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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Unidade 1
Introdução à Ciência Política: Análises e Perspectivas
Aula 1
Entre a Filoso�a Política e a Ciência Política
Entre a Filoso�a Política e a Ciência Política
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conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos!
 
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Ponto de Partida
Boas-vindas!
Gostaríamos de lhe convidar para um bate-papo direto e cientí�co! Vamos conversar a respeito
da importância da política e a sua origem. Não há como negar que a presença de relações
políticas ultrapassa a compreensão cotidiana imediata, e de fato, estrutura toda a vida social.
Quando pensamos em política, na maioria das vezes escutamos no cotidiano popular a menção
de fatos políticos que nos cercam de maneira imediata, a�nal, quem nunca escutou expressões
como “políticos são todos corruptos”, ou “político é ‘tudo’ igual!”, ou ainda “política e religião não
se discutem!”. Fato é que, quando falamos e tratamos das sociedades humanas, falamos de
política. Por isso o convite que fazemos nesta aula é para aprofundarmos de maneira cientí�ca o
conteúdo das relações de poder que sempre acompanharam a história da nossa sociedade. 
https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U1A1_Cie_Pol_Liberado.pdf
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Vamos Começar!
Filoso�a e política
Podemos começar a nossa conversa com uma inquietação milenar e humana. De onde vem a
política e qual é a sua �nalidade? No interior do campo da �loso�a política não é incomum
encontrarmos a de�nição de que a origem da política está nos gregos e romanos. Isso porque
essas civilizações na história compreenderam a estreita relação entre ética e política e, com isso,
a �nalidade da política, que na sua origem busca o equilíbrio tênue da vida coletiva entre a justiça
e a felicidade.
Para essa �nalidade, foi necessário aproximar a ética da política, pois a vida nas cidades, com o
caráter con�ituoso e opressor da guerra, dependia diretamente do conjunto de regras, leis e
principalmente das qualidades morais dos cidadãos. As relações de poder na Antiguidade
Clássica tinham como referência principal a vida nas cidades, que devem ser pensadas neste
momento não como espaços urbanos e sim como espaços coletivos, políticos, onde a vida
acontecia.
Quando se a�rma que os gregos e romanos inventaram a política, não se quer dizer que, antes
deles, não existia o poder e a autoridade. O que se quer dizer é que inventaram o poder e a
autoridade propriamente políticos, ou seja, que substituíram o poder despótico ou patriarcal
exercido pelo chefe de família sobre um conjunto de famílias a ele ligadas por laços de
dependência econômica e militar e por alianças matrimoniais. Nessa forma de poder anterior, a
relação era pessoal, e o chefe garantia proteção enquanto os súditos lhe ofereciam lealdade e
obediência (Chaui, 2014, p. 313).
Mas a �loso�a buscou compreender a razão, a ética, a justiça, as relações humanas e a vida
política. Vem da �loso�a a compreensão do termo política. É preciso �car evidente que a noção
imediata, do senso comum e que temos no adquirido pela empiria, não trata da política como a
�loso�a desenvolve, sobretudo porque política não é o conjunto de pro�ssionais especí�cos que
dela se apropriam, tampouco o signi�cado de ação coletiva de forma exclusiva. Mas, a�nal, o que
é a política? “É a atividade de governo? É a administração do que é público? É pro�ssão de
alguns especialistas? É ação coletiva referida aos governos? Ou é tudo que se re�ra à
organização e à gestão de uma instituição pública ou privada?” (Chaui, 2000, p. 475).
Podemos, assim, distinguir entre o uso generalizado e vago da palavra política e um outro, mais
especí�co e preciso, que fazemos quando damos a ela três signi�cados principais inter-
relacionados: 1. o signi�cado de governo, entendido como direção e administração do poder
público, sob a forma do Estado. [...] 2. o signi�cado de atividade realizada por especialistas – os
administradores – e pro�ssionais – os políticos –, pertencentes a um certo tipo de organização
sociopolítica – os partidos –, que disputam o direito de governar, ocupando cargos e postos no
Estado. [...] 3. o signi�cado, derivado do segundo sentido, de conduta duvidosa, não muito
con�ável, um tanto secreta, cheia de interesses particulares dissimulados e frequentemente
contrários aos interesses gerais da sociedade e obtidos por meios ilícitos ou ilegítimos (Chaui,
2000, p. 476).
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Cada signi�cado elencado da política traz uma concepção com a realidade moderna,
contemporânea e atual. Enquanto conversamos, as relações sociais se desencadeiam de
maneira acelerada e dando respostas à forma como produzimos e reproduzimos a vida, e a ela
empreendemos nossas ações sociais, portanto, políticas.
Nas escolhas que fazemos, no preço dos alimentos no supermercado, na decisão tomada pelos
países em guerra, a política é estruturante porque é coletiva, é coletiva porque é social e é
�losó�ca porque nos revela que a vida é também política. A �loso�a política trata das relações
de poder. O uso da razão e da ética traz a ciência para compreender essas relações. Na origem
do pensamento cientí�co e da ciência política como a conhecemos, está a busca pela igualdade
e pelas relações que dela se apropriaram, como no caso grego.
A eliminação da referência à autoridade exterior entre homens iguais e a necessidade de
argumentar com todos os demais deu nascimento a novas formas de pensamento, dentre as
quais a mais in�uente historicamente foi a Filoso�a, e, nela, a Ética e a Política, tais como as
concebemos desde então (Barros et al., 2021, p. 7).
Com a �loso�a política, podemos primeiro compreender o contexto histórico em que o con�ito
determina a relação entre os indivíduos na busca pela igualdade, liberdade, poder e leis. É
possível a�rmar que na mesma medida em que as sociedades humanas se complexi�cam,
surgem relações de poder, relações estas que estão intimamente ligadas à divisão do trabalho e
das tarefas, da construção histórica da monogamia, da dominação humana e das maiores
contradições e con�itos que a história nos revelou. Portanto, é com a �loso�a propriamente
política que podemos atualmente entender o caráter histórico das relações de poder a partir da
antiguidade e da formação da nossa própria compreensão da política. Hoje, como disciplina
acadêmica, a �loso�a política chama para si a existência e a delimitação do fenômeno político.
Determinar a essência própria do fenômeno político e os elementos que o distinguem no campo
mais vasto e complexo dos fenômenos sociais; avaliar criticamente o método seguido cada vez
pelos estudiosos que se ocuparam desses fenômenos; avaliar as razões por eles propostas para
explicar essas relações; examinar, en�m (nem que seja só por interesse histórico), os vários
modelos ideais de uma sociedade perfeita que, de tempo em tempo, inspiraram e, às vezes,
obcecaram as mentes de grandes pensadores (Bobbio, 1998, p. 629).
É a �loso�a política que estuda o constructo dos pensadores clássicos na história, é ela quem
de�ne a essência própria do fenômeno político, e entende que a política pode ser abordada de
maneira cientí�ca. É a �loso�a política que distingue os elementos políticos no campo complexo
das demais ciências, e a disciplina que conduzirá a formação de uma ciência propriamente
política na modernidade.
Siga em Frente...
Filoso�a política: origem do pensamento
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Sabemos que o termo e a expressão “política” vêm etimologicamente do grego politeia, que
signi�ca o que acontece na cidade. O termo faz referência à vida na pólis, onde o cidadão era
considerado no usufrutoentender, trariam riqueza e poder a toda a nação. Na busca de tal
objetivo, mantinham o olho em todos os aspectos da vida diária e modi�cavam, moldavam e
regulavam todas as atividades de seus súditos (Huberman, 2017, p. 93).
A pergunta a ser respondida no período era: o que torna um país rico e poderoso? As respostas
eram inúmeras, mas um elemento apareceria em todas elas: ouro e prata. Portanto, acumular
riqueza parecia a forma de demarcar o poder. Essa foi a característica central do mercantilismo e
que marcou a origem do Estado em sua acepção moderna. Um Estado forte era um Estado rico,
e a riqueza em ouro e prata parecia mais acertada.
O “metalismo” como é conhecido até hoje, foi a política econômica adotada pelos Estados em
países na gênese do Estado moderno em sua forma absolutista, que foi a forma como os países
administraram a riqueza socialmente. Por esse motivo, talvez a Espanha tenha sido, no século
XVI, o mais rico e poderoso país do mundo, por concentrar o poder econômico a partir do
mercantilismo e a exploração colonial que marca esse modelo de consolidação do moderno
Estado.
O mercantilismo não era um sistema no atual sentido da palavra, mas antes diversas teorias
econômicas aplicadas pelo Estado em um momento ou outro, num esforço para conseguir
riqueza e poder. Os estadistas ocupavam-se do problema não porque lhes agradasse pensar
nele, mas porque seus governos estavam sempre extremamente interessados na questão –
sempre quebrados e precisando de dinheiro. (Huberman, 2017, p. 93).
A gênese da concepção de estado no ocidente
A origem do Estado moderno é também a origem de um processo intenso de exploração
colonial. Com a política centralizada dos Estados que buscavam cada vez mais o poder em
riquezas no ouro e na prata acumuladas, a exploração de novos territórios em domínio e o
extermínio das populações foi um traço marcante da variável do poder na Europa e nos vários
territórios explorados e ocupados a partir do século XVI, prioritariamente. O Brasil é um exemplo
clássico.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
A forma moderna de Estado da qual tratamos é essa de origem europeia pela identi�cação, entre
uma série de fatores, à formação social e econômica que será chamada de capitalismo. Cada
Estado tem a sua própria formação, porém os elementos que caracterizam melhor a ligação do
tipo de Estado que atualmente conhecemos são os que serão formados a partir dessa matriz,
que reúne condições de lutas históricas e a concentração do poder a partir de relações
comerciais e feudais, e que, por sua vez, reúnem algumas características do Estado na
antiguidade. Observe na passagem a seguir alguns exemplos:
Na Península Ibérica, depois da vitória de�nitiva das armas cristãs sobre os muçulmanos,
nascem o reino de Aragão e o de Portugal; consolidaram-se como estados fortes, mas por meio
de uma história inteiramente diversa, o reino de França e o de Inglaterra – o primeiro, com a
pressão da monarquia sobre as classes feudais e por meio da exaltação do elemento citadino; o
segundo, com a aliança triunfante das várias camadas sociais contra a monarquia –; no coração
da Europa, o reino da Alemanha, com a prevalência dos grandes feudatários, acentuou cada vez
mais uma política nacionalista, enquanto um novo Estado dele destacou-se, a Áustria; ao Norte,
a�rmaram-se os estados escandinavos, com predomínio do reino da Dinamarca; surgiram os
reinos da Lituânia, da Polônia, da Rússia; enquanto ao Sul a Hungria, a Sérvia, a Croácia, a
Bulgária, a Romênia, a Albânia consolidaram-se como estados. Eram ordenamentos políticos
novos ou em renovação, que se ergueram sobre um fundo turbulento de lutas gigantescas, em
que os povos europeus empenharam-se freqüentemente contra forças extra-européias (dos
muçulmanos no Sul aos mongóis no Leste). E, como organismos jovens, não queriam sentir-se
ligados pelas amarras de ideologias tradicionais, embora, note-se bem, como estados cristãos,
vinculados à Igreja de Roma, não podiam, pela estrutura mesma do mundo medieval, ignorá-las
(Calasso apud Kritsch, 2004, p. 106).
Portanto, a própria gênese do Estado moderno deve ser buscada: para frente na exploração e
domínio coloniais, e para trás, nas características fundamentais da preservação do poder que
surge como forma de domínio alternativo à crise do feudalismo e dos padrões de domínio na
Europa, já que o processo de concentração do poder em Estados foi a máxima recorrida para
preservar os estatutos e territórios. 
Vamos Exercitar?
A ligação que atualmente fazemos de maneira imediata, nas nossas conversas menos cientí�cas
e no senso comum, atribuindo ao Estado as mazelas e problemas da sociedade, está
diretamente ligada ao processo de formação do próprio Estado moderno. Você veri�cou que, na
sua constituição, o poder foi concentrado para manter, de um lado, o domínio, e de outro, a
acumulação mercantilista. O Estado como agente econômico será mais bem compreendido a
partir da sua formatação contemporânea e como produto das revoluções políticas na Europa –
porém, da sua gênese e dos elementos que circulam o século XVI vem a noção de que a
concentração econômica e política nos faz ligar o Estado moderno com as questões econômicas
produtoras das próprias desigualdades atuais. Por esse motivo nosso estudo é tão importante. O
atual momento capitalista só pode ser compreendido se entendermos a origem e formação do
próprio Estado moderno, e esse é o papel do cientista político. 
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Saiba mais
Você sabia que a primeira forma centralizada de poder que se consolidará independente e
centralizada na forma de Estado moderno surgiu em Portugal com a chamada Revolução de
Avis? Você pode orientar seus estudos pela compreensão da gênese e da formação do Estado
moderno com as referências que entendem o Estado da maneira ocidental moderna, assim como
pela Revolução de Avis, na leitura do artigo indicado a seguir.
COSER, M. C. A dinastia de Avis e a construção da memória do reino português: uma análise das
crônicas o�ciais. Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18,  p. 703-727, jul.-dez.
2007. 
Referências
CALABREZ, F. Introdução à Economia Política: o percurso histórico de uma ciência social.
Curitiba: Intersaberes, 2020.
CAVAZZANI, A. L. M.; CUNHA, R. P.; GOMES, S. A. R. (org.). América portuguesa: uma introdução
à cultura, à sociedade e aos poderes coloniais. Curitiba: Intersaberes, 2021.
COSER, M. C. A dinastia de Avis e a construção da memória do reino português: uma análise das
crônicas o�ciais. Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18, p. 703-727, jul.-dez.
2007. Disponível em: https://periodicos.uesc.br/index.php/especiaria/article/view/779. Acesso
em: 30 dez. 2023.
HUBERMAN, L. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
KRITSCH, R. Rumo ao Estado moderno: as raízes medievais de alguns de seus elementos
formadores. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, 23, p. 103-114, nov. 2004. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rsocp/a/hjHJLbrbLmbP9nZ9CRBhrCP/abstract/?lang=pt. Acesso em: 30
dez. 2023.
LE GOFF, J. Para uma outra Idade Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente. Petrópolis:
Vozes, 2014.
QUADROS, D. G.. O Estado na teoria política clássica: Platão, Aristóteles, Maquiavel e os
contratualistas. Curitiba: Intersaberes, 2016.
SANTOS, B. de S. Portugal: ensaio contra a auto�agelação. São Paulo: Cortez, 2013
https://periodicos.uesc.br/index.php/especiaria/article/view/779
https://periodicos.uesc.br/index.php/especiaria/article/view/779
https://periodicos.uesc.br/index.php/especiaria/article/view/779
https://www.scielo.br/j/rsocp/a/hjHJLbrbLmbP9nZ9CRBhrCP/abstract/?lang=pt
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Aula 2
O Contratualismo
O Contratualismo
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Ponto de Partida
Quando falamos em contrato, a primeira coisa que pensamos são os contratos de serviços que
fazemos ao longo da vida. Ao comprar um plano de saúde, assina-se um contrato. Ao se
matricular em uma escola privada, assina-se um contrato. Ao contratar um serviço de reforma
para a casa, assina-se um contrato. No entanto, a palavra contrato vai além da mera relação
comercial estabelecida entre as partes: ele é um instrumento real ou virtual que rege as relações
entre os homens. Mas de onde se origina o poder regulador desse imenso contrato que a todos
organiza? O que faz que o Estado, por meio da Justiça, intermedeie as relações entre as pessoas
físicas e jurídicas e entre o público e o privado? E quais são os motivos que levam a recorrermos
ao Estado, no caso, à polícia, quando há ameaça à vida ou à propriedade privada? Para chegar a
esse entendimento, precisamos estudar o contratualismo. Seja bem-vindo! 
Vamos Começar!
A origem do contratualismo
Voltaremos ao �nal da Idade Média, no início do século XIII. Há indícios de que o Estado
Moderno começa a constituir-se nesse período, na transição do feudalismo para o capitalismo
(Schiera, 1998). No entanto, podemos dizer que a Idade Moderna se inicia efetivamente no
século XV, em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos e o �m do domínio
https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2A2_Cie_Pol_Liberado.pdf
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
do Império Romano. É importante estabelecer essa delimitação histórica – Idade Média e Idade
Moderna – quando falamos do Estado, pois o �m da Idade Média marca o distanciamento do
Estado da ordem espiritual e sua aproximação da ordem material. Isso acontece em função da
constituição dos mercados e da formação das cidades, os quais também modi�cam a estrutura
da sociedade e, consequentemente, exigem mudanças nas formas de exercício do poder.
No período do feudalismo, o poder tinha por base a tradição, corpori�cada no poder de Deus
atribuído ao príncipe pelo clero, poder este partilhado com os senhores feudais, responsáveis por
suas comunidades territoriais e pelo exercício do domínio do príncipe. Os mercados e as
cidades, em conjunto com camadas da população que não estavam mais sob o jugo do poder
feudal, exigiam uma nova forma de Estado e de exercício do poder: um Estado que atendesse às
demandas dessas camadas, que estivesse alinhado com o poder material das relações sociais
ora vigentes.
É nesse contexto que surge o Estado Moderno, com o objetivo de regular as relações originadas
em uma sociedade em transição, assentada sob o poder material e o mercado, cujas camadas
não mais se identi�cam com a servidão e o poder senhorial. Essa nova forma de Estado, seu
surgimento e as bases que o constituem tornaram-se preocupação de alguns pensadores dos
séculos XVII e XVIII, fomentando algumas teorias que tratam do Estado. Destacam-se, nesse
período, três pensadores, em especial: Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
Conhecidos como contratualistas, esses pensadores entenderam que “os homens viveriam
naturalmente, sem poder e sem organização – que somente surgiriam depois de um pacto
�rmado por eles, estabelecendo as regras de convívio social e de subordinação política” (Ribeiro,
2001, p. 53). O contrato estabelecido pelos homens lhes garantiria o exercício de seus direitos
naturais. No entanto, cada um desses pensadores tinha sua de�nição para os direitos naturais e
seu entendimento de como o contrato social teria sido estabelecido, e como ele sustenta o
Estado na Idade Moderna.
Thomas Hobbes
Começaremos com Thomas Hobbes. Filósofo inglês, Hobbes viveu entre o �nal do século XVI e
um pouco da segunda metade do século XVII (1588-1679) e escreveu uma obra fundamental
para entender a formação do Estado Moderno, O Leviatã, publicado em 1651. Em O Leviatã, obra
clássica da �loso�a política, Hobbes a�rma que os homens são semelhantes, dada sua natureza,
e que, por isso, nenhum pode triunfar totalmente sobre o outro. No entanto, ele também aponta
que os homens não conhecem uns aos outros, fazendo com que suponham a ação dos outros
homens.
Dessas suposições recíprocas, decorre que geralmente o mais razoável para cada um é atacar o
outro, ou para vencê-lo, ou simplesmente para evitar um ataque possível: assim a guerra se
generaliza entre os homens. Por isso, se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a
guerra contra os outros é a atitude mais racional que eu posso adotar (Ribeiro, 2001, p. 55).
Ao entender que no estado de natureza, sem a presença da sociedade política formada pelo
Estado, os homens lutam uns contra os outros, Hobbes indica que o estado de natureza é um
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
estado de guerra. No entanto, o con�ito entre os homens não é sem fundamento. Segundo o
pensador, as causas principais da luta entre os homens são três: 
primeiro, a competição; segundo, a descon�ança; e terceiro, a glória (Ribeiro, 2001, p. 56). 
A guerra entre os homens, assim, é feita: pelo lucro, pela segurança, e pela reputação, buscando
seu direito à natureza.
O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam jus naturale, é a liberdade que cada
homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua
própria natureza, ou seja, de sua vida, e consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio
julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse �m [...] (Hobbes, 1988, p. 78).
Para garantir seu direito de natureza, o homem vive em estado de guerra, lutando por sua honra,
segurança e vida. O estado de natureza é, então, estado de guerra.
Hobbes, no entanto, alerta que um dos preceitos da razão é a busca constante da paz, podendo o
homem usar as vantagens da guerra para alcançá-la. Esta busca é a primeira e fundamental lei
da natureza, sendo, a segunda, o direito da natureza, a defesa de nós mesmos. O con�ito
existente entre a busca da paz e a defesa da vida conduz os homens a renunciarem ao seu
direito de natureza, em especial, à defesa de sua segurança e honra. Essa renúncia só pode ser
realizada mediante um pacto, do qual surge o Estado, o qual deve ser:
[...] dotado de espada, armado, para forçar os homens ao respeito (Ribeiro, 2001, p. 61). 
O Estado surge de um pacto entre os homens e o poder que dele emana; é soberano.
Dessa forma, para Hobbes, os homens criam o Estado. Mediante um contrato entre os homens,
eles conferem sua força a um homem ou a uma assembleia de homens, que reduz todas as
vontades a uma só, a dos homens reunidos sob a autoridade do Estado. Os homens transferem a
esse homem ou a essa assembleia de homens o direito de governar e de garantir seu direito
natural, assim como o autorizam a utilizar todas suas ações e estratégias. Quem exerce o poder
do Estado é chamado de soberano e tem poder soberano, sendo os homens que renunciam ao
seu direito de garantir sua segurança e honra em favor do Estado, súditos do soberano.
Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros,
foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos,
da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum (Hobbes, 1998,
p. 106).
Ao mesmo tempo em que nasce o Estado, nasce a sociedade, visto que o contrato �rmado entre
os homens é de associação (que funda a sociedade) e de submissão (que funda o Estado). O
Estado – a sociedade política – é regida pelo soberano, cujo poder foi atribuído pelos homens –
a sociedade civil – a partir da renúncia de seu poder. Assim, é possível dizer que em Hobbes,
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
com o Estado nasce a sociedade, pois ela é o fundamento da soberania, fundamentada no poder
de defender a vida e a honra dessa sociedade.
Essa renúncia que os homens fazem da garantia dos seus direitos em favor dosoberano nos
leva a questionar: como �cam os valores de igualdade e liberdade no Estado descrito por
Hobbes? Conforme o autor apresenta, a igualdade leva a guerra de todos contra todos, pois
sendo os homens iguais, eles querem a mesma coisa, o que gera a competição. E a liberdade?
Esta, para Hobbes, é limitada, pois ao delegar ao Estado sua proteção, o homem perde seu direito
de natureza e também sua liberdade. Sua liberdade está assentada em fazer jus à sua igualdade.
Quando o homem delega ao Estado proteger a vida e garantir a igualdade, delega também sua
liberdade. O homem só adquirirá novamente esta quando o soberano não conseguir proteger a
vida do homem, fator pelo qual este obedece ao soberano. Nesse momento, 
desapareceu a razão que levava o súdito a obedecer. Esta é a "verdadeira liberdade do súdito”
(Ribeiro, 2001, p. 68).
A capa de O Leviatã, retrata o Estado em um corpo. A cabeça é o soberano, armado para defesa
dos homens, que formam o corpo do Estado, a sociedade civil.
Siga em Frente...
John Locke
Outro importante pensador desse período foi John Locke. Para Locke, diferente de Hobbes, os
homens renunciam sua liberdade em favor do Estado para que ele garanta sua segurança; eles
vivem em liberdade e igualdade no estado de natureza, que é um estado de harmonia (Mello,
2001). John Locke foi um �lósofo inglês que viveu entre 1632 e 1704, e em sua obra Segundo
Tratado do Governo Civil, de�niu que o Estado surge sob o contrato social para garantir aos
homens o usufruto dos seus direitos naturais, a saber, a propriedade da vida, da liberdade e dos
bens.
Para Thomas Hobbes, a propriedade surge com o Estado, que controla o acesso e o uso da
propriedade. Para John Locke, a propriedade surge antes do Estado, 
sendo uma instituição anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que não pode ser
violado pelo Estado (Mello, 2001, p. 85).
Para Locke, os homens eram livres e tinham a propriedade de si e do seu trabalho. Ao trabalhar
na terra, que fora dada por Deus a todos os homens, eles incorporam seu trabalho à terra,
tornando-a sua propriedade – propriedade privada – obtendo sobre ela direitos próprios. Dessa
forma, o trabalho é fundamento da propriedade privada.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Quanto mais o homem trabalha na terra, mais ele acumula propriedades. Com o desenvolvimento
dos mercados, cuja base é a troca, a propriedade – que é daquele que nela trabalha – pode
também ser trocada. Com o desenvolvimento do capitalismo e da moeda como base da troca, o
homem pode acumular riquezas e comprar propriedades, o que conduz a passagem da
propriedade baseada no trabalho à propriedade fundada na acumulação possibilitada pelo
advento do dinheiro.
Diante disso, a paz e a liberdade que existem no estado de natureza de John Locke �cam
ameaçadas – a ameaça à violação da propriedade (da vida, da liberdade e dos bens) que:
na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de força coercitiva para impor a execução das
sentenças [...], acaba por colocar [...] os indivíduos singulares em estado de guerra uns contra os
outros (Mello, 2001, p. 86).
O contrato social surge da necessidade de livrar-se desses “inconvenientes”, constituindo, assim,
a sociedade política e civil, cujo objetivo é preservar a propriedade e proteger a comunidade. Para
Locke, o contrato social é um pacto de consentimento, os homens concordam livremente em
formar a sociedade política e a sociedade civil:
para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam originalmente no estado de
natureza (Mello, 2001, p. 86).
Dessa forma, forma-se o que Locke chama de Estado Civil, no qual o contrato originário,
estabelecido pelo consentimento do conjunto dos homens, dá lugar ao princípio da maioria, e é
estipulada uma forma de governo. As formas de governo podem ser a monarquia (governo de
um), a oligarquia (governo de poucos) ou a democracia (governo de muitos). Por �m, são
estabelecidos os poderes: o poder legislativo, considerado por Locke o poder supremo; o
executivo, exercido pelo príncipe; e o federativo, que pode também ser exercido pelo príncipe e
tem por objetivo cuidar das relações exteriores do Estado. Todos esses fatores devem estar a
favor da proteção da propriedade.
Jean-Jacques Rousseau
Por �m, temos Jean-Jacques Rousseau. Filósofo e teórico político suíço, Rousseau viveu entre
1712 e 1778 e escreveu uma das obras mais importantes desse período, O Contrato Social. Sua
obra inicia com uma crítica à teoria do Estado de Locke. Rousseau diz que o Estado, para Locke,
garante aos sujeitos a prevalência dos direitos naturais, em especial, a liberdade e a propriedade,
no entanto, produz a desigualdade.
Tal foi ou deveu ser a origem da sociedade e das leis, que deram novos entraves ao fraco e novas
forças ao rico, destruíram irremediavelmente a liberdade natural, �xaram para sempre a lei da
propriedade e da desigualdade, �zeram de uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para
proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram doravante todo o gênero humano ao trabalho, à
servidão e à miséria (Nascimento 2001, p. 195).
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Em O Contrato Social, Rousseau propõe apresentar quais são “as condições de possibilidade de
um pacto legítimo, através do qual os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural,
ganhem, em troca, a liberdade civil” (Nascimento, 2001, p. 195-196).
Nesse pacto, todos são iguais, pois cada membro do pacto renuncia ou aliena-se de seus direitos
em função da comunidade. O povo é soberano, pois ele é igualitário, realizando-se, assim, a
liberdade civil, pois o povo é o agente que elabora as leis, às quais ele mesmo se submete. 
Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo é um ato de liberdade (Nascimento, 2001, p. 196). 
Dessa maneira, submete-se à vontade geral e não à vontade de um indivíduo ou um grupo de
indivíduos em particular. Essa é a condição primeira de legitimidade da vida política: a fundação
por meio do pacto legítimo feito pelos homens em condição de igualdade e com alienação total.
A sociedade civil – corpo soberano do Estado que nasce do pacto social – busca garantir a
legitimidade do Estado. Para que essa legitimidade permaneça e se fortaleça, é instituído o
governo, o corpo administrativo do Estado, que deve buscar garantir a vontade geral do povo
soberano.
Para Rousseau, antes de mais nada, impõe-se de�nir o governo, o corpo administrativo do
Estado, como funcionário do soberano, como um órgão limitado pelo poder do povo e não como
um corpo autônomo ou então como o próprio poder máximo, confundindo-se neste caso com o
soberano (Nascimento, 2001, p. 197).
A representação aparece como a forma necessária para que o governo funcione. No entanto,
para que a representação não se sobreponha ao exercício da vontade geral, deve-se tomar
cuidado e agir em constante vigilância, buscando a troca dos representantes com o tempo.
Rousseau fecha a tríade dos contratualistas, fortalecendo a importância do contrato social para
a garantia dos direitos naturais. Para o pensador, os principais direitos são a igualdade e a
liberdade, já para Hobbes é a vida e, para Locke, a propriedade dos bens e da vida. Cada autor,
em sua época e a seu modo, reforça a importância do Estado para a garantia dos direitos e a
construção da sociedade civil, como responsável por acompanhar e �scalizar o Estado. Em
Rousseau isso é mais forte, pois a sociedade política é a alienação de todos os homens em favor
da comunidade, e a representação política deve garantir a igualdade de todos.
Como você viu, a sociedade civil é importante para os contratualistas. A formação do Estado ou
da sociedade política implica a constituição da sociedade civil, formada pelos homens. Em Locke
e em Rousseau, a sociedade civil tem poder de �scalizar o governante, garantindo que os
princípios do contrato social sejam cumpridos. Em Hobbes, a sociedade civil é constituída de
comum acordo, no entanto, o governante é soberano e não tem seu poder limitado pela
sociedade civil.
Vamos Exercitar?
DisciplinaCIÊNCIA POLÍTICA
Compreendido o que são os direitos naturais para os contratualistas, o papel do Estado em sua
garantia e do contrato social em sua sustentação, temos elementos para o entendimento de que
o Estado surge para defender os direitos naturais dos homens, que podem ser a vida ou a
propriedade. Para alguns autores, o Estado surge também para garantir a liberdade dos homens.
Em todos os autores, os homens que compõem a sociedade delegam ao Estado o poder de
defender e garantir seus direitos naturais. Se a propriedade privada é um direito natural, como
você viu em Locke, cabe ao Estado defendê-la. Assim, quando algum ente privado – que pode ser
uma empresa ou um homem – sente-se prejudicado por outro ente privado, ele pode recorrer ao
Estado para que intervenha e estabeleça os critérios para a resolução do problema existente
entre os entes. Essa compreensão sustenta inclusive vertentes do direito e das constituições
modernas. 
Saiba mais
Os pensadores contratualistas são estudados até hoje pela importância da análise do Estado e
do poder. O poder do contrato só pode ser visto nas teorias cada um ao seu tempo, até porque
não é possível transportar as condições objetivas do período em que escreveram cada qual a sua
obra e teoria. Aprofunde seus conhecimentos com uma leitura interessante a respeito dos
contratualistas nos Capítulos 3 e 4 do trabalho indicado a seguir.
STANGUE, F. Tópicos de Filoso�a moderna. Curitiba: Intersaberes, 2017. 
Referências
HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Nova Cultura, 1998.
LOCKE, J. Carta sobre a tolerância. Petrópolis: Vozes, 2019.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos. Petrópolis: Vozes, 2019.
MELLO, L. I. A. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, F. Os clássicos da política. São
Paulo: Ática, 2001.
NASCIMENTO, M. M. Rousseau: da servidão à liberdade. In: WEFFORT, F. Os clássicos da política.
São Paulo: Ática, 2001.
RIBEIRO, R. J. Hobbes: medo e esperança. In: WEFFORT, F. Os clássicos da política. São Paulo:
Ática, 2001. 
ROUSSEAU, J.-J. O contrato social. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
SCHIERA, P. Estado Moderno. In: BOBBIO, N.; MATEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política.
11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
STANGUE, F. Tópicos de Filoso�a moderna. Curitiba: Intersaberes, 2017.
Aula 3
Do Estado Moderno ao Contemporâneo
Do Estado Moderno ao Contemporâneo
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Ponto de Partida
“O Estado sou eu!” Uma frase atribuída ao rei Luís XIV, também chamado de “Rei Sol”, que
metaforicamente diz daquele que impõe ordem e regularidade e propicia a vida de tudo e de
todos. Seu bisneto e sucessor, Luís XV, teria dito em um pronunciamento em 3 de março de 1766
a seguinte frase: “É exclusivamente na minha pessoa que reside o poder soberano, cujo caráter
próprio é o espírito de conselho, de justiça e de razão”.
Caso isso tivesse sido dito por algum candidato à presidência do Brasil no horário gratuito de
propaganda eleitoral, um momento em que as rádios e as TVs reproduzem as campanhas
eleitorais, como você teria reagido? Será que encararia com normalidade que uma única pessoa
se sinta capacitada a concentrar toda a autoridade e soberania de um agrupamento político
como uma nação? Como será que ocorreu a consolidação de um poder tão grande nas mãos de
uma só pessoa?
Nesta aula vamos conversar e aprofundar os conteúdos de formação e consolidação da primeira
forma de Estado moderno e seu declínio para o mundo contemporâneo, a partir do papel que as
revoluções políticas na Europa consolidaram para a nossa realidade. 
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Vamos Começar!
O absolutismo
No escopo da fragmentação ocorrida já por volta do século XIII, situaremos outra forma
especí�ca de exercício do poder: o absolutismo. E se a um lado seu término é consensualmente
localizado na inauguração da Revolução Francesa, seu início não pode ser atribuído a um evento
único ou tão bem situado na história, restando a compreensão de que teria emergido na
transição do sistema feudal para o Estado moderno, em que já se podia experimentar o
desenvolvimento de monarquias com nuances nacionalistas.
Essa não �xação perpassa não apenas a origem do absolutismo, mas também a sua própria
ocorrência histórica, haja vista a intensa heterogeneidade de suas experiências políticas. Assim,
a especi�cidade do absolutismo como uma forma de organização do poder deve ser veri�cada
no plano histórico e:
os parâmetros classi�catórios mais óbvios e rentáveis parecem ser os que estão ligados ao
espaço cultural do Ocidente europeu, no período histórico da Idade Moderna e na forma
institucional do Estado moderno (Schiera, 2004, p. 1).
Se não podemos empreender uma excessiva identi�cação do absolutismo, o que podemos dizer
dele? Qual é sua importância do ponto de vista do entendimento da organização do poder e do
desenvolvimento do Estado?
Orientado por esses questionamentos, Schiera (2004) desenvolve um argumento de cunho
descritivo e outro que busca compreender os princípios fundamentais do absolutismo:
Do ponto de vista descritivo, podemos partir da de�nição de Absolutismo como aquela forma de
Governo em que o detentor do poder exerce este último, sem dependência ou controle de outros
poderes, superiores ou inferiores (Schiera, 2004, p. 2).
Nesse sentido, o príncipe não encontraria limites para o exercício de seu poder,seja dentro ou
fora do Estado que estava emergindo.
