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ROMANTISMO São livros pertencentes à escola do Romantismo os livros A Viuvinha e O Moço Loiro dos autores José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo. O romantismo é todo um período cultural, artístico e literário que se inicia na Europa no final do século XVIII, espalhando-se pelo mundo até o final do século XIX. O berço do romantismo pode ser considerado três países: Itália, Alemanha e Inglaterra. Porém, na França, o romantismo ganha força como em nenhum outro país e, através dos artistas franceses, os ideais românticos espalham-se pela Europa e pela América. Dentro dos antecedentes históricos pode-se destacar que Romantismo foi o primeiro movimento literário da era denominada romântica ou moderna. As ideias românticas ganharam maior impulso a partir do advento da Revolução Francesa (1789) e se difundiram pela Europa e pelas Américas. As transformações revolucionárias atingiram todos os segmentos: social, econômicos, político, filosófico e artístico- cultural. A humanidade acompanhava mudanças profundas e fundamentais para a formação de uma nova identidade mais idealista, o que possibilitou o desenvolvimento da estética romântica. Houve vários fatores decisivos para as transformações vividas na Europa nesse período, entre elas destacam-se: · A queda dos sistemas de governo tirânicos. · Os ideais de liberdade e igualdade. · Formação de uma mentalidade nacionalista. · A consolidação do pensamento liberal. · A revolução Francesa. · A Revolução Industrial Inglesa. · A Declaração Universal dos Direitos Humanos. Romantismo: A arte Burguesa A burguesia, vitoriosa na Revolução Francesa, experimentou franca ascensão e, afrontando os poderes da Monarquia, exigiram seu espaço na estrutura sociopolítica, bem como o cumprimento dos ideais de sua bandeira revolucionária, a utopia: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Valorizaram o trabalho, o comércio, a indústria e todos os meios capazes de gerar lucro. Os burgueses, ansiosos por adquirir cultura, passaram a ser mecenas, ou seja, patrocinaram a arte que correspondia aos seus interesses. Foi criado o drama para o público burguês, inventou-se a narrativa em forma de romance, para os leitores ansiosos por consumir cultura e arte burguesistas. ASPECTOS GERAIS DO ROMANTISMO Valorização de elementos populares - Surgiu de relação entre a burguesia e o Romantismo e objetivava retirar o privilégio da elite aristocrática. Intensificaram-se os temas ligados á vida urbana; incentivou-se público a participar de manifestações culturais. Imaginação Criadora - Libertação da arte agora afastada das rígidas regras clássicas. Liberdade para a forma e para o conteúdo. Criação de mundos imaginários nos quais o romântico acreditava. Nacionalismo - louvor e exaltação de pátria, resgatava as origens de cada nação, valorizações dos elementos da terra natal, dos bens e das riquezas nacionais, das paisagens naturais. Exaltavam-se as personalidades e os heróis da história, os valores gloriosos da pátria. No Brasil, houve a valorização do passado colonial: o índio foi tomado como herói nacional repleto de glórias que só existiram nos ideários românticos. Outra forma de nacionalismo brasileiro foi conhecida na terceira fase do Romantismo, quando o escravo e os ideais de liberdade ocuparam os versos condoreiros. Subjetivismo - atitude individual e única. A poesia não assume mais os moldes clássicos e, sim, a vontade do Eu criador. Egocentrismo - Houve o triunfo absoluto do EU; o reinado da poesia confessional na qual o sujeito lírico declarava seus sentimentos. Sentimentalismo - analisa e expressa a realidade por meio de sentimentos; a emoção foi valorizada em detrimento do racionalismo. Supervalorização do amor - O amor foi considerado um valor supremo na vida. Entretanto, a conquista amorosa era difícil: havia o mito do amor impossível, o estigma da paixão desesperadora. A perda ou não realização amorosa levava o romântico ao desespero, à loucura ou à morte. Idealização da Mulher - Mulher convertida em anjo, musa, deusa, criatura pura, poderosa, perfeita, inatingível, capaz de maravilhar a vida do homem se lhe correspondesse. A mulher, porém, tornava-se perversa, maligna, impiedosa, quando pela recusa arruinava a vida do galante que a cortejava. Byronismo (mal do século) - Na ânsia de plenitude impossível, o artista sentia-se desajustado e insatisfeito, além ROMANTISMO - ÚRSULA Literatura Prof.: Raul Castro Novembro | 2023 ALUNO: SÉRIE: TURMA: DATA:TURNO: 01 06/11/2023 Nº OSG3087-23 - Victor Paulo de decepcionado, devido á falência da utopia revolucionária: liberdade, igualdade, fraternidade. Assim, o romântico passou a ver o homem da época como um ser fragmentado, peça da engrenagem social, sem individualidade ou liberdade. Os desajustes e as insatisfações conduziram ao mal do século, definido como a aflição e a dor dos descontentes com o mundo. Era a influência do modo de vida byroniano do poeta inglês Lord George Byron, protótipo do herói romântico, sombrio, elegante e desajustado. Novo aspecto estilístico - Os românticos abandonam a forma fixa (raros os sonetos, odes, oitavas e etc.), abandonam o uso obrigatório da rima e acabam valorizando o verso branco, negam os gêneros literários em que abandonam o tradicional, fazendo com que alguns gêneros não fizessem mais parte como: a tragédia e a comédia, onde foram surgindo outros como: o drama, o romance de costumes entre outros. Além desses aspectos não se pode deixar de lado a contribuição cultural do romantismo pois promoveu uma ruptura com as concepções clássicas da arte e permitiu uma revolução cultural. Enriqueceu a Língua Portuguesa, com a incorporação de neologismos e a aproximação entre a Língua Literária e a Língua oral e coloquial. ROMANTISMO NO BRASIL Apogeu: Publicação de "Suspiros Poéticos e Saudades", de Gonçalves de Magalhães , em 1836. Declínio: Publicação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, em 1881, que inaugura o realismo. Não falaremos dos aspectos românticos, pois como a Universidade Vale do Acaraú só cobrou os romances românticos em prosa, então focaremos neles. A prosa literária desenvolveu-se no Romantismo, mas no Brasil eram menos frequentes. A espécie preferida pelo público era o romance de temática sentimental. Cultivava-se o gosto pelos folhetins, histórias de amor editadas em jornais com capítulos publicados em série. O primeiro romance romântico brasileiro, datado em 1843, é O Filho de Pescador, de Teixeira e Souza. Entretanto, o romance que impulsionava o apego sentimental do publico foi A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, uma historia de amor convencional, publicada em 1844, que fixa os costumes da sociedade carioca da época, contaminada por francesismos. O romance de Folhetim Tanto na Europa quanto no Brasil, o romance surgiu sob a forma de folhetim, publicação diária, em jornais, de capítulos de determinada obra literária. Assim, ao mesmo tempo que ampliava o público leitor de jornais, o folhetim ampliava o público de literatura. Ao escrever um folhetim, o artista submetia-se às exigências do público e dos diretores de jornais. Além disso, os folhetins não podiam criticar os valores da época, reivindicar o verdadeiro humanismo, pois obrigatoriamente tinham que se sujeitar aos valores ideológicos do público, constituindo-se assim numa arte de evasão e alienação da realidade. Eram assim estruturados: 1º HARMONIA Felicidade = Ordenação social burguesa 2º DESARMONIA Conflito = Desordem = Crise da sociedade burguesa 3º HARMONIA FINAL Estabelecimento da felicidade definitiva da sociedade burguesa, com o triunfo de seus valores Principais aspectos da prosa romântica brasileira Flash-back narrativo - volta no tempo para explicar, por meio do passado, certas atitudes das personagens no presente. O amor como redenção - oposição entre os valores da sociedade e o desejo de realização amorosa dos amantes = o amoraflições, se ela morresse o homem iria querer se casar com ela, e Fernando triunfaria, para ela, ele não passava de um aproveitador. Foi quando veio ao encontro de Úrsula a preta Suzana aos prantos dizendo que a mãe, dona Luíza B. estava a falecer e precisava dar o último adeus ao grande amor de sua vida, sua filha amada. A cena termina com Úrsula sendo levada para ver sua mãe, enquanto enfrenta uma mistura de emoções e preocupações. Notas e análises ¹ Neste capítulo, Maria Firmina brinca e nos confunde, será que Fernando está tão arrependido assim, ele teria mesmo mudado? Havia de fato remorso em suas falas e ações? O narrador nos enceta duas visões, a visão da alma, por dentro de suas ações perversas movidas pelo sofrimento e a visão de Úrsula que tem pelo tio um imenso rancor pelo que fizera a sua mãe. Sendo assim fica o ponto, se Fernando faz sofrer sofrendo, se ele for rejeitado, será um vilão ou um homem que busca perdão? Tudo isso nos é jogado e deixado para pensar, ou melhor, para ler nos próximos capítulos. Capítulo 12 FOGE! Em um curto capítulo, temos o diálogo derradeiro de mãe e filha, a mãe moribunda fala que o irmão veio lhe pedir perdão, pois algo para falar, Fernando havia lhe confessado que no passado havia assassinado o pai de Úrsula e que agora, a filha o rejeitava, mas ele queria mostrar tal arrependimento cuidando de Úrsula no sentido de tê-la como esposa. O pior ainda vem por aí, a mãe revela que Fernando após sair da presença da irmã iria à cidade para voltar com um sacerdote e executar o casamento à força com Úrsula. A moça entra em desespero e sua mãe lhe pedi entre i — Úrsula, minha filha, teme a cólera de Fernando; mas sobretudo teme e repele seu amor desenfreado e libidinoso. Meu Deus, perdoai-me se peco nisto. . . Aconselho-te. . . . que fujas. . .Foge, minha filha. Foge! 13 OSG3087-23 - Victor Paulo Úrsula vê a vida de sua mãe se esvair, partir, ela chora copiosamente pela perda da mãe e devido a triste ideia de se ver forçada a casar com Fernando. Pela manhã o corpo de dona Luíza atravessa a fazenda em direção ao cemitério. Notas e análises Nesse momento temos a certeza das reais intenções de Fernando, o amor que possui por Úrsula não passa de uma possessividade, a verdade em seu arrependimento, mas há uma má intenção no casamento forçado com Úrsula, e se a mãe a mandou fugir era porque sabia que não tinha como Úrsula resistir ao casamento. Capítulo 13 O CEMITÉRIO DE SANTA CRUZ Inicia-se com a descrição do cenário como uma tarde que encapsula toda a beleza, luxúria e poesia do equador. A descrição sugere uma tarde de cores vibrantes, com o sol se pondo e a lua surgindo no horizonte. Os últimos raios de sol se misturam com os raios prateados da lua de agosto, criando um ambiente mágico.¹ O capítulo se passa no cemitério de Santa Cruz, que está silencioso e deserto, com apenas o vento que sussurra entre as árvores quebrando a monotonia e a solidão do lugar. O narrador reflete sobre o esquecimento que a morte traz e como os segredos dos mortos são guardados pelo sepulcro. O cemitério de Santa Cruz é descrito como simples e despojado, sem monumentos extravagantes, apenas uma capelinha singela e uma cruz. A estrada que leva a Santa Cruz passa por perto do cemitério. Úrsula, chega ao cemitério no crepúsculo. Ela está sofrendo muito e busca a sepultura de sua mãe. Ajoelha-se junto à sepultura e chora esta perda irreparável. Ela está sozinha e entregue ao destino que começa a experimentar com tanta dureza. Profundamente abalada chega até mesmo a esquecer do seu amor por Tancredo e até mesmo o ódio que sente pelo comendador. Sua dor é intensa e sua única conexão com a vida é seu amor por Tancredo. No auge de seu sofrimento, Úrsula desmaia junto à sepultura de sua mãe, e sua vida parece estar se esvaindo. Ela está sozinha e sem ajuda. Enquanto isso, ao longe, um barulho de cavalos se aproxima. Dois homens, Tancredo e Túlio, chegam ao cemitério. Eles encontram Úrsula desmaiada junto à sepultura. Tancredo, profundamente apaixonado por ela, a reconhece e a abraça. Úrsula desperta ao toque de Tancredo, e há um momento emocionante de reencontro. No entanto, Túlio lembra a Tancredo que eles precisam partir rapidamente, pois Úrsula está debilitada e não pode suportar uma jornada lenta. Tancredo concorda, preocupado com a saúde de Úrsula. Eles planejam levar Úrsula com eles, e a esperança de um futuro melhor parece brilhar novamente para a protagonista. O capítulo termina com Tancredo, Úrsula e Túlio orando pelo descanso eterno da mãe de Úrsula, Luíza B. Glossário do capitulo 13 Alvião – “De joelhos beijou a terra úmida, e ainda revolta pelo alvião[...]” - O termo "alvião" neste contexto refere-se a uma ferramenta agrícola usada para revirar a terra, geralmente uma enxada ou um instrumento semelhante Capítulo 14 O REGRESSO “AGORA É PRECISO SABERMOS como Tancredo, de volta de sua viagem, pôde saber onde estava Úrsula, e o que lhe havia acontecido.” O capítulo agora pretende explicar o que poderia ser uma incoerência de roteiro, mas como Tancredo sabia onde Úrsula estava? Tancredo, depois de concluir sua missão na comarca de ***, retorna apressadamente para reencontrar sua amada, Úrsula. Ele está dominado