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ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS DO PORTUGUÊS
LIVRO-BASE:
GONÇALVES, Carlos Alexandre. Morfologia. São Paulo: Parábola, 2019.
LIVROS COMPLEMENTARES:
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev. ampl. e atual. Rio de Janeiro: Nova 
Fronteira, 2009.
CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 41. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
HENRIQUES, Cláudio Cezar. Morfologia: estudos lexicais em perspectiva sincrônica. 5. ed. atual. Rio de 
Janeiro: Alta Books, 2021.
KEHDI, Valter. Morfemas do português. São Paulo: Ática, 2004.
Morfemas lexicais e gramaticais
Os morfemas podem ser divididos em dois grupos principais: os lexicais e os 
gramaticais. Os primeiros veiculam conteúdo que diz respeito ao universo biossocial, 
como se vê na sequência a seguir, cujos conteúdos principais são modificados pela ideia 
constante de presente do subjuntivo: cant-e; estud-e; compr-e, esmagu-e; suj-e. Os 
conteúdos principais encontram-se nas partes em negrito.
Os morfemas gramaticais, por sua vez, dizem respeito a significados que especializam 
as noções veiculadas pelos lexicais, como é o caso, por exemplo, das informações de 
número singular, nos nomes, e futuro do pretérito, nos verbos (ou futuro do subjuntivo, 
como nos exemplos acima). Assim, dá-se o nome genérico de morfema gramatical a 
todos os formativos que orbitam em torno do lexical.
Radical e raiz
Damos o nome de radical (ou morfema lexical, ou nuclear) ao elemento originário ou irredutível 
que concentra a significação dos vocábulos formais. Desse modo, é a partícula comum a todas 
as palavras da mesma família, ditas cognatas, como camp-, em ‘campo’, ‘acampamento’, 
‘campista’, ‘campina’, ‘campestre’, entre outras. Obtém-se o radical eliminando-se todos os 
demais morfemas gramaticais a ele associados. Assim, radical é a palavra despojada de todas 
as suas marcas flexionais e derivacionais, como garot-, forma a que se chega extraindo-se as 
marcas de diminutivo, feminino e plural de ‘garotinhas’.
Em geral, o termo raiz está associado a uma perspectiva diacrônica, razão por que devemos 
evitar essa designação, embora alguns autores a usem no mesmo sentido de radical ou, então, 
fazem uma distinção que não diz respeito à diacronia. Na perspectiva da diacronia, deveríamos 
buscar a raiz no étimo da palavra. Por exemplo, a palavra ‘rival’ etimologicamente remete à 
noção de “rio” e apresenta a raiz latina riv-, do latim rivus. Hoje, o radical é, sem dúvida alguma, 
‘rival’, porque essa forma sequer é um adjetivo e está longe de ser interpretada como “relativo 
ao rio”, como acontece nos adjetivos X-al, conforme os exemplos a seguir: ‘abdominal, 
estomacal, mortal, filial, vital, dental’. Em todas essas palavras, o radical pode ser isolado com a 
retirada de -al, o que não acontece com ‘rival’, hoje indecomponível.
Vogal temática e tema
A vogal temática, ao lado do radical, será, na língua portuguesa, o elemento indicador do 
tema, permitindo a imediata inserção dos elementos derivacionais ou flexionais.
Nos verbos, tais vogais são bem nítidas, caracterizando-se como os morfemas indicadores das 
três conjugações (cantAr, vendEr, partIr). O verbo irregular ‘pôr’ e seus derivados pertencem à 
segunda conjugação. No português arcaico, apresentava-se como ‘poer’. Reminiscência dessa 
forma arcaica é o adjetivo ‘poente’. Além disso, na própria conjugação dos verbos em -or, 
encontramos a vogal que caracteriza a segunda conjugação: ‘supõEs’, imporEs’, ‘repusEr’, 
‘transpusEsse’, ‘expusEra’.
Nos nomes, apesar de vermos normalmente referência também a três vogais temáticas (-a, -e e 
-o átonas finais), há quem prefira não as incluir, justamente por não ser possível, como nos 
verbos, formalizar distinções entre três grupos, determinando assim seu papel gramatical, ou 
seja, ao lado do radical, formar o tema. Não há acordo entre os linguistas quanto à inclusão das 
vogais temáticas entre os morfemas nominais. Alguns, entre os quais Bechara, preferem usar a 
denominação atualizador lexical.
Vogais temáticas nominais (ou atualizadores lexicais)
As vogais temáticas nominais têm muitas diferenças em relação às VTs verbais, que são 
elementos morfológicos com função de distribuir as palavras de uma dada classe em grupos 
formais bem definidos, como as conjugações (primeira, segunda e terceira). 
As VTs nominais do português, ao contrário das existentes em línguas como o latim e o grego, 
não definem declinações, pois não constituem variações dos nomes correspondentes ao 
diversos casos, de acordo com a função sintática na frase.
Em português, sequer são componentes obrigatórios, pois há vários nomes atemáticos, como 
nos exemplos: anel, ímpar, luz, caqui, sofá, glacê, maçã, ímã, totem, rei, pai, céu. Depreende-se 
desses exemplos que são temáticas apenas as palavras terminadas em vogal átona e oral.
Os nomes, assim, dividem-se em temáticos (com VT) e atemáticos. Substantivos e adjetivos 
terminados em vogal tônica, semivogal ou consoante, como ‘cajá’, ‘pai’ e ‘mar’ são desprovidos 
de VT. Os atualizadores lexicais têm a função de completar a palavra, fazendo com que radicais 
presos se transformem em livres. Por esse motivo, radicais livres dispensam esse constituinte.
VTs nominais e gênero
Os atualizadores lexicais -a e -o exercem uma função secundária: a categorização da palavra 
quanto ao gênero. Ao contrário das formas terminadas em -e, que não apresentam correlação 
direta com as especificações masculino ou feminino, as formas em -o são quase 
categoricamente masculinas e as em -a, maciçamente femininas.
Excetuando-se as formas oriundas de encurtamento (como ‘foto’, ‘moto’, ‘expo’ e ‘rádio’) e as 
seguintes abaixo, a associação entre a vogal -o e o gênero masculino é inteiramente previsível: 
a tribo, libido, virago, soprano, imago.
