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58 naquilo que não for possível arcar, ser estendido aos avós (ver art. 1.698, CC). Os alimentos gravídicos foram disciplinados pela Lei 11.804/08 com o intuito de cobrir despesas relacionadas ao período da gravidez. Os valores arbitrados devem ser su cientes para arcar com os gastos compreendidos da concepção ao parto, incluindo alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes. Por serem tais alimentos devidos até o parto, após o nascimen- to da criança com vida estes serão convertidos em pensão alimentícia em favor do menor, que estará sujeita a revisão. No que tange ao pedido de tais alimentos em face dos avós, a despeito da omissão legal neste sentido, devemos defender a possibilidade jurídica deste pedido. Nesse sentido, vale tra- zer a colação a ilustrada lição de Maria Berenice Dias, exposta em seu livro “Manual de Direito das Famílias”, 6ª edição, Editora Revista dos Tribunais, páginas 530/531: “Apesar de a Lei 11.804/08 (2º parágrafo único), consagrar que os ali- mentos são custeados pelo pai, tal não afasta a aplicação supletiva da lei civil que impõe a obrigação complementar a outros obrigados em caráter subsidiário. Logo, possível exigir alimentos gravídicos avoen- gos, com base no Código Civil (1.696 e 1698) e em toda construção ju- risprudencial e doutrinária sobre o tema até agora desenvolvida.” Em relação à legitimidade ativa para a ação de alimentos gravídicos, há de ressaltar a pos- sibilidade de formação de litisconsórcio ativo entre o nascituro e a gestante, como já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais: Família. Investigação de paternidade e alimentos. Natureza personalís- sima da ação. Legitimidade ativa. Direito do nascituro. São legitimados ativamente para a ação de investigação de paternidade e alimentos o investigante, o Ministério Público, e também o nascituro, representado pela mãe gestante. (TJMG; AC 1.0024.04.377309-2/001; Belo Horizonte; Oitava Câmara Cível; Rel. Des. Duarte de Paula; Julg. 10/03/2005; DJMG 10/06/2005) Há ainda, a possibilidade de a ação de alimentos em benefício do nascituro ser exercitada pelo Ministério Público, na medida em que sua legitimidade ativa decorre do texto do artigo 201, III, do Estatuto da Criança e do Adolescent que prevê expressamente que “compete ao mi- nistério público promover e acompanhar as ações de alimentos”. 59 8 - Como ocorre a sucessão do companheiro? Inicialmente, deve-se fazer referência aos dispositivos do CC que regulamentam a ques- tão: Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: I - se concorrer com lhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao lho; II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da he- rança. No entanto, é imprescindível mencionar a discussão sobre a constitucionalidade dessas normas. Veja notícia do Site do STF sobre o RE 878694, que trata sobre o tema: Suspenso julgamento sobre tratamento diferenciado a cônjuge e com- panheiro em sucessões Pedido de vista do ministro Dias To oli suspendeu o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do Recurso Extraordinário (RE) 878694 em que se discute a legitimidade do tratamento diferenciado dado a cônjuge e a companheiro, pelo artigo 1.790 do Código Civil, para ns de sucessão. Até o momento, sete ministros votaram pela inconstitucio- nalidade da norma, por entenderem que a Constituição Federal garan- te a equiparação entre os regimes da união estável e do casamento no tocante ao regime sucessório. O recurso, que começou a ser julgado na sessão desta quarta-feira (31), teve repercussão geral reconhecida pela Corte em abril de 2015. No caso concreto, decisão de primeira instância reconheceu ser a com- panheira de um homem falecido a herdeira universal dos bens do casal, dando tratamento igual ao instituto da união estável em relação ao ca- samento. O Tribunal de Justiça de Minas (TJ-MG), contudo, reformou a decisão inicial, dando à mulher o direito a apenas um terço dos bens ad- quiridos de forma onerosa pelo casal, cando o restante com os três ir- mãos do falecido, por reconhecer a constitucionalidade do artigo 1.790. A defesa da viúva, então, interpôs recurso extraordinário ao Supremo, contestando a decisão do TJ-MG, com o argumento de que a Constitui- ção Federal não diferenciou as famílias constituídas por união estável e 60 por casamento, cando certo que qualquer forma de constituição fami- liar tem a mesma proteção e garantia do Estado. O relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, votou pela procedên- cia do recurso, sugerindo a aplicação de tese segundo a qual “no sis- tema constitucional vigente é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil de 2002”. Barroso lembrou, em seu voto, que o regime sucessório sempre foi co- nectado à noção de família e que a noção tradicional de família esteve ligada, por séculos, à ideia de casamento. Mas esse modelo passou a sofrer alterações, principalmente durante a segunda metade do século XX, quando o laço formal do matrimônio passou a ser substituído pela afetividade e por um projeto de vida em comum, ressaltou. Por meio das Leis 8.971/1994 e 9.278/1996, o legislador brasileiro esten- deu aos companheiros os mesmos direitos dados ao cônjuge, com base no entendimento constitucional de que ambos merecem a mesma pro- teção legal com relação aos direitos sucessórios, frisou o ministro. Mas aí entrou em vigor o Código Civil, em 2003, um projeto que vinha sendo discutido desde 1975, quando as relações entre homem e mulher ainda tinham outra conotação e vigia um maior conservadorismo, e restituiu a desequiparação entre esposa e companheira, voltando atrás nesse avanço igualitário produzido pelas Leis 8.971 e 9.278, disse Barroso. Para o ministro, a ideia de que a relação oriunda do casamento tem peso diferente da relação havida da união estável é incompatível com a Constituição Federal de 1988, por violação aos princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e da proteção da família. Além disso, o ministro salientou que a norma viola o princípio da vedação ao retro- cesso. Desequiparar o que foi equiparado por efeito da Constituição é hipótese de retrocesso que a própria Carta veda, explicou Barroso, que entende que, neste particular, o Código Civil foi anacrônico e imple- mentou retrocesso. O ministro votou no sentido da inconstitucionalidade do artigo 1.790, com modulação dos efeitos da decisão para que não alcance sucessões que já tiveram sentenças transitadas em julgado ou partilhas extrajudi- ciais com escritura pública. Acompanharam o relator os ministros Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Celso de Mello e Cármen Lúcia. 61 9 - No que consiste a teoria tridimensional do direito? Como se relaciona com o culturalismo jurídico? Como marco da Filoso a do Direito latino-americana, a Teoria Tridimensional (como o nome diz) parte do pressuposto de que o fenômeno jurídico deva ser analisado e compreendi- do sob uma visão que englobe os três aspectos epistemológicos mais utilizados pelos juristas e lósofos ao longo da História: o fato jurídico (a experiência), o valor e a norma propriamente dita. O problema crucial, segundo Reale (2003), é a questão de que o Direito sempre foi visto ou analisado sob enfoque unilateral, ou seja, priorizando-se apenas um dos aspectos supracitados.de impugnação, mas apenas e tão somente em sede de ação rescisória. Enuncia o próprio art. 525, CPC: Art. 525. [...] § 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda. § 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em jul- gado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tri- bunal Federal. 87 É nesse sentido, inclusive, que em se manifestando o STJ, recentemente: Para que o devedor possa alegar a inexigibilidade da obrigação argumentando que o título é baseado em lei incompatível com a Constituição, exige-se que a decisão do STF seja anterior à formação da coisa julgada. Se for posterior, a matéria não poderá ser alegada em impugnação, devendo ser proposta ação rescisória. É isso que se extrai do art. 525, §§ 14 e 15 do CPC/2015 (STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.095-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016) (Info 588) 2 - É certo que toda decisão judicial deve ser fundamentada, até por determinação consti- tucional. Sendo assim, comente a respeito do rol de pronunciamentos judiciais presumida- mente não fundamentados trazidos no bojo do NCPC. A ideia é que o aluno discorra a respeito do art. 489, §1º, CPC: Art. 489 [...] § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justi car qualquer outra deci- são; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, in rmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identi- car seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou preceden- te invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. Cabe ressaltar que, no entanto, o dever de fundamentação de todas as decisões judiciais não é, de modo algum, novidade, como bem assevera a CF/1988: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes prin- cípios: [...] IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a 88 lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes. Temos, no entanto, que com a edição desse novo CPC a necessidade de fundamentação foi bem reforçada, deixando de ser tida apenas como um elemento “formal”, como uma parte integrante da sentença, e passando a ser vista de modo material, substancial. Pode-se dizer, assim, que tal artigo buscou combater as “falsas fundamentações”. Apesar de todo esse raciocínio, e a nova dicção legal, o STJ vem mantendo o entendi- mento de que o Tribunal não é obrigado a analisar todos os argumentos quando já tenha en- contrado motivo su ciente para proferir a decisão. Vejamos: O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscita- das pelas partes, quando já tenha encontrado motivo su ciente para proferir a decisão. O julgador possui o dever de enfrentar apenas as questões capazes de in rmar (enfraquecer) a conclusão adotada na decisão recorrida. Assim, mesmo após a vigência do CPC/2015, não cabem embargos de declaração contra a decisão que não se pronunciou sobre determinado argumento que era incapaz de in rmar a conclusão adotada. STJ. 1ª Seção. EDcl no MS 21.315-DF, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembar- gadora convocada do TRF da 3ª Região), julgado em 8/6/2016 (Info 585). 3 - A quem compete o juízo de admissibilidade e mérito na apelação? E no RE e RESP? Trata-se de uma novidade trazida pelo NCPC. Como se sabe, antes, ao interpor a apela- ção, o juízo de admissibilidade era feito pelo juízo de primeiro grau e o julgamento de mérito feito pelo Tribunal. Agora, tanto o juízo de mérito quanto de admissibilidade são feitos pela instância ad quem. Como podemos ver: Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de pri- meiro grau, conterá: I - os nomes e a quali cação das partes; II - a exposição do fato e do direito; III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV - o pedido de nova decisão. [...] § 3o Após as formalidades previstas nos §§ 1o e 2o, os autos serão re- metidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissi- bilidade. 89 No RE e Resp. a redação original do CPC, pouco antes de entrar em vigor, previa a mes- ma situação, isto é, delegando o juízo de mérito e admissibilidade à Corte Superior respectiva. Entretanto, a L. nº 13.256/2016, alterando o CPC, modi cou esta parte do código e regressou à antiga regra, ou seja: o juízo de admissibilidade, atualmente, tanto no RE quanto no Resp., per- tence ao Tribunal a quo na medida em que o juízo de mérito, naturalmente, à instância superior. In verbis: Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos pre- vistos na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão: I - a exposição do fato e do direito; II - a demonstração do cabimento do recurso interposto; III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recor- rida. “Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, ndo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá: [...] V - realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de recursos repetitivos; b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvér- sia; ou c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação. §1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inci- so V caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042. 