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Administração Financeira e Orçamentária I Autoria Jailson Portugal Ribeiro ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I ReitoR: Prof. Cláudio ferreira Bastos Pró-reitor administrativo financeiro: Prof. rafael raBelo Bastos Pró-reitor de relações institucionais: Prof. Cláudio raBelo Bastos diretor de oPerações: Prof. José Pereira de oliveira coordenação Pedagógica: Profa. Maria aliCe duarte G. soares coordenação nead: Profa. luCiana r. raMos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autorização escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedi- dos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria. expediente Ficha técnica autoria: Jailson PortuGal riBeiro suPervisão de Produção nead: franCisCo Cleuson do nasCiMento alves design instrucional: antonio Carlos vieira Projeto gráfico e caPa: franCisCo erBínio alves rodriGues / JoCivan de Castro Costa diagramação e tratamento de imagens: JoCivan de Castro Costa / MiGuel José de andrade Carvalho revisão textual: eManoela de araúJo Ficha catalogRáFica catalogação na publicação biblioteca centRo univeRsitáRio ateneu RIBEIRO, Jailson Portugal. Administração Financeira e Orçamentaria I. Jailson Portugal Ribeiro. – Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2019. 112 p. ISBN: 1. Administração financeira. 2. Demonstração financeira. 3. Alavancagem. 4. Capital. Centro Universitário Ateneu. II. Título. Caro estudante, é com grande satisfação que apresento o material didático da disciplina Administração Financeira e Orçamentária I. Ao ler e estudar por este material, você terá condições, como profissional, de analisar situações do dia a dia e tomar atitudes embasadas no conhecimento adquirido. Este livro está dividido em quatro unidades de acordo com a ementa da disciplina. Primeiramente, iniciaremos com a visão geral da administração financeira. Posteriormente, trabalharemos pormenorizadamente sobre as principais demonstrações financeiras, valor do dinheiro no tempo, alavancagem, estrutura financeira e capital de giro. Não é nosso objetivo esgotar todo o assunto, ao contrário, você deverá procurar outras fontes além deste livro para aprofundar seu conhecimento e estar sempre atualizado sobre os temas estudados aqui. A partir da leitura você estará apto a analisar e interpretar as principais demonstrações financeiras, dominar o conceito de valor do dinheiro no tempo, analisar com facilidade as questões sobre alavancagem e estrutura financeira e ter conhecimento no que diz respeito à capital de giro. Bons estudos! seja bem-vindo! Sumário UNIDADE 01 VISÃO GERAL DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1. Conceitos de finanças ........................................................................................8 1.1. Principais áreas e oportunidades da carreira em finanças .........................9 1.2. Principais conceitos em Administração Financeira ...................................10 2. Objetivos e funções da Administração Financeira ............................................13 2.1. Estrutura da função financeira ..................................................................13 2.2. Relação com a Economia .........................................................................14 2.3. Relação com a Contabilidade ...................................................................14 2.4. Ênfase nos fluxos de caixas .....................................................................16 2.5. Tomada de decisão ...................................................................................16 3. Sistema Financeiro Nacional (SFN) .................................................................17 3.1. Estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN) .....................................18 Referências ..........................................................................................................31 UNIDADE 02 AS PRINCIPAIS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS, SEUS INDICADORES E SUAS ANÁLISES 1. Principais demonstrações financeiras ..............................................................34 1.1. Balanço Patrimonial (BP) ..........................................................................34 1.2. Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) ...................................44 2. Indicadores econômico-financeiros ..................................................................49 2.1. Índices de liquidez ....................................................................................49 2.2. Índices de endividamento ..........................................................................50 2.3. Índices de rentabilidade .............................................................................51 3. Análises das demonstrações financeiras .........................................................52 3.1. Análise vertical ........................................................................................52 3.2. Análise horizontal ......................................................................................54 Referências ..........................................................................................................57 UNIDADE 03 VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO EM FINANÇAS, ALAVANCAGEM E ESTRU- TURA DE CAPITAL 1. As características do valor do dinheiro no tempo .............................................60 1.1. Valor futuro versus valor presente ............................................................60 2. Regimes de capitalização .................................................................................62 2.1. Regime de capitalização simples ..............................................................62 2.2. Regime de capitalização composta ...........................................................63 2.3. Conceitos referentes a taxas .....................................................................64 3. Inflação .............................................................................................................66 3.1. Principais índices de preços ......................................................................66 4. Alavancagem ....................................................................................................69 4.1. Alavancagem operacional .........................................................................70 4.2. Alavancagem financeira ............................................................................73 4.3. Alavancagem total .....................................................................................74 5. Análise do ponto de equilíbrio .........................................................................76 