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DPenal III.8ª aula

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Dos Crimes contra a Pessoa VI
Capítulo VI – Dos Crimes contra a Liberdade Individual
Direito Penal I
Curso de Direito - 2.015.1
Professor EDSON TADASHI SUMIDA
Dos Crimes contra a Liberdade individual
A liberdade individual consiste na autodeterminação, de fazer o que quiser, desde que dentro dos limites legais.
O direito de ir e vir, de realizar ou não condutas de acordo com a própria escolha; de ter paz de espírito por não se sentir ameaçado; de não ter sua residência devassada, senão por ordem legal ou em situações específicas; de não ter devassada sua correspondência ou seus segredos etc.
O capítulo VI divide os crimes em quatro espécies (seções), depende da forma como se afeta a liberdade alheia:
a) Crimes contra a liberdade pessoal; b) Crimes contra a inviolabilidade de domicílio; c) Crimes contra a inviolabilidade de correspondência; d) Crimes contra a inviolabilidade de segredos.
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
Código Penal
Parte Especial
Título I – Dos crimes contra a pessoa
Capítulo VI – Dos crimes contra a liberdade individual
Constrangimento Ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Aumento de pena
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
Objetividade Jurídica
a liberdade pessoal de autodeterminação da vontade e da ação, dentro dos limites legais.
Tipo Objetivo
Constranger a vítima a fazer ou não fazer algo. O crime se aperfeiçoa em duas hipóteses: 
quando a vítima é obrigada a fazer algo. Exemplo: a levar o agente a algum lugar; a fazer uma viagem que não queria; a escrever uma carta, a dizer onde se encontra uma pessoa; a indicar onde se encontram certos documentos; a dançar com o agente; a mergulhar em piscina gelada; a cortar grama da casa do agente; a tomar um copo de bebida alcoólica; a usar cinto de castidade no período de ausência da marido etc.
quando a vítima é obrigada a não fazer algo. Exemplo: a não fazer uma viagem; a não ir às aulas; a não ir a uma festa; a não ir ao banheiro etc.
- ainda para tipificação do crime é necessário que o agente empregue a violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima
Tipo Subjetivo
Composto pelo dolo, pela consciência e vontade de constranger a vítima, através do emprego de violência física ou moral, para obter da vítima a conduta pretendida. Exige-se a consciência da ilegitimidade da pretensão.
≠ a pretensão é legítima ou ocorra erro acerca de sua legitimidade, crime de exercício arbitrário das próprias razões (CP art. 345).
≠ se a violência ou grave ameaça são utilizadas com intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, crime de extorsão (CP art. 158).
se não propósito de obrigar a vítima a fazer o que lei não obriga ou a não fazer o que ela permite, a infração será a que resultar da violência ou da ameaça (lesões corporais, vias de fato, ameaça).
Sujeito Ativo e Sujeito Passivo
Sujeito Ativo - trata-se de crime comum, pode ser cometido por qualquer pessoa. A doutrina diz que se o agente for funcionário público, cometerá crime de abuso de autoridade.
Sujeito Passivo – pode ser qualquer pessoa que tenha capacidade de determinação. As crianças e os portadores de transtornos mentais não têm vontade própria, por isso, não podem ser sujeito passivo de crime, a não ser que possa entender o caráter intimidatório da ameaça.
Consumação e Tentativa
Consumação – tratando-se de crime material, a consumação ocorre quando a vítima, constrangida, faz o que o agente mandou que ela fizesse, ou deixa de fazer o que ele ordenou que não fizesse.
Tentativa – é possível quando emprega a violência, grave ameaça ou a violência imprópria e não obtém, por circunstâncias alheias à sua vontade, a ação ou omissão da vítima. Exemplo: a vítima sai correndo do local ao ser ameaçada para que entre em um carro; vítima que faz sinal para uma viatura policial que passava pelo local no momento em que estava sendo ameaçado; etc.
Causas de aumento de pena
Concurso de agentes ou emprego de armas
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
Autonomia do crime de lesões corporais
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
Excludentes de tipicidade
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
Ação Penal e Competência
É pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal, mesmo nas figuras qualificadas, em que a pena não é superior a dois anos.
Ameaça
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação
Objetividade Jurídica
A liberdade pessoal, no que tange à sua tranquilidade ou sossego, na medida em que a pessoa ameaçada tende a alterar seus hábitos com receio de que o mal prometido se concretize.
