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Direito Internacional Privado Aula 2 – Conflito de leis, Estrutura da norma, Objeto e Elemento de conexão, 2.1 – Conflito de Leis. Em regra, pelo Princípio da Territorialidade, o Direito de um Estado aplica-se dentro de seu território e incide sobre as pessoas, bens, atos, fatos e relações que estão sob seu poder soberano. Entretanto, é possível que mais de uma ordem jurídica aparentemente incida, ou pretenda incidir, sobre as relações privadas que tenham alguma conexão com mais de um ente estatal. É também possível que ocorram situações em que uma relação jurídica, embora tenha lugar dentro de um Estado, possua maior vínculo com outro. Nesses casos, pode haver dúvida acerca da norma nacional aplicável, configurando o chamado “conflito de leis no espaço” e o aparecimento da possibilidade excepcional de se recorrer à aplicação do Direito de um Estado estrangeiro para regular uma relação jurídica em outro Estado diverso. Os conflitos de leis no espaço são, portanto, as situações em que mais de um ordenamento nacional possa incidir sobre uma relação privada que transcende as fronteiras de um ente estatal, ou seja, que tenha “conexão internacional”, e a resolução destes conflitos é objeto do Direito Internacional Privado. Dessa forma, a definição da norma, nacional ou estrangeira, aplicável a estes conflitos dependerá dos chamados “elementos de conexão”, critérios que apontarão a legislação que deverá incidir em cada caso específico de conflito, e que estão contidos nas normas de Direito Internacional Privado de cada Estado. 2.2 – Estrutura da Norma A norma de DIPr que indica qual o preceito, nacional ou estrangeiro, aplicável à solução de um conflito de leis no espaço, sendo, portanto, uma regra meramente indicativa, uma “norma indireta”. A norma a ser aplicada a uma relação privada com conexão internacional deve ser apontada pela Lei do Foro (no Brasil, LINDB). Com isso, é o próprio ordenamento jurídico de cada Estado que elaborará esta norma indireta que resolverá os conflitos de leis no espaço. A estrutura da norma de DIPr divide-se, ainda, em duas partes: o objeto de conexão e o elemento de conexão. O objeto de conexão refere-se à matéria tratada pela norma, como o casamento, o testamento, a capacidade civil, etc. Trata de questões jurídicas vinculadas a fatos ou elementos de fatores sociais. Já o elemento de conexão é o critério que determina qual a norma, nacional ou estrangeira, será aplicável ao caso concreto do objeto de conexão. Os elementos de conexão são divididos em três tipos: a) Pessoal (nacionalidade, domicílio e residência); b) Real (localização de bens imóveis); e c) Conducista (celebração e execução do contrato, autonomia das partes). 2.3 – Elementos de Conexão: tipos Examinaremos a seguir os principais elementos de conexão utilizados pelo DIPr. Convém lembrar que, como tais elementos são definidos pela lex fori, é possível que Estados diferentes apliquem elementos de conexão distintos para o mesmo objeto. 2.3.1. Domicílio (lex domicilii) O domicílio é o principal elemento de conexão adotado no Brasil. Por esse critério, aplica-se ao conflito de leis no espaço a norma do domicílio de uma das partes. Na LINDB, o domicílio encontra-se consagrado como elemento de conexão nos artigos 7º, caput, § 3º e 4º; §§ 1º e 2º do art. 8º; art. 10, caput e § 2º; e art. 12. Importante frisar que o emprego deste elemento de conexão requer a definição de seu conceito, o qual pode variar entre os Estados. No Brasil, o domicílio é conceituado pelo Código Civil, nos arts. 70 a 78. 2.3.2. Nacionalidade (lex patriae) Por este elemento de conexão, aplica-se aos conflitos de leis no espaço a norma do Estado da qual a parte é nacional. No passado, a nacionalidade foi o elemento de conexão predominante no mundo, e principal critério adotado pelo Brasil. Atualmente ainda é empregado na ordem jurídica brasileira nos arts. 7º, §2º; e 18, da LINDB. 2.3.3. Foro (lex fori) Após o critério do domicílio, o elemento de conexão mais comum é o da lex fori, pelo qual é aplicável a lei do lugar do foro, ou seja, a norma do lugar onde se desenvolve a relação jurídica. A lex fori é a regra referente à própria aplicação do DIPr, cujas normas são aquelas em vigor na legislação interna. Este critério também incide quando o Direito estrangeiro não puder ser aplicável, como por ofensa à ordem pública, por exemplo. 2.3.4. Lugar da coisa (lex rei sitae) Este elemento de conexão é o critério aplicável aos bens imóveis e aos bens móveis em situação permanente. Com isso, os conflitos de leis relativos aos direitos reais regem-se pelo princípio da territorialidade, previstos na LINDB nos artigos 8º, caput; 10, §1º; e 12º, §1º. 2.3.5. Lugar do ato ilícito (lex loci delicti) Por este elemento de conexão é aplicável a norma do lugar onde o ato ilícito foi cometido. É o critério que se refere às obrigações extracontratuais que induzem à responsabilidade civil pela prática de atos ilícitos, como à poluição ambiental. 2.3.6. Local de execução (lex loci executionis) Este elemento de conexão determina a aplicação da norma do local de execução do um contrato ou obrigação. O artigo 12 da LINDB dispõe que é competente o Judiciário brasileiro quando aqui tiver de ser cumprida a obrigação. Ele também é muito aplicado aos contratos de trabalho, que mesmo sendo celebrados no exterior, são regidos pela norma do local de execução da atividade laboral, conforme disposto na Súmula 207 do TST: “A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviço e não por aquelas do local da contratação”. 2.3.7. Local de celebração (lex loci celebrationis) A lei do local da celebração do ato é o elemento de conexão utilizado pela LINDB para reger as formalidades do casamento, art. 7º, §1º. 2.3.8. Local de constituição da obrigação (lex regit actum) O elemento de conexão do lugar de constituição da obrigação é utilizado para reger contratos e obrigações, como previsto no artigo 9º, caput e §§ 1º e 2º da LINDB. Ver também CPC, art. 585, §2º quanto à títulos executivos extrajudiciais. 2.3.9. Autonomia da vontade (lex voluntatis) A autonomia da vontade no DIPr refere-se à possibilidade de que as próprias partes escolham o ordenamento (nacional ou estrangeiro) aplicável a uma relação privada com conexão internacional, bem como o foro que decidirá acerca das eventuais controvérsias entre si. Contudo, a autonomia da vontade pode, ou não, ser admitida pela lex fori, podendo também ser limitada pelo ordenamento que a permite. Desse modo, as partes só poderão escolher o Direito aplicável a uma relação jurídica se o Estado permitir e dentro das condições que o respectivo ordenamento jurídico estabelecer. No Brasil, a utilização da autonomia das partes como elemento de conexão juridicamente válido é limitada. Com efeito, a regra geral para as obrigações é a do artigo 9º, caput, da LINDB. Entretanto, a jurisprudência já vem reconhecendo a autonomia, somente para a escolha do foro competente, conforme Súmula 335 do STF: "É válida a cláusula de eleição do foro para os processos oriundos do contrato"; e REsp. 242383/SP, STJ: “A eleição de foro estrangeiro é válida, exceto quando a lide envolver interesses públicos”. Além disso, o Direito Brasileiro admite sua utilização nos seguintes casos: - As partes poderão escolher livremente as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública (Lei 9.307/96, art. 2º, §1º). - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regimede comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro (LINDB, art. 7º, §5º).
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