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AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM AULA 06 Abertura Sistemas de Avaliação Olá! Se os colaboradores e gestores não conhecerem as razões pelas quais sua organização está implementando um sistema de avaliação de desempenho e, mais ainda, não acreditarem que o sistema de avaliação de desempenho pensado será melhor para o reconhecimento do seu trabalho, poderão ocorrer diversos problemas. Medições de desempenho enviesadas, atrasos nas atividades de cada um dentro do processo e tomadas de decisões equivocadas são alguns dos problemas que podem ocorrer se um sistema de avaliação de desempenho eficiente não for implementado. Por isso, é essencial realizar uma comunicação de impacto aos colaboradores explicando quais são os benefícios do novo sistema de desempenho e porque ele é importante para o próprio colaborador e para a organização. Nesta aula, abordaremos em detalhes os sistemas de avaliação do desempenho. BONS ESTUDOS! Referencial Teórico Leia a seguir o trecho "Medidas de capacidade cognitiva, produtividade e motivação", do livro Testagem e avaliação psicológicas: introdução a testes e medidas (das páginas 591 a 594) e em seguida leia o trecho "Fontes ou Formatos Básicos da Avaliação" , do livro O trabalho e as Organizações: atuações a partir da psicologia (das páginas 539 a 548) para aprender mais sobre os conceitos e tipos de avaliação. Ao final, você terá domínio sobre os seguintes conteúdos: • Identificar as etapas de um sistema de avaliação, seus pontos positivos e negativos e a importância de gerar dados precisos e confiáveis. • Definir quais aspectos devem ser considerados na construção de uma avaliação para uma equipe. • Reconhecer responsáveis e periodicidade que o processo de avaliação de desempenho deve ser realizado. BOA LEITURA! Testagem e Avaliação Psicológica 591 para reduzir o erro humano (Comer, 1993). O erro também pode ocorrer na interpretação dos resultados. Os metabólitos podem ser identificados com precisão, mas, se eles foram origina- dos do abuso de alguma droga ilícita ou de medicamento sem receita médica, nem sempre pode ser determinado. Para ajudar a prevenir tal confusão, os aplicadores de testes de urina normalmente pedem ao indivíduo que faça uma lista de quaisquer medicamentos que esteja utilizando no momento. Porém, nem todos os indivíduos estão dispostos ou são capazes de lembrar todos os medicamentos que podem ter utilizado. Além disso, alguns emprega- dos relutam em relatar alguns medicamentos prescritos que possa ter consumido para tratar condições às quais algum possível estigma social possa ser associado, como depressão ou epilepsia. Ainda, alguns alimentos também podem produzir metabólitos que imitam aqueles de algumas drogas ilícitas. Por exemplo, metabólitos de opiáceos serão detectados após a ingestão de sementes de papoula (perfeitamente legais) (West e Ackerman, 1993). Outra questão relacionada à validade dos testes para drogas diz respeito ao grau com que as substâncias identificadas por meio do exame de fato afetam o desempenho no trabalho. Algumas drogas saem do corpo muito lentamente. Por exemplo, uma pessoa pode testar positivo para uso de maconha até um mês após a última exposição a ela. Por- tanto, o resíduo da droga permanece muito depois de qualquer prejuízo perceptível por tê-la usado. Em contrapartida, a cocaína sai do corpo em apenas três dias. É possível um usuário habitual de cocaína deixar de usá-la por três dias, ficar muito prejudicado devido à abstinência e, contudo, ainda testar negativo para uso de drogas. Portanto, nem um achado positivo nem um achado negativo relação à testagem para drogas significa, neces- sariamente, que o comportamento foi ou não foi prejudicado por seu uso (Comer, 1993). Uma alternativa à testagem para drogas envolve o uso de testes de desempenho para exame direto do prejuízo. Por exemplo, testes sofisticados, ao estilo de videogames, de coordenação, julgamento e tempo de reação estão disponíveis para comparar o desempe- nho atual com o desempenho basal estabelecido em testes anteriores. As vantagens desses testes de desempenho sobre a testagem para drogas incluem uma avaliação mais direta do prejuízo, menos preocupações éticas em relação a invasão de privacidade e informação imediata sobre o prejuízo. Essa última vantagem é vital em particular para prevenir que indivíduos potencialmente prejudicados venham a se ferir ou ferir os outros. Medidas de capacidade cognitiva, produtividade e motivação Além de seu uso no aconselhamento pré-admissional e na triagem, seleção, classificação e alocação de pessoal, os instrumentos de avaliação são usados para alcançar várias metas no local de trabalho. Segue-se um breve exame desses usos variados dos instrumentos de avaliação com referência a medidas de capacidade cognitiva, produtividade e motivação. Medidas da capacidade cognitiva As decisões de seleção relativas a pessoal, bem como outros tipos de decisões de seleção como aquelas relativas ao licenciamento profissional ou à aceitação para treinamento aca- dêmico, frequentemente se baseiam (pelo menos em parte) no desempenho em testes que exploram o conhecimento adquirido e várias habilidades e capacidades cognitivas. Em geral, os testes cognitivos são instrumentos de seleção populares porque foi demonstrado que são preditores válidos de desempenho futuro (Schmidt e Hunter, 1998). Entretanto, junto com esse histórico impressionante vêm inúmeras considerações relativas a questões de diversidade. Seleção de pessoal e questões de diversidade O uso contínuo de testes que exploram prin- cipalmente as capacidades e habilidades cognitivas para triagem, seleção, classificação e alocação tem se tornado controverso. Essa controvérsia deriva de uma quantidade de evidências bem documentadas que apontam diferenças consistentes de grupo nos testes 592 Cohen, Swerdlik & Sturman de capacidade cognitiva. Por exemplo, os asiáticos tendem a apresentar em média esco- res mais altos do que os brancos em medidas de capacidade matemática e quantitativa, enquanto estes têm escores mais altos do que os primeiros em medidas de compreensão e capacidade verbal. Em média, brancos também tendem a escores mais