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G N A R U S | 55 Artigo AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ENTRE O CONGRESSO DE VIENA E A GRANDE GUERRA. Por Ricardo Luiz de Souza Resumo: O presente artigo tem por objetivo realizar um debate historiográfico acerca das relações internacionais entre as grandes potências europeias e mundiais entre o congresso de Viena e a primeira Grande Guerra. Como metodologia de trabalho, serão utilizados alguns autores que trabalham com esse recorte histórico que vai de 1815 até 1914, buscando assim com esse debate, corroborar quais os principais nuances e fatos que ocorreram nesse período, no que concerne principalmente as relações entre as nações e o grande equilíbrio de poder demonstrado nesse período. Palavras-chave: Equilíbrio, finanças, Revolução, Paz. Introdução mundo no século XIX apresentou momentos únicos na história da humanidade, sendo um século vultoso que vai deste as grandes revoluções e transformações sociais, mudanças de guinadas econômicas e políticas. Enfim, é um dos séculos mais fecundos na história da humanidade, pois esse período é uma espécie de quebra de paradigma entre o velho e o novo, o arcaico e inovador. Século em que inúmeros autores e pesquisas acadêmicas das mais diferentes áreas debruçam suas dissertações, teses e projetos de pesquisa. Esse período compreendido entre o fim das guerras napoleônicas que sacodem a Europa e o começo do grande morticínio da Primeira Grande Guerra, produziu e produzirá ainda novas pesquisas e perspectivas novas acerca de seus inúmeros nuances e desenvolvimentos. O presente trabalho possui por objetivos principais realizar um debate historiográfico acerca dos fatos e nuances desse século tão fértil. Assim, procuraremos explicitar o arcabouço teórico de acordo com autores consagrados da historiografia mundial nacional. Nesse período conhecido como O G N A R U S | 56 o século da paz de cem anos, as relações entre as nações se tornam primordiais para o desenvolvimento do comércio, dos investimentos e da indústria. Um dos objetivos desse trabalho é esmiuçar ao leitor, o quanto essa complexa rede de relações era complexa e atrelada ao objetivo da nova classe emergente após a revolução francesa: a Burguesia. Assim, nas próximas páginas trataremos alguns dos principais fatos desse recorte histórico e suas principais características, e os fundamentais desdobramentos desse longo período causaram no mundo. O objetivo desse trabalho é procurar explicitar assim, de forma sucinta mais coesa, quais são esses nuances principais. O panorama geral Europeu entre 1815 e 1914. De acordo Remond (1997), O século XIX, tal como os historiadores o delimitam, ou seja, o período compreendido pelo referido autor entre o fim das guerras napoleônicas e o início do primeiro conflito mundial, é um dos séculos mais complexos, mais cheios de nuances e percalços que existem na história humana. Hobsbawm (1981) salienta que, através da grande onda da ideologia pregada pelo forte movimento Iluminista do séc. XVIII, surgem os princípios universais que guiariam a Revolução Francesa: (liberdade, igualdade e fraternidade). Fato é que este mesmo pensamento, apesar de inovador, repleto de ideias humanitárias, de racionalidade e de progresso, ainda que indiretamente, favoreceu à consolidação do grande ideal do capitalismo (anseios do vitorioso mundo Burguês). René Remond assinala também que o século XIX foi fértil no terreno das revoluções, o autor também aponta que nesse período o traço mais evidente é a grande frequência de choques revolucionários. Nesse respectivo século, o volume de levantes, insurreições e guerras civis foi tão grande que pode ser considerado o século mais fértil da história humana no plano revolucionário, Acerca disso o autor descreve: Essas revoluções têm como pontos comuns o fato de quase todas serem dirigidas contra a ordem estabelecida (regime político, ordem social, às vezes, domínio estrangeiro), quase todas feitas em favor da liberdade, da democracia política ou social, da independência ou unidade nacionais. É esse o sentido profundo da efervescência que se manifesta continuamente na superfície da Europa, a que não ficou imune nenhuma parte do continente: tanto a Irlanda como a península ibérica, os Bálcãs como a França, a Europa Central e a Rússia, foram afetadas por essa agitação, uma ou mais vezes.