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1 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 Geografia e literatura infantojuvenil: o rato e a montanha – discursos socioambientais em Gramsci Geography and children’s literature: the mouse and the mountain – socio- environmental discourses in Gramsci Geografía y literatura infantil: el ratón y la montaña - discursos socioambientales en Gramsci DOI: 10.55905/revconv.17n.4-017 Originals received: 03/01/2024 Acceptance for publication: 03/25/2024 Rosália Caldas Sanábio de Oliveira Mestra em Didática de Geografia pelo Instituto Superior Pedagógico Enrique José Varona (ISPEJV) Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET – MG) Endereço: Belo Horizonte – Minas Gerais, Brasil E-mail: rosasanabio@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9730-5577 Érico Anderson de Oliveira Mestre em Didática de Geografia pelo Instituto Superior Pedagógico Enrique José Varona (ISPEJV) Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET – MG) Endereço: Belo Horizonte – Minas Gerais, Brasil E-mail: ericoliv@cefetmg.br Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7103-0512 RESUMO Essa exposição tem como fim perscrutar o livro infantojuvenil O Rato e a Montanha, de Antonio Gramsci & Laia Domènech, enaltecendo a percepção do meio ambiente por intermédio da literatura a partir das interações homem/natureza que se veem no desenvolvimento da obra. Intenta refletir o contexto espaço-tempo ao evidenciar o convívio do homem com o meio e as suas inferências em razão de agentes socioambientais, econômicos e interpretações acerca do mundo. Contudo, esta sensação não se traduz apenas no contato com os elementos físicos do planeta Terra e com todos os seres viventes, mas como experienciamos essa comunhão com início em nós mesmos. O trabalho foi realizado na Educação Básica com quatro turmas do Ensino Médio Integrado do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Campus II, em Belo Horizonte. Aliaram-se, nesta práxis, os conhecimentos geográficos/socioambientais, a conscientização ambiental e o gosto pela leitura. Palavras-chave: geografia e literatura infantojuvenil, discursos socioambientais, Antonio Gramsci, pedagogia histórico-crítica. 2 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 ABSTRACT This exhibition aims to examine the children’s book The Mouse and the Mountain, by Antonio Gramsci & Laia Domènech, highlighting the perception of the environment through children’s literature based on the man-nature interactions that can be seen in the development of the work. It attempts to reflect the space-time context by highlighting man’s coexistence with the environment and his inferences due to socio-environmental and economic agents and interpretations about the world. However, this perception does not only translate into contact with the physical elements of planet Earth and all living beings, but how we experience this coexistence, starting with ourselves. Work carried out in Basic Education – with four classes of Integrated High School at the Federal Center for Technological Education of Minas Gerais (CEFET-MG), Campus 1, in Belo Horizonte. This practice combines geographic and socio- environmental knowledge, environmental awareness and a taste of reading. Keywords: geography and children’s literature, socio-environmental discourses, Antonio Gramsci, historical-critical pedagogy. RESUMEN Esta exposición pretende escudriñar el libro infantil El ratón y la montaña, de Antonio Gramsci & Laia Domènech, destacando la percepción del medio ambiente a través de la literatura a partir de las interacciones entre el hombre y la naturaleza que se aprecian en el desarrollo de la obra. Intenta reflejar el contexto espacio-temporal destacando la convivencia del hombre con el medio ambiente y sus inferencias debido a los agentes socio-ambientales, económicos e interpretaciones del mundo. Sin embargo, esta sensación no se traduce sólo en el contacto con los elementos físicos del planeta Tierra y todos los seres vivos, sino también en cómo experimentamos esta comunión, comenzando por nosotros mismos. El trabajo se realizó en Educación Básica con cuatro clases de Enseñanza Media Integrada en el Centro Federal de Educación Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Campus II, en Belo Horizonte. Esta praxis combinó el conocimiento geográfico/socioambiental, la conciencia ambiental y el gusto por la lectura. Palabras clave: geografía y literatura infantil, discursos socioambientales, Antonio Gramsci, pedagogía histórico-crítica. 1 INTRODUÇÃO A questão ambiental é uma temática relevante e melindrosa que merece ser discutida seriamente no ensino e na sociedade, pois está entranhada em meio a articulações e atuações doutrinárias e ideológicas conflitantes: temos a ótica de círculos e corporações que têm em vista a persistência do atual modelo imperante que vê o meio ambiente como mercadoria; em contrapartida, vemos grupos sociais que permanecem lutando contra essa racionalidade capitalista prevalente, acreditando em uma transmutação social vindoura. 