4 - O que é carta arbitral? Também novidade do CPC. Cuida-se, assim como as demais cartas, de uma modalidade de comunicação dos atos processuais. É um instrumento jurídico onde formalmente se darão os pedidos de cooperação entre os juízes e árbitros. Como dispõe o CPC: Art. 237. Será expedida carta: [...] IV - arbitral, para que órgão do Poder Judiciário pratique ou determine o cumprimento, na área de sua competência territorial, de ato objeto de pedido de cooperação judiciária formulado por juízo arbitral, inclusive 90 os que importem efetivação de tutela provisória. É importante dizer, também: este instrumento jurídico não autoriza a juízes e desembar- gadores a revisão do mérito das decisões proferidas no âmbito arbitral. Os atos de cooperação se limitam as determinações e prática de atos de nidos em arbitragem. Como acontece, por exemplo, quando uma testemunha se recusa a depor no juízo arbitral e o árbitro, por não pos- suir os poderes inerentes à jurisdição, encaminha uma carta arbitral ao juiz para que conduza a pessoa coercitivamente a depor. 5 - O que são os pronunciamentos judiciais vinculantes trazidos pelo CPC? Cite exemplos. Discorra a respeito. De um modo geral, diz-se “pronunciamento vinculante” aquele provimento judicial que deve ser, obrigatoriamente, observado pelos órgãos julgadores quando proferirem suas deci- sões. Como prevê o NCPC, em diversaspassagens, determinadas decisões dos Tribunais Supe- riores devem ser respeitados pelos juízes e Tribunais: Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de reso- lução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordi- nário e especial repetitivos; IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em ma- téria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infra- constitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. Art. 932. Incumbe ao relator: IV - negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento rmado em incidente de resolução de demandas repe- titivas ou de assunção de competência; Conforme Talamini aponta ademais, há outros exemplos dispersos por todo o CPC como: (i) a regra que dispensa o órgão fracionário do tribunal de remeter a 91 questão de constitucionalidade para o seu plenário ou órgão especial, nos termos do art. 97 da Constituição, quando já há anterior pronuncia- mento destes ou do Plenário do STF (art. 949, par. ún.); (ii) as regras que autorizam o órgão a quo a não conhecer do recurso extraordinário por falta de repercussão geral quando já houver um prévio pronunciamen- to do STF nesse sentido, em outro recurso tratando de questão consti- tucional idêntica (art. 1.035, § 8.º); E esse fenômeno ocorre, em grande medida, porque O CPC reconhece a necessidade de uniformização da jurisprudência e da manutenção de sua estabilidade, integridade e coerência (art. 926). Rea rmando também o pressuposto de respeito à jurisprudência (art. 927 e art. 489, § 1.º, V e VI; art. 985, I e II; art. 1.039 etc.) (TALAMINI, 2016) Tem-se, no entanto, que já existem vozes doutrinárias pregando a inconstitucionalidade de tais precedentes vinculantes, como Nelson Nery Jr. Segue trecho de entrevista que ele deu ao site JOTA(link com a entrevista completa logo após o excerto): “Sem autorização da Constituição, os tribunais superiores se autoem- poderaram para criar normas abstratas que deverão ser seguidas pelos juízes brasileiros”. Quem a rma é o jurista Nelson Nery Jr., para quem a intenção do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com o sistema de precedentes vinculantes - criado pelo novo Código de Processo Civil (CPC) - foi hipertro ar o Judiciário. “O que o Código nos diz é ‘esqueçam a lei, a Constituição e a doutrina porque o que vale agora é o que eu, tribunal, disser”, alerta Nery Jr. Para o advogado e doutor em Direito Processual Civil, o sistema de pre- cedentes vinculantes - considerado o espírito do CPC de 2015 -, é in- constitucional. “Baixar um texto normativo vinculativo com e cácia geral e abstrata - isso é lei. Para o Judiciário legislar, desculpe, precisa de autorização da Constituição”, a rma o professor da PUC-SP e da Unesp, lembrando o périplo de juristas por quase uma década para a aprovação da súmula vinculante do Supremo, por meio da Reforma do Judiciário (PEC 45). Criado formalmente para tentar reduzir a lit igiosidade e garantir que discussões judiciais idênticas tenham o mesmo resultado, o sistema de precedentes vinculantes está previsto no artigo 927 do novo CPC. Ele determina que os juízes e tribunais observem as súmulas do STF e do STJ, além das decis?es em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extra- ordinário e especial repetitivos.(http://jota.info/justica/nucleo-duro- -novo-cpc-e-inconstitucional-diz-jurista-21122016) 92 Referência: TALAMINI, Eduardo. O que são os “precedentes vinculantes” no CPC/15. Revista eletrônica [do] Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba, PR, v. 5, n. 49, p. 58-63, abr. 2016. 7 - O que é a estabilização da tutela provisória de urgência da qual trata o CPC? Qual o prazo para se adentrar com ação contra essa estabilização? Concedida a antecipação de tutela de forma antecedente (tutela provisória de urgência em tom liminar) e o réu, após ser intimado sobre a decisão, permanecer inerte, acarretará a es- tabilização dos efeitos concedidos em antecipação de tutela, sendo extinto o processo como determina o art. 304, § 1º, do CPC: Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna- -se estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso. § 1o No caso previsto no caput, o processo será extinto. Para Didier Jr., trata-se de uma “generalização da técnica monitória para situações de ur- gência e tutela satisfativa, na medida em que viabiliza a obtenção de resultados práticos a partir da inércia do réu”. Ainda na doutrina de Didier: Se o juiz concedeu a tutela e o réu não recorreu, o processo acaba e a decisão se torna es- tável. Os efeitos continuam preservados. E se o réu não recorrer, mas contestar ou pedir suspen- são de segurança? Nesse caso, não estabiliza (desde que tempestivamente). Se o juiz concede a medida e o autor não faz o aditamento do art. 303, o que ocorre? Estabiliza. Por nal, o art. 304, § 5.º, estabelece prazo de dois anos para o ajuizamento de ação de revisão da tutela estabilizada. 8 - É possível aplicar a teoria da causa madura em julgamento de agravo de instrumento? Exempli que. A dita teoria está expressa no art. 1.013, §3º do NCPC, nos seguintes termos: Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da maté- ria impugnada. § 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tri- bunal deve decidir desde logo o mérito quando: I - reformar sentença fundada no art. 485; II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; 93 III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. § 4o Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a pres- crição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. Ou seja, trata-se de uma perspectiva teórica processual que admite o julgamento de mé- rito diretamente no Tribunal, quando a instância ad quem julga indevida uma decisão que ex- tingue o feito sem exame de mérito, declara nula a sentença por falta de fundamentação, e as demais hipóteses do art. 1013, §3 º, CPC. Essa decisão (do juízo a quo), segundo a mais recente orientação do STJ, pode tanto ser uma sentença quanto uma decisão interlocutória. Sendo assim, por exemplo, caso, após a fase de instrução, a parte sofrer uma constrição do patrimônio (indisponibilidade de bens, arresto, sequestro, etc.) e a decisão que ela (a parte) suporta carece de fundamentação, se o Tribunal assim a reconhecer julgando um recurso de agravo de instrumento, não será necessário que Corte remeta os autos de volta ao juízo de base, apreciando diretamente o mérito. Como recentemente assentou o STJ: Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973 / art. 1.013, § 3º do CPC/2015) em julgamento de agravo de instrumento. STJ. Corte Especial. [...] A leitura atenta da doutrina remete a algumas premissas: a) a norma propõe um atalho para acelerar julga- mentos baseados na ruptura com o dogma do duplo grau de jurisdição, assumido como princípio , mas não como garantia ; b) a disposição não pode acarretar prejuízo às partes, especialmente no que se refere ao contraditório e à ampla defesa; c) a teoria da causa madura não está adstrita ao recurso de apelação, porquanto inserida em dispositivo que contém regras gerais aplicáveisa todos os recursos (REsp 1.215.368-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/6/2016) (Info 590 - STJ). 9 - É admissível a moratória legal no cumprimento de sentença? Na vigência do CPC/15, não é mais possível. Por expressa literal disposição do código: Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequen- te e comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas 94 mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao mês. [...] § 7º O disposto neste artigo não se aplica ao cumprimento da sentença. A moratória (parcelamento do débito exequendo), como podemos ver, está prevista no art. 916, caput, CPC/15, aplicável aos processos de execução de título extrajudicial. Na vigência do CPC/73, embora não houvesse previsão legal, a jurisprudência do STJ apli- cava, por analogia, a moratória ao cumprimento de sentença também. Temos, no entanto, que pela dicção do atual CPC, este entendimento ca superado. É importante dizer, inclusive: o que o CPC em vigor veda é a moratória legal, ou seja, imposta por lei independente da vontade do exequente. Mas não há proibição, por exemplo, a uma moratória convencional (pactuada de formal bilateral entre as partes). 10 - Em que consiste a tutela de evidência no NCPC? Há possibilidade da sua concessão em caráter liminar? Quais são os casos? A resposta está, literalmente, no seguinte dispositivo do CPC: Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do pro- cesso, quando: I - car caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto pro- pósito protelatório da parte; II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documental- mente e houver tese rmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a or- dem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa; IV - a petição inicial for instruída com prova documental su ciente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente. O grande destaque dela é que, ao contrário da hipótese de tutela de urgência, ela NÃO depende da demonstração de perigo. Temos, ainda, que nas hipóteses em que o juízo não pode decidir liminarmente (incisos I 95 e IV) tratam de situações que dependem, efetivamente, do comportamento do réu - como está expresso no art. 9o, parágrafo único, a respeito da regra da proibição das decisões surpresa, com as suas exceções. 