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Angela Gomes Comunicação Em Situações Difíceis no Tratamento Oncológico Unidade 1 Livro didático digital Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor ANGELA GOMES Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Olá. Meu nome é Angela Gomes. Sou graduada em Enfermagem e pós- graduada em Enfermagem Oncológica, com uma experiência técnico-profissional na área da enfermagem há mais de 23 anos. Passei por Hospitais infantis como Pronto Baby na Tijuca RJ, Hospital São Vicente de Paulo também situado na cidade da Tijuca RJ, onde obtive experiências no Centro cirúrgico e atualmente trabalho no INCA (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER) há 15 anos onde desenvolvo a atividade de enfermagem oncológica. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. No INCA adquiri uma rica e extensa experiência de vida, sem contar com a profissional! Trabalhar no setor Oncológico é complicado em alguns momentos, porém prazeroso saber que estamos fazendo o bem. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Autor ANGELA GOMES INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro- jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Introdução......................................................................................10 Competências................................................................................11 Compreender a importância das atualizações na comunicação em situações difíceis no tratamento oncologico......................................................................................12 Importância das atualizações na comunicação em situações difíceis na oncologia.......................................................................................13 Os tipos de protocolos padronizados e como aplica-los na comunicação em situações difíceis................................26 Identificar o grau de conhecimento dos estudantes de enfermagem diante a comunicação em situações difíceis no tratamento oncológico........................................................36 Compreender estratégias utilizadas entre os enfermeiros oncológicos na comunicação aos pacientes e familiares em situações difíceis no tratamento oncológico.............38 Bibliografia.....................................................................................54 Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 9 UNIDADE 01 Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico10 O propósito desse Ebook é reverenciar o contexto científico e prático da Comunicação em situações difíceis no tratamento oncológico entre os profissionais de saúde e pacientes, e tem como objetivo facilitar na resolução dos problemas e questões que surgirão na vida profissional dos enfermeiros oncológicos. Estes conceitos básicos são importantes para o enfrentamento de dilemas ou conflitos que podem surgir e para que o enfermeiro saiba se posicionar de uma maneira ética, humana e compreensiva. Assim, esses conceitos e teorias devem ser claras para todos. Não se pretende impor regras de comportamento mais sim proporcionar uma análise em que os profissionais da área de oncologia possam refletir e adquirir conhecimento de como se comunicar diante as diversas situações que surgem durante a vida do enfermeiro na área da oncologia. A formação do profissional de enfermagem em nível superior nem sempre é discutida em uma disciplina oncológica sendo necessária especialização para que os termos mais profundos do tratamento do câncer sejam discutidos. O conteúdo a seguir se divide em três partes: A importância da boa Comunicação entre enfermeiros e pacientes na área oncológica; Abordagens dos Protocolos padronizados existentes para Más-notícias; Dilemas encontrados na Oncologia. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. (Compreender a importância das atualizações na comunicação em situações difíceis no tratamento Oncológico) 2. (Os tipos de protocolos padronizados e como aplica-los na comunicação em situações difíceis) 3. (Identificar o grau de conhecimento dos estudantes de enfermagem diante da comunicação em situações difíceis no tratamento Oncológico) 4. Compreender as estratégias utilizadas entre os enfermeiros oncológicos na comunicação aos pacientes e familiares em situações difíceis no tratamento oncológico Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! “Aprender é a única coisa que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende” COMPETÊNCIAS Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico12 Compreender a importância das atualizações na comunicação em situações difíceis no tratamento oncologico Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a importância da comunicação em situações difíceis no tratamento oncologico. A comunicação hoje constitui uma dimensão central do cuidado, entre os profissionais de saúde e pacientes, principalmente em situações de doenças graves e de longa duração como é o câncer. Em que paciente e familiar tem suas vidas completamente mudadas pela doença, devido ao tratamento prolongado, as expectativas, as emoções, angústias, medos e incertezas. Nem sempre a comunicação entre os profissionais de saúde são satisfatória para o paciente e seus familiares, sendo necessário implementar estratégias que favoreçam uma melhor comunicação e expectativas. E para que essa comunicação seja eficaz o profissional deve buscar conhecimento através de pesquisas e tórias fundamentadas para que possa utilizar a comunicação adequada e interagir de forma humanizada com os pacientes. Dessa maneira terá capacidade de percepção sobre os sentimentos vivenciados pelos pacientes diagnosticados com câncer, uma melhor interação e comunicação. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. A falta de conhecimento profissional principalmente na área oncológica gera sentimento de insegurança e desvalorização da doença nos pacientes. Quanto mais conhecimento melhor será a prática. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 13 Importância das atualizações na comunicação em situações difíceis na oncologia Desde a erauma vez que permite mudar a perspectiva subjetiva, em que o paciente e a comunidade vivenciam a doença grave. Devido ao significado do câncer, o paciente redireciona sua atenção Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 49 a novos aspectos ou percebe a experiência de um novo ponto de vista. O alívio do sofrimento, a sobrevivência ou a cura não significam o retorno ao estado anterior à doença, essa situação alterou-se como uma nova experiência - uma segunda oportunidade de vida trazida pela sobrevivência. A fé constitui um modo de pensar construtivo. Um sentimento de confiança de que acontecerá o que se deseja. A fé em Deus é um sentimento arraigado em nossa cultura e é tão necessária quanto outros modos de enfrentamento. O apoio da família é um dos principais recursos externos do paciente para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Enquanto o paciente trava uma luta contra a doença, tentando lidar melhor com o estresse, a família tem um importante papel em apoiar ou não as mudanças que ocorrem com ele, evitando os fatores desnecessários de estresse ou ajudando-o a lidar com ele. Os familiares do paciente com câncer também sofrem com o estresse de lidar com as necessidades emocionais do paciente, o que é uma questão difícil para eles. Presumidamente, indivíduos que experimentam um evento de vida estressante e podem mobilizar fortes recursos de suporte dentro de sua rede social de relacionamentos são mais capazes de reduzir possíveis efeitos negativos do estresse na saúde. O suporte pode aliviar o impacto da avaliação do evento como estressante, provendo uma solução para o problema, através da redução da percepção de importância do problema e, então, a pessoa é menos reativa à percepção do estresse, facilitando respostas mais saudáveis. Comportamentos aditivos, como beber ou comer excessivamente, contar piadas ou usar o bom humor para enfrentar a doença, também aparecem entre as estratégias centradas na emoção utilizadas. Outras estratégias de enfrentamento, como: cuidado com as plantas, televisão ou trabalho maior que o usual, e fatalismo devido à idade avançada, apareceram menos expressivamente. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico50 A negação, pelo menos a negação parcial, é usada por quase todos os pacientes, não apenas durante os primeiros estágios da doença ou em seguida na "confrontação", mas também posteriormente, de quando em quando. A negação funciona como um abafador ou amortecedor, depois de notícias chocantes, que inesperadas permitem ao paciente recobrar-se e, com o tempo, mobilizar outras defesas menos radicais. A negação é, normalmente, uma defesa temporária e, logo, será substituída por aceitação parcial (Revista Brasileira de Cancerologia 2009) . Para o sofrimento dos profissionais não há protocolo, o limite é o profissional que se dá, este é um primeiro cuidado, saber do seu limite, o quanto é possível suportar sem sentir-se invadido. A Instituição pode funcionar como um continente não só para a clientela como para o próprio profissional. Reconhecer que nenhum saber é absoluto; Compartilhar experiências, saberes e afetos; Ter em mente que toda atitude clínica comporta uma atitude política; Estabelecer equipes de referência para a construção de projetos terapêuticos singulares e discussões no âmbito da clínica ampliada; Constituir redes intersubjetivas, interdisciplinares e interinstitucionais; Reconhecer e levar em conta a tempestade de sentimentos experimentada pelos pacientes e/ou familiares: negação, ansiedade, sentimento de culpa e de perda, desgaste, autolamentação, depressão, ressentimento, desamparo, revolta, raiva do médico que não diagnosticou a doença ou não conseguiu curar a criança; Preservar a possibilidade do não saber; Lembrar que a comunicação é um processo que se dá em etapas: tem início no diagnóstico, sendo complementada ao longo do “percurso” do paciente durante o tratamento; Considerar que o cuidado envolve o paciente, a família e o profissional de saúde, portanto, é importante o acolhimento às singularidades de todos