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Pá gi n a1 1 SEXUALIDADE ANORMAL E DISFUNÇÕES SEXUAIS SEXUALIDADE ANORMAL E DISFUNÇÕES SEXUAIS Pá gi n a2 2 Sumário NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 3 Introdução .................................................................................................................. 4 Sexualidade anormal................................................................................................. 6 Problemas despertados pela sexualidade ........................................................................... 7 Manuais de classificação de doenças ................................................................... 10 Classificação Internacional de Doenças – CID-11 .............................................................. 10 As disfunções sexuais na CID-11 .................................................................................... 11 Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - DSM 5 .................................... 12 As disfunções sexuais no DSM-5 ................................................................................... 14 Disfunções sexuais ................................................................................................. 15 Diagnóstico das disfunções sexuais .................................................................................. 17 Fatores que podem estar relacionados à disfunção sexual ............................................... 18 Disfunções sexuais femininas ............................................................................... 18 Disfunções sexuais masculinas ............................................................................ 21 Disfunções sexuais masculinas mais comuns .................................................................... 22 Disfunção erétil - impotência ........................................................................................ 22 Disfunções da ejaculação .............................................................................................. 23 Referências .............................................................................................................. 27 Pá gi n a3 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Pá gi n a4 4 Introdução Vimos em outro caderno que o comportamento sexual humano é diversificado e determinado por uma combinação de vários fatores tais como os relacionamentos do indivíduo com os outros, pelas próprias circunstâncias de vida e pela cultura na qual ele vive. Por isso é muito difícil conceituar o que é “normal” em termos da sexualidade. O que se pode afirmar em relação a isso é que a normalidade sexual está relacionada ao fato da sexualidade ser compartilhada de forma que o casal esteja de acordo com o que é feito, sem caráter destrutivo para o indivíduo ou para o parceiro e não afronta regras comuns da sociedade em que se vive. A anormalidade, por sua vez, pode ser definida quando há uma fixação em determinada forma de sexualidade ou em determinada pessoa, ou ainda quando a pessoa não consegue desfrutar de outras formas de prazer. Precisamos distinguir e reforçar novamente que por sexo se entende o exercício sexual praticado a partir de 2 seres, em busca de prazer ou reprodução e sexualidade é o impulso natural a todo ser vivo, que nos impulsiona na busca de um parceiro, visando a troca de energias sexuais. Não podemos nos furtar a apresentar os manuais de classificação de doenças, como o DSM-5 e a CID-11. Figura 1 – Manuais de classificação e diagnóstico de doenças Pá gi n a5 5 Para a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV), as disfunções sexuais se definiam pela presença de dor ou alguma alteração em uma ou mais das fases do ciclo linear de resposta sexual (desejo – excitação – orgasmo – resolução). Já na quinta edição desse manual, o DSM-5, publicada em 2013, as disfunções sexuais foram consideradas gênero-específicas, passando as dificuldades de desejo e de excitação da mulher a constituírem uma única disfunção (do interesse/ excitação sexual). Transtorno de dor genitopélvica à penetração também passou para uma só categoria, deixando de ser, respectivamente, dispareunia e vaginismo (como constavam no DSM-IV), porque, segundo os especialistas norte-americanos, são condições de difícil distinção (ABDO, 2014). Já a Classificação Internacional de Doenças (CID) é a ferramenta de diagnóstico padrão para epidemiologia, gestão da saúde e propósitos clínicos. Isso inclui a análise da situação geral de saúde dos grupos populacionais. É usado para monitorar a incidência e prevalência de doenças e outros problemas de saúde, fornecendo uma imagem da situação geral de saúde de países e populações. A saúde sexual encontra nos documentos da Organização Mundial de Saúde (OMS), instrumentos internacionais de direitos humanos que têm sido cada vez mais utilizados para apoiar e promover reivindicações legais de indivíduos e comunidades inteiras, para que os governos nacionais garantam o respeito, a proteção e o cumprimento de seus direitos de saúde sexual e reprodutiva (COOK et al., 2003 apud