5.1. Relação da variação dos custos e ponto de equilíbrio ..............................77 5.2. Ponto de equilíbrio contábil ......................................................................77 5.3. Ponto de equilíbrio financeiro ....................................................................78 5.4. Ponto de equilíbrio econômico .................................................................79 Referências .........................................................................................................83 UNIDADE 04 CUSTO E ESTRUTURA DE CAPITAL 1. Visão geral de custo de capital .........................................................................86 1.1. Fontes de financiamento da empresa ......................................................87 2. Custo médio ponderado de capital (cmpc) .......................................................89 3. Custo de capital próprio e de terceiros .............................................................95 4. Ciclo financeiro e ciclo operacional ..................................................................96 5. Capital de giro líquido .....................................................................................1005.1. Variação do ativo circulante e do passivo circulante ..............................103 6. Necessidade de capital de giro ......................................................................105 6.1. Capital de giro disponível ......................................................................107 Referências ....................................................................................................... 111 CUSTO E ESTRUTURA DE CAPITAL Apresentação Nesta unidade, desvendaremos o custo de capital e pormenorizaremos as suas fontes de financiamento (capital próprio ou capital de terceiros), apresentaremos seus custos, suas análises e seus impactos na tomada de decisão. Na segunda parte desta unidade, estudaremos sobre o ciclo financeiro e o ci- clo operacional. Também veremos os conceitos de idade média de estoque ou sim- plesmente prazo médio de estocagem, prazo médio de recebimento e prazo médio de pagamento, conceitos esses que nos fornecem as informações relacionadas ao ciclo operacional e ao ciclo financeiro. Em seguida, evoluiremos estudando os conceitos de capital de giro líquido e a necessidade de capital de giro nos negócios, assuntos de grande valia no mundo das finanças corporativas. Uni 86 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Conhecer a visão geral do custo de capital; • Compreender as fontes de financiamento da empresa e como elas são alocadas na contabilidade; • Analisar o custo médio ponderado de capital e suas especificidades; • Conhecer o ciclo financeiro e o ciclo operacional, além de aprender sobre os conceitos que compõem suas fórmulas de cálculo; • Estudar sobre o capital de giro líquido e a necessidade de capital de giro por meio de exemplos práticos. 1. visão geral de Custo de CaPital O custo de capital pode ser definido como a taxa de retorno que uma organi- zação espera obter nos projetos em que investe, com o intuito de manter o seu valor de mercado. Também pode ser definido como a taxa de retorno exigida pelos fornece- dores de capital do mercado. O custo de capital é um conceito financeiro de alta relevância, pois funciona como um meio de decisão básico em relação aos investimentos e aos bens dos proprie- tários da organização, determinada pelos investidores do mercado. Na verdade, o custo de capital trata-se de um “número mágico” usado para tomar decisões relacionadas a investimentos. É também um conceito dinâmico, impac- tado por fatores econômicos gerais como também por fatores empresariais específicos. Segundo essa linha de raciocínio, podemos adotar algumas premissas quanto ao risco e ao imposto de renda, premissas essas explanadas a seguir: • Premissa de risco econômico: o risco econômico consiste no risco de a empresa ser incapaz de fazer jus aos custos operacionais, risco esse que vamos considerar como algo constante. Essa premissa implica que a aceitação de um determinado projeto não impacta a capacidade empre- sarial de arcar com os custos operacionais; • Premissa de risco financeiro: o risco financeiro consiste no risco de a empresa ser incapaz de fazer jus às suas obrigações financeiras (juros, ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 87 aluguéis, etc.), risco esse que iremos considerar como constante. Essa premissa implica que os projetos de financiamento não impactarão a capacidade organizacional de honrar seus custos de financiamento. • Premissa de medição do custo de capital: o custo de capital é medido após o imposto de renda. Fazemos isso expurgando o capital de terceiros, em que o benefício fiscal é associado ao imposto de renda. 1.1. Fontes de financiamento da empresa Quando falamos em fontes de recursos, diversas classificações surgem, clas- sificações essas que se referem à origem de recursos ou ao prazo de quitação dos financiamentos obtidos. Na teoria da contabilidade, as diferentes fontes de recursos podem ser apresentadas de acordo com a figura adiante. Figura 01: Fontes de financiamento da empresa. I N V E S T I M E N T O S PC PNC PL Fonte: Elaborada pelo autor. Na figura anterior, conseguimos ver as diferentes fontes de financiamento e investimento que existem na teoria da contabilidade. Sendo que as fontes de investi- mento podem ser apresentadas no Ativo Circulante (AC) e as fontes de financiamento podem ser apresentadas no Passivo Circulante (PC), no Passivo Não Circulante (PNC) e no Patrimônio Líquido (PL). 88 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I De acordo com Bruni (2013, p. 164), em relação à origem de recursos, as fontes podem ser apresentadas como capital de terceiros, isto é, os recursos obti- dos por meio de financiamento ou dívida, que têm a obrigação de pagar os juros e a amortização, ou como capitais próprios, ou seja, os recursos dos sócios, com o qual a entidade não tem obrigação de efetuar pagamentos, mas deve obter a rentabilidade desejada pelos proprietários de tal capital. O capital de terceiros é segregado em duas vertentes: capital de terceiros de curto prazo e capital de terceiros de longo prazo, como mostra a Figura 02 (e que serão detalhadas adiante): Figura 02: Grupos de financiamento da empresa. T E R C E I R O S P R Ó P R I O PC PNC PL 1 4 4 2 4 4 3 1 4 4 2 4 4 3 CURTO PRAZO LONGO PRAZO Fonte: Elaborada pelo autor. • Capital de terceiros de curto prazo: é alocado no Passivo Circulante (PC). É denominado de curto prazo devido ao fato de seu horizonte de vencimento ser até o final do exercício seguinte. Por exemplo, podemos citar contas a pagar, salários a pagar e empréstimos de curto prazo; • Capital de terceiros de longo prazo: o capital de terceiros de longo prazo é alocado no Passivo Não Circulante (PNC). É denominado de longo prazo devido ao fato de seu horizonte de vencimento ser além do final do exercício seguinte. Por exemplo, podemos citar os empréstimos de longo prazo. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 89 Cada fonte de financiamento representa custos específicos, ou seja, no caso dos capitais fornecidos por terceiros, há o custo de juros e amortizações, enquanto que no capital fornecido pelos sócios, há uma expectativa de rentabilidade que deve ser atendida ou superada pela empresa ou projeto. Para Bruni (2013, p. 165), algumas fontes de capitais de curto prazo, como fornecedores, eventualmente podem apresentar dificuldades no processo de estima- tiva dos custos financeiros específicos. Contabilmente, o fornecedor não destaca os juros incorporados aos preços dos insumos em função do prazo concedido. Os de- monstrativos contábeis também não apresentam os juros pagos aos fornecedores em função dos prazos das diferentes operações. Em tais situações, como vimos anterior- mente, podemos aplicar premissas como: não considerar o custo relativo aos capitais de curto prazo com estimativas difíceis, assumindo que para eles valerá a média dos custos obtidos para as demais fontes ou arbitrar um valor sensato para esse custo de financiamento de curto prazo, por exemplo, usa-se a taxa Selic + adicional no Brasil. As ponderações relativas às expectativas dos financiadores que foram listadas anteriormente dão origem ao custo médio de capital. Os projetos selecionados e a organização devem ser capazes de superar as expectativas de seus financiadores, sócios ou terceiros, expectativas essas que são refletidas no custo médio ponderado de capital. 2. Custo médio Ponderado de CaPital (CmPC) É muito raro encontrar empresas constituídas ou financiadas somente por capi- tal próprio (somente acionistas) ou totalmente financiadas por terceiros (somente credo- res). O primeiro caso aplica-se a algumas empresas em estágio inicial, já o segundo caso aplica-se a algumas empresas em processo de falência ou com sérios proble- mas financeiros. Tirando os extremos falados anteriormente, a maioria das empresas é financiada por um mix de capital próprio e de capital de terceiros. Nesse cenário, o custo de capital representa o preço que a organização pagapelos recursos obtidos junto aos fornecedores de recursos, sócios ou terceiros. Consis- te em uma ferramenta para a tomada de decisão relativa aos investimentos, na medida em que a aplicação de recursos com retorno superior ao custo de capital da empresa maximiza os recursos nela investido. 90 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I Segundo Bruni (2013, p. 189), o custo de capital resulta da ponderação das diversas fontes de financiamento da empresa (capitais próprios ou de tercei- ros) e pode ser obtido mediante a metodologia do WACC, do inglês Weighted Avarage Capital Cost. A fórmula geral para se calcular o custo médio ponderado de capital é dada a seguir: Ko = (Wd x Kd) + (Wp x Kp) + (We x Ke) + (Ws x Ks) No qual: Ko = Custo médio ponderado de capital Wd = Peso (em %) do custo de capital de terceiros (dívida) Kd = Custo da dívida Wp = Peso (em %) das ações preferenciais Kp = Custo das ações preferenciais We = Peso (em %) das ações ordinárias Ke = Custo das ações ordinárias Ws = Peso (em %) dos lucros retidos Ks = Custo dos lucros retidos Na visão de Costa et al. (2011, p. 90), algumas considerações a respeito da fórmula do WACC dever ser apresentadas: • Efeito do imposto de renda: em muitos países, a renda que a empresa paga aos credores na forma de juros, como remuneração pelos finan- ciamentos, é dedutível da base de cálculo do imposto de renda. Assim, o uso de capital de terceiros na estrutura de financiamento da empresa proporciona uma economia fiscal para a empresa, pois ela paga menos impostos dependendo da proporção do uso de capital de terceiros. Esse efeito geralmente é captado na fórmula do WACC pela multiplicação do custo bruto de capital de terceiros (Ki) por 1 – t, no qual o t representa a alíquota do imposto sobre a renda (no caso do Brasil, devemos somar o imposto de renda e a contribuição social). O resultado dessa multiplicação é o custo de capital de terceiros após o imposto de renda (Kd). • Pesos a valor de mercado: o custo médio ponderado de capital deve ser corretamente calculado utilizando-se os valores de mercado dos ca- ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 91 pitais como peso na ponderação, e não no valor contábil desses mesmos capitais. Entretanto, utilizar o valor contábil não é o procedimento mais adequado, pois os investidores calculam os retornos mínimos que são esperados a partir do valor de mercado dos capitais investidos. Isso vale para empresas com capital negociado em bolsa de valores e que tenham suas dívidas na forma de títulos negociados ativamente em um mercado secundário com suficiente liquidez. Para empresas que possuem ações com baixa liquidez e para as empresas que não possuem seus títulos negociados em bolsa, a ponderação a valor de mercado é bem mais difícil. Uma saída que pode ser considerada nesse caso é usar uma estrutura de capital médio do setor como fator de ponderação e assumir que a empresa direcionará sua estrutura atual para aquela meta. • Ações preferenciais: no mercado americano, onde todo o arcabouço teórico de finanças corporativas foi desenvolvido, as ações preferenciais são tidas como financiamento perpétuo e, portanto, consideradas como capital de terceiros no cômputo do WACC. Já no Brasil, as ações prefe- renciais são classificadas como capital próprio no cálculo do WACC. A seguir podemos ver uma visão gráfica dos componentes necessários para o cálculo do WACC: Figura 03: Componentes fundamentais para o cálculo do WACC. WACC (ko) 1 4 4 4 2 4 4 4 3 Custo de capital de terceiros (kd) Empréstimos bancários Títulos de dívida Ações preferenciais Custo de capital próprio (ke) 1 4 4 2 4 4 3 1 4 4 2 4 4 3 Ações ordinárias Lucros acumulados Ações preferenciais Fonte: Elaborada pelo autor. 