Também é previsível a relação entre a vogal final -a e gênero feminino, mas, nesse caso, os 
contraexemplos são um pouco mais numerosos. Vejamos os seguintes casos:
(a) casos em que essa vogal faz parte de um sufixo erudito formador de nomes femininos:
-ema: o morfema, fonema, lexema, grafema
-oma: o carcinoma, genoma, leucoma, fibroma
-eta: o planeta, gameta, cometa, profeta, poeta
VTs nominais e gênero
(b) palavras complexas terminadas em formativos como -grama e -cida: o cardiograma, 
fluxograma, espectograma / o inseticida, pesticida, raticida, germicida
(c) palavras complexas terminadas em formativos como -ista e -nauta, que apresentam oposição 
sintática de gênero, não sendo inerentemente femininas ou masculinas: o/a marxista, linguista, 
skatista, kardecista / o/a astronauta, aeronauta, internauta
(d) palavras simples terminadas em -a, mas comum de dois, isto é, sem gênero inerente, assim 
como as anteriores: o/a colega, sovina, careca, coringa, camarada
(e) nomes – a maioria de origem grega – contendo terminações não morfêmicas em que o a é 
precedido da nasal labial /m/:
o drama, trauma, trema, problema, dogma, panorama, sistema, poema, clima, estigma, magma, 
esperma, programa (do grego)
o azáfama, carma, brama (de outras línguas)
VTs nominais e gênero
Como se vê, a lista de casos excepcionais se reduz, restringindo-se apenas a nomes 
como os a seguir listados, em que a palavra termina em a, mas não remete ao gênero 
feminino: o mapa, papa, dia, gorila
Por outro lado, o gênero não constitui propriedade gramatical determinada pela vogal 
final (atualizador léxico), uma vez que formas atemáticas também portam essa 
informação (‘o anel’, ‘a romã’; ‘o/a mártir’). Nesse sentido, pode-se considerar 
secundária a atribuição de gênero dos atualizadores lexicais a e o.
As formas em -e ficam de fora, por não possibilitarem qualquer inferência quanto ao 
gênero dos nomes, sendo, por isso mesmo, de natureza mais idiossincrática:
femininos: ponte, sorte, fonte, peste
masculinos: pente, porte, bonde, poste
VTs verbais
Como vimos, as VTs verbais distinguem os três grandes conjuntosde verbos. As chamadas 
conjugações constituem disposições sistemáticas das formas flexionadas de um verbo (C1 com 
vogal a; C2 com vogal e; C3 com vogal i).
Uma diferença formal entre as conjugações verbais, determinadas pelas VTs, é a irregularidade, 
muito mais presente na C2 e na C3. Os verbos da C1 são mais regulares. De fato, verbos 
irregulares, como ‘trazer’, ‘caber’, ‘sentir’ e ‘dormir’, que apresentam mais de uma forma de raiz 
(‘trago’, ‘coube’, ‘sinto’, ‘durmo’), pertencem à C2 ou à C3.
Além disso C2 e C3 podem se envolver num fenômeno chamado de neutralização, que 
consiste na perda de contraste gramatical, como acontece no presente do subjuntivo e no 
imperfeito do indicativo:
C1: cant-e, cant-a-va
C2: vend-a, vend-ia, 
C3: part-a, part-ia
VTs verbais
No particípio passado, o contraste também ocorre apenas entre ado e ido: cantado, 
vendido, partido.
Todo verbo apresenta VT, ainda que ela possa não se manifestar foneticamente. A 
primeira pessoa do presente do indicativo e todas as formas do presente do subjuntivo 
não exibem esse constituinte, por conta de uma regra fonológica de apagamento na 
fronteira com o elemento seguinte, uma marca flexional também expressa por vogal:
cant+(a)+o vende+(e)+o part+(i)+o
cant+(a)+e vende+(e)+a part+(i)+a
Nesses casos, o uso dos parênteses indica que a VT só não se atualiza porque foi 
apagada. Não constitui propriamente um zero, pois só não se manifesta por questões de 
natureza fonotática (distribuição dos segmentos sonoros na cadeia fônica).
Diferenças entre VTs nominais e VTs verbais
VT verbal VT nominal
obrigatoriedade obrigatória não obrigatória
posição na palavra medial final
acento tônicas ou átonas sempre átonas
função distribuir os verbos em classes completar a palavra
unidades
estatuto nas 
derivações
cantaremos, venderemos, partiremos
sempre utilizada nas formações 
deverbais: anular > anulação; 
reger > regência; 
preferir > preferível
casa, tomate, livro
não utilizada nas formações 
denominais: casa > caseiro; 
tomate > tomatal; 
livro > livraria
Afixos
São unidades que se juntam ao radical para formar novas palavras; são partículas regidas por 
restrições posicionais, aparecendo em posição predeterminada na estrutura das palavras, vindo 
daí os vários tipos encontrados nas línguas do mundo: prefixo, sufixo, infixo, circunfixo, transfixo, 
suprafixo, interfixo, confixo. Veremos somente os que ocorrem na estrutura morfológica do 
português.
O prefixo é a forma que aparece antes da base, como em ‘pré-pago’ e sufixo, o elemento 
anexado após esse constituinte, como ‘dol-eiro’. Mais adiante, falaremos das outras várias 
diferenças entre esses dois principais afixos do português.
O circunfixo, bastante usual nas línguas germânicas, é um tipo de afixo que “cerca” a palavra, 
ou seja, é um afixo com duas partes: uma colocada no início da palavra e outra no seu final. Em 
português, os casos envolvem a adição simultânea de uma forma de prefixo e outra de sufixo 
para efeitos de alteração categorial (um adjetivo passa a verbo) e expressão do significado 
“mudança de estado” (“tornar-se X”): entristecer, envelhecer, ensurdecer etc.
Afixos
Os suprafixos são afixos de natureza prosódica, como o acento nos pares ‘fábrica/fabrica’, 
‘íntimo/intimo’ e ‘cúmulo/cumulo’, entre tantos outros. Nesses pares, o acento determina a classe 
a que a palavra pertence, se nome (proparoxítono) ou verbo (paroxítono). Mais adiante, 
voltaremos ao assunto.
Interfixos são elementos relacionais que aparecem entre duas unidades morfológicas, como 
será detalhado mais à frente, quando abordarmos as vogais e consoantes de ligação.