os sujeitos envolvidos; Manter Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 51 um equilíbrio dinâmico entre implicação profissional e reserva afetiva; “Chorar com” faz parte, não sendo sintoma de fragilidade, mas de ser solidário; Ponderar que as políticas de saúde ainda não se estruturaram o suficiente para enfrentar as dificuldades de natureza variada, inerentes ao campo da pediatria oncológica; Reestruturar o perfil dos serviços de atenção à saúde da criança e do adolescente da rede, trazendo novos desafios para a atenção oncológica e para o SUS; Capacitar, com recursos apropriados (protocolo SPIKES e outros), os profissionais de saúde, desde sua formação, a lidar com situações de comunicação de notícias difíceis, e proporcionar formação e atualização continuadas; Continuar com a plataforma EAD (de ensino a distância), com novos textos e discussões, que possibilitassem a leitura posterior pelos participantes do grupo e outros profissionais da área; Capacitar a equipe em comunicação de notícias difíceis, incorporando fundamentos nas áreas de tanatologia, filosofia, psicologia e teologia; Incluir o tema da finitude transversalmente na formação dos profissionais de saúde, desde a formação até a prática; Capacitar equipes em Cuidado Paliativo nas instituições de saúde; Promover educação e treinamento dos profissionais de saúde nas abordagens biomédica e biopsicossocial dos cuidados paliativos. É importante ressaltar que não há uma técnica universal para transmissão de más notícias em Oncologia, porém ela deve estar pautada nos princípios éticos de justiça, autonomia, beneficência e não maleficência. A verdade é a base para a confiança nas relações. Portanto, tendo como fundamentos os princípios da Bioética, pode-se dizer que a comunicação da verdade diagnóstica ao paciente e seus familiares constitui um grande benefício para os mesmos, pois possibilita a participação de ambos de forma ativa no processo de tomada de decisões. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico52 RESUMINDO: Pode-se afirmar que a comunicação de más notícias é considerada umas das mais complexas no meio das tarefas para profissionais, incluindo o enfermeiro, para tanto, é relevante que o conhecimento de técnicas para o desenvolvimento relacionado a situações adversas, seja conhecida e praticada. Porém é a ferramenta terapêutica fundamental na comunicação de determinadas notícias. A equipe multiprofissional lida, de modo intensivo e integral, com as respostas dos pacientes, interagindo com seus sofrimentos, ansiedades e medos, em meio às estratégias terapêuticas. Todavia deve haver, em relação aos pacientes com câncer, um entendimento de que o curar, muitas vezes, é escravo da tecnologia, mas o cuidar aceita que a existência é finita e sempre existe algo que possa ser feito para melhorar a qualidade de vida. A assistência de enfermagem ao paciente com câncer e familiares consiste em permitir a todos verbalizar seus sentimentos e valorizá-los; identificar áreas potencialmente problemáticas; auxiliar os pacientes e familiares a identificar e mobilizar fontes de ajuda, informações, busca de soluções dos problemas; permitir tomadas de decisões sobre o tratamento proposto; e levar a pessoa ao autocuidado dentro do possível. A enfermagem oncológica deve estabelecer intervenções de cuidado que possam ser implementadas com o objetivo de orientar antecipadamente o paciente para as mudanças em sua vida e na imagem corporal que sejam previsíveis de acordo com a cirurgia proposta como também conhecer as expectativas do paciente Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 53 sobre a imagem corporal e auxiliar o paciente na compreensão e enfrentamento das mudanças causadas pela doença ou cirurgia, auxiliando na determinação da real extensãoda mudança em seu corpo ou em sua funcionalidade. A meta é que a equipe multiprofissional reforce as estratégias de enfrentamento que facilitem a convivência com a situação de doença e auxiliem o indivíduo a transformar ou abandonar aquelas que sejam ineficazes para ele. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico54 BIBLIOGRAFIA Comunicação entre profissional de saúde e paciente: percepções de mulheres com câncer de mama. Otani, Márcia Aparecida Padovan. CAMPINAS, 2013. Comunicação de más notícias a pacientes: conhecimento, experiência, dificuldades e padrões de comportamento de alunos de medicina. Nelson Albuquerque. Universidade da Beira Interior. Covilhã, dezembro de 2013. Especificidades da Comunicação em Situações Críticas. Raquel Pusch de Souza. 2018. Disponível em: 03/11/2019. http://www.psicosaude.com.br/admin/ arquivos/artigos/35f954c387cbb230b33ff9f9f9eaf8a7.pdf BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de humanização da Assistência Hospitalar. 2004. Disponível em: 03/11/2019. http://bvsms.saude.gov.br/php/level. php?lang=pt&component=44&item=104 Souza RCG, Pinto AM, Silva MJP. A percepção dos alunos de 2º e 3 º anos de graduação em enfermagem. Artigos de Revisão Rev. Rene. Fortaleza, v. 10, n. 3, p. 139- 145, jul./set.2009. Sobre a comunicação não verbal dos pacientes. In: Carvalho EC, organizador. Comunicação em enfermagem. Ribeirão Preto: Fundação Instituto de Enfermagem de Ribeirão Preto; 2007. SALES, M. Mídia e Questão Social: o direito à informação como ética da resistência. In: SALES, M.; RUIZ, J. (org.). Mídia, Questão Social e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2009. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 55 A comunicação de más notícias entre médicos e pacientes no universo oncológico. Fernanda Cristina de Carvalho Vita REVISTA CIENTÍFICA DA FAMINAS (Faculdade de Minas Gerais. Muriaé, MG) – V. 8, N. 2, MAIO-AGO. de 2012. Instituto Nacional do Câncer. INCA divulga pesquisa de opinião dos brasileiros sobre o câncer. 2007. Disponível em:. Acesso em: 11 nov. 2019. https://www.inca.gov.br/o-que-e-cancer. Disponível em: 12/11/2019. Pacientes oncológicos e expectativa de cuda: um unfoque sob a bioética de intervenção.Talita Cavalcante Arruda de Morais. Brasília, 15 de dezembro de 2016. http://www.oncoguia.org.br/conteudo/cancer/12/1/. Disponível em: 12/11/2019. https://www.inca.gov.br/como-surge-o-cancer. Disponível em: 12/11/2019. Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer Jose Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. – Rio de Janeiro: INCA, 2017. Comunicando más notícias: o protocolo SPIKES. Carolina de Oliveira Cruz, Rachel Riera. Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Diagn Tratamento. 2016;21(3):106-8. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico56 Profissionais de saúde e a comunicação de más notícias sob a ótica do paciente. Rev Med Minas Gerais 2013; 23(4): 518-525. José Antonio Chehuen Neto, Mauro Toledo Sirimarco, Társsius Capelo Cândido, Thaís Chehuen Bicalho,Bruno de Oliveira Matos, Gabriela Hinkelmann Berbert, Leandro Vinícius Vital. The Oncologist 2000; 5:302-311. SPIKES – Um Protocolo em Seis Etapas para Transmitir Más Notícias: Aplicação ao Paciente com Câncer. Traduzido por Rita Byington. Protocolo P-A-C-I-E-N-T-E: instrumento de comunicação de más notícias adaptado à realidade médica brasileira. Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. 2017, vol.63, n.1, pp.43-49. ISSN 0104-4230. http://dx.doi.org/10.1590/1806- 9282.63.01.43. Perspectivas otimistas na comunicação de notícias difíceis sobre a formação fetal. Ana Cristina Ostermann. Minéia Frezza. Rafael Machado Rosa. Paulo Ricardo Gazzola Zen. Cad. Saúde Pública 2017; 33(8):e00037716. Comunicação de notícias: receios em quem transmite e mudanças nos que recebem Delivering news: uncertainties of those who deliver them and changes in those who receive them Carine dos Reis Lopes; João Manuel Garcia do Nascimento Graveto REME - Rev Min Enferm.; 14(2):257- 263, Jan/Mar, 2010. Rocha L, Melo C, Costa R, Anders JC. A comunicação de más notícias pelo enfermeiro no cenário do cuidado obstétrico. REME – Rev Min Enferm. 2016[citado em ];20:e981. Disponível em: DOI: 10.5935/1415-2762.20160051 Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 57 Fonte: https://www.guiadacarreira.com.br/cursos/ materias-enfermagem/ Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(4): 355-364. Estratégias de Enfrentamento Utilizadas pelos Pacientes Oncológicos Submetidos a Cirurgias Mutiladoras. Costa P, Leite RCBO. Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Coordenação Geral de Gestão Assistencial. Coordenação de Educação. Comunicação de notícias difíceis: compartilhando desafios na atenção à saúde / Instituto Nacional de Câncer. Coordenação Geral de Gestão Assistencial. Coordenação de Educação.– Rio de Janeiro: INCA, 2010.medieval o ensino na área da saúde sofreu grandes alterações principalmente na comunicação entre pacientes e familiares. O ensino médico consistia no estudo e recitação de textos hopocráticos e galénicos e não era associados necessáriamente a parte prética e sim a uma formação científica pré-médica. A falta da formação não-teórica foi uma das grandes causas de efeitos adversos nos sistemas de saúde. Na época a formação das competências não-técnicas, como saber comunicar más noticias era alvo de estudo e avaliação que seria implementada no plano curricular das faculdades de medicina. No quotidiano era uma tarefa praticamente inevitável para o médico dar má noticias, seja diretamente a um paciente ou a um familiar. E nem sempre os profissionais de saúde estavam dotados das ferramentas necessárias para lidar com especial situação de trabalho. A comunicação em transmitir má notícias acarreta uma alteração emocional muito forte para o paciente e alguns médicos, a tarefa então, para a comunicação de má notícias cai sobre os profissionais de serviço de atenção Psicossocial. Devido à complexidade e pouco tempo para se preparar a transmitir uma má notícia, muitas vezes em caráter de urgência sendo assim surge um protocolo na área da oncologia chamado SPIKES. É um protocolo que reúne maior consenso entre os médicos e adquire um caráter de “guia geral” e não de um protocolo rígido (Albuquerque, 2013). Discutem-se muito, dois tipos de comunicação básica: a verbal, referindo-se as palavras expressas por meio da fala ou escrita e a não verbal, ocorrendo por meio de gestos, silêncio, expressões faciais e postura corporal. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico14 Mesmo em silêncio, a pessoa pode comunicar sua dor, sua alegria, como também sua intenção de não falar. Didaticamente a comunicação se divide em duas partes: o conteúdo – fato ou informação; e o sentimento – energia que acompanha a informação a ser transmitida. Portanto, podemos interpretar as mensagens não apenas pelo que falamos, mas também pelo modo como nos comportamos, por meio da linguagem corporal: proximidade, postura e contato visual. Comunicar é o processo de transmitir e receber mensagens por meio de símbolos ou sinais. As especificidades da comunicação em situações difíceis exige que o profissional da saúde desenvolva um modelo centrado no acolhimento do paciente e de sua família. Para isso, se faz necessário, o desenvolvimento de uma nova maneira de se dialogar. Neste contexto, o diálogo é justamente a oportunidade de se produzir conhecimento, esclarecimento e um momento para acolhimento, quando se fala em situações difíceis no tratamento oncologico. Grande parte do sucesso da comunicação se pode atribuir a quem a recebe, e não somente ao profissional que a emite como é popularmente acreditado. Um bom comunicador é aquele que considera a capacidade de entendimento do paciente e de seus familiares, tendo em mente que para se tiver uma comunicação eficaz se deve valorizar a experiência e o quanto esse profissional se atualiza. Para que isto seja plenamente atingido, é necessário utilizar metáforas do conhecimento que facilitem o entendimento. Em verdade, a comunicação só é possível usando a linguagem que o paciente e seus familiares conhecem, utiliza e lhe é familiar. Não existe uma melhor receita, mas se pode refletir sobre uma maneira de efetuar uma mudança comportamental como efeito da comunicação. Perceber as diferenças entre um paciente e outro, já é uma forma de Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 15 comunicação porque não existe uma comunicação igual para ambos, e sim “entre nós” profissionais da saúde. A mensagem ou experiência deve ser sempre compartilhada a fim de favorecer o processo da comunicação. Pontes precisam ser construídas entre o Enfermeiro e o pensamento (conhecer) dos pacientes, seus sentimentos (sentir) e seus comportamentos (praticar). A construção destas três pontes é o fundamento inicial do processo comunicativo. Só se consegue uma comunicação eficaz quando estas três áreas de ambos, Enfermeiro e paciente estiverem envolvidas diretamente. O bom comunicador é aquele que conhece bem sua mensagem, a prática e tem paixão em transmiti-la. Para tal é preciso plena convicção daquilo que se quer comunicar. Se pudermos sistematizar alguns estágios da comunicação, poderíamos ordená-los da seguinte forma: ter consciência da essência da mensagem; elaborar o modo, como será compreendido a mensagem (a essência a ser comunicada); investigar como o paciente captou a mensagem, como a entendeu, se existem dúvidas ou discordâncias; delinear que mudanças de comportamento foram geradas no paciente, e também em seus familiares. Uma vez claras as mudanças, a comunicação pode ser dada por encerrada e bem sucedida. A comunicação não verbal é a que a pessoa participa simultaneamente de duas dimensões existenciais decorrentes de dois modos de se relacionar com o mundo: uma verbal, que lhe confere um estatuto psicolinguístico, e outra não verbal, que lhe confere um estatuto psicobiológico. A comunicação verbal exterioriza o ser social, ao passo que a não verbal exterioriza o ser psicológico. Tão forte é o elemento não verbal da comunicação, que podemos dizer que exerce quatro funções básicas: complementar a comunicação verbal, utilizando qualquer sinal que reforce o que foi falado; substituir a comunicação Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico16 verbal, fazendo qualquer sinal não verbal que substitua as palavras; contradizer a comunicação verbal, fazendo sinais que desmascarem o que está sendo falado; demonstrar sentimentos, com emoções expressas pela face, sem palavras. Com isto podemos afirmar que a principal função da comunicação não verbal é a demonstração dos sentimentos dos profissionais de saúde, especialmente através de expressões faciais e para verbais que auxiliam a demonstração destas emoções, mesmo que não sejam explicitamente verbalizadas. Em momentos de muita empatia, conseguimos perceber o notável poder da comunicação não verbal, quando, por exemplo, conseguimos “ler” com um olhar ou um gesto o significado exato da mensagem emitida, (Souza, 2018). O paciente, ao ser encaminhado a uma unidade de tratamento oncológico já apresenta uma alteração psicológica muito grande. O câncer é uma doença que causa importantes mudanças psicossociais na vida das pessoas que, em decorrência disso, precisam de mais cuidados e informações adequadas para entender, lidar com as mudanças impostas pela doença, funcionar, fazer escolhas e sentir-se melhor. Pessoas com câncer, em sua maioria, associam a doença ao sofrimento e à finalização da vida, sendo o papel da comunicação fundamental. Sabe-se que o cuidado não será efetivo se não houver comunicação adequada. Levando em conta a complexidade desta doença, o câncer, para os pacientes, assim como suas famílias, necessitam de constante apoio e cuidado dos profissionais de saúde, a comunicação estabelecida entre profissionais de saúde, pacientes e familiares é considerada um dos principais núcleos do cuidado em oncologia, representando um papel muito importante em todo o percurso de tratamento. Compreender o processo comunicativo e Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 17 desenvolver habilidades de comunicação é fundamental a todos os profissionais de saúde. As ações propostas pelo Ministério da Saúde por meio da Política Nacional de Humanização (PNH) vêm sendo enfatizadas como uma importante estratégia para melhorar a assistência em saúde. Esta política incentiva que as práticas em saúde sejam desenvolvidas com maior valorização dos diferentes sujeitos envolvidas no processo de produção de cuidados e, para isso, destaca como essencial a valorização da escuta, o vínculo e o afeto na prática dos profissionais de saúde (BRASIL, 2004). Apesar de se caracterizarcomo uma doença grave e de risco, o câncer já é considerado uma doença popular, e, portanto, não é vista apenas como sinais e sintomas reunidos, mas como uma enfermidade carregada de significados simbólicos, morais, sociais, psicológicos, capaz de produzir ressonâncias na forma do indivíduo vivenciá-la, interferindo no processo de enfrentamento e na adaptação às diferentes fases do desenvolvimento e tratamento da doença. Outro fator preponderante é que, independente da intervenção adotada, o tratamento deixa marcas no paciente como incapacidade laboral, dificuldades para reabilitação, mutilação, etc., e como toda doença abarca, ao mesmo tempo, um elemento orgânico e outro psicológico. O indivíduo com câncer precisa também lidar com seus sentimentos relacionados à doença, suas fantasias e preocupações relacionadas à morte, ao tratamento, às mutilações e à dor. O que se observa em relação ao câncer é que o medo não é de morrer e sim medo de morrer de câncer pelas possibilidades do morrer que se tem sobre o prognóstico do câncer. Em 2007, o Instituto Nacional do Câncer realizou uma pesquisa em todo o país que veio comprovar que o estigma da doença continua. Ao responder a pergunta “Quando você Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico18 pensa em câncer, qual é a palavra que vem a sua cabeça?”, a maioria dos entrevistados usou termos que remetem à morte e a emoções negativas, como tristeza, desespero, sofrimento, perda, dor, medo, maldição, desgraça. A pesquisa também evidenciou que uma grande parcela da população acredita que o câncer possa ser tratado e um número menor acredita que é possível viver bem. Outro dado significativo é que as pessoas já não acreditam mais que o câncer seja contagioso (INCA 2007). É possível perceber que o significado da doença tem uma dimensão temporal, está sempre em transformação, contudo o estigma negativo permanece enraizado ao câncer tal qual o tumor no enfermo. Frente a todas as representações e estigmas vinculados ao câncer, nota- se no paciente oncológico uma sucessão de crises que se inicia pelo impacto do diagnóstico, seguida da carga emocional gasta durante o tratamento. A adaptação do paciente ao câncer, suas reações frente à doença, ao tratamento e à reabilitação depende muito de quem ele é, de suas características individuais, da sua idade, sexo, ocupação, sua história de vida, contexto cultural e social, antecedentes educacionais, espiritualidade, atitudes filosóficas frente à vida e de inúmeras variáveis psicológicas. Essas individualidades, ou seja, a construção subjetiva é determinante na forma do paciente avaliar sua doença e se portar frente a ela. Outro fator imprescindível para a longa jornada do paciente na busca pelo equilíbrio e pela saúde está vinculado à comunicação adequada feita pelo especialista, que deve ser sensível às respostas do paciente que precisa desesperadamente de seu suporte no sentido de aplacar seus medos e lhes dar esperança nesse momento devastador de sua vida. (REVISTA CIENTÍFICA DA FAMINAS – V. 8, N. 2, MAIO-AGO. de 2012). É preciso levar em conta que a criação de políticas e estratégias não pode ser entendida como prescrições Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 19 capazes de gerar mudanças apenas por sua implantação. Elas devem servir como fonte de aprendizado para novas experiências. A humanização do cuidado e, mais especificamente, a comunicação interpessoal efetiva, não são inatas e somente se consolidarão se forem praticadas e sustentadas nas ações cotidianas, alimentadas pelo mecanismo de reprodução entre os profissionais pela via da formação acadêmica ou pelo exemplo na prática. A qualidade da comunicação entre profissionais de saúde e pacientes depende, sobretudo, das percepções pessoais e da disponibilidade de o profissional estabelecer relações de