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ORGANELAS SISTEMA DE ENDOMEMBRANAS Pode-se encontrar membranas nas organelas, como o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi, os lisossomos, os peroxissomos, entre outras, formando o chamado sistema de endomembranas. RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO O retículo endoplasmático (RE) é formado por um sistema de membranas interconectadas na forma de tubos ramificados que delimitam uma cavidade conhecida como luz. Uma característica estrutural do RE é a continuidade com o envoltório nuclear. Por outro lado, não existe nenhuma ligação direta das membranas do RE com a membrana plasmática. Ele é encontrado na maioria das células eucarióticas, nas quais ocupa, em média, 10% do volume celular, correspondendo a mais da metade do total de membranas presentes em uma célula animal. A quantidade de RE e sua localização no citoplasma variam de acordo com o tipo e o metabolismo celular. Aspectos Funcionais O RE está relacionado à síntese, à modificação e ao transporte de proteínas e lipídios. Esses componentes podem seguir três destinos diferentes: permanecer no RE, seguir para outras organelas ou ser encaminhado para o exterior da célula por meio da secreção. Neste último caso, o RE é o início da via Biosintética- secretora da célula. SÍNTESE PROTEICA (RER) O RER apresenta-se bastante desenvolvido nas células com intensa síntese de proteínas destinadas à secreção. Os ribossomos permanecem associados ou ligados ao RE durante a leitura do RNAm, logo após, são liberados no citoplasma até serem engajados novamente na síntese proteica. A interação de ribossomos com a membrana do RE sugere que a transferência de proteínas para luz do RE ocorra durante sua tradução pelos ribossomos, enquanto a importação de proteínas em outras organelas (como mitocôndrias, peroxissomos, cloroplastos e núcleo) ocorre pós-traducionalmente. Hipótese do Sinal A sequência N-terminal hidrofóbica, denominada peptídeo sinal, é sintetizada em ribossomos livres no citoplasma e tem a função de encaminhar a síntese proteica para o RE. O peptídeo sinal é clivado posteriormente e não permanece na forma final da proteína. Assim que o peptídeo sinal é traduzido, uma partícula citoplasmática denominada: Partícula de Reconhecimento do Sinal (PRS) liga-se a ele. A PRS é uma ribonucleoproteína composta por um RNA (RNA PRS) e 6 subunidades proteicas. Através dela há o reconhecimento e a ligação do peptídeo sinal. Ocorre, então, o direcionamento do complexo peptídeo nascente-ribossomo para o RER, onde existe um receptor para a PRS. A ligação do receptor à PRS garante também o acoplamento do ribossomo e do peptídeo à membrana do RE. Nesse momento, a PRS já terminou seu papel no direcionamento da síntese proteica para o RE e, pela hidrólise de GTP, há o desligamento da PRS de seu receptor, permitindo a reciclagem de ambos e a continuidade da síntese proteica junto à membrana do RE. Tão somente após a ligação do ribossomo ao RE e o desligamento da PRS, a síntese proteica é reiniciada. Transferência de proteínas solúveis Ao término da síntese, a proteína é completamente translocada através da membrana do RE e liberada na luz. Ali estão presentes proteínas de ligação, que se ligam a proteína recém sintetizada que está sendo transferida para a luz do RE, facilitando o transporte e seu processamento pós- traducional. Assim, é completado o transporte das proteínas solúveis. Transferência de proteínas transmembrana Nem todas as proteínas sintetizadas por ribossomos associados ao RE são solúveis e têm como destino a luz dessa organela. São sintetizadas também proteínas associadas à membrana. As proteínas transmembrana apresentam segmentos hidrofóbicos de alfa-hélice. E, sua síntese segue o modelo descrito anterior- mente. Síntese de lipídeos No RE, são produzidos fosfolipídios que serão utilizados na formação de diversas membranas celulares. Sua síntese ocorre em duas etapas distintas: 1. Dois ácidos graxos são ligados a um glicerolfostato, produzindo um ácido fosfatídico. Essa reação ocorre no citoplasma. O ácido fosfatídico é um componente anfitpático compatível com a bicamada lipídica em que é inserido. 