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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO I - Resumo Geral e Detalhado

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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 1
02/03/2020 → 25/01/2021
-
04/03/2020 → 25/01/2021
O PROBLEMA DE DENOMINAÇÃO DA DISCIPLINA
O direito internacional privado não seria nem internacional, como se acha, nem direito privado.
	“O estudo dos casos de direito privado que contenham elementos estrangeiros como, por exemplo, o domicílio, a nacionalidade, o país-sede das empresas, o local onde a obrigação se constituiu, o local onde o imóvel se encontra, etc. Não entram no âmbito de estudos do DIPr questões relativas ao direito público (e nenhum de seus ramos)” (MARISTELA BASSO, 2014, p. 5). É um direito civil especializado. → SP. Relações internacionais em relações privadas. Tipo de sinopse jurídica. 
	“O direito internacional privado é o ramo do Direito público que se destina a organizar o direito objetivo adequado à apreciação de fatos que, por quaisquer de seus elementos, estejam em conexão com dois ou mais meios sociais, ou mandando observar o próprio Direito comum, ou mandando imitar direito estanho” (AMILCAR DE CASTRO) → DIPr seria o ramo que sistematiza o ordenamento jurídico para lidar com questões envolvendo mais de um meio social. Seria, também, direito público. → MG. Elementos internacionais em relações privadas e públicas. De acordo com DOLINGER, para Amilcar de Castro o único real objeto é a escolha da lei aplicável.
	“O DIPr trata basicamente das relações humanas vinculadas a sistemas jurídicos autônomos e divergentes” (JACOB DOLINGER) → livro mais conhecido, mas faz filosofia analítica. Vol 1, parte geral. → RJ. Ainda de acordo com Dolinger, a disciplina não se restringe mais às instituições de direito privado, mas atua também no âmbito público, através de questões fiscais, financeiras, monetário-cambiais, penais e administrativas, que assumem aspectos internacionais.
	“O DIPr visa solucionar o conflito de leis no espaço, isto é, regular os fatos em conexão, no espaço, com leis autônomas e divergentes. É, pois, o direito que rege os fatos em translação, girando através do espaço ao redor de leis diversas ou os fatos situados entre leis espacialmente contrárias ou o direito que concerne à atividade de uma lei além de sua órbita, além do território, além das pessoas, para que foi feita” (HAROLDO VALLADÃO). É o ramo do direito que trabalha com a diversidade legislativa e seus desafios para as pessoas. É o Direito Interespacial, ou Teoria da Extra-atividade das Leis.
	“O DIPr é direito sobre a aplicação de determinado direito (e não sobre a elaboração e aplicação dos direitos, o que seria Direito das gentes), direito sobre direito, Recht über Recht, porém não todo o direito sobre o direito, porque há os de outra natureza e de outro objeto. De outra natureza, o direito sobre a competência legislativa internacional dos Estados, que é público supraestatal e o direito de cada Estado, ou das províncias sobre a competência legislativa das províncias, dos municípios” (PONTES DE MIRANDA, 1935) → ideia de metadireito; direito que se sobrepõe às fronteiras. Não foi atualizado, uma vez que é o livro de Pontes que Haroldo usou para acusá-lo de plágio. 
	Direito : campo autônomo dentro da ordem jurídica. 
	Direito formal tem a ver com procedimento. Se o direito internacional privado é o direito que regula o procedimento para lidar com as leis, é parte do direito formal e logo deveria ser processo. Contudo, essa associação “comum” só existe no Brasil, e é errônea. Direito formal não é sinônimo de processo. Nem toda norma instrumental é processual. No caso do DIPr, ele se faz necessário para evitar antinomias. 
	Determina-se a competência = determina-se o direito aplicável. 
	As fontes do DIPr são, predominantemente, nacionais (leis, decretos). Aplicar direito estrangeiro é conferir uma norma de outro Estado em sua jurisdição, e não aplicar uma norma internacional em sua jurisdição.
	O DIPr não estuda a personalidade jurídica internacional. Ele usa o termo “internacional” de forma imprópria, para designar elementos estrangeiros à ordem nacional. 
	Diferença entre relação de direito público e relação de direito privado = de acordo com o interesse da relação. 
	No DIPr, não existe a ideia de interesse público; ele se limita a analisar as relações entre entes não soberanos, onde a relação de soberania não é predominante. O ``privado`` de DIPr se refere aos sujeitos interessados na escolha da lei, que são sempre de caráter privado.
	DIPr não se insere na clássica divisão direito público ou privado, estando mais inserido como um campo autônomo da Teoria Geral do direito que lida com extraterritorialidade do Direito (nacional).
	Exemplo de extraterritorialidade do direito nacional: caso de uma pessoa que mate o presidente da república em outro país. Art. 7 do CPB.
	Ex. do art. 41 do CTN.
	Direito da incidência e aplicação do Direito estrangeiro em determinada ordem jurídica nacional. 
09/03/2020 → 27/01/2021
A FINALIDADE DO DIPR
Desafios do direito → 1) a existência de uma diversidade legislativa e 2) ideia de sociedade mundial, direito internacional, que designa o fenômeno da humanidade como uma só entidade marcada por fluxos migratórios “livres” dos limites territoriais dos Estados. 
A finalidade do DIPr é, portanto, racionalizar/sistematizar a aplicação do Direito diante desses desafios. 
Somos da opinião de que a finalidade maior do DIPr é conferir harmonia e uniformização dos direitos nacionais para uma futura unificação global. O DIPr trabalha “para sua própria extinção”. 
Enquanto houver essa diversidade legislativa, há razão de ser do DIPr, que irá tentar sistematizar essas diferenças. 
O FENÔMENO DA RAZÃO DE SER DO DIPR
→ A questão da nomenclatura
Como é comum no DIPr, não há uniformidade doutrinária em designar o elemento estrangeiro na Ciência Jurídica. 
A questão do Fato Anormal : denominação mais comum na doutrina brasileira e a mais antiga. Não há problema de ordem técnica em seu uso, mas é estranho chamar o elemento estrangeiro como algo “anormal” em tempos de internet e globalização.
A questão do Fato Misto ou Multinacional : denominação que está ganhando adeptos pois se inspira na concepção do DIPr ser um campo especializado do Direito privado, em especial no estudo de empresas multinacionais. 
Prefiro a denominação : Fato Extranacional ; pois designa com perfeição o que o elemento estrangeiro figura na relação jurídica - um elemento extra na atenção do Jurista. Essa expressão foi muito usada na FDR na época dos professores Sérgio Loreto e Sylvio Loreto. 
O elemento estrangeiro é um elemento extra, que demanda uma atenção especial. 
Atenção: sob hipótese alguma se pode utilizar a expressão fato internacional. Fato internacional é fenômeno que designa situações envolvendo Estados nacionais (soberanias), logo, são do campo do Direito Internacional Público. Sinônimo de incidente diplomático; situação de imunidade jurisdicional de um dos agentes/envolvidos. 
COMPREENDENDO O FATO EXTRANACIONAL
	O Fato Nacional é todo aquele fato que, dentro de sua existência, não gera nenhuma relevância para mais de uma ordem jurídica internacional. Ela surge e se perfaz sobre a tutela de um só direito, no paradigma territorial.
	FATO NACIONAL (“NORMAL”)
	FATO EXTRANACIONAL
	Nasce, existe e desaparece gerando efeitos em um só ordenamento jurídico (“direito nacional”)
	Aquele que em algum momento (surgimento até a extinção) gerou efeitos vinculantes com dois ou mais direitos nacionais
	Regulado por um só Direito, não possuindo elemento “extra”
	Relação jurídica marcada pelo elemento estrangeiro que de alguma forma interfere em sua regulação jurídica
	É o paradigma padrão de relações jurídicas estudadas nas Faculdades de Direito
	Relações jurídicas que decorrem da Sociedade Mundial e da diversidade legislativa
	TERRITORIALIDADE DO DIREITO
	EXTRATERRITORIALIDADE DO DIREITO
	Apesar de ter doutrina nesse sentido, o bom operador deve estar atento que não basta somente existir o elemento estrangeiro para definir a existência do fato extranacional. O elemento estrangeiro tem de INFLUENCIAR na relação jurídica,ou melhor, ser relevante. 
O PROBLEMA DOS OBJETOS DO DIPR
	Dependendo de como se concebe o DIPr, os objetos, dentro dele, mudam. 
	
· As doutrinas do objeto único → para elas, o DIPr se manifesta pelo conflito de leis internacionais, e nada mais que isso. 
· A doutrina clássica → para eles, o DIPr são os 3 elementos mais antigos associados à disciplina. É o conflito de leis, a nacionalidade e a condição jurídica do estrangeiro. Representa a doutrina italiana e parte da doutrina francesa. 
· A doutrina “Pillet” → disse que os objetos do DIPr são 3, mas não são aqueles tradicionalmente associados. São, em verdade, o conflito de leis, a condição jurídica do estrangeiro e o reconhecimento internacional dos direitos adquiridos. Substitu-se a nacionalidade, que é mais do âmbito privado, pela ideia dos direitos adquiridos, pela primeira vez nesse ramo. Doutrina francesa do início do século XX.
· A doutrina tradicional → os objetos do DIPr são o conflito de leis, a nacionalidade, o reconhecimento internacional dos direitos adquiridos e a condição jurídica do estrangeiro. 
· A doutrina contemporânea → para ela, o estudo do DIPr é o conflito de leis, a nacionalidade, o reconhecimento internacional dos direitos adquiridos, a condição jurídica do estrangeiro e o conflito de jurisdição (processo internacional). É a doutrina que pretende aproximar o DIPr ao direito processual, e tem influência do common law americano.
Doutrinas menos comuns e de “nicho”:
· Doutrinas de uniformização: acrescentam ao campo de estudo do DIPr o fenômeno da uniformização do direito.
· Doutrinas pós-modernas: diz que os DIPr estuda tudo isso e mais, acrescentando a promoção dos direitos humanos na interpretação e aplicação dos objetos do DIPr.
