seguintes itens:
Obras e artistas de referência.
Artigos científicos.
Trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e
teses.
Livros físicos ou virtuais que podem constituir a base da consulta.
Esses materiais servem para o brainstorming inicial. Mesmo que você
possua um processo de criação, seu objetivo não é fazer mais do
mesmo, e sim buscar uma proposta de pesquisa que possa servir de
referência futura para outros pesquisadores.
Dica
Artigos, trabalhos de conclusão, dissertações e teses ajudam a
identificar os livros pelos cruzamentos dos referenciais bibliográficos
utilizados.
Como você organiza o material a ser utilizado na sua pesquisa? Vamos
oferecer mais algumas dicas! Em outra pasta, crie os registros da
prática. Tais registros podem conter: materiais usados, imagens das
etapas da produção, como, por exemplo, registros das etapas e
desenhos das montagens (pode ser que você tenha croquis, rascunhos,
esboços, mockups ou outros itens que representem fases intermediárias
do processo), biblioteca de códigos (caso envolva arte
computacional/digital), e um diário de produção cujas anotações serão
a costura das informações entre a teoria e a prática.
Mockups
Representação gráfica que busca simular, em tamanho real ou escalar, os
detalhes (textura, cor, perspectiva etc.) de determinado projeto artístico.
O pesquisador decompõe o processo de produção a fim de poder
analisar o processo, distanciando-se do momento da realização em si,
como registros imagéticos e escritos criados durante essa produção,
para captar os insights e as emoções que envolvem a criação. Como
artista-pesquisador, você não vai simplesmente produzir sua obra, seu
trabalho e seu projeto.
O processo de produção se difere pela busca por outros artistas,
referências de obras distintas, inspirações e registros, além de colocar-
se na posição do expectador: “Investe-se na vivência que o espectador
tem em relação à obra, [em] desvendar suas sensações, provocar-lhe,
para que possa conectar-se com o ambiente da obra e com os outros
espectadores”, aponta Caetano (2009, p. 5).
A escrita da pesquisa deve acontecer simultaneamente com a criação
da obra. A construção do diálogo entre prática e teoria funciona como
uma dança. Um justifica e complementa a ação do outro, configurando
uma simbiose entre a poética da produção e os referenciais
responsáveis por sustentar conceitos, métodos, técnicas, linguagens e
processos.
Re�exão
Adote um método híbrido, combinando os elementos que respaldam os
seus processos. Evite adotar um modelo pronto, mas, ao mesmo tempo,
não descarte nenhum deles – em especial, aqueles que favorecem
processos criativos. E então... você já produz? Cria suas obras? Qual é
sua motivação?
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Em seu artigo A/R/tografia: uma mestiçagem metonímica, Rita Irwin
desenvolve a ideia de que o profissional envolvido com o ensino da
arte precisa ser um artista-pesquisador-professor. Segundo a
autora, é necessário integrar teoria e pesquisa, ensino e
aprendizagem e arte e produção para que o trabalho do professor
de Arte não seja unilateral. Para explicar essa posição nova, Irwin
utiliza a metáfora da mestiçagem. Assinale a alternativa correta em
relação ao conceito e à metáfora utilizada.
A
Mestiçagem é o ato de mostrar como fazer a
combinação entre teoria e prática artística do
mesmo modo como a mestiçagem racial é
legitimada.
B
Mestiçagem diz respeito à miscigenação de raças e
à valorização das diferenças raciais nas práticas
educativas.
C
Mestiçagem é uma metáfora para a prática de
artistas-pesquisadores-professores que replica
papéis para criar representatividade.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Rita Irwin considera que a a/r/t, como a mestiçagem, oferece ao
artista/professor/pesquisador um terreno fértil para vivências,
exploração e transgressão de territórios. Sob uma perspectiva
sociocultural, a mestiçagem é uma linguagem de fronteira e, por
isso, um lugar de elementos complexos.