2. Acontece a diferenciação da cabeça polar dos fosfolipídeos pela inserção de inositol, serina, etano-lamina ou colina, formando diferentes fosfolipídeos. . A. A inserção do ácido fosfatídico na bicamada lipídica causa o crescimento da membrana. B. A diferenciação dos fosfolipídios depende da cabeça polar que recebem, podendo ser de quatro tipos: fosfatidilcolina, fosfatidilserina, fosfatidi-linositol e fosfatidiletanolamina. As ceramidas são lipídios também sintetizados no RE. Elas são formadas com a ligação de uma esfingosina e um ácido graxo, pela ação de acil transferases. As ceramidas são precursoras de glicoes- fingolipídios e da esfingomielina, importantes constituintes das membranas celulares. A síntese de colesterol também acontece nas membranas do RE a partir de um precursor, o acetil Co-A. Por meio de uma série de reações bioquímicas, é formado o colesterol, que é posteriormente enviado a outras membranas celulares, já que ele não está entre os principais constituintes das membranas do próprio RE. O colesterol ainda será aproveitado em outras reações que acontecem no RE, como na formação de ácidos biliares (no fígado) e hormônios esteroides (nos ovários, nos testículos e nas suprarrenais). Comunicação entre organelas É no RE que ocorre a síntese das proteínas destinadas à secreção e às diferentes organelas, como também, a síntese de lipídeos destinados à membrana plasmática. E, para que essas substâncias cheguem aos seus destinos, são necessários mecanismos de transporte. As proteínas de secreção deixam o RE em direção ao Complexo de Golgi por meio de vesículas, assim como as proteínas destinadas aos lisossomos. Já o transporte de lipídeos para outras organelas acontece também por meio de vesículas e, neste caso, por proteínas transportadoras de lipídeos. Essas proteínas transportam os lipídeos individualmente pelo citoplasma e os entregam para membranas aleatoriamente, seguindo o gradiente de concentração. Glicosilação No RE, as proteínas são modificadas pela adição covalente de carboidratos para a formação de glicoproteínas. Primeiramente, acontece a formação de um oligossacarídeo, na membrana do RE, composto de dois resíduos de N-acetilglicosamina, nove manoses e três glicoses. Esse carboidrato permanece ligado ancorado à membrana do RE por intermédio de um lipídeo chamado dolicol. A glicosilação envolve sempre a ligação desse mesmo carboidrato às diferentes proteínas por uma enzima chamada oligossacaril- transferase. Reservatório de cálcio A presença de proteínas ligantes de cálcio na luz (lúmen) do RE transforma a organela em um reservatório celular dessa substância. O cálcio é um mensageiro citoplasmático para uma série de eventos na maioria das células eucarióticas, como secreção e a proliferação. Em células musculares, os complexos enzimáticos e cadeias transportadoras de elétrons presentes nas membranas do REL totalizam 90% das proteínas presentes nessa organela e atuam no transporte regulado de cálcio. Nas células musculares, um impulso nervoso é o sinal para a despolarização das membranas do RE e sua permeabilização ao cálcio, que é liberado por canais liberadores, desencadeando a contração muscular. E o rápido bombeamento de cálcio de volta para o reservatório, constituídopelo retículo sarcoplasmático, auxilia no relaxamento muscular. Esse bombeamento é mediado por bombas de cálcio dependentes de ATP, de forma que a energia liberada na hidrólise do ATP impulsiona o cálcio de volta para o retículo sarcoplas- mático. Biogênese do Retículo Endoplasmático O RE é o sítio de síntese da maioria dos componentes de membranas celulares, como fosfolipídios e proteínas de membrana. Essas substâncias são produzidas nas membranas do RE e transferidas para outros compartimentos celulares pelo transporte vesicular ou por intermédio de proteínas transportadoras. Embora se possa afirmar que o RE é responsável pela síntese e pela renovação de grande parte das membranas celulares, o mecanismo de biogênese do próprio RE não foi completamente elucidado. Algumas teorias sugerem que o RE se origina a partir de expansões do envoltório nuclear. Os componentes do RE são constantemente renovados. Os lipídios de membrana possuem uma meia-vida que pode variar de algumas horas até dois dias. Já as proteínas podem ter uma meia-vida de quatro a cinco dias (moléculas grandes) ou de vinte a 28 dias (moléculas pequenas). A degradação dos lipídios acontece pela ação de fosfolipases de membrana enquanto as proteínas são degradadas preferencialmente no citoplasma (retrotransporte). Referência – A Célula (3Ed.) | Hernandes Carvalho | Cap. 19 – Retículo Endoplasmático