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METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 2 Prof. Cristiano Caveião CONVERSA INICIAL Em diversas situações, deparamo-nos com alunos que desconhecem os componentes de um trabalho científico ou mesmo que acreditam que um artigo utiliza as mesmas regras de uma monografia. Assim, conhecer os elementos de um trabalho científico é muito importante, pois você pode se deparar com um convite para elaborar um trabalho, mas nem mesmo saber os itens que o compõem e como esses itens são estruturados – justificativa e objetivo, por exemplo. Quando escreve um texto, você se lembra de inserir a referência que utilizou? Muitas vezes nós temos a impressão de que não precisamos informar quem é o autor de referência, já que escrevemos o texto com base em nossas ideias e apenas utilizamos o autor para saber mais sobre o conteúdo. Contudo, engana-se quem pensa assim, pois todo conhecimento surgiu de alguma fonte, e por isso precisamos informá-la. Outro ponto importante para a elaboração de um trabalho científico está relacionado ao tipo de abordagem metodológica: quantitativa ou qualitativa, assunto que já vimos brevemente, mas agora vamos abordar com mais propriedade. Basicamente, o que veremos nesta aula são os elementos que compõem a introdução: tema, problema, justificativa e objetivo (figura 1). Mas, como na introdução fazemos uso das citações, então esse assunto também será abordado, bem como o tipo de abordagem (qualitativa ou quantitativa). Figura 1 – Esquematização dos assuntos contidos na Introdução de um trabalho científico e síntese dos temas abordados nesta aula Fonte: Praça, 2008, p. 79. 3 Com essa breve exposição, vamos dar início à nossa aula, em que serão abordados os seguintes conteúdos: Figura 2 – Conteúdos da aula TEMA 1 – TEMA, DELIMITAÇÃO DO TEMA, TÍTULO DA PESQUISA De forma suscinta, o tema é o assunto que se pretende estudar. Conforme expõe Praça (2008): “o tema refere-se a aspectos gerais sobre um determinado assunto a ser estudado, diferentemente de título do projeto de pesquisa, que deve ser mais específico e escolhido posteriormente” (Praça, 2015, p. 78). Para a escolha do tema, o pesquisador deve considerar suas aptidões e tendências, tendo em vista que seu interesse no assunto facilitará a realização da pesquisa (em razão do interesse na temática), e assim o pesquisador terá a oportunidade de ampliar seu conhecimento em função da realização da pesquisa (FEA, [S.d.]). Normalmente, em trabalhos científicos acadêmicos, a escolha do tema é realizada em conjunto com o orientador da pesquisa, mas não é regra. O tema é bem abrangente, pois é o assunto de que irá tratar na pesquisa, assim pode ser saúde pública ou diabetes, por exemplo. Do tema você deve começar a definir mais especificamente o que se pretende estudar. Digamos que seja sobre saúde pública. Certo! Mas isso não é o suficiente, pois não temos como falar sobre saúde pública em todas as suas vertentes, como tempo de Tema, delimitação do tema, título da pesquisa Justificativa, problema de pesquisa, hipótese, objetivos Revisão de literatura, citações diretas e indiretas Métodos de pesquisa: quantitativo Métodos de pesquisa: qualitativo 4 existência e personagens, por isso se faz necessário delimitar o tema. Dessa forma, vamos falar sobre saúde pública nos hospitais. O assunto está sendo direcionado para um tema específico, mas vamos continuar as perguntas: você pretende estudar todos os hospitais? Nacionais e internacionais? A saúde pública será apenas brasileira ou abordará os sistemas de saúde dos outros países? A pesquisa tem um recorte temporal? Apenas com as perguntas realizadas, é possível reduzir ainda mais o campo de pesquisa, embora ainda existam outras questões a serem levantadas com relação ao tema, tais como: O que especificamente irá avaliar nos hospitais que atuam com a saúde pública? Será a humanização? Será com relação à prestação de contas? Inicialmente, acreditamos que basta ter um tema para escrever o texto, mas a delimitação do tema é muito importante, pois você saberá o que irá buscar/pesquisar especificamente. Além disso, com o tema delimitado será possível levantar a problemática, próximo assunto que abordaremos. Veja que a delimitação do tema não é o seu título, mas sim aquilo que se pretende