ajuda e acolhimento ao outro Infelizmente, na maioria das instituições formadoras de profissionais de saúde são escassas as situações em que o aluno tem oportunidade de exercitar e refletir sobre sua comunicação com a finalidade de aprender formas mais adequadas para seu comportamento interacional (BRASIL, 2004). Apesar do progresso da ciência relacionado aos procedimentos realizados para o tratamento das doenças terminais, o câncer ainda é uma patologia que se reveste de estigmas, estando associada a uma sentença de morte, podendo ocorrer, de forma inesperada, em algum momento da vida de uma pessoa que dificilmente encontra-se preparada para receber um diagnóstico que venha a interferir em seus hábitos, costumes, integridade física e ciclo biológico (SOUZA et al., 2009). Mesmo possuindo tratamento e cura, esta doença traz grande angústia para a família e para o paciente, podendo ocorrer sequelas e até mesmo custar-lhe a vida. As palavras dos familiares refletem que o sofrimento, portanto evocam significados desde força e fraqueza, medo e coragem, despertando emoções positivas ou negativas na pessoa em sofrimento. Assim acredita-se que o impacto da doença para o paciente precisa ser compreendido, ou seja, devem ser consideradas as condições emocionais socioeconômicas e Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico20 culturais dos pacientes e de seus familiares. Deste modo, o câncer é uma das principais doenças de interesse para a assistência de enfermagem (SALES et al., 2001). De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil, as estimativas para o ano de 2018 que serão válidas também para o ano de 2019 apontam a ocorrência de casos novos conforme o organograma a seguir. (INCA, 2018). Figura 1: – Organograma: Estimativa para o ano de 2018 de incidência por habitantes para novos casos de Câncer Fonte: INCA, 2018 Estimativas para o ano de 2018 das taxas brutas e ajustadas a de incidência por 100 mil habitantes e do número de casos novos de câncer, segundo sexo e localização primária*. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 21 EXPLICANDO MELHOR: “Câncer” As células que constituem os animais são formadas por três partes: a membrana celular, que é a parte mais externa; o citoplasma (o corpo da célula); e o núcleo, que contém os cromossomos, que, por sua vez, são compostos de genes. Os genes são arquivos que guardam e fornecem instruções para a organização das estruturas, formas e atividades das células no organismo. Toda a informação genética encontra-se inscrita nos genes, numa “memória química” - o ácido desoxirribonucleico (DNA). É através do DNA que os cromossomos passam as informações para o funcionamento da célula. O processo de formação do câncer é chamado de carcinogênese ou oncogênese e, em geral, acontece lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere-se e dê origem a um tumor visível. Os efeitos cumulativos de diferentes agentes cancerígenos ou carcinógenos são os responsáveis pelo início, promoção, progressão e inibição do tumor. A carcinogênese é determinada pela exposição a esses agentes, em uma dada frequência e em dado período de tempo, e pela interação entre eles. Devem ser consideradas, no entanto, as características individuais, que facilitam ou dificultam a instalação do dano celular. Esse processo é composto por três estágios: Estágio de iniciação: os genes sofrem ação dos agentes cancerígenos, que provocam modificações em alguns de seus genes. Nessa fase, as células se encontram geneticamente alteradas, porém ainda não é possível se detectar um tumor clinicamente. Elas encontram-se Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico22 “preparadas”, ou seja, “iniciadas” para a ação de um segundo grupo de agentes que atuará no próximo estágio. Estágio de promoção: as células geneticamente alteradas, ou seja, “iniciadas”, sofrem o efeito dos agentes cancerígenos classificados como oncopromotores. A célula iniciada é transformada em célula maligna, de forma lenta e gradual.Para que ocorra essa transformação, é necessário um longo e continuado contato com o agente cancerígeno promotor. A suspensão do contato com agentes promotores muitas vezes interrompe o processo nesse estágio. Alguns componentes da alimentação e a exposição excessiva e prolongada a hormônios são exemplos de fatores que promovem a transformação de células iniciadas em malignas. Estágio de progressão: se caracteriza pela multiplicação descontrolada e irreversível das células alteradas. Nesse estágio, o câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença. Os fatores que promovem a iniciação ou progressão da carcinogênese são chamados agentes oncoaceleradores ou carcinógenos. O fumo é um agente carcinógeno completo, pois possui componentes que atuam nos três estágios da carcinogênese. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 23 IMPORTANTE: Informações sobre a ocorrência de câncer e seu desfecho são requisitos essenciais para programas nacionais e regionais para o controle do câncer, além de pautar a agenda de pesquisa sobre câncer. Os Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), os Registros Hospitalares de Câncer (RHC) e as informações sobre mortalidade são a base sob a qual se apoiam. As estimativas mundiais mostram a ocorrência de novos casos de câncer e óbito, assim como a incidência e os tipos mais frequentes. Estima-se, para o Brasil, biênio 2018-2019, a ocorrência de 600 mil casos novos de câncer, para cada ano. Excetuando- se o câncer de pele não melanoma (cerca de 170 mil casos novos), ocorrerão 420 mil casos novos de câncer. O cálculo global corrigido para o sub-registro aponta a ocorrência de 640 mil casos novos. Essas estimativas refletem o perfil de um país que possui os cânceres de próstata, pulmão, mama feminina e cólon e reto entre os mais incidentes, entretanto ainda apresenta altas taxas para os cânceres do colo do útero, estômago e esôfago. Os cânceres de próstata (68 mil) em homens e mama (60 mil) em mulheres serão os mais frequentes. À exceção do câncer de pele não melanoma, os tipos de câncer mais incidentes em homens serão próstata (31,7%), pulmão (8,7%), intestino (8,1%), estômago (6,3%) e cavidade oral (5,2%). Nas mulheres, os cânceres de mama (29,5%), intestino (9,4%), colo do útero (8,1%), pulmão (6,2%) e tireoide (4,0%) figurarão entre os principais. As taxas de incidência ajustadas por idade tanto para homens (217,27/100 mil) quanto para mulheres (191,78/100 mil) são consideradas intermediárias e compatíveis com as apresentadas para países em desenvolvimento. A Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico24 distribuição da incidência por Região geográfica mostra que as Regiões Sul e Sudeste concentram 70% da ocorrência de casos novos; sendo que, na Região Sudeste, encontra- se quase a metade dessa incidência. Existe, entretanto, grande variação na magnitude e nos tipos de câncer entre as diferentes Regiões do Brasil. Nas Regiões Sul e Sudeste, o padrão da incidência mostra que predominam os cânceres de próstata e de mama feminina, bem como os cânceres de pulmão e de intestino. A Região Centro-Oeste, apesar de semelhante, incorpora em seu perfil os cânceres do colo do útero e de estômago entre os mais incidentes. Nas Regiões Norte e Nordeste, apesar de também apresentarem os cânceres de próstata e mama feminina entre os principais, a incidência dos cânceres do colo do útero e estômago tem impacto importante nessa população. A Região Norte é a única do país onde as taxas dos cânceres de mama e do colo do útero se equivalem entre as mulheres. O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) reafirma seu propósito de fortalecer a vigilância de câncer publicando as estimativas para o biênio 2018- 2019, com a certeza de que esta edição se constituirá em uma ferramenta a ser utilizada por gestores, profissionais da saúde e de áreas afins, bem como a sociedade em geral, no apoio à implementação das ações de prevenção e controle de câncer (INCA 2017). SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “Prevenção e Controle de Câncer”, acessível pelo link, na integra, na Biblioteca Virtual em Saúde Prevenção e Controle de Câncer (http://controlecancer.bvs.br/) e no Portal do INCA (http://www.inca.gov.br). (Acesso em 10/11/2019). http://controlecancer.bvs.br/ http://www.inca.gov.br Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 25 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o câncer sendo considerado um problema de saúde pública mundial e apresenta um custo elevado principalmente em países de baixa e média renda, como exemplo do Brasil, onde grande parte da população com câncer é dependente exclusivamente do Sistema Único de Saúde. Infelizmente a maior parte desses pacientes são diagnosticados em estado avançado. Estudos indicam que para esses pacientes o tratamento dos sintomas se tornam mais caros e muitas vezes com a piora na qualidade de vida mesmo com o intuito de alcançar a cura, quando esse objetivo já não é mais atingível. As ações para detecção e tratamento do câncer podem reduzir a mortalidade por meio de um diagnóstico precoce e da triagem. Uma boa comunicação e o acolhimento no inicio pode melhorar o prognóstico desse paciente. É preciso levar em conta que a criação de políticas e estratégias não pode ser entendida como prescrições capazes de gerar mudanças apenas por sua implantação. Elas devem servir como fonte de aprendizado para novas experiências. A humanização do cuidado e, mais especificamente, a comunicação interpessoal efetiva, não são inatas e somente se consolidarão se forem praticadas e sustentadas nas ações cotidianas, alimentadas pelo mecanismo de reprodução entre os profissionais pela via da formação acadêmica ou pelo exemplo na prática. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico26 Os tipos de protocolos padronizados e como aplica-los na comunicação em situações difíceis A comunicação entre profissionais de saúde e pacientes ou familiares é um processo fundamental e base para a adequada relação médico-paciente. Habitualmente apresenta-se de duas formas: como um instrumento de trabalho do médico, para obter informações relevantes do paciente; e como uma maneira de se fazer entender pelo mesmo. Assim, é necessário que se compreenda esse processo, a sua importância e que se desenvolva habilidades para transmitir as informações em saúde, agregando grande qualidade nos serviços. As más notícias são definidas como aquelas que alteram de forma drástica e negativa a visão do paciente sobre seu futuro. “Elas incluem situações que constituem uma ameaça à vida, ao bem-estar pessoal, familiar e social, pelas repercussões físicas, sociais e emocionais que acarretam. Estão associadas, na maior parte das vezes, a uma doença grave ou perda no seio de uma família, vivências únicas que podem ser influenciadas por um conjunto de fatores relacionados à própria doença, ao indivíduo, à família e ao contexto sociocultural em que vive”. Segundo o atual Código de Ética Médica, entre outras tarefas cabe ao profissional de saúde comunicar diagnósticos ao paciente, salientando que esse ato ou a maneira como a informação será transmitida nem sempre são tranquilos ou isentos de abalos na relação médico-paciente. O processo de comunicação pode gerar sérios impactos psicológicos, de forma que quem recebe uma má notícia geralmente não esquece o local, a data e a forma como esta foi transmitida. Paralelamente aos grandes avanços técnicos da Medicina, a comunicação entre o profissional de saúde e o paciente Comunicação em situações difíceis no TratamentoOncológico 27 ainda está além da esperada, principalmente quando envolve a informação sobre um diagnóstico ou uma notícia indesejada, como falecimento e doença grave ou incurável. Além dessa frequente dificuldade, o ato de informar deve ainda se basear em outros quatro princípios fundamentais estabelecidos na bioética (beneficência, autonomia, justiça e não maleficência). Dessa forma, Robert Buckman, em 1992, criou o Protocolo SPIKES para orientar os profissionais de saúde a comunicarem más notícias, abordando diretrizes básicas, como: postura do profissional (setting), percepção do paciente (perception), troca de informação (invitation), conhecimento (knowledge), explorar e enfatizar as emoções (explore emotions), estratégias e síntese (strategy and sumary). Assim, a forma mais adequada de analisar a qualidade da informação seria conhecer a satisfação do receptor que esteve envolvido nessa situação. Também é de fundamental importância perceber se os receptores da notícia (pacientes e familiares) foram submetidos a um processo organizado de transferência de informações por meio de algum sistema técnico, como um protocolo (Rev Med Minas Gerais, 2013). Existem inúmeros protocolos de comunicação de más notícias; porém, nenhum método na literatura nacional é culturalmente adequado à nossa realidade. Estudos mostram que a comunicação entre o médico e seu paciente pode influenciar a adesão ao tratamento e a satisfação com a relação estabelecida. Para isso, deve ser considerado um processo e não um procedimento. Quando há o avanço da doença ou se desde o início ela se apresenta como ameaçadora da continuidade da vida, algo que afeta negativamente o futuro, o médico não só deve comunicar isso ao paciente e sua família, mas comunicar uma má notícia. A vivência dessa comunicação é vista como uma situação Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico28 limite para o médico que, muitas vezes, sem saber lidar com o sofrimento emocional do paciente, pode fazer promessas falsas de cura, a mentira piedosa, ou uma transmissão abrupta e sem muitas explicações ou perspectivas de futuro, prejudicando toda a relação terapêutica. A comunicação deve não apenas abarcar o que o paciente precisa saber, mas ser realizada de forma apropriada, assegurando que ele compreendeu a informação, preocupando-se com sua reação afetiva e com a retenção da informação. Porém, os receios dos próprios médicos podem interferir na relação estabelecida, ou a forma como essa notícia afetaria a vida do paciente, o que coloca em foco o modelo paternalista de cuidado, em que, mesmo de forma inconsciente, o médico considera-se o único responsável por seu paciente e, apesar de dividir as informações, carrega a responsabilidade da decisão. Atualmente, outro modelo de comunicação está ganhando espaço, o compartilhado. Para isso, novos protocolos foram estabelecidos, porém todos seguem uma mesma ideia: começar com uma preparação inicial, em que o próprio médico deve se preparar ter em mente o que sabe da doença e de possibilidades de cuidado, encontrar um espaço reservado e calmo para que essa conversa ocorra; identificar quem o paciente quer que esteja presente, apresentar-se e saber até onde ele e sua família entendem o que está acontecendo; falar de forma franca e com compaixão, tocar as pessoas, lidar com o silêncio e as lágrimas, se ocorrerem; ter um plano de metas; revisar a compreensão do que foi falado e manter-se à disposição para futuras dúvidas ou novas conversas. O protocolo SPIKES é um exemplo do novo modelo de comunicação com o paciente. É uma forma de mostrar compreensão mantendo sempre uma postura empática. É importante deixar claro para o paciente que ele não será abandonado, que existe um plano ou tratamento, Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 29 curativo ou não. De seis passos que pode proporcionar mais segurança ao médico e que apresenta quatro objetivos principais: saber o que o paciente e seus familiares estão entendendo da situação como um todo (ajuda o médico, a saber, por onde começar); fornecer as informações de acordo com o que o paciente e sua família suportam ouvir; acolher qualquer reação que pode vir a acontecer e, por último, ter um plano. O Protocolo SPIKES Em oncologia clínica a habilidade para se comunicar efetivamente com pacientes e suas famílias não podem mais ser consideradas como uma habilidade opcional. Essas habilidades chave são uma base importante para a comunicação efetiva. O emprego de habilidades verbais para dar apoio e auxílio ao paciente representa uma visão ampliada do papel do oncologista, que é consistente com o importante objetivo do cuidado médico de reduzir o sofrimento do paciente. Elas formam a base para o apoio ao paciente, uma intervenção psicológica essencial para o sofrimento. Reconhecemos que o protocolo SPIKES não deriva completamente de dados empíricos, e se os pacientes acharão esta abordagem útil ainda é uma importante questão. Entretanto, sua implementação pressupõe uma interação dinâmica entre médico e paciente na qual o médico é guiado pela compreensão, preferências e comportamento do paciente. Esta abordagem flexível é mais provável de se dirigir às diferenças inevitáveis entre pacientes do que uma receita rígida que seja aplicada a todos. Dados preliminares indicam que, como recomendado no SPIKES, os pacientes querem que a quantidade de informação que recebem seja moldada por suas preferências. Estamos também conduzindo seguimentos de longo prazo de oficinas em que o protocolo foi ensinado para oncologistas e treinados Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico30 em oncologia para determinar empiricamente como ele é implementado. (The Oncologist 2000) PROTOCOLO SPIKES: S – Setting up: Preparando-se para o encontro: Treinar antes é uma boa estratégia. Apesar de a notícia ser triste, é importante manter a calma, pois as informações dadas podem ajudar o paciente a planejar seu futuro. Procure por um lugar calmo e que permita que a conversa seja particular. Mantenha um acompanhante com seu paciente, isso costuma deixá-lo mais seguro. Sente-se e procure não ter objetos entre você e seu paciente. Escute atentamente o que o paciente diz e mostre atenção e carinho. P – Perception: Percebendo o paciente: Investigue o que o paciente já sabe do que está acontecendo. Procure usar perguntas abertas. I – Invitation: Convidando para o diálogo: Identifique até onde o paciente quer saber do que está acontecendo, se quer ser totalmente informado ou se prefere que um familiar tome as decisões por ele. Isso acontece! Se o paciente deixar claro que não quer saber detalhes, mantenha-se disponível para conversar no momento que ele quiser. K – Knowledge: Transmitindo as informações Introduções como “infelizmente não trago boas notícias” podem ser um bom começo. Use sempre palavras adequadas ao vocabulário do paciente. Use frases curtas e pergunte, com certa frequência, como o paciente está e o que está entendendo. Se o prognóstico for muito ruim, evite termos como “não há mais nada que possamos fazer”. Sempre deve existir um plano! E – Emotions: Expressando emoções: Aguarde a resposta emocional que pode vir, dê tempo ao paciente, ele pode chorar ficar em silêncio, em choque. Aguarde e mostre compreensão. Mantenha sempre uma postura empática. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 31 S – Strategy and Summary: Resumindo e organizando estratégias: É importante deixar claro para o paciente que ele não será abandonado, que existe um plano ou tratamento, curativo ou não. Comunicar más notícias não é uma tarefa fácil. O objetivo do protocolo SPIKES é, de alguma maneira, organizar este momento, ajudando profissionais e pacientes a manter uma comunicação clara e aberta (Rev. Diagn Tratamento. Comunicando más notícias: o protocolo SPIKES 2016;21(3):106-8.Cruz; Riera. Unifesp).Protocolo P.A.C.I.E.N.T.E. Após treinamentos específicos entre médicos e enfermeiros sobre as técnicas de comunicação de más notícias foi empregado instrumento mnemônico chamado Protocolo P-A-C-I-E-N-T-E. Esse instrumento, em concordância com a realidade brasileira, foi baseado no Protocolo SPIKES de comunicação. O Protocolo P-A- C-I-E-N-T-E, proposto como ferramenta para direcionar a comunicação, mostrou-se adequado à nossa realidade (Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. 