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12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 1 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 26ª PALESTRA PROJETO HORIZONTES DO CONHECIMENTO: FUNDAMENTOS DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DES. NEY WIEDEMANN NETO – Bom-dia a todos. Quero saudar a presença do Presidente do Tribunal de Justiça, que prestigia este evento, o Des. José Aquino Flôres de Camargo. Saudando-o, quero saudar a todos aqui presentes, magistrados, funcionários do Poder Judiciário e demais convidados. Quero agradecer a presença da Dra. Jaqueline Mielke, que muito nos honra tendo aceitado esse convite para fazer uma palestra sobre os Fundamentos do Novo Código de Processo Civil, assim dando retomada ao Projeto Horizontes do Conhecimento com as palestras, os eventos culturais do Centro de Estudos, que, nos próximos meses, dará ênfase à promoção de eventos, de palestras a respeito do Novo Código de Processo Civil. É importante esclarecer que esse tipo de evento não dispensa a necessidade de um aprofundamento, de uma formação mais intensa mediante curso de atualização. Inclusive, aproveito para divulgar o curso de atualização sobre o Novo CPC, que está sendo promovido pela Escola Superior da Magistratura, tendo como público-alvo os magistrados e os funcionários do Poder Judiciário. Curso este que terá sua aula inaugural no dia 2 de julho, com o Min. Paulo Sanseverino, e, a partir dali, toda sexta-feira seguinte haverá aulas, das 14h às 18h, sendo a própria Dra. Jaqueline Mielke uma das professoras deste curso de atualização na Escola Superior da Magistratura, que eu aproveito para fazer aqui a divulgação. Também um aviso, um esclarecimento de que o Tribunal de Justiça está também focado nas repercussões do Novo CPC, o impacto que isso terá na tramitação de nossos processos no 2º Grau. Já há duas 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 2 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA comissões formadas no âmbito do 1º Grau de Jurisdição, supervisionadas pela Corregedoria da Justiça, e o nosso Presidente Aquino formou um grupo de trabalho, que será instalado na semana que vem, focado no estudo do impacto do Novo CPC nos processos de trabalho, na tramitação do processo judicial no 2º Grau. Esse grupo será coordenado pelo Centro de Estudos, com a colaboração do Des. Almir Porto da Rocha Filho, do Des. Voltaire e de quatro Juízes-Assessores da Presidência – Juízes-Corregedores –, que são a Dra. Maria Thereza Barbieri, o Dr. Leandro, o Dr. Luís Antonio Behrensdorf e o Dr. Jerson Gubert. Esse grupo também contará com a contribuição de muitos funcionários, que somarão esforços, especialmente do Departamento de Informática, da Diretoria Processual e da Direção Judiciária. Desde já, quero colocar à disposição o e-mail do Centro de Estudos, que é de todos conhecido, para que os senhores possam enviar sugestões, críticas, preocupações. Aqueles que trabalham aqui no Tribunal de Justiça e que estão estudando o impacto do Novo CPC nos seus processos de trabalho na Informática, na Processual, nas Secretarias de Câmara, enviem para o e-mail do Centro de Estudos as suas sugestões e preocupações, porque esse grupo de estudos que eu mencionei há pouco vai propor, entre outras coisas, as alterações regimentais que serão necessárias para a adequação desses processos de trabalho. Então, com essas notícias iniciais, quero passar a palavra à Profa. Dra. Jaqueline Mielke, que é doutora em Direito pela Unisinos, advogada, professora em diversas instituições de ensino do Rio Grande do Sul, na FMP, na Escola da Magistratura, inclusive tenho a honra e o privilégio de ser seu colega de docência na Faculdade Inedi Cesuca, em Cachoeirinha, onde ambos lecionamos na graduação. Com essas informações, passo, desde logo, a palavra à Dra. Jaqueline para a sua explanação, que está programada para durar em torno de uma hora, para que os senhores tenham tempo e oportunidade de 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 3 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA participar. A Profa. Jaqueline colocará a palavra à disposição depois de uma hora, para que os senhores possam fazer perguntas e questionamentos. Passo a palavra à Dra. Jaqueline. DRA. JAQUELINE MIELKE – Bom-dia a todos. Eu gostaria inicialmente de agradecer o convite do meu amigo Des. Ney para estar aqui hoje pela manhã e rever tantos alunos, amigos na plateia, é sempre bom rever vocês. Gostaria de cumprimentar o Des. Aquino, Presidente do Tribunal – honra a sua presença na plateia –, a Dra. Maria Thereza, demais presentes, magistrados, assessores. Vamos conversar um pouco, então, nesta manhã, sobre o Novo Código de Processo. Eu, quando conversava com o Des. Ney sobre qual o tema, eu disse que, tendo em vista que falarei uma hora, parece-me que o melhor caminho é falarmos dos fundamentos do Novo Código. Não conseguiria, em uma hora, falar de execução – que é um mundo à parte –, recursos, são muitas coisas. Então, parece-me que os fundamentos gerais do Novo Código é o que temos de mais importante para vermos em uma hora. Começo sempre a minha fala, quando trato do Novo Código, dizendo que tenho uma visão bastante crítica desse novo sistema, até porque a minha formação – para quem me conhece, eu estudei com o Professor Ovídio Baptista da Silva praticamente 20 anos – é com base nele, que tem uma sustentação bastante crítica do sistema jurídico, do funcionamento do sistema. E o Professor Ovídio era um operador, era um advogado militante, e eu sou uma advogada militante também. O Novo Código veio com a promessa de resolver problemas que temos no âmbito do Poder Judiciário; problemas que temos com relação à morosidade, efetividade do processo, fundamentação de decisão judicial. Então, ele veio com essa promessa. Quando ouvimos o Min. Fux, ele vem 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 4 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA com essas promessas, como se fôssemos resolver os nossos problemas com o Novo Código. Eu sou bastante cética sobre essa questão da crise do Poder Judiciário, problemas com morosidade do processo, efetividade da Justiça, porque entendo que o Processo Civil não tem como resolver esses problemas. Na verdade, são problemas estruturais, são problemas sociais, políticos e econômicos, que o processo não tem como resolver. Mas ele tem como minorar o problema, nós temos como amenizar o problema; resolver, não. O Prof. Ovídio costumava dizer: “Jaque, nem em trezentos anos nós vamos resolver isso”. Então, nós podemos minorar. Na verdade, quando eu falo em problema – e aqui vou me valer novamente do Prof. Ovídio – no Judiciário, vejo dois grandes problemas que, se conseguíssemos resolver em parte, as coisas seriam bem melhores. Primeiro, o grande volume do Judiciário envolve demandas que são ajuizadas porque o Estado não cumpre o seu papel, o Estado não funciona, e aqui nós temos uma Justiça Federal feita para o Estado, temos Varas da Fazenda Pública sobrecarregadas, ou seja, se o Estado cumprisse o papel, nós eliminaríamos inúmeras demandas. O que ocorre atualmente? Temos o problema de judicialização de políticas públicas, que geram inúmeras demandas, demandas repetidas, muitas vezes, e que efetivamente acabam gerando uma sobrecarga dentro do Judiciário, que é um problema que não é do Judiciário, mas do Estado. E temos o problema das demandas repetitivas. Se conseguíssemos resolver o problema do Estado e o problema das repetitivas, a situação melhoraria bastante. Essa era uma visão que o Prof. Ovídio tinha. Inclusive, em algumas de suas conferências, logo antes de falecer,ele dizia: “O Estado não funciona, por isso que o Judiciário não funciona”. Então, o problema não é do Judiciário. Não é. O problema é maior. Qual é a minha preocupação? Ainda vem o Novo Código com essa 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 5 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA promessa de resolver. Não vai. Muito pelo contrário. E aqui também, via de regra, quando eu vou falar, as pessoas esperam que eu vá defender o Código, esperam que eu vá elogiar o Código, porque sou advogada, advogada militante. Por que esperam? Porque é um Código feito por advogados, mas, sem dúvida alguma, advogados com medo de Juízes. É isso, o Código é isso. Tentaram eliminar a criação judicial em vários dispositivos legais, mas não vão eliminar nunca. Não vão eliminar nunca o que pretenderam, mas, quando falam que o Código foi feito por advogados, concordo. Advogados que nunca pisaram no Foro – esse é o problema –, advogados teóricos. Tenho vários exemplos de mecanismos que foram colocados e que refletem isso. Vou começar com um exemplo do Novo Código, que alguns estão chamando de “embargos infringentes cover”, que são um arremedo de embargos infringentes. Só um sonhador, um utópico, vai imaginar que, no caso de um julgamento não unânime, por dois a um, que haveria Desembargadores à disposição, naquele dia, para continuar um julgamento e Desembargadores que vão se sentir confortáveis para votarem em um processo que nem conhecimento têm. Então, só um sonhador para imaginar que isso possa se realizar no dia a dia do Foro. Isso não existe. Chamam de “embargos infringentes cover”, porque é um arremedo dos infringentes. Conseguiram criar um negócio pior do que os infringentes, porque os infringentes não atrapalham em nada hoje, e até que o número de infringentes não é tão grande assim. Criaram infringentes para qualquer decisão não unânime, e ficou