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O C Â N O N B ÍB L IC O
A Origem da Lista dos L ivros Sagrados
Prof. Alessandro L im a
Prof. Alessandro Lima
O CÂ N ON BÍBLICO
A O rigem da Lista dos L ivros Sagrados
Brasília, 2007
© Copyright by Alessandro Ricardo Lima, 2007
Contato com o autor: alessandro@veritatis.com.br ou 
arlima® gmail .com
Revisão: Carlos Martins Nabeto e Solange Maria Corrêa Brant de 
Sá.
LIMA, Alessandro Ricardo. 1975
O Cânon Bíblico: A Origem da Lista dos Livros Sagrados. 
Brasília, DF: 2007.
(Ia . edição, 125 páginas)
Bibliografia.
Registrado na Fundação Biblioteca Nacional sob o no. 
392.227, Livro 729, íls. 387.
1. Cristianismo; 2.Bíblia; 3.História da Igreja;
4. Patrística. I. Título.
CDD - 220.95
índices para Catálogo Sistemático:
1. Bíblia: Eventos, História 220.95
2. Antiguidade Bíblica 220.93
3. Bíblia: Introdução 220.07
4. História da Igreja 281.1
5. Patrística 281.1
'Ibelos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio 
ou processo, especialmente por sistemas gráficos, mic.rofilmáticos, fotográficos, 
ívprográficos, fonográíicos, videográficos. Internet e e-books ou outros, sem prévia auto­
rização. por escrito do autor. Vedada a memorização e/ou recuperação total ou parcial 
cm qualquer sistema de processamento de dados e a inclusão de qualquer parte da obra 
em qualquer programa juscibemético. Essas proibições aplicam-se também às caracte­
rísticas gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível 
como (-rime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal. cf. Lei n° 6.895, de 17.12.1980). com 
pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas 
(ai I igos 102. 103 parágrafo único, 104. 105, 106 e 107 itens 1. 2 e 3. da Lei n” 9.610. de 
10.00.1998 (Lei dos Direitos Autorais]).
mailto:alessandro@veritatis.com.br
“M u itos em preenderam com por um a h istória dos acon tecim en ­
tos que se rea lizaram entre nós, com o no-los transm itiram aque­
les qu e fo ra m desde o p rin c íp io testem unhas ocu lares e que se 
to rnaram m in istros da palavra. Tam bém a m im m e p a receu 
bem, depois de haver d iligen tem ente investigado tudo d esd e o 
princíp io , escrevê-los p a ra ti segundo a ordem ” (Lc 1,1-3).
S U M Á R I O
Sobre o autor..............................................................................................7
Apresentação..............................................................................................9
Introdução.................................................................................................11
Capítulo 1. Qual é o conjunto dos Livros Canônicos?..................................... 13
Capítulo 2. A Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX)...................................17
Capítulo 3, As Escrituras Sagradas utilizadas no tempo de Jesus.................... 21
Capítulo 4. O Cânon de Jâmnia.................................................................. 27
Capitulo 5. Quais foram os livros considerados canônicos pelos primeiros
cristãos?...................................................................................................'39
Capítulo 6. Cânon das Escrituras Sagradas começa a se estabelecer na Igreja. .. 79
Capítulo 7. A Reforma, o Concilio de Trento e as Igrejas Ortodoxas..................91
Capítulo 8. Por que um Cânon Bíblico para os cristãos?................................. 97
Capítulo 9. Uma Análise Sobre os Deuterocanônicos do AT............................101
Conclusão............................................................................................... 107
APÊNDICE I - Influências dos livros Deuterocanônicos do AT no NT............... 111
Referências Bibliográficas.......................................................................... 119
S o b r e o A u t o r
A lessandro R. Lima, casado e pai, nasceu em Brasília/DF. 
Vindo de uma família de classe média de quatro filhos, o pai 
(falecido) funcionário público e mãe dona de casa.
Formado em Tecnologia em Processamento de Dados pela 
União Educacional de Brasília (UNEB/DF) e pós-graduado em Ge­
rência de Projetos em Engenharia de Software pela Universidade 
Estácio de Sá/RJ. Trabalha como Professor Universitário e Consul­
tor de Engenharia de Software.
Desde 1999 dedica-se ao estudo da Fé Cristã dos primeiros 
séculos; pelo qual foi levado a deixar o protestantismo e ingressar 
na Igreja Católica, no final de 2000.
Em 2002, juntamente com Carlos Martins Nabeto fundou o 
apostolado católico Veritatis Splendor (http: / /www.veritatis.com.br) 
- considerado um dos maiores sítios católicos em língua portugue­
sa - onde desde então, além das suas atribuições familiares e secu­
lares, dedica-se à publicação de artigos referentes ao Cristianismo 
primitivo e à defesa da Fé Católica nas questões mais difíceis.
7
http://www.veritatis.com.br
I n t r o d u ç ã o
A palavra “cãnon” vem do grego kanóni e significa “régua” ou 
“cana [de medir]”. A cana era usada pelos antigos como ins­
trumento de medição. Desta forma, os cânones em sentido religioso 
são as réguas que devem ser usadas para medir a vida, isto é, guiar 
o fiel em sua vida religiosa.
O Cãnon Bíblico é a lista dos livros sagrados que compõe a 
Bíblia Cristã. Esta lista também é chamada de lista canônica ou 
lista dos livros canônicos (=livros autorizados).
A Palavra “Bíblia” vem do grego “biblos" que significa bibliote­
ca. Assim, a Bíblia é uma “biblioteca”, porque é composta por um 
conjunto de livros que os cristãos crêem serem inspirados por Deus. 
A redação dos livros sagrados começou por volta do séc. XV a.C. e 
somente se encerrou no final do séc. I d.C.
Ao contrário do que muitos pensam, a Bíblia Cristã organiza­
da como um único livro, não foi assim entregue pelos Apóstolos.
Antes que fosse possível reunir os livros sagrados em um úni­
co volume, foi necessário saber quais eram esses livros.
A Sagrada Escritura em nenhum lugar define a sua lista de 
livros sagrados; o índice por si mesmo também não é um “rol” ins­
pirado, mas uma criação humana visando facilitar a localização 
dos diversos livros sagrados existentes nessa “biblioteca” chamada 
Bíblia. Embora, alguns pesquisadores defendam a existência de 
um cãnon bíblico judeu, já fixado depois do tempo do profeta Esdras, 
não havia nos primeiros séculos da Era cristã um consenso sobre 
quais livros de tradição hebraica deveriam ser considerados 
canônicos (AT1) . A mesma dúvida pairou sobre alguns livros da lite­
ratura cristã (NT2).
Desta forma, nos primeiros séculos, alguns livros eram acei­
tos por toda a Igreja, enquanto outros tinham sua inspiração con-
11
(estada ou posta em dúvida. Por esta razão, alguns livros que hoje 
se encontram na Bíblia, só foram considerados canônicos mais tar­
de. Considerando tudo isto, os livros canônicos que compõe a Sa­
grada Escritura Cristã são classificados quanto ao reconhecimento 
de sua canonicidade como: protocanônicos e deuterocanônicos.
Os protocanônicos (proto=primeiro, canônicos=autorizados) 
são aqueles que jamais tiveram sua canonicidade contestada, isto 
é, são aqueles que sempre foram considerados inspirados por Deus. 
Os deuterocanônicos (deut.ero=depois, canônicos=autorizados) são 
aqueles que foram considerados canônicos mais tarde, pelo fato de 
ter havido inicialmente alguma dúvida quanto à sua inspiração e 
conseqüente canonicidade. Há ainda aqueles que inicialmente fo­
ram considerados canônicos e posteriormente não, incrementando 
assim o conjunto dos livros “apócrifos”3.
Existem livros protocanônicos e deuterocanônicos tanto para 
o AT quanto para o NT. Normalmente são relacionados como 
deuterocanônicos do AT: Tobias, Judite, Sabedoria, Sabedoria de 
Sirac (ou Sirácida) ou Eclesiástico, Baruc (ou Baruque), 1 e 2 
Macabeus. Como veremos mais adiante, a inclusão do livro de Baruc 
neste conjunto parece ser equivocada, da mesma como é também 
equivocada a não inclusão do livro de Ester.
Também sãose servem f../’39 (ORIGINES, 2004).
Este trecho é de sua Carta a Júlio Africano40, onde Orígenes 
defende a canonicidade dos acréscimos ao Livro de Daniel, que mais 
(arde serão defendidos também por São Jerônimo. Os judeus de 
Jâmnia recusaram estes acréscimos em seu Cânon.
Quanto ao NT escreve:
“Conforme aprendi da tradição sobre os quatro Evangelhos, os 
únicos também indiscutíveis na Igreja de Deus que há sob os céus, 
fo i escrito em primeiro lugar o evangelho segundo Mateus; este ante­
riormente fora publicano e depois Apóstolo de Jesus Cristo. Ele o 
editou para os fié is vindos do judaísmo, redigindo-o em hebraico. O 
Segundo é o Evangelho segundo Marcos, que escreveu conforme as 
narrações de Pedro, o qual o nomeia seu filho [segundo o espírito] na 
carta católica, nesses termos: 'A que está em Babilônia [Roma], eleita 
como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu f ilh o ’ [c f lP d 
!>, 13]. E o terceiro é o Evangelho segundo Lucas, elogiado por Paulo
:/ Na maioria das listas canônicas, Isaías era m encionado logo depois dos 12 Profetas.
Nas Biblias Católica e Ortodoxa, a Epístola de Jerem ias é apêndice de Baruc, m antendo 
assim a organização original conform e consta na Septuaginta.
111 Fragmento traduzido pelo autor.
111 Escritor cristão do séc. III. Nascido em Jerusalém , viveu em Roma e em Alexandria,
47
[cf. 2Cor 8,18-19; 2Tm 2,8; Cl 4,14] e composto para os fié is proveni­
entes da gentilídade. Enfim, o Evangelho segundo João" (Ibid., p.
313).
Pelo testemunho de Orígenes os 4 Evangelhos são reconheci­
dos como canônicos em toda Igreja (“os únicos também indiscutíveis 
na Igreja de Deus que há sob os céus"). Estas palavras testemu­
nham haver a inda ou tros evan ge lh os , no en tan to não 
consensualmente aceitos.
Ainda sob a estreita de Eusébio:
“No quinto livro dos Comentários ao Evangelho segundo João, 
o mesmo Orígenes declara o seguinte acerca das Epístolas dos após­
tolos: ‘Paulo, digno ministro do Novo Testamento, não segundo a le­
tra, mas segundo o espírito, depois de ter anunciado o evangelho 
desde Jerusalém e suas cercanias até o Ilírico [cf. Rm 15,19], não 
escreveu a todas as Igrejas que ele havia instruído; mesmo àquelas 
que escreveu, enviou apenas poucas linhas" (Ibid. p. 313).
Aqui Orígenes reconhece como canônicas as cartas paulinas, 
embora não cite quais são. Quanto à controversa carta aos Hebreus, 
registrou Eusébio:
“Finalmente, extema-se da seguinte maneira sobre a Carta aos 
Hebreus, nas Homilias proferidas a respeito desta última; ‘O estilo 
da epístola intitulada Aos Hebreus carece da marca de simplicidade 
de composição do Apóstolo, que confessa ele próprio ser imperito no 
falar, isto é, no fraseado [cf. 2Cor 11,6]; no entanto, a carta é grego 
do melhor estilo, e qualquer perito em diferenças de redação o reco­
nheceria. Efetivamente, os conceitos da Epístola são admiráveis e 
em nada inferiores aos das genuínas cartas apostólicas. Há de con­
cordar quem ouvir atentamente a leitura das cartas do Apóstolo’. Mas 
adiante [diz Eusébio], [Orígenes] adita essas afirmações: ‘Mas, para 
exprimir meu próprio ponto de vista, diria que os pensamentos são 
do Apóstolo, enquanto o estilo e a composição originam-se de alguém 
que tem presente a doutrina do Apóstolo, e por assim dizer, de um 
redator que escreve as preleções de um mestre. Se, portanto, uma 
Igreja tem por certo que a carta provém do Apóstolo [Paulo], felicito-a, 
pois não será sem fundamento que os antigos a transmitiram como 
sendo da autoria de Paulo. Entretanto, quem escreveu a carta? Deus 
o sabe. A tradição nos transmitiu o parecer de alguns de ter sido
redigida por Clemente, bispo de Roma [e discípulo de Pedro e Paulo], 
outros opinam ter sido Lucas, o autor do Evangelho e dos Atos”' (Ibid., 
p. 314).
Como podemos ver, embora seja controversa a autoria da Carta 
aos Hebreus, Orígenes não só a. considerava canônica, como afirma 
que este é o mesmo parecer dos presbíteros que o antecederam. 
Observem que quanto ao livro dos Atos dos Apóstolos, Orígenes 
apenas mostra que o conhece, mas não emitiu seu parecer quanto 
ã canonicidade do livro.
Ainda sob a pena de Eusébio, sobre os outros livros afirma 
Orígenes:
“Pedro, sobre quem está edijicada a Igreja de Cristo, contra a 
qual não prevalecerão as portas do inferno [cf. Mt 16,18], deixou 
apenas uma carta incontestada, e talvez ainda outra, porém contro­
vertida” (Ibid., p. 313).
Orígenes não só reconhece a canonicidade da primeira epís­
tola de São Pedro, como declara que o mesmo é o parecer comum 
da Igreja em seu tempo. E quanto à segunda Epístola que hoje se 
encontra em nosso cânon, ele afirma que não é aceita por todos. 
Identificamos então o terceiro livro deuterocanônico do NT.
Orígenes continua:
“Que dizer de João, que reclinou sobre o peito de Jesus [c f Jo 
13,25; 21,20], deixou um evangelho, assegurou ser-lhe possível com­
por mais livros do que poderia o mundo conter [cf. 21,25], e escreveu 
o Apocalipse, mas recebeu a ordem de se calar e não escrever as 
mensagens das vozes das sete trombetas [cf. Ap 10,4]?’ (Ibid., p. 
313-314).
Aparece aqui afirmar a canonicidade do Apocalipse de João. 
Ainda:
“Legou-nos também uma Carta de muito poucas linhas e talvez 
outra e ainda terceira, pois nem todos admitem que estas sejam au­
tênticas; aliás, as duas juntas não abrangem cem linhas" (Ibid., p.
314).
Quanto às cartas de São João Apóstolo e Evangelista, Orígenes 
diz que comumente era reconhecida como canônica somente a pri­
meira carta. Ainda não havia na Igreja antiga um parecer comum 
quanto à canonicidade das outras duas. Identificamos aqui mais
49
dois livros deuterocanônicos do NT: a segunda e terceira epístola de 
São João.
3. Dionísio de Alexandria
Antes de sua eleição como Bispo de Alexandria em 248, sua 
vida é um mistério. No início de seu Ministério, o Império Romano 
empreendeu uma grande perseguição aos cristãos, e em 249 sob o 
Imperador Décio foi obrigado a fugir para do deserto da Líbia. Mor­
reu enfermo e com idade avançada em 265.
Segundo Eusébio, Dionísio reconhecia como canônicos o Evan­
gelho de João e a primeira carta (Ibid., p. 373-374). Dionísio dá 
testemunho que alguns de seus predecessores não recebiam como 
canônico o livro do Apocalipse:
“Alguns dos nossos predecessores rejeitaram e repeliram intei­
ramente este livro. Criticaram-no capítulo por capítulo, declarando-o 
ininteligível, ilógico e falsamente intitulado. Afirmam, de fato, não 
provir de João, nem ser uma revelação, porque completamente ocul­
ta sob o véu espesso do incognoscível" (Ibid.).
Os antigos presbíteros de Alexandria duvidavam até que o 
livro fosse de autoria de São João, atribuindo-lhe ao herege Cerinto 
a autoria do livro:
“[...] o autor não seria um dos apóstolos, nem mesmo um dos 
santos ou membros da Igreja, e sim Cerinto, o fundador da heresia 
cerintiana, nome derivado do seu, o qual procurou dar sua produção 
um nome digno de crédito" (Ibid., p. 374).
No entanto, Dionísio prefere não duvidar da canonicidade do
livro:
“No entanto, não ouso rejeitar este livro que muitos irmãos 
apreciam, mas ju lgando que suas concepções ultrapassam meu 
entendimento, suponho ter cada passagem, de certo modo, signi­
f ica d o ocu lto e maravilhoso. D e fa to , se não o compreendo, ao 
menos suspeito existir sob as palavras um sentido mais profun­
do. Não meço, nem aprecio segundo meus próprios raciocínios; 
mas, atribuindo prioridade à fé , penso tratar-se de realidades 
elevadas demais para serem aprendidas por mim e não rejeito o 
que não compreendo, mas admiro-o tanto mais quanto não o con­
templei" (Ibid.).
50
Dionísio duvidava apenas que o Apocalipse fosse de autoria 
do Santo Apóstolo João:
"Por conseguinte, que ele [o autor do livro1 se chame João e este 
escrito se origine de João, não direi o contrário e concedo que se trata 
de homem santo e inspirado por Deus. Mas, não concordo facilmente 
que seja o apóstolo, filho de Zebedeu, irmão de Tiago, de quem são o 
Evangelhointitulado Segundo João e a carta católica [a primeira car­
taI' (Ibid., p. 375).
Não conseguimos colher outros testemunhos relacionados ao 
período do séc. III. De qualquer forma, é claro notar que ainda nes­
te período o cânon bíblico cristão não estava definido, e a dúvida 
acerca da canonicidade de alguns livros ainda permanecia.
Testemunhos do séc. IV 
1. Eusébio de Cesaréia
Eusébio nasceu entre 260 e 264, provavelmente em Cesaréia 
na Palestina. Dedicou-se em cuidar da biblioteca de Cesaréia, fun­
dada por Orígenes, bem como aos estudos bíblicos, motivo pelo 
qual empreendeu várias viagens a Antioquia, Cesaréia de Filipe e 
Jerusalém. Sofreu a perseguição do Imperador Diocleciano, obri­
gando-se a fugir para Tiro e Tebaída no Egito. Depois do Edito do 
Imperador Teodósio41 em 314, voltou ã igreja de Cesaréia onde foi 
nomeado Bispo. Participou do Concilio de Nicéia e foi um dos Pa­
dres da Igreja que muito lutou para que a fé de Nicéia fosse aceita 
em toda a Igreja contra a heresia ariana. Foi também conselheiro e 
confidente do Imperador Constantino durante todo seu mandato, e 
após a morte deste escreveu a sua biografia. Além de grande defen­
sor da legítima Fé Cristã, também se destacou como historiador da 
Igreja, cuja obra “História Eclesiástica” até hoje é usada como refe­
rência para se colher dados sobre os acontecimentos dos primeiros 
séculos da Igreja. Morreu não muito depois de Constantino, por 
volta de 340 (DROBNER, 2003, p.231-233).
Em sua “História Eclesiástica", o Bispo Eusébio de Cesaréia, 
além de colher informações dos presbíteros que lhe foram contem­
porâneos, reproduz fragmentos de obras mais antigas. Obras estas
11 Que deu liberdade de culto aos Cristãos e proibiu a sua perseguição
51
que na grande maioria não chegaram até o nosso tempo, e as que 
chegaram, só existem hoje em fragmentos.
Eusébio cita trechos do historiador judeu Filón de Alexandria, 
em que este por admirar o modo de vida cristão, começa a relatar 
como os cristãos viviam e como eram suas assembléias. Depois 
Eusébio comenta que todas as coisas de que escreveu Filón “De fato, 
relatam os Atos dos Apóstolos, liuro tido por autêntico “ (Ibid., p. 94).
Segundo Eusébio, Fílon, em sua obra “A Vida contemplativa' 
ou “Os orantes", sobre as Escrituras Cristãs, escreve:
“Possuem também escritos dos antigos, primeiros guias de sua 
seita, que deixaram numerosos monumentos de sua doutrina sob 
form a alegórica. Utilizam-nas como modelos de comportamento a 
imitar” (Ibid., p. 95).
E continua:
“Talvez os livros que ele aponta como sendo entre eles [os cris­
tãos] os livros dos antigos sejam os evangelhos, e os escritos dos 
apóstolos e provavelmente algumas interpretações dos antigos pro­
fetas, tais os contidos na carta aos Hebreus e numerosas cartas de 
Paulo” (Ibid.).
Uma importante contribuição no registro de Eusébio são as 
cartas dos apóstolos, então conhecidas como “cartas católicas” . 
Vejamos quais delas que no séc. IV eram reconhecidas canônicas 
pela Igreja e quais tinham sua canonicidade posta em dúvida.
Sobre os escritos de São Pedro
Sobre os escritos de São Pedro ele registrou:
“Com efeito, de Pedro, apenas uma carta, classificada como 
primeira, é reconhecida por autêntica e os próprios antigos presbíteros 
utilizaram-na, citando-a em seus escritos como genuína. Quanto àque­
le enumerada como segunda, tivemos notícia de que não é testamen- 
tária, todavia muitos a consideram útil e fo i tomada em consideração 
com as demais Escrituras" (Ibid., p. 114).
Ainda sobre São Pedro:
"... as palavras de Pedro indicam também em que províncias 
ele próprio anunciou Cristo e transmitiu a doutrina do Novo Testa­
mento aos circuncisos. Esclarece-o igualmente a carta que afirma­
mos ser tida por autêntica [a primeira carta], dirigida aos hebreus da
52
Dispersão do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bilínia 
[cf. IPd 1,1!'. (Ibid., p. 115).
“Relativamente aos Atos que trazem seu nome [portanto, Atos 
de Pedro1, ao Evangelho dito segundo Pedro, ao Kerygma e ao supos­
to Apocalipse de Pedro, sabemos que não foram de modo algum trans­
mitidos entre os escritos católicos e que nenhum escritor eclesiástico, 
nem dentre os antigos, nem dos atuais, utilizou testemunhos tirados 
destas obras” (Ibid., p. 114). Por fim , Eusébio dá seu parecer final 
quanto aos escritos de Pedro: “Dos escritos atríbuídos a Pedro, co­
nheço apenas uma carta reconhecida pelos antigos presbíteros como 
autêntica. E é só” (Ibid.).
Sobre os escritos de São Paulo
“No tocante a Paulo evidentemente dele provêm as catorze car­
ieis. Não seria justo deixar de reconhecer que alguns, no entanto, 
rejeitam a carta aos Hebreus, assegurando não ser recebida pela 
Igreja de Roma, por não ser da autoria de Paulo. [.. j De outro lado, os 
Atos que trazem seu nome [portanto. Atos de Paulo], não os aceito 
entre os livros autênticos” (Ibid., p. 114-115).
Eusébio testemunha que muitos dos antigos não recebiam 
como canônica a Carta aos Hebreus:
“Caio de Roma, homem muito eloqüente, que vivia em Roma no 
tempo de Zeferino [bispo de Roma], num Diálogo contra Proclo, que 
ilisputava em favor da heresia catafrigía. Nesta obra, Caio refreia a 
temeridade e audácia dos adversários de comporem novas Escritu- 
ms: menciona somente treze cartas do santo Apóstolo [Paulo], não 
i ■numerando entre as demais a carta aos Hebreus, visto que, ainda 
hoje, em Roma pensam alguns não ser da autoria do Apóstolo" (Ibid., 
1>. 308).
Sobre os escritos de João
“E agora, assinalemos os escritos provindos incontestavelmen- 
1a Tiago, a de Judas, a segunda carta de Pedro 
e as cartas enumeradas como segunda e a terceira de João, que se­
jam do Evangelista ou do outro, com idêntico nome" (Ibid., p. 147- 
148).
“Entre os apócrifos, ponham-se o livro dos Atos de Paulo, a obra 
intitulada O Pastor, o Apocalipse de Pedro, e além disso a Carta atri­
buída a Barnabé, o escrito chamado A doutrina dos Apóstolos 
IDidaqué43], depois como já disse, o Apocalipse de João, se parecer 
I>em Alguns, conforme já declarei, o rejeitam, mas outros o inserem 
entre os livros recebidos.
Entre esses livros alguns ainda puseram o Evangelho se- 
(jundo os Hebreus, que agrada sobretudo aos hebreus que aderi­
ram a Cristo. Todos esses livros estão no número dos escritos 
segundo Tomé, que sendo divulgado 
com afragrãncia do título evangélico corrompe a alma dos simples. 
Aceite também os Atos dos Doze Apóstolos; e em acréscimo a estes as 
sete Epístolas Católicas de Tiago, Pedro [duasj, João [três] e Judas; e 
como um selo sobre todas elas, o último trabalho dos discípulos, as 
quatorze Epístolas de Paulo. Mas deixe todo o resto de lado num 
nível secundário. E qualquer outro livro não lido nas Igrejas, estes
47 Corresponde ao 2 Esdras da Septuaginta, que é Esdras e Neemias.
48 Organização de Jeremias conform e a Septuaginta.
49 Seguidores de Mani, fundador uma filosofia religiosa sincrética e dualística com binando 
zoroatrism o, cristianism o e gnosticism o. Santo Agostinha pertencia a um grupo de 
m aniqueus antes de ser tornar católico.
58
nao leiam mesmo por iniciativa própria, como você tem me escutado 
dizer''50 (CIRILO, 2005).
Cirilo é mais um que confirma a organização: Jeremias + Baruc 
+ Epístola de Jeremias + Lamentações. Não há qualquer outra refe­
rência aos deuterocanônicos cio AT. Todos os deuterocanônicos do 
NT são citados, com exceção do Apocalipse.
4. Rufino de Concórdia CAquiléia)
Rufino (Tyraminnus Rufinus) nasceu aproximadamente em 
345, na cidade de Concórdia (a oeste de Aquiléia, na Alta Itália). 
Entre 358-368, recebeu em Roma formação em gramática e retóri­
ca, tendo como companheiro São Jerônimo. Mais tarde retornou à 
Aquiléia, onde lhe foi despertado o interesse pela vida monástica; 
seguiu para Alexandria e depois Jerusalém, onde em 381, no Mon­
te das Oliveiras fundou um mosteiro masculino. Por ali, durante 16 
anos viveu em íntimo contato com os Bispos de Jerusalém. Em 
aproximadamente 390 foi ordenado sacerdote pelo Bispo João; a 
partir de 393 ingressou em uma série de disputas com seu amigo 
São Jerônimo acerca da doutrina de Orígenes que só se encerrará 
em 401, por sua desistência. Então em Aquiléia, fugiu para Roma, 
Terracina, por causa invasão da Itália pelos Gõdos. Faleceu em 
Messina (Sicília) após a conquista de Roma em 410 (DROBNER, 
2003, p. 348-350).
Em seu “Comentário ao Credo dos Apóstolos’’ encontramos uma 
relação dos livros canônicos:
“[...} Este é então o Espírito Santo, que no Antigo Testamento 
inspirou a Lei e os Profetas, e no Novo os Evangelhos e as Epístolas. 
De onde o Apóstolo também diz, ‘toda Escritura dada pela inspiração 
de Deus é útil para a instrução. ’ E conseqüentemente parece apropri­
ado enumerar aqui, como nós aprendemos da tradição dos Pais, os 
livros do Novo e do Antigo Testamento, que, de acordo com a tradição 
de nossos antepassados, acreditamos terem sido inspirados pelo 
Espírito Santo, e têm sido transmitidos pelas gerações nas Igrejas de 
Cristo.
! " Fragmento traduzido pelo autor.