O termo confixo remete a um formativo caracterizado por oscilação posicional, podendo ocorrer 
tanto na margem esquerda quanto na margem direita de uma palavra complexa, a exemplo de 
fono-, que, como se vê nos dados a seguir, pode expressar diferentes significados relacionados 
à noção genérica de “som”:
Borda esquerda: fonoteca, fonética, foniatria, fonologia
Borda direita: francófono, lusófono, telefone, acrofonia
Diferenças entre prefixo e sufixo
Mudança de classe
Prefixos não determinam a categoria lexical da palavra complexa que formam, ou seja, são 
categorialmente neutros: [re[pensar]V]V [des[crente]Adj]Adj [pré[vestibular]S]S
A sufixação, ao contrário, pode promover mudanças variadas de classe:
V ➝ S Adj ➝ S V ➝ Adj S ➝ Adj S, Adj ➝ V Adj ➝ Adv
-mento
-tório
-ice
-idade
-vel
-nte
-ense
-ar
-izar
-escer
-mente
merecimento esquisitice gerenciável canadense agilizar felizmente
lavatório lealdade estafante hospitalar florescer certamente
Diferenças entre prefixo e sufixo
Essas são tendências gerais. Mas há casos em que os sufixos não mudam classes: [[jornal] 
ista], [[gord] inho], [[papel] ada], entre outros. 
Por outro lado, casos de alteração categorial em formas prefixadas são muito raros:
[a [moral]S]Adj; [anti [rugas]S]Adj.
Especificação de gênero
Ao contrário dos prefixos, os sufixos quase sempre determinam o gênero da palavra 
resultante. Por sua posição à esquerda, prefixos jamais respondem por esse tipo de 
informação. Exemplos:
Femininos: abolição (sufixo -ção); delegacia (sufixo -ia); tolice (sufixo -ice)
Masculinos: ferimento (sufixo -mento); fichário (sufixo -ário); escritório (sufixo -tório);
Diferenças entre prefixo e sufixo
Elaboração de paráfrases
Os sufixos constituem a peça-chave na interpretação de uma palavra. Por exemplo, na paráfrase 
de uma forma sufixada, o significado do sufixo geralmente é colocado em primeiro plano, 
equivalendo ao de um substantivo. Prefixos, ao contrário, são modificadores, pois são sempre 
parafraseáveis por advérbios e adjetivos:
dentista - profissional que cuida dos dentes
martelada - golpe dado com o martelo
paraense - indivíduo nascido no estado do Pará
refazer - fazer novamente
sobrepeso - peso a mais
megashow - grande show
Diferenças entre prefixo e sufixo
Bases a que se adjungem
Outra diferença entre prefixos e sufixos diz respeito à variável lexical que selecionam. Prefixos 
combinam-se com palavras e, por isso mesmo, são menos aderentes, podendo ser retirados sem 
resultar numa forma presa. Sufixos denominais, por sua vez, agregam-se predominantemente a 
radicais. Desse modo, a retirada do sufixo resulta numa forma presa:
in-feliz des-leal a-normal pré-teste sub-gerente
apit-aço bel-eza paraib-ano paul-ista tim-inho
Expressividade
Prefixos se caracterizam pela falta de função expressiva de avaliação. A sufixação, ao contrário, pode 
externar juízos de valor e sinalizar impressões subjetivas do falante, como ocorre, por exemplo, nas 
formações ‘livreco’, ‘gentinha’, ‘velhota’ e ‘peçonhento’. Impressões positivas são também 
encontradas na sufixação: ‘apartamentaço’ e ‘carrão’ qualificam os referentes (entidade referida).
Na prefixação, há casos de gradação intensiva, expressos por elementos como super-, mega-, ultra- e 
hiper-, que são casos também de modalização apreciativa. Há também formações como ‘desgoverno’, 
em que o falante põe em xeque a eficiência do administrador público, mas de modo geral, prefixos, 
por terem significados mais gramaticais, não têm essa função modalizadora.
Diferenças entre prefixo e sufixo
Projeção de palavras prosódicas
Do ponto de vista fonológico, a maior parte dos prefixos projeta palavra prosódica independente, 
fazendo com que a construção morfológica resultante se realize sob dois acentos. À exceção de 
in-, des- e re-, prefixos fonologicamente funcionam como palavras autônomas, isto é, portam 
acento próprio. Para a representação dos graus de acento em português, eles têm sílaba com 
grau 2:
pré-vestibular pró-reitor submundo
 2 1 1 1 3 2 1 3 2 3 0
Ao contrário, a maior parte dos sufixos não projeta palavras prosódicas independentes, 
realizando-se, com a base a que se anexam, sob um único acento:
malandragem certeza
 1 1 3 0 1 3 0
Diferenças entreprefixo e sufixo
Possibilidade de truncamento
A possibilidade de determinados prefixos comportarem-se como formas livres pelo 
processo de truncamento (encurtamento em que uma parte da palavra vale pelo todo) 
decorre da diferença prosódica. A depender do contexto de uso, eles podem ser 
empregados isoladamente:
Já estou quase terminando a pós. Maria reatou com o ex.
Minha vice é excelente. Consegui comprar meu micro.
Meu time agora é tri. O professor agora é meu co.
Sufixos não se submetem ao truncamento. Ao que tudo indica, o único que é forte o 
suficiente para atuar como forma livre é -ismo, no plural: “Comunismo, epicurismo, 
estoicismo, cristianismo, historicismo, capitalismo, socialismo, imperialismo, marxismo 
etc. são alguns dos inúmeros ‘ismos’ das ciências sociais”.
Diferenças entre prefixo e sufixo
Equivalência sintático-semântica
Do ponto de vista semântico, prefixos assemelham-se a adjetivos, já que contribuem para 
qualificar/caracterizar, como em ‘subumano’, ‘minimercado’, ‘ex-mulher’ e ‘megaempreendimento’; 
advérbios, pois servem para expressar a circunstância que cerca a significação da base, aqui entendida 
como qualquer particularidade que determina um fato, ampliando a informação nele contida, como em 
‘recompor’, ‘antessala’, ‘pré-natal’, e ‘pós-operatório’; e preposições, por emprestarem à base a ideia de 
posição ou movimento no espaço:’sobreloja’, ‘entressafra’, ‘coautoria’, ‘intravenoso’.
Noções como “posição ou movimento no espaço”, “ausência, negação”, “oposição”, “intensidade” e 
“repetição”, típicas dos prefixos, diferem consideravelmente das veiculadas pelos sufixos, que, embora 
também possam atualizar conteúdos desse tipo, são mais densos semanticamente: expressam noções 
como “profissão” (‘vitrinista’), “instrumento” (‘batedeira’), “local” (‘borboletário’), “nacionalidade” (‘francês’), 
“apreciador” (‘cervejeiro’), “ato ou efeito” (‘anulação’) e, até mesmo, “prato culinário” (‘feijoada’). Equivalem 
em termos semânticos a substantivos.