Tipo Objetivo
Ameaçar alguém, por palavras, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. Ameaça é a violência moral, destinada a perturbar a liberdade psíquica e a tranquilidade da vítima, pela intimidação ou promessa de causar a alguém, futura ou imediatamente, mal relevante e injusto. Admitem-se vários meios de execução: palavra, escrito, gesto ou outro meio simbólico, desde que idôneo. O mal ameaçado deve ser verossímil e sua execução possível. Dispensável a presença da vítima.
Tipo Subjetivo
Dolo (direto ou eventual) e o propósito de intimidar, causando-lhe mal injusto e grave (elemento subjetivo do tipo).
Sujeito Ativo e Sujeito Passivo
Sujeito Ativo – qualquer pessoa.
Sujeito Passivo – qualquer pessoa, desde que determinada.
Consumação e Tentativa
Consumação - No momento que a vítima toma conhecimento do teor da ameaça, independentemente de sofrer efetiva intimidação. Trata-se de crime formal, bastando que o agente queira intimidar e que a ameaça proferida tenha potencial para tanto.
Tentativa – é possível nos casos feita por carta ou pela remessa de fita com gravação ameaçadora pelo correio que não chegam ao destinatário, ou pelo envio de mensagem de texto que não chega à pessoa pretendida por erro no endereçamento do número telefônico.
Ação Penal e Competência
Ação Penal é pública condicionada à representação da vítima, nos termos do parágrafo único do art. 147 do CP.
Competência é do Juizado Especial Criminal.
Sequestro e cárcere privado
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos.
Forma qualificada
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias.
IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; 
V - se o crime é praticado com fins libidinosos. 
Conduta preterdolosa
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento
físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Objetividade Jurídica
Tutela-se a liberdade individual, especialmente a liberdade de movimento, o direito de ir e vir e de ficar no local escolhido. Busca-se proteger a liberdade pessoal de movimento em um determinado âmbito espacial (jus ambulandi).
Tipo Objetivo
Consiste em privar alguém de sua liberdade mediante sequestro ou cárcere privado (formas de supressão ou restrição da liberdade de locomoção).
Assemelha-se ao constrangimento ilegal, na constrição física para que tenha circunscrito o seu movimento corporal a um certo âmbito espacial. 
O sequestro é o gênero do qual o cárcere privado é espécie. 
Nelson Hungria: O sequestro é a arbitrária privação ou compressão da liberdade de movimento no espaço que toma o nome de cárcere privado quando exercido em qualquer recinto fechado, não destinado a prisão pública.
Tipo Subjetivo
É o dolo, a consciência e vontade de privar alguém de sua liberdade de locomoção.
Se a finalidade for obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate, a infração será o de extorsão mediante sequestro (CP, art. 159).
Se o sequestro ou cárcere privado figurar como elementar de outra infração (art. 159 e art. 149), ou como circunstância agravante (crime de tortura (Lei n. 9.455/97), art. 1º, § 4º, III), não haverá concurso material, pois há uma relação de subsidiariedade.
Sujeito Ativo
Crime comum, pode ser qualquer pessoa. 
Se o agente é funcionário público e pratica a infração com abuso da função ou a pretexto de exercê-la, configura a infração de violência arbitrária (CP, art. 322) ou o de exercício arbitrário ou abuso de poder (CP, art. 350).
A Lei n. 4.898/65 (abuso de autoridade) considera abuso de autoridade qualquer atentado à liberdade de locomoção (art. 3º). Com a inobservância das formalidades legais ou com abuso de poder, ao ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual (art. 4º, a) ou prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade (art. 4º, i) incorre nas sanções cominadas (pena detenção de 10 dias a 6 meses, multa e/ou perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos).
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Sujeito Passivo
Pode ser qualquer pessoa. 
Mesmo aquelas pessoas que não disponham de efetiva possibilidade de locomover-se (v.g. enfermos graves, paralíticos, tetraplégicos etc.) podem figurar como vítimas da infração de sequestro e cárcere privado. Como também, pessoas que não possuem plena capacidade de entender e de querer (não dispõem das condições de maturidade e sanidade mental necessárias para conhecer o caráter ilícito da privação da liberdade a que são submetidas (v.g. portadores de transtornos mentais, de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, crianças, ébrios etc.).