altos em testes de capacidade cognitiva do que negros e hispânicos. Dado que os escores de teste podem diferir por até 1 desvio-padrão (Sackett et al., 2001), essas diferenças podem ter grande impacto sobre quem consegue qual emprego ou quem é admitido a uma instituição de ensino superior. As diferenças médias entre os grupos em testes de capacidade cognitiva podem contribuir para limitar a diversidade. É interesse da sociedade promover a diversidade nos ambientes de trabalho, nas profis- sões e no acesso a educação e treinamento. Com esse objetivo, a diversidade foi, no passado, encorajada por vários meios. Uma abordagem envolveu o uso de pontos de corte dos testes estabelecidos com base no grupo ao qual o indivíduo pertence. Entretanto, tem havido uma tendência geral de afastamento dos esforços que levam a tratamento preferencial de qualquer grupo em termos de escores de teste. Essa tendência é evidente nas leis, nos processos judi- ciais e nos referendos públicos. Por exemplo, a Lei de Direitos Civis de 1991 tornou ilegal que os empregadores ajustem os escores de teste de acordo com o grupo ao qual o indivíduo pertence. Em 1996, a Proposição 209 foi aprovada na Califórnia proibindo o uso da condição de membro de determinado grupo como base para qualquer decisão de seleção nesse estado. No mesmo ano, uma corte federal determinou que a raça não era um critério relevante na seleção de candidatos a universidades (Hopwood vs. State of Texas, 1996). No estado de Washington, os eleitores aprovaram uma lei que baniu o uso da raça como um critério nas admissões a universidades e nas contratações (Verhovek e Ayres, 1998). Como a diversidade no local de trabalho e em outros contex- tos pode ser alcançada enquanto ainda são usados testes conhe- cidos por serembons preditores de desempenho e enquanto é in- corporada aos critérios de seleção uma preferência por qualquer grupo? Embora nenhuma única resposta a essa questão complexa provavelmente satisfaça todos os envolvidos, há vagas de empre- gos aguardando para serem preenchidas e cadeiras aguardando serem ocupadas em instituições educacionais e de treinamento; alguma estratégia para equilibrar os vários interesses deve ser encontrada. Uma proposta é que os desenvolve- dores e aplicadores de testes cognitivos nos locais de trabalho deem maior ênfase a ava- liações aplicadas por computador que minimizem o conteúdo verbal e a demanda por habilidades e capacidades verbais (Sackett et al., 2001). Esses pesquisadores recomendam ainda maior confiança na experiência profissional ou pessoal relevante como critérios de seleção. Entretanto, Sackett e colaboradores (2001) advertem que “as diferenças de sub- grupo não são apenas artefatos de tecnologias de lápis e papel” (p. 316), e cabe à socieda- de como um todo tratar efetivamente dessas questões extrateste. Produtividade Produtividade pode ser definida, de modo simples, como o rendimento ou o valor gerado em relação ao esforço de trabalho exercido. O termo é usado aqui em seu sentido mais amplo e é igualmente aplicável a trabalhadores que fazem produtos e a trabalhadores que fornecem serviços. Para um negócio ser bem-sucedido, a monitoração da produção com o objetivo final de aumentar o rendimento é fundamental. As medidas de produtividade ajudam a definir não apenas o ponto em que o negócio está, mas também o que é preciso para que ele chegue aonde deseja. Um fabricante de aparelhos de televisão, por exemplo, poderia descobrir que as pessoas que fabricam a cobertura estão trabalhando na eficiência ideal, mas as responsáveis pela instalação das telas nos gabinetes estão trabalhando na metade da eficiência esperada. Uma avaliação da produtividade pode ajudar a identificar os fatores responsáveis pela queda de desempenho dos instaladores de telas. R E F L I T A . . . De que formas gerais a sociedade pode tratar melhor essas questões extrateste? Testagem e Avaliação Psicológica 593 Usando técnicas como avaliações do supervisor, entrevistas com empregados e em- pregados disfarçados inflitrados no local de trabalho, o administrador poderia determi- nar o que – ou, em particular, quem – é o responsável pelo desempenho insatisfatório. Talvez o método mais comum de avaliar a produtividade ou o desempenho do trabalha- dor seja o uso de procedimentos de classificação pelos superiores na organização. Um tipo de procedimento de classificação usado quando grandes números de empregados são avaliados é a técnica de distribuição forçada. Esse procedimento envolve a distribuição de um número ou porcentagem predeterminados de avaliandos em várias categorias que descrevem o desempenho (tais como insatisfatório, ruim, razoável, médio, bom, superior). Ou- tro índice de desempenho no trabalho é o número de ausências em um determinado período. Normalmente reflete pior sobre um em- pregado estar ausente em, digamos, 20 ocasiões separadas do que em 20 dias consecutivos como resultado de doença. A técnica de incidentes críticos (Flanagan e Burns, 1955) implica registro pelo supervisor de comportamentos positivos e negativos dos empregados. O supervisor cataloga as anotações de acordo com várias categorias (p. ex., confiabilidade ou iniciativa) para referência rápida quando for necessária uma avaliação. Algu- ma evidência sugere que um período de “lua de mel” de cerca de três meses ocorra quan- do um novo funcionário inicia um emprego e que as avaliações do supervisor refletirão mais verdadeiramente o desempenho do funcionário quando esse período tiver passado. As classificações ou avaliações de pares, ou seja, feitas por outros trabalhadores no mesmo nível, revelaram ser um método valioso para identificar talentos entre os empre- gados. Embora os pares tenham uma propensão a avaliar suas contrapartes em um nível mais alto do que essas pessoas seriam avaliadas pelos supervisores, as informações obti- das dessas avaliações e classificações podem ser altamente preditivas de desempenho futuro. Por exemplo, um estudo envolveu 117 agentes de seguros de vida inexperientes que frequentaram uma classe de treinamento de três semanas. Na conclusão do curso, os novos agentes de seguros foram instruídos a listar as três melhores pessoas em sua classe em relação a cada uma de 12 situações. A