Os afixos de uma língua têm duas funções bem diferentes. A primeira é participar da formação de novas 
palavras. Os afixos que fazem isso são chamados derivacionais, como nos exemplos vistos. O outro tipo de 
afixo, que não participa da formação de palavras, é chamado flexional e recebe o nome mais clássico de 
desinência.
Desinências
As desinências indicam as flexões que nomes e verbos podem apresentar e se subdividem em dois tipos: 
as desinências nominais marcam o gênero e o número das palavras que apresentam essas variações, 
como em ‘prim-a-s’, que exibe a marca gênero feminino e a de número plural. As desinências verbais 
correspondem às variações de tempo (presente, pretérito, futuro) e modo (indicativo, subjuntivo e 
imperativo), de um lado, e de número (singular, plural) e pessoa (1ª, 2ª e 3ª), de outro, como em 
‘list-e-mos’, em que o -e manifesta a ideia de presente do subjuntivo e -omos a de 1ª pessoa do plural 
(P4).
Uma primeira diferença entre desinências nominais e verbais é o fenômeno da cumulação, típico das 
flexões verbais, quando uma forma una comporta mais de um significado. Toda a flexão verbal do 
português é marcada pela presença de elementos cumulativos, uma vez que a informação temporal se 
superpõe à de modo e aspecto, da mesma forma que a de pessoa aparece fundida com a de número. Um 
elemento como va, por exemplo, expressa a noção de “pretérito imperfeito do indicativo”, referindo-se a 
um fato ocorrido no passado (tempo pretérito), mas não completamente terminado, dando ideia de 
continuidade e de duração (aspecto imperfectivo). Simultaneamente, também expressa o modo indicativo, 
pois é usado para transmitir um acontecimento certo e real, em oposição a algo incerto ou desejável 
(como é o caso do subjuntivo).
Zeros morfológicos
Trata-se de uma unidade semântica que não se expressa fonologicamente na palavra. O morfema 
Ø é uma forma depreendida a partir do contraste com formas abertas, ou seja, que se manifestam 
fonologicamente.
Em português, são detectados Øs nas formas de masculino e singular nos nomes e nas formas de 
presente do indicativo e 3ª pessoa do singular (P3), nos verbos. Assim, palavras como ‘carro’ e 
‘cantamos’ apresentam Øs porque não se valem de formas abertas para representar, nesta ordem, 
as categorias gramaticais SINGULAR e PRESENTE DO INDICATIVO. Há, nessas palavras, 
conteúdos que não se materializam fonologicamente, o que sugere a existência de vazios 
significativos (ausências que atualizam conteúdos).
Em linhas gerais, Øs são empregados para caracterizar unidades de flexão, as chamadas 
desinências, sendo postulados para representar elementos não marcados de determinada 
categoria linguística. Quando dizemos que uma forma é não marcada, significa ser este o caso 
mais comum e esperado. Entende-se como marcado algo que é menos geral e, por isso mesmo, 
mais relevado.
Zeros morfológicos
Øs atualizam categorias gramaticais conceitualmente mais neutras. Por exemplo, pode-se usar o 
presente com valor de passado ou de futuro, como nos exemplos:
No décimo corte consecutivo, Copom baixa juro básico para 7% ao ano.
Vence no próximo mês o prazo estipulado para que a concessionária universalize o abastecimento de água.
Nas duas notícias, foi empregado o presente do indicativo, mas a primeira faz referência a algo 
que já aconteceu (trata-se de um “presente histórico”) e a segunda, a algo que ainda está por vir 
(futuro). Por ser o marco zero da enunciação e por ser desprovido de marca morfológica, o 
presente do indicativo é uma espécie de coringa, encerrando bem menos a ideia de tempo que, 
por exemplo, o imperfeito do indicativo (‘falava’) ou o futuro do pretérito (‘falaria’), caracterizados 
pelas desinências va e ria.
Também o masculino é uma forma menos marcada na língua. Se uma forma recebe marca do 
feminino, descarta-se a possibilidade de referência ao masculino. O termo ‘alunas’, por exemplo, 
cobre apenas as mulheres de uma classe. Já uma forma no masculino não implica, 
obrigatoriamente, alusão a indivíduos do sexo masculino: o termo ‘alunos’ pode abranger os 
homens e as mulheres de uma turma.
Zeros morfológicos
O masculino é também usado como o termo genérico que engloba os dois gêneros. ‘Todos’ inclui 
homens e mulheres; ‘todas’ só inclui as mulheres. Em muitas línguas, o gênero não marcado é o 
masculino, e “isso não significa uma relação de poder do homem sobre a mulher” (Gonçalves está 
citando um artigo de opinião publicado em um jornal de Porto Alegre em 2015).
Mattoso Camara Jr., no livro Estrutura da língua portuguesa (cf. bibliografia), propõe uma descrição 
que destoa de algumas gramáticas tradicionais: a ideia de um masculino em Ø (não marcado), em 
contraste com um feminino em -a (marcado), numa oposição semelhante à de número, em que 
um -s de plural se opõe à sua ausência no singular (Ø).
O principal argumento de que Mattoso se vale na defesa do Ø de masculino é o seguinte: não se 
deve considerar -o uma desinência, pois esse raciocínio levaria o -e a ser igualmente interpretado 
como tal, em casos como ‘mestre’ e ‘monge’, que se opõem a ‘mestra’ e ‘monja’. Isso sem contar 
os diversos pares em que o -a de feminino já contrasta com sua ausência (‘juiz’/’juíza’; 
‘cantor’/’cantora’; ‘peru’/’perua’).
Zeros morfológicos
Se é fácil associar -o a masculino, o mesmo não se dá com -e. Nesse caso, a vogal final das formas 
masculinas é interpretada como temática (atualizador lexical), tendo o -o de ‘primo’ e o -e de ‘monge’ o 
mesmo estatuto morfológico.
Resumindo, aparecem os Øs em português para representar as seguintes categorias gramaticais: gênero 
masculino, número singular; presente do indicativo; terceira pessoa do singular; pretérito perfeito do 
indicativo (à exceção de P6); primeira pessoa do singular (à exceção do presente do indicativo, pretérito 
perfeito e futuro do presente). Com exceção do gênero masculino, nos outros casos, a postulação de 
zerosé bastante consensual.