59
37. D o Antigo Testamento, conseqüentemente, prim eiro de 
todos n os jo i transmitidos cinco livros de Moises, Gênesis, Êxodos, 
Levítico, Números, Deuteronômio; Então Jesus Navé (Josué o f i ­
lho de Num), o Livro dos Juizes ju n to com Rute; então 4 livros dos 
Reis (Reinos), os quais os Hebreus contam dois; o Livro das Omis­
sões, o qual é intitulado o Livro dos Dias (Crônicas), e dois livros 
de Esdras51, os quais os Hebreus contam como um, e Ester; dos 
Profetas, Isaías, Jerem ias52, Ezequiel, e Daniel, além destes os 
doze Profetas (menores), em um livro; Jó também e os Salmos de 
Davi, um livro cada um. Salomão deu três livros às Igrejas, Pro­
vérbios, Eclesiastes e Cânticos. Estes compreendem os livros do 
Antigo Testamento. Do Novo existem 4 Evangelhos, Mateus, M ar­
cos, Lucas e João; os A tos dos Apóstolos, escrito p o r Lucas; 
quatorze Epístolas do Apóstolo Paulo, duas do Apóstolo Pedro, 
uma de Tiago, irmão do Senhor e Apóstolo, uma de Judas, três de 
João, a Revelação de João. Estes são os livros dos quais os Pais 
consideraram dentro do Cãnon, e dos quais eles nos transm iti­
ram provas da nossa fé .
38. Mas, ê necessário saber que existem também outros livros 
que nossos pais não chamam 'Canônicos’ mas ‘Eclesiásticos’: a sa­
ber. Sabedoria de Salomão, e uma outra Sabedoria, chamada a Sa­
bedoria do Filho de Sirac, no qual ultimamente os Latinos chamam 
pelo título geral de Eclesiástico, designando não o autor do livro, mas 
o caráler da escrita. Na mesma classe se incluem o Livro de Tobias, e 
o Livro de Judite, e os Livros dos Macabeus. No Novo Testamento, o 
pequeno livro que é chamado o Livro do Pastor de Hermas, que é 
chamado Os Dois Caminhos, ou o Julgamento de Pedro; todos eles 
têm sido lidos nas Igrejas, mas não são usados para a confirmação 
da doutrina. Outros escritos são chamados ‘Apócrifos’. Estes não são 
lidos nas Igrejas.
Estas são as tradições que os Pais nos transmitiram, as quais, 
como eu disse, achei oportuno registrar aqui para a instrução daque­
les a quem estão sendo ensinados os primeiros elementos da Fé da
51 Corresponde ao 2 Esdras da Septuaginta, que é Esdras e Neemias..
52 Refere-se ao Livro de Jeremias, Lamentações, Baruc e a Carta de Jeremias conform e a 
Septuaginta.
60
Igreja, que podem conhecer de quais fontes da Palavra de Deus seus 
esforços devem ser tirados”53 (RUFINO, 2005).
O Canon Bíblico apresentado por Rufino é praticamente o 
mesmo de Atanásio, exceto pelo fato de Atanásio relacionar Ester 
entre os livros não canônicos.
Os livros da Sabedoria, Eclesiástico, Judite, Tobias, Esterce o 
Pastor de Hermas não são considerados canônicos ou apócrifos, 
mas “Eclesiásticos". Rufino testemunha que estes livros eram lidos 
na Igreja junto com aqueles considerados canônicos.
Pela falta de menção à Didaque presume-se que era contada 
entre os apócrifos. Entretanto, não podemos afirmar o mesmo a 
respeito do livro dos Macabeus, pois como veremos pelo testemu­
nho de São Jerônimo, algumas Igrejas palestinenses os utilizavam.
5. São Jerônimo
São Jerônimo (Sophronius Eusebius Hieronymus) nasceu 
aproxim adam ente em 347 em Stridon (perto de Emona, hoje 
Ljubljana/Laibach na Eslovênia). Tendo Rufino como companhei­
ro, estudou retórica e gramática em Roma. Depois de seguir 
carreira como funcionário público na residência imperial na c i­
dade de Trier (Gália), em 370 dedicou-se a uma vida monástica 
em Aquiléia, passando por Antioquia e Constantinopla. Em 382, 
São Jerônim o se estabeleceu em Roma onde trabalhou como 
secretário do Papa Dâmaso (cf. Epístola 123,9). Após a morte 
deste (em 11 de dezembro de 384) foi morar em Belém (Palesti­
na), onde fundou dois mosteiros: um masculino e outro fem in i­
no. Veio a falecer em 30 de setembro de 420 (DROBNER, 2003, 
p. 351-355).
São Jerônimo é considerado um dos maiores lingüistas da 
Antiguidade Cristã, pois foi profundo conhecedor das línguas 
bíblicas: Hebraico, Aramaico e Grego. Foi responsável por uma das 
mais conceituadas traduções bíblicas existentes, a Vulgata54. Os 
livros do AT foram traduzidos diretamente do hebraico para o latim.
1,3 Fragmento traduzido pelo autor.
1,1 Recebeu este nom e porque foi traduzida para a língua vulgar, popular da época: o latim.
61
Esta versão das Sagradas Escrituras foi encomendada pelo Bispo 
Dâmaso no tempo em que São Jerônimo era seu secretário.
São Jerônimo não considerava canônicos os seguintes livros: 
Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, 1 e 2 Macabeus. Muitos acreditam 
que sua opinião teve forte influência dos rabinos de Jerusalém, de 
quem Jerônimo aprendeu o hebraico. Entretanto, esta tese parece 
ser desmentida pelo fato dele aceitar como canônicos livros que -os 
judeus palestinenses recusaram (Judite, Baruc, Carta de Jeremias, 
Bel e o Dragão, História de Suzana, onde estes dois últimos cons­
tam como acréscimos do Livro de Daniel).
De qualquer forma, São Jerônimo não excluiu estes livros da 
sua Vulgata. Outros especulam dizendo que ele foi persuadido pelo 
Papa Dâmaso para assim proceder. Isto seria simplesmente impos­
sível, já que o mencionado Papa morreu antes de Jerônimo come­
çar as traduções.
Suas próprias palavras na Vulgata testemunham que o moti­
vo devia-se pelo fato da Igreja usar amplamenteestes livros:
“Este prefácio para as Escrituras (Samuel e Reisl podem servir 
como um ‘elmo’ introdutório para todos os livros os quais nós agora 
transcrevemos do Hebreu para o Latim, de modo que nós possamos 
ter certeza de que os aqueles que não são encontrados em nossa 
lista devem ser colocados entre os escritos Apócrifos. Sabedoria, o 
livro de Sirac, e Judite, e Tobias e o Pastor não são canônicos55. O 
primeiro livro dos Macabeus eu encontrei em hebraico, o segundo em 
grego, como pode ser demonstrado de alto estilo''56 (JERONIMO, 
2006a, p. 778).
“Nós temos o autêntico livro de Jesus, filho de Sirac [Sabedoria 
de Sirac], e um outro trabalho pseudo-epígrafo, intitulado Sabedoria 
de Salomão. Eu encontrei o primeiro no hebraico, com o título, ‘Pará­
bolas’, não Eclesiástico, como nas versões Latinas [...] O Segundo de 
form a alguma se encontra nos textos hebraicos, e seu estilo aproxi­
ma-se da eloqüência grega: um número de escritores antigos afirma
55 Note que São Jerônim o não coloca na lista Baruc e a Carta de Jerem ias. Isto porque com o 
já foi exposto, eram considerados canônicos jun tam ente com o Livro de Jerem ias e as 
Lam entações.
56 Fragmento traduzido pelo autor.
62
I
que é um trabalho do Judeu Fílon. Conseqüentemente, apenas como 
a Igreja lê Judíte, Tobias, e os livros dos Macabeus, mas não são 
admitidos no cãnon das Escrituras57; a Igreja permite que estes dois 
volumes sejam lidos, para a edificação das pessoas, não para darem 
suporte à autoridade das doutrinas eclesiásticas"58 (Ibid. , p. 782).
Aqui se constata mais uma vez que a Igreja na Palestina, não 
considerava os deuterocanônicos do AT contrários à Fé, pois neste 
caso não serviriam “para a edificação das pessoas". Mas pelo fato 
de não serem considerados canônicos, não eram usados para ex­
trair provas da fé ou “para darem suporte à autoridade das doutri­
nas eclesiásticas".
Escritos posteriores atestam que São Jerônimo mudou sua 
opinião quanto ao livro de Judite, que no prefácio aos livros de 
Samuel e Reis, ele relaciona entre os aprócrifos. No prefácio a este 
livro, traduzido depois dos Livros de Samuel' e Reis, São Jerônimo 
acaba por reconhecer sua canonicidade:
“Entre os Judeus, o livro de Judite é considerado apócrifo; /.../. 
Além disso, desde que fo i escrito na língua Caldéia, é contado entre 
os livros históricos. Mas, desde o Concilio de Nicêia é contado jun to 
ao número das Escrituras Sagradas, eu tenho me submetido à sua 
decisão (ou deveria dizer obrigação!]: e, meu outro trabalho o despre­
zou59, pelo qual eu estava forçosamente entretido, por ter trabalhado 
à noite, traduzindo de acordo com o sentimento do que literalmente. 
[...] Fiz saber no Latim somente o que eu encontrara expresso coeren­
temente nas palavras em Caldeu. Receba a viúva Judite, exemplo de 
castidade, e com elogio triunfante aclamá-la com eterna celebração 
pública. Não somente pelas mulheres, mas também pelos homens, 
ela fo i dada como um modelo por quem retribuiu sua castidade, quem 
atribuiu-lhe tal virtude que ela conquistou o inconquistável no seio 
da humanidade, e superou o insuperável” (JERONIMO, 2004).
Importante dizer também que os acréscimos de Daniel, que 
foram recusados pelos rabinos em Jâmnia, tinham sua canonicidade
!,/ Mais uma vez Baruc e a Carta de Jerem ias não configuram na lista dos livros que não são 
canônicos.
;,s Fragmento traduzido pelo autor.
^ Provavelmente S. Jerônim o esteja se referindo aos prefácios dos Livros de Samuel e Reis.
63
reconhecida na Igreja da Palestina. É o que se verifica pelas pala­
vras de São Jerõnimo em sua carta endereçada a Rufino, intitulada 
"Apologia contra Rufino”:
“33. Em relação a Daniel [o livro], minha resposta será: eu não 
disse que ele não era um profeta: ao contrário, eu confessei logo ao 
início do prefácio que ele era um profeta. No entanto, eu quis mostrar 
qual era a opinião sustentada pelos judeus e quais eram os argu­
mentos em que confiavam para provar isto. Eu disse também ao lei­
tor que a versão lida nas igrejas cristãs não era aquela dos traduto­
res da Septuaginta, mas a de Teodocião.
É verdade que eu disse que a versão da Septuaginta deste livro 
[de Daniel] era muito diferente do original e que fo i condenada pelo 
correto julgamento das igrejas de Cristo; mas a culpa não fo i minha - 
pois somente mencionei o fa to -, mas daqueles que leram a referida 
versão. Nós temos quatro versões para escolher: a de Áquila, a de 
Símaco, a dos Setenta, e a de Teodocião.
As igrejas optaram por ler Daniel na versão de Teodocião. 
Que pecado eu cometi ao seguir o ju lgam ento das igrejas? Mas 
quando eu repito o que os ju d eu s d izem contra a h istória de 
Susana, o cântico dos três jovens e a estória de Bel e o Dragão, os 
quais não se encontram na Bíblia hebraica, o homem que fa z dis­
to um empreendimento em meu desfavor prova a si mesmo ser 
um tolo e um psícopata, uma vez que eu explanei não o meu p ró ­
prio pensamento, mas o que eles [os jud eus ] geralmente dizem 
contra nós.
Eu não refutei a opinião deles [os judeus] no prefácio porque 
procurei ser breve e temia que parecesse estar escrevendo não um 
Prefácio, mas um livro. Eu disse, entretanto, que ‘a respeito disto não 
é agora o momento para se entrar nessa discussão’.
Por outro lado, eu relatei que Porfirio disse muitas coisas contra 
este profeta, e chamei, como testemunhas disto, Metódio, Eusébio, e 
Apolinário, que refutaram sua estupidez em muitos milhares de li­
nhas, isto estará em seu poder para acusar-me por não excluir o es­
crito em meu Prefácio contra os livros de Porfirio.
Se houver alguém que preste atenção a coisas tolas como esta, 
devo dizer-lhe em alto tom e sem culpa que ninguém está obrigado a 
ler o que não deseja; eu escrevi para aqueles que me perguntaram,
64
não para aqueles que me desprezariam; para os agradecidos, não 
para os ingratos: para os sérios, não para os indiferentes.
Ademais, fico estupefato por ver como um homem [talvez seja 
Rufino] poderia ler a versão de Teodocião, o herege e judaizante, e 
desprezar o que provém de um cristão [Jerônimo/, embora possa este 
ser simples e pecador “(JERONIMO, 2005).60
Como se vê, a discussão é sobre as partes deuterocanõnicas 
do livro de Daniel, que não foram aceitas pelos judeus da Palestina.
São Jerônimo declara que as críticas feitas a elas, não são 
suas, mas um registro do que os Judeus pensavam: “uma vez que 
eu explanei não o meu próprio pensamento, mas o que eles [o s ju - 
deus/geralmente dizem contra nós". A expressão “contra nós” é muito 
significante, pois mostra que os judeus tinham um pensamento 
divergente do pensamento comum da Igreja antiga.
O trecho mostra também que São Jerônimo não partilhava do 
pensamento dos judeus sobre os acréscimos de Daniel: “Eu não 
refutei a opinião deles [os judeus] no prefácio porque procurei ser 
breve [.../ Eu disse, entretanto, que 'a respeito dislo não é agora o 
momento para se entrar nessa discussão’”.
Em sua carta a Paulino, Bispo de Nola, encontramos sua lista 
dos livros para o Novo Testamento:
“9. [.../ O Novo Testamento eu tratarei momentaneamente de 
Mateus, Marcos, Lucas, e João são ao todo quatro, o verdadeiro 
querubim (o qual significa "abundância de conhecimento”), [...] O 
apóstolo Paulo escreve a sete igrejas (para a oitava tal carta, aquela 
aos Hebreus, ê colocada fora do número das cartas paulinas pela a 
maioria); instrui o Timóteo e o Tito; intercede com o Filemon por seu 
escravo fugitivo. A respeito de Paulo eu prefiro permanecer quieto do 
que escrever somente poucas coisas. Os Atos dos Apóstolos parece 
relacionar-se a uma história revelada e descrever a infância da Igre­
ja nascente; mas se nós soubemos que seu escritor fo i Lucas o médi­
co, “cujo o elogio está no Evangelho" nós observaremos do mesmo 
modo que todas suas palavras são medicina para a alma doente. Os 
apóstolos Tiago, Pedro, João e Judas produziram sete epístolas mís­
ticas e concisas, curtas e longas, isto é, curtasnas palavras mas lon­
U1 Fragm ento traduzido pelo autor e Carlos M artins Nabeto.
65
gas no pensamento de modo que houvesse poucos que não se im­
pressionassem profundamente ao lê-las. O Apocalipse de João tem 
tantos mistérios quanto tem palavras. Eu disse demasiado pouco em 
comparação com o que o livro merece; todo o elogio a ele é inadequa­
do, para cada uma de suas palavras múltiplos significados mentiro­
sos se escondem. Eu imploro a você, caro irmão, viva entre estes 
livros, medite em cima deles, para conhecer nada mais, para procu­
rar nada mais Í...J’61 (JERONIMO, 2006a, p .195-196).
Em um escrito seu posterior, uma carta escrita a Darnado, 
prefeito da Gália, São Jerônimo comenta a canonicidade da Carta 
aos Hebreus e do Apocalipse:
“Isto deve ser dito a nosso povo, que aquela epístola que é 
intitulada 'aos Hebreus’ é aceita como do apóstolo Paulo não somen­
te pelas igrejas do leste mas por todos os escritores da igreja de lín­
gua grega dos tempos mais remotos, embora muitos a ju lguem para 
ser de Bamabé ou de Clemente. Agora não é importante quem é o 
autor, desde é trabalho de um homem da igreja e recebido reconheci­
damente dia a dia na leitura pública das igrejas. Se o costume dos 
Latinos não o recebe entre os escrituras canônicas, de outro modo, 
pela mesma liberdade, fazem as igrejas dos gregos por aceitam o 
Apocalipse de João. Contudo nós aceitamo-los ambos, não seguindo 
o costume do tempo atual mas o precedente, dos escritores antigos, 
que geralmente fizeram uso livremente dos testemunhos de ambos 
os trabalhos. E isto eles fizeram, não querendo na ocasião citar escri­
tos apócrifos, como fizeram ao usar exemplos da literatura pagã, mas 
tratando-os como trabalhos canônicos e eclesiásticos’’62 (JERONIMO, 
2006b).
Percebemos nas palavras de São Jerônimo que ainda no sé­
culo IV havia divergências quanto à canonicidade da carta aos 
Hebreus e o Apocalipse.
6. São Gregório de Nazianzeno
São Gregório teve como pai Gregório Sênior, este Bispo de 
Nazianzo (sudeste da Capadócia). Foi amigo pessoal de Basílio Mag-
61 Fragm ento traduzido pelo autor.
62 Ibid.
66
à
no e de Gregório Nisseno, formando com eles o grupo que então 
ficaria conhecido como “Os Três Capadócios”. Foi ordenado sacer­
dote em 361 pelo próprio pai e com a morte deste assumiu por 
pouco tempo a Igreja de Nanzianzo. Por sua iniciativa reúne-se em 
381 o Concilio de Constantinopla63 e durante sua realização, São 
Gregório Nanzianzeno torna-se Bispo de Constantinopla, Seu Epis- 
copado64 na nova capital do Império é repentino e volta a viver em 
Nanzianzo como Bispo. Dois anos mais tarde entrega o Episcopado 
a seu prim o Eu lá lio e v ive seus ú ltim os dias em A rian zo 
(BERARDINO, 2002, verb. Gregório Nanzianzeno, p. 653).
Sobre os livros sagrados se expressou desta forma:
“Não permita que outros livros seduzam sua mente: pois muitos 
escrítos malignos foram disseminados. Os livros históricos no núme­
ro de são doze conforme são contados entre os Hebreus. De Moises 
são os cinco prim eiros, Gênesis, Êxodos, Levítico, Núm eros e 
Deuteronômio. Depois, Josué o filh o de Nave, sexto, e o livro dos 
Juizes e Rute, contado como sétimo. E dos outros livros históricos, o 
primeiro e segundo livros dos Reis são entre os Hebreus um livro; 
também o terceiro e quarto em um livro. E da mesma, o primeiro e 
segundo das Crônicas são com eles um só livro, e o primeiro e segun­
do Esdras65 são contados como um. Estes são os escritos Históricos. 
Mas aqueles que são escritos em versos são cinco, Jó, e o livro dos 
Salmos, e Provérbios, e Eclesiastes, e o Cântico dos Cânticos, o qual 
é o décimo-sétimo livro. E depois destes vem os 5 livros Proféticos: 
dos Doze Profetas em um livro, de Isaías em um, de Jeremias66 em 
um, incluindo Lamentações e a Epístola; então Ezequiel, e o Livro de 
Daniel, o vigésimo-segundo do Antigo Testamento. Mas, agora conte­
mos também os livros do Novo Mistério: Mateus de fa to escreveu para 
os Hebreus os milagres de Cristo, e Marcus para a Itália, Lucas para 
a Grécia, João, o maravilhoso pregador para todos, andando no céu. 
Então os Atos dos apóstolos, e as quatorze epístolas de Paulo, e sete 
epístolas católicas, as quais Tiago uma, duas de Pedro, três de João
G3 Contado com o o Segundo Concilio Ecumênico.
04 M in istério do Bispo
05 Corresponde ao 2 Esdras da Septuagmta, isto é Esdras e Neemias. 
66 Jerem ias e Baruc conform e a Septuaginta.
67
l
i
tumhé-m. K a sétima ó a de Judas. Você tem tudo. Se houve outros 
além destes, não estão entre os livros genuínos"67 (NANZIANZENO, 
2006).
Dos deuterocanônicos do AT, São Gregório Nanzianzeno rela­
ciona a E p ísto la de Jerem ias. Con form e a o rgan ização da 
Septuaginta, é bem provável que Baruc estivesse contado junto com 
o livro de Jeremias.
Não há qualquer menção ao livro de Ester.
7. Anfilóquio de Icônio
Anfilóquio de Icônio foi sobrinho de São Gregório Nanzianzeno, 
filho de sua irmã Gorgônia (Ibid.). Foi Bispo de Icônio na Gália. 
Sobre os Escritos Sagrados registrou:
“A/os devemos saber que não todo livro que é chamado Escritura 
deve ser recebido corno uma guia seguro. Para algum são tolerados e 
outros são mais do que duvidosos. Conseqüentemente os livros os quais 
a inspiração de Deus fo i atribuída, eu irei enumerar. Os livros de Moises 
são os cinco prim eiros, Gênesis, Êxodos, Levítico, Núm eros e 
Deuteronômio. Depois, Josué o Jilho de Navé, e o livro dos Juizes, in­
cluindo Rute, contado como sétimo. E dos outros livros históricos, o 
primeiro e segundo livros dos Reis são entre os Hebreus um livro; tam­
bém o terceiro e quarto em um livro. E da mesma, o primeiro e segundo 
das Crônicas são com eles um só livro, e o primeiro e segundo Esdras68 
são contados como um. Ester é o décimo segundo livro; e estes são os 
escritos Históricos. Os escritos em versos são cinco, Jó, e o livro dos 
Salmos, e Provérbios, e Eclesiastes, e o Cântico dos Cânticos, o qual é 
o décimo-sétimo livro. Cinco livros Proféticos: dos Doze Profetas em um 
livro, de Isaías em um, de Jeremias69, Lamentações e a Epístola, um só 
livro; então Ezequiel, e o Livro de Daniel, o vigésimo-segundo do Anti­
go Testamento. É apropriado aqui fa lar sobre os livros do Novo Testa­
mento. Receba somente quatro evangelistas: Mateus, então Marcos, a 
quem tenha adicionado Lucas como terceiro, contando João como o 
quarto no tempo, mas o primeiro pela grandeza de seus ensinos, que
67 Fragmento traduzido pelo autor.
68 Cf. nota 65.
69 Cf. nota 59.
68
me fa z chamá-lo com todo direito de um filho do trovão, anunciando 
maravilhosamente a palavra de Deus. E receba também o segundo 
livro de Lucas, aquele dos Atos católicos dos apóstolos. Adicionar em 
seguida ao elenco escolhido, o arauto dos Gentios, apóstolo Paulo, que 
escreveu com sabedoria às igrejas duas vezes sete epístolas: aos Ro­
manos uma, a qual deve-se adicionar duas aos Coríntios, aos Gálatas, 
e aos Efésios, depois aos Filipenses, depois aos Colossenses, duas 
aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, e a Tito, a Fílemon, uma cada, e 
uma aos Hebreus. Mas alguns dizem que essa carta aos Hebreus é 
espúria, não falando bem dela, porque a graça é genuína. Bem, quais 
restam? Das epístolas católicas, alguns dizem que nós devemos rece­
ber sete, mas outros dizem que somente três devem ser recebidas que 
são Tiago, uma, uma de Pedro, e aquela de João, uma. Alguns rece­
bem três de João, e além destas, de duas de Pedro, e aquela de Judas 
como sétima. E outra vez a Revelação de João, é aprovada por alguns, 
mas a maioria a considera apócrfa. Este é talvez seja o cãnon mais 
coTiflável das divinas Escrituras inspiradas"70 (ANFILOQUIO, 2006).
Do AT, a lista de Anfilóquio é bem semelhante à de São Gregório 
Nanzianzeno, onde o primeiro relaciona Ester entre os canônicos e 
o segundo não.
Anfilóquio nos faz perceber que ainda em seu tempo perma­
necem as controvérsias sobre os deuterocanônicos do NT.
8. São Epifânio de Salamina
Epifânío nasceu entre 310 e 320em Eleuterópolis, no sul da 
Palestina. Passou a juventude em busca de formação cristã nos 
mosteiros do Egito. Foi Bispo de Constância, antiga Salamina, hoje 
Fagusta na costa oriental da ilha do Chipre. Foi o iniciador da con­
trovérsia origenista na Palestina, quando ao visitar Jerusalém em 
393, por ocasião de uma festa local, prega contra os ensinamentos 
de Origines, entrando em conflito com João71, Bispo de Jerusalém 
e favorável ao origenismo72. Faleceu aproximadamente em 12 de 
maio de 403. (DROBNER, 2003, p. 316-317).
70 Traduzido pelo autor.
71 Sucessor de São Cirilo corno Bispo de Jerusalém.
72 Nesta controvérsia se envolverão mais tarde Rufino e São Jerônimo.
69
Em sua obra “Panarion” constam os livros que considerou 
sagrados:
“Os livros do Antigo Testamento são Gênesis, Êxodos, Levíiico, Nú­
meros, Deuteronômio, Josué Jilho de Num, Juizes, Rute, Job, Salmos, Pro­
vérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Primeiro Reis, Segundo Reis, 
Terceiro Reis, Quarto Reis, Um das Crônicas, Segundo Crônicas, os Doze 
Profetas, Isaías, Jeremias com as Lamentações, a Epístola e Baruc73, um; 
Ezequiel Daniel; Esdras, primeiro e segundo e Ester. Estes são os vinte e 
dois livros dados por Deus aos Judeus. Foram contados como vinte e dois, 
o número das letras hebraicas, desde então dez livros estão repetidos e 
contados como cinco [...] Há também outros dois livros próximo a eles na 
substância, a Sabedoria de Sirac e a Sabedoria de Salomão, além de al­
guns outros livros apócrifos. Todos estes livros sagrados ensinaram tam­
bém ao Judaísmo as coisas mantidas pela lei até a vinda de Nosso Senhor 
Jesus Cristo"™ (EPIFANIO, 2006).
Quanto aos livros deuterocanônicos do AT, Santo Epifânio re­
laciona Baruc e a Epístola de Jeremias. Menciona as Sabedorias de 
Sirac e de Salomão como próximos aos livros demais em substân­
cia. Isso mostra que ele não considerava os ensinamentos destes 
livros contrários à fé, “além de alguns outros livros aprócrifos", pro­
vavelmente se referindo aTobias, Judite, 1 e 2 Macabeus.
Ele conta o livro de Ester entre os canônicos. Sobre o NT as­
sim se referiu:
“Se você fo i tomado pelo Espírito Santo e instruído nos profetas e nos 
apóstolos, você deve ter começado do início da Gênesis do mundo até que 
os tempos de Ester em vinte e dois livros do Antigo Testamento, que estão 
numerados também como vinte e dois, também nos quatro Evangelhos 
sagrados, e em quatorze epístolas do santo apóstolo Paulo, e nos escritos 
que vieram antes destes, incluindo os Atos dos Apóstolos em suas épocas 
e as epístolas católicas de Tiago, de Pedro, de João e de Judas, e na Reve­
lação de João, e nos livros da Sabedoria eu considero aquelas de Salomão 
e do Jilho de Sirac [Sabedoria de Sirácida ou Eclesiástico[ em resumo, to­
das os escritos divinos f. . . / ’75 (Ibid.).
73 Cf. a organização da Septuaginta
74 Fragmento traduzido pelo autor.
75 Fragmento traduzido pelo autor.
70
Quanto ao NT, Santo Epifânio considera canônicos os mes­
mos livros que normalmente hoje são. Recomenda a Sabedoria de 
Sirac e de Salomão para a instrução dos fiéis.
9. Santo Hilário de Poitiers
Santo Hilário provavelmente nasceu em Pictavís, hoje Poitiers, 
no início do séc. IV. Recebeu o batismo na vida adulta por volta de 
350. Aproximadamente em 355 tornou-se Bispo de Poitiers. Junta­
mente com Santo Atanásio, foi um dos principais defensores da Fé 
nicena contra os arianos; e por esta razão sofreu o exílio por diver­
sas vezes. Faleceu em 367 (DROBNER, 2003, p. 265-266).