11 - O TJ possui legitimidade para impetrar MS contra ato do governo do Estado? De quem seria a competência para o julgamento? A ideia é explorar o recente precedente do Supremo, ementado da seguinte forma: O Tribunal de Justiça, mesmo não possuindo personalidade jurídica própria, detém legi- timidade autônoma para ajuizar mandado de segurança contra ato do Governador do Estado em defesa de sua autonomia institucional. Ex: mandado de segurança contra ato do Governa- dor que está atrasando o repasse dos duodécimos devidos ao Poder Judiciário. Compete ao STF julgar mandado de segurança impetrado pelo Tribunal de Justiça contra ato do Governador do Estado que atrasa o repasse do duodécimo devido ao Poder Judiciário. Nesta hipótese, todos os magistrados do TJ possuem interesse econômico no julgamento do feito, uma vez que o pagamento dos subsídios está condicionado ao cumprimento do dever constitucional de repasse das dotações consignadas ao Poder Judiciário estadual pelo chefe do Poder Executivo respectivo. Logo, a situação em tela se amolda ao art. 102, I, “n”, da CF/88. STF. 1ª Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias To oli, julgado em 22/11/2016 (Info 848). Temos, então, que, em que pese não ter o Tribunal de Justiça personalidade jurídica, pos- sui ele personalidade judiciária, ou seja, legitimidade para conduzir certos processos que possui interesse institucional, de preservação de sua autonomia. Nesse mesmo sentido, mutatis mutandis, o STJ já aplicou tal possibilidade também às Câmaras Municipais: Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade ju- rídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais. 12 - Fale um pouco sobre a “usucapião administrativa” da qual trata o CPC em vigor. Nada mais é do que uma forma de adquirir a propriedade pelo uso do bem, de forma extrajudicial, isto é, por meio de um pedido feito na via administrativa. Foi uma nova disciplina trazida no bojo do CPC que alterou a Lei dos registros públicos com vistas a simpli car o proces- so de usucapião. Vejamos: Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguin- 96 te art. 216-A: “Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado dire- tamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com: I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias; II - planta e memorial descritivo assinado por pro ssional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no res- pectivo conselho de scalização pro ssional, e pelos titulares de direi- tos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis con nantes; III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a ori- gem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o paga- mento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel. § 1º O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido. § 2º Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titula- res de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis con nan- tes, esse será noti cado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar seu consenti- mento expresso em 15 (quinze) dias, interpretado o seu silêncio como discordância. § 3º O o cial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município, pessoalmente, por intermédio do o cial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de rece- bimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido. § 4º O o cial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias. § 5º Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solici- tadas ou realizadas diligências pelo o cial de registro de imóveis. § 6º Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendên- cia de diligências na forma do § 5o deste artigo e achando-se em ordem a documentação, com inclusão da concordância expressa dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na ma- trícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis con nantes, 97 o o cial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso. § 7º Em qualquercaso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei. § 8º Ao nal das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o o cial de registro de imóveis rejeitará o pedido. § 9º A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião. § 10. Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudi- cial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imó- vel usucapiendo e na matrícula dos imóveis con nantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o o cial de registro de imóveis remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situ- ação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequá-la ao procedimento comum”. Como se percebe, é uma forma de dar celeridade ao processo de usucapião evitando uma demanda judicial para esse m e trazendo um rito mais enxuto. 13 - Como é a disciplina dos honorários recursais no CPC/15? São cabíveis ainda que não haja contraminuta da parte adversa? Além dos honorários de sucumbência xados pelo juízo de primeira instância, em regra, a partir da vigência do CPC/15, é possível que o Tribunal, ao apreciar o recurso interposto pela parte, majore o percentual da sucumbência levando em conta os mesmos critérios utilizados para xação dos honorários na primeira instância, desde que não ultrapasse os limites estabele- cidos na fase de conhecimento. Verbis: Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advoga- do do vencedor. § 2o Os honorários serão xados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos: I - o grau de zelo do pro ssional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. [...] 98 § 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários xados an- teriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2o a 6o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da xação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabeleci- dos nos §§ 2o e 3o para a fase de conhecimento. Ou seja, se o juízo de base arbitra 10% de sucumbência em favor do autor e não há su- cesso na apelação do réu, o Tribunal pode elevar este percentual de honorários para até 20%, considerando os critérios do art. 85, § 2º, CPC/15. É um mecanismo elaborado no nítido afã de desencorajar o manejo indiscriminado dos recursos, além de, claro, remunerar também o advo- gado que está trabalhando na fase de recurso. E, conforme a recente orientação jurisprudencial do STF, este raciocínio também é aplicá- vel se a parte recorrida não apresenta contraminuta ao recurso interposto, como podemos ver: É cabível a xação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015, mesmo quando não apresentadas contrarrazões ou contra- minuta pelo advogado da parte recorrida. STF. 1ª Turma. AI 864689 AgR/ MS e ARE 951257 AgR/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 27/09/2016 (Info 841). Isso acontece pois ainda existe, como cou consignado na ementa do julgado, a necessi- dade de se ter um desestímulo à litigância procrastinatória. 14 - O art. 932, p. u., CPC/15, determina que “Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou com- plementada a documentação exigível”. Essa disposição é aplicável para a hipótese em que o recurso não impugna especi camente todos os termos da decisão recorrida? Não. Esta previsão de abertura do prazo para que a parte proceda à emenda do recurso, no caso de constatado algum vício pelo relator, só se aplica para suprimir vícios formais. Ques- tões materiais como a complementação das razões recursais, por esta via, são impossíveis, sen- do neste último caso a hipótese de não conhecimento do recurso na parte na impugnada da decisão recorrida. Nesse sentido já decidiu o STF: O prazo de 5 dias previsto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos casos em que seja necessário sanar vícios formais, como ausência de procuração ou de assinatura, e não à complementação da fundamentação. Assim, esse dispositivo não incide nos casos em que o recorrente não ataca todos os fundamentos da decisão recorrida. Isso porque, nesta hipótese, seria necessária a complementação das razões 99 do recurso, o que não é permitido. STF. 1ª Turma. ARE 953221 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2016 (Info 829) 15 - Qual o primeiro ato do réu após receber a citação no procedimento cognitivo ordinário? Em que quais casos a audiência de conciliação não deve ser marcada? Qual o termo inicial para oferecimento da contestação? Era a contestação - hoje, não mais. É importante deixar isso e ter grande ciência disso. Com a vigência do CPC/15 depois de citado, incumbe ao réu manifestar-se, primeiramente, a respeito da audiência de conciliação obrigatória. Sendo ela frustrada ou não sendo possível a autocomposição do litígio, o termo inicial para o oferecimento da contestação será a data da au- diência ou do protocolo do pedido de cancelamento da audiência, como se vislumbra de uma leitura mais acurada do CPC: Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de ante- cedência. [...] § 4º A audiência não será realizada: I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual; II - quando não se admitir a autocomposição. Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecen- do, não houver autocomposição; II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de concilia- ção ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso I; 16 - Comente a respeito da desconsideração da personalidade jurídica no CPC/15 e sua natu- reza jurídica. É possível desconsideração inversa? As hipóteses materiais de previsão foram alteradas? O CPC/15 trouxe um capítulo inteiro para tratar da desconsideração da personalidade jurídica - que corroborou, em grande parte, a jurisprudência já consolidada até então a respeito do tema. Este instituto, agora, é discutido em sede de incidente processual, salvo se for requeri- da a desconsideração já petição inicial, na forma do art. 133 e ss. do CPC. De uma forma geral, o 100 código veda a “desconsideração ex o cio”, pois deixa bem assentado a necessidade de respeito ao contraditório - além de estabelecer a legitimidade tanto da parte quanto do MP para provo- car o incidente. Verbis: Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe cou- ber intervir no processo. § 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei. § 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. § 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao dis- tribuidor para as anotações devidas. § 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidadejurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. § 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipó- tese do § 2o. § 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupos- tos legais especí cos para desconsideração da personalidade jurídica. Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quin- ze) dias. Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno. Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a one- ração de bens, havida em fraude de execução, será ine caz em relação ao requerente. Cabe salientar que o novo CPC previu expressamente a possibilidade de desconsidera- ção inversa, nos termos do art. 133, parágrafo segundo, do NCPC. Ademais, cabe salientar que tal diploma legal processual não alterou as condições mate- riais previstas nas leis especí cas para que a desconsideração seja aplicada, mantendo-as incó- lumes. 101 17 - Atos processuais praticados antes do seu termo inicial possuem validade? Sim. E nesse ponto o CPC/15 superou a jurisprudência já dominante no âmbito do STJ e, inclusive, levou a Corte Superior a cancelar o enunciado de súmula nº 418, que vigorava com a seguinte redação: “É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior rati cação”. Conforme o Art. 218, § 4º do CPC/15: Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei. [...] § 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo. Temos, então, que, agora com o NCPC, a grande controvérsia a respeito do cabimento (ou não) do recurso prematuro foi extinto, uma vez que a dicção legal é clara a respeito de sua tempestividade. 18 - De na “Negócio jurídico processual” e diga quais são os seus requisitos de validade. Negócio jurídico processual foi como a doutrina nominou a possibilidade que o CPC ofe- rece de as partes de exibilizar e modi car o procedimento do feito para adaptá-lo as suas pe- culiaridades, alterando seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais. Como enuncia o CPC: Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocompo- sição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no pro- cedimento para ajustá-lo às especi cidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a vali- dade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem xar calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso. § 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modi cados em casos excepcionais, devidamente justi- 102 cados. § 2o Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processu- al ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário. Art. 192. Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso da língua portuguesa. Parágrafo único. O documento redigido em língua estrangeira somen- te poderá ser juntado aos autos quando acompanhado de versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomática ou pela autoridade central, ou rmada por tradutor juramentado. Seus requisitos de validade, portanto, na doutrina de Didier Jr. são os mesmos necessá- rios a validação de um negócio jurídico comum, ou seja, A manifestação de vontade deve ser totalmente livre e de boa-fé; b) O agente deve ser capaz e legitimado; c) O objeto deve ser lícito, possível, determinado ou determinável; d) A forma deve ser livre ou prescrita em lei. Mais: Parte capaz é processualmente capaz. Isso porque nem sempre a ca- pacidade processual é igual à capacidade civil (ex.: pessoa casada tem capacidade civil, mas não tem capacidade processual para regular as- pecto que envolve imóvel do casal sem o consentimento do outro). Se o incapaz estiver representado não há problema de celebrar um negócio processual. ex.: o espólio é um incapaz processual, mas sendo represen- tado da forma devida pode realizar os negócios. [...]A forma é mais sim- ples. Em princípio, tem forma livre. Mas há exceções: o foro de eleição é um negócio processual que só pode ser celebrado por escrito. No que tange à validade processual, se há dúvida sobre o negócio, deve valer. Só é possível o negócio quando se admite autocomposição. Admite-se solução por consenso. Todas as regras de validade do CC se aplicam à validade processual. [...]As partes não podem negociar sob norma co- gente e que não lhe diz respeito. Ex.: fazer acordo de sigilo (a publicida- de diz respeito aos terceiros também.). Da mesma forma, a intervenção do MP no processo. 19 - O que é a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova? Quais são os casos previstos no NCPC? Como regra, o CPC de 1973 e o CPC/2015 adotam a teoria estática do ônus da prova, em que cada uma das partes já sabe, de antemão, o que deve provar. Atribui-se, assim, ao réu a prova quanto à existência de fato impeditivo, modi cativo ou extintivo do direito do autor, e ao autor quanto ao fato constitutivo de seu próprio direito (art. 373, I e II). Temos, no entanto, que o CPC/2015 acrescenta nova regra, aclamando o que autores 103 como Fredie Didier Jr. tanto pregava, com base na doutrina argentina. Assim, apesar de a distri- buição do ônus ser como regra geral ser estática, nos termos do §1º do artigo 373 abre a pos- sibilidade de aplicação da teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova pelo Juiz no caso concreto. Por meio desta teoria pode o Juiz, desde que de forma justi cada, (re)distribuir o ônus da prova entre os integrantes da relação processual mediante o preenchimento de requisitos. O cerne da Teoria Dinâmica da Distribuição do Ônus da Prova está justamente em permi- tir ao juiz uma maior exibilização das regras dos ônus probatório de acordo com seu próprio convencimento e conforme seja a situação particular das partes em relação à determinada pro- va veri cada por ele mesmo no processo submetido ao seu crivo, e não só aplicar os critérios anteriormente de nidos na lei. Segundo a disposição do Novo CPC: Art. 373. § 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva di culdade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obten- ção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. Desse modo, além dos casos previstos já em lei (como no CDC), tem-se que diante de peculiaridades da causa relacionada à impossibilidade ou à excessiva di culdade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, pode o juiz inverter o ônus da prova. 20 - O que é Constitucionalizarão do Direito Processual Civil? Existe disposição expressa so- bre o tema no Novo CPC? Segundo o disposto no art. 1º do CPC: Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado con- forme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Consti- tuição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. Trata-se, em verdade, inegavelmente, do fenômeno da Constitucionalização do Direito Processual. E o que seria isso? 104 Segundo Fredie Didier: A constitucionalização do Direito Processual é uma das características do Direito contemporâneo.O fenômeno pode ser visto por duas di- mensões. Primeiramente, há a incorporação aos textos constitucionais das normas processuais, inclusive como direitos fundamentais. Pratica- mente todas as constituições ocidentais posteriores à Segunda Grande Guerra consagram expressamente direitos fundamentais processuais. Os tratados internacionais de direitos humanos também o fazem (Con- venção Europeia de Direitos do Homem e o Pacto de São José da Costa Rica são dois exemplos paradigmáticos). Os principais exemplos são o direito fundamental ao processo devido e todos os seus corolários (con- traditório, juiz natural, proibição de prova ilícita etc.) (..) De outro lado, a doutrina passa a examinar as normas processuais infraconstitucionais como concretizadoras das disposições constitucionais, valendo-se, para tanto, do repertório teórico desenvolvido pelos constitucionalistas. In- tensi ca-se cada vez mais o diálogo entre processualistas e constitucio- nalistas, com avanços de parte a parte. O aprimoramento da jurisdição constitucional, em cujo processo se permite a intervenção do amicus curiae e a realização de audiências públicas, talvez seja o exemplo mais conhecido. (DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Volume 1. Editora Juspodivm.18a Edição, pag. 47) Claro que, um Código de Processo Civil, produzido nos tempos atuais, com todo o papel que a CF desempenha em nosso ordenamento, não poderia versar de um modo diferente. Também é claro que, apesar da ausência de menção expressa no anterior CPC, não queria dizer, necessariamente, que esse Código não era regido pela CF/88, até porque existe no Brasil um controle de constitucionalidade tanto difuso e abstrato e uma hierarquia das normas. Possui, então, tal artigo, uma função mais simbólica do que, propriamente, de e cácia e de alteração em nosso ordenamento. E isso o que acontece com muitas das normas que estão nesse início de CPC - são apenas reprodução da CF, possuindo, assim, prioritariamente, uma função simbólica. Ademais, nesse contexto, também cabe falar sobre direitos fundamentais e a sua aplica- ção no Processo Civil. 21 - É possível, no Novo CPC, como no CPC/1973, a instauração de inventário de ofício pelo juiz? 105 Segundo o disposto no art. 2º do CPC: Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso o cial, salvo as exceções previstas em lei. Trata-se, então, do já consagrada regra de instauração do processo por início da parte e de desenvolvimento do processo em razão do impulso o cial. Observações importantes, trazidas por Fredie Didier (op. cit, pag. 146). Uma das exceções nas quais se encaixava, de acordo com o CPC, a possibilidade de o juízo iniciar de ofício o inventário, disposto no art. 989 do CPC de 1973. Ocorre que essa previsão não existe MAIS. Assim, considera-se que o inventário não pode mais ser iniciado de ofício pelo juízo. ISSO SERÁ MUITO COBRADO! 22 - O que é o princípio da promoção do Estado pela solução consensual dos litígios? Dê exemplos no NCPC. Segundo o disposto no art. 3º da CF; Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a di- reito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos con itos. § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de con itos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do proces- so judicial. O parágrafo segundo, ao dispor que o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos con itos consagra o denominado princípio da promoção do Estado pela solu- ção consensual dos litígios. É, então, realizada uma verdadeira política pública de solução dos litígios. Com base no entendimento de Didier (já citado), existe uma justi cativa muito clara dis- so e também vários exemplos em que tal princípio foi aplicado no código. Isso decorre, notadamente, da ideia de que não pode e nem deve ser o Judiciário e es- peci camente o juiz o único palco em que os litígios devem ser resolvidos - quando se resolveCritica que no decorrer da Era Contemporânea o Direito ora era restringido às normas outorga- das pelo Estado como pensavam os positivistas na linha de Kelsen ou como fenômeno social, na corrente historicista e sociológica, na qual o fenômeno jurídico era fruto das relações sociais ou do espírito cultural de determinada época. É contra esses enfoques unilaterais que a Teoria Tridimensional vem rebater. Para Reale (2000), o Direito não é apenas a norma ou a letra da lei, pois é muito mais do que a mera vontade do Estado ou do povo, é o re exo de um ambiente cultural de determinado lugar e época, em que os três aspectos – fático, axiológico e normativo – se entrelaçam e se in uenciam mutua- mente numa relação dialética na estrutura histórica, o que nos faz lembrar um pouco de Hegel. Fonte: artigo disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=11825 10 - No que consistem venire contra factum proprium, tu quoque, surrectio e supressio, excep- tio doli e duty to mitigate the loss? A doutrina costuma elencar os seguintes conceitos parcelares da boa-fé objetiva: supres- sio, surrectio, tu quoque, exceptio doli, venire contra factum propium non potest e duty to mitigate the loss. A supressio signi ca a supressão, por renúncia tácita, de um direito ou uma posição jurídi- ca, pelo seu não exercício com o passar dos tempos. O seu sentido pode ser notado pela leitura do artigo do 330 do CC, observe-se: Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. Assim, como apontam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (Curso de Direito Civil, vl. 4, 2014, pg. 188), a chave da supressio está na tutela da con ança da contraparte e na situação de aparência que a iludiu perante o não-exercício do direito. Para melhor visualizar o conceito, convém trazer o exemplo dado por Flávio Tartuce (Manual de Direito Civil, 2015, p. 586): 62 a despeito de existir cláusula em um contrato com a previsão de pa- gamento a ser efetuado na casa do credor (obrigação portável), caso tenha o devedor o costume de realizar o pagamento no seu próprio domicílio de forma reiterada, sem qualquer manifestação do credor, a obrigação passará a ser quesível, isto é, o pagamento deverá ocorrer no domicílio do devedor, sob pena de rompimento das expectativas gera- das no devedor pela inércia do titular do direito. Ao mesmo tempo em que o credor perde um direito por essa supressão, surge um direito a favor do devedor, por meio da surrectio, direito este que não existia ju- ridicamente até então, mas que decorre da efetividade social, de acordo com os costumes. Em outras palavras, enquanto a supressio constitui a perda de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exerício no tempo, a surrectio é o surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes. Pode-se dizer então, que os institutos são faces da mesma moeda. Tu quoque signi ca que um contratante que violou uma norma jurídica não poderá, sem a caracterização de abuso de direito, aproveitar-se dessa situação anteriormente criada pelo desrespeito. Assim, evita-se que uma pessoa que viole uma norma jurídica possa exercer direito dessa mesma norma inferido ou, especialmente, que possa recorrer, em defesa, a normas que ele próprio violou. Conforme lecionam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (Curso de Direito Civil, PÁG. 37 vl. 4, 2014, pg. 191), a contradição não reside nas duas condutas em si, mas na adoção indevida de uma primeira conduta que se mostra incompatível com o compor- tamento posterior, havendo uma injustiça da valoração que o indivíduo confere ao seu ato e, posteriormente, ao ato alheio, sendo o caso do contratante que já estivesse em mora quando da ocorrência de circunstâncias supervenientes que alteram a base do negócio, ao pretender a sua resolução