Muitos autores, como Kehdi, no livro Morfemas do português (cf. bibliografia), optam por analisar -o como 
desinência de gênero. De fato, falantes tendem a estabelecer conexão entre construções em -o e gênero 
masculino. Como observa Kehdi, há na linguagem popular espontânea criações que opõem formas 
masculinas em -o a outras em a originalmente femininas: “corujo, crianço, madrasto, coiso”.
Zeros morfológicos
Outro argumento de Khedi é que quando se acrescenta a uma forma feminina uma terminação 
que contenha -o, essa palavra passa a masculina. Ex: mulher/mulheraço; cabeça/cabeçalho. Para 
esse autor o Ø é uma variante (alomorfe) da desinência -o em casos como peru/perua e 
autor/autora.
Henriques (cf. bibliografia), considerando que há uma grande divergência entre os autores quanto 
a essa identificação, faz um levantamento entre os que têm uma “posição contra a marca 
desinencial de masculino” e que têm uma “posição a favor da marca desinencial de masculino”.
Entre os primeiros, a posição pode ser assim resumida: o masculino e o singular em português 
caracterizam-se pela ausência de marca, isto é, por um morfema Ø.
Entre os segundos, a posição pode ser assim resumida: desinências nominais são: gênero 
masculino -o, gênero feminino -a. Para esses autores, o caso de nomes masculinos não marcados 
pelo -o apresenta uma variante Ø, como em ‘chinês’.
Zeros morfológicos
Henriques alinha-se entre os segundos e propõe o seguinte padrão:
Entretanto, Gonçalves [autor do texto-base que estamos seguindo] opta pela representação do 
masculino como não marcada, embora reconheça a forte conexão entre o -o e o gênero masculino. 
Mantém a ideia de Ø como desinência do masculino, assumindo que a flexão nominal como um todo 
envolve oposição do tipo privativa (caracterizada pelo contraste entre presença e ausência de marca).
Terminação Oposição de gênero Análise
-a (átono) existe DG
-a (átono) não existe VT
-e (átono) (irrelevante) VT
-o (átono) existe DG
-o (átono) não existe VT
Zeros morfológicos
Como os Øs se manifestam no contraste entre formas linguísticas, nomes podem exibir dois 
desses elementos, caso haja oposição entre masculino/feminino, de um lado, e 
singular/plural, de outro. Tal é o caso, por exemplo, de ‘peru’, ‘primo’ e ‘monge’, 
morfologicamente analisadas como peru+Ø+Ø, prim-o+Ø+Ø e mong-e+Ø+Ø. 
Quando não há contraste de gênero, o nome apresenta só o Ø de singular, como ‘árvore’, 
‘prato’ e ‘véu’ (árvor-e+Ø, prat-o+Ø e véu+Ø).
Do mesmo modo, formas verbais também podem apresentar dois zeros, como é o caso de 
‘vende’ (pres. ind.), segmentada como vend-e+Ø+Ø. No caso de ‘venda’ (pres. subj.), a 
segmentação é vend+(e)+a+Ø. Não pode haver zero na posição de VT simplesmente 
porque o Ø é uma ausência significativa. VTs, como vimos, são unidades desprovidas de 
conteúdo (assemânticas).
Elementos não morfêmicos
Se, por um lado, unidades de conteúdo podem não ser representadas fonologicamente, como é o caso 
dos Øs morfológicos, por outro, sequências fônicas segmentáveis podem não ser associadas a unidades 
de conteúdo. Tem-se, nessa situação, o que se pode chamar de elementos não morfêmicos.
Quando dividimos as palavras em morfes, muitas vezes despontam elementos de expressão que não 
satisfazem uma ou mais condições necessárias à noção de morfema. São unidades caracterizadas pela 
falta de conteúdo e pela não recorrência. São entidades de vários tipos.
Vogais e consoantes de ligação
Essa classe de elementos, tradicionalmente chamados de interfixos, vem representados por segmentos 
fônicos que entram em determinados contextos para possibilitar junturas, de acordo com os padrões 
sonoros da língua. Interfixos têm caráter meramente formal, já que surgem por imposições de natureza 
fonológica. São semanticamente nulas.
Elementos não morfêmicos
Há análises que não consideram isoláveis constituintes dessa natureza, interpretando-os como parte do 
elemento precedente ou subsequente. Por exemplo, pode-se pensar na sequência -al como sufixo 
responsável pela noção de “lugar em que se concentram plantações de X”, como ocorre em ‘pessegal’, 
‘laranjal’ e ‘coqueiral’. 
Em ‘cafezal’, ‘capinzal’ e ‘manguezal’, pode-se pensar na existência de um -z- como uma espécie de 
ponto (ou “cola morfológica”) entre as bases e o sufixo -al. Também é possível admitir a alternância entre 
as formas variantes -al e -zal na manifestação desse morfema. A primeira análise parece mais vantajosa 
porque o elemento epentético (consoante inserida), embora desprovido de significado, é recorrente na 
língua, aparecendo junto a outros sufixos, como -ão, -ete, -eiro e -inho, entre outros: anelzão, paizão, 
peruzão; neymarzete, luanzete, kakazete; ingazeiro, açaizeiro, cacauzeiro; jejunzinho, cafezinho, 
maçãzinha.
A presença do -z- serve para impedir a adjacência vocálica e, consequentemente, minimizar o 
aparecimento de hiatos. Os elementos relacionais encontrados nas formas do português são -z- e -d-, 
considerados as consoantes epentéticas por excelência. A primeira aparece em formações denominais 
(‘cafezinho’, ‘cafezal’) e a segunda, em formações deverbais (‘escorregador’, ‘escorregadio’), que, como 
vimos, valem-se de temas para formar novas palavras.
Elementos não morfêmicos
A título de exemplificação, as formas a seguir apresentam conteúdo de instrumento, mas são terminadas 
em -eira, -zeira e -deira:
iogurteira cuscuzeira batedeira
inhoqueira arrozeira descascadeira
omeleteira guizeira escarradeira
licoreira pozeira fritadeira
vaporeira pãozeira frigideira
É mais tentadora a ideia de estarmos diante de um único sufixo e de duas diferentes colas morfológicas 
(Z e D) com a mesma função fonológica: organizar melhor os segmentos em sílabas, evitando hiatos, por 
exemplo.