2017). Adaptação do Protocolo de Buckman de como anunciar uma má notícia. P – Prepare se: Confirme a informação a ser revelada. Leia novamente o prontuário e tenha em mãos os resultados. O ambiente deve ser adequado, garantindo privacidade e conforto. Desligue celulares, telefones, assegure¬se de que não ocorram interrupções. Uma das dificuldades encontradas nos dias de hoje, frente aos convênios médicos, é separar tempo suficiente para cada consulta, porém este é um procedimento médico importante, e que deve ser valorizado. Não deve haver nenhuma barreira física entre o médico e o paciente, como por exemplo, uma mesa ou escrivaninha. Em ambiente Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico32 hospitalar, pode¬-se sentar ao lado, de preferência na mesma altura dos olhos do paciente. O paciente tem direito de receber a informação e decidir se a quer compartilhar com sua família. Portanto, deve-se perguntar a ele se gostaria que alguém mais estivesse presente no momento da consulta. A cultura latina tem a característica de ser calorosa e protecionista. O toquefísico pode estabelecer um vínculo de empatia e denotar apoio e compaixão. A – Avalie o quanto o paciente sabe e o quanto quer saber: Quando avaliamos o quanto de informação o paciente já possui, três situações podem ocorrer. A primeira em que o paciente já tem indícios da notícia, pois todo processo investigativo foi compartilhado com ele. Existe ainda, aquelas situações onde os familiares creem que o paciente não sabe sua real condição, porém considerando os tratamentos, as informações pela mídia, as conversas com outros pacientes, estes já tem indícios suficientes para saber, com certo grau de certeza, seu estado de saúde. Estas duas situações são mais fáceis de serem manejadas, pois o paciente já teve tempo de se preparar para uma presumida notícia ruim. A terceira situação, mais difícil, é quando o paciente realmente não tem nenhuma informação, ou seja, porque esta nunca foi compartilhada com ele, ou porque é um fato novo, pois pode causar maior impacto e requer maior cuidado e atenção. O profissional da saúde deve estar especialmente preparado para fazer esta avaliação e abordagem. Por outro lado, assim como os pacientes têm direito de serem informados quanto à própria saúde, eles também têm o direito de recusar a receber informação. Ele tem autonomia para dizer qual a pessoa que receberá a informação por ele. Este direito deve ser respeitado. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 33 C – Convite à verdade: Avalie o quanto o paciente sabe e o quanto quer saber, como preâmbulo à informação. A partir deste ponto a maioria dos pacientes está preparada para receber uma informação desagradável. Aguarde e deixe espaço para que o paciente convide o médico a compartilhar a informação e pergunte diretamente sobre o seu diagnóstico, prognóstico, ou resultados de exames. Em algumas situações o paciente pode se calar e não prosseguir par o “convite à verdade”. Esta pode ser uma indicação de que ele precisa de um pouco mais de tempo para entender o que já foi dito. O protocolo não precisa ser completado em uma única ocasião, uma única consulta. Os passos podem, e em muitas situações devem, ser retomados em consultas posteriores, em um momento em que o paciente se sinta preparado para prosseguir com a informação. I – Informe: Compartilhe a informação em quantidade, velocidade e qualidade suficiente para que o paciente possa tomar uma decisão ou consentimento informado sobre seu tratamento e sua vida particular. Na quantidade em que o paciente deseja. Há aqueles que desejam informações com detalhes, nomes dos diagnósticos primários e secundários, prognósticos, tempo de vida, riscos de tratamentos e procedimentos, cópias de exames. Cuidado especial em relação aos pacientes portadores de doença que ameaça a vida como o câncer, no momento de discutir prognóstico, deve-se evitar informar com exatidão meses e anos de vida. Estudos indicam que médicos tendem a superestimar expectativa de vida na maioria dos casos. Gráficos e tabelas sobre tempo médio estimado de vida sobre a doença em questão podem ser úteis nesta discussão e facilitar o entendimento do paciente. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico34 Ofereça a informação de forma clara e honesta. O médico tem, por obrigação, manter a esperança do paciente. Em um estudo feito com pacientes oncológicos, a atitude dos médicos considerada mais positiva no momento da revelação da má noticia foram: ser realista sobre o futuro, oferecer alguma forma de tratamento para a doença de base, assegurar que no decorrer do processo de adoecer, o paciente não sentirá dor, ter segurança das informações oferecidas, dar espaço e tempo para perguntas, perguntar ao paciente se ele entendeu as informações oferecidas, não utilizar eufemismos (tumorzinho, probleminha), utilizar as palavras corretas como câncer e metástase e explicá- las. Entretanto, cuidado com termos técnicos; alguns pacientes podem entender que “novos protocolos de tratamento” significam real possibilidade de cura, o que frequentemente é falso. E – Emoções: Após a informação ser revelada, há necessidade de tempo para que o paciente compreenda e reaja ás informações. Tenha lenços de papel à mão. Cada pessoa tem uma forma de reagir à noticias ruins. Reações como medo, raiva, angústia, choro, desespero, agressividade, revolta e até profundo silêncio podem surgir. Faça com que o paciente se sinta abrigado, protegido. N – Não abandone o paciente: Assegure que seu paciente receberá acompanhamento médico. Comprometa-se com ele. Na realidade latino- americana não é incomum, após um diagnóstico de doença que ameaça a vida, sem possibilidade de cura que os pacientes ouçam de seus médicos que não há mais nada a ser feito por eles. Ou até que se oferecer um retorno ao paciente em um tempo maior que a expectativa de vida esperada para aquela doença. Pelo contrário, Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 35 a partir do diagnóstico de doença que ameaça a vida a responsabilidade do médico aumenta enormemente. Ele terá a responsabilidade de oferecer conforto, alívio da dor, dos sintomas, cuidados paliativos e humanidade. T – Trace uma / E – Estratégia: Planeje com o paciente os próximos cuidados a serem oferecidos como opções de tratamento. Inclua no seu planejamento cuidados interdisciplinares como fisioterapia, nutrição, acompanhamento psicológico, terapia sexual, terapia ocupacional, acompanhamento espiritual, outros médicos que poderiam auxiliar no melhor controle dos sintomas. Um dos pilares dos cuidados paliativos é a interdisciplinaridade, que é o tratamento em equipe para que a abordagem do paciente seja feita de uma forma mais completa, humana e efetiva. Ofereça ao paciente uma forma de contato permanente: um telefone fixo, um celular, a referência de uma clínica ou hospital. Esta é uma estratégia de comunicação de diagnóstico e prognóstico de uma forma sistemática, verdadeira, respeitando a autonomia, individualidade, cultura latino-americana e a manutenção da esperança. Ambos, profissionais da saúde e pacientes, se beneficiam de uma relação transparente em que a vontade do paciente é priorizada. Agindo dessa forma, estamos respeitando o princípio básico de qualquer relacionamento humano: a verdade! ... Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico36Identificar o grau de conhecimento dos estudantes de enfermagem diante a comunicação em situações difíceis no tratamento Oncológico Independentemente da área de formação, os profissionais de saúde têm nas relações humanas a base de seu trabalho, sendo necessário aprimoramento constante de suas habilidades, nelas compreendida a de comunicação. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros especialistas que trabalham com seres humanos em situações de doença e sofrimento e, em especial, aqueles que vivenciam situações extremas como a da possibilidade da morte necessitam saber não apenas o que, mas quando e como falar. Para os enfermeiros, a comunicação é um processo de aprendizagem constante ao longo de sua vida pessoal e profissional. Esses profissionais participam da caminhada íntima de cada paciente que necessita de atendimento, bem como de suas famílias, desde o processo de nascimento até o de morte e morrer. Nessa jornada, faz-se necessário o estabelecimento de uma comunicação terapêutica, visto que esses profissionais se relacionam com pessoas que estão sobestresse: pacientes, familiares de pacientes, famílias e colegas de trabalho. A compreensão por parte do enfermeiro de que todo comportamento comunica e toda comunicação influencia o comportamento é essencial para a interação enfermeiro- paciente-família. A competência na comunicação em saúde contribui para manter a relação de forma efetiva em toda a esfera profissional e possibilitando um cuidado ético, legal, clínico e humanizado, além de ser o condutor do estabelecimento das relações de mútua ajuda. Quando a comunicação em Oncologia é feita de forma ineficaz, Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 37 ela pode levar a insegurança, ameaçando, assim, a credibilidade profissional. A formação acadêmica do enfermeiro não tem foco no preparo profissional para cuidar no processo de morte e morrer visando à integralidade, e ele acaba por ficar limitado às condutas clínicas e técnicas, o que dificulta seu processo de enfrentamento, aceitação e, assim, o processo de comunicação entre enfermeiro e paciente. O despreparo profissional leva a dificuldades de enfrentamento e de adaptação ao processo de morte e morrer, prejudicando a comunicação e as práticas de cuidado. Para que a comunicação seja efetiva, esses profissionais precisam estar atentos à ambiência em que se encontra o receptor, saber quando calar, substituir as palavras pelo toque afetivo, oferecer não só o cuidado, mas também emoções, permitir a demonstração dos sentimentos humanos que permeiam o cuidado, bem como ofertar um par de ouvidos, tornando-se receptivo e acessível às reais necessidades dos pacientes. O paciente e sua família que enfrentam situação de limite, a exemplo dos pacientes e seus familiares que se deparam com o risco de morte iminente em Oncologia, podem apresentar distintas reações às notícias recebidas. Isso se dá porque pessoas diferentes expostas a uma mesma situação podem interpretar e vivenciar o momento de formas particulares, considerando suas experiências e cultura (REME Rev Min Enferm. 