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História do direito penal 
brasileiro
Prof. Dr. Gianpaolo Poggio Smanio
História do Direito Penal
1. ASPECTOS introdutórios
▪Obviamente não é possível estabelecer com detalhes todas
as formas de punição que existiram durante a história da
humanidade, sendo que nem sobre a própria história da
humanidade existe um consenso.
▪Destacam-se algumas características por meio das quais é
possível que tenhamos uma noção de como os sistemas de
controle social funcionavam em determinadas comunidades
e em determinados momentos.
História do direito penal
2. PERÍODOS
▪ Três períodos
História do direito penal
Primitivo
Primeira sociedade 
até 1764
Humanitário
1764 até o fim do 
século XIX/início do 
século XX
Científico
Fim do século 
XIX/início do 
século XX até 
atualmente
2.1. PERÍODO PRIMITIVO
▪ É o período mais longo, sendo impossível identificar todas
as formas de controle social existente, mesmo porque, sobre
boa parte desse período são pouquíssimas as informações
disponíveis existentes.
▪Ausência de sistematização penal, com predomínio da
religião e aspectos místicos.
▪ Fase da vingança penal em sua tríplice divisão: vingança
privada, vingança divina e vingança pública.
História do direito penal
2.1.1 vingança divina
▪ Sociedades primitivas/misticismo/crenças sobrenaturais.
▪ Principais características:
- Totem (divindades);
- Tabus = “pecados, infrações, crimes”;
- Sacrifícios = “sanções, punições, penas”;
- Sacerdotes = “juízes”;
- Rigor dos castigos = grandeza dos entes ofendidos.
História do direito penal
História do direito penal
Principais 
Codificações:
Código de 
Manu
Cinco Livros 
Livro das Cinco 
Penas
Avesta
Pentateuco 
2.1.2. vingança privada
▪A vingança fundamenta-se numa relação entre os indivíduos
(horizontalização da vingança).
▪ Principais punições:
- “Perda da paz”: pena ao infrator do próprio grupo social
(banimento);
- “Vingança de sangue”: pena ao infrator de outro grupo
(guerra grupal).
História do direito penal
▪ “Lei do Talião” e a proporcionalidade 
- Código de Hamurabi:
“Art. 209 – Se alguém bate numa mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez ciclos 
pelo feto”.
Art. 210 – Se essa mulher morre, então deverá matar o filho dele”.
- Bíblia Sagrada:
“Levítico 24, 17 – Todo aquele que feri mortalmente um homem será morto”.
- Lei das XII Tábuas:
“Tábua VII, 11 – Se alguém fere a outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se 
houver acordo”.
História do direito penal
▪ “Composição”
▪Acordo entre infrator e vítima 
ou sua família por meio do qual 
paga-se pelo direito de vingança. 
▪ Proteção do próprio grupo social. 
História do direito penal
Principais 
Codificações:
Código de 
Hammurabi
Êxodo
Pentateuco
Lei das XII Tábuas
2.1.3. vingança pública
▪ Com a evolução do Estado, o Direito Penal vai abandonando
os seus apoios religiosos e místicos para transformar-se em
sistema jurídico.
▪A pena pública tinha por função principal proteger a
própria existência do Estado e do soberano.
▪A repressão penal busca manter a todo custo a paz pública,
utilizando-se do terror e da intimidação na execução das
penas: arbitrariedade, leis severas, penas de morte, penas
cruéis.
História do direito penal
▪Condenação de Damiens (França, 1757)
“Damiens fora condenado a pedir perdão publicamente
diante da porta principal da Igreja de Paris [aonde devia ser]
levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola [...] em
seguida, na dita carroça, e sobre um patíbulo que aí será
erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das
pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o
dito parricídio, queimada com fogo [...] Finalmente, foi
esquartejado” (FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento
da prisão. 42ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014, p. 9)
História do direito penal
História do direito penal
▪ Embora essas três fases tenham características que
permitem uma distinção entre elas, esses períodos não se
sucedem integralmente, tampouco aparecem
necessariamente nessa ordem cronológica, sendo possível,
inclusive, que tenha havido a existência concomitante dos
princípios de cada uma em um mesmo momento histórico.
