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PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL AULA 4 Profª Elisângela Gonçalves Branco Gusi A luno: C A M ILA D O S S A N T O S D E A R A Ú JO E m ail: km ilinha_araujo@ hotm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Vamos conhecer sobre os elementos básicos psicomotores? Você sabia que esses elementos são bases do desenvolvimento para várias aprendizagens? Como das letras, por exemplo. Os elementos básicos nos dão subsídios para o entendimento sobre o espaço, nossos limites, sobre nosso corpo, nossas percepções quanto ao tempo, corpo e espaço. Esse desenvolvimento psicomotor se constitui desde o nascimento até os 14 anos, incluindo etapas que integram fatores de força, precisão e rapidez. São quatro elementos de base: esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial e orientação temporal. ELEMENTOS BÁSICOS PSICOMOTORES “A criança é o seu corpo” (Fonseca, 2008. p. 26), assim se faz pela via de estudos que comporta a estrutura da criança nas obras de Julian Ajuriaguerra, médico e autor de pesquisas e publicações de extrema relevância para a psicomotricidade, neurofisiologia e neuropatologia. A imagem do corpo, “expressão original de Schilder” (citado por Fonseca, 2008. p. 426), considera a noção neurofisiológica, entendida como a imagem mental do corpo. Assim como destacamos sobre o esquema corporal anteriormente, a imagem do corpo é a expressão da história psicomotora, sendo esta motora, afetiva e cognitiva, tem continuamente seu desenvolvimento de estruturação e reestruturação a partir da inter-relação entre as áreas libidinais, fisiológicas e sociológicas. Para Ajuriaguerra, é a tomada de consciência do corpo a partir do vivenciado. A tomada de consciência do corpo se dá a partir dos elementos cinestésicos, visuais, vestibulares, táteis, libidinais e sociais. Dessa maneira, revelam-se componentes, chamados por Ajuriaguerra de somatognosia. Resumidamente, esses elementos constituem a totalidade psicomotora da criança (Fonseca, 2008). Françoise Dolto (2015, p. 14), psicanalista, define a distinção entre imagem do corpo e esquema corporal com muita clareza: Se o esquema corporal é, em princípio, o mesmo para todos os indivíduos (aproximadamente da mesma idade, sob um mesmo clima) da espécie humana, a imagem do corpo, em contrapartida, é peculiar a cada um: está ligada ao sujeito e à sua história. Ela é específica de uma libido em situação, de um tipo de relação libidinal. Daí resulta que o esquema corporal é, em parte, inconsciente, mas também preconsciente, e somente quando se associa à linguagem consciente, A luno: C A M ILA D O S S A N T O S D E A R A Ú JO E m ail: km ilinha_araujo@ hotm ail.com 3 que utiliza de metáforas e metonímias referidas à imagem do corpo, tanto nas mímicas “linguageiras” quanto na linguagem verbal. Para Dolto (2015, p. 14), a imagem do corpo “é a síntese viva de nossas experiências emocionais”. Essa diferenciação explica a relevância do esquema corporal, espacial, temporal e seu desenvolvimento para as crianças, pois a imagem do corpo se dará a partir da concretização e evolução deles, podendo ser de amplitude bem-sucedida ou deficitária, neste caso, acarretará mal enquadramento no campo escolar. A escola pode potencializar essa estruturação, entretanto, é necessário ter clareza sobre os aspectos psicomotores e emocionais, formação da personalidade e capacidade de decodificar as ações das crianças, para, então, atuar de forma segura e certeira frente as necessidades latentes. Seguramente, a prática psicomotora relacional fornece elementos que indicam os caminhos, a partir da decodificação das ações manifestas durante as sessões. As condutas psicomotoras podem ser divididas em três grandes áreas, responsáveis pelo enquadramento do desenvolvimento psicomotor global. A primeira delas é conduta motora de base e apresenta três elementos que sustentam: • equilíbrio; • coordenação dinâmica geral; • coordenação visomotora. A segunda constitui a conduta perceptiva-motora e se refere a: • organização espacial; • organização temporal. A terceira se refere às condutas neuromotoras que são dependentes das capacidades neurológicas do indivíduo (Meur; Staes, 