pior. Hoje o art. 530 restringe: apenas quando houver modificação da decisão de mérito do 1º Grau ou no caso de procedência não unânime de rescisória. No Novo Código, é para qualquer julgamento não unânime, e, pior, cabe, inclusive, de decisões não unânimes, em determinados casos, de agravo de instrumento. Então, foi ampliado o caso, por isso o arremedo de infringentes que temos hoje. Para criar isso, só quem nunca pisou no Foro, quem nunca fez uma petição de embargos 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 6 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA infringentes sabe que não atrapalha em nada efetivamente. O que ocorre? Esses reflexos, esse tipo de positivação, nós vamos encontrar em diversos dispositivos legais. E aqui eu vou aos fundamentos gerais do Novo Código. O que norteou o Novo Código? Basicamente, o que se observa, em termos gerais? Observa-se uma ideia de preservação muito forte, uma ideia de eliminação, primeiro, do protagonismo judicial – é essa a expressão que eles utilizam –; segundo, uma valorização do contraditório; terceiro, uma positivação e valorização do princípio da colaboração – a colaboração vem muito forte. O que vem muito forte ainda no Novo Código? A ideia da fundamentação das decisões judiciais, que me parece que é uma expressão do princípio do contraditório, e aquela ideia de eliminação do protagonismo judicial que é sustentada. Observa-se também – que me parece que é a melhor parte do Código que nós vamos ter, apesar de ter exageros também – a introdução do que parte da doutrina fala em formalismo valorativo e outros falam em princípio da instrumentalidade das formas, que efetivamente o Dinamarco fala há muito tempo, e depois introduziram com a ideia de formalismo valorativo. Parece-me a melhor parte, mas me parece também que há alguns exageros do Novo Código, porque qualquer vício é perdoado. Qualquer vício é perdoado dentro do novo sistema. Então, na verdade, são os princípios vetores, os princípios fundamentais que observamos existentes no Novo Código que estão por trás dos dispositivos legais. Partindo-se desses princípios, o que observamos? Ainda dentro do geral, para depois partirmos para as especificidades maiores. Observa-se que é um grande problema no Brasil, porque legislamos o novo com a sombra do velho. Digo que legislamos o novo com a sombra do velho e que costumamos importar soluções de modelos de sistemas estrangeiros e jogamos para dentro do Código, o que é outro problema. 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 7 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Esse movimento que tivemos no Brasil, essas ideias, são movimentos mundiais de alteração da legislação processual civil. Não é uma invenção nossa, novamente nós copiamos outros sistemas mundiais. Na verdade, é isso. O que fizemos no Novo Código? Nós copiamos o de 73, o adaptamos. É muito fácil vocês verificarem isso. Comprem esses Códigos que comparam os dois – eu tenho sugerido para os meus alunos – e vocês verão a cópia de vários artigos. Eles mudaram o que quiseram, copiaram o velho e copiaram modelos de sistemas alienígenas, sem a devida adaptação à nossa cultura. Parece-me que, se pretendemos construir um Código novo, um sistema novo, ou nós construímos tudo novo ou ficamos com o velho. Não dá para fazer um arremedo, não dá para fazer cópia ou uma não adaptação à nossa realidade cultural, à realidade que temos no Poder Judiciário. É complicado isso. Nota-se que 60 a 70% desse Novo Código é o de 73 adaptado. Alguns têm um trauma: “Ah, muda tudo!” E eu digo: “Tem muita colagem”, que, na verdade, tem que adaptar. Então, essa é outra grande crítica que eu faço, em termos gerais, a esse Novo Código, que é a forma como isso foi feito. Parece-me que essa colagem de um sistema antigo e essa importação de modelos de sistemas estrangeiros sem a devida adaptação, que está por trás da forma como tivemos esse Código redigido, são complicadas. Feitas essas breves considerações, vou propriamente a pontos específicos dentro do geral. Conforme mencionei inicialmente, um dos princípios que nortearam essa reforma foi o princípio do contraditório, muito forte. A ideia de um contraditório efetivo passa a imperar dentro do Novo Código, vinculada à ideia de colaboração, e não dá para esquecer que quem difundiu essa ideia, sem dúvida alguma, aqui no Rio Grande do Sul, foi o Dr. Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. Essa ideia de um contraditório efetivo vinculado, atrelado à ideia de colaboração das partes na melhor construção de uma decisão judicial, que 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 8 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA vem de uma forma muito clara nos artigos iniciais do Novo Código, como no art. 9º, parte da doutrina que acadêmicos defendem hoje, que diz respeito a uma das aplicações maiores do Novo Código – e que eu critico – de que o Juiz continua podendo se pronunciar, evidentemente, sobre questões de ordem pública – pressupostos processuais, condições da ação, prescrição –, de ofício. Entretanto, antes de se pronunciar de ofício, ele precisará dar vista às partes. Então, é possível se pronunciar, mas, antes de se pronunciar de ofício, deve ouvir as partes, de modo que seja implementado o contraditório efetivo. O que ocorre aqui? Essa questão me parece complicada dentro da realidade forense atual que temos. Quem está no Foro todos os dias sabe que há processos em que temos um despacho por ano pelo volume de demandas. E qual vai ser o despacho? “Vista às partes para concordar ou não sobre o que eu estou pensando”. Na verdade, é isso. Quando se sabe, quando se forma a convicção sobre determinada questão, é difícil modificar. Quando é dada vista às partes, via de regra,o Juiz já sabe intimamente o que ele está pensando sobre o caso, sem dúvida alguma. E dar vista às partes para questão processual, é processo. Se for questão de ordem pública, efetivamente me parece um exagero, isso aqui vai trancar o procedimento. Quando eu comento isso para alunos que não sabem nada de Direito, eles me indagam: “Mas isso é celeridade?” Não é celeridade. Essa questão desse contraditório efetivo, da colaboração das partes, eles poderiam talvez ter introduzido para a prescrição, porque é mérito a prescrição. Mas me parece que há um exagero em estender-se para qualquer questão processual. Isso não é só para o Juiz de 1º Grau, mas para o Tribunal também. Por exemplo, surge uma questão de ordem pública no 2º Grau. Se surge durante o julgamento, tem que parar o julgamento. Pára o julgamento para dar vista às partes, vão colocar em pauta sabe-se lá quando o processo, com relação ao tempo. Mas é essa a ideia. Eles só 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 9 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA excepcionaram essa ideia do art. 9º naquelas liminares concedidas inaudita altera parte, daí seria um absurdo ter que ouvir sempre. Então, aqui o Código excepciona expressamente no art. 9º, mas me parece, sem dúvida alguma, um exagero. Obviamente que se busca uma melhor decisão judicial, mas também não adianta uma melhor decisão judicial que vá ser prolatada daqui a 10 anos, 15 anos. Não tem condições. Vocês imaginem, para cada questão de ordem pública, tem que dar vista às partes com base nessa ideia de colaboração. Na época que o Prof. Ovídio era vivo ainda, ele dizia – e já defendiam isso, defendem isso há muitos anos e conseguiram colocar no Código – que isso é tese para biblioteca, para compor livros de biblioteca, são teses acadêmicas. Daí eu digo novamente: teses acadêmicas de pessoas que nunca entraram num Foro, porque, se tivessem entrado no Foro, não teriam dito isso, que era o que o Dr. Ovídio dizia sobre essa questão efetiva da colaboração. Ele dizia: “É uma visão romântica de processo”. É uma visão romântica que talvez seja compatível com o Judiciário que tivemos na década de 70, mas não com o Judiciário que temos em 2015. E a ideia de contraditório é outro problema que temos. O processo tem que evoluir de acordo com os avanços sociais. A sociedade hoje é uma, nós vivemos em uma sociedade massificada, com um grande número de demandas. Então, essa visão romântica talvez se adapte lá atrás, mas não hoje, em 2015. Evidentemente que o contraditório deve ser preservado, sem dúvida alguma, mas me parece um exagero essa questão de contraditório para questão processual, e não tenho a menor dúvida de que isso vai acabar trancando o processo, o processo vai emperrar. Outro princípio que está no Código – e já o encontramos aplicado no Judiciário, pela jurisprudência, e que decorre do art. 422 do Código Civil – é o princípio da boa-fé processual, que me parece importante no sentido de que a conduta das partes deve ser norteada pela boa-fé, sem 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 10 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA dúvida alguma. Então, o princípio da boa-fé, que hoje sustentamos a partir do art. 422 do Código Civil, que decorre do venire contra factum proprium, está presente no Novo Código. Parece-me importante, mas não temos nada de novo aqui também. Não temos nada de novo na exata medida em que a jurisprudência já aplica, só temos ele positivado. Então, existe, no Novo Código, na parte inicial, uma valorização bastante grande dos princípios, os princípios foram elencados de uma forma bastante clara. Outro princípio que norteia o Novo Código é o princípio da instrumentalidade das formas, que alguns preferem chamar de formalismo valorativo, que, na minha