ou revisão com base na onerosidade excessiva. Como exemplo de aplicação desse conceito, o seguinte julgado: CONTESTAÇÃO TEMPESTIVA. CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO. PROCURAÇÃO. AMPLOS PODERES. TU QUOQUE. I - O deferimento de prazo para regularizar vício sanável atende aos ditames da legislação de regência e não afasta a tempestividade da defesa. II - É vedado o benefício da própria torpeza, não sendo possível anular, em provei- to pessoal, ato perpetrado pela própria p arte, ainda que violador de norma. Trata-se de violação dos princípios anexos da boa fé objetiva, o que a doutrina convencionou chamar de tu quoque, contradição pela qual, uma das p artes da relação obrigacional exige um comportamen- to em circunstâncias tais que ela mesmo deixou de atender. III - A ulte- rior transferência de imóvel, mediante outorga de procuração em causa própria, na qual o mandatá- rio é autorizado pelos mandantes, expres- samente, a “vender, concordar, discordar, receber a importância de ven- 63 da, passar recibo e dar quitação, transmitir e receber a posse, domínio, direito e ação, assinar compromisso p articular de compra e venda ou termo de cessão, assinar escritura de compra e venda, alugar o imóvel”, dentre outras, esgota o negócio jurídico entre os mandantes e o man- datário, inexistindo direito a ser p artilhado, posto que oriundo de ins- trumento público até então válido, e caz e apto a transmitir o domínio a terceiro. (Acórdão n. 471397, 20080111228889apc, relator humberto adjuto ulhôa, 3ª turma cível, julgado em 15/12/2010, dj 18/01/2011 p. 85). iv - rejeitada a preliminar. apelação desprovida. unânime. (tj-df - apl: 27519620118070003 df 0002751-96.2011.807.0003, relator: romeu gonzaga neiva, data de julgamento: 18/05/2012, 5ª turma cível, data de publicação: 31/05/2012, dj-e pág. 118) A Exceptio doli é conceituada como sendo a defesa do réu contra ações dolosas, contrá- rias à boa-fé, sendo esta utilizada como defesa. Dessa feita, como ensina José Fernando Simão, a exceptio doli tem importante função reativa. A exceção mais conhecida no Direito Civil é aquela constante no artigo 476 do CC, a exceptio non adimpleti contractus, pela qual ninguém pode exigir que uma parte cumpra com a sua obrigação se primeiro não cumprir a própria. Nesse sentido, ver o Informativo n. 430 do STJ: EXCEÇÃO. CONTRATO NÃO CUMPRIDO. Tratou-se de ação ajuizada pe- los recorridos que buscavam a rescisão do contrato de compra e venda de uma sociedade empresária e dos direitos referentes à marca e paten- te de um sistema de localização, bloqueio e comunicação veicular me- diante uso de aparelho celular, diante de defeitos no projeto do referido sistema que se estenderam ao funcionamento do produto. Nessa hipó- tese, conforme precedentes, a falta da prévia interpelação (arts. 397, parágrafo único, e 473, ambos do CC/2002) impõe o reconhecimento da impossibilidade jurídica do pedido, pois não há como considerá-la su- prida pela citação para a ação resolutória. Contudo, consta da sentença que os recorrentes já estavam cientes de sua inadimplência mesmo an- tes do ajuizamento da ação e, por sua inércia, não restou aos recorridos outra alternativa senão a via judicial. Alegam os recorrentes que não poderiam os recorridos exigir o implemento das obrigações contratuais se eles mesmos não cumpriram com as suas (pagar determinadas dívi- das da sociedade). Porém, segundo a doutrina, a exceção de contrato não cumprido somente pode ser oposta quando a lei ou o contrato não especi car a quem primeiro cabe cumprir a obrigação. Assim, estabe- lecido em que ordem deve dar-se o adimplemento, o contratante que primeiro deve cumprir suas obrigações não pode recusar-se ao funda- mento de que o outro não satisfará a que lhe cabe, mas o que detém a prerrogativa de por último realizar a obrigação pode sim postergá-la, 64 enquanto não vir cumprida a obrigação imposta ao outro, tal como se deu no caso. Anote-se que se deve guardar certa proporcionalidade en- tre a recusa de cumprir a obrigação de um e a inadimplência do outro, pois nãose fala em exceção de contrato não cumprido quando o des- cumprimento é mínimo e parcial. Os recorrentes também aduzem que, diante do amplo objeto do contrato, que envolveria outros produtos além do sistema de localização, não haveria como rescindi-lo totalmen- te (art. 184 do CC/2002). Porém, constatado que o negócio tem cará- ter unitário, que as partes só o celebrariam se ele fosse válido em seu conjunto, sem possibilidade de divisão ou fracionamento, a invalidade é total, não se cogitando de redução. O princípio da conservação dos negócios jurídicos não pode interferir na vontade das partes quanto à própria existência da transação. Já quanto à alegação de violação da cláusula geral da boa-fé contratual, arquétipo social que impõe o poder- -dever de cada um ajustar sua conduta a esse modelo, ao agir tal qual uma pessoa honesta, escorreita e leal, vê-se que os recorridos assim agi- ram, tanto que buscaram, por várias vezes, solução que possibilitasse a preservação do negócio, o que esbarrou mesmo na intransigência dos recorrentes de se recusar a rever o projeto com o m de sanar as falhas; isso obrigou os recorridos a suspender o cumprimento das obrigações contratuais e a buscar a rescisão do instrumento. Precedentes citados: REsp 159.661-MS, DJ 14/2/2000; REsp 176.435-SP, DJ 9/8/1999; REsp 734.520-MG, DJ 15/10/2007; REsp 68.476- PÁG. 39 RS, DJ 11/11/1996; REsp 35.898-RJ, DJ 22/11/1993; REsp 130.012-DF, DJ 1º/2/1999, e REsp 783.404-GO, DJ 13/8/2007. REsp 981.750-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/4/2010. Por conta do conceito do venire contra factum proprium non potest, determinada pessoa não pode exercer um direito próprio contrariando um comportamento anterior, devendo ser mantida a con ança e o dever de lealdade, decorrentes da boa-fé objetiva. Esse conceito traduz o exercício de uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anterior- mente pelo titular do direito. De acordo com Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (Curso de Direito Civil, vl. 4, 2014, pgs. 158-159), o fundamento técnico jurídico do instituto não se alicerça na questão da contradição das condutas em si, pois não é possível ao direito eliminar as naturais incoerências humanas, mas sim na proteção da con ança da contraparte, lesada por um comportamento contraditório, posto contrário à sua expectativa de benefício justamente gerada pela conduta inicial do parceiro contratual. Anderson Schreiber (A proibição do compor- tamento contraditório, pg. 271) desenvolveu excelente trabalho sobre o assunto, apontando quatro pressupostos para aplicação da proibição do comportamento contraditório: 1) um fato próprio, uma conduta inicial; 2) a legítima con ança de outrem na conservação do sentido obje- tivo dessa conduta; 3) um comportamento contraditório com este sentido objetivo; 4) um dano ou um potencial de dano decorrente da contradição. Esse conceito relaciona-se claramente o 65 dever de con ança, o qual é anexo da boa-fé objetiva, conforme consta no Enunciado n. 362 da IV Jornada de Direito Civil, veja-se: A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da con ança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. O duty to mitigate the own loss funda-se no dever de colaboração ou cooperação, pre- sente em todas as fases do contrato e que decorre do princípio da boa-fé objetiva, e impõe que credor deva mitigar suas perdas, ou seja, seu próprio prejuízo de forma célere. Esse conceito foi utilizado no Enunciado n. 169 do CJF/STJ, observe-se: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar agravamento do próprio prejuízo. De acordo com Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (Curso de Direito Civil, vl. 4, 2014, pgs. 158-159), o conceito do duty to mitiga- te the own loss impõe que o contratante credor deva adotar medidas céleres e adequadas para que o dano do devedor não seja agravado. Assim, se o credor adotar comportamento desidioso por acreditar que a perda econômica do devedor lhe favorece, a sua inação culminará por lhe impor injusti cado desfalque. Esta negligência danosa constitui uma ofensa ao princípio da con ança, pois evidencia completo desprezo pelo dever anexo de cooperação. Como exemplo da aplicação desse conceito, pode-se citar o caso de descumprimento de contrato bancário, não podendo a instituição nanceira permanecer inerte, aguardando que, diante da alta taxa de juros prevista no instrumento contratual, a dívida atinja montantes astronômicos. 11 - Quais as teorias justi cadoras dos direitos reais? Quais as características dos direitos reais? A característica da exclusividade é incompatível com o condomínio? Existem duas teorias: a teoria personalista e a teoria realista ou clássica. Para a teoria per- sonalista os direitos reais são relações jurídicas estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. Por sua vez, a teoria realista ou clássica entende que o direito real constitui um poder imediato que a pessoa exerce sobre a coisa, com e cácia contra todos, erga omnes, Tartuce ado- ta essa teoria. Características: • Oponibilidade erga omnes • Existência de um direito de seqüela • Direito de preferência a favor do titular de tais direitos • Possibilidade de renúncia • Exclusividade (em que só pode ter um titular de poder sobre a coisa) Não, pois no condomínio cada condômino exerce o direito sobre a fração ideal do bem, e esta fração só tem signi cado entre eles. 66 12 - O que consiste do direito de sobrelevação? Qual a diferença entre direito de sobreleva- ção e direito de superfície por cisão? O direito de sobrelevação, conhecido também como direito de laje, prática muito co- mum nas favelas brasileiras, é “a possibilidade de o titular da propriedade super ciária cons- truir ou conceder a um terceiro que construa sobre a sua propriedade super ciária”. Há uma tripartição de propriedades autônomas: a propriedade do solo, de titularidade do concedente; a propriedade da superfície, pertencente ao super ciário; e a propriedade da sobrelevação, que ingressaria no patrimônio do segundo concessionário (Ricardo Pereira Lira. O novo código civil, estatuto da cidade, direito de superfície. In: Seminário EMERJ – Debate: O Novo Código Civil. Anais dos seminários EMERJ – Debate: O Novo Código Civil. Número especial, parte II, 2004, p. 151). Destaca-se a MP 759/2016 que positivou expressamente o direito de laje no art. 1510-A do CC: Art. 1.510-A. O direito real de laje consiste na possibilidade de coexis- tência de unidades imobiliárias autônomas de titularidades distintas situadas em uma mesma área, de maneira a permitir que o proprietário ceda a superfície de sua construção a m de que terceiro edi que uni- dade distinta daquela originalmente construída sobre o solo. § 1º O direito real de laje somente se aplica quando se constatar a im- possibilidade de individualização de lotes, a sobreposição ou a solida- riedade de edi cações ou terrenos. § 2º O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de ter- renos públicos ou privados, tomados em projeção vertical, como unida- de imobiliária autônoma, não contemplando as demais áreas edi cadas ou não pertencentes ao proprietário do imóvel original. § 3º Consideram-se unidades imobiliárias autônomas aquelas que pos- suam isolamento funcional e acesso independente, qualquer que seja o seu uso, devendo ser aberta matrícula própria para cada uma das refe- ridas unidades. § 4º O titular do direito real de laje responderá pelos encargos e tribu- tos que incidirem sobre a sua unidade. § 5º As unidades autônomas constituídas em matrícula própria pode- rão ser alienadas e gravadas livremente por seus titulares, não podendo o adquirente instituir sobrelevações sucessivas, observadas as posturas previstas em legislação local. § 6º A instituição do direito real de laje não implica atribuição de fração ideal de terreno ao bene ciário ou participação proporcional emáreas já edi cadas. § 7º O disposto neste artigo não se aplica às edi cações ou aos conjun- 67 tos de edi cações, de um ou mais pavimentos, construídos sob a forma de unidades isoladas entre si, destinadas a ns residenciais ou não, nos termos deste Código Civil e da legislação especí ca de condomínios. § 8º Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito real de laje.” (NR) O direito de superfície por cisão está presente quando o proprietário aliena por superfí- cie construção já existente no terreno. O super ciário poderá introduzir benfeitorias na constru- ção já existente (superfície por cisão quali cada) ou não introduzir tais benfeitorias (superfície por cisão ordinária). Embora essa situação tenha alguma semelhança com a sobrelevação, com esta não se confunde, pois, na superfície por cisão, as benfeitorias estarão sendo feitas na cons- trução que o super ciário terá direito de manter (ou seja, terá direito de fruição e disposição), o que não ocorre na sobrelevação. Na realidade, em se tratando de sobrelevação, a construção já existente não será alvo de melhoramento ou de destaque para exercício em benefício próprio do super ciário, servindo apenas de base para nova construção, que será independente da pri- meira. 