	O conflito de leis se repete em todos esses.
aula 03 → 01/02
O QUE É DIREITO UNIFORME?
a doutrina sobre essa matéria elabora duas respostas possíveis:
1) direito uniforme seriam normas ou instituições de caráter interno que recebem o mesmo tratamento pelo direito de mais de um país → sentido amplo
exemplo: alimentos → obrigação de apoiar financeiramente baseada em relação de parentesco ou matrimônio
Nesse sentido, quando você encontra dois ou mais países regrando em sentido igual, você estaria perante uma norma de direito uniforme. Em outras palavras, o Direito Uniforme espontâneo é o resultado da natural coincidência de legislações influenciadas pelos mesmos fatores, ou decorrente da iniciativa unilateral de um Estado de seguir as normas de direito positivo do outro.
2) direito uniforme seria um dos aspectos do fenômeno que estabelece regramentos comuns entre diferentes países, desdobrando-se em iniciativas de harmonização, uniformização e unificação → sentido estrito.
direito harmonizado, uniformizado e unificado.
Neste aspecto, fala-se de Direito Uniforme dirigido, ou Direito Uniformizado, em que os Estados agem em esforço comum para uniformizar certas instituições jurídicas, geralmente por causa de determinada natureza internacional.
tomar cuidado!: os manuais vão dizer que o direito uniforme é incompatível com o Direito Internacional Privado, mas isso é porque os manuais sempre se baseiam na concepção generalista. não é todo Direito Uniforme que é contra o DIPR.
	HARMONIZAÇÃO
	UNIFORMIZAÇÃO
	UNIFICAÇÃO
	Natureza formal. (Uniformização de questões procedimentais de diferentes países.)
	Meio termo entre harmonização e unificação. 
	Natureza substancial.
	Iniciativas de aproximação de regras de DIPR.
	Aproximação de regras de DIPR com conteúdo de direito material envolvido
	Iniciativas de criação de direitos comuns entre os países
	Visam maior segurança na determinação do direito aplicável. (segurança na aplicação procedimental em diversas coisas)
	
	Derroga normas nacionais e as substitui por normas intercomunitárias ou internacionais. (Ideia de criar um direito único, de regras tanto materiais, quanto procedimentais, para os diversos países.)
	Ex.: Tratados de DIPR. (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai decidem se unir para fazer um tratado em que as obrigações contratuais devem ser regidas pelas partes e, não havendo consenso entre as partes, a lei local da Constituição irá fazer tal papel). → falta algo; faltam conceitos comuns; a natureza substancial.
	Ex.: Diretivas da UE. (o país pode pegar aquelas diretivas e adotá-las diretamente, ou pode adaptá-las na sua legislação interna)
	Ex.: -
obs.: melhor modo de lembrar o que é unificação é lembrar a clássica frase do filme Highlander: só pode haver um!
quando a doutrina diz que Direito uniforme extingue o DIPr, ela se refere às iniciativas de unificação - quais ao criarem direito único entre países, acaba com a diversidade legislativa.
FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Visão geral sobre Fontes:
- Fontes formais: são o produto da autoridade, dão forma ao direito. ``são aqueles atos/fatos que, por causa de uma manifestação de autoridade oficial, tem carga normativa. são as fontes normativas por excelência e nascedouras da ideia de sistema jurídico positivo.``
- Fontes materiais: meio pelo qual a norma é estabelecida e o direito se manifesta. ``são aqueles atos/fatos que por causa de seu conteúdo ou resultado ou efeitos manifestam uma carga normativa. são denominados de conjunto de normas e valores atribuídos por prescrições gerais/abstratas sobre comportamento social.``
Fontes do DIPR:
- Leis
- doutrina
- códigos
- tratados e convenções
- usos e costumes
- soft law
- jurisprudências
tratam-se das mesmas fontes do Direito como um todo;
não confunda DIPR (ramo jurídico acadêmico) com o DIPR brasileiro (existência do DIPR no ordenamento jurídico brasileiro)
Fontes do DIPR brasileiro (o problema das Fontes no DIPR brasileiro):
LINDB: Art. 4. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais.
· interpretação fechada → só existe uma fonte, a lei. as demais são tratadas como se leis fossem. assim, só existem fontes formais no DIPR Br.
· interpretação aberta → a lei é a principal fonte, mas não exclui outras fontes de direito material, sendo o art. 4 exemplificativo, e não taxativo. analogia, costumes e princípios gerais são fontes complementares. existem fontes formais e materiais no DIPR BR.
Logo, surgem três indagações:
1) qual interpretação deve prevalecer? a fechada ou a aberta?
2) existem outras fontes?
3) como ficam as Convenções não ratificadas?
Paul denomina as três indagações como ``as três dificuldades``, ou ``a questão da convenção não-ratificada como fonte do DIPR BR``
Essa questão não tem relevância quando se estuda o DIPR como um ramo acadêmico, porque não existe lacuna na disciplina em abstrato.
Paul entende o problema e monta um raciocínio para utilização ou não de convenções não ratificadas em casos do dia a dia:
(1) qual o sentido que se emprega ao termo fonte?
(a) meio de produção (fonte formal)?
(b) meio de inspiração (fonte material)?
(2) qual as normas jurídicas utilizadas para determinar qual o direito aplicável por parte do DIPR? 
(a) quais as fontes do DIPR brasileiro?
(b) limitadas ou não ao art. 4 da LINDB?
(3) DIPR é Direito Nacional ou Direito Internacional?
(a) qual o papel do art. 38 do Decreto 19841/1945 (Estatuto da CIJ)? 
exemplo do contrato; domicílio Brasil x Argentina; Convenção não ratificada (Convenção Interamericana de Domicílio da Pessoa Física). o art. 38 é referencial na aplicação do Direito Internacional. resposta às perguntas.
utiliza-se a interpretação que é mais condizente com o interesse do seu cliente; não existe certo ou errado.
02/03/2021
QUESTÃO DA HIERARQUIA ENTRE AS FONTES
Parte da doutrina antiga faz uma distinção/preferência entre as fontes. Daí surgiram duas correntes:
1) nacionalistas
2) internacionalistas
	NACIONALISTAS
	INTERNACIONALISTAS
	leis (nacionais) > tratados (internacionais) > costumes
	tratados (internacionais) > costumes > leis (nacionais)
	fontes nacionais são, hierarquicamente, superiores a qualquer fonte internacional
	fontes internacionais são, hierarquicamente, superioresa qualquer fonte nacional
	
	expoente: machado vilela
Hoje em dia, esse debate não é mais relevante porque o DIPR desenvolveu o que se chama de ``diálogo das fontes``, ou uma horizontalidade das fontes, por assim dizer. todas as fontes atuam em harmonia no sistema jurídico.
→ horizontalidade x verticalidade.
muito comum aparecer na doutrina do DIPR os termos horizontalidade e verticalidade, bem como as expressões conflito horizontal e conflito vertical.
	VERTICALIDADE
	HORIZONTALIDADE
	hierarquia de normas. 
	concorrência de ordenamentos
	conflito de normas
	ausência de hierarquia
	solução de antinomias que eventualmente surjam nesse sistema.
	essência do fato extranacional
	um só direito; um só ordenamento
	vários direitos; vários ordenamentos pleiteando incidir sobre uma relação jurídica
	teoria geral das normas
	direito internacional privado
assim, o DIPR é uma disciplina que lida com a horizontalidade jurídica.
BREVE HISTÓRIA DO DIPR
→ os três grandes períodos, na classificação de Paul, para divisão didática.
1) universalismo → séc IX para trás; período da antiguidade jurídica. é o período no qual o direito dos diferentes povos almejava ser universal, seja o direito canônico da igreja, seja o direito romano, seja o direito grego, etc. além disso, é o período em que as fontes eram mais fragmentadas, era mais arqueología jurídica que história do direito
2) estatutos → diferentes escolas estatutárias que surgiram na disciplina. trabalhavam com estatutos. Séc. IX ao XVIII
3) diversidade legislativa → criação do Estado-nação, Estado moderno que conhecemos. cada Estado se propõe a ser soberano. Séc. XIX - até hoje.
UNIVERSALISMO
início pelo Orbus Romano (Mundo Romano). Paul não começa pela bíblia porque a bíblia que temos hoje é a tradução da tradução, ainda que seja a fonte jurídica mais antiga que temos (ali pelo Pentateuco bíblico) → mas a fonte mais antiga que temos não seria o Código de Hamurabi?
O período ora denominado de Universalismo compreende, principalmente, o período do fim da República romana até a consolidação do Feudalismo na Europa.
A denominação Universalismo decorre da dominância do Direito romano sobre o mundo conhecido na época, bem como a dificuldade de se encontrar fontes fiáveis da existência do DIPR.
Trata-se de período conturbado para a história do DIPR, no qual a única constatação é a de que no Corpus Iuris Civilis não havia qualquer regra de DIPR - conforme denota o holandês Tobias M. Asser.
Isso corrobora a visão de que, por muito tempo, o estrangeiro em Roma não tinha direitos - só existindo direitos para a plebe, para os ricos (esqueci o nome) e para os clientes.
 → visão geral do Direito Romano até o séc IV
· ius fetiale → parte do direito romano que lidava com rituais e regras do colégio dos Feciais. tinha domínio sobre questões que necessitassem da ``consulta aos Deuses``, e sendo apontado por uma parte da doutrina como ``Direito Internacional Antigo``, por lidar com questões de guerra.
· Quando o povo romano tinha que falar com outros povos, realizar Foedus (acordos de aliança), fazer relações diplomáticas e etc., ou mesmo declarar guerra, eram os Feciais que lidavam com esses atos de diplomacia, como Diplomatas.
· ius gentium → o ``Direito das gentes``é uma parte indeterminada do ius civile que lidava com questões envolvendo o povo de Roma com outros povos. era de competência exclusiva do Senado Romano.