(Remond, 1997,p. 05) Polany (2000) atenta para o fato que a civilização do século XIX, manter-se-ia em quatro grandes parâmetros: O primeiro parâmetro era o “sistema de equilíbrio de poder” equilíbrio este que, durante um século, impediu a ocorrência de qualquer guerra prolongada e devastadora entre as Grandes Potências” (POLANY, 2000, p.01). O segundo parâmetro era o uso e propagação do padrão internacional do ouro que simbolizava uma organização exclusiva na história econômica mundial. A terceira era o mercado auto-regulável, que produziu um bem-estar material sem precedentes para crescentes indivíduos consumidores. O último parâmetro era o estado liberal, com menor intervenção do Estado nas atividades econômicas. Classificando esses parâmetros de modo mais quantitativo, verificam- se dois parâmetros econômicas e dois políticos. Com relação a Europa pós napoleônica, Remond (1997) atenta para o fato de que após a derrota dos exércitos franceses em Waterloo (1815), os G N A R U S | 57 processos de restauração encabeçados pelas potências centrais são intensificados, com o objetivo de se restaurar todo o processo monárquico abolido pelos ideais da revolução. É restaurado o poder monárquico nos países onde os ventos revolucionários franceses passaram (França, Espanha, Portugal) baseando-se nas voltas das famílias e de seus aristocratas. Mais, porém, essa nova monarquia, se baseia agora numa verdadeira “corda bamba’, pois com o acesso de certos extratos sociais dantes negligenciados, são criadas cartas constitucionais que limitam os poderes dos chefes de Estado. Acerca desse importante processo o autor destaca esse processo no caso da França: [...] O caso da França — de onde partiu a Revolução — é, na espécie,particularmente exemplar, já que Luís XVIII não viu possibilidades de voltar ao Antigo Regime e outorga a seus súditos uma Carta Constitucional, fazendo concessões importantes à experiência e às aspirações dos franceses. A existência de uma Carta já é por si mesma uma concessão importante. O Antigo Regime caracterizava-se pela ausência de constituição. Com a Carta Constitucional há, agora, um texto, uma regra, à qual se pode fazer referência, uma constituição disfarçada. Com efeito, apesar do preâmbulo, que insiste na concessão unilateral feita pelo rei, trata-se na verdade de uma constituição, uma espécie de contrato passado entre o soberano restaurado e a nação.[...] [...] A análise do conteúdo da Carta dissipa, a esse respeito, todas as dúvidas. Ela prevê instituições representativas, uma Câmara eletiva (trata-se de uma homenagem ao princípio eletivo) associada ao exercício do poder legislativo, que vota o orçamento, em aplicação do princípio da necessidade do consentimento dos representantes da nação ao imposto. Trata-se, de algum modo, vinte e cinco anos depois, da legitimação das pretensões dos Estados Gerais. Enfim, a Carta reconhece explicitamente certo número de liberdades que a primeira Revolução havia proclamado: liberdade de opinião, liberdade de culto, liberdade de imprensa, isto é, quase toda aessência do programa liberal [...] (Remond, 1997, p.11). Esse foi, portanto, um grande avanço da revolução francesa, pois agora o movimento liberal se consolidara no cenário europeu, e as classes burguesas estavam se garantindo cada vez mais, no centro do poder europeu e de suas decisões institucionais. De acordo com Hobsbawm (1981) é observado que a cultura do campo, assim como a religião deste, sofre uma grande refração no decorrer de todo o séc. XIX, se tornando o mundo mais cético, cientifico e com uma população mais esclarecida (devido ao avanço na educação das massas) e principalmente pela vitória evidenciada da cidade (liberal) sobre o campo (tradicional). Outro ponto bastante preponderante no bojo desses momentos, foi a grande evidência de que a restauração dos antigos poderes absolutistas estava muito longe, de ser e conseguir, ser absoluta. Não obstante, impulsionaram-se pesadas pressões no que diz respeito às transformações sociais. De acordo dom Rémond (1997), por todo rincão de terra onde a Revolução passou, ela abalou profundamente