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João Marcos S. Moura │ UnP 2025.1 Tipos de Dor 1. Dor Nociceptiva (dano tecidual ativo) o Somática: ▪ Bem localizada, piora com palpação ou movimentação. ▪ Relacionada a estruturas como pele, músculos, ossos. o Visceral: ▪ Dor referida, mal localizada, sem piora com palpação. ▪ Relacionada a órgãos internos (ex.: dor da vesícula pode irradiar para abdômen superior). 2. Dor Neuropática o Queimação, formigamento, choques. o Relacionada a problemas no sistema nervoso (ex.: herpes zoster, nevralgia do trigêmeo). Epidemiologia da Dor Torácica • Sintoma muito comum, especialmente em emergências. • Exige avaliação detalhada para diferenciar causas benignas de graves. • Nos EUA, cerca de 8 milhões de atendimentos anuais por dor torácica. • Até 10% dos atendimentos em pronto-socorro envolvem esse sintoma. Diagnóstico Diferencial A dor torácica pode ter diversas origens: 1. Cardiovascular (potencialmente grave) o Infarto agudo do miocárdio (IAM) o Angina instável o Dissecção de aorta o Miocardite/pericardite 2. Pulmonar o Embolia pulmonar (TEP) o Pneumotórax o Pneumonia 3. Gastrointestinal o Refluxo gastroesofágico o Espasmo esofagiano 4. Musculoesquelética: Dor osteomuscular (ex.: pós- exercício) 5. Psiquiátrica: Ansiedade, ataque de pânico. #04 Abordagem dos Principais Sintomas em Cardiologia: Dor Torácica João Marcos S. Moura │ UnP 2025.1 Avaliação Clínica 1. Caracterizar a dor: • Tipo (pressão, queimação, pontada) • Fatores de melhora/piora • Duração • Irradiação 2. Sintomas associados: • Dispneia → Suspeita de TEP, IAM • Sudorese, náusea, palidez → IAM • Síncope → Dissecção de aorta, arritmia 3. Histórico do paciente: • Comorbidades (hipertensão, diabetes) • Uso de drogas (ex.: cocaína pode causar IAM em jovens) • Histórico familiar de doenças cardiovasculares Exame Físico Avaliação Pulmonar • Ausculta: verificar murmúrios vesiculares, presença de estertores (crepitações) ou sibilos. • Percussão: útil se houver suspeita de derrame pleural ou pneumotórax. Avaliação Cardiovascular • Inspeção: observar ingurgitamento jugular. • Palpação: o Verificar ictus cordis (se está desviado). o Sentir frêmitos torácicos. • Ausculta: o Identificar ritmo cardíaco (regular ou irregular). o Avaliar presença de sopros ou terceira bulha (B3), que podem indicar insuficiência cardíaca. • Sinais Vitais: Pressão arterial e frequência cardíaca são essenciais no pronto-socorro. Exame do Tórax • Observar a pele: pode haver lesões sugestivas de herpes zoster (dor neuropática). • Palpação: avaliar pontos de dor muscular, que sugerem dor osteomuscular. CARACTERÍSTICAS DA ANGINA Tipo e Localização da Dor • Dor em aperto (mas pode ser mal caracterizada). • Localização: retroesternal ou precordial. • Região afetada: qualquer dor entre o umbigo e o queixo pode ser anginosa. • Sinal de Levine: paciente pressiona o peito com a mão fechada (indicativo clássico, mas nem sempre presente). Irradiação e Sintomas Associados • Irradiação: geralmente para cima (pescoço, mandíbula, braço esquerdo). • Sintomas associados: o Sudorese intensa o Palidez o Náuseas o Taquipneia o Sensação de morte iminente (liberação simpática intensa). Fatores de Melhor e Piora • Melhora com repouso ou nitratos. • Piora com esforço físico ou estresse emocional. Classificação • Angina típica: quando tem as três características principais (tipo de dor, irradiação e melhora/piora). • Angina atípica: quando tem apenas duas características. João Marcos S. Moura │ UnP 2025.1 • Outra causa: quando tem uma ou nenhuma característica. • Exame físico geralmente é normal, mas pode vir com sintomas de IC como dispneia, crepitação pulmonar... Equivalentes isquêmicos ou anginosos: • Pacientes idosos, diabéticos e mulheres podem apresentar sintomas atípicos, como dispneia, sudorese e mal-estar ao invés de dor típica. • Exemplo prático: Paciente diabético que teve um episódio de mal-estar e sudorese após almoço, diagnosticado com infarto ao realizar eletrocardiograma. • Cuidados: Sempre considerar um eletrocardiograma e, se necessário, dosar troponina para investigar angina nesses casos. Etiologias da dor anginosa: 1. Aterosclerose: o Causa mais comum da dor anginosa, associada a fatores de risco como hipertensão, diabetes e tabagismo. o Dor geralmente relacionada com esforço físico. o Formação de ateroma devido ao acúmulo de LDL nas artérias. 