Outros casos são considerados resíduos históricos, como consoantes de ligação que ocorrem em 
palavras isoladas, como ‘cafeteira’, que pode ter sido criada por analogia com leiteira, em que o /t/ é 
parte do radical ‘leite’. No exemplo de ‘paulada’, a presença do -l- pode ter sido motivada pela adjacência 
com a semivogal posterior /w/ na base, para melhor eufonia.
Elementos não morfêmicos
Hápax afixais
O termo grego hápax faz referência a uma palavra com uma única abonação nos registros da 
língua. Corresponde a elementos formais não recorrentes e confere à palavra complexa sentido 
exclusivo, específico e não previsível. Hápax afixais constam de palavras nas quais a 
segmentação é possível graças à alta transparência das bases, vinculadas a uma forma livre no 
curso da língua. 
Tal é o caso de ‘bebum’, em que a sequência final -um, apesar de interpretável não é 
propriamente um sufixo, por ser de uso exclusivo dessa formação.
Nos exemplos a seguir, as bases são transparentes, embora os elementos a que elas se 
adjungem não sejam recorrentes:
casebre felizardo corpanzil fogaréu longínquo
pelanca boliche carnaval colorau espantalho
peitoril riacho bocarra copázio pedregulho 
Elementos não morfêmicos
Unidades expletivas
Há determinadas formas que aparecem no interior do vocábulo sem qualquer motivação fonológica e sem 
atualizar significado algum. Tal é o caso da vogal a em advérbios como ‘amplamente’ e ‘historicamente’, 
pois não tem sentido classificá-la como marca do feminino num vocábulo invariável (caso dos advérbios). 
Ainda mais que, nesse caso, seria uma flexão supérflua, colocada antes da derivação.
Tal também é o caso da presença das primitivas vogais temáticas em formações deverbais: -a- 
(‘implicância’, ‘retomada’); -e- (‘atendente’, ‘lambeção’); e -i- (‘conferível’, ‘discernimento’). São elementos 
formais que não são considerados do ponto de vista do significado, embora sejam formalmente 
obrigatórios e indispensáveis.
Em ‘impetuoso”, ‘usual’ e ‘vestiário’, as vogais antepostas aos sufixos -oso, -al e -ário finalizamos temas 
das palavras primitivas ‘ímpeto’, ‘uso’ e ‘vestir’. Por razões variadas, acabaram sendo incorporadas à 
palavra derivada, sobrando quando efetuada a segmentação: impet-u-oso; us-u-al; vest-i-ário.
Elementos não morfêmicos
Há casos em que a segmentação deixa uma sequência residual não correspondente a qualquer instância 
de significado. Por exemplo, quando aplicamos a técnica da comutação às formas abaixo:
agilizar hostilizar oficializar
finalizar colonizar banalizar
claramente reconhecemos o sufixo -izar como formador de verbos a partir de adjetivos com o sentido de 
“tornar, fazer, transformar”. Esse mesmo significado se manifesta em verbos como ‘neutralizar’ (‘ficar 
neutro”) e ‘ridicularizar’ (“tornar ridículo”). Nessas construções, no entanto, sobra uma sequência inteira 
que não é interpretável: -al-, no primeiro caso, e -ar-, no segundo.
Nos dados a seguir, aparecem várias sequência expletivas. Nessas palavras, as bases e os sufixos, isto 
é, as formas realmente recorrentes, são grafadas em negrito:
mat-ag-al fri-or-ento beb-err-ão
sab-ich-ão temp-or-al dorm-inh-oco
son-ol-ento peg-aj-oso temp-or-ário
com-il-ão milh-ar-al corp-ór-eo
Processos morfológicos não concatenativos
As operações não concenativas são caracterizadas pela falta de linearidade, isto é, quando há 
uma informação morfológica que não se dá pela adição.
Mutação vocálica
Em português, há mudanças na qualidade da vogal, que aparece, por exemplo, na flexão 
nominal. Nos pares ‘av[o]’ e ‘av[ɔ]’ (e seus derivados), temos uma alternância morfêmica que 
carrega informação de gênero. Nesse caso, há uma única raiz, que não pode ser segmentada.
Há outros casos de flexão nominal em que a abertura acompanha outra marca morfológica e 
não se apresenta como principal vetor da informação morfológica. Por exemplo, em ‘p[o]rco’; 
‘p[ɔ]rca’ e ‘p[ɔ]rcos’, há uma marca aditiva específica, ou seja, concatenativa, que, por si só, 
expressa o morfema de feminino e o morfema de plural, além da mutação vocálica, que funciona 
como informação secundária, ou submorfema. Essa mudança na qualidade da vogal se 
encontra em um número restrito de palavras, o que pode sugerir a não regularidade do padrão: 
grosso > grossa, grossos; ovo > ova, ovos; novo > nova, novos.
Processos morfológicos não concatenativos
Há, no entanto, uma situação em que a mutação vocálica é previsível e sistemática, tanto para o plural 
quanto para o feminino. Trata-se do sufixo de origem latina -oso, que forma adjetivos a partir de 
substantivos: saboroso > saborosa, saborosos; bondoso > bondosa, bondosos.
Radicais também podem se modificar para expressar a categoria sintática da palavra. É o que acontece 
na sistemática oposição de classes a seguir, em que o nome é sempre caracterizado pela vogal média 
fechada [o, e], em oposição à forma verbal, representada pela média aberta [ɔ, ɛ]:
o esf[o]rço / eu esf[ɔ]orço o tr[o]co / eu tr[ɔ]co o ap[e]lo / eu ap[ɛ]lo o ap[e]rto / eu ap[ɛ]rto
O falante, ciente desse padrão, contraria a norma e pronuncia aberta as vogais tônicas de, por exemplo, 
‘espelho’ (“me esp[ɛ]lho muito em Fulano”); ‘veleja” (“Fulano vel[ɛ]ja pela baía”) e ‘fecho’ (“eu f[ɛ]cho o 
vestido”). Do mesmo modo, as monotongações a seguir levam a diferentes vogais, caso o item em 
questão seja um nome ou uma forma verbal:
o roubo do jogo / eu roubo no jogo o estouro da bola / eu estouro a bola
Como se vê nos exemplos mais acima, a mutação vocálica na flexão verbal está relacionada à 
manifestação do presente. Há outros casos de mutação vocálica relativos à manifestação de número e 
pessoa na conjugação verbal.