partir desses dados, um escore composto foi obtido para cada um dos 117 agentes. Um ano depois, essas avalia- ções por pares e três outras variáveis estavam correlacionadas com tempo de serviço (número de semanas no emprego) e com produ- ção (número equivalente em dólar de seguro vendido). Como pode ser visto na Tabela 16.5, as avaliações por pares tinham a validade mais alta em todas as categorias. Em contraste, uma correlação próxima de zero foi obtida entre a nota final do curso e todas as categorias. Há um inconveniente nas avaliações por pares? Sem dúvida. Mesmo quando essas avaliações são feitas de forma anôni- ma, uma pessoa que esteja sendo avaliada pode pensar que algum colega suspeito a avaliou muito abaixo do nível esperado. A reação desse indivíduo, por R E F L I T A . . . Quais poderiam ser as consequências a longo prazo de usar técnicas de avaliação que se ba- seiam no uso de “funcionários disfarçados” em um local de trabalho? R E F L I T A . . . Suponha que seu instrutor tenha iniciado um sistema de avaliação por pares como único de- terminante de sua nota em sua classe de men- suração. Esse sistema seria melhor do que o que já existe? Tabela 16.5 Avaliação por pares e desempenho de vendedores de seguro de vida Tempo de serviço Produção 6 meses 1 ano 6 meses 1 ano Avaliação dos pares 0,18* 0,29† 0,29† 0,30† Idade 0,18* 0,24† 0,06 0,09 Salário inicial 0,01 0,03 0,13 0,26 † Nota final do curso 0,02 0,06 –0,02 0,02 Fonte: Maysfield (1972). *p = 0,05 (teste unicaudal) †p = 0,01 (teste unicaudal) 594 Cohen, Swerdlik & Sturman sua vez, pode ser avaliar o colega suspeito extremamente abaixo em retaliação. Além dis- so, colegas nem sempre têm uma base para julgar o critério que a escala de classificação lhes pede que julguem. Mas isso em geral não impede um avaliador no local de trabalho de avaliar um colega. Em vez de avaliar o colega no critério listado no questionário, o avaliador poderia usar um critério particular, “O que esta pessoa fez por mim ultimamen- te?” para responder à escala de avaliação. Em muitas organizações, as pessoas trabalham em equipe. Em um contexto organi- zacional ou de local de trabalho, uma equipe pode ser definida como duas ou mais pes- soas que interagem de forma interdependente visando a uma meta comum e valorizada e que têm cada uma papéis ou funções específicos a realizar. Para uma equipe de vendas, a divisão de trabalho pode simplesmente refletir divisão de territórios de vendas. Na cria- ção de programas de computador complicados, a divisão de trabalho pode envolver a atribuição de tarefas que são muito complicadas para qualquer indivíduo. A operação de um navio de cruzeiro ou de uma embarcação militar requer uma equipe treinada devido ao grande número de coisas que devem ser feitas para o barco navegar. Para alcançar maior produtividade, as organizações fazem perguntas como “O que a equipe sabe?” e “Como o conhecimento coletivo da equipe difere qualitativamente do conhecimento e da experiência individuais de cada um de seus membros?”. Essas e questões relacionadas foram exploradas com várias abordagens à mensuração do conhecimento da equipe (p. ex., ver Cannon-Bowers et al., 1998; Cooke et al., 2000; Salas et al., 1998). O trabalho e as organizações 539539 FONTES OU FORMATOS BÁSICOS DA AVALIAÇÃO Existem basicamente seis fontes distintas de avaliação que podem ser utilizadas por ges- tores em um processo de AD (Shultz; Shultz, 2006), as quais apresentamos a seguir. Avaliaçãopelo superior hierárquico Formato simples mais comumente utili- zado no qual o empregado é avaliado por seu superior imediato. Em geral sua forma de aplicação varia entre uma redação, na qual o chefe descreve as características mais relevantes de seu subordinado, e o preen- chimento de um formulário padronizado (forma menos empregada para avaliar ge- rentes). Avaliação pelos pares Formato normalmente voltado para a ava- liação de gerentes. Nela, pessoas de mesmo nível hierárquico avaliam umas às outras em relação ao desempenho no trabalho, ao re- lacionamento com colegas e à qualidade do trabalho realizado. Devemos considerar que nesse método existe uma tendência à infl a- ção das medidas, pois o avaliador por vezes apresenta uma tendência a não querer se in- dispor com o avaliado. Entretanto, esse pro- blema não inviabiliza ou prejudica sua utili- zação. Muito pelo contrário, de acordo com as pesquisas de Greguras e Robie (1998), a avaliação pelos pares é a fonte mais confi ável de informações sobre o desempenho do in- divíduo, sendo seguida pelos subordinados e depois pelos superiores. Avaliação pelo subordinado A avaliação pelo subordinado é outro exem- plo de fonte simples comumente utilizada na avaliação de gerentes. Nela, o gestor é avaliado por seus subordinados hierárqui- cos em geral mediante o preenchimento de um formulário-padrão. Os principais aspec- tos a serem avaliados são os que de alguma forma relacionam-se com a maneira como o gerente exerce seu comando e sua relação com o subordinado. Entre as várias opções possíveis, podemos destacar: comunicação, delegação de tarefas e responsabilidades, li- derança e resolução de confl itos. Entretanto, cumpre reconhecer que, nessa modalidade, o(s) subordinado(s) assume(m) uma posi- ção de autoridade com relação ao gestor que pode ser utilizada para a execução de agen- das próprias. Em contrapartida, avaliações negativas podem predispor o subordinado a alguma forma de represália por parte do gestor. Por esse motivo, recomendamos que, nessa modalidade, as avaliações sejam apre- 540540 Borges & Mourão (orgs.) sentadas de forma anônima, garantindo a não identifi cação do avaliador. Elementos do desempenho do gestor, característicos de sua função, tais como ati- vidades de coordenação, planejamento e controle, normalmente não fazem parte do repertório observado pelo subordinado e, por esse motivo, são mais difíceis de serem avaliados por ele. Autoavaliação Nesse formato, pede-se ao próprio ges- tor, ou ao empregado, que avalie suas ha- bilidades e seu desempenho. Em geral, o empregado preenche um formulário an- teriormente à entrevista de avaliação. Esse método é utilizado quando se busca maior envolvimento das pessoas no processo de avaliação, uma vez que ele