OPAS/OMS, 2020). Para a OMS, a saúde deve ser vista de forma holística e positiva e nesse sentido ela tem os seguintes elementos constitutivos: A saúde sexual é sobre bem-estar, não apenas a ausência de doença. A saúde sexual envolve respeito, segurança e liberdade de discriminação e violência. A saúde sexual depende do cumprimento de certos direitos humanos. A saúde sexual é relevante durante toda a vida útil do indivíduo, não apenas para aqueles em anos reprodutivos, mas também para jovens e idosos. Pá gi n a6 6 A saúde sexual é expressa através de diversas sexualidades e formas de expressão sexual. A saúde sexual é criticamente influenciada pelas normas de gênero, papéis, expectativas e dinâmica de poder. A saúde sexual precisa ser entendida dentro de contextos sociais, econômicos e políticos específicos. Pois bem, veremos as disfunções sexuais à luz dos manuais citados. Sexualidade anormal A anormalidade pode ser definida nas seguintes, mas não somente nestas situações: 1) Há uma fixação em determinada forma de sexualidade. 2) A pessoa não consegue desfrutar de outras formas de prazer, como, por exemplo, no voyeurismo em que só consegue obter prazer ao masturbar-se, observando pessoas sem o consentimento delas. 3) A pessoa não consegue ter relacionamento sexual com outras pessoas. O que deve ser lembrado é que a sexualidade humana envolve, além do ato sexual em si, outras atividades, como fantasias, pensamentos eróticos, carícias e masturbação. As fantasias sexuais são pensamentos representativos dos desejos sexuais mais ardentes de uma pessoa e tem a função de complementar e estimular a sexualidade, tanto da realização do ato sexual com um parceiro quanto da estimulação auto-erótica (masturbação). A masturbação também é componente normal da sexualidade, e consiste no toque de si mesmo, em áreas que dão prazer ao indivíduo (áreas erógenas), que incluem os genitais e/ou outras partes do corpo, com a finalidade de obter prazer. Pá gi n a7 7 No ser humano, as sensações sexuais despertadas, seja por fantasias, por masturbação ou pelo ato sexual em si, ocorrem numa sucessão de fases que estão interligadas entre si, que são chamadas de as fases da resposta sexual humana, que também já vimos. Problemas despertados pela sexualidade A sexualidade humana desperta problemas, tanto que durante uma reunião realizada em Antígua, Guatemala, em maio de 2000, um grupo de especialistas convocado pela Organização Pan-Americana da Saúde e pela OMS em colaboração com a Associação Mundial de Sexologia (WAS) compilou uma visão geral das preocupações e problemas sexuais que devem ser abordados para promover a saúde sexual (OPAS / OMS 2000). São eles: 1. Preocupações de saúde sexual relacionadas à integridade corporal e à segurança sexual Necessidade de comportamentos de promoção da saúde para identificação precoce de problemas sexuais (por exemplo, check-ups regulares e exames de saúde, autoexames de mama e testículos). Necessidade de liberdade de todas as formas de coerção e violência sexual (incluindo estupro, abuso e assédio sexual). Necessidade de liberdade contra mutilações corporais (por exemplo, mutilação genital feminina). Necessidade de liberdade de contratar ou transmitir doenças sexualmente transmissíveis - DSTs (incluindo HIV). Necessidade de redução das consequências sexuais de deficiências físicas ou mentais. Necessidade de redução do impacto na vida sexual de condições ou tratamentos médicos e cirúrgicos. Pá gi n a8 8 2. Preocupações de saúde sexual relacionadas ao erotismo Necessidade de conhecimento sobre o corpo, relacionado à resposta e ao prazer sexual. Necessidade de reconhecimento do valor do prazer sexual desfrutado ao longo da vida de maneiras seguras e responsáveis, dentro de uma estrutura de valores que respeite os direitos dos outros. Necessidade de promoção de relações sexuais praticadas de maneira segura e responsável. Necessidade de promover a prática e o gozo de relacionamentos consensuais, não exploradores, honestos e mutuamente prazerosos. 3. Preocupações de saúde sexual relacionadas ao gênero Necessidade de igualdade de gênero. Necessidade de liberdade de todas as formas de discriminação com base no gênero. Necessidade de respeito e aceitação das diferenças de gênero. Pá gi n a9 9 Figura 2 – Problemas sexuais 4. Preocupações de saúde sexual relacionadas à orientação sexual Necessidade de liberdade de discriminação com base na orientação sexual. Necessidade de liberdade para expressar orientação sexual de maneiras seguras e responsáveis, dentro de uma estrutura de valores que respeite os direitos dos outros. 5. Preocupações de saúde sexual relacionadas ao apego emocional Necessidade de liberdade de relacionamentos exploradores, coercitivos, violentos ou manipuladores. Necessidade de informações sobre escolhas ou opções e estilos de vida familiares. Necessidade de habilidades, como tomada de decisão, comunicação, assertividade e negociação, que melhoram os relacionamentos pessoais. Pá gi n a1 0 10 Necessidade de expressão respeitosa e responsável de amor e divórcio. 