Já em relação aos princípios fundamentais, Schiera (2004) destaca o processo de secularização
e racionalização da política e do poder. Esse processo marca a perda da capacidade da Igreja
Católica Romana de se colocar como instituição política universal, fazendo com que as bases do
exercício do poder na Terra se desprendam do poder divino e se fundamentem cada vez mais na
razão. Assim:
O Absolutismo signi�ca, também e sobretudo, a separação da política da teologia e a conquista
da autonomia daquela, dentro de esquemas de compreensão e de critérios de juízos,
independentemente de qualquer avaliação religiosa ou moral (Schiera, 2004, p. 2).
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Na esteira do enfrentamento à detenção unilateral de poder por parte da Igreja Católica,
podemos destacar outras transformações próprias da passagem da Idade Média para os tempos
modernos, tal como descritas por Châtelet, Duhamel e Pisier (2009, p. 35). São elas:
1. Desenvolvimento da civilização urbana, comercial e manufatureira. Resultando em novos tipos
de sociabilidade e de mentalidade mais condizentes com a vida na cidade do que com a vida no
campo. 2. Introdução de novas formas de compreensão do mundo físico, seja pelas descobertas
de Copérnico e Galileu, seja pela descoberta do Novo Mundo pelas grandes navegações. 3.
Resgate em novos moldes da cultura vinda da Antiguidade greco-romana e o seu apreço pela
natureza e pelas indagações políticas.
Dessa forma, a intensa fragmentação, própria das relações feudais, o processo de urbanização, o
desenvolvimento do capitalismo mercantil, as mudanças de paradigma advindas da descoberta
de novos povos e culturas e de novas formas de pensar possibilitaram a desestruturação social e
política do sistema feudal e a paulatina estruturação de novos padrões de sociabilidade e formas
de organização – é o período de formação dos Estados nacionais.
Toda essa complexidade não pode deixar de ser vista à luz das disputas políticas que emergiam
entre a burguesia, um grupo social oriundodas atividades comerciais típicas dos feudos, e os
monarcas feudais, pois se a esses últimos a descentralização vinha a favorecer a manutenção
de domínios materiais e simbólicos, para os burgueses a descentralização obstaculizava o
comércio por eles empreendido. E ainda que não detalhemos as complexas relações
estabelecidas ao longo principalmente da Idade Moderna (1453-1789) entre a burguesia e os
monarcas absolutistas que tinham a princípio um objetivo em comum – a centralização do poder
–, cabe destacar que a Revolução Francesa foi uma revolução burguesa contra o antigo regime.
Siga em Frente...
O Iluminismo
O Iluminismo foi um movimento e uma forma de pensar que tem seu início como resultante da
revolução cientí�ca do �nal do século XVII, e que coloca em forma de questionamento as
concepções de homem e de vida até então predominantes na Europa. A compreensão humana e
da sociedade só poderia ser encontrada a partir da ciência e da razão, da observação e da
dedução.
John Locke, contratualista e empirista, já tinha deduções neste sentido, pensando o
comportamento político a partir do social. Para ele,
as ideias não eram produto de uma percepção especial ou da inspiração divina. Eram induzidas
pela capacidade do homem de processar a informação que recebia através dos sentidos
(Outhwaite; Bottomore, 1996, p. 375).
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
No século XVIII o Iluminismo �cou mais pronunciado. Os pensadores, de maneira geral, com a
expansão do conhecimento, a�rmarão que 
o que não se podia observar cienti�camente só poderia ser objeto de especulação e conjectura
(Outhwaite; Bottomore, 1996, p. 375). 
O que fez com que esse século �casse conhecido como a “era das luzes”, uma alusão ao
conhecimento em contraposição à Idade Média.
Na dimensão econômica, os vetores liberais e do liberalismo em John Locke foram
potencializados por Adam Smith e a sua economia política, que fazia a junção de leis gerais da
economia como queriam os �siocratas, combatendo frente a frente as políticas mercantilistas
dos Estados absolutos. O contraste era evidente, em um mundo em transformação acelerada,
em que as classes sociais também se modi�cavam.
No decorrer do século XVIII houve um salto quântico na relação entre humanidade e
ecossistema: foi o ponto em que começamos a deixar de ser passivos em relação à natureza.
Numa era de relativa abundância devido à expansão colonial europeia, o aumento da população
e, consequentemente, dos meios de produção, e do sistema comercial e bancário, e mesmo o
surgimento dos grandes exércitos regulares ao estilo moderno, surge a divisão do trabalho como
resposta à complexidade e mecanização industrial e militar. Convergiu de maneira importante
com o começo da mecanização da indústria a física newtoniana, que inaugurou o fundamento
teórico da técnica moderna e do motor a vapor (Smith, 2017, p. 3).
Na política, o avanço cientí�co que o Iluminismo colocou estende-se às concepções da ciência
política e do realismo político colocado por Maquiavel, considerando o campo teórico cientí�co
dos avanços da ciência e do liberalismo, assim como as formas e tipos de governo. 
O tipo de governo mais adequado a um Estado em particular era determinado por seu tamanho,
estrutura econômica e situação geográ�ca (Outhwaite; Bottomore, 1996, p. 376).
Podemos observar que obras importantes da �loso�a política moderna forma concebidas no
século XVIII, tendo como autores políticos extraordinários como Kant e Burke, Rousseau e Hume.
O espírito das leis de Montesquieu é uma delas.
Era também explícito o propósito de educar indiretamente o povo educando os seus educadores,
o que vale por dizer os legisladores. À guisa de conclusão fundamental, Montesquieu admitiu
que escrevera esta obra apenas com o único intuito de educar o educador por excelência. Era
esse o propósito último da ciência política que Montesquieu apresentou (Morgado, 2018, p. 17).
Para a ciência política, o período iluminista deve ser visto pelos avanços e recuos para o mundo
contemporâneo, uma vez que existia a crença das liberdades a partir do liberalismo e
providências universais. Fato é que esse movimento in�uenciou de maneira única os vetores das
revoluções políticas na Europa e a própria Revolução Francesa, principalmente no último quarto
do século XVIII.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
O iluminismo podia optar pelo domínio autocrático de um governo dedicado à implementação de
programas cientí�cos, o que se assumiu ser o caso, na Prússia, de Frederico II, ou por fazer com
que o poder político re�etisse as opiniões e crenças da população como um todo, ou pelo menos
dos proprietários de bens e terras, como se acredita ter acontecido na Grã-Bretanha (Outhwaite;
Bottomore, 1996, p. 376).
A Revolução Francesa
A Revolução Francesa talvez seja a mais conhecida das revoluções. Você já deve conhecer o
bordão “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que foi o lema da Revolução Francesa e é
constantemente citado em lutas políticas.
A França do século XVIII era um país social e economicamente desigual. Dividida em três
estados – clero, nobreza e povo –, a França da época era uma monarquia absolutista, com o rei
sendo soberano e absoluto no que concerne à política, à economia e à justiça, por exemplo. Ao
terceiro estado, o povo, cabia sustentar os demais, via impostos. O povo era formado pela
burguesia em suas diferentes frações, os camponeses e os chamados sans-culottes –
aprendizes de ofícios, trabalhadores assalariados e desempregados.
A formação da burguesia como classe social própria ao capitalismo coloca desa�os ao Estado,
que precisa incorporar os anseios das novas classes. No caso francês, a burguesia desejava ter
mais participação política e liberdade econômica. No entanto, o Estado absolutista não dava tal
liberdade, e ainda taxava o terceiro estado.
Em meio a uma crise econômica, o primeiro e o segundo estados tentaram aumentar os
impostos, garantindo as benesses da nobreza e do clero. Dessa maneira, convocaram a
Assembleia dos Estados Gerais para discutir o aumento dos impostos. Diante da crise, com alta
nos preços de produtos da agricultura e desemprego no setor urbano em função da concorrência
com os produtos ingleses, o povo não queria pagar pelos privilégios da nobreza e do clero.
Em maio de 1789, com o maior número de deputados que os outros dois estados juntos, o
terceiro estado, o povo, exigia que a votação fosse por voto individual, enquanto nobreza e clero
queriam que o voto fosse por ordem social. Esse impasse deveria ser resolvido por alteração na
Constituição, o que não foi aceito, levando o terceiro estado a sair da Assembleia dos Estados
Gerais.
Em 14 de julho de 1789, o povo invadiu e tomou a Bastilha, considerada um símbolo do poder
absoluto do rei. Em 26 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte, formada pelo
povo, proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, utilizada até hoje na luta
pelos direitos humanos, que entre outros pontos declara ser direito dos homens a liberdade e a
igualdade perante a lei, e a liberdade de pensamento e opinião.
No entanto, a revolução não parou por aí. Em 1791 foi proclamada a primeira Constituição do
período, que colocava �m aos privilégios do clero e da nobreza, separava efetivamente o Estado
da Igreja e criava os três poderes (executivo, legislativo e judiciário).
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
A Constituição teve reação do Rei Luís XVI, que reuniu esforços para reestabelecer a monarquia
absoluta. Mesmo com sua fuga e captura, a monarquia reagiu em 1792. A partir de contatos
feitos pelo rei, o exército austro-prussiano invadiu a França na tentativa de retomar o poder e
reestabelecer a monarquia absoluta. Além de ser derrotado, Luís XVI viu os revolucionários
franceses proclamarem a República.
Nessa fase da revolução, o povo já estava dividido em girondinos – alta burguesia – e jacobinos
– pequena e média burguesia e proletariado urbano. Quem governava era o líder jacobino
Robespierre. Durante seu governo uma nova Constituição foi promulgada,assegurando o direito
ao voto, ao trabalho e à rebelião. No entanto, Robespierre não agradava aos girondinos, os quais
o prenderam e o guilhotinaram em 1794.
Com a ascensão da alta burguesia ao poder, uma nova Constituição foi estabelecida, garantindo
o poder da burguesia e ampliando seus direitos políticos e econômicos. Ela determinava a
continuidade da República, que seria controlada pelo Diretório, composto por cinco membros. O
povo foi gradualmente afastado das decisões políticas.
Com prestígio, Napoleão Bonaparte passa a participar do governo com o objetivo de consolidar o
governo burguês. No entanto, em 1799, Napoleão Bonaparte, em um golpe, dissolveu o Diretório
e estabeleceu um novo governo chamado Consulado. O golpe de Bonaparte �cou conhecido
como 18 de Brumário e marcou o �m da Revolução Francesa. Entenderemos mais o
Bonapartismo adiante. 
Vamos Exercitar?
Vamos retomar a frase do rei Luís XIV “Eu sou o Estado” e de seu bisneto e sucessor, Luís XV, “É
exclusivamente na minha pessoa que reside o poder soberano, cujo caráter próprio é o espírito
de conselho, de justiça e de razão”. Você se lembra que introduzimos a partir desses dizeres a
questão da concentração da autoridade por uma única pessoa e em como nos sentiríamos
desconfortáveis atualmente se nos deparássemos com essa possibilidade? Tentaremos nos
colocar no lugar de um indivíduo que vivia no período de ocorrência das experiências
absolutistas, para perceber sua experiência. Morador de um dos muitos feudos existentes até
por volta do século XIII, essa pessoa começa a sentir os efeitos da fragmentação do poder,
especialmente pelo aumento de con�itos, inclusive armados, na sua vida cotidiana. Isso porque
com a fragmentação vieram também as disputas pelo poder. Dos vestígios desse
descontentamento surge uma nova estrutura política, na qual o rei se impõe como absoluto,
capaz de neutralizar esses con�itos e restaurar a paz a partir de uma base identitária comum e
de uma autoridade legítima, ou seja, a partir do Estado moderno.
As bases dessa forma de Estado formataram e constituíram uma primeira forma de Estado
moderno e que atualmente nos envolve.  
Saiba mais
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Conheça a história e a importância da Revolução Francesa e do Iluminismo para o nosso mundo
contemporâneo e a política moderna em um estudo disponível na sua Biblioteca Virtual.
GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2014.
Referências
CARVALHO, D. G. de. Revolução Francesa. São Paulo: Contexto, 2022.
CHÂTELET, F.; DUHAMEL, O.; PISIER, E. História das ideias políticas. São Paulo: Zahar, 2009.
GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2014.
MORGADO, M. Introdução. In: MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. Lisboa: Edições 70 Lda.,
2018.
OUTHWAITE, W.; BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1996.
SCHIERA, P. Verbete absolutismo. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (org.). Dicionário
de política. V. 2. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004.
SMITH, A. A riqueza das nações: uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das
nações. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
Aula 4
O Capitalismo e o Estado Moderno
O Capitalismo e o Estado Moderno
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Ponto de Partida
Como vimos na aula que tratou do contratualismo, o Estado se forma a partir do contrato social
estabelecido entre os homens, seja para garantir a vida, a liberdade ou a propriedade, e se torna
um ente presente entre os homens e regulamentador das atividades humanas. Isso não quer
dizer que ele independa dos homens. Na seção anterior, vimos que há a sociedade política e a
sociedade civil, e que esta, para alguns autores, pode ser atuante no processo de �scalização do
governo soberano. Vamos exempli�car e imaginar uma situação atual e hipotética em que o
direito à moradia é desrespeitado e isso impacta diretamente a política atual de habitação
brasileira.
Em uma área de ocupação na periferia de um grande centro urbano brasileiro vivem 20 famílias.
Essa área é considerada de propriedade do município, mas é proibida a construção de moradias
por causa da legislação ambiental – a área é popularmente conhecida como de “fundo de vale”.
Como e de que forma o Estado, por meio do poder público, pode administrar essa questão sem
ferir a garantia fundamental e constitucional da propriedade e da moradia digna?
Para entendermos esse ponto, precisamos compreender efetivamente a gênese das leis na
forma do Estado moderno e como chegamos até este ponto na história.
Seja bem-vindo! 
Vamos Começar!
A gênese das leis no mundo moderno e as revoluções inglesas
Em aula anterior, você observou, a partir da visão dos contratualistas, como surge o Estado.
Pensadores como Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau escreveram que o
Estado surge conforme os homens entendem que é preciso um ente maior para salvaguardar
seus direitos naturais, a saber, a vida (Thomas Hobbes), a propriedade (John Locke), a liberdade
e a igualdade (Jean-Jacques Rousseau). Esse ente, denominado Estado, é formado a partir do
pacto feito pelos homens, que delegam ao Estado a garantia dos seus direitos, os quais podem
ser feitos de diferentes formas e com ou sem a �scalização dos homens, denominados
sociedade civil.
No entanto, esses pensadores pouco se dedicaram a pensar o funcionamento do Estado, ou
melhor, não consideraram que esse ente evoluiria com o passar do tempo, assim como a
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
sociedade civil cresceria e exigiria do Estado novas formas de atuar. Apenas a divisão dos
poderes, como exposto por John Locke, não seria su�ciente. Outras formas de garantir ao Estado
a soberania, e à sociedade civil o poder de �scalização, serão necessárias.
A Constituição é uma delas. Sua de�nição varia desde um regulamento até um conjunto de leis
fundamentais elaborado por representantes do povo que regula as relações de representação –
governantes e governados –, determinando os limites entre os poderes – legislativo, executivo e
judiciário – e garantindo direitos individuais e coletivos (Constituição, [s. d.]).
Em que momento surgiu a Constituição e dela derivou toda uma tese que resultou na teoria do
Constitucionalismo? Para entendermos, precisamos voltar ainda mais no tempo. Na seção
passada, voltamos ao início da Idade Moderna para compreendermos a constituição do Estado
Moderno. A primeira experiência de Constituição é anterior a esse período, ainda na Idade Média.
Neste momento, viajaremos para a Inglaterra do século XIII. Em 1215, os nobres ingleses
promulgaram sua Magna Carta, com o objetivo de limitar os poderes do rei João sem Terra
(1199-1216), que disputou poder com o rei Felipe Augusto, da França, com o Papa Inocêncio III e
com os nobres ingleses. Não obteve êxito em suas disputas e, por isso, teve de assinar a Magna
Carta. Esse documento estabelecia, entre outros pontos, que o rei deveria respeitar os direitos
dos nobres e da Igreja e não poderia estipular novos impostos sem o consentimento dos seus
vassalos (Penna, 2013). Essa foi a primeira experiência da chamada Monarquia Constitucional,
colocando a monarquia, até então livre e sem limites para exercício do poder, sob as regras de
uma Constituição.
Alguns reis que vieram após João sem Terra tentaram ampliar os poderes do monarca, no
entanto, encontraram resistências de nobres e vassalos da Coroa. Paulatinamente, a nobreza
inglesaperdeu poder econômico e uma nova classe surgiu: a burguesia.
Os reinados posteriores, em especial, de Henrique VIII (1509-1547) e de Elizabeth I (1558-1603),
possibilitaram a ampliação do poder da burguesia. A fundação da Igreja Anglicana por Henrique
VIII, que retirou terras inglesas do clero católico, e a ampliação das atividades mercantis por
Elizabeth I agradaram a burguesia, que se sentia em terreno favorável para ampliar seu poder
econômico.
Após a morte de Elizabeth I, em 1603, teve início a Dinastia Stuart, com Jaime I (1603- 1625), que
trouxe a limitação de terras aos camponeses. Após sua morte, assumiu Carlos I (1625-1649), que
ampliou os poderes da nobreza. Ambos apontaram para um sentido claramente contrário ao
traçado pelos Tudor, de abertura da economia a burgueses e a camponeses, o que representou
uma ameaça aos interesses comerciais dessas camadas da população.
Diante desse cenário, o que seria inimaginável em tempos atuais aconteceu na Inglaterra de
meados do século XVII. Burgueses e camponeses uniram-se contra o poder real. A guerra civil,
liderada por Oliver Cromwell, colocou os partidários da nobreza sob um novo governo, o Governo
Cromwell, que estimulou o desenvolvimento dos negócios da burguesia.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
A morte de Cromwell resultou na restauração da dinastia Stuart, com Jaime II. No entanto,
Guilherme de Orange, genro de Jaime II, aliou-se à burguesia e juntos de�agraram a Revolução
Gloriosa. A derrota da nobreza levou Guilherme de Orange ao poder, mas agora em pacto com a
burguesia. A Declaração dos Direitos ou Bill of Rights foi assinada em 1689, limitando os poderes
do rei e ampliando os do Parlamento.
A partir desse momento, cabia ao parlamento a aprovação de tributos, a manutenção de um
exército permanente, a garantia do exercício da Justiça pública entre outras medidas. A Bill of
Rights foi a primeira declaração dos direitos do cidadão, enterrando de�nitivamente o
absolutismo monárquico na Inglaterra (Penna, 2013, p. 159-160).
A Bill of Rights pode ser considerada uma das primeiras constituições do período moderno e
marca a transição do feudalismo para o capitalismo, fortalecendo a burguesia com uma
legislação comercial e administrativa.
Além da Revolução Gloriosa, outras revoluções ocorridas na Europa e na América foram
importantes para consolidar o Estado e o poder da nascente burguesia.
Siga em Frente...
A Revolução Americana e o capitalismo
Vários ingleses migraram para a América após a Revolução Gloriosa, instalando-se onde
atualmente estão o Canadá e os Estados Unidos da América. Vivendo como ingleses em terras
americanas, os imigrantes iniciaram um processo de colonização, fundaram 13 colônias e
gozavam de relativa liberdade econômica e autonomia política.
A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) mudou esse quadro, com o con�ito entre colonos, indígenas
americanos, franceses, ingleses e outros europeus. Os colonos permaneceram ao lado dos
índios, o que gerou mal-estar entre colônia e metrópole, resultando no cerceamento das
fronteiras aos colonos e na imposição de uma série de impostos, como a Lei do Açúcar (1765).
Em resposta às ações da metrópole, os colonos se reuniram em dois congressos continentais.
No primeiro Congresso, realizado em 1774, foi decidido que as 13 colônias ali representadas
realizariam boicote total ao comércio inglês até a revogação dos impostos. Em 1775, a Inglaterra
reagiu ao boicote com con�itos armados, originando a Guerra de Independência e o segundo
Congresso, que resultou em rompimento das colônias com a Inglaterra e a formação do Exército
Continental, sob a liderança de George Washington.
Em 4 de julho de 1776, foi assinada a Declaração de Independência dos Estados Unidos da
América, por nomes como Thomas Jefferson e Benjamin Franklin. A Guerra persistiu até 1783,
quando foi assinado o Tratado de Paris, no qual a Inglaterra reconheceu a independência dos
Estados Unidos e selou a paz entre os países (Hobsbawn, 2007).
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CIÊNCIA POLÍTICA
Para marcar esse novo período da história dos Estados Unidos, agora como país independente,
foi elaborada sua primeira e única Constituição. A Constituição norte-americana foi discutida e
aprovada em uma convenção realizada na Filadél�a, em 1787. Considerada até hoje a Carta
Magna dos Estados Unidos da América, a Constituição norte-americana tem sete artigos e vinte
e sete emendas, nos quais estipula a divisão de poderes – executivo, legislativo e judiciário – e
de�ne os Estados Unidos da América como um país federalista, estabelecendo nos artigos de
sua Constituição os direitos e as responsabilidades dos estados federados perante o Governo
Federal.
O federalismo pode ser de�nido como “uma forma de organização de Estado em que os entes
federados são dotados de autonomia administrativa, política, tributária e �nanceira necessárias
para manter o equilíbrio que se estabelece entre eles para a constituição do Estado Federal”
(Xavier; Xavier, 2014, [s. p.]). O que mantém o Estado Federal é o pacto federativo, pelo qual os
entes federados, em comum acordo, se submetem ao poder central (o Estado Federal) e perdem
algumas autonomias, como da política externa e da moeda, ou seja, por mais que os entes
federados tenham autonomia em diversas esferas, há algumas atribuições que são do Estado
Federal.
No caso dos Estados Unidos da América, a Constituição Federal expressa as atribuições do
federalismo, sendo considerado o primeiro pacto federativo “[...] e, ao mesmo tempo, a
experiência constitucional mais importante” (Levi, 1998, p. 480). O poder do povo – expresso na
Constituição, que inicia com “Nós, o Povo” – foi fundamental para o sucesso da Revolução
Americana e para fortalecer o federalismo e o constitucionalismo.
Liberalismo e capitalismo no mundo contemporâneo
Uma observação curiosa acerca da narrativa histórica é que no mesmo ano da Independência
dos Estados Unidos da América, Adam Smith publica sua principal obra de economia política: A
riqueza das nações. Esse fato poderia �car na curiosidade se os séculos não revelassem a
“superpotência” capitalista que os Estados Unidos da América consolidariam, na mesma direção
dos pressupostos do liberalismo e do iluminismo como adubo político, �losó�co, ideal e
econômico – claro que à maneira própria, para além dos países europeus.
Com a independência dos Estados Unidos, ocorrem uma série de lutas e revoluções pela
independência das colônias na América Latina, que na passagem para o século XIX encontra nos
ideais revolucionários suas bandeiras, o federalismo e a própria construção de vetores
constitucionais que se formaiam a partir da “nova” forma de poder e Estado na
contemporaneidade.
A independência dos Estados Unidos, porém, tem um signi�cado mais amplo do que aquele que
representa para a própria sociedade daquele gigante norte-americano. Em primeiro lugar, porque
representou um exemplo prático da brecha aberta por John Locke ao sugerir que os indivíduos
poderiam se rebelar contra a injustiça e a tirania mediante o “apelo aos céus”. Em segundo lugar,
porque foi um caso pioneiro de uma comunidade política inteira constituída fazendo referência
às teorias de representação e liberdade alimentadas pelos �lósofos iluministas; como tal, é um
capítulo ímpar da história do liberalismo. O exemplo norte-americano de 1776 inspiraria as
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
independências de outras colônias dos países europeus, especialmente na América Latina, que
somariam o impacto da literatura iluminista ao sucesso concreto dos Patriotas norte-americanos
– como �caram conhecidos os defensores da Independência, por oposição aos Lealistas, �éis à
Coroa britânica (Berlanza, 2023, p. 81).
O capitalismo da era industrial começa de maneira avassaladora a sua incursão no século XIX, e
os fatores do quebra-cabeça se unem a partir da Revolução Industrial. A formação das classes
sociais e o modo de produção capitalista com o trabalho assalariado livre, con�guram uma etapa
importante de consolidação do capitalismo, que tem guaridana nova forma de Estado liberal. O
liberalismo e as lutas políticas do século XIX entram em nova fase, apesar dos rescaldos do
antigo regime que sempre se �zeram presentes nos privilégios estamentais.
Uma observação panorâmica da história da tradição liberal indica que o liberalismo como o
conhecemos foi gestado em alguns centros bastante particulares, notoriamente o Reino Unido, a
França, os Estados Unidos e a Alemanha. Esses quatro países contribuíram, especialmente entre
os séculos XVII e XIX, com suas principais fontes teóricas. As vertentes liberais neles
desenvolvidas se manifestaram, de diferentes formas, em outros países europeus, em algumas
outras ex-colônias britânicas e nos demais países do continente americano, neste último caso
in�uenciando a erupção de processos de independência desses países em relação às
respectivas metrópoles (Berlanza, 2023, p. 321).
Da junção dos vetores econômicos e políticos transformados ao longo dos processos
revolucionários mais conhecidos na história, podemos também constatar que o Estado, após as
revoluções que marcam o mundo moderno para o contemporâneo, transforma-se com as
características liberais centradas nos vetores legalistas e da cidadania moderna, de maneira
geral. Cabe a nós estudarmos mais a fundo esses aspectos, dado que o faremos no decorrer das
aulas. É o nosso desa�o! 
Vamos Exercitar?
Ao longo desta aula, você conheceu melhor as revoluções burguesas e a importância que elas
tiveram para sedimentar a Constituição como documento que regulamenta a vida dos homens e
impõe limite à atuação dos governantes. Você também viu que o federalismo pode ser uma
forma de organização do Estado, e que a Constituição é que deve estabelecer os critérios e a
autonomia de um Estado Federal. Por isso, na situação hipotética que desenvolvemos, o
problema da moradia e da garantia de propriedade se choca com fatores de uma economia
capitalista. O Brasil é um país federativo – organizado em União, Estados e municípios, cada um
dos entes federados tem responsabilidades, autonomia e limites nas relações entre si. Como um
país federativo, algumas políticas públicas são descentralizadas, ou seja, têm origem na União,
mas são geridas por Estados e municípios, de forma autônoma. Essa descentralização é
garantida pela Constituição Federal de 1988, que deve mediar e ser o instrumento que busca
igualdade mesmo no interior da dinâmica de uma sociedade capitalista e suas desigualdades. 
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Saiba mais
Estado e liberalismo. Essa é uma relação que precisa �car muito nítida para estudo, pois toda a
fundamentação de compreensão do Estado no mundo contemporâneo depende disso. Então,
vamos estudar especi�camente, com argumentos históricos, essa narrativa? Faça o estudo e a
leitura da obra.
BERLANZA, L. O Papel do Estado Segundo os Diversos Liberalismos. São Paulo: Edições 70,
2023. 
Referências
BERLANZA, L. O Papel do Estado Segundo os Diversos Liberalismos. São Paulo: Edições 70,
2023.
COELHO, M. D. Federalismo: introdução ao estudo dos seus princípios. [S. l.]: Del Rey, 2023.
CONSTITUIÇÃO. In: HOUAISS Uol. [S. l.]: [s. d.]. Disponível em:
https://houaiss.uol.com.br/corporativo/apps/uol_www/v6-1/html/index.php#1. Acesso em: 30
dez. 2023.
GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2014.
HOBSBAWM, E. A era das revoluções. 21. ed. Lisboa: Presença, 2007.
LEVI, L. Federalismo. In: BOBBIO, N.; MATEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 11. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.
MANN, M. As fontes do poder social: o surgimento das classes e dos estados-nações, 1760-
1914. São Paulo: Vozes, 2022.
PENNA, M. C. V. M. Constitucionalismo: origem e evolução histórica. Revista Brasileira de Direito
Constitucional, n. 21, p. 149-178, jan./jun. 2013.Disponível em:
http://esdc.com.br/seer/index.php/rbdc/article/view/15. Acesso em: 30 dez. 2023.
XAVIER, G. C.; XAVIER, C. C. O Federalismo: conceito e características. Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XVII, n. 129, out. 2014. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15286. Acesso em: 30 dez. 2023. 
Aula 5
Encerramento da Unidade
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CIÊNCIA POLÍTICA
Videoaula de Encerramento
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Ponto de Chegada
Olá, estudante!
Para desenvolver a competência desta unidade, que é a de analisar a importância da formação
do Estado Moderno no cenário da Europa Ocidental e a partir destes feitos, buscar comparar e
diferenciar os processos e as profundas transformações sócio-históricas que contribuíram para
a organização do Estado no capitalismo, você deverá primeiramente conhecer os elementos
históricos de sua caracterização, os pensadores que a ciência política estuda e os principais
elementos que estabelecem relação com o Estado na sua forma mais contemporânea.
Com esse caminho, é possível enriquecer o nosso campo de estudos em ciência política, a partir
da gênese do Estado moderno até a formação do capitalismo na sua forma industrial. O que
temos de ter como elemento fundamental na concepção dessa forma de Estado que nos circula?
Historicamente, a centralização do poder e da força das armas e da violência, como destaca Max
Weber (2001), que
só se pode de�nir o Estado moderno, sociologicamente, em última instância, por um meio que
lhe é próprio, assim como a toda associação política: a violência física.
Assim como uma formação própria, a partir do feudalismo de tipo europeu.
O Estado seria, assim, uma “relação de dominação de homens sobre homens” relação esta que
estaria apoiada no monopólio dos meios de coação legítima. A questão da legitimidade torna-se
fundamental, já que apenas ela seria a garantia última da subsistência de uma associação
política. A força e a violência são essenciais na vida política, segundo Weber. Essa a�rmação da
força e da violência como categorias irredutíveis e autônomas da política aproximou sociólogo
alemão de Nicolau Maquiavel (Bianchi, 2014, p. 100).
https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2Enc_Cie_Pol_Liberado.pdf
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CIÊNCIA POLÍTICA
Também destaca o campo teórico do materialismo histórico e dialético, quando analisa a origem
do Estado:
Como o Estado nasceu da necessidade de conter o antagonismo das classes, e como, ao
mesmo tempo, nasceu em meio ao con�ito delas, é, por regra geral, o Estado da classe mais
poderosa, da classe economicamente dominante, classe que, por intermédio dele, se converte
também em classe politicamente dominante e adquire novos meios para a repressão e
exploração da classe oprimida. Assim, o Estado antigo foi, sobretudo, o Estado dos senhores de
escravos para manter os escravos subjugados; o Estado feudal foi o órgão de que se valeu a
nobreza para manter a sujeição dos servos e camponeses dependentes; e o moderno Estado
representativo é o instrumento de que se serve o capital para explorar o trabalho assalariado.
Entretanto, por exceção há períodos em que as lutas de classes se equilibram de tal modo que o
Poder do Estado, como mediador aparente, adquire certa independência momentânea em face
das classes. Nesta situação, achava-se a monarquia absoluta dos séculos XVII e XVIII, que
controlava a balança entre a nobreza e os cidadãos [...] (Engels, 1984, p. 177).
Em relação a essa forma moderna de Estado que foi sendo construída a partir do declínio do
modo de produção feudal europeu e que genericamente reuniu as condições para o processo
capitalista que se formaria a partir dali, podemosmencionar o século XVI como uma espécie de
início de um processo de concentração do poder político legalista, que só pôde ter se construído
a partir do núcleo duro da concepção de Estado como observamos.
Com o colapso medieval, surge o Renascimento, que antecede a Idade Moderna. Nas cidades-
estados italianas surgem os primeiros Estados que apresentam os traços essenciais do que
convencionamos denominar hoje Estado moderno. O Renascimento é a expressão cultural de um
longo e complexo processo histórico, resultado de uma nova forma de interpretar a realidade
(Dias, 2013, p. 58).
A primeira forma do Estado Moderno que surge é o Estado absolutista, que pode ser de�nido 
como o monopólio da força que atua sobre três planos: jurídico, político, sociológico […]:
No plano jurídico, “com a a�rmação do conceito de soberania que con�a ao estado o monopólio
da produção de normas jurídicas, pois não existe um direito vigente acima do Estado que possa
limitar sua vontade” [...] No plano político, o Estado absolutista “tenta absorver toda a zona alheia
a seu poder de intervenção e controle, e impõe uniformidade legislativa e ad- ministrativa contra
toda forma de particularismo. [...] No plano sociológico, o Estado absolutista “se apresenta como
Estado administrativo, na medida em que o príncipe tem a sua disposição um instrumento
operacional novo, a moderna burocracia, que é uma máquina que atua de maneira racional e
e�ciente com uma nova �nalidade” (Dias, 2013, p. 63).
É nesse cenário que surgirão os contratualistas. Na existência desse acordo tácito e que paira
sobre a sociedade, na dimensão da preservação daqueles direitos que os “homens” naturalmente
têm e que a todos deve regular na existência de um poder exterior e maior.
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CIÊNCIA POLÍTICA
Com o avanço da era moderna, o processo de centralização do poder político caminha em meio
ao desenrolar de novas forças produtivas, que vão amadurecendo de um intenso período
comercial à expansão marítima das colônias. O século XVIII ao mesmo tempo que ilustra as
maiores monarquias absolutas, também é marcado pela contestação delas, pelo Iluminismo e as
revoluções políticas.
As Constituições modernas e a sujeição da monarquia ao arcabouço de leis próprias é uma
característica do mundo moderno, das revoluções políticas e burguesas na Europa. Elementos
como a Revolução Industrial, o liberalismo, a Revolução Inglesa, a Revolução Americana e a
Revolução Francesa são marcos de�nidores para o mundo contemporâneo que conhecemos.
A Revolução não começou como uma luta de classes, exceto pelo campesinato, mas se tornou
uma luta de classes, assim como se tornou uma luta nacional. As classes não eram puras, pois
também se de�niam por forças ideológicas, militares e políticas. A Revolução se tornou burguesa
e nacional menos a partir da lógica do desenvolvimento dos modos de produção, do feudal para
o capitalista, e sim pelo militarismo estatal (gerando di�culdades �scais), da sua incapacidade
de institucionalizar as relações entre elites e partidos em guerra, e da expansão das
infraestruturas ideológicas discursivas, sustentando princípios alternativos (Mann, 2022, p. 6).
É pela reunião dessas condições que podemos falar em um mundo contemporâneo, de relações
legalistas e capitalistas, em que as condições sociais, políticas e civis podem ser colocadas à
�gura do “cidadão” moderno, porque o conceito de cidadania passa pelo rol de direitos e
obrigações atribuídos a alguém pelo Estado. O fato de atualmente podermos contestar, protestar
e reclamar direitos advém das revoluções modernas – se podemos contestar de�nições e
encaminhamentos políticos, de nos
organizarmos e reivindicarmos posicionamentos do Estado no que se refere a demandas da
população, entre muitas outras coisas, iniciou-se com o processo revolucionário originário na
França (Feitosa, 2016, p. 21), por exemplo. 