1991). • paratonias; • sincinesias; • lateralidade. A aprendizagem da leitura e da escrita estão ancoradas ao desenvolvimento dos elementos básicos psicomotores. Cada elemento psicomotor colabora para estrutura de formação do indivíduo quanto a seu reconhecimento corporal, espacial, temporal e simétrico. Desde o nascimento, nosso desenvolvimento evolui da superação dos reflexos à aprendizagem e conscientização dos movimentos motores, tais movimentos que estão atrelados a ordem biopsicossocial. A luno: C A M ILA D O S S A N T O S D E A R A Ú JO E m ail: km ilinha_araujo@ hotm ail.com 4 Os elementos básicos psicomotores, conforme Meur e Staes (1991), são quatro: esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial e organização temporal. O esquema corporal é o mais importante deles e oferece a capacidade de desenvolver os demais. Vamos compreender um pouco mais sobre cada elemento. TEMA 1 – ESQUEMA CORPORAL O esquema corporal é a representação de seu próprio corpo, de maneira consciente, é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança. Sua formação será finalizada aos 12 anos. Sua personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo a sua volta (Meur; Staes, 1991). Alguns exemplos que compõem o esquema corporal, de acordo com Meur e Staes (1991) são: • Domínio corporal: a criança que consegue correr sem se chocar com móveis ou outras crianças. • Conhecimento corporal: conhece as partes de seu corpo, podendo nomear e sinalizar; ao passar em um espaço, consegue escolher o que melhor adapta ao tamanho do seu corpo. A criança que estrutura consciente inconscientemente bem seu corpo é capaz de reconhecer seus membros uns em relação aos outros, potencializará suas descobertas, localizará os objetos, as pessoas, os acontecimentos em relação a si, depois entre eles. Para que a criança compreenda o espaço que a rodeia, é fundamental o desenvolvimento da estruturação espaço temporal. Para Meur e Staes (1991, p. 10), é fundamental considerar os seguintes aspectos: 1 – o conhecimento de seu corpo, a unidade de suas diferentes partes e a possibilidade de agir. 2 – a facilidade ou a dificuldade do ser em reconhecer-se, aceitar-se, responsabilizar-se por si. As etapas do desenvolvimento do esquema corporal, conforme Meur e Staes (1991), são: • o corpo vivido; • conhecimento das partes do corpo; A luno: C A M ILA D O S S A N T O S D E A R A Ú JO E m ail: km ilinha_araujo@ hotm ail.com 5 • orientação espaço-temporal; • organização espaço-corporal. TEMA 2 – LATERALIDADE A noção de dominância lateral ocorre à medida que a criança vai se desenvolvendo, ampliando seus estímulos com liberdade e experimentando as possibilidades com cada lado do seu corpo. Por volta dos 5 ou 6 anos, a criança já apresenta maturidade neurológica. É durante o crescimento que se define uma dominância lateral, lado direito ou esquerdo, como sendo o mais ágil. A lateralidade corresponde a dados neurológicos, mas também é influenciada por certos hábitos sociais (Meur; Staes, 1991). Como descobrir a dominância lateral? • Membros inferiores: pela força e pela precisão. • Membros superiores: pela força e pela precisão. • Olhos: observa-se pela facilidade. Existe categorias quanto ao tipo de lateralidade que cada indivíduo possui: • lateralidade homogênea: a criança é destra ou canhota do olho, da mão e do pé; • lateralidade cruzada: a criança é, por exemplo, destra da mão e do olho, canhota do pé; • ambidestra: é tão forte e destra do lado direitocomo do lado esquerdo. A lateralidade cruzada, pode intensificar algumas confusões espaciais, dificultando localizações, discriminação visual em sentidos e movimentos corporais. TEMA 3 – ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL Trata-se, sobretudo, da diferenciação do EU corporal em relação ao mundo exterior. É com base no movimento, portanto, que se faz essa diferenciação, tornando-se conhecimento interior do espaço exterior, pelo que nele se pode executar no campo dinâmico. A orientação espacial se efetua em uma primeira fase, de forma inconsciente, pouco a pouco, conforme a criança vai dominando seus movimentos, transformará em um sentido do espaço, sentido este plenamente A luno: C A M ILA D O S S A N T O S D E A R A