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40 Coleção Estudo e inquietação na opinião pública mundial. Na verdade, o Pacto era um acordo secreto de divisão da Polônia, uma vez que Hitler tinha interesses no país e não estava, naquele momento, querendo um conflito com Stálin, que também se interessava pelo território polonês. Vale lembrar que a formação da Polônia havia se dado no final da Primeira Guerra a partir de fragmentos dos territórios alemão e russo. Dessa forma, os envolvidos no Pacto Germano-Soviético se sentiam no direito de retomar a porção territorial que havia lhes pertencido. Depois do Pacto com os soviéticos, portanto, Hitler se sentiu à vontade para invadir a Polônia, em 1º de setembro de 1939, provocando a reação da Inglaterra e da França, que exigiram a retirada das tropas alemãs do país. Com a recusa alemã, os dois países declararam guerra à Alemanha no dia 3 de setembro de 1939, fato que desencadeou um novo conflito mundial. FASES DA GUERRA Entre 1939 e 1941 – período caracterizado como a primeira fase da Guerra –, houve a expansão do Eixo; a Itália dominou a Grécia e a Albânia, e o Japão concretizou sua dominação sobre a China. Já a Alemanha conseguiu dominar o norte da França em 1940, passando pela Holanda e Bélgica, contornando a linha Maginot: conjunto de fortificações construídas pelos franceses para impedir um ataque alemão. Na metade sul, por sua vez, formou-se um governo colaboracionista conhecido como governo de Vichy, liderado pelo marechal Pétain, enquanto a resistência francesa foi comandada na Inglaterra pelo general Charles de Gaulle, que mais tarde se tornou presidente da França. Ainda na primeira fase da guerra, os alemães atacaram a Inglaterra; a força aérea da Alemanha, a Luftwaffe, atacava Londres praticamente todos os dias. Foi fundamental para a resistência da Inglaterra a Real Força Aérea Britânica (RAF). Para auxiliar os italianos no norte da África e dificultar o transporte de petróleo do Oriente Médio para a Inglaterra, Hitler ainda deslocou tropas alemãs para a região, os Afrikakorps, comandadas pelo general Erwin Rommel. Se inicialmente os fascistas dominaram as ações bélicas, nos cinco últimos anos da Guerra, ou seja, entre 1941 e 1945, ocorreu a contenção e a derrota do Eixo. Necessitando de petróleo e de aço – já que a Guerra se prolongava além do esperado –, Hitler rompeu o Pacto Nazi-Soviético e atacou a União Soviética no dia 22 de junho de 1941, adotando um discurso anticomunista. Tal atitude unilateral provocou a mudança dos rumos da Guerra, afinal, a União Soviética aderiu aos Aliados, levando Hitler a enfrentar duas frentes de batalha. No dia 7 de dezembro de 1941, foi a vez de os japoneses atacarem a base naval estadunidense de Pearl Harbor, no Oceano Pacífico (Havaí), fato que o presidente Roosevelt chamou de Dia da Infâmia. O principal motivo dos ataques nipônicos foi a disputa pela hegemonia do Pacífico travada entre os EUA e o Japão. É importante ressaltar, também, que, desde a invasão da China pelo Japão, o governo dos Estados Unidos já havia bloqueado todos os investimentos japoneses no país, além de declarar apoio ao governo chinês através da venda de armas e da concessão de empréstimos. Após os incidentes de Pearl Harbor, os Estados Unidos romperam a neutralidade e entraram na Guerra, favorecendo a mundialização do conflito. Hitler, confiando que os japoneses iriam conter os estadunidenses no Pacífico, declarou guerra aos Estados Unidos, que, lançando mão do seu poderio militar, foram capazes de, a partir de 1943, impor derrotas aos japoneses no Pacífico e, ao mesmo tempo, atuar decisivamente na frente europeia. U . S . N av y / C re at iv e C o m m o n s Fotografia dos estragos causados pelos ataques japoneses à base norte-americana de Pearl Harbor. Em 1942, os alemães sofreram, na África, sucessivas derrotas para os Aliados, que libertaram o norte do continente e ainda invadiram a Itália em junho de 1943. A ação dos Aliados fez com que Mussolini se refugiasse no norte da Itália e fundasse a República Social Italiana em setembro do mesmo ano, situação que demonstrou o enfraquecimento do Eixo. No dia 28 de abril de 1945, quando tentava fugir para a Suíça, Mussolini foi preso e fuzilado pela população. Após as ações frustradas na Itália, os alemães, que perderam um importante aliado, tiveram de optar por uma das duas frentes de batalha, e a escolha recaiu sobre a União Soviética, na chamada Operação Barbarossa. Na frente oriental, os alemães