estudar/pesquisar. O título será constituído apenas após delimitação do tema, pois nele deve constar, de forma sucinta, o tema da pesquisa, a problemática, a localização e o tempo, os dois últimos apenas quando pertinente. Corroborando com esse pensamento, Lopes Neto et al. (2002) citam que os títulos devem ser elaborados de maneira clara, objetiva e ainda apresentar a essência do objeto de estudo. Os autores afirmam que a importância do título está até mesmo para que se possa fazer cumprir o papel da pesquisa científica (disseminação do conhecimento), pois um título bem elaborado fará com que os pesquisadores se interessem mais facilmente pela pesquisa. Os autores supracitados apontam, ainda, que mais de 50% dos artigos avaliados por eles não traziam um título adequado (considerados parcialmente adequados), ou seja, muitos autores não conseguem definir a importância do seu estudo no título, fazendo com que a disseminação daquela informação seja prejudicada. Portanto, para criar um título, atente-se para os seguintes itens: 5 Figura 3 – Elementos de atenção para criação de título Fonte: Caveião, 2020. Uma dica bem importante para deixar seu título alinhado com a pesquisa é utilizar o objetivo da pesquisa sem o verso. Sabendo definir o tema e o título, vamos descobrir outros elementos que compõem essa parte inicial do trabalho científico. TEMA 2 – JUSTIFICATIVA, PROBLEMA DE PESQUISA, HIPÓTESE, OBJETIVOS Ao longo da discussão deste tópico, você poderá perceber como todos os itens de um artigo se articulam/se conversam. Eles seguem uma linha de raciocínio na qual um estará ligado ao outro, não deixando espaço para discordância ou incoerência entre os itens trabalhados. No tópico anterior falamos brevemente sobre o problema de pesquisa, mas não conceituamos nem mesmo conversamos sobre esse item, que é muito importante na elaboração da pesquisa. Por isso, vamos iniciar nossa discussão falando a respeito disso. Para Cunha, Dal Magro e Dias (2012), a problemática da pesquisa é a base do estudo científico, pois com ela definida, os passos seguintes serão para formular a sua resposta/solução. O problema de pesquisa ou problemática da pesquisa é a pergunta do que se busca responder com o estudo em questão (ou seja, o problema da pesquisa é sempre formulado em forma de pergunta). No entanto, vale destacar que não podemos formular qualquer pergunta e achar que temos uma problemática. Considera-se problema científico apenas quando a ciência não consegue responder a seu questionamento, ou seja, trata-se de algo inédito, que • Uso exagerado de figura de mensagem torna o título rebuscado e cientificamente empobrecido; • O mau uso de hipérboles compromete a interpretação do que se quer transmitir; • Uso de siglas e abreviaturas dificulta a compreensão, opte por títulos claros e objetivos. Título 6 você irá descobrir para contribuir com a sociedade (Cunha; Dal Magro; Dias, 2012). O problema de pesquisa está intimamente relacionado ao objetivo, pois o objetivo geral será a resposta para o seu problema. Vamos exemplificar a relação entre tema, problemática e objetivo (Perceba que os três itens devem estar alinhados e ser de interesse social/real): o tema é doenças crônicas; a problemática: o número de doentes crônicos no Brasil chega a ser endêmico? Veja que a problemática o leva para um campo mais específico do tema e, junto dele, traz um problema relacionado a esse tema. O objetivo será a busca pela resposta dessa problemática(nesse caso, investigar o número de doentes crônicos no Brasil). Observe que o tema inicial era bem abrangente. Com a inserção da problemática e do objetivo, ele passou a ficar mais específico e é nessa especificidade que se tira/cria o título do trabalho. Definido o problema, tem-se o objetivo geral da pesquisa, porém uma problemática não tem uma busca única, há sempre outros problemas embutidos que acabam sendo investigados em busca da resposta do objetivo geral. Essa busca por outros porquês são os objetivos específicos. Normalmente, um estudo científico é constituído de um objetivo geral (pergunta maior) e três objetivos específicos (perguntas menores relacionadas à busca do objetivo geral). Fazendo uso das doenças crônicas, os objetivos específicos poderiam ser: analisar por região brasileira o número de doentes crônicos; avaliar