▪Guerra entre os povos, não sendo raras as situações em que
um povo dominava outro e lhe impunha sua cultura e
costumes, inclusive o seu Direito.
3. aNTIGO ORIENTE
▪A história dos povos do oriente antigo comprova o caráter
religioso das primeiras reações punitivas.
▪O castigo consistia em imolar o infrator para apaziguar a
fúria dos deuses. Confusão do poder divino com o poder
terreno (autoritarismo teocrático-político).
▪As atrocidades na aplicação das penas eram comuns e o
caráter teológico era tão marcante que as regras penais se
encontravam nos livros sagrados (com exceção do Código
de Hammurabi), sendo impossível querer falar de um
Código Penal como hoje conhecemos.
História do direito penal
4. Grécia antiga
▪O direito penal grego atravessou três fases: i) vingança
privada; ii) período religioso (Estado dita as penas, mas
opera por delegação do deus Zeus); e iii) aplicação da pena
com base moral e civil.
▪ Falta de unidade no direito grego: a diversidade de Estados
gregos levou a uma variedade de legislações.
▪Destaque para legislação de Atenas: legislação que não se
baseava em ideias religiosas, mas sim no conceito de Estado.
A pena era fundamentada na vingança e na intimidação.
História do direito penal
▪ Importante evolução perpetrada pelos gregos: a
responsabilidade passa de índole coletiva para índole
individual.
▪Os filósofos gregos trouxeram à tona questões geralmente
ignoradas pelos povos anteriores, como, por exemplo, qual
seria a razão e o fundamento do direito de punir e qual seria
a razão da pena.
▪As opiniões mais importantes são de Platão e Aristóteles, o
primeiro, nas Leis e Protágoras, o segundo, na Ética à
Nicômaco e Política.
História do direito penal
5. Roma antiga
▪O Império Romano é tido como uma síntese da sociedade
antiga, representando um elo entre aquele mundo e o
moderno.
▪O Direito Romano, é o mais completo da Antiguidade,
servindo como fonte originária de diversos institutos
jurídicos.
▪O Direito Penal Romano passou pelas mesmas fases pelas
quais outros povos transpuseram: começou pela vingança,
sucedeu pelos estágios do Talião e da composição e chegou
à pena pública.
História do direito penal
▪ Característica sempre apontada pelos estudiosos desse
direito é o fato de haver uma distinção entre os delitos
públicos (crimina publica) e os delitos privados (delicta
privada):
- Crimina publica: crimes que violavam interesses coletivos.
Exemplo: homicídios intencionais, venda de emprego, alta
traição. Pena = defesa da sociedade.
- Delicta privada: crimes que violavam somente interesses
particulares. Pena = satisfação da vítima e reparação do
dano.
História do direito penal
▪ Penas exterminadoras, trabalhos forçados e mutilações.
▪O Direito Penal Romano não chegou a alcançar
desenvolvimento semelhante do Direito Civil Romano, sendo
que alguns autores, entre eles Cuello Calón e Alimena,
atribuem essa situação ao fato da própria distinção entre
crimes públicos e privados, pois estes últimos, verdadeiros
crimes, eram tratados como ilícitos civis.
História do direito penal
6. Direito penal germânico
▪ Juntamente com o Direito Romano e com o Direito
Canônico, constitui fonte do “Direito Penal de Transição”.
▪O predomínio Germânico estendeu-se do século V ao século
XI d. C, entretanto, com o advento das invasões bárbaras, os
costumes jurídico-penais dos germânicos chocaram-se com
os institutos jurídicos romanos, sendo que estes últimos
eram muito mais evoluídos.
História do direito penal
7. Direito penal canônico
▪A importância do Direito Penal Canônico se dá por duas
razões principais: primeiro, porque fez encarnar, através de
muitos anos de esforço, a norma jurídica romana na vida
social do ocidente; segundo, porque, em máxima escala,
contribui para civilizar a brutal prática germânica,
adaptando-a à vida pública.▪ Sua influência inicia-se durante o próprio Império Romano,
quando alcança reconhecimento nos tempos de
Constantino (312 dc) e, sobretudo, quando adquire o status
de religião oficial e exclusiva com Teodosio (380 dc).