13 - Como se dar a responsabilidade dos sócios em uma sociedade limitada? Um não sócio pode ser administrador de uma sociedade limitada? Qual o quórum necessário para a sua escolha? Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. Sim. Se o capital social não estiver integralizado, é preciso da unanimidade. Se estiver integralizado, é preciso de a aprovação de no mínimo 2/3 do capital. 14 - O que é direito real de garantia? Qual a diferença entre direito real de garantia e privi- légio creditício? No que consiste o penhor? Em todas as formas de penhor a coisa deve ser entregue ao credor? Se a coisa empenhada é furtada, qual a conseqüência disso para a rela- ção entre as partes? Qual a conseqüência da ausência de registro do penhor convencional? É um direito real sobre coisa alheia em que há a vinculação do poder do credor sobre um bem pertencente ao devedor (vincular o cumprimento de obrigação a um bem pertencente ao devedor). É o que ocorre na hipoteca, penhor, anticrese e alienação duciária. Tem natureza acessória, por ser subordinado juridicamente à existência de uma relação obrigacional. O direito real de garantia incide sobre um único bem, enquanto o privilégio creditício incide sobre todo o patrimônio do devedor. O penhor é direito real de garantia na coisa alheia que recai sobre bem móvel, exigindo 68 tradição. Somente será possível constituir penhor sobre bens móveis passíveis de alienação. Por se tratar de direito real sobre coisa alheia, o penhor possui natureza acessória. O penhor exige a entrega efetiva de coisa suscetível de alienação ao credor pignoratício, constituindo-se através dela. Art.1.431. Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o de- vedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação. Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, as coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que as deve guar- dar e conservar. Para a jurisprudência do STJ (REsp 730925-RJ), havendo roubo ou furto da coisa empe- nhada, o valor do bem (valor de mercado) deve ser ressarcido ao devedor (que é o proprietário da coisa empenhada), havendo a possibilidade de compensação com o valor devido. Por ser acessório, desaparece a garantia, mas a dívida se mantém. O registro não é feito no cartório de registro de imóveis, pois o bem é móvel. Se não hou- ver registro, o contrato é existente, válido e e caz (entre as partes). A falta do registro não retira a e cácia do contrato de penhor entre as partes. Ela, tão-somente, afasta a e cácia em relação a terceiros. Logo, cará o credor privado do direito de preferência e da seqüela, atributos ineren- tes ao direito real. 15 - O que é uma sociedade em conta de participação? Saberia um exemplo? É possível o registro dessa sociedade? Se sim, onde seria? É uma sociedade formada por dois tipos de sócios: ostensivo e o participante (oculto), sendo a atividade desenvolvida apenas pelo sócio ostensivo, em seu nome e sob sua exclusiva responsabilidade, cabendo aos sócios ocultos a participação nos resultados correspondentes. Ex: Flats. Por ser uma sociedade sem personalidade jurídica, ela não pode ter seu contrato regis- trado na junta comercial e um possível registro, que daria no Cartório de Registro de Títulos e Documentos, seria apenas para dar publicidade e força probatória, mas jamais para conferir personalidade jurídica. 16 - O que se entende por função social do contrato? Quais são os principais aspectos da e cácia interna da função social dos contratos. Quais são os principais aspectos da e cácia externa da função social dos contratos. É possível que o princípio da função social do contra- to seja aplicado a um contrato celebrado na vigência do CC/16? Sentido de nalidade coletiva, não se deve mais interpretar o contrato somente de acor- 69 do com aquilo que foi assinado pelas partes, mas sim levando-se em conta a realidade social que os circunda. E cácia interna Proteção dos vulneráveis contratuais Vedação da onerosidade excessiva e desequilíbrio contratual Proteção da dignidade da pessoa humana e dos direitos da personalidade Nulidade de cláusulas antissociais, tidas por abusivas Tendência a conservação do contrato, sendo a extinção a última ratio E cácia externa Proteção dos direitos difusos e coletivos (função socioambiental dos contratos). Tutela externa do crédito. (Art.608, Código Civil – caso Zeca pagodinho). Sim, desde que esteja gerando efeitos na vigência do cc/02, o que se denomina de RE- TROATIVIDADE MOTIVADA OU JUSTIFICADA, visto que seria um norma de natureza pública. Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituí- dos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar precei- tos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. 17 - O que é uma letra de câmbio? Na letra de câmbio tem aceite? Qual a consequência da negativa do aceite pelo sacado? Para ocorrência desses efeitos é preciso que haja protesto? É o título de crédito decorrente de relação ou relações de crédito, entre duas ou mais pessoas, pela qual a denominada sacador dá uma ordem de pagamento pura e simples, à vista ou à prazo, a outrem, chamado sacado, a seu favor ou de terceira pessoa (tomador/bene ciário), no valor e nas condições dela constantes. Tem aceite, mas este é facultativo. Em caso de recusa, ocorrerá o vencimento antecipado da dívida e o sacador (emitente) se torna o devedor principal. Para a ocorrência desses efeitos é necessário o protesto por falta de aceite. 18 - É indispensável a remuneração para a caracterização do contrato de prestação de ser- viço? Qual a diferença entre o contrato de prestação de serviço e o contrato de empreitada? Qual o prazo máximo do contrato de prestação de serviço? Esse prazo se aplica mesmo se o contratante for pessoa jurídica? 70 Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imate- rial, pode ser contratada mediante retribuição. (dá a entender que pre- cisaria de remuneração) Há divergência na doutrina, no entanto, em 2013, aprovou-se o enunciado 541, da jorna- da de direito civil,em que estipula a possibilidade de a prestação de serviço ser gratuita. Para a corrente contrária, não seria uma prestação de serviço, mas sim uma doação de serviço. Empreitada – obrigação de resultado Prestação de serviço – em regra, obrigação de meio Prazo máximo de 04 anos (art.598, do Código Civil) Há entendimento de que este prazo não se aplica às pessoas jurídicas, eis que foge aos ns sociais que justi caram a proibição. No entanto, há quem entenda que seja um preceito de ordem público, não podendo ser afastado por convenção das partes (Tartucce). 19 - Com relação a doação, o que é doação ino ciosa? Qual é o tipo de nulidade? Qual o pra- zo para intentar a ação? É possível o contrato de promessa de doação? É válida a doação feita ao nascituro? E se ele nascer morto? É aquela em que os bens doados atingem a legítima, ou seja, a parte que o doador não poderia dispor em testamento. Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Trata-se de nulidade absoluta. O prazo é decenal (regra geral), conforme decidiu o STJ em 2014 (Resp 1.321.998) Trata-se de tema divergente na doutrina e jurisprudência. 1 corrente: como a doação é uma liberalidade, não teria como exigir o seu cumprimento no futuro. 2 corrente: é possível, na há qualquer óbice legal, já tendo o STJ reconhecido a validade e e cácia da promessa de doação (ERESp 125.859–RJ), em caso envolvendo a dissolução da sociedade conjugal, em que se conti- nha promessa de doação as lhos. Todavia, há precedentes do próprio STJ (Resp. 730.626/SP). Sim, é válida. Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu represen- tante legal. 71 Segunda a doutrina majoritária, há uma doação condicional, em que, se o donatário não nascer com vida, caduca a liberalidade, pois se trata de direito eventual, sob condição suspensi- va. (reforça a tese de que o nascituro não tem personalidade jurídica material). 20 - Em que hipóteses uma duplicada pode ser emitida? Em que hipótese pode haver a recu- sar do aceite na duplicada? É um título de crédito causal, formal, à ordem, extraído por um vendedor ou prestador de serviço que visa documentar o saque fundado sobre crédito decorrente de compra e venda mercantil ou prestação de serviços e que tem como seu pressuposto a extração da fatura. Tra- ta-se de uma ordem de pagamento. Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expe- didas ou não entregues por sua conta e risco; II - vícios, defeitos e dife- renças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados. Art . 21. O sacado poderá deixar de aceitar a duplicata de prestação de serviços por motivo de: I - não correspondência com os serviços efeti- vamente contratados; II - vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados. 21 - Diferencia vulnerabilidade de hipossu ciência. A vulnerabilidade é um conceito do âmbito do direito material, traduzindo uma situação de inferioridade do consumidor diante do fornecedor. Há uma presunção legal de que todos os consumidores são vulneráveis. A hipossu ciência é um conceito de índole processual, que guar- da íntima relação com a di culdade de produção probatória. Não é presumida pela lei, devendo ser veri cada de acordo com o caso concreto, de acordo com as regras de experiência. 22 - Numa lide consumerista, em que momento deve ser decretada a inversão do ônus da prova? 1 Corrente: Regra de procedimento ou instrução, a m de possibilitar o contraditório e ampla defesa pelo fornecedor. 2 Corrente: Regra de julgamento, pois deve ser determinada apenas quando o julgador cou em dúvida, não ferindo o contraditório, pois o fornecedor sabe dessa possibilidade, desde o início do processo. Prevalece no STJ a 1 corrente, tendo sido esta encampada pelo NCPC (art.373, §1º) 72 23 - Diferencie associação de sociedade. Diferencie associação de fundação. É legal uma previsão estatutária de uma associação de moradores que imponha compulsoriamente o pagamento de mensalidades a todos os proprietários incluídos na sua circunscrição? Seria possível que uma associação negasse a inclusão de um companheiro homoafetivo, haja vis- ta que o estatuto prever apenas a inclusão de dependente o companheiro de sexo distinto? Na associação, não há m lucrativo no conjunto de pessoas constituídos, ao passo que nas sociedades visam sempre a um m lucrativo, que deve ser repartido entre os sócios. A fundação consiste num conjunto de bens destinados a um determinado m não lucra- tivo, ao passo que a associação é um conjunto de pessoas. Associação não se confunde com condomínio, ois qualquer obrigação só pode ser im- posta por lei ou contrato. Portanto, conforme julgados do STF e STJ (recurso repetitivo), a ade- são forçada contraria o livre direito de associação. Falar da e cácia horizontal dos direitos fundamentais, sendo assim, como já decidido pelo STF (Informativo 625), todas as regras da união estável devem ser aplicadas à união homo- afetiva. 