quais doenças crônicas são prevalentes e o perfil geral dos doentes crônicos. Veja como todos os objetivos específicos nos levam à obtenção da resposta do objetivo geral. Outro fator importante no objetivo é que ele sempre deve se iniciar com um verbo no infinitivo (conhecer, comparar, identificar, reconhecer, diferenciar, organizar, analisar, mostrar etc). Comumente (não é regra), os objetivos gerais utilizam-se de verbos mais generalistas e abrangentes (colaborar, desenvolver, reconhecer etc.), e os objetivos específicos, verbos mais direcionados (comparar, distinguir, analisar, avaliar, identificar etc.). Em paralelo à definição da problemática e do objetivo, está o motivo que o levou a fazer tal escolha (a justificativa do estudo). Como vimos anteriormente, tanto o bjetivo quanto o problema devem ter relação com problemas da 7 sociedade que ainda não têm respostas, assim, a justificativa deve estar relacionada a essa lógica, e não a motivos pessoais (vide quadro a seguir). Quadro 1 – Considerações sobre a formulação da justificativa Fonte: Caveião, 2020. Para formulação da justificativa, vale se perguntar: por que escolhi esse tema? Qual é a função da minha pesquisa? Para quem se destina meu estudo? Com essas perguntas, torna-se mais fácil escrever sua justificativa. Sobre as hipóteses, nós já falamos em momento anterior, mas como ela está relacionada à introdução, vale relembrar: As hipóteses são as suposições realizadas para testar sua pesquisa. Ou seja, após a definição do objetivo, você irá formular formas para respondê-lo, ou seja, começar a se perguntar se “isso ou aquilo” seria a provável resposta para seu problema de pesquisa (esses “questionamentos” são as hipóteses do seu estudo). Sua função é responder às perguntas de investigação, por isso elas serão comprovadas ou não durante o estudo. A não comprovação da hipótese não significa que seu estudo esteja incorreto ou seja desqualificado, mas sim que a resposta que você pensou ser a mais provável não obteve resultado. Normalmente, a formulação da hipótese ocorre naturalmente, uma vez que, ao criar uma pergunta da problemática, o pesquisador já inicia internamente a formulação de possíveis respostas, com base no conhecimento de que dispõe. Vamos a um exemplo a seguir. Oliveira (2012, p. 5), em seu projeto de pesquisa intitulado “Comunicação Organizacional e Comunicação Pública: Não utilize motivos pessoais para a sua justificativa Sabemos que muitas vezes o discente está escrevendo um texto científico para obtenção de um título, mas sua justificativa não pode ser baseada nisso, e sim no impacto que o seu estudo terá na sociedade, ou seja, o que o levou a escrever sobre o tema que possa interessar à sociedade acadêmica. Outro fato muito comum entre iniciantes da pesquisa é a justificativa em razão de um problema familiar (quando o acadêmico busca informações sobre determinada doença por ter um familiar com a enfermidade, querendo saber mais sobre o assunto). É um motivo nobre, porém, cientificamente falando, não seria uma justificativa, pois não se trata do que o levou à pesquisa, mas sim à relevância do seu trabalho para a sociedade. 8 Interações, convergências e conflitos”, apontou como problemática de seu estudo o seguinte: “a comunicação organizacional, no contexto atual, demanda integração com a comunicação pública, de forma a estabelecer uma política de comunicação global, que entrelace o os interesses das organizações com os interesses da sociedade?”. E as hipóteses para a problemática foram: • Quando a Comunicação Organizacional integra a Comunicação Pública como conceito fundamental tende a gerar conflitos entre os interesses do mercado e do Estado. • Numa sociedade democrática, quando a Comunicação Organizacional inclui a Comunicação Pública como conceito fundamental da esfera pública, tende ao reconhecimento dos stakeholders, profissionais da comunicação e da sociedade. • Políticas de comunicação organizacional podem contribuir com a comunicação pública, na medida em que o que se desenvolve na esfera privada tem reflexo na esfera pública. • As empresas que adotam políticas de comunicação organizacional integrada, que não se restringem aos resultados mercadológicos, são as que geram impacto positivo na esfera pública, pois têm visão mais estratégica e abrangente de