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CAPÍTU UNIVE Tel.: ( UERJ CAMPUS REGIONAL DE RESENDE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ÊNFASE EM PRODUÇÃO MECÂNICA LO 2: NOÇÕES DE METALURGIA FÍSICA DEPARTAMENTO DE MECÂNICA E ENERGIA PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV PROF. ALEXANDRE ALVARENGA PALMEIRA RSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Estrada Resende Riachuelo s/n. - Morada da Colina Resende — RJ - CEP: 27.523-000 24) 3354-0194 ou 3354-7851 e Fax: (24) 3354-7875 E-mail: palmeira@uerj.br Terça-feira, 22 de Março de 2005 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc SUMÁRIO I- INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1 II- MICROESTRUTUA DOS METAIS........................................................................ 2 II.1 CONCEITO DE GEOMETRIA DOS CRISTAIS ................................................... 2 II.2 PARÂMETROS DE REDE: DIREÇÕES E PLANOS CRISTALINOS .................. 3 II.3 ESTRUTURAS CRISTALINAS DOS METAIS ................................................... 5 II.4 DEFEITOS DE REDE ..................................................................................... 10 III- DEFORMAÇÃO ELÁSTICA E PLÁSTICA .......................................................... 27 III.1 DEFORMAÇÃO ELÁSTICA ............................................................................ 27 III.2 DEFORMAÇÃO PLÁSTICA ......................................................................... 27 IV- ESTADO ENCRUADO DOS METAIS E RECRISTALIZAÇÃO(,) ........................... 28 IV.1 ENCURAMENTO ............................................................................................ 28 IV.2 FATORES QUE AFETAM A MICROESTR. DO METAL DEFORMADO ......... 29 IV.3 HETEROGENEIDADES DE DEFORMAÇÃO NA MICROESTRUTURA ......... 30 IV.4 TRANSF. DE FASE INDUZIDAS POR DEFORMAÇÃO PLÁSTICA .............. 32 IV.5 AMOLECIMENTO POR DEFORMAÇÃO....................................................... 33 V- TRABALHO À QUENTE, À MORNO E À FRIO ................................................... 34 V.1 GERAÇÃO DE CALOR NA CONFORMAÇÃO MECÂNICA .............................. 35 V.2 TRABALHO À QUENTE - TQ ......................................................................... 36 V.3 TRABALHO À MORNO - TM .......................................................................... 40 V.4 TRABALHO À FRIO - TF ................................................................................ 41 ii ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc VI- PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS MATERIAIS METÁLICOS.......................... 43 VI.1 PROPRIEDADES MECÂNICAS...................................................................... 44 VI.2 PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS............................................................. 44 VI.3 PROPRIEDADES DE USO OU DE UTILIZAÇÃO .......................................... 47 VI.4 OUTRAS PROPRIEDADES ......................................................................... 49 VII- EFEITOS DO ENCR. E DA RECRIST. NAS PROPR. MEC. DOS METAIS ........... 50 VII.1 PROCESSOS DE RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO .......................... 50 iii ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Representação gráfica das redes cristalinas atômicas.................................................2 Figura 2: Representação gráfica das direções cristalinas atômicas..........................................3 Figura 3: Representação gráfica das direções cristalinas — Índice de Miller . .........................4 Figura 4: Representações da estrutura ccc, onde A e B são modelos de esferas e C modelo de bolas......................................................................................................................................5 Figura 5: Representação da estrutura ccc. ........................................................................................ 6 Figura 6: Representações da estrutura cfc, onde A e B são modelos de esferas e C modelo de bolas...................................................................................................................................... 7 Figura 7: Representação da estrutura cfc. .......................................................................................... 7 Figura 8: Cálculo do fator de empacotamento da estrutura cfc................................................. 8 Figura 9: Representações da estrutura cfc, onde A e B são modelos de esferas e C modelo de bolas..................................................................................................................................... 8 Figura 10: Representação da estrutura hc...........................................................................................9 Figura 11: Cálculo do fator de empacotamento da estrutura hc. ..................................................9 Figura 12: Defeito pontual — vazio.............................................................................................................11 Figura 13: Defeito pontual em sólidos iônicos. ................................................................................... 12 Figura 14: Solução sólida substitucional. ............................................................................................ 12 Figura 15: Solução sólida interticial....................................................................................................... 12 Figura 16: Curva tensão-deformação de um ensaio de tração. ................................................... 13 Figura 17: Ensaio de tração em um monocristal. .............................................................................. 14 Figura 18: Foto do escorregamento de um monocristal de zinco................................................ 14 Figura 19: Discordância em cunha ou aresta. .................................................................................... 15 Figura 20: Discordância em cunha ou aresta. ................................................................................... 16 Figura 21: Movimento de uma discordância em cunha ou aresta. ............................................... 16 Figura 22: Discordâncias vistas através de microscopia eletrônica de transmissão..........17 Figura 23: Discordância em hélice.......................................................................................................... 18 iv ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 24: Discordância em hélice na superfície de um monocristal de SiC, as linhas escuras são degraus de escorregamento superficiais........................................................... 18 Figura 25: Defeito de contorno de grão. .............................................................................................. 19 Figura 26: Contorno de macla conforme pode ser observ. através de microscopia ótica.20 Figura 27: Micrografia é de uma liga com defeito de macla. ........................................................20 Figura 28: Micrografia de um defeito de empilhamento. ................................................................ 21 Figura 29: Defeito de contorno de pequeno ângulo......................................................................... 22 Figura 30: Compactado de pó de ferro, compactação uniaxial em matriz de duplo efeito, a 550 MPa................................................................................................................................................23 Figura 31: Compactado de pó de ferro após sinterização a 1.150oC, por 120 min ematmosfera de hidrogênio. .................................................................................................................23 Figura 32: Ferro fundido cinzento perlítico. ....................................................................................... 25 Figura 33: Inclusões de óxido de cobre (Cu2O) em cobre de alta pureza (99,26%) laminado a frio e recozido a 800oC................................................................................................................. 25 Figura 34: Sulfetos de manganês (MnS) em aço rápido...............................................................26 Figura 35: Bandas de transição em grão deformado com subestrutura celular. ................. 31 Figura 36: Banda de cisalhamento em metal deformado, vistas no corte longitudinal (macroscópico)..................................................................................................................................... 31 Figura 37: Representação da temperatura homóloga e das faixas de temperatura : trabalho a frio (TF), a morno (TM) e a quente (TQ)................................................................34 Figura 38: Variação da tensão de compressão com a deformação em função da temperatura para um aço de baixo carbono. ............................................................................ 