opinião, tem o mesmo significado. Eles ficam indignados quando eu digo isso e dizem: “Não, é outra coisa”. Mas me parece que estão falando da mesma coisa. Procurou-se desformalizar os procedimentos, o que me parece importante. Por exemplo, aquela ideia absurda que temos hoje de recurso prematuro, recurso intempestivo, porque interposto antes do prazo, termina de vez. Tiveram que colocar de uma forma expressa – o que é um absurdo, mas no fim eu acabo sendo a favor que escrevam isso – que recurso interposto antes do prazo é tempestivo. E dizem mais ainda: não precisa ratificar. Então, acabou o recurso intempestivo, o que me parece importante. Também verificamos uma ideia de desformalização no tocante ao exame dos requisitos de admissibilidade que, na minha opinião, tem um certo exagero. O que temos com relação aos requisitos de admissibilidade no Novo Código? Temos o art. 932, parágrafo único, do Novo Código, que digo que, se houver algum problema de forma, via de regra, exceto a tempestividade, tem segunda chance para sanar. Qualquer problema de forma. Não recolheu o preparo? Não tem problema, intima para recolher em dobro. Não juntou nenhuma peça no agravo de instrumento? Intima para juntar as peças. Isto é um exagero: não juntar nenhuma peça. Há exageros na jurisprudência, como exigir assinatura em cima da página ou quando é 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 11 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA evidente que o agravo é tempestivo. Por exemplo, indeferimento de liminares inaudita altera parte, a distribuição foi hoje, amanhã é o agravo disso; dizer que não comprovou a tempestividade, quando é evidente a tempestividade. Então, têm exageros, mas não juntar nenhuma peça de agravo me parece um exagero no sentido da desformalização, mas a ideia é desformalizar. Em resumo: erro de forma tem perdão – qualquer erro de forma –, só a tempestividade que não tem. Ainda acho que até a tempestividade, conforme o caso, irá ser perdoada também, que é o caso dos feriados locais. Contam-se prazos em dias úteis no Novo Código: só dias úteis; finais de semana não contamos, férias não contamos, feriados não contamos. Como advogada, eu vou continuar contando do jeito que eu conto, porque acho que é pior ficar contando dia útil, só que vocês efetivamente têm que contar em dia útil, porque a regra geral é essa. Há uma norma que diz que, se há feriado local, tem que haver a comprovação. Aí, se a parte não comprovou o feriado local, é intempestivo, e acho que darão prazo para que sanem o problema também. Então, até a tempestividade, conforme o caso – na ideia do Código, que é perdoar problemas de forma –, acho que darão oportunidade também. Existe uma completa desformalização nesse sentido. Há ainda uma completa desformalização quando eles retiram o juízo de admissibilidade do 1º Grau na apelação. Parece-me que não tinha problema nenhum isso, porque quando as apelações não são admitidas pelos Juízes de 1º Grau é porque têm problema. Então, me parece que isso não atrapalhava em nada, só que retiraram – e daí é uma loucura o que fizeram – o juízo de admissibilidade no REsp e no RExt. Tem advogado vibrando com isso, mas é muito pior deixar a porta aberta para o STJ e para o STF, porque – falo como advogada – já temos que pedir pelo amor de Deus para que leiam nossos recursos em Brasília com a porta fechada, imaginem com a porta aberta. Quem deve estar adorando isso são os advogados de Brasília, porque interpor recurso especial e recurso extraordinário, se hoje já é complicado sem 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 12 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA um acompanhamento em Brasília, fica impossível com esse Novo Código. Isso é impossível, é insustentável. Isso não é bom, ao contrário do que muitos dizem, porque vai generalizar.Quando reclamam efetivamente do filtro que é feito pelos tribunais de 2º Grau, pelos TJs e pelo TRF, que a maioria não sobe, na verdade, a maioria não tem que subir mesmo, porque são recursos muito restritos. Qual é o problema que o Prof. Ovídio levantava também? As pessoas têm a ilusão – e os advogados não gostam quando eu falo isso – de que um dia vão chegar à decisão correta e que essa decisão correta vai ser a do STJ e a do STF. Ledo engano, porque às vezes é pior a decisão que temos lá, e as pessoas recorrem, recorrem e recorrem com essa ilusão. Então, os filtros são uma coisa boa, e a opinião não é só minha, têm outras pessoas que eu tenho conversado – depois eu vou tocar na questão da fundamentação e do art. 489 –, como o Lenio Streck, que é o pai do art. 489, que diz: “Isso aqui não está bom, isso tem que ter um filtro. Não existe uma coisas dessas”. Então, o filtro é importante, sem dúvida alguma. Com relação a essa questão da admissibilidade no Recurso Especial e Extraordinário, eu não sei se não mudam a norma antes de o Código entrar em vigor, porque vai ser um caos para Brasília isso aqui. Essa eliminação é coisa de advogado que não está no Foro, eliminaram porque os advogados reclamam: “Ah tem o filtro, os nossos recursos ficam trancados”. Então, é fruto dessa desformalização o acesso amplo, que não é acesso na exata medida, porque certamente os recursos não serão analisados, os recursos não serão lidos. Na verdade, a comunidade jurídica deveria se conscientizar de que são recursos restritos. E aqui, novamente vou-me valer do que o que o Prof. Ovídio defendia, que é a eliminação de recursos, valorização da jurisdição de 1º Grau, um acesso restrito ao STF e ao STJ, porque é insustentável, com o número de demandas que temos. É insustentável uma briga de vizinhos 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 13 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA chegar ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, mas isso é fruto dessa desformalização que temos, desformalização que não existe só nos recursos. Quando eu falo na desformalização, gosto de falar dos recursos, em que a vejo mais forte. Esse remendo que pode ser feito nos recursos, esse perdão à forma é fortíssimo em todos os dispositivos. Esses dois: não pagar preparo, ter o perdão de ser possível depois, e de não juntar peça nenhuma no agravo de instrumento são exemplos marcantes dessa desformalização. Essa desformalização encontramos também, de uma forma forte, na tutela provisória, e aqui já estou usando a expressão do Novo Código, porque eles falam em tutela provisória. Tenho alguns amigos que dizem ter calafrios quando escutam o nome, pela critica que é feita, toda uma crítica teórica. Eu até não tenho grandes calafrios, eu falo de acordo como está no Código, mas tem problema a expressão. Dentro da tutela provisória, o que foi feito? E aqui, em parte, eu concordo com o que foi feito. Houve a revogação do Livro III do Código. Não temos mais um livro específico para a tutela cautelar. Acabou o Livro III, e, terminando o Livro III, foram revogadas todas as cautelares nominadas. Esta parte é a que eu gosto, a da revogação das nominadas. O que ocorre? Esse tema relativo à tutela de urgência – que hoje chamamos de tutela de urgência – sempre foi um dos temas mais controvertidos no âmbito do processo. Temos, no Direito brasileiro, duas vertentes com relação à tutela de urgência. Uma segue o Calamandrei, o Calamandrei e o Carnelutti, e aqui no Rio Grande do Sul eu diria que, talvez, o que melhor entendeu a teoria dele foi o Des. Galeno Lacerda, que tem uma obra que reflete o pensamento desse autor, que escreveu como ninguém. De outro lado, temos o Prof. Ovídio Batista da Silva, que não concordava com nada do Calamandrei, que não concordava com nada do Livro III. O Prof. Ovídio dizia: “Nunca me entenderam.” Toda a fama o Prof. Ovídio começou a 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 14 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA conquistar quando ele fez o anteprojeto do art. 273, da tutela antecipada. Então, é um ponto que a doutrina discute, discute, discute, mas uma coisa todo mundo concorda: que as cautelares nominadas só têm problema. Se vocês pegarem qualquer livro de tutela, um livro que aprofunde a matéria com relação à tutela de urgência, vocês verão só críticas. E existe uma proposta do Carnelutti, de 1928, dizendo que tinha que revogar tudo. Em 1928. Nós revogamos em 2015. Na verdade, parece-me importante a revogação, mas eu escuto de alguns: “Mas e agora eu não vou ter mais o arresto?” Grande coisa o arresto, têm mecanismos muito melhores no Código do que o arresto. Nós vamos continuar tendo o arresto, o sequestro, o arrolamento. Inclusive, tem um artigo lá na tutela provisória que diz que é possível se buscar o cumprimento do provimento na forma de arresto, arrolamento. Na verdade, o que ficou melhor é que não vamos ter mais requisitos específicos, é geral. Só dois requisitos: probabilidade do direito e risco de dano irreparável. Acabou. Então, acabaram aqueles requisitos rigorosos lá dos artigos 813 e 814 do arresto, artigos 821 e 822 do sequestro. Terminaram. Então, é geral, e isso me pareceu bom, houve uma facilitação, nós não ficamos discutindo a forma dessas cautelares nominadas. Mas qual é o problema que eu vejo, ao contrário do que muitos? Então, revogamos o Livro III e não temos mais cautelares nominadas, não temos mais um livro próprio para tutela cautelar. Aí o que o Novo Código faz? Cria um livro no Livro I, é o livro V. O Livro V da parte geral, que nominam de tutela provisória. E o que é que eles colocam? Em onze artigos, eles dividem essa tutela provisória em tutela