as estruturas sociais e por toda parte verifica-se a conservação essencial de suas concepções originais, e de suas transformações- na França, onde a Carta reconhece as liberdades civis, nos Países Baixos, na Alemanha Ocidental, no Norte da Itália e até na Polônia, onde códigos inspirados nos códigos napoleônicos ficam em vigor por um tempo indeterminado. Algumas mudanças ocorrem em grandes áreas, tais como: O regime de servidão é abolido, os privilégios de certas classes são suprimidos e a mão- morta eclesiástica desapareceu. A equidade civil de todos diante da lei, diante da justiça, diante dos impostos, para o acesso aos cargos públicos e administrativos, é agora a norma para uma boa parte do continente Europeu. Todas essas reformas favorecem principalmente a classe burguesa, e de G N A R U S | 58 fato, verificou-se a transição de sociedade aristocrática para uma sociedade burguesa. Essas transformações e sua conservação aproximam demasiadamente, os territórios dos países nos quais elas ocorrem, sendo bem acima das diferenças existentes no passado regido pelo ethos nobiliárquico. Nesse ínterim, essas reformas lançam uma linha de união e colaboram para unificar a Europa Ocidental, fazendo dessa parte da Europa ficaria bastante diferente da Oriental, no que tange os aspectos sociais, políticos e econômicos. Outro importante marco do século XIX,é o movimento das nacionalidades. Esse processo procede da herança da Revolução, pois ao enumerar as consequências da Revolução sobre a ideia de nacionalidade. Nisso, surgem dois importantes Estados que iram fazer parte do rolo das nações protagonistas nos processos econômicos, políticos e sociais europeus e mundiais: Alemanha e Itália. No que concerne o movimento das nacionalidades, Rémond (1997) descreve: Enfim, o movimento das nacionalidades, que não se segue cronologicamente aos três precedentes, mas corre por todo o século XIX, constitui o último tipo de movimento. Ele procede da herança da Revolução, como vimos ao enumerar as consequências da Revolução sobre a ideia de nacionalidade; ele também é contemporâneo tanto dos movimentos liberais como das revoluções democráticas, e mesmo das revoluções sociais, e mantém com essas três correntes relações complexas, cambiantes, ambíguas, sendo ora aliado, ora adversário dos movimentos liberais, ou das revoluções democráticas e socialistas.(Rémond, 1997, p.04). Após a grande destruição causada pelas Guerras Napoleônicas, o mapa Europeu redesenhou-se em suas fronteiras em 1815. Conforme Remond (1997 :10), “O mapa está muito simplificado; o número 1René Remond salienta que, geograficamente o mapa europeu foi modificado de maneira profunda a partir de 1815. dos Estados está visivelmente reduzido”. Países como a Polônia, Suécia e Finlândia serão abocanhadas pela crescente potência da Rússia. A Prússia consegue aumentar substancialmente seus territórios, nesse ínterim a Áustria também perde parte de seu grande território, fracionados nos Países Baixos1 As finanças como protetoras da “paz”. Percebe-se uma grande aclamação pela paz nas potências industriais e nas economias arrasadas pelos conflitos. É dentro dessas perspectivas que incluem-se o período descrito por Karl Polany como “cem anos de paz”. O autor trabalha com a ideia de que era necessário para se conservar as economias em plena ascensão, e no caso a maior potência do Globo - a Inglaterra - evitar ao máximo, grandes confrontos armados. É necessário que o comércio, as finanças e as atividades manufatureiras prosperem, e para isso, é necessária a paz. A Europa passará por um grande período sem um grande conflito armado, a não ser por pequenos e esporádicos conflitos como, por exemplo, a Guerra da Criméia. Acerca disso, Polany descreve: O comércio se unira definitivamente à paz. No passado, a organização do comércio fora militar e guerreira; era um conjunto de piratas e bucaneiros, era a caravana armada, o caçador e o que colocava armadilhas, o mercador com a espada, a burguesia armada das cidades, os aventureiros e os exploradores, os plantadores e os conquistadores, os caçadores de homens e os comerciantes de escravos, os exércitos coloniais e os navios fretados. Tudo isto já havia sido esquecido. O comércio dependia agora de um sistema