Questão 2
A arte desperta os sentidos pela fruição. Ela é generosa e inclusiva,
dando prazer. A arte não cabe em definições ou prescrições. Trata-
se (ou pode vir a ser) do imaginário e da poética. Ela pode ser
atividade humana que (re)cria a realidade, emocional, evento
artístico e até pedagógica. O encontro entre a prática artística e o
conhecimento científico é que confere um diferencial ao processo
criativo do artista-pesquisador. É, em suma, a sistematização dos
processos de criação, construção de uma poética de produção e
metodologia de pesquisa aderente ao perfil do artista-pesquisador,
híbrido e complexo. A partir desse contexto, avalie as afirmativas a
seguire a relação proposta entre elas:
I. As articulações da arte com a teoria e a pesquisa propiciam uma
abordagem capaz de ressignificar a produção de novas obras,
trabalhos e projetos artísticos...
Porque
II. Na perspectiva da pesquisa-criação em arte, o artista-
pesquisador desenvolve, reconstrói, mixa e reinventa seu processo
criativo, ao mesmo tempo que investiga, registra, busca referências
e reflete sobre sua prática à luz das experiências de outras
criações.
A respeito dessas afirmativas, assinale a opção correta.
D
Na mestiçagem, os processos e os produtos são
experiências estéticas em si mesmas, pois integram
três formas de pensamento (teoria-prática-criação).
E Mestiçagem é um pensamento dicotômico.
A
As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, e a
II é uma justificativa correta da I.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A produção do artista só tem a ganhar quando ele se torna um
artista-pesquisador. Seu processo de criação torna-se mais
meticuloso em função da necessidade do registro ou da
consistência das informações exigidas pela pesquisa. A criação
acaba sendo ressignificada em função da complexificação do
processo, garantindo que a poética própria do processo criativo não
se perca.
3 - A pesquisa em artes no meio acadêmico
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car identi�que as
metodologias de pesquisa em artes visuais no meio acadêmico.
B As afirmativas I e II são proposições verdadeiras,
mas a II não é uma justificativa correta da I.
C
A afirmativa I é uma proposição verdadeira; a II, uma
proposição falsa.
D
A afirmativa I é uma proposição falsa; a II, uma
proposição verdadeira.
E As afirmativas I e II são proposições falsas.
Caminho acadêmico: artista-
pesquisador nas
universidades
O termo “artista-pesquisador”, como vimos, nasce na academia
praticamente ao mesmo tempo que a pesquisa em arte. A questão é
que a institucionalização da pesquisa do artista na universidade é
próxima da institucionalização da própria pesquisa na universidade
como um todo.
Saiba mais
A pesquisa na universidade brasileira só ocorre a partir da
implementação dos programas de pós-graduação stricto sensu após a
reforma universitária de 1968. Com isso, os cursos de mestrado e
doutorado passam a ser adotados; consequentemente, a pesquisa
ganhar forma no mundo acadêmico.
No caso das Artes, o primeiro programa de pós-graduação próprio para
artistas foi estabelecido, em 1974, na ECA/USP. No entanto,
observaremos que esse caminho foi tortuoso, cheio de atrasos,
desigualdades e interrupções, ao mesmo tempo que, em outros pontos,
houve processos de modernização e pioneirismo.
O desafio, afinal, sempre foi este: construir um espaço de pesquisa em
Artes na universidade que mantivesse em aberto os canais com o
circuito de arte. De nada adianta a pesquisa ficar fechada no ambiente
acadêmico se ela não ganhar as galerias e os museus para ser exposta,
validada e apresentada nos espaços referendados da arte.
Espaço expositivo - EdA - ECA - USP.
Academicamente, os artistas-pesquisadores são desafiados a levar o
laboratório universitário para dentro do circuito de arte, produzindo a
possibilidade de um lugar no qual os projetos de intervenção (obras e
demais variações) sejam portadores de uma dinâmica de pensamento
interessante e potente. Trata-se, em suma, de criar um caminho de mão
dupla entre esse circuito e o espaço da pesquisa universitária,
dissolvendo, nesse percurso, certos hábitos normativos próprios do
espaço acadêmico, os quais, muitas vezes, impedem a emergência de
processos.
Pensemos, portanto, no lugar do artista-pesquisador. Na academia, ao
se falar de pesquisa, inevitavelmente se imagina um laboratório.
Vejamos qual seria o laboratório do artista-pesquisador:
Estúdio
Ateliê
Na realidade, é complexo o ato de comparar o artista com o pesquisador
de outras áreas. A questão não está no objeto de estudo, e sim nos
processos, nas poéticas e nos modos de fazer arte.