pela ideia de revê-la e está ansioso para chegar até ela. Ao longo do caminho, ele expressa seu amor profundo por Úrsula e sua impaciência em revê-la. Tancredo está acompanhado por Túlio que lhe oferece um caminho mais rápido pela fazenda Santa Cruz, o ex escravo tem lembranças dolorosas da fazenda de Santa Cruz, onde sua mãe, uma escrava, sofreu terrivelmente nas mãos do cruel Comendador Fernando P., chegando a chorar e ter tais lágrimas compartilhadas por Tancredo. Enquanto Tancredo e Túlio se aproximam da fazenda de Santa Cruz, Túlio compartilha a triste história de sua mãe e como ela foi submetida a tratamentos brutais e separada dele quando criança. Ele também revela que Fernando P., o comendador, comprou as dívidas que o marido de Luíza B., irmã de Úrsula, deixou, com o objetivo de reduzi-las à miséria. Deveis saber que esse homem amaldiçoado comprou as numerosas dívidas que meu senhor legou à órfã e à sua viúva, com o intuito tão somente de reduzi- la ao último extremo de miséria, como a reduziu; porque seus diversos credores ter-se-iam comovido, e talvez lhe facultassem os meios de os ir pagando sem grande detrimento de sua fortuna, aliás tão arruinada. À medida que avançam pela fazenda de Santa Cruz, Túlio relembra os sofrimentos de sua mãe e expressa seu ódio inicial por vingança, mas sua “mãe”, Susana, o ajudou a superar esse desejo. Tancredo e Túlio, ambos marcados por suas próprias dores, compartilham lágrimas e empatia pela história do outro. Ao chegarem à casa de Luíza B., eles encontram Susana, que revela que Úrsula saiu para orar no cemitério de Santa Cruz sobre a sepultura de sua mãe. Tancredo e Túlio partem imediatamente para encontrar Úrsula, preocupados com as revelações de Susana sobre a perseguição de Fernando P., o comendador, que havia abreviado os dias da mãe de Úrsula e agora ameaça se casar com ela à força. O capítulo termina com Tancredo e Túlio galopando em busca de Úrsula, determinados a protegê-la do comendador e a reunir-se com ela. Capítulo 15 NO CONVENTO DE **** Após uma breve oração, Úrsula e Tancredo decidem fugir do comendador Fernando P. Úrsula está aterrorizada com a perseguição dele e implora para que fujam antes que ele os 14 OSG3087-23 - Victor Paulo alcance. Tancredo concorda e eles partem em uma viagem para escapar do comendador. Eles deixam a estrada real e tomam um atalho mais longo para evitar o comendador. Durante a viagem, Tancredo compartilha com Úrsula os tristes eventos que ocorreram durante sua ausência. Finalmente, eles chegam à cidade de ***, onde procuram abrigo no convento de Nossa Senhora da ***. O convento é descrito como um edifício antigo, simples e melancólico,afastado do mundo, onde vivem as virgens dedicadas ao Senhor. As freiras levam uma vida de castidade e oração, longe dos prazeres mundanos. Úrsula e Tancredo param diante das paredes do convento e, após observarem o local, Tancredo a conduz à porta do convento, que se abre para eles. Úrsula está radiante de beleza e parece estar em paz ao entrar no convento. Tancredo expressa sua determinação em proteger Úrsula do comendador e declara seu amor por ela. Ele acredita que o comendador não conseguirá separá-los, pois a mulher só ama verdadeiramente uma vez em sua vida. O capítulo termina com Tancredo refletindo sobre a verdadeira natureza da mulher, contrastando aquelas que compreenderam sua nobre missão de amor e paz com aquelas que trocaram seus afetos genuínos por ouro e ganância, perdendo assim sua honra. Capítulo 16 O COMENDADOR FERNANDO P. A narrativa se volta novamente para Fernando que havia sido deixado de lado, mas agora volta a ter a atenção narrativa. Em um capítulo tenso, o comendador quer acima de tudo obter o amor e o casamento a força. Ao descobrir que Úrsula fugiu com Tancredo, um jovem de quem desaprova profundamente, Fernando P. entra em um estado de desespero. Sua busca por Úrsula se torna uma obsessão, e ele está determinado a encontrá-la a qualquer custo. Foi até o sacerdote, que eram “amigos” o tipo que um suporta o outro, e levou-o para que assim que visse Úrsula casasse logo com ela. Foi até a fazenda da falecida Luíza B., invadiu a sala e perguntou pela moça, Úrsula, pensando em ganhar mais tempo, disse que a moça fora sozinha ao cemitério, e deduziu que Tancredo já a teria resgatado. O comendador foi e lá nada encontrou, sentiu-se enganado e mandou que seu feitor branco, trouxesse a escrava Suzana arrastada por cavalos. O feitor repreende a tortura e se recusa a fazer isso, alegando que avisará a velha para que fuja, mas ao sair, o padre já vinha com os cavalos e Suzana vinha como em procissão. O feitor lhe oferece um cavalo para fuga, mas ela diz ser inocente e que não teria nada a temer. Quando novamente interrogada pelo comendador, ela alega não saber do paradeiro da moça e resiste a pressão psicológica, o padre defende-a chamando atenção para não derramar sangue inocente. Fernando manda-a para a cela mais úmida e manda colocar correntes em seus braços e pernas, o padre recomenda que não faça tal maldade, mas é em vão. Após isso chegou um escravo avisando que Úrsula foi vista em direção à cidade de ***, ele prepara homens armados e parte em direção à sua vingança. Capítulo 17 TÚLIO Úrsula continuava escondida no convento, temendo por Suzana e pedindo por carta que a trouxessem até ela. Tancredo, bem no dia de seu casamento, mandara chamar por Túlio para que o amigo realizasse algumas tarefas, mas ele não apareceu, o que foi estranho. Tancredo não fazia ideia da armadilha que Fernando tramava contra ele. Aquela ausência de Túlio lhe foi demasiada estranha e vários pensamentos de temores lhe passou pela mente, mas tentou afastá-los, decidiu se juntar com alguns amigos (provavelmente como escolta) e foi ao convento para o casamento. Entretanto, diante da alegria de casar não havia felicidade em imaginar que algo poderia acontecer ao seu amigo. Ele então, indagando a si mesmo, achava estranho o sentimento penível que lhe nascia na alma, porém embalde tentava recobrar a serenidade de ânimo. Túlio figurava-se lhe em perigo eminente, e toda a felicidade que o aguardava não lhe apagava esse crescente desassossego; porque essa felicidade começava a parecer-lhe que mais tarde se tornaria amarga. Foi apenas com a presença de Úrsula que Tancredo se acalmou, veja como ela é descrita nessa cena: Assim era ela mais formosa que nunca, e Tancredo, vendo-a tão radiante de mocidade e de amor, olvidou suas penosas inquietações para só rever-se nela, para render-lhe um culto de apaixonada veneração. E ela sorriu com um sorriso que transportou-o de felicidade, e esse sorriso feiticeiro e angélico arrancou- lhe do fundo da alma o orgulho feminil — era como a lembrança de que seu amor apagara ainda mesmo as cinzas do de Adelaide.¹ A narrativa volta para nos contar o que ocorrera a Túlio, antes de ir ao encontro de Tancredo, seu amigo fiel, dois homens o interceptaram e o colocaram em um casebre abandonado ameaçando-o matá-lo se ousasse gritar. Dentro do casebre estava Fernando: O comendador cruzava o quarto com passos desordenados. Pálido como um espectro, com os cabelos erriçados, os lábios convulsos e contraídos, as comissuras dos lábios espumantes, pintava-se-lhe no todo a desesperação, e o ódio infame, e a vingança não satisfeita. Era Otelo² no seu ciúme, Satanás expulso do céu e ferido no orgulho.³ Túlio se viu perdido, como se nada mais pudesse fazer pela sua vida, mesmo assim se manteve firme. Fernando pergunta por Tancredo, mas Túlio revela que ele estaria em casa, Fernando grita chamando-o de mentiroso, sabia que Úrsula estava em um convento esperando pelo casamento, mas ele queria intercepta-lo para não chegar no convento. Fernando propõe que se ele entregasse a localização de Tancredo ele daria até mesmo metade da riqueza dele. Túlio se esquece do medo e esbraveja com ele que jamais entregaria a localização daquele que o tirou da escravidão. 15 OSG3087-23 - Victor Paulo Fernando golpeia-o na boca e o negro cai desmaiado e ele é entregue aos cuidados de Antero. Notas e análises ¹ observe novamente o elemento romântico de idealização feminina, a mulher retratada como objeto de adoração. ² Otelo é um personagem mouro shakespiriano que é general do exército veneziano e é casado com Desdêmona, uma mulher de origem veneta (italiana). A trama da peça gira em torno dos ciúmes infundados de Otelo, instigados pelo vilão Iago, que leva Otelo a acreditar erroneamente que Desdêmona o traiu com seu tenente, Cássio. Esses ciúmes levam a consequências trágicas. ³ A queda de Satanás faz referência a obra de Milton no Paraíso Perdido, isso mostra e reflete o sentimento de Fernando, louco de ciúmes como Otelo e raivoso como o Diabo expulso, no sentido de se sentir rejeitado por Úrsula e enganado por Tancredo. Glossário do capítulo 17 Sicários – “Os sicários saíram — a porta tornou-se a fechar[...]” - assassinos ou matadores contratados para realizar assassinatos por dinheiro ou por motivos políticos, religiosos, ou outros. Nesse momento, os assassinos saíram para que Fernando ficasse a sós com Túlio. Capítulo 18 A DEDICAÇÃO O velho Antero era um escravo africano viciado em bebidas que vigiava a prisão em que Túlio estava. O prisioneiro abominava a ideia de matá-lo, e vendo que estava tudo deserto, julgou que o comendador saíra para preparar a armadilha, se não podia ter Úrsula como esposa primeiro, teria como viúva depois. Antero aceita o dinheiro e sai em busca de cachaça, deixando Túlio sozinho na prisão. Túlio começa a avaliar a possibilidade de escapar e encontra instrumentos de tortura na prisão, o que o faz refletir sobre os sofrimentos que outros prisioneiros já enfrentaram ali. No entanto, ele está determinado a salvar seu benfeitor. Antero retorna e passa a beber até desmaiar, ele pega as chaves de Antero e sai enlouquecido para avisar da armadilha. Corre desesperadamente pela noite afora, encontra um sacerdote que diz ter feito um casamento, ao chegar na igreja pela noite, ele vê ao longe o casal sair a carruagem em direção a fazenda, Túlio grita avisando da armadilha, mas dois tiros são disparados e Túlio cai ao chão. Tancredo tendo ouvido a voz do amigo vai em sua direção, mas Úrsula o impede avisando que queriam assassiná-lo. Tancredo e Úrsula estavam cercados, mas o jovem não fraquejou e tirou duas pistolas, um dos tiros ele erra, mas o segundo ele acertou de raspão a um homem que reconheceu ser o comendador. Fernando foi em direção ao casal, não havia nada mais a fazer. Úrsula foi em direção ao tio implorar pela vida do marido.— Poupai-o, senhor. Ah, pelo céu, poupai-o! — exclamou Úrsula, aflita e pálida, caindo aos pés desse homem desapiedado. E por um esforço sublime, que só a mulher — ente feito para a dedicação e o amor — pode conceber, disse- lhe, apresentando-lhe o peito: — Ofendi-vos, senhor, vingai-vos: eis-me, não me poupeis: mas ele? Oh, não o assassineis! Oh, não tem culpa de que o ame mais que a vida! E caiu prostrada aos pés de Fernando, que semelhante à hiena que meneia a cauda e lambe os beiços, porque a presa lhe não escapará, olhava-a sorrindo de ferocidade. Tancredo foi ao encontro de Úrsula levantou-a, disse: — Amo-te! Depois esses dois astros de amor, que guiavam ainda no perigo, ou nas trevas da desesperação ao infeliz mancebo, recaíram em seu lânguido torpor. Esse beijo foi a expressão profunda de tão sublime amor: foi o primeiro, o casto e puro ósculo de amor, que o comendador jurou ser o derradeiro. Fernando o agarrou e travou-se uma imensa briga, ambos se rolavam pelo chão, mas os capangas de Fernando seguraram Tancredo e o tio o golpeou o peito, Tancredo amaldiçoou Fernando dizendo que nunca teria o amor de Úrsula, a moça em direção ao seu amado que morre em seus braços: Então a donzela despertou de seu dorido letargo, abriu os olhos, e num excesso de amor apaixonado, e de uma dor íntima, lançou-se sobre seu desditoso esposo, e unindo-o ao coração recebeu-lhe o derradeiro suspiro. Um mar de sangue tingiu-lhe as mãos e os puros seios. Tinha os olhos fixos e pasmados sobre o doloroso espetáculo, e entretanto parecia nada ver; estava absorta em sua dor suprema, muda, e impassível em presença de tão monstruosa desgraça. O seu sofrimento era horrível, e profundo, e o que se passava de amargo e pungente naquela alma cândida e meiga foi bastante para perturbar-lhe a razão. Capítulo 19 O DESPERTAR O capítulo explora as profundezas da alma de Fernando P., o comendador, após os eventos recentes que abalaram sua vida. A autora descreve as diferenças entre o amor puro e nobre e o amor corrompido e maligno que Fernando sente por Úrsula, observe: O AMOR QUE SE NUTRE no coração do homem generoso é puro e nobre, leal e santo, profundo e imenso, e capaz de quanta virtude o mundo pode conhecer, de quanta dedicação se possa conceber. Ele o eleva acima de si próprio, e as suas ações são o perfume embriagador desse sentimento, que o anima: mas o amor no peito do homem feroz e concupiscente é uma paixão funesta, que conduz ao crime, que lhe mata a alma e a despenha no inferno. 