92 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I No qual: • Empréstimos bancários - Custo médio dos diversos contratos de finan- ciamento da empresa. Ki = Custo da dívida antes do imposto de renda Kd = Custo da dívida após o imposto de renda • Títulos de dívida - Taxa de retorno até o vencimento (YTM). Ki = Custo da dívida antes do imposto de renda Kd = Custo da dívida após o imposto de renda • Ações preferenciais (Kp) alocadas no custo de capital de terceiros - Nos EUA, ações preferenciais se assemelham a uma dívida perpétua por causa do dividendo fixo obrigatório. • Ações ordinárias - Custo de capital próprio (Ke). • Lucros acumulados - No custo dos lucros acumulados (retidos), é usado o mesmo custo do capital próprio (Ke) por ter o mesmo risco. • Ações preferenciais (Kp) alocadas no custo de capital próprio - No Brasil, as ações preferenciais se assemelham ao capital próprio em função do risco. A seguir podemos ver um exemplo com a aplicação prática do WACC: Vamos calcular o custo médio ponderado de capital da empresa Cia. De Sapatos S.A. com base nas seguintes informações: • Custo do capital próprio: 15% ao ano; • Custo do capital de terceiros: 12% ao ano; • Participação do capital próprio: 35,7%; • Participação da dívida: 64,3%; • Alíquota de IR + CSLL = 34%. WACC = Ko = (Wd x Kd) + (Wp x Kp) WACC = (0,357 x 0,15) + ((0,643 x 0,12) x (1 - 0,34)) = 10,45% ao ano Nesse caso, não utilizamos as ações ordinárias e nem os lucros retidos pela sua falta. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 93 3. Custo de CaPital PróPrio e de terCeiros Como dito anteriormente, o financiamento adquirido de terceiros tem a necessi- dade de amortizações e pagamento de juros, despesas financeiras que em empre- sas tributadas pelo lucro real são dedutíveis do imposto de renda. Se por um lado os juros e amortizações ligados aos projetos comprometem os fluxos de caixa e a liquidez da organização, por outro trazem o benefício fiscal associado às despesas financeiras, por esse motivo devemos expurgar o benefício fiscal da dívida contratual. Para exemplificar o efeito do benefício fiscal descrito anteriormente, vamos considerar uma operação em duas situações distintas: não dever nada (sem dí- vidas) e dever alguma coisa (com dívida equivalente a 50% dos investimentos e custo igual a 20% a.a.). A seguir analisaremos esses dois casos apresentando uma tabela com o Balan- ço Patrimonial (BP) e a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE): Tabela 01: Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício. BALANÇO PATRIMONIAL (BP) NÃO DEVE NADA DEVE ALGUMA COISA Ativos 400,00 400,00 Dívidas (20% a.a.) - 200,00 PL 400,00 200,00 Passivos 400,00 400,00 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE) NÃO DEVE NADA DEVE ALGUMA COISA LAJIR 100,00 100,00 (-) Juros - (40,00) LAIR 100,00 60,00 (-) IR 30% (30,00) (18,00) Lucro Líquido 70,00 42,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Podemos ver que na situação “não deve nada”, não há o pagamento de juros, e o lucro líquido do exercício é de R$70,00. Já na situação “deve alguma coisa”, as dívidas representam 50% dos investimentos ou 50% de R$400,00, ou seja, R$200,00, e um lucro líquido igual a R$42,00. 94 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I Porém uma análise do lucro líquido revela que a redução efetiva do lucro foi igual a R$70,00 menos R$42,00, isto é, apenas R$28,00. Embora o desembolso com os juros tenha sido igual a R$40,00, esse fato se deve a parte dos juros pagos que volta sob a forma de IR economizado. Assim, devemos expurgar do custo do endividamento o benefício fiscal associado ao endividamento. Considerando uma alíquota de IR igual a 30%, o fato de desembolsar R$40,00 a título de despesa financeira provoca um benefício fiscal igual à alíquota do IR mul- tiplicada pela despesa. Ou seja, R$40,00 x 30% = R$12,00. Do desembolso aparente da dívida (R$40,00) deve ser abatido o benefício fiscal associado aos juros (R$12,00). O resultado desse processo é um desembolso igual a R$40,00 – R$12,00, isto é, R$28,00. O custo efetivo da dívida, ou seja, R$28,00, é o valor que vai ser efetiva- mente reduzido do lucro. Vimos que o custo anual do investimento era de 20% a.a., porém se expurgarmos o benefíciofiscal, ficaria R$28,00 dividido por R$200,00, 28/200 = 14% a.a. Para Costa et al. (2011, p. 92), nem sempre é fácil diferenciar capital próprio de capital de terceiros. Alguns títulos de empresas são lançados como opções que podem se transformar em capital próprio algum dia, o que é o caso de debêntures conversí- veis, por exemplo. A principal característica que diferencia capital de terceiros de capital próprio é a estrutura proprietária e seu derivado, o risco. Os financiadores de capital de terceiros (credores) não possuem proprie- dade sobre os ativos, embora sejam tomados, em alguns casos, como garantia para a efetivação do contrato de financiamento. O contrato firmado entre a empresa e os credores garante uma remuneração prometida (juros) periodicamente ou no fim do prazo estabelecido em negociação, sob pena de execução da empresa, tomada como propriedade dos ativos dados em garantia, em caso de inadimplência. Quando o financiamento da empresa é realizado por capital próprio, não há um contrato estabelecido em relação ao pagamento dos juros, tampouco a devolução do principal em alguma data futura. Essa característica jurídica contribui para que o risco associado ao financiamento por capital próprio seja maior do que o risco associado ao capital de terceiros. De acordo com essa característica, podemos concluir que o custo do capital de terceiros é mais barato que o custo do capital próprio em qualquer parte do mundo em que se mantém essa mesma estrutura jurídica. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 95 1. Quais as fontes de financiamento de uma organização? Fale um pouco sobre elas. 2. Como se subdivide o capital de terceiros quando falamos em prazo? Exemplifique. 3. Conceitue Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC). 4. Qual o capital mais caro, o capital próprio ou o capital de terceiros? Justifique sua resposta. 5. Explique como é obtido o benefício fiscal associado ao imposto de renda quando é contraído um financiamento pela empresa. 96 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 4. CiClo finanCeiro e CiClo oPeraCional O ciclo financeiro ou de caixa de uma empresa é de essencial importân- cia para a administração financeira de curto prazo. Esse ciclo fornece as bases para analisar pormenorizadamente a administração do ativo circulante, como também do passivo circulante. O ciclo operacional de uma organização é o período de tempo que vai do começo do processo de produção até o recebimento do caixa resultante da venda dos produtos acabados. O ciclo operacional contempla duas principais categorias de ativos de curto prazo, a categoria de estoque e a de contas a receber, que é medido con- forme a fórmula adiante: CO = IME + PMR No qual: Co = Ciclo operacional IME = Idade Média dos Estoques PMR = Prazo Médio de Recebimento De acordo com Gitman (2010, p. 549), o processo de produção e venda de um produto também inclui a compra a prazo de insumos de produção (matérias-primas), resultando em contas a pagar a fornecedores. Estas reduzem o número de dias de recursos de uma empresa que estão comprometidos com o ciclo operacional. O tempo medido em dias até a quitação das contas a pagar a fornecedores é chamado Prazo Médio de Pagamento (PMP). O ciclo operacional menos o prazo médio de paga- mento compõe o Ciclo de Conversão de Caixa (CCC) e representa o prazo pelo qual os recursos da empresa ficam aplicados. A fórmula do Ciclo de Conversão de Caixa (CCC) está apresentada a seguir: CCC = CO – PMP ou CCC = IME + PMR – PMP Podemos ver nas equações anteriores que o cálculo do ciclo operacional e do ciclo financeiro ou de caixa correspondem a somatórios e subtrações de outras variáveis, tais como idade média dos estoques ou prazo médio de estocagem, prazo médio de recebimento e prazo médio de pagamento. A seguir veremos a explicação de cada uma dessas variáveis. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 97 O Prazo Médio de Estocagem (PME) é o tempo, em média, que as mercado- rias ficam armazenadas na empresa antes de serem vendidas. O volume de estoques armazenados por uma organização decorre principalmente de seu volume de vendas e de sua política de estocagem. Para Moraes Junior (2011, p. 546), o volume de estoques pode ser interpreta- do de duas formas: na primeira, o montante de estoques representa a potencialidade de a empresa transformá-lo em dinheiro, que é a imagem que as empresas tentam passar para as instituições financeiras com o objetivo de adquirir empréstimos; na segunda, o volume dos estoques é considerado como investimento (aplicação de recursos) no ativo circulante. A fórmula do prazo médio de estocagem é apresentada a seguir: PME = (Estoque Médio/CMV) x DP No qual: Estoque Médio = (estoque inicial + estoque final) CMV = Custo da Mercadoria Vendida DP = Dias do Período Considerado (360 dias para um ano e 30 dias para um mês) A interpretação isolada do índice de prazo médio de estocagem resulta da se- guinte situação: quanto maior o prazo médio de rotação de estoques, pior será. Isto ocorre devido ao fato de a organização levar mais tempo para renovar seus estoques, ou seja, demora mais tempo para vender as mercadorias, imobilizando os recursos por mais tempo. A seguir veremos um exemplo de cálculo do prazo médio de estocagem: Tabela 02: Dados para cálculo do prazo médio de estocagem. Estoque 20x1 20x2 20x3 Estoque Inicial (EI) 53.693,00 55.848,00 67.087,00 Estoque Final (EF) 55.848,00 67.087,00 73.659,00 Média = (EI + EF)/2 54.770,50 61.467,50 70.373,00 20x1 20x2 20x3 CMV 504.580,00 541.982,00 520.360,00 Fonte: Elaborada pelo autor. 98 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I PME (20x1) = (54.770,50/504.580,00) x 360 = 39 dias PME (20x2) = (61.467,50/541.982,00) x 360 = 41 dias PME (20x3) = (70.373,00/520.360,00) x 360 = 49 dias Para Moraes Junior (2011, p. 547), o prazo médio de recebimento indica o tempo, em média, que a empresa leva para receber suas vendas. O volume de dupli- catas a receber é decorrente de dois fatores básicos: montante de vendas a prazo e o tempo concedido aos clientes para pagamento. Os termos de venda de uma empresa compreendem os prazos concedidos aos clientes, os descontos concedidos para pagamento à vista e os instrumentos de formalização da venda a prazo. A fórmula do prazo médio de recebimento é apresentada a seguir: PMR = (Duplicatas a Receber Médio/(ROL + Imposto)) x DP No qual: Duplicatas a Receber Médio = (saldo inicial + saldo final)/2 ROL = Receita Líquida de Vendas (Receita Operacional Líquida) DP = Dias do Período Considerado (360 dias para um ano e 30 dias para um mês) A interpretação isolada do índice de prazo médio de recebimento resulta da seguinte interpretação: quanto maior o prazo médio de recebimento das vendas, pior será, pelo fato de a empresa levar mais tempo para receber o dinheiro referente às vendas a prazo. A seguir veremos um exemplo de cálculo do prazo médio de recebimento: Tabela 03: Dados para cálculo do prazo médio de recebimento. Duplicatas a Receber 20x1 20x2 20x3 Saldo Inicial (SI) 102.534,00 101.846,00 110.241,00 Saldo Final (SF) 101.846,00 110.241,00 100.407,00 Média = (SI + SF)/2 102.190,00 106.043,50 105.324,00 20x1 20x2 20x3 Vendas líquidas + Impostos 870.414,00 967.716,00 974.655,00 Fonte: Elaborada pelo autor. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 99 PMR (20x1) = (102.190,00/870.414,00) x 360 = 42 dias PMR (20X2) = (106.043,50/967.716,00) x 360 = 39 dias PMR (20x3) = (105.324,00/974.655,00) x 360 = 39 dias O prazo médio de pagamento indica quantos dias, em média, a empresa leva para pagar seus fornecedores. A fórmula do prazo médio de pagamento é apresentada a seguir: PMP = (Fornecedores Médio/C) x DP No qual: Fornecedores Médios: (saldo inicial + saldo final)/2 C = Compras do período DP = Dias do Período Considerado (360 dias para um ano e 30 dias para um mês) A interpretação isolada do índice de prazo médio de pagamento resulta da se- guinte interpretação: quantomaior o prazo médio de pagamento dos fornecedores, me- lhor será, pelo fator de a empresa levar mais tempo para pagar suas dívidas referentes às compras efetuadas. Tabela 04: Dados para cálculo do prazo médio de recebimento. Fornecedores 20x1 20x2 20x3 Saldo Inicial (SI) 23.722,00 30.776,00 44.292,00 Saldo Final (SF) 30.776,00 44.292,00 53.199,00 Média = (SI + SF)/2 27.249,00 37.534,00 48.745,50 20x1 20x2 20x3 Compras 314.176,00 342.997,00 326.698,00 Fonte: Elaborada pelo autor. PMP (20X1) = (27.249,00/314.176,00) x 360 = 31 dias PMP (20x2) = (37.534,00/342.997,00) x 360 = 39 dias PMP (20x3) = (48.745,50/326.698,00) x 360 = 54 dias 100 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I Como dito anteriormente, o Prazo Médio de Estocagem (PME) somado ao Prazo Médio de Recebimento (PMR) representa o cálculo do ciclo operacional, ou seja, o tempo que a empresa leva para renovar seu estoque somado ao tempo de recebimento das ven- das a prazo. Em outra vertente, vimos que o Prazo Médio de Estocagem (PME) somado ao Prazo Médio de Recebimento (PMR) e subtraindo o Prazo Médio de Pagamento (PMP) re- presenta o ciclo financeiro, isto é, o tempo entre o pagamento das compras e o recebimento das vendas a prazo. O ciclo financeiro determina a necessidade da empresa em relação ao capital de giro, ou seja, quanto maior o ciclo financeiro, maior a necessidade de a empresa utilizar recursos próprios para financiar suas operações. 