2016; 20: e981). A comunicação de notícias diagnósticas em contextos de saúde pode ser, e frequentemente é, um evento impactante. No que tange a más notícias, em particular, quem as comunica tem um papel fundamental, uma vez que não há como mudar os fatos a serem comunicados, mas há como amenizar o impacto do que é relatado por meio de como as notícias são entregues. Ainda que a medicina tenha avançado imensuravelmente em termos Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico38 técnicos e tecnológicos, a inclusão da prática de habilidades comunicativas e relacionais na formação clínica, que é defendida pelos profissionais como algo que deveria ser obrigatório, é, na realidade, facultativa e pouco valorizada. No que se refere ao ensino de comunicação de más notícias no Brasil, em particular, tem-se conhecimento de escassas iniciativas, como o uso de uma disciplina relacionada a comunicação de má noticias, no curso de medicina nas Universidade. No ensino essa temática relacionada à comunicação de más notícias ensina habilidades comunicativas via simulações de atendimentos. No entanto, argumenta-se que a comunicação médico- paciente é uma habilidade que deveria ser tão praticada quanto as técnicas de diagnóstico, interpretação de exames e de sutura e que essa habilidade pode e deve ser desenvolvida a partir de situações reais de atendimento, e não apenas a partir de situações simuladas (Cad. Saúde Pública 2017; 33(8):e00037716). Convém enfatizar que o protocolo P.A.C.I.E.N.T.E, estabelece em sua maior parte que o médico irá se comunicar com o paciente o tempo todo. O que na maioria das vezes não acontece, pois é o próprio enfermeiro que ficará a frente de seus cuidados. É o enfermeiro irá estabelecer o contato com o paciente e seus familiares, assim como seus cuidados e suas orientações prescritas pelo seu médico. O enfermeiro oncológio deve ter ciência da sua responsabilidade por cada paciente. Por isso é importante uma boa teoria, porém a prática será o ponto chave para seu aprendizado. A transmissão de uma má notícia deve ser alvo de uma preparação prévia, ser efetuada num ambiente de privacidade, no tempo adequado, estabelecendo uma relação terapêutica. A comunicação deve ser feita em linguagem compreensível, uma vez que se está lidando com as reações do doente e dos seus familiares. Deve-se Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 39 encorajá-los na expressão das suas emoções, validando- as e facultando informações sobre estruturas ou serviços de apoio disponíveis, uma vez que essa é uma informação que produzirá uma alteração negativa nas expectativas da pessoa sobre o seu presente e/ou futuro, afetando o domínio cognitivo, emocional e comportamental de quem recebe e que persiste durante algum tempo após sua recepção. Todavia, essas emoções são percebidas por diferentes pessoas com níveis e intensidades distintos, pois são do domínio subjetivo, dependem das experiências de vida, da personalidade, das crenças filosóficas e espirituais, da percepção do suporte social e da sua robustez emocional. A comunicação de más notícias consiste em uma das problemáticas mais difíceis e mais complexas no contexto das relações interpessoais, pois são situações que geram perturbação tanto na pessoa que a transmite como naquela que a recebe. A comunicação desse tipo de notícia é considerada uma tarefa difícil para todos os profissionais de saúde não somente pelo receio de enfrentar as reações emocionais e físicas do doente ou familiar, mas também pela dificuldade em gerir a situação. Assim, cada vez se exige mais da enfermagem um corpo de conhecimentos específicos e uma técnica baseada na experiência, no reconhecimento precoce de sinais e sintomas em todas as fases e estádios, que lhe permita dar resposta rápida na satisfação de necessidades do doente e da sua família. Os protagonistas das más notícias são os prestadores de cuidados que, para além de planejar e gerir esses momentos tem também de gerir os próprios medos e estar preparados para aceitar a fragilidade do doente e da família. Não é uma tarefa fácil para todos os profissionais de saúde, pois ninguém gosta de ser portador de uma má notícia e, além disso, não se sabe como a pessoa irá reagir. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico40 Nesse contexto, muitos deles desconhecem a importância de transmitir as más notícias da melhor forma, pois também nunca receberam nenhum treino nem assistiram a cursos desenvolvidos nessa área. O enfermeiro é, muitas vezes, confrontado com necessidades de informação dos doentes e familiares e tem de dar respostas coerentes e que não criem ansiedade e dúvidas ainda maiores; há que saber encaminhar, transmitir segurança, ajudar o doente a decidir e mobilizar recursos.Por isso ele tem de se adequar a cada situação em particular e somente com conhecimento atualizado isso é possível. "Em oncologia, muitas vezes, as verdades de ontem já não são certezas de amanhã". Ainda, nesse encadeamento, torna-se necessário repetir a informação mais de uma vez. Os doentes tendem a reconstruir a informação com base em outras que tinham anteriormente. Essa característica pode atenuar ou agravar as informações recebidas, de acordo com experiências que a pessoa tenha vivenciado. As situações são vividas de forma individual e dependem da personalidade e das características de cada um, de experiências anteriores, da condição física e psíquica, da cultura, das crenças e da adaptabilidade às situações. As reações à doença podem ser diversas e, mais do que com a gravidade da doença em si, dependem do significado atribuído à situação e da percepção relativa às ameaças que ela representa. A negação, a raiva, a negociação, a aceitação e a depressão são todas reações possíveis quando são transmitidas más notícias, exigindo algum treino por parte dos profissionais em lidar com essas emoções. Não há dúvida de que o processo de comunicação de más notícias é um caminho longo que requer o apoio incondicional de quem o acompanha, no sentido de contribuir para a resolução saudável da situação, ajudando Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 41 a pessoa a adquirir capacidade para redefinir os objetivos de vida e descobrir de novo o prazer de viver, evitando a não resolução que pode conduzir à depressão ou a um estado de luto patológico. Essas são situações em que ou persiste a negação, ou se intensifica e se internaliza o sofrimento, dominando os sentimentos de culpa, de desânimo e de incapacidade de confronto com a realidade. O mesmo acontece com os profissionais que não conseguem encarar a morte do doente, fugindo dos próprios medos. A experiência da morte do outro é indiretamente para cada um a experiência da própria morte, e a experiência de assistir à morte do outro desenvolve em nós o nosso próprio medo. Assim o protocolo de Buckman, quando aplicado, pode ser de grande utilidade para os profissionais de saúde, para que consigam ultrapassar os obstáculos que aparecem quando da transmissão de más notícias. Contudo, apesar de esse protocolo se aplicar a um grande número de doentes, isso não significa que o profissional deve deixar de olhar para o doente como um ser individualizado, pois cada ser é único. (REME - Rev Min Enferm.; 14(2):257-263, Jan/Mar, 2010). Na comunicação com o doente, o Enfermeiro deverá ter uma conduta singular, ou seja, adaptada a cada situação e de acordo com a própria condição e as próprias características da pessoa doente. Sabe-se que estar presente, acompanhar, dar suporte e também compartilhar e aprender com cada um dos pacientes exige uma disponibilidade que não vem sem um preparo, o qual, geralmente, não é oferecido pela formação profissional nem encontra espaços institucionais de compartilhamento e elaboração. Ao contrário, o enfrentamento de tais situações é uma tarefa solitária e não compartilhada com outros profissionais. Vivenciar cotidianamente essas situações, altamente Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico42 intensificadas quando se trata de crianças, adolescentes ou adultos jovens, constatar doença avançada em mulheres grávidas ou prescrever tratamentos esterilizantes ou gravemente incapacitantes, inclusive à vida sexual, ter que anunciar aos pais a morte iminente de seus filhos dentre tantas outras más notícias, caracterizam situações-limite nas quais o sofrimento pode se tornar intolerável, gerando níveis crescentes de adoecimento dos profissionais. Grande parte desses efeitos advém do isolamento dos profissionais em suas competências e responsabilidades individuais. Enquanto vigora o tratamento curativo, a intimidade da consulta médica se vê o mais das vezes subsumida às exigências dos protocolos prescritos para cada conduta e, de modo geral, fala-se muito pouco dos limites e das falhas possíveis dos tratamentos propostos. Ressalta-se que, nos casos em que a doença realmente é diagnosticada em estágio avançado, a falta de preparo dos profissionais para a comunicação e o suporte emocional aos pacientes torna-se evidente, gerando silenciamentos, falsas promessas de cura ou comunicações abruptas de prognósticos adversos com sérios prejuízos à relação terapêutica e sofrimento de difícil assimilação, tanto para os pacientes como para os profissionais. Disciplinas do curso de graduação em Enfermagem Relação de disciplinas geralmente encontradas durante o curso de Enfermagem. As matérias podem variar de acordo com a faculdade, bem como a ordem em que elas são apresentadas aos estudantes. Não há a matéria específica que fala de Oncologia. Ações Interpessoais Básicas em Saúde Mental; Administração Aplicada à Enfermagem; Anatomia Humana; Assistência de Enfermagem ao Paciente Crítico; Bases Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 43 Conceituais do Cuidar; Bioestatística; Bioquímica e Biofísica; Centro de Material e Esterilização; Ciências Sociais Aplicadas à Saúde;Citologia e Embriologia; Enfermagem em Doenças Transmissíveis; Enfermagem em Ginecologia e Obstetrícia; Enfermagem em Primeiros Socorros; Enfermagem em Reabilitação Física; Enfermagem em Saúde Coletiva da Criança e do Adolescente; Enfermagem em Saúde Coletiva na Saúde da Mulher; Enfermagem no Centro Cirúrgico; Enfermagem na Saúde do Adulto/Idoso; Enfermagem na Saúde da Criança e do Adolescente; Enfermagem Psiquiátrica na Saúde do