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KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Martin Claret. 2009, 540 p. CRÍTICA DA RAZÃO PURA Introdução I. Da distinção entre conhecimento puro e conhecimento empírico “Podemos afirmar que todos os nossos conhecimentos têm origem em nossa experiência”.[1: KANT, 2009, p. 13.] “Porém, nosso conhecimento empírico é formado pelo que recebemos das impressões e pelo que nossa faculdade de conhecer lhe adiciona, estimulada pelas impressões dos sentidos; aditamento que só distinguimos mediante longa prática, que nos capacite a separar esses dois elementos”.[2: KANT, 2009, p. 13.] “Eis uma questão que merece reflexão: existe mesmo um conhecimento que não dependa da experiência e das impressões dos sentidos? Esses conhecimentos são chamados a priori, e diferem dos empíricos, cuja origem é a posteriori, ou seja, são provenientes da experiência”.[3: KANT, 2009, p. 13.] “Assim, dizemos que conhecimento a priori é aquele que é adquirido independentemente de experiências, e que o conhecimento empírico é aquele que só é possível a posteriori (por meio de experiência)”.[4: KANT, 2009, p. 14.] “Portanto, afirmamos que o conhecimento a priori é oposto ao conhecimento empírico”.[5: KANT, 2009, p. 14.] “Ainda, os conhecimentos a priori se dividem em puros e impuros. O conhecimento a priori puro é aquele que não necessita de nada de empírico”.[6: KANT, 2009, p. 14.] “Como exemplo, ‘toda mudança tem uma causa é um princípio a priori e impuro, pois só é possível formular a conceituação de mudança a partir da experiência”.[7: KANT, 2009, p. 14.] II. O senso comum não dispensa certos conhecimentos a priori “Quando encontramos uma proposição que precisa ser pensada, ela será um juízo a priori”.[8: KANT, 2009, p. 14.] “Será absolutamente a priori se não for derivada e se a concebermos, por si mesma, como necessária”.[9: KANT, 2009, p. 14.] “Aquilo que não admite exceção, que não deriva da experiência e que não tem valor absoluto a priori é um juízo pensado com rigorosa universalidade”.[10: KANT, 2009, p. 14.] “Concluímos daí que a universalidade empírica é uma extensão arbitrária de validade, porque se trata de uma validade que vai do que corresponde à maior parte dos casos ao que corresponde a todos eles, como, por exemplo: ‘Todos os corpos são pesados’”.[11: KANT, 2009, p. 14.] “Já uma universalidade rigorosa é essencial num juízo, quando indica uma faculdade de conhecer a priori – fonte especial de conhecimento”.[12: KANT, 2009, p. 14.] “No conhecimento humano existem mesmo juízos de um valor necessário e da mais rigorosa significação universal, sendo estes juízos puros, a priori, e fáceis de demonstrar. Exemplo na ciência: todas as proposições da matemática. Exemplo no bom senso: a proposição de que cada mudança tem uma causa”.[13: KANT, 2009, p. 15.] “Se todas as regras que empregasse fossem sempre empíricas e contingentes, a experiência não teria em que basear sua certeza”.[14: KANT, 2009, p. 15.] “Raramente são aceitos como primeiros princípios os que possuem esse caráter”.[15: KANT, 2009, p. 15.] III. A filosofia precisa ter uma ciência que defina tudo de todos os conhecimentos a priori “Deus, liberdade e imortalidade são os temas da razão pura. A metafísica é a ciência que estuda essas questões. Seu procedimento é dogmático, a princípio; ela assume confiantemente sua execução sem um exame prévio da capacidade ou incapacidade de nossa razão para tão grande empreendimento”.[16: KANT, 2009, p. 16.] “A matemática é um ótimo exemplo do que poderíamos realizar nos conhecimentos a priori independentemente da experiência. A matemática trabalha com objetos e conhecimentos que podem ser representados pela intuição; todavia, essa circunstância é fácil de ser reparada, pois a intuição de que se trata pode se dar a priori por si mesma e raramente é distinguida de um simples conceito puro”.[17: KANT, 2009, p. 17.] “[Platão] (...) pois não tinha em que se apoiar para empregar suas forças para que o entendimento saísse do lugar”.[18: KANT, 2009, p. 17.] “Na maioria das vezes, este é o caminho que a razão humana percorre na especulação: acaba o quanto antes sua obra e não procura mais acompanha-la, depois de um tempo”.[19: KANT, 2009, p. 17.] IV. Distinção entre juízo analítico e sintético “A relação de um sujeito com um predicado (considerando apenas os juízos afirmativos) é viável de duas maneiras: ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo contido nele, ou B é estranho ao conceito A, mesmo junto dele. Chamo o primeiro caso de juízo analítico, e o segundo de sintético. Portanto, juízos analíticos (afirmativos) são aqueles em que a conexão do predicado com o sujeito for pensada por identidade; juízos sintéticos são aqueles em que essa conexão for pensada sem identidade. (...) Os primeiros, por meio do predicado, nada acrescentam ao conceito do sujeito, apenas o separam por desmembramento em seus conceitos parciais, já pensados nele; os segundos acrescentam ao conceito do sujeito um predicado que de maneira alguma era pensado nele e que não seria obtido por nenhuma decomposição”.[20: KANT, 2009, p. 18.] “Os juízos da experiência, como tais, são todos sintéticos”.[21: KANT, 2009, p. 18.] “Porém, se estendemos nosso conhecimento e observamos a experiência, da qual extraímos esse conceito de corpo, encontramos sempre conectada com as características mencionadas a característica de peso, que acrescentamos sinteticamente como predicado a esse conceito”.[22: KANT, 2009, p. 19.] V. Em todas as ciências teóricas da razão estão compreendidos, como princípios, juízos sintéticos a priori “São sintéticos todos os juízos matemáticos”.[23: KANT, 2009, p. 19.] “Primeiramente, o que devemos notar é que as proposições matemáticas não são juízos empíricos: são, isto sim, juízos a priori, pois implicam necessidade, a qual não pode ser obtida pela experiência”.[24: KANT, 2009, p. 19.] “Na metafísica deve haver conhecimentos sintéticos a priori (mesmo que a metafísica seja considerada aqui como uma ciência em ensaio, porém não dispensável à natureza da razão humana). De modo algum trata-se apenas de desmembrar conceitos que fazemos a priori das coisas, e por meio disso, elucidá-los analiticamente; desejamos, sim, aumentar nosso conhecimento a priori. Para isso precisamos nos servir dos princípios que ao conceito dado adicionam alguma coisa não contida nele; assim, por meio de juízos sintéticos a priori, talvez possamos ir tão longe que a própria experiência nos acompanhe. Exemplo: o mundo deve ter um primeiro início”.[25: KANT, 2009, p. 21.] “Dessa maneira, a metafísica, pelo menos de acordo com seu objetivo, consiste em simples proposições sintéticas a priori”.[26: KANT, 2009, p. 21.] VI. O problema geral da razão pura “O verdadeiro problema da razão pura está contido na questão: como os juízos sintéticos a priori são possíveis? Se a metafísica continua até hoje numa situação vacilante, entre incertezas e contradições, isso deve ser atribuído apenas ao fato de não termos pensado antes nessa questão, e tampouco na diferença entre juízo analítico e sintético”.[27: KANT, 2009, p. 21.] -- 4
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