Processos morfológicos não concatenativos
Mutação consonantal
Nos verbos, a mudança na pronúncia de consoantes (de ponto, modo de articulação 
e/ou vozeamento) também está a serviço da informação de tempo presente. Na C2, 
verbos como ‘perder’, ‘poder’, ‘dizer’, ‘fazer’ e ‘trazer’ têm uma forma de raiz que 
informa a P1 do presente do indicativo e, por conseguinte, o presente do subjuntivo. A 
consoante da raiz funciona como submorfema da informação gramatical:
perc- (de perder): eu perco, que ele perca 
poss- (de poder): eu posso, que nós possamos
dig- (de dizer): eu digo, que tu digas 
faç- (de fazer): eu faço, que eu faça
trag- (de trazer): eu trago, que vós tragais
Processos morfológicos não concatenativos
Suprafixos
Em português, os chamados suprafixos (que se manifestam prosodicamente) servem para expressar 
diferenças de tempo e mudanças de classe. A oposição entre futuro do presente e 
pretérito-mais-do-que-perfeito, como em ‘cantará’ vs. ‘cantara’, evidencia que a informação quanto ao 
acento deve estar contida no formativo -ra: se átono ou tônico.
Nos pares abaixo, que opõem formas verbais a nomes deverbais, o acento sinaliza a categoria sintática 
da palavra: o verbo é paroxítono, em oposição ao nome, sempre proparoxítono:
calculo / cálculo duvida/ dúvida pratica/prática vinculo/vínculo
Por essa razão, o falante – que domina os padrões linguísticos muito mais do que imagina –, contrariando 
a norma, diz, por exemplo, que irá apor sua “rúbrica” no documento. Desse modo, ele regulariza uma 
palavra anômala.
Pares verbo/nome podem diferir pelo acento e pela qualidade vocálica (timbre). Nesses casos, o acento 
constitui informação morfológica primária (indicação da classe a que a palavra pertence), enquanto a 
mudança de timbre é o submorfema (informação secundária): negocio/negócio; rotulo/rótulo; 
formula/fórmula; historia/história
Alomorfia
Entendida como fenômeno de variação na conformação física de morfemas, a alomorfia 
ocorre quando um mesmo significado se manifesta por formas foneticamente diferentes.
Não deve, portanto, ser confundida com modificações de natureza ortográfica, como em 
‘trancar’/’tranquei’, par em que não ocorre alomorfia, pois é a representação 
gráfica de /k/ diante de vogais anteriores. Nesse caso, a forma fonética do radical não 
sofre nenhum tipo de modificação, já que não há qualquer alteração na pronúncia. 
O mesmo pode ser dito em relação aos diversos modos de se grafar o sufixo formador 
de substantivos a partir de verbos, cuja pronúncia, nos exemplos a seguir, é sempre a 
mesma:
anulação concessão imersão
produção transgressão expansão
rendição regressão extorsão
Alomorfia
Nos exemplos a seguir, por outro lado, a variação é de natureza sonora, o que configura alomorfia: 
invasão, alusão, decisão, divisão, adesão, ilusão.
Há variação fonética em praticamente todos os tipos morfológicos: prefixos, bases nominais e verbais, 
sufixos, desinências verbais, flexões nominais de gênero e de número. 
Os dados a seguir demonstram alomorfia em radicais: vida/vital/vitalício/vidinha; 
cabe/coube/caibo/cabemos.
Muitas palavras derivadas preservam a forma de raiz importada diretamente do latim no Renascimento 
(sécs. XIV-XVI), incorporada à língua sem sofrer os processos fonológicos por que passaram as formas 
mais antigas, como a sonorização de surdas intervocálicas, como em uitam, em latim, para ‘vida’, em 
português.
Essa situação é abundante na formação de adjetivos a partir de substantivos, o que se observa com 
vários sufixos: -ino, -do, -udo, -eo, -ense, -ário e -al:
touro>taurino árvore>arborizado nariz>narigudo
pedra>pétreo Portugal>portucalense ordem>ordinário
estado>estatal estômago>estomacal fruta>frugal
Alomorfia
Nos exemplos ‘cabe/coube/caibo/cabemos’, a raiz verbal apresenta três diferentes 
formas: cab-, coub- e caib-, resultando na fusão do conteúdo lexical CABER com 
conteúdos gramaticais de tempo-modo-aspecto. A forma caib-, por exemplo, associa-se 
diretamente à primeira pessoa do singular (P1) no presente do indicativo e, por 
conseguinte, ao presente do subjuntivo, pois esse tempo deriva diretamente da P1 do 
presentedo indicativo, como se vê, também, nos seguintes casos:
MEDIR eu meço meça, meças, meçamos, meçam
VALER eu valho valha, valhas, valhamos, valham
SERVIR eu sirvo sirva, sirvas, sirvamos, sirvam
Do mesmo modo, as formas de raiz que aparecem no pretérito perfeito, além de 
sinalizar essa informação gramatical, também indicam imperfeito do subjuntivo. 
Generalizando, o significado da raiz (de natureza lexical, portanto) funde-se, numa 
espécie de cumulação, com o de tempo-modo-aspecto.
Alomorfia
FAZER eu fiz fizesse, fizessem, fizéssemos
QUERER eu quis quisesse, quisessem, quiséssemos
TRAZER eu trouxe trouxesse, trouxessem, trouxéssemos
Por fusão, portanto, devemos entender os casos em que o radical sofre alomorfia, mas 
também incorpora noções gramaticais. A título de ilustração, vejamos as diferentes formas 
de raiz do verbo ‘pôr’:
/poN/ ponho, põe, ponha, ponhamos
/puN/ punha, púnhamos, punham
/puS/ puséramos, pusemos, puséssemos, puser
/poR/ porei, poríamos, poremos, poria
As bases manifestam significados lexicais e gramaticais, simultaneamente. A forma /puN/, 
além de veicular a informação de “colocar, agrupar, botar”, também expressa a noção de 
tempo, haja vista ser usada somente no imperfeito do indicativo.
Alomorfia
A mesma afirmação vale para a variante /poN/, sempre associada ao presente, nos 
modos indicativo, subjuntivo e imperativo. Assim, formas com a sílaba seguida de 
nasal palatal, como ‘ponho’, ou de semivogal, como põe, mesclam o significado de “pôr” 
com o de tempo presente, de modo que o conteúdo gramatical aparece fundido com o 
lexical. Como todas as formas verbais com /poN/ remetem ao presente, essa noção de 
tempo se manifesta no próprio radical do verbo.
Formas com /poR/ sempre veiculam a noção de futuridade (remetem ao futuro do 
presente ou do pretérito, nos modos indicativo e subjuntivo). [Nota: o autor parece ter-se 
equivocado, pois o futuro do subjuntivo, por derivar do pretérito perfeito, se realiza com 
/puS/: ‘quando eu puser’ etc.]