É Hora de Praticar!
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Segundo os autores estudados, o Estado se forma a partir do contrato social estabelecido entre
os homens, seja para garantir a vida, a liberdade, ou a propriedade, o que faz do Estado um ente
presente entre os homens e regulamentador das atividades humanas. Isso não quer dizer que ele
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CIÊNCIA POLÍTICA
independa dos homens. Vimos que há a sociedade política e a sociedade civil, e que esta, para
alguns autores, pode ser atuante no processo de �scalização do governo soberano. Para
veri�carmos a importância da formação do Estado Moderno no cenário da Europa Ocidental e a
partir destes feitos, buscar comparar e diferenciar os processos e as profundas transformações
sócio-históricas que contribuíram para a organização do Estado no capitalismo, imaginemos a
situação da Paula, que tem 24 anos, faz parte do movimento de saúde de São Paulo e participa
do Conselho Municipal de Saúde.
O Estado brasileiro é federalista e há funções diferentes para cada um dos níveis da federação,
como no caso da Saúde. A pasta da saúde gera o Sistema Único de Saúde, o SUS. Criado
nacionalmente e garantido pela Constituição de 1988, o SUS é de responsabilidade da União, dos
Estados e dos municípios. O Conselho Municipal de Saúde de São Paulo, entre outras atividades,
discute a distribuição dos recursos da saúde em âmbito municipal. Esses recursos são de
origem municipal, estadual e federal.
Paula considera que os recursos são poucos e gostaria de ampliá-los. Como são de�nidos estes
valores? Quem decide isso e de que forma? Em suas pesquisas a respeito do assunto, Paula
descobriu que quem de�ne isso é a Constituição e esta corresponsabilidade tem a ver com o
federalismo. A�nal, o que é a Constituição? Como esta ideia de uma lei geral surgiu? Como e por
que se de�nem as diferentes responsabilidades de cada nível de governo com relação à saúde e
aos anseios da população?
Diante do mundo que nos cerca, dos direitos e obrigações que nos são atribuídos, poderíamos
questionar o poder sem a presença do Estado moderno?
O que delimita que o espaço dos indivíduos possa ser delimitado e demarcado, sem que nos
consumamos em uma luta estéril?
Por que as leis da nossa época não são as mesmas leis que formaram a sociedade capitalista a
partir da Revolução Industrial e das revoluções burguesas?  
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Você conheceu melhor as revoluções burguesas e a importância que elas tiveram para
sedimentar a Constituição como documento que regulamenta a vida dos homens e impõe limite
à atuação dos governantes. Percebemos que o federalismo pode ser uma forma de organização
do Estado e que a Constituição é que deve estabelecer os critérios e a autonomia de um Estado
Federal. O Brasil é um país federativo – organizado em União, Estados e municípios, cada um dos
entes federados tem responsabilidades, autonomia e limites nas relações entre si. Como um país
federativo, algumas políticas públicas são descentralizadas, ou seja, têm origem na União, mas
são geridas por Estados e municípios, de forma autônoma. Essa descentralização é garantida
pela Constituição Federal de 1988. De onde vem essa tradição de criar uma lei geral que
determina os pilares de um país, os direitos e as obrigações dos governantes? A primeira dessas
experiências, mais parecida com o que temos atualmente veio da Inglaterra, com a Bill of Rights.
Também a Independência e a Constituição Americanas foram importantes para a criação deste
tipo de ordenamento legal. E a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, forjada durante
a Revolução Francesa, fecha as três principais experiências históricas que mais nos
in�uenciaram quanto ao federalismo e ao constitucionalismo. Não podemos negar que para
ajudar Paula, temos que resgatar a importância desses fatos na construção do Estado
Contemporâneo. Com certeza essas ideias nos in�uenciaram a ponto de interferir até em
https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2Pod_Cie_Pol_Liberado.pdfDisciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
políticas setoriais especí�cas, como o SUS, que determina responsabilidades diferentes e
compartilhadas para cada nível de governo com relação à saúde pública brasileira.
Fonte: elaborada pelo autor. 
BIANCHI, Á. O conceito de estado em Max Weber. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 92, p.
79–104, maio 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-64452014000200004. Acesso
em: 30 dez. 2023.
BORON, A. (org.). Filoso�a política moderna: de Hobbes a Marx.  Buenos Aires: Conselho Latino-
Americano de Ciências Sociais – CLACSO, 2006.
DIAS, R. Ciência Política. São Paulo: Atlas S.A., 2013.
ENGELS, F. A origem da família da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira S.A., 1984.
FEITOSA, S. Da Revolução Francesa até nossos dias: um olhar histórico. Curitiba: Intersaberes,
2016.
MANN, M. As fontes do poder social: o surgimento das classes e dos estados-nações, 1760-
1914. São Paulo: Vozes, 2022.
WEBER, M. Política como vocação e ofício.  São Paulo: Vozes, 2021.
WEBER, M. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2011. 
,
Unidade 3
Teoria do Poder
https://doi.org/10.1590/S0102-64452014000200004
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CIÊNCIA POLÍTICA
Aula 1
Re�exões sobre o conceito de poder.
Re�exões sobre o conceito de poder
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Ponto de Partida
Prezado estudante;
Você já se perguntou o que é o poder? De onde vem essa concepção que no imaginário popular
chamamos de poder? A quem podemos chamar de poderosos na acepção do termo? Em algum
momento já ligamos ter poder a ter dinheiro – por que isso acontece? Qual é a relação entre ter
dinheiro e ter poder, e como isso passa pela política? Nesta aula, vamos compreender esse
elemento que liga economia e política no mundo contemporâneo. Mas a complexidade da
questão não pode ser abarcada nesta aula, e com certeza entender a nossa realidade exige uma
compreensão inicial clássica. Por isso, vamos começar pela teoria clássica e analisar o conceito
à luz dos autores que a ciência política trabalha e pesquisa. Preparado para mais um desa�o?
Vamos juntos! 
Vamos Começar!
Poder e sociedade
Anthony Giddens (2009), em seu livro A constituição da sociedade, desenvolveu uma
compreensão do poder a partir de aspectos estruturantes sociais entre ação e poder. Portanto,
não há como negar que para entender o poder devemos partir da compreensão do conceito em
https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U3A1_Cie_Pol_Liberado.pdf
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CIÊNCIA POLÍTICA
sistemas sociais. É pela relação entre os indivíduos dotados da ação humana no sentido
orientado que se de�ne o conceito de poder para o autor, em uma relação de in�uência, que
Giddens denomina:
dialética do controle em sistemas sociais. […]
O poder em sistemas sociais que desfrutam de certa continuidade no tempo e no espaço
pressupõe relações regularizadas de autonomia e dependência entre atores ou coletividades em
contextos de interação social. Mas todas as formas de dependência oferecem alguns recursos
por meios dos quais aqueles que são subordinados podem in�uenciar as atividades de seus
superiores. É a isso que chamo de dialética do controle em sistemas sociais (Giddens, 2009, p.
18).
Direcionamos, então, nosso estudo para compreensão de relações determinadas, de indivíduos
reais, em condições de fazer sua própria história, e que não podem ser desvinculados das
condições reais de existência histórica. Relações de poder são relações de dominação e
autoridade; desse modo, poder, em política, é a capacidade de agir no sentido de orientar e/ou
determinar a ação de outrem. A isso chamamos de dominação. Domina quem tem poder, e este,
por isso mesmo, é o que dá sentido à dominação. Na prática: 
o homem não é só sujeito, mas também o objeto do poder social. É poder social a capacidade
que um pai tem para dar ordem a seus �lhos ou a capacidade de um Governo de dar ordem aos
seus cidadãos. (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2010, p. 933).
Etienne de La Boétie: o discurso sobre a servidão voluntária
Algumas perguntas se colocam com a de�nição do que é o poder. O que tem um pai sobre o �lho
se não poder – isso é autoridade? Do mesmo modo, o que o governo exerce ao dar ordem aos
seus cidadãos se não dominação? O poder é a fonte da autoridade e da dominação. Só está
autorizado a mandar e dominar aquele que detém poder. Podemos esclarecer o que é o poder de
maneira conceitual, mas ainda �ca a questão: o que faz um indivíduo, um agente social, obedecer
a outro? No mesmo sentido, qual é a fonte do poder utilizado por aquele que exerce autoridade e
domina?
Para responder a essas indagações vamos recorrer às ideias de Etienne de La Boétie, autor
francês que viveu entre a primeira e a segunda metade do século XVI, escritor do ensaio O
discurso da servidão voluntária.
Nesse texto, La Boétie propõe uma re�exão que poderíamos resumir em uma pergunta: a�nal,
por que muitos homens e mulheres (a sociedade) se deixam dominar por apenas um indivíduo (o
governante)? Para o autor, aquele que domina um coletivo humano será sempre um tirano. Em
suas palavras:
No momento, gostaria apenas que me �zessem compreender como é possível que tantos
homens, tantas cidades, tantas nações às vezes suportem tudo de um Tirano só, que tem apenas
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CIÊNCIA POLÍTICA
o poderio que lhe dão, que não tem o poder de prejudicá-los senão enquanto aceitam suportá-lo,
e que não poderia fazer-lhes mal algum se não preferissem, a contradizê-lo, suportar tudo dele.
Coisa realmente surpreendente (e, no entanto, tão comum que se deve mais gemer por ela que
surpreender-se) é ver milhões e milhões de homens miseravelmente subjugados e, de cabeça
baixa; submissos a um julgo deplorável; não que a ele sejam obrigados por força maior, mas
porque são fascinados e, por assim dizer, enfeitiçados apenas pelo nome de um que não
deveriam temer, pois ele é só [...] (La Boétie, 1999, p. 74).
La Boétie denominou esse fenômeno em que um único indivíduo (o governante) se torna capaz
de dominar um conjunto de indivíduos (os governados ou súditos) “servidão voluntária”.
Depreende-se, pois, que muitos se deixam ser governados por um voluntariamente, muitas vezes
sem ao menos questionar o porquê dessa relação de dominação. Nesse sentido, a dominação
pode ser compreendida como algo quase inconsciente, muito embora seja real, concreta e
cotidiana.
Segundo o autor, são três as fontes dessa dominação voluntária, ou seja, s do poder entre os
homens. Vejamos:
O costume: os homens se deixam dominar porque são educados a ser dominados. De
geração em geração, nos é transmitida a ideia de que um único homem deve ser
responsável pela condução da vida coletiva. A educação, transmitida de pai para �lho,
perpetua e "naturaliza" as relações de dominação. De certo modo, podemos argumentar
que está implícita a ideia de que a humanidade descon�a do pacto coletivo se nele não
estiver contida a ideia de que alguém deve ser responsável pelo destino comum. Para o
autor, nascemos em sociedade e nela sempre houve aquele que comanda e aqueles que
são comandados. Podemos argumentar, também, por meio das ideias do autor, que há um
princípio coletivo que fundamenta a dominação entre os homens.
O encantamento: os homens se deixam encantar pelos que dominam. Isso ocorre porque
há sempre uma distância, por maior ou menor que seja, entre o dominante e os dominados.
Utilizando essa distância, os governantes jogam com o poder para se fazerem temer, para
persuadir, convencer e usar os governados. Isso explica por que na dominação deve haver
persuasão por parte do governante,de uma vida política na cidade, de suas relações com a polis grega. Mas
também sabemos que essas relações e a vida na pólis ateniense, por exemplo, entre os séculos
VI e IV antes da conhecida era cristã, nada tinha de passiva; pelo contrário, era uma sociedade
escravista, opressora e con�ituosa, principalmente produto de seu tempo histórico.
Por essa razão, a política nos chega por meio do pensamento �losó�co. Em uma sociedade
contraditória, opressora e de classes, a isonomia como vetor foi mais bem compreendida no
contexto de guerras, e a �loso�a nos trouxe esse questionamento no uso da razão e da ética. Na
origem do pensamento em �loso�a política, é muito usual compreendermos a política na
Antiguidade Clássica a partir de dois principais pensadores: Platão (428 a.C.–348 a.C.) e
Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.).
A Atenas em que Platão viveu se encontrava recém-saída da chamada Guerra do Peloponeso,
dominada pelos espartanos no século V a.C., produto de uma crise histórica e da tirania.
Atenas tinha perdido a guerra e se encontrava em total desordem, governada por um grupo de
oligarcas indicados por Esparta que se tornaram tiranos na cidade. É nessa situação de
desorganização política que Platão se encontra, e se faz necessário pensar uma forma de
governo capaz de tornar os homens melhores, quer como indivíduos, quer como cidadãos.
(Ferrari, 2019, p. 2).
O pensamento de Platão faz uma relação direta entre os seres humanos e a vida na pólis. A
cidade e os indivíduos têm a mesma estrutura, portanto, uma cidade justa é o resultado do
indivíduo justo. Mas o que seria um indivíduo justo para Platão? O “homem” cuja alma racional é
mais forte e maior do que outros dois estruturantes humanos: o desejante e o colérico.
Para Platão, os seres humanos e a pólis possuem a mesma estrutura. Os humanos, são dotados
de três almas ou três princípios de atividade: a alma concupiscente ou desejante [...] que busca
satisfação dos apetites do corpo, tanto os necessários à sobrevivência como os que apenas
causam prazer; a alma irascível ou colérica [...] que defende o corpo contra as agressões do meio
ambiente e de outros humanos, reagindo à dor para proteger nossa vida; e a alma racional ou
intelectual [...] que se dedica ao conhecimento (Chaui, 2014, p. 319).
A política na �loso�a de Platão estaria na justiça e na ética provenientes do homem e da pólis.
Na leitura do �lósofo, a pólis estaria dividida em três classes sociais: “a classe econômica dos
proprietários de terra, artesãos e comerciantes”, que garante a sobrevivência material da cidade;
a “classe militar dos guerreiros, responsável pela defesa da cidade”; e a classe dos “magistrados,
que garante o governo da cidade sob as leis” (Chaui, 2014, p. 319).
Nessa �loso�a, o que seria e como poderíamos realizar uma cidade justa e uma justiça política?
Somente pela educação dos cidadãos – homens e mulheres, pois é possível compreender que
em Platão existe a crítica aos gregos por excluir as mulheres do processo e da política. “A cidade
justa é governada pelos �lósofos, administrada pelos cientistas, protegida pelos guerreiros e
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
mantida pelos produtores. Cada classe cumprirá sua função para o bem da pólis, racionalmente
dirigida pelos �lósofos” (Chaui, 2014, p. 319).
Já na �loso�a de Aristóteles a teoria da política encontra uma interpretação diversa da posição
de Platão. A justiça passa por uma determinação que é da política: para determinar o que é
justiça, “precisamos distinguir dois tipos de bens: os partilháveis e os participáveis” (Chaui, 2014,
p. 320) – os dois elementos olhados para a vida nas cidades, a justiça na cidade, a ética e o
cidadão na cidade. Portanto, dois tipos de justiça política de vida na pólis são a distributiva e a
participativa. Esses pontos da teoria política de Aristóteles lembram muito a nossa conjuntura
contemporânea atual, que é a análise da qualidade das formas das instituições políticas.
Enquanto Platão se preocupa com a educação e a formação do dirigente político – o governante
�lósofo -, Aristóteles se interessa pela qualidade das instituições políticas (assembléias,
tribunais, forma da coleta de impostos e tributos, distribuição da riqueza, organização do
exército, etc.). [...] Com isso, ambos legam para as teorias políticas subsequentes duas maneiras
de conceber a qualidade justa da cidade: platonicamente, essa qualidade depende das virtudes
do dirigente; aristotelicamente, das virtudes das instituições (Chaui, 2014, p. 320).
Portanto, a origem do pensamento político, cientí�co e racional acerca das relações de poder
deve ser buscada na �loso�a política. 
Vamos Exercitar?
A localidade onde você mora conta com acesso à energia elétrica, água encanada, rede de
esgoto ou mesmo acesso a alguns serviços de assistência em saúde, uma escola ou segurança
considerada públicas? Em qualquer das respostas, todos esses elementos do nosso cotidiano
são ou passam por decisões políticas. O que você consome, produz ou troca passa por relações
políticas. No bojo das relações de poder que se construíram na história, a forma como a nossa
sociedade se organiza ou é estruturada passa fundamentalmente pela complexidade de relações
de poder, portanto, relações humanas, sociais e políticas – relações que estão diretamente
ligadas à forma como produzimos a vida em sociedade, como nos relacionamos. A política é,
en�m, parte do que somos e do mundo em que vivemos – é a vida política.  E se atualmente
podemos negar a política, fato é que não podemos extinguir essa dimensão estruturante da vida
social, pois, como nos revela a própria �loso�a política, 
não podemos aceitar como óbvias e verdadeiras certas atitudes e a�rmações que, se
examinadas mais a fundo, seriam percebidas como absurdas (Chaui, 2000, p. 476). 
Por isso, �loso�a e política surgem na mesma toada.
Saiba mais
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Quando falamos de política, pouco nos prendemos às concepções cientí�cas, pelo fato de
tratarmos de uma dimensão estruturante da vida social no dia a dia. Por isso, conceitos como
poder, política e sociedade aparecem no nosso cotidiano, carregados de ideologias e
interpretações comuns. Para entender de maneira objetiva e leve, sugerimos a leitura acadêmica
a seguir. 
TANSEY, S. D.; JACKSON, N. Política: coleção homem, cultura e sociedade. São Paulo: Saraiva,
2015. 
Desenvolva uma leitura já do capítulo inicial e aproveite os conteúdos da aula.
Referências
ARISTÓTELES. A Política. [Ed. Especial]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
BARROS, A. R. G. de et al. Manual de Filoso�a Política. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.
BOBBIO, N. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1a ed., 1998.
CHAUI, M. Convite à Filoso�a. São Paulo: Ática, 2000.
CHAUI, M. Iniciação à Filoso�a. São Paulo: Ática, 2014.
FERRARI, S. C. M. Filoso�a política. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
PLATÃO. A República. [Ed. Especial]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
STRAUSS, L. História da Filoso�a Política. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
TANSEY, S. D.; JACKSON, N. Política: coleção homem, cultura e sociedade. São Paulo: Saraiva,
2015. 
Aula 2
A Política na Antiguidade: recortes
A Política na Antiguidade: recortes
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
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Ponto de Partida
Na Atenas da Antiguidade, as decisões importantes, aquelas capazes de afetar a vida e o
cotidiano de seus cidadãos, eram tomadas coletivamentemesmo que, para isso, ele use ardil, carisma e/ou força.
Assim, além do princípio coletivo da dominação, há um fundamento subjetivo da
autoridade. Deixamo-nos governar porque somos “encantados” pelas palavras do líder, por
seus atos e por sua expressão.
A estrutura da dominação: segundo La Boétie (1999), há uma rede de dominação que faz
que do topo à base da pirâmide todos se deixem governar. Em volta do tirano, do
governante, há sempre uma dezena de �éis seguidores – seus ministros, secretários,
agentes diretos. Estes, por sua vez, por estarem bem próximos ao tirano, têm poder para,
sob seus domínios, ter um outro conjunto de dezenas e dezenas de indivíduos �éis. Assim,
esses últimos, por estarem próximos daqueles que são próximos do governante, também
se sentem poderosos e, por isso, têm também sob seu domínio outras dezenas de
dominados, e assim por diante. Esse jogo piramidal “distribui” o poder e gera uma rede,
uma estrutura de dominação que leva os homens, de dezenas a milhões, a se atarem no
centro da trama representada por um, o governante. Logo, quanto mais próximos do centro
estiverem os indivíduos, mais poder têm, e quanto mais distantes, menos poder possuem.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
De todo modo, pode-se argumentar que, na trama que leva à dominação voluntária, todos
têm alguma parcela de poder.
 
Os três elementos propostos por La Boétie como fundamentos do poder, podem, no entanto, ser
desconstruídos. Repare que no argumento do autor, para que o dominante domine, deve haver
uma rede, uma estrutura de dominação que gera a crença e o costume. Podemos argumentar
que se a rede se quebra em algum ponto, se os dominados deixam de estar con�antes,
encantados pelo dominante, não passarão à frente a ideia de que aquele governante continuará
governando.
Dito isso, dependerá dos muitos dominados deixarem de servir voluntariamente na rede de
dominação para que o governante perca a legitimidade de sua autoridade. Na inter-relação entre
o costume, a crença e a estrutura do poder, não pode haver descon�ança ou descontentamento
por parte dos súditos, dos dominados. Daí que o governante é, de certo modo, tão refém de seu
próprio poder e autoridade quanto os governados.
Será a fonte da autoridade o bom uso do poder pelo governante? La Boétie, em sua obra
Discurso da servidão voluntária, a�rma que a democracia não era um regime comum a muitos
países, mas parece que seus argumentos são válidos para pensarmos a política na atualidade;
a�nal, nas democracias contemporâneas, governantes que não fazem bom uso do poder
recebem rapidamente a descon�ança – para não dizer aversão – dos cidadãos.
Siga em Frente...
Norberto Bobbio: uma tipologia dos poderes
No pensamento de alguns autores contemporâneos, a delimitação do conceito de poder, no
interior das estruturas sociais historicamente construídas, segue a ciência política para o
aprofundamento dos estudos das relações que se estabelecem entre  o poder, a política e a
sociedade.
Seria o caso de perguntar como o escritor político (de modo geral, o cientista social) pode ter
comportamento diferente do botânico (de modo geral, do cientista da natureza). O problema é
muito complexo, mas pode ter uma resposta bastante simples: a postura assumida pelo cientista
social e pelo cientista da natureza, diante do objeto da sua investigação, é in�uenciada pelo fato
de que o primeiro crê poder interferir diretamente nas transformações da sociedade, enquanto o
segundo não pretende in�uir sobre as transformações da natureza (Bobbio, 1988, p. 34).
Nesse caminho, autores como Norberto Bobbio (1988), trazem essa espécie de tipologia para
análise, que está intimamente ligada ao re�exo dos poderes dos Estados em meio ao desenrolar
capitalista no âmbito internacional, sem prescindir de analisar o con�ito em moldes
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
contemporâneos.  Vai levantar o autor a respeito dos con�itos da nossa “era” que diante da
competição entre as duas grandes potências pela supremacia que 
devoram imensas riquezas, sem objetivo, e com o único resultado de tornar a con�rmar a
persistência da vontade de potência na história humana, impedindo o desenvolvimento civil e
econômico dos países mais atrasados (Bobbio, 1988, p. LVI).
Que as relações de poder atingiram uma proporção diferente daquela entendida na antiguidade,
mas que conserva o caráter da busca do poder, mesmo em moldes jurídicos e políticos da
modernidade:
No entanto se reconhece a paridade jurídica na comunidade internacional; que se provocou e
alimentou guerras de extermínio, como aquelas na Coréia e no Vietnã; que se dividiu e colocou
uns contra os outros, gentes, povos e nações; diante do crescimento indiscriminado de armas
cada vez mais mortíferas e mais insidiosas de ambas as partes, não obstante as longas
negociações diplomáticas raramente concluídas em tratados, aliás, quase sempre
imediatamente violados, o meu estado de ânimo, quando escrevi a maioria das páginas que
compõem este livro, está expresso, lá onde, re�etindo sobre a hipocrisia das declarações de paz
em perene contraste com a crua realidade das ações de guerra, coloquei-me a pergunta: “Quem
os detém, quem os deterá? (Bobbio, 2009, p. LVI).
Para tanto, a “tipologia” que levantamos em Norberto Bobbio pode ser veri�cada na forma como
o poder é exercido, ou seja, na forma e no exercício do poder na modernidade. O autor vai
levantar, em seu livro A teoria das formas de governo, uma análise dos pensadores clássicos e
das relações de poder a partir do exercício do poder político, que considera as transformações
na construção dos direitos e da cidadania modernas, como na classi�cação dos poderes em
Montesquieu, por exemplo, com as formas despóticas e da ditadura como termos de
concentração do poder na atualidade.
Os termos "despotismo" e "ditadura" são empregados, na linguagem marxista, como sinônimos,
nas expressões "despotismo de classe" e "ditadura de classe". Mas, como também já dissemos,
"ditadura" terminou por prevalecer, de modo que hoje, tanto na linguagem comum como na
especializada, dos três termos tradicionalmente empregados para indicar um governo absoluto,
exclusivo, pessoal, moral e juridicamente condenável - "tirania", "despotismo" e "ditadura" -, os
dois primeiros caíram em desuso. Só o terceiro é usado continuamente, aplicado às situações
mais diversas (Bobbio, 1988, p. 158).
Para o autor, temos de considerar esses elementos políticos na atualidade, sem distanciá-los do
momento histórico e da atual conjuntura social e política correspondentes à dinâmica de poder,
que no capitalismo envolve as diferentes formas de governos e poder contemporâneos. Temos,
portanto, de considerar a ditadura como forma contemporânea de concentração do poder e que
está de maneira contraposta à versão dos direitos políticos, sociais e civis. A�nal, qual a
correlação na nossa sociedade entre democracia e ditadura? Conversaremos mais adiante a
esse respeito. 
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Vamos Exercitar?
O que retiramos do conhecimento acerca do poder é que, de fato, está presente no centro das
relações humanas. Não importa o quanto as sociedades humanas se complexi�quem, criem
formas de organização cada vez mais especí�cas e delimitadas, as relações de poder estão
ligadas ao nosso devir. No entanto, esse determinismo deve ser relativizado, na mesma medida
em que criamos formas de organização em que o poder político possa ser voltado a uma
sociedade mais igualitária e justa. Isso só amadurecerá no seio de uma sociedade igualitária e
justa. Será que a sociedade capitalista, tomando essa forma de sociedade na história, no
momento em que estamos dialogando, é a forma societal que busca igualdade? Somente nós, no
agir coletivo, podemos construir maneiras de organização que equilibrem o processo histórico.
Não podemos negar o poder e as relações políticas, porém, compreendê-lo a luz da ciência
política parece um caminho e fato histórico.
Saiba mais
O contato e o conhecimento da literatura e obra clássicas na área da ciência política nosrevelam
que o objeto cientí�co e as relações que atualmente nos cercam a respeito do poder já estavam
presentes na análise dos autores no século XVI. Por isso, acesse o conteúdo clássico indicado a
segui e o aproxime do nosso devir histórico, com as palavras do próprio pensador.
LA BOÉTIE, É. O discurso da servidão voluntária. Petrópolis: Vozes, 2022.  
Referências
BOBBIO, N. A Teoria das Formas de Governo. Brasília: UnB, 1988.
BOBBIO, N. O Terceiro Ausente: Ensaios e Discursos sobre a Paz e a Guerra. Barueri: Manole,
2009.
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. V. 2. Brasília: UNB, 2010.
FERRAZ JUNIOR, T. S. Trajetória e obra de Norberto Bobbio. Estudos Avançados, v. 27, n. 79, p.
281–284, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300021. Acesso em:
31 dez. 2023.
GIDDENS, A. A constituição da sociedade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
LA BOÉTIE, E. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1999.
LAFER, C. Norberto Bobbio: trajetória e obra. São Paulo: Perspectiva, 2013.
https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300021
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
SOUSA, M. R. A verdade inconveniente de Étienne de La Boétie e a formação da realidade política
brasileira. Revista Mangaio Acadêmico, v. 2, n. 3, p. 86–91, jul./dez. 2017. 
Aula 2
Karl Marx e a Ciência Política
Karl Marx e a Ciência Política
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Ponto de Partida
Muito bem-vindo ao nosso encontro de ciência política, desta vez abordando Karl Marx.
Algumas perguntas logo nos aparecem quando falamos de poder, não é mesmo? É possível
concebermos 
outra sociedade em que não exista exploração do homem pelo homem? O que nos faz re�etir
quando observamos as desigualdades sociais no nosso entorno? Será que politicamente
podemos construir uma sociedade em que o poder não esteja concentrado, e sim a serviço de
todos os indivíduos? É possível uma sociedade sem classes sociais? Essas e outras questões
abordaremos em ciência política a partir do pensamento de um dos autores mais conhecidos na
história das ideias políticas: Karl Marx.
Vamos Começar!
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
É preciso elencar alguns esclarecimentos teóricos quando tratamos de um pensador que marcou
a teoria política da contemporaneidade. Existe um limite tênue e que não pode ser ultrapassando
quando falamos de Karl Marx, que é considerar o devido tempo histórico em que o autor escreve
e desenvolve sua teoria. Portanto, não se pode transportar ideologias para as ideias de um autor
que marcou o século XIX. Dito isso, temos ainda que desmontar alguns preceitos que porventura
já estejam estabelecidos, fruto de considerações ideológicas externas.
Poder político e as classes sociais no capitalismo
Começaremos pela abordagem, levantando apenas a política em Marx. Esse autor que nasceu
em Trier, na Alemanha, em 1818, vive o teor do processo de industrialização do capitalismo do
século XIX e pode ser considerado cientista social, �lósofo, pensador e revolucionário. Ao
contrário do que muitos apregoam, o marxismo não está na �gura de Karl Marx e suas ideias,
mas no método que esse autor inaugura na ciência: o materialismo histórico e dialético. Com
isso, temos de levantar a pergunta que nos movimenta nesta aula: onde está o poder para Marx?
Partindo do seu método de análise social, o poder está na classe. O poder está nas relações
sociais, que constituem a essência do capitalismo formador das classes sociais como as
conhecemos. Portanto, conhecendo as classes sociais como categorias analíticas, podemos
também compreender o que é o poder em Marx. Se o poder está na classe social, como
podemos de�ni-la de maneira cientí�ca?
As classes sociais ocupam o epicentro da teoria, como visto pela própria leitura que o autor
desenvolve da realidade e das condições dos trabalhadores no século XIX. É conhecida a
seguinte a�rmação dos autores do Manifesto do Partido Comunista: “A história de toda
sociedade até nossos dias é a história da luta de classes”.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre e o�cial, em suma, opressores e
oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta sem trégua, ora
velada, ora aberta, luta que a cada etapa conduziu a uma transformação revolucionária de toda a
sociedade ou ao aniquilamento das duas classes em confronto (Marx, 2016, p. 24).
Portanto, o poder na classe social signi�ca a própria existência da classe, que nas diferentes
formas e sociedades humanas na história a dialética de formação das classes sempre
condicionou as relações de poder e autoridade. O poder político, no entanto, se modi�ca com as
forças sociais que tomam forma a cada período histórico, a cada modo de produção e suas
contradições de classe, pela maneira como os indivíduos produzem e reproduzem a vida.
Nicos Poulantzas (1978), um estudioso marxista que marcou o século XX, abordará a classe
social em Marx da seguinte forma:
As classes sociais são conjuntos de agentes sociais determinados principalmente, mas não
exclusivamente, por seu lugar no processo de produção, isto é, na esfera econômica. [...] Para o
marxismo, o econômico assume um papel determinante em um modo de produção e numa
formação social: mas o político e o ideológico, en�m a superestrutura, desempenham igualmente
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
um papel muito importante. De fato, todas as vezes que Marx, Engels, Lênin e Mao procedem a
uma análise das classes sociais, não se limitam somente ao critério econômico, mas se referem
explicitamente a critérios políticos e ideológicos (Poulantzas, 1978, p. 14).
No capitalismo, essa delimitação não está somente ligada ao lugar que nós ocupamos na cadeia
produtiva do capital, mas nossas aspirações, ideologias, convicções, posições políticas e,
principalmente, as práticas de classe. E quais são as classes sociais no capitalismo atual e quem
são os agentes sociais responsáveis por ocupar essas posições? Somos nós, no momento e na
conjuntura da luta de classes.
Para Karl Marx, as classes sociais fundamentais são as que observamos a partir da dialética da
produção e da reprodução sociais. No capitalismo, o autor chamará de classes fundamentais,
como modelos e categorias observáveis na história, a burguesia e o proletariado, assim como
suas frações de classe resultantes do modo de produção dominante nessa formação social. A
classe média, a pequena burguesia, o campesinato, o lumpemproletariado. Podemos observar
que os apontamentos teóricos de Marx e Engels em O Capital, no livro III, sistematizado após a
morte de Karl Marx, atentam para três classes fundamentais:
Os proprietários de mera força de trabalho, os proprietários de capital e os proprietários
fundiários, que têm no salário, no lucro e na renda da terra suas respectivas fontes de
rendimento, isto é, os assalariados, os capitalistas e os proprietários fundiários, formam as três
grandes classes da sociedade moderna, fundada no modo de produção capitalista (Marx, 2017,
p. 947).
A problemática das classes sociais em Marx ocupa o lugar central, e a complexidade da dialética
entre a “infraestrutura” e a “superestrutura” torna o método veri�cável e rico em materialidade,
incluindo a nossa atualidade. Quem nunca observou as contradições que envolvem as
desigualdades sociais? As desigualdades são elementos históricos e que apontam para as
contradições do modo de produção e sociedade em que vivemos, e é por esse motivo que Karl
Marx demonstrará como os aspectos econômicos e políticosestão intimamente ligados.
Siga em Frente...
Golpe de estado e bonapartismo
Como a classe social é uma categoria central para Karl Marx e o poder está na própria classe,
mais precisamente na relação de luta entre as classes, a história das sociedades humanas é a
história do con�ito entre as diferentes classes sociais. O exercício do poder se dá em meio às
condições do próprio capitalismo de maneira diversa e complexa, porém, a partir do poder
político de Estado. Convém levantar o conceito, a categoria e o signi�cado que o Estado tem na
teoria de Karl Marx:
O Estado não é, portanto, de modo algum, um poder que é imposto de fora da sociedade e tão
pouco é “a realidade da ideia ética”, nem “a imagem e a realidade da razão”, como a�rma Hegel. É
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
antes um produto da sociedade, quando essa chega a um determinado grau de desenvolvimento.
É o reconhecimento de que essa sociedade está enredada numa irremediável contradição com
ela própria, que está dividida em oposições inconciliáveis de que ela não é capaz de se livrar.
Mas para que essas oposições, classes com interesses econômicos em con�ito não se devorem
e não consumam a sociedade numa luta estéril, tornou-se necessário um poder situado
aparentemente acima da sociedade, chamado a amortecer o choque e a mantê-lo dentro dos
limites da “ordem” (Engels, 1984, p. 209).