estimula a refl e- xão sobre pontos fortes e fracos do indiví- duo e favorece a discussão sobre barreiras efetivas ao desempenho (Bohlander; Snell; Sherman, 2003). É usual que após a auto- avaliação, avaliador e avaliado discutam os elementos principais da avaliação e che- guem a um consenso sobre seu conteúdo. Os defensores dessa modalidade sugerem que ela seja empregada associada a outros métodos de avaliação. Avaliação 360 graus Muito em voga nos últimos anos, a avalia- ção 360, como é mais comumente conhe- cida, consiste na utilização de múltiplas fontes para avaliar um empregado: supe- rior, subordinados, colegas e ele próprio (autoavaliação). A coleta de informação de múltiplas fontes permite a construção de um quadro mais completo e integrado do desempenho do empregado, já que di- ferentes pessoas (superiores, subordinados e pares) observam aspectos distintos do desempenho de um indiví duo (Latham; Mann, 2006). A principal vantagem dessa modalidade decorre da oportunidade de o avaliado receber feedback sobre várias QUADRO 18.3 Exemplo de objetivo de desempenho Exemplo de objetivo de desempenho em uma instituição bancária: Diminuir o crédito vencido na agência em 5% no prazo de seis meses. Descrição (caracterização do objetivo defi nido): crédito vencido. Métrica (indicador ou indicadores usados para medir o objetivo, periodicidade): percentagem de créditos venci- dos comparada com o ano/semestre anterior. Meta (resultado esperado para a consecução do objetivo): menos 5% em seis meses. Escala (forma de conversão do resultado obtido para uma avaliação, por exemplo, em três níveis): 1 (não al- cançado) – diminuição até 4,5%; 2 (alcançado) – 4,6% a 5,5%; 3 (superado) – mais de 5,6%. Ponderação (peso do objetivo na avaliação): por exemplo, além daquele objetivo, o gerente bancário tinha mais outros quatro objetivos de desempenho, alguns dos quais mais importantes (relacionados, p. ex., com venda cruzada de produtos, satisfação do cliente, etc.). Então, àquele objetivo de diminuição do crédito vencido é atribuída uma ponderação de 15% para o cálculo fi nal da classifi cação de seu desempenho. Essa ponderação deve ser defi nida quando da fi xação dos próprios objetivos. O trabalho e as organizações 541541 dimensões de seu desempenho segundo a perspectiva de diversos atores organiza- cionais, o que pode lhe permitir conhecer melhor o efeito de seu comportamento sobre diferentes grupos de pessoas e sobre as diversas atividades sob sua infl uência. Essa modalidade tem como principal ob- jetivo ajudar a mudança comportamental do avaliado e seu desenvolvimento profi s- sional. Esse formato é menos utilizado do que a popularidade da metáfora de 360 graus faria supor. Por um lado, faz sentido utilizá- -la, sobretudo, com gestores ou com super- visores e nos contextos organizacionais em que a cultura dominante se caracterize por valores e práticas reais de grande confi ança e de abertura na comunicação. Nas organi- zações em que predomina a gestão tradi- cional, o controle prévio e a discricionarie- dade de benefícios, essa modalidade tende a ser menos efi caz para o desenvolvimento profi ssional dos avaliados. Por outro lado, não se trata realmente de um processo de avaliação do desempenho, mas sim de um complemento à avaliação de desempenho, uma vez que, para ser efi caz, é fundamental garantir a confi dencialidade e o anonimato das fontes de feedback (Smither; London; Reilly, 2005; Tornow; London; Cl Associa- tes, 1998). Nessa modalidade, o feedback das vá- rias fontes é coletado por meio de questio- nários estruturados respondidos anonima- mente, com exceção, por vezes, do superior hierárquico. O avaliado recebe a avaliação ou a opinião de cada categoria de fontes de uma forma agregada, e não de cada um dos avaliadores individuais. Além disso, é frequente que o feedback proveniente das várias fontes esteja pouco correlacionado e seja até contraditório, o que decorre, em parte, do fato de elas observarem aspec- tos distintos do desempenho avaliados a partir de perspectivas diferentes (Latham; Mann, 2006). Consideramos indispensável a garantia da aplicação adequada dos prin- cípios e dos procedimentos referidos para que essa modalidade possa ter os efeitos pretendidos, pelo que o sistema tem de ser devidamente validado e deve ser explicita- da sua relação com o sistema de gestão do desempenho. Centros de avaliação Como método, os centros de avaliação (CAs) têm sua origem associada à seleção de pessoal. Contudo, ao longo dos anos, tem havido uma drástica alteração em seus propósitos e, hoje, eles são largamente uti- lizados com fi ns de desenvolvimento. Os CAs são basicamente uma técnica padro- nizada de avaliação do comportamento com base em múltiplos inputs (Lievens; Klimoski, 2001). Consistem na simulação de atividades relacionadas ao trabalho que será desenvolvido, de modo que o compor- tamento dos candidatos pode ser observa- do sob situação de estresse e interação com outros participantes. Diversas técnicas são utilizadas simultaneamente, tais como si- mulação de tarefa, discussão e resolução de problemas em grupo, jogos colaborativos e entrevistas individuais.É importante desta- car que os CAs não avaliam o desempenho real do trabalhador, mas sim um conjunto de habilidades e atitudes relacionadas ao trabalho. O número de empregados que podem ser simultaneamente avaliados va- ria conforme o número de observadores disponíveis e o tipo de atividade realizada. Estimamos que o número de participantes possa variar entre 6 e 12 pessoas. De modo geral, consideramos que os CAs têm alta va- lidade preditiva quando utilizados para fi ns de AD. 542542 Borges & Mourão (orgs.) Outros critérios possíveis Ainda que os exemplos apresentados an- teriormente digam respeito, sobretudo, à relação do empregado com seus colegas de trabalho, não existe impedimento teórico, prático ou legal para que outras formas de avaliação sejam utilizadas. Um exemplo seria a avaliação feita pelo cliente com o qual o trabalhador tem contato. Nesse caso, vincula-se o desempenho à satisfação por algum serviço prestado. Outra possibilidade bastante comum consiste em avaliar o desempenho a par- tir de alguma medida direta de resultado, como mencionamos anteriormente. Esse seria