6. Preocupações de saúde sexual relacionadas à reprodução Precisa fazer escolhas informadas e responsáveis sobre a reprodução. Necessidade de tomar decisões e práticas responsáveis em relação ao comportamento reprodutivo, independentemente da idade, sexo e estado civil. Acesso a cuidados de saúde reprodutiva. Acesso à maternidade segura. Prevenção e cuidados com a infertilidade. Manuais de classificação de doenças Classificação Internacional de Doenças – CID-11 O manual conhecido como CID é a base para a identificação de tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo e o padrão internacional para relatar doenças e condições de saúde. É o padrão de classificação diagnóstica para todos os fins clínicos e de pesquisa. A CID define o universo de doenças, distúrbios, lesões e outras condições de saúde relacionadas, listadas de maneira abrangente e hierárquica que permite: a) Fácil armazenamento, recuperação e análise de informações de saúde para tomada de decisão baseada em evidências; b) Compartilhar e comparar informações de saúde entre hospitais, regiões, ambientes e países; e, c) Comparações de dados no mesmo local em períodos diferentes. Pá gi n a1 1 11 Os usos incluem o monitoramento da incidência e prevalência de doenças, a observação de reembolsos e tendências de alocação de recursos e o acompanhamento das diretrizes de segurança e qualidade. Eles também incluem a contagem de mortes, bem como doenças, lesões, sintomas, razões para o encontro, fatores que influenciam o estado de saúde e causas externas da doença. A primeira edição de classificação internacional, conhecida como Lista Internacional de Causas de Morte, foi adotada pelo Instituto Internacional de Estatística em 1893. A CID passa periodicamente por revisões, sendo que uma versão da CID-11 foi lançada em 18 de junho de 2018 para permitir que os Estados Membros se preparassem para a implementação, incluindo a tradução da CID para seus idiomas nacionais. A CID-11 foi submetida à Assembleia Mundial de Saúde e os Estados Membros concordaram em adotar a décima primeira revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, que entrará em vigor em 1º de janeiro de 2022. A CID-11 foi atualizada para o século 21 e reflete avanços substanciais em ciência e medicina. Pode estar bem integrada a aplicativos eletrônicos de saúde e sistemas de informação. Essa nova versão é totalmente eletrônica, permitindo que mais detalhes sejam gravados e é significativamente mais fácil de usar e implementar, o que levará a menos erros e custos mais baixos, além de tornar a ferramenta muito mais acessível, especialmente para configurações com poucos recursos (OPAS/BRASIL, 2020). As disfunções sexuais na CID-11 Dentre as mudanças, duas condições, até então classificadas dentro dos transtornos mentais e do comportamento, foram removidos dessa categoria e ganharam capítulos próprios. São eles o “transtorno do sono-vigília” (capítulo 7) e as “condições relativas à saúde sexual” (capítulo 17). As disfunções sexuais e a incongruência de gênero fazem agora parte deste novo capítulo, não mais sendo consideradas como distúrbios mentais. Pá gi n a1 2 12 Segundo Câmara (2018), com a criação de um capítulo sobre saúde sexual, a CID-11 iniciou uma revolução. A saúde, tradicionalmente dividida em física e mental, agora é tripartite, ou seja, temos agora, segundo a OMS, três modalidades de saúde: física, mental e sexual. A tradicional separação do humano em corpo e alma, agora se torna corpo, alma e sexualidade. Além da separação tradicional de corpo e mente, temos agora a sexualidade separada de corpo e mente. Prossegue a tradição que começou com Kant fragmentando o conhecimento em áreas que não necessariamente dialogam entre si. Não sei se os filósofos já perceberam isso, mas suscitará bons e esclarecedores debates. O novo capítulo “Condições relacionadas à saúde sexual” recebe condições antes incluídas no capítulo das doenças mentais. Por exemplo, a incongruência de gênero está agora alocada nesse capítulo, isto é, não é mais um transtorno mental e do comportamento, mas um transtorno da saúde sexual. Com isso, elimina-se a associação dessa condição com transtorno mental, que tanto estigmatizava as pessoas transgêneros. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - DSM 5 O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), da American Psychiatric Association (APA), é uma classificação de transtornos mentais e critérios associados elaborada para facilitar o estabelecimento de diagnósticos mais confiáveis desses transtornos. Com sucessivas edições ao longo dos últimos 60 anos, tornou-se uma referência para a prática clínica na área da saúde mental. Devido à impossibilidade de uma descrição completa dos processos patológicos subjacentes à maioria dos transtornos mentais, é importante enfatizar que os critérios diagnósticos atuais constituem a melhor descrição disponível de como os transtornos mentais se expressam e podem ser reconhecidos por clínicos treinados. O DSM se propõe a servir como um guia prático, funcional e flexível para organizar informações que podem auxiliar o diagnóstico preciso e o tratamento de transtornos mentais. Trata-se de uma ferramenta