24 - É possível o protesto de uma certidão de dívida ativa? Após o pagamento do título pro- testado, o credor que foi pago tem a responsabilidade de retirar o protesto lavrado? Porque? Qual a explicação legal para isso? O STJ, alterando sua antiga posição, passou a entender que é possível o protesto da Certi- dão de Dívida Ativa (CDA). STJ. 2ª Turma. REsp 1126515/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/12/2013 (não divulgado em Info em 2013). Isso se deu por conta da alteração legislativa movida pela lei nº 12.767/2012, que passou a prever expressamente essa hipótese. NÃO. Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR, providenciar o cancelamento do protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor. Segundo o STJ, a Lei n.° 9.492/97 não impõe ao credor o dever de retirar o protesto. Veja: Art. 26. O cancelamento do registro do protesto será solicitado direta- mente no Tabelionato de Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado, cuja cópia cará ar- quivada. Desse modo, quando o art. 26 da Lei n.° 9.492/1997 fala que o cancelamento do registro de protesto pode ser solicitado por qualquer interessado, a melhor interpretação é a de que o principal interessado é o devedor, de forma que a ele cabe, em regra, o ônus do cancelamento. 73 25 - De na direitos individuais homogêneos. Dê um exemplo. Quais os efeitos da coisa jul- gada em uma ação de direito individual homogêneo? Direitos subjetivos individuais, objetivamente divisíveis, cuja defesa judicial é passível de ser feita coletivamente, cujos titulares são determináveis e tem em comum a origem desses direitos, e cuja defesa judicial convém seja feita coletivamente. Ex: Poluição de um rio, que deixa os moradores doentes. Os prejuízos pela doença são direitos individuais homogêneos. Em caso de procedência, a coisa julgada material será erga omnes. Em caso de improce- dência, seja qual for o motivo, não será erga omnes, mas impedirá que os colegitimados inter- ponham nova ação, todavia não obsta as ações individuais, salvo se o indivíduo interveio como litisconsorte. 26 - O que consiste o princípio da saisine? Qual a abrangência da mencionada transmissi- bilidade, no que se refere aos herdeiros legítimos e testamentários? E no que concerne aos legatários? Cuida-se de postulado segundo o qual, no mesmo instante em que se dá a morte de um determinado indivíduo, abre-se a respectiva sucessão, ocorrendo a transmissão automática da herança aos herdeiros legítimos e testamentários, ainda que estes ignorem tal falecimento. (artigo 1784 CC). A transmissibilidade, no que refere a tais sujeitos, abarca tanto o domínio quanto a posse dos bens,a partir da morte de um dado indivíduo, e independe da prática de qualquer ato por parte daqueles. Assim, o inventário tem mero intuito declaratório da morte anterior. A situação dos legatários é diversa. Se a coisa legada for infungível a propriedade se trans- fere a partir da morte (abertura da sucessão), salvo se o legado estiver sob condição suspensiva (artigo 1923, caput, do CC). Se a coisa legada for fungível: a propriedade se transfere com a par- tilha. Em se tratando de posse, independentemente da coisa ser fungível ou infungível, a trans- missibilidade se dá com a partilha. 26 - O que se entende por delação sucessória? 37. Em que consiste a “sucessão anômala”? Delação sucessória é utilizada para designar o lapso temporal compreendido entre a abertura da sucessão e a aceitação ou renúncia da herança. Denomina-se sucessão anômala ou irregular aquela regulada por normas próprias, não 74 observando, pois, a ordem de vocação hereditária estabelecida no artigo 1829 do CC para a su- cessão legítima. Exemplo: artigo 520 do CC, segundo o qual o direito de preferência estipulado no contrato de compra e venda não se transmite aos herdeiros, dentre outros. Outro exemplo seria a pensão por morte, que é dividida entre os dependentes, que não seguem a ordem de vocação hereditária. 27 - Diferencie vício do produto de fato do produto. Como se dá a responsabilidade do co- merciante em cada uma dessas situações? Vício: Imperfeição de qualidade ou quantidade. Fato do Produto = Defeito, quando ocor- re um acidente de consumo. Nos termos do CDC a responsabilidade do comerciante será, nos casos de vício, solidária e objetiva, juntamente com todos os demais fornecedores. A responsabilidade do comerciante nos casos de fato do produto é subsidiária, nos termos do art. 13 do Código, somente respon- dendo se o fabricante, produtor, construtor ou importador não forem identi cáveis ou e, por sua culpa, não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 28 - O companheiro tem legitimidade para requerer a abertura da sucessão provisória? Seria necessário haver prova pré-constituída da união estável ou esta poderia ser reconhecida no bojo da ação da abertura de sucessão provisória? Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados: I - o cônjuge não separado judicialmente; II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. Apesar da ausência da previsão legal, é sim possível, tendo em vista a proteção constitui- ção conferida ao companheiro. 1ª corrente – No bojo, economia processual, devendo ser adotado o procedimento ordi- nário. 2ª corrente – ação de abertura da sucessão provisória tem rito especí co e célere, logo não seria possível, mas poderia ser instruído com outros documentos que comprovassem, que não fosse uma decisão judicial. Ex: Certidão de nascimento de lhos, documentos pessoais. 29 - A cláusula de não indenizar é admitida nos contratos de consumo celebrados entre duas pessoas jurídicas? Fundamente. É possível uma cláusula contratual prevendo a inversão con- vencional do ônus probatório nas relações de consumo? 75 O candidato deverá responder que é absolutamente vedada a cláusula de não indenizar, com base no art. 51, I do CDC, sendo esta cláusula abusiva e, portanto, nula de pleno direito, independentemente de se tratar de consumidor pessoa física ou jurídica. Em relação aos con- sumidores pessoas jurídicas a ressalva feita no dispositivo legal é quanto à possibilidade de limitação do valor de indenização em casos que se trate de consumidor pessoa jurídica. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situ- ações justi cáveis; O candidato deverá responder indicando a possibilidade de inversão convencional desde que ela não seja realizada em prejuízo do consumidor, vez que, caso isso ocorresse, estar-se-ia diante de uma clausula abusiva e nula de pleno direito – art. 51,VI: Art. 51. [...] VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor. 30 - O que é responsabilidade civil? De que natureza é a responsabilidade pela ruína de edi- fício (objetiva ou subjetiva)? O possuidor pode ser responsabilizado pela ruína do prédio? Objetiva ou subjetiva? A responsabilidade civil é a obrigação de indenizar que nasce da prática de um ato ilícito, em sentido lato. Mas há autores que entendem que haverá responsabilidade civil decorrente também de ato lícito, como é o caso de dano decorrente de ato praticado em estado de ne- cessidade (art. 929 e 930 c/c art. 188, II). Já outros entendem que esse mesmo caso trata-se de responsabilidade civil que decorre da lei, e não de ato lícito. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja neces- sidade fosse manifesta. Como o art. 937 menciona a falta de reparos cuja necessidade é manifesta, há discussão se seria objetiva ou subjetiva esta responsabilidade. Uma corrente entende ser subjetiva com culpa presumida, pois assim o era entendido pela doutrina quando da redação idêntica do CC de 1916. Outra corrente faz uma interpretação sistemática da responsabilidade por fato das coi- sas e entende ser objetiva, pois em todos os demais casos o legislador assim previu e não faria sentido ser diferente aqui. Para esta corrente a falta de reparos não denota culpa, e sim o nexo de causalidade. Esse entendimento encontra consagrado no enunciado 556 da VI jornada de direito civil. 76 A responsabilidade é do proprietário e não do possuidor, podendo este último também responder, mas o fará na modalidade subjetiva. 31 - O dano à imagem se confunde com o dano moral? O dano moral é prescritível? Qual o entendimento jurisprudencial? Mesmo em caso de tortura? O descumprimento contratual acarreta dano moral? Em nenhuma hipótese? Há divergência doutrinária, pois há uma natureza moral bem clara. Mas há também na- tureza material, uma vez que a imagem está protegida no art, 20 do CC, podendo sua utilização indevida gerar repercussão patrimonial. Nas situações em que há interesse público na divulga- ção das imagens não haverá que se falar em indenização, pois trata-se de ato lícito. Para a corrente amplamente dominante, a pretensão que surge da lesão ao direito da personalidade não se confunde com esse direito e, por ser uma indenização, tem natureza patri- monial, sujeitando-se à prescrição. Já a corrente minoritária entende que a pretensão referente à reparação não pode se separar do próprio direito da personalidade e, por isso, é imprescritível. O STJ vem acolhendo a tese da imprescritibilidade em casos gravíssimos que atingiriam não apenas o lesado, mas a sociedade como um todo, como no caso de tortura. O fundamento seria que a segurança jurídica cede frente à dignidade da pessoa humana. A jurisprudência do STJ entende que o mero descumprimento contratual não perfecti- biliza o dano moral, no entanto, em situações que envolvam valores fundamentais protegidos pela CF/88 pode ser con gura dano moral in re ipsa. Insta salientar que se trata, inclusive, de entendimento consagrado no Enunciado n.411, da V Jornada de Direito Civil. 32 - Em quais situações pode ser requerida a falência de uma sociedade empresarial? O juiz para declarar a falência de um empresário deve examinar se o ativo é ou não maior que o passivo? Se um pedido de falência foi requerido na égide do DL 7.661/45, mas esta só foi decretada após a vigência da Lei 11.105/2005, por qualdiploma o processo de falência será regulado? Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equi- valente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência. (Impontualidade injusti cada) II – executado por qualquer quantia lí- quida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens su cientes dentro do prazo legal. (Excecução frustrada) III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se zer parte de plano de recuperação judicial (Ato de falência): Não. Isso porque a insolvência falimentar é a insolvência jurídica, e não econômica. Have- 77 rá a insolvência, se houver a ocorrência de uma das hipóteses legais acima estudada. O marco para saber se será aplicado o revogado DL 7.661/45 ou a Lei 11.101/05 é a sen- tença declaratória da falência, que inicia o processo falimentar propriamente dito. Se esta foi prolatada após o dia 9 de junho de 2005, inclusive, a falência será regida pela Lei 11.101/05. 33 - Há relação entre as infrações a ordem econômica e infrações a defesa do consumidor? Quais as diferenças na atuação do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – SBDC e SistemaNacional de defesa do Consumidor – SNDC? O candidato deve responder que a relação existe e decorre da própria ordem econômica constitucional que coloca a defesa do consumidor e da concorrência como princípios da ordem econômica. Algumas práticas especí cas como venda casada, cartel, aumento elevado dos pre- ços contam com previsão expressa nos dois sistemas normativos – CDC e Lei 12.529/11. Quanto às diferenças de atuação o principal aspecto decorre da estrutura, enquanto o SNDC é pulverizado em PROCONs estaduais e municipais juntamente com a SENACON o SBDC se restringe a Brasília com a atuação do CADE dividido em Superintendência Geral, Departa- mento de Estudos Econômicos e Tribunal Administrativos. 