16 OSG3087-23 - Victor Paulo Fernando está assombrado pelos crimes que cometeu em nome de seu amor doentio por Úrsula. Ele não consegue mais encontrar paz de espírito e é atormentado por remorsos. Em suas noites sem sono, ele tenta visitar Úrsula, mas teme sua rejeição e acusações de seus crimes. Ao chegar ao quarto de Úrsula, ele a encontra dormindo, em meio a um sono agitado. Fernando a observa com uma mistura de adoração e culpa, hesitando em acordá-la. No entanto, quando Úrsula finalmente acorda e o vê, ela solta um grito angustiado. A visão de Úrsula despertando e sofrendo é avassaladora para Fernando. Pela primeira vez, ele começa a entender a dor de outra pessoa, e o remorso o atinge com força total. Ele tenta implorar o perdão de Úrsula, expressando seu amor por ela e seu arrependimento por seus atos cruéis. No entanto, a resposta de Úrsula é surpreendente e perturbadora. Ela sorri de maneira distorcida e parece estar completamente insana. Fernando percebe que ela enlouqueceu devido aos eventos traumáticos que ocorreram. O capítulo termina com Fernando sofrendo um colapso emocional, enquanto observa a loucura de Úrsula. Sua dor é agravada pela convicção de que seus planos foram arruinados e suas esperanças de tê-la como esposa foram destruídas. Ele percebe que está sendo punido por seus atos malignos e egoístas. A dor do remorso era tamanha que seu rosto chega a se desfigurar a ponto dos escravos não o reconhecerem e ele sabia que não podia encontrar consolo em ninguém, pois sua maldade não permitia que ninguém se aproximasse. Glossário do capítulo 19 Sopitara – “Fernando até ali sopitara esse castigo do céu,” – forma conjugada do verbo "sopitar," que significa adormecer ou fazer alguém adormecer. Pusilanimidade - “Por últ imo, vencendo sua pusilanimidade, correu desvairado ao seu quarto.” - falta de coragem ou a timidez excessiva de alguém. Momento esse em que Fernando decide ir ao quarto de Úrsula. Capítulo 20 A LOUCA No último capítulo, intitulado "A LOUCA", a história chega a um emocionante clímax. O comendador Fernando P. está sentado em seu jardim, atormentado pelos remorsos por seus crimes. O cenário ao redor é de uma beleza melancólica, mas Fernando não presta atenção a isso. Ele é interrompido pela chegada de um velho sacerdote, que aponta na direção do poente e menciona "Susana". O comendador observa a cena de dois escravos carregando um corpo em uma rede para o enterro, e a voz do remorso ecoa em sua mente. O sacerdote repreende Fernando por seus crimes, destacando o assassinato de Tancredo, Túlio, Paulo e Susana. Ele fala sobre o sofrimento que Fernando infligiu aos inocentes e como ele ignorou as súplicas por misericórdia. Assassino de Tancredo, de Túlio, de Paulo, e de Susana. Monstro! Flagelo da humanidade, ainda não saciastes a vossa vingança? Ah, humilhado e em nome de Deus, pedi-vos mercê para os infelizes, salvação para a vossa alma. Desdenhastes as minhas súplicas! Orgulhoso e vingativo que sois! E não sentistes que Deus observa os malvados e que os pune ainda na terra. Em vossa louca e vaidosa ideia, julgastes-vos grande, e esmagastes aos vossos semelhantes que eram fracos, e estavam inermes. Como a fera dos bosques acometestes a Tancredo e covardemente o assassinastes: como um verdugo cruel punistes Susana de um crime que não tinha. . . Oh, se o arrependimento vos não apagar a nódoa do pecado, os crimes vos despenharão no inferno. O comendador, com o coração partido, pede para ver Úrsula. O sacerdote o leva até o quarto da donzela, onde uma cena angustiante o aguarda. Úrsula, agora completamente insana, está sorrindo e falando com sombras invisíveis. Ela menciona Tancredo e suas flores de noivado. Fernando, testemunhando a loucura de Úrsula, fica arrasado. Ele percebe que sua esperança de tê-la como esposa foi destruída e que sua própria vida está repleta de remorso e dor. Ele fecha os olhos e se ajoelha em desespero. Úrsula continua a murmurar e a sorrir, e depois, em seu último suspiro, ela menciona o nome de Tancredo e exala seu último suspiro. O sacerdote e Fernando estão ajoelhados ao lado dela quando sua alma deixa seu corpo. Notas e análises A cena é carregada de emoção, com a redenção e a punição de Fernando P. como temas centrais. A história termina com um momento de tristeza e reflexão sobre os horrores do orgulho, vingança e crueldade, contrastados com a redenção tardia e o peso dos remorsos. EPÍLOGO No Epílogo, dois anos se passaram desde os eventos trágicos narrados anteriormente, e a província esqueceu os crimes ocorridos no convento de *** e a morte de Tancredo. A justiça permaneceu cega, os assassinos impunes, e as investigações foram abandonadas. Apenas um homem sabia a identidade do assassino, mas ele se recusava a denunciá-lo, pois sua missão era dedicada à paz e à religião. Esse homem, chamado frei Luís de Santa Úrsula, havia entrado para o convento dos carmelitas como noviço. No convento, frei Luís era considerado um louco por suas intensas práticas religiosas, jejuns e momentos de frenesi durante a oração. No entanto, ninguém conhecia sua verdadeira identidade ou a história por trás de suas ações. Em seu leito de morte, frei Luís revela a um religioso seu passado sombrio. Ele confessa ter sido o responsável pelo assassinato de Tancredo, movido pela vingança e pelo ciúme em relação a Úrsula. Ele lamenta sua falta de arrependimentosincero e seu coração ainda cheio de ódio. O religioso tenta trazer conforto espiritual a frei Luís, mostrando-lhe um crucifixo e lembrando-o do perdão divino. No entanto, frei Luís continua atormentado por sua culpa e desespero. Ele morre com um profundo arrependimento, buscando o perdão de Deus. Enquanto isso, Adelaide, a mulher por quem Tancredo sofrera uma imensa dor também enfrenta suas próprias tristezas e desgostos na vida, tendo perdido dois esposos. O 17 OSG3087-23 - Victor Paulo 18 OSG3087-23 - Victor Paulo remorso a assombra, por ter maltratado a mãe de Tancredo e ela depois falecera em vida de amargura e desesperos. A história termina com a lembrança da infeliz Úrsula em uma lápide simples junto ao altar da Senhora das Dores no convento, com a inscrição "Orai pela infeliz Úrsula". Ela é uma das vítimas do amor e da tragédia que marcaram a narrativa. Exercícios estilo UVA 01. Com base na leitura do romance Úrsula, pode-se afirmar que uma das temáticas exploradas na obra consiste a. nas consequências de uma vida solitária. b. nas questões raciais e escravocratas. c. na alegoria indígena. d. no nacionalismo romântico. 02. Com base na leitura do livro, quais personagens representam a questão da escravidão e do racismo? a. Túlio e Úrsula. b. Tancredo e Suzana. c. Fernando e Luíza B. d. Túlio e Suzana. 03. Na leitura da obra, percebe-se algumas estratégias narrativas, dentre as quais se destacam: a. dar voz e protagonismo a personagens negros; b. ausência de idealismo romântico; c. presença do zoomorfismo naturalista; d. ausência de tensão narrativa; 04. Sobre a narrativa do livro pode-se afirmar que é a. extradiegético. b. homodiegético. c. heterodiegético. d. autodiegético. 05. Quanto a classificação do romance, podemos classificá-lo como a. de costumes. b. urbano. c. regionalista. d. histórico-indianista. 06. Qual é a principal razão pela qual o pai de Tancredo se opõe ao casamento de seu filho com Adelaide? a. Porque ele acredita que Adelaide é indesejável para a família. b. Porque ele deseja que Tancredo se case com uma mulher rica. c. Porque ele não gosta de Adelaide pessoalmente. d. Porque ele tem outros planos para o casamento de Tancredo. 07. Como a mãe de Tancredo reage à oposição de seu marido ao casamento de seu filho? a. Ela confronta seu marido e exige que ele mude de ideia. b. Ela aceita passivamente a vontade de seu marido. c. Ela foge de casa com Tancredo e Adelaide. d. Ela convence Adelaide a desistir de Tancredo. 08. Como Tancredo descreve Adelaide, a mulher que ele conhece após voltar para casa? a. Ele a descreve como meiga e encantadora. b. Ele a descreve como autoritária e irritante. c. Ele a descreve como distante e fria. d. Ele a descreve como ambiciosa e gananciosa. 09. Como o pai de Tancredo reage quando sua esposa confronta suas decisões sobre o casamento de Tancredo? a. Ele muda de ideia e concorda com o casamento. b. Ele se desculpa com sua esposa e muda suas ações. c. Ele zomba dela e a rejeita com sarcasmo. d. Ele chora e pede perdão por seu comportamento. 10. Qual é a condição imposta pelo pai de Tancredo para que ele possa se casar com Adelaide, e como Tancredo reage a essa condição? a. O pai de Tancredo exige que ele espere um ano antes de se casar com Adelaide, e Tancredo, inicialmente, aceita a condição com alegria. b. O pai de Tancredo pede a ele que escolha entre o casamento com Adelaide e um emprego distante, e Tancredo escolhe o emprego. c. O pai de Tancredo concorda em deixá-lo se casar com Adelaide imediatamente, sem impor condições. d. O pai de Tancredo exige que ele se case com Adelaide imediatamente, sem esperar um ano, e Tancredo aceita essa condição com relutância. 11. No capítulo 6 intitulado A despedida, vemos o seguinte trecho: "Adelaide reclinava-se nos braços de minha mãe, pálida como a açucena pendurada na corrente; e essa mulher cheia de bondade e de virtude esforçava-se por consolá-la de uma dor que só nela era real, mas que supunha igual na donzela que um dia seria minha esposa." Tal fragmento comprova que Adelaide a. Estava realmente sofrendo e expressando sua dor de maneira sincera. b. Estava indiferente à partida de Tancredo, pois não demonstrou emoção. c. Estava escondendo suas verdadeiras emoções e agindo de forma dissimulada. d. Estava ansiosa para se tornar a esposa de Tancredo e não se importava com a separação temporária. 12. Qual é o nome da personagem que compartilha sua história de vida e experiências como escrava? a. Maria. c. Luíza B. b. Túlio. d. Susana. 19 OSG3087-23 - Victor Paulo 13. O que aconteceu com a “mãe” de Túlio? a. Ela foi comprada pelo Comendador P. b. Ela foi libertada e retornou à África. c. Ela morreu durante a viagem de escravos para o Brasil. d. Ela fugiu da escravidão e viveu escondida na fazenda. 14. Por que Úrsula fica tão perturbada com o encontro na mata? a. Porque o homem da mata também a ameaça. b. Porque ela encontra seu pai lá. c. Porque o homem da mata é Tancredo disfarçado. d. Porque ela perde seu amuleto. 15. O que preocupa Luíza quando Fernando a visita rogando perdão? a. Ela teme que ele queira reconciliação. b. Ela teme que ele busque vingança. c. Ela quer se casar com ele novamente. d. Ela quer que ele a ajude a cuidar de Úrsula. 16. O “amor” de Fernando por Úrsula revela-se como um sentimento a. puro. b. obsessivo. c. fiel. d. romântico. 17. Personagem responsável pela morte de Suzana e Túlio: a. Fernando. b. Feitor branco. c. Antero. d. Sacerdote. 18. Para escapar das mãos de Fernando Úrsula a. recorre à justiça. b. busca refúgio em uma junta militar. c. busca refúgio em um convento. d. resiste em sua fazenda às investidas de Fernando. 19. Qual é a razão pela qual Frei Luís de Santa Úrsula entra para o convento dos carmelitas? a. Para buscar vingança contra o Comendador Fernando. b. Por amor a Úrsula. c. Para escapar da justiça. d. Para encontrar a paz espiritual e se redimir de seus pecados. 20. Qual é o destino final de Úrsula? a. Ela foge com Tancredo. b. Ela se casa com Paulo B. c. Ela morre enlouquecida. d. Ela é condenada à prisão. 21. Quem é Adelaide e qual é sua relação com a história? a. Uma escrava que ajuda Úrsula a escapar. b. Uma amiga de Úrsula. c. A segunda esposa do pai de Tancredo. d. A mãe de Úrsula. 22. O que motiva a busca de vingança do Comendador Fernando? a. O assassinato de sua esposa por Tancredo. b. A rejeição de seu amor por parte de Úrsula. c. O roubo de suas propriedades. d. A recusa de Tancredo em lhe vender suas terras. 23. O que acontece com o Comendador Fernando no final da história? a. Ele encontra a felicidade ao lado de Úrsula. b. Ele se torna um eremita. c. Ele é assassinado. d. Ele entra para o convento. 24. Qual é o papel do Sacerdote na história? a. Ele é o mentor espiritual de Fernando. b. Ele é o responsável pelos assassinatos de Tancredo e Túlio. c. Ele é o pai de Úrsula. d. Ele é um político influente na província. 25. Qual é o destino de Tancredo no final da história? a. Ele se casa com Úrsula. b. Ele é assassinado pelo Comendador Fernando. c. Ele foge para outra província. d. Ele morre em um duelo de espadas com o Comendador Fernando. 26. O que motiva a entrada de Frei Luís de Santa Úrsula para o convento? a. O amor por Úrsula. b. O desejo de vingança contra Tancredo. c. O remorso por seus pecados. d. A busca por riquezas. 27. Qual é o significado simbólico da lápide no convento com a inscrição "Orai pela infeliz Úrsula"? a. Úrsula era uma santa. b. Úrsula foi esquecida pela sociedade. c. Úrsula encontrou a felicidade no final. d. Úrsula foi vítima de tragédias e sofrimentos. 28. Túlio acaba sendo assassinado ao a. se negar a entregar a localização de Úrsula. b. se negar a entregar a localização de Tancredo. c. proteger Tancredo de levar um tiro. d. tentar avisarTancredo de uma emboscada. 20 OSG3087-23 - Victor Paulo 29. No fragmento: “Os sicários saíram — a porta tornou-se a fechar[...]”, o termo sicários significa respectivamente a. empregados. b. assassinos. c. escravos. d. escravocratas. 