História do direito penal
▪Distinção entre moral e Direito.
▪ Primeiro passo para a humanização das penas, pois
combateu a vingança privada aumentando a aplicação da
justiça pública e proclamou que a persecução do
delinquente é dever do príncipe e do magistrado, e não da
vítima.
▪As primeiras penas restritivas de liberdade com as
internações em monastérios.
História do direito penal
▪ Classificava os delitos em: i) delicta eclesiastica: ofendia o
direito divino e era punida pela própria Igreja por
intermédio dos Tribunais Eclesiásticos; ii) delicta secularia:
ofendia somente o direito dos homens e era punida pela
justiça pública; e iii) delicta mixta: ofendia ambos e podia ser
julgada tanto por uma quanto pela outra.
▪A pena (penitência) buscava o arrependimento do réu e que
a primeira manifestação nesse sentido é a confissão do mal
realizado. Assim, passou-se a exigir sempre a confissão do
acusado, que deveria ser buscada por todos os métodos
possíveis, inclusive a tortura (situação que levou às
arbitrariedades da Inquisição).
História do direito penal
8. Direito penal comum europeu – idade média
▪A base da legislação europeia vigente durante a Idade
Média é formada pelo Direito Penal Romano, Germânico e
Canônico, sendo que em determinados países predominava
o Direito Romano, em alguns o Germânico e, em outros, o
Canônico, sendo que em todas as partes houve mescla,
alternância e transformações.
▪Na Europa, o ius commune, forjado pelos costumes locais e
elementos do Direito Romano, Germânico, Canônico, foi
acompanhado, nos séculos XII a XVI, do nascimento dos
Direitos Nacionais.
História do direito penal
▪ Enquanto se formavam os Direitos dos Estados, houve um
resgate do Direito Romanístico – Recepção.
▪Na Itália, depois na França, Espanha, Alemanha etc., destaca-
se o trabalho dos glosadores (1100-1250), pós-glosadores
(1250-1450), ou práticos ou praxistas.
▪ Formou-se, então, na Itália, o Direito Comum
fundamentado no Corpus juris, na Alemanha, elaborado
com base na Carolina e na França, sobre os regulamentos
locais, desenvolvendo-se, assim, as legislações nacionais.
História do direito penal
▪ Entretanto, apesar do desenvolvimento alcançado pelo
Direito, a condição política que tudo subordinava ao
interesse do Estado e do Soberano, a divisão das sociedades
em classes, bem como a variedade de elementos que
compunham as leis, contribuíam para o arbítrio estatal,
para a aplicação de penas duras, penas de morte, fatos esses
que não impediram o aumento das práticas criminosas e a
reprovação dos cidadãos em relação a esse modelo de
justiça.
▪ Crítica às arbitrariedades e abusos = período humanitário.
História do direito penal
2.2. Período humanitário
▪ Século XVIII e Iluminismo.
▪O Iluminismo operou uma verdadeira revolução filosófica e
política, pois foi nesse período que os pensadores
abandonaram a concepção religiosa e passaram a adotar a
razão como guia das atividades humanas, de modo que
começaram a questionar e criticar o modelo absolutista e
seus privilégios.
▪ Filósofos, juristas e moralistas começam a censurar
abertamente o modelo penal vigente, apontando os seus
abusos e clamando pelos direitos do homem.
História do direito penal
2.2.1. Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria
▪Nascido em Milão em 1738.
▪Autor da obra Dos delitos e das penas (1764), marco do
Direito Penal moderno.
▪ Influenciado por Montesquieu e Rousseau, sua obra parte
do Contrato Social.
▪ Essência da obra: “defesa do indivíduo contra as leis e a
Justiça daqueles tempos, que se notabilizaram, aquelas
pelas atrocidades e esta pelo arbítrio e servilismo aos fortes
e poderosos”.
História do direito penal
2.2.2. John Howard
▪ Filho de um próspero comerciante, foi vítima do cárcere.
▪ Eleito sheriff no condado de Bedford e passou a se dedicar ao estudo
e às reformas do sistema prisional.