de urgência e tutela de evidência. E dentro da tutela de urgência, eles colocam a tutela de urgência cautelar e a antecipada. Em onze artigos, eles fazem isso. O que nós temos em vários artigos são resumidos a onze artigos. É evidente aqui a tentativa de desformalizar, só que eles acabam gerando problema de novo, porque falta teoria de base. E quem conhece a teoria de base da tutela de urgência, 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 15 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA enxerga problema nessa desformalização, que veio para facilitar, mas vai gerar problemas processuais. Eu disse no início que eles quiseram eliminar a criação do Juiz positivando. Eles tentaram imaginar, mas eles tentaram imaginar o que já existe de problema; os problemas futuros, eles não conseguiram imaginar. E aqui tem um problema. Na tutela, essa que eles chamam de tutela provisória, eles mantêm a tutela cautelar e mantêm a tutela antecipada. A tutela antecipada, em linhas gerais, eles dividem em incidente e antecedente. A incidente é a que temos hoje, apenas tiraram o requisito da prova inequívoca, que era fortemente criticado. Ficamos com a tutela antecipada com três requisitos: a probabilidade do direito, o risco de dano irreparável e a reversibilidade dos efeitos, porque eles continuam falando em reversibilidade dos efeitos, porque vamos continuar aplicando a tutela antecipada, ainda que os efeitos sejam irreversíveis, naqueles casos de demanda envolvendo saúde, por exemplo. Certamente nós vamos continuar aplicando, flexibilizando requisitos. Isso continua igual e continua sendo possível pedir tutela antecipada na petição inicial, no curso do processo. Então, as ações continuarão a ser feitas, se quisermos, do mesmo modo, mas eles criaram uma coisa diferente, que é a antecedente, importada de sistemas alienígenas, com forte inspiração no Direito francês, a chamada estabilização da tutela antecipada. Quando eu falo em estabilização,por todas as confusões que a estabilização pode gerar, as pessoas me dizem: “Eu não vou querer esse negócio nunca”. O que é estabilização? Quando a parte – está nos artigos 303 e 304 – ajuíza uma ação – eu vou sem bem simplista com relação a isso aqui –, por exemplo, ela pretende a exclusão do seu nome do SERASA e do SPC. Como é que fazemos hoje? Ajuíza-se a ação, pede-se a liminar de exclusão e a procedência da ação com a confirmação da liminar. Como é que poderemos fazer a ação à luz do Novo Código? Se a parte quiser se valer dessa técnica, ela tem que avisar na 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 16 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA petição inicial – está no art. 303, §5º –, tem que dizer: “Eu quero isso”. Se não disser, posso fazer do mesmo jeito que sempre fiz. A parte, quando ajuizar a ação, ela poderá, simplesmente, pedir a tutela antecipada e só colocar os requisitos da tutela antecipada. Ela não precisa mais fazer uma petição inicial completa, exaurindo fundamentos. Ela só coloca os requisitos, probabilidade, risco de dano irreparável e pede a concessão da liminar. Se a liminar for deferida, ela terá a oportunidade de aditar essa petição complementando com o que falta, complementando fundamentos, juntando documentos. Se for deferida a liminar e se o réu não agravar, haverá a extinção do processo, termina o processo, estabilizando-se o provimento, ou seja, pedi para sair do SERASA, estou fora do SERASA. Aí vem a questão: se o réu quiser me colocar de novo no SERASA, depois da extinção, terá que ajuizar uma ação para rever essa sentença. Foi isso que, em linhas muito simples, inventaram. Isso aqui gera problema que não acaba mais. Só para elencar um dos problemas que se cogita, que surge nessa ação do SERASA, que é uma ação bem simples. Alguns me perguntam: “O.k. é extinto. Mas se eu quiser pedir o dano moral?” Geralmente vem com dano moral junto. Eu quero sair do SERASA e quero dano moral. Eu não quero que seja extinto, porque, se for extinto, como é que vai ficar meu dano moral? Eu digo: “Se tu quiseres o dano moral, lamento, mas não peça a técnica. Se tu quiseres o dano moral, continues fazendo a ação do jeito que tu sempre fizeste”. Na verdade, isso pode só valer a pena naqueles casos em que eu não tenho cumulação de pedidos. Nas ações de fornecimento de medicamentos, isso pode valer a pena. Estava dando um curso para o Ministério Público, outro dia, daí uma Promotora disse: “Bah, agora vai ficar horrível. O Estado é obrigado a agravar de tudo”. O Estado terá que agravar de tudo, quando pedirem a técnica, e o Tribunal ficará sobrecarregado com esses agravos. Se na inicial o autor disser que quer a técnica, tem que interpor agravo de instrumento, 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 17 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA senão a situação fica pior do que está. Então, isso foi criado – está no art. 304 –, mas têm – na manhã de hoje não vamos falar só de estabilização – inúmeros outros problemas que isso vai gerar, e este é apenas um deles. Então, digo para vocês que a tutela antecipada continua com ela é hoje, só muda se a parte quiser se valer da técnica. Qual é o problema? Tem gente confundindo tudo. As pessoas não se deram conta, acham que estabiliza sempre, misturam tudo. Não é. O que tem do art. 273, que a gente faz hoje, está em outros artigos. Se vocês olharem, só está a colagem do art. 273, e a técnica, se quisermos usar, usaremos. Mas não é nenhuma alteração que vá mudar tudo, não é difícil de compreender isso aqui, mas o chato é verificar todos os problemas que a estabilização possa gerar sempre que for requerida. O resto é igual. Na tutela provisória, eles fizeram ainda outra coisa – que também não é nenhuma novidade – para desformalizar e não se deram conta de um detalhe. Hoje, nós continuamos tendo ação cautelar, e a ação principal deve ser ajuizada num prazo de 30 dias a contar da efetivação das medidas, nos termos do art. 806. Então, temos uma ação cautelar e uma ação principal. O que o Código faz? Ele elimina a ação principal e fala em um pedido principal nos próprios autos, o pedido principal é feito junto, tudo no mesmo procedimento. Isso o Galeno Lacerda sustentava há 30 anos, não é nenhuma novidade, nos livros dele vocês já vão encontrar isso. E há 30 anos, o Prof. Ovídio já dizia que isso era um problema no processo, o de cumular. Vou dar um exemplo da cumulação, um exemplo que não tem como cumular, e que eles não se deram conta. Eu ajuízo uma cautelar com a finalidade de apreender bem para assegurar o pagamento de um crédito, que é o nosso arresto. Eu ajuízo um arresto com um nome que vai ter um nome de cautelar. Tendo em vista esse princípio da desformalização que impera no Código, se eu der o nome de arresto, parece-me que não tem problema nenhum também. Ajuízo uma ação cautelar, que, na essência, é um arresto, 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 18 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA só que eu sou credor de um crédito corporificado em um título, eu sou credor de uma nota, e o meu crédito está corporificado em uma nota promissória. Então, ajuizei o arresto. Qual é a minha ação principal? É uma ação de execução de título extrajudicial. Qual é o problema? Eu não tenho como fazer esse pedido nos mesmo autos, porque é execução, e ela é a ação. Como é que eu vou pedir nos mesmo autos que o réu seja citado para pagar em três dias? Aí vai embargar, e os embargos vão ficar em apenso nisso aqui? Então, parece-me que eles não lembraram que existe execução para dizer que o pedido é sempre nos próprios autos. Têm casos que não vamos conseguir fazer o pedido nos próprios autos, que é o caso da execução. Não dá para cumprir o que tem no Código. Por outro lado, quando eles falam em cumulação de pedido principal na própria ação, eles misturam lide cautelar com lide principal, que é um problema que temos no Brasil, e a maioria da doutrina não enxerga que temos uma lide cautelar com requisitos diversos de uma lide principal, ou seja, a lide cautelar não é uma parte da lide principal. Ela tem pressupostos distintos, e não enxergaram isso, não viram isso. Então, temos duas lides distintas no mesmo processo em que a instrução vai ser conjunta, o que causa tumulto, sem dúvida alguma. Essa era uma das grandes objeções que o Prof. Ovídio também fazia à ideia de cumulação, por estarmos diante de lides distintas. Ainda um detalhe com relação à cautelar. Se vocês lerem, é “recorta e cola” do art. 796 até o art. 812. A diferença é essa cumulação, porque o resto é praticamente igual ao que se tem, não tem grande diferença. Na tutela provisória, o que é o diferente? É a estabilização, que vai ser utilizada se a parte requerer. Ali é que tem uma série de discussões que podem ser levantadas; o resto é “recorta e cola” do que temos, não muda. Então, não é tão assustador assim como muitos colocam; com uma leitura atenta, se observa isso de uma forma muito clara. 