o caso, por exemplo, do vendedor que é avaliado em função de metas atingidas (número de unidades vendidas). Existem alguns problemas associados à avaliação do desempenho com base em resultados. O principal deles é a possibilidade de a pes- soa ser avaliada por algo que está além do controle dela, como, por exemplo, variações ocasionais na atividade econômica em fun- ção de uma crise. Por esses motivos, deve- mos ponderar com cuidado sobre o que, de fato, busca-se com a AD. A DISTRIB UIÇÃO FORÇADA Um dos aspectos mais críticos para a efi - cácia do sistema de avaliação do desempe- nho refere-se à classifi cação fi nal de cada empregado e às consequências que lhe es- tão associadas em termos de recompensas ou desenvolvimento da carreira profi s- sional. A maioria dos sistemas de avalia- ção do desempenho utiliza métricas que requerem que cada avaliado seja global- mente classifi cado. Essa classifi cação é ex- pressa em uma pontuação que geralmente se traduz em seu posicionamento em uma escala de 3 a 5 categorias de profi ciência, como, por exemplo, “muito abaixo do requerido”, “abaixo do requerido”, “ade- quado”, “acima do requerido”, “muito acima do requerido”. Devido a diversos fatores, alguns dos quais citados anterior- mente, é frequente verifi carmos um infl a- cionamento das pontuações atribuídas aos colaboradores por seu desempenho. Essa tendência para infl acionar as pontuações afeta fortemente o rigor e a validade das avaliações atribuídas e, em última instân- cia, pode afetar mesmo a credibilidade do sistema de avaliação de desempenho. Para contornar esse problema, muitas organi- zações introduziram em seu sistema de avaliação um dispositivo de distribuição forçada. Esse dispositivo foi muito popu- larizado a partir da década de 1970 e assu- miu formas extremas em empresas como a General Electric nos Estados Unidos (Wel- ch; Welch, 2005). Embora por vezes seja vista como uma modalidade de avaliação do desempenho, é importante esclarecer que, na realidade, a distribuição forçada não se baseia na ava- liação em face de padrões, critérios ou ob- jetivos previamente estabelecidos. Consiste em estabelecer três, quatro ou mais grupos de desempenho, por exemplo, o grupo dos medíocres, o grupo dos bons, o grupo dos excelentes. Cada indivíduo é depois “forço- samente” posicionado em um desses gru- pos cujos “membros” de forma suposta têm um desempenho idêntico. Nesse sentido, a distribuição forçada traduz, sobretudo, uma comparação do desempenho dos indi- víduos uns face aos outros. Cada unidade da organização, ou mesmo cada avaliador, deve incluir certa percentagem de seus empregados em um desses grupos ou, em uma modalidade menos extrema, é vedado superar certa percentagem de empregados na categoria superior. Por exemplo, apenas 10% dos funcionários podem ser classifi ca- dos como excelentes. O trabalho e as organizações 543543 Um dos métodos mais frequentemente utilizados para fi xar o número de grupos ou categorias de desempenho e respectivas per- centagens consiste em utilizar a curva nor- mal, segundo a qual uma pequena parte deve fi car no extremo mais elevado e no extremo mais baixo da curva, a maioria deve estar na parte intermediária. Na maioria dos sistemas de avaliação, as porcentagens corresponden- tes a cada parte da curva são defi nidas no próprio sistema, antes de se realizar a avalia- ção, ou seja, antes de se conhecer o desempe- nho dos empregados. Na aplicação pioneira realizada na General Electric, a distribuição forçada requeria que apenas 20% dos avalia- dos pudessem ser classifi cados no topo, 70%, no grupo intermediário e 10%, na categoria mais baixa, sendo que estes deviam ter seus contratos de trabalho fi nalizados com a em- presa, de modo que ela pudesse renovar sua força de trabalho recrutando novos empre- gados e, assim, aumentar seus talentos (Wel- ch; Welch, 2005). Em muitos países, como sucede em quase todos os da União Europeia, a legis- lação trabalhista não permite que aqueles que são classifi cados no grupo do “fundo” fi quem simplesmente desempregados, ve- rifi cando-se algum ajustamento no modo como as organizações aplicam a distribui- ção forçada, impondo quotas para o nú- mero de empregados que podem ser clas- sifi cados como excelentes ou muito bons. Muitas das organizações que passaram a aplicar a distribuição forçada fazem-no porque constataram que seus sistemas de avaliação não conseguiam diferenciar os desempenhos dos empregados, havendo muitos casos em que mais de 90% dos ava- liados eram classifi cados como muito bons ou excelentes. Assim, a distribuição forçada vai “forçar” também as chefi as a realizarem alguma diferenciação dos desempenhos de seus colaboradores e, eventualmente, a di- minuírem os erros e os vieses cognitivos que sempre ocorrem na AD. Todavia, esse método pode dar origem a outros erros e ter consequências nefastas para a motivação dos empregados e a credibilidade do pró- prio sistema de avaliação, uma vez que, por exemplo, um empregado com um desem- penho excelente pode não caber na quota e, por essa razão, ser classifi cado no nível abaixo, o que pode amplifi car os confl itos e os jogos de interesses na organização (p. ex., Dominick; Reilly; Mcgourty, 1997; Lawler, 2002; Schleicher; Bull; Green, 2009). Resumidamente, alertamos que a distribuição forçada, embora seja um ins- trumento de gestão de pessoas, pode não traduzir a contribuição real do desempe- nho de cada empregado para os objetivos da organização, e ela deve ponderar muito bem as vantagens e as desvantagens que es- tão associadas, bem como conferir se esse método ajusta-se à sua cultura interna, às suas práticas de gestão e à sua estratégia de desenvolvimento e sustentabilidade. PRINCIPA IS ETAPAS DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO Considerando o que já foi abordado, pare- ce-nos claro que a especifi cidade é a marca característica da AD. Portanto, não existe um único modelo que possa ser indistin- tamente aplicado a todas as organizações. Cabe ao profi ssional responsável pela co- ordenação e pelo planejamento defi nir os elementos próprios de acordo com as ca- racterísticas do trabalho realizado, os obje- tivos, a cultura e os recursos da organiza- ção. Apesar dessa especifi cidade contextual, é possível identifi car os procedimentos co- muns a qualquer sistema de avaliação e de cuja articulação depende em grande parte a sua efi cácia, como os objetivos do sistema, os métodos ou os instrumentos de medição e os procedimentos de aplicação. 