37 Figura 39: Diagrama esquemático dos efeitos de temperatura, pressão e taxa de deformação sobre a faixa de trabalho permissível na conformação a quente. .............39 Figura 40: Aumento do limite de escoamento e de resistência à tração e diminuição do alongamento (e redução de área na fratura)com o encruamento devidos ao trabalho a frio......................................................................................................................................................... 41 Figura 41: Alterações na resistência, ductilidade e microestrutura durante (A) trabalho a frio, (B) recuperação e (C) recristalização ................................................................................. 51 Figura 42: Efeito do trabalho a frio prévio e da temperatura de recozimento sobre o tamanho de grão do material recozido. ......................................................................................53 Figura 43: Efeito do processo de recristalização. ..........................................................................55 v ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Interdependência das propriedades com a estrutura cristalina. .............................. 10 Tabela 2: Temperaturas de fusão dos principais materiais metálicos.....................................45 Tabela 3: Classificação dos metais em ordem decresc. de Maleabilidade e Ductilidade. ..46 Tabela 4: Temperaturas de recristalização para alguns metais e ligas de uso comum.....52 Tabela 5: Classificação do produto em função do encruamento ................................................54 vi ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc RESUMO Os metais são compostos por átomos arranjados segundo formas geométricas específicas, onde comportamento plástico dos metais está intimamente ligado a estrutura atômica do mesmo. Dentre as estruturas cristalinas dos metais, as mais importantes são: CCC, CFC e HC. As estruturas cristalinas formam as redes cristalinas, que compõem os grãos, porém tais redes não são perfeitas, apresentando de feitos ditos: pontuais, lineares, planares e volumétricos. Estes defeitos influem diretamente nas propriedades dos metais, como também na forma e quantidade de deformação plástica que o material poderá absorver durante um processo de conformação. Gerando, muitas vezes, um estado encruado. Vários fatores que afetam a microestrutura do metal deformado, tais como: a EDE, a presença de atomos de soluto, o tamanho inicial do grão, a taxa e a temperatura de deformação. Logo o material apresenta heterogeneidades na sua microestrutura, dentro de um mesmo grão ou entre grãos, causadas pela deformação, tais como, as bandas de transição, as bandas de cisalhamento e as maclas de deformação. Em alguns casos podem ocorrer transformações de fase induzidas por deformação plástica, ou até amolecimento por deformação. Durante a conformação o metal pode ser trabalho à quente, à morno e à frio, sendo assim os processos de conformação são normalmente classificados em operações de trabalho a quente, a morno e a frio. O trabalho a quente é definido como a deformação sob condições de temperatura e taxa de deformação tais que processos de recuperação e recristalização ocorrem simultaneamente com a deformação. De outra forma, o trabalho a frio é a deformação realizada sob condições em que os processos de recuperação e recristalização não são efetivos. No trabalho a morno ocorre recuperação, mas não se formam novos grãos (não há recristalização). Influenciando diretamente em sua propriedades. As propriedades mecânicas dos metais são diretamente afetadas pelo encruamento e recristalização do mesmo, tornando muito importante a perfeita compeenção dos processos de recuperação e recristalização. Palavras Chaves: Microestrutura, Encruamento e Materiais vii ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc I- INTRODUÇÃO Após a descoberta da difração de raios X por cristais metálicos por Von Laue, em 1912, e da constatação de que os metais eram compostos fundamentalmente por átomos arranjados segundo formas geométricas específicas, foram feitas muitas investigações das relações entre estrutura atômica e comportamento plástico dos metais. Grande parte do trabalho fundamentalmente sobre deformação plástica dos metais tem sido realizada em amostras de monocristais, afim de eliminar os efeitos complexos de contornos de grão e as restrições impostas por grãos vizinhos e partículas de segunda fase. A análise de difração de raio X mostra que os atomos de um cristal estão arranjados numa forma regular e repetida na três dimensões. Este arranjo atômico dos metais é representado de maneira mais simples através de uma rede cristalina na qual os átomos são visualizados como esferas rígidas localizadas em posições particulares de um arranjo geométrico. As forças entre eles são portanto isotrópicas. Os átomos são organizados em um arranjo (reticulado) espacial, que é uma coleção tridimensional de pontos, onde cada ponto do arranjo (reticulado) é idêntico a qualquer outro ponto. O reticulado pode ser descrito pela célula unitária (modelo geométrico), que é a menor unidade de repetição do reticulado. Em alguns metais, como por exemplo o Al e o Mg, é mais simples visualizar os átomos como um empilhamento de camadas, onde cada átomo tem 12 vizinhos (outros átomos) mais próximos, 6 em seu próprio plano, 3 no plano superior adjacente e 3 no plano inferior. Estas são as chamadas estruturas compactas. 1 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc II- MICROESTRUTUA DOS METAIS II.1 CONCEITO DE GEOMETRIA DOS CRISTAIS. A característica mais óbvia da estrutura cristalina é que ela é regular e repetitiva. A célula unitária permite descrever qualquer tipo estrutura como um todo, porque a estrutura completa pode ser gerada pela repetição da célula unitária no espaço. Há apenas sete formas de célula unitária que podem ser empilhadas para formar os sistemas cristalinos no espaço tridimensional. Elas são: cúbica, tetragonal, ortorrômbica, romboédrica, hexagonal, monoclínica e triclínica. Conforme pode ser observado na Figura 1 a seguir: Figura 1: Representação gráfica dasredes cristalinas atômicas. 2 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Destes sistemas cristalinos podemos identificar 14 tipos diferentes de células unitárias, conhecidas como redes de Bravais (Figura 1). Cada uma destas células unitárias tem certas características que ajudam a diferenciá-las das outras células unitárias. Além do mais, estas características também auxiliam na definição das propriedades de um material particular. II.2 PARÂMETROS DE REDE: DIREÇÕES E PLANOS CRISTALINOS Direções Cristalinas Na Figura 2 é representada as direções cristalinas de um cristal. Figura 2: Representação gráfica das direções cristalinas atômicas. Onde: a, b e c definem os eixos de um sistema de coordenadas em 3D. Qualquer linha (ou direção) do sistema de coordenadas pode ser especificada através de dois pontos: um deles sempre é tomado como sendo a origem do sistema de coordenadas, (0,0,0) por convenção; o outro, é o primeiro ponto do cristal, (u,w,v), que você alcançaria caso estivesse andando na direção especificada a partir de (0,0,0). Distinguir uma direção cristalina de um ponto do cristal é fácil, já que a direção é representada entre colchetes [...]. Origem do sistema de coordenadas O espaço lático é infinito... A escolha de uma origem é completamente arbitrária, uma vez que cada ponto do reticulado cristalino é idêntico. A designação de pontos, 3 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc direções e planos específicos fixados no espaço absoluto serão alterados caso a origem seja mudada, porém todas as designações serão auto-consistentes se partirem da origem como uma referência absoluta. Por exemplo: dada uma origem qualquer, haverá sempre uma direção [110] definida univocamente, e [110] sempre fará exatamente o mesmo ângulo com a direção [100]. Escolha dos eixos coordenados Sempre que possível, escolhe-se como sistema de referência o cartesiano (i.e., o sistema convencional de coordenadas x,y,z). Porém, quando estamos lidando com cristais e suas propriedades, é melhor deixar o próprio reticulado espacial definir o sistema de coordenadas mais apropriado para ele, em função dos eixos cristalinos. Os eixos podem não ser perpendiculares entre si, bem como as unidades para cada eixo, que podem ser diferentes (se os parâmetros de rede forem diferentes). Planos atômicos Considere a Figura 3, a seguir. Figura 3: Representação gráfica das direções cristalinas – Índice de Miller . As interseções do plano com os eixos são: – eixo a em r = 2 – eixo b em s = 4/3 – eixo c em t = ½ 4 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Para designar simbolicamente os planos de um reticulado, calcula-se os recíprocos de r, s, e t; Ache-se o mínimo múltiplo comum que converte todos o recíprocos em inteiros; em seguida inclui-se estes valores em parênteses. Isto é chamado notação em Índice de Miller. Desta forma, para o plano acima, temos o seguinte Índice de Miller: (2,3,8) A perfeita notação dos planos cristalinos é de grande importância, pois serve para: – determinação da estrutura cristalina – deformação plástica: A deformação plástica (permanente) dos metais ocorre pelo deslizamento dos átomos, escorregando uns sobre os outros no cristal. Este deslizamento tende a acontecer preferencialmente ao longo de planos e direções específicos do cristal. – propriedades de transporte: em certos materiais, a estrutura atômica em determinados planos causa o transporte de elétrons e/ou acelera a condução nestes planos, e, relativamente, reduz a velocidade em planos distantes destes. II.3 ESTRUTURAS CRISTALINAS DOS METAIS Dentre as estruturas cristalinas dos metais as mais importantes são: – Estrutura cúbica de corpo centrado - ccc – Estrutura cúbica de face centrado -cfc – Estrutura hexagonal compacta- hc ESTRUTURA CÚBICA DE CORPO CENTRADO — ccc Na Figura 4, a seguir, são representados de várias formas a estrutura ccc. Figura 4: Representações da estrutura ccc, onde A e B são modelos de esferas e C modelo de bolas. 