seu compromisso com as questões de interesse público. (Oliveira, 2012, p. 5) Com isso, concluímos os principais itens que compõem a introdução, conforme podemos notar na imagem a seguir. Em seguida, passaremos a discutir sobre a fundamentação teórica e seus elementos. Figura 3 – Síntese dos elementos que constituem uma pesquisa Fonte: Caveião, 2020. Tema Problema Título Objetivo Metodo- logiaObjetivos específicos Justificativa Hipóteses 9 TEMA 3 – REVISÃO DE LITERATURA, CITAÇÕES DIRETAS E INDIRETAS O referencial teórico é a base do seu texto científico, e pode-se dizer que é o suporte para o que está sendo apresentado em seu texto. A qualidade do estudo tem estrita relação com o referencial teórico, pois é nesse momento que ocorre a familiarização da teoria já consagrada e publicada com a problemática do estudo, em que há uma correlação do que já foi estudado anteriormente com a sua inovação de estudo (Echer, 2001; Gonçalves, 2019) Echer (2001) aponta que a revisão de literatura apresenta outra importância nos estudos científicos, que é criar a problemática, tendo em vista que o autor poderá saber o que já foi pesquisado e estudado e o que ainda necessita de investigação. Para fazer uma boa revisão de literatura, atente-se para os seguintes itens: • Evite a utilização de advérbios; • Evite generalizar as situações; • Não faça julgamentos ou emissão de opinião; • Utilize linguagem impessoal. O uso dessa base (a revisão de literatura), seja para criar a problemática ou mesmo para fundamentar a sua pesquisa, como dissemos, será baseada em publicações de autores, por isso é imprescindível a utilização das citações, que podem ser diretas ou indiretas. Muitas vezes, nos deparamos com alunos que não compreendem o motivo de inserir o nome de um autor para acompanhar o trecho que ele (aluno) escreveu, já que as ideias foram produzidas por ele (aluno). No entanto, para que o aluno pudesse produzir aquele parágrafo, foi preciso buscar informações sobre o assunto na literatura, por isso ele deve mencionar qual ou quais autores o inspiraram a escrever aquele texto. Nesse exemplo citado, o aluno utilizou a citação indireta, que é quando se faz a leitura de um/ou mais artigo(s) e escreve o texto de acordo com as suas ideias (utilizando as suas palavras). Isso se chama parafrasear1. 1 Parafrasear: interpretar um texto com palavras próprias, mantendo seu sentido original; traduzir por outras palavras. Atribuir um novo tipo de interpretação e explicação a um texto (livro, poema ou narrativa), dando uma nova abordagem ao seu sentido (Dicio, [S.d.]). 10 Sobre a citaçãoindireta, podemos afirmar ainda que se trata de reescrever com base no autor original, mantendo a ideia original, mas com o texto modificado pelo atual autor (Jung, 2004). Vamos a um exemplo a seguir. Citação direta e original retirada do artigo escrito por Lovatto et al. em 2007: “[A] revisão tem como objetivo extrair informações de trabalhos publicados com ou sem (mais comum) análises estatísticas”. Citação indireta, realizada por nós: A revisão objetiva retira a essência dos trabalhos já publicados por outros autores, estudos esses que contêm (ou não) análises estatísticas (Lovatto et al. 2007). Percebe a diferença? É a mesma ideia, porém, escrita de forma diferente. Note que o autor original da ideia não deixou de ser mencionado, afinal, mesmo que as palavras escritas não tenham sido produzidas por ele, a ideia lhe pertencia, por isso foi necessário citá-lo. Nas citações diretas, o autor normalmente é mencionado no seguinte formato: (SOBRENOME, ANO DE PUBLICAÇÃO). Dessa forma mesmo, dentro dos parênteses e em caixa alta. Quando você informa no texto quem é o autor, a regra é inserir o sobrenome do autor e apenas o ano de publicação da obra em questão entre parênteses, da seguinte maneira: Lovatto et al. (2007) afirma que a revisão objetiva retira a essência dos trabalhos já publicados por outros autores, estudos esses que contêm (ou não) análises estatísticas. A regra para inserção do autor na citação dependerá da revista, que fará a indicação de qual modelo de referência deve ser utilizado: Formato numérico ou autor-data. No Brasil, é mais comum utilizarmos as normas da ABNT, que têm como padrão o modelo autor-data, mas nada impede que uma revista nacional queira utilizar o formato