Em seus escritos só encontramos menção à lista dos livros do AT;
“Há vinte e dois livros do Antigo Testamento porque este núme­
ro corresponde ao número de suas letras [hebraicas]. São contados 
assim de acordo com a antiga tradição: os livros de Moisés são cinco, 
Josué Jilho de Num o sexto, Juizes e Ruth o sétimo, primeiro e se­
gundo reis os oitavos, os terceiro e os quarto [reis] os nonos, os dois 
das Crônicas form am dez. Esdras o décimo primeiro, o livro dos Sal­
mos o décimo segundo: de Salomão os Provérbios, o Eclesiastes, e o 
Cântico dos Cânticos são o décimo terceiro, décimo quarto, e o décimo 
quinto, os doze Profetas décimo sexto; então Isaías e Jeremias (com 
as Lamentações e a Epístola); e Daniel; e Ezequiel; e Jô; e Ester ter­
minam o número dos livros em vinte e dois. A estes alguns adicio­
nam Tobias e Judite formando vinte e quatro livros, de acordo com o 
número das letras gregas, que é a língua usada entre Hebreus e gre­
gos recolhidos em Roma76" . (HILÁRIO, 2006).
Como vimos, Santo Hilário de Poitiers, dos deuterocanônicos 
do AT, pessoalmente reconhece a Epístola de Jeremias e provavel­
mente Baruc, que sempre a acompanhava segundo a organização 
da Septuaginta.
Mostra que alguns reconheciam também como canônicos 
Tobias e Judite.
76 Fragmento traduzido pelo autor.
71
Testemunhos do séc V
1. Pana Inocêncio
Aos 20 de fevereiro de 405, o Papa Inocêncio I (401-417) envia 
a carta “Consulenti tibi” a Exupério, Bispo de Tolosa, onde enume­
rou os livros que eram considerados canônicos em Roma:
“Quais os livros aceitos no cãnon das Escrituras, o breve apên­
dice o mostra. Cinco livros de Moisés, isto é, Gênesis, Êxodo, Levítico, 
Números, Deuteronômio, um livro de Josué filh o de Nun, um livro 
dos Juizes, quatro livros dos Reinos e Rute. Dezesseis livros dos Pro­
fe tas77, cinco livros de Salomão, o Saltério, Livros históricos: um livro 
de Jó, um de Tobias, um de Ester, um de Judite, dois dos Macabeus, 
dois de Esdras, dois dos Paralipômenos. Do Novo Testamento: qua­
tro livros dos Evangelhos, quatorze epístolas do Apóstolo Paulo, três 
de João, duas de Pedro, uma de Judas, uma de Tiago, os Atos dos 
Apóstolos, o Apocalipse de João" (BETTENCOURT, 2001, p.56).
Este é o primeiro pronunciamento de um Papa a respeito do 
Canon Bíblico.
2. Santo Agostinho
Santo Agostinho nasceu em Tagaste (Numídia) em 13 de No­
vembro de 354, filho de Patrício e Mônica. O Pai pequeno proprietá­
rio de terra e conselheiro municipal, a mãe piedosíssima cristã. Foi 
professor de retórica em Roma e Milão, amplo conhecedor da lín­
gua e cultura latinas. Tornou-se fervoroso anticatólico professando 
a doutrina dos maniqueus, até que aos 32 anos após ouvir a prega­
ção do Bispo de Milão, Santo Ambrósio, decide tomar-se católico. 
Recebeu o batismo no dia 25 de abril, num sábado, durante a festa 
da Páscoa em 387. Em 391 na cidade de Hipona (África) é sagrado 
sacerdote. Nesta época funda um mosteiro. Toma-se Bispo de Hipona 
em 397. Durante seu Ministério combate com altivez as heresias 
dos maniqueus e dos pelagianos. Morreu em Hipona a 28 de agosto 
de 430 durante a invasão dos bárbaros.
77 Estes livros sáo m elhores detalhados na lista de S. Agostinho, logo'a seguir.
72
Em sua obra “A doutrina Cristã”, que é um tratado de exegese78 
bíblica, o então Bispo de Hipona relatou quais os livros que na Á fri­
ca79 eram considerados canônicos:
“O Cãnon completo das Sagradas Escrituras, ao qual se refe­
rem as considerações precedentes, compreende os seguintes livros: 
cinco de Moisés, a saber: o Gênesis, o Exodo, o Levítico, os Números 
e o Deuteronômio: um livro de Jesus, Jilho de Nave [Josué] e um dos 
Juizes; um livrinho intitulado Rute, o qual parece pertencer ao come­
ço da história dos Reis; seguem-se os quatro dos Reinos e dois dos 
Paralipômenos que são a sua seqüência, mas por assim dizer uma 
complementação. Todos esses livros são narração histórica que con­
tém o desenvolvimento das épocas■ e a ordem dos acontecimentos. 
Há outras histórias de tipo diferente que não possuem conexão com a 
ordem dos acontecimentos anteriores, nem se relacionam entre si, 
como os livros de Jó, de Tobias, de Ester, de Judite, os dois livros dos 
Macabeus, e os dois de Esdras80. Estes parecem seguir antes aquela 
h is tó ria que fica ra suspensa com os liv ros dos R eis e dos 
Paralipômenos. Depois seguem os Profetas, entre os quais se encon­
tra um livro de Davi, os Salmos, três de Salomão: os Provérbios, o 
Cânticodos Cânticos e o Eclesiastes. Outros dois dos quais um é a 
Sabedoria e o outro, o Eclesiástico, são atribuídos a Salomão por cer­
ta semelhança com os predecessores, mas comumente se assegura 
que quem escreveu fo i Jesus, filho de Sirac. E, como mereceram ser 
recebidos com autoridade, devem ser contados entre os livros profé­
ticos. Os livros restantes são os propriamente chamados dos Profe­
tas. Doze são esses livros, correspondendo cada qual a um profeta. 
Como estão conexos e nunca foram separados, são contados como 
um só livro. Eis os nomes dos profetas: Oséias, Joel, Amós, Abdias, 
Jonas, M iquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e 
Malaquias. Em seguida, os quatro livros dos grandes profetas: Isaías, 
Jeremias82, Daniel e Ezequiel.
78 Estudo para entender as Sagradas Escrituras
79 Esta obra de S. Agostinho foi escrita depois da realização de vários Concílios Africanos, 
que definiram para o continente os livros canônicos, com o verem os no próxim o capítulo.
80 Esdras e Neemias.
81 Jerem ias, Lam entações de Jeremias e Baruc conform e a Septuaginta.
73
Estes quarenta e quatro livros possuem autoridade no Antigo 
Testamento. Quanto ao Novo Testamento, compreende os quatro li­
vros do Evangelho segundo são Mateus, são Marcos, são Lucas e 
são João; as quatorze cartas de são Paulo: uma aos Romanos, duas 
aos Coríntios, uma aos Gaiatas, uma aos EJésios, wna aos Filipenses, 
duas aos Tessalonicenses, uma aos Colossenses, duas a Timóteo, 
uma a Tito, uma a Filêmon e uma aos Hebreus82; as duas de são 
Pedro, as três de são João; o livro único dos Atos dos Apóstolos e 
outro único de são João intitulado Apocalipse" (AGOSTINHO, 2002, 
pg. 96-97).
O Canon relatado por Santo Agostinho é o mesmo que figura 
nas Bíblias Católicas.
Testemunho do séc V III
São João Damasceno
São João Damasceno pertence à família árabe-cristã dos 
Mansur. Nasceu por volta de 650 em Damasco. Cresceu próximo 
ao califa Yazid e exerceu importantes cargos na corte. No tempo do 
califa Abd al Malink (685-705), por causa de sua discriminação aos 
cristãos, São João é obrigado a deixar o cargo. Por volta de 706 é 
ordenado sacerdote por João, Bispo de Jerusalém. Em 722 ingres­
sa no mosteiro de São Sabas, perto de Jerusalém, onde viveu o 
restante de sua vida, vindo a falecer em aproximadamente 750. 
Envolve-se na questão iconoclasta a favor das imagens e ícones 
sacros. Segundo a Tradição, o Segundo Concilio de Nicéia83 apoiou- 
se em seus escritos para condenar a heresia iconoclasta. Seus es­
critos encerram o período dos Santos Padres gregos.
Sua lista de livros canônicos vem de sua obra “Exposição da 
Fé Ortodoxa" (Livro IV, capítulo XVIII):
“Observe, mais adiante, que há vinte e dois livros do Antigo 
Testamento, um para cada letra do alfabeto hebraico. Portanto são
82 Em nota da edição em língua portuguesa pela ed. Paulus, observa-se que os críticos 
agostinianos apuraram que a partir de 409, data posterior a este escrito de Agostinho, o 
m esm o não mais cila essa epístola com o sendo de Paulo.
83 Contado com o o Sétim o Concilio Ecumênico.
74
vinte e duas letras das quais cinco estão em dobro, e então tomam-se 
vinte e sete. Para as letras Caph, Mere, Nun, Pe, Sade é dobro. E 
assim o número dos livros desta form a são vinte e dois, mas são 
encontrados em vinte e sete por causa cinco letras estão em dobro. 
Rute está jun to aos Juizes, e os Hebreus contam-nos como um livro; 
primeiro e segundo livros dos Reis são contados um; e são assim os 
terceiro e quarto livros dos Reis: e também o primeiro e segundo de 
Paralipômenos; e o primeiro e segundo de Esdras. Desta maneira, 
então, os livros estão organizados juntos em quatro Pentateucos e 
dois outros, formam assim os livros canônicos. Cinco deles são da 
Lei, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. Isto o qual é o 
código da Lei, constitui o primeiro Pentateuco. Vêm então um outro 
Pentateuco, então chamado o Grapheia, ou enquanto é chamado por 
alguns, o Hagiógrafo, que são os seguintes: Jesus o filho do Nave, 
Juizes junto com Rute, primeiro e segundo Reis, que são um livro, 
terceiro e quarto Reis, que são um livro, e os dois livros dos 
Paralipômenos que são um livro. Este é o segundo Pentateuco. O ter­
ceiro Pentateuco são os livros em verso, a saber, Jó, Salmos, Provér­
bios de Salomão, Eclesiastes de Salomão e o Cântico dos Cânticos 
de Salomão. O quarto Pentateuco são os livros Proféticos, a saber os 
doze profetas constituindo um livro, Isaias, Jeremias, Ezequiel, Daniel. 
Vêm então os dois livros de Esdras como um único, e Ester. Há tam­
bém o Panareto, que é a Sabedoria de Salomão, e a Sabedoria de 
Jesus (filho de Sirac], que fo i publicado no Hebreu pelo pai cie Sirac, 
e traduzido mais tarde no grego por seu neto, Jesus, filho de Sirac. 
Estes são virtuosos e nobres, mas não são contados nem eram colo­
caram na arca.
O Novo Testamento contém quatro evangelhos, segundo Mateus, 
segundo Marcos, segundo Lucas, segundo João; os Atos dos Santos 
Apóstolos por Lucas o Evangelista; sete epítolas católicas, a saber; 
uma de Tiago, duas de Pedro, três de João, uma de Judas: quatorze 
cartas do Apóstolo Paulo; a Revelação de João o Evangelista: os 
Cânones dos Santos Apostólos, por Clemente" (DAMASCENO, 1955).
Dos deuterocanônicos do AT, as Sabedorias de Sirac e Salomão 
“são virtuosos e nobres”. A Epístola de Jeremias e Baruc estão con­
tidos no título geral “Jeremias”, onde também constavam o livro de 
Jeremias e as Lamentações, conforme a Septuaginta.
75
Ao NT ele adiciona “os Cânones dos Santos Apóstolos”, prova­
velmente fazendo referência a um conjunto de escritos antigos 
intitulados “Constituições Apostólicas” ou “Constituições dos 12 
Apóstolos”84.
Testemunho do séc X II
Hugo de São Vitor
Hugo de São Vitor nasceu na Saxônia (um dos 16 estados da 
Alemanha, situado no leste do país) no ano de 1096. Movido pela 
vocação religiosa, ainda muito jovem, ingressou no Mosteiro de São 
Vitor (Paris), onde residiu até sua morte em 1141. É considerado 
um grande pedagogo, e muitos trabalhos em Pedagogia fazem men­
ção às suas obras. Esta é a sua relação dos livros canônicos:
“4. Divisão das Sagradas Escrituras em dois Testamentos, cada 
um dividido em três ordens.
Toda a Sagrada Escritura está contida em dois Testamentos, o 
A ntigo e o Novo Testam ento. Em cada testam ento podem ser 
distinguidas três ordens. O Antigo Testamento contém a Lei, os Proje­
tas e os Hagiógrafos. O Novo Testamento contém o Evangelho, os 
Apóstolos e os Padres.
5. Elenco dos Livros das três ordens do Velho Testamento.
A primeira ordem do Velho Testamento é a Lei, que os judeus 
chamam de Torá. A Lei é formada pelos cinco livros de Moisés, cha­
mados, em seu conjunto, de Pentateuco. O primeiro destes livros é o 
Gênesis, o segundo o Êxodo, o terceiro o Levítico, o quarto o Livro dos 
Números, o quinto o Deuteronômio.
A segunda ordem do Velho Testamento é a dos profetas, que con­
tém oito volumes. O primeiro voluirte é o livro de Josué; o segundo, o 
livro de Juizes; o terceiro o Livro de Samuel, também chamado de Pri­
meiro e Segundo Livro dos Reis; o quinto é o livro de Isaías; o sexto, o 
livro de Jeremias85; o sétimo, o livro de Ezequiel; e o oitavo é o livro que 
contém as profecias dos doze profetas (menores).
Finalmente, a terceira ordem do Velho Testamento possui nove 
livros. O primeiro é o livro de Jó; o segundo é o livro de Davi [Ver nota
84 Esta obra é mencionada no próxim o capítulo.
85 Cf. nota 48.
76
2] ; o terceiro é o livro dos Provérbios de Salomão; o quarto é o 
Eclesiastes; o quinto ê o Cântico dos Cânticos; o sexto ê o livro de 
Daniel; o sétimo ê o livro dos Paralipômenos; o oitavo é o livro de 
Esdras; o nono é o livro de Ester. Todos estes livros são em número
f
de vinte e dois.
Há, ademais, outros livros, como o livro da Sabedoria de 
Salomão, o livro de Jesus Jilho de Sirac [Eclesiástico], o livro de Judite, 
o livro de Tobias e os livros dos Macabeus que são lidos mas não se 
incluem noCãnon.
6. Elenco dos livros das três ordens do Novo Testamento.
A primeira ordem do Novo Testamento contém os livros dos qua­
tro Evangelhos, aqueles escritos segundo Mateus, Marcos, Lucas e 
João.
A segunda ordem, semelhantemente, contém também quatro li­
vros: as Epístolas de São Paulo, em número de quatorze, reunidas 
em um só livro, as demais Epístolas Canônicas reunidas em outro 
livro, o Apocalipse e os Atos dos Apóstolos.
Quanto à terceira ordem, o primeiro lugar corresponde aos 
Decretais da Igreja, aos quais também chamamos de cânones ou re­
gras; depois deles vêm os escritos dos santos padres e dos doutores 
da Igreja, como os de S. Jerônimo, S. Agostinho, S. Gregório, S. 
Ambrósio, S. Isidoro, Orígenes, S. Beda e muitos outros escritores 
ortodoxos, os quais são tão infinitos que não podem sequer ser conta­
dos. Seu tão grande número mostra o Jervor destes homens na Jé, 
por causa da qual deixaram aos seus pósteros tantas e tão memorá­
veis obras. Diante deles nossa preguiça se toma evidente, pois se­
quer conseguimos ler aquilo que eles puderam escrever “(HUGO, 
2006 ) .
Nos mosteiros, além das atividades da colheita, da produção 
de vinho, cerveja e perfumes, os monges também trabalhavam em 
traduzir os escritos bíblicos para a língua local (ou vernáculo). Para 
este trabalho espelhavam-se em São Jerônimo (considerado o Mes­
tre dos tradutores), e utilizavam a sua Vulgata como referência. 
Com efeito, influenciavam-se não somente pelo método do Mestre, 
mas também por suas idéias.
Hugo de São Vítor embora não tenha reconhecido pessoal­
mente a canonicidade dos livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Ecle­
77
siástico, 1 e 2 Macabeus (seguindo a opinião de São Jerônimo), 
testemunha que estes mesmos livros eram comumente usados pela 
Igreja. No cânon do NT ele também recebia os decretos da Igreja e a 
literatura dos Santos Padres.
Sobre os testemunhos primitivos
Iniciativas, tanto católicas quanto protestantes têm vinculado 
(principalmente em sítios na Internet) alguns dos testemunhos pri­
mitivos que aqui foram transcritos, procurando “provar” qual era a 
lista de livros canônicos estabelecida na Igreja dos primeiros sécu­
los.
Nenhum destes relatos pode ser utilizado com este intuito, 
pois o próprio conjunto mostra a incerteza que pairava na Igreja 
sobre este tema; e porque dentre eles não há o mais importante ou 
fiel. Todas as listas canônicas aqui transcritas não vieram de here- 
ges ou de grupos sectários, mas de homens comumente muito con­
siderados pela Igreja primitiva e medieval, dos quais muitos sofre­
ram o martirio ou o exílio por amor à Cristo. Mas, a partir deles 
devemos observar algumas coisas:
1. A Igreja dos primeiros tempos não adotou para o AT o Cânon 
Hebraico. Livros como Baruc, a Carta de Jeremias, Suzana e o livro 
Bel e o Dragão (os dois últimos como apêndices do Livro de Daniel) 
que constavam na Septuaginta foram consensualmente recebidos 
como canônicos;
2. Embora os primeiros cristãos seguindo o exemplo dos Após­
tolos usassem a versão da Septuaginta, nem todos os seus livros 
eram utilizados para a leitura nas Igrejas. Foram consensualmente 
recusados: 1 Esdras, 3 e 4 Macabeus, Odes e Salmos de Salomão;
3. Os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, 1 e 2 
Macabeus eram consensualmente utilizados. Em algumas regiões, 
recebidos como “canônicos”, em outras como “eclesiásticos”.
4. O livro de Ester não foi recebido como canônico por todos.
O Cânon Bíblico só começou a se estabelecer na Igreja, depois
que a lista de livros sagrados começou a figurar nas decisões Con­
ciliares. É deste assunto que trataremos no próximo capítulo.
78
C A P Í T U L O 6
Cânon das Escrituras Sagradas 
começa a se estabelecer na Igreja.
A s exortações individuais dos grandes Padres e Escritores da 
Igreja sobre os livros que por Tradição haviam sido recebidos 
como canônicos, não foram suficientes para minar a introdução de 
livros apócrifos na vida religiosa. Principalmente porque estas ini­
ciativas eram isoladas, e os livros apócrifos surgiam como de auto­
ria dos antigos Apóstolos.
Era necessário que remédios de maior abrangência e cons­
tância fossem utilizados contra o avanço da literatura dos grupos 
sectários e heréticos.
É neste contexto que a questão do Cânon Bíblico começou a 
ser assunto dos Concílios Provinciais, Regionais e Ecumênicos. Quais 
foram as determinações que estes Concílios tomaram em relação a 
tão importante assunto?
O Cânon de Muratori 
No séc. XVIII, o sacerdote italiano Ludovico Antonio Muratori, 
descob riu um m anuscrito datado do m esm o período , que 
correspondia à cópia do original, que muitos estudiosos acreditam 
ser do ano 150. É a referência mais antiga que se tem sobre o cânon 
bíblico do NT. Esta descoberta ficou conhecida como Cãnon de 
Muratori, levando o nome de seu descobridor.
Alguns crêem que este documento provavelmente trazia tam­
bém um cânon do AT, pois o início do documento foi perdido, res­
tando apenas um fragmento que corresponderia a uma segunda- 
parte, que então traz o cânon do NT. Vejamos então o conteúdo 
deste documento:
79
“[...] aos quais esteve presente e assim o fez.
O terceiro livro do Evangelho é o de Lucas. Este Lucas - médico 
que depois da ascensão de Cristo fo i levado por Paulo em suas via­
gens - escreveu sob seu nome as coisas que ouviu, uma vez que não 
chegou a conhecer o Senhor pessoalmente, e assim, a medida que 
tomava conhecimento, começou sua narrativa a partir do nascimento 
de João.
O quarto Evangelho é o de João, um dos discípulos. Questiona­
do por seus condiscípulos e bispos, disse: ‘Andai comigo durante 
três dias a partir de hoje e que cada um de nós conte aos demais 
aquilo que lhe fo r revelado’. Naquela mesma noite fo i revelado a 
André, um dos apóstolos, que, de conformidade com todos, João es­
crevera em seu nome.
Assim, ainda que pareça que ensinem coisas distintas nestes 
distintos Evangelhos, a fé dos fié is não difere, já que o mesmo Espí­
rito inspira para que todos se contentem sobre o nascimento, paixão 
e ressurreição [de Cristo], assim como s permanência com os discí­
pulos e sobre suas duas vindas - depreciada e humilde na primeira 
(que já ocorreu} e gloriosa, com magnífico poder, na segunda (que 
ainda ocorrerá ). Portan to , o que há de es tranho que João 
freqüentemente afirme cada coisa em suas epístolas dizendo: ‘O que 
uimos com nossos olhos e ouuimos com nossos ouuidos e nossas 
mãos tocaram, isto o escrevemos’? Com isso, professa ser testemu­
nha, não apenas do que viu e ouviu, mas também escritor de todas 
as maravilhas do Senhor.
Os Atos fo ra m escritos em um só livro. Lucas narra ao bom 
Teójilo aquilo que se sucedeu em sua presença, ainda que fa le bem 
por alto da paixão de Pedro e da víágem que Paulo realizou de Roma 
até a Espanha.
Quanto às epístolas de Paulo, por causa do lugar ou pela oca­
sião em que foram escritas elas mesmas o dizem àqueles que que­
rem entender: em primeiro lugar, a dos Coríntios, proibirido a heresia 
do cisma; depois, a dos Gálatas, que trata da circuncisão; aos Roma­
nos escreveu mais extensamente, demonstrando que as Escrituras 
têm como princípio o próprio Cristo.
Não precisamos discutir sobre cada uma delas, já que o mesmo 
bem-aventurado apóstolo Paulo escreveu somente a sete igrejas, como
80
fizera o seu predecessor João, nesta ordem: a primeira, aos Coríntíos; 
a segunda, aos Efésios; a terceira, aos Filipenses; a quarta, aos 
Colossenses; a quinta, aos Gálatas; a sexta, aos Tessalonicenses; e 
a sétima, aos Romanos. E, ainda que escreva duas vezes aos Corintios 
e aos Tessalonicenses, para sua correção, reconhece-se que existe 
apenas uma Igreja difundida por toda a terra, pois da mesma form a 
João, no Apocalipse, ainda que escreva a sete igrejas, está falando 
para todas.
Além disso, são tidas como sagradas uma [epístola] a Filemon, 
uma a TXto e duas a Timóteo: ainda que sejam filhas de um afeto e 
amor pessoal, servem à honra da Igreja católica eà ordenação da 
disciplina eclesiástica.
Correm também uma carta aos Laodicenses e outra aos 
Alexandrinos, atribuídas [falsamente] a Paulo, mas que servem para 
favorecer a heresia de Marcião, e muitos outros escritos que não po­
dem ser recebidos pela Igreja católica porque não convém misturar o 
fe l com o mel.
Entre os escritos católicos, se contam uma epístola de Judas e 
duas do referido João, além da Sabedoria escriia por amigos de 
Salomão em honra do mesmo.
Quanto aos apocalipses, recebemos dois: o de João e o de Pedro; 
mas, quanto a este último, alguns dos nossos não querem que seja 
lido na Igreja.
Recentemente, em nossos dias, Hermas escreveu em Roma 
‘O Pastor’, sendo que o seu irmão, Pio, ocupa a cátedra de bispo 
da Igreja de Roma. É. então, conveniente que seja lido, ainda que 
não publicamente ao povo da Igreja, nem aos Profetas - cujo nú­
mero já está completo nem aos Apóstolos - por ter terminado o 
seu tempo.
De Arsênio, Valentino e Melcíades não recebemos absolutamen­
te nada: estes também escreveram um novo livro de Salmos para 
Marcião, juntamente comBasíledes daÁsia [...]“86 (MURATORI, 2006).
No tocante ao AT, o fragmento do Cânon de Muratori só men­
ciona como canônico a Sabedoria de Salomão. Para o NT são men­
cionados: Os 4 evangelhos (embora haja menção a Mateus e Mar-
H,i Tradução de Carlos M artins Nabeto.
81
cos, se deduz que eram aceitos pelo fragmento mencionar Lucas 
como o terceiro Evangelho.), Atos, 13 cartas de Paulo (1 Coríntios, 
Efésios, Filipenses, Colossenses, Gálatas, Tessalonicenses, Roma­
nos, 2 Coríntios, 2 Tessalonicenses, Filemon, Tito, 1 Timóteo, 2 T i­
móteo), Judas, 1 e 2 João, Apocalipse de João. O fragmento do 
Cânon de Muratori não faz qualquer menção às cartas de Pedro, à 
terceira carta de João, à de Judas e à carta aos Hebreus, que não é 
relacionada com as demais cartas paulinas. Esta exclusão da Carta 
aos Hebreus às demais cartas paulinas, deve-se pelo fato de que 
ainda era controversa, ou a autoria de Paulo ainda era duvidosa.
O Cânon de Laodicéia
No tempo do Imperador Teodósio o Grande (347-395), foi con­
vocado um Concilio Regional na cidade de Laodicéia na Frigia, mais 
ou menos em 360. Os cânones deste Concilio são 59 na coleção dos 
50 títu los de João Escolástico e na de D ion ísio o Pequeno 
(BERARD1NO, 2002. Verb. Laodicéia, p. 809).
Algumas cópias posteriores das atas conciliares trazem o cânon 
60, cuja autenticidade é muito questionada entre os especialistas, 
principalmente por não constar nas cópias mais antigas.
O Cânon 60 traz determinações quanto aos livros canônicos, 
por isso achei importante transcrever para o leitor o seu conteúdo:
"Cãnon 60. Estes são todos os livros do Antigo Testamento indicados 
para leitura: Gênesis do Mundo, O Êxodo do Egito, Levítico, Números, 
DeiLteronômio, Josué filho de Num, Juizes, Rute, Ester; Dos Reis, Primeiro 
e Segundo; Dos Reis, Terceiro e Quarto; Crônicas, Primeiro e Segundo; O 
Livro dos Salmos; Os Provérbios de Saloinão; Eclesiastes; Cântico dos 
Cânticos, Jó, Os Doze Profetas; Isaías; Jerenrias, e Baruc, as Lamentações 
e a Epístola87; Ezequiel; Daniel, E estes são os livros do Novo Testamento: 
Os Quatro Evangelhos, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João; Os Atos 
dos Apóstolos; Sete Epístolas Católicas, uma de Tiago, duas de Pedro, três 
de João e uma de Judas; Quatorze Epístolas de Paulo, uma aos Romanos, 
duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, 
uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, uma aos Hebreus, duas 
a Timóteo, uma a Tito e uma a Filemorí' (LAODICÉIA, 2005).
87 Cf. a Septuaginta.
82
Constituições Apostólicas 
As Constituições Apostólicas foram o resultado da coletânea 
dos antigos cânones da Igreja, compilada em 8 volumes no final do 
séc. IV na Síria.
O Cânon 85 trata da relação dos livros que deveriam ser con­
siderados canônicos. Segundo alguns especialistas, esta lista foi 
adicionada provavelmente no final do séc. IV.