5 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Esta é uma célula unitária de uma estrutura cúbica de corpo centrado, ccc. Como visto, ela contém um átomo em cada vértice do cubo e um átomo em seu centro. Sendo assim, cada célula unitária contém dois átomos (8 dos vértices que estão compartilhados com mais 7 outras células + 1 átomo do centro: 8 x 1/8 + 1 = 2). Considerando que número de coordenação seja o número de vizinhos mais próximos de um átomo, temos para a estrutura cúbica de corpo centrado, o número de coordenação 8. Definindo o fator de empacotamento como a relação entre o volume ocupado pelos átomos e o volume da célula unitária, temos: fator de empacotamento = volume de 1 átomo (esfera) x 2 átomos / volume do cubo Figura 5: Representação da estrutura ccc. Observando a Figura 5, podemos correlacionar o parâmetro da célula unitária a, com o raio atômico r. Uma vez que os átomos que estão em contato pontual são aqueles ao longo das diagonais do cubo, temos para a estrutura cúbica de corpo centrado: fator de empacotamento = ( ) 3 3 3 r4 r34x2 π = 0,68 (2. 1) 6 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc ESTRUTURA CÚBICA DE FACE CENTRADA - cfc Na Figura 6, a seguir, são representados de várias formas a estrutura cfc. Figura 6: Representações da estrutura cfc, onde A e B são modelos de esferas e C modelo de bolas. Como visto, ela contém um átomo em cada vértice do cubo além de um átomo em cada face do cubo. Logo, cada célula unitária contém quatro átomos (8 dos vértices, que estão compartilhados com mais 7 outras células + 6 átomos das faces, que estão compartilhados, cada qual, com outra célula 8 x 1/8 + 6 x ½ = 4). Figura 7: Representação da estrutura cfc. Analisando a Figura 7, podemos observar que o número de coordenação ( número de vizinhos mais próximos de um átomo) da estrutura cúbica de face centrada é 12. Se definirmos fator de empacotamento como sendo a relação entre o volume ocupado pelos átomos e o volume da célula unitária, temos: fator de empacotamento = volume de 1 átomo (esfera) x 4 átomos / volume do cubo 7 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Observando a Figura 8, podemos correlacionar o parâmetro da célula unitária a, com o raio atômico r. Uma vez que os átomos do vértice estão em contato pontual com o átomo do centro em cada face, temos para a estrutura cúbica de face centrada: fator de empacotamento = ( ) ( )3 3 2r4 r34x4 π = 0,74 (2. 2) Figura 8: Cálculo do fator de empacotamento da estrutura cfc. Note que 0,74 é o maior valor que pode ter o fator de empacotamento quando se considera um modelo de esferas de mesmo diâmetro. ESTRUTURA HEXAGONAL COMPACTA - hc Na Figura 9, a seguir, são representados de várias formas a estrutura cfc. Figura 9: Representações da estrutura cfc, onde A e B são modelos de esferas e C modelo de bolas. 8 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc A célula unitária de uma estrutura hexagonal compacta contém um átomo em cada vértice dos hexágonos de base (superior e inferior) e três átomos em seu centro. A célula unitária de uma estrutura hc pode ser visualizada como um hexágono regular cujos planos superiore inferior contem 7 átomos. Entre estes planos está um meio-hexágono de 3 átomos. Há dois parâmetros de rede (láticos) em um cristal hc, a e c, representando os parâmetros basais e de altura, respectivamente. No caso ideal, a relação c/a é de 1,633, porém, divergências podem ocorrer. Conforme pode ser observado na Figura 10. Figura 10: Representação da estrutura hc. O número de coordenação e o fator de empacotamento são exatamente idênticos aos da estrutura cfc (12 e 0,74,respectivamente), uma vez que ambas estruturas estão empacotadas compactamente (Figura 11). Figura 11: Cálculo do fator de empacotamento da estrutura hc. 9 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc II.4 DEFEITOS DE REDE Os cristais reais apresentam desvios da periodicidade perfeita que podem ocorrer de diversas maneiras importantes. Se, por um lado, o conceito de rede perfeita é adequado para explicar as propriedades independentes da estrutura dos metais, por outro lado devem- se considerar diversos tipos de defeitos da rede para que se tenha uma melhor compreensão das propriedades dependentes da estrutura. A descrição destas propriedades reduz-se portanto, na maior parte, à própria descrição do comportamento destes defeitos. Os defeitos, mesmo em concentrações muito pequenas, podem causar uma mudança significativa nas propriedades de um material. Sem a presença de defeitos: os dispositivos eletrônicos do estado sólido não existiriam, os metais seriam muito mais resistentes, os cerâmicos seriam muito mais tenazes e os cristais não teriam nenhuma cor. Na Tabela 1 relaciona-se a interdependência das propriedades com a estrutura cristalina. Tabela 1: Interdependência das propriedades com a estrutura cristalina. Independente da Estrutura Dependente da Estrutura Constantes elásticas Condutividade elétrica Ponto de fusão Propriedades semicondutoras Densidade Limite de escoamento Calor específico Resistência à fratura Coeficiente de expansão térmica Resistência à fluência Logo um defeito de rede é uma imperfeição ou um “erro” no arranjo periódico regular dos átomos em um cristal. Podem envolver uma irregularidade na posição dos átomos ou no tipo de átomos. O tipo e o número de defeitos dependem do material, do meio ambiente, e das circunstâncias sob as quais o cristal é processado. Os defeitos de rede podem ser: – Defeitos Pontuais: falhas que se estendem sobre somente alguns átomos (0-D); – Defeitos Lineares: irregularidades que se estendem através de uma única fileira de átomos (1-D); – Defeitos Planares: falhas que se estendem através de um plano de átomos (2-D); – Defeitos Volumétricos: irregularidades que se estendem sobre o conjunto 3-D dos átomos na estrutura. Além desta classificação, os defeitos podem ser categorizados como: – intrínsecos: Defeitos decorrentes das leis físicas. – extrínsecos: Defeitos presentes devido ao meio ambiente e/ou as condições de processamento. 10 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Sendo que a maioria dos defeitos é extrínseca. DEFEITOS PONTUAIS Os defeitos pontuais podem ser: – Vazios: ausência de um átomo da sua posição normal em uma estrutura cristalina perfeita; – Intersticiais: ocorrência de um átomo em uma posição que não pertence à estrutura do cristal perfeito, como um vazio intersticial. A presença de um vazio significa que as ligações atômicas na vizinhança do defeito não foram satisfeitas (Figura 12). A presença de um intersticial significa uma distorção na estrutura devido ao desajuste causado pela presença deste átomo. Figura 12: Defeito pontual – vazio. OBS1: de acordo com a curva do potencial de ligação, lembramos que desvios ou distorções na distância interatômica de equilíbrio causam aumento de energia OBS2: Defeitos Pontuais em Sólidos Iônicos Os vazios também são necessários nos sólidos iônicos, contudo eles são de outros tipos. Os vazios devem ser formados de tal maneira que o sólido permaneça neutro eletricamente. Vazios isolados não podem ser formados porque eles conduzem ao aparecimento de um centro da carga. Existem duas maneiras principais para a criação de defeitos de ponto (ou pontuais) nos sólidos iônicos sem que haja desequilíbrio de carga: a dos vazios correlacionados ou defeitos de Schottky (Figura 13 – esquerda) e a dos grupos vazios-intersticiais ou defeitos de Frenkel (Figura 13 – direita) 11 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 13: Defeito pontual em sólidos iônicos. Ao tratar de átomos de impureza nos sólidos, usamos uma terminologia análoga àquela usada para uma solução de átomos de impureza em um líquido, onde o cristal matriz é o solvente e os átomos de impureza o soluto. O cristal matriz contendo impurezas é chamado uma solução sólida, porque os átomos de impureza ocupam posições aleatórias no cristal, similarmente a um soluto em um líquido. Podem ser: SOLUÇÕES SÓLIDAS SUBSTITUCIONAIS, onde os átomos de impureza estão localizados em posições normalmente ocupadas pelos átomos do cristal matriz. Eles substituem os átomos do cristal matriz, são chamados impurezas substitucionais (Figura 14) Figura 14: Solução sólida substitucional. SOLUÇÕES SÓLIDAS INTERSTICIAIS, onde os átomos de impureza estão localizados nos interstícios da estrutura cristalina matriz. São chamados impurezas intersticiais. Estas impurezas normalmente tem um pequeno tamanho quando comparadas aos átomos da matriz (Figura 15). Figura 15: Solução sólida interticial. 