▪ Em 1777, John Howard publicou o resultado de suas pesquisas em
uma obra que se tornou um clássico do Direito Penitenciário Mundial:
The State of the Prisons in England and Walles.
▪ Busca a humanização das prisões, com propostas de melhorias das
seguintes condições para remediar o sistema carcerário: higiene e
alimentação; disciplina distinta para os diferentes encarcerados;
educação moral e religiosa para os presos; trabalho; e sistema celular
menos rígido.
História do direito penal
2.2.3. Jeremy Bentham
▪ Influente pensador inglês, considerado utilitarista.
▪ O critério da utilidade é o grau de felicidade, uma ação somente
poderá ser considerada útil se trouxer felicidade para a maioria das
pessoas.
▪ Somente admitia a aplicação de uma pena se houvesse alguma
utilidade, não poderia basear-se unicamente na retribuição.
▪ Considerava as prisões como um local que apresentava as melhores
condições para infestar o corpo e a alma, pois suas condições
inadequadas e o ambiente de ociosidade despojavam os réus de sua
honra e hábitos laboriosos, e saiam dali impelidos para o
cometimento de novos delitos.
▪ Panóptico.
História do direito penal
“na periferia uma construção em anel; no centro,
uma torre; esta é vazada de largas janelas que se
abrem sobre a face interna do anel; a construção
periférica é dividida em celas, cada uma
atravessando toda a espessura da construção; elas
têm duas janelas, uma para o interior,
correspondendo às janelas da torre; outra, que dá
para o exterior, permite que a luz atravesse a cela
de lado a lado. Basta então colocar um vigia na
torre central, e em cada cela trancar um louco, um
doente, um condenado, um operário ou um
escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber
da torre, recontando-se exatamente sobre a
claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas
da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos
teatros, que cada ator está sozinho,
perfeitamente individualizado e
constantemente visível. O dispositivo
panóptico organiza unidades espaciais que
permitem ver sem parar e reconhecer
imediatamente. Em suma, o princípio da
masmorra é invertido; ou antes, de suas três
funções – trancar, privar de luz e esconder – só se
conserva a primeira e suprimem-se as outras duas.
A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor
que a sombra, que finalmente protegia. A
visibilidade é uma armadilha” (FOUCAULT,
Michel. Vigiar e Punir).
Direito penal brasileiro
Histórico legislativo e principais 
características
Aspectos introdutórios
▪O Brasil experimentou modificações nos usos punitivos e
legislações penais ao longo de sua história, até o sistema tal
qual o conhecemos hoje.
▪ Sistemas penais brasileiros divididos em quatro grupos:
- Sistema colonial-mercantilista (Ordenações Afonsinas,
Manuelinas e Filipinas);
- Sistema imperial-escravista (Código Criminal do Império de
1830);
- Sistema republicano-positivista (Código Penal de 1890);
- Sistema penal vigente (Código Penal de 1940).
Direito penal brasileiro
1. Sistema colonial mercantilista
▪ Contexto histórico: Brasil-Colônia (século XV até 1822)
▪ Colonização brasileira por Portugal, principal parceiro
comercial
▪ Exploração econômica das terras brasileiras pela exportação
de matérias-primas, com instituição da escravidão.
▪ Estima-se que na desde o século XV até 1850 mais de 4
milhões de africanos desembarcaram no Brasil como mão-
de-obra escrava na produção de produtos primários.
Direito penal brasileiro
▪No campo punitivo, predomina a forte presença de um
poder punitivo doméstico dentro das unidades de
produção, considerando a relação vertical entre senhores e
escravizados.
▪Usos punitivos do período: galés, degredos, açoites,
mutilações e mortes aplicadas no âmbito do poder punitivo
privado.
▪A sistematização jurídica no Brasil somente ocorreu de
forma organizada após a Independência, em 1822. No
período colonial, destacam-se as Ordenações de origem
lusitana: Ordenações Afonsinas,Manuelinas e Filipinas,
respectivamente.
Direito penal brasileiro
1.1. Ordenações afonsinas (1447-1521)
▪ Rei D. Afonso V.
▪ Regulamentação legal que vigorou no Brasil até 1521.
▪ Compilação de regimentos e leis portuguesas, de fonte
romana e canônica, contando também com traços germânicos.