para clínicos, um recurso essencial Pá gi n a1 3 13 para a formação de estudantes e profissionais e uma referência para pesquisadores da área. Embora esta edição tenha sido elaborada, acima de tudo, como um guia para a prática clínica, tratando se de uma nomenclatura oficial, o Manual deve funcionar em uma ampla gama de contextos. O DSM tem sido utilizado por clínicos e pesquisadores de diferentes orientações (biológica, psicodinâmica, cognitiva, comportamental, interpessoal, familiar/sistêmica) que buscam uma linguagem comum para comunicar as características essenciais dos transtornos mentais apresentados por seus pacientes. As informações nele resumidas são úteis para todos os profissionais ligados aos diversos aspectos dos cuidados com a saúde mental, incluindo psiquiatras, outros médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, consultores, especialistas das áreas forense e legal, terapeutas ocupacionais e de reabilitação e outros profissionais da área da saúde. Os critérios são concisos e claros, e sua intenção é facilitar uma avaliação objetiva das apresentações de sintomas em diversos contextos clínicos - internação, ambulatório, hospital-dia, consultoria (interconsulta), clínica, consultório particular e atenção primária bem como em estudos epidemiológicos de base comunitária sobre transtornos mentais. O DSM-5 também é um instrumento para a coleta e a comunicação precisa de estatísticas de saúde pública sobre as taxas de morbidade e mortalidade dos transtornos mentais. Por fim, os critérios e o texto correspondente servem como livro-texto para estudantes que precisam de uma forma estruturada para compreender e diagnosticar transtornos mentais, bem como para profissionais experientes que encontram transtornos raros pela primeira vez. Felizmente, todos esses usos são compatíveis entre si. Frise-se que a classificação dos transtornos está harmonizada com a Classificação internacional de doenças (CID), da Organização Mundial da Saúde, o sistema oficial de codificação usado nos Estados Unidos, de forma que os critérios do DSM definem transtornos identificados pela denominação diagnostica e pela codificação alfanumérica da CID. Pá gi n a1 4 14 Embora o DSM-5 continue sendo uma classificação categórica de transtornos individuais, a APA reconhece que transtornos mentais nem sempre se encaixam totalmente dentro dos limites de um único transtorno (APA, 2015). As disfunções sexuais no DSM-5 Dentre as mudanças, completando as que falamos na introdução, quanto aos subtipos, as disfunções continuam sendo caracterizadas como: ao longo da vida (primárias) ou adquiridas (secundárias), e generalizadas (quando ocorrem em quaisquer circunstâncias) ou situacionais. Mas a intensidade do sofrimento (mínimo, moderado ou grave) agora também compõe a caracterização das disfunções e o contexto deve ser especificado: fatores relativos à parceria, ao relacionamento, à vulnerabilidade individual, à cultura, à religião e os de ordem médica devem ser relatados. Um mínimo de 6 meses de duração firmou-se como critério para o diagnóstico da disfunção sexual, no sentido de se evitarem “exageros” e se aumentar a precisão, diferenciando problemas transitórios de dificuldades persistentes e, portanto, patológicas. Quanto às questões relacionadas à incongruência de gênero, reunidas como transtorno de identidade de gênero no DSM-IV, uma nova denominação diagnóstica (menos estigmatizante) foi sugerida pelo DSM-5: a disforia de gênero, considerada uma multicategoria, pois engloba disforia em crianças, adolescentes e adultos. Os critérios A (identificação com o gênero oposto) e B (aversão em relação a um gênero) foram unificados, em razão de não haver evidências que justificassem mantê-los separados (ABDO, 2014). Em crianças, “forte desejo de pertencer ao outro gênero” substituiu o anterior “desejo expresso repetidamente” (do DSM-IV) para abarcar a condição de algumas crianças que, num ambiente coercitivo, não verbalizam esse desejo. O critério A1 para crianças, “forte desejo de ser do outro gênero ou a insistência de pertencer a outro gênero”, é necessário, mas não suficiente, para o diagnóstico, agora mais restritivo. Pá gi n a1 5 15 Uma ampla mudança foi proposta para as parafilias no DSM-5: parafilia não é, por si só, transtorno mental, devendo ser distinguida de transtorno parafílico. A parafilia passa a ser transtorno quando causa sofrimento ou prejuízo ao indivíduo. Também quando leva a danos pessoais ou risco de dano a outros. Portanto, parafilia é uma condição necessária, mas não suficiente para diagnóstico de transtorno parafílico e, consequentemente, não requer intervenção clínica automática. A distinção entre parafilia e transtorno parafílico não alterou as definições diagnósticas já estabelecidas, desde o DSM-III-R. No DSM-5, dois critérios se destacam: o critério A, que especifica a natureza da excitação parafílica (com peças íntimas de mulher, por exemplo, como no fetichismo) e o critério B, que aponta as consequências negativas (sofrimento psicológico, prejuízo em outras áreas da vida, risco de dano a outro). Se o indivíduo preenche o critério