se direcionaram para conquistar cidades estratégicas, em especial Stalingrado, acreditando que a derrota dessa cidade iria enfraquecer o espírito de luta russo e, logo, Frente A Módulo 25 H IS TÓ R IA 41Editora Bernoulli a resistência vinda do oriente. A batalha russa, entretanto, se fez tenaz e, em fevereiro de 1943, após um inverno com temperaturas inferiores a 20 graus negativos, o 6º Exército alemão se rendeu e começou a se retirar do território russo. A vitória dos soviéticos na Batalha de Stalingrado levou os Aliados a se unirem à União Soviética durante a Conferência de Teerã. O Exército russo empurrava os alemães de volta ao seu território e, ao passar pelo Leste Europeu, libertava a região do domínio nazista. Dessa forma, os soviéticos foram implantando governos pró-socialistas, formando mais tarde a chamada Cortina de Ferro. Dois casos devem ser ressaltados: o primeiro é o da Hungria, que até a Segunda Guerra tinha um regime fascista e era aliada da Alemanha. Quando os soviéticos ocuparam o país, não foram vistos como libertadores, e sim como dominadores, o que pode ser percebido na Revolta Húngara de 1956. O outro é o da a Iugoslávia, que, liderada por Tito, conseguiu se livrar do domínio nazista sem a ajuda soviética, tanto que, ao final da Segunda Guerra, o país implantou o regime socialista, mas sem se submeter às diretrizes de Moscou, sendo inclusive o único país socialista a receber ajuda do Plano Marshall. A resistência dos Aliados também ocorreu na frente ocidental, possibilitando que, no dia 6 de junho de 1944, ocorresse o desembarque de tropas aliadas na Normandia, norte da França. O Dia D, como ficou conhecido esse episódio, significou o início da libertação da França do domínio alemão. Em fevereiro de 1945, antes mesmo do fim da Guerra, os Três Grandes (Roosevelt, dos EUA, Stálin, da URSS, e Churchill, da Inglaterra) se reuniram na Conferência de Yalta, na Crimeia, para dividir o mundo em áreas de influência. As decisões tomadas durante as reuniões foram confirmadas posteriormente na Conferência de Potsdam (1945), com a decisão de dividir a Alemanha em quatro áreas de influência, de criar o Tribunal de Nuremberg, para julgar crimes de guerra dos nazistas, entre outras medidas. U . S . S ig n al C o rp s / C re at iv e C o m m o n s Churchill, Roosevelt e Stálin reunidos na Conferência de Yalta. Aproveitando-se do enfraquecimento alemão, os soviéticos cercaram Berlim, o que fez com que Hitler cometesse suicídio em seu bunker no dia 30 de abril. No dia 2 de maio de 1945, as tropas alemãs, claramente desorientadas diante da ausência do Führer, renderam-se aos Aliados. Restava ainda o Japão, que, apesar da derrota iminente, resistia através das ações dos kamikazes, pilotos suicidas que atiravam seus aviões contra os alvos inimigos. Nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Entre os objetivos da utilização dessas bombas, destacam-se a aniquilação da resistência japonesa e a intimidação à União Soviética. No dia 2 de setembro de 1945, o Japão se rendeu, marcando, assim, o fim do mais violento conflito da história da humanidade. Sabendo do desfecho do conflito, pode-se enumerar um conjunto de erros de ordem política e estratégicaque determinaram a derrota do Eixo. Hitler não acreditava na união de seus inimigos, para ele, era possível vencê-los um a um. Outro erro teria sido a confiança exagerada que Hitler depositou nos seus aliados, considerando sua capacidade de resistir a uma guerra ampla e duradoura. Dessa forma, mesmo com o sucesso inicial da máquina de guerra alemã, o Eixo não pôde resistir ao tradicionalismo industrial da Inglaterra e sua capacidade de mobilizar homens e recursos vindos do seu sistema colonial. As potências capitalistas, incluindo a Alemanha, por sua vez, subestimaram o poderio industrial e social da União Soviética, que acabou se tornando fundamental na derrota alemã. Finalmente, vale a pena apontar o potencial bélico dos Estados Unidos da América e sua decisão de intervir no conflito, que, também subestimados pela Alemanha nazista, foram fundamentais para a determinação do resultado da Guerra. MUNDO PÓS-GUERRA Para garantir a paz mundial e impedir novos conflitos, representantes de 50 países se reuniram nos Estados Unidos em 26 de junho de 1945 e assinaram a Carta de São Francisco, documento que criava a Organização das Nações Unidas (ONU). Além da pacificação mundial, os objetivos traçados pelas Nações Unidas eram garantir o direito de autodeterminação dos povos e