monetário internacional que não podia funcionar numa guerra generalizada. Ele exigia a paz e as Grandes Potências se esforçavam por mantê- Estando a Europa, muito longe de uma restauração dos Estados e dos soberanos no status quo anterior a 1789. G N A R U S | 59 Ia. Todavia, o sistema de equilibro de poder, como vimos, não podia garantir a paz por si mesmo. Isto foi conseguido pela finança internacional, cuja própria existência incorporava o princípio de uma nova dependência do comércio à paz. (Polany, 2000,p.30). Nesse ínterim, essa nova sociedade burguesa central europeia irá tecer sua nova organização da vida econômica e fornecer o pano de fundo para a Paz dos Cem Anos. Num primeiro momento, devido as grandes percas materiais causadas pelas guerras napoleônicas, criaram nas classes mais abastadas e dirigentes a perceber que, para o pleno desenvolvimento econômico, a manutenção da ordem social e a paz são extremamente necessários. Assim, a partir dessa nova perspectiva econômica vigente, o modelo da “paz” estava vitorioso. As classes médias eram o sustentáculo do interesse na paz, muito mais poderoso do que o de seus predecessores reacionários, e alimentado pelo caráter nacional internacional de uma nova economia. Entretanto, “o interesse pela paz” só se tornou efetivo porque foi capaz de fazer o sistema de equilíbrio de poder servir à sua causa, fornecendo àquele sistema os órgãos sociais capazes de lidarem diretamente com as forças internas ativas na área da paz. “2. De modo organizacional, a haute finance foi o epicentro de uma das mais intricadas instituições que a história do homem já produziu. Apesar de transitória, ela só é comparável, em universalidade e pela profusão de formas e instrumentos, com o montante das atividades humanas na indústria e no comércio do qual se tornou, de alguma forma, a frente e o verso de um sistema. Além do centro 2Karl Polany também afirma que Durante a paz dos Trinta Anos, 1816-1846, a Grã-Bretanha já pressionavamuito pela paz e internacional, a haute finance propriamente dita, criou uma nova classe de homens ligados a aproximar as nações no que diz respeito aos negócios e a paz, esses profissionais eram os diplomatas que zelavam pelos interesses de suas elites e governos mundo afora. Houve também alguns centros nacionais gravitando em torno dos seus bancos de emissões de moeda e suas bolsas de valores. Os banqueiros internacionais não se limitavam a financiar governos em suas aventuras de guerra e paz, realizando polpudos investimentos externos na indústria, nos serviços públicos e bancos, bem como empréstimos a longo prazo à corporações públicas e a Estados dos mais diferentes lugares do globo. Arrighi (1996) descreve que com a súbita e irreversível expansão do capitalismo, verifica-se formar no mundo Europeu os chamados “hegemons” que são nada mais, nada menos do que países que possuem mais poder e recursos que os seus anteriores, e que controlam os meios sociais e políticos, fato esse o que os torna fundamentais no jogo político mundial existente. Giovanni Arrighi (1996) adverte que o Imperialismo de livre comércio, marca do sistema mundial organizado e mantido pelos britânicos, tinha por principais premissas, guardar a importância das comunidades nacionais e da propriedade privada a extensa centralização do poder mundial no Reino Unido. O equilíbrio de poder entre as potências, consistiu num modo em que nenhuma grande potência se destacasse mais que a outra, política essa materializada no Concerto Europeu, contando com o apoio fundamental da Haute Finance, Não obstante, o pelos negócios, e mesmo a Santa Aliança não desdenhava a crucial ajuda dos Rothschilds. G N A R U S | 60 uso do padrão ouro nas transações comerciais e constitucionalismo nas políticas nacionais também se caracterizaram como característica dessa hegemonia economia britânica nos quatro cantos do mundo. No que diz respeito à Hegemonia inglesa no mundo, Arrighi (1996), descreve o conceito de hegemonia como “à capacidade de um Estado exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas” (Arrighi, 1996, p.27). Essa dominação não necessita ser só de cunho físico, mais também pode se apresentar como dominação ideológica 3 , dominação essa que a Inglaterra passará