· Dolinger aponta a controvérsia sobre o jus gentium como o Direito romano criado para lidar com os contatos entre os peregrinos de origens diversas com os cidadãos romanos, como uma primeira manifestação do DIPr; existindo a divergência de que outros autores afirmarem que o jus gentium nada mais era do que apenas um direito uniformizado, e não um direito ou uma técnica de solução de conflitos por meio da escolha da lei aplicável ao caso concreto.
· Parte da doutrina moderna filia-se à primeira corrente, afirmando que o jus gentium seria uma das primeiras manifestações do DIPr, porque o Direito uniforme seria um dos métodos utilizados pela ciência do Direito para solucionar os conflitos de leis.
esses dois ramos da noção de IUS em Roma não tem relevância alguma para o DIPR. mas são assuntos controversos na história do DIPR
· ius civile → direito romano propriamente dito. era aplicado somente aos cidadãos romanos (pessoalidade) até o advento da Constitutio Antoniniana (Edito de Caracala), que tornou o direito válido em todo território romano (territorialidade)
· era composta pelas leis, éditos, plebiscitos, senatus consultum, constituições imperiais, costumes e respostas dos prudentes (doutrinas dos jurisconsultos)
· ius peregrini → direito para não romanos. era parte do ius honorarium romano e consistia, até onde se sabe, das decisões do proetor peregrini - autoridade judiciária romana com competência sobre estrangeiros nas civitas romanas. desapareceu/foi incorporado pelo ius civile após a Constitutio Antoniniana.
· peregrini compreende-se como o estrangeiro livre que havia em cidade romana, ou a pessoa livre que nasceu em cidade romana mas não tem cidadania romana
· polarização - comissão de triboniano que dava harmonia ao digesto quando havia divergência de entendimentos jurisprudenciais/doutrinários
Atenção: afirmar que havia DIPr no Direito romano é um assunto altamente controverso, mesmo sabendo que existem exemplos da autoridade romana aplicando costumes/regras não romanas (ex.: julgamento de Cristo). mas o único fato comprovado é: ROMANOS APLICAVAM DIREITO ROMANO.
08/02/2021
A QUEDA DE ROMA E O FIM DO UNIVERSALISMO ROMANO
o fim do período universalista ocorre com a lenta degradação do domínio do IUS romano sobre os povos europeus e sua progressiva contenção aos limites do império do oriente (futuro bizantino)
principais fatores do declínio do IUS romano
· ascensão da igreja católica
· fragmentação da europa com a queda do império romano do ocidente - direito germânico de cada tribo bárbara → início da personalidade da lei; segundo o qual cada pessoa era livre para reger sua vida pela lei de sua origem.
· êxodo dos grandes jurisconsultos para o oriente 
ESTATUTOS
(ESCOLAS ESTATUTÁRIAS)
A ascensão de Carlos Magno e a fundação do sacro-império romano-germânico, a europa adentra no período normalmente denominado de feudalismo
Sob a égide da ordem feudal, a partir do séc X, começa a haver um regresso à península itálica de jurisconsultos do império romano do oriente, o que levaria ao surgimento, no séc XI, do nascimento das Universidades.
inicia-se o período dos Estatutos, ou melhor, das Escolas Estatutárias. 
As Universidades são responsáveis pelos estudos dos Estados Jurídicos de cada cidade. Estatuto, per si, é uma palavra que deriva do latim STATUS, e significa o status de cada CIVITAS, de cada Feudo. numa acepção moderna, o direito vigente em cada cidade/burgo.
As cidades do norte da Itália começam a reduzir à escrito o seu direito consuetudinário, firmando os estatutos locais, que se ocupam principalmente das relações jurídicas de direito privado. Assim, começa a surgir o fenômeno de o habitante de uma cidade ser demandado perante a justiça de outra cidade, e surge a dúvida: qual o estatuto aplicável neste caso?
O RESGATE AOS TEXTOS JURÍDICOS ROMANOS
→ A escola de Bolonha (primeira escola estatutária)
· fundada aproximadamente em 1.100 a.D., pela figura lendária de Irnério. pela primeira vez, os textos romanos são estudados fora de conventos e monastérios.
· não se sabe ao certo quem foi Irnério, portanto ele é lendário. provavelmente um jurisconsulto bizantino que voltou à península itálica.
· Os textos são estudados através de glosas, nascendo o primeiro pensamento jurídico moderno: os glosadores.
· glosas nada mais eram do que pequenas explicações de determinados textos, que visavam explicar determinadas passagens ou palavras dos textos romanos. eram feitas entre linhas ou à margem do texto.
· os glosadores adotavam um método literal de interpretar os textos romanos. as glosas em sua maioria visavam mais explicar as expressõesencontradas nos textos romanos do que propriamente comentá-las ou interpretá-las.
· alguns associam esse método ao usado pela escola da exegese francês do fim do séc XVIII
· relevância para o DIPR (final do período dos glosadores):
· albericus → apontado como um dos primeiros estudiosos a analisar os tópicos de DIPR, quando em suas aulas sustentou que os magistrados devem sempre aplicar o direito que for mais adequado aos casos, e que não deve ficar limitado ao Estatuto de sua cidade
· a glosa quod si bononiensis → apontada como a fonte histórica mais antiga de DIPR, pois em seu conteúdo versa sobre os alcances das ordens de um rei/imperador, e defende que estes só se aplicam aos súditos daquele rei/imperador
a relação entre o DIPR e os glosadores é controverso. tem os que vão dizer que seriam relevantes, e os que não.
A ESCOLA ESTATUTÁRIA ITALIANA
Pensamento dominante durante os séculos xiii e xiv, a escola estatutária italiana, ou a primeira escola estatutária francesa, é a mais conhecida como os pós-glosadores ou Comentaristas, que surgiu em Orleans, na França, mas logo tomou o lugar dos glosadores na Itália.
Os comentaristas surgem da crítica ao escopo limitado dos Glosadores. São os primeiros a adotar um método que procura ``sistematizar`` os textos jurídicos e harmonizá-los com outros direitos e fatos do dia-a-dia.
· essa sistematização se configura no modo de estudo dos comentaristas, quais não estudavam mais textos isolados, mas compilações
· o método Bartolo
surge o que se conheceria como ius commune, ou direito comum.
Os comentaristas formularam a distinção entre regras processuais e regras de fundo. As regras processuais, ordinatoria litis, deveriam ser regidas pela lei do foro. Já as regras de fundo, ou seja, de mérito, obedereciam à regra locus regit actum, ou seja, que ordenavam a aplicação da lei do local em que o ato jurídico foi realizado. 
Também foi nesta escola que se determinou que os delitos devem ser submetidos à lei do lugar de sua perpetração (lex loci delicti), norma hoje adotada no DIPr como regra básica no campo do direito penal e da responsabilidade civil.
→ o método de Bartolo:
· pensamento em duas etapas:
· analisava a ``realidade`` (o fato ou o direito sob ótica)
· enquadrava/harmonizava com as compilações jurídicas romanas, de tal forma a verificar a razão ou não de observância de determinado estatuto
esse método tem como críticas:
· A análise da ``realidade`` sempre associada a uma situação local, gerava uma desconformidade ou cada um podia criar sua própria forma de estudar o Direito
· as classificações utilizadas no estudo do Direito eram confusa e insatisfatória;
· A análise do fato acaba presa aos próprios estatutos onde o fato acontece, e, por consequência, às compilações romanas.
→ principais contribuições dos comentaristas para o DIPR:
· summa divisio legum - distinção entre direito reais e direitos pessoais
· estatutos pessoais → regras que cuidavam do status da pessoa naquele feudo, logo, pessoais.
· estatutos reais → regras que cuidavam do status dos bens e das coisas, logo, reais.
D`ARGENTRÉ
A ESCOLA FRANCESA DO SEC. XVI
Normalmente conhecida como a primeira escola estatutária francesa. Feudalista, com fortes raízes feudais; e com ideais territorialistas. A teoria de D`Argentré se preocupava com a independência e autonomia da Bretanha, tendo uma visão de defesa dos interesses bretões e procurando aplicar suas leis sempre que possível.
Sua principal contribuição é a teoria da collisio statutorum, ou seja, primeira doutrina que fale da colisão entre estatutos.
· Os estatutos são reais quando a questão/regra deriva da noção de território (ex.: bens e coisas) → territoriais, via de regra
· Os estatutos são pessoais quando versam sobre a capacidade da pessoa → extraterritoriais (exceção). - neste caso, as instituições pessoais eram regidas pela lei pessoal, adotando-se o critério do domicílio da pessoa (e não de sua nacionalidade), opção de caráter territorialista justamente para defender os interesses da Bretanha.
· Em um choque entre as duas, prevaleceriam os estatutos reais, ou seja, as regras territoriais.
· D`Argentré criou ainda uma terceira classificação, a dos Estatutos Mistos, que integravam os estatutos que concernessem às pessoas e às coisas conjuntamente, mas sobre os quais a regra aplicável eram as mesmas dos estatutos reais. - ou seja, todas as leis reais e mistas seriam regidas pela lei territorial.
a crítica a essa escola é que nem sempre a regra territorial é a regra mais adequada, ou seja, que existe um excessivo apego à noção de território.
Além de essa Escola ter trazido à noção de território, cunhada por D`Argentré, também foi a escola a introduzir a ideia de Autonomia da Vontade.
ULRICH HUBER
A ESCOLA ESTATUTÁRIA HOLANDESA DO SEC. XVII
Iniciada por Christian Rodenborg, é uma escola estatutária marcada pelo contexto histórico holandês do séc. XVI-XVII (``a Revolta``, contexto de unificação dos países baixos)
Tendo em vista que os Países Baixos procuravam se emancipar, a ideia territorialista de D`Argentré fora bem vinda, sendo, inclusive, acentuada. Os jusinternacionalistas holandeses, por exemplo, não submetiam os bens móveis ao estatuto pessoal, mas ao estatuto real.