Portanto, o Estado moderno, propriamente na visão de Marx e Engels, não é um poder autônomo
em condições exteriores e acima dos indivíduos, é diametralmente oposto a essa determinação
e se con�gura como o re�exo das forças sociais. Temos de ressaltar nesse campo teórico que o
poder político de Estado tem uma autonomia frente aos indivíduos, consolidada pela conjuntura
histórica de classes. Não quer dizer que estamos rotulando a que classes nos situamos, mas que
não é possível, no capitalismo, ignorar a contradição e a desigualdade. Por esse motivo o autor
desenvolve sua teoria do Estado margeando as relações econômicas materializadas no
capitalismo – o Estado, enquanto esfera política da superestrutura, também determina a ação
dos indivíduos e das classes sociais, a�nal, não há como ignorar a presença política do Estado
moderno nas leis, por exemplo.
Neste ponto �ca claro que o Estado capitalista possui uma originalidade frente às estruturas das
relações de produção, por um lado, e ao campo da luta de classes, por outro. A separação do
produtor direto dos meios de produção relaciona-se à institucionalização do sujeito jurídico dos
indivíduos. Essa relação do Estado com as relações de produção tem no personalismo
individualista a sua forma ideológica, substituindo a crença religiosa como o centro da instância
ideológica desde a transição ao capitalismo. Já a relação do Estado com a luta de classes é
subdividida em duas: a relação com a luta econômica e a relação com a luta política. A estrutura
jurídica e ideológica do Estado instaura, em seu nível, a ocultação das relações de classe dos
produtores, que são distribuídos em classes, mas passam a se perceber como indivíduos
autônomos, sujeitos de direito. A concorrência no capitalismo não é, portanto, somente
decorrente da estrutura nas relações capitalistas de produção, mas também um efeito do jurídico
e ideológico sobre as práticas econômicas (Farias; Del Passo, 2020, p. 175).
Da teoria marxista do Estado, temos que mencionar a proposta e a categoria de bonapartismo.
Essa categoria revela que o poder e o exercício do poder político entre as classes sociais em luta
encontra na esfera personi�cada e executiva do poder do Estado moderno a sua condição
individualista de dominação e poder sobre a sociedade e os indivíduos no capitalismo. O
bonapartismo constitui uma forma de poder que se materializa em um indivíduo recoberto pela
forma de uma ditadura no exercício desse poder. Quando Marx elabora a categoria de
bonapartismo, o faz mediante análise do golpe de Estado ocorrido na França do século XIX:
Nos escritos de Marx e Engels, a expressão bonapartismo refere-se a uma forma de regime
político da sociedade capitalista na qual a parte executiva do Estado, sob domínio de um
indivíduo, alcança poder ditatorial sobre todas as outras partes do Estado e sobre a sociedade. O
bonapartismo constitui, assim, uma manifestação extrema daquilo que, em escritos marxistas
recentes sobre o Estado, foi chamado de sua “autonomia relativa” (Poulantzas, 1968). O principal
exemplo dessa forma de regime durante a vida de Marx foi o de Luís Bonaparte, sobrinho de
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Napoleão I, que passou a ser Napoleão III depois do golpe de Estado que deu em 2 de dezembro
de 1851 (Bottomore, 2001, p. 35).
Da categoria do bonapartismo, surgem de�nições atuais de poder e das classes que só podemos
veri�car na ação histórica e real do método. No Brasil, atualmente, a presença das classes é
notável e passível de análise para o campo da ciência política.
A Comuna de Paris
De todos os episódios históricos que Marx desenvolveu análises, a Comuna de Paris talvez seja o
mais interessante, porque o autor escreve nos próprios acontecimentos. Marcada no ano de
1871, o episódio da Comuna de Paris, como �cou conhecido, foi debatido por Marx no seu texto
A guerra civil na França (1871).
A Comuna de Paris durou dois meses e leva esse nome pelo fato da tomada do poder em Paris
pelos trabalhadores. Mesmo com a derrota, o período deixa grandes noções para o campo
teórico e prático da luta de classes e pode ser desenhado para interlocução das relações de
poder entre as classes sociais no capitalismo do século XIX.
Durante os 72 dias transcorridos entre 18 de março e 28 de maio de 1871, a França foi
testemunha de uma experiência única, sem precedentes: a Comuna de Paris. Sua instauração foi
antecedida pela feroz guerra franco-prussiana e a derrubada do II Império, com Luís Bonaparte à
frente. Com a Comuna, a classe operária conquistava o poder político pela primeira vez na
história, o que deixou valiosíssimos ensinamentos aos revolucionários de todo o mundo e cuja
vigência e utilidade prática se agigantou com o passar do tempo (Boron, 2011, p. 241).
Claro que essa passagem na história não foi colocada por Marx como uma receita
revolucionária, tampouco como um caminho geral a ser seguido pelo proletariado em geral, mas
as medidas que se referiam a França naquele momento poderiam ser entendidas para o contexto
de classe do que o autor vai desenhar como a “ditadura do proletariado”, categoria do seu
método que ainda fomenta debates. 
Os fatos que tiveram lugar em Paris nesse breve lapso permitiram re�nar signi�cativamente a
teoria marxista do Estado e da política (Boron, 2011, p. 241).
A Comuna de Paris não foi uma revolução socialista. Essa a�rmação recorre do conceito de
revolução na teoria de Marx que ocupa lugar central e que trata, por de�nição, de uma
transformação profunda da totalidade social, ou seja, de todo o capitalismo. Não foi o que
ocorreu com o caráter geral do capitalismo no mundo, porém, a Paris sitiada colocou essa
grande interrogação aos capitalistas da época na Europa. Por isso, é possível retirarmos
elementos de compreensão do materialismo histórico e dialético a partir do episódio ocorrido na
França do século XIX, em meio à expansão capitalista e dos monopólios que se concretizariam a
partir do contexto.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Em seu texto, Marx introduz uma importante distinção ao assinalar, a propósito da gestão
cotidiana do governo da Comuna, que “ao passo que os órgãos meramente repressivos do velho
poder estatal deveriam ser amputados, suas funções legítimas seriam arrancadas a uma
autoridade que usurpava à sociedade uma posição proeminente e restituídas aos agentes
responsáveis dessa sociedade” (Marx, 2011: 58). Como consequência, a Comuna materializa
uma reapropriação social das funções expropriadas pelo Estado, dando nascimento a “um
governo da classe operária, o produto da luta da classe produtora contra a classe apropriadora, a
forma política en�m descoberta para se levar a efeito a emancipaçãoeconômica do trabalho”
(Marx, 2011: 59). Contrariamente ao que assinalam os críticos do marxismo, que a acusam de
pretender funcionar sem Estado em uma sociedade tão complexa como a atual, os
ensinamentos da Comuna demonstram que a organização política da sociedade pode se
construir seguindo lineamentos distintos e alternativos ao Estado: manutenção e expansão das
suas legítimas funções (abastecimento de insumos básicos, provisão da saúde, educação,
moradia e previdência social, defesa diante das agressões externas etc.), uma vez que as
repressivas haviam sido amputadas (Boron, 2011, p. 243).
O grande interesse de Marx pela Comuna passava também pelo caráter democrático do governo
proletário em meio ao poder do capitalismo e do Estado capitalista. Com a devida autonomia
relativa desse exercício, é possível hoje em dia debatermos a forma elementar do Estado
capitalista em meio a uma realidade desigual e que exclui do poder as classes menos
favorecidas no processo. A�nal, no Brasil atual não podemos veri�car esses elementos? O
capitalismo brasileiro não se desenvolveu em fatores da desigualdade? É possível outras formas
de políticas que envolvam uma governança mais equitativa do poder sem considerar a luta de
classes e suas frações no Brasil? Talvez os autores possam nos ajudar a compreender a
realidade contraditória que nos cerca. Por esse motivo, a ciência política tem muito a nos dizer.
Vamos Exercitar?
Toda e qualquer forma de sociedade na história produziu e reproduziu sua existência em fatores
materiais, sociais e políticos. Das relações de poder, a partir da divisão do trabalho e das
sociedades mais complexas, indivíduos reais em condições reais de existência também
desenvolveram formas políticas que estão diretamente ligadas ao poder – mais precisamente ao
poder como algo coletivo, ou seja, de classe. Na medida em que os indivíduos se apropriam da
produção social da riqueza, percebemos a divisão da sociedade entre classes opostas e que, no
nosso caso, no capitalismo, antagônicas. Signi�ca que atualmente, a partir da leitura cientí�ca de
Karl Marx, podemos também falar da realidade brasileira imersa em determinações capitalistas
muito peculiares. É possível examinar, por exemplo, as políticas econômica, social, externa e de
cidadania dos governos e a própria di�culdade política para a ampliação da democracia e dos
direitos sociais no Brasil.  
Saiba mais
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
O episódio histórico da Comuna de Paris pode ser observado nos elementos da teoria de Karl
Marx no artigo de Atílio Boron indicado a seguir.
BORON, A. A. Os duradouros ensinamentos da Comuna de Paris. Lutas Sociais, São Paulo, n.
25/26, p. 241-247, 2º sem. de 2010 e 1º sem. de 2011. 
Referências
BORON, A. A. Os duradouros ensinamentos da Comuna de Paris. Lutas Sociais, São Paulo, n.
25/26, p. 241-247, 2º sem. de 2010 e 1º sem. de 2011. Disponível em:
https://ri.conicet.gov.ar/handle/11336/192943?show=full. Acesso em: 31 dez. 2023.
BOTTOMORE, T. (org.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
COLLIN, D. Compreender Marx. Petrópolis: Vozes, 2008.
ENGELS, F. A origem da família da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1984.
FARIAS, F. P.; PASSO, O. F. Poder político e classes sociais. Resenha. Lutas Sociais, São Paulo, v.
24, n. 44, p. 173-179, jan./jun. 2020. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/ls/article/download/52230/34430/155309. Acesso em: 31
dez. 2023.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista: 1948. Porto Alegre: L&PM, 2016.
MARX, K. As lutas de classe na França. São Paulo: Boitempo, 2012.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política: livro III: o processo global de produção
capitalista. São Paulo: Boitempo, 2017.
POULANTZAS, N. As classes sociais no capitalismo de hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
POULANTZAS, N. Poder político e classes sociais. Campinas: Editora Unicamp, 2019.
SILVA, S. Introdução ao pensamento social clássico. Curitiba: Intersaberes, 2019.
ZIZEK, S. A atualidade do manifesto comunista. Petrópolis: Vozes, 2021. 
Aula 3
Max Weber e a Ciência Política
https://ri.conicet.gov.ar/handle/11336/192943?show=full
https://ri.conicet.gov.ar/handle/11336/192943?show=full
https://revistas.pucsp.br/index.php/ls/article/download/52230/34430/155309
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Max Weber e a Ciência Política
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Ponto de Partida
Olá, estudante!
Quais são as características daqueles que exercem o poder? Como evoluímos de formas
tradicionais de dominação para formas mais modernas, compatíveis com o que chamamos de
cidadania? As formas e os sistemas políticos sob os quais vivemos atualmente guardam
relações com o passado? Nesta conversa trataremos juntos das formas de dominação e poder, a
partir da contribuição de Max Weber, para re�exão do problema político e seu campo teórico
compreensivo da política. Você vai compreender e aplicar essa teoria na dimensão das nossas
relações atuais, e verá como a leitura de um autor considerado clássico para a ciência política
ainda hoje nos demonstra suas considerações. Mãos à obra! 
Vamos Começar!
Max Weber e a política
O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) desenvolveu uma teoria para o poder e a
dominação que �cou muito conhecida e ainda é muito difundida e utilizada por sociólogos,
cientistas políticos e economistas. Trata-se da teoria dos três tipos de dominação legítima.
Veremos que a teoria de Weber se assemelha às ideias do primeiro autor que abordamos, La
Boétie, mas são um pouco mais re�nadas, dado que Weber estrutura tipos de dominação cuja
legitimidade, isto é, a aceitação do dominante pelos dominados, está baseada em motivos de
ordem racional, mas também históricas e subjetivas.
https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U3A3_Cie_Pol_Liberado.pdf
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
É possível a�rmar que no plano das ciências sociais esse pensador é considerado clássico,
assim como o debate com a teoria de Karl Marx no século anterior, já que o autor está
escrevendo no século XX. Weber elege como seu grande interlocutor o próprio campo teórico de
Marx, defendendo que o marxismo parte do economicismo. Segundo Weber, a sua concepção de
política estava intimamente ligada à ação dos indivíduos e no signi�cado que o poder toma
diante de uma realidade que passa pelo processo histórico da racionalização. Assim o é também
com a política e sua concepção de Estado.
O que entendemos por política? É extraordinariamente amplo o conceito e abrange toda espécie
de atividade diretiva autônoma. [...] Por política entenderemos tão-somente a direção do
agrupamento político hoje denominado “Estado” ou a in�uência que se exerce nesse sentido
(Weber, 2004, p. 59).
Isso nos indica a concepção de Estado em Max Weber que passa pelo uso da força como
monopólio legítimo da violência em uma relação de autoridade e dominação. Essa a�rmação
deve ser precisa, porque o autor percebe a multiplicidade sociológica de determinações sobre o
Estado, tratado por ele como agrupamento político e suas formas de dominação:
Assim como todos os agrupamentos políticos que o precederam no tempo, o Estado consiste
em uma relação de dominação do homem pelo homem, com base no instrumento da violência
legítima – ou seja, da violência considerada como legítima. Por conseguinte, o Estado pode
existir somente sob condição de que os homens dominados se submetam a autoridade
continuamente reivindicada pelos dominadores (Weber, 2004, p. 61).
Weber: os tipos de dominação e legitimidade
Para Weber, a dominação – portanto,o poder de um sobre outros – pode estar fundamentada na
burocracia, na tradição e no carisma. Vejamos cada ponto.
A fonte do poder na dominação de tipo racional-legal ou burocrática é a baseada nas normas,
nas leis e na estrutura do Estado, bem como nos processos legais que levam à eleição ou à
contratação dos indivíduos que serão responsáveis pelo mando e/ou pelo governo. Quando
falamos, por exemplo, em eleição, estamos tratando de um processo organizado de forma
racional pelo qual os indivíduos concorrerão ao poder. Do mesmo modo que, por exemplo, um
indivíduo, para se tornar juiz e exercer o mando nos tribunais, precisa ter formação especí�ca e
se candidatar em um concurso público. O que de�ne as regras das eleições e dos concursos é
justamente a lei e, por isso, os ocupantes do poder, nesses casos, têm seu poder baseado na
estrutura do Estado, nos regimentos e processos legais, e na burocracia. A dominação, dessa
forma, é racional-legal ou burocrática, e:
a associação dominante é eleita ou nomeada (Weber, 2002, p. 128).
O segundo tipo de dominação de�nida por Max Weber é a baseada na tradição. A fonte do poder
na dominação tradicional é a crença nos costumes e nas ordenações antigas. Pense, por
exemplo, nas antigas monarquias absolutistas da Europa, nas quais o poder de governar era
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
transmitido de pai para �lho. Nesse caso, o critério de escolha do governante não são leis que
possibilitam a concorrência entre candidatos, mas a hereditariedade. O mesmo pode se pensar
da escolha dos papas no Vaticano. A fonte de seu poder está garantida na antiga crença cristã e
não simplesmente na �gura do religioso que pleiteia o cargo. A dominação tradicional é baseada
no padrão de transferência do poder de geração para geração no sentido de que se acredita que
"se sempre assim foi, assim continuará sendo". Nas palavras de Max Weber, nesse tipo de
dominação
obedece-se à pessoa em virtude de sua dignidade própria, santi�cada pela tradição: por
�delidade. O conteúdo da ordem está �xado pela tradição […] (Weber, 2002, p. 131).
O terceiro e último tipo de dominação legítima pensado por Max Weber é a carismática. Segundo
o autor, a dominação carismática ocorre
em virtude de devoção afetiva à pessoa do senhor e seus dotes sobrenaturais (carisma) e,
particularmente: a faculdades mágicas, revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória
(Weber, 2002, p. 134-135). 
Pense, por exemplo, na relação entre um pastor e seus �éis: é uma relação de dominação, cuja
fonte do poder do pastor sobre seus seguidores está baseada, sobretudo, na capacidade de
oratória, na expressão física e no carisma que ele desempenha diante de sua plateia. No entanto,
não só os religiosos precisam ter carisma para dominar; veja, por exemplo, que mesmos os
políticos que concorrem em eleições precisam demonstrar algum tipo de carisma, passar
con�ança a seus eleitores, falar bem e fazer seus votantes acreditarem em suas promessas.
Esses três tipos de dominação pensados por Weber estão separados na teoria, em uma
formatação de tipos ideais metodológicos e, na realidade, um líder político, um governante ou um
mandatário precisa ter um pouco de cada um para conseguir governar. De nada vale um
candidato concorrer em uma eleição se ele não tiver carisma e se não conhecer as tradições da
localidade e dos cidadãos que governará. Desse modo, podemos argumentar que quem exerce
poder o faz por múltiplas qualidades que é capaz de apresentar.
Siga em Frente...
Ciência e política: duas vocações
Em uma das suas últimas conferências, Ciência e política: duas vocações, Max Weber
desenvolverá a particularidade do Estado moderno no mundo e no processo de racionalização,
que seria, para o pensador, uma forma especí�ca diante dos outros poderes na história. A
racionalização também estaria para a política nessa con�guração do agrupamento político no
uso da força, porém, como os elementos modernos racionais do capitalismo, com uma
administração e gestão modernas. A esse elemento ele dedicou particular atenção, por somá-lo
ao monopólio da coação física e que trouxe para a sua teoria uma complexa análise do que ele
chamou de burocracia.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Por esse motivo, em Ciência e política: duas vocações, Weber desenvolve uma de�nição
conceitual de Estado moderno em relação às várias características modernas da racionalização,
baseando a sua análise já nos acontecimentos empíricos do século XX:
O Estado moderno é um agrupamento de dominação que apresenta caráter institucional e que
procurou – com êxito – monopolizar, nos limites de um território, a violência física legitima como
instrumento de domínio e que, tendo esse objetivo, reuniu nas mãos dos dirigentes os meios
materiais de gestão. Isso é o mesmo que dizer que o Estado moderno expropriou todos os
funcionários que, consoante o princípio dos “Estados” dispunha no passado, por direito próprio,
de meios de gestão, substituindo-se a esses funcionários, no topo da hierarquia inclusive (Weber,
2004, p. 66).
Neste sentido, a racionalidade na política cria aspectos especí�cos na atualidade capitalista e
nas ações dos indivíduos agindo socialmente. O �m estabelecido de dominação e poder ganha
corpo próprio nessa teoria de compreensão das complexas e múltiplas relações que atualmente
estabelecemos no cotidiano, desde o pagamento de um imposto à escolha de um representante
na democracia contemporânea. 
Vamos Exercitar?
Quando falamos em burocracia, pensamos em pilhas e pilhas de papéis e a procedimentos
demorados e in�ndáveis. Percebemos, segundo a teoria de Max Weber, que a burocracia está
diretamente ligada à substituição de uma ordem em que o poder se estabelecia por direito, e não
na legitimidade da escolha. Portanto, a burocracia trata de uma ordem racional avançada e que
nos cerca atualmente na política. Por isso, temos a constatação de que evoluímos de formas
tradicionais de poder e dominação para a atualidade da democracia em meio a um tipo de
Estado, moderno e racional. Falar da teoria de Max Weber é também compreender que as nossas
ações políticas estão orientadas pelas e para as ações dos outros, e por isso o poder deve ser
compreendido a partir do Estado moderno e das nossas próprias ações. Uma tese interessante e
extremamente atual, não é mesmo?
Saiba mais
Saiba mais a respeito da obra e da teoria de Max Weber na sua própria Biblioteca Virtual. Você
vai perceber que o pensamento do autor ainda está presente nas teses e trabalhos de
compreensão da realidade social, para além da esfera política e do poder. Compreender as
nossas ações e a nossa orientação social é tarefa fundamental ao cientista político, ao sociólogo
e aos que se preocupam com a sociedade.
LIMA, R. Introdução à Sociologia de Max Weber. Curitiba: Ibpex, 2009.
Referências
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
COLLIOT-THÉLÈNE, C. A Sociologia de Max Weber. Petrópolis: Vozes, 2016.
GIL, A C. Sociologia geral. São Paulo: Atlas S.A., 2011.
LIMA, R. Introdução à Sociologia de Max Weber. Curitiba: Ibpex, 2009.
WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2004.
WEBER, M. Política como vocação e ofício. Petrópolis: Vozes, 2020.
WEBER, M. Economia e Sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. 2. Vol. São Paulo:
Editora UnB, 2004.
WEBER, M. Weber: sociologia. São Paulo: Ática, 2002.
WERNECK VIANNA, L. Weber e a interpretação do Brasil. Gramsci.org., 1999. Disponível em:
http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=85. Acesso em: 31 dez. 2023.
WHIMSTER, S. Weber. (Introdução/�loso�a). São Paulo: Artmed, 2007. 
Aula 4
A Democracia
A Democracia
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Ponto de Partida
Olá, estudante!
Você já percebeu que o uso da palavra democracia atualmente está muito ligado às eleições? E
que ao falarmos de democracia, estamos mais direcionados a compreendê-la como modelo
político em que nossa vontade é respeitada? De fato, a nossa constatação imediata não
corresponde ao conteúdo clássico e de�nidor do que chamamos de democracia. Vamos
entender a razão disso? O convite é estudarmos juntos o conteúdo histórico e contemporâneo
desse termo que tem demarcado todo o debate político contemporâneo. Vamos entender um
pouco mais o que a ciência política tem a nos dizer a esse respeito. Bons estudos! 
Vamos Começar!
A democracia na história
À crítica tão veemente de Platão com relação à democracia – “o governo do número”, “o governo
de muitos”, “o governo da liberdade excessiva” –, colocando-a como a menos boa das boas
formas de governo e a menos má das formas de governo – ou seja, a democracia é fraca e traz
poucos benefícios aos seus cidadãos (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 320) –, surge o
contraponto de Aristóteles. Para Châtelet, Duhamel e Pisier (2009), a reação mais interessante à
concepção de democracia platônica é a de Aristóteles, que adota uma posição �losó�ca:
[...] tornar a �loso�a praticável no seio da Cidade tal como ela é, mas também de dar-lhe
credibilidade como instrumento teórico capaz de determinar, para cada cidade e em geral, qual a
melhor Constituição e quais as virtudes e capacidades exigidas dos cidadãos (Châtelet;
Duhamel; Pisier, 2009, p. 20).
Eis que surge a teoria clássica da democracia calcada na tradição aristotélica das três formas de
governo:
[...] segundo a qual a Democracia, como o Governo do povo, de todos os cidadãos, ou seja, de
todos aqueles que gozam de direito de cidadania, se distingue da monarquia, como Governo de
um só, e da aristocracia, como Governo de poucos (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 319).
Todas contêm em si a possibilidade de degeneração, que é se distanciar de um governo voltado
para o bem comum, e são elas respectivamente: a demagogia, a oligarquia e a tirania.
Nesse sentido, e retomando a linhagem das ideias políticas feita por Châtelet, Duhamel e Pisier
(2009, p. 21), a �m de entender Atenas como o lócus da gênese do pensamento democrático, o
autor apodera-se das palavras de Aristóteles: 
quer seja monárquico, oligárquico ou democrático, o regime moderado vale mais que o
excessivo; e uma combinação equilibrada de democracia e oligarquia permite, sem dúvida, a
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
melhor existência.
Ou seja, a concretização do bem comum.
Na ciência política, como veri�camos, da Grécia antiga até os nossos dias, a democracia vem
sendo estudada. O exemplo mais puro, por assim dizer, de democracia direta tem sido a que se
materializou na história grega. Porém, é necessário entender o caráter da sociedade ateniense
que se estabeleceu nos séculos V e IV a.C., e os limites de ação do Estado de Atenas naquele
período.
Na verdade, o único limite respeitado pelo Estado (democrático) ateniense, na sua ação, foi
aquele imposto pelos interesses escravistas; ainda que alterasse por vezes a legislação sobre as
formas de escravidão, o Estado ateniense jamais propôs a liquidação da escravidão em si
mesma (Saes, 1987, p. 45).
Assim também podemos considerar a democracia na Idade Média. De maneira geral, a
democracia medieval se relaciona a Estados feudais em momentos anteriores à constituição do
Estado moderno e no apogeu do feudalismo europeu. O �o condutor deve ser a sociedade que se
forma a partir das novas maneiras de organização política, e por sua vez, também novas
con�gurações de classe e econômicas. Assim, nas repúblicas urbanas da Idade Média europeia
nem todas as pessoas eram consideradas cidadãs.
Durante a Idade Média, a democracia de classe exploradora se implantava nos verdadeiros sub-
Estados em que se vão convertendo as cidades, a partir do momento (séculos XI e XII) em que
conquistam a autonomia jurídico-política diante do Estado monárquico central. Tais cidades
agora regidas por uma Carta, ou Constituição própria, podem se organizar como tiranias (isto é,
ditaduras); mas também podem, alternativamente, se organizar como repúblicas ou consulados
(isto é, democracias). Nesta última categoria estão inseridas inúmeras cidades italianas
(Florença, Veneza, Luca, Bolonha etc.), no período que se estende do século X ao XIV, algumas
cidades belgas do século XIV (Bruges, Liège, Gand), certas cidades do sul da França (Marselha,
Arles, Nimes etc.) (Saes, 1987, p. 46).
Alexis de Tocqueville e a democracia na américa
Alexis de Tocqueville nasceu em 29 de julho de 1805, em Paris. Foi um pensador político, escritor
e autor de obras como A democracia na América e O Antigo Regime e a Revolução, nas quais
abordou o desenrolar do tema da democracia, em uma proposta liberal, assim como questões
que tratam do governo, das ideias, dos costumes, da ciência, das artes, da literatura etc.
A obra de Alexis de Tocqueville A democracia na América marca um pressuposto importante de
rompimento político, apesar de muito utilizar pressupostos aristotélicos com a antiguidade
clássica. Essa diferença está relatada e estabelecida pelo estudo da democracia nos Estados
Unidos da América no século XIX, contrapondo-a à  democracia antiga pelos elementos da
modernidade e das revoluções burguesas que marcaram a passagem para a
contemporaneidade.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
A democracia americana se torna possível para ele pela “igualdade de condição”, sendo essa na
realidade uma condição necessária, isto é, pela igualdade de acesso das pessoas não somente
para votar ou ocupar cargos públicos, mas também uma igualdade de vantagens econômicas e,
culturalmente, em atitudes antiaristocráticas (Cunningham, 2009, p. 17).
Tocqueville está relacionado ao pensamento liberal que transpassa a consolidação do
capitalismo nos países que vivenciam o século XIX. Isso reverbera em sua análise, cheia de
preocupações normativas. Tocqueville vai buscar na América a concepção de democracia mais
alinhada com a potencialização dos vetores revolucionários europeus modernos, advindos da
herança revolucionária francesa.
Um dos conceitos estudados pelos autores que interpretam a obra de Alexis de Tocqueville é o
de tirania da maioria. Essa expressão recorre à teoria democrático-liberal do autor, de que “em
uma democracia, pessoas com propensões, para não mencionar crenças políticas, fora do
acordo com a maioria serão marginalizadas” ou, de outro modo, “maltratadas pela maioria com
pontos de vista políticos alternativos e gostos culturais, de acordo com ela, corrompidos”
(Cunningham, 2009, p. 67).
“O que é maioria”, Tocqueville escreve, “senão um indivíduo com opiniões e comumente com
interesses contrários a outro indivíduo, chamado minoria?” Na forma mais completamente
realizada de democracia (a América para ele), essa maioria é dotada de poderes sem controle, o
que ocasiona a preocupação de que “se você admite que um homem investido de onipotência
possa abusar contra seus adversários, por que não admitir o mesmo com referência à maioria?”
(1969 [1835-1840], p. 251). Tocqueville pensou que isso é exatamente o que aconteceu na
América, e ele usou a agora bem conhecida frase, “a tirania da maioria”, para descrever uma
quantidade de falhas (Cunningham, 2009, p. 24).
Esse conceito ainda hoje colocado à prova nas democracias contemporâneas, dado o caráter
procedimental e instrumental das democracias nos países, assim como o fator liberal que
conduz os vetores econômicos e políticos atuais.
Siga em Frente...
Schumpeter e a democracia
Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), assim como Alexis de Tocqueville, está entre os autores
proeminentes das teorias da democracia, posto o caráter de demonstração modernotrazido para
a contemporaneidade. Schumpeter aproxima o conteúdo da democracia da análise econômica, e
isso traz pressupostos importantes.
Com a publicação do seu livro Capitalismo, Socialismo e Democracia, em 1942, o autor
demonstra uma aproximação com o marxismo, e um provável declínio do capitalismo marcando
as análises da democracia no século XX. As interpretações acerca da democracia e seu caráter
no capitalismo industrial e no panorama político do século XX marcam o que os autores vão
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
chamar de realismo na análise. A conclusão de Schumpeter foi que o pensamento clássico
deveria ser substituído por algo mais concreto, em consonância com o próprio funcionamento
real da democracia no mundo moderno.
O autor resumiu, por assim dizer, a democracia a um método para selecionar políticos, e de�niu
este método simplesmente como “aqueles arranjos institucionais para chegar a decisões
políticas nos quais indivíduos adquirem o poder de decidir por meio de disputa competitiva pelos
votos das pessoas” (Cunningham, 2009, p. 24).
A razão para isso não é difícil de encontrar. A democracia é um método político, isto é, um certo
tipo de arranjo institucional para chegar a uma decisão política (legislativa ou administrativa) e,
por isso mesmo, incapaz de ser um �m em si mesmo, sem relação com as decisões que
produzirá em determinadas condições históricas. E justamente este deve ser o ponto de partida
para qualquer tentativa de de�nição. (Schumpeter, 1961, p. 296).
A democracia, para o autor, poderia ser pensada no seu bom funcionamento em acordo com a
“disponibilidade de líderes políticos quali�cados; segurança de que os especialistas e não os
políticos decidam questões que requeiram conhecimento ou talentos especiais”. Até mesmo
uma burocracia avançada e uma população reciprocamente tolerante para permitir aos políticos
uma “relativa liberdade de ação no governo”. (Cunningham, 2009, p. 24),
Se sociedades geralmente chamadas de democráticas são vistas em termos de como elas
realmente funcionam (daí a etiqueta realista), é óbvio, Schumpeter insistiu, que são governadas
não pelo povo ou pela maioria tomada como um todo, mas por políticos eleitos junto com
partidos políticos não-eleitos e servidores burocratas. Esse é claramente o caso na base do dia-
a-dia e ano-a-ano em que os políticos comumente (e necessariamente evitam o caos das
eleições ou referendos perpétuos) buscam políticas em acordo com seus próprios interesses ou
suas estimativas do que é melhor (Cunningham, 2009, p. 19).
De maneira geral e em um espectro relativamente amplo, podemos mencionar a nossa realidade
brasileira. Você já pensou em como analisar a democracia brasileira e quais os elementos para
essa análise os autores nos forneceram? Essa leitura é essencial, necessária e própria da ciência
política. 
Vamos Exercitar?
Os autores têm propostas e teorias diversas em acordo com o tempo histórico em que o
capitalismo de maneira geral avança para o teor político. Um ponto levantado pelos teóricos que
estudamos é a devida leitura social e política que permeia o melhor modelo de organização e que
atenda ao bem comum. Não podemos negar as contradições, as desigualdades e o caráter dos
estudos que tratam da democracia que demonstram isso. No Brasil, vivemos a realidade de uma
democracia capitalista, periférica e reforçada por condições de desigualdade. Os limites
apontados pelos teóricos clássicos da democracia ainda se colocam para a nossa realidade e
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
para a importância de uma forma política correspondente à nossa heterogênea formação social.
Ainda temos muito a caminhar quando o assunto é a democracia. 
Saiba mais
Para exercitar o conteúdo, avalie as noções clássicas de democracia em meio à realidade
brasileira, analisando pontos da obra referenciada em sua Biblioteca Virtual:
GRAZIANO, X. O fracasso da democracia. São Paulo: Almedina, 2020.
Referências
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. V. 2. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2004.
BEÇAK, R. Democracia: hegemonia e aperfeiçoamento. São Paulo: Saraiva, 2014.
CHÂTELET, F.; DUHAMEL, O.; PISIER, E. História das ideias políticas. São Paulo: Zahar, 2009.
CUNNINGHAM, F. Teorias da democracia. São Paulo: Artmed, 2009.
GRAZIANO, X. O fracasso da democracia. São Paulo: Almedina, 2020.
SAES, D. Democracia. São Paulo: Ática, 1987.
SANTOS, B. de S. Direitos humanos, democracia e desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 2014.
SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura,
1961.
TOCQUEVILLE, A de. A democracia na América: leis e costumes de certas leis e certos costumes
políticos que foram naturalmente sugeridos aos americanos por seu estado social democrático.
Tradução de Eduardo Brandão; prefácio, bibliogra�a e cronologia por François Furet. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, (Paidéia), 2005.
TOCQUEVILLE, A de. A democracia na América: sentimentos e opiniões: de uma profusão de
sentimentos e opiniões que o estado social democrático fez nascer entre os americanos.
Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, (Paidéia), 2000.
TOCQUEVILLE, A de. O antigo regime e a revolução. 4. ed. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1997.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786586618204/pageid/0
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Aula 5
Encerramento da Unidade
Videoaula de Encerramento
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Ponto de Chegada
Olá, estudante!
Para desenvolver a competência desta unidade, Teoria do poder, que é avaliar a dinâmica do
poder nas suas diferentes interfaces a partir de uma elaboração dialógica entre a teoria e a
prática histórica; assim como avaliar os instrumentos necessários para demonstrar como as
relações de poder e o poder em si são operacionalizados no campo político no interior do Estado,
a partir da teoria clássica em ciência política, você deverá primeiramente conhecer os conceitos
e as dimensões do poder. O poder e suas dimensões foram estudados por autores que se
dedicaram e marcaram a história das ideias políticas.
O mesmo ocorre com o conceito de poder, pois ele também recebeu tratamento re�exivo na
Antiguidade. Aliás, pode-se dizer que o conceito de poder é até mais abrangente e essencial para
as relações sociais do que o conceito de política, ainda que eles tenham sido identi�cados como
partes de um mesmo processo (Lucas, 2021, p. 16).
Alguns elementos nos saltam ao tratar da perspectiva do poder. São os aspectos jurídicos,
políticos e ideológicos em relação à dimensão do poder do Estado, que no construto das
sociedades humanas ganha um contorno relacional, e no que diz respeito à nossa sociedade
capitalista, o Estado moderno tem protagonismo. Os autores, debatem a respeito do Estado
moderno e da origem do poder. Em Étienne de La Boétie (1530-1563) no Discurso da servidão
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
voluntária, o poder político é o epicentro da análise quando o autor trata da submissão do povo,
da vontade de cidades e lugares inteiros à tirania e a autoridade de uma só pessoa.