3 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 A escola é um mundo abreviado, essas confluências e embates contínuos são evidenciados em seus currículos e programas como salienta Sacristán (2000, p.17): “Reflete o conflito de interesse dentro da sociedade e os valores dominantes que regem os processos educativos”. Na mesma obra (2000), o autor José Gimeno frisa: Em seu conteúdo e nas formas através das quais se nos apresenta e se apresenta […], é uma opção historicamente configurada, que sedimentou dentro de uma trama cultural, política, social e escolar; está carregado […] de valores e pressupostos que é preciso decifrar. (Sacristán, 2000, p. 17) Diante da pertinência da matéria e da demanda de seu desvelamento discernido, justifica- se que os debates acerca da sustentabilidade na contemporaneidade se encontrem vigentes em classe, constatando a magnitude de um ensino voltado para a constituição de alunos/sujeitos arguidores e emancipados. Suficientemente competentes na perquirição dos agentes e inter- relações complexas presentes no meio ambiente, instituindo interpretações críticas e autossuficientes, sem se deixar levar pelos discursos midiáticos incessantes e superficiais que, decerto, assistem a ganhos preeminentes de poucos. Como abordar esse tópico com uma vontade aprofundada na Educação Básica? Nessa consideração, com turmas do 1º ano do Ensino Médio Integrado do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), em Belo Horizonte; alunos que detêm uma base conceitual razoável (investigada previamente), além de senso para distinguirem as várias lidas de mundo, construíram juízos equilibrados nessa práxis aqui mencionada. Pensou-se, após pesquisas realizadas pelos professores e ante suportes de propriedade reconhecida, entre eles os livros infantojuvenis, em se valer da lenda O Rato e a Montanha, do filósofo italiano Antonio Gramsci, como introdução aos conteúdos indicados: Preservação versus Degradação Ambiental/Sustentabilidade na modernidade. Portanto, este relato externa as ricas oportunidades da literatura infantojuvenil no ensino da Geografia, se beneficiando de uma obra única e atemporal, que admite discussões socioambientais circunspectas, uma vez que a dilação e o quadro de sua narrativa são facilmente relacionados com o colapso ambiental e de princípios na atualidade. Com esse intuito, nos alicerçamos na pedagogia histórico-crítica (Saviani, 2007). Neste painel, dá-se o processamento da fundamentação da realidade pelo indivíduo com a intelecção da gênese de dependência que o serhumano estipula com o ecossistema. Por esse nexo originário 4 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 e realista, surge a reprodução da concretude visível na psique do indivíduo, não obstante esse cenário eminentemente sensorial e cognoscível não se qualifica como manifestação do caráter original dos fenômenos observados. Para alcançá-lo, é imperiosa a exteriorização ativa de um pensamento minucioso. De forma igual, essa realização não determina a aquiescência de uma criação utópica de mundo. Para se aproximar da quididade do real, é indeclinável o exercício de suposições ou conjecturas. De acordo com Saviani (2007, p. 419-420): Numa síntese bem apertada, pode-se considerar que a pedagogia histórico-crítica é tributária da concepção dialética, especialmente na versão do materialismo histórico, tendo fortes afinidades, no que se refere às suas bases psicológicas, com a psicologia histórico cultural desenvolvida pela Escola de Vigotski. Logo, a educação favorece tais prognoses e pode ampliá-las pela coexistência entre pares. Segundo Vigotski (2022, p. 284):“Somente no processo da vida social coletiva criaram-se e desenvolveram-se todas as formas superiores da atividade intelectual própria do homem”, pois, ainda em conformidade com Vigotski (2022, p. 284-285): […] na ontogênese, a estrutura e a formação das funções superiores da atividade psíquica realizam-se no processo de desenvolvimento social da criança, no processo de sua inter-relação e de sua colaboração com o meio social que a rodeia. […] manifesta- se no processo de desenvolvimento da conduta duas vezes: primeiramente, como uma função da conduta coletiva, como uma forma de colaboração ou de interação, como um meio da adaptação social, ou seja, como uma categoria interpsicológica, e, a seguir na segunda vez, como um modo da conduta individual da criança, como um meio de adaptação pessoal, como um processo interior da conduta, ou seja, como uma categoria intrapsicológica. Fritjof Capra (2014) sinaliza como a ótica mecanicista da vida nos trouxe à degradação ambiental e existencial na modernidade, uma vez que a escalada da ciência cartesiano- newtoniana – alicerce da revolução científica – faz-se presente em uma ótica de mundo e em preceitos deturpados incorporados como fundamentos do processo civilizatório soberano, desde o período das Grandes Navegações, passando pelo auge da era industrial, até chegarmos hoje com a globalização e o capitalismo financeiro/informacional. Para Capra (2014), no século XXI, devido à extensão e à incompreensibilidade dos problemas preponderantes do nosso tempo, os mesmos não conseguem ser resolvidos e/ou verdadeiramente apreendidos se vistos de modo isolado. São todos reveses sistêmicos nos quais 5 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 os seus fatores estritos estão inter conjugados e são recíprocos. Devem ser assimilados como ângulos dissemelhantes de uma instabilidade una e sem igual, que tem como origem “uma crise de percepção” inapropriada e injusta de um mundo cada vez mais interconectado, mas profundamente desigual e desumano. Em paridade, citamos Vigotski ao explorar as correntes psicológicas não materialistas histórico-dialéticas, consideradas por ele como tendo uma qualidade histórica, mas irremediavelmente duvidosas e incorretas, em seguida: Somos dialéticos e não pensamos, de modo algum, que o caminho de desenvolvimento das ciências ande em linha reta. E se nele há ziguezagues, retrocessos ou mudanças de direção compreendemos seu significado histórico e os consideramos (assim como o capitalismo é uma etapa inevitável em direção ao socialismo) como elos necessários de nossa corrente, etapas inevitáveis de nosso trajeto. […] Sabemos que a ciência como caminho da verdade inclui obrigatoriamente, e na qualidade de momentos necessários, equívocos, falhas, preconceitos. O essencial para a ciência não é o fato de que se produzam, mas que ainda que se trate de erros, conduzem às verdades, que são superáveis. (Vigotski,1996, p. 404-406) Destarte, nos perguntamos, enquanto educadores, como Carlos Brandão (1995, p. 45): “Se a educação é determinada fora do poder de controle comunitário dos seus praticantes, educandos e educadores diretos, por que participar dela, da educação que existe no sistema escolar criado e controlado por um sistema político dominante?”. O começo da delineação meditativa no indivíduo, que permitirá que ele critique o próprio mundo e busque respostas para esta e outras interrogações, para Gramsci (1999, p. 88), reside na: […] dialética real, que compreende a história superando-a com a ação, e que não separa história e filosofia, mas – colocando os homens sobre seus pés – faz destes os artífices conscientes da história, e não os joguetes da fatalidade, na medida em que os seus princípios, e, os seus ideais, centelhas que brotam das lutas sociais, são precisamente estímulos a práxis que, mediante a sua ação, se subverte. […] dialética real do materialismo histórico. E Gramsci releva, ainda, a instituição do autoconhecimento: [...] é a consciência daquilo que somos realmente, isto é, um “conhece-te a ti mesmo” como produto do processo histórico até hoje desenvolvido, que deixou em ti uma infinidade de traços recebidos sem benefício no inventário. Deve-se fazer inicialmente este inventário. (Gramsci, 1999, p. 94) 6 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 Uma das viabilidades de começarmos este “inventário” é quando o indivíduo “possui uma linha consciente de conduta moral, e contribui assim para manter ou modificar uma concepção do mundo, isto é, para suscitar novas maneiras de pensar” (Gramsci, 2004, p. 53). Conhecedor desse processo, Carlos Rodrigues Brandão (1995, p. 45) responde à sua indagação inaugural: A resposta mais simples é: “porque a educação é inevitável”. Uma outra, melhor seria: “porque a educação sobrevive aos sistemas e, se em um ela serve à reprodução da desigualdade e à difusão de ideias que legitimam a opressão, em outro pode servir à criação da igualdade entre os homens e à pregação da liberdade”. Uma outra ainda poderia ser: “porque a educação existe de mais modos do que se pensa e, aqui mesmo, alguns deles podem servir ao trabalho de construir um outro tipo de mundo”. Gramsci (2017) enfatiza novamente a alçada da cultura contígua ao universo escolar e a outros modos de conformação social para a compleição do indivíduo consagrado historicamente e a sua humanidade, a seguir: Fornece o ponto de partida para o posterior desenvolvimento de uma concepção histórica, dialética, do mundo, para a compreensão do movimento do devir, para a valorização da soma de esforços e de sacrifícios que o presente custou ao passado e que o futuro custa ao presente, para a concepção da atualidade como síntese do passado, de todas as gerações passadas, que se projeta no futuro. (Gramsci, 2017, p. 51) 2 DESENVOLVIMENTO O mero emprego da literatura infantojuvenil em atividades educativas na Geografia não propicia uma “salvação” fantástica para problemas de ensino-aprendizagem da disciplina. Todavia, oferece, inicialmente, aberturas para possíveis contextualizações e sensatezes críticas – tendo como égide os conceitos geográficos e experiências de vida dos alunos – avante das referências que estão veladas ou declaradas nas proposições, apoiando o incentivo à cidadania e à mudança social. A obra O Rato e a Montanha, de Antonio Gramsci, é uma fábula escrita em 1931 para os seus filhos e enviada, por carta, para a sua família, quando o seu autor se encontrava preso pelo regime fascista italiano. As fábulas se revelaram originalmente no Oriente para orientaremfilosoficamente (juízos éticos e demais valores relativos ao conduzir humano: empatia, respeito, honestidade, liberdade, 7 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 responsabilidade, solidariedade...) os indivíduos por meio de um resgate de convicções histórico- sociais e morais predeterminadas. Genericamente, têm os animais e os objetos como protagonistas em uma narração alegórica e curta, sublinhada no espaço-tempo, afora a prosopopeia como figura de linguagem. Os personagens são considerados como manifestações figuradas dos entes humanos que se apresentam frente a um dilema a ser resolvido imperativamente. Deseja-se, nessa