→ pilares centrais:
· unidade → todo povo tem direito a fundar um Estado soberano; princípio da autodeterminação dos povos
· as relações entre povos são e devem ser feitas por Estados
→ contribuições para o DIPR:
· ideia de comitas gentium → trata-se de um conceito extremamente indeterminado que tem sua origem na crença de que a aplicação do direito estrangeiro tem seu fundamento na cortesia internacional e no respeito recíproco entre soberanos.
· esse conceito é extremamente variável dentro da doutrina do DIPR. 
obra referência: de conflictum legum diversarum in diversis imperiis. do conflito de leis diversas em diferentes impérios.
→ premissas da ordem internacional:
· todo sistema jurídico de um Estado opera nos seus limites territoriais (um dos fundamentos do que se conhece hoje como territorialidade da jurisdição);
· todos os assuntos (permanentes ou temporários) do Estado também se limitam ao seu território; os súditos de cada Estado são todos aqueles que se encontram no seu território;
· a soberania do Estado atua sob influência da cortesia internacional e da reciprocidade - ou seja, os soberanos conduzem-se de modo a tornar possível que as leis de cada país, depois de terem sido aplicadas dentro das suas fronteiras, conservem sua força e eficácia além das fronteiras
importância da escola estatutária:
· ruptura da relação Estatutos e tradições feudais. Estatuto, agora, tem a ver com a nação e sua soberania.
· primeira manifestação de uma escola teórica adotando o conceito de soberania e associando ao Estado → primeira manifestação do Estado moderno.
· quebra do estudo dos fatos ``interprovinciais`` e início do estudo dos fatos ``interestatais`` (internacionais) - início do estudo de fatos entre povos distintos
· origem histórica da expressão ``conflito de leis``
A DOUTRINA ALEMÃ: A CONTROVERSA ESCOLA ESTATUTÁRIA GERMÂNICA
Com as inovações e rupturas que a escola estatutária holandesa trouxe, houve uma lenta degradação da teoria estatutária até o fim do séc. XVIII.
nesse período (séc. XVIII) vai surgir o que se denomina (de forma controversa) de a escola estatutária alemã, qual tenta associar os Estatutos com o Direito natural
Essa ``escola`` era um conjunto de pensadores que pouco tinham em comum, sendo a principal delas escreverem em alemão.
as principais contribuições dessa doutrina:
→ consolidou e estabeleceu algumas premissas que seriam incorporadas ao DIPr até hoje
(1) leis que versam sobre capacidade, personalidade e estado da pessoa são inseridos na competência pessoal (domicílio e nacionalidade)
(2) bens móveis sempre estarão sujeitos à competência territorial
(3) o lugar da constituição da obrigação rege suas formalidade extrínsecas
(4) os efeitos dos atos jurídicos voluntários regem-se pela autonomia da vontade
(5) a atividade judiciária(processo) sempre é territorial
(6) regras processuais sempre são de competência do foro
10/02/2021
O FIM DA ESCOLA ESTATUTÁRIA
COM O ADVENTO DA IDEIA DE LEGISLAÇÃO E COM A TRIPARTIÇÃO DE PODERES houve então uma remodelação na própria ideia de direito, de ius.
da evolução do pensamento diante do iluminismo, várias foram as causas, mas as que podemos destacar são:
1) a consolidação do Estado territorial como unidade de organização social-política e, por consequência, fonte do direito;
a) fim das cidades-Estados.
2) consolidação da teoria da tripartição do poder;
a) a opinio iuris se separa da ideia de lei. o judiciário é a boca da lei, criada pelo legislativo.
3) o direito como ciência da legislação
a) a exegese francesa e o início da era da codificação, e sistematização do Direito
A DIVERSIDADE LEGISLATIVA
DIPr na Ciência do Direito
Com as transformações do pensamento e sua consolidação com os eventos do fim do séc XVIII, o Direito entra em uma nova fase: ciência autônoma.
· revolução francesa, filosofia kantiana e exegese francesa sob napoleão
· uma poderosa luta para se desvincular, especialmente da política
o séc XIX é, de certo modo, o século das luzes para o Direito, em que nascem duas de suas grandes Jurisprudências:
a) a Jurisprudência dos Conceitos
b) a Jurisprudência dos Interesses
inicia-se a era das codificações, do Estado-nação, do Direito nacional, da DIVERSIDADE LEGISLATIVA.
obs.
→ jurisprudência dos conceitos 
conceitos precisos, lançados na legislação. a lei é vista como a fonte consensual do direito. o ordenamento jurídico tem que ser matemático, coeso.
subsunção
lógica
predominância do direito legislado
conceitos devem ser construídos de modo a formar um sistema matemático-geométrico coeso, sem lacunas
o juiz é a boca da lei. sua criação jurídica é ínfima
subsunção é um tipo de silogismo no qual se enquadra um fato (ser) numa norma jurídica (dever-ser)
→ jurisprudência dos interesses
norma jurídica → surge com uma finalidade
teoria das lacunas → predomina a interpretação teleológica (teleologia é a busca da finalidade, do fim de algo)
juiz
decisão jurídica → procura aplicar a lei de forma a preservar o interesse mais importante envolvido
o ordenamento jurídico possui lacunas, porém tem regras para suprimi-las
a função legislativa age em vista de regular conflitos de interesse
→ jurisprudência dos valores
princípios
contexto social
fatos e juízes
teoria axiológica das lacunas
lacunas jurídicas decorrem da carga axiológica na interpretação da norma
axiologia é o estudo dos valores. a busca de uma teoria geral dos valores humanos.
o juiz tem poder de analisar de forma crítica os interesse envolvidos
a decisão jurídica tem de atentar a realidade que os fatos apresentam, não só seu significado jurídico
por elementos sociológicos entenda-se a inserção da realidade fática na decisão jurídica
22/02/2021
para fins da disciplina, o desenvolvimento do DIPr no século XIX será resumido em 04 grandes juristas:
· joseph story
· friedrich carl von savigny
· pasquale stanislao mancini
· antoine pillet
JOSEPH STORY
juiz da suprema corte dos EUA
viveu entre 1779 a 1845
considerado um dos pais do DIPr moderno
obra referência para o DIPr: commentaries on the conflict of laws. foreign and domestic, in regard to contracts, rights and remedies, and especially in regard to marriages, divorces, wills, successions and judgments (1841)
Suprema Corte → corte de direito internacional privado. analisa conflitos entre estados federados e entre leis de estados federados e legislações internacionais.
Mas, em grau de recurso, aprecia em última instância questões de direito constitucional nos estados unidos.
A inspiração de sua obra foi sua atividade como juiz da suprema corte dos EUA, que, diferente do que se pensa, é constitucionalmente uma corte de direito internacional privado.
story tornou famosa a expressão ``conflict of laws`` (conflito de leis), que é como se chama o direito internacional privado nos estados unidos.
compreendendo as máximas postuladas por story para o DIPr:
1) cada nação possui exclusividade soberana e jurisdicional dentro de seu território
2) nenhum estado ou nação pode, por seu próprio direito, afetar/vincular/regular propriedade ou pessoas naturais que se encontram em outro Estado
3) a força extraterritorial de uma lei nacional deriva, obrigatoriamente, da receptividade/aceitação por parte da ordem jurídica nacional do outro Estado. Contudo, também traz a interpretação dos holandeses, de que a lei estrangeira já aplicada frente a um caso concreto (efeitos já produzidos) é aceita como fato.
4) a existência de uma necessidade moral de se fazer justiça, decorrente da utilidade e do interesse mútuo dos estados em viverem em comunidade (internacional)
simplificando: os estados nacionais são autônomos e independentes quanto a aceitar e a aplicar direito estrangeiro. direito internacional privado é parte do direito nacional de cada estado. existe um ``dever moral``dos estados em aplicar o direito internacional (``comity``).
principais críticas ao comity:
· mesmo conferindo o status de Direito ao DIPr, é visível durante a obra de Story sua preferência pela aplicação do Direito nacional
· a ideia de comity não é um conceito objetivo, ou melhor, trata-se de um conceito extremamente indeterminado, passível de confusão entre justiça e direito
· o pensamento de story pode ser denominado de sincretista, isto é: concatena premissas de direito natural e de direitos liberais universais para materializar um direito positivo ``moralizado``.
24/02/2021
FRIEDRICH CARL VON SAVIGNY
diferente da doutrina anglo-saxã, Savigny não atrela a razão de ser do DIPr a ideia de comitas gentium
a base do DIPr está na concepção da existência de uma comunhão de direito entre os povos
(1) essa concepção é marcada pela constatação de que as diferentes nações/povos interagem entre si, criando regras, princípios e moralidades comuns
(2) é decorrente dessa construção/manifestação comum que nasce a razão de ser da aplicação do Direito Estrangeiro e fundamento principal do DIPr
obs.: na época que savigny viveu não existia alemanha, o que é conhecido como alemanha hoje eram principados autônomos que falavam alemão
a principal crítica dessa universalidade é a de que existem próprias situações em que ela não se torna possível manifestar, como, por exemplo:
(1) direito processual - sempre unilateral atrelado ao Direito do Foro da Lide
(2) situações enquadradas na ideia de ordem pública Internacional - domínio reservado pela soberania do Estado (todo Estado se reserva ao direito de não aplicar o direito estrangeiro se ele considerar tal direito ofensivo aos seus costumes e valores - a soberania dos Estados subjuga a relação sujeita à comunhão aos seus valores).
foi o próprio savigny que apontou essas falhas nessa concepção
→ a teoria da sede do fato jurídico
trata-se de teoria sob a qual se desenvolveu o método colisional/conflitual. alguns autores chamam de teoria da sede ou teoria do pêndulo.
esse método pode ser compreendido em 3 premissas:
(1) cada relação jurídica tem uma sede, um coração que determina sua regulação/manifestação no Direito
(2) esse direito pode ser tanto nacional, como pode ser estrangeiro, conforme determina a análise dessa sede
(3) A lei aplicável decorre da análise cuidadosa de cada um dos elementos componentes da relação em foco.
em resumo: para eu poder aplicar o direito estrangeiro, eu preciso primeiro compreender a sede da relação jurídica, qual é e como é a relação jurídica que eu tenho, quais os conceitos jurídicos à disposição no caso em questão.
exemplo: contrato de compra e venda de uma casa.