▪ Estão organizadas em Livros (total de cinco), cada qual com
seus capítulos, dispondo sobre cargos públicos, matérias
atinentes aos donatários de terra e também sobre matéria
criminal.
▪ Em âmbito penal, destaca-se o Livro V, com traços canônicos
(como título próprio destinado aos hereges) e romanos.
Direito penal brasileiro
▪ Previsão da heresia como crime mais grave: “E porque antre
todollos outros crimes he achado por mais grave o crime da Herefia,
por feer cometida contra Noffo Senhor DEOS, a que per ley fanta e
natural todos geralmente devemos fé e crença verdadeira, por tanto
entendemos primeiramente fallar dela”.
▪ “A cominação abusiva da pena de morte e das
penas corporais, o emprego por arbítrio judicial
da tortura, a ampla criminalização de crenças,
opiniões e opções sexuais e a própria
transmissibilidade das penas respondem à
conjuntura na qual se inscreve tal compilação”.
(ZAFFARONI, Eugenio Raúl; et. al. Direito penal
Brasileiro – I. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 413)
1.2. Ordenações manuelinas (1521 – 1603)
▪ Reinado de D. Manuel.
▪ Regulamentação legal que operou uma atualização nas
Ordenações Afonsinas, mantendo semelhante estrutura
(cinco livros).
▪A matéria criminal seguiu no Livro V.
▪ Seguiu com um papel secundário frente aos usos punitivos
domésticos.
Direito penal brasileiro
1.3. ordenações filipinas (1603)
▪ Publicação em 1603, durante a união ibérica, por Felipe III (II
de Portugal).
▪Nova atualização do compilado de leis portuguesas,
iniciados em 1595, por ordem de Felipe II (I de Portugal).
▪ Possui relevância maior, tendo em vista sua permanência
mesmo com a Independência e Constituição de 1824 (e suas
disposições liberais). Permaneceu vigente, em matéria
criminal, até a promulgação do Código Criminal do Império
(1830) e, em matéria civil, até a promulgação do Código Civil
(1916).
Direito penal brasileiro
▪ A estrutura em Livros permaneceu inalterada, sendo o Livro V
dedicado à matéria criminal.
▪ Muito embora prevalecesse as punições no âmbito doméstico, as
Ordenações Filipinas constituíram um programa de criminalização da
época.
▪ Novamente destacando sua fonte canônica, Zaffaroni e Nilo Batista
destacam a presença na Inquisição no Brasil, ainda que não tenha
existido um Tribunal da Inquisição propriamente dito.
▪ As punições nas Ordenações Filipinas não gozam de grandes
alterações: e degredo, multa pecuniária, açoites e morte, com a
criminalização de ofensas à religião, e gradações conforme o réu e a
vítima.
Direito penal brasileiro
2. Sistema imperial-escravista
▪ Contexto histórico: Império (1822 a 1889)
▪ Permanência da escravidão e da exploração econômica.
▪ Com a Independência, a sistematização jurídica brasileira foi
inaugurada com a Constituição de 1824 (outorgada) e
primeiras codificações na seara criminal, civil e comercial.
▪A Constituição de 1824 continha traços liberais
condizentes com o que era experimentado no plano
internacional (limitação dos abusos estatais): eram
banidas as penas cruéis e degradantes, abolida a tortura,
previsão da reserva legal e do devido processo, resguardo
da liberdade de locomoção, proscrição de perseguições
religiosas e direito de propriedade.
Direito penal brasileiro
▪ A manutenção da escravidão no Brasil imperial segue como ponto
importante de análise na história punitiva brasileira, por duas
razões principais:
- Apesar do caráter liberal da Constituição de 1824, inclusive em
matéria criminal, garantia o direito de propriedade “em toda sua
plenitude” (art. 179, XXII). A propriedade mais relevante à época era
a figura do escravo, de modo que garantir a plenitude da
propriedade ao senhor era relativizar as proibições de tortura,
penas cruéis e degradantes, com a manutenção de penas
corporais.
- Com a Independência e Código Criminal do Império, sinaliza-se
uma maior intervenção estatal na aplicação da punição e o
deslocamento do poder doméstico para a poder punitivo público.