Quanto aos livros canônicos assim se expressa:
“Cãnon 85. Que seja permitido que os seguintes livros sejam 
apreciados como estimáveis e sagrados por todos vocês, clérigos e 
leigos. Do Antigo Testamento: os cinco livros de Mçisés, Gênesis, 
Éxodo, Levítíco, Números, e Deuteronômio; um de Josué o filho do 
Num; um dos Juizes; um de Rute; quatro dos Reis; dois das Crôni­
cas; dois de Esdras; um de Ester; um de Judit; três dos Macabeus; 
um de Jó; cento e cinqüenta Salmos; três livros de Salomão: Provérbi­
os, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos; dezesseis dos Profetas; cuide 
para que os iniciantes sejam instruídos com a Sabedoria do Sirac. E 
os nossos, isto é, do Novo Testamento, são os quatro Evangelhos, 
Mateus, Marcas, Lucas e João; os quatorze epístolas de Paulo; duas 
epístolas de Pedro; três de João; uma de Tiago; um de Judas; duas 
epístolas de Clemente; e as Constituições dedicadas à vocês, bispos, 
a mim, Clemente, em oito livros, os quais não são apropriados torna- 
rem-se públicos antes de tudo, por causa dos mistérios contidos ne­
les; e os Atos de nós, Apóstolos “ (CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS, 
2006).
O Cânon de Dâmaso 
Em 382 foi realizado um Concilio Regional em Roma. Neste 
concilio a questão dos livros que deveriam ser considerados 
canônicos também foi abordada. Pelo fato deste Concilio ter se rea­
lizado durante o Ministério do Bispo Romano Dâmaso (366-384 d.C.), 
este Cãnon Bíblico é conhecido como “Cânon de Dâmaso” ou “Cânon 
Damasceno”. Vejamos a relação dos livros mencionados:
"Tratemos agora sobre o que sente a Igreja Católica universal, 
bem como o que se dever ter como Sagradas Escrituras: um livro do 
Gênese, um livro do Êxodo, um livro do Levítico, um livro dos núme­
ros, um livro do Deuteronômio; um livro de Josué, um livro dos Juizes,
83
um livro de Rute; quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos; um 
livro do Saltério; três livros de Salomão: um dos Provérbios, um do 
Eclesiasles e um do Cântico dos Cânticos; outros: um da Sabedoria, 
um do Eclesiástico. Um de Isaías, um de Jeremias com um de Baruc88 
e mais suas Lamentações, um de ,,zequiel, um de Daniel; um de 
Joel, um de Abdias, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um 
de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de 
Ageu, um de Zacarias, um de Malaquias. Um de Jó, um de Tobias, 
um de Judite, um de Ester, dois de Esdras, dois dos Macabeus. Um 
evangelho segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas, 
um segundo João. [Epístolas:] a dos Romanos, uma; a dos Coríntios, 
duas; a dos Efésios, uma; a dos Tessalonicenses, duas; a dos Gálatas, 
uma; a dos Filipenses, uma; a dos Colossences, uma; a Timóteo, duas; 
a Tito, uma; a Filemon, uma; aos Hebreus, uma. Apocalipse de João 
apóstolo; um, Atos dos Apóstolos, um. [Outras epístolas:] de Pedro 
apóstolo, duas; de Tiago apóstolo, uma; de João apóstolo, uma; do 
outro João presbítero, duas89; de Judas, o zelota, uma “(NABETO, 
2006).
Cânones de Hipona, Cartago e Trullos
Em 8 de outubro de 393 é realizado o primeiro concilio plená­
rio das províncias africanas (Proconsular, Numída, Bizacena, 
Mauritânia, Tripolitânia), onde Santo Agostinho, que fora ordenado 
sacerdote dois anos antes, foi convidado a fazer o discurso de aber­
tura (BERARDINO, 2002, verb. Hipona. II. Concílios, p. 683).
O cânon 36 deste concilio define o cânone das Sagradas E s­
crituras:
“Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva 
ser lido na Igreja sob o nome ‘Divinas Escrituras’. E as Escrituras 
canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, 
Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, quatro livros dos Reinos90, dois
88 Baruc e a Epístola de Jeremias com o apêndice.
89 Na Igreja Antiga com um ente se cria que as duas últim as epístolas não eram de João 
Apóstolos, mas de um presbítero de m esm o nome.
90 1Trata-se dos dois livros de Samuel (1 Reis e 2 Reis) e os dois livros de Reis (3 Reis e 4 
Reis) segundo a Septuaginta.
84
livros dos Paralipômenos91, Jó, Saltério de Davi92, cinco livros de 
Salomão93, dozedeuterocanônicos do AT os acréscimos no livro 
de Ester (10,4 a 16,24) e no livro de Daniel (“O Cântico dos três 
jovens” correspondendo aos versículos 24 a 90 do capítulo 3; “His­
tória de Susana” e "Bel e o Dragão” correspondendo respectiva­
mente os capítulos 13 e 14).
Do NT são deuterocanônicos: 2 Pedro, 2 e 3 João, Tiago, Judas, 
Hebreus e o Apocalipse.
Não é escopo deste trabalho um estudo detalhado acerca das 
traduções e manuscritos bíblicos. No entanto este assunto será 
abordado na devida proporção no que concerne ao estabelecimento 
do Cânon Bíblico Cristão.
1 AT =A ntigoTestam ento . Conjunto dos livros canônicos que foram escritos antes de Cristo.
2 NT =NovoTestam ento. Conjunto dos livros canônicos que foram escritos depois de Cristo.
3 São os livros cuja inspiração divina não foi confirmada ou cujo conteúdo doutrinário não é 
confiável.
12
C A P Í T U L O 1
Qual é o conjunto dos Livros Canônicos?
A lgumas pessoas acreditam que é possível saber o conjunto 
dos livros canônicos, simplesmente porque a sua inspiração divi­
na é evidente. Este conceito além de ser bastante subjetivo, depen­
de também de conceitos e critérios de verificação ainda mais subje­
tivos. Por exemplo: quais atributos definem se um livro é inspirado 
ou não? Quais são os critérios de avaliação e verificação destes 
mesmos atributos? As opiniões seriam tão múltiplas quanto são as 
estrelas do céu.
De fato, nenhum autor dos livros do NT diz ter escrito sob o 
impulso do Espírito Santo, exceto São João, ao escrever o Apocalipse.
Ademais, ainda que cada livro da Bíblia começasse com a fra­
se: “Este livro é inspirado por Deus”, semelhante frase não provaria 
nada. Ora, o Alcorão diz ser inspirado, assim como o Livro do Mórmon 
e vários livros de religiões orientais. Ainda, os livros de Mary Baker 
Eddy (a fundadora da Ciência CristãJ e de Ellen G. White (fundado­
ra do Adventismo do Sétimo Dia) se proclamam inspirados e mui- 
los cristãos os rejeitam como tal. Pode-se concluir então, que o fato 
de um escrito atribuir a si qualidades de inspiração divina não quer 
dizer que assim o seja na realidade.
Diante destes argumentos, alguns recuam e afirmam que “o 
Espírito Santo nos diz claramente que a Bíblia é inspirada”, uma 
noção bastante subjetiva, que também pode ser usada por um hindu, 
mulçumano ou espírita, para afirmar que os Deuses, Alah ou os 
Espíritos, respectivamente lhes convencem que sua escritura é di­
vina.
Este mesmo exemplo se aplica ainda àqueles que afirmam 
que a inspiração divina de um livro pode ser verificada pela inspira­
ção que causa no crente. Argumento conhecido como “É inspirado
13
porque inspira”. Ora, note que há muitos escritos religiosos antigos 
que certamente são muito mais “inspirativos” ou “emotivos” do que 
muitos textos e até livros inteiros do AT. Veja, por exemplo, o livro 
de Números no AT. Será que com este critério é possível afirmar 
que o livro de Números é inspirado? No entanto, ele está presente 
em todas as Bíblias Cristãs.
Portanto, a fixação de um cânon bíblico, não está sujeita às 
opiniões alheias, fundamentadas em conceitos e métodos de verifi­
cação totalmente subjetivos e duvidosos.
A lgu n s a inda acred itam que a través dos livros 
consensualmente considerados canônicos (protocanônicos) é pos­
sível identificar dos demais. Esta proposta pode nos fornecer pistas 
importantes, mas infelizmente não é suficiente. Por exemplo, em 
Lucas 24,27.47 e João 10,34, aparecem as expressões “Moisés e os 
Profetas”, “Lei e os Profetas”, “Lei, Profetas e Salmos”, todas elas 
relacionadas ao conceito de Escritura Sagrada.
A expressão “Profetas” abrangeria quais livros? Datados da 
mesma época dos profetas existe uma infinidade de outros livros 
cuja autoria é atribuída aos antigos profetas do AT, no entanto, 
hoje não são considerados canônicos. Assim como existem outros 
cuja autoria profética ainda é duvidosa e são considerados canônicos 
por todos os cristãos. O mesmo se aplica aos Salmos. Existe um 
escrito chamado Salmo 151, considerado canônico apenas pela Igreja 
Ortodoxa. O que dizer de livros como Provérbios, Eclesiastes, Ester, 
Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e Josué? Fariam parte de qual gru­
po? Lei, Profetas ou Salmos? Ou estariam em um outro grupo cuja 
menção não se encontra em qualquer um dos livros protocanônicos?
Ainda, o AT faz referência a pelo menos 21 livros que hoje são 
considerados apócrifos (HAMMER, 2006). O mesmo acontece com 
o NT que menciona o “Ascensão de Moisés" (cf. Jd 1,9) e "O Livro de 
Henoc” (cf. Jd 1,14).
Pelas questões já aqui apresentadas e pelo fato da Bíblia não 
definir o seu conjunto de livros sagrados, o discernimento do Cânon 
Bíblico depende de algo que é exterior aos livros sagrados. Isto sig­
nifica que a Bíblia não se forma por si mesma e nem se autoriza por 
si própria. A sua legitimidade depende de algo que lhe é exterior. 
Por exemplo, o Pentateuco4 sempre foi considerado canônico pelos
14
judeus, não por si mesmos, mas porque tinham origem na Tradi­
ção5 judaica e em Moisés que tinha autoridade de seu legítimo Ma­
gistério (cf. Ex 18,13-14; Mt 19,7-8). Um outro exemplo são os es­
critos dos profetas. A autoridade destes livros não tinha origem em 
si mesmos, mas no anúncio dos profetas (Tradição), ou porque sua 
autoria é atribuída a homens que eram legitimamente autorizados 
por Deus (Magistério).
Desta forma, atribuição de autoridade divina a um livro, isto 
é, a definição de sua canonicidade sempre dependeu da autoridade 
de algo que é exterior ao livro: a Tradição que lhe deu origem (e que 
por tanto lhe é anterior) e o Magistério legitimamente estabelecido 
por Deus, reconhecido como seu legítimo guardião e difusor. Esta 
antiga e divina relação não se aplica somente ao Cãnon Bíblico. 
Alguns dos livros bíblicos não trazem o nome do autor (por exem­
plo, o Pentateuco e os 4 Evangelhos). A atribuição da autoria de 
muitos livros canônicos também dependeu da Tradição e do Magis­
tério divinos.
Vejamos como o Senhor se utilizou destes dois instrumentos 
para nos comunicar o que hoje conhecemos como a Bíblia.
4 Os Cinco prim eiros livros da Bíblia cuja autoria é atribuída a Moisés: Gênesis, Êxodo, 
Levítico, Núm eros e Deuteronôm io.
4 Tradição com "T " maiúsculo, não significa o conjunto de costum es desenvolvidos a partir 
de um conceito religioso ou conjunto doutrinário, mas a própria Revelação Divina
transm itida e conservada de forma oral ou escrita.
15
C A P Í T U L O 2
A Septuaginta ou Versão dos Setenta (L X X )
urante o reinado de Nabucodonosor6, as Escrituras Sagradas
hebraicas foram perdidas, por ocasião do cativeiro imposto ao 
povo judeu, que em aproximadamente 587 a.C. foi deportado de 
Jerusalém para a Babilônia. As Escrituras foram novamente cons­
tituídas no tempo do Profeta Esdras, durante o reinado de Artaxerxes 
(cf. Esd 9,38-41).
O conjunto de manuscritos hebraicos mais antigos que che­
garam até nosso tempo, é conhecido como Texto Massorético. Nesta 
compilação das Escrituras, o texto foi transcrito com a omissão das 
vogais. Com origem no séc. VI, o Texto Massorético possui este nome 
por ter sido desenvolvido por um grupo de judeus conhecidos como 
Massoretas; que deste então se tornaram os responsáveis em con­
servar e transmitir o texto bíblico hebraico.
Bem anterior ao Texto Massorético, se conservou até nosso 
tempo, a versão Grega das Escrituras Hebraicas conhecida como 
Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX). Vertida, aproximadamente 
no séc. III a.C. para grego a partir dos mais antigos manuscritos 
hebra icos (hoje não mais d ispon íveis), o va lor h istórico da 
Septuaginta é inestimável e de profunda importância para a identi­
ficação do Cânon Bíblico Cristão.
Origem da Septuaginta 
Ptolomeu II Filadelfo (287-247 a.C.), rei do Egito, encomen­
dou especialmente para sua Biblioteca em Alexandria7, uma tradu­
6 Foi Rei da Babilônia no séc. VI a.C.
7 Fundada por Alexandre, o Grande tornou-se o grande centro cultural e comerciallivros dos Profetas94, Isaías, Jeremias95, Daniel, 
Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras96 e dois [livrosj 
dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, 
um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo, uma do 
mesmo aos Hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, 
uma de Judas e o Apocalipse de João. Sobre a confirmação deste 
cãnon se consultará a Igreja do outro lado do mar. É também permiti­
da a leitura das Paixões dos mártires na celebração de seus respec­
tivos aniversários97". (BETTENCOURT, 2001, p.55).
Note o leitor que este cânon embora mencione a Carta aos 
Hebreus como de Paulo, isto se dá fora do conjunto das outras 13 
cartas, onde a autoria paulina é inconteste. O Cânon de Hipona 
parece deixar registrado o pensamento antigo de que embora a dou­
trina da Carta aos Hebreus seja paulina, não é certeza de que sua 
autoria fosse mesmo do Apóstolo Paulo.
Curioso é o seguinte trecho deste cânon: “Sobre a confirma­
ção deste cânon se consultará a Igreja do outro lado do mar”. A 
“Igreja do outro lado do mar” é a Igreja de Roma (Ibid.). Aqui a 
confirmação do Cânon de Hipona dependerá do parecer desta Igre­
ja. Alguns enxergam aqui uma prova do Primado98 da Igreja Roma­
na sobre as demais Igrejas (tese católica). Outros enxergam apenas 
um Primado de Honra e não de Jurisdição (tese ortodoxa).
As decisões deste Concilio foram confirmadas por todos os 
Concílios posteriores também realizados em Hipona, onde o último
1)1 Os dois livros das Crônicas.
'Y? Os Salmos
i)3 Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico, segundo a
Septuaginta.
ÍM Oséias, Joel, Am ós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias 
e Malaquias.
5,5 Incluindo as Lamentações, Baruc e a Carta de Jeremias, segundo a Septuaginta. 
m Livro de Esdras e o livro de Neemias. segundo a Septuaginta.
í)7 Alusão às festas em honra dos santos mártires, costum e m antido até hoje nas Igrejas 
Católica e Ortodoxa.
1)8 Liderança ou autoridade sobre as demais Igrejas Cristãs.
85
da série se realizou 34 anos após o primeiro, em 24 de setembro deram considerados apenas eclesiásticos.
Foi desta forma que o Cânon Bíblico foi se estabelecendo em 
toda a Igreja, sem que fosse necessário um decreto dogmático de 
algum Concilio Ecumênico. Por este motivo também encontramos 
ainda no séc. XII opiniões divergentes, como é o caso de Hugo de 
São Vítor, o que dificilmente ocorreria se o Cânon Bíblico tivesse 
sido proclamado como dogma.
Entretanto, isso iria mudar no séc. XV. Por volta de 1438, a 
Igreja convocou o 172. Concilio Ecumênico de síia História. O Con­
cilio de Florença marcou uma fase importante da História da Igreja, 
pois tratou-se de uma retomada no diálogo entre a Igreja Católica e
99 Esta heresia era contra o uso de imagens e ícones sagrados nas Igrejas.
as Igrejas Ortodoxas100, onde destas participaram pelo menos 700 
pessoas (ALBERIGO, 1995, p. 298).
Em 4 de fevereiro de 1442, o Concilio publicou a Bula “Cantate 
Domino”, que sobre os livros canônicos assim se expressou:
“O Sacrossanto Concilio professa que um e o mesmo Deus é o 
autor do Antigo e do Novo Testamento, isto é, da Lei, dos Profetas e 
do Evangelho, pois os Santos de ambos os Testamentos fa laram sob 
a inspiração do mesmo Espírito Santo. Este Concilio aceita e venera 
os seus livros que vem indicados pelos títulos seguintes:
Cinco livros de Moisés, isto é, Gênesis, Êxodo, Levítico, Núme­
ros, Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, quatro livros dos Reis, dois 
dos Paralipômenos, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Jó, o 
Saltério de Davi, as Parábolas (Provérbios), Eclesiastes, Cântico dos ( 
Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias, Baruque, Ezequiel, 
Daniel, os doze profetas menores, isto é, Oséias, Joel, Amós, Abdias, 
Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, 
Malaquias, dois livros dos Macabeus.
Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas, João) quatorze epís­
tolas de Paulo (aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, 
uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas 
aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon, 
uma aos Hebreus), duas epístolas de Pedro, três de João, uma de 
Tiago, uma de Judas, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse de João 
“(BETTENCOURT, 2001, p. 58).
Os legados da Igreja Católica Romana e das Igrejas Ortodoxas 
tomaram decisões em um pleno espírito de comunhão, espírito este 
que infelizmente não foi levado ã frente por algumas Igrejas por 
estes representados (ALBERIGO, 1995, p. 308-309).
O Cisma entre as Igrejas Católica e Ortodoxa, que foi somente 
minimizado pelo Concilio de Florença, mais tarde colaborará para 
uma grande ruptura dentro da Igreja Católica, e um novo Concilio 
Ecumênico será realizado para reafirmar o Cânon Bíblico. Tratare­
mos deste assunto no próximo capítulo.
100 As duas Igrejas romperam o diálogo a partir de 1054. A té esta data foram realizados os 7 
prim eiros Concílios Ecumênicos: os posteriores não são reconhecidos pelas Igrejas 
Ortodoxas.
89
C A P Í T U L O 7
A Reforma, o Concilio 
de Trento e as Igrejas Ortodoxas
E m aproximadamente 1510 o monge agostiniano Martinho 
Lutero, iniciou um movimento que ficou conhecido historica­
mente como Reforma Protestante. Lutero questionou a autoridade 
da Igreja Católica Romana e de todos os Concílios realizados desde 
então, por entender que seus ensinamentos não condiziam com o 
ensinamento das Sagradas Escrituras.
Suas controvérsias com a Igreja Católica levaram -no à 
excomunhão pelo Papa Leão X em dezembro de 1520, através da 
Bula “Exurge Domine” ; documento que foi queimado por Lutero. 
Para ele a Igreja deveria basear suas doutrinas somente na Bíblia. 
Este princípio ficou conhecido como “Sola Scriptura” ou “Somente 
as Escrituras”. Entretanto, nem mesmo a Bíblia foi poupada de sua 
Reforma.
Lutero questionou fortemente o ensinamento dos seguintes 
livros: Tobias, Baruc, Judite, Sabedoria de Salomão, Sabedoria de 
Sirac, 1 e 2 Macabeus (para o AT); e as epístolas de Tiago, aos 
Hebreus e o Livro do Apocalipse (para o NT).
Nas traduções da Bíblia empreendidas por Lutero, os livros por 
ele rejeitados foram colocados em um apêndice sem numeração de 
página. Aqueles referentes ao NT, voltaram para o conjunto principal, 
em traduções feitas por outros protestantes, mas os deuterocanônicos 
do AT continuaram como apêndice, até serem finalmente eliminados 
em 1827 pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, motivo pelo 
qual estes livros não se encontram em absoluto nas Bíblias protes­
tantes contemporâneas, enquanto figuraram em apêndices e em tra­
duções protestantes clássicas como a Versão King James (KJV).
91
Por este motivo, os cristãos de tradiçao protestante conside­
ram até hoje estes livros como apócrifos.
A Versão KJV e o Argumento de Geneva
Alguns protestantes admiradores da Versão do Rei Tiago (KJV), 
tentam negar a presença dos livros deuterocanônicos do AT na ver­
são original de 1611. Eles afirmam que os tradutores não conside­
ravam estes livros como Escrituras e para provar este ponto de 
vista fazem referência à Bíblia de Geneva de 1560.
Entretanto, a Bíblia de Geneva foi rejeitada pela Igreja da In­
glaterra , responsável pela tradução da KJV. Os tradutores 
anglicanos, no prefácio, também atacaram e abertamente denunci­
aram esta outra tradução protestante, por abandonar as palavras 
eclesiásticas tradicionalmente aceitas: “Infelizmente, tivemos que 
evitar a escrupolosidade dos puritanos, que abandonaram as anti­
gas palavras eclesiásticas, e se entregaram a outras, como quando 
usam ‘lavagem’ ao invés de ‘batismo’ e ‘congregação’ ao invés de 
‘Igreja’” (cf. o prefácio original da KJV de 1611, p. 11, chamado “Ao 
Leitor”).
Por esta razão o Rei Tiago da Inglaterra, em pessoa, declarou 
que a versão de Geneva era, para ele, “a pior coisa que já aparece­
ra” (cf. English Versions o fTh e Bible, 1952, p. 229).
Em 1615, o arcebispo George Abbott, membro da Corte de 
Alta Comissão e um dos tradutores originais da versão da KJV de 
1611, “proibiu a qualquer um que publicasse uma Bíblia sem os 
Apócrifos [deuterocanônicos do AT], sob pena de um ano de prisão" 
(cf. Moorman, Forever Settled, p. 183). Esta ordem mirava princi­
palmente os possuidores da Bíblia de Geneva que, em 1599, fora 
impressa sem os deuterocanônicos.
Aliás, uma das razões da criação da tradução da KJV foi 
competir e lutar contra a versão de Geneva, ao ponto que a pos­
se de uma destas Bíblias puritanas “de Geneva” na Inglaterra 
Anglicana significava, quase sempre, naquela época, morte cer­
ta. Portanto, a existência ou não de uma “nota de renúncia” na 
Bíblia puritana de Geneva, não significava, absolutamente, que 
os tradutores da KJV assim faziam ou pensavam quanto aos 
livros deuterocanônicos do AT.
92
Vejamos qual foi o pensamento do Rei Tiago quanto aos livros 
deuterocanônicos do AT:
“Quanto às Escrituras, nenhum homem duvide: crerei nelas; 
para os Apócrifos [deuterocanônicos do AT], fa re i o mesmo que os 
antigos fizeram : continuarão a ser impressos e obrigatórios em nos­
sas Bíblias, serão lidos publicamente em nossas Igrejas; eu os reve­
rencio como escrituras provindas de homens bons e santos, mas como 
não eram encontrados no cãnon, temos deles lição secundária 
(secundae lectionis) ou ordinis”101 (FULLER, 1845).
N ova arbitrariedade sobre 
o conjunto dos livros canônicos 
Como podemos ver, o Rei embora não considerasse os livros 
deuterocanônicos do AT como canônicos, não os considerava con­
trários ã Fé, seguindo a mesma linha de São Cirilo de Jerusalém, 
São Jerômino, Rufino e Hugo de São Vitor. Mas, depois de sua 
morte, os livros deuterocanônicos do AT finalmente foram retirados 
da KJV.
O que se percebe é que a mesma arbitrariedade dos Judeus 
da Palestina do séc. I se repetiu entre os cristãos protestantes do 
séc XVII. Da mesma forma que os Rabinos de Jâmnia abandona­
ram a Tradição dos judeus, para combater a Igreja, o mesmo moti­
vo levou os protestantes a abandonarem a Tradição Cristã. Os pri­
meiros abandonaram os livros que osantigos de sua religião manu­
searam, e os últimos fizeram o mesmo.
No entanto, os últimos foram piores que os primeiros, pois 
além de mutilarem a Bíblia que diziam respeitar, imputaram aos 
deuterocanônicos do AT o fardo de serem livros contrários à Fé, 
divergindo de forma brutal da opinião da Igreja dos primeiros sécu­
los e medieval (ver capítulos 5 e 6 ).
As semelhanças entre os Rabinos de Jâmnia e os Protestan­
tes não param por aí. Os dois grupos arbitraram sobre o Cânon 
Bíblico, fazendo uso de uma autoridade que não possuíam. Que 
autoridade os rabinos de Jâmnia tinham em plena Era Cristã para 
definirem quais Escrituras eram sagradas? Esta autoridade era da
101 Fragmento traduzido pelo autor.
93
Sinagoga ou da Igreja? Se era da Igreja, quê autoridade possuíam 
os Pais da Reforma para arbitrarem sobre o Canon Bíblico, uma vez 
que tinham abandonado a Igreja original?
E foi nesta “encruzilhada” que o Canon Bíblico Protestante 
surgiu: recorreu-se à “autoridade” da Sinagoga de Jâmnia para os 
livros do AT e à contestada Autoridade da Igreja para o NT. As inco­
erências não param por aí. Ironicamente, os adeptos da “Sola 
Scriptura” lançaram mão deste princípio primordial da Reforma, 
para definirem sua Bíblia.
Por causa da Reforma, em 8 de abril de 1546, o Concilio de 
Trento (19-, Concilio Geral) confirmando a antiga Tradição Cristã 
sobre o Cânon Bíblico, emitiu o seguinte Decreto:
“EsteTloncílio houve por bem acrescentar ao presente Decreto o 
catálogo dos livros sagrados, a Jim de que nenhuma dúvida possa 
haver a respeito de quais sejam os escritos que o Concilio reconhece. 
São os seguintes: Do Antigo Testamento: Cinco livros de Moisés, isto 
é, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números; Deuteronômio, Josué, Juizes, 
Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, o primeiro e o 
segundo de Esdras (este segundo também dito de Neemias), Tobias, 
Judite, Ester, Jó. O saltério de Davi com cento e cinqüenta Salmos, 
Parábolas (ou Provérbios), Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabe­
doria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias com Baruque, Ezequiel, Daniel, 
doze Profetas menores, isto é, Oséias, Joel Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, 
Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, primeiro e se­
gundo dos Macabeus. Do Novo Testamento: os quatro Evangelhos (segun­
do Mateus, Marcos, Lucas, João), Atos dos Apóstolos redigidos pelo 
evangelista Lucas, quatorze epístolas do Apóstolo Paido (uma aos Roma­
nos, duas aos Coríntios, uma aos Gaiatas, uma aos Efésios, uma aos 
Fitipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Ti­
móteo, uma a Tito, uma a FYÍemon, uma aos Hebreus), duas do apóstolo 
Pedro, três do Apóstolo João, uma do Apóstolo Tiago, uma do Apóstolo 
Judas e o Apocalipse de João Apóstolo" (BETTENCOURT, 2001, p.60).
Por causa deste decreto, alguns meios de comunicação pro­
testantes têm veiculado que a Igreja Católica para dar suporte às 
doutrinas contestadas por Lutero, incluiu os livros deuterocanônicos 
do A T em sua B íb lia , quando na verd ad e fo i Lu tero que 
deliberadamente os rejeitou.
94
Os deuterocanônicos do AT já figuravam no Cânon Bíblico na 
m aioria das Igrejas desde o final do séc. IV (assim como os 
deuterocanônicos do NT), confirmados por diversos Concílios Lo­
cais e Regionais. Um exemplo desta aceitação são os códices102 da 
primeira versão latina das Sagradas Escrituras, a Vetus Latina (LA­
TINA, 2006); além do Códice Claromontano ou CodexClaromontanus, 
uma das mais antigas e principais coletâneas das Escrituras Sa­
gradas do AT e NT (CLAROMONTANUS, 2006).
O Concilio Ecumênico de Florença, que é anterior à Reforma, 
os confirmou, ratificando a antiga Tradição Cristã. Além disto, to­
das versões bíblicas anteriores à Reforma, incluíam estes livros, até 
mesmo as primeiras versões da Bíblia Protestante KJV.