12 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc DEFEITOS EM LINHA NOS MATERIAIS CRISTALINOS Os defeitos em linha são imperfeições em uma estrutura cristalina nas quais uma linha de átomos tem uma estrutura local que difere da estrutura circunvizinha. Os defeitos de linha são extrínsecos: sua presença não é necessária por razões termodinâmicas; eles são criados devido às condições de processamento (a forma usada na fabricação do material) e por forças mecânicas que atuam sobre o material. Estão quase sempre presentes nos cristais reais. Por exemplo em um material típico, aproximadamente 5 de cada 100 milhões de átomos (0,000005%) pertencem a um defeito de linha. Em uma porção de material de 10 cm3 (cerca do tamanho de um dado de seis lados), haverá aproximadamente 1017 átomos que pertencem a defeitos de linha. Os defeitos em linha, que são chamados discordâncias, e têm uma forte influência sobre as propriedades mecânicas dos metais e de alguns cerâmicos. – Observações Experimentais em Monocristais Metálicos A Figura 16, mostra a curva tensão-deformação, obtida de um ensaio de tração, de um monocristal típico de magnésio, orientado de forma que o plano basal forme um ângulo de 45o com o eixo da tensão. Ao ser atingida uma tensão de tração muito baixa, de cerca de 0,70 MPa, o cristal escoa plasticamente e então se alonga com facilidade até se tornar uma tira que pode ser quatro ou cinco vezes mais longa que o cristal original. Figura 16: Curva tensão-deformação de um ensaio de tração. 13 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 17: Ensaio de tração em um monocristal. Se a superfície do cristal deformado for examinada, pode-se observar marcas que circundam a amostra, de maneira aproximadamente contínua, com o formato de elipse (Figura 18). Quando observadas com grande aumento, essas marcas revelam-se como as manifestações visíveis de uma série de pequenos degraus formadosna superfície. Evidentemente, em decorrência da aplicação da força, o cristal foi cisalhado em vários planos paralelos. Além disso, a análise cristalográfica das marcas, mostra que esses planos são os basais (0002), ou seja, os planos mais compactos do cristal. Quando ocorre esse tipo de deformação, diz-se que o cristal sofreu “escorregamento”; as marcas visíveis na superfície são chamadas de linhas de escorregamento, e o plano cristalográfico no qual ocorreu o cisalhamento é chamado de plano de escorregamento. Figura 18: Foto do escorregamento de um monocristal de zinco*. A tensão de cisalhamento correspondente ao início da fase plástica em um monocristal é surpreendentemente pequena quando comparada à resistência ao * C.F. Elam, The Distortion of Metal Crystals, Oxford Univ. Press,London, 1935. 14 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc cisalhamento de um cristal perfeito (calculada em termos de forças coesivas entre os átomos). Em outras palavras, o cristal se deforma plasticamente com tensões 1/10.000 de sua resistência teórica. Analogamente, os cristais reais de outros metais se deformam sob tensões que são frações pequenas de suas resistências teóricas (1/1.000 a 1/10.000). A explicação para a discrepância entre os limites de escoamento calculado e real reside no fato de que os cristais não são perfeitos, pois contem defeitos, sendo que as discordâncias são o tipo de defeito responsável por este fato. – Discordâncias Discordâncias são defeitos 1D em um cristal. O tipo mais simples de discordância pode ser visto como um semiplano atômico extra, inserido na estrutura, o qual termina em qualquer lugar do cristal. A extremidade do meio plano é a discordância, conforme mostra a Figura 19, a seguir. Figura 19: Discordância em cunha ou aresta. Discordâncias deste tipo são chamadas discordâncias em aresta ou em cunha e são representadas pelo símbolo ^. Podemos desenhar um vetor, t, tangente à discordância, que define sua direção positiva, a direção escolhida como positiva é arbitrária, mas pode ser usada de forma consistente. Consideremos agora o semiplano extra que está dentro do cristal. Um exame da Figura 20 (esquema tridimensional de uma discordância em aresta) mostra claramente que o cristal está distorcido onde o semiplano atinge o plano de escorregamento. 15 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 20: Discordância em cunha ou aresta. Pode-se também deduzir que a distorção diminui de intensidade quando se caminha em sentido oposto à aresta do semiplano, porque a grandes distâncias dessa aresta, os átomos tendem a rearranjar-se como em um cristal perfeito. A distorção do cristal é, pois, centrada em torno da aresta do plano extra. A Figura 21, ilustra como uma discordância se move através do cristal, sob a aplicação de uma tensão de cisalhamento. Pela aplicação da tensão, o átomo C pode mover-se para a posição C’ indicada na figura. Se isso acontecer, a discordância mover-se-á de uma distância atômica para a direita. A contínua aplicação da tensão levará à movimentação da discordância em etapas repetidas. O resultado final é que o cristal é cisalhado no plano de escorregamento de uma distância atômica. Figura 21: Movimento de uma discordância em cunha ou aresta. 16 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Cada etapa do movimento da discordância, requer somente um pequeno rearranjo de átomos nas vizinhanças do plano extra. Resulta disso que uma força muito pequena pode mover uma discordância. Cálculos teóricos mostram que essa força é de ordem de grandeza compatível para justificar os baixos limites de escoamento dos cristais reais. O movimento de uma discordância através de todo o cristal produz um degrau na superfície do mesmo, cuja profundidade é de uma distância atômica. Como uma distância atômica em cristais metálicos é da ordem de alguns ângstrons, esse degrau evidentemente não é visível a olho nu. Muitas centenas ou milhares de discordâncias devem movimentar- se em um plano de escorregamento para que seja produzida uma linha de escorregamento visível. Conforme pode ser observado na Figura 22. Figura 22: Discordâncias vistas através de microscopia eletrônica de transmissão. Além das discordâncias em aresta, existem as discordâncias em hélice ou helicoidais. A designação “hélice” para esse defeito do reticulado deriva do fato de que os planos do reticulado do cristal formam uma espiral na linha da discordância (Figura 23 e Figura 24). Elas normalmente se formam na superfície de um cristal durante o seu crescimento. 17 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 23: Discordância em hélice. Figura 24: Discordância em hélice na superfície de um monocristal de SiC, as linhas escuras são degraus de escorregamento superficiais. DEFEITOS PLANARES São imperfeições superficiais de natureza estrutural que decorrem de uma variação no empilhamento dos planos atômicos através de um contorno. Tal variação pode ser tanto na orientação, quanto na seqüência de empilhamento dos planos. – Contornos de Grão São as imperfeições superficiais que separam cristais de diferentes orientações, num agregado policristalino. Como se ilustra na Figura 25, para um modelo 18 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc bidimensional, os átomos do contorno entre dois grãos aleatoriamente orientados não podem ter um complemento perfeito de átomos vizinhos; em conseqüência, existe uma região de transição onde o empilhamento atômico é imperfeito. Em três dimensões, esta transição ocorre através da superfície que separa os grãos. É a natureza imperfeita dos contornos dos grãos que permite ao microscopista vê-los, pois, num material cristalino transparente, eles dispersam a luz e num material opaco, eles podem ser atacados quimicamente. Figura 25: Defeito de contorno de grão. – Contornos de Macla Imperfeições superficiais que separam duas orientações que são imagens especulares uma da outra são chamadas contornos de macla. O volume do material cuja orientação é imagem especular da orientação da matriz é chamado macla; as maclas podem originar-se durante o crescimento de um cristal ou durante uma deformação. Cisalhamento paralelo ao contorno da macla pode produzir a macla, como mostrado na Figura 26, a seguir, particularmente se o escorregamento for difícil de se iniciar ou propagar nessa direção. 19 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 26: Contorno de macla conforme pode ser observado através de microscopia ótica. O cisalhamento da rede é uniforme, isto é, o afastamento de um ponto da rede na região maclada é diretamente proporcional à sua distância do contorno e é paralela ao contorno da macla. Se a cada ponto da rede está associado mais de um átomo, como nos metais hc, depois do cisalhamento de maclagem devem ocorrer pequenos reajustes atômicos para que sejam macladas tanto a rede, como a estrutura cristalina. A Figura 27 mostra um contorno de macla conforme pode ser observado através de microscopia ótica. Figura 27: Micrografia é de uma liga com defeito de macla. 