numérico. Isso, contudo, será assunto para outra aula, pois nesse momento vamos nos ater às citações! A citação direta refere-se à escrita literal do autor consultado, ou seja, é reproduzir aquilo que você leu. Quando inserimos a referência, não é plágio. Obviamente, não podemos utilizar um artigo inteiro como citação direta e apenas inserir nosso nome, afinal isso não terá nada de inédito, além do mais, existem regras que nos impedem de realizar essa ação. 11 A citação direta pode ser curta ou longa. A primeira refere-se à transcrição do texto original que tenha menos de três linhas. O trecho transcrito deve ficar entre aspas para apontar que se refere à cópia do autor, já a segunda é um texto com quatro linhas ou mais e, para essa, devemos realizar um recuo de 4 cm da margem esquerda, fonte arial 10 e espaçamento entre linhas simples (Jung, 2004). Vamos aos exemplos: Citação direta curta: “promover saúde requer articulação entre os diversos setores sociais, além da saúde, que garantam condições aos usuários de se empoderarem” (Santos et al., 2014, p. 919). Citação direta longa: Um modelo voltado para a promoção da saúde pressupõe que o processo de saúde/doença é resultante de determinantes sociais, econômicos, culturais, étnico/ raciais, psicológicos e comportamentais, que podem contribuir para o aparecimento das doenças e constituem fatores de risco para a população, configurando seus índices de qualidade de vida. Dessa forma, promover saúde requer articulação entre os diversos setores sociais, além da saúde, que garantam condições aos usuários de se empoderarem para o controle social na gestão de conhecimentos, técnicas, poder, recursos físicos, financeiros e humanos, voltando-os para a ação nos seus determinantes de saúde/doença. (Santos et al., 2014, p. 919) Observe que na citação direta há a obrigatoriedade de inserir a página em que se encontra o trecho extraído. Há outro tipo de citação, a citação da citação, que ocorre quando você lê em um artigo uma citação, gosta, não procura o autor original, mas utiliza essa mesma citação em seu trabalho. Nesse caso, “no texto deve ser indicado o sobrenome do(s) autor(es) do trabalho original, não consultado, seguido da preposição ‘apud’ e do sobrenome do(s) autor(es) da obra consultada” (Jung, 2004, grifo nosso). Exemplo: Jorge (2000) apud Jung (2004). Acabamos de usar outro item muito importante das citações: “grifo do autor” ou “grifo nosso”. Essa expressão é utilizada quando fazemos um destaque na citação e devemos indicar quem destacou o trecho. Se fomos nós, usamos “grifo nosso”; se já estava destacado da citação do autor, “grifo do autor”. Conseguimos abordar os principais tópicos sobre as citações. Em aulas futuras, voltaremos a falar delas, mas as relacionaremos com as referências. 12 TEMA 4 – MÉTODOS DE PESQUISA: QUANTITATIVO Vamos apenas relembrar o que já conversamos sobre a importância da metodologia e dos métodos aplicados nas pesquisas, e é por meio deles que podemos reproduzir o experimento e confirmar os resultados obtidos. Com base nisso, anteriormente, nós falamos sobre os tipos de pesquisa considerando sua natureza (básica e aplicada) e seu objetivo (exploratórias, descritivas e explicativas). Na aula de hoje, falaremos sobre a abordagem utilizada, que pode ser qualitativa ou quantitativa. A pesquisa quantitativa refere-se a tudo o que pode ser mensurado ou classificado. É o tipo de pesquisa que trabalha com dados e estatística. Conforme expõem Dalfovo, Lana e Silveira (2008, p. 7): “a pesquisa quantitativa pelo uso da quantificação, tanto na coleta quanto no tratamento das informações, utilizando-se técnicas estatísticas, objetivando resultados que evitem possíveis distorções de análise e interpretação, possibilitando uma maior margem de segurança”. Sua finalidade é garantir a precisão dos resultados, em que a possibilidade de resultados diferentes seja mínima. Por isso, os tipos de pesquisas que mais se apropriam da abordagem quantitativa são as experimentais com objetivo descritivo (aquele que tem a finalidade de relacionar variáveis). Além disso, Dalfovo, Lana e Silveira (2008, p. 8) destacam que a pesquisa quantitativa pode ser utilizada nos seguintes tipos de estudo: [...] de correlação de variáveis ou descritivos (os quais por meio de técnicas estatísticas procuram explicar