La Boétie mostra que não é por medo que obedecemos à vontade de um só, mas porque
desejamos a tirania. Como explicar que o tirano, cujo corpo é igual ao nosso, tenha crescido
tanto, com mil olhos e mil ouvidos para nos espionar, mil bocas para nos enganar, mil mãos para
nos esganar, mil pés para nos pisotear? Quem lhe deu os olhos e os ouvidos dos espiões, as
bocas dos magistrados, as mãos e os pésdos soldados? O próprio povo (Chaui, 2000, p. 527).
As origens do debate moderno que tratam do poder, estão, por assim dizer, ligadas à gênese do
Estado moderno como uma forma especí�ca de poder concentrado, e para alguns autores, à
origem da própria sociedade capitalista. O conjunto de relações que formatarão o nosso mundo
capitalista é complexo e toma vários caminhos políticos e do poder político.
O poder para Karl Marx (1818-1883), teórico alemão que desenvolveu o método de análise do
materialismo histórico e dialético, está na classe social – a classe entendida na dialética entre o
lugar que os indivíduos ocupam na cadeia produtiva e também nos espaços jurídicos, políticos e
ideológicos. O autor vai buscar e demonstrar o poder político no capitalismo e na nossa
realidade a partir das classes e, principalmente, na luta entre elas. Alguns marxistas no século XX
e XXI ainda utilizam o método para explicação da realidade contraditória em que vivemos.
As instituições não têm poder por si; elas são a materialização do poder de classe e, por isso, se
tornam centros de poder. O Estado é o centro do exercício do poder político. Na mesma toada,
entende-se que a autonomia relativa das instituições estatais não se deve ao poder próprio, mas
à sua relação com as estruturas e a materialização de poder que ali se realiza (Farias; Del Passo,
2020, p. 175).
A partir das teses de Karl Marx no século XIX, a questão do poder e do poder político não foi
mais desvinculada do capitalismo como forma de sociedade na história em que o Estado
moderno ocupa lugar estratégico e estruturante político. Max Weber (1864-1920) defenderá que
a origem do capitalismo está nas ações sociais dos indivíduos e não nas classes sociais no
sentido de Marx. Na ciência política de Max Weber, o processo de racionalização e
desencantamento do mundo moderno também transforma o poder político em racional, assim
como a origem do capitalismo deve ser buscada em uma espécie de ética – logo, também está
para o poder político. Todo Estado, como agrupamento político moderno, se fundamenta no uso
da força, do monopólio legítimo da violência e na transformação racional da política moderna,
que pode ser olhada a partir de formas especí�cas de dominação.
Poder e dominação são os conceitos primeiros dessa sociologia da dominação e aqueles a partir
dos quais se tornava possível a reconstrução do conceito de Estado. Para Weber, o poder
(Macht) "signi�ca toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo
contra resistências". Tal conceito seria, entretanto, pouco útil para a análise das relações sociais,
uma vez que todo indivíduo poderia pôr outro em uma situação na qual este último seria
obrigado a aceitar sua vontade. Em uma relação entre empregado e empregador, ambos teriam,
por exemplo, em situações diversas, poder para fazerem valer suas vontades no mercado de
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
força de trabalho sem que fosse possível determinar de antemão qual das partes prevaleceria
(Bianchi, 2014, p. 87).
Formas e exercício do poder do Estado moderno em meio ao próprio desenrolar da sociedade
capitalista na história e o poder e suas dimensões são trabalhados por autores como Alexis de
Tocqueville (1805-1859), na proposta de compreensão do mundo contemporâneo. Como as
revoluções que marcaram a queda do antigo regime, a ascensão do modo liberal de vida e as
instituições ganham corpo na mesma medida de representação política no interior do Estado,
que em suas atribuições deve garantias e direitos. A democracia é debatida por Tocqueville
nestes moldes.
Alexis de Tocqueville “foi o primeiro autor moderno a realizar uma investigação abrangente
acerca do modo como o princípio democrático, a igualdade, funciona como causa primeira na
medida em que molda ou afeta todos os aspectos da vida na sociedade” (Strauss, 2019, p. 692).
O individualismo e o materialismo, características da democracia que causam discórdia, são até
certo ponto compensados por um abrandamento geral dos costumes e pelo desenvolvimento de
um espírito de compaixão humana ou por um sentimento de companheirismo. As classes da
Idade Média encaravam umas às outras como seres pertencentes a diferentes espécies, tal era a
diferença em suas maneiras, ocupações e gostos. A sociedade era fria, intransigente, rígida. A
revolução democrática com sucesso anula obrigações sociais ou políticas ao trazer à tona os
laços humanos naturais. À medida que as condições se tornam iguais, os homens adquirem
consciência de sua semelhança uns aos outros; essa consciência evoca sentimentos de genuína
simpatia, e basta um ato da imaginação para permitir que um experimente os sofrimentos do
outro. A revolução democrática revela a bondade natural do homem; um homem não feriria outro
sem necessidade. Podemos reconhecer aqui o paralelismo entre o homem “democrático” de
Tocqueville e o homem “natural” de Rousseau (Strauss, 2019, p. 697).
Como o capitalismo no mundo avança de maneira acelerada na contemporaneidade, é preciso
lembrar que o modo capitalista de produção não é o único modelo de sociedade, mas o modo de
produção que se tornará hegemônico em relação ao processo de mundialização. Com isso
também a causa complexa do poder, mais precisamente, de compreender o poder, imerso em
uma realidade contraditória, de classes, muito mais complexa e em que o poder político do
Estado se coloca de maneira a atenuar os con�itos. Por isso a democracia vai ser debatida como
regime político e como tipo especí�co de Estado, que deve considerar as nossas relações sociais
atuais.
Joseph, A. Schumpeter (1883-1950), desenvolve uma concepção de democracia já no século XX,
que devemos entender e acompanhar quando tratamos de poder. Esse autor vai dizer que a
democracia no século XX se caracteriza muito mais pela concorrência e pelo arranjo feito de
maneira institucionalizada da política.
Democracia, diz Schumpeter, “é a livre competição pelo voto livre”: eis aqui um dos aspectos
mais originais de sua concepção de democracia. Tal como no mercado econômico, em que
empresários competem pela preferência do consumidor, encontramos no mercado político
empresários políticos que disputam a preferência dos eleitores (consumidores de bens
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
públicos). Nesse mercado, a contraprestação do eleitor é o voto, enquanto a do político é uma
vantagem, sob a forma de um bem ou de um serviço. Partidos políticos e eleitores, segundo
Anthony Downs, à semelhança de empresários e consumidores, atuam racionalmente no sentido
de que os partidos calculam a trajetória e os meios de sua ação para maximizar seus votos
(lucros), enquanto os eleitores, da mesma forma, procuram maximizar suas vantagens
(utilidades) (Amantino, 1998, p. 134).
Portanto, o eixo da análise das relações de poder modernos, da política moderna e do Estado
modernos devem considerar as expressões atuais do poder, na complexa relação em que os
indivíduos se colocam no capitalismo em geral, sem descartar os indivíduos, grupos e classes
sociais, suas aspirações, suas contradições e, principalmente, entendendo o caráter dos
con�itos, que na atualidade também ganham contornos planetários. Mais do que nunca a ciência
política é necessária.
É Hora de Praticar!
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Gaspar é um entusiasta dos livros de história. Ele adora as passagens que descrevem os grandes
acontecimentos políticos e, sobretudo, os grandes líderes políticos. Em meio às suas leituras, ele
sempre se questiona como Napoleão conseguiu reunir um imenso exército de franceses para
lutar por seus propósitos. Por que Napoleão liderou o período pós-revolucionário daquele país, e
não qualquer outro francês? Outro dia, Gaspar se fez a mesma pergunta em relação a Hitler.
Como um homem com ideias tão perigosas conseguiu liderar um país inteiro, a Alemanha,
atraindo todo o mundopara a Segunda Grande Guerra? Quando lê a respeito da história do Brasil,
Gaspar �ca se perguntado como Getúlio Vargas conseguiu iniciar as transformações que
modernizaram nosso país. 
Na verdade, perguntas como a de Gaspar foram feitas por importantes autores da �loso�a e das
ciências sociais, que nos deixaram importantes explicações acerca de como o ser humano
exerce o poder e a autoridade sobre outrem. Na atualidade, qual é a importância da democracia
em meio à nossa realidade desigual e que exclui do poder a maioria das pessoas? 
Quais diferenças se estabelecem entre a concepção de poder na Antiguidade e do poder na
realidade moderna?
As contradições, a exploração do trabalho e do “homem pelo homem” podem ser compreendidas
no mundo contemporâneo a partir da análise do poder e da política?
Podemos perceber a presença das classes sociais no Brasil no nosso meio social e político?  
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CIÊNCIA POLÍTICA
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Uma vez realizada a leitura desta seção, podemos ajudar Gaspar a resolver suas indagações.
Com base nas ideias dos autores que lemos, poderíamos responder que provavelmente
Napoleão expressava carisma em seus discursos e convocações para as batalhas que travou.
Naquele momento, nenhum outro francês possivelmente conseguiu se expressar com tamanha
convicção e carisma. Os franceses acreditaram em Napoleão porque seu discurso era
convincente. O conceito de dominação carismática de Max Weber explica essa compreensão.
Por outro lado, poderíamos argumentar que Napoleão tinha conhecimentos técnicos de guerra –
a�nal, era militar.
Gaspar também se perguntou como um homem com ideias tão perigosas como Hitler conseguiu
liderar um país inteiro, a Alemanha, atraindo todo o mundo para a Segunda Grande Guerra.
Poderíamos argumentar o mesmo que falamos para entender a fonte do poder de Napoleão. Em
todo caso, o resultado do poder e do governo de Hitler nos leva a pensar que o poder e a
dominação nem sempre resultam no bem comum para os governados e os cidadãos, e a
democracia é instrumentalizada a partir de interesses. Por isso os autores debatem o conceito
de democracia moderna.
Ademais, Gaspar se perguntou como Getúlio Vargas moveu o país do contexto rural para o
urbano. Entre todos os presidentes brasileiros, Getúlio Vargas é o mais reconhecido pelo seu
carisma e por sua capacidade de discursar e se fazer entender e acreditar por diferentes setores
da sociedade. Foi, reconhecidamente, um dos políticos mais carismáticos da história do país.
Poucos foram os momentos da história do Brasil em que as ruas foram tomadas por tantas
pessoas como em seu funeral. Ainda, se lembrarmos que La Boétie dizia que a distribuição do
poder na estrutura do Estado era fundamental para que o governante pudesse governar,
podemos argumentar que nenhum outro governante brasileiro produziu uma estrutura de
governo tão centralizada e, ao mesmo tempo, grande o su�ciente para compartilhar cargos e
comandos, como Getúlio Vargas, colocando um enorme desa�o para compreendermos a
democracia em uma sociedade tão desigual quanto a brasileira.
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Fonte: elaborada pelo autor. 
AMANTINO, A. K. Democracia: a concepção de Schumpeter. Teor. Evid. Econ., Passo Fundo, v. 5,
n. 10, p. 127-140, maio 1998. Disponível em:
http://cepeac.upf.br/download/rev_n10_1998_art7.pdf. Acesso em: 3 jan. 2024.
BERAS, C. Democracia, cidadania e sociedade civil. Curitiba: Intersaberes, 2013.
BIANCHI, A. O conceito de estado em Max Weber. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 92, p.
79–104, maio 2014.
CHAUI, M. Convite à Filoso�a. São Paulo: Ática, 2000.
FARIAS, F. P.; DEL PASSO, O. F. Poder político e classes sociais de Nicos Poulantzas. Lutas
Sociais, São Paulo, v. 24, n. 44, p. 173-179, jan./jun. 2020.
LUCAS, J. I. P. Ciência Política. Caxias do Sul: Educs, 2021.
MARX, K., ENGELS, F. O manifesto comunista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2023.
MARX, K. Manuscritos Económico Filosó�cos. Portugal: Edições 70, 2017.
SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura,
1961.
TOCQUEVILLE, A. de. A democracia na América: leis e costumes de certas leis e certos costumes
políticos que foram naturalmente sugeridos aos americanos por seu estado social democrático.
Tradução de Eduardo Brandão; prefácio, bibliogra�a e cronologia por François Furet. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, (Paidéia), 2005.
TRAUSS, L. História da Filoso�a Política. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
WEBER, M. Política como vocação e ofício. Petrópolis: Vozes, 2020. 
,
http://cepeac.upf.br/download/rev_n10_1998_art7.pdf
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CIÊNCIA POLÍTICA
Unidade 4
Sufrágio, Partido e Cidadania
Aula 1
Sufrágio Universal
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Ponto de Partida
Olá, estudante!
Você já pesquisou alguns episódios que contestaram as opressões de classe vividas no século
XIX em que a política foi o instrumento que atingiu a nossa sociedade. Um exemplo disso foi a
Comuna de Paris em 1871, como re�exo das lutas sociais no capitalismo monopolista que se
formara massi�cando as desigualdades. Com o voto não foi diferente. Para chegarmos até o
ponto em que estamos atualmente um longo caminho histórico foi construído, e com muita luta
social. Imaginemos que somos todos (nesta disciplina Ciência Política), mulheres na Europa do
século XIX, em meio às transformações políticas que inundariam o mundo contemporâneo, mas
sem poder exercer o sufrágio de maneira universal. Foi isso que ocorreu no mundo
contemporâneo do ponto de vista político e do sufrágio universal. Mas o que a mulher que viveu
o século XIX na Europa tem em comum com a mulher brasileira do século XX? O desa�o para
nós é entender a importância do sufrágio universal e os seus elementos. Vamos juntos?
Ótimos estudos!  
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Vamos Começar!
m A origem do sufrágio na modernidade
O iluminismo posicionado entre as grandes revoluções – a inglesa do século XVII e a francesa no
século XVIII –, coloca os valores e os ideais de liberdade e igualdade das teses no campo prático
da luta social que solapa o “antigo regime”. Logo, uma associação de elementos concretos
transformadores das condições reais de existência dos indivíduos para o capitalismo aparecem
ligadas aos ideais de liberdade burgueses na Europa Ocidental do século XVIII. Quando a
Revolução Francesa de 1789 impõe a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, também
coroa os direitos considerados naturais de Locke a Rousseau, e com isso traz todo o composto
político da cidadania moderna fundida no liberalismo.
Seguindo essa perspectiva, instala-se o debate na Assembleia Constituinte francesa de 1789,
onde rapidamente é produzida a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A dupla
dimensão do direito está presente até no título da Declaração, que contempla o “homem”, isto é,
o sujeito dos “direitos naturais”, e o “cidadão” sujeito dos direitos políticos e sobre quem se
constitui a soberania estatal. Toda a ampla visão liberal da sociedade aparece aqui, consagrando
a divisão de poderes proposta por Locke e por Montesquieu, a liberdade de comércio e produção
pregada pelos ingleses e pela �siocracia, a “vontade geral” de Rousseau como base do Estado
(Grespan, 2003, p. 104).
O sufrágio universal como o conhecemos amadurece a partir do contexto revolucionário francês
resultante das lutas históricasliberais. O contexto revolucionário moderno que derruba os
preceitos do antigo regime se espalha rapidamente às colônias, tanto que a revolução americana
marca uma condição de transformação federalista pensando – limitadamente, é claro, com
relação a nossa atualidade – nos preceitos políticos.
Na França, ainda em 1848 publica-se o decreto de 5 de março assinado em Paris:
Art. 1 – As Assembleias eleitorais regionais estão convocadas para no dia 9 de abril próximo
eleger os representantes do povo à assembleia nacional que deve decretar a constituição. Art. 2
– A eleição terá por base a população. Art. 5 – O sufrágio será direto e universal (Canêdo, 2005).
O ponto a se pensar é uma possível de�nição de sufrágio universal: é o direito e a possibilidade à
participação política da população. Veja que falamos em direito e possibilidade, não somente em
voto. O voto signi�ca o instrumento ou a ferramenta do sufrágio. E o sufrágio vem associado à
palavra “universal” pela abrangência de todos a participação política, independentemente de
gênero, cor, poder aquisitivo, estrato social ou casta.
A redação deste decreto difundiu a idéia da originalidade política francesa no mundo ocidental.
De fato, no que se refere à redução das exclusões, seguindo uma cronologia estritamente
institucional, a França se adiantou aos demais países. Em 1789, com a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, os franceses proclamaram a igualdade civil entre os homens. Em 1848,
o governo francês concebeu os homens como politicamente iguais: decretou o novo princípio
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
eleitoral – o do sufrágio direto sem qualquer limitação de censo – e fundamentou a
representação na população, estabelecendo o valor igual dos votos num sistema de
proporcionalidade da representação (Canêdo, 2005).
Você já deve considerar neste ponto da análise que nem todos têm acesso a essa escolha
política ou ao direito de participação política, principalmente no século XIX nos países europeus,
na América e fundamentalmente nas colônias. Basta citar o Brasil colonial, imperial e escravista
e a exclusão das mulheres. Mesmo no contexto revolucionário francês e da participação das
mulheres na Revolução de 1789, o mundo capitalista do século XIX era restritivo quanto à
participação política, e o sufrágio mesmo representando um avanço, recaiu aos tratos políticos
mais dominantes. “Durante muito tempo, o direito de votar foi entendido como um privilégio de
poucos, e estes poucos sendo exclusivamente do gênero masculino, brancos e possuidores de
bens” (Karawejczyk, 2020, 14).
 
Sufrágio e as formas de governo
O que chamamos de democracia na passagem do Estado moderno ao contemporâneo nada
mais é do que o exercício dos direitos políticos que envolvem a participação política da maioria a
partir do sufrágio. É claro que o contexto da democracia envolveu os avanços e recuos da luta
entre as classes no processo de transformação liberal do Estado. Por esse motivo, encontramos
autores como Schumpeter (1961) que de�nem o método democrático contemporâneo como
arranjo institucional, envolvendo a representação e o voto: um “acordo institucional para se
chegar a decisões políticas em que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma
luta competitiva pelos votos da população”.
O sufrágio universal trata da forma moderna na participação eleitoral. Com isso, é necessário
observar as formas de governo que ocupam a centralidade do espaço no Estado moderno no
mundo pós-revoluções políticas. A participação eleitoral é a forma e o exercício do sufrágio
muito ligado ao contexto do Estado moderno no mundo contemporâneo e, principalmente, nas
democracias contemporâneas.
Por isso, quando vamos analisar o sufrágio, analisamos pelo voto que é o instrumento acessado
pelo rito eleitoral na contemporaneidade, assim como as suas restrições censitárias: quem pode
votar, quando e como é o processo eleitoral e os critérios que limitam a participação política nas
diferentes formas de governo, que foram criadas a partir das fases capitalistas após a Revolução
Francesa – uma primeira fase de luta contra os rescaldos do antigo regime, e tratamos das lutas
pelos ideais do iluminismo; uma segunda fase de consolidação do capitalismo no conhecido
período da Primavera dos povos na Europa; e uma fase que abre o precedente contemporâneo
das formas de governo acerca das quais podemos debater atualmente e que começam no
século XX ainda ligadas às repúblicas e às monarquias.
Associado à democracia como forma de governo, o liberalismo garante aos indivíduos o
exercício de seus direitos por meio da doutrina cujas origens remontam ao pensamento de Locke
(1632-1704), baseada na defesa intransigente da liberdade individual, nos campos econômico,
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
político, religioso e intelectual, contra ingerências excessivas e atitudes coercitivas do poder
estatal na participação política, que se efetiva pelo sufrágio universal e pela representação
política – no entanto, assegura também que o Estado liberal terá limitações em seu poder,
conforme estabelecido nas cartas magnas (constituição), permitindo que a sociedade civil aja
conforme os preceitos da liberdade.
Dessa forma, na concepção liberal há limites à regulação do mercado, por exemplo. É consenso
que a ideia de Estado mínimo, comum nos países ocidentais após a década de 1980 e até a
década de 1930, que corresponde à ausência do Estado na regulação do mercado e na
intervenção na economia, entre outros fatores, é um exemplo de Estado liberal.
As restrições censitárias “modernas” à participação eleitoral se apoiam em critérios quantitativos
(nível de rendimento, extensão da propriedade); assim, a linha de demarcação, no plano político,
entre cidadãos e não cidadãos não é aqui tão nítida quanto numa democracia escravista, como a
ateniense (nesta, os excluídos da cidadania política não são “pobres” e, sim, escravos) (Saes,
1987, p. 53).
O sufrágio universal aparece como uma característica do Estado moderno em suas formas
tomadas pelo poder político. As formas de governo que locomovem essa estrutura adentram a
teoria dos “três” poderes, mas têm vida própria quando somadas à forma liberal do século XIX e
XX. Basta para nossa veri�cação o processo histórico de cada país entre as repúblicas e os
modelos da monarquia imersos em uma realidade que não retroagiria mais. Como o capitalismo
industrial se concretiza no século XIX, também a formação das classes pode ser explicada pela
acumulação capitalista que coloca no topo da hierarquia econômica e política a classe
dominante burguesa, liberal e detentora do poder, com a queda das monarquias centralizadoras.
Siga em Frente...
 
Politização e voto no mundo contemporâneo
O sufrágio universal é um importante elemento que acarreta direitos políticos a uma politização
de classe anteriormente não conquistada. Basta mencionar que a condição da população e das
classes sociais que se formavam a partir do trabalho assalariado na Europa do século XIX era
pauperizada.
As péssimas condições de moradia e a superpopulação são duas anotações constantes sobre
os bairros operários londrinos. Mesmo áreas ricas como Westminster têm paróquias onde,
segundo o Journal of Statistical Society de 1840, moram, 5.366 famílias de operários em 5.294
habitações, num total de 26.830 indivíduos, dispondo ¾ dessas famílias somente de uma peça
para viver (Bresciani, 2013, p. 25).
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Por isso o direito a participação política, mesmo que limitada, acarretou um grau de politização
das massas pobres da Europa, assim como a luta e participação da população excluída do
processo político há tempos, como a das mulheres. Isso não descarta o caráter das contradições
e das desigualdades, mas explicita a importância das lutas políticas. A despeito do sufrágio,
podemos veri�car, ainda na Inglaterra, essa luta das mulheres sufragistas, já no século XX.
O movimento das sufragistas se iniciou, ali, em 1910. Dividido a respeito do sufrágio feminino, o
Gabinete deixou aapós intensas discussões na praça
pública. Mentalize essa realidade atualmente. No espaço da cidade moderna, como você se
sente politicamente? Será que o nosso tempo é preenchido com esse afazer? Não ter tempo para
nada também é não ter tempo para a participação coletiva? A seguir, veremos que a política não
se refere apenas a cumprir mandatos eletivos ou fazer parte da máquina do Estado, mas,
sobretudo, em pensar, re�etir e decidir como viveremos juntos. 
Vamos Começar!
Atenas, atual capital da Grécia e sua maior cidade, já povoou largamente nosso imaginário por
diversas razões. Na mitologia grega foi o palco de disputa entre os deuses Poseidon e Atena,
sendo que a vencedora motivou a escolha do nome dessa localidade. Atenas, que se localiza na
região da Ática, também sedia alguns dos mais conhecidos sítios arqueológicos da humanidade:
o Parthenon e os edifícios da Acrópole. Entretanto, não é sobre a Atenas atual que nos
debruçaremos, mas, sim, sobre a Atenas da Antiguidade clássica, especi�camente sobre o seu
desenvolvimento cultural e político entre os séculos IV e V a.C. – período também chamado de
“milagre grego” (Châtelet; Duhamel; Pisier, 2009) – e que de tamanha importância é capaz de nos
impactar até os dias de hoje. Assim, a despeito das importantes invenções nas artes e na
técnica, a presente seção trata de uma forma política original surgida na Grécia antiga: a pólis, ou
a cidade.
Raiz de inúmeros conceitos e palavras, a expressão pólis remete de forma imediata à ideia de
cidade, não somente no sentido urbano e espacial, mas sobretudo no sentido de comunidade
organizada, de comunidade política, na qual os cidadãos são os personagens centrais (Nogueira,
2015, p. 703).
Contudo, foram muitas as pólis surgidas naquele período, e com características diversas. Elas se
aproximavam por terem
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CIÊNCIA POLÍTICA
uma organização política e militar própria, eram autônomas e autossu�cientes, o que lhes
possibilitava serem independentes umas das outras (Nogueira, 2015, p. 703).
Então, por que nos deteremos às vicissitudes de Atenas? Pelos fundamentos colocados em
prática e que não nos servem exatamente como um modelo a ser seguido, mas como uma fonte
de inspiração, visto que Atenas foi o lócus da gênese do pensamento político, das instituições
democráticas e da política em um sentido lato: o interesse pela coletividade. Nosso intuito é
compreender os fundamentos democráticos vivenciados pelos atenienses e a política que vem
da antiguidade. Para tanto, é preciso dizer que a sociabilidade grega era entendida como
produzida pela natureza, mas passível de ser ordenada pelos homens. A sociabilidade ateniense
era então vivenciada na pólis, o “lugar por excelência da vida civilizada” (Nogueira, 2015, p. 703).
Tomando Aristóteles como referência, Châtelet, Duhamel e Pisier (2009) destacam que o homem
é um animal político porque tem no agrupamento – pólis – uma forma política de viver em uma
comunidade consciente, com a qual é desejável que cada um desenvolva suas próprias virtudes.
E o desenvolvimento de suas virtudes só poderia acontecer por conta de uma outra importante
característica dos gregos da Antiguidade: a relação com o tempo.  
O tempo não estava ligado apenas ao trabalho, ao futuro, mas ao que estava acontecendo
naquele momento, naquela localidade, e o vivenciar o agora colocava o desenvolvimento
individual como algo muito importante. Entretanto, não se trata de um individual como pensamos
atualmente, egocêntrico e fechado em si, mas algo indissociável da coletividade, integrando 
[…] desejos, vontades e interesses em uma convivência coletiva (Nogueira, 2015, p. 705).
Não é por acaso que a palavra grega politikós, com a qual se designa tudo aquilo que é próprio
da política (politiké), signi�ca também polido, cortês, delicado. Do mesmo modo, o termo grego
polis, de onde vem política, se estende do latim civitas e urbe, de onde vêm civil e urbano, que
tanto dizem respeito à cidade quanto à urbanidade, à civilidade, à cortesia e à afabilidade. Nem
mesmo a palavra polícia (do grego politeia e do latim politia) escapa dessa raiz: tem a ver não
tanto com repressão, como pensamos hoje, mas com a atividade administrativa dedicada a
tutelar e proteger a coletividade e suas partes (Nogueira, 2015, p. 703).
 
Siga em Frente
Em relação à autonomia da política, temos dois aspectos a considerar acerca dessa discussão: 
1. Segundo a interpretação de Sartori (1981), no mundo grego essa autonomia não existia, pois o
político e o social estavam completamente imbricados, ou seja, tudo que se tratava de política,
também se tratava de coletividade. Sartori (1981), interpretando os escritos de Aristóteles, a�rma
que a concepção de vida na Grécia tomava o homem como parte intrínseca à pólis – ele se fazia
nela e ela nele – e aquele que perdesse o vínculo com ela estaria sujeito a uma existência não
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
política. Para ele, a pólis era considerada uma totalidade, ou seja, condicionava todas as
interações sociais. 
2. Já Marco Aurélio Nogueira (2015) destaca a autonomia dos demos (a parte politicamente
ativa, os cidadãos, homens livres nascidos em Atenas) em sua capacidade de modi�car as leis
de acordo com o contexto vivenciado. Cabendo lembrar que o 
conceito de cidadania teve origem nas cidades-Estados da Grécia antiga, onde o status de
“cidadão” era concedido aos que viviam dentro dos limites da cidade (Giddens; Sutton, 2015, p.
306).
O conjunto desses cidadãos era soberano em suas decisões, e a soberania era operacionalizada
em um ambiente de igualdade política  
da igual repartição da atividade e do poder (Nogueira, 2015, p. 703).
Mas também de igualdade perante a lei. Em outras palavras, a igualdade ateniense se
desdobrava na obtenção de um conjunto de direitos que não eram passivos, mas ativos no
sentido de que a participação não era apenas bem-vista como também estimulada, encorajada
pelas próprias regras da pólis e em como elas eram vivenciadas – e vivenciadas tendo um
objetivo como norteador: a busca e a conquista do bem comum.
Outro aspecto destacado por Nogueira (2015) capaz de dialogar com Sartori (1981) é a questão
da verticalidade na política na antiguidade. No que se refere à pólis, podemos dizer que não havia
verticalidades acentuadas, ao contrário. Ressaltará Nogueira (2015) que: 
Não se tratava de um Estado na concepção moderna do termo, como uma instituição
apartada da sociedade. 
Havia muitos elementos da democracia direta, e o lócus privilegiado da participação
política direta era a Assembleia do Povo – o corpo soberano efetivo –, concretizada em
praça pública, portanto, uma questão central para as democracias modernas, a saber, a
relação entre representantes e representados, era secundária na democracia ateniense, isto
porque não havia “especialistas” em assuntos políticos, algo muito corriqueiro na política
atualmente.
Assim, o cidadão na contemporaneidade �ca relegado à função de votante nos dias marcados
para o pleito, e não como um agente capaz de discutir as pautas e as ações públicas e seus
desdobramentos. A pólis entra em decadência no século IV e as causas para tal declínio pode
ser resumidas em
um individualismo desenfreado, onde a participação na assembleia não é mais entendida como
contribuição para o bem comum, mas como meio de obter vantagens pessoais” (Bonini, 2004, p.
953). 
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
E dessa rica experiência, o que �ca para nós? Nogueira (2015) elenca alguns pontos
importantes: 
A possibilidade de domesticarmos a autoridade e o poder. 
Reconhecer no con�ito e na apresentação de diferentes pontos de vista a possibilidade de
convivência pací�ca e justa com as diferenças que são intrínsecas a todo agrupamento
humano (e político). 
A possibilidade de nos ajudar a formular um tipo de sociabilidade mais solidária e
democrática.
Vamos Exercitar?
Você se lembra do debate que abrimos no início destaCâmara a decisão sobre a medida. Foi apresentado um projeto, por Dickinson,
concedendo o voto às mulheres de 25 anos de idade, que ocupassem um imóvel ou que fossem
casadas com homem que ocupasse um imóvel. Previa-se que aprovada a lei, fossem
bene�ciadas 6 milhões de mulheres. Mas o projeto foi rejeitado em segunda discussão, por 47
votos (Porto, 2012, p. 354).
No Brasil, a questão do sufrágio feminino é tão importante que os argumentos contrários na
imprensa do século XIX e XX, levando em conta um contexto geral de posição da mulher na
sociedade brasileira, são os mais diferenciados e ideológicos. Percebe-se que esse elemento
ideológico enquadra e atomiza a mulher em uma posição de submissão política.
Tais argumentos ressaltam o papel da mulher como mãe e procuram dar destaque para o
prejuízo que a família sofreria se a mulher conseguisse participar do mundo político. Sobre o
recurso da pilhéria e da zombaria, utilizado pelos que desejavam descaracterizar os pedidos
femininos de uma maior participação no mundo masculino da política, Rachel Soihet (2005;
2013), em seus trabalhos, destaca que esse era um dos recursos mais e�cazes, sendo utilizado
como um freio para as pretensões femininas (Karawejczyk, 2020, p. 14).
Para a ciência política, o sufrágio universal torna-se fundamental por perceber a restrição
censitária da maioria despossuída nos últimos séculos, mas, também, por reconhecer o papel
que as minorias e a classe trabalhadora exercem nas democracias capitalistas. Cabe a nós o
estudo e o aprofundamento do papel político e da importância política do sufrágio nas suas mais
variadas formas: censitário, irrestrito, feminino, universal, posto que as desigualdades ainda se
colocam. 
Vamos Exercitar?
Conforme expõe Karawejczyk (2013), desde o início da República o sufrágio feminino foi
discutido no Parlamento brasileiro. “Porém, foram necessários 26 anos, depois da aprovação da
Constituição de 1891, para que o tema voltasse a fazer parte da agenda do Congresso Nacional”.
O sufrágio feminino acompanha as lutas travadas pela opressão que sempre favoreceu o
universo masculino em detrimento do papel da mulher na sociedade que se formara com os
preceitos políticos considerados universais pelo liberalismo e o modo de vida da burguesia
capitalista do século XIX. No Brasil, na atualidade o direito de votar foi conquistado mediante
duras “penas”. Por isso, é muito importante a valorização da ação do sufrágio universal, mesmo
com as desigualdades que ainda se colocam.  
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Saiba mais
Aprofunde seus estudos e conhecimentos a respeito do sufrágio feminino no Brasil, com fatos,
estudos, pesquisa e referências históricas, no livro que está à disposição na sua Biblioteca
Virtual:
KARAWEJCZYK, M. As �lhas de Eva querem votar: uma história da conquista do sufrágio
feminino no Brasil. Porto Alegre: ediPUCRS, 2020. E-book. 
Referências
APARECIDO DE CARVALHO, E.; DE PAULA, A. da S.; KODATO, S. Democracia e política: limites e
alcance do sufrágio universal. REVES - Revista Relações Sociais, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 9001–9016,
2021. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/reves/article/view/10884. Acesso em: 3 jan. 2024.
BRESCIANNI, M. E. M. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. São Paulo:
Brasiliense, 2013.
CANÊDO, L. (org.). Sufrágio universal: invenção democrática. São Paulo: Estação Liberdade,
2005.
GRESPAN, J. Revolução francesa e iluminismo. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
JELLINEK, G. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: Contribuição para a História do
Direito Constitucional Moderno. São Paulo: Atlas, 2015.
KARAWEJCZYK, M. As �lhas de Eva querem votar: uma história da conquista do sufrágio
feminino no Brasil. Porto Alegre: ediPUCRS, 2020.
PORTO, W. C. Dicionário do voto. 3. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2012.
SAES, D. Democracia. São Paulo: Ática, 1987.
TOCQUEVILLE, A. O antigo regime e a revolução. 4. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
1997. 
Aula 2
Partidos Políticos
Sufrágio, Partido e Cidadania
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
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Ponto de Partida
Bem-vindo estudante!
Nesta conversa entenderemos mais sobre o Partido Político. Tema essencial em Ciência Política,
consideraremos, a era moderna como ponto de partida da análise, com o objetivo de
analisarmos, no conjunto histórico, a nossa realidade. Qualquer pessoa hoje, pode consultar
publicamente sobre os Partidos Políticos registrados no Brasil e no site do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), e entender do que tratam cada um. Muitas questões locomovem a ação dos
Partidos Políticos no Brasil de hoje, mas, você saberia dizer quais questões cada partido defende,
nessa espécie de pluripartidarismo institucionalizado hoje? Vamos compreender juntos um
pouco da história dos Partidos Políticos a luz da Ciência Política. 
Vamos Começar!