Contudo, a coexistência entre escravidão e ideias liberais
sustentou a coexistência entre pena pública e punição privada
nas unidades de produção.
Direito penal brasileiro
▪ Característica marcante do período é a coexistência do escravo
como coisa (propriedade) e como pessoa (para o Direito
Penal).
▪ Previsões no Código Criminal do Império de penas como
açoites e pena de morte aos escravos:
Direito penal brasileiro
Disposição sobre as penas. Art. 60. Se o
réo fôr escravo, e incorrer em pena, que
não seja a capital, ou de galés, será
condemnado na de açoutes, e depois de
os soffrer, será entregue a seu senhor, que
se obrigará a trazel-o com um ferro, pelo
tempo, e maneira que o Juiz designar. O
numero de açoutes será fixado na
sentença; e o escravo não poderá levar
por dia mais de cincoenta.
Crime de insurreição de escravos. Art. 113:
Julgar-se-ha commettido este crime, retinindo-se
vinte ou mais escravos para haverem a liberdade
por meio da força. Penas - Aos cabeças [líderes]
- de morte no grao maximo; de galés
perpetuas no médio; e por quinze annos no
minimo; - aos mais - açoutes.
▪ Essa “confusão” entre pena pública e pena privada pode ser
visualizada no seguinte trecho:
“Executada a pena de açoites, o escravo era entregue ao senhor, e
retomava suas atividades sob ferros, na forma e pelo prazo
assinado na sentença. Um aviso (nº30 de 9 de março de 1850)
lembrava a obrigatoriedade desta pena complementar à de
açoites, que o Juiz de Direito sentenciantes não poderia delegar ao
Juiz Municipal, competente para as execuções penais. O senhor
que mantém, por ordem judicial, o escravo sob ferros, está
executando privadamente uma pena pública, e esta pena
pública lhe retribui com frutos da mão-de-obra penal. [...] Esta
dinâmica punitiva se preocupa com a conservação útil do escravo”
(BATISTA, Nilo. Pena pública e escravismo. História & Direito:
jogos de encontros e transdisciplinaridade. Gizlene Neder (Org.).
Rio de Janeiro: Revan, 2007, p. 48-49.
Direito penal brasileiro
▪O Código Criminal de 1830 previa penas de prisão simples,
prisão com trabalho forçado, galés perpétuas, em cadeias e
casas de correção, e também o desterro.
▪ Foi criada a Guarda Nacional em 1831, responsável pelo
policiamento em todo o Império.
▪Ainda no Brasil Imperial, destaca-se a promulgação do
Código de Processo Criminal de Primeira Instância, de 29
de novembro de 1832, que disciplinou a organização
judiciária e da parte processual complementar ao Código
Criminal de 1830, alterando inteiramente as formas do
procedimento penal então vigentes, herdadas da
codificação portuguesa.
Direito penal brasileiro
▪Assim como a moldura jurídica do período imperial no
Brasil, o Código de Processo Penal de 1832 também detinha
aspectos liberais. Exemplos: previsão do habeas corpus
(Título VI do Código), participação dos cidadãos no
Judiciário (Júri).
▪Na organização judiciária, denota-se o “poder” destinado às
autoridades locais (juízes de paz), que, com a reforma
operada no Código em 1841, passou aos chefes de polícia
(delegados e subdelegados).
▪ Em suma, no período imperial, a estrutura social escravista
moldava e condicionava os primeiros traços do direito penal
brasileiro.
Direito penal brasileiro
3. Sistema republicano-positivista
▪ Contexto histórico: abolição da escravidão (1888) e
proclamação da República (1889), marcando o início do
período republicano brasileiro.
▪A preocupação com o controle social era grande, sendo que
antes mesmo na nova Constituição promulgada em 1891, foi
elaborado novo Código Penal (Código Penal de 1890).
▪O Código manteve espírito liberal: igualdade jurídica, o
princípio da legalidade penal, previa a retroatividade de leis
penais benignas e a responsabilidade penal subjetiva epessoal.