desenvolver a cooperação entre eles na busca de soluções para problemas de ordem econômica, social, cultural e humanitária. Segunda Guerra Mundial 42 Coleção Estudo O principal organismo da instituição, que atua ainda hoje, é o Conselho de Segurança, formado por cinco membros permanentes e dez com mandato de dois anos. Os cinco membros permanentes escolhidos foram os Estados Unidos, a União Soviética (hoje Rússia), a Inglaterra, a França e Formosa, até 1971, quando foi substituída pela China socialista. A importância dos membros permanentes está no fato de que eles têm o direito de veto – qualquer decisão da Assembleia Geral, formada por todos os países-membros da ONU, pode ser vetada por um dos membros permanentes. Nota-se, portanto, que a composição do Conselho de Segurança reflete a organização mundial após o término do conflito, afinal, os países mais influentes que compunham o bloco dos Aliados tornaram-se membros permanentes e dotados de um estatuto diferenciado frente aos demais. Apesar do início dos trabalhos da ONU, o mundo Pós-Guerra não foi caracterizado pela paz. Estadunidenses e soviéticos protagonizaram a bipolarização mundial, formando blocos antagônicos que disputavam áreas de influência entre si. A Guerra Fria foi, portanto, uma disputa pela hegemonia mundial entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco socialista, liderado pela URSS. Assim, a Europa deixava de ser o centro das decisões mundiais para se tornar mais uma área de influência dessas duas superpotências. A Europa após a Segunda Guerra Mundial ISLÂNDIA NORUEGA SUÉCIA FINLÂNDIA UNIÃO SOVIÉTICA DINAMARCAIRLANDA GRÃ- BRETANHA HOLANDA REP. FED. DA ALEMANHA REP. DEM. ALEMÃ POLÔNIA ROMÊNIA BULGÁRIA HUNGRIAÁUSTRIASUÍÇA ITÁLIA FRANÇA IUGOSLÁVIA ALBÂNIA PORTUGAL GRÉCIA TURQUIA (parte europeia) ÁSIA ÁFRICA OCEANO ATLÂNTICO MAR MEDITERRÂNEO MAR JÔNICO MAR EGEU MAR TIRRENO MAR NEGRO M AR B ÁL TI COMAR DO NORTE M AR ADRIÁTICO MAR B RA N C O Creta Sicilia Sardenha Córsega ESPANHA LUXEMBURGO BÉLGICA TCHECOSLOVÁQUIA N 0 700 km PAZZINATO, Alceu; SENISE, Maria Helena. História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Ática, 2002. p. 286 (Adaptação). Além das consequências geopolíticas, o término do conflito trouxe à tona os horrores da brutal política antissemita implementada pelo nazismo alemão. À medida que os Aliados encurralavam as tropas germânicas, foram sendo expostos os crimes cometidos pela “solução final” nazista, que havia criado uma indústria da morte nos campos de concentração, matando milhões de pessoas de diversas etnias, em especial os judeus. Vale lembrar também a morte de milhões de soldados europeus que, envolvidos em um discurso nacionalista, dedicaram-se à Guerra até o fim. Finalmente, vale ressaltar que a Guerra, em meio a todo horror e sofrimento causados, trouxe grande desenvolvimento tecnológico em áreas como aviação, tecnologia aeroespacial, medicina e comunicação. Os avanços nas ciências foram tão importantes que, nos primeiros cinquenta anos do século XX, a humanidade passou por desenvolvimentos maiores que em qualquer outro período da História. O ano de 1945 foi um divisor de águas nas ciências, sendo que o homem pós-45 teve dificuldades em se adaptar à velocidade das transformações do mundo em que vivia. REFLEXOS NO BRASIL O Brasil participou da Segunda Guerra a partir de 1943, com a Força Expedicionária Brasileira, composta dos chamados pracinhas. Em 1942, depois que alguns navios brasileiros foram afundados pelos alemães e com as pressões dos Estados Unidos, que temiam a influência fascista no governo brasileiro, Vargas declarou guerra ao Eixo. Além dos motivos citados, a entrada no conflito representava para Vargas a desculpa necessária para sua permanência no poder, uma vez que ele se mantinha no governo através de uma ditadura inconstitucional. A Segunda Guerra teve dois reflexos importantes no Brasil, um de ordem econômica e outro de ordem política. No primeiro, houve um grande desenvolvimento na economia brasileira, pois, durante a Guerra, o Brasil forneceu matéria-prima, alimentos e tecidos para os Aliados. O principal exemplo de produto fornecido foi o minério de ferro, fundamental para a fabricação de aço. No plano político, o elemento mais importante da Guerra foi mostrar as contradições do Governo Vargas, de cunho ditatorial e de tendência fascista, mas que declarou guerra a regimes fascistas europeus, lutando por democracia e liberdade, elementos inexistentes dentro do país. Frente A Módulo 25