1) verificar o que o contrato traz pra você. analisar, no caso em questão, que é um contrato de compra e venda de uma casa.
2) o segundo passo é observar o que essa realidade é no mundo jurídico. chegar para o cliente e falar ``vou fazer uma análise e te dou um retorno mais pra frente``. sentar e começar a ver o contrato.
3) ver que toda relação jurídica tem artes (mévio e tício). começara dissecar as partes e qualificá-las. 
4) verificar o objeto. realmente, a casa existe, ver se os impostos do bem estão pagos, se não tem nenhum gravame, etc.
5) ver então as cláusulas do contrato, verificar o nexo, ver quem vai ficar com o que, etc. tudo isso acima é a verificação padrão do direito interno.
6) no âmbito do direito internacional privado, você verifica que mévio é alemão, domiciliado na frança. tício é brasileiro, domiciliado em recife. mas o imóvel é localizado no uruguai. assim, só eu sabendo que o imóvel tem regras especiais quanto a sua transmissão que eu vou saber como e qual lei, no âmbito do DIPr, aplicar. assim, toda essa volta é para analisar que é a partir da norma que surgem os conceitos, e que é através do caso que devemos checar se tem um elemento extranacional na relação jurídica.
sempre lembrando: 
→ esse método não se aplica em questões que incidem a ordem pública internacional.
→ para savigny, esse método também não se aplicaria em casos de instituições desconhecidas (por exemplo, um contrato de trust, o qual não é reconhecido pelo direito brasileiro. para o professor, você deve entrar no âmbito argumentacional, convencendo o juiz ou árbitro que esse contrato deve ser reconhecido → hoje nosso ordenamento reconhece a possibilidade espacial de conhecimento de instituição desconhecida)
01/03/2021
PASQUALE STANISLAO MANCINI
→ contexto de unificação italiana
→ jurista e (predominantemente) político italiano da Universidade de Turim
→ viveu entre 1817 e 1888
→ obra referência: Discurso sobre a nacionalidade como base do Direito das Nações
→ introduz a nacionalidade como objeto do Direito Internacional (privado)
→ Estabeleceu uma das mais famosas e primeiras classificações das normas de Direito Internacional (privado)
→ Principais contribuições para o DIPr:
· postulados básicos
· a extraterritorialidade é um fenômeno decorrente da nacionalidade, a qual rege toda a personalidade jurídica do indivíduo → o fundamento do DIPr é a nacionalidade
· a aplicação do Direito estrangeiro pela determinação do Direito Internacional em forçar os Estados a respeitar o vínculo criado pela nacionalidade nas questões que são do âmbito das regras de interesse privado
das classificações das regras de DIPr:
· quanto às regras que compõem uma ordem nacional:
· criadas pelo interesse privado (aplicáveis a todos os nacionais daquele Estado, por exemplo, regras de votar e ser votado; tem sua força vinculante na nacionalidade; e são extraterritoriais)
· criadas pela proteção da ordem pública (aplicáveis a todos dentro do território daquele Estado; tem sua força vinculante na autoridade do Estado; são territoriais)
· quanto às regras que compõem o Direito das Gentes (ius gentium público e privado)
· regras imperativas → inafastáveis pela vontade das partes. objeto: questões de estado, capacidade, sucessões, etc. dominadas pelo Direito Nacional por força da pessoalidade do Direito → nacionalidade
· regras voluntárias → domínio da vontade das partes; objeto: negócios jurídicos; regidas pelo Direito escolhido pelas partes; → liberdade
· regras de ordem pública → limites à aplicação do Direito estrangeiro; objeto: Direito público e partes do Direito Internacional; dominadas ela territorialidade da jurisdição e soberania → soberania
→ principais críticas ao pensamento de Mancini
1) excessivo apego ao instituto da nacionalidade como vetor de regência dos estatutos pessoais, ignorando as dificuldades geradas pelos conflitos positivos de nacionalidade
2) não há uma clara distinção entre o campo do Direito Internacional Público e do Direito Internacional Privado, sendo ambos agrupados no que ele denomina de Direito das Gentes
ANTOINE PILLET
→ professor da faculdade de direito da universidade de Paris
→ viveu de 1857 e 1926
→ obras referência: Principes de Droit International Privé e Traité Pratique de Droit International Privé
trata-se de um jurista de virada de século XIX e XX, marcando os fundamentos da estrutura contemporânea do DIPr
o principal motivo de encerrar o séc. XIX com Antoine Pillet foi sua decisiva contribuição para a Teoria dos Direitos Adquiridos
relevante para a Arbitragem internacional por força da Teoria dos Direitos Adquiridos
03/03/2021
(continuação de antoine pillet)
Pillet começa a trabalhar a ideia de que o direito tem alguma função, alguma funcionalidade dentro da sociedade.
resumo das principais ideias:
(1) todas as leis são, por sua natureza, tanto territoriais, quanto extraterritoriais;
(2) existem contextos em que esse duplo caráter não se conserva, possibilitando o surgimento do conflito de leis;
(3) o critério principal para determinar a lei aplicável sempre será aquele que tem o maior interesse nos efeitos sociais; (a lei aplicável para a situação tem que ser aquela que menos traga perturbação da ordem social)
(4) as leis não tem valor senão pelo fim social que se dirigem;
(5) o conflito de leis não se confunde com os problemas decorrentes da aquisição de Direitos e sua proteção internacional (théorie des droits acquis);
(6) ``droits acquis`` é um conceito que abrange todas as situações jurídicas relacionadas ao poder, interesses, e, até certo ponto, inabilidades (por exemplo, solicitação de medidas restritivas, o poder/proteção de ``deixar de fazer`` algo)
observações:
(a) o principal defeito da obra de Pillet, e que se desdobrou na doutrina do século XX, foi o demasiado emprego de conceitos indeterminados → problema generalizado das escolas da jurisprudência dos interesses
(b) Ao acrescentar a finalidade social (dominante na visão social do Direito do fim do séc XIX na França), ninguém nunca conseguiu delimitar o que seria exatamente o ``fim social``, por ser um conceito extremamente indeterminado.
Pillet é defensor do Universalismo e da submissão do DIPr ao Direito Internacional Público.
SÉCULO XX E XXI: REGIONALISMO E GLOBALIZAÇÃO
Na primeira metade do séc. XX, o DIPr não sofreu muitas transformações, mantendo-se no debate sobre a posição dos direitos adquiridos em seu campo.
Na segunda metade do séc. XX, o DIPr iniciou uma profunda transformação no continente europeu, em especial com o desenvolvimento do direito comunitário.
No final do séc XX e início do séc XXI, o DIPr começa a enfrentar a questão da globalização e dos problemas transnacionais.
Enquanto que na Europa não se compreende mais DIPr sem compreender Direito comunitário e processo internacional; no Brasil a evolução é feita aos trancos e barrancos, tendo, a doutrina, que enfrentar a antiga LINDB de 1942.
em resumo, tudo que precisa ser compreendido para o entendimento de fato extranacional:
direito comunitário
V
uniformização/soft law/ dip → fato extranacional ← processo internacional
/l
teoria colisional (DIPr)
A DOUTRINA DA SOLUÇÃO DOS CONFLITOS DE LEIS NO ESPAÇO
(O CONFLITO DE LEIS DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO)
é o estudo da incidência ou não e da aplicação do Direito estrangeiro em determinada relação jurídica com conexão com mais de um direito (fato extranacional)
é uma expressão equívoca; não técnica.
seu uso é histórico - graças, principalmente, à doutrina de Story;
na doutrina, é sinônimo de conflito de leis no espaço especial ou conflitos especializados de leis no espaço.
observações importantes:
(1) não existe conflito, no sentido de choque, entre leis. o que existe é uma concorrência de Direitos soberanos para regular determinada relação jurídica. → são ordenamentos jurídicos distintos, cada um dotado de poder soberano. assim, não existe antinomia entre ordenamentos estrangeiros distintos; o que existe é uma corrida, em que quem determina qual a norma vai ser aplicada é o direito internacional privado, que lida com conflitos horizontais; horizontalidade.
(2) A palavra ``leis`` é imprópria, pois existem países que não tem leis, exatamente, sobre determinada matéria, mas costumes. assim, a palavra leis deve ser interpretada como sinônimo de Direito nacional ou comunitário ou internacional.
(3) o direito incidente pode ser tanto ``hard law``, como ``soft law``. 
(4) podehaver conflito de leis de DIPr entre Direitos estaduais (isso não ocorre no direito brasileiro, mas ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, onde a competência principal é dos estados e a União tem competência residual - dependendo da estrutura do Estado, se as esferas estaduais forem autônomas da esfera federal, pode acontecer o fato extranacional quando dois direitos estaduais concorrem para incidir sobre a relação)
(5) Dois ou mais direitos podem ser aplicados ao mesmo tempo em uma relação jurídica. relações jurídicas podem ser regidas por vários direitos, cada um incidente em determinado aspecto da relação. é o fenômeno da Dépeçage, em que a relação jurídica é decomposta em várias relações, analisadas com diferentes fundamentos.
não confunda:
conflito de leis do DIPr x conflito de normas jurídicas
	CONFLITO DE LEIS NO DIPR
	CONFLITO DE NORMAS JURÍDICAS
	Determinação do Direito que deve regular a situação
	Estudo da integração normativa para formação de um sistema jurídico
	Diversidade legislativa
	Planos da norma jurídica
	Fato extranacional
	Antinomias
	DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
	TEORIA GERAL DAS NORMAS
	CONFLITO HORIZONTAIS
	CONFLITOS VERTICAIS
	CONFLITO DE LEIS NO DIPr
	CONFLITO DE JURISDIÇÃO
	Determinação do direito que deve regular a situação
	Expressão ampla que pode designar vários fenômenos. normalmente se refere à competência judiciária
	Diversidade legislativa
	Fixação de competência
	Fato extranacional
	Pretensão existida/qualificada em juízo
	DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
	LIDE
	CONFLITOS HORIZONTAIS
	FUNÇÃO PACIFICADORA DO ESTADO
De acordo com Dolinger, modernamente, o DIPr segue a orientação de Jitta, doutrinador que dispôs sobre a utilização de dois sistemas distintos para resolver as relações jurídicas internacionais:
(1) o sistema que uniformiza as normas jurídicas dos Estados, anulando o conflito;
(2) e o sistema conflitual per si, que coordena e harmoniza os direitos postos através da escolha da lei aplicável entre as leis em conflito.