544544 Borges & Mourão (orgs.) O objetivo geral de qualquer sistema de avaliação é idêntico, no sentido em que se propõe habitualmente a aprimorar o de- sempenho e a produtividade do trabalha- dor e da organização. Todavia, os objetivos específi cos dos sistemas podem ser muito distintos, havendo algunsque focalizam as recompensas, outros, as promoções e a mobilidade interna e ainda aqueles que preocupam-se com o desenvolvimento profi ssional dos empregados. Esses objeti- vos específi cos condicionam decisivamente os métodos e os procedimentos, bem como as práticas que são instituídas na organi- zação. Como mencionado anteriormente, os métodos de medição podem ser muito diferentes, embora nos últimos anos tenha- mos assistido ao recurso, quase generaliza- do, da utilização e da avaliação de objetivos de trabalho complementados pela avaliação de certo número de competências ou vice- -versa. No que se refere aos procedimentos, consideramos importante que o sistema de avaliação explicite muito bem alguns aspec- tos críticos e que eles sejam do conhecimen- to de todos os que serão avaliados. São eles: a frequência da avaliação (anual, semestral), quem são os avaliadores e se essa inclui ou não a autoavaliação, os dispositivos de inte- gração vertical e horizontal da avaliação que garantam a equidade intradepartamental e interdepartamental, bem como os disposi- tivos de recurso e de revisão da avaliação, a existência e os propósitos da entrevista de avaliação e como ela articula-se com o pla- nejamento do período seguinte. No que diz respeito à aplicação con- creta do sistema de avaliação, identifi camos um conjunto básico de etapas que devem ser seguidas e seus elementos constitutivos principais, independentemente do tipo de organização e do setor de atuação (Fig. 18.3). De acordo com Latham, Sulsky e Mac Donald (2008), o processo de concre- tização da AD pode ser dividido em quatro etapas principais: a primeira engloba todos os aspectos relacionados à preparação e ao planejamento da avaliação. O foco está na identifi cação daquilo que se pretende me- dir e na concepção de como o processo se desenvolverá. A segunda etapa consiste no processo de AD propriamente dito, ou seja, na medição/estimação do desempenho de acordo com os instrumentos e parâmetros escolhidos. Nesse caso, o foco da atenção consiste na observação do comportamento (desempenho) a ser avaliado ou do resulta- do a ser aferido. A terceira etapa é represen- tada pela devolução dos resultados identi- fi cados (feedback). Nessa fase, atentamos para a avaliação face aos padrões ou objeti- vos que tinham sido fi xados para o período em análise, bem como ao estabelecimento de objetivos e metas específi cas a serem alcançadas por indivíduos ou equipes no período subsequente, e na identifi cação das ações e dos comportamentos que devem ser mantidos, evitados ou implementados. A quarta etapa corresponde àquela na qual decisões gerenciais sobre os recursos hu- manos são tomadas relativas a treinamen- to, recrutamento, promoção, transferência, recompensa ou término de uma relação de emprego, de acordo com os propósitos que Figura 18.3 Etapas do processo de avaliação. Fonte: Os autores. 1. Preparando a avaliação 2. Observando o desempenho 3. Dando feedback e planejando o futuro 4. Implementando decisões gerenciais O trabalho e as organizações 545545 orientaram a implementação do sistema de avaliação. Na sequência, apresentamos cada uma dessas etapas. Etapa 1 – Preparando a avaliação Nessa fase, são tomadas as decisões que moldarão todo o processo de avaliação do desempenho. Muito provavelmente pro- blemas na implementação e na realização dos objetivos organizacionais relacionados à AD têm sua origem em um planejamento pobre e inadequado. A Figura 18.4 mostra as seis fases principais da preparação da avaliação. O ponto de partida desse processo deve ser a compreensão dos objetivos orga- nizacionais. As perguntas-chave a serem fei- tas são: o que a organização busca atingir ao defl agrar um procedimento de avaliação? O que a organização pretende fazer com os re- sultados obtidos? Gostaríamos de chamar a atenção do profi ssional que irá conduzir a AD para essa segunda questão. Todo processo de avalia- ção tem um forte potencial de mobilização emocional das pessoas envolvidas, devido às expectativas criadas, e que, se mal orientado, pode gerar consequências indesejáveis ao longo do tempo. Por esse motivo, dois cui- dados principais devem ser observados: pri- meiro, deixe claro aos participantes quais os alcances e as possíveis consequências da ava- liação e mantenha sua linha de ação. Reco- mendamos não iniciar o processo indicando que ele será a base para o desenvolvimento organizacional e no meio do caminho mu- dar sua orientação para utilizar os resulta- dos, visando a distribuição de recompensas e incentivos monetários ou vice-versa. Alguns autores acreditam que esses dois objetivos (desenvolvimento e distribui- ção de recompensas) podem ser realizados simultaneamente, sendo sua execução so- mente uma questão de opção ou conveniên- cia (Sisson; Storey, 2003). Entretanto, é pre- ciso ter em mente que as pessoas tendem a se comportar de forma distinta perante essas duas situações e muito provavelmente darão respostas diferentes a cada uma delas. Em contrapartida, a mudança de objetivos re- presenta uma quebra do c ontrato (tácito) es- tabelecido com os participantes, que podem oferecer os mais variados tipos de resistência a essa situação com consequências organiza- cionais imprevisíveis ao longo do tempo. Um segundo cuidado a ser observado diz respeito às consequências do processo. O que será feito com os resultados obtidos? Qual a solução para os problemas aponta dos? Essas perguntas trazem implícita a expectativa de alguma forma de mudança ou intervenção. Em conformidade com o que foi discutido anteriormente e buscando evitar a frustração de expectativas, é conveniente que apenas as- pectos sobre os quais se pretende intervir de alguma forma sejam avaliados. Isso signifi ca Figura 18.4 Etapas da preparação da avaliação. Fonte: Os autores. 