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BAIA, M.F.A – “Consciência fonológica” em Site da Editora SBS 
(http://www.sbs.com.br/), 2006. 
 
 
Consciência Fonológica 
 
Maria de Fátima de Almeida Baia 
USP 
 
"O tempo perguntou ao tempo, quanto tempo o tempo 
tem. O tempo respondeu ao tempo, que o tempo 
tem tanto tempo, quanto tempo o tempo tem .” 
 
 
 O reconhecimento dos sons da língua materna, ao longo do processo de aquisição, 
parece ser simples e inevitável para todos que estão expostos a uma língua e que não têm 
nenhum tipo de impedimento físico. Sabemos que até mais ou menos 5 anos de idade a 
criança, sem Déficit Específico de Linguagem (DEL) ou algum outro tipo de atraso, já 
adquiriu a fonologia da sua língua, além da morfologia, sintaxe e semântica. Mas isso não 
quer dizer que os outros componentes da gramática (sintaxe, semântica) não passem por 
mais algum tempo de “desenvolvimento”. 
 O que discuto neste texto é a necessidade de se trabalhar a consciência fonológica 
após a aquisição da língua materna (ou mesmo nos últimos estágios de aquisição – 4-5 
anos). A importância da consciência fonológica está no fato dela colaborar com uma 
alfabetização bem sucedida, ou seja, ela prepara a criança para o processo de 
decodificação da língua, presente na alfabetização, por meio do estudo de grafemas /sons, 
sílabas, palavras etc. 
 Consciência fonológica é a habilidade metalingüística por meio da qual é possível 
existir a consciência dos fonemas, ou seja, uma capacidade de refletir conscientemente 
sobre os sons da língua. Este conhecimento sobre a estrutura sonora da língua 
desenvolve-se nas crianças pequenas por meio do contato delas com a língua oral, porém, 
esta capacidade metalingüística é realmente “ativada” quando há o contato das crianças 
com diferentes formas de expressão oral: músicas, poesias, cantigas de roda, parlendas 
etc. É tarefa então do educador criar situações nas quais esses diferentes tipos de 
expressão oral sejam ativados. Isso não cabe apenas ao professor responsável pela 
alfabetização, pois aqueles que lidam com turmas menores podem começar a estimular as 
atividades, e os outros que atuam com crianças já alfabetizadas podem dar continuidade 
a este processo. 
 Não há aqui exemplos de cantigas ou de outros tipos de canções para serem 
trabalhadas com as crianças. Sugiro que os educadores busquem definições de rima, 
assonância e ritmo; aplicando atividades com canções que exemplifiquem bem aquilo o 
que se deseja trabalhar. 
 Adams et al (2006) apresenta uma série de atividades que trabalham com a 
consciência fonológica e que podem ser aplicadas em crianças desde a pré-escola. São 
apresentados diferentes tipos de jogos: 
 
• Jogos de linguagem - estimulam a habilidade da criança prestar atenção a sons 
de forma seletiva. 
• Jogos de rima - usam rimas para a introdução dos sons das palavras às crianças. 
• Consciência das palavras e frases - desenvolvem a consciência da criança de que 
a fala é constituída por uma seqüência de palavras. 
• Consciência silábica – desenvolvem a capacidade de analisar as palavras em 
sílabas. 
• Introduzindo fonemas iniciais e finais – mostram a existência de fonemas nas 
palavras e como que o sentido da palavra muda de acordo com a mudança do 
fonema. 
• Consciência fonêmica – demonstram a existência de uma seqüência fonêmica 
nas palavras. 
• Introduzindo as letras e a escrita – introduzem a relação entre grafemas e sons 
da fala. 
• Avaliando a consciência fonológica – atividades que auxiliam na avaliação do 
nível geral de consciência fonológica. 
 
A seguir, exponho um exemplo de jogo de escuta bem interessante, retirado de 
Adams et al (2006: 42), que pode ser aplicado em crianças bem pequenas que ainda 
não iniciaram o processo de alfabetização: 
 
Jogo de escuta – Gato, mia 
 
Objetivo: estimular a disposição das crianças para escutar de forma sensível e atenta. 
Atividade: faça com que as crianças sentem quietas em um círculo. Uma delas, de olhos 
vendados, deve sentar-se no centro do círculo (ou deitar, fingindo estar dormindo). 
Enquanto isso, pede-se que outra faça o papel de “gato”. O “gato” vai a uma parte 
qualquer da sala e mia. A criança que está no centro do círculo deve tentar apontar para 
o “gato”. Além disso, deve tentar dizer em que parte da sala o “gato” está e qual é a 
posição dele – se ele está, por exemplo, deitado no chão ou sentado em uma cadeira. 
Quando a criança no meio do círculo tiver descoberto de onde vem o som, a que estiver 
escondendo vai para o meio da sala e, então, será escolhido um novo “gato”. 
Variação: as crianças podem utilizar sons de outros animais (au-au, piu-piu etc); as 
crianças podem utilizar sons que não sejam de animais, talvez ligados a um determinado 
tema que esteja sendo estudado na sala de aula, por exemplo, meios de locomoção. 
 
 Espero ter mostrado razoavelmente o quanto que o assunto “consciência 
fonológica” é de extrema importância. Crianças que possuem uma consciência fonológica 
desenvolvida, progridem mais fácil e rapidamente para o mundo da leitura e da escrita, 
além de terem uma produção bem criativa. 
 
Referência bibliográfica: 
 
ADAMS, M et al (2006) - Consciência Fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: 
Artmed. 
 
LAMPRECHT, R. (2004) – Aquisição Fonológica do Português – perfil de desenvolvimento e 
subsídios para terapia. Porto Alegre: Artmed.

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