O partido na história
Os partidos políticos, na modernidade, se tornam elementos coletivos ao redor de interesses
comuns, cuja os membros podem ou não se expressar a partir de um programa político, portanto,
que envolve o poder político e as relações que dele derivam. Organizações partidárias são
elementos históricos que estão diretamente ligadas à forma ou à sociedade em questão. Por
isso, não há uma de�nição categórica, a despeito de suas funções e objetividade do partido
político. Assim, temos de compreendê-lo a partir dos elementos históricos que aqui, tomaremos
como ponto de partida, a concepção de partido político no mundo moderno.
De maneira geral, um partido é um grupo cujos membros, com ideias em comum expressas em
um programa político, pretendem agir para obter o poder político de dada coletividade, por meios
eleitorais ou não. Para isso, esse grupo formula questões amplas e apresenta candidatos a
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CIÊNCIA POLÍTICA
eleições ou procura mobilizar a população de alguma forma, com a �nalidade de atingir seus
objetivos. (ROEDER e BRAGA, 2017, p.23)
Também é possível perceber que existe uma percepção comum do que é o partido, assim como
de alguns analistas políticos de que os partidos são “organizações partidárias” como
“agrupamentos das elites políticas, identi�cados com um rótulo ou com algumas ideias gerais,
nem sempre conectados com a opinião pública” (ROEDER e BRAGA, 2017, p.23).
Veremos então duas matrizes teóricas, clássicas, modernas e aceitas no debate da Ciência
Política sobre a questão do partido: o partido político em Karl Marx (1818-1883) com alguns
marxistas do mundo contemporâneo; e a questão do partido político para Max Weber (1864-
1920).
Karl Marx, nunca desenvolveu uma teoria acabada com relação a uma de�nição de partido, até
mesmo porque, essa de�nição não poderia ser real e sim idealizada para o método do
materialismo histórico. O autor irá defender uma concepção de partido ligada à classe e
prioritariamente ao proletariado. Em obra conhecida na literatura marxista, o debate sobre o
contexto histórico francês serve de exemplo para análise de Marx sobre o partido político: em O
Dezoito Brumário de Luís Bonaparte, o pensador descreve os interesses de classes e até de
frações de classe, principalmente nas partes II e III do livro, onde desenvolve sobre a divergência
no interior do partido monarquista francês entre os orleanistas e os legitimistas e “de�niu o
partido social-democrata francês como uma ‘coalizão entre a pequena burguesia e os
trabalhadores’” (BOTTOMORE, 2001, p.282), demonstrando o caráter da luta de classes no bojo
das ideologias partidáriasao redor de 1848 na França. Observe que narrativa histórica
interessante, na passagem:
Na primeira Revolução Francesa, seguiu-se ao governo dos constitucionalistas o governo dos
girondinos e ao governo dos girondinos o governo dos jacobinos. Cada um desses partidos se
apoiou no mais avançado. [...] Assim, a Revolução se moveu numa linha ascendente. Aconteceu
o contrário na Revolução de 1848. O partido proletário �gurou como apêndice do partido
democrático pequeno-burguês, sendo traído por este e abandonado à própria sorte [...]. O partido
democrático, por sua vez, apoiou-se nos ombros do partido republicano-burguês. Os republicano-
burgueses mal sentiram o chão �rme debaixo dos pés e já se desvencilharam do incômodo,
apoiando-se, nos ombros do Partido da Ordem. O Partido da Ordem encolheu os ombros, deixou
os republicano-burgueses caírem e se jogou nos ombros das Forças Armadas. [...] numa bela
manhã, deu-se conta de que os ombros haviam se transformado em baionetas. Cada um desses
partidos bateu por trás naquele que avançava e se curvou para trás para apoiar-se naquele que
retrocedia. (MARX, 2011, p.55-56)
A partir do método de Marx, autores importantes no século XX desenvolveram sobre o partido
político. Para compreendermos a teoria que dá bases a esse tipo de partido político, temos,
inevitavelmente, que recorrer às ideias daquele que foi o principal líder do Partido Operário
Social-Democrata Russo e da Revolução Socialista de 1917, o político e teórico comunista russo,
Vladimir Ilyich Lênin (1870-1924). Em um texto intitulado Os partidos políticos na Rússia, escrito
por Lênin, em 1912, o político e teórico deixa entrever sua crítica aos partidos políticos e a�rma
que:
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Para orientar-se na luta dos partidos, não é preciso acreditar em suas palavras; é preciso estudar
a história, menos o que eles dizem de si próprios, do que eles fazem, como procedem para
resolver diferentes problemas políticos, como se comportam nos problemas que dizem respeito
aos interesses vitais das diferentes classes sociais: proprietários fundiários, capitalistas,
camponeses, operários etc. (LÊNIN, 1978, p. 125)
Desse modo, [...] já que as instituições representativas existem, já que as massas desceram para
a arena política, (...) todo partido deve necessariamente, em tal medida ou em tal outra, apelar ao
povo (LÊNIN, 1978, p. 129).
Todavia, existe um outro arcabouço teórico clássico sobre o partido que é o de Max Weber. Este
autor vai eleger a obra de Marx como grande interlocutora, principalmente quando o assunto é a
política. O partido político para Max Weber:
têm seu lar na esfera do poder. Sua ação dirige-se ao exercício de poder social, e isto signi�ca:
in�uência sobre uma ação social, de conteúdo qualquer: pode haver partidos, em princípio, tanto
num clube social quanto num Estado. A ação social típica dos partidos (...) implica sempre a
existência de uma ação associativa, pois pretende alcançar, de maneira planejada, determinado
�m - seja este de natureza objetiva: uma imposição de um programa por motivos ideais ou
materiais, seja de natureza pessoal: prebendas, poder e, como consequência deste, honra para
seus líderes e partidários, ou, o que é o normal, pretende conseguir tudo isto em conjunto.
(WEBER, 1999, p. 185)
Segundo o autor, um partido político - além daquilo que já consideramos - é uma associação
humana diretamente relacionada ao poder; ou melhor, à disputa do poder político. Essa
agremiação que disputa o poder político objetiva aumentar sua parte efetiva de participação nas
decisões políticas conforme aquilo que pensa ser - segundo um programa previamente
organizado - o mais adequado para atingir seus objetivos ou �ns.
Modernidade e a representação política
Na contemporaneidade é preciso pensar na representação política a partir dos partidos políticos,
isso nos leva à compreensão dos sistemas partidários.  A princípio, as proposições sobre como
são e como funcionam os sistemas partidários e eleitorais, são asserções didáticas, de�nições
operacionais, pois seria impossível analisar em profundidade o sistema partidário e eleitoral de
cada Estado-nação por meio de um único critério de classi�cação. Assim, o que os cientistas
políticos dedicados ao tema propõem são de�nições didáticas que permitem uma classi�cação
ampla, na qual pode se enquadrar os diversos tipos de sistemas partidários e eleitorais
existentes.
Segundo o cientista político italiano, Pasquino (2011), o mais e�ciente e mais utilizado critério
para uma classi�cação de sistemas partidários é aquele desenvolvido pelo cientista político
francês Duverger (1970).
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
O impulso inicial para a análise e a classi�cação dos sistemas partidários advém de Duverger.
Em seu clássico estudo, Duverger (1970) se limitou a distinguir os sistemas partidários sobre a
base de um único e simples critério: o numérico. Assim, classi�cou os sistemas partidários
como monopartidários, bipartidários e multipartidários (PASQUINO, 2011, p. 178).
As três chaves propostas por Duverger são de fácil compreensão: nos sistemas denominados
monopartidários, só há um partido; nos bipartidários, dois; e nos multipartidários, três ou mais
partidos concorrendo por cargos executivos e legislativos.
Como exemplo de uma situação monopartidária, podemos citar a China, pois naquele país
apenas os membros do partido comunista podem disputar - entre os membros do próprio partido
- lugar e assento nas estruturas de poder. Já no terceiro tipo de sistema partidário denominado
multipartidário, três ou mais partidos políticos têm chances reais de disputar e conquistar cargos
governamentais e/ou legislativos. Como exemplo de uma situação de sistema multipartidário,
pode-se citar o Brasil. O caso dos Estados Unidos da América, o sistema é bipartidário porque
apenas os partidos republicano ou democrata têm chances reais de conquistar cargos nos
governos e no legislativo.
Siga em Frente...
Maurice Duverger: “partidos políticos”
O cientista político francês Maurice Duverger (1917-2014) registrou que:
Chamam-se igualmente 'partidos' as facções que dividiam as Repúblicas antigas, os clãs que se
agrupavam em torno de um condottiere na Itália da Renascença, os clubes onde se reuniam os
deputados das assembleias revolucionárias, os comitês que preparavam as eleições censitárias
das assembleias revolucionárias, bem como as vastas organizações populares que enquadram a
opinião pública nas democracias modernas. Essa identidade nominal justi�ca-se por um lado,
pois traduz certo parentesco profundo: todas essas instituições não desempenham o mesmo
papel, que é o de conquistar o poder político e exercê-lo? (DUVERGER, 1970, p. 20)
O fato é que os primeiros partidos políticos nasceram, como sugere a citação de Duverger, de
situações históricas, nas quais a disputa do poder separava grupos e opiniões em um sentido
programático. Em todo caso, a de�nição mais moderna do conceito que pressupõe o
aparecimento de lideranças responsáveis por fazer propaganda das ideias políticas dos
programas partidários, está mais diretamente relacionada ao início do século XIX em alguns
países europeus e nos Estados Unidos. Essas lideranças estão ligadas às disputas
parlamentares surgidas com o advento do sistema representativo organizado após as revoluções
burguesas.
A estrutura dos partidos caracteriza-se pela sua heterogeneidade. Sob o mesmo nome,
designam-se três (...) tipos sociológicos diferentes pelos seus elementos de base, pelo seu
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CIÊNCIA POLÍTICA
arcabouço geral, pelos laços de atributos comuns que ali se unem, pelas instituições dirigentes.
(DUVERGER, 1970, p. 35)
No bojo de uma tipologia, Duverger desenvolve que o primeiro tipo de partido político se
aproxima daquilo que a literatura de ciência política chama de “partidos dos notáveis” ou “partido
elitista”. Esse tipo de partido busca se estabelecer por meio do agrupamento e projeção de
personalidades capazes de gerar uma identi�cação que possa garantir apoio social e eleitoral,sem que seja necessário a formação de grandes grupos de correligionários ou adeptos
diretamente �liados ao partido. Como casos típicos desse tipo de partidos, basta pensar nos
dois dos Estados Unidos: o democrata e o republicano. Naquele país, os partidos dependem
mais de candidatos fortes, capazes de expressar a vontade nacional em seus discursos, do que
de um grande número de �liados e seguidores do partido.
Aos partidos que nasceram das agremiações sindicais e socialistas, a ciência política chama
“partido político de massa”, pois diferentemente do “partido dos notáveis”, a estrutura do partido
não advém da luta parlamentar, mas, sim, das associações e seções da base de trabalhadores
que fornecem lastro político às iniciativas do partido que podem ou não se realizar na disputa
eleitoral.
Há, entretanto, um terceiro tipo de partido, ao qual a ciência política denomina “partido de
quadros”. Se a fonte do poder organizacional dos “partidos de massa” está na quantidade de
adeptos ao seu programa e, no caso dos “partidos de notáveis”. é a notoriedade das lideranças
que garantem êxito eleitoral à agremiação; no caso dos partidos de tipo “de quadros” é a
qualidade, a preparação, a formação técnica, política e a capacidade de gerenciamento
administrativo e �nanceiro das lideranças do partido que darão bases ao seu desempenho. Um
partido dito “de quadros” precisa ter entre seus correligionários indivíduos "cujo nome, prestígio e
fama servirão como aval do candidato", que terá por trás de si "técnicos (...) que conheçam a arte
de manipular os eleitores e organizar campanhas". Assim, "o que os partidos de massa obtêm
com o número, os partidos de quadro obtêm com a qualidade." (DUVERGER, 1970, p. 102).
Em uma re�exão mais direta sobre a realidade brasileira, se pudéssemos analisar conforme o
campo teórico de Duverger, grande parte dos partidos políticos brasileiros nasce de disputas
parlamentares em diferentes momentos históricos e são, por isso, mais próximos dos assim
chamados “partidos da elite” ou dos notáveis. Mas, não podemos esquecer de partidos de
massa como os referentes ao comunismo no Brasil, por exemplo. 
Vamos Exercitar?
Sobre a importância do tema dos Partidos Políticos, atualmente, estão cadastrados no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) no Brasil, 30 partidos que atuam na política brasileira. Esses partidos têm
bases sociais e políticas distintas e isso ocorre no jogo político de todas as nações em que os
sistemas representativos vigoram. Para análise da Ciência Política, é preciso compreendê-los, a
despeito da realidade social e econômica que envolve a dinâmica das relações de poder. Como
no Brasil, historicamente, a desigualdade se faz presente em vários campos da sociedade desde
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
a sua formação como a conhecemos, os partidos políticos não alcançam as devidas respostas
aos problemas sociais somente pela via institucional. Isso foi o que a história do capitalismo e
dos partidos políticos nos evidenciou. No entanto é preciso ressaltar que a importância dos
partidos no Brasil, aparece devido ao fato de que aqui, ocorreu na história republicana, uma
sucessão de regimes ditatoriais cerceando o trabalho dos partidos e a defesa política das
diferentes classes e segmentos sociais mais vulneráveis a partir da institucionalização da
política.
Saiba mais
Vá até a sua Biblioteca Virtual e estude conosco sobre a questão dos Partidos Políticos e dos
temas tratados nessa aula, de uma forma sintética e didática, com a indicação do livro:
ROEDER, Karolina Mattos; BRAGA, Sérgio. Partidos políticos e sistemas partidários. 1. ed.
Curitiba: Intersaberes, 2017.
Referências
BOTTOMORE, Tom. (org.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
DUVERGER, M. Os partidos políticos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.
ROEDER, Karolina Mattos; BRAGA, Sérgio. Partidos políticos e sistemas partidários. 1. ed.
Curitiba: Intersaberes, 2017.
KARL, Marx. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.
LÊNIN, Vladimir Ilyich. Que fazer?. São Paulo: Editora Hucitec, 1978.
______. O trabalho do partido entre as massas. São Paulo: Livraria e Editora Ciências Humanas
Ltda., 1979.
______. Política. (Organização de Florestan Fernandes). São Paulo: Ática, 1978.
NICOLAU, J. Os sistemas eleitorais. In: CINTRA, O.; AVELAR, L. (orgs.). Sistema político brasileiro:
uma introdução. São Paulo: Unesp, 2015.
PASQUINO, G. Nuevo curso de ciência política. México: FCE, 2011.
WEBER, M. Classes, estamentos, partidos. In:______. Economia e sociedade. Brasília: UNB, 1999.
v. 2. 
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Aula 3
Cidadania
Cidadania
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Ponto de Partida
O liberalismo apresentou-se como uma ideologia que visa à concorrência e à liberdade, no
entanto, em nome delas, mantém a desigualdade. A constituição dos Estados de Bem-Estar e da
geração dos direitos sociais, tratada por Marshall em Cidadania e Classe Social, procurou reduzir
as desigualdades, ampliando o papel do Estado na promoção da saúde, da educação e dos
direitos básicos a todos aqueles que vivem em sociedade. Alguns chamam essa ampliação de
comunismo ou mesmo consideram o Estado paternalista ou assistencialista. No entanto, o que
seria dos mais pobres sem os direitos sociais? Como pessoas que têm salários baixos
conseguiriam ter acesso à saúde e à educação se estas fossem apenas pagas? Responda às
perguntas e pense nos limites da concepção liberal de cidadania. Uma tarefa mais que atual, não
é mesmo? 
Vamos Começar!
História da cidadania
Para entendermos melhor a gênese do conteúdo que trata da cidadania, tanto Bonini (2004)
quanto Châtelet, Duhamel e Pisier (2009) nos convidam a conhecer a gradual criação da política
na Antiguidade clássica que já iniciamos com a �loso�a política. Faremos esse percurso a partir
da linearidade de alguns momentos históricos, buscando apreender antecedentes da cidadania,
suas particularidades e a cidadania moderna.
https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U4A3_Cie_Pol_Liberado.pdf
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Em meados de 600 a.C., Drácon (século VII a.C.), um estadista da cidade grega de Atenas, e
Sólon (entre -638 e -558 a.C.), que �cou conhecido como um dos fundadores da democracia
ateniense, enunciaram os princípios que viriam a nortear as relações coletivas. Bonini (2004)
discorda de Châtelet, Duhamel e Pisier (2009) quanto ao papel desempenhado por Drácon,
relegando-o como mero decodi�cador do direito, mas diz que Sólon teria iniciado uma revolução
democrática que não foi totalmente acabada, mas que teve seus pilares fundamentais
colocados. Era um momento em que a Grécia vivia intensos con�itos, e os legisladores se
incumbiram de “reorganizar e de eliminar, em consequência, os contrastes entre as classes em
luta” (Bonini, 2004, p. 952). Contudo, menos do que escrever uma Constituição, eles de�niram:
Os enunciados fundamentais conhecidos de todos, determinando com precisão a participação
de cada um na defesa e na gestão das questões comuns da Cidade, as instâncias de onde
devem provir as decisões que envolvem a coletividade, a arbitragem dos con�itos e a punição
dos crimes e dos delitos (Châtelet; Duhamel; Pisier, 2009, p. 13-14).
Além disso, foi Sólon quem acabou com a escravidão por dívidas (mantendo a escravidão por
espólio de guerra). Lembrando que os cidadãos atenienses se ocupavam apenas das atividades
intelectuais, artísticas e políticas, restando aos escravos as atividades manuais e a manutenção
da pólis e da vida doméstica. Assim, eram excluídos da cidadania os própriosescravos, os ex-
escravos, as mulheres e os estrangeiros.
Por volta do ano 510 a.C., após anos de lutas civis, Clístenes mantém aqueles enunciados
codi�cados por Drácon e Sólon, com um acréscimo importante: a instituição do ostracismo. Essa
medida fez aumentar os poderes da Assembleia popular, visto que ela poderia desterrar
politicamente por 10 anos aqueles que estivessem em descordo com as regras coletivas (Bonini,
2004).
Na época de Péricles, iniciada em 460 a.C., podemos destacar as complexas relações entre
aquele que representava uma espécie de chefe do governo e a Assembleia popular – um breve
retorno à oligarquia em Atenas no período da guerra do Peloponeso, seguida da restauração do
regime democrático (Bonini, 2004).
A Lei como princípio de organização política e social concebida como texto elaborado por um ou
mais homens guiados pela re�exão, aceita pelos que serão objeto de sua aplicação, alvo de um
respeito que não exclui modi�cações minuciosamente controladas: essa é provavelmente a
invenção política mais notória da Grécia clássica; é ela que empresta sua alma à Cidade, quer
essa seja democrática, oligárquica ou ‘monárquica’ (Châtelet; Duhamel; Pisier, p. 14).
Marco Aurélio Nogueira (2015) destaca a autonomia do “demos” (a parte politicamente ativa, os
cidadãos, homens livres nascidos em Atenas) em sua capacidade de modi�car as leis de acordo
com o contexto vivenciado. Cabe lembrar que o “conceito de cidadania teve origem nas cidades-
Estados da Grécia antiga, onde o status de “cidadão” era concedido aos que viviam dentro dos
limites da cidade” (Giddens; Sutton, 2015, p. 306).
A concepção de cidadania no mundo moderno caminha com a compreensão da sociedade
capitalista e das formas como o poder político se con�gurou, de maneira geral, entre a formação
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
dos Estados modernos no liberalismo após as revoluções políticas e a revolução industrial.
Exemplo disso é a própria concepção de cidadania que se forma a partir da independência dos
Estados Unidos da América. Perante a Constituição e o Estado, na via americanista, todos os
cidadãos têm, em tese, os mesmos direitos e liberdades iguais.
Por isso, aliando a via americanista ao liberalismo, visões de meritocracia são comuns em países
cujas formações estão vinculadas a processos de ruptura com as velhas amarras coloniais. É da
força dessa ruptura que surgem constituições que pretendem amparar a liberdade econômica e
política. Entretanto, no capitalismo isso é difícil, pois os pontos de partida não são iguais, mas é
possível dizer, diante das questões levantadas pelo americanismo, que os homens podem
construir a si próprios, visto que suas liberdades estão garantidas. É a ideologia norte-americana
do self-made man. Dessa forma, cada um se vê representado no estatuto – no caso, a
Constituição – e vê nele garantidas suas liberdades e a igualdade entre os homens. No caso
americano, conforme relatado por Tocqueville em seu livro A Democracia na América (2005),
liberdade e igualdade caminham juntas, ou ao menos deveriam caminhar.
Siga em Frente...
A cidadania de Thomas Marshall
Cidadania é o composto de direitos e obrigações atribuídos a alguém pelo Estado. O estudo da
cidadania moderna foi desenvolvido por autores como Thomas Humphrey Marshall (1893-1981)
na sua obra Cidadania e classe social, de 1949, na qual o sociólogo discorre acerca da cidadania
e da classe social na Grã-Bretanha do pós-guerra, na época de uma fase do capitalismo
contemporâneo.
É importante marcar que esse estudo transita por várias fases que consolidam a cidadania
moderna, a pensar desde o século XVIII, no limiar do iluminismo e a forma absolutista do Estado
moderno, passando pelo capitalismo monopolista do século XIX e no século das Guerras
Mundiais. “Quando situei cada um dos períodos formativos dos três elementos da cidadania num
determinado século – os direitos civis no XVIII, os políticos no XIX e os sociais no XX – a�rmei
que houve um considerável entrelaçamento entre os dois últimos” (Marshall, 1967, p. 70).
São direitos civis, para Marshall, aqueles direitos que concretizam a liberdade individual, como os
direitos à livre movimentação e ao livre pensamento, à celebração de contratos e à aquisição ou
a manutenção de propriedade, bem como o direito de acesso aos instrumentos necessários a
defesa de todos os direitos anteriores (ou seja, o direito à justiça) (Saes, 2003, p. 11).
Ou ainda, como explica Décio Saes (2003) em relação aos direitos políticos e sociais em Thomas
Marshall:
São direitos políticos, segundo Marshall, aqueles direitos que compõem, no seu conjunto, a
prerrogativa de participar do poder político; prerrogativa essa que envolve tanto a possibilidade
de alguém se tornar membro do governo (isto é, a elegibilidade) quanto a possibilidade de
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CIÊNCIA POLÍTICA
alguém escolher o governo (pelo exercício do voto). Finalmente, os direitos sociais equivalem,
para Marshall, a prerrogativa de acesso a um mínimo de bem-estar e segurança materiais, o que
pode ser interpretado como um acesso de todos os indivíduos a um nível mais elementar de
participação no padrão de civilização vigente (Saes, 2003, p. 11).
É importante observarmos que para Thomas Marshall não basta a declaração dos direitos, e sim
a materialização instrumental dessa prática como geral a partir de um quadro de instituições
responsáveis para essa �nalidade no interior do Estado – de instâncias especí�cas para o
exercício da cidadania na prática: instâncias como a advocacia ou pro�ssões que garantam o
respeito aos direitos civis, assistência judiciária aos mais pobres, condição dos magistrados etc.
Para os direitos políticos deve existir garantia do Estado, de maneira a policiar, e a uma justiça
que garanta o exercício do voto e a se candidatar. E, por �m, os direitos sociais em Thomas
Marshall só seriam concretizados caso o “Estado esteja dotado de um aparato administrativo
su�cientemente forte, a ponto de propiciar, a todos, serviços sociais que garantam o acesso
universal a um mínimo de bem-estar e segurança materiais” (Saes, 2003). Portanto, a teoria de
Marshall, acaba por se tornar um ponto fundamental se quisermos compreender a cidadania
contemporânea no capitalismo em suas fundamentações liberais.
 
A concepção liberal de cidadania
O mundo moderno exige do cidadão, a partir do Estado moderno, não somente a atribuição de
deveres, como querem os estamentos feudais na Europa medieval e do século XVII. Uma nova
sociedade que se forma também coloca a noção do indivíduo no centro da história e dos direitos.
Com a Revolução Inglesa, percebemos que os direitos individuais apostam nas lutas sociais que
se formatam contra o antigo regime que prevalece mesmo no século das “luzes”. Junto aos
direitos, também novas formas de Estado foram se construindo a partir do liberalismo acoplado
às transformações do capitalismo na Europa Ocidental e que se espalham rapidamente para o
mundo.
“A história do desenvolvimento dos direitos do citadino, a evolução da cidadania na Europa
centro-ocidental, transcorre a pelo menos três séculos” e “a obscuridade de uma Era dos Deveres
abre espaço para uma promissora Era dos Direitos” (Pinsk, 2010, p. 117).
O indiscutível ponto de partida para o desenvolvimento dos direitos de cidadania tem sua
localização no século XVII. Foi quando um país se envolveu naquela que é considerada a
primeira revolução burguesa da história. Falamos aqui, é claro, da Revolução Inglesa. Uma
revolução que se inicia em 1640 e tem sua conclusão quase meio século depois, em 1688, dando
origem ao primeiro país capitalista do mundo (Pinsk, 2010, p. 117).
A concepção liberal de cidadania é aquela formada pelo caráter das instituições construídas à
maneira do próprio capitalismo, dos direitos e obrigações atribuídos pelo Estado burguês liberal
a partir da Revolução Inglesa, e que uniu esses elementos respectivamente modernos. Foi esse
dado que tomou o rumo das teses de Thomas Marshall ao partir do conceito de cidadania na
Inglaterra, apregoandoem sua teoria quase que uma linha evolutiva da compreensão de
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CIÊNCIA POLÍTICA
cidadania. “A instauração dos direitos civis teria sido indispensável, a própria implantação do
capitalismo, já que sem tais direitos os homens não poderiam participar livremente do mercado”
(Saes, 2003, p. 13), seja como compradores ou vendedores de força de trabalho, no chamado
trabalho assalariado “livre”. A cidadania, uniu, na Era moderna, o liberalismo com o capitalismo.
Vamos Exercitar?
Percebemos que a cidadania é um importante elemento que uni�ca aspectos políticos
econômicos e sociais e que atualmente podem ser questionados a partir de uma lógica de
direitos e obrigações. Porém, não foi sempre assim. A conquista de direitos na sociedade
moderna é fruto de inúmeras lutas, de avanços e recuos quando o assunto é a igualdade dos
indivíduos. Com a Revolução Inglesa no século XVII, temos um marco de observação dos direitos
individuais sendo empreendidos aos valores liberais e de formação econômica no capitalismo.
Por esse motivo, percebemos que mesmo no capitalismo contemporâneo somos cercados pela
desigualdade. Quem desenvolve um estudo a respeito da desigualdade e evolução da cidadania
em seus aspectos, econômicos, sociais e políticos é Thomas Marshall, na sua concepção liberal
de cidadania que é aquela em que precisamos implementar e desenvolver o caráter das
instituições promotoras de direitos, principalmente políticos.
Saiba mais
Você vai encontrar na sua Biblioteca Virtual um rico estudo que trata da história da cidadania e
da cidadania moderna, no livro que indicamos:
PINSKY, J.; PINSKY, C. B. (org.). História da cidadania. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
Referências
BERLANZA, L. O Papel do Estado Segundo os Diversos Liberalismos. São Paulo: Edições 70,
2023.
BONINI, R. Verbete polis. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (org.). Dicionário de
política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004.
CHÂTELET, F.; DUHAMEL, O.; PISIER, E. História das ideias políticas. São Paulo: Zahar, 2009.
GIDDENS, A.; SUTTON, P. W. Conceitos essenciais da sociologia. São Paulo, Editora UNESP, 2015.
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
PINSKY, J.; PINSKY, C. B. (org.). História da cidadania. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
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CIÊNCIA POLÍTICA
SAES, D. Cidadania e capitalismo: uma crítica à concepção liberal de cidadania. Crítica Marxista,
São Paulo, Boitempo, v. 1, n. 16, 2003. p. 9-38.
SAES, D. A questão da evolução da cidadania política no Brasil. Revista Estudos Avançados, v. 15,
n. 42, 2001.
TOCQUEVILLE, A. de. A democracia na américa: leis e costumes. São Paulo: Martins Fontes,
2005. Livro 1, 663 p. 
Aula 4
A Política no Brasil
A política no Brasil
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Ponto de Partida
Olá, estudante!
É de conhecimento comum que o Brasil tem uma história de lutas sociais e políticas que marcam
a fundação da sociedade brasileira em meio a inúmeras contradições desde o domínio colonial.
Passamos por vários regimes políticos e que estão ligados à dimensão de uma sociedade que
foi escravista em um sentido muito particular: o de que aqui vivemos sob a égide de uma
economia escravista, um direito escravista e uma política escravista. Para entendermos a história
atual e do capitalismo no Brasil, temos necessariamente de compreender esses elementos de
desigualdade e opressão. Na história e política no Brasil, seria possível acabarmos com a
desigualdade atual, econômica e política, sem consideramos esse histórico? O que de
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CIÊNCIA POLÍTICA
importante podemos mencionar acerca da evolução do Estado no Brasil? O processo conhecido
como redemocratização foi fundamental na garantia da cidadania?
Vamos juntos entender um pouco mais.
Vamos Começar!
A formação sócio-histórica da política brasileira
Raymundo Faoro, no livro Os Donos do Poder (2000), analisa o patrimonialismo como uma
estrutura de dominação típica de nosso passado colonial, que se caracterizou pela confusão
entre o que é um bem público e o que é um bem privado. Dito de outra forma, o patrimonialismo
se referiria à forma como o poder real usava a posse das terras para gerar lealdade e
dependência dos agentes sociais com relação ao Estado.
O conceito de patrimonialismo remonta a obra de Max Weber (1999) e está muito ligado aos
laços coloniais brasileiros na política e nas formas de dominação que aqui se caracterizaram.
Esses laços de lealdade e dependência foram vistos por alguns historiadores como parte de uma
estrutura escravista e colonial. No entanto, Faoro (2000), ao recuperar antecedentes históricos
como a formação do Estado-nação português, a�rma que nem mesmo Portugal teria tido um
feudalismo “autêntico”, muito menos sua colônia nos trópicos. Assim, em vez de entender a
política no Brasil colonial, imperial e republicano como um tipo ideal advindo do feudalismo
português, vivenciamos uma estrutura de dominação nova: o estamento burocrático de caráter
�dalgo, não dependente do rei, mas da administração colonial, o que caracterizou, de maneira
geral, a formação do Estado brasileiro.
Fato é que ao levantarmos as características da política brasileira, temos de nos defrontar com
nosso passado opressor e escravista, dado que a maioria dos autores que pesquisaram o Brasil
vão apresentar, como Jacob Gorender (2016), ao a�rmar que vivemos um escravismo colonial –
os aspectos jurídico-políticos remontam um Estado escravista – e as condições de passagem
para um capitalismo que não seguiu a via típica, porque não podemos aferir um feudalismo no
Brasil.
O modo de produção feudal, dominante no Portugal da época, não se transferiu ao país
conquistado. Tampouco os portugueses deixaram subsistir o modo de produção das tribos
indígenas nas áreas que, sucessivamente, submetiam ao seu domínio. Resta a hipótese da
síntese. O modo de produção resultante da conquista – o escravismo colonial – não pode ser
considerado uma síntese dos modos de produção preexistentes em Portugal e no Brasil
(Gorender, 2016, p. 84).
Politicamente, a gênese de formação do capitalismo brasileiro não se revelou parecida com a
transformação capitalista europeia. Aqui, as relações escravocratas condicionaram os fatores
econômicos, sociais e políticos a partir do campo brasileiro. Como no Brasil somente a partir de
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CIÊNCIA POLÍTICA
1930 são direcionadas políticas para um processo de urbano industrialização, as origens e a
gênese do capitalismo devem ser procuradas no campo.
Coloquemos a questão: após a extinção do modo de produção escravista colonial, teria sido
possível no Brasil uma evolução em direção ao feudalismo, ou, se quiserem, ao semifeudalismo?
A resposta, sucintamente, é negativa. O escravismo no Brasil não era patriarcal, baseado com
predominância na economia natural, como o greco-romano, porém um escravismo colonial
de�nidamente dominado pelo setor mercantil. [...] Já no �nal do escravismo brasileiro, apoiado
na acumulação originária de capital [...] surgiu um setor industrial fabril, tipicamente capitalista
(Gorender, 1987, p. 23).
Mas a problemática teórica de se compreender as origens e o processo político capitalista no
Brasil já estava presente em autores como Florestan Fernandes (2006), que no livro A revolução
burguesa no Brasil estava certo de que as origens políticas deveriam ser entendidas a partir das
características sociológicas. A tese de Florestan marcou o pensamento cientí�co brasileiro,
sobretudo em dois conceitos importantespara as ciências sociais brasileiras: o das origens da
revolução burguesa e o da formação da ordem social competitiva – no entanto, alguns autores
debaterão uma possível ausência no livro de um lugar especí�co para a revolução política.
Décio Saes (2001) desenvolverá uma tese especí�ca a respeito do trato político no Brasil e a
formação do Estado brasileiro. Primeiramente em seu trabalho A formação do Estado burguês
no Brasil (1888-1891) e posteriormente em obra mais recente, República do capital (2001). Mas,
para esse autor, como podemos caracterizar a forma de Estado e o regime político no Brasil de
hoje? De modo bem diverso ao qual começamos esta aula, com a tese de Raymundo Faoro e o
caráter patrimonialista do Estado brasileiro no sentido weberiano, Décio Saes desenvolve o
argumento no sentido marxista: de que aqui existe uma “democracia burguesa”.
O essencial, numa democracia burguesa, é que o sistema partidário, e, portanto, o Parlamento,
tem uma função governativa real, repartindo com a burocracia estatal (civil e militar) a
capacidade decisória estatal total; e isso implica a existência de possibilidades concretas de vida
política, civil e pré-burocrática, ativa. Ou seja: numa democracia burguesa, a burguesia “governa”
(no sentido mais amplo da palavra) simultaneamente por meio da burocracia estatal e do
sistema partidário /Parlamento (Saes, 2001, p. 39).
A ciência política brasileira navega nas teses e nos campos teóricos de Weber e Marx, nos
respectivos métodos e principalmente na leitura crítica que deve ser feita por nós ao
compreendermos o caráter das relações contraditórias e desiguais no Brasil atual. A política
torna-se fundamental para esse fator, por isso temos de conhecer o processo político brasileiro.
Siga em Frente...
Da ditadura à democracia
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CIÊNCIA POLÍTICA
Mesmo no Brasil republicano, o caráter da política brasileira e da formação do Estado no Brasil
conviveu entre regimes ditatoriais e democracias. Com a abolição da escravatura em 1888 e a
Proclamação da República no ano seguinte, altera-se o regime político e jurídico no Brasil, já que
a economia ainda permanece com um lastro escravista e políticas de “branqueamento”. Até
1930, o Brasil está submetido a uma lógica de oligarquias e é predominantemente agrário.