a exercer no mundo no século XIX e os E.U.A passaram a exercer no século, mais precisamente após a destruição da Primeira Grande Guerra. Segundo Kennedy (1989) o controle da haute finance pelos ingleses, sua supremacia marítima, posição insular, poderio militar, influências continentais e comerciais a fizeram tornar uma nação com poder sem precedentes. Sua hegemonia global exercia influência em todo o globo e era interessante para a manutenção desse poderio que o mundo todo fosse uma grande extensão do pensamento liberal, que esse pensamento passasse a sobrepor as decisões dos Estados. No que pertence essa afirmação, Arrighi (1996) descreve: O poder mundial da Grã-Bretanha no século XIX não teve precedentes. Mas a via de desenvolvimento que levou a essas conquistas não deve ser considerada totalmente inédita. Pois o imperialismo de livre comércio da Grã-Bretanha simplesmente fundiu, numa síntese 3De acordo com o pensador italiano Gramsci, para um povo ter preponderância sobre outro, somente a ação e repressão militar não são necessários, ficando o campo ideológico com muita importância para legitimar e coordenar as ideias de submissão de um Estado mais fraco ante um mais forte. 4De acordo com Eduard Palmer Thompson, os costumes dos trabalhadores que antes de entraram no mundo fabril, não são harmoniosa, duas vias de desenvolvimento aparentemente divergentes , que tinham sido abertas muito antes pelos grupos dominantes de outros Estados. O que houve de diferente foi a combinação entre essas vias, e não as vias em si.(Arrighi, 1996, p.57). Hobsbawm (1981), descreve que a primeira fase da industrialização britânica se baseou na indústria têxtil, principalmente a do algodão. Dona de um monopólio comercial imenso no escoamento e produção desse produto na América (principalmente os Estados Unidos) e Ásia. Com o monopólio cada vez maior da venda e compra de algodão mundial, os industriais ingleses assim entravam nessa empresa com certeza de venda de seus produtos e lucro imediato e certo. Enquanto isso paisagens de cidades como Manchester e Liverpool iam mudando, se tornando mais cinzas, horizontais, com inúmeras fábricas, além de um exército de trabalhadores famigerados e maltrapilhos, sendo que, a mentalidade acerca do trabalho e do tempo é transformada 4 . Com o desenvolvimento dessas cidades a indústria alimentícia foi em seguida alavancada com o desenvolvimento e aumento demográfico das cidades, causando no campo uma espécie de “revolução” na produtividade das culturas, com o implemento de novas técnicas agrárias e pastoris como a fertilização dos campos, revezamento de culturas, novas culturas adotadas (como o caso da Batata, vinda da América do Sul). Todas essas inovações que incrementaram o aumento da população e consequentemente mais braços para as fábricas. A Indústria alimentícia foi abastecida de totalmente suprimidos, tendo esses homens e mulheres costumes que perfazem boa parte do tempo. A percepção acerca do tempo é totalmente transformada pela noção capitalista segundo a ótica de tal autor, mais de uma forma lenta e gradual e não totalmente abrupta. G N A R U S | 61 novas técnicas de produção de bebidas e comidas, se tornado essas mais dinâmicas para a vida corrida do trabalho fabril. Outra indústria vital para o abastecimento energético das fábricas foi à extração do carvão vegetal, sendo usado de forma tanto industrial como doméstica devido à fraca vegetação arbórea Inglesa. O carvão mineral se tornou a mola central no abastecimento das máquinas a vapor tanto das indústrias, como também das ferrovias mundo afora. Foi o combustível da revolução. Todo o mercado financeiro e especulativo teve que se reformular se tornado mais proativo para suplantar cada vez mais os altos capitais circulantes no mundo, não havendo dificuldade quanto às técnicas comerciais e financeiras. Os bancos e todos os seus artífices, estavam cada vez mais interligados com a industrialização, seja oferecendo facilidades a empréstimos e investimentos maciços em qualquer atividade de cunho industrial ou afins. As Expansões industriais em torno das atividades têxteis eram facilitadas pela grande soma de lucro que adivinha de sua venda, e assim, novas máquinas e tecnologias eram adquiridas podendo