Por fim, /puS/ se associa ao pretérito perfeito e ao mais-que-perfeito. Portanto, as várias 
realizações da raiz não são fortuitas: também expressam tempo/modo/aspecto, 
significados relevantes para o conteúdo do verbo.
Alomorfia
Vejamos, agora, os seguintes exemplos, onde cada coluna ilustra a atuação da alomorfia num 
diferente constituinte morfológico:
injusto garota casas palatal andava
ilegal órfã mares dental sondava
inapto leoa canis hospitalar sorria
inútil europeia papéis escolar vendia
Na primeira coluna, há alomorfia no prefixo de negação. A forma do prefixo alterna entre vogal 
nasal (‘injusto’) e oral (‘ilegal’) e presença/ausência de consoante nasal (‘ilegal’ vs. ‘inapto’). 
Nas duas colunas seguintes, verificam-se modificações de gênero (2ª) e de número (3ª). Na 
primeira situação, o acréscimo da marca de feminino leva a modificações na base, sobretudo 
quando termina em segmento nasal, podendo perder a nasalidade, como em ‘leoa’ e ‘patroa’,ou 
reduzir seu corpo fônico (‘órfã’). Quando finaliza em -eu, abre a média, que passa de [e] no 
masculino (‘ateu’, ‘hebreu’, ‘plebeu’) a [ɛ] no feminino (‘ateia’, ‘hebreia’, ‘plebeia’), além de 
desenvolver a semivogal [j] no lugar de [w].
Alomorfia
No caso do plural, a anexação do -s pode levar a uma série de mudanças fonológicas: desde a 
epêntese vocálica em palavras terminadas em consoantes (‘mar’/ ‘mares’; ‘vez’/ ‘vezes’) até o 
apagamento das líquidas laterais (‘canil’/ ‘canis’), podendo envolver a inserção de [j] (‘papel’/ 
‘papéis’).
Na quarta coluna, a forma do sufixo varia entre -al e -ar, alternância determinada pela presença 
ou não de uma líquida lateral (/l/) no final da base, num processo de dissimilação, que consiste 
em tornar diferente um som foneticamente semelhante ao outro. Por fim, a desinência de 
imperfeito do indicativo pode ser -va ou -ia, a depender da conjugação a que o verbo pertence.
Como se observa pelos exemplos, há dois tipos mais comuns de condicionamento para a 
alomorfia: o fonológico e o morfológico.
Na alomorfia fonologicamente condicionada, a adjunção de formativos pode (a) criar 
combinações de segmentos em desacordo com os padrões sonoros da língua, (b) levar à 
adjacência de sons que favoreçam a aplicação de um processo fonológico regular ou (c) trazer à 
tona padrões sonoros que a língua tende a rejeitar. Vejamos os seguintes casos:
Alomorfia
mar+s / freguês+s cant+á+va+is / cant+a+i passe+o / café+al
No primeiro par, a adjacência de duas consoantes em final de palavra não é permitida no 
português; por isso, uma epêntese vocálica é necessária. 
No segundo, a desinência verbal do imperfeito do indicativo, -va, e a vogal temática de C1, -a, 
ficam contíguas à vogal -i, marca de número-pessoa. Em ambos os casos, a vogal baixa se 
atualiza como média, [e], segmento com articulação mais próxima à da vogal subsequente, a 
que inicia o morfema de número-pessoa (P5, em ‘cantáveis’, e P1, em ‘cantei’). 
No terceiro par, a alomorfia deriva da tendência que o português apresenta de evitar hiatos: o 
encadeamento dos formativos leva à adjacência de duas vogais, situação resolvida com a 
epêntese vocálica de -i-, realizado como [j], no primeiro caso (‘passeio’), e a epêntese 
consonantal, no segundo (‘cafezal’). Esses dois segmentos igualmente se classificam como 
elementos de ligação (“colas” morfológicas).
Alomorfia
Na alomorfia morfologicamente condicionada, a justificativa da alteração não é de natureza 
sonora. Por exemplo, na expressão do imperfeito do indicativo, a mudança na forma da 
desinência é condicionada pela classe temática (determinada pela VT) a que o verbo pertence. 
Assim, -va, que aparece na C1 (‘cantava’), concorre com -ia nas demais conjugações (‘bebia’, 
‘sentiam’).
Outro exemplo de alomorfia condicionada morfologicamente aparece a seguir:
amável amabilidade amabilíssimo amavelmente
rentável rentabilidade rentabilíssimo rentavelzinho
Observa-se uma previsível alteração na forma do sufixo formador de adjetivos a partir de 
verbos: quando em final de palavra ou precedendo -mente e -zinho, tal afixo se manifesta como 
-vel; diante dos demais sufixos, como -íssimo, por exemplo, a forma usada é -bil. Podemos 
assumir que -vel e -bil se distribuem em função do ambiente em que se encontram: essa 
alternância é morfologicamente condicionada, pois depende diretamente do sufixo que 
eventualmente venha depois.
Homomorfia e polissemia afixal
Se a alomorfia envolve uma variação na forma e invariância no conteúdo, na homomorfia 
ocorre exatamente o contrário: há uma única forma associada a diferentes significados. Esse é, 
por exemplo, o caso do s, que pode ser marca de plural, nos nomes (as fala-s), e desinência de 
segunda pessoa do singular, nos verbos (tu fala-s).
Outro exemplo de homomorfia é o caso do a, que pode ser marca de gênero nos nomes 
(estudios-a) e vogal temática de primeira conjugação nos verbos (fal-a-r). Também aparece 
associado à noção de presente do subjuntivo (que ele venç-a) e vogal temática nominal (vid-a).
A homomorfia, do mesmo modo que a homonímia, deve ser restrita ao caso em que não há 
extensão de sentido. A título de exemplo, o sufixo -eiro pode formar agentes profissionais ou 
habituais, como em ‘jornaleiro’ e ‘fofoqueiro’, respectivamente. Fato similar se dá com outros 
sufixos agentivos, como -nte (‘gerente’ vs. ‘vigente’), -ista (‘musicista’ vs. ‘progressista’) e -dor 
(‘trabalhador’ vs. ‘ligador’). Desse modo, se há extensão do significado, seja por metáfora ou por 
metonímia, trata-se de uma relação de polissemia afixal – e não de homomorfia.

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