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 19 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Outro ponto do Novo Código que tem gerado grandes discussões – é o artigo da discórdia do novo Código – é o art. 489, que trata da questão da fundamentação das decisões judiciais. Os advogados amam, e os magistrados odeiam o art. 489, e a idéia deste artigo foi novamente a eliminação do protagonismo judicial – que eles gostam muito de falar, e eu estou usando exatamente as palavras daqueles que defendem o Código –, a eliminação de decisões-surpresa dentro dos processos. Então, a ideia é a eliminação efetivamente de algunsproblemas que temos hoje, estabelecendo- se, no art. 489, requisitos para que uma decisão seja fundamentada com detalhes. Temos o art. 489 e temos os artigos 926 e 927, que são os artigos da vinculação da decisão judicial a precedentes. Em relação ao art. 489, temos ouvido falar que não temos mais livre convencimento judicial, que os magistrados não são mais livres para decidir. Eu ouvi isso, eu escuto isso. Eu digo que livre convencimento judicial motivado – eu acho que existe uma distorção de quando falam disso – não vamos eliminar nunca. Evidentemente que o Juiz vai ser livre para decidir, só que é obvio que o Juiz é livre, mas tem que decidir de acordo, primeiro, com a prova dos autos. Eu canso de fazer REsp por violação ao art. 131 e consigo provimento. Então, isso já existe. Segundo, é obvio que o Juiz é livre, só que o seu limite é a Constituição Federal. Ele não tem como ir além da Constituição, dizer diferente da Constituição. Isso nós não vamos eliminar. E aqui há um detalhe. A própria Constituição Federal possibilita, muitas vezes, duas respostas, a partir do próprio texto constitucional, e muitos falam em resposta adequada à Constituição. Então, uma resposta adequada à Constituição nós podemos ter. Têm princípios constitucionais que muitas vezes, no caso concreto, entram em choque. Têm direitos que entram em choque, que o Juiz vai para um lado, e aqui não é eliminado esse livre convencimento, não tem como eliminar o livre convencimento. Quando eu falo em livre convencimento, obviamente livre 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 20 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA convencimento motivado, uma decisão judicial vinculada, eu falo em Constituição Federal, porque muitas vezes a legislação infraconstitucional tem problemas. Se ela tem problemas, vamos à Constituição, por isso que eu falo dessa vinculação à Constituição, que é a nossa lei maior. Evidentemente essa vinculação existe, sempre existiu. Na verdade, o problema que existe de que acabou o livre convencimento, que eu vejo, é o livre convencimento sem motivação, este sim. Então, enxergamos abusos. Tenho exemplos na Justiça do Trabalho, onde isso acontece muito. Tem Juiz do Trabalho que diz que não existe prescrição, e a prescrição está na Constituição. Isso o Novo Código elimina, mas não tem como ir contra o que está na Constituição Federal. Na verdade, o que o Novo Código coloca – eu vejo dessa forma – é o motivo de acordo com a prova dos autos e que tem um limite, e o limite é a Constituição. Isso não tem como eliminar. A questão é o livre convencimento sem motivação nenhuma, daí é um ativismo, é invenção. É invenção dizer que prescrição não existe, e é isso que se procura eliminar, esse livre convencimento sem razão nenhuma, um livre convencimento que viola até a Constituição, mas o livre convencimento motivado, de acordo com as normas constitucionais, não vai mudar, não tem como. Quando se fala desse assunto, vem, geralmente, o nome do Lenio Streck, que foi o pai desse bendito art. 489, que é contra o ativismo judicial. O próprio Lenio, quando fala, fala dessa interpretação adequada à Constituição Federal. Ele fala isso nos livros dele. Então, esse livre convencimento sem fundamento nenhum, essa invenção, é que não pode. Eu tenho vários amigos Juízes que dizem: “Eu já faço isso aqui que tem no art. 489”. Muitos fazem, é obvio. Eu tenho iniciais que eu contesto que eu fico irritada com o que fazem, tem tanto pedido absurdo que eu fico indignada com o advogado da outra parte. Se eu fosse Juíza, eu ia ficar furiosa de ter que rebater aquele monte de itens do pedido. 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 21 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Dou um exemplo. Eu não trabalho com massa, mas teve uma ocasião em que eu fui surpreendida com o ajuizamento de trezentas revisionais de contrato de loteamento contra um cliente meu que era proprietário de loteamentos, e o advogado fez, como matriz daquelas trezentas revisionais, revisionais de contrato bancário, que não tinha nada a ver. Eu me irritava de olhar aquilo, imagina um Juiz, ficaria irritadíssimo também. Esse tipo de coisa não teria problema nenhum de fundamentar: “Os pedidos a, b, c e d são todos improcedentes porque se referem à revisional de contrato bancário”. Então, parece-me que o Judiciário vai ter que balizar isso, vamos ter que ter precedentes, orientações. Têm situações que me parece ser possível uma fundamentação em bloco. Eu tenho um pedido x que tem o mesmo fundamento e eu vou poder dizer: “Rejeito os pedidos, porque o fundamento é esse”. Não há problema nenhum. Esse caso que eu vi, que me irritou, dessas trezentas revisionais, que foram todas julgadas improcedentes, o meu cliente teve um prejuízo de quatro milhões por causa desses processos, todos com AJG. Então, na verdade, é possível, parece-me, essa fundamentação de que temos que fundamentar, mas fundamentação que seja relevante para a procedência do pedido. O artigo diz isso. Então, o que é irrelevante, em tese, ficaria até descartado, ficaria excluído. Não me parece tão assustador assim esse art. 489, e têm muitos Juízes que já o aplicam, e me parece que é possível, principalmente nessas ações com esses pedidos absurdos, essa fundamentação em bloco, fundamentação com a mesma argumentação. Na verdade, a jurisprudência vai acabar indo nessa linha, e vocês, que decidem, é que vão acabar formando isso aqui e vão ter que lutar por isso, mas não me parece o horror que muitos estão pregando. Então, o livre convencimento não acabou, muitos daqueles que examinam processo já fazem isso, e essas fundamentações em bloco me parece que têm que ser 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 22 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA possíveis. Se a fundamentação é a mesma para todos os itens do pedido, não vejo problema nenhum com relação a essa questão também. No tocante a súmulas, vinculação a súmulas, via de regra, quando eu falo para advogados, eles não concordam com relação à aplicação de súmulas, principalmente em casos repetitivos, ação de massa. O que eu digo em relação a isso? Com relação a elas, parece-me que existe uma vinculação muito forte a precedentes que temos nos artigos 926, 927 e lá no 489, ou seja, se o magistrado não quiser aplicar a súmula, o.k., mas ele tem que dizer que os casos que ensejaram a súmula não se enquadram naquele caso específico. Ou, se ele efetivamente quiser aplicar a súmula, ele tem que dizer: “Olha, se aplica por essa razão aqui”. Então, ele tem que fazer o devido distinguishing, que estão comentando, para ver o que aplica. Nos meus processos, eu faço o distinguishing desde que eu advogo, então eu sempre fiz isso: “Se aplica, tem aqui o caso, é o caso”. Com relação à aplicação de súmula e julgamentos em casos repetitivos, me parece que não adianta lutar contra uma súmula sozinho, decidindo contra: “O STJ diz dessa forma, só que eu não concordo com o STJ, a minha ideia é essa”. E o Ministro Carlos Veloso, que foi Presidente do Supremo Tribunal Federal, deu uma entrevista e disse: “São decisões por pura vaidade, que não vão a lugar nenhum”, porque, se tem súmula, se tem decisão em caso repetitivo, vai prevalecer a decisão no caso repetitivo, vai prevalecer a decisão da súmula. Na verdade, aquela decisão isolada não vai mudar toda a posição de uma Corte Superior, essa decisão isolada só acaba gerando mais recurso, esse é o problema. Então, parece-me razoável a vinculação, mas a maioria dos advogados é contra e dizem: “O Judiciário tem que respirar, precisamos de novas interpretações. Precisamos renovar, então não podemos ter essa forçatoda”. Nenhum Judiciário respira com esse número de ação, não vai ser em uma decisão judicial isolada. Se querem que 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 23 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA haja uma renovação, que introduzam outros mecanismos, mas não é esse o mecanismo, não é decidindo de forma diferente. Então, no caso de precedentes e no caso de repetitivos – repetitivos também têm a vinculação – existe a vinculação e me parece razoável, porque não vai ser o Juiz de 1º Grau, não vai ser o Desembargador que vai mudar a posição de uma Corte Superior. Na verdade, essas modificações exigem outros mecanismos, a movimentação tem que ser em outro sentido, porque só acaba gerando isoladamente mais recursos. Lamento. A súmula pode me prejudicar? Pode, mas vou fazer o quê? Não vou mudar, não tem como. Então, na verdade, eu acho interessante a vinculação, contrariando o que a maioria dos advogados dizem também com relação a isso, mas infelizmente é dessa forma, temos que nos adaptar aos novos tempos com relação a essa questão. Isso com relação ao art. 489, que eu não poderia deixar de falar, porque eu escuto falar tanto deste artigo, acho que é distorcido o que alguns dizem e desconfio que até o próprio Lenio Streck duvide que dentro da Constituição tu não possas ter mais que uma interpretação. Tu podes ter, sem dúvida alguma, dentro do texto constitucional. O que se busca aqui é que se fundamente. Se o Juiz quer decidir de determinada forma, o Juiz criativo tem muito mais trabalho, a criação dá trabalho, mas evidentemente continuaremos tendo criação, porque, se não admitirmos a criação, vamos voltar para um positivismo puro, que é justamente o que se critica. Fala-se que o modelo positivista é inadequado na nossa realidade contemporânea, porque a legislação não