práxis, ultrapassar as fronteiras da “moralização” da fábula, o cogito antiquado de simples transmissão de noções e/ou a leitura como uma tradução trivial dos indicadores gráficos e do texto. Na opinião dos autores, o livro infantojuvenil é um dispositivo que pode oportunizar uma leitura com bons atributos e tornar subjacentes as unicidades didáticas escolhidas, superando uma concepção positivista de ensino. O entendimento aqui de leitura é aquela que estende algum aporte intelectual mínimo para aquele que lê, em uma formulação sociointeracionista de ensino, reconhecendo a sequência e características da descrição, extrapolando-a, saindo de suas páginas para a orbe real, fazendo com que os alunos a depreendam como mais um recurso de expansão e obtenção de novos saberes, dentre muitos, produzindo deduções. O enredo criado por Gramsci descreve a aventura de um rato que bebe um copo de leite que seria dado a uma criança que, por sua vez, chora de fome por não tê-lo bebido. Consternado e objetivando resolver o contratempo que causou, o rato anda pela localidade buscando, na natureza, maneiras de conseguir o leite para sanar a fome do menino. Em suas andanças, procura a cabra, que diz não ter mais leite, pois o campo não fornecia mais capim para o seu sustento; ele conversa com o campo, que informa que não produz mais capim, pois a fonte d’água havia secado. Nessa passagem, verifica-se o desequilíbrio ambiental que atinge a todos os seres viventes e a paisagem da região – a montanha com as suas encostas erodidas e desmatadas, os rios secos – resultante da cobiça humana, representada na história pelos homens de negócio que a tudo destroem. Desse modo, mediante o trabalho de coletivização de todos os personagens da história, no qual cada um deles auxilia o conjunto na medida de suas realizações, o somatório das necessidades comuns se converte em uma intenção de todo tecido social, derivando, daí, a reconhecença como pertencentes àquele lugar em uma sincronia individualizada e igualmente compartilhada. 8 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 Com esse sentido, Antonio Gramsci aborda antecipadamente, fazendo uso da arte em seu livro infantojuvenil O Rato e a Montanha (Gramsci & Domènech, 2019), uma relação palpável do indivíduo/personagem com o meio ambiente, em um primeiro momento negativamente, e, depois, com a tomada de consciência, com o sobrepujamento de seu cotidiano imediato e interesses egoístas. Concatenado com Valentin Volóchinov (2019, p. 279), quando o mesmo exalta: Ao construir o seu personagem, o escritor não deve esquecer nem por um minuto que a força da expressividade da arte, depende, em um grau significativo, da força da verdade da vida contida na obra. A dialética implacável dos acontecimentos sociais e a sucessão cruel da lei de causa e consequência devem ser as mesmas tanto na vida quanto no romance. Para, posteriormente, reflexionando possíveis saídas para os problemas ambientais iminentes – onde as circunstâncias adversas, o ambiente físico e todos os seres/entidades animados e inanimados estão articulados, deduz o valor da inserção no agrupamento e a força comunitária. Mostrando, então, o avanço de uma formação cidadã – não mais como o indivíduo/personagem alheado e fracionado, mas com o livre-arbítrio de escolha e lucidez detrás dos encaminhamentos que tem pela frente. Por consequência, no tracejamento da agnição dos indivíduos/personagens, há uma série de espaços (do “eu literário”, do reconto, dos personagens, do leitor, das ilustrações, de reflexão, etc.) e todo um seguimento que começa pelo reconhecimento do(s) conflito(s). A saber: o pequeno que chora pela ausência do leite; a cabra que não produz leite pela carência de capim; o campo que não faz brotar o capim pela supressão da água; a fonte sem água e destruída pela guerra; o pedreiro incapaz de consertar a fonte, pois não consegue pedras; o desmatamento da montanha enriquecendo os poderosos e provocando o desmoronamento de suas encostas, etc. – em uma hierarquização de valores que se dá pela síntese e assimilação dos componentes cruciais para cada sujeito/grupo. Para Merleau-Ponty (1996, p. 238), com a fenomenologia acerca do(s) espaço(s): O espaço não é o ambiente (real ou lógico) em que as coisas se dispõem, mas o meio pela qual a posição das coisas se torna possível. […]. Devemos pensá-lo como a potência universal de suas conexões. […] eu reflito, retomo o espaço em sua fonte, penso atualmente as relações que estão sob essa palavra, e percebo então que elas só vivem por um sujeito que as trace e as suporte, passo do espaço espacializado para o espaço espacializante. 