5. CaPital de giro líquido Agora vamos estudar um conceito de extrema importância no mundo das finan- ças, o conceito de capital de giro líquido. Quando analisamos os ativos e os passivos de curto prazo de uma organização é possível ver claramente se, apesar da sua geração de lucro, ela enfrentará dificul- dades de honrar suas obrigações de curto prazo. Este risco financeiro está ligado ao gerenciamento do capital de giro líquido. O conceito de capital de giro líquido está ligado intimamente a um conceito es- tudado anteriormente, o de liquidez corrente. A liquidez corrente está relacionada com a falta de sincronização entre o prazo de vencimento das fontes de financiamento e a materialização no caixa dos respectivos investimentos. A seguir podemos ver a fórmula do capital de giro líquido: CGL = AC – PC No qual: CGL = Capital de Giro Líquido AC = Ativo Circulante PC = Passivo Circulante ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 101 A presença de capital de giro líquido, que consiste na diferença entre os ativos circulantes e passivos circulantes, mostra que parte dos investimentos de curto prazo (ativo circulante) está sendo financiado por fontes de longo prazo (passivo não circu- lante), isso quer dizer que há um desequilíbrio entre a forma de investir e financiar essa aplicação do ponto de vista de fluxo de caixa. Este desequilíbrio reduz o risco de curto prazo, visto que as obrigações de amortização dessas fontes de financiamento somen- te se tornarão devidas no longo prazo. Podemos definir o capital de giro líquido como a diferença entre o ativo cir- culante e o passivo circulante de uma empresa. Quando o ativo circulante supera o passivo circulante, a empresa tem capital de giro líquido positivo, porém quando o ativo circulante é inferior ao passivo circulante, temos o capital de giro líquido negativo. Na linha de pensamento de Gitman (2010, p. 547), o ativo circulante, comu- mente chamado de capital de giro, representa a porção do investimento que circula, de várias formas, na conduta normal dos negócios. Esse conceito abrange a transição recorrente do caixa para os estoques, dos estoques para os recebíveis e dos recebíveis novamente para o caixa. Vale ressaltar que com a classificação de equivalentes de caixa, os títulos negociáveis também são considerados parte do capital de giro. O passivo circulante representa o financiamento de curto prazo das organiza- ções, pois contempla todas as dívidas vincendas (a pagar) em um horizonte que vai até o fim do exercício subsequente. Essas dívidas, na sua grande maioria, contemplam va- lores devidos a fornecedores (contas a pagar), funcionários (salários a pagar), governo (despesas a pagar), bancos (empréstimos bancários), entre outros. Ainda de acordo com Gitman (2010, p. 547), a conversão dos estoques para os recebíveis e destes para o caixa fornecem os recursos para pagar o passivo circulan- te. As saídas de caixa do passivo circulante são relativamente previsíveis. Ao incorrer em uma obrigação, a empresa sabe quando será devido o pagamento correspondente. Mais difíceis de prevê são as entradas de caixa, ou seja, a conversão do ativo circulante em formas mais líquidas. Quanto mais previsíveis as entradas de caixa, menor o capital de giro líquido necessário. Como a maioria das organizações não é capaz de conciliar com certeza as entradas e as saídas de caixa, costumam manter um ativo circulante mais do que suficiente para cobrir as saídas do passivo circulante. Com isso podemos dizer que quanto maior a margem com que o ativo circulante supera o passivo circulan- te, maior a capacidade de a empresa fazer jus às suas obrigações à medida em que elas se tornam devidas. 102 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I Quando falamos em capital de giro líquido, uma análise que não pode deixar de ser feita é a de compensação entre a rentabilidade da empresa e o seu risco. Nesse contexto, a rentabilidade é definida como a relação entre as receitas e os custos ge- rados pelo uso dos ativos de uma organização em atividades produtivas, ativos esses que são circulantes e fixos. Uma empresa tem dois meios de aumentar os lucros, o primeiro é aumentando as receitas e o segundo é atuando na redução dos custos. O risco, no contexto da administração financeira, é a probabilidade de que a empresa não consiga pagar suas contas no momento que elas se tornam devidas. Nesse caso, a empresa se torna tecnicamente insolvente. Pode-se supor que quanto maior o capital de giro líquido, menor o risco, ou seja, menor o risco de a empresa se tornar insolvente. 4 formas de impedir que o capital de giro mate sua empresa 1- Reduza o prazo de recebimento da sua empresa A primeira medida, e normalmente a mais difícil, seria reduzir o prazo de recebimento da sua empresa. O problema é que a única maneira de fazer isto é reduzindo o “financia- mento” aos seus clientes, por exemplo, reduzindo o prazo de parcelamento das vendas e incentivando que seus clientes paguem à vista. É algo difícil de ser feito, especialmente em momentos de crise, nos quais o poder de compra dos seus clientes estará reduzido. Se existem concorrentes que praticam políticas de financiamento de vendas mais agressivas, vai ser difícil nadar contra a maré, mas é importante que você verifique se não existe espa- ço para alguma melhoria no seu prazo médio de recebimentos. 2- Otimize seu estoque Em segundo lugar, é necessário otimizar o estoque (e reduzir o ciclo de produção, para quem é da indústria). Eu costumo ver muitas empresas pequenas e médias que se “super estocam” para conseguir preços melhores junto aos fornecedores. O que o pessoal não percebe é que o ganho no preço de compra vai embora na linha de despesas financeiras, que são os juros que você vai pagar aos bancos para te financiarem. É claro que é impor- tante conseguir bons preços junto aos fornecedores, mas isto não pode se dar em troca de um estoque maior do que o necessário. Fuja de “pedidos mínimos”, “preço promocional para uma compra maior do que X” e outras pegadinhas do gênero. Esse era um dos proble- mas do Zé Raimundo. Ele estava carregando um estoque muito maior do que o necessário pois acreditava que “compras em escala” traziam uma vantagem e também porque ele não conseguia fugir dos “pedidos mínimos” de alguns fornecedores. Lembre-se que a crise bate em todos. Em momentos mais complicados, os seus fornecedores também estarão ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 103 sofrendo e, por isso mesmo, serão mais flexíveis para negociar o tamanho dospedidos e as condições de pagamento. 3- Negocie melhor com seus fornecedores Em terceiro lugar, negocie melhor com seus fornecedores. Aumente os prazos de paga- mento. O famoso “desconto para pagar à vista” só vale a pena se for maior do que o custo do seu capital de giro. O que você paga em 30 dias, passe a pagar em 45. O que você paga em 45, passe a pagar em 60, e assim por diante. Aqui, a sua empresa é a cliente e normalmente o poder de negociação está do seu lado. Mesmo um fornecedor grande não vai querer perder a venda. Jogue duro! Na crise, todo mundo fica mais flexível. Outra dica importante: GASTE MENOS! Seja mais criterioso nas despesas, questione a real necessi- dade de cada despesa. Dinheiro tem que ser difícil de gastar! Não facilite e “desburocratize” os processos de aprovação de despesas. Faça o contrário, use a burocracia a seu favor, para ter gastos mais controlados e melhorar seus resultados. 