2. Vaso espasmo: o Mais comum em pacientes jovens sem fatores de risco para aterosclerose. o Dor ocorre em repouso, geralmente à noite ou pela manhã. o Caracteriza-se por alterações transitórias no ST do ECG (infra de ST seguido por normalização). Outras etiologias da dor torácica: 1. Estenose aórtica: o Causa dor devido à hipertrofia ventricular secundária à obstrução da válvula aórtica. o Caracteriza-se por sopro ejetivo sistólico e aumento da demanda de oxigênio. o Tríade clássica: angina, síncope e sinais de insuficiência cardíaca. o Ausculta: sopro sistólico ejetivo em diamante. 2. Cardiomiopatia hipertrófica: o Doença genética com hipertrofia do septo ventricular. o Pode causar obstrução à ejeção, semelhante à estenose aórtica, com sopro. o Manobra de Valsalva aumenta a obstrução e o sopro. o Histórico familiar de morte súbita é um sinal de alerta, especialmente em atletas jovens. 3. Pericardite aguda: o Dor em pontadas, com irradiação para região trapézio escapular ou dorso. o Melhora com tórax inclinado para frente e piora ao deitar. o Atrito pericárdico pode ser ouvido, sugerindo inflamação pericárdica. João Marcos S. Moura │ UnP 2025.1 Dissecção Aguda da Aorta • Diagnóstico raro, mas fatal. • Dor súbita e intensa, descrita como lancinante e rasgante. • Pode ocorrer no tórax, dorso e abdômen. • Exame físico: assimetria de pulso e IPA, déficit neurológico, sopro diastólico (em dissecções proximais - tipo A). • Fatores de risco: doenças do tecido conectivo (Marfan), espondilite anquilosante, histórico de aneurisma, válvula aórtica bicúspide, cirurgias anteriores. • Sintomas críticos: dor muito intensa e súbita, possível sopro de insuficiência aórtica. Pneumotórax • Dor súbita e pleurítica, piora com inspiração. • Associada a dispneia. • Pode ser espontâneo (em jovens) ou iatrogênico (após cirurgia ou punção). • Exame físico: expansibilidade reduzida, ausculta abolida no lado afetado, hipertimpanismo à palpação/ percussão. Outras Causas • Gastrointestinais: refluxo, gastrite, dores relacionadas à alimentação ou jejum prolongado. • Musculoesqueléticas: dor somática bem localizada, piora com palpação. • Causas Psiquiátricas: Histórico de transtornos de ansiedade, angústia e nervosismo podem levar a dor torácica. Exames Complementares para Diagnóstico de Dor Torácica • O eletrocardiograma (ECG) é essencial e deve ser realizado em até 10 minutos no pronto-socorro. • O principal objetivo do ECG é identificar alterações esquêmicas (segmento ST e onda T), que podem sugerir causas isquêmicas para a dor torácica. o Padrão subendocárdico: obstrução parcial do vaso, resultando em infra de ST. o Padrão transmural: obstrução total, resultando em supra de ST. Eletrocardiograma (ECG) • O ECG também pode ajudar a identificar pericardite aguda: o Caracteriza-se por supra difuso em várias derivações (ex: V2, V3, AVF, D2, D3) com concavidade para cima e infra de PR. João Marcos S. Moura │ UnP 2025.1 Radiografia de tórax • O raio-X pode ajudar a identificar a dissecção aguda de aorta, revelando um aumento no mediastino. Troponina • A troponina é uma enzima cardíacae pode indicar lesão miocárdica. o A troponina I e troponina T são usadas clinicamente. o Ela se eleva após danos ao miocárdio (geralmente em 3 horas), atingindo pico em 24 horas e permanecendo alta por até 10 dias. o Troponina ultrasensível permite diagnóstico precoce: ▪ Troponina negativa: exclui infarto ou síndrome coronariana aguda (VPN). ▪ Troponina positiva: não significa necessariamente infarto, há diversos diagnósticos diferenciais. o Seriação de troponina: ▪ Se troponina limítrofe, repetir em 1-2 horas. ▪ Se houver aumento > 20%, pode indicar infarto. ▪ Se aumento