9 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 Subsistem, ainda, várias expressões da paisagem natural ou física no redigido (como panorama de fundo e convergência vívida de todos, por exemplo), a sua visualidade aparente e a constatação da devastação ambiental impressa na sua materialidade imagética, em belas ilustrações. Embora a paisagem narrada traga em si as marcas dos tempos geológico/geomorfológico (a montanha, o vale, as pedras...) e o civilizatório (a criação da vila, encostas desmatadas, entranhas sem terra, a guerra...) graças a sua afiguração, há os contatos que trouxeram câmbios de saberes culturais que, ao serem internalizados, alteraram tais conjunturas – transcendendo a territorialidade imaginária do livro. “Qualquer intervenção humana na natureza envolve sua transformação em cultura, apesar de essa transformação poder não estar sempre visível, especialmente para um estranho” (Cosgrove, 2012, p. 225). Por meio dela e de sua instabilidade ecológica manifesta pela ação antrópica (homens de negócio), expõem-se as vinculações de poder em distintos níveis: o impulso civilizatório europeu mediante a Revolução Industrial e o confisco dos recursos naturais; a ideia de que a destruição ambiental seria um mal necessário, daí o imobilismo dos personagens – em um primeiro instante – com os problemas vividos; a busca individual por alimento pelo rato, sem medir as consequências de seus atos; os impactos ambientais e as mudanças climáticas causados pelas ações humanas no vale – erosão, perda de fertilidade dos solos, extinção de espécies animais e vegetais, escassez de chuvas, diminuição da água potável, etc. Desse jeito, com Cosgrove (2012) ao examinar a justaposição entre cultura e natureza, situação claramente exposta no livro O Rato e a Montanha, temos: Revelar os significados na paisagem cultural exige a habilidade imaginativa de entrar no mundo dos outros de maneira autoconsciente e, então, re-presentar essa paisagem em um nível no qual seus significados possam ser expostos e refletidos. Uma vantagem que temos ao tratar a paisagem dessa maneira é que muitos de seus significados são “naturalmente” encontrados no sentido de que seu ponto de partida é algo comum à nossa experiência, na medida em que somos parte da natureza […]. (Cosgrove, 2012, p. 226) Ademais, da associação das mesmas com os sentimentos de desconforto, desamparoe, posteriormente, de força, capacidade de luta e conversão: “E prometeu à montanha que o menino, quando crescesse, replantaria pinheiros, carvalhos e castanheiras. A chuva voltaria a formar riachos e a regar o vale, as terras voltariam a ser férteis...”(Gramsci & Domènech, 2019, p. 31). 10 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 Assim, por sua revelação simbólica e essência, a paisagem também é palco das exteriorizações da existência humana no enfoque sócio-histórico e cultural, revelando-a como espaço social. Como uma nova descoberta do mundo por outros olhares, uma vez que os problemas ambientais e as suas resoluções na obra, partiram do interior da própria coletividade, restaurando-se laços. “Quando cresceu, o menino cumpriu a promessa do rato. […] e a montanha recuperou todo o seu esplendor” (Gramsci & Domènech, 2019, p. 36). Sobre o tipo de consciência que aspiramos, Gramsci (apud Mochcovitch,1985, p. 98) explicita: O homem não é o animal bípede e implume que sempre temos sob os nossos olhos. Nem chega a converter-se em homem quando se transforma no autômato que, introduzido em uma determinada engrenagem social e hierárquica, cumpre mais ou menos mecanicamente sua missão para assegurar a ele e a seus filhos uma vida opaca. A este animal não importará jamais o destino de Prometeu, nem o destino do homem. Para ele nem o grego nem a filosofia servirão para nada, nenhuma delicadeza do espírito perturbará sua digestão. Mas esta não é a humanidade ou, pelo menos, não é essa a humanidade de que desejamos falar. O nosso homem é o homem que tem aquilo que se chama uma consciência […]. Dessa feita, presencia-se o engajamento do argumento simbólico da escrita com a tatilidade próxima de quem a lê, a filiação espacial, amorosa e atávica com a terra e a conexão do espaço privado do indivíduo/personagem/leitor com a contextura da paisagem, designando outras espacialidades e afetividades. Em correspondência entre o expresso por Gramsci em sua história infantojuvenil e a performance da “endocultura” (Brandão,1995) instaurada nas comunidades – na qual “a educação é uma fração da experiência endoculturativa” –, constatamos nos enunciados de Carlos Rodrigues Brandão (1995, p. 10): Dentro de sua cultura, em sua sociedade, aprender de maneira mais ou menos intencional (alguns dirão: “mais ou menos consciente”), através do envolvimento direto do corpo, da mente e da afetividade, entre as incontáveis situações de relação com a natureza e de trocas entre os homens, é parte do processo pessoal de endoculturação, e é também parte da aventura humana do “tornar-se pessoa”. Com uma versão otimizada de Gramsci, com a clareza das lutas irrompidas pelo movimento revolucionário na Rússia, assinala-se a convicção da ruptura entre o arcaico e a esperança de um mundo igualitário. Continuadamente, Gramsci esclarece, subliminarmente, que o proceder do homem está à vista da luz da teoria marxista. 