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Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 72 AULA 09: Comissões de Conciliação Prévia. Renúncia e transação. Direito Coletivo do Trabalho SUMÁRIO PÁGINA 1. Introdução 02 2. Comissões de Conciliação Prévia 03 3. Renúncia e transação 07 4. Direito Coletivo do Trabalho 09 4.1. Princípios do Direito Coletivo do Trabalho 09 4.2. Negociação coletiva 15 4.3. Características da CCT e ACT 17 4.4. Hierarquia entre CCT e ACT 27 4.5. Limites à negociação coletiva 30 5. Sindicatos 32 5.1. Critérios de agregação dos trabalhadores ao sindicato 33 5.2. Natureza jurídica, registro e unicidade sindical 37 5.3. Outras disposições relevantes 39 6. Questões comentadas 43 7. Lista das questões comentadas 58 8. Gabaritos 62 9. Conclusão 62 10. Lista de legislação, Súmulas e OJ do TST relacionados ao tema 64 11. Referências do curso 72 Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 72 1. Introdução Oi amigos (s), Estamos chegando à nossa última aula do curso, onde veremos os assuntos restantes exigidos nos editais da FCC, a saber: Comissões de Conciliação Prévia. Renúncia e transação. Do direito coletivo do trabalho. Os dois primeiros assuntos são mais simples, e concluiremos em poucas páginas. Já o direito coletivo do trabalho demandará um pouco mais de tempo de estudo. Vamos lá que falta pouco! Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 72 2. Comissões de Conciliação Prévia A previsão quanto à instituição e funcionamento das Comissões de Conciliação Prévia (CCP) foi instituída na CLT por meio da Lei nº 9.958/2000, que inseriu na Consolidação das Leis do Trabalho o Título VI-A – DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA. A intenção do legislador na criação das CCP é “desafogar” o Judiciário, procurando a resolução de conflitos trabalhistas por meio destas Comissões. O objetivo das CCP é tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Além disso, é importante destacar que a instituição das CCP é facultativa, e que, sendo instituída, sua composição deve ser paritária, ou seja, com a mesma quantidade de representantes dos empregados e dos empregadores. Estas disposições encontram-se no artigo 625-A: CLT, art. 625-A. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representante dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Além disso, em relação à composição e abrangência de atuação da CCP, admite-se sua existência no âmbito da empresa, em grupo de empresas e até mesmo entre mais de um sindicato: CLT, art. 625-A, parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste artigo poderão ser constituídas por grupos de empresas ou ter caráter intersindical. Acerca da quantidade de membros (titulares e suplentes), o artigo 625-B corrobora a paridade e ainda define que: CLT, art. 625-B. A Comissão instituída no âmbito da empresa será composta de, no mínimo, dois e, no máximo, dez membros, e observará as seguintes normas: Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 72 I - a metade de seus membros será indicada pelo empregador e outra metade eleita pelos empregados, em escrutínio secreto, fiscalizado pelo sindicato de categoria profissional; II - haverá na Comissão tantos suplentes quantos forem os representantes titulares; III - o mandato dos seus membros, titulares e suplentes, é de um ano, permitida uma recondução. Após estabelecer a quantidade mínima e máxima de empregados integrantes a CCP, duração do mandato, etc., a CLT estipulou que, nas CCP instituídas no âmbito do sindicato, sua constituição será definida em negociação coletiva (ou seja, as regras poderão ser diferentes das dispostas no art. 625-B). Esta é a conclusão que se chega a partir da leitura do artigo seguinte, o 625-C: CLT, art. 625-C. A Comissão instituída no âmbito do sindicato terá sua constituição e normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo coletivo. Comentamos inicialmente que a instituição da CCP é facultativa, e que o objetivo desta Comissão é tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Caso exista a Comissão (instituída facultativamente), é obrigatório que os conflitos trabalhistas sejam encaminhados à CCP? Ou mesmo havendo a Comissão seria possível ingressar diretamente em juízo sem acionar a CCP? Pela leitura do artigo 625-D, seria obrigatório: CLT, art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria. Entretanto, existem posicionamentos do STF e do TST no sentido de que não seria obrigatória a tentativa de resolução do conflito pela CCP para somente depois poder-se acessar o Poder Judiciário. É que a CF/88 assegura o princípio da inafastabilidade do controle judicial: Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 72 CF/88, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Quando uma demanda é submetida à CCP, deve ser reduzida a termo e os interessados receberão cópia datada e assinada: CLT, art. 625-D, § 1º A demanda será formulada por escrito ou reduzida a termo por qualquer dos membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada pelo membro aos interessados. Além disso, a CLT prevê que, frustrada a tentativa de conciliação, será fornecida declaração: CLT, art. 625-D, § 2º Não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e ao empregador declaração da tentativa conciliatória frustada com a descrição de seu objeto, firmada pelos membros da Comissão, que deverá ser juntada à eventual reclamação trabalhista. Comentamos anteriormente que poderia haver CCP instituída no âmbito da empresa, de empresas e até mesmo com abrangência intersindical. Pode ocorrer, então, de uma empresa instituir CCP e haver outra CCP que atua perante a categoria sindical; nestes casos, o interessado poderá optar por submeter sua demanda a uma ou outra: CLT, art. 625-D, § 4º Caso exista, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissãode empresa e Comissão sindical, o interessado optará por uma delas submeter a sua demanda, sendo competente aquela que primeiro conhecer do pedido. E quando uma demanda é submetida à CCP e se chega a um acordo, qual o efeito prático? Nestes casos, será lavrado um termo: Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 72 CLT, art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. Quanto à natureza jurídica do termo de conciliação, a CLT define que este se constituirá em título executivo extrajudicial: CLT, art. 625-E, parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. Já sobre o prazo para se realizar a sessão conciliatória, a CLT o estipulou como sendo de 10 (dez) dias, com a correspondente consequência da impossibilidade de seu cumprimento: CLT, art. 625-F. As Comissões de Conciliação Prévia têm prazo de dez dias para a realização da sessão de tentativa de conciliação a partir da provocação do interessado. Parágrafo único. Esgotado o prazo sem a realização da sessão, será fornecida, no último dia do prazo, a declaração a que se refere o § 2º do art. 625-D [declaração da tentativa conciliatória frustada]. Sobre a relação entre atuação da CCP e a prescrição trabalhista, o art. 625- F estabelece que, a partir da provocação da CCP, o prazo prescricional será suspenso. Isto significa que o prazo prescricional voltará a correr após as situações mencionadas (ao contrário da interrupção, que faria com que o prazo fosse renovado). CLT, art. 625-G. O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 72 3. Renúncia e transação Este tópico é bastante simples, e trataremos dele em alguns parágrafos. A diferenciação conceitual entre renúncia e transação pode ser extraída do quadro abaixo, construído a partir da lição de Mauricio Godinho Delgado1: Renúncia Transação Ato unilateral da parte, através do qual ela se despoja de um direito de que é titular, sem correspondente concessão pela parte beneficiada da renúncia. Ato bilateral (ou plurilateral), pelo qual se acertam direitos e obrigações entre as partes acordantes, mediante concessões recíprocas (despojamento recíproco), envolvendo questões fáticas ou jurídicas duvidosas (res dubia). A regra geral no Direito do Trabalho, consoante o princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas, é que o empregado não pode abrir mão de seus direitos. Atos neste sentido, em regra, são nulos. Neste sentido os artigos 9º, 444 e 468 da CLT: CLT, art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. CLT, art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes. CLT, art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Sobre o assunto, transcrevo a seguinte passagem da obra do mesmo autor2: 1 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2012, pág. 210. 