20 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc – Defeito de Empilhamento É uma imperfeição superficial que resulta do empilhamento de um plano atômicofora da seqüência, enquanto que a rede é perfeita de cada lado do defeito. Por exemplo, a seqüência de empilhamento num cristal cfc ideal pode ser descrita como ABCABCABC..., mas, por um defeito de empilhamento a seqüência pode mudar para ABCABABCA .... O defeito de empilhamento neste caso é devido ao plano “A” de átomos vir após o segundo “B”, e pode ser descrito como uma região muito fina de empilhamento hc num cristal cfc. Tais defeitos de empilhamento podem ocorrer durante o crescimento do cristal ou resultar da separação de duas discordâncias parciais. Em ambos os casos, o material cristalino de um lado da imperfeição tem a mesma orientação do que se acha do outro lado, mas sofreu uma translação em relação a este por uma fração do vetor da rede. Na uma Figura 28 micrografia de um defeito de empilhamento Figura 28: Micrografia de um defeito de empilhamento. – Contorno de Pequeno Ângulo Outra imperfeição superficial é um contorno de pequeno ângulo, que é realmente um caso-limite de contorno de grão, em que o ângulo das orientações cristalinas é da ordem de poucos graus. Em geral, os contornos de pequeno ângulo podem ser descritos por arranjos convenientes de discordâncias. Um contorno inclinado (tilt) de pequeno ângulo, é composto de discordâncias em aresta, umas sobre as outras no contorno. Na Figura 29 é ilustrado defeito de contorno de pequeno ângulo. 21 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 29: Defeito de contorno de pequeno ângulo. DEFEITOS VOLUMÉTRICOS Os defeitos tridimensionais são os poros e os precipitados. Os poros (que podem ser vistos como um aglomerado de vazios) ocorrem com freqüência nos componentes fundidos e são “parte” dos materiais e/ou componentes obtidos pela metalurgia do pó. As figuras a seguir apresentam a superfície de ferro puro durante o seu processamento por metalurgia do pó. Note-se que, embora a sinterização tenha diminuído a quantidade de poros bem como melhorado sua forma (os poros estão mais arredondados), ainda permanece uma porosidade residual. 22 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 30: Compactado de pó de ferro, compactação uniaxial em matriz de duplo efeito, a 550 MPa. Figura 31: Compactado de pó de ferro após sinterização a 1.150oC, por 120 min em atmosfera de hidrogênio. 23 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Os precipitados são divididos em dois tipos: partículas de segunda fase e inclusões. Quando dois componentes são misturados, podem acontecer basicamente três situações: (1) solubilização total de um componente no outro – como é o caso da mistura de água com álcool – a solução resultante é uma mistura homogênea onde não se consegue mais distinguir os componentes que lhe deram origem (água ou álcool); (2) solubilização parcial de um componente no outro – como é o caso da mistura de água com açúcar – a solução resultante depende das proporções relativas de cada um dos componentes – se adicionarmos uma colher de açúcar a um copo de água teremos uma solução homogênea (uma água adocicada), solução esta que também não permite distinguir os componentes que lhe deram origem. Contudo, se adicionarmos cinco colheres de açúcar a um copo de água veremos que parte do açúcar se dissolverá na água, mas parte dele ficará sedimentado no fundo do copo. Em casos como este dizemos que há solubilidade parcial entre os componentes da mistura. (3) solubilização nula de um componente no outro – como é o caso da mistura de água com óleo – não há solução, e sim uma mistura de dois componentes, o de maior densidade ficando no fundo do copo. Tanto no caso (2) como no caso (3) temos misturas heterogêneas, formadas por duas fases distintas: caso (2) – a primeira fase (fase a) é a solução água adocicada e a segunda fase (fase b) é a sedimentação do fundo do copo; caso (3) – a primeira fase (fase a) é a água e a segunda fase (fase b) é o óleo. A ocorrência de uma segunda fase deve-se ao grau de solubilidade entre os componentes da mistura. Estes são exemplos de precipitados chamados de partículas de segunda fase. A mistura água com açúcar foi feita de propósito. Como a solubilidade do açúcar na água é limitada, pode haver o aparecimento de uma segunda fase se adicionarmos açúcar em quantidade exagerada. Mas, se adicionarmos açúcar em quantidade exagerada pode aparecer também uma abelha e cair dentro do copo. A abelha é o que a gente chama de inclusão. Aparece lá sem que a gente tenha propositadamente adicionado. É o caso dos óxidos e de outras partículas como sulfetos e fosfetos, por exemplo. Elas são decorrentes de reações de oxi-redução entre o oxigênio do ar com os metais componentes da mistura, ou advém de reações entre componentes da matéria-prima utilizada (por exemplo, o enxofre que está presente no coque que por sua vez é utilizado na fabricação do aço)com os componentes da mistura. EXEMPLO DE PARTÍCULAS DE SEGUNDA FASE No ferro fundido cinzento perlítico (Figura 32), a microestrutura é composta por veios de grafita sobre uma matriz perlítica. cada grão de perlita, por sua vez, é constituído 24 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc por lamelas alternadas de duas fases: ferrita (ou ferro-α) e cementita (ou carboneto de ferro). Figura 32: Ferro fundido cinzento perlítico. Figura 33: Inclusões de óxido de cobre (Cu2O) em cobre de alta pureza (99,26%) laminado a frio e recozido a 800oC. 25 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 34: Sulfetos de manganês (MnS) em aço rápido. 26 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc III- DEFORMAÇÃO ELÁSTICA E PLÁSTICA III.1 DEFORMAÇÃO ELÁSTICA Em um estado geral de tensões, temos que as deformações (ε1, ε2 e ε3) são dadas pelas equações (2. 3), a seguir: ( )[ ]3211 1 σσνσε +−= E ( )[ ]3122 1 σσνσε +−= E (2. 3) ( )[ ]2133 1 σσνσε +−= E Somando membro a membro das equações (2. 3), chega-se: ( ) ++−=++ 3 213 321 321 σσσνεεε E (2. 4) Considerando que o termo à esquerda da equação (2. 4) é a deformação volumétrica ∆ e chamando: ++= 3 321 0 σσσσ (2. 5) tem-se: ( ) 0 213 σν∆ E −= (2. 6) III.2 DEFORMAÇÃO PLÁSTICA 27 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc IV- ESTADO ENCRUADO DOS METAIS E RECRISTALIZAÇÃO IV.1 ENCURAMENTO O encruamento é quando um metal é deformado plasticamente, tornando-se mais resistente e uma tensão ainda maior será necessária para que se faça uma deformação adicional.† O encruamento por deformação é um dos mais importantes métodos de endurecer os metais, vários materiais, como o cobre, que não possuem sistemas de endurecimento por precipitação, mas podem ser apreciavelmente endurecidos por trabalho a frio. O encruamento ocorre em um metal cristalino porque esses materiais se deformam plasticamente pelo movimento das discordâncias e estas interagem diretamente entre si e com outras imperfeições, ou, indiretamente, com campos de tensões internos (de curto e longo alcance) de várias imperfeições e obstáculos. Essa interação leva a uma redução na mobilidade média da discordância, que é o acompanhada por uma necessidade de maior tensão para realizar o movimento da discordância, isto é, para uma dada deformação plástica. Para compreendermoso estado encruado dos materiais, é necessários compreender os fenômenos que estão com ele relacionados. A energia despendida nos processos de conformação à frio é na maior parte perdida na forma de calor. Entre 2 a 10 % dessa energia utilizada na deformação é armazenada no metal na forma de defeitos cristalinos, sendo que para altas deformações o percentual de energia armazenada tende ao limite inferior. Onde o principal defeito cristalino gerado na deformação plástica são as discordâncias, porém os outros defeitos cristalinos podem ser gerados, como: lacunas, defeitos de empilhamento, contornos de macla e interfaces entre fases diferentes (no caso de transformação induzida por deformação plástica). A densidade e distribuição dos defeitos gerados na deformação plástica dependem de fatores tais como: estrutura cristalina do metal; temperatura; quantidade e velocidade de deformação; pureza do metal e sua energia de defeito de empilhamento (EDE). † MEYERS, M. A. e CHAWLA, K. K., Princípios de Metalurgia Mecânica. Ed. Edgard Blücher, 1982, pg. 290. 