11 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 Precisamos, portanto, esclarecer as implicações históricas e culturais que ascenderam com as ideias socialistas no começo do século XX, que serviram de sustentáculo para a obra de Gramsci e tantos outros intelectuais no século passado, particularmente. Para tal, com Tuleski (2002, p. 22): Imagine-se que uma comunidade de homens, apartada de um conjunto maior, optasse por se organizar de uma forma tal que os homens fossem e parecessem dependentes uns dos outros e de modo que a consciência coincidisse com o conhecimento e o conhecimento com a vida tal como é. Esses homens provavelmente teriam que enfrentar uma dura batalha para deixarem de ser o que são e os de fora teriam sérias dificuldades para entender suas lutas e conhecer seu processo de transformação tanto objetiva quanto subjetivamente. Imagine-se, agora, que o povo russo seja essa comunidade; o socialismo, o projeto de sociedade a ser construído por eles […]. Num universo globalizante, hedonista e seletivo em que o discernimento e as ligações de interdependência entre os indivíduos, principalmente nas pequenas comunidades, estão se esvaindo: […] essa consciência não pode mais existir. […] Dependente de relações muito mais amplas, cada homem, no entanto, parece livre para decidir o que fazer, sem ninguém depender dele e sem depender de ninguém. Nesta relação entre o ser e o parecer, definem-se os limites da consciência […]. (Tuleski, 2002, p. 21) Tuleski (2002, p. 21), mais uma vez, reitera a controvérsia: “Sobre a verdade dessa consciência paira a seguinte dúvida: é possível a consciência de uma vida globalizada sem o conhecimento compatível sobre essa existência?”. A literatura como linguagem é transversal, com o seu auxílio se discutem teores de qualquer ramo do conhecimento humano em ligação com a cotidianidade de nossas vivências, cultiva a imaginação e paisagens/territórios com potencial de comunicação com nossos sentimentos e indiscutibilidades, e também com as bases da ciência geográfica. Esse intelecto socioambiental-afetivo pela literatura é aberto, o espaço narrativo se torna “territorial” com a sua mostra na tangibilidade, acima da localização geográfica, quando o leitor se dispõe a projetar reexames de vida e antever horizontes futuros na efemeridade da leitura, que, são inúmeras. Há uma natural amplidão com aproximações geográficas na/pela literatura e quando em sala de aula, fazemos uma ponte com subsídios e noções geográficas, acentuando-se as amarras entre o figurativo, a aventura descrita e episódios reais do comum. Em equivalência com Monteiro (2002, p. 71): 12 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 Embora não tornado preciso, o espaço romanesco insere-se numa realidade geográfica que advém justamente da fusão destes diferentes (mas não antagônicos) espaços que, embora se expressando por meios (geometrias) diferentes, podem atingir uma definição territorial. O que falta em precisão topográfica é compensado por percepção topológica. De qualquer forma, nunca ficamos indiferentes a ela – a literatura, por sua sobreposição de tempos, espaços e emoções.“A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo, e nesse sentido uma história narrada pode significar o mundo com tanta ‘profundidade’ quanto um tratado de filosofia” (Merleau-Ponty,1996, p. 19). No lume de Bakhtin (1981, 2003), a perspicácia está emparelhada com a linguagem, já que se afirma como autêntica por intervenção explícita em signos, retratando determinada existência palpável e configurando outra(s), submetidas a orientações de cunho ideológico e inseparáveis de uma visiva específica de mundo. Por isso, a consciência se compõe genuinamente quando se introduz nos conceitos ideológicos e tão somente, no desenvolvimento de um entrosamento sociocultural, na apreensão de referenciais de outros indivíduos; ou seja, é uma ocorrência discursiva, dialógica, socioideológica; sua logicidade se desenrola na comunicação semiótica-linguística de uma comunidade. O intercâmbio entre vida e dialogismo é expendido por Bakhtin (2003, p. 348): A única forma adequada de expressão verbal da autêntica vida do homem é o diálogo inconcluso. A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do diálogo: interrogar, ouvir, responder, concordar, etc. Nesse diálogo o homem participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, todo o corpo, os atos. Aplica-se totalmente na palavra, e essa palavra entra no tecido dialógico da vida humana, no simpósio universal. Reconhecer o mundo e se identificar com/nele, patenteia lhe dar uma significação de maneira simultânea com um movimento de razoabilidade por si só, criandouma identidade, uma alomorfia constante com uma reelaboração de seus discursos e ícones. Se o discernirmos advertidos dessa incompletude, mas vivenciando-o, estaremos próximos de sermos sujeitos de nós mesmos com autonomia e criticidade. Ilustrando esse ângulo com Gramsci (1999, p. 413): A humanidade que se reflete em cada individualidade é composta de diversos elementos: 1) o indivíduo; 2) os outros homens; 3) a natureza. [...] O indivíduo não entra em relação com os outros homens por justaposição, mas organicamente, isto é, na 13 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 medida em que passa a fazer parte de organismos [...] o homem não entra em relações com a natureza simplesmente pelo fato de ser ele mesmo natureza, mas ativamente, por meio do trabalho e da técnica. E mais: estas relações não são mecânicas. São ativas e conscientes [...]. Logo, veremos e nos permitiremos inteirar das conquistas e bagagens do outro, vendo-as como competências símiles, isto é, com empatia; o que nos remete novamente ao início da história de Gramsci quando o rato vai à procura do leite para o bebê que chora. A conquista da conscientização do indivíduo/aluno é um dos primados na educação, assim sendo, em sala de aula, a literatura é vista como um precioso engenho na disciplina Geografia para alcançarmos esse termo. 