Direito penal brasileiro
▪As punições previstas eram a de prisão celular, banimento
(extinta com a Constituição de 1891), reclusão prisão com
trabalho, prisão disciplinar, interdição, suspensão ou perda
de cargo público, inabilitação para emprego público e multa
(artigo 43).
▪ Era vedado por lei penas infamantes: abolida pena de
açoite e sem margem para poder punitivo doméstico. As
penas restritivas da liberdade individual eram temporárias,
com limite de 30 anos (artigo 44).
▪A igualdade jurídica republicana não tolerava a
desigualdade jurídica proclamada anteriormente.
Direito penal brasileiro
▪ Século XIX e início do XX – ascensão dos ideais científicos
(positivismo científico): aplicar o método das ciências
naturais às ciências humanas e sociais.
▪A concepção positivista enxerga o universo como um
conjunto de fatos causalmente vinculados, cabendo a
ciência explicar, com base no princípio da causalidade, como
esse determinismo se manifesta na realidade concreta.
▪No Brasil, houve influência desse positivismo científico. No
período republicano, percebe-se a fusão entre saber médico
e saber policial. Exemplo: Revolta da Vacina, em 1904.
Direito penal brasileiro
▪ Fundamentos “científicos” para a desigualdade/inferioridade
– Escola Positiva Italiana, cujo expoente máximo era Cesare
Lombroso (“O Homem Delinquente”):
- Lombroso inaugurou a chamada Antropologia Criminal, que
tinha como foco de análise o delinquente.
- Determinismo Biológico → Atavismo → Criminoso Nato.
- Crime → manifestação da personalidade e não mais
decorrente do “livre arbítrio”.
Direito penal brasileiro
▪ As críticas políticas ao Código Penal de 1890 fomentaram a
promulgação de várias “legislações extravagantes” de matéria
criminal. Exemplo: Decreto nº 145, de 11 de junho de 1893, que
dispunha sobre pena de prisão correcional para reabilitação de
“mendigos válidos, vadios, capoeiras ou desordeiros”; Decreto nº
1.132 de 21 de novembro de 1903, que criou “manicômios criminais
para alienados delinquentes”; Decreto nº 1.785, de 28 de novembro de
1907, alterando a disciplina do crime de peculato; Lei nº 4.242 de
1921, que elevou a inimputabilidade penal para 14 anos.
▪ Embora não positivados expressamente, os ares positivistas
impactaram na história do direito penal brasileiro, seja na aplicação de
técnicas punitivas no controle de determinados grupos sociais na
República Velha, seja pela força da escola positiva e suas
características elementares no Brasil nos estudos da criminologia.
Exemplo: influência de Lombroso pode ser visualizada nas obras de
Raimundo Nina Rodrigues, médico maranhense e professor da
Faculdade de Medicina da Bahia.
Direito penal brasileiro
4. Código penal de 1940
▪ Contexto histórico: fim da República Velha com a Revolução
de 1930.
▪ Reação contra as autoridades locais e poder dos
governadores (oligarquia cafeeira). O período foi um marco
nas alterações eleitorais no Brasil, com a criação da Justiça
Eleitoral.
▪Maior intervenção estatal na economia, “surto industrial” e
previsão de direitos sociais com a Constituição de 1934 e
trabalhistas (CLT).
▪ Período de autoritarismo brasileiro: Estado Novo e a
Constituição de 1937 (“Polaca”).
Direito penal brasileiro
▪ Política criminal intervencionista na economia:
criminalização da usura (Decreto nº 22.626 de 1933),
disposições sobre os crimes contra a economia popular (Lei
nº 869 de 1938), incluindo abusos do poder econômico e
tabelas oficiais de preços.
▪ Subsistema penal – repressão política (Estado Novo).
▪As discussões sobre a elaboração de um novo Código Penal
tiveram início no final de 1937, quando Francisco Campos
solicitou ao professor Alcântara Machado a tarefa de redigir
um novo projeto.
Direito penal brasileiro
▪ Em 1938, o professor Alcântara Machado entregou anteprojeto
ao Governo, com influência do Código Penal italiano de 1930
▪O projeto foi submetido à Comissão revisora formada por:
Nelson Hungria, Roberto Lyra, Vieira Braga e Narcelio de
Queiroz. A Comissão revisora procedeu alterações ao projeto
original.