28 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc IV.2 FATORES QUE AFETAM A MICROESTRUTURA DO METAL DEFORMADO Um dos fatores que apresenta elevada influência sobre a microestrutura do metal deformado é a energia de defeito de empilhamento (EDE), a distribuição das discordâncias é fortemente dependente da EDE. Quando um metal de baixa EDE é deformado, suas discordâncias tem baixa mobilidade devido ao fato das discordâncias parciais estarem muito afastadas entre si, levando a uma distribuição planar (homogênea) na microestrutura das discordâncias. A baixa EDE implica na dificuldade para a ocorrência de fenômenos de escorregamento com desvio ("cross-slip") e escalada ("climb") das discordâncias. Por outro lado, metais com alta EDE apresentam discordâncias dissociadas em parciais próximas umas das outras, facilitando o escorregamento com desvio e a escalada. Isso implica em discordâncias com alta mobilidade, que tendem a se localizar em planos cristalinos de baixos índices de Miller, assim como aniquilar-se com discordâncias vizinhas de sinal oposto. Logo, metais com alta EDE tendem a apresentar uma distribuição heterogênea de discordâncias. Sendo assim, para um dado grau de deformação um metal de alta EDE apresenta menor densidade de discordâncias que um metal de baixa EDE. Pois em metais de alta EDE, as discordâncias têm maior mobilidade e a ocorrência de aniquilação e rearranjo de discordâncias é mais freqüente. Metais de alta EDE, as discordâncias têm um livre caminho médio maior que em metais de baixa EDE, ou seja, elas migram distâncias maiores antes de se tornarem imóveis. Outro fator é a presença de átomos de soluto, pois quando se adiciona átomos de soluto em um metal puro, há a tendência de alterar a EDE desse metal, o que influenciará na distribuição das discordâncias após a deformação. Por exemplo, nos aços inoxidáveis austeníticos do sistema Fe-Cr-Ni, um aumento da concentração de cromo causa abaixamento da EDE, enquanto um aumento do teor de níquel aumenta a EDE. Além disso, a mobilidade das discordâncias é diminuída devido à sua interação com átomos de soluto. A medida que se adiciona átomos de soluto em um metal, há um gradativo aumento na densidade de discordâncias e da energia armazenada na deformação, assim como a diminuição gradativa do tamanho médio de célula de deformação. O tamanho de grão inicial, também apresenta elevada influência, pois um tamanho de grão inicial pequeno leva a uma densidade de discordâncias elevadas. Mas, as 29 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc diferenças locais de densidade de discordâncias entre os grãos são pequenas para altos graus de deformação se comparadas com amostras com baixos graus de deformação. E por fim a temperatura e velocidade de deformação, também apresentam elevada influencia sobre a microestrutura do metal deformado. A densidade e distribuição de discordâncias, a energia armazenada na deformação são fatores que dependem da temperatura na qual o metal foi deformado. O abaixamento da temperatura de deformação além de diminuir a mobilidade das discordâncias, pode também ocasionar a diminuição da energia de defeito de empilhamento. Temperaturas de deformação a frio crescentes favorecem a formação de células maiores e melhor definidas. Já o efeito do aumento da velocidade de deformação eqüivale a um abaixamento da temperatura de deformação. Porém, pequenas variações na temperatura de deformação causam grandes modificações na subestrutura de discordâncias, enquanto grandes modificações na velocidade de deformação influenciam relativamente pouco. Por exemplo, ao duplicar-se a temperatura absoluta de deformação, o efeito é enorme em comparação com a duplicação da velocidade de deformação. IV.3 HETEROGENEIDADES DE DEFORMAÇÃO NA MICROESTRUTURA Dentre as heterogeneidades na microestrutura, dentro de um mesmo grão ou entre grãos, causadas pela deformação podemos destacar as bandas de transição, as bandas de cisalhamento e as maclas de deformação. As bandas de transição ou bandas de deformação são heterogeneidades freqüentemente encontradas em uma estrutura deformada e são caracterizadas por deformações heterogêneas do reticulado, estando as mesmas confinadas no interior do grão não ultrapassando seu contorno. São formadas entre partes diferentes de um mesmo grão que sofreram rotações diferentes durante a deformação devido à utilização de diferentes sistemas de escorregamento. A região de fronteira entre as duas partes do grão é a banda de transição, como ilustra esquematicamente a Figura 35. 30 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 35: Bandas de transição em grão deformado com subestrutura celular. Dentro das banda de deformação, as células são menores e mais alongadas. O inicio da recristalização está associado às altas diferenças de orientação localizadas do reticulado, e as bandas de transição são locais preferenciais para início da recristalização. Já as bandas de cislhamento se resume em concentrações de escorregamento em regiões de máxima tensão macroscópica de cisalhamento e em planos nos quais a deformação encontra pequena resistência. Essas regiões formam ângulos de aproximadamente 30 a 60° em relação à direção de deformação. As bandas de cisalhamento não se limitam a um determinado grão, atravessando vários grãos, também m são heterogeneidades importantes no início da recristalização. Sua ocorrência está associada a metais altamente deformados a frio, com metais com tamanho de grão grosseiro e deformações com predominância de componentes de compressão. A Figura 36 mostra esquematicamente bandas de cisalhamento em metal deformado. Figura 36: Banda de cisalhamento em metal deformado, vistas no corte longitudinal (macroscópico). As bandas de cisalhamento, também apresentam células de deformação menores e alongadas no seu interior e grandes diferenças de orientação em curtas distâncias, quando comparadas com uma região do metal que não apresenta essa heterogeneidade. A diferença entre bandas de cisalhamento e bandas de transição está no fato de: 31 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc − As bandas de cisalhamento são formadas no material como um todo, independente da estrutura de grãos e dependente do modo e da quantidade de deformação; As bandas de transição são formadas por diferenças de deformação a nível microestrutural e ficam delimitadasno interior de grãos individuais. − Por fim, as maclas de deformação ou maclação mecânica é uma maneira alternativa de deformação plástica. Ela ocorre quando a deformação plástica por deslizamento de planos se toma difícil, tais como em materiais com estrutura cristalina que apresenta poucos sistemas de escorregamento ou durante a deformação plástica em baixas temperaturas ou em altas velocidades de deformação. A maclação mecânica exige pequenos movimentos atômicos, todavia estes movimentos devem ser coordenados como nas transformações martensíticas. São formadas principalmente em metais com estrutura hexagonal compacta (HC), eventualmente em metais de estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) e mais raramente em metais de estrutura cúbica de faces centradas (CFC). Em metais de elevada pureza, ela necessita de uma combinação de fatores para sua ocorrência: altas velocidades de deformação em temperaturas baixas e orientação cristalográfica desfavorável ao escorregamento. A EDE apresenta alta influência na maclação mecânica de metais com estrutura cúbica. A diminuição da EDE leva a uma crescente diminuição da mobilidade das discordâncias, desfavorecendo a deformação por escorregamento e favorecendo a maclação. A energia de contorno de macla também é diminuída com o abaixamento da EDE, o que implica em menor gasto energético para a formação de maclas e consequentemente, maior facilidade de ocorrência de maclação mecânica. IV.4 TRANSFORMAÇÕES DE FASE INDUZIDAS POR DEFORMAÇÃO PLÁSTICA Em alguns sistemas ocorre durante a deformação plástica, além de grande aumento da densidade de defeitos cristalinos a formação de novas fases. Estas fases são geralmente denominadas martensitas induzidas por deformação. Exemplos típicos são aços austeníticos alto manganês e os aços inoxidáveis austeníticos Fe-Cr-Ni. 32 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc IV.5 AMOLECIMENTO POR DEFORMAÇÃO Apesar de os metais geralmente encruarem à medida que aumenta a deformação, pode ocorrer o amolecimento por deformação, este fenômeno foi observado para uma variedade de metais. Ele pode ser produzido pela recuperação dinâmica do corpo de prova durante o ensaio choque. A subestrutura gerada por choque (emaranhados de discordâncias e células de paredes grossas) não é característica da deformação convencional a temperatura ambiente (células com parede fina). Quando o corpo de prova alcança a tensão de escoamento, a temperatura ambiente, as discordâncias começam a mover-se, reorganizando-se em arranjos que são mais estáveis sob as condições impostas pelo ensaio de tração. Portanto, em vez de se gerarem novas discordâncias com conseqüente encruamento, ocorre simplesmente uma reorganização das discordâncias já existentes. 