A pessoa que já esteja limitada na sua liberdade de ir e vir, poderá ser vítima se lhe for imposta uma restrição mais severa (v.g. sujeita a medida de segurança ou a pena privativa de liberdade, se passar a sofrer uma limitação maior de sua liberdade, for amarrado as mãos e os pés).
Consumação e Tentativa
Consumação – quando a vítima é privada de sua liberdade de locomoção. Trata-se de crime permanente, o momento consumativo se protrai no tempo, por vontade do agente. Enquanto perdure a retenção ou detenção da vítima, permite-se a prisão em flagrante
Tentativa – é admissível, quando o agente pratica atos de execução tendentes a suprimir a liberdade de locomoção de outrem. (v.g. se o agente for preso em flagrante ao transportar a vítima fraudulentamente para o local onde ficaria detida ou ao trancar a porta do lugar onde a manteria enclausurada).
Ação Penal e Competência
Ação penal é pública incondicionada. Admite a suspensão condicional do processo (caput).
Competência – No caput, procedimento sumário. Nos demais casos, procedimento ordinário.
Redução a condição análoga à de escravo
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:  
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.  
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;  
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. 
Causa de aumento de pena
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: 
I - contra criança ou adolescente;  
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
Objetividade Jurídica
A liberdade pessoal, com especial realce conferido ao status libertatis.
Busca evitar que a pessoa humana seja submetida à servidão e ao poder de fato de outrem.
Tipo Objetivo
Consiste em reduzir alguém à condição análoga à de escravo. O indivíduo é posto sob o domínio de outrem, que pode dele livremente dispor. 
Tipo Subjetivo
Integrado pelo dolo, pela consciência e vontade de reduzir alguém a condição análoga à de escravo, submetendo-se ao seu poder.
Sujeito Ativo e Sujeito Passivo
Sujeito Ativo
Pode ser qualquer pessoa, sem restrições (crime comum). 
Tratando-se de funcionário público (CP, art. 350).
Sujeito Passivo
Pode ser qualquer pessoa, independente de raça, idade, sexo, condição cultural ou capacidade jurídica.
Consumação e Tentativa
Consumação – quando a vítima é reduzida à condição análoga à de escravo por um certo período, quando efetivamente se estabelece a completa submissão daquela ao domínio do agente, suprimindo-se por completo seu status libertatis (crime permanente).
Tentativa – é admissível, ocorre quando o agente pratica atos de execução a fim de reduzir alguém à condição análoga à de escravo, mas não logra êxito por circunstâncias alheias à sua vontade (v.g. preso quando transportava trabalhadores à sua propriedade, onde iriam servi-lo por tempo indeterminado, sem poder retornar).
Ação Penal e Competência
Ação Penal é pública incondicionada.
Competência 
O Plenário do STF, no julgamento do RE 398.041 (rel. Min. Joaquim Barbosa, sessão de 30.11.2006), fixou a competência da Justiça Federal para julgar os crimes de redução à condição análoga à de escravo, por entender "que quaisquer condutas que violem não só o sistema de órgãos e instituições que preservam, coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o nas esferas em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos crimes contra a organização do trabalho, se praticadas no contexto de relações de trabalho" (RE 541627, Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 14/10/2008).
No mesmo sentido entende o STJ “(...) A Terceira Seção desta Corte pacificou o entendimento de que compete à Justiça Federal processar e julgar os autores do delito previsto no art. 149 do Código Penal, haja vista a violação aos direitos humanos e à organização do trabalho. (...) (RHC 25.583/MT, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 09/08/2012, DJe 20/08/2012)
Questões relativas aos crimes contra a liberdade pessoal
Se for legítima a pretensão do agente, caracteriza-se a infração de constrangimento ilegal? Por que?
Estabeleça os principais traços distintivos entre a ameaça e o constrangimento ilegal.
Podem figurar como vítimas da infração a pessoa que não possa locomover-se por si própria ou aquela cuja liberdade pessoal já esteja limitada?
Há distinção entre sequestro e cárcere privado? Qua(l)is?
O preso ou interno de medida de segurança são passíveis de serem vítimas do crime de sequestro e cárcere privado? Exemplifique.
Diferencie
o delito de redução à condição análoga à de escravo do delito de sequestro e cárcere privado.
Quando ocorre a consumação da infração prevista no art. 149? A tentativa é admissível?

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