consegue acompanhar os avanços sociais. Então, obviamente que a interpretação existe, só que a questão é qual é a melhor interpretação. Na verdade é isso, e eu digo: melhor interpretação e também interpretação adequada ao texto constitucional, a Constituição é o limite, eu vejo dessa forma. Não temos como conviver dentro de um modelo puramente positivista – isso é impossível –, precisamos de interpretação – e são os magistrados que 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 24 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA interpretam a legislação –, precisamos dos magistrados e não temos como amarrá-los dizendo: “Agora vocês viraram máquinas, agora vocês viraram computadores”. Não temos como transformar a decisão judicial em um programa de computador, isso não existe, e Novo Código não diz isso em momento algum. Na verdade, ele só exige que o magistrado decline as razões e acabe não decidindo da forma como eu mencionei para vocês, como esses Juízes do Trabalho, que negam vigência à Constituição, porque aí acabam dizendo qualquer coisa. E o Supremo Tribunal Federal também, porque temos muitas decisões dizendo o que a Constituição não diz, temos exemplos no STF nesse sentido, e isso acaba gerando um perigo e comprometendo o estado social e democrático de direito. Então, por isso essa ideia, essa vinculação ao texto constitucional. Há ainda dois últimos tópicos – daí eu já encerro para as perguntas – do Novo Código, que me parecem importantes. Eliminamos do Novo Código o rito ordinário e o rito sumário e criamos um procedimento único, um procedimento comum, que é um misto das normas do rito ordinário com o sumário, é uma mistura se vocês olharem. Quem conhece bem o rito sumário e o rito ordinário vai ver as normas ali, é um misto. Tentam também desformalizar, mas esse procedimento comum introduz, no início do procedimento, uma audiência de tentativa de conciliação e mediação, que, na minha opinião, é bastante válida, porque eu acho importante a conciliação. Falo novamente como advogada e digo sempre que a conciliação é tanto boa para o autor, quanto para o réu, elimina anos de processo, elimina o desgaste de uma ação judicial, só que o Judiciário tem que ter estrutura para isso, evidentemente que os Juízes não têm com fazer tudo que é conciliação. Aqui no Rio Grande do Sul já estão formando mediadores, conciliadores, para que façam isso, só que não adianta introduzir uma audiência de conciliação e mediação se quem vai presidir essa audiência não 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 25 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA sabe conduzir. Já fiz inúmeras audiências na minha vida, e têm Juízes maravilhosos com conciliação, têm Juízes muito bons nisso, mas tem uns que não são bons na conciliação, tem Juiz que tenta, que tem paciência, porque perde tempo, e ainda não é só uma audiência, são várias que poderão ocorrer, e uma prolongando a outra; se não deu hoje, vamos tentar, vamos continuar discutindo, então serão várias, talvez, audiências de conciliação. Têm que ter paciência o conciliador e o mediador, terão que ter, sem dúvida alguma, uma formação, tem toda uma técnica nessas conciliações, nessas mediações, precisamos de pessoas preparadas. O nosso Judiciário tem desenvolvido essa formação de conciliadores e mediadores, mas no Brasil muitos não estão desenvolvendo isso. Em Minas Gerais, teve um magistrado que disse: “No nosso Estado essa audiência não vai acontecer, porque isso é impossível”. Ou seja, já estão negando vigência ao Código. Então, se tivermos pessoas preparadas, capacitadas, isso pode ser interessante, mas tem que ter formação, não é qualquer um que pode fazer isso. Vejo isso na Magistratura, que efetivamente têm alguns que são ótimos conciliadores e têm alguns que não são, não estão nem preocupados com a conciliação. Então, deve haver aqui toda uma formação, uma mudança de cultura no início do procedimento, que pode auxiliar, sem dúvida alguma. Por fim, ainda, outra novidade – isso que eu disse aqui: princípio do contraditório, colaboração, fundamentação de decisão, disso a academia fala há anos –, outro tópico que foi introduzido no Novo Código que me parece o novo, o diferente – que eu não sei se vão aplicar também, eu duvido, pelo menos quando já tem litígio instaurado –, que é o negócio jurídico processual, artigos 190 e 191 do Novo Código. Isso me parece o novo. As partes, no Novo Código de Processo, podem mudar o procedimento, pactuar normas de procedimento diversas das que temos previstas, estabelecendo um calendário processual. Podem negociar prazos, 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 26 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA por exemplo. E tem um artigo do Novo Código que diz que até os prazos peremptórios podem ser negociados, o que é diferente do que temos hoje. Então, as partes podem estabelecer, por exemplo, um calendário processual: “No nosso caso, o prazo da réplica não vai ser de 15 dias, mas vai ser de 30. O prazo de recurso também, o prazo de recurso não vai ser de 15 dias, mas vai ser de 30”. Então, por causa desse artigo que possibilita a negociação de prazos peremptórios, é possível a negociação. Parece-me possível a negociação de prova, a questão da prova me parece uma das mais interessantes até de negociar. Eu negocio quem vai ser o perito, negocio o prazo para quesitos, negocio o prazo para a entrega de laudos por assistentes técnicos. É possível a negociação, o Código não dá o limite para essa negociação. Será que é possível eu negociar: “As partes abrem mão de o Juiz ter que ouvir as partes na questão de ordem pública”? Será que pode negociar isso? Eu não vi ninguém falando disso, eles só dizem que pode negociar, e já têm livros sobre isso. Essa negociação não está sujeita à homologaçãodo Juiz, o Juiz não precisa concordar. Na verdade, haverá o controle das cláusulas que poderão ser aplicadas ou não posteriormente. Então, estabelece o calendário, vai seguindo o calendário, e esse controle desse calendário, do que for negociado efetivamente, vai se dar durante a marcha do processo. O que eu digo com relação a isso? Os livros e os artigos que já têm sobre isso – e esse tema vem da Alemanha, da França, dos Estados Unidos, trouxeram de outros países – dizem que as partes podem estabelecer o calendário naquela audiência de conciliação e mediação, no início. Mas quando há litígio, não se consegue fazer um acordo, vai ser muito difícil estabelecer um calendário nessa audiência, porque depois que já houver o desencadeamento do processo judicial, depois que já foi desencadeada a jurisdição, é muito difícil que partes negociem calendário no início, quando há o contencioso. 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 27 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Onde me parece que isso possa ser interessante, que isso possa acontecer? No âmbito extrajudicial, nos contratos, ou seja, eu firmo um contrato, eu firmo um acordo extrajudicial. Como contém nos contratos, nós não estabelecemos clausula de arbitragem? Então, podemos estabelecer um rito, a criação de um rito, de uma marcha processual, no extrajudicial. Aí tem um detalhe: essa negociação processual é possível desde que uma das partes não seja vulnerável, hipossuficiente, evidentemente, porque, se for vulnerável, não tem como, no caso de vulnerabilidade, não é possível. Nos demais casos, sim. Parece-me que no extrajudicial talvez seja a maior aplicação prática disso, que é uma espécie de privatização da Justiça, nesses artigos 190 e 191. O resto dos artigos são teses acadêmicas, “recorta e cola” do Código de 73. Com isso, então, eu encerro, agradecendo mais uma vez a atenção de todos vocês. Estou disponível para sanar eventuais dúvidas que vocês tenham a respeito do Novo Código. Obrigada. DES. NEY WIEDEMANN NETO – Correspondeu e superou as expectativas a manifestação da Professora Dra. Jaqueline, a quem agradeço muito. Essa visão panorâmica, abrangente, no espaço de cerca de uma hora e dez minutos, brindou-nos com reflexões críticas importantíssimas, que me permitiram tomar uma série de notas valiosas para o nosso grupo de estudos que se debruçará sobre esse tema. Antes de colocar a palavra à disposição, permito-me alguns breves comentários. A Profa. Jaqueline mantém viva a memória e dá continuidade à obra do Prof. Ovídio, o que é extremamente importante e gratificante, tendo, inclusive, publicado um livro póstumo. Foi póstumo, não é? 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 28 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DRA. JAQUELINE MIELKE – Foi o “A Epistemologia das Ciências Culturais”, que ele terminou de escrever quando estava muito doente, mas não deu tempo de publicar, e ele pediu para que eu providenciasse a publicação do livro, mas foi ele que terminou. DES. NEY WIEDEMANN NETO – Foi uma publicação post mortem, embora o Prof. Ovídio tivesse finalizado o livro. Eu tive a felicidade, o privilégio, na graduação da UFRGS, em todos os semestres de Processo Civil, de ter sido aluno do Prof. Ovídio. Depois eu ainda fiz uma pós-graduação em Processo Civil na PUC, no ano de 1989, e o Prof. Ovídio, naquela época, com os Professores Fábio Gomes e Sérgio Roberto Porto, lecionava na PUC. Naquela ocasião ainda tive também esse privilégio. Não obstante, também tive outro privilégio de ter trabalhado com o Prof. Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, aqui no Tribunal, na 6ª Câmara Cível, quando ele integrava a Câmara, embora sabíamos que o Prof. Carlos Alberto e o Prof. Ovídio tinham posicionamentos opostos em muitas questões importantes, que hoje estão se materializando no Código. Às vezes, os Códigos tardiamente consagram algumas ideias, e ambos já faleceram. Talvez o Prof. Ovídio, se vivo fosse, ficasse muito chocado com esse Novo Código, que colide com muitos princípios e fundamentos que ele defendia. Eu queria fazer aqui uma breve anotação. Eu recebi esses números do Min. Paulo de Tarso Sanseverino – uma curiosidade para a Profa. Jaqueline –, eu encontrei o Ministro em um congresso, e ele me deu esses números redondos. O STJ recebe, em média, por ano, o número de recursos especiais que sobem é de 300 mil, e ele disse que a média nacional de negativa de seguimento de recursos dos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais é de 50%. Então, o Min. Paulo fez um comentário comigo de que a lógica do Novo Código significa que, por ano, os recursos especiais 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 29 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA subiriam de 300 mil para 600 mil, já que a média nacional de negativa é de 50%. Ele ainda me deu mais um dado curioso – são números redondos, a Dra. Maria Tereza Barbieri deve conhecer esses números no detalhe –, de que o Rio Grande do Sul é diferente, que os filtros são mais criteriosos e rigorosos. Ele disse que 20% dos recursos especiais sobem e 80% não sobem, que no Rio Grande do Sul, nós temos mais critério para essa admissibilidade. Também tenho a informação de que, como esses recursos têm que ser digitalizados, segundo estou informado, a demora do nosso Tribunal para a digitalização, para o envio ao STJ, tem sido em torno de um ano, e se todos os recursos tiverem que subir, se não houver esse filtro, o departamento do Tribunal que digitaliza vai ter que quintuplicar a sua carga de trabalho, e demoraria no mínimo dois anos para que um recurso fosse enviado ao STJ pela necessidade da digitalização. Se eu estou falando um dado incorreto, eu pediria que a Dra. Maria Tereza Barbieri complementasse, porque tenho números muito grosseiros. Quero comentar também, Profa. Jaqueline, que é uma grande preocupação nossa – a minha leitura é do 2º Grau, o grupo de estudos que eu vou me envolver para as mudanças do Regimento Interno é todo focado no 2º Grau de Jurisdição – essa questão de quando um julgamento em curso tem dois a um, e nós teremos que chamar mais dois Desembargadores. Isso realmente é muito preocupante. Nós não temos como chamar mais dois no curso daquela sessão. Tudo indica que será suspenso o julgamento daquele processo, prosseguirá na sessão seguinte, com mais dois Colegas. E o próprio Código prevê a possibilidade da renovação da sustentação oral para que aqueles outros dois que serão convocados para prosseguir também sejam brindados e agraciados com a sustentação oral daqueles advogados que já haviam sustentado anteriormente para aqueles 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 30 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA três. Às vezes, em razão das sustentações orais, os nossos julgamentos se arrastam por horas, têm sessões de julgamentos que terminam à noite por causa das sustentações orais. Imagina elas sendo renovadas, isso realmente é um problema. Ainda no caso do nosso Tribunal, Profa. Jaqueline, a composição atual é de quatro Desembargadores por Câmara, não cinco, com a exceção de três Câmaras: a 23ª, a 24ª e a 25ª, e sempre tem um Desembargador em licença prêmio, um Desembargador em férias, um Desembargador doente, ou cargos vagos por remoção, por aposentadoria. Teremos que convocar Desembargadores até mesmo de outras Câmaras para compor, até que, no futuro, o Tribunal possa prover e nomear o quinto membro para cada Câmara, mas mesmo assim haverá inúmeras dificuldades quanto a isso. Também essa questão da conciliação e da mediação, quer meparecer que o Tribunal terá que se aparelhar com recursos humanos, o Tribunal terá que ter funcionários capacitados e remunerados para essa etapa inicial do processo, o que vai ter consequências, inclusive, orçamentárias. Em relação àquela questão da mudança de rito e de prazo, que o processo pode dispor, que as partes podem dispor de uma maneira diferente, que foi a sua última colocação, o nosso grupo de estudos também se preocupa com o nosso processo eletrônico, que está em fase de implantação. Os sistemas de informática estão sendo desenvolvidos para o processo eletrônico, e muitas etapas são customizadas e automatizadas. Imagina se nós temos que alterar o processo eletrônico porque em determinado processo as partes compuseram totalmente diferente o rito e os prazos. Isso vai demandar até uma janela de informática para que programadores possam mudar procedimentos e prazos, porque as partes transigiram, e isso vai interferir no processo eletrônico. Não sendo processo eletrônico, isso tem mais facilidade de controle pelo Escrivão e pelo Juiz, mas no processo eletrônico vai ser algo complicado. 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 31 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Por último, um aspecto que talvez a Profa. Jaqueline não tenha comentado, mas é, para nós, importante, que é a questão da avocação, avocatória. Não é bem esse o termo da avocatória, mas aquela questão de quando começa a se formar uma matéria repetitiva no 1º Grau, e o Tribunal, percebendo, pode avocar aquele assunto e julgar no Tribunal, criando uma interpretação que vai impor ao 1º Grau uma solução padronizada para ações de massa, sem que tenha havido ainda o devido processo crítico de reflexão sobre alguma demanda repetitiva que começou a se formar no 1º Grau. Isso também, pra nós, é algo estranho, algo inusitado, porque a lógica atual do sistema é que o 1º Grau examina primeiro as ações repetitivas, faz o julgamento, e o Tribunal acaba – às vezes até naquelas ações populares, ações civil públicas, aquelas ações coletivas de consumo – dando uma uniformização, mas tendo um tempo maior de reflexão, de maturação. Depois, o próprio STJ, no art. 543-C dos recursos repetitivos, dá a padronização final. Isso aqui, para nós, é algo muito estranho, porque poderíamos atropelar o 1º Grau. Estas são essas considerações iniciais que eu queria colocar para a Profa. Jaqueline, se tiver algum comentário sobre isso. Depois, colocaremos a palavra à disposição. DRA. JAQUELINE MIELKE – Com relação aos repetitivos, os números que o Ministro te deu, eu pensei que fossem até maiores do que isso, eu pensei que o que chegaria lá, com a abertura da porta, seriam muito mais do que 600 mil, porque não dá pra fazer um cálculo linear disso, porque São Paulo manda mais, São Paulo tem um número muito grande. Então, eu acho que não é possível só dobrar pelos 50%, porque só São Paulo já deve ser bem maior do que esse número aqui. Se eu fosse os Ministros, eu estaria bastante preocupada com essa disposição. 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 32 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA A questão que tu colocaste do processo eletrônico, com relação ao negócio jurídico processual, é algo preocupante mesmo. O processo eletrônico é feito para esse procedimento. Então, se mudar todo o sistema, cria outro problema. Na verdade, é estranho eles não terem se preocupado com isso, porque vemos no Código a positivação de muitos procedimentos da Justiça Federal, e já temos o processo eletrônico há muito tempo, e funciona de forma diferente a Justiça Federal, ela é diferente das Justiças Estaduais. Então, foi uma preocupação que eles não tiveram e que é pertinente com relação ao processo eletrônico. No processo em papel, em tese, não teria o mesmo problema, mas as Justiças Estaduais um dia chegarão ao nível da Federal também, um dia vai ficar tudo eletrônico. Aí, como é que fica a negociação? Vão fazer um programa específico para aquele negócio? Uma coisa estranha. Eu vou contratar um programador para fazer um programa específico de um processo eletrônico diferente? Então, parece-me interessante a preocupação que efetivamente tu tiveste com relação a isso, com relação a essa adequação ao eletrônico. DES. NEY WIEDEMANN NETO – Teria algum comentário sobre a avocatória ou não? DRA. JAQUELINE MIELKE – Eu concordo contigo com relação à avocatória. Realmente é um problema, mas a ideia é tentar resolver o problema dos repetitivos também, é essa a ideia. Eu sou uma grande crítica dos repetitivos, eu acho um horror aquilo, os repetitivos são um festival de “recorta e cola”, ninguém lê processo, o advogado não lê as petições, porque um recorta e cola do outro, aí o réu contesta, só recorta e cola, as sentenças são todas iguais. Então, parece-me que tem que ter esse tipo de mecanismo. Tudo que é mecanismo para reprimir 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 33 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA repetitivo, para tentar adequar, eu sou a favor, porque é um caos, é terrível. Para o advogado que trabalha com isso, é horrível; para o Juiz que trabalha com isso, é terrível também; para o assessor que fica lá tendo que recortar e colar decisão, também é horrível. Então, esses mecanismos me parecem razoáveis. DES. NEY WIEDEMANN NETO – Vamos, então, colocar a palavra à disposição. A Dra. Maria Tereza vai contribuir. DRA. MARIA TEREZA BARBIERI – Inicialmente, gostaria de parabenizar o Des. Ney pela iniciativa, convite, retomando o Projeto Horizontes do Conhecimento, um tema tão fundamental, vital para todos nós operadores do Direito. Gostaria também de saudá-la pela brilhante exposição, pelas