A, mas não preenche o B, não há transtorno parafílico, mas parafilia. Portanto, essa nova concepção aceita o comportamento sexual atípico, desde que consensual, como não patológico. Isso implica que os indivíduos envolvidos não sejam incapazes de dar seu consentimento (como crianças e deficientes mentais, por exemplo) (ABDO, 2014). Disfunções sexuais Enquanto de um lado temos a resposta sexual saudável como um conjunto de quatro etapas sucessivas: desejo, excitação, orgasmo e resolução, por outro, temos as disfunções sexuais que caracterizam-se por inibição, falta, excesso, desconforto e/ou dor na expressão e no desenvolvimento desse ciclo, o que afeta uma ou mais das fases deste. Quanto mais precocemente incidir o comprometimento desse ciclo, mais prejuízo acarretará à resposta sexual e mais complexos serão o quadro clínico e respectivos prognóstico e tratamento (ABDO, 2004). A disfunção sexual, portanto, implica alguma alteração, em uma ou mais das fases do ciclo de resposta sexual, ou dor associada ao ato, o que se manifesta de forma persistente ou recorrente. Ou seja, cada tipo de distúrbio pode ocorrer isoladamente ou em combinação desses fatores. O diagnóstico de disfunções sexuais é feito apenas quando esses distúrbios são uma parte importante do quadro clínico. Pode apresentar-se ao longo de toda a Pá gi n a1 6 16 vida ou ser adquirida - isto é, pode se desenvolver após um período de funcionamento normal. Ainda é possível que seja generalizada ou limitada a um parceiro específico ou a uma situação determinada. Os transtornos sexuais podem resultar ou ser causados por problemas de relacionamento, e os pacientes na maioria das vezes desenvolvem um medo crescente de fracasso e constrangimento com relação a seu desempenho sexual. Um transtorno sexual pode ser sintoma de problemas biológicos, conflitos intrapsíquicos, dificuldades interpessoais, ou de uma combinação desses fatores. A função sexual pode ser afetada por estresse de qualquer tipo, por transtornos emocionais ou por uma falta de conhecimento sexual. Segundo o portaleducação.com.br, ao considerar cada um dos transtornos, os clínicos precisam excluir condições médicas adquiridas e uso de substâncias farmacológicas que possam explicar ou contribuir para a disfunção. Em alguns casos, o paciente sofre de mais de uma disfunção - por exemplo, ejaculação precoce e transtorno erétil masculino. A Psiquiatra especialista em sexualidade humana pela USP, Kie Kojo ensina que as disfunções são classificadas em: a) Primária, quando ocorrem desde o início da vida sexual. b) Secundária, quando começam depois de um período de vida sexual satisfatória. c) Generalizada ocorre em qualquer situação e/ou com todos os parceiros. d) A situacional em uma determinada situação e/ou com um determinado parceiro. e) Orgânica, quando existe algum tipo de lesão física (como sequelas de cirurgias e sequelas do diabetes, etc.). f) Psicogênica, na ausência de lesão, provocada por problemas emocionais, sendo a mais comum. As disfunções tendem a ser mais graves quanto mais precoce for o bloqueio no ciclo de resposta sexual, composto por desejo, excitação, orgasmo e resolução. Pá gi n a1 7 17 De uma forma geral, o bloqueio do desejo é mais complexo de tratar do que o bloqueio do orgasmo (MONTEIRO, 2014). Diagnóstico das disfunções sexuais As disfunções sexuais muitas vezes deixam de ser diagnosticadas porque a pessoa não apresenta a queixa ou porque o profissional de saúde não aborda a questão, seja por sentir dificuldade em realizar essa abordagem, seja por não se sentir suficientemente preparado (BRASIL, 2013). O diagnóstico das disfunções sexuais é tão importante quanto a identificação de qualquer outro agravo à saúde e de suma relevância, uma vez que interferem na qualidade de vida das pessoas. Os dados da anamnese são fundamentais. Além disso, as condições do(a) parceiro(a) e o contexto da relação devem ser investigadas. Assim, um homem com ejaculação precoce pode conduzir sua parceira a se considerar anorgásmica, quando, de fato, a precocidade dele a impede de concluir o ciclo de resposta sexual com êxito (ABDO; FLEURY, 2006). Abdo e Fleury (2006) ressaltam que é importante fazer distinção entre disfunção primária (ao longo da vida) e secundária (adquirida), bem como entre disfunção generalizada, presente com qualquer parceria, e situacional, presente em determinadas circunstâncias e/ou parcerias. A maioria dos casos de disfunção sexual está relacionada a problemas psicológicos ou problemas no relacionamento. Mas podem também ser resultado de problemas orgânicos ou uso de certas substâncias, como drogas, remédios ou exposição a toxinas. Há de se considerar, ainda, as situações apresentadas por pessoas com deficiência, a serem analisadas caso a caso, por envolverem múltiplas facetas. Pá gi n a1 8 18 Fatores que podem estar relacionados à disfunção sexual Vamos frisar alguns fatores que podem estar relacionados às disfunções sexuais: a) Aspectos psicológicos: tabus sobre a própria sexualidade, como: associações de sexo com pecado, com desobediência ou com punições; baixa autoestima; fobias relacionadas ao ato