Durante anos, temos observado o artista-pesquisador conquistar seu
espaço de pesquisa dentro das universidades, mostrando quão
relevantes podem ser suas escolhas. Presenciamos ainda os artistas-
pesquisadores associarem-se a pesquisadores de outras áreas com o
intuito de agregar novos modos de pensar.
A arte é disruptiva. Ela quebra paradigmas e incomoda os pilares rígidos
das formações clássicas da academia, que são vestígios do passado.
Além disso, sabemos que nem todos os artistas utilizam o “estúdio” ou
o “ateliê” como núcleo de suas produções.
Exemplo
Para desenvolver a pesquisa-criação, pode-se optar por um laboratório
mais parecido com um próprio da ciência da computação.
Concordamos que a academia ainda carrega vários estereótipos, muitos
dos quais vêm sendo desconstruídos pelos grupos de pesquisa que
atuam dentro das próprias instituições. Prova disso são as parcerias
interdisciplinares e interdepartamentais que aproximam pesquisadores
de áreas aparentemente opostas. A universidade dá ao artista-
pesquisador ferramentas e oportunidades de:
Arte, cultura e sociedade devem estar presentes na pesquisa do artista.
Afinal, a universidade potencializa o artista, deixa-o inquieto e o leva a
desenvolver uma série de ferramentas conceituais importantes em seu
laboratório, bem como utilizar tais ferramentas, entrelaçando-as com as
questões do ambiente (incluindo-se aí o sistema de arte).
Atenção!
O artista-pesquisador precisa sempre colocar-se à frente dos processos
artísticos, promovendo a integração do seu ambiente de trabalho com
as questões que perpassam a sociedade.
O que difere o meio acadêmico do não acadêmico na pesquisa em artes
é essa possibilidade da construção prático-teórica. Indo além da
pesquisa criativa, ela parte para uma pesquisa-criação amparada por
todos os vieses metodológicos proporcionados pela academia. A
pesquisa em arte na academia assume ao menos dois caminhos:
Pesquisa teórica Pesquisa prático-
teórica
 Expandir seu campo de pesquisa.
 Explorar conexões possíveis.
 Fazer parcerias com empresas privadas.
 Participar de circuitos envolvendo outros artistas-
pesquisadores.
Terá o texto como
resultado.
Está ancorada na
pesquisa-criação, cujo
resultado é duplo: obra
+ texto.
Estamos nos atendo aqui a esse segundo caminho. A pesquisa prático-
teórica, afinal, se expande na produção da obra e converge para a escrita
da pesquisa. Com isso, a academia trouxe a possibilidade de recriar e de
percorrer os passos de outros artistas pesquisadores que
cuidadosamente deixaram seus registros.
O espaço acadêmico da
pesquisa-criação
Após seus anos de academia, você reconhece o espaço da pesquisa de
artes? Ao retomarmos a produção artística, logo somos levados a
pensar no ateliê, um espaço sagrado dos processos criativos do artista.
No entanto, se focamos a visibilidade, a distribuição e a exposição,
rapidamente voltamos nossa atenção para os lugares sagrados do
circuito das artes:
Museus
Galerias
Mas qual é o espaço da arte construído na universidade? Mesmo
quando fora do circuito habitual das artes, é aquele que se posiciona
frente ao conjunto de caminhos a partir dos quais se apreendem as
questões artísticas.
Desse modo, é preciso pensar nas especificidades da pesquisa em
artes. Isso faz com que a academia seja o lugar ideal para sua
produção, razão pela qual apostamos na presença da arte a partir da
universidade como um caminho de ação possível para os artistas
contemporâneos.

Se a universidade é parte de um circuito mais amplo pertencente ao
sistema de arte, precisamos atentos se queremos que as ações (no
campo da produção artística, crítica, teórica e histórica) geradas na
universidade produzam algum efeito de intervenção no quadro geral dos
saberes, na dinâmica ampla arte-sociedade ou na área específica em
que estão inseridos. Tal movimento é possível: basta, para isso, integrar
as pesquisas da academia ao circuito de artes referendado pela
sociedade.As práticas do ensino de arte no ensino superior estão comprometidas
inteiramente com o objeto do estudo da arte, mas nem sempre se
propõem a desenvolver estratégias, métodos ou modelos interpretativos
que reflitam, explorem e valorizem o sujeito como um elemento
fundamental para a compreensão do contexto e o posicionamento da
visão do espectador. Do mesmo modo, muitos registros textuais das
práticas acadêmicas dissimulam, mascaram e negam o sujeito.