Ú JO E m ail: km ilinha_araujo@ hotm ail.com 6 consciente e se integra no indivíduo como elemento a mais, no jogo dos movimentos. Para a criança a estruturação espacial ocorre a todo momento e é fundamental que todos a sua volta estimulem com base: no conhecimento das noções, solicitando que a criança realize ações para que perceba a localização do espaço; na orientação espacial, orientando ou direcionando seus deslocamentos, como ir para frente, para trás, ficar em fila, organizar objetos, discriminação visual de direção dos desenhos; na organização espacial, com trajetos, labirintos, atividades de simetria; na compreensão das relações espaciais: compreende o raciocínio de atividades espaciais de precisão, como os exercícios de progressão de grandezas de diferentes círculos, pinos e construções. As atividades que potencializam o desenvolvimento espacial são fundamentais para o processo de escrita e leitura. Muitas atividades que ampliam as capacidades de cada indivíduo se movimentarem, escolher espaços, se limitar, parar, discernir entre os objetos e seu corpo e entre os objetos. Conceitos de frente, traz, ao lado de, em cima, embaixo são base das consignas próprias desse conhecimento. TEMA – 4 ORIENTAÇÃO TEMPORAL A base educacional está na correlação existente entre a percepção auditiva e a percepção proprioceptiva, isto é, entre o ritmo sonoro e o gesto. Porém, não são só essas duas percepções que atuam na formação desse conceito; vamos encontrar associadas outras, por exemplo, a visão e o tato. Teremos que trabalhar com dois aspectos para a aquisição e noção do tempo: o “qualitativo”, ou seja, percepção de uma ordem, de uma organização; e o “quantitativo”, percepção de intervalos temporais, duração. Essa etapa consolida-se por volta dos 8 anos, antes disso a percepção de tempo é muito egocêntrica. De acordo com Meur e Staes (1991), o indivíduo estrutura sua capacidade temporal quando se organiza na ordem dos acontecimentos (antes, durante, após); na duração de tempo (longo, curto); nos períodos (dia, mês, ano, semana, estações do ano); noção de envelhecimento (plantas, pessoas). Essas noções temporais são subjetivas e a criança, aos poucos, vai compreendendo e se apropriando dessa ordem. Destarte a relevância do estímulo escolar sobre a ordem das ações, atividades realizadas com as crianças. A luno: C A M ILA D O S S A N T O S D E A R A Ú JO E m ail: km ilinha_araujo@ hotm ail.com 7 A criança bem estruturada, nesses elementos, terá melhor desempenho em suas coordenações e consequentemente sustentará sua aprendizagem com mais motivação e compreensão. TEMA 5 – RITMO O ritmo se desenvolve concomitantemente com a orientação temporal, mas pela sua importância, podemos dar um destaque especial para esse elemento básico psicomotor. Considera-se tipo do ritmo se é acelerado ou freada ou seus movimentos como: rápidos ou lentos. Quanto ao som se é harmônico ou desequilibrado. A capacidade de a criança criar possibilidades rítmicas favorece suas noções temporais, ao ouvir e representar ou movimentar-se ao ritmo. As atividades que incluem ritmo – como danças, movimentos direcionados e até sequenciais – podem potencializar o desenvolvimento do ritmo pela criança. É fundamental que o professor ou terapeuta promova atividades que compõem ritmo, pois estará oportunizando a capacidade de ajuste do elemento de base psicomotor. NA PRÁTICA Vamos exercitar nossa percepção sobre a criança. Proponha uma atividade, se possível, com um grupo de crianças. A atividade deve compor pelo menos um dos elementos básicos psicomotores, perceba as facilidades e dificuldades que elas trarão. FINALIZANDO Nesta aula, aprendemos sobre os elementos básicos psicomotores, e destacamos a relevância de cada um deles para o desenvolvimento infantil, construção da escrita e lógica. A luno: C A M ILA D O S S A N T O S D E A R A Ú JO E m ail: km ilinha_araujo@ hotm ail.com 8 REFERÊNCIAS DOLTO, F. A imagem inconsciente do corpo. São Paulo: Perspectiva, 2015. FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. MEUR, A. de; STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. São Paulo: Manole, 1991. A luno: C A M ILA D O S S A N T O S D E A R A Ú JO E m ail: km ilinha_araujo@ hotm ail.com