2 Idem, pág. 211. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 72 “(...) o trabalhador, que por ato individual (renúncia), quer por ato bilateral negociado com o empregador (transação), não pode dispor de seus direitos laborais, sendo nulo o ato dirigido a esse despojamento. Essa conduta normativa geral realiza, no plano concreto da relação de emprego, a um só tempo, tanto o princípio da indisponibilidade de direitos trabalhistas como o princípio da imperatividade da legislação do trabalho”. Nesta linha, são poucas as possibilidades de aplicação de renúncia e transação no Direito do Trabalho. Quanto à possibilidade de aplicação da transação no direito trabalhista, o Ministro Godinho estabelece, primeiramente, a distinção entre direitos de indisponibilidade absoluta e direitos de indisponibilidade relativa. Sobre estes últimos é possível se reconhecer o cabimento de transação, mas não em relação aos primeiros. Novamente recorrendo a um quadro para facilitar a visualização: Indisponibilidade absoluta Indisponibilidade relativa O direito enfocado merece uma tutela de nível de interesse público, por traduzir um patamar civilizatório mínimo firmado pela sociedade política em um dado momento histórico. O direito enfocado traduz interesse individual ou bilateral simples, que não caracterize um padrão civilizatório geral mínimo firmado pela sociedade política em um dado momento histórico. Exemplos: direito à assinatura da CTPS, salário mínimo, normas de segurança e saúde no trabalho. Exemplo: mudança da modalidade de pagamento de salário (salário fixo versus salário variável), desde que não resulte em prejuízo ao obreiro. Ao final, como citado acima, o autor conclui que a transação é cabível quando se relacione aos direitos de indisponibilidade relativa, desde que não resulte em prejuízo ao empregado. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 72 4. Direito coletivo do trabalho Para entendermos o que representa o Direito Coletivo do Trabalho em relação ao Direito Individual do Trabalho (e em relação ao próprio Direito do Trabalho) considero oportuno trazer a lição de Sérgio Pinto Martins3: “Direito Coletivo do Trabalho é o segmento do Direito do Trabalho encarregado de tratar da organização sindical, da negociação coletiva, dos contratos coletivos, da representação dos trabalhadores e da greve. O Direito Coletivo do Trabalho é apenas uma das subdivisões do Direito do Trabalho, não possuindo autonomia, pois não tem diferenças específicas em relação aos demais ramos do Direito do Trabalho, estando inserido, como os demais, em sua maioria, na CLT”. Neste contexto, esta aula tratará do assunto Direito Coletivo do Trabalho, dividindo-o em subtópicos, a iniciar pelos princípios aplicáveis a este ramo. 4.1. Princípios do direito coletivo do trabalho Abordaremos neste tópico os princípiosaplicáveis ao Direito Coletivo de Trabalho, seguindo a lição do Ministro Godinho. Princípio da liberdade associativa e sindical Preliminarmente, saliente-se que o direito de associação está assegurado pela Constituição Federal, em seu artigo 5º: CF/88, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; 3 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 27 ed. São Paulo: Atlas, 2011, pág. 714. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 72 (...) XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; Além disso, com relação à liberdade de associação sindical, o art. 8º dispõe que, além de ser livre a filiação, também o será a desfiliação: CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; Retomando o princípio em estudo, vemos que será livre a criação associativa e, por outro lado, o empregado não poderá ser forçado a se associar (ou manter-se associado) ao sindicato. Sendo assim, nosso ordenamento jurídico não admite cláusulas de sindicalização forçada. Um exemplo de cláusula de sindicalização forçada seria a necessidade de o empregado ser sindicalizado para que a empresa pudesse contratá-lo (esta cláusula, no caso, seria firmada entre o sindicato obreiro e as empresas). Princípio da autonomia sindical O princípio da autonomia sindical (ou da liberdade sindical) garante que os sindicatos possam se organizar sem interferências do Estado e das empresas. Assim, não há controle político estatal, e a criação dos sindicatos também não dependerá de autorização. É desta maneira que o princípio em tela foi inserido na Constituição Federal: CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 72 Percebam que o dispositivo constitucional proíbe a exigência de autorização para a criação do sindicato, mas prevê o registro do sindicato no órgão competente (no caso, no Ministério do Trabalho e Emprego). O princípio da autonomia sindical, entretanto, ainda sofre algumas restrições: é que existem disposições limitadoras da autonomia sindical. Estas limitações são três: a unicidade sindical, (art. 8º, II4), o financiamento compulsório, (art. 8º, IV) e o poder normativo da Justiça do Trabalho. Princípio da interveniência sindical na normatização coletiva Este princípio determina que a normatização coletiva, para ser válida, demanda a participação do sindicato representante dos trabalhadores: CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; Já a participação dos sindicatos patronais (representantes dos empregadores) não é obrigatória: é que a negociação coletiva pode dar-se entre o sindicato obreiro e a empresa. Falaremos mais sobre isso no tópico “Negociações Coletivas”. 4 CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; (...) IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei; Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 72 Princípio da equivalência dos contratantes coletivos Existe nítido desequilíbrio entre o empregador (detentor do capital) e o empregado, e o Direito do Trabalho surge para atenuar tal desequilíbrio. No caso do Direito Coletivo, entretanto, as partes envolvidas (empresa, sindicato patronal e sindicato obreiro) possuem força semelhante. O empregador e os sindicatos são reconhecidos como seres coletivos, e, além disso, eles possuem instrumentos eficazes para negociar. No caso do sindicato obreiro, pode-se citar como instrumento de atuação a garantia de emprego de seus dirigentes, o que lhes aumenta o poder de pressão para obter melhor resultado em negociação com o empregador. Desta maneira, assim como se reconhece a desigualdade entre as partes no Direito Individual do Trabalho, a doutrina reconhece, no Direito Coletivo do Trabalho, tratamento jurídico equivalente entre as partes (neste, frise-se, o empregado não atuará isoladamente, e sim através de sua representação sindical). Princípio da lealdade e transparência nas negociações coletivas Este princípio apregoa que a negociação coletiva deve transcorrer de forma leal e transparente, não se admitindo condutas que inviabilizem a formulação das normas jurídicas juscoletivas (as convenções coletivas e os acordos coletivos de trabalho). Estas normas criadas através da negociação coletiva serão de observância obrigatória pelas partes, motivo pelo qual sua criação não pode ser prejudicada por atos desleais ou que atentem contra a boa-fé. Princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva Este princípio se relaciona ao fato de que a negociação coletiva cria normas jurídicas (comandos abstratos, gerais e impessoais). Assim, a negociação coletiva não produz simplesmente cláusulas obrigacionais que se aderem ao contrato. Como dito acima, os acordos e convenções coletivos, em atendimento ao princípio da criatividade jurídica, geram normas jurídicas. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 72 Princípio da adequação setorial negociada O princípio da adequação setorial negociada foi delineado por Mauricio Godinho Delgado, e consiste em possibilidades e limites jurídicos à negociação coletiva. Sobre a limitaçãoimposta pelo princípio em estudo, o Ministro Godinho5 ensina que “Pelo princípio da adequação setorial negociada as normas autônomas juscoletivas construídas para incidirem sobre certa comunidade econômico- profissional podem prevalecer sobre o padrão geral heterônomo justrabalhista desde que respeitados certos critérios objetivamente fixados. São dois esses critérios autorizativos: a) quando as normas autônomas juscoletivas implementam um padrão setorial de direitos superior ao padrão geral oriundo da legislação heterônoma aplicável; b) quando as normas autônomas juscoletivas transacionam setorialmente parcelas justrabalhistas de indisponibilidade apenas relativa (e não de indisponibilidade absoluta)”. Relembrando alguns conceitos mencionados no excerto transcrito acima, normas autônomas são aquelas que, de sua elaboração, participam os próprios destinatários. Este é o caso das negociações coletivas de trabalho (convenção coletiva de trabalho e acordo coletivo de trabalho). Já as fontes heterônomas do direito do trabalho (leis, decretos, etc.) são normas elaboradas pelo Estado, não havendo participação direta dos destinatários da mesma em sua produção. Quanto à distinção entre indisponibilidade absoluta e relativa, segue abaixo o esquema apresentado anteriormente: 5 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1342. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 72 Indisponibilidade absoluta Indisponibilidade relativa O direito enfocado merece uma tutela de nível de interesse público, por traduzir um patamar civilizatório mínimo firmado pela sociedade política em um dado momento histórico. O direito enfocado traduz interesse individual ou bilateral simples, que não caracterize um padrão civilizatório geral mínimo firmado pela sociedade política em um dado momento histórico. Exemplos: direito à assinatura da CTPS, salário mínimo, normas de segurança e saúde no trabalho. Exemplo: mudança da modalidade de pagamento de salário (salário fixo versus salário variável), desde que não resulte em prejuízo ao obreiro. Quanto ao alcance da expressão patamar civilizatório mínimo, o Ministro Godinho6 entende que ela abrange três grupos de normas, a saber: 1) Normas constitucionais em geral, respeitadas as ressalvas expressamente feitas pela próprias CF/88 (como a redução salarial admitida mediante negociação coletiva – art. 7º, II); 2) Normas de tratados e convenções internacionais vigorantes no plano interno brasileiro, que expressam patamar civilizatório no próprio mundo ocidental em que se integra o Brasil; e 3) Normas legais infraconstitucionais que asseguram patamares de cidadania ao indivíduo que labora (preceitos relativos à saúde e segurança no trabalho, normas concernentes a bases salariais mínimas, normas de identificação profissional, dispositivos antidiscriminatórios, etc.). Fazendo um link com o assunto “renúncia e transação”, é importante trazer o seguinte trecho da obra do mesmo autor, que relaciona estes institutos com os limites impostos à negociação coletiva7: “(...) ela [negociação coletiva] não prevalece se concretizada mediante ato estrito de renúncia (e não de transação). É que ao processo negocial coletivo falece 6 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1343. 7 Idem, ibidem. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 72 poderes de renúncia sobre direitos de terceiros (isto é, despojamento unilateral sem contrapartida do agente adverso). Cabe-lhe, essencialmente, promover transação (ou seja, despojamento bilateral ou multilateral, com reciprocidade entre os agentes envolvidos), hábil a gerar normas jurídicas”. 4.2. Negociação coletiva de trabalho O termo negociação coletiva de trabalho abrange as convenções coletivas de trabalho (CCT) e os acordos coletivos de trabalho (ACT), que são os instrumentos pelos quais o resultado da negociação coletiva é materializado. A diferença conceitual entre eles é a seguinte: no acordo coletivo de trabalho figura, de um lado, o sindicato obreiro (da categoria profissional) e, de outro, o empregador. Existe também a possibilidade do ACT ser firmado entre o sindicato obreiro e mais de uma empresa. Já na CCT figura, de um lado, o sindicato obreiro (da categoria profissional) e, de outro, o sindicato patronal (da categoria econômica). Assim, temos: Negociação coletiva Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) Resultado de negociação entre o sindicato patronal e o sindicato dos empregados Resultado de negociação entre uma (ou mais) empresa(s) e o sindicato dos empregados Falemos sobre as definições celetistas da CCT e ACT (esta abordagem havia sido feita no início do curso). Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 72 Convenção Coletiva de Trabalho A definição celetista de convenção coletiva de trabalho é a seguinte: CLT, art. 611 - Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho. Assim, a convenção coletiva abrange toda a categoria profissional (comerciários, trabalhadores da indústria da construção, professores, etc.) na base territorial do sindicato. Registre-se que os empregados não são obrigados a filiar-se ao sindicato de sua categoria, mas mesmo os não filiados são abrangidos pelas disposições da convenção ou acordo coletivos de trabalho. Nesta linha, por exemplo, mesmo o empregado não filiado ao sindicato representativo de sua categoria faz jus ao piso salarial porventura estabelecido na convenção coletiva. Acordo Coletivo de Trabalho Vejamos a disposição celetista sobre os acordos coletivos de trabalho: CLT, art. 611, § 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. Como se verifica no esquema anterior e na leitura da CLT, o ACT é celebrado entre o sindicato obreiro e a(s) empresa(s), não havendo participação ativa do sindicato patronal. ----------------------------- Feitas as considerações, precisamos saber o seguinte: quais são então as principais diferenças entre CCT e ACT? Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 72 Basicamente duas: os sujeitos envolvidos na negociação e a abrangênciasdas normas produzidas. Esquematicamente, temos: Principais diferenças entre CCT e ACT Polos subjetivos pactuantes Abrangência das normas pactuadas Na CCT, a negociação é entabulada entre sindicatos (o sindicato obreiro e o sindicato patronal); no ACT a negociação conta com o sindicato obreiro, mas no outro polo da negociação há uma (ou mais de uma) empresa, e não o sindicato patronal. Na CCT, como os sujeitos pactuantes são os sindicatos obreiro e patronal, as normas jurídicas por ela definidas abrangem toda a base territorial das categorias profissional e econômica representadas pelos sindicatos pactuantes; já o ACT terá aplicação apenas nas empresas que figuraram como polo subjetivo (assim, sua abrangência é mais restrita que a da CCT). 