Por isso, seria interessante vislumbrar o espaço universitário sob uma
contaminação de fazeres-saberes que gradualmente instalassem uma
prática de valores decorrentes das formas de ação da arte
contemporânea. Como construção de novos conhecimentos e saberes,
a produção própria das artes não necessita diretamente da universidade
para se efetivar. Há séculos, a sociedade é agraciada pela produção de
inúmeros artistas, os quais, por sua vez, recebem alunos, observadores
e aprendizes em seus ateliês.
É somente na academia que a pesquisa em artes visuais pode buscar o
mesmo rigor de análise que outros tipos de pesquisas, o que permita
associá-la à categoria de pesquisa sem perder a perspectiva da poética
estudada. O pesquisador em artes visuais, afinal, sempre transita entre:
O conceitual e o sensível.
A teoria e a prática.
O concreto e o onírico.
Uma pesquisa em artes visuais pode articular a produção criativa do
ateliê com a produção textual, representando a produção e a reflexão
sobre o produto da criação. A academia promove a sistematização,
articulando o projeto artístico, enquanto a execução da pesquisa é o
ponto de partida para uma investigação em (e sobre) artes visuais.
Se a pesquisa se constrói durante o processo de
pesquisar, consideramos que o pesquisador se
reconhece como alguém que se constrói na
investigação. Essa é a visão do artista-pesquisador em
ação.
“Em processo” é o estado no qual se encontra o artista-pesquisador
imerso em sua pesquisa. Em artes, não é possível considerar nada
pronto e acabado; aliás, em muitas pesquisas, acaba-se abandonando o
objeto e dando por concluída a pesquisa para, em seguida, se abrir um
novo projeto em criação.
O artista-pesquisador se insere em um contexto não só de crescimento
da participação da arte no ensino e na pesquisa na academia, mas
também de profissionalização dos modos de produção e circulação da
arte. Se esse artista está em construção ao longo da pesquisa-criação,
devemos considerar que as metodologias não são compartimentadas,
fixas e determinadas pela coleta de dados, pelos registros e pelas
análises de dados.
Na pesquisa-criação, a metodologia também se constrói na
investigação, sendo considerada sua natureza híbrida (combinação de
métodos, abordagens e metodologias que se prestam a um fim).
Reconhece-se, assim, que cada pesquisa tem metodologia e história
próprias, uma história que também pode (e deve) ser contada.
Na academia, existem múltiplos olhares e interpretações distintas.
Artistas de diferentes linhas de pesquisa dividem o mesmo espaço,
desenvolvendo suas poéticas e um processo de criação próprio.
Portanto, no ambiente acadêmico, há um incentivo para ser incansável
na experimentação, na busca e no ato de testar, fazer, refazer e fazer de
novo. A academia, dessa forma, cria pontes improváveis, gerando
encontros e confrontos que gestam a criação artística.
A academia e a produção
artística
Graças a um estudo de caso, um especialista demonstra como a
academia é fundamental na vida do artista-pesquisador.

Como a pesquisa-criação é
favorecida na academia
Em todos os níveis de ensino, são pesquisadas e realizadas pontes
entre o conhecimento existente e o que compreendemos dele, assim
como as análises que se pode fazer a partir de saberes já construídos.
Entretanto, é somente na academia que se adquire mais autonomia
sobre todo o processo em si, isto é, sobre nossas escolhas, erros e
acertos.
Chegar à conclusão desse processo, porém, em vez de diminuir a
ansiedade e apaziguar as inquietações internas e a curiosidade, só as
faz aumentar. Ao final dessa etapa, descobrimos novas ideias e
expectativas com propostas mais complexas.
Acreditamos, afinal, no potencial e nas possibilidades de se alcançar
resultados além da superfície como artista-pesquisador. Também
estabelecemos outros parâmetros para a consideração de trabalhos e
projetos a serem realizados a partir de então.