30. Pode-se dizer que o romance, além de uma questão regionalista, possui uma pauta a. científica. b. filosófica. c. social. d. lírica. Em outros vestibulares 01. (Ufrgs 2020) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. ( ) O romance é narrado em primeira pessoa por Úrsula, jovem negra escrava, que aprendeu a ler com a patroa, D. Susana. ( ) Adelaide é a menina pobre que busca ascensão social através do casamento, como muitas mulheres faziam na época. ( ) A crítica ao modelo patriarcal está especialmente centrada nas figuras de Tancredo e de seu pai. ( ) O romance caracteriza-se como transgressor à produção romanesca do período, ao apresentar Túlio e Antero como sujeitos constituídos de humanidade. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a. V – V – F – F. b. V – F – F – V. c. F – V – V – V. d. F – F – V – V. e. V – V – V – F. 02. (Ufrgs 2019) Sobre Úrsula, romance de Maria Firmina dos Reis, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações. ( ) O romance é narrado em primeira pessoa por Úrsula, jovem negra escravizada e depois alforriada por Tancredo, senhor com quem a protagonista se casa. ( ) A linguagem apresenta variedade de registro: personagens negras comunicam-se de forma coloquial, personagens brancas adotam a norma culta da língua. ( ) O enredo está centrado no amor fracassado entre Úrsula e Tancredo, embora personagens como Túlio e mãe Susana sejam cruciais para o romance, especialmente na definição de seu caráter antiescravista. ( ) O escravocrata comendador Fernando P., antagonista de Tancredo na disputa por Úrsula, arrepende-se de seus crimes no final da vida e, recolhido em um convento, transforma-se no frei Luís de Santa Úrsula. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a. V – F – V – F. b. V – V – F – F. c. F – F – V – V. d. F – V – F – V. e. V – V – F – V. 03. (Ufrgs 2019) Considere as seguintes afirmações sobre Maria Firmina dos Reis e seu romance Úrsula. I. O romance Úrsula foi publicado no Maranhão, em 1859, sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”, e quase não se tem notícia de sua circulação à época da publicação. Recuperado na segunda metade do século XX, só então o livro passa a ser reeditado e minimamente debatido no meio literário. II. Nas primeiras páginas do romance, uma voz que pode ser lida como a da autora apresenta, a modo de prólogo, seu livro ao leitor, consciente das limitações que seriam impostas a ele por ter sido escrito por uma mulher brasileira de educação acanhada. III. A circulação limitada de Úrsula dá mostras de que, associados ao valor estético, fatores como classe social, gênero e raça do escritor também participam da definição do cânone literário. Quais estão corretas? a. Apenas I. b. Apenas III. c. Apenas I e II. d. Apenas II e III. e. I, II e III. lucianofeijao.com.br Educação que conquista o mundo. Página 1 Página 2 Página 3 Página 4 Página 5 Página 6 Página 7 Página 8 Página 9 Página 10 Página 11 Página 12 Página 13 Página 14 Página 15 Página 16 Página 17 Página 18 Página 19 Página 20é visto como único meio de o herói ou o vilão romântico se redimirem e se “purificarem” = solução: em muitas casos: a morte. Idealização do herói - ser dotado de honra, de idealismos e coragem = põe a própria vida em risco para atender aos apelos do coração ou da justiça = em algumas obras assume as feições de “cavaleiro medieval”. Idealização da mulher - são desprovidas de opinião própria, são frágeis, dominadas pela emoção, obedientes às determinações dos pais e educadas para o casamento. Tipos de Romance São eles: Romance Indianista: O romance indianista traz à tona a vida, cultura, crença e costumes indígenas. O índio surge como herói, representando o Brasil e os brasileiros, sendo corajoso, heroico, forte, idealizado. Há uma valorização da natureza e o espaço onde ocorre a narrativa remete ao natural, à paisagem brasileira. Romance Histórico - O romance histórico traz o retrato de costumes de uma época passada, sendo um relato que muitas vezes mistura ficção e realidade. Romance regionalista - Por fim, temos o romance regionalista, passado em ambiente rural, mostrando costumes, valores e cultura típica de uma região. Este tipo de romance trazia um maior conhecimento do Brasil sobre si próprio, uma vez que voltava seu olhar pra regiões diferentes do Brasil, trazendo à tona sua diversidade. Neste cenário rural há um herói do campo, sertanejo, alguém que pertence à sua terra e é o retrato desta. É bravo e honrado, preza a moral e os costumes de seu ambiente, colocando-se contrário às liberalidades da cidade e dos homens de lá. É importante ressaltar que não há tensão social no romance romântico regionalista, sendo este apenas um retrato regional de costumes, sem críticas. 02 OSG3087-23 - Victor Paulo Romance urbano - Os romances urbanos são os mais lidos até hoje. Em sua grande maioria, este tipo no Romantismo narrava uma história que geralmente ocorria nas capitais, na alta sociedade. Funcionava como crítica aos costumes, mostrando a sociedade e os interesses desta em uma determinada época. Os heróis e heroínas deste romance faziam ou não parte desta alta sociedade e tinham que superar várias barreiras para a felicidade e a realização do amor e do casamento (que redimia as personagens de todo o mal e imoralidade que elas pudessem ter), tal como nos outros tipos de romances românticos. Exemplos de romances urbanos: Lucíola, Diva, Senhora, A Viuvinha, todos de José de Alencar; Iaiá Garcia, Helena, A Mão e a Luva, de Machado de Assis; A Moreninha, Moço Loiro de Joaquim Manuel de Macedo; e Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, que surge trazendo à tona os costumes da periferia, indo na contramão do retrato de costumes da alta sociedade, algo raro neste tipo de romance. ÚRSULA Prof. Raul Castro MARIA FIRMINA DOS REIS – Vida e Obras Maria Firmina dos Reis foi uma escritora brasileira do século XIX, nascida em São Luís, no estado do Maranhão, em 1822, e falecida em 1917. Ela é conhecida por ser uma das primeiras escritoras negras da literatura brasileira e uma das pioneiras na abordagem das questões raciais e sociais em sua obra. Sua obra mais famosa é o romance "Úrsula," publicado em 1859, que é considerado um dos primeiros romances abolicionistas do Brasil. "Úrsula" aborda temas como a escravidão, a discriminação racial e a luta pela liberdade dos escravizados, além de explorar questões de gênero e classe social. Maria Firmina dos Reis também escreveu poesia e contos, muitos dos quais tratavam das injustiças sociais e da condição das mulheres negras. A obra de Maria Firmina dos Reis é importante não apenas por sua contribuição à literatura brasileira, mas também por seu papel na promoção da igualdade racial e social. Ela é uma figura significativa na história da literatura afro-brasileira e continua a ser estudada e celebrada por seu legado literário e ativismo. Tendo se tornado uma figura inestimável tanto para a literatura negra quanto para o romantismo brasileiro, pois sua obra e legado transcenderam as fronteiras de seu tempo e ainda ecoam como fonte de inspiração e reflexão. A importância de Maria Firmina pode ser compreendida sob duas perspectivas cruciais: sua contribuição para a literatura negra e seu impacto no contexto do romantismo brasileiro. Contribuição para a Literatura Negra: A autora é reconhecida como uma das primeiras escritoras negras do Brasil, uma pioneira que quebrou barreiras significativas em um momento em que as vozes negras eram frequentemente silenciadas e marginalizadas. Sua obra mais notável, o romance "Úrsula," é uma conquista literária que transcende a narrativa em si. Este romance abolicionista ousado enfrentou questões essenciais da escravidão, da liberdade e da dignidade humana, lançando um olhar crítico sobre a crueldade do sistema escravocrata. Maria Firmina dos Reis deu voz às experiências dos afrodescendentes no Brasil, destacando a brutalidade da escravidão e a busca pela liberdade. Sua escrita revela a profundidade de seu compromisso com a justiça social e sua determinação em desafiar as normas opressivas de sua época. Assim, ela estabeleceu um precedente importante para futuras gerações de escritores afro-brasileiros, que encontraram em sua obra um modelo a ser seguido e uma fonte de inspiração para abordar questões raciais em suas próprias criações literárias. Impacto no Romantismo Brasileiro: No contexto do romantismo brasileiro, Maria Firmina dos Reis desempenhou um papel significativo ao trazer uma abordagem inovadora para o gênero. Enquanto o romantismo muitas vezes se concentrou em temas idealizados, amorosos e bucólicos, Maria Firmina optou por explorar questões sociais e raciais de forma crítica e comprometida em suas obras. Isso representou uma ruptura com as tendências literárias predominantes da época e estabeleceu um novo caminho para a literatura brasileira. Seu romance "Úrsula" é frequentemente apontado como uma das primeiras manifestações do romantismo social no Brasil, antecipando uma tendência literária que ganharia força nas décadas seguintes. Maria Firmina trouxe uma voz única para o romantismo brasileiro ao abordar temas de opressão, injustiça e desigualdade, contribuindo assim para a evolução do movimento literário no país. Maria Firmina dos Reis é uma figura essencial para a literatura negra e para o romantismo brasileiro. Sua coragem em enfrentar questões sociais e raciais em uma época de grande adversidade, combinada com sua maestria literária, torna-a um ícone que continua a inspirar escritores, leitores e defensores da igualdade racial e social no Brasil e além. Seu legado perdura como um farol de luz na luta contra a discriminação e como um exemplo do poder da literatura para promover a justiça e a mudança. ELEMENTOS DA NARRATIVA E RESUMO FOCO NARRATIVO O foco narrativo é predominantemente em terceira pessoa, com um narrador onisciente que tem conhecimento dos pensamentos, sentimentos e ações de vários personagens ao longo da narrativa. No entanto, a obra também apresenta algumas passagens em primeira pessoa, onde os próprios 03 OSG3087-23 - Victor Paulo personagens compartilham suas perspectivas e experiências como é o caso de Suzana e Túlio. Essa técnica narrativa permite ao leitor obter insights profundos sobre os personagens, seus conflitos internos, motivações e interações sociais. Ao alternar entre a visão onisciente e os relatos em primeira pessoa, a autora oferece uma visão mais abrangente da vida e das lutas dos personagens em uma sociedade marcada por questões de raça, classe e gênero. O foco narrativo em terceira pessoa permite que o leitor tenha uma visão mais objetiva dos eventos e das circunstâncias que afetam os personagens, enquanto os trechos em primeira pessoa fornecem uma perspectiva mais íntima e pessoal dos protagonistas. Isso enriquece a narrativa e ajuda a destacar as complexas questões sociais e emocionais abordadasao longo do romance. TEMPO A obra segue uma estrutura narrativa cronológica, na qual os eventos são apresentados na ordem em que ocorrem no tempo. A história se desenrola ao longo de vários anos, abrangendo um período significativo. No entanto, a narrativa não faz referências explícitas a datas específicas, e a cronologia exata dos eventos não é detalhada na obra. Embora o livro não forneça datas precisas para os eventos, ele oferece uma visão geral do tempo em que se passa, destacando a passagem das estações, ciclos de plantações e colheitas e o envelhecimento dos personagens. Essa abordagem cronológica permite à autora explorar a evolução das relações e dos conflitos ao longo do tempo, à medida que os personagens enfrentam desafios e dilemas pessoais e sociais. ESPAÇO Na obra "Úrsula," de Maria Firmina dos Reis, diversos espaços são explorados, cada um deles desempenhando um papel significativo na narrativa. Apesar de a narradora não conceder nomes de locais, como cidade de ****, convento de ****, esses espaços são representativos das condições sociais e das relações entre os personagens. Vamos explorar alguns dos principais espaços dentro do romance: Fazenda de Santa Cruz: é um dos cenários centrais da história. É uma fazenda onde se pratica a produção de açúcar e a escravidão é uma parte fundamental da dinâmica desse espaço. A autora retrata as condições cruéis enfrentadas pelos escravizados, bem como as relações entre senhores e escravos, destacando as injustiças e a brutalidade do sistema escravocrata. Pertencente ao comendador Fernando tem lá um cemitério aonde será enterrada Luíza B. Convento dos Carmelitas: O convento é outro espaço importante na narrativa, especialmente na segunda parte do romance. É onde Frei Fernando (antigo comendador Fernando) encontra refúgio e busca redenção espiritual. O convento representa um contraste com o engenho, pois é um local de religiosidade e contemplação, onde os personagens confrontam questões morais e espirituais. Jardim do Comendador: O jardim da propriedade do Comendador Fernando é um espaço onde o protagonista passa momentos de reflexão e remorso. Ele é descrito como um lugar