1. Estabelecimento dos objetivos organizacionais 2. Identifi cação dos aspectos operacionais 3. Identifi cação dos participantes 4. Identifi cação das medidas 5. Construção dos instrumentos 6. Planejamento das ações e feedback dos resultados 546546 Borges & Mourão (orgs.) que apenas devemos buscar medir aquilo que de fato queremos controlar. Uma vez estabelecidos os objetivos organizacionais, o passo seguinte consiste na operacionalização desse plano. Assim, devemos construir os aspectos objetivos e práticos do processo de AD. Nesse ponto, as perguntas-chave são: o que será avaliado? Qual o comportamento que será medido? Em sua origem, essa questão relaciona-se com o modelo de desempenho que o ava- liador (a organização) utiliza. Como vimos anteriormente, o desempenho é um concei- to multidimensional, portanto, ele expres- sa-se de várias formas distintas. É o modelo que direciona o olhar do profi ssional para aspectos específi cos do desempenho que serão medidos e, em última análise, deter- mina o tipo de medida que será utilizado. O terceiro passo consiste em iden- tifi car quais são os participantes da ava- liação, avaliadores e avaliados. Não existe absolutamente qualquer razão formal para que todos os empregados sejam avaliados simultaneamente ou durante um mesmo processo. A AD pode muito bem restrin- gir-se a funções, cargos, setores ou grupos específi cos, se for esse o entendimento da organização. Nesse caso, deve haver algum tipo de particularidade que individualize e justifi que tal procedimento. Uma vez estabelecido qual o aspecto do desempenho (comportamento ou resul- tado) que será medido e as pessoas que par- ticiparão do processo, o próximo passo é identifi car como eles serão avaliados. Existe uma escala a ser utilizada? Entre os vários modelos de medida existentes, qual o que melhor se adapta às necessidades da orga- nização? A avaliação se dará por observação direta dos participantes? O critério funda- mental a guiar essas escolhas é a adequação da medida ao tipo de desempenho que está sendo avaliado e, obviamente, à praticidade deseu uso. Escolhidos os tipos de medidas que serão utilizados, o passo seguinte fl ui na- turalmente: desenhar o(s) instrumento(s) de avaliação. Questões importantes a serem consideradas relacionam-se à qualidade vi- sual do instrumento, à praticidade, ao enten- dimento por parte do usuário e às instruções de preenchimento e de como proceder em caso de dúvidas e não resposta. De imediato, devemos descartar a ideia de que uma boa avaliação é sinônimo de um instrumento ex- tenso e complexo. Longe disso! Os critérios de excelência são função da adequação aos objetivos, funcionalidade, confi abilidade e validade das medidas. Se um desses elemen- tos não estiver presente, recomendamos que o instrumento seja revisado. Por fi m, a última etapa desse processo de pré-avaliação, ou de preparação da ativida- de, engloba o planejamento da aplicação e do feedback das respostas obtidas. Existe a neces- sidade de treinar as pessoas na utilização do instrumento? Onde, como e quando a avalia- ção ocorrerá? Como os resultados serão ana- lisados? De que forma e em que período os resultados serão devolvidos aos participantes? Uma vez que as questões levantadas nessa etapa estejam respondidas de modo adequado, o profi ssional está pronto para a implementação da etapa seguinte, que consiste na AD propriamente dita. Antes de passarmos adiante, gostaríamos de lembrar que o tempo utilizado em planejamento reduz custos e problemas em etapas poste- riores. O planejamento não garante o su- cesso da tarefa, mas amplia em muito a sua possibilidade de sucesso por antecipação de possíveis problemas e soluções. Etapa 2 – Observando o desempenho Nessa etapa, os comportamentos a serem avaliados são observados. Nas seções ante- O trabalho e as organizações 547547 riores, apresentamos várias das ações que serão aqui realizadas. Um dos principais problemas que emergem nessa etapa diz respeito à confi abilidade das medidas e ob- servações que sofrem infl uência de fenôme- nos bastante conhecidos no âmbito da cog- nição social (julgamento de pessoas), tais como o efeito halo, as primeiras impressões e os processos de estereotipia (ver “Cogni- ção social”, a seguir). O fato de essas fontes de vieses (erros) serem parte da estrutura cognitiva de todas as pessoas não signifi ca que uma atitude passiva, por parte do profi ssional respon- sável pela avaliação, seja justifi cada. Muito pelo contrário, para a solução desse proble- ma, recomenda-se uma atenção especial no treinamento dos avaliadores com relação aos critérios de desempenho e às formas de medição. Um segundo elemento que tem for- te potencial de enviesar as observações é a existência de agendas ocultas por parte dos avaliadores individuais ou grupos organi- zacionais específi cos (Fletcher, 2008b). Es- sas agendas podem organizar-se em torno da distribuição dos recursos organizacio- nais limitados, da manutenção do poder de pessoas ou grupos ou ainda da simples disposição de não desagradar avaliados. Considerando que os resultados da ava- liação serão utilizados para a tomada de decisões gerenciais importantes que têm o potencial de infl uenciar o futuro da or- ganização, fi ca claro que se deve sempre atuar de forma a minimizar as fontes de erro na AD. Nesse sentido, e tendo em vista preve- nir alguns desses problemas, é essencial ga- rantir que as medidas utilizadas para avaliar o desempenho sejam: objetivas, relaciona- das com a função, baseadas em comporta- mentos e objetivos específi cos no âmbito do controle do colaborador e comunicadas a ele antecipadamente. Etapa 3 – Dando feedback e planejando o futuro Para além da AD, a etapa de feedback e pla- nejamento futuro representa o núcleo de um sistema de gestão do desempenho que se assenta sobre a articulação entre as teo- rias de avaliação e as de motivação, espe- cialmente no que diz respeito ao feedback e à teoria da fi xação de metas (Goal-Setting Theory) (Latham; Mann, 2006). Isso ocorre porque o feedback dado com frequência é a base para o processo de desenvolvimento e motivação dos