A QUESTÃO DO CONFLICT OF LAWS
Conflict of laws é, no common law, o que nós, do civil law, chamamos de Direito Internacional Privado
é dividido em três campos temáticos:
(a) jurisdiction - conflito de jurisdição; cooperação jurisdicional; fixação de competência
(b) choice of law - a doutrina da solução dos conflitos de leis no DIPr
(c) foreign judgment - homologação de ato/sentença estrangeira; direitos adquiridos no estrangeiro
08/03/2021
AS NORMAS DE DIPR
→ terminologia principal:
· normas colisionais (normas conflituais) → normas próprias do DIPr. são as que contém um elemento de conexão. Exemplo: art. 7, caput, da LINDB (``a lei do país em que domiciliada a pessoa determina regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família)
· normas qualificadoras → normas impróprias do DIPr. são normas-conceitos, emprestadas de outros ramos do direito. ex.: art. 7, §8º, da LINDB (conceitua/qualifica o domicílio)
método colisional: primeiro se qualifica, para depois solucionar
→ algumas outras classificações da doutrina:
Maristela Basso (classificação por estrutura - categoriza as normas de DIPr dentro do ordenamento jurídico):
· Normas Diretas
· Normas Indiretas
· Normas Instrumentais
	NORMAS DIRETAS
	NORMAS INDIRETAS
	NORMAS INSTRUMENTAIS
	Direito material
	direito formal
	Função de reconhecer e estabelecer consequências jurídicas para situações do dia-a-dia
	Procedimento para a incidência do direito (material) estrangeiro
	Procedimento para a solução de lides
	Ex.: art. 235 CC/02
	Regulam o procedimento de solução do conflito de leis de DIPr
	Regulam processos (judicial/administrativo)
	
	Art. 9 da LINDB
	Art. 188 CPC/2015
Maristela Basso chama essa classificação quanto à estrutura, ou seja, é uma classificação que tem como ponto central a funcionalidade das normas em uma ordem jurídica.
Jacob Dolinger:
	UNILATERAIS
	BILATERAIS
	JUSTAPOSTAS
	Normas egoístas. ``Quando se aplica a MINHA lei?``
	Normas de cortesia.. ``Qual a melhor lei aplicável?``
	Não existem mais no direito brasileiro, mas foram muito utilizadas no esboço de Teixeira de Freitas
	Determinam seu próprio campo de aplicação no espaço e ignoram a diversidade legislativa
	Procuram determinar qual o direito é o mais adequado para aquela relação jurídica. Manifestam a existência da diversidade legislativa.
	Criar, através de uma redação unilateral, uma interpretação/hermenêutica bilateral
	Essência da Ordem Pública Internacional
	Normas que contém elementos de conexão
	
→ Teoria das Qualificações
Trata-se de um dos assuntos mais espinhosos do DIP como um ramo científico.
O ato de qualificar é compreender juridicamente determinado fato para estabelecer as normas a que ele se aplicam.
No DIPr, esse problema cresce exponencialmente, pois surge a questão: qual direito deve-se utilizar para compreender determinado fato, para então determinar o direito a ele aplicável?
Doutrinas existentes:
· Qualificação pela lex fori (lei do foro) → o juiz não é obrigado a saber direito estrangeiro, então as leis de qualificação devem ser a do foro/do local a ser julgado. Defende que a relação jurídica deve ser reconhecida juridicamente através do direito do foro.
· Qualificação pela lex causae (origem da questão) → o juiz, na hora de qualificar a relação, deve seguir os conceitos do local onde a questão teve sua origem. Defende que a relação jurídica deve ser reconhecida juridicamente através do direito do local onde a relação jurídica se constituiu/surgiu.
A pergunta do legislador unilateralista - ``quando se aplica a minha lei`` - corresponde a uma ótica de concentração nas leis de diversos países e nos seus conflitos, que é seguida por uma preocupação em aplicar a lex fori. Quem olha para as leis em conflito e procura extrair uma solução da diversidade estará sempre inclinado a aplicar a sua própria lei.
Já a pergunta do legislador multilateralista - ``que lei se aplica`` - está mais voltada para o fato jurídico e o exame de suas particularidades e nuances, observação esta que induz a procurar a lei mais apropriada para a solução, conduzindo a um critério de maior objetividade e maior capacidade de universalizar.
10/03/2021
→ dívida de jogo de azar
dever ser brasileiro: obrigação natural
dever ser estadunidense: obrigação jurídica
não são exigíveis no Brasil dívidas de jogo de azar - art. 814
o Brasil, em alguns momentos, usa a lex causae, mas por conveniência, na qualificação, usa-se o foro.
Resp. 1.628.974 STJ de 2017 → admitiu-se a cobrança de dívida de jogo em ação protocolada em juízo brasileiro, por não ofender a… ordem pública internacional brasileira
``há, portanto, equivalência entre a lei estrangeira e o Direito brasileiro, pois ambos permitem determinados jogos de azar, supervisionados pelo Estado, sendo, quanto a esses, admitida a cobrança. Não se vislumbra, assim, resultado incompatível com a ordem pública``.
Admitiu-se a lex fori, por tanto, a aplicação da lei do lugar do julgamento, ao invés da aplicação da lei do local da causa. A problemática é que a lei de aplicação do lugar do julgamento não poderia ter sido aplicada dessa forma justamente pelo Brasil não admitir que exista jogo de azar.
É a regra nos países europeus sempre qualificar a relação jurídica pelo local que ela teve sua origem (lex causae). A tendência de qualificar pelo foro é de países latinoamericanos.
além do problema de DIPr, no Brasil existe ainda um problema processual próprio, que decorre da má sistematização do CPC:
1) suprimir a questão da possibilidade jurídica do pedido, limitando-se em seu art. 330 definir que petições iniciais serão indeferidas por ilegitimidade da parte ou carência de interesse processual
2) não definir o que é interesse processual
3) má estrutura redacional. pedidos impossíveis juridicamente não são sequer mencionados no texto processual, ou seja, não são incluídos como possibilidade de indeferimento da petição inicial.
15/03/2021
OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DE CONEXÃO DO DIPR
O que é um elementode conexão?
É um critério construído normativamente que serve como vetor determinante de qual direito aplicável para determinada relação jurídica.
É o elemento essencial de uma norma colisional/conflitual, pois é o conector da relação jurídica extranacional com determinado(s) ordenamento(s) jurídico(s).
é o elemento de conexão que determina qual o dever-ser deontológico que se aplica a determinado ser.
a doutrina não explica o que é elemento de conexão.
São exemplos: domicílio, nacionalidade, local de constituição, vontade das partes, local do bem.
Dever ser → ser (já visto em IED)
Em DIPr, o ser é uma bolinha, na qual ao redor dela orbitam diversos dever-ser diferentes, de diversos países, querendo incidir sobre o ser (é que nem o ppt do Dallagnol). Dessa forma, não há como saber, com certeza, qual o direito que vai regulamentar as consequências jurídicas da relação jurídica, devendo-se analisar esse caso através da realização de um corte epistemológico para avaliar qual vai ser verdadeiramente o elemento jurídico daquela relação jurídica fática. É aí que entra o elemento de conexão, pois ele vai orientar, fazer a relação entre o ser e o dever ser.
OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DE CONEXÃO DO DIPR BRASILEIRO
(1) Domicílio
(2) Lex rei sitae (lei onde a coisa se encontra)
(3) Nacionalidade
(4) Locus Regit Actum (local da constituição do ato, aplicado para as obrigações de forma geral, tanto no sentido estrito do direito, como no âmbito mais generalista que envolve a responsabilidade civil, obrigação de fazer e etc.)
(5) Autonomia da vontade das partes
Esses são os principais, mas NÃO são os únicos! Esses estão consagrados na LINDB (exceto a nacionalidade), mas existem outros fora dela.
Aviso!: em frente a um fato extranacional, a LINDB é o ponto de CHEGADA, e não o ponto de partida. Porque sabendo os elementos do fato, verificar que existe legislação específica para aquela relação, deve-se analisar de início por ela. Não havendo legislação específica ou ela não sendo satisfatória/sendo omissa quanto ao DIPr, vai-se para a LINDB.
DOMICÍLIO
É o lugar em que a pessoa natural estabelece sua residência com ânimo definitivo. Está relacionado com a pessoa física.
Para as pessoas jurídicas, não se fala em domicílio, mas em sede.
Tipos de domicílio:
· comum (art. 70 do CC)
· Necessário (art. 76 do CC)
· Profissional (art. 72 do CC)
· Contratual (art. 78 do CC)
Observações gerais:
(1) Apesar de o código civil ter as regras gerais sobre domicílio, existem regras em legislação específica. Ex.: art. 127 do CTN (domicílio tributário); art. 42 da lei 4737 (domicílio eleitoral)
(2) A condição especial envolvendo o Diplomata → art. 77 do CC. Problema da rotatividade do diplomata.
Em princípio as regras do CC são suficientes para compreender o básico do elemento de conexão DOMICÍLIO. Entretanto, na prática do dia a dia, deve-se verificar, por via das dúvidas, se não é caso de legislação específica.
O ELEMENTO DE CONEXÃO DOMICÍLIO
Aspectos teóricos:
1) domicílio é um conceito evoluído de território (em que a pessoa se encontra). Dessa forma, é um elemento de conexão territorial; não é atributo da pessoa, mas sim a localização geoespacial da pessoa no momento; o local em que ela reside com ânimo definitivo.