▪ As penas principais são de reclusão, detenção e multa e, na
aplicação das medidas de segurança, prevalecia o regime
duplo-binário (aplicação de pena e medida de segurança).
▪ Prisão no centro do sistema penal.
▪ As pautas da criminologia positivista não foram dispostas no
novo código.
Direito penal brasileiro
▪No ano de 1963, Nelson Hungria elaborou um anteprojeto
de uma nova legislação penal.
▪Dadas as circunstâncias políticas brasileiras da década de
1960 no Brasil, o projeto é revisado e é editado o Decreto-
Lei nº 1.004 de 21 de outubro de 1969, cuja vigência
jamais ocorreu.
▪O Código Penal de 1940 vigora até hoje, contando com
algumas alterações em seu texto. Uma relevante alteração
ocorreu em 1984, com a Lei 7.209, de 11 de julho de 1984,
que reformou a primeira parte (Parte Geral).
Direito penal brasileiro
4.1. reforma da parte geral do código penal de 1984
▪ Na década de 1980, foi instituído pelo Ministério da Justiça uma
comissão de juristas para reforma da legislação penal e
processual penal (Parte geral do Código Penal, o do Código de
Processo Penal e o da Lei de Execução Penal).
▪ A comissão era composta por Francisco de Assis Toledo,
Francisco de Assis Serrano Neves, Ricardo Antunes Andreucci,
Miguel Reale Júnior, Hélio Fonseca, Rogério Lauria Tucci e René
Ariel Dotti, que concluiu o anteprojeto em 1981, submetendo à
revisão.
Direito penal brasileiro
▪Nos termos da Exposição de Motivos da Lei nº 7.209 de 11
de julho de 1984, sobre os motivos que ensejaram a
reforma: “Apesar desses inegáveis aperfeiçoamentos, a
legislação penal continua inadequada às exigências da
sociedade brasileira. A pressão do índices de criminalidade
e suas novas espécies, a constância da medida repressiva
como resposta básica ao delito, a rejeição social dos
apenados e seus reflexos no incremento da reincidência, a
sofisticação tecnológica, que altera a fisionomia da
criminalidade contemporânea, são fatores que exigem o
aprimoramento dos instrumentos jurídicos de contenção do
crime, ainda os mesmo concebidos pelos juristas na primeira
metade do século”.
Direito penal brasileiro
▪ Como aponta Zaffaroni e Nilo Batista, “A reforma de 1984
constitui prova definitiva da vitalidade do CP 1940”,
considerando as alterações promovidas na Parte Geral, como por
exemplo:
- Sistema vicariante na aplicação da medida de segurança
(aplicação da pena ou medida de segurança);
- Aperfeiçoamento da disciplina do erro;
- Retoma o sistema dias-multa.
▪ Com a redemocratização, o arcabouço normativo penal
brasileiro se expandiu, contando com inúmeras leis penais
especiais, como a Lei nº 8.072 de 1990 (Lei de Crimes
Hediondos); a Lei nº 11.343 de 2003 (Lei de Drogas); Lei nº
10.826 de 2003 (Estatuto do Desarmamento).
Direito penal brasileiro
▪ Em 2019, as leis penais sofreram nova alteração com a Lei nº
13.964, conhecida por “Pacote Anticrime”. A Lei constituiu
um conjunto de alterações e inclusões de dispositivos em
diversos diplomas (Lei de Execução Penal, Código Penal,
Código de Processo Penal, Lei de Crimes Organizados,
dentre outros).
▪ Em que pesem alterações, o Código Penal de 1940
permanece vigente no ordenamento jurídico brasileiro.
Direito penal brasileiro
referências
SMANIO, Gianpaolo Poggio; FABRETTI, Humberto
Barrionuevo. Direito Penal - Parte Geral. 1ª ed. São Paulo:
Atlas, 2019.
SMANIO, Gianpaolo Poggio; FABRETTI, Humberto
Barrionuevo. Introdução ao Direito Penal: Criminologia,
Princípios e Cidadania. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2015.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro;
SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro - I, Rio de
Janeiro, Revan, 2003, p. 411-488.
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