4.3. Características da CCT e ACT Neste tópico falaremos sobre algumas das características das CCT e dos ACT, como a legitimação, forma, vigência e duração. Legitimação Como comentamos acima, são legitimados para celebrar as negociações coletivas os sindicatos obreiro e patronal. No caso dos ACT, os empregadores, diretamente, também possuem legitimação para celebrá-los. Quando uma categoria profissional não é organizada em sindicato, é possível que figure no polo subjetivo da negociação a federação ou confederação que represente a categoria: CLT, art. 611, § 2º As Federações e, na falta desta, as Confederações representativas de categorias econômicas ou profissionais poderão celebrar convenções coletivas de trabalho para reger as relações das categorias a elas vinculadas, inorganizadas em Sindicatos, no âmbito de suas representações. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 72 É interessante mencionar que este dispositivo trata das federações e confederações; ele não menciona as centrais sindicais (como a CUT). Como ensina Mauricio Godinho Delgado8, estas instituições não possuem legitimação para celebrar negociação coletiva: “(...) a jurisprudência brasileira, pacificamente (STF e TST), não tem reconhecido legitimidade coletiva às entidades de cúpula do sindicalismo do país: as centrais sindicais (CUT, CTG, Força Sindical, etc.). O fundamento jurídico residiria na circunstância de tais entidades não estarem até então tipificadas em lei, sobrepondo-se, como mero fato sociopolítico, à estrutura sindical regulada pela CLT. Registre-se que a Lei n. 11.648, de 31.3.2008, preferiu não estender a tais entidades os poderes da negociação coletiva trabalhista (...), sufragando, nesta medida, a restrição já consagrada na jurisprudência dominante”. Sobre negociação coletiva e servidores públicos, mencione-se que a jurisprudência tem entendido ser inaplicável tal negociação no âmbito da Administração Pública. Neste sentido a Súmula 679 do STF: SÚMULA Nº 679 A fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção coletiva. Entretanto, é de se ressaltar que a OJ-SDC-5 do TST, alterada em 2012, reconhece a validade das cláusulas de natureza social. Foi feita, então, distinção entre o cabimento de cláusula de natureza social (em contraposição às cláusulas de natureza econômica). Seguem abaixo a redação anterior e a redação atual do referido verbete: OJ-SDC-5 DISSÍDIO COLETIVO CONTRA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA Aos servidores públicos não foi assegurado o direito ao reconhecimento de acordos e convenções coletivos de trabalho, pelo que, por conseguinte, também não lhes é facultada a via do dissídio coletivo, à falta de previsão legal. 8 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1400. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 72 OJ-SDC-5 DISSÍDIO COLETIVO. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. POSSIBILIDADE JURÍDICA. CLÁUSULA DE NATUREZA SOCIAL. Em face de pessoa jurídica de direito público que mantenha empregados, cabe dissídio coletivo exclusivamente para apreciação de cláusulas de natureza social. Inteligência da Convenção nº 151 da Organização Internacional do Trabalho, ratificada pelo Decreto Legislativo nº 206/2010. O seguinte trecho da obra de Mauricio Godinho Delgado9 que sintetiza esta diferenciação entre cláusulas sociais e cláusulas econômicas em relação à Administração Pública: “No caminho aberto pelas novas induções trazidas pela Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho, a Seção de Dissídios Coletivos do TST, a partir do segundo semestre de 2010, passou a conferir relevo à distinção entre cláusulas econômicas e cláusulas meramente sociais, estas sem conteúdo econômico, para fins de celebração de negociação coletiva trabalhista e instauração de processo de dissídio coletivo. Embora o texto original da OJ 05 da SDC/TST não faça semelhante diferenciação, - vedando, genericamente, tanto a negociação coletiva (ACT ou CCT) como o dissídio coletivo quanto a pessoas jurídicas de direito público, mesmo que contratando servidores pela CLT -, a maioria da Seção, em face do novo diploma internacional ratificado, preferiu abrir senda inovadora na jurisprudência consolidada, relativamente às cláusulas meramente sociais, sem conteúdo econômico”. Conteúdo As CCT e ACT possuem, como conteúdo, regras jurídicas e cláusulas contratuais. Utilizando a conceituação do Ministro Godinho10, temos: 9 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1401. 10 Idem, pág. 1402. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 72 Conteúdo dos diplomas coletivos Regras jurídicas Cláusulas contratuais Geram direitos e obrigações que irão se integrar aos contratos individuais de trabalho das respectivas bases representadas. Consubstanciam a razão de ser da negociação coletiva, enquanto mecanismo criador de fontes normativas autônomas do Direito do Trabalho. Criam direitos e obrigações para as respectivas partes convenentes (sindicato obreiro e sindicato patronal na CCT e sindicato obreiro e empresas pactuantes no ACT). Em geral, têm presença reduzida nos instrumentos coletivos. Exemplos: fixação de critérios mais vantajosos para cálculo de adicionais, piso salarial da categoria e criação de novas garantias de emprego. Exemplo: cláusula de negociação em que a empresa se obriga a entregar ao sindicato obreiro a lista de nomes e endereços de seus empregados. Desta forma, percebam que as cláusulas contratuais da negociação coletiva não criam direito ou obrigações diretamente para os trabalhadores. Já as regras jurídicas emanadas do instrumento coletivo, estas sim, irão representar direitos e obrigações para os empregados. Ainda sobre o conteúdo dos diplomas coletivos é de se ressaltar a Súmula 384 do TST, que ressalta a aspectos relacionados às multas constantes de normas autônomas: SUM-384 MULTA CONVENCIONAL. COBRANÇA I - O descumprimento de qualquer cláusula constantede instrumentos normativos diversos não submete o empregado a ajuizar várias ações, pleiteando em cada uma o pagamento da multa referente ao descumprimento de obrigações previstas nas cláusulas respectivas. II - É aplicável multa prevista em instrumento normativo (sentença normativa, convenção ou acordo coletivo) em caso de descumprimento de obrigação prevista em lei, mesmo que a norma coletiva seja mera repetição de texto legal. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 72 Quanto ao item I, Ricardo Resende11 explica que “O item I se refere a matéria processual, mais especificamente à possibilidade de cumulação de pedidos. Com efeito, caso o empregado faça jus a multas distintas, decorrentes do descumprimento de mais de um instrumento normativo (uma prevista em sentença normativa e outra em convenção coletiva de trabalho, por exemplo), poderá cobrá-las em um único processo”. Já o item II trata dos casos em que existe previsão de multa por descumprimento de cláusula negocial e, ao mesmo tempo, a lei já prevê sanção ao empregador por descumprimento deste mesmo preceito legal. Ocorrendo a irregularidade descrita na lei e no instrumento coletivo, ambas as multas poderão se cumular. Sobre isto Sérgio Pinto Martins12 esclarece que “As partes devem observar aquilo que pactuaram (pacta sunt servanda). O contrato é lei entre as partes. Logo, a multa não pode ser considerada indevida só porque repete o conteúdo da lei”. Ainda sobre o conteúdo dos instrumentos coletivos, registre-se que a CLT, em seu art. 613, enumera alguns assuntos que, obrigatoriamente, devem ser abordados nos mesmos: CLT, art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatoriamente: I - Designação dos Sindicatos convenentes ou dos Sindicatos e empresas acordantes; II - Prazo de vigência; III - Categorias ou classes de trabalhadores abrangidas pelos respectivos dispositivos; IV - Condições ajustadas para reger as relações individuais de trabalho durante sua vigência; V - Normas para a conciliação das divergências sugeridas entre os convenentes por motivos da aplicação de seus dispositivos; 11 RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Método, 2012, p. 975. 12 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários às Súmulas do TST. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2012, pág. 301. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 72 VI - Disposições sobre o processo de sua prorrogação e de revisão total ou parcial de seus dispositivos; VII - Direitos e deveres dos empregados e empresas; VIII - Penalidades para os Sindicatos convenentes, os empregados e as empresas em caso de violação de seus dispositivos. Forma Os CCT e ACT são, necessariamente, escritos (ou seja, não podem ser verbais): CLT, art. 613, parágrafo único. As convenções e os Acordos serão celebrados por escrito, sem emendas nem rasuras, em tantas vias quantos forem os Sindicatos convenentes ou as empresas acordantes, além de uma destinada a registro. Por este motivo diz-se que tais instrumentos são solenes. Em relação à forma de aprovação de CCT e ACT, quorum de associados para votação, etc. a CLT estabelece algumas regras que parte da doutrina critica (pois estas regulamentações e procedimentos caberiam aos estatutos dos sindicatos e não à lei). Apesar desta divergência é oportuno conhecer alguns dos requisitos exigidos pela CLT: CLT, art. 612 - Os Sindicatos só poderão celebrar Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho, por deliberação de Assembleia Geral especialmente convocada para esse fim, consoante o disposto nos respectivos Estatutos, dependendo a validade da mesma do comparecimento e votação, em primeira convocação, de 2/3 (dois terços) dos associados da entidade, se se tratar de Convenção, e dos interessados, no caso de Acordo, e, em segunda, de 1/3 (um terço) dos mesmos. Parágrafo único. O "quorum" de comparecimento e votação será de 1/8 (um oitavo) dos associados em segunda convocação, nas entidades sindicais que tenham mais de 5.000 (cinco mil) associados. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 72 Sobre a forma de publicidade do instrumento negocial, a CLT estabelece a necessidade de apresentar o CCT e o ACT para ser registrado e arquivado no Ministério do Trabalho e Emprego – MTE -, no prazo de 8 dias contados de sua assinatura. Além disso, foi também estabelecido o prazo de 5 dias, a contar do depósito do instrumento negocial no MTE, para que cópias do documento coletivo sejam afixadas de modo visível, pelos sindicatos convenentes, nos estabelecimentos de empresas abrangidas pelo mesmo. Vigência Pelo disposto na CLT, a vigência do instrumento coletivo está condicionada ao seu depósito no MTE: CLT, art. 613, § 1º As Convenções e os Acordos entrarão em vigor 3 (três) dias após a data da entrega dos mesmos no órgão referido neste artigo. Esta questão, porém, não é pacífica na doutrina. Há entendimentos de que este dispositivo celetista não foi recepcionado pela CF/88. Duração A duração máxima dos CCT e ACT foi definido pela Consolidação das Leis do Trabalho como sendo de 2 anos: CLT, art. 614, § 3º Não será permitido estipular duração de Convenção ou Acordo superior a 2 (dois) anos. Assim, não se admite a duração dos instrumentos autônomos por prazo superior a dois anos. O debate, neste contexto, diz respeito à aderência permanente (ou não) das regras jurídicas nos contratos de trabalho dos empregados, mesmo depois de cessada a duração do instrumento coletivo que a previa. Os posicionamentos doutrinários dividem-se nas teorias da aderência irrestrita, aderência limitada pelo prazo e aderência limitada por revogação. Resumidamente seria o seguinte: Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 72 Aderência irrestrita »» As disposições dos CCT e ACT aderem de forma permanente nos contratos de trabalho dos empregados, não podendo mais ser suprimidos. É que por esta teoria, às disposições do instrumento coletivo se aplica o art. 468 da CLT. Aderência limitada pelo prazo »» Em contraponto à teoria anterior, esta defende que as disposições de CCT e ACT somente surtem efeitos durante a vigência do diploma autônomo, não havendo aderência das disposições juscoletivas nos contratos de trabalho. Aderência limitada por revogação »» Esta é uma teoria intermediária, segundo a qual as regras instituídas pela CCT ou ACT vigoram até que sejam revogadas (expressamente ou tacitamente) por outro diploma negocial. Passemos agora aos comentários complementares sobre o esquema apresentado. ----------------------------- A teoria da aderência irrestrita não tem sido prestigiada atualmente, e, como mencionado no quadroacima, fundamenta-se no art. 468 da CLT: CLT, art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. ----------------------------- A teoria da aderência limitada pelo prazo fundamentava a Súmula 277 do TST, em sua redação anterior a setembro de 2012: SUM-277 SENTENÇA NORMATIVA. CONVENÇÃO OU ACORDO COLETIVOS. VIGÊNCIA. REPERCUSSÃO NOS CONTRATOS DE TRABALHO I - As condições de trabalho alcançadas por força de sentença normativa, convenção ou acordos coletivos vigoram no prazo assinado, não integrando, de forma definitiva, os contratos individuais de trabalho. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 72 Com a alteração da Súmula 277, o referido verbete passou a prestigiar a teoria da aderência limitada por revogação. ----------------------------- Já a teoria da aderência limitada por revogação, que é posição intermediária em relação às outras duas, é a tecnicamente mais adequada, segundo o posicionamento de Mauricio Godinho Delgado13: “Tal posição é tecnicamente mais correta, por se estar tratando de norma jurídica – e norma provisória é, regra geral, uma excepcionalidade. Doutrinariamente é também mais sábia, por ser mais harmônica aos objetivos do Direito Coletivo do Trabalho, que são buscar a paz social, aperfeiçoar as condições laborativas e promover a adequação setorial justrabalhista. Ora, a provisoriedade conspira contra esses objetivos, ao passo que o critério da aderência por revogação instaura natural incentivo à negociação coletiva”. Na linha deste posicionamento do Ministro Godinho, a Súmula 277 agora conta com a redação: SUM-277 CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE. As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho. ----------------------------- Sobre a duração das disposições de CCT e ACT, a par de todas estas teorias acima expostas, a doutrina reconhece que o piso salarial estabelecido em instrumento coletivo adere, de forma permanente, aos contratos de trabalho, em respeito ao princípio da irredutibilidade salarial. Outra situação correlata diz respeito aos casos em que existia disposição sobre garantia de emprego na CCT ou ACT (em período superior ao estabelecido em lei14, claro), que já perdeu a vigência; se, durante sua vigência, o empregado se acidentou, ele continuará fazendo jus à estabilidade provisória mais vantajosa mesmo depois que o diploma autônomo já não mais está vigendo? 