Adulto/Idoso; Epidemiologia; Ética e Exercício de Enfermagem; Farmacologia; Fisiologia Humana; Fundamentos da Saúde Coletiva; Genética e Evolução Humana; Gestão de Enfermagem em Serviços de Saúde; Imunologia; Introdução à Psicologia da Saúde; Metodologia de Pesquisa; Microbiologia; Parasitologia; Processos Patológicos Gerais, Semiologia Básica em Enfermagem; Teorias do Conhecimento e Enfermagem. Sobre a prática O melhor momento para iniciar o estágio é após o quarto semestre, quando o estudante já desenvolveu algumas habilidades básicas. Além da clínica da própria faculdade, o aluno de Enfermagem pode estagiar (e também atuar depois de formado) nos seguintes ambientes: Centros de saúde; Hospitais públicos e particulares; Empresas (na área de saúde ocupacional); Unidades Básicas de Saúde; Laboratórios de exames clínicos e de imagem; Empresas de home care (em que o tratamento é realizado na casa do paciente). Para obter o diploma, a maioria das faculdades exige a apresentação de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Fonte: https://www.guiadacarreira.com.br/cursos/ materias-enfermagem/ Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico44 Compreender estratégias utilizadas entre os enfermeiros oncológicos na comunicação aos pacientes e familiares em situações difíceis no tratamento oncológico Transmitir más notícias aos doentes pode gerar situações de estresse nos profissionais de saúde, que, muitas vezes, tentam evitar essa tarefa usando técnicas de distanciamento. Assim, transmitir uma má notícia requer conhecimentos e aptidões que podem ser aprendidas ao longo da vida. Para que os desencontros de informações sejam evitados, a emissão do conhecimento deve ser de forma nítida, na linguagem do profissional de saúde, mas com o tempo e o detalhamento necessários que possibilitem a compreensão por parte do paciente e sua família. Salienta- se que provavelmente todas as formas de comunicação emitidas pelo transmissor, verbal ou não verbal, serão fielmente lembradas pelos receptores. Porém, algumas barreiras para efetivação do diálogo sobre as notícias difíceis em Oncologia podem ser observadas. Ao lidar com esses sentimentos vindos à tona, os profissionais envolvidos também ficam abalados, têm inseguranças e conflitos entre o ser pessoa e o ser profissional.A dificuldade dos enfermeiros em lidar com as perdas e em expressar os próprios sentimentos referentes àquela situação vivenciada diante do paciente e seus familiares pode ser interpretada como banalização e egoísmo, parecendo ser apenas um profissional lidando com um procedimento de enfermagem e não um ser que é dotado de compaixão. O paciente e sua família necessitam sentirem-se cuidados, amparados, confortados e compreendidos pelos Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 45 enfermeiros e por quem são assistidos. Expressões de empatia, compaixão e afeto na comunicação e cuidados prestados trazem a certeza a esses sujeitos do cuidado de que eles são parte importante de um conjunto, o que resulta em sensação de proteção e consolo, além de proporcionar paz interior, numa situação de tamanha dor e sofrimento. Essa demonstração para os pacientes e acompanhantes não são tidos como falhas, mas sim percebidas e acolhidas como conforto e humanização do profissional, que se demonstra sensibilizado com a situação. Parte desse saber está ligada às vivências e cultura de cada indivíduo, seja ele o enfermeiro, o paciente ou familiares que passam pelo processo de perda em Oncologia: sua história pessoal, a formação acadêmica que pouco prepara para o enfrentamento do processo de morte e morrer, além das próprias concepções de vida, morte, finitude, permanência e impermanência diante do mundo e acerca da consciência de que cada ser é participante ativo do seu desenvolvimento da aceitação e do lidar com essa questão e facilitar essa caminhada (REME – Rev Min Enferm. 2016). A Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS incorporadas pelo INCA em 2003, de maneira articulada à proposta de construção de um modelo de gestão participativa e compartilhada. Esse modelo procurou valorizar o trabalho em rede e a atenção aos profissionais na linha do cuidar de quem cuida, colocando- se também em consonância com a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e a Política Nacional de Educação Permanente. O propósito de cuidar de quem cuida foi também enfatizado nos documentos do novo modelo de gestão e nas diretrizes estratégicas para o INCA, neste período. Um exemplo de atuação concreta nesse sentido foram às intervenções conjuntas feitas pelo Grupo de Trabalho Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico46 de Humanização, a Divisão de Saúde do Trabalhador e a Ouvidoria Geral do INCA para estudar casos específicos de adoecimento de trabalhadores administrativos ligados a condições de trabalho, assim como um grupo de escuta com toda a equipe de enfermagem de uma das unidades hospitalares, comunicação de notícias difíceis: compartilhando desafios na atenção à saúde abalada por acontecimentos sucessivos de morte e adoecimento por câncer de colegas de trabalho. No trabalho realizado no Hospital de Câncer II, foi feito um diagnóstico preliminar com base na observação participante dos consultores, das condições ambientais, dos fluxos e dos processos iniciais de recepção dos pacientes e de definição dos projetos terapêuticos. Nesses momentos, presentes desde o início em casos graves, os profissionais podem encontrar suporte dentro de sua própria equipe. Em grande parte da qualidade das parcerias que possam ser estabelecidas desde o início do tratamento e que ultrapassam, necessariamente, a segurança da competência técnica. Esta, se por um lado é fundamental, poderá, ao ver esgotados seus recursos, deparar-se com a qualidade da relação humana que aí foi possível estabelecer e certamente com os ganhos ou prejuízos envolvendo todos os implicados. Foi, portanto, o encontro com essas questões e angústias suscitadas pela comunicação de más notícias que possibilitou ao GTH a porta de entrada para a aceitação, em primeiro lugar pelos médicos, da necessidade de maior valorização e capacitação para a comunicação com os pacientes e familiares em situações difíceis do tratamento (INCA 2010). Algumas Estratégias em Destaque As estratégias de enfermeiros oncológicos para promover o trabalho em equipe hospitalar são basicamente quatro categorias; Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico 47 Articulação das ações profissionais; Estabelecimento de relações de cooperação; Construção e manutenção de vínculos amistosos; Gerenciamento de conflitos. Ao receber o diagnóstico de câncer, uma doença que traz tantos sofrimentos e preocupações, cria-se uma situação desestruturante, não só para quem é por ele acometido, mas também para todos que o cercam, uma vez que se veem surpreendidos por um momento de grande estresse, que leva a mudanças de comportamento. Esses comportamentos irão definir quais estratégias serão utilizadas para os momentos de confrontação com a situação de adoecimento. É possível supor que o diagnóstico de câncer desencadeará sentimentos e avaliações cognitivas, as quais, influenciadas pelas experiências anteriores e diferenças individuais, resultarão em comportamentos peculiares de ajuste, cuja finalidade é enfrentar o estresse e a ansiedade provocada por esse momento. A percepção de um indivíduo direciona a forma de enfrentamento diante de uma situação estressante. O significado conferido à vivência de doença direciona o modo de agir e reagir às demandas impostas pelo câncer, como o tratamento cirúrgico. As estratégias de enfrentamento são processos de controle utilizados para mediar a relação entre as demandas requeridas pela doença e as respostas que o indivíduo produz perante as mesmas. Refletir sobre o problema foi à estratégia mais utilizada entre os mecanismos de enfrentamento focalizados no problema, sendo identificado como uma maneira eficiente de modificar as pressões internas, por tentativa de remover ou abrandar a fonte estressora, possibilitando a busca de soluções para a doença. Já o enfrentamento centrado na emoção é, por muitas vezes, uma "reavaliação cognitiva", pois o indivíduo realiza uma série de manobras cognitivas com o objetivo de modificar o significado da situação, não importando se isso é feito de forma realista ou com distorção da realidade. Comunicação em situações difíceis no Tratamento Oncológico48 Esse tipo de mecanismo de enfrentamento não modifica a situação propriamente dita, mas serve para o indivíduo negociar com as emoções e, assim, manter uma autoestima positiva, esperança e bem-estar. Outra forma de enfrentamento tanto baseada na emoção como no problema sendo que, ao se depararem com a necessidade do tratamento, os pacientes que apresentam o enfrentamento baseado no problema relatam ter tido o impacto, pois não deixaram de ter o estresse presente em suas reações, mas encararam o problema e destacaram estar confiantes no tratamento e na equipe. Já os que tiveram seus enfrentamentos baseados na emoção comentam principalmente sobre os sintomas que foram gerados pela situação de estresse e depositam suas esperanças em Deus. Quanto às estratégias focalizadas na emoção, o suporte religioso foi à estratégia de enfrentamento mais utilizada onde referem rezar e fazer promessas como maneiras de expressar sua fé em Deus e santidades da Igreja católica populares no Brasil para ajustarem-se melhor à situação de doença. Esse tipo de recurso de enfrentamento pode prover o fortalecimento da fé e com isso propiciar pensamentos mais otimistas, diminuindo, portanto, a tensão interna decorrente do estressor. A religião, em sentido estrito senso, ocupa um importante espaço na vida das pessoas, e a religiosidade pode ajudá-las a encontrar o significado e a coerência no mundo. Revisões sistemáticas têm confirmado quantitativamente que a religião é epidemiologicamente um fator de proteção. A espiritualidade é uma construção da personalidade de cada indivíduo uma expressão da sua identidade e efeitos em função da história pessoal, experiências e aspirações. Por essa razão, a religião diminui o sofrimento,