trabalhadores. Portanto, justifi ca todo o esforço voltado para melho- rar a qualidade da devolução oferecida aos empregados. Uma vez mais, ressaltamos a importância da preparação das partes en- volvidas nesse processo, via planejamento e treinamento das ações. O feedback é efetivo quando: Cognição social A cognição social volta-se não para o mundo objetivo, mas para a realidade socialmente percebida e como as informações são recolhidas, armazenadas, lembradas e utilizadas. No processo de formação de impressão sobre os outros, assimilamos grandes quantidades de informação verbal e não verbal, moldando nossas impressões em julgamentos. Nesse processo, estamos sujeitos a vieses perceptivos, tais como o efeito halo, no qual inferi- mos qualidades de uma pessoa a partir de um aspecto já observado. Da mesma forma, as primeiras impressões que temos de uma pessoa, sejam elas positivas, negativas ou neutras, tendem a moldar as informações subse- quentes que temos sobre elas. 548548 Borges & Mourão (orgs.) a) tem seu foco no comportamento e não na pessoa; b) é seletivo em seu conteúdo de modo que a pessoa não se perca em um número muito grande de informações; c) foca o comportamento desejado e as formas de obtê-lo; e d) é utilizado como elemento básico para o estabelecimento de metas específi cas (Denisi; Kluger, 2000). Uma vez identifi cados os comporta- mentos a serem mantidos e modifi cados, bem como reconhecidas as restrições am- bientais e organizacionais para sua realiza- ção efetiva, o caminho encontra-se aberto para o estabelecimento de novas metas (pessoais ou grupais), assim como para a identifi cação dos recursos que serão neces- sários à sua realização. Essa etapa é certamente a mais difícil na prática real da AD, sendo geradora de níveis elevados de estresse quer dos avalia- dores, quer dos avaliados. Embora a maior parte dos sistemas atuais de AD contemple a obrigatoriedade de realização de, pelo menos, uma entrevista de feedback ou de avaliação, uma grande parte dos avaliadores adia até o limite sua realização, ou não a faz simplesmente, ou a faz apenas burocratica- mente, isto é, para cumprir procedimentos rotineiros e preencher formulários “para o departamento de recursos humanos”. Por exemplo, em um estudo recente que realiza- mos em uma grande organização cujo sis- tema requer a realização de uma entrevista de feedback, 41% dos empregados fi zeram uma entrevista de avaliação com duração inferior a 15 minutos e apenas 19% reali- zaram uma entrevista com duração supe- rior a 20 minutos, enquanto 15% tiveram conhecimento formal da avaliação sem fa- zer entrevista com seu avaliador. Natural- mente, essa situação indica que é necessário contextualizar muito bem a implementação da AD na cultura e na estratégia da organi- zação, bem como treinar de modo devido os avaliadores a fi m de desenvolver as suas competências para realizarem de forma efi - caz a entrevista de feedback. Etapa 4 – Imple mentando decisões gerenciais Terminada a avaliação e devolvidos os re- sultados a seus participantes, o próximo passo consiste em tomar diversas decisões em conformidade com os resultados en- contrados. Essa fase corresponde a dar consequência aos fatos. Nesse ponto, de- vemos lembrar os objetivos que guiaram a avaliação: desenvolvimento de pessoas ou distribuição de recompensas. Entretanto, não podemos esquecer que o objetivo or- ganizacional último é aprimorar o desem- penho de indivíduos, grupos e organização. As decisões a serem tomadas, no âmbito da gestão de recursos humanos, englobam aspectos relacionados a treinamento de pessoas, remanejamento de equipes, alo- cação de recursos, distribuição de tarefas e responsabilidades e término do contrato de trabalho, entre outros. Os resultados da AD podem (e devem) ainda ser utilizados na gestão estratégica da organização. Portfólio ATIVIDADE Com o avançodo mundo digital, as redes sociais ficam cada vez mais fortes, com milhões de seguidores, os dispositivos com tecnologia de ponta são acessíveis a todos, as informações trafegam em volumes exponenciais – já chegamos aos zetabytes (1021 bytes). Neste cenário, tornou-se audacioso pensarmos em conduzir a gestão de profissionais que vivem neste mundo nos mesmos moldes que fazíamos há 20 anos. Diante desses fatos e das pesquisas internas realizadas, o Banco Premium identificou que seu sistema de avaliação começou a ruir em três pontos basicamente: 1. Parte dos critérios de avaliação era muito genéricos. As pessoas não tinham a real percepção de sua colaboração na construção do resultado. 2. Havia critérios que não refletiam quem eram os bons e maus funcionários. 3. As pessoas acreditavam que as avaliações verticais, entre elas e seus superiores, escondiam-nas da organização, ou seja, se a relação com seu líder estava desgastada, não haveria oportunidades de crescimento ou expansão de atividades em outras áreas. Para esta nova geração, acostumada a constante exposição, esta posição de estar escondida era fatal. Baseando-se no acima exposto, responda à seguinte questão: Quais seriam as medidas a serem tomadas pelo Banco Premium para realinhar seu sistema de avaliação e acompanhar o ritmo dessa nova geração? OBS: Para redigir sua resposta, use uma linguagem acadêmica. Faça um texto com no mínimo 20 linhas e máximo 25 linhas. Lembre-se de não escrever em primeira pessoa do singular, não usar gírias, usar as normas da ABNT: texto com fonte tamanho 12, fonte arial ou times, espaçamento 1,5 entre linhas, texto justificado. OBS: Para redigir sua resposta, use uma linguagem acadêmica. Faça um texto com no mínimo 20 linhas e máximo 25 linhas. Lembre-se de não escrever em primeira pessoa do singular, não usar gírias, usar as normas da ABNT: texto com fonte tamanho 12, fonte arial ou times, espaçamento 1,5 entre linhas, texto justificado. Pesquisa AUTOESTUDO Gestão e avaliação de desempenho: entenda a diferença https://www.youtube.com/watch?v=tKa3GnyMDk0&feature=emb_logo Os termos gestão de desempenho e avaliação de desempenho geralmente são empregados como sinônimos e muita gente nem percebe que são expressões diferentes. Você sabe diferenciá-los? Assista ao vídeo e, ao final, faça uma reflexão sobre estes dois conceitos, explicando em que consiste cada um deles. N