3 METODOLOGIA A sucessão dos estudos se originou com a delimitação do tema socioambiental – Preservação versus Degradação Ambiental/Sustentabilidade na modernidade a ser desenvolvido com o subsídio da literatura infantojuvenil e voltado para o público-alvo escolhido: alunos do Ensino Médio Integrado do CEFET-MG, em Belo Horizonte (1º ano). Após uma averiguação dos autores, a preferência incidiu sobre a obra O Rato e a Montanha (Figura 1), de Antonio Gramsci & Domènech (2019), para motivá-los pela leitura e biografia de Gramsci, com a sala de aula ratificada como espaço social e campo de processos plurais. Consentindo, desse modo, a mutualidade de um grande conjunto de conceitos geográficos/socioambientais discorridos nas atividades efetivadas e valorizando as particularidades de cada um dos alunos para a instituição das conclusões coletivas ao final. 14 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 Figura 1 – Capa e interior do livro O rato e a Montanha de Gramsci & Domènech (2019) Fonte: Gramsci; Domènech. Editora Boitatá, 2019. A sugestão de trabalho com esta história infantojuvenil especial é o trespasse das acepções do texto da fábula para a realidade entre a diligência das caracterizações geográficas/ambientais apresentadas na mesma e enriquecidas por outras(os) linguagens e mecanismos didáticos; da exploração e contemplação dos posicionamentos dos personagens da ficção para a vida dos alunos. Vejamos alguns dos encaminhamentos promovidos, sem considerá-los “determinados” em si (alterados de acordo com cada turma): a) escolha dos assuntos a serem debatidos: Preservação versus Degradação Ambiental/Sustentabilidade na modernidade; b) avaliação diagnóstica das conceituações geográficas/ambientais basilares para a efetuação das atividades; c) análise de apetrechos didáticos susceptíveis de uso em sala de aula; primazia pela literatura infantojuvenil; d) planejamento a partir dos resultados da avaliação pedagógica (aulas disponíveis, turmas que participarão do projeto, material complementar de apoio, viabilização do livro definido para os alunos com antecedência, metodologias, formas de avaliação, datas...); e) investigação pelos alunos dos gêneros literários, o que seria uma fábula e suas características, a vida de Antonio Gramsci e os seus ideais – bem como a conjunção histórica na Itália/Europa no período em que viveu; 15 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 f) leitura prévia em casa e, posteriormente, em sala de aula – coletivamente, com a projeção do livro; reconhecimento de seus personagens, enquadramentos, alocuções, ilustrações; g) verificação da capacidade de interlocução e articulação por parte dos alunos entre os seus conhecimentos anteriores, a narrativa da obra, as suas investigações, a questão ambiental e a leitura de mundo através de suas experiências pessoais com a ajuda dos professores (perguntas instigadoras, exibição oral das pesquisas feitas, debate interposto); h) trocas de informações sobre Antonio Gramsci; i) perquirição das exegeses presentes na obra – o dito e o não dito, no texto e nas ilustrações; j) vinculação entre os espaços existentes no livro infantojuvenil e as ações praticadas por seus atores e com quais fins, atrelando-os com a capacidade de interpretação do espaço cotidiano – a história ambiental do município de Belo Horizonte–MG/Região Metropolitana de Belo Horizonte (com o expediente de mapas, fotografias aéreas/satélites, vídeos curtos sobre os problemas socioambientais da região metropolitana e percepções dos alunos), elaborando-se novas abstrações e raciocínios geográficos; k) socialização do grupo e construção de hipóteses quanto aos problemas ecológicos/climáticos evidenciados na obra de Gramsci e em aproximação, com os da região em que se localiza o CEFET-MG, Campus II (Bairro Nova Gameleira, Zona Oeste de Belo Horizonte) e de modo geral, os da metrópole de Belo Horizonte, assinalando as possíveis condutas individuais/coletivas/governamentais que contribuiriam para amenizar e/ou sanar a degradação ambiental em curso; l) identificação das contribuições da disciplina Geografia e das suas fundamentações teóricas para podermos ter um entendimento mais apurado de mundo e de sua diversidade de conotações; m) conclusões; avaliação das atividades. O trabalho foi sugerido com o propósito de contextualização entre a história contada com a realidade local de cada aluno, a observação da enorme degradação no meio urbano e a ausência de espaços verdes adjacentes à escola e ao bairro, impactando a qualidade de vida de todos e a perda/fragmentação da biodiversidade dos biomas originais de nossa região (Cerrado, Mata Atlântica, Campos Rupestres). 