A primeira Bíblia impressa da história, criação de Joseph 
Gutenberg (inventor da imprensa), em 1454, que já continha todos 
esses mesmos livros, ou seja, 50 anos antes da Reforma Protestan­
te (GUTENBERG, 2006).
Felizmente alguns estudiosos protestantes em contato com os 
testemunhos dos primeiros cristãos têm constatado a verdade. É o 
caso do historiador J.N.D. Kelly:
“Deveria ser observado que o Antigo Testamento admitido como au­
toridade na Igreja era algo maior e mais compreensivo que o Antigo Testa- 
menío protestante {...] ela sempre incluiu, com alguns graus de reconheci- 
mento, os chamados apócrifos ou deuterocanônicos. A razão para isso é 
que o Antigo Testamento que passou ern primeira instância nas mãos dos 
cristãos era... a uersão grega conhecida como Septuaginta.. a maioria das 
citações nas Escrituras encontradas no Novo Testamento são baseadas 
nelas preferencialmente do que a uersão hebraica... nos primeiros dois 
séculos... a Igreja parece ter aceitado a todos, ou a maioria destes liuros 
adicionais, como inspirados e tratarcun-nos sem dúvida como Escritura 
Sagrada. Citações de Sabedoria, por exemplo, ocorrem em 1 Clemente e 
Bamabé... Policarpo cila Tobias, e o Didache cita Eclesiástico. Irineu se 
refere a Sabedoria, a história de Susana, Bel e o dragão (livro de Daniel), e 
Baruc. O uso dos deuterocanônicos por Tertuliano, Hipólito, Cipriano e Cle­
mente de Alexandria é tão freqüente que referências detalhadas são ne­
cessárias" (KELLY, 1978).
102 Maneira com o os antigos reuniam seus escritos, são os precursores dos livros.
95
Um parecer semelhante é do também protestante Leonard Rost: 
“Algumas dessas obras [os deuterocanônicos do ATI foram aco­
lhidas nas coletâneas de livros sagrados que, de acordo com o teste­
munho dos grandes unciais103 gregos do século VI, foram adotados 
pela Igreja cristã em solo egípico; mas por certo não o teriam sido, se 
já não fizessem parte de uma coletânea judaica. Só assim é que se 
explica o motivo pelo qual esses escritos encontraram acolhida e go ­
zaram do mesmo prestígio que o Cãnon hebraico que, por razões de 
ordem lingüística, quanto mais tempo se passava, menos acessível 
se torva aos cristãos na língua original" (ROST, 1980, p. 19-20),
Infelizmente as alterações no Cânon Bíblico não ficaram so­
mente por conta dos Protestantes. A Igreja Ortodoxa Russa a partir 
do séc. XVII também retirou os livros deuterocanônicos do AT de 
suas Bíblias. Os livros 3 Esdras e 3 Macabeus foram declarados 
canônicos nos Concílios Ortodoxos de Jassy na Romênia (1642) e 
Jerusalém (1672). A Igreja Ortodoxa Copta de Etiópia tem 81 livros 
ao todo na Bíblia, contendo a mais no NT "Atos de Paulo”, “ 1 Cle­
mente” , “Pastor de Hermas", etc. No AT da Igreja Etíope é adiciona­
do o “Livro dos Jubileus”, o “Livro de Enoque”, além de 2 Esdras, 
etc. A Peshitta (Bíblia da Igreja Ortodoxa Siriaca) exclui 2 Pedro, 2 e 
3 João, Judas e Apocalipse.
103 0 autor designa os códices gregos do AT, escritos com caracteres ditos unciais, is to é 
maiúsculos,
96
CAPÍTULO 8
Por que um Cânon Bíblico para os cristãos?
O discernimento do Cânon Bíblico foi um processo longo, que 
começou através de iniciativas individuais dos Santos Padres, 
e depois foi ganhando lugar nos Concílios Regionais até serem alvo 
dos Concílios Gerais.
Quando a Igreja se preocupou em definir um Cãnon Bíblico, o 
principal propósito era estabelecer uma lista de livros autorizados, 
para proteger os fiéis dos livros espúrios que reivindicavam autoria 
apostólica, mas que eram na verdade, trabalhos de hereges. Os 
grupos heréticos não conseguiam basear seus ensinamentos na 
Tradição dos Apóstolos, pois seus ensinamentos eram criados fora 
da Igreja, então a única maneira que possuíam para autorizar suas 
heresias era distorcendo o significado dos livros sagrados, além de 
forjar novos livros, sob o nome de alguma figura venerável da Igre­
ja.
A Igreja sempre se defendeu contra a doutrina dos heréticos 
trazendo à luz a Tradição dos Apóstolos, isto é o conjunto de 
ensinamentos que eles transmitiram seja por escrito, seja por lor- 
ma oral (cf. 2 Ts 2,16). Contra os livros espúrios e heréticos,Ela foi 
estabelecendo uma lista autorizada de Livros Sagrados tanto para 
o AT quanto para o NT.
Estabelecendo a lista canônica da Bíblia Sagrada, a Igreja não 
pretendia insinuar que toda a Fé Cristã e toda a informação neces­
sária à regra da Igreja estivesse contida apenas na Bíblia. A preo­
cupação da Igreja era anunciar o Evangelho, e os Apóstolos o lize- 
ram de viva voz. Somente em circunstâncias especiais é que se 
viam obrigados a colocar algo por escrito. Mas de forma alguma se 
preocuparam em colocar tudo por escrito (cf. Jo 21,25; ICor 11,12; 
2Jo 1,12; 3; 3Jo 1,13-14).
97
Este também é o testemunho de Eusébio, historiador da Igre­
ja Antiga:
“[Os Apóstolos] Anunciaram o reino d&s céus a todo orbe habi­
tado, sem a menor preocupação de escrever livros. Assim procediam 
porque lhes cabia prestar um serviço maior e sobre-humano. Até Paulo, 
o mais potente de todos na preparação dos discursos, o mais dotado 
relativamente aos conceitos, só transmitiu por escrito breves cartas, 
apesar de ter realidades inúmeras e inefáveis a contar [...] Outros 
seguidores de nosso Salvador, os primeiros apóstolos, os setenta dis­
cípulos e mil outros mais não eram inexperientes das mesmas reali­
dades. Entretanto, dentre eles todos, somente Mateus e João deixa­
ram memória dos entretenimentos do Salvador. E a Tradição refere 
que estes escreveram forçados pela necessidade. [...] Quanto a João 
[o Apóstolo], diz-se que sempre utilizava o anúncio oral. Por f im tam­
bém ele pôs-se a escrever pelo seguinte motivo. Quando os três evan­
gelhos precedentes já se haviam propagado entre todos os fié is e 
chegaram até ele, recebeu-os, atestando sua veracidade. Somente 
careciam da história das primeiras ações de Cristo e do anúncio pri­
mordial da palavra. E trata-se de verdadeiro motivo” (EUSEBIO, 2000, 
p. 144-145).
Tradição Apostólica e o ensino Oficial da Igreja (cf. 2 Ts 2,15; 
At 16,1-4) sempre foram para Cristianismo antigo a Regra da Fé 
{Regula Fidei):
“2,2 Quando são [os gnósticos] vencidos pelos argumentos tira­
dos das Escrituras retorcem a acusação contra as próprias Escritu­
ras, [...] E quando, por nossa vez, os levamos à Tradição que vem dos 
apóstolos e que é conservada nas várias igrejas, pela sucessão dos 
presbíteros, então se opõem à tradição" (IRENEU, 1995, p. 248).
“25. [...] Meta comum de todos os adversários, inimigos da sã 
doutrina, é abalar o fundamento da fé em Cristo, arrasando, fazendo 
desaparecer a Tradição apostólica. Por isso, eles, aparentando ser 
detentores de bons sentimentos, recorrem a provas extraídas das 
Escrituras, e lançam para bem longe, como se fossem objetos vis, os 
testemunhos orais dos Padres ]...f' (BASILIO, 1998, p. 118).
“66. Entre as verdades conservadas e anunciadas na Igreja, 
umas nós as recebemos por escrito e outras nos foram transmitidas 
nos mistérios, pela Tradição apostólica. Ambas as formas são igual­
98
mente válidas relativamente à piedade. Ninguém que tiver, por pou­
co que seja, experiência das instituições eclesiásticas, há de contra­
dizer. De fato, se tentássemos rejeitar os costumes não escritos, como 
desprovidos de maior valor, prejudicaríamos imperceptivelmente o 
evangelho, em questões essenciais. Antes, transformaríamos o anún­
cio em palavras ocas [...[’ (BASILIO, 1998, p. 168).
Não é escopo deste trabalho expor de forma detalhada essa 
questão, entretanto o leitor poderá obter maiores informações em 
outros trabalhos meus (LIMA, 2000; LIMA 2005) que tratam disto 
de forma mais completa.
A Igreja na formação da Bíblia, não colaborou somente no 
discernimento do Cânon Bíblico, mas também deu à esta “bibliote­
ca” de livros sagrados o nome “Bíblia”; criou a divisão em capítulos 
e versículos, os primeiros dicionários bíblicos, as primeiras tradu­
ções para as línguas nacionais, as primeiras obras críticas e etc 
(HAMMER, 2004).
99
C A P Í T U L O 9
Uma Análise Sobre os Deuterocanônicos do A T
M uitos protestantes através de livros, folhetos e sítios na 
Internet, procuram defender sua posição contra os livros deu­
terocanônicos do AT, afirmando que estes livros contêm heresias. 
Segundo eles, estes livros (que eles chamam de apócrifos) não são 
livros canônicos porque ensinam as seguintes heresias:
1. perdão do pecado mediante esmolas: Dizem que Tobias 12,9; 
4,10; Eclesiástico 3,33 e 2 Macabeus 43-47 ensinam que as 
esmolas apagam os pecados, negando então a redenção do 
sacrifício de Cristo e por isso não podem ser considerados 
canônicos. Primeiro estas referências são do AT, portanto não 
podem ter qualquer relação com o sacrifício de Cristo. Segun­
do, elas estão em plena conformidade com o AT, que ensina 
que o bem feito ao próximo será considerado em nosso ju lga­
mento. Este é o princípio das esmolas. E esta mesma doutrina 
se encontra em Prov 10, 12, por exemplo. Serã que o Livro dos 
Provérbios não é canônico também? Em terceiro lugar, esta 
mesma doutrina é confirmada no NT, basta verificar Mc 9,41; 
Lc 11,41. Jesus confirma até mesmo o valor da esmola junta­
mente com outras formas de piedade (cf. Mt 6,2-18), veja tam­
bém 1 Pd 4,8; At 10,3-4; 10,31.
2. a vingança e a prática do ódio contra os inimigos: Dizem 
que isto está em Eclo 12,6 e Judite 9,4 e contradiz ferozmente 
Mt 5,44-48. Mais uma vez Eclo diz respeito ao AT, onde valia a 
lei do retalião. Se o Livro do Eclesiástico não é canônico por 
esta razão, também não são Êxodo, Deuteronômio e Levítico, 
veja Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,19-21.
3. prática do suicídio: Dizem que o ensino sobre a prática do 
suicido está em 2 Macabeus 14,41-42. Entretanto em Jz
101
16,28.30 Sansão se suicida e sua morte é tida como grandio 
sa pelo autor do Livro de Juizes. A Bíblia possui diversos ca­
sos de suicídio - principalmente entre guerreiros -basta ver: 
Jz 9,54; 16,28-29; ISm 31,4-5; 2Sm 17,23; lRs 16,18.
4. ensino de artes mágicas: Dizem que Tobias 6,8-9 favorece 
a prática de artes mágicas. Ora, em Tobias 8,3 vemos que não 
é Tobias quem expulsa o demônio, mas sim o Anjo Rafael. O 
interesse era ocultar a ação do Anjo para Tobias. Em Jo 9,6 
vemos que Jesus reconstituiu os olhos de um cego com saliva 
e logo em Tg 5,14 há instruções para usar óleo na cura de 
enfermos; será que por isso estes livros também deixaram de 
ser canônicos?
5. prática da mentira: Dizem que Judite 11,13-17 e Tob 5,15- 
19 favorecem a prática de mentiras. Abrão disse ao rei Abimelec 
que Sara era sua irmã, e na verdade era sua esposa (Gn 20,2). 
Jacó, auxiliado pela mãe, mente ao pai cego, dizendo que era 
o filho mais velho e no entanto era o mais novo (cf. Gn 27,19), 
além de também enganar o sogro (cf. Gn 31,20). Será que o 
livro de Gênesis também não é canônico?
6 . erros históricos e cronológicos: Dizem ainda que os livros 
de Baruc e Judite são cheios de contradições em relação aos 
protocanônicos do AT. Devemos nos lembrar que a Sagrada 
Escritura não é um livro histórico ou geográfico, nela Deus 
através das limitações humanas comunicou seus desígnios. 
Veja que II Reis 8,26 se contradiz com II Cro 22,2; II Reis 23,8 
também se contradiz com I Cro 11,11. Isto também faz deles 
livros não canônicos?
H á citações dos deuterocanônicos do A T no NT?
Um grande motivo de disputa entre católicos e protestantes 
em relação ao Cãnon Bíblico diz respeito a um conjunto de sete 
livros disponíveis na Septuaginta, além de acréscimos nos Livros 
de Daniel e Ester; e que se encontram no AT católico e ortodoxo e 
não no protestante. Estes livros são considerados apócrifos pelas 
confissões protestantes e deuterocanônicos pelas confissões católi­
ca e ortodoxa. São eles: Judite, Baruc, Sabedoria de Sirac, Eclesi­
ástico, I o. Macabeus, 2o. Macabeus e Tobias.
102
As confissões protestantes acreditam que este conjunto de 
livros apresenta erros doutrinários e até mesmo heresias; por isso 
seriam contrários à Fé Cristã104. Porém, o fato do NT possuir tantas 
referências à versão da Septuaginta, que continha esses livros, pode 
ser um indício de que nem osjudeus de Alexandria, nem os da 
Palestina, nem Jesus e nem os Apóstolos, tiveram qualquer restri­
ção a esses livros, ou então por que usariam uma versão bíblica 
que continham livros heréticos?
Há ainda objeções que afirmam que nem Jesus e os Apóstolos 
citaram os deuterocanônicos. Ora, se este fosse um critério verda­
deiro para determinar a conformidade de um livro com a Fé Cristã, 
estariam em não conformidade pelo menos os livros Juizes, Crôni­
cas, Ester, Cântico dos Cânticos, que também não são citados por 
eles. Entretanto, não é verdade que falta no NT referências aos 
deuterocanônicos do AT.
Por exemplo, em Hebreus 11, somos animados a imitar os 
heróis do AT, “as mulheres /que/ receberam a seus mortos pela res­
surreição. Alguns foram torturados, recusando aceitar ser libertados, 
para poder levantar-se novamente a uma vida melhor” (Hb 11,35). 
Nos protocanônicos do AT (que corresponderia ao AT Protestante), 
encontramos vários exemplos de mulheres recebendo a seus mor­
tos mediante ressurreição. Encontraremos Elias ressuscitando o 
filho da viúva de Sarepta em 1 Reis 17, encontraremos seu suces­
sor Eliseu ressuscitando o filho da mulher sunamita em 2 Reis 4. 
Mas jamais encontraremos (desde Gênesis atê Malaquias) algum 
exemplo de alguém sendo torturado e recusando aceitar ser liberto, 
por causa de uma melhor ressurreição. A história, cuja referência é 
feita em Hebreus, se encontra em um dos livros deuterocanônicos, 
a saber, no em 2 Macabeus. Vejamos:
“[durante a perseguição dos Macabeus] Também foram detidos 
sete irmãos, jun to com sua mãe. O rei, flagelando-os com açoites e 
feixes de couro de boi, tratou de obrigá-los a comer carne de porco, 
proibida pela Lei. [.. j Os outros irmãos e a mãe se animavam mutua­
mente a morrer com generosidade, dizendo: ‘o Senhor Deus está nos 
vendo e tem compaixão de nós...’ Uma vez que o primeiro morreu [...]
104 Este assunto será abordado com mais detalhes no capítulo 7.
103
levaram o suplício ao segundo [...] também ele sofreu a mesma tortu­
ra que o primeiro. E quando estava por dar o último suspiro, disse: 
Tu, malvado, nos privas da vida presente, mas o Rei do universo 
nos ressuscitará a uma vida etema, se morrermos por fidelidade às 
suas leis”’ (2 Mac 7,1.5-9)
Um após outro os filhos morrem, proclamando que serão re­
cuperados na ressurreição. Vejamos ainda:
“Incomparavelmente admirável e digna da mais gloriosa lem­
brança fo i aquela mãe que, vendo morrer a seus sete filhos em um só 
dia, suportou tudo valorosamente, graças à esperança que tinha pos­
to no Senhor. Exortava a cada um deles, [dizendo] E u não sei como 
vocês apareceram em minhas entranhas; não fu i eu que lhes dei o 
espírito e a vida nem fu i eu que ordenou harmoniosamente os mem­
bros de seu corpo. Por conseguinte, é o Criador do universo, o que 
form ou o homem em seu nascimento e determinou a origem de todas 
as coisas, quem lhes devolverá misericordiosamente o espírito e a 
vida, já que vocês se esquecem agora de si mesmos por amor à suas 
leis’, dizendo ao último: 'Não temas a este verdugo: mostra-te digno 
de seus irmãos e aceita a morte, para que eu volte a encontrá-lo com 
eles no tempo da misericórdia’” (2 Mac 7,20-23.29).
Perceba o leitor que em Hb 11,35, o escritor sagrado, ao ensi­
nar um artigo de Fé refere-se a um exemplo de testemunho, que se 
encontra somente em um dos livros deuterocanônicos. Ora, se por 
isto o livro dos Macabeus contivesse alguma doutrina estranha à 
fé, com toda certeza o autor da Carta aos Hebreus, evitaria mencioná- 
lo em sua pregação.
Esta informação possui mais um detalhe muito importante: a Car­
ta aos Hebreus foi escrita para os judeus da Palestina, demonstrando 
mais uma vez que a versão da Septuaginta foi também aceita por eles: 
caso contrário, não faria sentido o escritor sagrado fazer referência a 
uma história que não era conhecida por seus destinatários.
Um estudo mais completo apresenta um rico conjunto de 
influências no NT dos livros deuterocanônicos (RAMALHETE, 
2000) 105.
105 Verificar o Apêndice I
104
Tam bém é im portante saber que em alguns dos livros 
deuterocanônicos do AT, há revelações divinas confirmadas no NT. 
Por exemplo:
“Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quan­
do deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa duran­
te o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as 
tuas orações ao Senhor. Mas porque eras agradável ao Senhor, fo i 
preciso que a tentação te provasse. Agora o Senhor enviou-me para 
curar-te e livrar do demônio Sara, mulher de teu filho. Eu sou o anjo 
Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor’’ 
(Tobias 12,12-15) (grifos meus).
Em nenhum lugar nos livros protocanônicos do AT, há algu­
ma revelação dos 7 anjos que assistem na presença do Senhor e 
que Lhe entregam as orações dos justos. Esta revelação é confirma­
da no livro do Apocalipse:
“Eu vi os sete Anjos que assistem diante de Deus. Foram- 
Ihes dadas sete trombetas. Adiantou-se outro anjo e põs-se jun to ao 
altar, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos per­
fumes, para que os oferecesse com as orações de todos os santos no 
altar de ouro, que está adiante do trono. A fumaça dos perfumes 
subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de 
Deus. Depois disso, o anjo tomou o turíbulo, encheu-o de brasas do 
altar e lançou-o por terra; e houve trovões, vozes, relâmpagos e terre­
motos” (Ap 8,2-5) (grifos meus).
“Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho 
do Senhor! Sua existência é uma censura às nossas idéias; basta 
sua vista para nos importunar. Sua vida, com efeito, não se parece 
com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes. Ele nos tem 
por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como 
de manchas. Julga fe liz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por 
pai. Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimen­
temos o que acontecerá quando da sua morte, porque, se o justo é 
filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adver­
sários. Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua 
doçura e estarmos cientes de sua paciência. Condenemo-lo a uma 
morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir" (Sabedoria 
2,13-21).
105
A profecia acima se refere ao escárnio promovido pelo Sinédrio 
contra o Senhor Jesus. Veja o testemunho do NT sobre o cumpri­
mento da profecia acima:
“A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos 
sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a outros, que se 
salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus! [...] Se és o rei 
dos judeus, salva-te a ti mesmo, [ . . j Um dos malfeitores, ali crucifica­
dos, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e sal- 
va-nos a nós!” (Lc, 23,35.37.39).
“Mas Jesus se calava e nada respondia. O sumo sacerdote tor­
nou a perguntar-lhe: És tu o Cristo, o Filho de Deus bendito? [...] A l­
guns começaram a cuspir nele, a tapar-lhe o rosto, a dar-lhe socos e 
a dizer-lhe: Adivinha! Os servos igualmente davam-lhe bofetadas” 
(Mc 14,61.65)
“Querendo Pilatos satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás e 
entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse crucificado. (...) 
Davam-lhe na cabeça com uma vara, cuspiam nele e punham-se de 
joelhos como para homenageá-lo. Depois de terem escarnecido dele, 
tiraram-lhe a púrpura, deram-lhe de novo as vestes e conduziram-no 
fora para o crucificar” (Mc 15,15.19-20).
“salva-te a ti mesmo! Desce da cniz! Desta maneira, escarneciam 
dele também os sumos sacerdotes e os escribas, dizendo uns para os 
outros: Salvou a outros e a si mesmo não pode salvar! Que o Cristo, rei 
de Israel, desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos! Também 
os que haviam sido crucificados com ele o insultavam!’ (Mc 15,30-31).
E importante dizer que nos protocanõnicos do AT, há registro 
de coisas muito reprováveis, como as filhas de Lot engravidaram 
dele, depois de o embebedar (Gn 19,30-36).O Rei Saul consultou 
uma espírita (I Reis 28,8), Abraão arrumou um filho fora de seu 
casamento (Gn 16), e o Patriarca Jacó vários (Gn 30,4-5.7.9-10.12). 
Davi planejou a morte de um de seus soldados para ficar com sua 
esposa (cf. 2 Sm 11). Alguém poderia dizer ainda que o Livro de 
Gênesis promove a poligamia (cf. Gn 29,28-30) e todos os cristãos 
sobre a terra ainda o consideram canônico apesar disso. Portanto, 
se não é o juízo subjetivo e pessoal que coloca ou retira livros no 
Cânon Bíblico, o que é? Qual foi o juízo adotado pelos primeiros 
cristãos para receber ou não um livro como canônico?
106
C O N C L U S Ã O
E mbora os vários testemunhos acerca do Cânon Bíblico, colhi­
dos do séc. I ao XII, sejam das opiniões mais variadas, pode­
mos identificar neles algo em comum no critério usado para se ava­
liar a canonicidade de um livro: a Tradição da Igreja. Neste impor­
tante trabalho, sempre foram consideradas as informações conser­
vadas e transmitidas pelos antigos presbíteros. Isso é fortemente 
atestado nas expressões como “Conforme aprendi da tradição” 
(Origenes), “indicados pelos Padres” (Atanásio de Alexandria), “juízo 
das Igrejas” (São Jerônimo), “os bispos do tempo passado e os líde­
res da Igreja que nos transmitiram estes livros” (Cirilo de Jerusa­
lém), “como nós aprendemos da tradição dos Pais”, “de acordo com 
a tradição de nossos antepassados” e “Estas são as tradições que 
os Pais nos transmitiram” (estas últimas de Rufino).
Santo Agostinho deixou-nos bem registrado essa norma dos 
antigos cristãos:
“Quanto às Escrituras canônicas, siga a autoridade da maioria 
das igrejas católicas, entre as quais, sem dúvida, se contam as que 
mereceram ser sede dos apóstolos e receber cartas deles. Eis o méto­
do que se há de observar no discernimento das Escrituras canônicas: 
os livros que são aceitos por todas as igrejas católicas se antepo­
nham aos que não são aceitos por algumas. Por outro lado, entre os 
livros que algumas igrejas não admitem, prejiram-se os que são acei­
tos pelas igrejas mais numerosas e importantes aos que são unica­
mente aceitos pelas igrejas menos numerosas e de menor autorida­
de. Enjim, no caso de alguns livros serem aceitos por muitas igrejas 
e outros pelas igrejas nrais autorizadas, ainda que isso seja dijicil, 
eu opino que se atribuam a ambas a mesma autoridade “(AGOSTI­
NHO, 2002, p. 96).
107
Isto testifica o princípio pelo qual se define o Cãnon Bíblico 
para os cristãos: o juízo da Igreja Católica e Apostólica, não da sina­
goga ou dos grupos “cristãos” sectários. Se somente através da Tra­
dição e do Magistério da Igreja Católica podemos identificar quais 
são os livros canônicos, o que dizer dos demais artigos de fé? A 
própria Bíblia ensina que: “A Igreja é a Coluna e o Fundamento da 
Verdade” (ci. lTm 3,14). Ora, se Lutero errou em seu julgamento 
sobre os livros que deveriam estar na Bíblia, será que não se equi­
vocou também em relação a outras doutrinas da Igreja?
Infelizmente alguns cristãos não percebem que o Cristianis­
mo foi fundado por Jesus há quase 2 0 0 0 anos e não por homens de 
épocas longínquas. Se há dúvidas sobre a autenticidade dos 
ensinamentos atuais da Igreja Católica, o modelo de referência não 
deve ser interpretações bíblicas pessoais e subjetivas, mas a fé dos 
primeiros séculos. A História mostra que embora outros tenham 
tomado empréstimo dos princípios de Lutero (“Sola Scriptura” e 
“Sola Fide”), o mesmo não ocorreu com a sua doutrina. Lutero vi­
veu o bastante para atestar isso, segundo verificamos pelas suas 
próprias palavras:
“Este não quer o balismo, aquele nega os sacramentos; há quem 
admita outro mundo entre este e o ju ízo final, quem ensina que Cristo 
não é Deus; uns dizem isto, outros aquilo, em breve serão tantas as 
seitas e tantas as religiões quantas são as cabeças" (LUTHERS, 1919).
A própria História da formação do Cânon Bíblico nos é uma 
luz para os tempos vindouros, pois nos mostra que não se constrói 
um futuro seguro ignorando o passado.Talvez um estudo mais pro­
fundo das origens da Fé e da Memória Cristã possa ajudar os cris­
tãos de hoje a superarem os preconceitos impostos pela indústria 
da desinformação e pelas barreiras históricas que se instauraram 
no seio da Cristandade; e possamos finalmente atender ao pedido 
do Senhor: “Que todos sejam um" (cf. Jo 17,11).
O Senhor Jesus orou ao Pai, pedindo para que Pedro confir­
masse seus irmãos [os outros apóstolos] na fé (cf. Lc 22,32), e é isto 
que a Igreja Católica Apostólica Romana - detentora do Ministério 
Petrino - fez ao sempre reafirmar quais são os livros canônicos. Os 
seus papéis de Mãe e Mestra (cf. 1 Tm 3,14), a Igreja sempre de­
sempenhou com tamanho amor, que sua fidelidade à doutrina dos
ío s
Apóstolos sempre foi reconhecida pelos primeiros cristãos, especi­
almente pelos discípulos dos Apóstolos:
“2,3. Portanto, a tradição dos apóstolos, que fo i manifestada no 
mundo inteiro, pode ser descoberta e toda igreja por todos os que 
queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que 
foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos e seus sucessores 
até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se pare­
cesse com o que essa gente [os hereges] vai delirando. [...] Mas visto 
que seria coisa bastante longa elencar numa obrar como esta, as 
sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais anti­
ga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, 
pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a 
sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, 
que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos 
os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vangloria, que por 
cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qual­
quer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo 
com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, 
os fié is de todos os lugares, porque nela sempre fo i conservada, de 
maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos" (IRENEU, 
1995, p. 249-250).