Apesar do avanço na direção política da abolição, os laços de dependência históricos ainda
permanecem:
A década de 1920 no Brasil foi um período de transformações econômicas, políticas e sociais,
em parte in�uenciadas pela conjuntura do pós-Primeira Guerra Mundial, incluindo a Revolução
Russa. As relações de poder de âmbito federal, que envolviam as oligarquias do Sudeste do País,
cederiam espaço para as oligarquias periféricas, com a Revolução de 1930. Ademais, a
mobilização social, seja dos militares, seja dos trabalhadores, foi vista com receio pelas elites
econômicas e políticas (Bauer et al., 2021, p. 123).
Se pudéssemos, então, apontar uma “evolução histórica” do Estado no Brasil a partir de 1930 que
nos trouxesse aos dias de hoje e que não desconsiderasse o caráter dos regimes políticos da
história republicana, teríamos:
Uma visão panorâmica da evolução do Estado no Brasil estaria incompleta caso não fosse
mencionado dois aspectos centrais da evolução política no pós-30. O primeiro deles: o Estado
burguês no Brasil passa, entre 1930 e 1990, por vários regimes políticos: um regime político
provisório, ainda pouco institucionalizado, entre 1931 e 1934; uma democracia representativa e
pluripartidária entre 1934 e 1937; a ditadura estadonovista entre 1937 e 1945; uma nova
experiência democrática (esta, mais durável) entre 1945 e 1964; a ditadura militar entre 1964 e
1984; um novo regime democrático a partir da Constituinte de 1988 (Saes, 2001, p. 103).
Portanto, o Brasil passou, na sua história republicana, por vários regimes políticos, entre a
ditadura e momentos democráticos, até o período conhecido como redemocratização. O fato é
que isso não passou desapercebido pela sociedade brasileira ainda atualmente colhe os
resquícios ditatoriais, como o protagonismo político das forças armadas no país desde a
formação republicana brasileira, a centralização do poder na esfera executiva e acentuada
desigualdade política, entre outros elementos que caracterizam um regime ditatorial. Logo, é
importante pensar nos elementos da política institucional brasileira após a redemocratização.
Nesse meio século (há cinquenta anos do golpe e cerca de trinta da derrota do regime ditatorial
que ele impôs), acumulou-se, no Brasil e no exterior, uma larga documentação e uma enorme
bibliogra�a pertinentes aos eventos de abril de 1964 e seus desdobramentos. Documentação e
bibliogra�a que reúnem depoimentos (de vítimas, de agentes e de representantes da ditadura),
materiais elaborados por agências governamentais ou não, institutos de pesquisa, historiadores
e cientistas sociais, economistas, jornalistas, políticos, organizações internacionais; elas estão
registradas em livros, �lmes, documentos o�ciais, reportagens de jornais e revistas, relatórios,
periódicos universitários, dissertações e teses acadêmicas e em mídia eletrônica (Netto, 2023, p.
21).
O sistema eleitoral: funcionamento e o debate atual
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CIÊNCIA POLÍTICA
Quando nos voltamos à compreensão de um dado sistema político, isso é, de como um Estado-
nação organiza os poderes de Estado e, consequentemente, as regras para o exercício do poder,
três dimensões devem ser levadas em consideração: a forma de governo; o sistema de governo;
a divisão dos poderes do Estado.
A forma de governo diz respeito à organização do Estado, em termos gerais, de suas estruturas
de poder, bem como quais são os fundamentos da institucionalidade constitucional. Em outras
palavras, em quais valores culturais da política o Estado está fundamentado. No Ocidente, desde
há muitos séculos, duas formas de governo têm sido utilizadas para dar bases à estrutura geral
das constituições: a monarquia e a república.
A segunda dimensão, voltada aos sistemas de governo, tem relação com a forma escolhida para
o exercício do poder de fato, com o modo pelo qual os governantes serão escolhidos, como
governam e se mantêm no poder. Nos últimos 150 anos, são dois os sistemas mais utilizados: o
presidencialista ou o parlamentarista – mas, nesse caso, há também países que optaram por um
modelo que mistura características dos dois sistemas, aqueles semipresidencialistas ou de
presidencialismo dual.
Vale dizer que a política no Brasil funciona no sistema presidencial, como os Estados Unidos da
América e a Argentina. Esses três países são repúblicas presidencialistas. Já a Inglaterra, que
adotou a forma de estado monárquico, optou há séculos pelo sistema parlamentarista. A França,
que como o Brasil é uma república, logo depois do �m da Segunda Guerra Mundial fez a opção
pelo sistema semipresidencial. Assim, existem três diferentes sistemas de governo: o
presidencialista, o parlamentarista e o semipresidencialista.
No momento da nossa conversa, de acordo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão brasileiro
que regula a dimensão da política institucional brasileira, contamos com 30 partidos políticos
que têm garantia constitucional:
 
Bloco 1
Partidos registrados no TSE
0001 SIGLA NOME DEFERIMENTO
1 MDB MOVIMENTO
DEMOCRÁTICO
BRASILEIRO
30.6.1981
2 PTB PARTIDO
TRABALHISTA
BRASILEIRO
3.11.1981
3 PDT PARTIDO
DEMOCRÁTICO
TRABALHISTA
10.11.1981
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/movimento-democratico-brasileiro
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-trabalhista-brasileiro
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-democratico-trabalhista
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
4 PT PARTIDO DOS
TRABALHADORES
11.2.1982
5 PCdoB PARTIDO COMUNISTA
DO BRASIL
23.6.1988
6 PSB PARTIDO SOCIALISTA
BRASILEIRO
1.7.1988
7 PSDB PARTIDO DA SOCIAL
DEMOCRACIA
BRASILEIRA
24.8.1989
8 AGIR AGIR 22.2.1990
9 PMN PARTIDO DA
MOBILIZAÇÃO
NACIONAL
25.10.1990
10 CIDADANIA CIDADANIA19.3.1992
11 PV PARTIDO VERDE 30.9.1993
12 AVANTE AVANTE 11.10.1994
13 PP PROGRESSISTAS 16.11.1995
14 PSTU PARTIDO SOCIALISTA
DOS TRABALHADORES
UNIFICADO
19.12.1995
15 PCB PARTIDO COMUNISTA
BRASILEIRO
9.5.1996
16 PRTB PARTIDO RENOVADOR
TRABALHISTA
BRASILEIRO
18.2.1997
17 DC DEMOCRACIA CRISTÃ 5.8.1997
18 PCO PARTIDO DA CAUSA
OPERÁRIA
30.9.1997
19 PODE PODEMOS 2.10.1997
20 REPUBLICANOS REPUBLICANOS 25.8.2005
21 PSOL PARTIDO SOCIALISMO
E LIBERDADE
15.9.2005
22 PL PARTIDO LIBERAL 19.12.2006
23 PSD PARTIDO SOCIAL
DEMOCRÁTICO
27.9.2011
24 PATRIOTA PATRIOTA 19.6.2012
25 SOLIDARIEDADE SOLIDARIEDADE 24.9.2013
26 NOVO PARTIDO NOVO 15.9.2015
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-dos-trabalhadores
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-comunista-do-brasil
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-socialista-brasileiro
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-da-social-democracia-brasileira
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/agir
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-da-mobilizacao-nacional
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/cidadania
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-verde
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-trabalhista-do-brasil
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-progressista
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-socialista-dos-trabalhadores-unificado
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-comunista-brasileiro
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-renovador-trabalhista-brasileiro
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-social-democrata-cristao
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-da-causa-operaria
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-trabalhista-nacional
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/republicanos
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-socialismo-e-liberdade
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-da-republica
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-social-democratico
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-patriota
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/solidariedade
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-novo
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
27 REDE REDE
SUSTENTABILIDADE
22.9.2015
28 PMB PARTIDO DA MULHER
BRASILEIRA
29.9.2015
29 UP UNIDADE POPULAR 10.12.2019
30 UNIÃO UNIÃO BRASIL 8.2.2022
(*) Nos termos do § 1º do art. 58 do estatuto do PCB, para �ns jurídicos e institucionais, os
cargos de Secretário Geral do Comitê Central e de Secretário Político dos Comitês Regionais e
Municipais equiparam-se ao de Presidente do Comitê respectivo.
Bloco 2
Partidos registrados no TSE
PRES. NACIONAL Nº DA LEGENDA
LUIZ FELIPE BALEIA TENUTO ROSSI 15
MARCUS VINÍCIUS DE VASCONCELOS
FERREIRA
14
ANDRÉ PEIXOTO F. LIMA (Presidente em
Exercício) 
12
GLEISI HELENA HOFFMANN 13
LUCIANA BARBOSA DE OLIVEIRA SANTOS 65
CARLOS ROBERTO SIQUEIRA DE BARROS 40
EDUARDO FIGUEIREDO CAVALHEIRO LEITE 45
DANIEL S. TOURINHO 36
ANTONIO CARLOS BOSCO MASSAROLLO 33
PLÍNIO COMTE LEITE BITTENCOURT 23
JOSÉ LUIZ DE FRANÇA PENNA 43
LUIS HENRIQUE DE OLIVEIRA RESENDE 70
CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO 11
JOSÉ MARIA DE ALMEIDA 16
EDMILSON SILVA COSTA* 21
JOHN HERBERTHE CALUMBIA PINTO DOS
SANTOS
28
JOSÉ MARIA EYMAEL 27
RUI COSTA PIMENTA 29
RENATA HELLMEISTER DE ABREU 19
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/rede
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/partido-da-mulher-brasileira
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/unidade-popular
https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse/uniao-brasil
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
MARCOS ANTONIO PEREIRA 10
JULIANO MEDEIROS 50
VALDEMAR COSTA NETO 22
GILBERTO KASSAB 55
OVASCO ROMA ALTIMARI RESENDE, Vice-
presidente no exercício da presidência (PET
0600319-75.2021.6.00.0000)
51
EURIPEDES GOMES DE MACEDO JÚNIOR 77
EDUARDO RODRIGO FERNANDES RIBEIRO 30
HELOÍSA HELENA LIMA DE MORAES 18
SUÊD HAIDAR NOGUEIRA 35
LEONARDO PERICLES VIEIRA ROQUE 80
LUCIANO CALDAS BIVAR 44
(*) Nos termos do § 1º do art. 58 do estatuto do PCB, para �ns jurídicos e institucionais, os
cargos de Secretário Geral do Comitê Central e de Secretário Político dos Comitês Regionais e
Municipais equiparam-se ao de Presidente do Comitê respectivo.
Quadro 1 | Partidos políticos brasileiros. Fonte: Tribunal Superior Eleitoral.
O sistema político, de acordo com a Constituição Federal de 1988, no Brasil, com relação ao
processo eleitoral, funciona em dois modelos: o majoritário e o proporcional.
O sistema majoritário é aquele em que vence a eleição o candidato que obtiver a maioria dos
votos. Considera-se, nesse caso, maioria, tanto a absoluta, que compreende a metade dos votos
dos integrantes do corpo eleitoral mais um voto, quanto a relativa (também chamada de
simples), que considera eleito o candidato que alcançar o maior número de votos em relação aos
seus concorrentes.
No caso brasileiro, conforme preveem os arts. 46, caput, e 77, § 2º, ambos da Constituição
Federal, tal sistema é utilizado tanto para escolha de representantes do Poder Legislativo, entre
os quais estão os membros do Senado Federal, quanto para eleição de membros do Poder
Executivo, como presidente da República, governadores de estado e prefeitos de municípios,
todos com os seus respectivos vices (Torres, 2014).
O sistema proporcional, por sua vez, de acordo com Cerqueira (2011), "é aquele em que a
representação se dá na mesma proporção da preferência do eleitorado pelos partidos políticos”.
A grande diferença entre o sistema proporcional e o majoritário é que no proporcional “os votos
computados são os de cada partido ou coligação e, em uma segunda etapa, os de cada
candidato” (Rosa, 2013).
No Brasil, conforme previsão dos arts. 27, § 1º, 32, § 3º, e 45 da Lei Maior, o sistema proporcional
é adotado para eleger apenas os membros do Poder Legislativo, ou seja, deputados federais,
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
estaduais e distritais e, ainda, vereadores. Os candidatos a senador, como ressaltado
anteriormente, não são escolhidos por esse sistema eleitoral, mas sim pelo majoritário (Torres,
2014).
É preciso uma análise apurada da ciência política para ligar esse conteúdo de representação dos
partidos e candidatos a uma realidade tão desigual quanto a brasileira, e por esse motivo torna-
se fundamental aprofundar e estudar as relações sociais e políticas na atualidade brasileira. 
Vamos Exercitar?
Segundo Florestan Fernandes (2006) “os senhores foram eximidos da responsabilidade para a
manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja, ou qualquer outra instituição
assumissem encargos”, dado o caráter de séculos de escravidão que atualmente ainda gera
implicações. Fato é que a política no Brasil sempre foi desigual no caráter de “evolução” do
Estado no Brasil que viveu entre o militarismo, a ditadura e a democracia após a Proclamação de
uma República, em igualdade de direitos. Por isso, não há como negar que a Constituição de
1988 coloca a cidadania em outros moldes. Porém, ainda temos muito o que construir no Brasil. 
Saiba mais
Entenda e aprofunde um pouco mais seu conhecimento o Regime Militar e do Golpe de 1964 no
Brasil, no livro de José Paulo Netto que está disponível em sua Biblioteca Virtual.
NETTO, J. P. Pequena história da ditadura brasileira (1964-1985). São Paulo: Cortez, 2023. 
Referências
BAUER, C. S. et al. História do Brasil República. Porto Alegre: Sagah, 2021.
CERQUEIRA, T. T.; CERQUEIRA, C. A. Direito Eleitoral Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2011.
FERNANDES, F. A revolução burguesa no Brasil:ensaios de interpretação sociológica. São Paulo:
Globo, 2006.
FAORO, R. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro. São Paulo: Globo, 2000.
GORENDER, J. Gênese e desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1987.
GORENDER, J. O escravismo colonial. São Paulo: Expressão Popular, Perseu Abramo, 2016.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788524922787/pageid/0
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788524922787/pageid/0
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
NETTO, J. P. Pequena história da ditadura brasileira (1964-1985). São Paulo: Cortez, 2023.
ROSA, P. L. B. P. Como funciona o sistema proporcional? Revista Eletrônica EJE, ano III, n. 5,
ago./set. 2013. Disponível em: https://www.tse.jus.br/institucional/escola-judiciaria-
eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-5-ano-3/como-funciona-o-
sistema-proporcional. Acesso em: 4 jan. 2024.
SAES, D. A formação do Estado burguês no Brasil (1888-1891). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
SAES, D. República do capital. São Paulo: Boitempo, 2001.
SCHWARTZMAN, S. Atualidade de Raymundo Faoro. Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de
Janeiro, v. 46, n. 2, p. 207-213, 2003.
TORRES, D. Sistemas eleitorais brasileiros. Revista Eletrônica EJE, ano IV, n. 4, jun./jul. 2014.
Disponível em: https://www.tse.jus.br/institucional/escola-judiciaria-
eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-4-ano-4/sistemas-eleitorais-
brasileiros. Acesso em: 4 jan. 2024.
VIANNA, W. Caminhos e descaminhos da revolução passiva à brasileira. Dados – Revista de
Ciências Sociais, v. 39, n. 3, 1996.
Aula 5
Encerramento da Unidade
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Ponto de Chegada
Olá, estudante!
Para desenvolver a competência desta Unidade 4, que trata de relacionar, conceitualmente, as
diferentes abordagens a respeito dos partidos políticos, a cidadania e o sufrágio universal na
história e no Estado moderno com a atualidade brasileira, é fundamental conhecer alguns
conceitos fundamentais da ciência política.
Partidos e sufrágio
A essa altura de nossos estudos que tratam de política, não são as formas e os tipos utilizados
nas classi�cações elaboradas por cientistas políticos que podem, de fato, dizer o quanto uma
dada realidade é ou não mais ou menos democrática, pois os condicionamentos históricos –
como surgiram, como e por quem são constituídos os partidos, por exemplo – parecem ser os
itens mais seguros a serem investigados quando do estudo de uma ou outra situação. Os
conceitos não são nada sem história, pois:
Em última análise, dado que cada sistema de partido é […] produto de circunstâncias históricas
que remontam a um passado longínquo, de determinados sistemas eleitorais e da sua
introdução em fases especí�cas do desenvolvimento e […] de opções políticas e de capacidades
organizativas, para chegarmos a uma avaliação adequada e aprofundada dos vários sistemas
partidários, não podemos nunca prescindir do contexto social, político, econômico e cultural em
que tais sistemas operam (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2010, p. 1173).
Assim, se a teoria parece dar por certo que a quantidade de partidos resulta em mais ou menos
pluralismo, o mesmo não se pode dizer da realidade, pois não são raros os casos em que
pequenos e diversos partidos, em realidades multipartidárias, se coliguem, formando um grande
bloco ideológico ou, mesmo separadamente, representem o mesmo conjunto de ideias ou de
interesses. Não é incomum que em realidades multipartidárias formem-se partidos �siológicos,
os partidos sem força eleitoral que acabam orbitando os grandes partidos que têm chances de
chegar ao poder, para trocar vantagens e apoios desvinculados do programa o�cial do partido.
En�m, os sistemas partidários, embora possam ser classi�cados didaticamente nas chaves que
vimos aqui, não são passíveis de serem analisados qualitativamente sem se levar em
consideração a história e o contexto de cada situação. Embora seja possível estabelecer
relações entre a quantidade de partidos e a pluralidade política, é somente a partir da análise do
cotidiano e a da história política de cada nação que podemos chegar a conclusão de que é mais
ou menos democrático. Re�ita a respeito do Brasil. O país tem três dezenas de partidos políticos.
A sociedade brasileira pode ser considerada plural: são diferentes ideologias que disputam o
poder no país. Quanto ainda é necessário avançar em termos de democracia?
Em todo caso, os partidos existem para representar e expressar diferentes correntes de opinião e
assim organizar candidaturas que concorrem a cargos políticos em processos eleitorais. Os
processos que elegem candidatos podem ser estudados por meio dos sistemas eleitorais.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
 
Sistemas eleitorais
Os tipos de sistemas eleitorais existentes podem ser sintetizados em: sistema majoritário
simples e sistema majoritário absoluto, e sistema proporcional e suas variações. Assim,
São dois os modelos tradicionais de sistemas eleitorais: o majoritário e o proporcional. Todos os
outros não são nem mais nem menos do que modi�cações e aperfeiçoamentos destes.
Compreende-se imediatamente por que todos os outros giram em torno deles […] (Bobbio;
Matteucci; Pasquino, 2010, p. 1175).
Nos sistemas majoritários, o princípio eleitoral está baseado no critério da maioria de votos
obtidos, isto é, nesses sistemas, os candidatos que conseguem arrecadar mais votos são eleitos
sobre aqueles com número inferior de votos.
Já no sistema proporcional, o princípio é que os candidatos sejam eleitos levando-se em
consideração cotas ou quocientes relacionados ao número total de votos validados em uma
dada eleição.
Assim, para exempli�car os diferentes tipos de sistema eleitoral, vamos considerar as eleições
no Brasil, pois o país utiliza dois tipos de eleição majoritária (a simples e a absoluta), bem como
o sistema proporcional para eleição do poder legislativo. Tomaremos, em primeiro lugar, o cargo
de presidente da república. O cargo para a che�a do executivo nacional no Brasil é disputado
segundo o sistema majoritário absoluto, também conhecido como sistema majoritário de dois
turnos. Nesse sistema, os candidatos concorrem tentando arrecadar a maior quantidade de
votos possível dos eleitores. Estará eleito aquele que ao �nal do processo tiver conseguido 50%
mais um dos votos. Caso nenhum dos concorrentes(e podem ser vários, já que o sistema de
partidos é multipartidário) tenha obtido 50% mais um dos votos no primeiro turno, dessa forma,
os dois mais votados são submetidos a mais uma eleição. Assim, um dos dois terá mais de 50%
dos votos válidos e será eleito. Por isso, o sistema majoritário absoluto é também chamado de
sistema de dois turnos. Vale dizer que os votos válidos são todos aqueles que foram de fato
contabilizados para os candidatos concorrentes, debitando-se os brancos e os nulos.
O sistema majoritário absoluto ou de dois turnos é mais utilizado nas eleições presidenciais. São
muitos os países que atualmente fazem uso desse sistema, como Áustria, Benin, Brasil, Chile,
França, Moçambique e Uruguai.
No Brasil, o mesmo critério das eleições presidenciais – majoritário absoluto – se aplica às
eleições de governador de estado e prefeitos de cidades com mais de 200 mil eleitores. Em
municípios cuja quantidade de eleitores é inferior a 200 mil indivíduos, aplica-se o critério das
eleições majoritárias simples ou de um turno: o candidato mais votado, mesmo que não tenha
obtido 50% mais um dos votos, é eleito. O mesmo ocorre para as eleições dos senadores da
república. Assim, o Brasil combina os dois tipos de eleição majoritária: a absoluta ou de dois
turnos para presidente da república, governadores de estado e prefeitos de cidades com mais de
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
200 mil eleitores, e a simples, para senadores e prefeitos de cidades com menos de 200 mil
eleitores. Vale reparar que as eleições majoritárias se aplicam à disputa de cargos dos poderes
executivos (presidente, governador, prefeito) e apenas um cargo legislativo (senador) é
disputado, no Brasil, por esse sistema eleitoral.
Todos os outros cargos legislativos (deputados federais, deputados estaduais e vereadores) são
eleitos pelo sistema proporcional.
Atualmente, votar para um cargo proporcional é uma tarefa simples. O eleitor precisa apenas
digitar o número de seu candidato ou, caso pretenda votar na legenda, o número de seu partido.
Mas existe uma série de detalhes que tornam a operação da representação proporcional mais
complexa do que imagina um cidadão comum (Nicolau, 2015, p. 238).
O sistema proporcional de lista aberta funciona da seguinte maneira: os mais votados são
eleitos, e os votos que “sobram”, para além dos necessários para sua eleição, acabam por
favorecer os menos votados, que acabam tendo chances de serem eleitos; no mesmo sentido,
pode-se argumentar que mesmo aqueles que tiveram votação inexpressiva contribuem para a
eleição de seus companheiros de chapa, na medida em que todos os votos são somados por
legenda ou pelas legendas coligadas.
É Hora de Praticar!
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Lista fechada versus lista aberta:
A cidade de Politópolis, onde moramos, vai passar por eleições. Se o sistema em Politópolis
fosse de lista fechada, os eleitores não poderiam votar em um ou outro candidato especí�co; não
haveria o voto nominal. Nos sistemas proporcionais de lista fechada, os eleitores votam apenas
no partido que prévia e internamente de�niu uma lista de candidatos. No Brasil, temos o sistema
de lista aberta para eleições. No que consiste essa diferença? Quais elementos a ciência política
pode mobilizar para explicarmos para os demais eleitores de Politópolis o sistema de lista
fechada e o sistema eleitoral de lista aberta?
Os partidos políticos brasileiros desempenham um importante papel no funcionamento do trato
parlamentar?
Fica evidente na defesa de diferentes interesses quando assistimos ao noticiário e às votações
parlamentares, a importância dos partidos políticos?
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
A Constituição de 1988, no Brasil, pode ser considerada e chamada de constituição cidadã,
quando olhamos para as desigualdades do país, atualmente? 
Clique aqui para acessar os slides.
No sistema de lista fechada (como na Bélgica), os eleitores escolhem apenas o partido, e o
partido é quem decide – pelo número de cadeiras alcançadas pelo critério proporcional – quais
de seus correligionários assumirão as cadeiras conquistadas. Os defensores desse sistema
opinam que ele é melhor do que o sistema de lista aberta, porque evita o voto personalizado e a
troca de votos por benefícios privados.
Ainda, outro argumento dos defensores dessa modalidade é que os partidos �cam fortalecidos,
pois disputam internamente a ordem de seus candidatos, impedindo que aventureiros políticos
encabecem a chapa por serem populares, mas não necessariamente entenderem de política e,
assim, participariam das eleições apenas políticos "pro�ssionais”, envolvidos com a máquina e a
disputa de seus partidos.
Já os defensores da lista aberta argumentam que essa modalidade é mais democrática, pois
possibilita mais chances a novatos ou jovens lideranças de serem eleitos, sem que para isso
precisem desempenhar uma trajetória de disputa no interior de uma instituição partidária.
Fonte: elaborada pelo autor.
BAUER, C. S. et al. História do Brasil República. Porto Alegre: Sagah, 2021.
BOBBIO, N.; MATEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília: UNB, 2010. v. 2.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília,
DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 4 jan. 2024.
https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U4Pod_Cie_Pol_Liberado.pdf
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições 2022. Disponível em:
https://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2022/eleicoes-2022. Acesso em: 18 jan. 2024.
DUVERGER, M. Os partidos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.
MICHELS, R. Sociologia dos partidos políticos. Brasília: UNB, 1982.
NICOLAU, J. Os sistemas eleitorais. In: CINTRA, O.; AVELAR, L. (org.). Sistema político brasileiro:
uma introdução. São Paulo: Unesp, 2015.
SAES, D. Capitalismo e processo político no Brasil: a via brasileira para o desenvolvimento do
capitalismo. Boletim Campineiro de Geogra�a, v. 6, n. 1, 2016.
SAES, D. Sistemas eleitorais. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
SARTORI, G. Partidos e sistemas partidários. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
WEBER, M. Feudalismo, "Estado Corporativo" e Patrimonialismo. In: WEBER, M. Economia e
sociedade. Brasília: UNB, 1999. v. 2. 
https://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2022/eleicoes-2022aula? De que na pólis ateniense muitas
das decisões eram tomadas de forma coletiva? O que isso tem a ver com o tempo?
Vamos responder a essas questões trabalhando com dois polos de análise: um que é o tempo
para os gregos, e outro que é o tempo para nós na contemporaneidade. Na Grécia Antiga, vimos
que a cidade ou a pólis era o lugar propício para o desenvolvimento de nossas virtudes pessoais
– ou seja, o nosso bem-estar estava diretamente ligado a uma vivência coletiva.
Por outro lado, o fato de o tempo ser mais longo – no sentido de não ser imediato, instantâneo,
acelerado – e de não ter uma concepção linear – ou seja, oposto à concepção que há um
progresso natural da sociedade em diferentes aspectos e que devemos persegui-lo a qualquer
custo –, mas de ser cíclico, faz muita diferença na forma de pensarmos a convivência humana e
a forma de pensarmos a política. Por quê?
Porque o tempo cíclico sempre volta e marca substancialmente o conteúdo e a forma de nossas
decisões, pois nos dá a capacidade de escaparmos do individualismo egocêntrico e de nos
vermos como parte de uma coletividade, assim, aquilo que afeta você poderá me afetar no
futuro. Além disso, o tempo mais longo, que não está aferrado ao trabalho e à obtenção de
experiências efêmeras continuamente, nos permite uma vivência mais plena da cidade, de seus
problemas e eventuais soluções, no “como viver junto”. 
Saiba mais
Vamos aprofundar os conhecimentos a respeito da política na antiguidade? Indicamos uma
leitura da sua Biblioteca Virtual que trata da construção romana da política. Entre as principais
características da história política de Roma, estão cada um dos seus momentos: a monarquia, a
república e o império. Aprofunde seu entendimento da história política e social de Roma no
Capítulo 3 do livro Antiguidade clássica: Grécia, Roma e seus re�exos nos dias atuais. Também
procure o Capítulo 5 para desenvolver uma leitura de ligação com o conteúdo da Aula 2 e a
contemporaneidade nas contribuições da política a partir da Antiguidade Clássica.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
SILVA, L. P. da. Antiguidade Clássica: Grécia, Roma e seus re�exos nos dias atuais. Curitiba:
Intersaberes, 2017. 
Referências
BONINI, R. Polis. In: BOBBIO, N. MATTEUCCI, N. PASQUINO, G. (org.). Dicionário de política.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004.
CHÂTELET, F.; DUHAMEL, O.; PISIER, E. História das ideias políticas. São Paulo: Zahar, 2009.
GIDDENS, A.; SUTTON, P. W. Conceitos essenciais da Sociologia. São Paulo: Editora UNESP, 2015.
NOGUEIRA, M. A. Polis. In: DI GIOVANNI, G.; NOGUEIRA, M. A. Dicionário de políticas públicas.
São Paulo: Unesp, 2015.
SARTORI, G. A política: lógica e método nas Ciências Sociais. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1981.
SILVA, L. P. da. Antiguidade Clássica: Grécia, Roma e seus re�exos nos dias atuais. Curitiba:
Intersaberes, 2017. 
Aula 3
Concepções da política na Idade Média
Concepções da política na Idade Média
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conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos!
 
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Ponto de Partida
Saudações, estudante!
Vamos conversar a respeito da Idade Média, mais precisamente acerca das características da
política na Idade Média. Imagine que estamos em alguma porção de terras onde atualmente está
a Europa Ocidental, entre os séculos V e IX d.C. Trabalhamos e produzimos alimentos para a
subsistência da nossa família, e nos organizamos em uma comunidade para proteção dos sítios
e dos familiares. Porém, ainda não sabemos a real extensão do mundo que hoje conhecemos; os
grandes impérios estraram em declínio e precisamos nos proteger para sobrevivência a partir de
uma organização política. Parece difícil imaginar uma sociedade sem a forma política
centralizada que desenvolvemos hoje me dia, mas conhecer a Idade Média e posteriormente o
feudalismo é tarefa fundamental para compreendermos a política e as características do mundo
moderno. Por isso, convidamos você para uma conversa histórica que trata da política na Idade
Média, tradicionalmente analisada em Alta Idade Média e Baixa Idade Média. É fundamental que
nossa conversa contextualize o feudalismo. Vamos entender o porquê? Bons estudos!
Vamos Começar!
A nossa incursão na política da Idade Média tem como princípio o entendimento do feudalismo,
sabendo que se trata de uma estrutura política que perpassa especialmente a Europa entre os
séculos V e XV d.C., um período marcado em seu início e �m por dois fatos históricos resumidos
a seguir:
• Início: a queda do Império Romano e o fortalecimento de povos que estavam fora da cultura
greco-romana e que eram antagonistas ao expansionismo de Roma.
• Fim: a tomada de Constantinopla, antiga capital do império romano no Oriente, pelos turcos
otomanos, inaugurando, assim, a transição para a Idade Moderna.
Destacamos essa periodização do tempo eurocêntrica para �ns de localização do feudalismo –
da emergência dos escombros da Idade Antiga e de encerramento na aurora da Idade Moderna –
para �ns didáticos, pois nos ajudará a compreender, no decorrer de nossa exposição, as bases
do absolutismo e as diferenças entre essas duas estruturas políticas.
Do que se trata o feudalismo? Para muitos de nós não é um termo novo, já que nos faz
rememorar as aulas de história que tivemos na escola secundária. Contudo, não trataremos
neste momento dos aspectos ideográ�cos do feudalismo, um método próprio da história que
busca descrever e sistematizar todas as minúcias de um fato histórico, mas nos deteremos na
abordagem própria da ciência política, tendo o entendimento de sua estrutura política e de sua
organização do poder como objetivos centrais. Dialogando com essa preocupação, de localizar o
feudalismo em uma linearidade histórica, Colliva (2004) nos diz que:
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
O sistema feudal na sua maturidade outra coisa não é senão o produto da tentativa régia,
parcialmente conseguida, de substituir uma nova classe dirigente de origem monárquica pelas
velhas castas dirigentes, formadas tradicionalmente, pelos diversos grupos étnicos populares
germânicos. Só que a capacidade insuspeita desta nova classe se autorreproduzir fez com que
os monarcas perdessem quase completamente o controle do sistema: portanto, concebido
como realidade substancialmente centralizada, o ordenamento feudal assumiu, em breve, as
características do mais acentuado fracionismo. E a história do Ocidente �cou irremediavelmente
marcada (Colliva, 2004, p. 490).
Por esse trecho de Colliva (2004) já delimitamos o tipo de feudalismo que estudaremos nesta
aula como característico de um fenômeno tipicamente europeu-ocidental, pois como bem
descreveu Weber (1999), foram muitas as experiências de feudalismo – chinês, indiano, otomano
–, todas distintas em seus antecedentes e evolução, mas próximas sociologicamente por terem
autênticas relações feudais. Contudo, e apesar dessa pluralidade, foi o feudalismo de
vassalagem ocidental que trouxe consequências mais importantes para desenvolvimento do que
viremos a chamar de estado absolutista.
Além de delimitar um tipo de feudalismo, a citação de Colliva (2004) trata de outros dois pontos
importantes que nortearão nossa exposição: a centralização e a descentralização do poder.
Adotando como marco histórico de início do feudalismo a queda do Império Romano, podemos
retomar a concepção de império como uma forma política que, a despeito de ter objetivos
de�nidos, como o expansionismo e a universalização da civilização romana, contêm em si sua
própria contradição, pois:
Quanto maiso império se expande, tanto mais se multiplicam os �uxos que o atravessam [...]
pesam ameaças nas fronteiras distantes; os povos recém conquistados apresentam o
permanente risco de se rebelarem. Se permanece em Roma, o imperador abandona suas legiões;
se se bate nas fronteiras, perde o controle da rede administrativa (Châtelet; Duhamel; Pisier, 2009,
p. 26).
Nesse sentido, o império como conceito e como realidade empírica transita entre a centralização
e a descentralização, entre a territorialização e a desterritorialização (Hardt; Negri, 2004), e sua
derrocada também mantém essa lógica. Vamos ser mais especí�cos: a dispersão política e
territorial resultou no fortalecimento de povos que estavam fora da cultura greco-romana, como
dissemos anteriormente, e para tentar manter o poder régio, os monarcas foram da cidade para o
campo a �m de impedir que a fragmentação se acentuasse, afastando do poder uma classe
dirigente que surgiu de sua própria dinâmica, uma classe dirigente que começava a ameaçar a
continuidade do poder. Contudo, a escolha de outra classe dirigente para ocupar o lugar desta
não teve o efeito esperado de neutralizar os opositores; ao contrário, ao escolher apoiar as velhas
classes dirigentes germânicas, os monarcas não atentaram a uma importante característica da
sociabilidade desses povos: serem fragmentados e descentralizados, ou seja, eram o inverso
daquilo que objetivavam. Assim, esse fracionismo (Colliva, 2004) típico da sociabilidade dos
povos germânicos foi incorporado ao sistema, resultando no que chamamos de ordenamento
feudal. Os povos germânicos eram conhecidos pelo nomadismo e pelo e�ciente manuseio de
armas não apenas para �ns de sobrevivência (guerra e alimentação), mas também para �ns
simbólicos de produção de honrarias. Somada a isso, temos a evidência de que o rei germânico
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
estava mais para chefe militar do que para chefe político, mais para guia de expedições militares
do que para um detentor de autoridade suprema: 
assim, o rei [feudal] era somente o símbolo e o modelo das virtudes militares de seu povo
(Colliva, 2004, p. 490). 