Quanto à pesquisa realizada na academia, há uma contaminação de
saberes e fazeres. Sozinhos, só batemos a cabeça em pontos que
desconhecemos ou insistimos em procedimentos que não melhorarão
os resultados, além de persistirmos em métodos que podem não dar
resultado algum além do óbvio. Nada, afinal, garante que acertaremos
nas primeiras tentativas. Durante nossa jornada acadêmica, somos
levados e instigados a:
Trabalhar com outros colegas (como artistas, muitas vezes
trabalhamos fechados em nosso mundo).
Experimentar técnicas, procedimentos, materiais, recursos e modos
de fazer.
Treinar nossa escuta ativa e o compartilhamento dos processos.
Aprendemos, com isso, a ouvir a nós mesmos ao falarmos sobre as
nossas experimentações. O resultado disso é que a construção prática-
teórica acaba, durante o desenvolvimento da pesquisa, refletida em uma
participação em exposições e congressos.
Dica
A reflexão do processo possibilita uma visão crítica do trabalho
decorrente das discussões da temática com outros artistas-
pesquisadores da mesma área. É nessas oportunidades que testamos
nossas escolhas metodológicas, o que possibilita uma reflexão contínua
sobre a produção prática e promove uma constante atualização da
prática – ou até uma reconstrução das propostas em virtude de novos
contextos ou demandas.
A pesquisa-criação é favorecida na academia por ter o potencial de
gerar aproximações entre arte, ciências e tecnologias ao buscar
referências de parcerias e propostas nas quais a arte se encontra
associada a outros saberes, o que enriquece a pesquisa e o
desenvolvimento de projetos que envolvem a manipulação de dados
fora do domínio das artes. Tal pesquisa não se limita a uma linguagem
ou técnica, pois, na academia, existe campo para combinações diversas
e diálogos entre linguagens artísticas.
Há espaço para a realização da pesquisa teórica apoiada tanto no
referencial bibliográfico, webgráfico e imagético quanto em
possibilidades que abrangem o uso de métodos qualitativos e
quantitativos para coleta de dados, seja por meio de observação
participante, seja em testes realizados com os sistemas desenvolvidos
e os elementos presentes na criação.
Pode-se realizar a pesquisa que antecede o processo de produção
utilizando métodos de abordagem propostos por outros artistas-
pesquisadores ou por demais artistas-professores. Na academia,
salienta Caetano (2015), é possível explorar os preceitos da PBA, a qual
inclui características comuns na prática artística.
Exemplo
Incerteza, imaginação, ilusão, introspecção, improvisação, visualização
e dinamismo, inserindo “o fazer” no campo da pesquisa.
Representada pela produção da obra que é foco de uma pesquisa, a
prática é constituída de experimentações para a realização de parcerias
que possibilitem o desenvolvimento de uma criação complexa. Além
disso, a academia proporciona espaços de exposição que nos
possibilitam verificar a experiência do público frente a obra ou às etapas
de construção dela.
Não significa que encontraremos todas as respostas
na academia. Podemos até mesmo nem chegar perto
delas. Entretanto, uma coisa é certa: a academia
modela nossa forma de pensar e produzir.
Não se trata de fazer o que queremos e como queremos. Significa, na
verdade, respaldar as nossas ações com as referências de outros que
vieram antes de nós.
Não é preciso cometer os mesmos erros ou repetir caminhos que já
sabemos que não darão resultado algum. A academia, afinal, é o lugar
para isso: nela, podemos – e devemos – errar, testar, arriscar (dentro de
um ambiente controlado)e experimentar.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Mesmo que esse processo tenha sido demorado e o caminho,
longo, a academia abriu espaço para a pesquisa em arte.
Entretanto, precisamos considerar que, por muitos anos, os
processos de pesquisa utilizados pelos artistas mais incomodaram
e geraram questionamentos do que soluções, já que a academia
estava acostumada com os métodos cartesianos das ciências.
Diante desse contexto, muitos desafios surgiram. Aponte a
alternativa que melhor representa um desses desafios.
A
Presença de conexões com outras áreas de
conhecimento flexíveis, como a arte.
B
Incentivo aos métodos do artista em detrimento do
pesquisador.
C
Gerar distinção pelos caminhos e processos do
artista.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Ao instituir a pesquisa em arte na academia, um dos desafios é a
legitimação do espaço de pesquisa do artista. Acostumada aos
seus laboratórios, a academia não considera, em um primeiro
momento, a ideia de um espaço para a construção da pesquisa por
artistas ambientados com o ateliê. Legitimar tal espaço de
produção de arte e pesquisa fez parte da incorporação da pesquisa
acadêmica em arte.