“Inácio, também chamado Teoforo, à Igreja que preside na re­
gião dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser cha­
mada fe liz ’, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, 
que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do 
Pai, eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai” (INACIO, 
1995, p. 103).
Por isso mesmo, ainda hoje na Igreja Católica Romana podem 
ser ecoadas as palavras de São Paulo aos Romanos:
“Primeiramente, dou graças a meu Deus, por meio de Jesus 
Cristo, por todos vós, porque em todo o mundo é preconizada a vossa 
fé. [...] A vossa obediência se tomou notória em toda parte, razão por 
que eu me alegro a vosso respeito. [...] O Deus da paz em breve não 
tardará a esmagar Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nos­
so Senhor Jesus Cristo esteja convosco!” (Rm 1,8; 16,19-20).
109
APÊNDICE I
Influências dos livros 
Deuterocanônicos do A T no N T
1. Ordenação pelos livros do N ovo Testamento 
Evangelho segundo Mateus
Mt 4,4 = Sb 16,26; Mt 4,15 = lM c 5,15; Mt 5,18 = Br 4,1; Mt 5,28 
= Eclo 9,8; Mt 5,2-4 = Eclo 25,7-12; Mt-5,4 = Eclo 48,24; Mt 6,7 = 
Eclo 7,14; Mt 6,9 = Eclo 23,1.4; Mt 6,10 = 1Mc 3,60; Mt 6,12 = Eclo 
28,2; Mt 6,13 = Eclo 33,1; Mt 6,20 = Eclo 29,10-11; Mt 6,23 = Eclo 
14,10; Mt 6,33 = Sb 7,11; Mt 7,12 = Tb 4,15 / Eclo 31,15; Mt 7,16 
= Eclo 27,6; Mt 8,11 = Br 4,37; Mt 8,21 = Tb 4,3; Mt 9,36 = Jdt 
11,19; Mt 9,38 = lM c 12,17; Mt 10,16 = Eclo 13,17; Mt 11,14 = 
Eclo 48,10; Mt 11,22 = Jdt 16,17; Mt 11,25 = Tb 7,17 / Eclo 51,1; 
Mt 11,28 = Eclo 24,19 / Eclo 51,23; Mt 11,29 = Eclo 6,24-25 / Eclo
6,28-29 / Eclo 51,26-27; Mt 12,4 = 2Mc 10,3 ; Mt 12,5 = Eclo 
40,15; Mt 13,44 = Eclo 20,30-31; Mt 16,18 = Sb 16,13; Mt 16,22 = 
lM c 2,21; Mt 16,27 = Eclo 35,22; Mt 17,1 = Eclo 48,10; Mt 18,10 = 
Tb 12,15; Mt 20,2 = Tb 5,15; Mt 22,13 = Sb 17,2; Mt 23,38 = Tb 
14,4; Mt 24,15 = lM c 1,54 / 2Mc 8,17; Mt 24,16 = lM c2,28; Mt 
25,35 = Tb 4,17; Mt 25,36 = Eclo 7,32-35; Mt 26-38 = Eclo 37,2; Mt 
27,24 = Dn 13,46; Mt 27,43 = Sb 2,13 / Sb 18-20.
Evangelho segundo Marcos
Mc 1,15 = Tb 14,5; Mc 4,5 = Eclo 40,15; Mc 4,11 = Sb 2,22; Mc 
5,34 = Jdt 8,35; Mc 6,49 = Sb 17,15; Mc 8,37 = Eclo 26,14; Mc 9,31 
= Eclo 2,18; Mc 9,48 = Jdt 16,17; Mc 10,18 = Eclo 4,1; Mc 14,34 = 
Eclo 37^2; Mc 15,29 = Sb 2,17.
111
Evangelho segundo Lucas
Lc 1,17 = Eclo 48,10; Lc 1,19 = Tb 12,15; Lc, 1,19 = Tb 12,15; Lc 
1,42 = Jdt 13,18; Lc 1,52 = Eclo 10,14; Lc 2,29 = Tb 11,9; Lc 2,37 
= Jdt 8 ,6 ; Lc 6,35 = Sb 15,1; Lc 7,22 = Eclo 48,5; Lc 9,8 = Eclo 
48,10; Lc 10,17 = Tb 7,17; Lc 10,19 = Eclo 11,19; Lc 10,21 = Eclo 
51,1; Lc 12,19 = Tb- 7,10; Lc 12,20 = Sb 15,8; Lc 13,25 = Tb 14,4; 
Lc 13,27 = lM c 3,6; Lc 13,29 = Br 4,37; Lc 14,13 = Tb 2,2; Lc 15,12 
= lM c 10,29[30] / Tb 3,17; Lc 18,7 = Eclo 35,22; Lc 19,44 = Sb 3,7; 
Lc 21,24 = Tb 14,5; Lc 21,24 = Eclo 28,18; Lc 21,25 = Sb 5,22; Lc
24,4 = 2Mc 3,26; Lc 24,31 = 2Mc 3,34; Lc 24,50 = Eclo 50,20-21; 
Lc 24,53 = Eclo 50,22-23.
Evangelho segundo João
Jo 1,3 = Sb 9,1; Jo 3,8 = Eclo 16,21; Jo 3,12 = Sb 9,16 / Sb 18,15- 
16; Jo 3,13 = Br 3,29; Jo 3,28 = lM c 9,39; Jo 3,32 = Tb 4,6; Jo 4,9 
= Eclo 50,25-26; Jo 4,48 = Sb 8 ,8 ; Jo 5,18 = Sb 2,16; Jo 6,35 = Eclo 
24,21; Jo 7,38 = Eclo 24,40 / Eclo 43,30-31; Jo 8,44 = Sb 2,24; Jo 
8,53 = Eclo 44,19; Jo 10,20 = Sb 5,4; Jo 10,22 = lM c 4,59; Jo
14,15 = Sb 6,18; Jo 15,9-10 = Sb 3,9; Jo 17,3 = Sb 15,3; Jo 20,22 
= Sb 15,11.
Atos dos Apóstolos
At 1,10 = 2Mc 3,26; At 1,18 = Sb 4,19; At 2,4 = Eclo 48,12; At 2,1 1 
= Eclo 36,7; At 2,39 = Eclo 24,32; At 4,24 = Jdt 9,12; At 5,2 = 2Mc 
4,32; At 5,12 = lM c 12,6; At 5,21 = 2Mc 1,10; At 5,39 = 2Mc 7,19; 
A t 9,1-29 = 2Mc 3,24-40; At 9,2 = lM c 15,21; At 9,7 = Sb 18,1; At 
10,2= Tb 12,8; At 10,22= lM c 10,25/ lM c 11,30.33 etc.; At 10,26 
= Sb 7,1; At 10,30 = 2Mc 11,8; At 10,34 = Eclo 35,12-13; A t 10,36 
= Sb 6,7 / Sb 8,3 etc.; At 11,18 = Sb 12,19; At 12,5 = Jdt 4,9; At
12,10 = Eclo 19,26; At 12,23 = Jdt 16,17; At 12,23 = Eclo 48,21 / 
lM c 7,41 / 2Mc 9,9; At 13,10 = Eclo 1,30; At 13,17 = Sb 19,10; At
14.14 = Jdt 14,16-17; At 14,15 = Sb 7,3; At 15,4 = Jdt 8,26; At
16.14 = 2Mc 1,4; At 17,23 = Sb 14,20 / Sb 15,17; At 17,24 = Tb
7,17 / Sb 9,9; At 17,24-25 = Sb 9,1; At 17,26 = Sb 7,18; At 17,27 = 
Sb 13,6; At 17,29 = Sb 13,10; At 17,30 = Eclo 28,7; At 19,7 = Sb 
3,17; At 19,28 = Dn 14,18.41; At 20,26 = Dn 13,46; At 20,32 = Sb 
5,5; At 20,35 = Eclo 4,31; At 21,26 = lM c 3,49; At 22,9 = Sb 18,1; 
At 24,2 = 2Mc 4,6; At 26,18 = Sb 5,5; At 26,25 = Jdt 10,13.
112
Epístola aos Romanos
Rm 1,19-32 = Sb 13-15; Rm 1,21 = Sb 13,1; Rm 1,23 = Sb 11,15 / 
Sb 12,24; Rm 1,28 = 2Mc 6,4; Rm 2,4 = Sb 11,23; Rm 2,11 = Eclo 
35,12-13; Rm 2,15 = Sb 17,11; Rm 4,13 = Eclo 44,21; Rm 4,17 = 
Eclo 44,19; Rm 5,5 = Eclo 18,11; Rm 5,12 = Sb 2,24; Rm 9,4 = Eclo
44,12 / 2Mc 6,23; Rm 9,19 = Sb 12,12; Rm 9,21 = Sb 15,7; Rm 
9,31 = Eclo 27,8 / Sb 2,11; Rm 10,7 = Sb 16,13; Rm 10,6 = Br 
3,29; Rm 11,4 = 2Mc 2,4; Rm 11,15 = Eclo 10,20-21; Rm 11,33 = 
Sb 17,1; Rm 12,15 = Eclo 7,34; Rm 13,1 = Eclo 4,27; Rm 13,1 = Sb 
6,3-4; Rm 13,10 = Sb 6,18; Rm 15,4 = lM c 12,9; Rm 15,8 = Eclo 
36,20.
Epístola aos Coríntios
ICor 1,24 = Sb 7,24-25; ICor 2,9 = Eclo 1,10; ICor 2,16 = Sb 9,13; 
ICor 4,13 =Tb 5,19; lC or4 ,14 = Sb 11,10; ICor 6,2 = Sb 3,8; ICor 
6 ,12= Eclo 37,28; ICor 6,13 = Eclo 36,18; ICor 6,18 = Eclo 23,17; 
ICor 7,19 = Eclo 32,23; ICor 9,19 = Eclo 6,19; ICor 9,25 = Sb 4,2; 
ICor 10,1 = Sb 19,7-8; ICor 10,20 = Br 4,7; ICor 10,23 = Eclo 
37,28; ICor 11,7 = Eclo 17,3 / Sb 2,23; ICor 11,24 = Sb 16,6; ICor 
15,29 = 2Mc 12,43-44; ICor 15,32 = Sb 2,5-6; ICor 15,34 = Sb 
13,1.
Epístola aos Coríntios
2Cor 5,1.4 = Sb 9,15; 2Cor 12,12 = Sb 10,16.
Epístola aos Gálatas
G1 2,6 = Eclo 35,13; G1 4,4 = Tb 14,5; G1 6,1 = Sb 17,17.
Epístola aos Efésios
E f 1,6 = Eclo 45,1 / Eclo 46,13; E f 1,17 = Sb 7,7; E f 4,14 = Eclo 5,9; 
E f 4,24 = Sb 9,3; Ef 6,12 = Sb 5,17; E f 6,14 = Sb 5,18; E f 6,16 = Sb 
5,19.21.
Epístola aos Filipenses
F1 4,5 = Sb 2,19; F1 4,13 = Sb 7,23; F1 4,18 = Eclo 35,6.
Epístola aos Colossenses 
Cl 2,3 = Eclo 1,24-25.
113
Ia Epístola aos Tessalonicenses
lTs 3,11 = Jdt 12,8; lT s 4 ,6 = Eclo 5,3; lTs 4,13 = Sb 3,18; 1Ts 5,1 
= Sb 8,8; lTs 5,2 = Sb 18,14-15; lTs 5,3 = Sb 17,14; lTs 5,8 = Sb 
5,18.
2a Epístola aos Tessalonicenses 
2Ts 2,1 = 2Mc 2,7.
Ia Epístola a Timóteo
lTm 1,17 = Tb 13,7.11; lTm 2,2 = 2Mc 3,11 / Br 1,11-12; lTm
6,15 = Eclo 46,5 / 2Mc 12,15 / 2Mc 13,4.
2a Epístola a Timóteo
2Tm 2,19 = Eclo 17,26 / Eclo 23,10 (vl) / Eclo 35,3; 2Tm 4,8 = Sb 
5,16; 2Tm 4,17 = lMc 2,60.
Epístola a Tito
Tt 2,11 = 2Mc 3,30; Tt 3 ,4 = Sb 1,6.
Epístola aos Hebreus
Hb 1,3 = Sb 7,25-26; Hb 2,5 = Eclo 17,17; Hb 4,12 = Sb 18,15-16 
/ Sb 7,22-30; Hb 5,6 = lMc 14,41; Hb 7,22 = Eclo 29,14-16; Hb
11,5 = Eclo 44,16 / Sb 4,10; Hb 11,6 = Sb 10,17; Hb 11,10 = Sb
13,1 / 2Mc 4,1; Hb 11 ,17= 1Mc 2,52 / Eclo 44,20; Hb 11,27 = Eclo 
2,2; Hb 11,28 = Sb 18,25; Hb 11,35 = 2Mc 6,18-7,42; Hb 12,4 = 
2Mc 13,14; Hb 12,9 = 2Mc 3,24; Hb 12,12 = Eclo 25,23; Hb 12,17 
= Sb 12,10; Hb 12,21 = lMc 13,2; Hb 13,7 = Eclo 33,19 / Sb 2,17.
Epístola de Tiago
Tg 1,1 = 2 Mc 1,27; Tg 1,2 = Eclo 2,1 / Sb 3,4-5; Tg 1,13 = Eclo 
15,11-20; Tg 1,19 = Eclo 5,11; Tg 1,21 = Eclo 3,17; Tg 2,13 = Tb 
4,10; Tg 2,23 = Sb 7,27; Tg 3,2 = Eclo 14,1; Tg 3,6 = Eclo 5,13; Tg 
3,9 = Eclo 23,1.4; Tg 3 ,10 = Eclo 5,13 / Eclo 28,12; Tg 3,13 = Eclo 
3,17; Tg 4 ,2 = lMc 8,16; Tg 4,11 = Sb 1,11; Tg 5,3 = Jdt 16,17 / 
Eclo 29,10; Tg 5,4 = Tb 4,14; Tg 5,6 = Sb 2,10 / Sb 2,12 / Sb 2,19.
I a Epístola de Pedro
lPd 1,3 = Eclo 16,12; lPd 1,7 = Eclo 2,5; lPd 2,25 = Sb 1,6; lPd 
4,19 = 2Mc 1,24 etc.; lPd 5,7 = Sb 12,13.
114
2a Epístola de Pedro
2Pd 2,2 = Sb 5,6; 2Pd2,7 = Sb 10,6; 2Pd 3,9 = Eclo 35,19; 2Pd 3,18 
= Eclo 18,10.
I a Epístola de João 
lJo 5,21 = Br 5,72.
Epístola de Judas 
Jd 1,13 = Sb 14,1.
Livro do Apocalipse
Ap 1,18 = Eclo 18,1; Ap 2,10 = 2Mc 13,14; Ap 2,12 = Sb 18,16[15]; 
Ap 2,17 = 2Mc 2,4-8; Ap 4,11 = Eclo 18,1 / Sb 1,14; Ap 5,7 = Eclo 
1,8; Ap 7,9 = 2Mc 10,7; Ap 8,1 = Sb 18,14; Ap 8,2 = Tb 12,15; Ap
8,3 = Tb 12,12; Ap 8,7 = Eclo 39,29 / Sb 16,22; Ap 9,3 = Sb 16,9; 
Ap 9,4 = Eclo 44,18 etc.; Ap 11,19 = 2Mc 2,4-8; Ap 17,14 = 2Mc 
13,4; Ap 18,2 = Br 4,35; Ap 19,1 = Tb 13,18; Ap 19,11 = 2Mc 3,25 
/ 2Mc 11,8; Ap 19,16 = 2Mc 13,4; Ap 20,12-13 = Eclo 16,12; Ap 
21,19-20 = Tb 13,17.
2. Ordenação pelos livros Deuterocanônicos do A T 
Acréscimos de Daniel
Dn 13,46 = Mt 27,24 / At 20,26; Dn 14,18.41 = At 19,28.
Profeta Baruc
Br 1,11-12 = lTm 2,2; Br 3,29 = Jo 3,13 / Rm 10,6; Br 4,1 = Mt 
5,18; Br 4,7 = ICor 10,20; Br 4,35 = Ap 18,2; Br 4,37 = Mt 8,11 / 
Lc 13,29; Br 5,72 = lJo 5,21.
Eclesiástico (ou Sirácida!
Eclo 1,8 = Ap 5,7; Eclo 1,10 = ICor 2,9; Eclo 1,24-25 = Cl 2,3; Eclo
1,30 = At 13,10; Eclo 2,1 = Tg 1,2; Eclo 2,2 = Hb 11,27; Eclo 2,5 = 
lPd 1,7; Eclo 2,18 = Mc 9,31; Eclo 3,17 = Tg 1,21 / Tg 3,13; Eclo 
4,1 = Mc 10,18; Eclo 4,27 = Rm 13,1; Eclo 4,31 =At 20,35; Eclo 5,3 
= lTs 4,6; Eclo 5,9 = E f 4,14; Eclo 5,11 = T g 1,19; Eclo 5,13 = Tg 3,6 
/ Tg 3,10; Eclo 6,19 = ICor 9,19; Eclo 6,24-25 = Mt 11,29; Eclo
115
6,28-29 = Mt 11,29; Eclo 7,14 = Mt 6,7; Eclo 7,32-35 = Mt 25,36; 
Eclo 7,34 = Rm 12,15; Eclo 9,8 = Mt 5,28; Eclo 10,14 = Lc 1,52; 
Eclo 10,20-21 = Rm 11,15; Eclo 11,19 = Lc 10,19; Eclo 13,17 = Mt 
10,16; Eclo 14,1 =Tg 3.2; Eclo 14,10 = Mt 6,23; Eclo 15,11-20 = T g 
1,13; Eclo 16,12 = lPd 1,3; Eclo 16,12 = Ap 20,12-13; Eclo 16,21 = 
Jo 3,8; Eclo 17,3 = ICor 11,7; Eclo 17,17 = Hb 2,5; Eclo 17,26 = 
2Tm 2,19; Eclo 18,1 = Ap 1,18 / Ap 4,11; Eclo 18,10 = 2Pd 3,18; 
Eclo 18,11 = Rm 5,5; Eclo 19,26 = At 12,10; Eclo 20,30-31 = Mt 
13,44; Eclo 23,1.4 = Mt 6,9 / Tg 3,9; Eclo 23,10 (vl) = 2Tm 2,19; 
Eclo 23,17 = ICor 6,18; Eclo 24,19 = Mt 11,28; Eclo 24,21 = Jo 
6,35; Eclo 24,32 = At 2,39; Eclo 24,40; 43,30-31 = Jo 7,38; Eclo
25,7-12 = Mt 5,2-4; Eclo 25,23 = Hb 12,12; Eclo 26,14 = Mc 8,37; 
Eclo 27,6 = Mt 7,16; Eclo 27,8 = Rm 9,31; Eclo 28,2= Mt 6,12; Eclo
28.7 = At 17,30; Eclo 28,12 = Tg 3,10; Eclo 28,18 = Lc 21,24; Eclo
29.10 = Tg 5,3; Eclo 29,10-11 = Mt 6,20; Eclo 29,14-16 = Hb 7,22; 
Eclo 31,15 = ML 7,12; Eclo 32,23 = ICor 7,19; Eclo 33,1 = Mt 6,13; 
Eclo 33,19 = Hb 13,7; Eclo 35,3 = 2Tm 2,19; Eclo 35,6 = F1 4,18; 
Eclo 35,12-13 = At 10,34; Eclo 35,12-13 = Rm 2,11; Eclo 35,13 = 
G1 2,6; Eclo 35,19 = 2Pd 3,9; Eclo 35,22 = Mt 16,27 / Lc 18,7; Eclo
36.7 = At 2,11; Eclo 36,18 = ICor 6,13; Eclo 36,20 = Rm 15,8; Eclo
37,2 = Mt 26,38; Eclo 37,2 = Mc 14,34; Eclo 37,28 = ICor 6,12 / 
ICor 10,23; Eclo 39,29 = Ap 8,7; Eclo 40,15 = Mt 12,5 / Mc 4,5; 
Eclo 44,12 = Rm 9,4; Eclo 44,16 = Hb 11,5; Eclo 44,18 etc. = Ap 
9,4; Eclo 44,19 = Jo 8,53 / Rm 4,17; Eclo 44,20 = Hb 11,17; Eclo 
44,21 = Rm 4,13; Eclo 45,1 = E f 1,6; Eclo 46,5 = lTm 6,15; Eclo 
46,13 = Ef 1,6; Eclo 48,5 = Lc 7,22; Eclo 48,10 = Mt 11,14 / Mt
17.11 / Lc 1,17 / Lc 9,8; Eclo 48,12 = At 2,4; Eclo 48,21 = At 
12,23; Eclo 48,24 = Mt 5,4; Eclo 50,20-21 = Lc 24,50; Eclo 50,22 = 
Lc 24,53; Eclo 50,25-26 = Jo 4,9; Eclo 51,1 = Mt 11,25 / Lc 10,21; 
Eclo 51,23 = Mt 11,28; Eclo 51,26-27 = Mt 11,29.
Livro da Sabedoria
Sb 1,6 =T t 3,4 / lPd 2,25; Sb 1,11 = Tg 4,11; Sb 1,14 = Ap 4,11; Sb 
2,5-6 = ICor 15,32; Sb 2,10 = Tg 5,6; Sb 2,11 = Rm 9,31; Sb 2,12 
= Tg 5,6; Sb 2,13 = Mt 27,43; Sb 2,16 = Jo 5,18; Sb 2,17 = Hb 13,7; 
Sb 17-18 = Mc 15,29; Sb 2,18-20 = Mt 27,43; Sb 2,19 = F1 4,5 / Tg 
5,6; Sb 2,22 = Mc 4,11; Sb 2,23 = ICor 11,7; Sb 2,24 = Jo 8,44 /
116
Rm 5,12; Sb 3,4-5 = Tg 1,2; Sb 3,7 = Lc 19,44; Sb 3,8 = ICor 6,2; 
Sb 3,9 = Jo 15,9-10; Sb 3,17 = At 19,27; S b3 ,18= lTs 4,13; Sb 4,2 
= ICor 9,25; Sb 4,10 = Hb' 11,5; Sb 4,19 = At 1,18; Sb 5,4 = Jo 
10,20; Sb 5,5 = At 20,32 / At 26,18; Sb 5,6 = 2Pd 2,2; Sb 5,16 = 
2Tm 4,8; Sb 5,17 = E f 6,12; Sb 5,18 = Ef 6,14; Sb 5,18 = lTs 5,8; 
Sb 5,19.21 = E f 6,16; Sb 5,22 = Lc 21,25; Sb 6,3-4 = Rm 13,1; Sb
6,7 = At 10,36; Sb 6,18 = Jo 14,15 / Rm 13,10; Sb 7,1 = At 10,26;
Sb 7,3 = At 14,15; Sb 7,7 = E f 1,17; Sb 7,11 = Mt 6,33; Sb 7,18 = At
17,26; Sb 7,22-30 = Hb 4,12; Sb 7,23 = F1 4,13; Sb 7,24-25 = ICor 
1,24; Sb 7,25-26 = Hb 1,3; Sb 7,27 = Tg 2,23; Sb 8,3 etc. = At 
10,36; Sb 8 ,8 = Jo 4,48 / lTs 5,1; Sb 9,1 = Jo 1,3 / At 17,24-25; Sb
9,3 = E f 4,24; Sb 9,9 = At 17,24; Sb 9,13 = ICor 2,16; Sb 9,15 = 
2Cor 5,1.4; Sb 9,16 = Jo 3,12; Sb 10,6 = 2Pd 2,7; Sb 10,16 = 2Cor 
12,12; Sb 10,17 = Hb 11,6; Sb 11,10 = ICor 4,14; Sb 11,15 = Rm 
1,23; Sb 11,23 = Rm 2,4; Sb 12,10 = Hb 12,17; Sb 12,12 = Rm
9,19; Sb 12,13 = lPd 5,7; Sb 12,19 = At 11,18; Sb 12,24 = Rm
1,23; Sb 13-15 = Rm 1,19-32; Sb 13,1 = Rm 1,21 / ICor 15,34 / 
Hb 11,10; Sb 13,6 = At 17,27; Sb 13,10 = At 17,29; Sb 14,1 = Jd 
1,13; Sb 14,20 = At 17,23; Sb 15,1 = Lc 6,35; Sb 15,3 = Jo 17,3; Sb
15,6 = Rm 9,21; Sb 15,8 = Lc 12,20; Sb 15,11 = Jo 20,22; Sb 15,17 
= At 17,23; Sb 16,6 = ICor 11,24; Sb 16,9 = Ap 9,3; Sb 16,13 = Mt 
16,18 / Rm 10,7; Sb 16,22 = Ap 8,7; Sb 16,26 = Mt 4,4; Sb 17,1 = 
Rm 11,33; Sb 17 ,2=M t 22,13; Sb 17,11 =Rm 2,15; Sb 17,14= lTs 
5,3; Sb 17,15 = Mc 6,49; Sb 17,17 = G1 6,1; Sb 18,1 = At 9,7 / At 
22,9; Sb 18,14 = Ap 8,1; Sb 18,14-15 = lTs 5,2; Sb 18,15-16 = Jo
3,12 / Hb 4,12; Sb 18,16[15] = Ap 2,12; Sb 18,25 = Hb 11,28; Sb
19,7-8 = ICor 10,1; Sb 19,10 = At 13,17.
Tobias
Tb 2,2 = Lc 14,13; Tb 3,17 = Lc 15,12; Tb 4,3 = Mt 8,21; Tb 4,6 = Jo 
3,32; Tb 4,10 = Tg 2,13; Tb 4,14 = Tg 5,4; Tb 4,15 = Mt 7,12; Tb
4,17 = Mt 25,35; Tb 5,15 = Mt 20,2; Tb 5,19 = ICor 4,13; Tb 7,10 = 
Lc 12,19; Tb 7,17 = Mt 11,25 / Lc 10,17 / At 17,24; Tb 11,9 = Lc 
2,29; Tb 12,8 = At 10,2; Tb 12,12 = Ap 8,3; Tb 12,15 = Mt 18,10 / 
Lc 1,19 / Ap 8,2; Tb 13,7.11 = lTm 1,17; Tb 13,17 = Ap 21,19-20; 
Tb 13,18 = Ap 19,1; Tb 14,4 = Mt 23,38 / Lc 13,25; Tb 14,5 = Mc
1,15 / Lc 21,24 / G1 4,4.
117
Judite
Jdt 4,9 = At 12,5; Jdt 8,6 = Lc 2,37; Jdt 8,26 = At 15,4; Jdt 8 ,35 = 
Mc 5,34; Jd 9,12 = At 4,24; Jdt 10,13 = At 26,25; Jdt 11,19 = Mt 
9,36; Jdt 12,8 = lTs 3,11; Jdt 13,18 = Lc 1,42; Jdt 14,16-17 = At 
14,14; Jdt 16,17 = Mt 11,22 / Mc 9,48 / At 12,23 / Tg 5,3.
1° Livro dos Macabeus
4,2; lMc 9,39 = Jo 3,28; lMc 10,25 = At 10,22; lMc 10,29[30] = Lc 
15,12; lMc 11,30.33 etc. = At 10,22; lMc 12,6 = At 5,12; lMc 12,9 
= Rm 15,4; lMc 12,17 = Mt 9,38; lMc 13,2 = Hb 12,21; lMc 14,41 
= Hb 5,6; lMc 15,21 = At 9,2.