Esse esquema interpretativo sustenta um dos principais fundamentos da estrutura política
feudal: a vassalagem ou o senhoralismo.
Essa relação continha, além do aspecto armamentista, uma in�uência signi�cativa dos laços de
consanguinidade, contudo, a reprodução da vassalagem em larga escala, ou seja, para além dos
limites dos grupos nômades, somente pode existir por ter se libertado da limitação espacial dada
pelas con�gurações familiares, culminando no nomeado vínculo vassálico. Dito em outras
palavras, a cultura e as normas aprendidas no ambiente familiar passaram a se reproduzir, não
de forma direta, mas como orientadoras de condutas na vassalagem, assim, 
o dever de �delidade pessoal desprende-se do contexto das relações gerais de piedade da
comunidade doméstica, desenvolvendo-se neste fundamento um cosmo de direitos e deveres
(Weber, 1999, p. 288).
 
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CIÊNCIA POLÍTICA
Figura 1 | Representação artística do feudalismo. Fonte: Wikimedia Commons.
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CIÊNCIA POLÍTICA
Há, ainda, outro elemento a ser abordado em relação ao desenvolvimento da vassalagem: o
estabelecimento da �delidade entre rei e vassalo por meio da concessão de benefícios, mais
especi�camente de concessão de terras, portanto, sem o caráter de propriedade (Colliva, 2004).
O rei oferece proteção e, em contrapartida, o vassalo �ca a ele subordinado direta e tão somente.
O feudo completo é sempre um complexo de direitos que proporciona rendas e cuja posse pode
e deve fundamentar uma existência senhorial. Em primeiro lugar, direitos senhoriais territoriais e
poderes políticos rendosos, isto é, direitos senhoriais que proporcionam rendas, são concedidos
como dotação dos guerreiros (Weber, 1999, p. 290).
Para Colliva (2004, p. 491), portanto, 
[...] o instituto feudal, como negócio jurídico, pode ser de�nido como uma espécie de contrato
desigual, privado, mas com crescente relevância pública. 
O que lembra o conceito de “patrimonialismo” em Max Weber, que veremos mais adiante nesta
disciplina. O instrumento patrimonial materializava a relação vassálica. A terra como conteúdo
concreto se tornou um bem muito mais valioso do que benefícios régios de cargos e títulos,
mesmo porque estamos nos referindo a uma economia predominantemente natural. Sem o
entendimento dessa materialização não é possível compreender o processo de descentralização
monárquica que marca o feudalismo e que será combatido no futuro, pois se a um lado o
fracionismo germânico, como dissemos antes, foi capaz de infundir germes no estabelecimento
do ordenamento feudal, por outro, sua ampla rami�cação pelo usufruto das terras, especialmente
na Europa do século IX, fez do feudalismo um:
[...] instrumento fundamental nas mãos das novas aristocracias locais [gerando] uma parede
impenetrável ao poder soberano nas províncias que iniciavam aquela progressiva
autocefalização e fragmentação, que constituem o dado mais característico da sociedade feudal
no seu apogeu (Colliva, 2004, p. 492).
No escopo da fragmentação ocorrida já por volta do século XIII, situaremos outra forma
especí�ca de exercício do poder: o absolutismo. E se a um lado seu término é consensualmente
localizado na inauguração da Revolução Francesa, seu início não pode ser atribuído a um evento
único ou tão bem situado na história, restando a compreensão de que teria emergido na
transição do sistema feudal para o Estado moderno, em que já se podia experimentar o
desenvolvimento de monarquias com nuances nacionalistas. Veremos mais a esse respeito
posteriormente.
Vamos Exercitar?
É interessante observarmos que a política na Idade Média constrói a forma de organização do
feudalismo. Como na história da Alta Idade Média, temos a realidade con�ituosa em que as
populações buscam se organizar a partir do poder, da dominação e da sobrevivência – a partir do
declínio principalmente romano, em se tratando da história da Europa em que se desenrola o
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CIÊNCIA POLÍTICA
feudalismo –, e percebe-se a diferença para o período da Baixa Idade Média. O camponês da Alta
Idade Média não é o mesmo camponês da Baixa Idade Média em que se desenvolve o modelo
feudal de sociedade e organização política. Por isso, a organização política do feudo retrata a
realidade dos con�itos, do poder e da dominação que constitui uma sociedade estamental e o
trabalho servil. O apogeu e crise do modelo feudal europeu ocorre do século X ao XV, sobretudo
nos laços como conhecemos de uma sociedade estamental. Portanto, a diferença da nossa
situação levantada ao começo da aula é que agora somos servos presos à terra a partir do
trabalho servil e na relação de suserania e vassalagem como elemento central das relações de
poder.  
Saiba mais
Vamos conhecer mais elementos da política na Idade Média a partir do conhecimento histórico?
Indicamos, a seguir, um texto que trata da evolução do sistema feudal europeu, que estudamos
nesta aula, e com ele você pode aprofundar seus conhecimentos a respeito da formação da era
moderna. A obra está disponível em sua Biblioteca Virtual.
SANTIAGO, T. Do feudalismo ao capitalismo: uma discussão histórica. São Paulo: Contexto,
2015.  
Referências
CALAINHO, D. B. História medieval do Ocidente. São Paulo: Vozes, 2014.
CHÂTELET, F.; DUHAMEL, O.; PISIER, E. História das ideias políticas. São Paulo: Zahar,2009.
COLLIVA, P. Verbete Feudalismo. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (org.). Dicionário
de política. V. 2. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004.
FOSSIER, R. O trabalho na Idade Média. São Paulo: Vozes, 2018.
HARDT, M.; NEGRI, A. Império. Buenos Aires: Paidós, 2004.
WEBER, M. Economia e sociedade. V. 2. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.
SANTIAGO, T. Do feudalismo ao capitalismo: uma discussão histórica. São Paulo: Contexto,
2015. 
Aula 4
A Idade Moderna e a Ciência Política
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
A Idade Modernae a Ciência Política
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Ponto de Partida
Olá, estudante!
Você tem um comércio? É proprietário de uma loja virtual ou de algum estabelecimento
comercial? Trabalha de forma autônoma? Vende mercadorias? Então, você poderia ser
conhecido na Itália da renascença como um comerciante ou mercador. É dessa realidade
histórica que surge o embrião do capitalismo contemporâneo. Mas vamos com calma. No início
da chamada “Era moderna”, o comércio estava em ascensão com a crise do feudalismo europeu,
e é nesse contexto que surgirá a ciência política. Precisamos compreender a gênese do mundo
moderno e das relações políticas que originaram a forma como nos organizamos atualmente;
uma tarefa e tanto. Vamos lá!  
Vamos Começar!
Maquiavel e a ciência política
O termo ciência remonta o �m da Idade Média, quando havia uma preocupação em descrever
tanto o conhecimento adquirido até então quanto aquilo que era passível de observação da vida,
mas é a chamada Revolução Cientí�ca do século XVII que demarcará de�nitivamente esse termo
como um método de investigação. Alguns cientistas partícipes da Revolução Cientí�ca do século
XVII foram fundamentais para a evolução do pensamento cientí�co. Nas ciências naturais,
destacamos Galileu Galilei (1564-1642) e Isaac Newton (1643-1727), e naquilo que podemos
chamar de os primórdios das ciências sociais, está Francis Bacon (1561-1626) e seu legado de
um empirismo latente à matéria.
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CIÊNCIA POLÍTICA
No entanto, se para entendermos a ciência política é necessário primeiro distinguir a ciência da
política, então, do que se trata esse último termo? É importante dizer que há um elemento de
autonomia, de distinção na política, mas com relação a quê? Nicolau Maquiavel (1469-1527)
pode ser considerado o primeiro teórico a dissociar completamente a política de outras duas
formas de enxergar o mundo e de orientar comportamentos: a moral e a religião. Essa
dissociação nos diz que a política não é apenas diferente da religião e da moral, mas é sobretudo
autônoma, no sentido de ter suas próprias leis, padrões e regularidades.
Se a política tem essa autonomia no que concerne aos agrupamentos humanos, como podemos
de�ni-la? Para Weber, a política é um conceito bastante amplo, mas que pode ser visto como um
conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a in�uenciar a divisão do poder,
seja entre Estados, seja no interior de um único Estado (Weber, 1968, p. 56). 
Ele está destacando duas entidades constitutivas da política: o Estado e a liderança política.
Entenderemos por política apenas a direção do agrupamento político hoje denominado “Estado”
ou a in�uência que se exerce em tal sentido. Mas o que é um agrupamento “político”, do ponto de
vista de um sociólogo? O que é um Estado? Sociologicamente, o Estado não se deixa de�nir por
seus �ns. Em verdade, quase que não existe uma tarefa de que um agrupamento político
qualquer não se haja ocupado alguma vez; de outro lado, não é possível referir tarefas das quais
se possa dizer que tenham sempre sido atribuídas, com exclusividade, aos agrupamentos
políticos hoje chamados Estados ou que se constituíram, historicamente, nos precursores do
Estado moderno. Sociologicamente, o Estado não se deixa de�nir a não ser pelo especí�co meio
que lhe é peculiar, tal como é peculiar a todo outro agrupamento político, ou seja, o uso da
coação física (Weber, 1968, p. 55-56).
Assim, Weber (1968) está dizendo que a política está voltada para a ação pública no interior do
que denominamos Estado moderno, e este como um tipo de agrupamento político, um tipo de
Estado historicamente localizado, apenas se diferencia de seus precursores por ser capaz de em
um território delimitado usar a força das polícias, do Exército, de forma legítima. Além disso,
Weber (1968) a�rma que todo aquele que se entrega à política, aspira o poder – seja porque o
considere instrumento a serviço da consecução de outros �ns, ideais ou egoístas, seja porque
deseje o poder “pelo poder”. Ele distingue duas maneiras desse fazer: entre aqueles que vivem
“para” a política, que têm uma causa a ser defendida, sendo esta sua motivação única; e aqueles
que vivem “da política”, tendo essa atividade como fonte de renda.
Mas foi um �lósofo Nicolau Maquiavel (1469-1527), que soube como ninguém entender essas
transformações, e o lugar de suas observações e re�exões era a Península Itálica que, com o �m
do período medieval, passava por um longo processo que consolidava a região de Florença em
meio ao intenso período que inclui o �nal da Idade Média. Cabe destacar que a Península Itálica
vivenciou uma experiência feudal muito particular, em que a fragmentação não se tornou tão
acentuada e em que houve a
recuperação de um tecido nacional através do reaparecimento do instituto monárquico” (Colliva,
2004, p. 492) 
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CIÊNCIA POLÍTICA
Possível ainda que sua plena uni�cação tenha sido tardia em relação aos demais Estados
nacionais europeus.
Figura 1 | Mapa da Península Itálica em 1494. Fonte: Wikimedia Commons.
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Foi o secretário �orentino quem, segundo por Châtelet, Duhamel e Pisier (2009, p. 36), introduziu
a ruptura decisiva em relação aos ensinamentos da teologia como orientadores da prática
política, e foi ele quem deu ao Estado a:
[...] signi�cação de poder central soberano legiferante e capaz de decidir, sem compartilhar esse
poder com ninguém, sobre as questões tanto exteriores quanto internas de uma coletividade.
Podemos, portanto, dizer que Maquiavel foi o primeiro a publicizar o entendimento de que as
questões relativas à política e ao Estado deveriam estar separadas das questões próprias da
religião e da moral, isto porque a política deve estar orientada para a manutenção desse Estado;
esse é o �m, a �nalidade da política.
Em seu livro mais conhecido, O Príncipe, escrito em 1513 e publicado postumamente em 1533, o
autor sistematiza conselhos destinados ao governante, condottiere ou príncipe (todos tidos
como sinônimos). Esses conselhos não estão ancorados em um repertório de conduta moral,
mas tão somente no que é necessário para a manutenção, a uni�cação e o fortalecimento do
Estado.
Como diplomata e burocrata, Maquiavel (1976) pôde pesquisar a natureza da política e coletar
dados e material para a elaboração de seus estudos. Assim, seu olhar não partia de um mundo
ideal ou de um Estado ideal, mas do mundo que estava vivenciando, de certa forma, da
observação empírica e do estudo da história.
Essa foi uma importante ruptura em relação às re�exões políticas anteriores, pois tendo a
política uma lógica própria, autônoma, Maquiavel (1976) introduz a substituição:
• Do dever ser pelo ser.
• Do idealismo para o realismo político.
É com Maquiavel que do ponto de vista teórico veremos primeiro a natureza do que virá a ser
chamado de Estado moderno, vertical por essência, e principalmente a importância do príncipe.
O príncipe ter ou não uma conduta moralmente aceitável é secundária, embora não totalmente
dispensável, visto que ele deve agir conforme as circunstâncias. Assim, a bondade e a
generosidade devem estar subordinadas à manutenção do Estado. Dessa forma, entre ser
amado ou temido, Maquiavel (1976) a�rma que é mais seguro ser temido, e que se o príncipe não
puder suscitar amor entre os súditos, que ao menos evite o ódio e ocasione o respeito. Nessa
perspectiva, destacamos um trecho contido no capítulo V de O Príncipe: 
Como se devem governar as cidadesou principados que, antes de serem ocupados, se regiam
por leis próprias.
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Quando se conquista um país acostumado a viver segundo as suas próprias leis e em liberdade,
três maneiras hão de proceder para conservá-lo: ou destruí-lo; ou ir nele morar; ou deixá-lo viver
com as suas próprias leis, exigindo-lhe um tributo e estabelecendo nele um governo de poucas
pessoas que o mantenham �el ao conquistador (Maquiavel, 1976, p. 55).
O verdadeiro príncipe, ou condottiere, para manter-se no poder deve ser capaz de combinar virtu
e fortuna. A fortuna se refere ao circunstancial, ao imponderável, ou seja, ao contexto e às
condições que são dadas independentemente da vontade do príncipe, e a virtu se refere à
capacidade pessoal do príncipe de usar a fortuna em seu proveito, e ao �m em proveito da
manutenção do Estado – uma sabedoria de agir conforme as circunstâncias e as necessidades,
e não conforme um arcabouço moral.
A reabilitação de Maquiavel de “autor maldito”, capaz de inspirar toda a sorte de tiranos, segundo
Sadek (2006), veio do fato de a obra ser um dos mais importantes tratados políticos já escrito,
defendendo a liberdade e a soberania do Estado, ainda que fossem empregados meios pouco
usuais. 
Vamos Exercitar?
Se você não trabalha no comércio, com certeza já comprou mercadorias. Atualmente, as
relações comerciais – a compra e venda de mercadorias – são questões corriqueiras. Portanto, a
origem da sociedade dos nossos dias deve ser buscada no período em que o comércio
transforma realidades históricas a partir de novas formas de trabalho e em conjunto com novas
formas políticas de organização da sociedade moderna. Cercadas pela revolta social dos
camponeses contra a exploração feudal e com a crise do modelo de sociedade feudal europeu
concomitante à busca por novos mercados no período da renascença, inauguram-se novas
formas de vida na política, com a centralização do poder político, que mais à frente na história
consolidará o que atualmente conhecemos como Estado moderno. É nesse cenário que a ciência
política surge, com objeto e método próprios, a partir do realismo político de Nicolau Maquiavel. 
Saiba mais
Para qualquer estudante de ciência política, a leitura e a pesquisa da obra de Nicolau Maquiavel
parecem inevitáveis. Vamos conhecer um pouco mais desse pensador? À sua disposição na
Biblioteca Virtual, procure:
COLLIN, D. Compreender Maquiavel. São Paulo: Vozes, 2019.
Também é fundamental que o cenário histórico do Renascimento, quando se desenvolvem
relações modernas, seja mais bem conhecido. Para isso, busque na Biblioteca Virtual o seguinte
livro:
LOBO, A. M. C. Percursos da história moderna. Curitiba: Intersaberes, 2017.
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CIÊNCIA POLÍTICA
Nesse trabalho, direcione a leitura para o Capítulo 1, que trata da Idade Moderna e do
Renascimento. Tenha uma ótima leitura!  
Referências
BARROS, V. S. de C. 10 Lições sobre Maquiavel. Petrópolis: Vozes, 2014.
CHÂTELET, F.; DUHAMEL, O.; PISIER, E. História das ideias políticas. São Paulo: Zahar, 2009.
COLLIN, D. Compreender Maquiavel. São Paulo: Vozes, 2019.
COLLIVA, P. Verbete Feudalismo. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (org.).
Dicionário de política. V. 2. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004.
LOBO, A. M. C. Percursos da história moderna. Curitiba: Intersaberes, 2017.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.
MAQUIAVEL, N. O conspirador. São Paulo: Vozes, 2019.
RODRIGUES, A. E. M.; KAMITA, J. M. História moderna: os momentos fundadores da cultura
ocidental. São Paulo: Vozes, 2018.
SADEK, M. T. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtú. In: WEFFORT, F.
(org.). Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2006.
WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1968.
Aula 5
Encerramento da Unidade
Videoaula de Encerramento
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CIÊNCIA POLÍTICA
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Ponto de Chegada
Olá, estudante!
Para desenvolver a competência desta unidade, que é compreender a historicidade do conceito
de poder, política e sociedade, tradicionalmente ligada à ciência política em diferentes formas e
contextos de organização da vida política e social, você deverá primeiramente conhecer os
conceitos fundamentais apresentados didaticamente, de uma forma histórica que considera o
caminho literário tradicional, com alguns recortes.
Da �loso�a política ao feudalismo
A gênese de compreensão da política e da origem da vida política podem ser buscadas na
�loso�a política. Isso porque os principais traços de “invenção” da política remontam o
surgimento das cidades, não como espaços urbanos como conhecemos, mas sim, como a pólis,
o lugar por excelência em que se vive a política, e em que se exercem os poderes políticos em
uma forma de organização alternativa ao “despotismo”.
Derivado do adjetivo originado de pólis (politikós), que signi�ca tudo o que se refere à cidade e,
consequentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social, o termo Política
se expandiu graças à in�uência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser
considerada como o primeiro tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado, e sobre as
várias formas de Governo (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 954.)
Para os gregos, a �nalidade da vida política era a justiça na comunidade (Chaui, 2014, p. 318). 
Para os romanos, inspirando-se no 
governante-�lósofo de Platão, os pensadores romanos produzirão o ideal do príncipe perfeito ou
do bom governo (Chaui, 2014, p. 321). 
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CIÊNCIA POLÍTICA
Por isso, o signi�cado da invenção da política aparece:
Para responder as diferentes formas assumidas pela luta de classes, a política é inventada de um
modo que, a cada solução encontrada, um novo con�ito ou uma nova luta podem surgir, exigindo
novas soluções. Em lugar de reprimir os con�itos pelo uso da força e da violência das armas, a
política aparece como trabalho legítimo dos con�itos, de tal modo que o fracasso desse trabalho
torna-se a causa do uso da força e da violência (Chaui, 2014, p. 315).
A concepção de política que vem da antiguidade está muito ligada aos pensadores gregos e
romanos pela “invenção da política” com os traços que ainda analisamos atualmente. É claro que
não se pode cometer o equívoco de transportar a realidade contemporânea e sua complexidade,
que a história transformou, para hoje, contudo, no reservado contexto con�ituoso da antiguidade,
a partir dos gregos e romanos, ainda problematizamos as instituições, os governantes, as leis, o
poder e a autoridade modernos. Para o cientista político, a �loso�a política e os pensadores da
política que vêm da antiguidade materializaram o vínculo entre a ética e a política. Por isso, não
há como negar a importância do que desenvolviam em relação à qualidade das leis e do poder
com foco na cidade e nas qualidades morais de seus cidadãos, da justiça e do bem comum,
contudo, a Antiguidade deve ser orientada para uma crítica aos modelos escravistas de
sociedade e dessas relações de opressão que constituem a base real em que se erguem os
modelos políticos antigos.
Já no contexto e para compreensão da historicidade do poder e das relações de poder e política
na Idade Média, precisamos contextualizar que a realidade capitalista que nos cerca atualmente
como modelo de sociedade, está muito ligada ao processo que se con�gura no território europeu
dos séculos V ao XV d.C., mais precisamente entre os séculosX e XV, no apogeu e crise do
modelo de sociedade feudal europeu.
Uma ressalva se encaixa no argumento que tomamos: escolher a compreensão do modelo de
feudalismo europeu se deve pela origem da sociedade moderna, capitalista, industrial, como hoje
a conhecemos, ser buscada a partir da crise desse modelo de feudalismo frente a outros no
mundo. Neste ponto é importante conhecer as estruturas que de maneira ampla e geral
originaram o moderno Estado. 
Os con�itos entre os vários atores envolvidos nesse processo foram, simultaneamente, de
natureza política e jurídica, e que nessa discussão construíram-se os alicerces legais e
ideológicos do poder do Estado, ao mesmo tempo em que se determinou sua extensão” (Kritsch,
2004, p.103).
Strayer indicou três condições essenciais à constituição do Estado a partir das formações
medievais: 1) o aparecimento de unidades políticas persistentes no tempo e geogra�camente
estáveis; 2) o desenvolvimento de instituições duradouras e impessoais; 3) o surgimento de um
consenso quanto à necessidade de uma autoridade suprema e a aceitação dessa autoridade
como objeto da lealdade básica dos súditos (Kritsch, 2004, p.104).
 
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Maquiavel e a ciência política
Quando Nicolau Maquiavel estabelece a sua obra e o seu realismo político, algumas condições
históricas já estavam amadurecidas com a crise do feudalismo europeu e o contexto formador
do comércio, das trocas e do próprio Renascimento.
Quando Maquiavel escreveu, não precisou cuidar de questões legais (ele referia-se já à lei como
um dado político e social). O trabalho de construção já tinha sido realizado: o Estado, como
entidade juridicamente de�nida, era um fato plenamente desenvolvido, não uma novidade
(Kritsch, 2004, p. 103).
Neste sentido, outro ponto se levanta: o realismo de Maquiavel aparece em contraposição ao
idealismo da política na Antiguidade Clássica, mesmo na essência da realização da �loso�a
política no campo da justiça, da ética e das leis, do poder e da autoridade. Fato é que a realidade
medieval está separada por mil anos de con�itos e transformações jurídico-políticas
materializadas pelo próprio feudalismo em declínio.
Para compreender as relações de poder e a materialização da ciência política, a obra de
Maquiavel é condição necessária. A literatura ocidental considera que as relações políticas da
pólis e o seu caráter normativo das leis e da justiça por muito tempo investigam a política nos
termos da moral. 
Na Idade Média, essa tendência permanece, só que, em vez de preceitos racionais e abstratos
arquitetados pela razão humana […]
[A Igreja desempenha um papel central na ordem social em que se estabelece o feudalismo, na]
estruturação de uma ordem universal, harmônica e pací�ca, tendo por lastro os ditames cristãos
– associando a prática política a ética da Igreja (Barros, 2016, p. 59).
Mas o que de fato Maquiavel desenvolveu em termos diretos para a ciência política?
É com esse pensador que a ciência política ganha objeto e método próprios e o status de ciência,
por colocar o fenômeno do poder no centro da análise. A teoria de Maquiavel, ao colocar no
epicentro da análise o fenômeno das relações de poder na história, considera a política como
fenômeno concreto e a realidade dos fatos políticos a partir da empiria e da objetividade
cientí�ca. Percebemos essa característica com a análise que Maquiavel desenvolve para além da
idealização de governos bons ou juntos como nas condições teóricas da Antiguidade – ele volta
a atenção para uma sistematização 
fria da política, observando-a, antes de tudo, com o estudo da luta pelo poder” […]
Desse modo, ao não analisar as questões do Estado por intermédio da moral, Maquiavel termina
por conferir ao universo político sua autonomia, analisando-o como uma esfera de atuação –
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CIÊNCIA POLÍTICA
sujeita à sua própria lógica e as suas próprias leis – separada da ética, da religião e do direito
(Barros, 2016, p. 60)
A política ganha sua dimensão própria quanto é separada da moral e da idealização do bom
governante, e �ca sujeita a uma ética muito mais utilitária do poder. Por esse motivo, ao
interesse “público” não importa o meio ou caminho para a política se fazer pelas mãos do
governante – que pode esconder as reais intenções no uso do poder do Estado. 
É Hora de Praticar!
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Leia a seguinte passagem:
A política se faz atualmente através do uso das novas tecnologias, das redes sociais,
a�rmando-se “verdades” ou disseminando-se “fake news”, com gestos de humanos e
de robôs. Apesar da profusão de discursos que defendem o “�m da política” (assim
como outros defendem o “�m da história”, o “�m do comunismo” etc.), observa-se
pelas redes sociais que a política tem mobilizado muitas paixões, inclusive
desfazendo amizades virtuais. Entretanto, fatores como os anteriormente
mencionados – novas tecnologias, redes sociais, fake news – representam apenas
uma parte de uma nova con�guração de política que está se delineando (Furlaneti;
Bueno, 2019, p. 1).
Imagine a seguinte situação: você é o chefe de gabinete de um governo, e deve proferir um
discurso para a nação, uma nota geral para imprensa prestando esclarecimentos acerca de uma
mentira e um boato de corrupção no governo que foi espalhado como fake news pelas redes
sociais e canais de notícias na internet. Você deve utilizar frieza e argumentos a partir da obra e
do pensamento de Nicolau Maquiavel para escrever essa nota. Quais argumentos você buscaria
para enriquecer sua nota para a imprensa? 
Será que atualmente podemos re�etir a respeito do poder e da política com os vetores de justiça
e bem comum desenvolvidos pelos �lósofos da Antiguidade Clássica?
Quais características consolidaram a formação do mundo moderno a partir da Idade Média e da
crise do feudalismo europeu?
É possível a�rmarmos que Nicolau Maquiavel é o fundador da ciência política? 
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Para analisarmos e entendermos  questões contemporâneas no campo político, é preciso um
bom conhecimento histórico e sobretudo da política clássica. Os argumentos de Nicolau
Maquiavel, no seu livro O Príncipe, podem ser usados de diferentes maneiras no trato com a
habilidade dos argumentos políticos, sobretudo quando se trata do distanciamento que o
governante deve observar para manutenção do poder. Veja o Capítulo XVIII:
Todos veem aquilo que pareces, mas poucos sentem o que és; e estes poucos não
ousam opor-se a opinião da maioria, que tem, para defendê-la, a majestade do
Estado. Como não há tribunal onde reclamar as ações de todos os homens, e
principalmente dos príncipes, o que conta por �m são os resultados. Cuide pois o
príncipe deve vencer e manter o Estado: os meios serão sempre julgados honrosos e
louvados por todos, porque o vulgo está sempre voltado para as aparências e para o
resultado das coisas, e não há no mundo senão o vulgo; a minoria não tem vez
quando a maioria tem onde se apoiar (Maquiavel, 2018).
Podemos pensar que, para Maquiavel, uma ação governamental é moral ou imoral, dependendo
do benefício que traz para a população ou povo, à parte de qualquer ato ilícito cometido para
esse benefício geral.
 
 
 
Fonte: elaborada pelo autor. 
BARROS, V. S. de C. 10 Lições sobre Maquiavel. Petrópolis: Vozes, 2014.
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CIÊNCIA POLÍTICA
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (org.). Dicionário de política. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2004.
CHAUI, M. Iniciação à Filoso�a. São Paulo: Ática, 2014.
COLLIN, D. Compreender Maquiavel. São Paulo: Vozes, 2019.
COSTA, S. P. M. Idade Média: mil anos no presente. Porto Alegre: ediPUCRS, 2016.
FURLANETI, O. N.; BUENO, A. M. Discursos políticosna contemporaneidade: desa�os teóricos e
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KRITSCH, R. Rumo ao Estado moderno: as raízes medievais de alguns de seus elementos
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MAQUIAVEL, N. O príncipe. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.
REZENDE, J. Filoso�a simples e prática. Curitiba: Intersaberes, 2020.
STIRN, F. Compreender Aristóteles. 4. ed. São Paulo: Vozes, 2011.   
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Unidade 2
Teoria do Estado
Aula 1
A Gênese do Moderno Estado.
A Gênese do Moderno Estado
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Ponto de Partida
https://www.revistas.usp.br/esse/article/download/148997/155115/363464
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Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
Na atualidade, estamos acostumados a culpabilizar o Estado pela maioria das questões que nos
envolvem. Do preço dos combustíveis ao pãozinho que consumimos na padaria, o Estado, no
imaginário comum, é sempre o responsável pelas mazelas e pela economia que presenciamos.
Por que os aspectos sociais e econômicos são sempre cobrados do Estado no sentido amplo? O
que nos leva a observar de imediato o Estado como responsável pelo trato econômico e social
em nossas vidas? Se o Estado é o principal responsável pela economia e seus aspectos
contraditórios, não bastaria trocar de governo ou governante para solucionar os problemas?
Veremos nesta aula que isso não é tão simples, e só poderemos compreender os aspectos
políticos da realidade contemporânea se observarmos também a origem e a gênese do Estado
moderno. Ótimos estudos! 
Vamos Começar!
A desintegração do mundo feudal
O Estado moderno como o conhecemos surgiu da desintegração do mundo feudal, do
feudalismo europeu e dos con�itos presentes naquele continente e que se acirraram a partir do
século XVI. Isso não quer dizer que seu surgimento tem data marcada no calendário, e que a
intensa troca comercial que se desenvolve a partir da crise do feudalismo naquele continente
não tenha modi�cado o cenário para a formação do Estado moderno, muito pelo contrário. O que
ocorreu no continente Europeu naquele período marcou de�nitivamente a história do mundo.
Mas a história do Estado moderno não se desenhou de maneira idêntica em todos os países da
Europa. Para compreender a sua gênese, é preciso adicionar o entendimento do �nal da Idade
Média e da crise do sistema feudal e seus estamentos de maneira complexa, a �m de
compreender que em cada porção do território europeu esse feudalismo encontrou
funcionamento próprio, o que vai nos levar ao entendimento da história inglesa em um primeiro
momento.
Raquel Kritsch (2004) vai apontar os elementos do processo de constituição do Estado moderno
– entre os quais a noção de soberania – que estão nos séculos �nais do medievo e de
centralização da política de maneira desigual.
Essa nova realidade, que não se con�gurou ao mesmo tempo nem por um processo único em
toda a Europa, apresentou algumas características comuns. Procura-se argumentar que os
con�itos entre os vários atores envolvidos nesse processo foram, simultaneamente, de natureza
política e jurídica, e que nessa discussão construíram-se os alicerces legais e ideológicos do
poder do Estado, ao mesmo tempo em que se determinou sua extensão (Kritsch 2004, p. 103).
Na Inglaterra podemos observar historicamente uma forma de gestação do Estado moderno que
mais está encaixada com a realidade capitalista que será formatada com o processo da
Revolução Industrial. Portanto, trata-se de entender primeiro que o Estado aparece como re�exo
das forças sociais, do declínio do feudalismo e a preservação do poder centralizado, e que:
Disciplina
CIÊNCIA POLÍTICA
não se con�gurou toda ao mesmo tempo nem por um processo único em toda a Europa. […]
O novo poder desenvolveu-se antes na Inglaterra que no continente. No caso inglês, a Coroa
a�rmou-se contra os barões, internamente, e, no exterior, contra a Igreja. No continente, as forças
em confronto são fundamentalmente quatro: a monarquia nascente, o Império, o Papado e os
poderes locais (Kritsch, 2004, p. 103).
Mas de quem estamos falando? De quem era o poder e quais os atores e personagens
responsáveis pela transformação econômica, jurídica e política que consolidou a forma de um
Estado moderno? Da Revolução de Avis em Portugal em 1383 à Revolução Inglesa do século
XVII, houve um longo caminho que só podemos compreender a partir dos agentes comuns na
história, que são:
1) a troupe do Estado (rei, ministros, burocratas, juízes, coletores de impostos etc.); 
2) os elementos urbanos emergentes (artesãos e suas corporações de ofício, comerciantes,
prestadores de serviços etc.); 
3) uma intelectualidade que, embora dividida partidariamente e, portanto, dependente quase
sempre ou da Igreja ou da espada, passou a constituir um fator de poder; 
4) os grupos, em geral das camadas inferiores e muitas vezes participantes de desordens e
sublevações, envolvidos nos movimentos heréticos ou de oposição às doutrinas religiosas
dominantes (Kritsch, 2004, p. 104).
Devido ao esgotamento das forças produtivas feudais, que não sustentavam a intensa formação
comercial que extrapolou a fronteira e os muros do feudo, pudemos observar na história que a
formação dos agentes sociais responsáveis por uma nova forma de sustentação do poder só
puderam aparecer em novas condições de produção, que encontravam no comércio uma
intensidade nunca vista e que expandiu as fronteiras territoriais, redesenhando o mapa do
mundo.
Siga em Frente...
O mercantilismo e o colonialismo
Não podemos negar que a crise do modelo feudal europeu foi também a derrocada de um tipo
especí�co de sociedade que estava baseada na produção agrícola e de subsistência em relações
servis. A formação de segmentos sociais capazes de acomodar o poder centralizado nos mais
variados países da Europa apareceu como resultante dos con�itos ao �nal da Idade Média, que
com a formação de um enorme poder centralizado em Estados permitiu a expansão territorial, o
domínio, a exploração e o enriquecimento das regiões que se formaram em Estados
centralizados. Esse poder chega a tal nível que o chamaremos, mais à frente na história, de
absoluto.
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CIÊNCIA POLÍTICA
Fato é que as transformações foram estruturais. Isso quer dizer: transforma-se a forma
econômica e de produção, transforma-se a forma política e jurídica de maneira ampla e
transforma-se a sociedade em suas relações. O mercantilismo marcará a forma econômica a
partir da centralização e domínio dos Estados com o declínio medieval, o Estado moderno
encontra sua primeira forma no absolutismo, e a sociedade estamental que caracterizou o
modelo feudal europeu será solapada e substituída a partir do aparecimento da burguesia
comercial:
Estavam eles muito interessados no assunto porque pensar em termos de um Estado nacional,
de todo um país em vez de uma cidade, apresentava novos problemas. Era preciso considerar
não o que seria melhor para a cidade de Southampton ou a cidade de Lyon ou a cidade de
Amsterdã, mas o que seria melhor para a Inglaterra, a França ou a Holanda. Queriam transferir
para o plano nacional os princípios que haviam tornado as cidades ricas e importantes. Tendo
organizado o Estado político, voltaram suas atenções para o Estado econômico. As coisas que
escreveram e as leis que defenderam tinham, todas, um conteúdo nacional. Os governos
aprovaram leis que, no seu

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