seu grau de relação e o modo como estão operando), os estudos comparativos causais (onde o pesquisador parte dos efeitos observados para descobrir seus antecedentes), e os estudos experimentais (que proporcionam meios para testar hipóteses). Para trabalhar com estudos quantitativos, é preciso definir os dados elementares (variáveis específicas), pois esses serão a base para realizar estudos estatísticos e avaliar as demais variáveis. Há uma variável da pesquisa quantitativa que é quando ela faz a descrição dos objetos de estudos. Assim, ela se torna quanti-quali ou quantativa-descritiva. Esse tipo de abordagem é comumente aplicado a questionários e entrevistas, pois obtém dados mensuráveis, mas também há a abordagem de opinião ou observação do entrevistado. 13 Já que adentramos no tipo de abordagem qualitativa, vamos conversar sobre ela. TEMA 5 – MÉTODOS DE PESQUISA: QUALITATIVO A pesquisa qualitativa é o inverso da quantitativa, pois se trata de uma abordagem com a finalidade de “descrever a complexidade de determinado problema, sendo necessário compreender e classificar os processos dinâmicos vividos nos grupos, [...], possibilitando o entendimento das mais variadas particularidades dos indivíduos” (Dalfovo; Lana; Silveira, 2008, p. 8). A pesquisa qualitativa tem um perfil metodológico de estudos que envolvem questões mais complexas, com questionamentos que contam com posições intelectuais e ideológicas, buscando compreender os fenômenos de maneira mais aprofundada (Minayo; Sanches, 1993). Dessa forma, evidencia-se que a abordagem qualitativa está mais voltada para estudos sociais, que envolvem opiniões e sujeitos sociais. Conforme expõem Minayo e Sanches (1993, p. 244): A abordagem qualitativa realizauma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza: ela se volve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas. Em razão da abordagem utilizada nesse método, as principais pesquisas qualitativas envolvem pesquisa observacional (análise do ambiente, sem a intenção de alterá-lo) ou pesquisa ação (observação com intenção de alteração), que estão contidas no tipo de pesquisa exploratória (Wainer, 2007). Com a explanação do método qualitativo, percebem-se as diferenças com a abordagem quantitativa (figura 4). Figura 4 – Diferenças entre o qualitativo e quantitativo Fonte: Cristiano Caveião, 2020. Quantitativa (dados mensuráveis; estatística) Qualitativa (opinão; observação) 14 NA PRÁTICA A fundamentação teórica dará credibilidade a seu trabalho e embasará as discussões de sua pesquisa. De acordo com o tema que escolheu em momento anterior, faça uma busca nas principais bases de dados da área da saúde, selecione os autores para a fundamentação teórica do seu trabalho e defina o método de sua pesquisa. FINALIZANDO Hoje passamos a abordar os itens presentes na introdução de um trabalho científico, vimos a definição e a delimitação do tema, passamos para a definição do problema e, consequentemente, pensamos em título, objetivo, justificativa e hipóteses. Tendo esses itens definidos, seguimos com a discussão sobre a importância do referencial teórico e descobrimos que ele é a base de seu estudo, pois você pode direcioná-lo e descobrir as respostas para a sua problemática, afinal verá o que os outros autores já publicaram sobre o assunto e construirá sua própria base. Mas para fazer o referencial teórico, vimos que será preciso utilizar as citações, que podem ser diretas (longas ou curtas) ou indiretas (quando se reproduz com outras palavras aquilo que o autor de referência afirmou). Aprendemos até mesmo que é possível utilizar uma referência quando não temos acesso à obra original, fazendo uso da citação da citação. Concluímos nossa aula conhecendo os tipos de metodologia, considerando a abordagem metodológica: qualitativa (quando se utiliza de opiniões e observações, dados não mensuráveis) ou quantitativa (que se refere a dados mensuráveis). Para os próximos encontros, continuaremos a falar sobre os elementos do trabalho científico, abordando itens ainda não relatados que apresentam relação com o que já falamos, mas de forma mais aprofundada, como população e amostra, coleta de dados, cronograma e elaboração de referências. 15 REFERÊNCIAS CUNHA, P. R.; DAL MAGRO, C. B.; DIAS, D. R. 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