de beleza natural, mas também é onde Fernando enfrenta seus sentimentos de culpa e sofrimento interior. Sítio de Luíza B.: A casa de Luíza B., uma personagem importante na história, é onde se desenvolvem algumas das tramas amorosas e conflitos. Paisagens Naturais: Ao longo do romance, a autora descreve paisagens naturais, como florestas, campos, rios e praias. Esses cenários naturais muitas vezes refletem o estado emocional dos personagens e servem como pano de fundo para eventos importantes na trama. Os espaços explorados na obra contribuem para a compreensão das relações sociais, das tensões raciais e das questões morais que permeiam a história. Eles também desempenham um papel simbólico na medida em que representam aspectos da vida e das experiências dos personagens, adicionando profundidade à narrativa. TEMÀTICA CENTRAL A temática central do romance "Úrsula," abrange várias questões sociais, morais e psicológicas, sendo difícil resumir a obra a uma única temática. No entanto a perspectiva do Amor e da Vingança parece ser a mais importante haja vista que a trama gira em torno de complexas relações amorosas e de vingança entre os personagens. O amor, muitas vezes não correspondido, é um tema recorrente, enquanto a vingança motiva ações que têm repercussões ao longo da narrativa. O amor entre Úrsula e Tancredo domina os dez primeiros capítulos que depois segue para a possessividade de Fernando que o consome por inteiro gerando como efeito um imenso remorso que o domina nos capítulos finais. Entretanto, o livro não trata apenas disso e desenvolve outras temáticas importantes, vejamos algumas delas: Escravidão e Racismo: A obra aborda de maneira contundente a instituição da escravidão no Brasil do século XIX, destacando as injustiças, crueldades e desumanidades sofridas pelos escravizados. O romance também examina as consequências do racismo e da discriminação racial na sociedade da época. Em personagens como Suzana e Túlio, podemos observar o quão devastador é a escravidão e como a vida do escravo era árdua e difícil, como no momento em que Suzana narra seu sequestro na África, como Túlio narra o sofrimento da mãe em posse do comendador, como Antero, o velho, conta sobre seus vícios e dores. Remorso e Redenção: O remorso também é uma emoção central no livro, especialmente para um dos protagonistas, Comendador Fernando. Ele é assombrado pelos remorsos de suas ações passadas e busca redimir-se espiritualmente ao entrar para o convento dos carmelitas. Religião e Espiritualidade: A obra explora a religião de maneira significativa, com personagens que buscam conforto espiritual e redenção. O convento e as reflexões religiosas desempenham um papel importante na transformação dos personagens. O sacerdote amigo de Fernando exerce um papel de consciência alertando-o para seus crimes e maldades, chega a dizer que uma das formas dele se redimir seria dar a liberdade a todos os escravos da fazenda. 04 OSG3087-23 - Victor Paulo Condição da Mulher: O romance também aborda a condição limitada da mulher na sociedade do século XIX, destacando as restrições que as mulheres enfrentavam. As personagens femininas, como Úrsula e Luíza B., enfrentam desafios em busca de autonomia e felicidade, mas que infelizmente não conseguem. A mãe de Tancredo sofre os abusos de seu pai, Luíza B. sofreu nas mãos do irmão e do marido (Paulo B.), e Úrsula sofre pelas mãos do tio, revelando as tristes consequências de uma sociedade dominada pela patriarcalismo e o machismo. Natureza e Paisagem: A descrição da natureza e da paisagem é uma característica marcante na obra, e esses elementos muitas vezes refletem o estado emocional dos personagens. A natureza desempenha um papel simbólico, representando a beleza e a fragilidade da vida. "Úrsula" é uma obra rica em temas e camadas, explorando questões sociais, morais e psicológicas em um contexto histórico marcado pela escravidão e pelas complexas relações humanas. A autora oferece uma visão crítica da sociedade de sua época e dos dilemas enfrentados pelos personagens à medida que buscam amor, redenção e significado em suas vidas. LINGUAGEM A linguagem de "Úrsula" de Maria Firmina dos Reis é caracterizada por sua riqueza descritiva e emocional. Sendo assim, podemos encontrar as seguintes características: 1. Descritiva: A autora usa uma linguagem descritiva detalhada para pintar imagens vívidas na mente do leitor. Ela descreve a paisagem, o estado do cavaleiro, a natureza ao redor e até mesmo as emoções dos personagens de forma minuciosa. 2. Emocional: A linguagem transmite as emoções dos personagens de forma profunda. O leitor pode sentir a compaixão de Túlio pelo cavaleiro ferido, a gratidão do cavaleiro e a tristeza de Túlio por causa de sua condição de escravo. A narrativa evoca empatia e simpatia pelos personagens. 3. Simbolista: A autora usa simbolismo em várias partes para transmitir significados mais profundos. Por exemplo, a comparação do sol com um homem maligno e a donzela e a flor que choram em silêncio podem ser interpretadas como metáforas para as complexidades das emoções humanas e as injustiças da sociedade. 4. Criticidade Social: Maria Firmina dos Reis utiliza sua prosa para fazer uma crítica social à escravidão e às desigualdades raciais da época. Através da voz dos personagens, ela chama a atenção para a crueldade da escravidão e para a necessidade de compreensão e igualdade entre todos os seres humanos. 5. Expressividade: A linguagem é expressiva e poética em muitos momentos, criando um tom melódico e envolvente que cativa o leitor. PERSONAGENS Úrsula – filha de Luíza B. e Paulo B., uma bela moça, ingênua que cuida da mãe paralítica, apaixona-se por Tancredo com que vive um grande amor, mastambém é alvo da possessão de Fernando. Fernando – Tio de Úrsula, irmão de Luíza B., ao longo da obra ele aparece efetivamente no capítulo 10, apesar de já mencionado ao longo da obra como alguém que possui o rancor de Úrsula. Extremamente possessivo deseja a todo custo obter um casamento, ao longo da obra ele revela ser o assassino de Paulo B., assassina Túlio, prende Suzana, o que também leva a sua morte, mata Tancredo, e é responsável pela loucura e morte de Úrsula. Ao final, enclausura-se em um convento e morre com remorso e um arrependimento assumido no último suspiro. Tancredo – a obra inicia com Tancredo caído ao chão e quase morto, mas após ser salvo por Túlio fica no sítio de Luíza e se apaixona por Úrsula onde revela que sofrera uma imensa decepção amorosa por parte de Adelaide e de seu pai. Depois de casar com Úrsula acaba sendo assassinado por Fernando. Túlio – escarvo liberto por Tancredo após salvá-lo, é como um fiel escudeiro de Tancredo, é assassinado na mesma emboscada que ceifa a vida de seu amigo. Luíza B. – mãe de Úrsula, uma senhora paralítica que inicia o romance bastante doente e precisando de cuidados que são apenas paliativos. Ela morre logo após a chegada do irmão ao mesmo tempo que este confessa ter matado seu marido. Paulo B. – esposo de Luíza, apenas mencionado na obra, tendo sido inicialmente um marido ruim tenta se redimir, mas sem tempo, pois é assassinado por Fernando. Suzana – escrava velha do sítio de Luíza que é tida como uma mãe para Túlio, acaba morrendo após ser presa por Fernando em duras correntes por não revelar a localização de Úrsula. Antero – velho africano viciado em álcool que trabalha em Santa Cruz, fica responsável de vigiar Túlio que Fernando o prende, mas acaba bebendo e dorme permitindo a fuga de Túlio. Sacerdote – convocado por Fernando para realizar um casamento forçado com Úrs ula ele não tem seu nome revelado, ao longo da trama se torna o confessor de Fernando e é a voz a consciência e do seu remorso. Feitor branco – capataz de Santa Cruz que enfrenta verbalmente Fernando e se nega a penalizar Suzana, ao sair oferece um cavalo para que a escrava fuja, mas ela não o atende. RESUMO COMPLETO Capítulo 1 DUAS ALMAS GENEROSAS O capítulo começa com uma vasta descrição da natureza, bem ao estilo da escola romântica. O narrador estabelece uma relação de vários adjetivos com hipérbato para destacar os predicativos do ambiente. “São vastos e belos os nossos campos.” 05 OSG3087-23 - Victor Paulo O narrador menciona a sensação de tranquilidade e encanto que as águas calmas e a brisa suave proporcionam aos habitantes locais, que expressam sua reverência a Deus através de cânticos de amor e saudade. Esses cânticos são descritos como notas de uma harpa eólica, evocadas pelo roçar da brisa ou pelo sussurrar da folhagem na mata. Conforme a estação muda e as chuvas desaparecem, a paisagem se transforma novamente, com o leito que antes estava sob a água se tornando um tapete verde e úmido, adornado por flores tropicais perfumadas. As carnaubeiras altas se curvam com o vento, criando uma cena impressionante. O narrador destaca a beleza efêmera da vegetação e da flora local, onde o orvalho noturno parece uma lágrima pendurada nas folhas, pronta para ser recolhida pelo primeiro suspiro da saudade. O sol, ao nascer, seca esse pranto, mas a beleza dos campos permanece. O narrador expressa seu amor pela solidão, enfatizando como a natureza proporciona uma conexão direta com Deus. Ele descreve a sensação de paz e humildade que a solidão oferece, permitindo que a alma se volte para Deus e o encontre, pois Deus está presente em toda parte.¹ Em seguida, a narrativa introduz um jovem cavaleiro que atravessa os campos durante uma manhã de agosto, em um cenário deslumbrante onde a natureza está em pleno esplendor. O cavaleiro parece estar em profunda meditação e indiferente ao estado exausto de seu cavalo, que mal consegue se manter de pé. O narrador especula sobre o motivo da melancolia do jovem cavaleiro, sugerindo que pode estar relacionada a uma ideia ou lembrança dolorosa. O cavaleiro continua sua jornada, aparentemente alheio ao cenário ao seu redor. Entretanto, o cavalo, já sem energia, eventualmente cai, levando o cavaleiro ao chão também. O impacto da queda parece acordar o viajante de sua meditação profunda, mas é tarde demais para evitar a queda. O cavalo morre, e o cavaleiro desmaia devido aos ferimentos na cabeça.² Era o alvorecer do dia e entra em cena um dos personagens centrais que passava pelo mesmo trajeto, eis a sua descrição: O homem que assim falava era um pobre rapaz, que ao muito parecia contar vinte e cinco anos, e que ria franca expressão de sua fisionomia: deixava adivinhar toda a nobreza de um coração bem formado. O sangue africano fervia-lhe nas veias; o mísero ligava-se à odiosa cadeia da escravidão; e embalde o sangue ardente que herdara de seus pais, e que o nosso clima e a servidão não puderam resfriar, embalde — dissemos — se revoltava, porque se lhe erguia como barreira o poder do forte contra o fraco.³ Sensibilizado pela dor do outro, mesmo quando não se havia esperança de alguém aparecer por ali, o negro o retirou o cavalo morto, foi pegar água, passou-a em sua testa e deu- lhe de beber fazendo com que aos poucos o jovem rapaz recobrasse os sentidos. A conotação religiosa permeia todo o capítulo quando indica que só Deus teria visto tal cena e piedade e caridade. O jovem tendo recobrado o sentido perguntou quem era aquela alma caridosa que tinha interesse em sua pessoa. O jovem escravo, com a retidão e o medo, pediu perdão pela ação e disse que queria apenas prestar auxílio a ele. O jovem novamente pede por socorro, pois sentia que tinha febre e o escravo que ainda não tinha se apresentado, diz que poderia levá-lo a fazenda de Luíza B. e que lá seria bem tratado. Ao insistir no nome do seu salvador somos apresentados ao primeiro personagem da história. Seu nome é Túlio, um “mísero escravo”. Túlio se lamenta pela sua condição de escravo, mas logo o jovem o repreende e até profetiza: — Cala-te, oh! Pelo céu, cala-te, meu pobre Túlio — interrompeu o jovem cavaleiro. — Dia virá em que os homens reconheçam que são todos irmãos. Túlio, meu amigo, eu avalio a grandeza de dores sem lenitivo, que te borbulha na alma, compreendo tua amargura, e amaldiçoo em teu nome ao primeiro homem que escravizou a seu semelhante. Sim — prosseguiu — tens razão; o branco desdenhou a generosidade do negro, e cuspiu sobre a pureza dos seus sentimentos! Sim, acerbo deve ser o seu sofrer, e eles que o não compreendem! Mas, Túlio, espera; porque Deus não desdenha aquele que ama ao seu próximo. . . e eu te auguro um melhor futuro. E te dedicaste por mim! Oh, quanto me hás penhorado! Se eu te pudera compensar generosamente. . . Túlio — acrescentou após breve pausa —, oh dize, dize, meu amigo, o que de mim exiges; porque toda a recompensa será mesquinha para tamanho serviço. Túlio diz apenas que desejava em troca que ele sempre tratasse os seus amigos negros e vítimas da escravidão daquela forma piedosa e bondosa, e aquilo impressionou ainda mais o resgatado. Ambos chegam à frente da casa, Túlio cansado, o jovem caiu em desmaio. Notas e análises: ¹ Note como há o elemento religioso associado à paisagem, no contexto da obra, essa descrição extensa e bem subjetiva serve como uma introdução à história e aos temas que serão explorados posteriormente, como as relações humanas, a escravidão e a luta por justiça e liberdade. ² A cena cria um mistério em torno do personagem desconhecido, revelando seu estado de melancolia e sugerindo que algo profundo e perturbador está acontecendo em sua vida. ³ nesse momento também se aproveita para analisar o martírio do negro que andava naquele momento para identifica-lo como escravo: “Assim é que o triste escravo arrasta a vida de desgostos e de martírios, sem esperança e sem gozos!”E ainda aproveita para apelar a Deus: “Senhor Deus! Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima — ama a teu próximo como a ti mesmo —, e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante. Àquele que é seu irmão!” Esse primeiro capítulo tem um impacto narrativo único, e a descrição da natureza é feita de forma subjetiva e intimista, como se escondesse nela algo, pois reflete o mistério que havia no jovem cavaleiro errante, o teor é simbolicamente religioso, pois a ação de Túlio se assemelha a do bom samaritano. Quis até mesmo comparar com algumas obras de Alencar e Bernardo Guimarães, mas Úrsula antecipa esses aspectos, tendo sido lançado em 1859, antes mesmo de Iracema (1862) 06 OSG3087-23 - Victor Paulo e O Seminarista (1870) O que torna interessante é o porquê do título do primeiro capítulo: Duas almas caridosas, na verdade tal elemento se encontra na ação e na palavra, no ato de Túlio e no discurso do jovem. Túlio se revela um bom homem pela sua ação cristã, e o jovem tem um discurso que reconhece a maldade da escravidão e o fato de estar em dívida com o escravo. Nesse caso a autora já coloca dois elementos, ou teses centrais a serem desenvolvidas na trama: a primeira, o que teria acontecido ao jovem, segunda, o que ocorrerá com Túlio. Na cena no resgate por parte de Túlio o narrador insere o contexto da escravidão com imenso intimismo. A cena destaca a crueldade da escravidão e a falta de esperança e alegria na vida dos escravos, que enfrentam muitos sofrimentos sem a liberdade de expressar suas dores. A narrativa enfatiza a importância da esperança e sugere que a verdadeira libertação pode ser encontrada apenas na eternidade. Glossário do capítulo 1: Exíguo esquife: "E a sua beleza é amena e doce, e o exíguo¹ esquife², que vai cortando as suas águas hibernais mansas e quedas". - ¹ Pequeno, limitado. - ² Pequeno barco. – nesse trecho descreve-se o tamanho ou espaço e referindo- se ao campo em que o cavaleiro viaja. Algente: " Expande-se-nos o coração quando calcamos sob os pés a erva reverdecida, onde gota a gota o orvalho chora no correr da noite esse choro algente." – Gélido, muito frio. Páramos: “Quem haverá aí que se não sinta transportado ao lançar a vista por esses vastos páramos ao alvorecer do dia” - Planícies ou áreas planas e desoladas. - Descreve o terreno onde ocorreu o acidente com o cavaleiro e seu cavalo. Ubiquidade: “[...] e o encontra, porque com o dom da ubiquidade Ele aí está!” - Habilidade de estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo. Refere-se nesse caso ao elemento da solidão provocado pelo ambiente. Axixá: “[...] e mais belas se ostentavam, em que o axixá com seus frutos imitando purpúreas estrelas esmaltava a paisagem." - Planta típica da região, provavelmente se referindo a uma espécie de palmeira. Descreve a beleza e a vegetação exuberante da paisagem em agosto. Ginete: “com a outra frouxamente tomava as rédeas ao seu ginete.” Cavaleiro, pessoa que monta a cavalo. Contexto - Refere-se ao cavaleiro e seu cavalo no momento do acidente. Baldo: "De repente o cavalo, baldo de vigor, em uma das cavidades onde o terreno se acidentava mais,[...]" - Desprovido de força ou vigor. Contexto - Descreve o estado debilitado do cavalo no momento da queda. Dardejava: “E o sol já mais brilhante, e mais ardente e abrasador, subia pressuroso a eterna escadaria do seu trono de luz, e dardejava seus raios sobre o infeliz mancebo! - Lançar ou emitir com intensidade, no contexto, os raios do sol. - Descreve a ação dos raios solares que iam ao encontro do jovem. Enterneceu-se: “[...]e por isso seu coração enterneceu- se em presença da dolorosa cena que se lhe ofereceu à vista.” - Comover-se com compaixão ou ternura. Contexto - Descreve a emoção do homem ao encontrar o cavaleiro ferido e desmaiado. Lenitivo: “Túlio, meu amigo, eu avalio a grandeza de dores sem lenitivo, que te borbulha na alma” - Algo que alivia ou suaviza uma situação difícil. O jovem reconhece o sofrimento de Túlio e sua situação como escravo. Capítulo 2 O DELÍRIO Novamente com elementos adjetivos “Violente, terrível e espantosa...” o narrador iniciar para falar da febre que assola a saúde frágil do rapaz. O jovem continua doente e delirando, Túlio ficava à cabeceira sempre velando por sua saúde, era um delírio assustador que ali estava, nesse momento nos é apresentado a filha de dona Luíza B., Úrsula, descrita como sendo bela assim como o primeiro raio da esperança e que se comovia imensamente com a dor do doente que ali sofria: Era ela tão caridosa. . . tão bela. . . E tanta compaixão lhe inspirava o sofrimento alheio, que lágrimas de tristeza e de sincero pesar se lhe escaparam dos olhos, negros, formosos, e melancólicos. Úrsula, com a timidez da corsa, vinha desempenhar à cabeceira desse leito de dores os cuidados que exigia o penoso estado do desconhecido. Depois pôs-se a tocar as mãos do rapaz que estavam quentes como “larvas de um vulcão”, quando ele a viu julgou estar diante de um anjo, se ele a teria amado, chamando-se de louco, usando termos como “assassina” e “minha pobre mãe” era um série de palavras desconexas que deixavam tanto Úrsula quanto Túlio mais assustados e o escravo ainda mais temeroso de perder o recém-amigo. Até que um nome é proferido de sua boca: Adelaide. E isso é o bastante para instigar ainda mais a curiosidade de Úrsula que já a imaginava como alguém bela e demoníaca ao mesmo tempo. Depois ambos, o doente e a jovem dormem, ela o vigiando, e partilhando os cuidados entre o hospede e sua mãe, sempre debilitada, quando repentinamente ele acorda sentindo dor no peito e Úrsula vai para acalmá-lo e medicá-lo. Ambos se falam e o jovem rapaz expressa sua gratidão. O enfermo continua a falar em delírio, alternando entre lembranças de amor e momentos de desespero. Úrsula, comovida pelas palavras do enfermo, derrama uma lágrima, mas ela passa despercebida por ele. O enfermo fala sobre a importância do amor e como o coração se enche de felicidade quando se ama alguém. Úrsula, por sua vez, fica confusa com seus próprios sentimentos, misturando sua compaixão pelo enfermo com uma sensação estranha e inexplicável, repare nesse momento: — Não vedes? — prosseguiu fitando Úrsula — como é belo amar-se! Como se nos expande o coração, como nos transborda a alma de felicidade? E a moça dizia consigo — Meu Deus! Meu Deus, que é o que eu sinto no coração que me enternece? Deve ser sem dúvida esta forçada vigília, este lidar de todos os momentos. O estado de minha pobre mãe. . . a compaixão que me inspira este infeliz mancebo, tão próximo talvez da morte!. . . Oh, terrível ideia! A morte! É ele tão jovem. . . Tão leal, e tão franca é a sua 07 OSG3087-23 - Victor Paulo fisionomia. . . meu Deus! Seria bem duro vê-lo morrer! Poupai-o, Senhor. Se eu pudesse, duplicaria os meus cuidados para salvá-lo! Oh, se eu pudesse. . . À medida que o delírio do enfermo diminui, ele entra em um estado de alucinação mais tranquilo, onde parece estar cercado por ilusões reconfortantes. Úrsula fica aliviada ao ver a sua melhora. No entanto, o enfermo tenta segurar a mão de alguém que parece estar presente em suas visões, mas essa mão escapa dele. Nesse momento ele vislumbra o amigo Túlio, e começa a refletir sobre a escravidão e a liberdade, e como tal liberdade pode se fazer a mente, através da imaginação, como o escravo que, cativo em terra alheia, sonha com o seu sertão africano. Ele compartilha a visão de que a mente humana é livre e que, mesmo em condições de escravidão, o pensamento pode voar para longe da realidade opressora. Túlio chora, e naquele momento o jovem volta a dormir estando mais frio como nunca, seria a febre a acabar? Ou a morte a o levar? Túlio e Úrsula estão agora conectados àquele jovem tão romântico, ao mesmo tempo tão misterioso e enigmático e dia após dia redobraram seus cuidados, e no fundo, mesmo sempre dormindo emacalento, um sentimento misterioso e novo também nascia no peito do jovem rapaz. Notas e análises Nesse capítulo, o narrador cria uma atmosfera densa e misteriosa, introduzindo elementos de intriga e drama emocional. Os delírios do enfermo e a compaixão de Úrsula estabelecem uma base para o desenvolvimento dos personagens e a progressão da trama. A autora soube genialmente utilizar a natureza e a noite como elementos simbólicos para realçar as emoções e os conflitos internos dos personagens, criando assim uma narrativa rica em atmosfera e sentimentos. Além disso há os elementos não ditos que ainda nos põe em cur ios idade e há mais de ixas para questionamentos do que respostas: quem é Adelaide? Por que sua mãe foi citada? O que ocorreu para ele estar assim? E o mais importante: qual o nome desse homem que ali sofre? Glossário do capítulo 2: Noitibó, acauã – “ou pelo gemido triste de sentido noitibó, ou os agoureiros pios do acauã.” – O noitibó é uma ave noturna, pertencente à família dos caprimulgídeos, conhecida por seu canto triste e melancólico durante a noite. É frequentemente associado a ambientes noturnos e misteriosos. O acauã é outra ave noturna, também conhecida por seu canto noturno característico. É uma ave típica das regiões da América do Sul, especialmente do Brasil. A palavra "acauã" é mencionada para descrever o som que se une ao gemido do noitibó, contribuindo para a atmosfera silenciosa e melancólica da noite nos bosques. Patentear – “e a donzela não se envergonhava de o patentear.” – tornar algo evidente, claro ou manifesto, geralmente por meio de ações, expressões ou demonstrações. Também pode se referir a revelar ou mostrar algo abertamente. No trecho, Úrsula não se envergonha de mostrar abertamente seus cuidados e compaixão pelo jovem enfermo. Ela expressa sua preocupação e carinho de forma visível, sem tentar esconder seus sentimentos. Capítulo 3 DECLARAÇÃO DE AMOR Vários dias se passaram, e o estado de saúde do hóspede de Luíza B. estava melhorando. Túlio, o jovem negro, e a bela Úrsula cuidavam dele e do ambiente saudável da região contribuía para sua recuperação. No entanto, o cavaleiro falava sobre sua partida iminente, o que entristecia Úrsula. Túl io havia s ido alforr iado pelo mancebo em agradecimento por sua dedicação. Agora, Túlio estava livre e disposto a segui-lo para onde quer que fosse. A relação entre os dois era marcada por profunda gratidão chegando a causar uma certa inveja a garota confusa de seus sentimentos. Enquanto a saúde do hóspede melhorava, a mãe de Úrsula estava cada vez mais doente, aproximando-se da morte. Úrsula cuidava dela com carinho, mas sua própria melancolia aumentava a cada dia.¹ Ela passava noites inquietas e contemplava amanheceres pensativos. A jovem não conseguia entender a causa de seus sentimentos e estava perdendo sua alegria juvenil. Alguém observava essa transformação nela com amor e apreciava sua melancolia e palidez, mas Úrsula não compreendia seus próprios sentimentos, ela experimentava ali o sentimento do primeiro amor Úrsula, malgrado seu, experimentava todo o fogo de um primeiro amor, bem o conhecia, e revoltava-se contra esse sentimento, que supunha não ser compartilhado, e atribuía-o a simples amizade. Embalde o coração lhe gritava, esclarecendo- a, ela julgava-se humilhada; reassumia toda a sua dignidade em face do cavaleiro, e só na solidão derramava o pranto de amargo e oculto padecer. Ela realizava passeios matinais secretos pela mata, onde buscava alívio para seus pensamentos. Sua mãe apreciava sua gentileza e cuidado. No entanto, os problemas de saúde da mãe pioravam a cada dia. O cavaleiro, quase totalmente recuperado, estava prestes a partir, mas ele não podia fazê-lo sem explicar algo a Úrsula. A partida dele se aproximava, e ele não conseguia evitar a saudade. Nessa manhã, Úrsula, mais cedo do que o habitual, se aventurou profundamente na mata e descansou sob uma grande árvore jatobá. Ela estava oprimida por uma profunda angústia. Ela é surpreendida por um homem, o cavaleiro convalescente, que antes de declarar sua partida, ajoelha-se e se declara apaixonado por ela. Úrsula fica inicialmente assustada, mas depois de uma conversa emocional, ela também confessa seu amor por ele. O cavaleiro compartilha sua história de amor passado e como Úrsula o curou desse amor anterior, que era doloroso. Ele pede que Úrsula o aceite e o ame em troca. Ela concorda e também promete amá-lo profundamente. O capítulo termina com o cavaleiro prestes a contar a Úrsula a história de sua vida, particularmente sobre sua mãe. Notas e análises ¹ Interessante notar nessa passagem como a tristeza pela parte da noite influencia seus pensamentos ao molde do romantismo, ela ansiava pelo dia que lhe traria mais felicidade. 