2) Ganhou força com o início do século XX, em especial com as duas grandes guerras e com a descolonização, como elemento de conexão mitigador da nacionalidade.
3) Sua aceitação no DIPr aconteceu por:
a) Inserção melhor do estrangeiro na legislação em que habita (para Paul isso não significa nada, ele tirou da doutrina; nesse caso está incluindo-se a legislação como se fosse política pública);
b) Proteção dos interesses de terceiros que negociam com o estrangeiro no dia a dia;
c) Auxílio à criação de políticas públicas para tratar da condição do estrangeiro;
d) Facilitação da regulamentação de questões de família entre nacionais e estrangeiros
e) Não gera conflitos de soberania em caso de multiplicidade
f) Em resumo: facilita a inserção do estrangeiro no dia-a-dia do Estado.
Foco da ideia de Domicílio: ESTATUTOS PESSOAIS
· ESTADO → A totalidade dos atributos que uma ordem jurídica confere à uma pessoa. Famoso estado civil, que inclui nome, sexo, profissão e etc.
· CAPACIDADE → aptidão de uma pessoa em assumir direitos e deveres.
· Capacidade de gozo (ou de direito): aptidão para a pessoa existir para o direito. Ser incapaz de direito é não existir juridicamente. Ex.: escravo e morto civil (ausente por mais de 10 anos)
· Capacidade de exercício
Regra geral do domicílio como elemento de conexão do Direito brasileiro → art. 7º da LINDB
A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
Em regra, somente capacidade (gozo e exercício) de Direito Privado.
O art. 7º é uma regra geral, logo existem DIVERSAS exceções.
Principal exceção → Direito cambiário
17/03/2021
 CAPACIDADE NO DIREITO CAMBIÁRIO
Direito cambiário é um nome bonito que designa o campo formado pelos títulos de créditos e operações financeiras derivadas (contrato de câmbio, instrumentos negociáveis, etc.)
Trata-se de um campo extremamente especializado do Direito, no qual o domínio de um título de crédito não implica no conhecimento de todos os títulos de crédito.
→ Mini revisão conceitual:
Art. 887 do CC/02: O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei
Esse dispositivo é cópia descarada da definição oferecida por Cesare Vivante.
Características:
· Cartularidade (o crédito se incorpora, materializa no documento)
· Literalidade (vale literalmente o que está na cártula)
· Autonomia (o título está desvinculado da obrigação que originou aquele crédito, ou seja, ele tem autonomia de valer por si mesmo - o título de crédito tem como característica ser uma garantia de pagamento)
Instituições do título de crédito:
· Sacador: aquele que determina a ordem de pagamento
· Sacado: conhecido como aceitante. Aquele que, por meio de aceite, fica obrigado a cumprir a ordem contida no título
· Tomador: é o credor. o beneficiário do crédito contido no título
· Aceite: ato pelo qual o sacado se obriga em pagar o título aceitado
· Endosso: instituto pelo qual ocorre a transferência do título do endossante ao endossatário
· Aval: ato pelo qual a pessoa se torna solidária à obrigação contida no título.
VOLTANDO AO DIPR…
Pela característica da AUTONOMIA, as relações cambiárias não podem ser compreendidas dentro da relação jurídica que está atrelada.
A capacidade do negócio jurídico é distinta da capacidade para figurar em um dos pólos de um título de crédito.
A capacidade dos títulos de crédito podem ser regidos por lei específica.
Alguns exemplos:
Art. 63 da Lei de Cheques (Lei 7.357)
Os conflitos de leis em matéria de cheques serão resolvidos de acordo com as normas constantes das Convenções aprovadas, promulgadas e mandadas aplicar no Brasil, na forma prevista pela Constituição Federal.
Decreto 57.595/1966, Anexo II - Convenção destinada a regular certos conflitos de leis em matérias de Cheques e Protocolo, Art. 2º
A capacidade de uma pessoa para se obrigar por virtude de um cheque é regulada pela respectiva lei nacional. Se a lei nacional declarar competente a lei de outro país, será aplicada esta última.
A pessoa incapaz, segundo a lei indicada na alínea precedente, é contudo havida como validamente obrigada se tiver apósto a sua assinatura em território de um país segundo cuja legislação teria sido considerada capaz.
Qualquer das Altas Partes contratantes tem a capacidade de não reconhecer como válida a obrigação contraída em matéria de cheques por um de seus nacionais, desde que para essa obrigação ser válida no território das outras Altas Partes contratantes seja necessária a aplicação da alínea precedente deste Artigo.
Comentário: reserva de cada país que se o título de crédito está vinculado à capacidade da pessoa (nacionalidade da pessoa),este país pode decidir se a exigibilidade deste título de crédito afeta, ou não, a ordem pública internacional interna. Papel predominante da nacionalidade no regimento da capacidade no que tange o Direito Cambiário.
Exemplo da arbitragem e do título de crédito sujeito a uma situação que se resolve por ela. Se o título brasileiro é um Cheque, deve-se recorrer ao Decreto 57595. Pelo primeiro item do art. 2º, o DIPr brasileiro elege o domicílio como elemento de conexão. Sendo o domicílio dessa pessoa brasileiro, tem-se que o credor é incapaz. Entretanto, o outro país pode argumentar que ele era capaz no país em que ele assinou a obrigação. Daí o árbitro vai avaliar se essa regra de capacidade da lei local da assinatura pode ser, em algum ponto, compatível com a lei local brasileira.
Letras de Câmbio e Notas Promissórias
Decreto 57.663/1996 - Anexo II. Convenção destinada a regular certos conflitos de leis em matéria das letras de câmbio e notas promissórias e protocolo.
A capacidade de uma pessoa para se obrigar por virtude de um cheque é regulada pela respectiva lei nacional. Se a lei nacional declarar competente a lei de outro país, será aplicada esta última.
A pessoa incapaz, segundo a lei indicada na alínea precedente, é contudo havida como validamente obrigada se tiver apósto a sua assinatura em território de um país segundo cuja legislação teria sido considerada capaz.
Qualquer das Altas Partes contratantes tem a capacidade de não reconhecer como válida a obrigação contraída em matéria de letras ou notas promissórias por um de seus nacionais, desde que para essa obrigação ser válida no território das outras Altas Partes contratantes seja necessária a aplicação da alínea precedente deste Artigo.
Segue a mesma regra que os Cheques - primeiro ver a nacionalidade da pessoa, para ver o DIPr do local aplicável, e ver, depois, como isso rege a capacidade dela. Não é que o elemento de conexão seja a nacionalidade, mas ele se torna importante para que você entenda o sistema de solução de controvérsias aplicável ao caso.
Se a pessoa for considerada capaz em seu país de nacionalidade, sem problema.
Se ela for considerada incapaz, existe a excepcionalidade da lei do local da assinatura para o país impôr a sua capacidade, desde que não afete o DIPr do país de nacionalidade.
Esses exemplos servem somente para ilustrar que as regras da LINDB são regras gerais e que existem exceções.
Mesma coisa para protesto, aceite, endosso, pagamento, aval e etc.
Outro exemplo: brasileiro domiciliado na Argentina que sacou um cheque em Patópolis (país fictício). O brasileiro está alegando que é incapaz e que esse cheque não poderia ser oponível a ele. O juiz brasileiro (o caso corre no Brasil), ao ver esse caso, deve analisar quais as regras - a Convenção internacional do Decreto 57.595/1966. 
A Convenção diz que o juiz deve aplicar o DIPr da nacionalidade da pessoa ao caso. 
A capacidade de uma pessoa para se obrigar por virtude de um cheque é regulada pela respectiva lei nacional. Se a lei nacional declarar competente a lei de outro país, será aplicada esta última.
Pelo DIPr brasileiro (já que o rapaz é brasileiro), aplicado por força da nacionalidade da pessoa, entende-se que a capacidade dele está relacionada à lei do domicílio. O domicílio dele é argentino, então de acordo com a alínea 1 do Art. 2º, o Direito aplicável deve ser o Direito argentino. Segundo esse Direito, o rapaz é incapaz.
Entretanto, a outra parte está alegando que, pelo Direito de Patópolis, ele é plenamente capaz. Então ele quer a aplicação da excepcionalidade da lei do local da assinatura - o cara causou a própria capacidade, já que assinou o negócio em Patópolis. 
A pessoa incapaz, segundo a lei indicada na alínea precedente, é contudo havida como validamente obrigada se tiver apósto a sua assinatura em território de um país segundo cuja legislação teria sido considerada capaz.
O juiz diz que, para aplicar essa excepcionalidade, deve verificar se o Direito nacional daquela pessoa é compatível com aquela situação. Ou seja, analisa-se o Direito brasileiro, da nacionalidade da pessoa, frente ao Direito do local da assinatura. Nessa situação, se for verificado que há compatibilidade, exclui-se a aplicação da lei local do domicílio e se aplica, portanto, a excepcionalidade da lei do local da assinatura - a excepcionalidade da lei do local da assinatura só se aplica quando ela estiver em conformidade com a lei da nacionalidade da pessoa.
24/03/2021
OUTROS ASSUNTOS SOBRE O DOMICÍLIO NO DIPR BR
→ A questão da multiplicidade de domicílios
Art. 71 do CC
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
O CC permite a multiplicidade de domicílios, porém não estabelece regra ou critério para estabelecer a preferência para casos de DIPr.
Logo, tem-se um problema: como resolver um conflito positivo de domicílios?
→ Convenção interamericana sobre domicílio das pessoas físicas no DIPr (CIDIP), Art. 2:
O domicílio de uma pessoa física será determinado, no ordem abaixo, pelas seguintes circunstâncias:
1) pelo lugar da residência habitual;
2) pelo lugar do centro principal dos seus negócios;
3) na ausência dessas circunstâncias, considerar-se-á como domicílio o lugar da simples residência;
4) em sua falta, se não houver simples residência, o lugar onde se encontrar.