4- Alinhe o bônus de seu time ao ciclo financeiro Por fim, alinhe o bônus do seu time ao ciclo financeiro! O Prazo Médio de Recebimento das Vendas tem que fazer parte das metas da área comercial, o Prazo Médio de Renovação dos Estoques tem que fazer parte das metas da área industrial (para quem produz), do pessoal de vendas e marketing, e o Prazo Médio de Pagamentos faz parte das metas do pessoal de compras. O Tesoureiro (ou o Controller, conforme o caso) que faz o papel do “Xerife” do Ciclo Financeiro, tem como meta o próprio resultado do Ciclo Financeiro. Isso vai fazer com que ele fique igual a um Pitbull em cima do pessoal comercial, industrial, de compras, etc. Normalmente já não é fácil, e em momentos de crise fica um pouco mais difícil, mas uma gestão consciente e ativa do Ciclo Financeiro é a única maneira de evitar uma crise de capital de giro. E não se iluda, gerir o caixa não é algo que se faz uma vez por mês, na reu- nião de resultados. É um trabalho diário, constante e que exige persistência, mas que pode representar a diferença entre uma vida longa e próspera para sua empresa ou engrossar as estatísticas dos 50% de negócios que quebram antes de dois anos de vida. Fonte: Para ler o texto na íntegra, acesse: . 5.1. Variação do ativo circulante e do passivo circulante Pa'ra Gitman (2010, p. 547), podemos usar o quociente entre o ativo circulante e o ativo total para demonstrar como a mudança do ativo circulante de uma organização afeta a relação entre a rentabilidade e o risco. Esse consciente compreende a repre- sentatividade circulante do ativo total. A seguir podemos ver os efeitos na rentabili- dade e no risco quanto à alteração do ativo circulante e do ativo total. 104 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I Quadro 01: Efeitos na rentabilidade e no risco devido à alteração do ativo circulante e do ativo total. Quociente Variação do Quociente Efeito sobre o Lucro Efeito sobre o Risco Ativo Circulante Aumento Diminuição Diminuição Ativo Total Diminuição Aumento Aumento Passivo Circulante Aumento Aumento Aumento Ativo Total Diminuição Diminuição Diminuição Fonte: Elaborada pelo autor. Podemos observar que quando o quociente aumenta, isto é, quando aumenta o ativo circulante, a rentabilidade diminui, isto acontece pelo fato de o ativo circulante ser menos lucrativo que o imobilizado, pois o ativo imobilizado agrega mais valor ao produto. Por outro lado, o efeito risco diminui à medida que aumenta o quociente entre ativo circulante e ativo total. O aumento do ativo circulante aumenta o capital de giro líquido, reduzindo, assim o risco de insolvência. Além disso, à medida que descemos pelo lado do ativo no balanço patrimonial, o risco associado aos ativos aumenta, por exemplo, o caixa e os títulos negociáveis são menos arriscados do que as contas a re- ceber, os estoques e o ativo imobilizado. E por sua vez, as contas a receber são menos arriscadas do que os estoques e o ativo imobilizado, e o estoque menos arriscado do que o imobilizado. Quanto mais perto o investimento estiver do caixa na estrutura do balanço patrimonial, menos arriscado será. Também podemos demonstrar como a variação no nível do passivo circulante de uma empresa afeta a relação entre a rentabilidade e o risco usando o quociente entre passivo circulante e ativo total. Esse quociente indica a porcentagem do ativo total financiada por meio do passivo circulante. Podemos ver essa variação no quadro 01. Quando o quociente aumenta, a rentabilidade também aumenta devido ao fato de a empresa usar mais financiamento com passivo circulante e menos financiamento de longo prazo. Porém quando o quociente entre passivo circulante e ativo total aumenta, o risco de insolvência também aumenta, visto que o aumento do passivo circulante reduz o capital de giro líquido. Efeitos opostos sobre o lucro e risco resultam em uma redução do quociente entre passivo circulante e ativo total. Exemplificando o cálculo do capital de giro líquido, temos uma empresa com um Ativo Circulante (AC) no valor de R$1.500,00, enquanto o Passivo Circulante (PC) é de R$1.000,00. Então, temos: ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 105 CGL = AC – PC CGL = 1500 – 1000 = 500 CGL = 500 (Capital de Giro Líquido Positivo) No exemplo anterior, mesmo que algum ativo circulante não gire ou não se tor- ne em caixa, há um “colchão” de liquidez de R$500,00 resultante da diferença entre o AC e o PC, que seria utilizado justamente para lidar com as incertezas dos investimen- tos de curto prazo e para atenuar o risco de curto prazo dos credores. Esse “colchão” de liquidez é o capital de giro líquido. 6. neCessidade de CaPital de giro Conceitualmente, a necessidade de capital de giro corresponde à necessidade líquida de investimento permanente de capital para garantir o giro normal das opera- ções de uma empresa. Historicamente, essa necessidade de capital pode ser calculada pela diferença entre os saldos de seus ativos circulantes e os de seus passivos circulan- tes de origem estritamente operacional. A seguir podemos ver a fórmula da necessidade de capital de giro: NCG = ACO – PCO No qual: NCG = Necessidade de Capital de Giro ACO = Ativos Circulantes Operacionais PCO = Passivos Circulantes Operacionais De acordo com Costa et al. (2011, p. 88), os valores a receber de clientes, os estoques, os títulos a receber, as despesas antecipadas e os adiantamentos a fornecedores são exemplos de ativos cíclicos, enquanto que os valores devidos a fornecedores, os salários a pagar, os impostos operacionais a recolher (ICMS, IPI, etc.), as contas a pagar e os adiantamentos de clientes fazem parte do passivo cíclico. Esses valores, embora considerados na estrutura patrimonial realizáveis e exigíveis a curto prazo, têm como característica predominante a renovação perma- nente, considerando-se a possibilidade de realização e exigibilidade na hipótese de encerramento das atividades da organização. Quando o resultado da equação de necessidade de capital de giro é positivo (ACO > PCO), revela que a empresa em questão necessita de financiamento de curto prazo para promover a suas atividades. Por outro lado, quando o resultado da equa- 106 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I ção é negativo (ACOde mensuração da necessidade de ca- pital de giro: Tabela 05: Mensuração da necessidade do capital de giro. Nível