ser pagas em torno de pouco tempo, devido ao ganho de mercados consumidores como a América Espanhola, Ásia e África. Um mundo em constante movimento Segundo Arrighi (1996), após um século inteiro de hegemonia britânica mundial, verifica-se a partir dos anos de 1870 a ascensão de dois concorrentes implacáveis, Estados Unidos da América e Alemanha. Os E.U.A, grande nação de dimensões continentais possuía recursos naturais, potencial humano, economia nacional maiores que os da G N A R U S | 62 terra da rainha. Essa guinada na mudança da grande potência mundial irá se propagar com maior ênfase após a Grande Primeira Guerra Mundial. Os Estados Unidos segundo Kennedy (1989), preferiram após a guerra de Secessão, concentrar suas energias e forças no aparelhamento de sua economiano que diz respeito ao comércio, a indústria, e a sua crescente influência no continente americano em detrimento dos gastos militares. O número de militares regulares dos Estados Unidos era de certa forma no século XIX, menor que potências médias europeias, como a Hungria e a Áustria. O antagonismo da E.U.A e da Rússia era enorme frente aos exércitos regulares, mais era muito maior no aspecto econômico, Trocando em miúdos, a Rússia se mantivera entre as grandes potencias por sua alta capacidade militar, mas não pela sua econômica frágil. Já na Europa, surge uma nação que irá acirrar ainda mais o concerto europeu, a Alemanha unificada por Otto Von Bismark em 1870, angariava seu poderio em sua grande e expoente indústria química e siderúrgica, assim percebeu-se que o concerto da Europa estava em seu auge. “Nas duas décadas que se seguiram imediatamente à ascensão da Alemanha à categoria de Grande Potência, ela foi a principal beneficiária do interesse pela paz” (Polany, 2000, p.35). Kennedy (1989) salienta que essa nova potência central forçou seu caminho até as primeiras fileiras mundiais à custa do relativo atraso econômico da Áustria e da França pois para os franceses era mais vantajoso para manter seu grande status quo e evitar uma guerra mortífera com a poderosíssima Alemanha de Bismarck. O alto escalão do Governo alemão favoreceu deliberadamente a paz com a colaboração conjunta das outras Grandes Potências (Áustria, França, Inglaterra e Rússia) evitando compromissos que pudessem forçar a Alemanha para fora de seus anseios de manutenção de paz, pois com essa paz, os negócios, indústria e comercio alemães prosperavam. Nessa mesma ideia, mais do outro lado do Atlântico, Hobsbawm (2004) descreve que os últimos anos do século XIX foram vistos até hoje na história da civilização humana como um período de estabilidade social e política. Foram anos de intensa prosperidade econômica e crescimento constante das nações mais abastadas do Globo. Os governos se mostraram mais experientes na arte de conter agitações políticas e sociais. Época conhecida como belle époque, onde o mundo de certa forma estava mergulhado num mundo de intensa prosperidade. Apesar de todo esse otimismo e ar próspero, algumas áreas mundiais estavam passando por momentos de muita instabilidade e com grande eminência de revoluções até que em 1914 o mundo assistir a segunda guerra mundial afetando a paz em todo o globo. Áreas como o Império Otomano, Rússia e o Império Habsburgo tiveram como a primeira guerra mundial uma espécie de desencadeamento de conflitos internos e instabilidade política. É bem lógico que a belle époque não estava inserida de forma continua em todo o mundo, vários países como o México passavam por serias revoluções, Países como China e a Rússia passariam por transformações profundas na sua concepção tanto política, ideológica e econômica, as grandes crises sociais que esses países passaram por vários anos e as grandes pressões internas devido a sua amplitude geográfica, trouxeram grandes mudanças na virada do Séc. XX. G N A R U S | 63 O colapso de um sistema frágil Entretanto, de acordo com Polany (2000) no final da década de 1870, o episódio do livre comércio estava no seu final, e a utilização do padrão ouro pela Alemanha marcou o início de uma extensa rede de protecionismo e expansão colonial mundo afora. A Alemanha passava agora, a reforçar sua posição através de uma união com a Áustria- Hungria e a Itália. A partir daí, a