08 OSG3087-23 - Victor Paulo Glossário do capítulo 3 Engolfava – “Pobre menina! Toda entregue a uma preocupação, cuja causa não podia conhecer ainda, engolfava-se de dia para dia em mais profunda tristeza.” – O termo "engolfava" refere-se a um processo de afundamento ou imersão profunda em algo, muitas vezes descrevendo um estado de absorção ou envolvimento completo. No contexto do trecho, indica que a personagem estava afundando cada vez mais em sua tristeza, sem compreender completamente a causa. Eflúvios, cândido, langor - “[...] fazendo-lhe vibrar nas suas cordas todos os simpáticos eflúvios¹ que emanavam do peito cândido² e descuidoso da virgem. Esse alguém amava a palidez de Úrsula, esse alguém adorava-lhe a suave melancolia, e o doce langor³ de seus negros olhos[...]” – ¹ influências ou emanações sutis e muitas vezes imperceptíveis que podem afetar alguém ou algo. No trecho, os eflúvios são descritos como provenientes do peito cândido, ou seja, ²puro da virgem, sugerindo uma conexão emocional ou espiritual. ³ se refere a uma sensação de fraqueza, fadiga ou languidez. Pode também estar associado a um estado de melancolia suave e tranquilidade, como mencionado no trecho. Louça – “[...]tão bela, tão pura, tão ingênua e tão louçã,[...]” – adjetivo que descreve algo que é belo, puro, delicado e imaculado. No trecho, é usado para caracterizar Úrsula, sugerindo sua beleza e pureza. Exprobava, acremente - “lembrando-se de sua mãe, que tudo ignorava, exprobava¹-se a si acremente² de tão leve procedimento.” – ¹ adjetivo que descreve algo que é belo, puro, delicado e imaculado. No trecho, é usado para caracterizar a virgem, sugerindo sua beleza e pureza. ² "Acremente" é uma palavra que modifica o verbo "exprobava" e indica que a personagem estava se censurando ou repreendendo de forma severa e amarga por sua ação leve. Significa que ela estava sendo muito dura consigo mesma. Capítulo 4 A PRIMEIRA IMPRESSÃO Aqui se inicia a história contada pelo jovem, alegava que relembrar tal fato lhe trará imensa dor, mas que amor a ela assim o fará. Tendo ele se separado de sua terra natal e de sua mãe, foi cursar Direito em São Paulo e lá permaneceu por seis meses, tempo esse que utriu uma imensa saudade pela mãe e tendo recebido o diploma voltou para os braços dessa mulher a quem ele tanto amava. No entanto, ao vê-la percebeu que ela estava abatida, mas depois tal suposta desfalecimento foi substituído pela alegria de ver o filho e foi então que a mãe apresentou Adelaide, moça e dama de companhia a qual mãe jurou proteger e cuidar e pediu que o filho fizesse o mesmo. O rapaz beijou a mão da mãe alegando tal promessa. Nessa hora conhecemos o seu nome, Tancredo. O pai veio cumprimentá-lo, contudo fala que não sentia pelo pai o mesmo amor pela mãe, pois era ele um tirano e sua mãe, uma vítima da crueldade paterna. É que entre ele e sua esposa estava colocado o mais despótico poder: meu pai era o tirano de sua mulher; e ela, triste vítima, chorava em silêncio, e resignava-se com sublime brandura. Meu pai era para com ela um homem desapiedado e orgulhoso — minha mãe era uma santa e humildemulher. Quantas vezes na infância, malgrado meu, testemunhei cenas dolorosas que magoavam, e de louca prepotência, que revoltavam! E meu coração alvoroçava-se nessas ocasiões apesar das prudentes admoestações de minha pobre mãe. Tanto que o pai, por ciúmes da mãe não deixara, nos seis de curso fora de casa, o filho fazer visitas apenas para maltratar a esposa que chorava de saudades suas. Agora era diferente, e ele estava de volta, gostava de ver Adelaide e tinha por ela grande afeição e gostava pelo fato de que a moça dava alegria à sua mãe. Descobriu ao longo do tempo que estava apaixonado pela jovem órfã, e depois declarou seu amor, mas Adelaide teria dito que era pobre e que o pai não permitiria tal união. A mãe, ao saber do amor de ambos, estremeceu de medo, pois sabia que o pai não permitiria tal casamento, mas Tancredo acredita que o pai não lhe negaria o único pedido de sua vida, não mesmo. No dia do aniversário de Adelaide, o jovem iludido pelo amor, quis falar ao pai, mas a mãe disse que iria em seu lugar e ele ficou a ouvir a conversa dos dois. O que ele ouviu foi aterrador. Percebeu ele que o pai era mais cruel do que o imaginado, um homem vil e desumano, maltratou a esposa e não consentiu em sua união, por mais que a mãe argumentasse ele ordenou que se retirasse de sua frente e ela obedeceu. Notas e análises: Esse capítulo é uma excelente oportunidade para se analisar o aspecto feminino dentro da obra principalmente por oferecer um vislumbre vívido das questões patriarcais e das normas sociais relacionadas ao casamento que prevaleciam na época em que a história se passa. Quatro pontos não podem passar despercebidos: 1. Patriarcado e Poder Masculino: o personagem masculino, no caso, o pai de Tancredo, a qual seu nome não é revelado, detém um poder quase absoluto sobre a família. Ele toma decisões importantes, como quem seu filho deve ou não se casar, sem levar em consideração os desejos ou sentimentos de outros membros da família, incluindo sua esposa. Isso ilustra como, naquela época, os homens frequentemente exerciam autoridade desmedida sobre as vidas e as escolhas de suas esposas e filhos. 2. Casamento arranjado e interesses financeiros: A oposição do pai de Tancredo ao casamento com Adelaide também destaca como os casamentos eram frequentemente arranjados por razões financeiras e sociais. O pai vê Adelaide como uma órfã sem fortuna e, portanto, inadequada para seu filho. 3. Submissão das mulheres: A mãe de Tancredo, por outro lado, representa a figura feminina típica daquela época, caracterizada por sua submissão ao marido. Ela se esforça para apaziguar seu esposo, mesmo diante de seu tratamento desumano, e tenta persuadi-lo a aceitar o desejo de seu filho. Sua falta de poder e influência na tomada de decisões familiares reflete a realidade de muitas mulheres na sociedade patriarcal. 09 OSG3087-23 - Victor Paulo 4. Amor e casamento por escolha: A história de amor entre Tancredo e Adelaide contrasta fortemente com o casamento arranjado e as pressões sociais. Eles representam a ideia crescente de que o amor deveria ser uma parte central do casamento, em oposição às uniões baseadas apenas em interesses materiais ou familiares. No entanto, a resistência do pai de Tancredo destaca o desafio que casais enfrentavam ao tentar seguir seus próprios desejos românticos em uma sociedade onde o poder paterno era supremo. É incrível vermos como a autora genialmente nos coloca em um enredo envolvente, com o pai como um vilão, rígido e desalmado que contrasta com a figura bondosa da mãe. Tais elementos de um membro da família cruel serão vistos mais tarde em O Seminarista, em que o pai de Eugênio proíbe o amor dele com Margarida, em Helena, de Machado de Assis, em que a mãe de Jorge o obriga a ir para a Guerra do Paraguai para esquecer Estela e fazê-la se casar com outro, em O Cabeleira, em que o pai, cangaceiro, retira o filho do seio materno para torná-lo bandido o que o afasta de Luísa, todos esses exemplos foram de livros publicados anos depois de Úrsula. Capítulo 5 A ENTREVISTA Tancredo interrompe a história para expressar sua profunda dor a Úrsula devido à humilhação que ele e sua mãe sofreram nas mãos de seu pai. Ele explica como tentou chorar diante de sua mãe, que aceitou a situação com humildade e resignação, enquanto ele próprio estava cheio de indignação. Adelaide, a jovem por quem Tancredo está apaixonado, está presente e pede que a discussão e o sofrimento parem. Ela restitui os votos de Tancredo e pede que não desafie a cólera do pai. Tancredo se oferece para sacrificar seu amor por Adelaide para evitar o sofrimento de sua mãe, mas ela recusa essa oferta e chora, nesse momento Tancredo na narrativa nos concede uma oferta de uma ação futura e cruel, note: — Úrsula, minha Úrsula, só agora sei que essa mulher mentia, que suas lágrimas eram encadeadas¹ aleivosias², e suas palavras refalsadas³ como o seu coração. Tancredo então procura seu pai para obter sua permissão para se casar com Adelaide. Seu pai, inicialmente com uma expressão de ódio, concorda em ouvir o motivo da visita de Tancredo, ao longo da conversa ele vai se acalmando e tentando explicar para o filho a procedência do pai de Adelaide, mas o jovem corta a conversa e insiste no casamento. Tancredo explica seu amor por Adelaide e pede a permissão de seu pai para casar com ela. Seu pai concorda, mas com a condição de que eles esperem um ano antes do casamento e aproveita para lhe chamar a atenção para a seriedade do casamento e o papel da mulher no matrimônio: - [...] A esposa que tomamos é a companheira eterna dos nossos dias. Com ela repartimos as nossas dores, ou os prazeres que nos afagam a vida. Se é ela virtuosa, nossos filhos crescem abençoados pelo céu, porque é ela que lhes dá a primeira educação, as primeiras ideias de moral; é ela enfim que lhes forma o coração, e os mete na carreira da vida com um passo, que a virtude marca. Mas, se pelo contrário, sua educação abandonada torna-a uma mulher sem alma, inconsequente, leviana, estúpida, ou impertinente, então do paraíso das nossas sonha- das venturas despenhamo-nos num abismo de eterno desgosto. O pai novamente tenta alertar para o fato de que Adelaide era muito nova e ele ainda não a conhecia, e novamente o filho o interrompe. Depois o pai apresenta a Tancredo uma oferta de emprego que o levará para longe de sua província natal, alega que não poderá rejeitar tal emprego. Tancredo fica devastado com a notícia de que será exilado de sua terra natal e pede a seu pai que ele possa se casar com Adelaide antes de partir. Seu pai fica furioso e exige que Tancredo aceite a condição imposta anteriormente. O capítulo termina com Tancredo aceitando a condição de seu pai, embora com relutância e dor em seu coração. Notas e análises: ¹ ato de ligar ou conectar algo em uma sequência ordenada ² ações ou palavras traiçoeiras ³ ato de tornar algo falso. Este capítulo destaca os conflitos familiares, as emoções intensas dos personagens e a pressão social que afeta suas escolhas. Ele também mostra a complexidade das relações entre os personagens e as decisões difíceis que precisam tomar em nome do amor e do dever. Entretanto a função central desse capítulo é jogar luz no caráter ambíguo que permeia a personalidade de Adelaide, o narrador mostra indícios de que a experiência amorosa será mais desastrosa do que feliz, o que leva novamente o leitor a curiosidade e mantê- lo preso ao próximo capítulo. Capítulo 6 A DESPEDIDA Em capítulo bastante curto em relação aos demais, a mãe fica sabendo das condições impostas e da repentina ida do filho, o que a põe ainda mais em pranto. Sobre Adelaide ele alega que o sentimento de sofrer não era verdadeiro e ao pai disse aliviasse a dor da mãe em sua ausência e que cuidasse de sua futura esposa. O capítulo culmina com Tancredo se despedindo de sua mãe e de Adelaide. Apesar de sua determinaçãoem não ceder à emoção, ele acaba chorando diante delas. O último olhar de Adelaide é descrito como “cheio de ternura” e “dor”, pois ela compreende a gravidade da situação e a incerteza do futuro. Capítulo 7 ADELAIDE Tancredo reflete sobre sua vida no exílio e a ausência de notícias de Adelaide. Ele relembra a correspondência que recebia de sua mãe e como essa correspondência diminuiu gradualmente até cessar completamente. A falta de notícias o deixou angustiado, mas ele se recuperou de uma doença 10 OSG3087-23 - Victor Paulo grave e decidiu voltar para casa. Antes de retornar à sua terra natal, Tancredo escrita com letras frágeis, como se houvesse dificuldade em escrevê-la, uma carta de sua mãe, mas não acusa seu pai de nada e não havia mencionado Adelaide. Ele também lê cartas de seu pai e de amigos, e descobre de fato que aquela carta de sua mãe tinha sido a última, ela estava morta. O jovem cavalgou intermitente por quinze dias e ao chega sentiu o clima fúnebre do ambiente. Quando finalmente encontra Adelaide em sua casa, fica encantado com sua beleza, chega por um instante a esquecer sua dor, mas sua felicidade é efêmera. Adelaide se mostra fria e distante, e diz: — Tancredo, respeitai a esposa de vosso pai! Tancredo fica arrasado e acusa Adelaide de traição alegando inclusive que sua mãe teria morrido provavelmente devido à tristeza e ao sofrimento causados por essa situação. Ele confronta seu pai e Adelaide, expressando seu profundo desgosto e amaldiçoando a tal madrasta, enquanto isso, a recém desposada ordena ao pai que o retire da sala, o pai fica sem reação apenas olhando para o chão, o clima fica intenso quando Tancredo alega que o pai havia sido um tirano para um mulher santa e que agora era um covarde para uma mulher demoníaca e continua a amaldiçoa-la: Mulher odiosa, eu vos amaldiçoo! Por cada um dos transportes de ternura, que outrora meu coração vos deu, tende um pungir agudo de profunda dor; e dor, que me dilacera agora a alma, seja a partilha vossa na hora derradeira. Por cada uma só das lágrimas de minha mãe choreis um pranto amargo, mas árido como um campo pedregoso, doído como a desesperação de um amor traído. E nem uma mão, que vos enxugue o pranto, e nem uma voz meiga, que vos suavize