13 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1414. 14 Lei 8.213/91, art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 72 Exemplo: a CCT previu que os empregados abrangidos pela mesma teria garantia de emprego de 3 anos caso fossem vítimas de acidente do trabalho. Durante a vigência da CCT o empregado sofreu acidente de trabalho, e poucos meses depois a CCT deixou de viger. Ele continuará a ter o direito da garantia de emprego prevista na CCT? A resposta é afirmativa, com fundamento na OJ 41 do TST: OJ-SDI1-41 ESTABILIDADE. INSTRUMENTO NORMATIVO. VIGÊNCIA. EFICÁCIA Preenchidos todos os pressupostos para a aquisição de estabilidade decorrente de acidente ou doença profissional, ainda durante a vigência do instrumento normativo, goza o empregado de estabilidade mesmo após o término da vigência deste. Prorrogação, revisão, denúncia, revogação Na CLT também existe previsão quanto à possibilidade da CCT ou ACT ser prorrogada, revisada, denunciada ou revogada: CLT, art. 615 - O processo de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação total ou parcial de Convenção ou Acordo ficará subordinado, em qualquer caso, à aprovação de Assembleia Geral dos Sindicatos convenentes ou partes acordantes, com observância do disposto no art. 612. § 1º O instrumento de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação de Convenção ou Acordo será depositado para fins de registro e arquivamento, na repartição em que o mesmo originariamente foi depositado observado o disposto no art. 614. § 2º As modificações introduzidos em Convenção ou Acordo, por força de revisão ou de revogação parcial de suas cláusulas passarão a vigorar 3 (três) dias após a realização de depósito previsto no § 1º. Quanto à prorrogação, precisamos lembrar que a própria CLT estabelece vigência máxima de 2 anos para os diplomas coletivos. Sendo assim, a eventual prorrogação (somada à vigência inicial, deve respeitar este prazo máximo). Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 72 É comum na prática encontrar CCT e ACT com vigência prevista de um ano, e, neste caso, a eventual prorrogação seria de no máximo um ano. Este é o teor da OJ 322 do TST: OJ-SDI1-322 ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. CLÁUSULA DE TERMO ADITIVO PRORROGANDO O ACORDO PARA PRAZO INDETERMINADO. INVÁLIDA Nos termos do art. 614, § 3º, da CLT, é de 2 anos o prazo máximo de vigência dos acordos e das convenções coletivas. Assim sendo, é inválida, naquilo que ultrapassa o prazo total de 2 anos, a cláusula de termo aditivo que prorroga a vigência do instrumento coletivo originário por prazo indeterminado. A revisão do diploma coletivo é o procedimento pelo qual as partes envolvidas na negociação decidem alterar determinada (s) cláusula (s) durante a vigência do mesmo. Já a denúncia significa que uma das partes pretende não cumprir o instrumento coletivo em vigor, e comunica a outra parte de sua intenção. Por fim, a revogação (total ou parcial) tem lugar quando as partes decidem, como o nome sugere, revogar algumas cláusulas - ou a totalidade - do CCT ou ACT vigorante. Em todos estes casos mencionados, conforme previsto no art. 615 e seus parágrafos, tais alterações devem se subordinar, em qualquer caso, à aprovação de Assembleia Geral dos Sindicatos convenentes ou partes acordantes. 4.4. Hierarquia entre CCT e ACT É possível que seja celebrada CCT entre os sindicatos obreiro e patronal e, ao mesmo tempo, esteja em vigor ACT celebrado entre o sindicato obreiro e empresas (s) da categoria econômica representada pelo sindicato patronal que celebrou a CCT. Nestes casos, que diploma coletivo será aplicável aos trabalhadores da (s) empresa (s) citada (s) acima, que estarão abrangidos pela CCT e também pelo ACT? Para responder a esta pergunta é preciso saber que, no Direito do Trabalho, não se aplicam integralmente a pirâmide hierárquica rígida das normas como no Direito Comum, e, também, a regra segundo a qual lei específicaprevalece sobre lei geral. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 72 No Direito Comum, como estudamos nas matérias Direito Constitucional e Direito Administrativo, existe nítida hierarquia das normas, estando no ápice da pirâmide normativa a Constituição, e abaixo dela as emendas constitucionais, leis, medidas provisórias, decretos, etc. No Direito do Trabalho não se obedece exatamente a esta regra, até porque, no ramo justrabalhista, existem também as normas autônomas (elaboradas pelos seus próprios destinatários, como é o caso das CCT e ACT). Ao comentar o assunto, o Ministro Godinho15 esclarece que “(...) no ramo justrabalhista não se deve, em princípio, falar em hierarquia de diplomas normativos16, mas em hierarquia de regras jurídicas (heterônomas e autônomas). Em segundo lugar, o critério informativo da pirâmide hierárquica justrabalhista é distinto do rígido e inflexível imperante no direito comum. A eleição da norma jurídica – em vez do diploma normativo – como elemento integrante da pirâmide hierárquica justrabalhista resulta da composição altamente diversificada do universo de fontes características a esse ramo jurídico especializado, em que cumprem papel de alto relevo fontes de origem não estatal (fontes autônomas)”. Sobre a relação entre lei específica e lei geral, no Direito Comum a primeira prevalece sobre a segunda. No Direito do Trabalho, especialmente entre CCT e ACT, não se pode utilizar de modo inflexível a mesma regra (mesmo imaginando que a CCT, abrangendo toda a categoria profissional, seria “geral” e a ACT, por se aplicar a apenas uma – ou mais – empresa, seria “específica”). A questão é a seguinte: no Direito do Trabalho deve-se observar o princípio da norma mais favorável e, com, isto, é possível que a CCT prevaleça sobre o ACT. Nesta linha o art. 620 da CLT: CLT, art. 620. As condições estabelecidas em Convenção quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em Acordo. Tratando da hierarquia normativa justrabalhista, relacionando a pirâmide hierárquica e o princípio da norma mais favorável, o Ministro Godinho17 ensina que 15 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1408. 16 Diploma normativo está sendo utilizado como sinônimo de lei em sentido material. 17 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1409. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 72 “(...) aplicar-se-á ao caso concreto – sendo naquele caso hierarquicamente superior – a norma mais favorável ao empregado. O vértice da pirâmide normativa, variável e mutável – ainda que apreendido segundo um critério permanente -, não será a Constituição Federal ou a lei federal necessariamente, porém a norma mais favorável ao trabalhador. Não há, assim, uma contradição inconciliável entre as regras heterônomas estatais e regras autônomas privadas coletivas (entre o Direito do Estado e o Direito dos grupos sociais), mas uma espécie de incidência concorrente: a norma que disciplinar uma dada relação de modo mais benéfico ao trabalhador prevalecerá sobre as demais, sem derrogação permanente, mas mero preterimento, na situação concreta enfocada”. Feitas estas considerações, precisamos responder a mais uma pergunta: como definir qual é a norma mais benéfica ao trabalhador? À primeira vista pode parecer uma pergunta simples, mas não é: ao tratar de determinado assunto, uma CCT pode prever garantias e direitos vantajosos, mas, ao mesmo tempo, o ACT pode tratar de outros aspectos de maneira mais interessante ao empregado (comparando com a mesma CCT). Neste caso, se cláusulas de ambos os instrumentos possuem disposições benéficas, como definir qual a norma aplicável? Aplicar-se-ão trechos de cada um dos instrumentos? Ou será eleito o mais vantajoso para aplicação, de forma integral, no caso concreto? Aqui então precisamos apresentar as duas teorias que trazem a solução para estes casos. São elas a teoria da acumulação e a teoria do conglobamento. Teoria da acumulação Pela teoria da acumulação, deve-se utilizar no caso concreto os dispositivos mais favoráveis ao empregado, fracionando-os. Em outras palavras: aplicar-se-ia a uma situação fática mais de um texto normativo, fragmentando seus dispositivos. Esta teoria não tem sido prestigiada, porque afronta a visão do Direito como um sistema. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 72 Teoria do conglobamento A teoria do conglobamento, dominante na doutrina, propõe que as disposições sobre a matéria em questão devem ser analisadas globalmente dentro de cada texto normativo e será aplicável ao caso o conjunto mais benéfico ao empregado. Assim, aqui não há fracionamento de dispositivos sobre o mesmo assunto, sendo cabível a aplicação das disposições integrais do texto normativo mais favorável sobre a matéria. 4.5. Limites à negociação coletiva A capacidade dos sindicatos e empresas em negociar coletivamente encontra limites, e este será o objeto do presente tópico. Relembrando o que foi comentado no tópico sobre “renúncia e transação”, é importante trazer o seguinte trecho da obra do Ministro Godinho, que relaciona estes institutos (renúncia e transação) com os limites impostos à negociação coletiva18: “(...) ela [negociação coletiva] não prevalece se concretizada mediante ato estrito de renúncia (e não de transação). É que ao processo negocial coletivo falece poderes de renúncia sobre direitos de terceiros (isto é, despojamento unilateral sem contrapartida do agente adverso). Cabe-lhe, essencialmente, promover transação (ou seja, despojamento bilateral ou multilateral, com reciprocidade entre os agentes envolvidos), hábil a gerar normas jurídicas”. Outro aspecto também já abordado na aula que convém repisar é a questão da impossibilidade de se transacionar direito revestidos de indisponibilidade absoluta (estes não podem ser transacionados por CCT ou ACT). Relembrando o quadro que facilita a visualização da diferença entre indisponibilidade absoluta e relativa: 18 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1343. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 72 Indisponibilidade absoluta Indisponibilidade relativa O direito enfocado merece uma tutela de nível de interesse público, por traduzir um patamar civilizatório mínimo firmado pela sociedade política em um dado momento histórico. O direito enfocado traduz interesse individual ou bilateral simples, que não caracterize um padrão civilizatório geral mínimo firmado pela sociedade política em um dado momento histórico. Exemplos: direito à assinatura da CTPS, salário mínimo, normas de segurança e saúde no trabalho. Exemplo: mudança da modalidade de pagamento de salário (saláriofixo versus salário variável), desde que não resulte em prejuízo ao obreiro. Sobre o assunto jornada de trabalho e descansos, é interessante ressaltar que as regras limitadoras da duração do trabalho constituem medida de higiene, segurança e saúde (natureza de ordem pública), e por isto não podem ser livremente negociadas coletivamente. Acerca disto cite-se a OJ 372, que inviabiliza pretensão negocial no sentido de flexibilizar (em prejuízo do empregado) o limite legal de cômputo de jornada extraordinária: OJ-SDI1-372 MINUTOS QUE ANTECEDEM E SUCEDEM A JORNADA DE TRABALHO. LEI Nº 10.243, DE 19.06.2001. NORMA COLETIVA. FLEXIBILIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE A partir da vigência da Lei nº 10.243, de 19.06.2001, que acrescentou o § 1º ao art. 58 da CLT, não mais prevalece cláusula prevista em convenção ou acordo coletivo que elastece o limite de 5 minutos que antecedem e sucedem a jornada de trabalho para fins de apuração das horas extras. Quanto ao tempo in itinere, a CLT permite que haja um controle diferenciado para as microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP): CLT, art.58, § 3o Poderão ser fixados, para as microempresas e empresas de pequeno porte, por meio de acordo ou convenção coletiva, em caso de transporte fornecido pelo empregador, em local de difícil acesso ou não servido por Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 72 transporte público, o tempo médio despendido pelo empregado, bem como a forma e a natureza da remuneração. Assim, empresas de um modo geral cujos deslocamentos de empregados demandem horas in itinere devem controlar a jornada e registrar o tempo efetivo de deslocamento. No caso da ME/EPP, por meio de negociação coletiva, pode-se estabelecer tempo médio in itinere. Percebam que não é permitido às negociações coletivas envolvendo ME/EPP simplesmente desconsiderar as horas in itinere, mas apenas estipular o tempo médio de tal deslocamento. 5. Sindicatos O conceito de sindicato, segundo Amauri Mascaro Nascimento19, é “uma forma de organização de pessoas físicas ou jurídicas que figuram como sujeitos nas relações coletivas de trabalho. A característica principal do sindicato é ser uma organização de um grupo existente na sociedade. Essa organização reúne pessoas físicas, os trabalhadores, mas pode reunir também pessoas jurídicas, as empresas, uma vez que estas se associam em sindicatos também – os sindicatos dos empregadores. As pessoas que se associam o fazem não para fins indiscriminados, mas como sujeitos das relações coletivas de trabalho”. A CLT possui um título próprio que trata dos sindicatos, que é o Título V – DA ORGANIZAÇÃO SINDICAL. Este trecho se inicia com o art. 511, que segue abaixo: CLT, art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas. 19 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 37 ed. São Paulo: LTr, 2012, pág. 465. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 72 Da leitura do dispositivo percebe-se que não apenas os trabalhadores que possuem vínculo empregatício podem se organizar em sindicatos: a própria CLT prevê a possibilidade de organizações sindicais de autônomos e profissionais liberais. 5.1. Critérios de agregação dos trabalhadores ao sindicato Em relação aos critérios para agregação dos trabalhadores aos sindicatos é importante conhecer as conceituações de categoria econômica, categoria profissional e categoria profissional diferenciada, conforme preceituado na CF/8820 e na CLT. Esquematizando temos o seguinte: Categoria econômica »» CLT, art. 511, § 1º A solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas, constitui o vínculo social básico que se denomina categoria econômica. Categoria profissional »» CLT, art. 511, § 2º A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, compõe a expressão social elementar compreendida como categoria profissional. Categoria profissional diferenciada »» CLT, art. 511, § 3º Categoria profissional diferenciada é a que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condições de vida singulares. 