2° Livro dos Macabeus
2Mc 1,4 = At 16,14; 2Mc 1,10 = At 5,21; 2Mc 1,24 etc. = lPd 4,19; 
2Mc 1,27 = Tg 1,1; 2Mc 2,4 = Rm 11,4; 2Mc 2,4-8 = Ap 2,17 / Ap 
11,19; 2Mc 2,7 = 2Ts 2,1; 2Mc 3,11 = lTm 2,2; 2Mc 3,24 = Hb 
12,9; 2Mc 3,24-40 = At 9,1-29; 2Mc 3,25 = Ap 19,11; 2Mc 3 ,26 = 
Lc 24,4; 2Mc 3,26 = At 1,10; 2Mc 3,30 = Tt 2,11; 2Mc 3 ,34 = Lc 
24,31; 2Mc 4,1 = Hb 11,10; 2Mc 4,6 = At 24,2; 2Mc 4 ,32 = At 5,2; 
2Mc 6,4 = Rm 1,28; 2Mc 6 ,18-7,42 = Hb 11,35; 2Mc 6,23 = Rm 9,4; 
2Mc 7,19 = At 5,39; 2Mc 8,17 = Mt 24,15; 2Mc 9,9 = At 12,23; 2Mc
10.3 = Mt 12,4; 2Mc 10,7 = Ap 7,9; 2Mc 11,8 = At 10,30 / Ap 
19,11; 2Mc 12,15 = lTm 6,15; 2Mc 12,43-44 = ICor 15,29; 2Mc
13.4 = lTm 6,15 / Ap 17,14 / Ap 19,16; 2Mc 13,14 = Hb 12,4 / Ap 
2 , 10 .
Este estudo é de autoria do Prof. Carlos Ramalhete (RAMALHETE, 
2000 ).
118
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17
ção grega das escrituras sagradas dos judeus. Esta foi a primeira 
tradução feita dos livros hebraicos para uma outra língua. A tradu­
ção do hebraico para o grego, segundo a tradição, foi feita por 72 
escribas durante 72 dias, por isso possui o nome Septuaginta que 
significa “Tradução dos Setenta”.
A primeira menção ã versão da Septuaginta encontra-se em 
um escrito chamado “Carta de Aristéias” . Segundo esta carta, 
Ptolomeu II Filadelfo tinha estabelecido recentemente uma valiosa 
biblioteca em Alexandria. Ele foi persuadido por Demétrio de Fálaro 
(responsável pela biblioteca) a enriquecê-la com uma cópia dos li­
vros sagrados dos judeus. Para conquistar as boas graças deste 
povo, Ptolomeu, por conselho de Aristéias (oficial da guarda real, 
egípcio de nascimento e pagão por religião) emancipou 100 mil es­
cravos, de diversas regiões de seu reino. Então, enviou represen­
tantes (entre os quais Aristéias) a Jerusalém e pediu a Eliazar (o 
Sumo Sacerdote dos judeus) para que fornecesse uma cópia da Lei 
e judeus capazes de traduzi-la para o grego. A embaixada obteve 
sucesso: uma cópia da Lei ricamente ornamentada foi enviada para 
o Egito, acompanhada por 72 peritos no hebraico e no grego (seis 
de cada Tribo8) para atender o desejo do rei. Estes foram recebidos 
com grande honra e durante sete dias surpreenderam a todos pela 
sabedoria que possuíam, demonstrada em respostas que deram a 
72 questões: então, eles foram levados para a isolada ilha de Faros 
e ali iniciaram os seus trabalhos, traduzindo a Lei, ajudando uns 
aos outros e comparando as traduções conforme iam terminando. 
Ao final de 72 dias, a tarefa estava concluída. A tradução foi lida na 
presença de sacerdotes judeus, príncipes e povo, reunidos em 
Alexandria; a tradução foi reconhecida por todos e declarada em 
perfeita conformidade com o original hebraico. O rei ficou profun­
damente satisfeito com a obra e a depositou na sua biblioteca.
Comumente se acredita, que a Carta de Aristéias foi escrita 
por volta de 200 a.C., 50 anos após a morte do Rei Filadelfo.
Não há ainda entre os estudiosos um consenso sobre a ori­
gem e autenticidade desta carta. Embora a grande maioria consi-
8- Por ordem divina o povo de Israel foi classificado em 12Tribos, cada uma tendo origem em 
dos filhos do Patriarca Jacó (cf. Gn 49).
18
dere seu conteúdo fantasioso e lendário, questiona-se se não há 
algum fundamento histórico disfarçado sob os detalhes lendários. 
Por exemplo, hoje se sabe com certeza que o Pentateuco foi mesmo 
traduzido em Alexandria.
Difusão e revisões 
Pelo fato de serem pouquíssimos os Judeus que ainda possu­
íam conhecimento da língua hebraica, principalmente após o domí­
nio helenista (entre os séculos IV e I a.C.) onde o koiné (grego popu­
lar) era o idioma falado, a Septuaginta foi bem acolhida, principal­
mente pelos judeus alexandrinos que foram os seus principais 
difusores, pelas nações onde o grego era falado. A Septuaginta foi 
usada por diferentes escritores e suplantou os m anuscritos 
hebraicos na vida religiosa (JAEGER, 1991).
Em razão de sua grande difusão no mundo helênico (tanto 
entre judeus, filósofos gregos e cristãos), as cópias da Septuaginta 
passaram a se multiplicar, dando origem a variações contextuais.
Orígenes9, motivado pela necessidade de restaurar o texto à 
sua condição original, dá origem à sua revisão que ficou registrada 
em sua famosa obra, conhecida como Hexápla10.
Luciano, sacerdote de Antioquia e mártir, no início do séc. IV 
publicou uma edição corrigida de acordo com o hebraico; tal edição 
reteve o nome de koiné, edição vulgar, e, às vezes, é chamada de 
Loukianos, após o nome de seu autor.
Finalmente, Hesíquio, um bispo egípcio, publicou, quase que 
ao mesmo tempo, uma nova revisão, difundida principalmente no 
Egito.
Os Manuscritos 
Os três manuscritos mais conhecidos da Septuaginta são: o 
Vaticano (Codex Vaticanus), do séc. IV; o A lexandrino (Codex 
Alexandrínus), do séc. V, atualmente no Museu Britânico de Lon­
'' Há uma breve biografia no capitulo 5.
111 Recebe este nome por dispor do texto do AT em 6 colunas distintas, cada uma conforme 
uma tradução (hebraico, a LXX, versão de Áquila, versão de Símaco, versão deTeodocião, 
e outra de m enui importância). Foi perdida restando em nossos dias som ente alguns 
fragm entos.
19
dres; e o do Monte Sinai (Codex Sinaiticus), do séc. IV, descoberto 
por Tischendorf no convento de Santa Catarina, no Monte Sinai, em 
1844 e 1849, sendo que parte se encontra em Leipzig e parte em 
São Petersburgo.
Todos foram escritos em unciais11. O Codex Vatícanus é con­
siderado o mais fiel dos três; é geralmente tido como o texto mais 
antigo, embora o Codex Alexandrinus carregue consigo o texto da 
Hexapla e tenha sido alterado segundo o Texto Massorético. O Codex 
Vatícanus é referido pela letra B; o Codex Alexandrinus, pela letra 
A; e o Codex Sinaiticus, pela primeira letra do alfabeto hebraico 
[Aleph] ou S.
Os livros que estão presentes na Septuaginta
Os livros presentes na Septuaginta, conforme a ordem origi­
nal: Gênesis, Êxodo, Levitico, Números, Deuteronômio, Josué, 
Juizes, Rute, 1 Samuel (1 Reis), 2 Samuel (2 Reis), 1 Reis (3 Reis), 2 
Reis (4 Reis), 1 Crônicas (1 Paralipôm enos), 2 C rônicas (2 
Paralipômenos), 1 Esdras, 2 Esdras (Esdras e Neemias), Ester, 
Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 Macabeus, 4 Macabeus, 
Salmos, Odes, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Job, 
Sabedoria, Eclesiástico (Sirac), Salmos de Salomão, Oséias, Amós, 
Miquéias, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, 
Zacarias, Malaquias, Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruque, Epís­
tola de Jeremias, Ezequiel, Suzana12, Daniel, Bel e o Dragão (SOCI­
EDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, Xii-Xiii).
É importante notar que o conjunto de livros da Septuaginta é 
bem maior do que qualquer versão do AT disponível nas Bíblias 
Católica, Ortodoxa e Protestante. O que isto necessariamente signi­
fica? Será que o catálogo da LXX corresponderia a um cânon bíbli­
co conhecido e utilizado pelos antigos Judeus? Jesus e os Apósto­
los utilizaram este catálogo mais amplo de Escrituras Sagradas?
11 Letras maiúsculas.
12 "H istória de Suzana" que consta corno apêndice no livro de Daniel nas Bíblias Católicas e 
Ortodoxas.
20
C A P Í T U L O 3
As Escrituras Sagradas 
utilizadas no tempo de Jesus
C omumente é veiculada a informação (principalmente em síti­
os na Internet e livros, ambos de origem protestante) de que 
desus e os Apóstolos não utilizaram a versão grega da Septuaginta, 
mas que manusearam as Escrituras do AT em manuscritos dispo­
níveis em h eb ra ico13. Isto se deve basicam ente, ao fato da 
Septuaginta possuir livros que são considerados apócrifos pelas 
confissões protestantes. Desta forma, a tese propõe que Jesus e os 
Apóstolos não manusearam esta versão grega das Escrituras.
Os cristãos crêem que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo 
110 ventre da Virgem Maria. A referência mais conhecida à doutrina 
da concepção virginal de Maria está em Mateus 1,18-23.
Mateus, após relatar que a Mãe do Senhor concebeu por obra 
do Espírito Santo, antes de coabitar com José, e que então, um anjo 
do Senhor apareceu a José em sonhos para informar que este não 
deveria recusá-la como sua esposa, pois o filho que ela concebeu 
era obra do Espírito Santo (cf. versículos 18 a 21), nos versículos 
2/2 e 23, escreve:
“Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor 
falou pelo profeta. Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, 
que se chamará Emanuel, que significa: Deus conosco".
Mateus transcreve aqui Isaías 7,14. Conforme podemos ob­
servar, a tradução em língua portuguesa apresenta a expressão 
“eis que uma virgem conceberá".
0 Protestantism o de form a gerai crê que o cânon hebreu já estava definido antes de 
Cristo e que corresponde à atual Bíblia Hebraica. Este assunto será abordado no Capítulo 4.
21
Alguns cristãos defendem a tese de que Mateuscitava Isaías
7,14 conforme a versão da Septuaginta. Como defesa, afirmam que 
na versão em hebraico, o adjetivo aplicado àquela que conceberá é 
almah, que significa jovem, pois o adjetivo mais apropriado para 
virgem seria b’tulah; enquanto que na Septuaginta, o versiculo apre­
senta o adjetivo grego parthenos, que significa virgem.
Embora seja possível, o adjetivo almah significar “virgem”, 
enquanto que b ’tulah também pode significar "mulher casada” (cf. 
Joel 1:8). Por exemplo, “almah” aparece pelo menos sete vezes no 
AT: Gn 24,43; Ex 2,8; SI 68,25; Pv 30,19; Ct 1,3; 6,8 e Is 7:14. Em 
todas as primeiras seis referências tem o sentido de virgem ou 
mulher solteira (que era virgem). Aliás, em Ct 6,8, o sentido de 
virgem é bastante claro: fala sobre 3 classes de mulheres: as rai­
nhas, as concubinas e as donzelas (“almot”, plural de “almah”). A 
mesma Rebeca, que é chamada “b’tulah [virgem em hebraico] a quem 
varão não havia conhecido” em Gênesis 24,16, é chamada no mes­
mo capítulo de almah.
Há citações da Septuaginta no NT?
Vários estudos atestam que os Apóstolos e Evangelistas 
usaram a Septuaginta, “pois, como se sabe, muitas citações (e 
alusões) do Antigo Testamento no Novo Testamento procedem di­
retamente da clássica versão grega" (SOCIEDADE BÍBLICA DO 
BRASIL, 2003, i). Das 350 citações que o NT faz do AT, pelo 
m en os 300 p rovêm da v e rsã o g rega (B ÍB L IA , 1974, iii; 
BIBLEREARCH, 2006).
Temos provas de que o Senhor Jesus usou a Septuaginta. 
Em Sua resposta ao diabo em Mt 4,4 Ele disse:
“Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda p a ­
lavra que procede da boca de Deus".
O Senhor referiu-se a Deuteronômio 8,3, onde na versão 
hebraica a expressão usada é “da boca do Senhor" enquanto a 
Septuaginta traz “da boca de Deus".
Nos capítulos 6 e 7 do Livro dos Atos dos Apóstolos, lemos 
que Estevão foi levado ao Sinédrio14 pela multidão (cf. A t 6,12). 
D irigindo-se a seus acusadores, conta-lhes como Jacó trouxe 
seus 75 descendentes para o Egito (cf. A t 7,14-15).
22
Porém os textos hebraicos dizem que Jacó trouxe 70 descen­
dentes para o Egito (cf. Gn 46,26-27; Dt 10,22 e Ex 1,5). O Sinédrio 
conhecia bem a proibição divina de acrescentar ou retirar algo dos 
livros sagrados (cf. Dt 4,2; 12,32; SI 12,6-7 e Prov 30,6), mas não 
ousou acusar Estevão de estar pervertendo as Escrituras, orde­
nando matá-lo porque foi contraditado na defesa de Cristo.
A solução deste caso é muito simples. Estevão citava Gn 46,26- 
27 a partir da Septuaginta, que possui cinco nomes a mais que o 
Texto Massorético hebraico. Os cinco nomes que faltam na versão 
hebraica foram preservados na Septuaginta em Gn 46, 20, onde 
Makir, filho de Manasses, e Makir, filho de Galaad (=Gilead, no 
hebraico), são apontados, posteriormente, como os dois filhos de 
Kfraim, Taam (=Tahan, no hebraico) e Sufalaam (=Shufhelah, no 
hebraico) e seu filho Edon (=Eran, no hebraico).
Outro exemplo é o nome de um deus pagão citado por Estevão 
cm At 7,43. Estevão citou-o como Renlão. Esta citação é de Aniõs 
3,26. No texto hebraico o nome do deus é Quijum. Estevão citou a 
versão da Septuaginta que traz Renfã e não Quijum do texto hebraico.
Isto significa que o uso da versão da Septuaginta era também 
comum entre os Judeus da Palestina, contrariando aqueles que afir­
mam que somente os judeus de Alexandria aceitavam esta versão.
Pelo fato da Septuaginta ter sido amplamente usada pelos 
Apóstolos e presbíteros da primitiva Igreja, a Tradição Cristã confe­
riu-lhe lugar especial (SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, v).
As descobertas do M ar M orto
Partes da Septuaginta foram encontradas na Judéia, entre os 
manuscritos do Mar Morto, descobertos em Qumran, sendo anteri­
ores ao ano 70 d.C. Alguns exemplares foram encontrados na ca­
verna 4 (1 1 9 L X X L ev .; 1 2 0 p ap L X X L ev .; 121 LXXNum .;
122LXXDeut.), um texto não identificado da Septuaginta grega en­
contrado na caverna 9 (Q9), e existe um fragmento de papiro, escri­
to em grego, encontrado na caverna 7 (LXXExod.). A caverna 7 produ-
11 Conselho nacional que no tem po de Jesus tinha autoridade entre os judeus para julgar 
casos religiosos ou civis. Jesus condenado prim eiram ente pelo Sinédrio e depois levado a 
Pôncio Pilatos.
23
ziu ainda muitos pequenos fragmentos em grego (da Septuaginta), 
cujas identificações permanecem em discussão ou sem classificação.
O Dr. Emanuel Tov sugere as seguintes identificações para al­
guns destes fragmentos gregos do primeiro século antes de Cristo: 
7Q4. Números 14,23-24;
7Q5. Êxodo 36,10-11; Números 22,38;
7Q6. 1 Salmo 34,28; Provérbios 7,12-13;
7Q6. 2 Isaías 18,2
7Q8. Zacarias 8,8; Isaias 1,29-30; Salmo 18,14-15; Daniel 
2,43; Eclesiastes 6,3.
Entre estes fragmentos constam ainda trechos dos livros 
deuterocanônicos do AT:
■ Em grego foram encontrados fragmentos de: 4Q478 [Tobias], 
4Q383, 7QLXXEpJer. [Epístola de Jeremias];
■ Em hebraico foram encontrados: uma cópia do livro do Ecle­
siástico [manuscrito 2QSir.], “A História de Suzana” (corres­
pondente ao capítulo 13 do livro de Daniel) [manuscrito 4Q551] 
e fragmentos do livro de Tobias [manuscrito 4Q200].
■ Em aramaico foi encontrado um fragmento do livro de Tobias 
[manuscrito 4Q 196-9],
Uma cópia do livro do Eclesiástico, em hebraico, foi encontra­
da nas ruínas de Masada e é datada como do início do século I a.C.
Estas evidências mostram que os livros deuterocanônicos eram 
conhecidos e manuseados pelos Judeus da Palestina.
Alguém poderia objetar afirmando que tais descobertas 
correspondem à literatura usada pelos Ebionitas (seita de Qumran), 
um grupo estranho ao ramo principal do Judaísmo. Não é desta 
forma que pensam os especialistas:
“Tanto no judaísmo moderno quanto no cristianismo, uma 'sei­
ta ’ é, geralm ente, um ramo de um tronco re lig ioso m aior e é 
freqüentemente vista como excêntrica ou desviada nas suas crenças. 
Mas os pesquisadores e leigos deveriam recordar que durante todo o 
período de existência de Qumran, os fariseus e os saduceus eram 
‘seitas’, assim como eram os essênios! Foi apenas a partir do século 
II d. C. que passou a se form ar um tipo de judaísm o ‘ aquele dos 
fariseus, dos rabis ‘ que veio a se tornar padrão para o povo judeu
24
como um todo. Tais matérias são de menor importância se compara­
das com os manuscritos bíblicos. Primeiro, porque toclos os pesquisa­
dores concordam que nenhum dos textos bíblicos (tais como Gênese 
ou Isaías) Joi composto em Qumran; ao contrário, todos eles se origi­
naram antes do período de Qumran. Também é aceito que muitos ou 
a maioria desses manuscritos foram trazidos de fora para Qumran e. 
depois, aí reproduzidos. Isto significa que o valor da maioria dos 
manuscritos bíblicos enganam, não em estabelecer precisamente onde 
foram escritos ou copiados, mas especificamente quanto ao estudo 
das formas textuais que encerram”15 (ABEGG, 1999).
Não é possível a firm ar que todo conjunto de livros da 
Septuaginta foi considerado sagrado pelos judeus alexandrinos, 
judeus palestinenses ou por Jesus e seus Apóstolos. Só podemos 
afirmar que era conhecido por todos eles por constar na versão 
bíblica por eles usada.
O tempo levará a sinagoga e a Igreja a escolherem alguns li­
vros da Septuaginta como canônicos e a rejeitarem outros. Nesta 
decisão a sinagoga saiu na frente. Vejamos no próximo capítulo 
como isto aconteceu.
ir’ Fragm ento traduzido por Carlos Martins Nabeto.
25
C A P Í T U L O 4
O Cânon de Jâmnia
N o tempo do Imperador Romano Nero, desencadeou-se a primei­
ra revolta aberta dos judeus da Palestina contra Roma (66-70). 
Tilo, na primavera de 70, sitiou Jerusalém, a cidade inteira foi 
saqueada, arrasada e o Templo foi destruído no dia 10 do mês de 
acosto do mesmo ano. Os fariseus de Jerusalém16 se transferiram 
para a cidade de Jâmnia, onde formaram próspera escola rabínica.
Aproximadamente no ano 90, este grupo de rabinos define 
uma lista dos livros que deveriam ser considerados sagrados pelos 
Judeus. O Cânon de Jâmnia(como ficou conhecida esta lista) deu 
origem à atual Bíblia Hebraica. O Cânon de Jâmnia excluiu os sete 
livros deuterocanônicos [do AT] e os acréscimos de Daniel e Ester.
Um cânon sagrado pré-existente?
Alguns afirmam que o Cânon dc Jâmnia foi a confirmação 
ilc um Cãnon Sagrado anterior e definido pela autêntica Trad i­
ção judaica.
Segundo esta tese, o fato de Jesus e os Apóstolos se referirem 
as Escrituras Sagradas disponíveis em seu tempo de forma geral 
("Escrituras”), mostra que eles tinham em mente uma quantidade 
precisa de livros que estavam incluídos sob aqueles títulos gerais.
Apresenta-se como prova o registro do Evangelista Lucas ao
11 Alguns autores identificam a Escola Rabínica em Jâmnia como o antigo Sinédrio 
(BERARDINO, 2002, verb. Jerusalém, p, 750). Entretanto há controvérsias entre os 
especialistas, já que o Sinédrio era predom inantem ente form ado por Saduceus, que neste 
tem po foram desimados.
27
diálogo entre Jesus e os discípulos na estrada de Emaús: ‘E come­
çando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele 
se achava em todas as Escrituras.”(Lc 24,27). A expressão “todas 
as Escrituras” demonstraria que já no tempo de Cristo, uma lista 
de livros canônicos já estava fixada.
Cita-se ainda João 5,39, quando Jesus manda os Fariseus, 
que eram os legítimos intérpretes da Lei (cf. Mt 23,1), verificarem 
que Nele se cumpriram todas as profecias messiânicas. Jesus ao 
utilizar a expressão “Escrituras” estaria se referindo a um conjunto 
de livros bem conhecido, tanto por Ele quanto pelos Fariseus.
Chama-se ainda a atenção à expressão “Moisés e os Profetas” 
(cf. Lc 24,27). “Moisés e os Profetas” ou “A Lei e os Profetas” seria a 
estrutura de como este cânon judeu estaria organizado, sendo que 
na seção “Lei”, estariam contidos também os Salmos (cf. João 10:34). 
Assim, se quer defender a existência de um cânon bíblico, organi­
zado em uma tríplice estrutura: a Lei, os Profetas e os Salmos. Tam­
bém se costuma fazer referencia a Lc 24,44, onde Jesus ao apare­
cer aos apóstolos e discípulos lhes disse: “(...) era necessário que se 
cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos pro­
je tas e nos Salmos”.
Estes argumentos são bastante frágeis, pois em todas as refe­
rências apresentadas, Jesus está tentando demonstrar que Nele se 
cumprem todas as profecias messiânicas. E onde estão estas profe­
cias? Estão justamente nos livros de Moisés, nos Profetas e nos 
Salmos. Desta forma, dentro do contexto em questão, é bem mais 
certo que Jesus esteja referenciando esta triplica estrutura, porque 
nela se encontram as profecias messiânicas, do que Ele esteja fa­
zendo referência a um cânon sagrado existente em seu tempo.
Há também quem apresente como prova do suposto cânon, 
então confirmado pelo Cânon de Jâmnia, os testemunhos históri­
cos de Flãvio Josefo e Áquila (o qual criou uma nova versão grega 
das Escrituras hebraicas, que leva o seu nome).
O testemunho de Áquila é reconhecidamente posterior ao 
Cânon de Jâmnia, e por isso, também não pode ser aceito como 
prova: muito pelo contrário...
28
Por outro lado, reproduziremos abaixo o texto de Josefo, con- 
lorme consta em sua obra “Contra Apion’’:
“38. É, pois natural ou melhor dizendo, necessário, que não 
i xista entre nós uma multiplicidade de livros em contradição entre si, 
senão somente vinte e dois17 que contém os registros de toda história 
e que com toda justiça são dignos de confiança. 39. Deles, existem 
cinco de Moisés, os quais contêm as leis e a tradição desde a criação 
tio homem até a morte de Moisés. Compreende, inais ou menos, um 
geríodo de três mil anos. 40. Desde a morte de Moisés até Artaxerxes18, 
■.ncessor de Xerxes19 como rei dos persas, aos profetas posteriores a 
Moisés foram deixados os feitos do seu tempo em treze livros, os 
i/iiatro restantes contém hinos a Deus e conselhos morais aos ho­
mens. 41. Também desde Artaxerxes [tempo do Profeta Esdras] até 
nossos dias cada acontecimento tem sido registrado; embora estes 
nr to sejam dignos da mesma confiança dos anteriores, porque não 
havia uma sucessão rigorosa de profetas. 42. Os feitos provam com 
claridade como nós nos acercamos das nossas próprias escrituras: 
havendo já transcorrido tanto tempo, ninguém se atreveu a adicio­
nar. tirar ou trocar nada nelas “ (JOSEFO, 2006, p. 21-22).
Não é possível precisar se o testemunho de Josefo é anterior 
ou posterior ao Cânon de Jâmnia, devido à incerteza entre as datas 
do Cânon e seu testemunho.
Costuma-se dizer que “Contra Apion” foi terminada pelo ano 
'i |; e o Cânon de Jâmnia, normalmente é referido pelos especialistas 
i oi no sendo do ano 90. Entretanto, nenhuma destas datas é conclu­
siva; sabemos apenas que ambos são os últimos anos do séc I d.C.
Com efeito, não é possível precisar se o testemunho de Josefo 
i .mterior ou não ao Cânon de Jâmnia, devido à incerteza entre as 
il.itas do Cânon e seu testemunho. Esta incerteza compromete por 
i iimpleto o testemunho de Josefo, pois não se sabe com certeza se 
o mesmo foi influenciado ou não pelo Cânon de Jâmnia. Porém, há 
indícios que sim.
( is judeus organizavam suas Escrituras conform e o núm ero de letras de seu alfabeto.
I l.i tiadução original está Artajerjes ( " j" no lugar do " x "), o que difere do uso com um em 
,,1111as traduções. Por m otivo de unidade textual m antive conform e o uso com um .
Mesma razão da nota anterior.
29
Josefo era fariseu e os rabinos de Jâmnia também, assim pos­
sivelmente ele esteja simplesmente defendendo a posição de sua 
facção religiosa.
O prólogo da tradução Grega do Eclesiástico (ou Sabedoria de 
Sirac), livro escrito por volta de 130 a.C., portanto anterior ao teste­
munho de Josefo, parece contradizê-lo. Nele lemos:
“Pela Lei, pelos Profetas e por outros escritores que os suce­
deram, recebemos inúmeros ensinamentos importantes (...) Foi 
assim que após entregar-se particularmente ao estudo atento da 
Lei, dos Profetas e dos outros Escritos, transmitidos por nossos 
antepassados [...]".
Enquanto o testemunho de Josefo procura restringir o Cânon 
Sagrado ao tempo de Esdras, “porque [depois de Esdras] não houve 
uma sucessão precisa de profetas", o Eclesiástico parece ser mais 
amplo e fiel à História ao afirmar que “por outros escritores que os 
sucederam [os profetas], recebemos inúmeros ensinamentos impor­
tantes". O testemunho do Eclesiástico refere-se a livros posteriores 
ao tempo dos Profetas.
Veja o que estudioso protestante Leonard Rost tem a dizer 
sobre isso:
“Vê-se, pelo prólogo de Sirac [Eclesiástico ou Sabedoria de Sirac], 
que, além dos escritos assumidos no Cãnon hebraico, traduziram-se 
também outros que parecem ter gozado de bastente estima como obras 
religiosas de edificação, em círculos mais ou menos amplos, até o 
fina l do século I d.C" (ROST, 1980, p. 19).
Há ainda em Josefo um trecho bem polêmico, vejamos: 
“havendo já transcorrido tanto tempo, ninguém se atreveu a 
adicionar, tirar ou trocar nada nelas [nas Escrituras/’.
Alguns entendem que neste trecho Josefo confirma que os 
livros escritos depois do tempo de Esdras não estavam dispostos 
num mesmo volume com os livros que foram escritos antes deste 
mesmo período (protocanônicos), pois isto configuraria um acrésci­
mo nos primeiros.
Ora, ele está dizendo que nada foi alterado nos textos presen­
tes nestes livros, nenhuma sílaba a mais, nenhuma a menos. Josefo 
não está se referindo à adição ou retirada de livros a um conjunto 
pré-estabelecido de outros livros.
30
A tese do Cânon pré-existente apresenta sérios problemas. 
Primeiro, se este suposto cânon correspondia ao Cânon de Jâmnia, 
por que era comumente usada a Septuaginta com um catálogo bem 
maior, conforme é comprovado pelo testemunho do NT e as desco­
bertas do Mar Morto e Massada?