33 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc V- TRABALHO À QUENTE, À MORNO E À FRIO Os processos de conformação são normalmente classificados em operações de trabalho a quente, a morno e a frio. O trabalho a quente é definido como a deformação sob condições de temperatura e taxa de deformação tais que processos de recuperação e recristalização ocorrem simultaneamente com a deformação. De outra forma, o trabalho a frio é a deformação realizada sob condições em que os processos de recuperação e recristalização não são efetivos. No trabalho a morno ocorre recuperação, mas não se formam novos grãos (não há recristalização). Costuma-se definir, para fins práticos, as faixas de temperaturas do trabalho a quente, a morno e a frio baseadas na temperatura homóloga, que permite a normalização do comportamento do metal (Figura 37). Em um metal puro, que não sofre transformação de fase no estado sólido, os pontos de referência em termos de temperatura são: o zero absoluto e o ponto de fusão. Estes pontos, traduzidos em graus Kelvin, estabelecem os extremos da escala homóloga de temperaturas. Figura 37: Representação da temperatura homóloga e das faixas de temperatura : trabalho a frio (TF), a morno (TM) e a quente (TQ). Em termos de conformação mecânica, chama-se de trabalho a quente (TQ) aquele que é executado em temperaturas acima de 0,5Tf, trabalho a morno (TM), executado na faixa compreendida (grosseiramente) entre 0,3 e 0,5Tf e trabalho a frio (TF) aquele que é executado entre 0 e 0,3Tf . É importante compreender que a distinção básica entre TQ e TF é portanto, função da temperatura em que se dá a recristalização efetiva do 34 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc material. Assim, embora para muitas ligas comerciais a temperatura do TQ seja realmente elevada em relação à ambiente, para metais como Pb e Sn, que se recristalizam rapidamente à temperatura ambiente após grandes deformações, a conformação à temperatura ambiente é TQ. Por outro lado, a conformação a 1.100oC é TF para o tungstênio, cuja temperatura de recristalização é superior a esta, embora seja TQ para o aço. V.1 GERAÇÃO DE CALOR NA CONFORMAÇÃO MECÂNICA Nos processos de conformação, tanto a deformação plástica quanto o atrito contribuem para a geração de calor. Da energia empregada na deformação plástica de um metal, apenas 5 a 10% ficam acumulados na rede cristalina, sob a forma de energia interna, sendo os restantes 90 a 95% convertidos em calor. Em algumas operações de conformação contínua, como extrusão e trefilação, efetuadas em altas velocidades, a temperatura pode aumentar de centenas de graus. Uma parte do calor gerado é dissipada, pois é transmitido às ferramentas ou perdido para a atmosfera, mas o restante permanece na peça, elevando- lhe a temperatura. Em condições idealmente adiabáticas e sem atrito, o máximo acréscimo teórico de temperatura devido à deformação plástica é dado pela expressão (2. 7): Jc W T pmáx ..ρ=∆ (2. 7) Onde: Wp – Trabalho de deformação plástica por unidade de volume; ρ – Densidade do material; c – Calor específico do material; J – Equivalente mecânico do calor (4,19 Joule/cal) Por exemplo, para uma deformação e = 1,0 tem-se ∆Tmáx igual a 74oC para alumínio, 277oC para ferro e 571oC para o titânio. Se a velocidade de um dado processo é alta, a perda do calor gerado será pequena e o aumento efetivo da temperatura será próximo do valor teórico. 35 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc V.2 TRABALHO À QUENTE - TQ O trabalho a quente é a etapa inicial na conformação mecânica da maioria dos metais e ligas. Este trabalho não só requer menos energia para deformar o metal e proporciona maior habilidade para o escoamento plástico sem o surgimento de trincas como também ajuda a diminuir as heterogeneidades da estrutura dos lingotes fundidos devido as rápidas taxas de difusão presentes às temperaturas de trabalho a quente. As bolhas de gás e porosidades são eliminadas pelo caldeamento destas cavidades e a estrutura colunar dos grãos grosseiros da peça fundida é quebrada e refinada em grãos equiaxiais recristalizados de menor tamanho. As variações estruturais devido ao trabalho a quente proporcionam um aumento na ductilidade e na tenacidade, comparado ao estado fundido Geralmente, a estrutura e propriedades dos metais trabalhados a quente não são tão uniformes ao longo da seção reta como nos metais trabalhados a frio e recozidos, já que a deformação é sempre maior nas camadas superficiais. O metal possuirá grãos recristalizados de menor tamanho nesta região. Como o interior do produto estará submetido a temperaturas mais elevadas por um período de tempo maior durante o resfriamento do que as superfícies externas, pode ocorrercrescimento de grão no interior de peças de grandes dimensões, que resfriam vagarosamente a partir da temperatura de trabalho. No trabalho a quente, devido à intensa vibração térmica, que facilita muito a difusão de átomos e a mobilidade e aniquilamento das discordâncias, o encruamento e a estrutura distorcida dos grãos produzida pela deformação, são rapidamente eliminados pela formação de novos grãos livres de deformação, como resultado da recristalização. É possível conseguir grandes níveis de deformação, uma vez que os processos de recuperação e recristalização acompanham a deformação. Ela ocorre a uma tensão constante. E como a tensão de escoamento plástico decresce com o aumento da temperatura, conforme pode ser observado na Figura 38, a energia necessária para a deformação é geralmente muito menor para o trabalho a quente do que para o trabalho a frio ou a morno. 36 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 38: Variação da tensão de compressão com a deformação em função da temperatura para um aço de baixo carbono. A maioria das operações de TQ é executada em múltiplos passes ou estágios; em geral, nos passes intermediários a temperatura é mantida bem acima do limite inferior do trabalho a quente para se tirar vantagem da redução na tensão de escoamento, embora com o risco de um crescimento de grão. Como, porém, deseja-se usualmente um produto com tamanho de grão pequeno, a temperatura dos últimos passes (temperatura de acabamento) é bem próxima do limite inferior e a quantidade de deformação é relativamente grande. Pequenos tamanhos de grãos darão origem a peças com melhor resistência e tenacidade. VANTAGENS E DESVANTAGENS DO TRABALHO A QUENTE De um ponto-de-vista prático o TQ – que é o estágio inicial da conformação dos materiais e ligas – apresenta um certo número de vantagens, mas também de problemas, como listado em seguida. A) VANTAGENS: – Menor energia requerida para deformar o metal, já que a tensão de escoamento decresce com o aumento da temperatura; – Aumento da capacidade do material para escoar sem se romper (ductilidade); – Homogeneização química das estruturas brutas de fusão (e.g., eliminação de segregações) em virtude da rápida difusão atômica interna; 37 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc – Eliminação de bolhas e poros por caldeamento; – Eliminação e refino da granulação grosseira e colunar do material fundido, proporcionado grãos menores, recristalizados e equiaxiais; – Aumento da tenacidade e ductilidade do material trabalhado em relação ao bruto de fusão. B) DESVANTAGENS: – Necessidade de equipamentos especiais (fornos, manipuladores, etc.) e gasto de energia para aquecimento das peças; – Reações do metal com a atmosfera do forno, levando as perdas de material por oxidação e outros problemas relacionados (p.ex., no caso dos aços, ocorre também descarbonetação superficial; metais reativos como o titânio ficam severamente fragilizados pelo oxigênio e tem de ser trabalhados em atmosfera inerte ou protegidos do ar por uma barreira adequada); – Formação de óxidos, prejudiciais para o acabamento superficial; – Desgaste das ferramentas é maior e a lubrificação é difícil; – Necessidade de grandes tolerâncias dimensionais por causa de expansão e contração térmicas; – Estrutura e propriedades do produto resultam menos uniformes do que em caso de trabalho a frio seguido de recozimento, pois a deformação sempre maior nas camadas superficiais produz nas mesmas uma granulação recristalizada mais fina, enquanto que as camadas centrais, menos deformadas e sujeitas a um resfriamento mais lento, apresentam crescimento de grãos. FAIXAS DE TEMPERATURAS PERMISSÍVEIS NO TRABALHO A QUENTE O limite inferior de temperatura para o trabalho a quente de um metal é a menor temperatura para a qual a taxa de recristalização é rápida o bastante para eliminar o encruamento quando o metal está submetido àquela temperatura. Para um dado metal ou liga metálica a menor temperatura de trabalho a quente dependerá de fatores tais como a quantidade de deformação e o tempo em que o material estará submetido a temperatura em questão. Uma vez que quanto maior o nível de deformação menor é a temperatura de recristalização, o limite inferior de temperatura para o trabalho a quente diminuirá para grandes deformações. Um metal trabalhado com elevada velocidade de deformação e resfriado rapidamente irá requerer uma temperatura de trabalho a quente maior do que se este for deformado e resfriado vagarosamente, para a obtenção de um mesmo nível final de deformação. 38 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc O limite superior de trabalho a quente é determinado pela temperatura em que ocorre o início de fusão ou o excesso de oxidação. Geralmente, a temperatura mais elevada de trabalho a quente é limitada bem abaixo do ponto de fusão devido a possibilidade de fragilização à quente, existência de compostos com menor ponto de fusão. Basta uma pequena quantidade de um filme de constituinte com baixo ponto de fusão nos contornos de grão para fazer um material desagregar-se quando deformado, fragilidade a quente. Geralmente emprega-se Tmax ≅ (Tf - 55)oC, ou (Tf - 100)oF para evitar esta possibilidade. Para uma dada condição de pressão e temperatura de trabalho haverá uma quantidade máxima de deformação que pode ser fornecida à peça, esta limitação é baseada na resistência ao escoamento, e não na ductilidade, como mostrado na Figura 39. Se a temperatura de pré-aquecimento do tarugo inicial aumenta, a resistência diminui e a deformação aumenta para uma dada pressão aplicada; assim, as curvas isobáricas aumentam com a temperatura, que obviamente será sempre inferior à linha solidus. A fragilização a quente limita a temperatura de trabalho a valores inferiores á temperatura solidus. E visto que com taxas de deformação altas ficará retido mais calor na peça. A temperatura da peça deverá ser menor para evitar que ela atinja a faixa de fragilidade a quente. Figura 39: Diagrama esquemático dos efeitos de temperatura, pressão e taxa de deformação sobre a faixa de trabalho permissível na conformação a quente. 