a dor de todos os mo- mentos. O fel de um profundo, mas irremediável remorso, vos envenene o futuro e o desejado prazer, e no meio da opulência e do luxo, firam-vos sem tréguas os insultos de impiedosa sorte. Arfe o vosso peito, e estale por magoados suspiros, e ninguém os escute; e sobre esse sofrimento terrível cuspam os homens, e riam-se de vós. Ele se retirou da casa e encerrou a história para Úrsula que concedeu sua mão para ele a beijasse. Capítulo 8 LUÍZA B. Esse capítulo se concentra em Luiza B., mãe de Úrsula, como já dito anteriormente, a mãe de Úrsula padecia por uma grave doença, era paralítica e essa condição fragilizou bastante sua saúde. A filha tinha demorado ao encontro da mãe por conta da conversa com Tancredo, ela expressou preocupação sobre o jovem que desejava ir embora e tal lembrança a magoou ainda mais. O jovem entrou na sala para cumprimentar a senhora que cuidara de sua saúde e a mãe de Úrsula passou a vê-lo e tentou até mesmo ler seu coração. Viu como alguém bom e pensou em pedir que cuidasse de sua filha, mas hesitou, o jovem insistiu que ele pedisse o que desejasse. Ela então pediu que cuidasse de sua filha, alegou também que seu irmão F de P. tinha por ela imenso ódio. O motivo? Havia se casado com alguém inferior a escala da família. Tendo despertado o ódio do irmão, o marido lhe trouxe grandes infelicidades até ter Úrsula, a paternidade, transformou-o, o que o fez querer reaver o dinheiro gasto com os vícios e os amores banais. Infelizmente, não teve tempo, o marido acabou sendo assassinado e irmão vingativo comprou a dívida da fazenda, elas viviam a mercê dele. Tancredo também se identifica, o seu sobrenome revela uma posição social rica e bem estabelecida o que deixa Luiza ainda mais surpresa. Além disso, Úrsula revela o seu amor a ele e ele deseja desposar Úrsula, a mãe não quer conceder a mão da filha, pois eles eram de posição mais baixa que a dele. Entretanto, após a insistência de ambos a mãe os pede que se ajoelhem e assim abençoa o casal concedendo a tão sonhada promessa de um casamento. Capítulo 9 A PRETA SUZANA Para mim, um dos mais belos capítulos desse romance, Túlio irá partir com Tancredo e fora se despedir de sua “mãe” Suzana, uma velha senhora e fiadeira da fazenda. A preta o recrimina e chama-o de ingrato, pois em breve Úrsula ficará sozinha e ela também tem pouco tempo aquele mudo, quem cuidaria da jovem moça? Ainda mais pelo fato de que dona Luiza B. tratara-o como filho. Túlio pede perdão, e diz que não estava trocando um cativeiro por outro, pois Tancredo havia sido alforriado pelo jovem rapaz, ele tinha enfim liberdade. Isso comove imensamente Suzana que até chora, Túlio se sente mal por despertar tamanha mágoa, mas a velha diz tais lágrimas a faziam recordar de que também provara da liberdade.¹ A velha começa a contar sua história, no tempo da colheita de milho e amendoim de sua terra africana, era moça, virtuosa, havia casado com um homem a quem muito amara, tivera um filho a quem muito lhe tinha amor, mas um dia, em meio a colheita, ouvira um assobio, e por um momento de descuido se vira amarrada por cordas, mesmo implorando pela liberdade os homens riam dela e veio para uma terra desconhecida, sofrer maus-tratos e abusos, narra com amargor a vinda de 30 dias passando fome, bebendo água podre e vendo muitos dos seus morrerem, ela assim diz: M e t e r a m - m e a m i m e a m a i s t re z e n t o s companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura, até que abordamos às praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé, e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa: davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais porca; vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É 11 OSG3087-23 - Victor Paulo horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim, e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos! Muitos não deixavam chegar esse último extremo — davam-se à morte.² Chegando ao Brasil fora comprado pelo comendador P., homem cruel que torturava e maltratava os escravos, depois houve o casamento de dona Luiza B. e viu a mulher também sofrer pela forma como o marido tratava os escravos, quando ele morreu, dona Luíza passou a tratá-los melhor, mas a magia e a saudade de sua liberdade eram insubstituíveis.³ “Túlio ajoelhou-se respeitoso ante tão profundo sentir” e mãe Suzana abençoou sua partida. Notas e análises ¹ Na literatura do século XIX, especialmente no contexto do Romantismo, as vozes negras eram frequentemente silenciadas ou retratadas de maneira estereotipada. Maria Firmina dos Reis, como uma das primeiras escritoras negras no Brasil, quebrou essa tendência ao dar voz à personagem Suzana, uma escrava negra. Isso é notável porque permitiu que os leitores vissem a perspectiva e as experiências das pessoas escravizadas sob uma luz humanizada e autêntica, aspecto esse que só veriam duas décadas depois em Castro Alves. ² Isso funciona como uma denúncia contundente da crueldade e desumanidade do sistema escravista. ³ O capítulo também destaca a complexidade das relações entre senhores e escravos. Enquanto Suzana critica a crueldade de alguns senhores, ela também elogia a bondade da Senhora Luíza B. e sua filha. Isso demonstra que as relações entre senhores e escravos não eramunidimensionais, mas sim nuances e afetadas pela personalidade e caráter individual de cada pessoa. A narrativa de Suzana ressalta a resiliência e a luta dos escravizados por liberdade e dignidade. Túlio, também representa essa busca por liberdade ao escolher seguir o senhor Tancredo em busca de uma vida melhor. Glossário do capítulo 9 Rutilante – “via despontar o sol rutilante e ardente do meu país” - algo que brilha intensamente. – Nesse trecho Suzana descreve o seu país antes de ser capturada. Capítulo 10 NA MATA A história se desenrola com Úrsula, a protagonista, experimentando uma mistura de emoções. Ela sente uma saudade profunda de Tancredo, o homem que ama, mas que está prestes a partir. Esta saudade é temperada pela esperança de um reencontro, pois ambos compartilharam seus sentimentos e paixão. O capítulo começa com Úrsula despedindo-se de Tancredo, que está prestes a partir. Ambos têm um amor intenso, mas sua despedida é repleta de tristeza e ansiedade. Tancredo promete retornar em breve, e Úrsula fica com a lembrança de seu amado. No entanto, enquanto Úrsula está imersa em suas reflexões e saudades, ela se aventura na mata, onde Tancredo havia confessado seu amor a ela anteriormente. Lá, ela começa a chorar e lamentar a partida de Tancredo. Ela se lembra de seus momentos juntos e entalha o nome dele em uma árvore como um ato de carinho. Enquanto Úrsula está na mata, um tiro de arcabuz é disparado, assustando-a. Ela encontra uma perdiz ferida e agonizante, e seu coração se enche de compaixão pela ave que chega a abraçá-la em seu peito sujando seu vestido. Neste momento, um homem desconhecido aparece diante dela, e ela fica assustada e perturbada por sua presença enquanto o homem misterioso a olhava com imenso afeto e carinho. O desconhecido tenta se comunicar com Úrsula, mas ela inicialmente o rejeita, sentindo medo e desconfiança. No entanto, ele insiste e revela seus sentimentos por ela, chama-a pelo nome e vai expressando um amor intenso e pedindo seu afeto em troca. Úrsula se sente pressionada pela presença e pelas palavras do desconhecido, mas mantém sua distância e pede para ser deixada em paz. Ele é assim descrito: Esse homem não estava no verdor dos anos; mas sua fisionomia, suposto que severa e pouco simpática, nessa hora crepuscular, que dá certa sombra a toda a natureza, não denunciava a sua idade. A pele sem rugas, os olhos negros e cintilantes, tinham um quê de belo, mas que não atraía. Era de estatura acima da medíocre, esbelto, e bem conformado; e as feições finas davam-lhe um ar aristocrático, que, quando não atrai, sempre agrada. O homem misterioso diz ser amigo de sua mãe e até se emociona ao citá-la, mas ela o repreende dizendo que sua mãe sofrera muitas amarguras e que não tinha amigos. O capítulo termina com o desconhecido implorando a Úrsula que não o odeie e afirmando que seu amor é ardente e respeitoso chegando a se ajoelhar e dizer que a partir daquele momento seria seu escravo.¹ No entanto, Úrsula continua a se sentir angustiada e desconfortável com a situação, enquanto o desconhecido expressa sua paixão e desejo de conquistá-la. O homem pede o amor em nome de sua mãe, e ainda pede uma palavra que o anime, mas ela diz que não poderá ceder tal palavra e pede que se identifique. Ele diz que não poderá fazê-lo, pois se ela soubesse quem era, preferia que fosse amado como um desconhecido e até chega em alguns momentos a trocar a palavras doces por ameaças do tipo: Rogai ao céu — acrescentou —, meiga e inocente donzela, rogai ao céu para que vos possa esquecer; porque se o meu amor prosseguir assim, extremoso, indomável, apaixonado, haveis de ser minha, porque ninguém me desdenha impunemente. Ouvis? Úrsula se retira da floresta prometendo a si mesma nunca mais voltar lá. O homem fica a refletir sobre a donzela Úrsula quando ele diz: — Mulher! Anjo ou demônio! Tu, a filha de minha irmã! Úrsula, para que te vi eu? Mulher, para que te amei? Muito ódio tive ao homem que foi teu pai: ele caiu às minhas mãos, e o meu ódio não ficou satisfeito. Odiei- lhe as cinzas; sim odiei-as até hoje; mas triunfaste do meu coração, confesso-me vencido, amo-te! Humilhei- me ante uma criança, que desdenhou-me e parece 12 OSG3087-23 - Victor Paulo detestar-me! Hás de amar-me. Humilhado pedi-te o teu afeto. Maldição! Paulo B., estás vingado! Sim, o homem em questão é o tio de Úrsula F. de P *** citado no capítulo anterior. Notas e análises ¹ nota-se aqui uma situação de vassalagem amorosa, em que o homem não tendo o amor de sua amada deseja ao menos servi-la como escravo para se manter próximo. Nesse capítulo, a autora explora as emoções complexas de Úrsula, sua saudade e esperança em relação a Tancredo, e a introdução de um elemento misterioso na história com a aparição do desconhecido, que parece nutrir um amor obsessivo por ela justo quando Tancredo parte. A narrativa enfoca os conflitos emocionais e as tensões que Úrsula está enfrentando, enquanto também introduz intrigas adicionais à trama. Capítulo 11 O DERRADEIRO ADEUS Úrsula está passando por uma série de emoções conflitantes. Ela se sente sobrecarregada com as reviravoltas que ocorreram em sua vida. Inicialmente, ela estava feliz com o amor de Tancredo, mas agora está perturbada por um encontro na mata com um homem misterioso e ameaçador. Úrsula se preocupa com as palavras apaixonadas e ameaçadoras do homem da mata, temendo que ele represente uma grande desgraça para ela. Ela também se recorda das manchas de sangue em suas roupas, que a perturbaram profundamente. A personagem deseja que Tancredo a proteja contra esse homem desconhecido e acredita que o amor dele lhe dará forças para enfrentar as ameaças do estranho. No entanto, Úrsula é atormentada por pesadelos durante a noite, nos quais o homem misterioso a assombra. Ela luta para encontrar paz e se desespera com a visão do homem ameaçador. A situação piora quando Úrsula recebe uma carta de seu tio, o nome de Fernando nos é trazido ao final da assinatura. Luíza, sua mãe, fica preocupada com o motivo da visita de seu irmão e teme que ele ainda busque vingança, mas a carta expressa um tom imenso de arrependimento e retidão, dona Luiza fica em dúvida, mas a moça duvida de tal boa vontade, Úrsula também fica apreensiva e se pergunta por que Fernando está perturbando a paz de ambas naquele momento. Quando Fernando chega, repentinamente após a conversa de Luiza e Úrsula, e se agarra ao peito da irmã, ele e Luíza têm um encontro emotivo e surpreendente, e Úrsula entra em pânico, reconhecendo nele o homem misterioso da mata e temendo por sua segurança, isso acarreta ainda mais o desespero e ansiedade na menina. O narrador adentra no espírito de Fernando, inclusive a forma como tratava os escravos da casa, observe: Fernando combatia a dezoito anos o poder desse amor fraterno, e seu orgulho conseguiu por algum tempo o que o coração repugnava, o que a razão e a inteligência condenavam, e o que ele sentia dolorosamente, porque só nesse afeto lhe estava a ventura de toda a sua vida. E para vencer-se obstinadamente evitava a vista de sua irmã, a que não poderia resistir, para bem saciar a sua vingança, para bem flagelar-se, flagelando-a na sua desgraça. Fernando tinha vivido solitário, e desesperado com essa luta terrível do coração com o orgulho: e esses desgostos íntimos, que ele próprio forjava, o tinham embrutecido, e tanto lhe afeiaram a moral, que era odiado, e temido de quantos o praticavam ou conheciam de nome. Ele tornara-se odioso e temível aos seus escravos: nunca fora benigno e generoso para com eles; porém o ódio, e o amor, que lhe torturavam de contínuo, fizeram- no uma fera, um celerado. Nunca mais cansou de duplicar rigores às pobres criaturas que eram seus escravos! Apraziam-lhe os sofrimentos destes porque ele também sofria.¹ Para Úrsula a percepção era a mesma e o temor da morte da mãe jogava ela em um abismo de