sexual; a não aceitação da própria orientação sexual, entre outros. b) Dificuldades nos relacionamentos: brigas, desentendimentos quanto ao que cada um espera do relacionamento; falta de intimidade; dificuldades de comunicação entre os parceiros. c) Questões decorrentes de traumas: devido a violências. d) Condição geral de saúde: presença de disfunção sexual decorrente dos efeitos diretos de uma doença, como: depressão, ansiedade, doenças crônico-degenerativas graves, entre outras. e) Efeitos diretos de uma substância: medicamentos – alguns anti-hipertensivos, alguns antiarrítmicos, alguns psicotrópicos, anabolizantes, álcool e outras drogas, exposição a toxinas, entre outros. Geralmente, ocorre dentro de um período de intoxicação significativa ou abstinência de uma substância (BRASIL, 2013). Disfunções sexuais femininas Disfunção sexual feminina é entendida como o comprometimento do desejo e da excitação sexual, do orgasmo e/ou dor sexual que provoquem desconforto pessoal significativo. Estas disfunções costumam acentuar-se com a idade, afetam de 20% a 50% das mulheres e podem causar impacto considerável na qualidade de vida e nos relacionamentos interpessoais. Mulheres que procuram atendimento especializado Pá gi n a1 9 19 devido a disfunções sexuais costumam apresentar instabilidade do humor e baixa autoestima. Adicionalmente, tendem a ser mais ansiosas e introvertidas, quando comparadas a mulheres com funcionamento sexual normal (HARTMANN et al, 2002 apud MARQUES; CHEDID; ELZERIK, 2008). Tradicionalmente, disfunções sexuais em mulheres eram atribuídas somente a fatores psicológicos, porém recentes pesquisas têm demonstrado várias causas biológicas, psicossociais e físicas para estes problemas, entre as quais constam: 1) Dificuldades na comunicação com o parceiro; 2) Ansiedade e depressão; 3) Sentimento de culpa e vergonha em relação ao sexo; 4) Medo de sentir dor, de contrair infecções ou de engravidar; 5) História de abuso sexual; 6) Falta de estimulação adequada; 7) Falta de lubrificação; 8) Mudanças corporais e/ou orgânicas relacionadas à menopausa; 9) Danos neurológicos devidos a cirurgia ou trauma; 10) Drogas; 11) Doenças infecciosas do trato genital. A sexualidade feminina também deve ser considerada no contexto em que um casal está inserido. Costumes sociais da sua comunidade, aspectos culturais e religião determinam seus conceitos de saúde e realização sexual. O desejo sexual hipoativo é a mais comum das disfunções sexuais femininas, e consiste na diminuição ou ausência de interesses e de fantasias sexuais. Não existe nenhuma motivação para que o ato sexual aconteça. Trataremos em detalhes em caderno específico. Pá gi n a2 0 20 Anote aí: Pouco ou nenhum desejo espontâneo, mas resposta sexual com desejo, desejo espontâneo e resposta sexual mas discrepância no grau de desejo entre a mulher e o parceiro e diminuição da excitação sexual fisiológica relacionada com a menopausa são exemplos não de disfunção sexual, mas de variação normal da resposta sexual, pelo que a sua distinção é importante (SANTOS; OLIVEIRA, 2015). A disfunção de excitação consiste na ausência ou marcada redução da excitação (sentimentos relacionados à excitação sexual, à sensação de prazer) e de lubrificação vaginal frente a qualquer tipo de estímulo. A disfunção do orgasmo (anorgasmia) ocorre quando há desde a diminuição de intensidade do orgasmo até sua ausência na vigência de um estímulo adequado. De acordo com Santos e Oliveira (2015), a disfunção do orgasmo inclui um atraso marcado no atingimento do orgasmo ou orgasmo ausente/pouco frequente ou menos intenso durante pelo menos seis meses em 75 a 100% das relações sexuais. Esta disfunção pode existir desde sempre (primária) ou ser adquirida (secundária). A anorgasmia primária é sugestiva de que a paciente não está familiarizada nem confortável com a autoestimulação ou com a comunicação sexual com o parceiro ou, ainda, por falta de educação sexual adequada. Atraso ou diminuição da intensidade do orgasmo pode estar relacionada com a diminuição do fluxo sanguíneo genital ou a diminuição da sensibilidade genital, consequência do envelhecimento, e não é considerado como disfunção sexual. O médico deve determinar se as dificuldades no orgasmo ocorrem apenas com determinados tipos de estimulação, situação ou parceiro. Se a paciente referir dificuldade na relação sexual com o parceiro, mas não na autoestimulação, pode ser resultado de estimulação sexual inadequada. As disfunções sexuais femininas não vinculadas ao ciclo de resposta sexual, mas sim relacionadas ao elemento “dor”, são a dispareunia e o vaginismo: Dispareunia é a dor no intercurso sexual, geralmente com causas orgânicas como vulvovaginite, bartholinite, vestibulite vulvar, cistite intersticial, sequelas Pá gi n a2 1 21 de partos transpélvicos traumáticos, endometriose, hipoestrogenismo, doenças dermatológicas, como líquen, e doenças sexualmente transmissíveis, como HPV e Chlamydia. Embora a dor seja mais frequente durante o ato sexual, também pode ocorrer antes ou após o intercurso da relação sexual. O vaginismo é caracterizado por um espasmo