39 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc V.3 TRABALHO À MORNO - TM Os processos de deformação a morno objetivam aliar as vantagens das conformações a quente e a frio. Dos processos de conformação a morno um dos mais difundidos e com maiores aplicações industriais é o forjamento. O trabalho a morno consiste na conformação de peças numa faixa de temperaturas onde ocorre o processo de recuperação portanto, o grau de endurecimento por deformação é consideravelmente menor do que no trabalho a frio. Sendo assim, no trabalho a morno ocorre uma recuperação parcial da ductilidade do material e a tensão de conformação situa- se numa faixa intermediária entre o trabalho a frio e a quente. Existe alguma controvérsia sobre a faixa de temperaturas empregada na conformação a morno dos aços mas, certamente se torna importante entre 500 e 800° C. A temperatura inferior de conformação é limitada em aproximadamente 500°C devido a possibilidade de ocorrência da "fragilidade azul" em temperaturas mais baixas. Esta fragilização aumenta a tensão de escoamento e diminui a ductilidade. Ela ocorre em temperaturas em torno de 200 a 400°C onde, átomos intersticiais difundem-se durante a deformação formando atmosferas em torno das discordâncias geradas, ancorando-as. O nome azul refere-se a coloração do óxido formado na superfície do aço nesta faixade temperaturas. Com relação ao trabalho a quente o processo a morno apresenta melhor acabamento superficial e precisão dimensional devido à diminuição da oxidação e da dilatação – contração do material e da matriz. Estas características permitem se ter menores ângulos de saída (pode-se utilizar maiores cargas para a retirada da peça das matrizes sem deformar o produto). A maior desvantagem da conformação a morno com relação ao processo a quente é o aumento do limite de escoamento que ocorre com o abaixamento da temperatura de deformação. O aumento da carga de conformação implicará na necessidade de se empregar prensas mais potentes e ferramentas mais resistentes. Os tarugos para a conformação, por sua vez, podem requerer decapagem para remoção de carepa e utilização de lubrificantes durante o processo. Em relação ao trabalho a frio o processo a morno apresenta redução dos esforços de deformação, o que permite a conformação mais fácil de peças com formas complexas, principalmente em materiais com alta resistência. A conformação a morno melhora ainda a ductilidade do material e elimina a necessidade de recozimentos intermediários que consomem muita energia e tempo. 40 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc V.4 TRABALHO À FRIO - TF No trabalho a frio, como o encruamento não é aliviado, a tensão aumenta com a deformação. Assim a deformação total, que é possível de se obter sem causar fratura, é menor no trabalho a frio do que no trabalho a quente e a morno. Exceto quando se realizam tratamentos térmicos de recozimento para aliviar os efeitos do encruamento. O trabalho a frio é acompanhado do encruamento (strain hardening) do metal, que é ocasionado pela interação das discordâncias entre si e com outras barreiras – tais como contornos de grão – que impedem o seu movimento através da rede cristalina. A deformação plástica produz também um aumento no número de discordâncias, as quais, em virtude de sua interação, resultam num elevado estado de tensão interna na rede cristalina Um metal cristalino contém em média 106 a 108 cm de discordâncias por cm3, enquanto que um metal severamente encruado apresenta cerca de 1012 cm de discordâncias por cm3. A estrutura característica do estado encruado examinada ao microscópio eletrônico, apresenta dentro de cada grão, regiões pobres em discordâncias, cercadas por um emaranhado altamente denso de discordâncias nos planos de deslizamento. Tudo isto resulta macroscopicamente num aumento de resistência e dureza e num decréscimo da ductilidade do material, conforme pode ser observado na Figura 40. Num ensaio de tração, isso se traduz no aumento da tensão de escoamento, Y, e do limite de resistência, Sr, bem como no decréscimo do alongamento total (alongamento na fratura). Figura 40: Aumento do limite de escoamento e de resistência à tração e diminuição do alongamento (e redução de área na fratura)com o encruamento devidos ao trabalho a frio. A Figura 40 mostra que o limite de escoamento, Y, cresce mais rapidamente e se aproxima do limite de resistência, Sr, enquanto que a ductilidade – expressa aqui como ef – cai de modo bastante brusco após uma limitada quantidade de trabalho a frio. A 41 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc microestrutura também muda, com os grãos se alongando na direção de maior deformação, podendo o material como um todo desenvolver propriedades direcionais (anisotropia). 42 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc VI- PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS MATERIAIS METÁLICOS Os materiais metálicos utilizados na indústria apresentam várias propriedades, e a aplicação dos mesmos deve ser definida de acordo com o fim a que se destinam, levando em conta, principalmente, as suas propriedades. As propriedades industriais podem, segundo a sua natureza, ser divididas em 4 categorias: − Mecânicas • Resistência Mecânica: tração, compressão, flexão, torção, cizalhamento, etc. • Resiliência (Capacidade de resistir a esforços dinâmicos) • Elasticidade • Dureza − Tecnológicas • Fusibilidade • Plasticidade: Maleabilidade e Ductilidade • Soldabilidade • Temperabilidade • Usinabilidade • Tencidade (Capacidade de absorver energia até a ruptura) − Uso • Resistência ao Ar • Resistência ao Calor • Resistência à Ação Corrosiva • Resistência à Fluidez (Creep) − Outras • Peso Específico • Densidade • Condutibilidade Térmica e Elétrica • Dilatação • Grau de Polimento 43 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc VI.1 PROPRIEDADES MECÂNICAS São aquelas que definem o comportamento do material segundo um determinado esforço a que ele pode ser submetido. As propriedades mecânicas mais importantes, utilizadas na indústria para a seleção de metais e ligas são as seguintes: – Resistência mecânica: é a propriedade apresentada pelo material em resistir a esforços externos, estáticos ou lentos. Tais esforços podem ser de natureza diversa, como sejam: tração, compressão, flexão, torção, cizalhamento. – Resiliência: é a maior ou menor reação do material às solicitações dinâmicas, isto é, a propriedade do material resistir a esforços externos dinâmicos (choques, pancadas, etc) sem sofrer ruptura. Logo, as molas são feitas de materiais de elevada resiliência. A resiliência é medida pela energia de impacto consumida para romper um corpo de prova padrão. – Dureza: é a resistência oferecida pelo material à penetração, ao desgaste, ao trabalho e ao atrito. Pode ser medida por comparação dos materiais entre si. Na indústria mede-se a dureza pela penetração de uma esfera com dimensões e carga padronizadas (Dureza Brinell). – Elasticidade: propriedade apresentada pelos materiais em recuperar a forma primitiva tão depressa cesse o esforço que tenha provocado a deformação. OBS.: Histeresis mecânica – é a propriedade do material que se relaciona com a resistência que ele apresenta às cargas cíclicas (oscilantes ou alternadas). Para estudar o comportamento de um material em face à fadiga podemos realizar de tempos em tempos um ensaio de histeresis mecânica, e ele nos mostrará que para a mesma tensão a deformação residual vai crescendo. VI.2 PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS São as que conferem ao material uma maior ou menor facilidade de se deixar trabalhar pelos processos de fabricação usuais. – Fusibilidade: é a propriedade que o material possui de passar do estado sólido para o líquido sob ação do calor. Ela é caracterizada pela temperatura de fusão. Todo metal é fusível, mas, para ser industrialmente fusível, é preciso que tenha um ponto de fusão relativamente baixo e que não sofra, durante o processo de fusão, oxidações profundas, nem alterações 44 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROCESSOS DE FABRICAÇÃO IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc na sua estrutura e homogeneidade. Na Tabela 2,estão relacionados os pontos de fusão dos principais materiais metálicos Tabela 2: Temperaturas de fusão dos principais materiais metálicos. Material Metálico Ponto de Fusão Ferro puro 1530°C Alumínio 650°C Aços 1300 a 1500°C Zinco 420°C Gusa e fofo 1150 a 1300°C Chumbo 330°C Cobre 1080°C Estanho 235°C – Plasticidade: é a propriedade que apresentam certos materiais de se deixarem deformar permanentemente assumindo diferentes tamanhos ou formas sem sofrerem rupturas, rachaduras ou fortes alterações de estrutura quando submetidos a pressões ou choques compatíveis com as suas propriedades mecânicas. A plasticidade
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