Operacional Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Duplicatas a Receber 75.493,00 55.678,00 45.674,00 48.903,00 ( + ) Estoques 43.533,00 53.246,00 36.789,00 32.124,00 ( + ) Despesas Antecipadas 1.232,00 2.368,00 7.654,00 5.439,00 ( - ) Fornecedores 26.260,00 9.896,00 11.231,00 13.487,00 ( - ) Obrigações Fiscais 8.904,00 7.890,00 16.785,00 9.084,00 ( - ) Salários e Encargos 4.443,00 4.333,00 4.500,00 4.583,00 ( - ) Contas a Pagar 2.666,00 2.600,00 2.700,00 2.750,00 NCG 77.985,00 86.573,00 54.901,00 56.562,00 RBV 595.197,00 487.890,00 489.030,00 547.714,00 Ciclo Financeiro 47 64 40 37 Fonte: Elaborada pelo autor. Os resultados da necessidade de capital de giro apresentados na tabela an- terior nos permitem fazer algumas considerações: • A empresa sempre precisou de financiamento para o seu investimento líquido no giro das suas operações (NCG > 0 = ACO > PCO), entretanto essa necessidade recuou de R$77.985 (ano 1) para R$56.562 (ano 4); • No segundo ano, a empresa combinou uma queda de 18,3% em sua receita bruta de vendas com um expressivo aumento no tamanho de seu ciclo financeiro, que passou a equivaler a 17,7% de sua necessidade de capital de giro. Essa combinação de fatores resultou em um aumento de ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 107 11,1% em seu esforço de financiamento para atender à sua necessidade de capital de giro; • No terceiro ano, a empresa combinou uma expansão de seu ciclo finan- ceiro, que passou a equivaler a apenas 11,2% (contra os 17,7% no ano 2) de sua receita bruta de vendas. Essa combinação de fatores resultou em um aumento de 3% em seu esforço de financiamento para atender à sua necessidade de capital de giro; • No quarto ano, a empresa combinou uma expansão de 12% em sua receita bruta de vendas com uma expressiva redução no tamanho de seu ciclo financeiro, que passou a equivaler a apenas 10,3% (contra os 11,2% no ano 3) de sua receita bruta de vendas. Essa combinação de fatores resultou em uma redução de 3,9% em seu esforço de financiamento para atender à sua necessidade de capital de giro. 6.1. Capital de giro disponível O capital de giro líquido é a disponibilidade de capital de giro em fundos de longo prazo e permanentes, com a finalidade de financiar as operações da empresa. É ainda a diferença entre os saldos de seus passivos e ativos estratégicos (não circulantes). Podemos ver a fórmula do capital de giro líquido a seguir: CDG = PNC – ANC No qual: CDG = Capital de Giro Disponível PNC = Passivos Não Circulantes ANC = Ativos Não Circulantes Segundo Costa et al. (2011, p. 93), os financiamentos de longo prazo, os em- préstimos concedidos a coligadas e os valores registrados no patrimônio líquido são exemplos de passivo não circulante (ou estratégicos), enquanto que os ativos reali- záveis a longo prazo, os investimentos em participações acionarias, os valores regis- trados no ativo imobilizado e os valores registrados no intangível fazem parte do ativo não circulante (ou estratégicos). Também nesse caso, embora alguns desses valores sejam considerados na estrutura patrimonial, realizáveis e exigíveis a longo prazo, têm como característica predominante a renovação permanente e, em alguns casos, quase que automática; logo, só se considera a possibilidade de realização e exigibilidade de- les na hipótese de encerramento das atividades da empresa. 108 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I Alguns fatores podem ocasionar a variação do capital de giro disponível de uma empresa, são eles: • A quantidade de fundos gerados a partir das atividades operacionais e financeiras (autofinanciamento); • O resultado não operacional; • O fluxo líquido de recursos estratégicos, que corresponde às entradas e saídas de caixa derivadas da movimentação de capitais de longo prazo na empresa: realizáveis e exigíveis a longo prazo, ativos permanentes e capital social. Como dito anteriormente, os fatores citados afetam diretamente a variação do capital de giro. Em seguida podemos ver todos esses fatores na fórmula da variação do capital de giro: ΔCDG = Autofinanciamento + Resultado Não Operacional + Fluxo Líquido de Recursos Estratégicos. Podemos ver a seguir um exemplo de variação de capital de giro: Tabela 06: Variação do CDG (em R$). Nível Estratégico Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Exigível a Longo Prazo 58.854,00 56.055,00 87.612,00 80.604,00 ( + ) Patrimônio Líquido 203.824,00 180.962,00 194.065,00 204.638,00 ( = ) PNC 262.678,00 237.017,00 281.677,00 285.242,00 Realizável a Longo Prazo 6.967,00 8.923,00 14.582,00 16.705,00 ( + ) Ativo Permanente 180.019,00 180.931,00 174.302,00 223.752,00 ( = ) ANC 186.986,00 189.854,00 188.884,00 240.457,00 CDG = PNC - ANC 75.692,00 47.163,00 92.793,00 44.785,00 AUT 33.307,00 - 1.274,00 - 3.719,00 29.402,00 RNO - - - FLRE - 22.465,00 - 27.255,00 49.348,00 - 77.411,00 10.842,00 - 28.529,00 45.629,00 - 48.009,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Os resultados do CDG apresentados na tabela anterior nos permitem fazer as seguintes afirmações: ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 109 • A empresa sempre pode dispor de recursos estratégicos líquidos (CDG > 0 = PNC > ANC) para financiar seu investimento no giro diário de suas operações. Entretanto, essa disponibilidade recuou, aproximadamente, 40,8% entre o ano 1 (R$75.692,00) e o ano 4 (R$44.785,00); • No primeiro ano, o CDG da empresa (que era de R$64.850,00 no ano 0) foi impactado positivamente (expansão de 16,71%) pela geração de R$33.307,00 de autofinanciamento, que foi maior que o investimento líquido em ativos estratégicos (FLRE 0) de R$49.348,00, que foi maior que a soma dos resultados negativos do autofinanciamento (R$3.719,00); • No quarto ano, o CDG da empresa voltou a ser impactado negativamente (queda de 51,7%) pela ocorrência de um investimento líquido em ativos estratégicos (FLREesses que estão ligados ao meio circulante necessário para a operação da organização. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I 111 referênCias BRUNI, Adriano Leal. Análise de investimentos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. COSTA, Luiz Guilherme Tinoco. A. et al. Análise econômico-financeira de em- presas. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2011. ENDEAVOR Brasil. 4 formas de impedir que o capital de giro mate a sua em- presa. 2015. Disponível em: . Acesso em: 12 out. 2018. GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Pau- lo: Pearson Prentice Hall, 2010. MORAES JUNIOR, José Jayme. Contabilidade geral. 3. ed. Rio de Janeiro: El- sevier, 2011. ANOTAÇÕES Rua Coletor Antônio Gadelha, Nº 621 Messejana, Fortaleza – CE CEP: 60871-170, Brasil Telefone (85) 3033.5199 w w w .U ni AT EN EU .e du .b r