involuntário da musculatura paravaginal à simples menção ou tentativa de coito, de origem psicogênica, que causa impedimento total ou parcial à penetração. A penetração pode tornar-se impossível ou extremamente dolorosa (MARQUES; CHEDID; ELZERIK, 2008). Disfunções sexuais masculinas Muitos homens estão vulneráveis a apresentar disfunções sexuais devido à ignorância, inibições, expectativas supradimensionadas e ansiedade de desempenho. Laumann, Paik; Rosen (1999), analisaram uma coorte de homens jovens entre 18 e 59 anos e observaram que 31% deles sofriam de alguma disfunção sexual. Em comparação com as mulheres, os homens com disfunção sexual parecem ter mais dificuldade para buscar ajuda, pelo estigma de serem menos potentes e pelo constrangimento em exporem sua intimidade (ALTHOF, 2006). Quando finalmente o fazem, existem grandes barreiras na comunicação entre o paciente e o profissional. Também por insegurança, muitas vezes surge descrença do paciente na efetividade do tratamento, desmotivando-o a continuar o acompanhamento médico (CONSENSO BRASILEIRO DE DISFUNÇÃO ERÉTIL, 1998). Segundo estudos de Marques, Chedid e Elzerik (2008), é difícil identificar a etiologia e os fatores desencadeantes e mantenedores das disfunções sexuais masculinas ouvindo somente um dos cônjuges. Obter a história dos respectivos parceiros colabora bastante para a identificação de três fatores que contribuem para sua ocorrência: 1) Fatores predisponentes (criação rígida, questões relacionais, experiências sexuais traumáticas), que podem tornar um homem mais suscetível a apresentar alguma disfunção sexual; Pá gi n a2 2 22 2) Fatores precipitantes (disfunção da parceria, depressão, ansiedade), que podem ter desencadeado o problema em questão; 4) Fatores mantenedores (ansiedade de desempenho, discórdias na relação, medo de intimidade, baixa autoestima, comunicação pobre), que podem manter o problema. Disfunções sexuais masculinas mais comuns As disfunções sexuais masculinas mais comuns são: a disfunção erétil (impotência) e a ejaculação precoce. Disfunção erétil - impotência A disfunção erétil conhecida como impotência, consiste na incapacidade em obter ou manter uma ereção que permita manter uma relação sexual, ou seja, o homem não consegue que seu pênis fique e permaneça duro e assim consiga ter relação sexual com penetração, ou seja, uma ereção suficiente para uma função sexual satisfatória (CAVALCANTI; SERRANO; LOPES, 2005). As causas mais comuns são: a) Doenças como diabetes, pressão alta e colesterol alto. b) Traumas ou acidentes envolvendo a medula espinhal ou o próprio pênis. c) O fumo, uso de drogas e alguns medicamentos (principalmente aqueles usados para tratamento de problemas do coração). d) Abuso de álcool. e) Causas psicológica (medo ou tabus em relação à sexualidade. O paciente poderá ser encaminhado ao urologista (especialista que trata esses casos), onde certos exames podem ser feitos para descobrir a causa da impotência. Pá gi n a2 3 23 O tratamento dependerá da causa. Para alguns casos de impotência existem medicamentos ou injeções intrapenianas, que deverão ser usados apenas com prescrição médica, pois são indicados para casos específicos. Próteses penianas ficariam como última opção, pois uma vez colocadas não há como retirá-las, e são indicadas apenas quando nenhuma outra opção funcionou. É importante reforçar que muitas vezes fatores psicológicos podem causar disfunção erétil. Conversar sobre esses conflitos internos com psicólogo ou psiquiatra podem resolver o problema sem ser necessário outros tipos de tratamento (KOCH; ROSA, 2019). Disfunções da ejaculação As disfunções da ejaculação são divididas em quatro grupos: ejaculação precoce, ejaculação retardada, ejaculação retrógrada e ausência de ejaculação (anorgasmia masculina). a)Ejaculação precoce Segundo a Academia Internacional de Sexologia Médica, a ejaculação precoce é uma condição persistente ou recorrente na qual o homem não consegue perceber e/ou controlar as sensações proprioceptivas que precedem o reflexo ejaculatório, provocando constrangimento pessoal e perturbando o relacionamento com a parceira, ou seja, o homem não tem controle sobre sua ejaculação, não conseguindo segurá-la até o final do ato sexual, o que leva a uma redução na sensação de prazer. Assim, a ejaculação pode ocorrer logo que o homem tem pensamentos eróticos e ereção, sem nem ocorrer a penetração, ou ainda logo após haver a penetração. A ejaculação precoce pode ser decorrente de causas físicas (doenças, traumatismos) ou mais comumente de problemas psicológicos. Quando o homem nunca teve controle ejaculatório, o mais comum é que seja por causas psicológicas (como ansiedade, primeiras experiências sexuais tensas ou ainda dificuldades no relacionamento do casal). Mas quando o homem tinha controle ejaculatório e passou Pá gi n a2 4 24 a não ter mais, é necessário fazer exames com um urologista e neurologista, pois mais provavelmente a causa do problema é física. O tratamento depende da causa: tratamentos específicos para as doenças encontradas ou lesões diagnosticadas, feitos pelo urologista ou neurologista; ou psicoterapia (tratamento psicológico) para os problemas psicológicos, com psicólogo ou psiquiatra (KOCH; ROSA, 2019). b)Ejaculação retardada - ER Ejaculação retardada é a persistente dificuldade ou inabilidade de ejacular, apesar de adequado estímulo, desejo e ereção. O homem relata dificuldade de ejacular apesar da presença de estimulação sexual adequada, da ereção peniana e do desejo de ejacular. Por definição, esta condição deve persistir por um período mínimo de aproximadamente seis meses. A condição é considerada um problema se provoca angústia significativa para o paciente ou parceira. Na maioria dos casos, o diagnóstico é feito por autorrelato do indivíduo. De todas as disfunções sexuais masculinas, ER é o menos compreendido, menos comum e menos estudado. Esta condição pode ser vitalícia (primária) ou adquirida (secundária). Também pode ser global, isto é, ocorrendo em todos os cenários sexuais ou situacionais, ocorrendo apenas em cenários sexuais específicos (por exemplo, com a parceira, mas não com a masturbação, ou com outra parceira). A ER demonstrou estar associada a uma redução significativa na qualidade de vida relacionada à saúde, bem como da autoestima, levando à ansiedade e depressão e tem sido associada à diminuição da satisfação sexual e à insatisfação e discordância na relação. Os fatores etiológicos propostos incluem muitos fatores médicos, psicológicos e de estilo de vida. A ER não é fácil de tratar porque é mal compreendida. O tratamento deve ser específico da etiologia, podendo incluir a terapia psicossexual do paciente e seu parceiro, terapia medicamentosa ou tratamento integrado. O tratamento com fármaco de ER inclui muitos agentes com vários graus de sucesso. Atualmente, nenhum fármaco foi aprovado pela FDA para ER. Várias drogas são Pá gi n a2 5 25 utilizadas para este fim, mas nenhuma é específica ao problema. Nenhuma droga foi aprovada pelas agências reguladoras para esta indicação. Em um estudo recente para avaliar a opinião atual e o manejo clínico de ER pelos membros da Sociedade de Medicina Sexual da América do Norte (SMSNA), cabergolina e bupropiona foram os tratamentos de primeira linha mais comumente selecionados. Há um consenso de que ER ainda é uma desordem pouco compreendida com padrões inconsistentes de prática médica 9BERTERO, 2017). c)Ejaculação retrógrada A ejaculação retrógrada ocorre quando o sêmen é direcionado retrogradamente para a bexiga, em vez de ser expulso pelo meato uretral. Está associada a anormalidades estruturais do colo da bexiga (tais como operações da próstata e do colo vesical), a traumas uretrais ocasionados por fratura pélvica e à ação de medicamentos. A incidência de ejaculação retrógrada após cirurgias no colo vesical na infância é de 5 a 15%. Entretanto, o risco é muito maior quando realizada na vida adulta, com cirurgias na próstata, evitando a ejaculação anterógrada em até 70% dos casos. Por outro lado, as medicações (alfabloqueadores) utilizadas para tratamento da obstrução do fluxo urinário, induzem ejaculação retrógrada, sendo seus efeitos reversíveis após a suspensão da medicação. Causas neurológicas não são incomuns, especialmente em pacientes diabéticos. Nestes homens o início é frequentemente gradual e alguns relatos sugerem que até 50% dos homens podem ser eventualmente afetados. Pacientes com lesão da medula espinhal ou outras doenças neurológicas (por exemplo: esclerose múltipla, síndrome de Guillain-Barré) também podem ser afetados. Causas obstrutivas não são vistas atualmente com frequência e são usualmente devidas a estreitamento uretral ou do meato (BERTERO, 2017). Pá gi n a2 6 26 d)Anajaculação A anejaculação ou ausência de ejaculado ocorre quando estão presentes as sensações orgásmicas normais, entretanto sem haver a expulsão do sêmen (situações em que o sêmen não é produzido ou quando os canais que conduzem o fluido seminal do testículo ao pênis estão ocluídos). Grandes cirurgias abdominais podem causar danos aos nervos e determinar a falta de ejaculação. Na realização de cirurgias para câncer, tais danos podem ser inevitáveis, mas, quando possível, todo cuidado deve ser tomado para preservar os nervos. Cirurgias vasculares e de remoção dos linfonodos retroperitoniais também são propensas a causar tais problemas. Prostatectomia radical (para câncer de próstata) quase que invariavelmente resulta em perda da ejaculação, apesar das secreções das glândulas parauretrais poderem provocar pequenas emissões (BERTERO, 2017). Alguns devem estar se perguntando pelos transtornos como parafilia, voyeurismo, cropofilia e outros...pois bem, vamos trata-los no módulo de Transtorno do Desejo Sexual. Pá gi n a2 7 27 Referências ABDO, C.H.N. Descobrimento Sexual do Brasil. São Paulo: Summus, 2004 ABDO, C.H.N. Uma nova revolução sexual. Einstein (São Paulo), vol.12, n.2, São Paulo, Apr./June, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1679- 45082014000200011&script=sci_arttext&tlng=pt#:~:text=J%C3%A1%20na%20quint a%20edi%C3%A7%C3%A3o%20desse,do%20interesse%2F%20excita%C3%A7%C 3%A3o%20sexual). ABDO, C.H.N.; FLEURY, H.J. 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