Grã-Bretanha passou assim, a ser o principal líder do interesse pela paz em uma Europa onde ainda permanecia um grupo de estados soberanos independentes e portanto, sujeitos ao tão desejado equilíbrio de poder. Na década de 1890, a haute finance estava no seu apogeu e a paz parecia mais segura do que nunca. Os interesses britânicos e franceses diferiam entre si na África, os britânicos e os russos competiam uns com os outros na Ásia. O Concerto, embora capengando, continuava a funcionar. A despeito da Tríplice Aliança, ainda havia mais de duas potências independentes para vigiar uma a outra ciumentamente. Mas isso não durou muito tempo. Em 1904, a Grã-Bretanha fez um acordo com a França sobre o Marrocos e o Egito, e alguns anos mais tarde entrou em acordo com a Rússia sobre o território Persa. Estava ai formada a contra- aliança. O Concerto da Europa, essa federação frouxa de potências independentes, foi subitamente substuído por dois agrupamentos antagônicos e o desejado e complexo “castelo de areia” que era equilíbrio do poder, chegara a seu final. Com apenas dois grupos de poder em extrema competição acirrada pelo imperialismo, seu mecanismo deixara de funcionar de forma harmônica, como funcionara em tempos atrás. Nisso, já não havia mais um terceiro grupo que se unisse a um ou outro para frear aquele que buscasse aumentar o seu poder e ser o fiel da balança. Praticamente na mesma época, os sintomas de dissolução das formas existentes de economia mundial como a rivalidade colonial na África e Ásia, e a competição por mercados exóticos tornaram-se aguçados. A habilidade da haute finance em contornar a disseminação das guerras diminuía rapidamente. A paz ainda se arrastou durante os sete anos seguintes, mas era apenas uma questão de tempo para desmoronar-se, e que, de fato a teia da organização econômica do século XIX ruísse e acabasse por completo com a Paz dos Cem Anos. Da paz a uma guerra sem precedentes históricos. Conclusão. Percebemos que uma das grandes preocupações das potências europeias foi justamente se evitar uma guerra de alta deflagração, pois um conflito de alto custo humano e material nesse período era muito ruim para a prosperidade dos negócios e das finanças. O mundo do século XIX é completamente diferente depois da sacudida institucional que a Revolução Francesa trouxe ao mundo europeu. O século XIX também é apresentado como um século de unificações nacionais de países como a Alemanha e a Itália, que serão importantíssimos nos decorreres dos anos nos cenários europeu e mundial. O período analisado nesse trabalho também demonstra a guinada na mentalidade europeia no que concerne a política, ciências e artes nesse período conhecido como a paz de cem anos. Como grandes baluartes da “paz de cem anos” verificamos que as finanças e os governos tiveram uma importância primordial, pois a guerra entre as grandes potencias, era vista como essencialmente danosa para a burguesia industrial, comercial e financeira das maiores potências do globo. Essa teia de compromissos e equilíbrio finalmente rui a partir G N A R U S | 64 do final do século XIX, pois com o fenômeno do imperialismo, a competição por produtos exóticos, matérias-primas e mercados nos países africanos e asiáticos, traz por terra todo o arcabouço feito pelas finanças. Para um conflito de grandes proporções e intensa carnificina, seria só uma questão de tempo. Infelizmente para boa parte da humanidade. Ricardo Luiz de Souza é Aluno do 9º período do Curso em Licenciatura em História da UFRRJ, campus Nova Iguaçu. ricardoluisouza@gmail.com Bibliografia GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981. _______________. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. _________________ .A Era do Capital. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2004. POLANYI, Karl. A Grande Transformação - as origens de nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 2000. KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências: transformação econômica e conflito militar entre 1500 e 2000. Rio de Janeiro, Editora Campus, 1989. REMOND, Rene. O século XIX – 1815-1914. São Paulo, Editora Cultrix, 1997. DA SILVA, Francisco Carlos Teixeira. 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