16 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 4 RESULTADOS E CONCLUSÕES Os sortidos artifícios da literatura infantojuvenil deveriam estar mais presentes em sala de aula na Educação Básica e na Geografia, pois ela aumenta a imaginação, o gosto pelos livros, o vocabulário, a sociabilidade e vivifica a laboração de alusões elogiáveis na concretização do aluno/sujeito, na sua capacitação como leitor de(a) livros/humanidade e do ser no mundo; instaurando-se o “desenho” do alcance do local ao global, em uma ambiência socioambiental- econômico-política. O proceder do trabalho nos assegura declarar que intercorreu uma maior motivação pela leitura e o atino dos critérios da proposta. A leitura, junto a outros materiais, permitiu a edificação intrínseca de significados, os alunos/sujeitos interagiram com a história em razão de um arcabouço de qualificações condensadas e organizadas dentro da cultura que a tudo permeia, facultando habilidades e novos aprendizados. Perante a explanação dada, os alunos mobilizaram as suas induções de mundo, traçando outras. Elas foram enriquecidas pelos colóquios interpretativos e posturas. Ao se exporem positivamente nas controvérsias, tiveram voz e analisaram os eventos descritos na história infantojuvenil com os conteúdos geográficos, suas vidas, a de Gramsci e os múltiplos sentidos existentes na fábula, “transladando-a” para os dias atuais. Perceberam, também, vários aspectos identitários com os sujeitos da história, como as preocupações, ansiedades e expectativas de vivermos em um mundo capitalista supressório. Essaratificação não refreou a reflexão, ao contrário, reforçou-a. Por esse prisma, a substância não se encontra no texto em si, ele a suscita apontando caminhos, é o leitor que a forjará recorrendo à compreensão leitora e a todos os elementos a ela subjacentes. Para interpretar os fatos e as suas repercussões em sala de aula, primeiro o professor deve fazer uma sondagem das conceituações geográficas próprias da disciplina e quais são as essenciais para as atividades, fazendo os ajustes necessários em seguida às investigações. Tal como um exame das diversas visões que logram ser projetadas face à face com o raconto e suas ilustrações, o que foi cumprido nessa experimentação. Entretanto, só isso não basta se ansiamos promover um vislumbre reflexivo e analítico da parte de nossos alunos em nossa práxis. Uma das estratégias empregadas foi nos valermos de 17 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 pesquisas (mapas, fotografias, textos jornalísticos, etc.), perguntas incitadoras e a própria biografia de Antonio Gramsci para, gradualmente, questionar: Quem foi Gramsci? O que ele defendia e como isto está impresso em sua história infantojuvenil? Que panorama o autor ambicionava mostrar? Que contrapontos (similaridades, diferenças, pressuposições) por analogias podemos efetuar entre as questões socioambientais retratadas na história com a nossa realidade próxima? A apreciação geográfica minimamente – benfeita – de um texto literário permite a valoração do transcurso do ensino-aprendizagem e o aprofundamento de conteúdos especiais e afins da disciplina, mas não fica restrita a ela, é apenas uma premissa. Contribui, igualmente, como “veículo” em deslocamento na avaliação das dinâmicas físicas, humanas, econômicas e políticas, estruturais e conjunturais tanto nos espaços e tempos histórico-culturais da humanização em curso, quanto nos sistemas naturais do planeta Terra. Encoraja, igualmente, a prática da leitura prazerosa fora da disciplina Língua Portuguesa, pois ela transpõe todas as subdivisões de saberes, em qualquer ambiente, escolar e fora dele, estimulando os objetos estudados em entrelaçamento com a literatura para um diagnóstico acertado dos lugares em que vivemos, preferencialmente. Pois, pensar de maneira disruptiva colabora para a consumação de um raciocínio presumível. Com Manuel Pérez Capote (2021, p. 7) acrescentamos: En la sociedad actual, a la Geografía le corresponde un lugar privilegiado entre las ciencias, por su aporte a la relación naturaleza sociedad y su gran valor cultural, pero solo si es capaz de comprender que el mundo hoy sigue teniendo grandes desafíos y controversias de dimensión geográfica: el hambre, el analfabetismo, la pobreza, epidemias, el desempleo, los refugiados, la violación de los derechos humanos, la guerra, etc. Pero también otros como la deforestación, la desertificación, la contaminación ambiental, el cambio climático y enfrenta quizás uno de los grandes desafíos para lo cual ha quedado demostrado no ha estado preparado, la pandemia Coronavirus, conocido como covid-19; una dimensión geográfica que quizás en cual la naturaleza no sufra cambios trascendentales, pero la sociedad, hombre no será igual. A exploração aguçada do mundo tem a rica contribuição do escopo geográfico para que esse domínio, em relação a essa gigantesca complexidade, aconteça. Conexa a outros aparatos didáticos, a literatura infantojuvenil, serviu, nessa esfera, para o refinamento do ensino- aprendizagem nas indagações socioambientais levantadas, a começar do livro O rato e a Montanha, de Antonio Gramsci, e consecutivamente desenvolvidas. 18 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 O exame das contradições defronte tais circunstâncias contemporâneas sobrevêm pelo fluxo discursivo que se efetua no limiar entre nossas postulações e práticas renovadoras em sala de aula e o traquejo de cada discente em reconhecer as junções entre os modos de ensino- aprendizagem, do particular para o geral, na formulação de um raciocínio geográfico/ambiental, viabilizando intermédios dialógicos em suas vidas e com os seus pares. 19 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.4, p. 01-20, 2024 jan. 2021 REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Estética da Criação Verbal. 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