suas reflexões, estudo em tão pouco tempo, vamos dizer assim, a partir do Novo Código de Processo Civil, reflexões, análise percuciente que compartilha conosco e assim também nos motiva e incentiva a prosseguirmos no estudo, sempre aperfeiçoando, porque é o nosso dia a dia, o nosso trabalho, o nosso dever de buscar sempre esse aprofundamento. Contamos com a sua presença e participação em muitas outras oportunidades, com certeza prosseguindo nesse estudo e nessas reflexões. A partir da colocação do Des. Ney com relação aos nossos recursos especiais e extraordinários, peço que toda a equipe da Assessoria aqui presente me auxilie se faltarem alguma observação. Efetivamente, no ano passado, o nosso relatório apontou que foram analisados aproximadamente 120 mil recursos especiais e extraordinários no Estado do Rio Grande do Sul. Em torno de 80% ou mais são recursos que têm seguimento negado, denegado o próprio recurso em virtude de estar enquadrado em paradigma na repercussão geral ou dos recursos repetitivos. Com isso, o número que ascende às Cortes superiores é bem inferior, uma 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 34 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA vez que, sendo denegado o recurso, porque se enquadra nos recursos repetitivos, nos paradigmas da repercussão geral ou dos recursos repetitivos, rende agravo regimental, e a decisão é nossa, aqui do próprio Tribunal, conforme assim estabelece o nosso Regimento Interno. Os recursos que tem negado seguimento, enfim, possível agravo, art. 544 do Código de Processo Civil, são esses que constituem a grande maioria dos recursos que se encontram junto ao serviço de formação do processo digital. E o prazo é em torno de seis meses – não de um ano –, porque há carência – e aqui os colegas podem corroborar essa informação –, tanto de pessoal quando de recursos. Atualmente acredito que são três ouquatro servidores que têm a sua designação com fé pública para esses processos. Então, há grande massa de agravos, porque a parte remanesce inconformada com a decisão de negativa de admissibilidade do seu recurso. Eles são digitalizados, são indexados, validados e certificados, ou seja, todas as peças são identificadas e indexadas, e o Senhor Ministro- Relator, após distribuído esse recurso digitalizado, via eletrônica, tem todas as peças indexadas, desde a inicial, contestação, sentença, recursos e acórdão. Enfim, é esse o trabalho que se faz, sempre com grande esforço, e posso assegurar, com orgulho, que aqui no Estado do Rio Grande do Sul o índice de erro é inferior a 0,00, alguma coisa assim, comparando, então, com todo o restante dos recursos que são digitalizados no País. Também gostaria de ressaltar que, em auxílio à prestação jurisdicional e à efetividade, nós temos inserido no nosso planejamento estratégico do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul a gestão estratégica das ações de massa. Esse é um trabalho que se faz aliado ao Núcleo de Repercussão Geral e Recursos Repetitivos, instituído no Estado do Rio Grande do Sul, no Poder Judiciário, no ano de 2012, a partir da Resolução nº 160 do CNJ. Com isso, todas as demandas de massa têm um tratamento 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 35 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA diferenciado; os recursos, com adesão dos colegas da jurisdição, ficam suspensos, aguardando, então, a decisão na ação coletiva ou na ação civil pública ou também, simultaneamente, ao recurso especial paradigmático. Esse é o trabalho que se faz, antes mesmo do que já agora institui o Novo Código de Processo Civil, é a prática que vamos aperfeiçoando. Então, são esses os esclarecimentos, a partir da colocação do Des. Ney, que penso pertinentes, convidando a todos, a partir dessas reflexões, junto com a Profa. Dra. Jaqueline, a prosseguir nesses estudos e reflexões sobre esse tema tão vital para todos nós operadores do Direito. DES. NEY WIEDEMANN NETO – Muito obrigado. Vamos às contribuições dos colegas. PLATEIA – Estou fazendo pós-graduação na PUC do Novo Código de Processo Civil, e, ouvindo a senhora falar – quando foi instituído o Código de 73, que foi em 1º de janeiro, já em outubro foi feita uma nova lei que acrescentou 94 novos artigos no Código de 73 –, a impressão que dá – não sei se eu interpretei direito – é que esse nosso Novo Código, na verdade, em termos práticos, já vai, ano que vem, sofrer alterações. Não sei se é isso. DRA. JAQUELINE MIELKE – O que ocorre? O Código de 73, quando entrou em vigor, já entrou em vigor com diversos artigos alterados. Têm vários problemas esse Código atual, e um dos problemas que eu vejo é essa questão da admissibilidade no REsp e no RExt, essa de tirar a admissibilidade dos tribunais de origem. O que me parece? Isso aqui é uma questão que afeta diretamente as Cortes superiores, se torna insustentável. Então, eu acredito que possa haver um movimento muito forte para alterar esse ponto específico, para voltar a ser como temos hoje. Eu digo que não se deram conta quando efetivamente aprovaram dessa forma, parece que não se 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 36 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA deram conta disso aqui, estão se dando conta agora. Então, acho, sim, provável que tenhamos alterações. Talvez essa aqui seja uma delas, sem dúvida alguma, pelos reflexos que vai trazer. Não acredito que mude nada com relação ao contraditório, acho que isso eles vão deixar, essa questão que tem que ouvir as partes antes de o Juiz se pronunciar, até por questão de ordem pública, mas essa questão específica, porque afeta as Cortes superiores, acho, sim, que possamos ter alteração, como houve em 73; têm artigos que não entraram em vigor. Então, acho que teremos alterações no curso deste ano e essa acho que pode ser uma delas. DES. NEY WIEDEMANN NETO – Nesse sentido, o próprio Min. Paulo Sanseverino, quando tratamos desse assunto, me passou a informação de que haveria um movimento do STJ postulando, no Congresso, a alteração da lei antes de ela entrar em vigor. Já deve ter sido até protocolado o anteprojeto de reforma do CPC. Talvez não tenha sido divulgado, mas será apreciado exatamente por esse motivo da inviabilidade prática. DRA. JAQUELINE MIELKE – E em 73 aconteceu. Então, é bem provável que ocorra. E esse é um ponto complicado, então, nesse ponto específico, acho que haverá um movimento, mas é um exercício de previsibilidade, porque é problemático isso aqui que colocaram. PLATEIA – Uma dúvida, voltando ao início da palestra, em relação às condições da ação, que agora não poderiam ser mais conhecidas de ofício. 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 37 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DRA. JAQUELINE MIELKE – Não é isso. Elas podem ser conhecidas de ofício, mas, antes de o magistrado conhecê-las de ofício, ele tem que ouvir as partes. O Juiz apensou: “Acho que falta legitimação para agir”. O Juiz se deu conta, o que ele tem que dizer? “Digam as partes sobre a legitimidade ativa”. Pode ser de ofício, ele tem a iniciativa, só que ele tem que ouvir antes. PLATEIA – Mas o que eu quero chegar é assim: se for um caso de um indeferimento de inicial, uma ilegitimidade ativa latente, o que o Juiz vai ter que fazer? DRA. JAQUELINE MIELKE – O que ocorre? O Código excepcionou a improcedência liminar. A improcedência continua lá no art. 332, ou seja, é possível a improcedência liminar do pedido sem a ouvida da outra parte. Aí tu perguntas o indeferimento de uma petição inicial. Ora, se pode julgar improcedente liminarmente o pedido, consequentemente deve-se estender também para o indeferimento da liminar, parece-me, no início do processo. Até porque, o que ocorre? Por que é possível a improcedência liminar sem a ouvida da outra parte? Porque beneficia o réu. Então, na verdade, o réu não tem prejuízo, e o indeferimento também me parece que não vai implicar em prejuízo, nesse caso específico. Então, eu estenderia o mesmo raciocínio que é feito para a improcedência liminar o art. 332 aqui. Mas, digamos, aí chega no Tribunal, e o Tribunal: “É parte ilegítima” ou “Má formação de litisconsórcio”, como têm situações em que há problema na formação do litisconsórcio, litisconsórcio ativo com problema. Não dá simplesmente para se pronunciar sem ouvir a parte. 12/06/2015 CENTRO DE ESTUDOS FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 38 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA PKATEIA – E agora uma pergunta com um enfoque diferente. De uma forma objetiva, a senhora acha que esse Novo CPC era necessário mesmo ou não? Vai trazer grandes alterações? DRA. JAQUELINE MIELKE – Eu sou bem cética quanto a isso. Na verdade, um dos principais problemas que temos no processo é a efetividade do processo, e eu nem cheguei a falar de execução, porque execução é um mundo à parte. Sobre efetividade, não tem nada de novo aqui praticamente. Se é para recortar e colar um Código velho, que fique com o velho. O que ocorre? Que a gente não fique – eu diria – com discussões novas de processo, porque vamos ter discussão de processo. Então, ficamos em torno do marasmo do processo quando o mais importante não é o processo, o mais importante é a realização do direito material da parte. Então, parece-me que, se é para introduzir esse tipo de situação, era melhor ficar como está. Na verdade, tem todo um mercado por trás do Novo Código de Processo. As pessoas escrevem livros, tem livro que não acaba mais que
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