20 CF/88, art. 8º, II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 72 Passemos à análise de cada um dos conceitos. Categoria econômica A categoria econômica se refere à atividade desenvolvida pelo empregador, de modo que as empresas que realizam atividades iguais ou semelhantes se organizam em sindicatos patronais. Categoria profissional O sindicato organizado por categoria profissional é aquele em que os trabalhadores são agregados em virtude de seu(s) empregador(es) desenvolver(em) atividade econômica similar ou conexa: CLT, art. 511, § 2º A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, compõe a expressão social elementar compreendida como categoria profissional. Sobre o conceito de categoria profissional e sua relação com a atividade desenvolvida pelo empregador, Mauricio Godinho Delgado21 explica que “O ponto de agregação na categoria profissional é a similitude laborativa, em função da vinculação a empregadores que tenham atividades econômicas idênticas, similares ou conexas. A categoria profissional, regra geral, identifica-se, pois, não pelo preciso tipo de labor ou atividade que exerce o obreiro (e nem por sua exata profissão), mas pela vinculação a certo tipo de empregador. Se o empregado da indústria metalúrgica labora como porteiro na planta empresarial (e não em efetivas atividades metalúrgicas), é, ainda assim, representado, legalmente, pelo sindicato de metalúrgicos, uma vez que seu ofício de porteiro não o enquadra como categoria diferenciada”. Esta forma de agregação dos trabalhadores é conhecida como sindicato vertical. Sobre a parte final da citação (uma vez que seu ofício de porteiro não o enquadra como categoria diferenciada), veremos a seguir que, quando a categoria é diferenciada, outro resultado haveria no exemplo citado. 21DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. pág. 1348. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 72 Categoria profissional diferenciada Iniciando pela definição constante da CLT, CLT, art. 511, § 3º Categoria profissional diferenciada é a que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condições de vida singulares. Este modo de agregação dos trabalhadores também é chamado de sindicato horizontal, e a peculiaridade deste modo de associação é a seguinte, conforme ensinamento de Valentim Carrion22: “Categoria profissional diferenciada é que tem regulamentação específica do trabalho diferente da dos demais empregados da mesma empresa, o que lhes faculta convenções ou acordos coletivos próprios, diferentes dos que possam corresponder à atividade preponderante do empregador, que é regra geral”. Assim, o empregado estará enquadrado na categoria profissional diferenciada não pela atividade do empregador, e sim pelo fato de a profissão estar regulamentada. Na CLT existe um quadro (anexo à lei) que exemplifica diversas categorias profissionais diferenciadas, entre elas professores, jornalistas profissionais, motoristas, etc. Retomando o exemplo anterior, em que o porteiro da metalúrgica é representado pelo sindicato dos metalúrgicos, aprendemos que isto se dá pelo fato de que o ofício de porteiro não o enquadra como categoria diferenciada. Se mudássemos o exemplo e citássemos o motorista da indústria metalúrgica, neste caso o empregado será representado não mais pelo sindicato dos metalúrgicos, e sim pelo sindicato representativo de sua categoria profissional diferenciada (motoristas). E como se define uma categoria profissional com sendo diferenciada? 22 CARRION, Valentim. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 37 ed. Atualizada por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2012, pág. 494. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 72 Ela o será se estiver prevista no Quadro de Atividades e Profissões constante da CLT ou se houver outra lei que assim o determine. Este é o entendimento do TST, materializado na OJ 36 da SDC: OJ-SDC-36 EMPREGADOS DE EMPRESA DE PROCESSAMENTO DE DADOS. RECONHECIMENTO COMO CATEGORIA DIFERENCIADA. IMPOSSIBILIDADE É por lei e não por decisão judicial, que as categorias diferenciadas são reconhecidas como tais. De outra parte, no que tange aos profissionais da informática, o trabalho que desempenham sofre alterações, de acordo com a atividade econômica exercida pelo empregador. Outro aspecto a ser salientado é que, para que a norma coletiva da categoria diferenciada seja de cumprimento obrigatório, o empregador (diretamente ou através de seu sindicato patronal) deve ter figurado como parte na celebração de tal acordo. Este é o teor da Súmula 374 do TST: SUM-374 NORMA COLETIVA. CATEGORIA DIFERENCIADA. ABRANGÊNCIA Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o direito de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria. Retomando o exemplo do motorista da indústria metalúrgica: para que seu empregador seja obrigado a cumprir as disposições específicas do diploma coletivo da categoria profissional diferenciada, a empresa ou o sindicato do segmento econômico devem ter participado da celebração deste instrumento. Se nem a empresa e nem o sindicato patronal figuraram como parte nesta negociação coletiva, aplicar-se-á aos motoristas da empresa a CCT ou ACT aplicável aos demais empregados. Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 72 5.2. Natureza jurídica, registro e unicidade sindical Ao falarmos sobre os princípios aplicáveis ao Direito Coletivo do Trabalho mencionamos o princípio da autonomia sindical, que garante aos sindicatos liberdade de se organizarem sem interferências do Estado e das empresas. Com isso, a doutrina é unânime no sentido de que os sindicatos possuem natureza jurídica privada, pois, se ostentassem natureza pública, estariam sujeitos à interferência estatal. Por serem autônomos, não cabe autorização do Estado para sua criação. Entretanto, a própria CF/88 exige o registro de tais entidades no órgão competente: CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; A Constituição não identificou qual seria o órgão competente, e isto gerou interpretação de que bastaria o registro do sindicato no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Após controvérsias, o STF decidiu que é necessário o registro no Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (mesmo que já tenha havido o registro no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas). Um dos problemas que ocorreriam caso fosse dispensado o registro no MTE seria o controle da unicidade sindical, que é o assunto do próximo tópico. Unicidade sindical A unicidade sindical se contrapõe à pluralidade sindical. Na unicidade sindical, adotada pela CF/88, somente se admite um sindicato representativo dos trabalhadores na mesma base territorial (a base não pode ser inferior a um Município): Direito do Trabalho p/ TRT 1 (RJ) Teoria e Questões Comentadas Prof. Mário Pinheiro – Aula 09 Prof. Mário Pinheiro www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 72 CF/88, art. 8º, II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; Já no modelo de pluralidade sindical não existe tal restrição, podendo ser criado mais de um sindicato na mesma base territorial. Existem severas críticas doutrinárias quanto à previsão constitucional da unicidade sindical, pois ela fere a liberdade sindical defendida pela Organização Internacional do Trabalho - OIT. No dizer de Sérgio Pinto Martins23, “Está a estrutura sindical brasileira baseada ainda no regime de Mussolini, em que só é possível o reconhecimento de um único sindicato em dada base territorial, que não pode ser inferior à área de um município. Um único sindicato era mais fácil de ser controlado, tornando-se obediente”. Seguindo adiante, convém fazer uma observação: unicidade sindical (que vimos acima) não se confunde com unidade sindical. unicidade sindical ≠ unidade sindical Experiências práticas de outros países em que vigente a pluralidade sindical demonstram que, com o amadurecimento da organização sindical, estes se unem formando um sindicato mais forte.
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