Segundo, se este suposto cânon correspondesse aos livros da 
Septuaginta, logo não seria permitida a definição de qualquer outro 
cânon bíblico; então por que foi estabelecido o Cânon de Jâmnia?Terceiro, os judeus alexandrinos e etíopes recusaram o Cânon 
de Jâm nia e até hoje guardam como sagrados os livros da 
«Septuaginta. Se realmente este suposto cânon bíblico existisse, não 
haveria disputas entre os judeus sobre este tema; todos adotariam 
o mesmo conjunto de livros sagrados definidos pela Tradição Ju­
daica.
Fílon de Alexandria, historiador e filósofo judeu, viveu entre 
OS anos de 20 a 50 d.C. Em sua obra “Exposições sobre a Lei", onde 
íaz comentários sobre a doutrina da Torah20, as referências ao 
Pentateuco são todas da Septuaginta, que possuía os livros 
deuterocanônicos e as partes deuterocanônicas de Daniel e Ester, 
não aceitas posteriormente pelos Judeus de Jâmnia.
Um dos especialistas sobre a vida de Fílon de Alexandria, o 
Prof. Ritter, quanto ao uso da Septuaginta pelo filósofo escreve:
“A princípio o texto que ele [Fílon] comenta é o da tradução gre- 
i/a dos Setenta; algumas diferenças que se assinalou com razão en­
tre seu texto e aquele que possuímos atualmente dos Setenta se ex­
plicam de uma maneira satisfatória não pela leitura do texto hebraico, 
mas pelo fa to de que nossa recensão é de origem posterior à da que 
ele usava!’ (RITTER, 1979).
Antes que alguém objete afirmando que a Tradição dos ju ­
deus p a les tin en ses era d ife ren te da T rad ição dos ju d eu s 
alexandrinos, devo lembrá-los que ambos os grupos manuseavam 
a versão grega da Septuaginta, portanto, possuíam a mesma Tradi­
ção Judaica.
A correspondência entre a Tradição Judaica Alexandrina e a 
Palestina é atestada pelo estudioso Wolfson:
É com o os Judeus chamam a Lei de M oisés
31
“Ojudaísmo alexandrino, no tempo de Fílon, era do mesmo tron­
co do judaísmo farisaico, que então prosperava na Palestina, ambos 
tendo brotado daquele judaísmo macabeu [c. 165 a .C j que fora mol­
dado pelas atividades dos escribas" (WOLFSON, 1982).
Ainda segundo o estudioso Werner Jaeger:
“O grego era falado nas synagogai21 por todo o Mediterrâneo, 
como se torna evidente pelo exemplo de Fílon de Alexandria, que 
não escreveu o seu grego literário para um público de gentios, mas 
para os seus compatriotas judeus altamente educados" (JAEGER, 
1991).
Fílon de Alexandria, falava grego como era costume em seu 
tempo e utilizava as escrituras hebraicas através da Septuaginta. 
Isto era muito comum até entre os judeus da Palestina. Josefo de­
fende os judeus de Alexandria de diversas calúnias, mostrando haver 
identidade entre eles e os judeus da palestina (JOSEFO, 2006, p. 
96-102).
Se o cânon das Escrituras Hebraicas já estivesse fechado no 
tempo de Jesus, todos os judeus hoje (palestinos ou alexandrinos) 
observariam o mesmo conjunto de livros sagrados, e os fariseus 
de Jâmnia não precisariam se preocupar com isto no final do 
séc. I d.C.
Interessante é a constatação do estudioso Fedeli Pasquero:
"Na realidade, seguramente os judeus alexandrino no séc. I d.C. 
reconheciam como sagrados os livros deuterocanônicos [do AT]; não 
obstante a isso, eles estavam em plena comunhão de fé com os ju ­
deus da Palestina, coisa que não teria sido possível se houvesse di­
vergências em relação aos livros sagrados. Com efeito, os doutores 
hebreus faziam uso de pelo menos alguns dos livros deuterocanônicos 
[do AT]; de modo especial, encontramos frequentemente citados Baruc, 
o Sirácida [Sabedoria de Siarc ou Eclesiástico], Tobias” (PASQUERO, 
1986).
Sobre a possibilidade de um cânon de Escrituras hebraicas 
pré-definido, assim se manifesta Rost:
“[...] não havia um cãnon oficial, ou, como diz a Mixná Yaddyim 
IV 6, não havia Ktby qds’, Escrituras sagradas, como grupo fechado.
21 Sinagogas, onde os judeus se reuniam para o estudo das Sagradas Escrituras.
32
Mesmo na época em que se fixou a Mixná, por volta de 100 d.C., 
11 inava ampla discussão entre os eruditos a respeito de saber se o 
( 'ãntico dos Cântico ou o Eclesiastes de Salomão (Qohelet) faziam ou 
não parte do grupo, discussão esta que Joi aplainada por uma sen- 
tença arbitrai em favor da inclusão destes livros entre os escritos 
•■agrados (Mixná Yadvim I I I5 cd). As descobertas dos manuscritos do 
Mar Morto, provenientes do período que vai de 150 antes de Cristo 
até 70 da era cristã, em particular os que foram encontrados nas 
cavernas de Qumran, mostram-nos claramente que naquela época 
ainda não havia uma distinção rigorosa entre Escritura sagrada e 
menos sagrada Mas o fa lo de um fragmento bastante extenso do 
Cirac hebraico, copiado em escrita esticométrica, vale dizer, executa- 
e no território de Israel? Não são estes critérios
34
nacionalistas demais, já que o povo judeu viveu tanto tempo em 
Icrra estrangeira, produzindo lá tantos escritos, escritos estes que 
lambém constavam em uma versão bíblica comumente usada por 
iodos os judeus, inclusive na Palestina?
E claro que o restabelecimento do hebraico na vida religiosa 
dos judeus não poderia se dar de uma hora para outra, mas medi­
das de curto prazo loram tomadas para dificultar a pregação da 
mensagem cristã junto aos judeus. Novas versões gregas das sa- 
gradas escrituras judaicas foram produzidas, nas quais as mais 
conhecidas são as de Áquila, Símaco e Teodocião.
O leitor lembra de Isaías 7,14, que comentamos no capítulo 
,interior? Em todas estas versões, no referido versículo, a palavra 
grega “parthenos” que significa “virgem”, foi trocada por “neanis”, 
que significa “jovem”. Por que esta alteração? Os cristãos usavam 
Is 7,14 para provar que o Messias viria ao mundo através de um 
nascimento virginal, o que atestaria sua origem divina; a alteração 
posterior feita pelos judeus propiciaria as pessoas a entenderem 
isto de forma totalmente diferente.
Esta atitude dos judeus palestinenses por causa do Evange­
lho é confirmada pelo conceituado estudioso judeu, o Prof. Aage 
Bentzen:
“Contra a Igreja [cristãj os judeus sustentavam que Isaías 7,14 
não fa la de uma ‘virgem’ (parthenos), mas de uma 'mulher jovem ’ 
(neanis). Os cristãos respondiam acertadamente que a tradução 
parthenos provém de tradutores judeus" (BENTZEN, 1968).
Os judeus da palestina do séc. I d.C. estabeleceram funda­
mentos que permanecem até hoje. Basta observar o protecionismo 
vigente nas atuais comunidades judaicas. A própria palavra hebraica 
“almah”, hoje é usada pelos judeus não com o significado de “vir­
gem”, mas como “jovem moça” ou “senhorita”. As traduções de Is
7,14 oriundas das versões hebraicas traduzem “almah” como “jo ­
vem” e não como “virgem”.
Pelo fato de nunca ter havido disputas doutrinárias entre ju ­
deus alexandrinos e palestinos, antes do Cânon de Jâmnia, a exis­
tência de testemunhos anteriores a Josefo (prólogo do Eclesiástico 
e Fílon de Alexandria), que atestam o uso de um conjunto de livros 
canônicos mais amplo do que àquele definido em Jâmnia (evidênci­
35
as estas corroboradas tanto pelas descobertas do Mar Morto e 
Massada quanto pelo NT), torna-se mais que óbvio quão arbitrária 
foi a definição do Cânon de Jâmnia.
Ainda sob a estreita de Rost:
“Não dispomos de informações para dizer quando esta versão 
grega deixou de ser usada na comunidade judaica, pois faltam-nos 
testemunhos em tal sentido. Como quer que seja, por volta do ano 
100 d.C., segundo o que se lê na Mixná, só os textos escritos em 
hebraico gozaram normativamente do caráter sagrado e, por conse­
guinte, só eles podiam ser usados no culto. É impossível saber quan­
do e de que modo esta norma se impôs. Seja com for, a comunidade 
cristã de origem grega, utilizava a coletânea grega mais extensa dos 
livros sagrados, tal como encontramos nos unciais23 mais antigos B e 
A, em vez da coletânea hebraica, fixada através de medidas restriti­
vas" (ROST, 1980, p.20-21).
Alguns cristãos dos primeiros séculos viajaram para a Pales­
tina a fim de verificar qual era a lista dos livros sagrados do AT. 
Seus testemunhos24 nos mostram que o Cânon de Jâmnia não foi 
aceito de imediato na Palestina.
Tudo isto é mera coincidência ou estratégia deliberada?
Que implicações o Cânon de Jâmnia trouxe à Igreja Cristã?
O leitor se lembra do testemunho de Josefo a respeito das 
Escrituras Hebraicas? Neste momento quero chamar sua atenção 
para dois pontos importantes deste testemunho.
Primeiramente vejamos o seguinte trecho:
“De Artaxerxes à nossa época, todos os eventos foram anota­
dos, mas não são considerados dignos de igual crédito ao res­
tante porque não houve uma sucessão precisa de profetas ”
(grifos meus).
Os livros que foram escritos depois de Artaxerxes (depois do 
tempo do Profeta Esdras), Josefo não os menciona como livros con­
trários à Tradição Judaica, apenas diz que “não são considerados
73 M anuscritos em letras maiúsculas.
24 Estes testem unhos são transcritos no capítulo 5. Verificar M elitão de Sardes e Orígenes.
36
dignos de igual crédito ao restante". Para ele, este conjunto de livros 
possuía uma certa dignidade, embora fosse em grau menor que os 
livros escritos antes do tempo de Esdras.
Note o leitor que a distinção que Josefo faz destes livros em 
relação aos protocanônicos, não é doutrinária, mas canônica. Ele 
não afirma que os livros depois do tempo de Esdras não são 
canônicos porque continham algo alheio à doutrina que Deus con- 
llou aos judeus, ele não associa esses livros a conteúdo herético.
Já que para ele depois do tempo de Esdras “não houve uma 
sucessão precisa de profetas", o mesmo entende que não há garan- 
tla de que os livros escritos depois deste período, tenham sido es­
critos sob inspiração divina. Por isso afirma que estes livros “não 
■■rio considerados dignos de igual crédito ao restante porque não houve 
uma sucessão precisa de profetas”.
Josefo não tinha plena certeza se a Revelação de Deus havia 
cessado após o tempo de Esdras, mas nós cristãos sabemos que 
não, ou não acreditaríamos hoje nos livros do NT e nem no Ministé- 
i Io dos Apóstolos.
Alguém poderia objetar dizendo que o testemunho de Josefo 
Ncrve apenas para o AT. O próprio Cristo afirmou que a Antiga A li­
ança durou até o Ministério de João Batista (cf. Mt 11,13; Lc 16,16). 
Knquanto Josefo encerra a Revelação do AT ao tempo do Profeta 
Esdras, o Nosso Senhor afirma que durou até o tempo de João 
I ia lista. O Cristão deve ficar com o testemunho de Flávio Josefo ou 
iIo Senhor Jesus?
Portanto, as palavras de Jesus anulam o critério de Josefo em 
i Icterminar quando a Revelação da Antiga Aliança cessou. Fica bem 
clara a possibilidade de haver livros canônicos, referentes ao AT, 
posteriores ao tempo do Profeta Esdras.
Tendo visto que até meados do séc. I d.C., o cãnon das Escri- 
l nras Hebraicas ainda estava em aberto, a quem pertence a Autori- 
. I.ide para definir tal lista? Aos judeus que já não eram Povo de 
I icus, ou à Igreja Cristã, então herdeira da Nova e Eterna Aliança?
Como os cristãos dos primeiros séculos entendiam esta ques- 
l .i? É o que .veremos no próximo capítulo.
37
C A P Í T U L O 5
Quais foram os livros considerados 
canônicos pelos primeiros cristãos?
G rande era o material literário disponível para primeiros cris­
tãos, no que respeita à manutenção da Fé. Pelo fato de Jesus 
c os Apóstolos utilizarem a versão grega da Septuaginta, esta tam­
bém passou a ser de uso da nascente Igreja Apostólica (KELLY, 
1978; SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, v).
No início do primeiro século já estavam disponíveis as ep ís­
tolas paulinas e outras cartas então chamadas “cató licas”25 
como: as primeiras epístolas universais de Pedro e João. Na 
segunda metade deste mesmo século, ficaram disponíveis os 4 
Kvangelhos, a epístola universal de Tiago, as segundas epísto­
las de Pedro e João, a terceira de João, a carta aos Hebreus e o 
livro do Apocalipse. Com a definição do Cânon de Jâmnia (no 
llnal do séc. I), levantou-se na Igreja nascente uma dúvida quanto 
.i canonicidade dos livros do AT que não encontravam corres­
pondência em tal cânon. Por conseqüência esta dúvida se es- 
tcndeu aos livros cristãos que a eles faziam referência . O 
questionamento a estes livros da literatura cristã, produzidos 
cm período apostólico (séc. I), deu margem para que outros l i­
vros do mesmo período também fossem questionados pelas ra ­
zoes mais diversas. Esta motivação se deu principalmente pelo 
su rg im en to dos p r im e iro s g ru p os s e c tá r io s , com o os 
ludaizantes26 e gnósticos27, onde estes últimos produziam sua 
própria literatura.
E com o eram chamadas pelos cristãos prim itivos as Epístolas de Pedro, João, Judas e 
I iago. Verem os isso nos capítulos 5 e 6.
39
A questãodos livros canônicos foi ainda mais agravada pelo 
fato de que os Apóstolos não deixaram para a Igreja tal definição; e 
na verdade nem poderiam tê-lo feito.
Em At 12,1-19 lemos que Tiago (irmão de João) foi morto à 
espada por Herodes. Sua morte se deu antes mesmo da conversão 
de Paulo, e são as epístolas paulinas as escrituras mais antigas do 
NT. Portanto, Tiago nem sequer conheceu qualquer escritura do 
NT. Paulo e Pedro morrem em Roma, sob o reinado de Nero, aproxi­
madamente em 45 d.C. Neste tempo não estavam disponíveis ain­
da nenhum dos 4 evangelhos. Os demais Apóstolos foram evangelizar 
nos lugares mais longínquos da Terra (por exemplo, Mateus na 
Etiópia, Tomé na índia, etc). Até o séc. III, os cristãos das regiões 
bárbaras ignoraram a existência de qualquer um dos livros do NT 
(IRENEU, 1995, p. 252-254).
Com a morte de todos os Apóstolos, já no início do segun­
do século, seus discípulos assumem seu Ministério, confirm an­
do toda a Igreja na Doutrina Apostólica que receberam pessoal­
mente de seus mentores. Neste período começaram a aparecer 
seus próprios escritos. Dentre eles se destacam a Prim eira Car­
ta de C lem ente aos Corín tios, as sete Cartas de Inácio de 
Antioquia, as Cartas de Policarpo de Esmirna, as cartas de Pápias 
de Hierápolis e etc. Muitas destas cartas eram recebidas como 
canônicas pelos fiéis28.
Como se vê, o conjunto de livros que deveriam ser considera­
dos canônicos, pela Igreja Cristã, ainda era uma grande interroga­
ção nos primeiros séculos.
A literatura oriunda dos grupos heréticos começou a conlun- 
dir os primeiros cristãos, porque estas lhes eram apresentadas como 
escrituras oriundas dos Apóstolos (ex: o Evangelho de Tomé, o Evan­
gelho de Filipe, etc.); e aos poucos foram tomando lugar nos estu­
dos catequéticos e nas celebrações de culto.
26 Cristãos que continuavam a observar a Lei de M oisés. É por causa deles que os apóstolos 
se reúnem em Jerusalém cf. At, 15.
21 Cristãos seguidores da heresia gnóstica ou Gnose, que ensinava que a m atéria é ruim e 
que por isso o m undo foi criado por um deus decaído.
28 Conform e apresentado no capítulo 5.
40
É neste contexto, que a literatura cristã pós-apostólica cres­
ceu de forma exponencial, pois vários textos em defesa da antiga Fé 
Apostólica foram produzidos contra os grupos heréticos. Nesta dis­
puta, um tema que não poderia faltar, é claro são os livros que 
deveriam ser considerados canônicos.
Através dos escritos antigos que se conservaram até nosso 
lempo, vejamos qual foi o testemunho dos primeiros cristãos sobre
0 conjunto dos livros sagrados.
Testemunhos do séc II
I . Melitão de Sardes
O testemunho individual mais antigo que se tem notícia sobre 
as Escrituras é o de Melitão, Bispo de Sardes. Conforme uma cita­
ção de uma carta de Polícrates ao Papa Vitor, Melitão é “continente, 
vivendo todo no Espirito”. Sabe-se que endereçou uma apologia em 
favor dos cristãos ao Imperador Marco Aurélio. Visitou os lugares 
santos para estudar o cânon do AT.
Seus escritos se perderam com o tempo. No entanto, seu tes­
temunho sobre as Escrituras Sagradas foi preservado por Eusébio 
de Cesaréia em sua “História Eclesiástica”. Segundo Eusébio, no 
Início do prefácio da obra “Éclogas”, desta forma Melitão relaciona 
os livros canônicos do AT:
“Melitão a Onésimo, seu irmão. Saudações, Visto que muitas 
vezes manijestaste o desejo, inspirado pelo zelo relativamente à dou­
trina, de possuir extratos da Lei e dos profetas sobre o Salvador e o 
conjunto de nossa fé , e ainda quiseste conhecer com exatidão o nú­
mero dos antigos livros e a ordem que seguem, dediquei-me a tal 
tarefa, uma vez que conheço teu zelo pela fé e tua aplicação ao estu­
do da doutrina. O Amor de Deus sobretudo fa z com que o aprecies, 
enquanto lutas tendo em mira a salvação eterna.
Tendo ido, portanto, ao Oriente e tendo estado até mesmo no 
lugar onde a Escritura fo i anunciada e cumprida, tive exato conhe­
cimento acerca dos livros do antigo Testamento. Levantei uma lista, 
dominavam a Ásia, Ptolomeu, filho de La- 
i/os, muito desejoso de enriquecer com os melhores escritos dos ho­
mens a biblioteca que instituíra em Alexandria, pediu aos habitantes 
ile Jerusalém suas Escrituras traduzidas para a língua grega.
Estes, naquela época ainda sujeitos aos macedônios, enviaram a 
llolomeu setenta anciãos, dos mais peritos nas Escrituras e no conheci­
mento das duas línguas e realizou-se desta forma o plano de Deus.
Ptolomeu, querendo provar particularmente a perícia de cada 
um, e a f im de evitar que, por confronto entre si, eles falseassem na 
tradução a verdade contida nas Escrituras, separou-os uns dos ou­
tros e ordenou-lhes que todos escrevessem a tradução do mesmo tex­
to; assim fez relativamente a todos os livros.
43
Mas, ao se reunirem no mesmo lugar com Ptolom eu, e con ­
fe r in d o as traduções, Deus f o i g lorificado e as Escrituras f o ­
ram reconhecidas como realm ente divinas, po is todos haviam 
expressado idéias idênticas com idênticas palavras, idênticos 
nomes, do com eço ao fim . Desta form a , até os pagãos p resen ­
tes reconheceram terem sido as Escrituras traduzidas sob ins ­
p iração de Deus.
Não é de admirar tenha Deus agido desta maneira. Efetivamente, 
perd idas as Escritu ras por ocasião do ca tiveiro do povo sob 
Nabucodonosor, e tendo os judeus após setenta anos regressado a 
seu país, mais adiante, no tempo de Artaxerxes, rei dos persas, ele 
próprio inspirou o sacerdote Esdras da tribo de Levi [cf. Esd 9,38-41] 
relativamente à reconstituição das palavras dos profetas anteriores 
e à restauração entre o povo da legislação promulgada por Moisés" 
(EUSEBIO, 2000, p. 245-246). Ainda:
“Mateus, no entanto, publicou entre os hebreus em sua própria 
língua um Evangelho escrito, enquanto Pedro e Paulo anunciavam a 
boa nova em Roma e lançavam os fundamentos da Igreja.
Mas, após a morte deles, Marcos, discípulo e intérprete de Pedro, 
transmitiu-nos por escrito igualmente o que Pedro pregara. Lucas, 
porém, companheiro de Paulo, deixou num livro o Evangelho prega­
do por este último. Enfim, João, o discípulo que reclinou sobre o peito 
do Senhor [cf. Jo 13,25. 21,20}, publicou também ele um evangelho, 
enquanto residia em Éfeso, na Ásia". (Ibid.)
Ainda nos parágrafos 5 a 8, Eusébio afirma que no quinto 
livro de “Contra as Heresias", Ireneu faz menção do Apocalipse 
de João, da primeira carta de Pedro, o Pastor de Hermas31 e do 
livro Sabedoria de Salomão (Ibid., p. 244-245). Ainda segundo 
Eusébio, Ireneu na obra “Exposições diversas” “relembra a carta 
aos Hebreus e a Sabedoria dita de Salomão, incluindo trecho de 
ambas” (Ibid., p. 273).
Com toda clareza podemos observar que ainda no séc. II não 
havia consenso na Igreja Cristã, sobre quais eram os livros canônicos 
do AT e NT.
31 Obra da literatura cristã pós-apostólica do séc. II (HERMAS, 1995).
44
Testemunhos do séc III
I . São Clemente de Alexandria
Tito Flávio Clemente viveu entre os anos 150 e 215. Nascido 
provavelmente em Atenas (cf. Stromata 1,1,11). depois de viver pela 
Europa, estabeleceu-se finalmente em Alexandria. Nesta cidade 
abriu uma escola de filosofia e também se dedicou à catequese.
Segundo o historiador Eusébio, Clemente de Alexandria em 
Stromata:
“emprega também prouas extraídas de Escrituras não aceitas 
de modo geral; cita, por exemplo, a Sabedoria dita de Salomão, a de 
Jesus Jilho de Sirac [Eclesiásticol, a carta aos Hebreus, as cartas de 
Barnabé32, de Clemente'33 [de Romaj e de Judas” (Ibid., pg. 297- 
298).
Ainda:
“Em Hyptyposes ele [Clementel faz, em suma, exposições resu­
midas dos Testamentos de toda a Escritura, sem omitir as partes con­
trovertidas, isto é, a Carta de Judas e as outras cartas católicas, e a 
carta de Barnabé e o Apocalipse, dito de Pedro. Acrescenta ser da 
autoria de Paulo a carta aos Hebreus, escrita para os hebreus em 
língua hebraica, mas que Lucas, depois de traduzi-la cuidadosamen­
te, divulgou-a entre os gregos. Este é o motivo porque se assemelham 
a tradução desta carta e os Atos” (Ibid., p. 298-299).
Como se pode observar, ainda no séc. III existiam escritos 
cristãos cuja canonicidade ainda era controversa. Entre eles estão 
a Carta aos Hebreus e a Carta de Judas, que em nosso tempo são 
consensualmente aceitas. Encontramos aqui os primeiros livros 
deuterocanônicos do NT.
São Clemente de Alexandria considera canônicas a Carta de 
Barnabé e o Apocalipse de Pedro, ambos considerados apócrifos em 
nossos dias. Clemente ainda fala sobre os Evangelhos de Mateus e 
Marcos, que segundo ele foram escritos primeiro (Ibid., p.299-300).
32 Obra da literatura cristã pós-apostólica do séc. II cuja autoria foi atribuída a Barnabé, 
colaborador de São Paulo (BARNABÉ, 1995),
33 Refere-se à Primeira Carta de Clemente aos Coríntios (CLEMENTE, 1995).
45
2. Orígenes de Cesaréia
Orígenes nasceu em Alexandria por volta de 190. Em Cesaréia 
é ordenado sacerdote em 231 pelo Bispo Alexandre. É considerado 
o criador da Ciência Bíblica. Deixou-nos muitíssimas obras, das 
quais algumas se perderam e outras foram conservadas por escri­
tores posteriores. Ele relacionou os livros canônicos da seguinte 
forma:
“ ‘Observe-se que os livros do Antigo Testamento, segundo a tra­
dição hebraica, são vinte e dois, número das letras de seu alfabeto’. 
(...) Os vinte e dois livros, conforme os hebreus, são os seguintes: O 
livro que damos o título de Gênesis, entre os hebreus traz inscrito, de 
acordo com as palavras iniciais: Bresith, que significam “No come­
ço”; Êxodo, Ouellesmoth, isto é, “Eis os nomes”, Levítico, Ouicra, isto 
ê, “Ele me chamou"; Números, Ammesphecodeim; Deuteronômio, 
Elleaddebareirrv “Estas são as palavras”; Jesus, filho de Navé [Josué], 
Iosouebennoun; Juizes, Rute, entre elesform am um só livro, Sophteim; 
Reis primeiro e segundo livros, entre eles um só, Samuel: “O eleito de 
Deus"; Reis, terceiro e quarto livros, em um só, Ouammelch David, 
isto é: “Reino de Davi”; Paralipômenos [Crônicas], primeiro e segun­
do livros, em um só, Dabreiamein, isto é, “Palavra dos dias”; Esdras, 
primeiro e segundo livros34, em um só, Ezra, isto é, “Auxiliar”; Livro 
dos Salm os, S pharthe lle im ; P rovérb ios de Salom ão, M eloth ; 
Eclesiastes, Koeleth; Cântico dos Cânticos - e não como alguns ju l ­
gam, Cântico dos Cânticos -, Sirassereim ; Isaías, Iessia; Jeremias, 
com as Lamentações e a Carta em um só livro35, Iéremia; Daniel, 
Daniel; Ezequiel, Ezechiel; Jó, Job; Ester, Esther. A lém destes, os 
Macabeus, intitulados Sarbethsabanaiel'" (Ibid., p. 312).
Curiosamente Orígenes não cita os 12 profetas. Os judeus 
normalmente organizavam seus livros sagrados em 22 volumes, 
conforme o número de letras do alfabeto hebraico36. Como os livros
34 Esdras e Neemias.
35 Aqui há um detalham ento maior sobre os livros organizados pelo títu lo geral "Je rem ias" 
conform e a Septuaginta. Nesta organização citada por Orígenes, o Livro de Baruc não é 
m encionado pelo fato de que norm alm ente era considerado um apêndice do Livro de 
Jerem ias.
36 Os alguns judeus alexandrinos organizavam as'Escrituras em 24 livros, conform e o núm ero
46
sagrados são mais que 22 alguns livros eram agrupados como um 
único volume. A omissão dos 12 Profetas se deve provavelmente 
por estarem agrupados a outros livros, provavelmente Isaías, con­
forme veremos em outras coleções mais adiante37. A omissão de 
Baruc ê o mesmo caso, pois normalmente figurava como apêndice 
do livro de Jeremias. Isto se atesta ainda mais pelo fato de que a 
Epístola de Jeremias foi mencionada, e os dois livros sempre estive­
ram juntos38.
Dos deuterocanônicos do AT faz referência apenas aos livros 
dos Macabeus.
Outros escritos de Orígenes mostram que a Igreja considera­
va outros livros canônicos além dos livros supracitados:
“5. [...]Nós [cristãos] procuramos não ignorar quais são as Escri­
turas dos judeus a fim de que, ao disputarmos com eles, não citemos 
as que não se encontram nos exemplares deles, mas sim aquelas de 
que eles

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