Questão 2
Na academia, a pesquisa-criação conquista seu espaço como
metodologia de pesquisa do artista cuja obra, projeto ou trabalho é
o ponto de partida e de chegada de sua pesquisa. A criação
artística, assim, se vê acompanhada do registro da pesquisa.
Marque a alternativa que justifica a pesquisa-criação como espaço
do artista-pesquisador.
D Reconhecer e validar o espaço de pesquisa do
artista.
E
Respaldar os processos artísticos em oposição aos
métodos científicos.
A
A pesquisa-criação se propõe a ser uma pesquisa
prático-teórica, que tem como objetivo a criação de
uma obra plástica.
B
O artista-pesquisador só consegue reconhecimento
acadêmico a partir do confronto entre teoria e
história da arte e de sua produção.
C
Na academia, é possível haver conexão entre
diferentes áreas de pesquisa, criando diálogos entre
arte e ciência, bem como a obtenção de respaldo
metodológico e registro sistemático.
D
A academia é o lugar de legitimação da pesquisa e
da criação.
Parabéns! A alternativa C está correta.
A academia representa o encontro de áreas, abrindo espaço para
criações prático-teóricas, além de haver a possibilidade de
interdisciplinaridades e de construções colaborativas únicas. Ela
constituir o local ideal para a construção de conhecimento, uma vez
que nela atuam diferentes pesquisadores, por si só já favorece a
construção da pesquisa-ação, que demanda o laboratório-ateliê e
uma construção teórica. Essa construção, por sua vez, é feita a
partir de levantamento de referenciais, cruzamento de informações
e trocas com outros pesquisadores.
Considerações �nais
Vimos neste conteúdo que, diante das áreas de criação, somos artistas-
pesquisadores. Na academia, podemos usar a interdisciplinaridade para
a busca de conceitos, métodos, sistemas de organização de processos
e processamentos de dados, os quais, em nossa área específica, não se
conseguia encontrar para poder alavancar o processo de produção
artística.
Entendemos que a produção da prática artística muitas vezes se
transforma durante a pesquisa. Destacamos ainda que a pesquisa-
criação é característica da academia.
Demonstramos também que o registro acadêmico e metodológico
reflete nossa trajetória e nossas influências, operando como um
memorial de referenciais teóricos, imagéticos e audiovisuais no qual
estabelecemos diálogo entre autores, pesquisadores e artistas. O
objetivo desse tipo de pesquisa é desvelar o processo de criação da
obra e sua poética a partir da escrita, dando sentido a todo o resto.
Acabamos, assim, por nos descobrir pesquisadores. Isso é o resultado
de uma jornada acadêmica e pessoal, assim como o fruto do acúmulo
de vivências, experiências, compartilhamentos e colaborações.
Podcast
E Entende-se que a pesquisa-criação depende de
recursos que só estão disponíveis na academia.

Para encerrar, ouça um panorama da pesquisa em artes na área de
criação.
Explore +
Assista a dois vídeos no YouTube:
a) Eduardo Kac, artista e pesquisador, vida & obra
Acesse o canal Arte & educação e saiba mais sobre esse artista-
pesquisador brasileiro com projeção internacional.
b) What is a "research-based" art practice?
Conheça melhor a prática de arte baseada em pesquisa (mesmo em
inglês, é possível habilitar a legenda) no canal Brainard Carey.
Pesquise na internet estes dois artigos:
a) Por uma abordagem metodológica de pesquisa em artes plásticas. O
texto de Sandra Rey nos permite entender o contexto da pesquisa em
artes visuais e suas metodologias.
b) Os artistas como pesquisadores na virada pedagógica da arte. O
artigo de Tatiana Fernandez e Rosana de Castro dá acesso a um estudo
acerca da formação de professores de arte e artistas no âmbito
nacional.
Acesse a página do Núcleo de Arte Grande Otelo para ter ideia de como
é possível integrar artes, pesquisa e educação: RIO DE JANEIRO
(Estado). Núcleo de Arte Grande Otelo - 6ª CRE. Rioeduca.net.
Consultado na internet em: 29 abr. 2022.
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VISUAL. Anais do seminário. Goiânia: Programa de Pós-Graduação em
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