Contudo, apesar do Brasil ter assinado em 05/08/1979, até hoje não se tem notícia da ratificação dessa Convenção. No judiciário brasileiro não se aplica convenção não ratificada - mas, se quiser que seja aplicada, precisa pedir ao juiz.
→ A questão dos conflitos móveis: a mudança do estatuto pessoal
O que ocorre com o estatuto pessoal de uma pessoa quando ela muda de domicílio ou de nacionalidade? Não ha legislação sobre essa questão.
A denominação conflito móvel advém, em analogia, ao que aconteceu o Direito nacional, trata-se de um conflito entre a lei anterior (estatuto pessoa anterior) com a lei posterior (estatuto pessoal novo).
A solução está no fator tempo. Vale o domicílio do momento do ATO/obrigação/relação jurídica - tempus regit actum. NUNCA o domicílio do momento de propositura da ação ou de fato superveniente.
→ a união estável e o art. 7 da LINDB
A pergunta é boba: união estável se insere no conceito Direito de Família previsto no caput do art. 7?
Se sim, aplica-se a regra do domicílio.
Se não, considera-se um contrato. Logo, é uma obrigação regida pelo art. 9 da LINDB (local de constituição).
A questão é boba se considerarmos a união de homem e mulher. Mas e a união estável homoafetiva constituída no estrangeiro? Não há regra pacífica para esse caso, apesar do crescente reconhecimento da união homossexual. Defenda sempre a melhor posição para o seu cliente diante dessa situação. Se for melhor a aplicação do direito do domicílio, defenda como entidade familiar. Se for melhor a aplicação do direito do local da constituição, defenda como contrato de sociedade.
→ O casamento homoafetivo estrangeiro
O casamento homoafetivo celebrado no exterior é reconhecido no Brasil?
Sim - aplica-se o art. 7º da LINDB - argumentos principais:
· Resolução 175/2013 do CNJ, art. 1º → Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo.
· Mesmo não sendo suficiente, pode-se aplicar ao casamento homossexual o instituto da INSTITUIÇÃO DESCONHECIDA - as regras desconhecidas do direito estrangeiro podem ser aplicadas no direito interno porquanto não sejam contrárias aos princípios deste.
Não - é ofensivo a ordem pública internacional brasileira - argumentos principais:
· A CF expressamente reconhece somente a união entre homem e mulher, e é entendimento sedimentado e consolidado que normas constitucionais são de ordem pública internacional.
· Art. 226, §3º da CF
· Decreto nº 18.871/1929 (Código de Bustamante), art. 4º 
Até o momento, não há resposta certa para essa questão. Ambas tem fundamentaçãocoerente, apesar de a linha negativa ser, na opinião de Paul, mais sólida. O PL 6583/2013 (Estatuto da Família) pode vir a resolver essa problemática. 
→ o regime de bens, art. 7º, §4º da LINDB, vs. art. 187 do Código de Bustamante
O que predomina é a interpretação da LINDB (lei do domicílio comum)
29/03/2021
SOBRE A APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE BUSTAMANTE
· Decreto nº 18.871/29 – Tratado de caráter regional e não envolve direitos humanos
· Caráter sui generis – na teoria deveria ser aplicado apenas aos países que o ratificarem: 1. Quando a relação jurídica extranacional envolver os países contratantes e 2. Quando ausente regulamentação na legislação nacional
· Na prática, ele só é aplicado quando não há legislação nacional vigente – no Brasil ele virou um tapa-buraco, como se fosse uma legislação aplicável a todas as relações envolvidas no ordenamento jurídico
LEX REI SITAE - O TRATAMENTO DOS BENS NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
· Bens – significado de direito das coisas, direitos e garantias reais – para a disciplina, a classificação mais importante é a divisão entre bens móveis e imóveis
· Bem imóvel – todas aquelas coisas que você não consegue transportar sem alterar a sua essência – o solo e tudo que se lhe incorporar natural ou artificialmente + bens imóveis para efeitos legais (direitos reais sobre imóveis e ações que os asseguram e o direito à sucessão aberta)
· Bens móveis – os bens suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social
Art. 8º, LINDB: para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados
· Regra aplicável aos bens móveis e aos imóveis, fungíveis e infungíveis
· LEX REI SITAE elemento de conexão territorial: prevalece para regulamentar a coisa/bem a sua localização geográfica – foco nos ESTATUTOS REAIS
· Regra geral para: bens materiais (móveis ou imóveis); bens imateriais (propriedade intelectual); garantias reais (hipoteca, anticrese, alienação fiduciária, penhor); direitos reais
· Trata-se de um sistema unitarista, isto é, uma regra geral e várias regras específicas conforme a especialidade e a característica do bem – art. 8º, LINDB apenas é aplicado se não houver regra específica – teoria da sede: para aplicar a regra, é preciso caracterizar, saber o que é a coisa, e assim saber se há regra específica para ela
ESPECIFICIDADES: 
1. Propriedade intelectual – direitos patrimoniais oriundos de bens imateriais (direitos autorais e a propriedade industrial)
1.1 DIREITOS AUTORAIS
· Checar se existe Convenção Internacional sobre o assunto + art. 2º, Lei nº 9.610/98 
· Direito aplicável não é o local da situação da obra – difícil dizer onde está localizada a obra – regra geral: DOMICÍLIO DO AUTOR + Convenções Internacionais sobre o tema
· Internacionalmente é consagrado que os direitos autorais são sempre guiados pelo domicílio do autor da obra – erro do legislador: domicílio como vetor de aplicação dos Tratados Internacionais, e no p.ú., para lidar com os domiciliados no Brasil e brasileiros no exterior, ele diz que se aplica unilateralmente a Lei nº 9.610/98, ou seja aplica unilateralmente a lei brasileira – problemática
· Direitos autorais tem como lei aplicável os Tratados Internacionais – não existindo Tratado Internacional sobre o tema, aplica-se a regra do domicílio do autor
1.2 PROPRIEDADE INTELECTUAL
· Art. 3º da Lei nº 9.279/96 
· Regra geral: Convenções Internacionais + lei do local do registro
· Problema da propriedade industrial: normalmente se registra a patente no país onde fez o processo, ou, excepcionalmente, em um país em que se ofereça melhor proteção para ela
· Convenção de Paris de 1883 + Código de Bustamante 
· Para todos os efeitos, direitos oriundos de propriedade intelectual são bens móveis
2. O art. 8º, §1º: os bens móveis em trânsito
Art. 8º, § 1º Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
· Em regra, a coisa que acompanha a pessoa em viagem é regida pela lei do domicílio da pessoa
· Obs: problemática da possuidora não-proprietária
· Aplicação prática: garantia dos bens – a aplicação é do domicílio da pessoa jurídica que garantiu o bem – então se compro um celular nos EUA, a garantia vai cobrir os EUA, então talvez a pessoa jurídica não cubra o Brasil
· Os bens móveis em trânsito são aqueles considerados como 1. os bens que estão com o proprietário; e 2. os bens sob o contrato de transporte
· O art. 8º, §1º não é regra geral para bagagens, mas é regra geral para CONTÊINERS, mas trata-se assunto muito complexo – enfim, aplicação extremamente restrita
31/03/2021
AS GARANTIAS REAIS
Garantias reais (ou Direitos reais de garantia) configuram um instituto pelo qual o Devedor ou seu solidário destaca uma parte de seu patrimônio para garantir a satisfação do crédito em caso de inadimplemento.
Modalidades:
· Hipoteca (bens imóveis, navios e aeronaves)
Regra do caput do art. 8º da LINDB. Exceção: navios e aeronaves.
Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.
· Penhor (bens móveis)
Regra própria do art. 8º, §2º da LINDB
Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.
(...)
§ 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada.
Regra geral: direito do domicílio do possuidor.
O penhor normalmente é obrigação autônoma atrelada a um contrato de empréstimo ou mútuo. Mas não segue as regras desse contrato ao qual figura como garantia.
Essa regra é para conferir maior segurança ao credor e maior responsabilidade para o mesmo com a coisa sob sua guarda.
O Penhor e a Hipoteca são obrigações autônomas: eu devo pagar o valor devido, mas também devo solicitar a desoneração do imóvel ou bem, sob pena de ele continuar em aberto.
· Anticrese (rendimentos de bens imóveis)
Como tem origem contratual, tem de ser analisada em duas etapas:
- Quanto à validade contratual: lei do local da constituição ou aplicação da obrigação (art. 9 LINDB)
- Quanto a questões referidas ao imóvel anticrético: Lex rei sitae - lei do local do imóvel (art.8, caput da LINDB).
Exemplo da fazenda de avestruzes: a garantia real não está na fazenda em si, mas nos rendimentos, nos frutos que aquele imóvel (a venda dos ovos de avestruz, por exemplo) vai me dar.
AS UNIVERSALIDADES
· Universalidade de fato: Art. 90 do CC/02
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias.
A universalidade de fato é composta por um conjunto de bens corpóreos que o titular resolveu reunir de forma a permitir a que seja tratado como um todo, como uma coisa só. Os bens, necessariamente, devem ser corpóreos e continuam autônomos.
São exemplos de universalidade de fato uma biblioteca, um estabelecimento comercial, uma coleção ou um rebanho.
Lembrando que bens, se considerados de forma isolada, são singulares.
Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais.
Aplicação do art. 8º quando o bem é individualizado.
→ Observações sobre universalidades de fato:
Bagagens: Decreto nº 6.759 de 2009, art. 155.
Art. 155. Para fins de aplicação da isenção para bagagem de viajante procedente do exterior, entende-se por (Regime Aduaneiro de Bagagem no Mercosul, Artigo 1o, aprovado pela Decisão CMC no 53, de 2008, internalizada pelo Decreto no 6.870, de 2009):
I - bagagem: os bens novos ou usados que um viajante, em compatibilidade com as circunstâncias de sua viagem, puder destinar para seu uso ou consumo pessoal, bem como para presentear, sempre que, pela sua quantidade, natureza ou variedade, não permitirem presumir

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