34 - Qual a diferença entre juros moratório e remuneratório? Dê um exemplo para cada. Qual o termo inicial para a contagem dos juros moratório? Qual é o percentual dos juros legais previsto no art. 406 do CC? Os juros remuneratórios ou compensatórios são frutos produzidos pelo capital que é uti- lizado por um terceiro, que não o proprietário. Eles independem de culpa e são devidos por expressa previsão contratual, salvo nas hipóteses de mútuo feneratício, em que são presumidos. Os juros moratórios são devidos na hipótese de inadimplemento culposo da obrigação e inde- pendem de previsão contratual e prova do prejuízo. Juros compensatórios (remuneratórios) Juros moratórios São pagos pelo devedor como uma forma de remunerar (ou compensar) o credor pelo fato de ele ter cado privado de seu capital por um determinado tempo. São pagos pelo devedor como forma de in- denizar o credor quando ocorre um atraso no cumprimento da obrigação. 78 É como se fosse o preço pago pelo “aluguel” do capital. É como se fosse uma sanção (punição) pela mora (inadimplemento culposo) na devolu- ção do capital. São devidos pelo simples atraso, ainda que não tenha havido prejuízo ao credor (art. 407 do CC). Ex: José precisa de dinheiro emprestado e vai até um banco, que dele cobra um percentual de juros como forma de remunerar a institui- ção nanceira por esse serviço. Ex: José pactuou com o banco efetuar o paga- mento do empréstimo no dia 10. Ocorre que o devedor somente conseguiu pagar a dívida no dia 20. Logo, além dos juros remunerató- rios, terá que pagar também os juros morató- rios como forma de indenizar a instituição por conta deste atraso. Fonte: Dizer o Direito Os juros de mora, em regra, são devidos desde a citação, nos termos do artigo 405, CC. Há, porém duas exceções: a) se a obrigação for líquida, positiva e com data de vencimento, a mora é automática e, iniciada a mora, iniciam-se os juros (art. 397); b) nas obrigações provenien- tes de ato ilícito, os juros são devidos desde a data da prática do ato (art. 398, súmula 54 STJ e enunciado 163 CJF). 1ª corrente: 1% ao mês, previsto no CTN (art. 161, § 1º). Foi a posição defendida pela dou- trina. 2ª corrente: taxa SELIC. Foi o entendimento que vem prevalecendo no STJ, apesar de não poder dizer que é unânime. 35 - Nos contratos bancários, caso seja pactuada a incidência de juros, mas não seja pactua- da a taxa de juros, o banco pode realizar a cobrança de juros? Qual vai ser o valor a ser apli- cado? O que são “juros do pé”? Ele é aceito no nosso ordenamento jurídico? SIM. Mesmo a cláusula sendo nula, o banco poderá cobrar a dívida com juros. Isso porque, mesmo quando não prevista no contrato, a incidência dos juros é presumida no caso de em- préstimos destinados a ns econômicos. Veja o que diz a primeira parte do art. 591 do CC/2002: Art. 591. Destinando-se o mútuo a ns econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitaliza- ção anual. Súmula 530-STJ: Nos contratos bancários, na impossibilidade de com- provar a taxa de juros efetivamente contratada - por ausência de pac- 79 tuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor. Os “juros no pé” são juros de caráter compensatório cobrados, do promitente comprador, pela incorporadora imobiliária (promitente vendedora), antes da entrega das chaves do imóvel em construção. Esses juros compensatórios cobrados antes da entrega do imóvel é que são chamados de “juros no pé”. A expressão foi utilizada pelo STJ, mas já era empregada na prática do mercado imobiliário e tem a ver com o fato de que o imóvel (normalmente apartamentos) ainda não foi construído, ou seja, são cobrados juros mesmo o imóvel ainda estando “no pé” (na planta, no chão). A Segunda Seção (3ª e 4ª Turmas) do STJ decidiu, no último dia 13/06, que NÃO É ABU- SIVA a cláusula de cobrança de juros compensatórios incidentes em período anterior à entrega das chaves nos contratos de compromisso de compra e venda de imóveis em construção sob o regime de incorporação imobiliária (Segunda Seção. EREsp 670.117-PB, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgados em 13/6/2012). Desse modo, os juros no pé são admitidos pelo ordenamento jurídico brasileiro. 36 - Qual a diferença de Decadência e Prescrição, de acordo com o CDC. Quando o CDC cita algumas causas que OBSTAM a decadência, o que ele quer dizer com isso? São causas sus- pensivas ou interruptivas? O prazo para o consumidor reclamar pelos vícios do produto ou serviço é decadencial, ao passo que o prazo para pleitear a reparação pelos danos que lhe causou o fato do produto ou do serviço é prescricional. A maioria da doutrina entende que são causas suspensivas da decadência, por haver na lei termos inicial e nal. (Nelson Nery, Zelmo Denari, Fábio Ulhôa). Há, no entanto, uma corrente minoritária que entende que esses marcos são de interrupção da decadência, dando uma inter- pretação sistemática do CDC, interpretando da forma mais favorável ao consumidor, porque é esse o objetivo dessa norma. (Cláudia Lima Marques). 37 - O que é obrigação ambulatória (propter REM)? Dê exemplos. O que são cômodos obri- gacionais? É a obrigação que não surge de uma manifestação expressa ou tácita da vontade, mas sim pelo fato de o devedor ser titular de um direito real. Ex: obrigação do condômino pelas despesas de conservação da coisa comum (taxas condominiais), obrigação dos vizinhos de pro- ceder à demarcação dos imóveis, repartindo-se as despesas. 80 Cômodos obrigacionais são melhoramentos e acrescidos referentes a coisa objeto de uma obrigação de dar coisa certa, que se per zeram antes da tradição, ou seja, enquanto a coisa ainda era do devedor. Art. 237. Atéa tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus me- lhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pen- dentes. 38 - Diferencie a desconsideração da personalidade jurídica prevista no CDC e CC. Ela pode ser aplicada de ofício pelo Juiz? O candidato deverá responder que a teoria maior consiste na desconsideração prevista com base no art. 50 do Código Civil, segundo a qual a desconsideração somente poderá ser realizada caso reste caracterizado o abuso da personalidade jurídica caracterizado, nos termos do dispositivo legal, pelo desvio de nalidade ou pela confusão patrimonial (TEORIA MAIOR). Já a teoria menor da desconsideração tem sua base normativa no art. 28 do CDC, mais especi ca- mente no § 5º onde resta estabelecido que a desconsideração poderá ser operada sempre que a personalidade jurídica for, de qualquer modo, obstáculo ao efetivo ressarcimento do consu- midor, sem a necessidade de abuso da pessoa jurídica (TEORIA MENOR). NO CC, precisa de requerimento. No CDC, prevalece que pode ser aplicada de ofício, uma vez que previsto em um diploma de ordem pública e de interesse social. (RESP 279.273/SP – 2003). 39 - Quando se dar o início da personalidade civil? Quais as teorias que abordam o assunto? E a pessoa jurídica, quando inicia a sua personalidade civil? A proteção conferida ao nascitu- ro abrange o embrião in vitro? Teoria Natalista ou da Natalidade – para a aquisição da personalidade é necessário o nas- cimento com vida. Teoria da Concepção – o inicio da personalidade da com a concepção. Teoria da Personalidade Condicional –personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição suspensiva. Para a PJ se inicia com o registro no órgão competente. Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito priva- do com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato cons- titutivo. 81 Divergência. 1 corrente: Professora Silmara Juny Chinellato (USP), entende que sim, pois é necessário preservar a vida em todas as suas formas. 2 Corrente: Maria Helena Diniz, entende que não, a proteção conferida ao nascituro só irá alcançar o embrião quando este for introduzi- do no ventre materno. Há projeto de lei para incluir expressamente o embrião no art.2, do CC/02. 40 - Quais são as formas de emancipação? Em caso de eventual divorcio o menor retorna ao estado de incapacidade? Em caso de anulação do casamento? Ela pode ser voluntária (concedida por ambos os pais por escritura pública), judicial (nas hipóteses de menor sob tutela e divergência entre os pais) e por m legal (operada automa- ticamente desde que presentes umas das hipóteses previstas em lei: casamento, exercício de emprego público efetivo, colação de grau em curso de ensino superior, pelo estabelecimento civil ou comercial ou existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria). Em caso de separação e divórcio é pací co na doutrina e jurisprudência que a pessoa deve permanecer emancipada, eis que as sentenças tem e cácia para o futuro. No que tange a invalidação existem duas teorias: i) o menor continuaria emancipado pois seria um contrasenso que o próprio cônjuge tenha capacidade para pleitear a anulação do casa- mento e depois se torne incapaz com a procedência da ação; ii) prevalece, no entanto, a corren- te doutrinária que sustenta a retroatividade dos efeitos da sentença de invalidade de maneira que seria adequado concluir pelo retorno à situação de incapacidade, ressalvada a hipótese de casamento putativo. 41 - Como os tribunais têm decidido casos em que o fornecedor não garante o cumprimento da oferta? Ainda que se trate de erro grosseiro? Diferencie publicidade abusiva de enganosa. O candidato deverá apontar ser válida a regra de cumprimento forçado da oferta, por vinculação ao que foi efetivamente anunciado, havendo, contudo, entendimento recorrente dos tribunais, sobretudo do STJ, de que o erro grosseiro, escusável, não enseja direito ao consu- midor pelo cumprimento da oferta: Enganosa – que tanto podem ser por a rmações falsas, incorretas ou que induzam o con- sumidor a erro como também por omissão de dado relevante a respeito do produto ou serviço Abusiva – discriminatória de qualquer natureza, que explore medo, superstição, se apro- veita da de ciência de julgamento do consumidor entre outros aspectos. 82 42 - De na Evicção. No caso de o bem ter sido adquirido em hasta pública, quem será o res- ponsável pela evicção? As partes podem convencionar a exclusão das garantias pela evic- ção? Que é vício redibitório? Havendo vicio redibitório, quais as modalidades de ação cabí- veis? Qual o prazo das ações edilícias? Qual a natureza jurídica desses prazos. É a perda da coisa, adquirida em contrato oneroso, por força de decisão judicial ou apre- ensão administrativa, mesmo se adquirida em hasta pública. A possibilidade de a perda ser por força de uma apreensão administrativa é decorrente da construção do STJ. A perda do bem é decorrente de um vício anterior ao negócio jurídico oneroso. Divergência. 1ª corrente: a responsabilidade imediata é do devedor, que é o primeiro bene ciado com a arrematação e subsidiária do credor. (Tartucce, Alexandre Freitas Câmara) 2º corrente: Responsabilidade imediata do credor e subsidiária do devedor. Há preceden- tes do TJMG nesse sentido. Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu. Assim, é necessário observar que o art. 449 do CC, de constitucionalidade duvidosa, na perspectiva do princípio da função social, admite que, a despeito da existência de uma cláusula excludente da garantia da evicção, se esta se der, terá pelo menos o direito ao preço pago, mas, se, além disso, assumir formalmente o risco de perder a coisa, não terá direito a nada. Nessa hipótese, se contrato diz que o alienante não responde pela evicção e o adqui- rente assume o risco da evicção (é informado, ou dele sabia), não terá o adquirente o direito a receber o preço. Ex. se o contrato disser que o alienante não responde pela evicção – o evicto tem pelo menos o direito de receber de volta o preço que pagou. Já se a cláusula prevê a ciência do adquirente da evicção e este assume o risco formalmente (loucura!!), é como se estivesse o adquirente adquirindo coisa litigiosa, pelo que não terá direito sequer ao preço que pagou. Vicío Redibitório É um vício oculto que torna a coisa imprópria para o uso a que se destina, ou lhe diminui o valor, e que tenha sido adquirida por contrato comutativo ou por doação onerosa (CC, arts 441 a 446). 83 São as chamadas ações ediliícias. » Ação estimatória ou quanti minoris – que é aquela em que se busca o abatimento no preço pago pela coisa viciada; » Ação redibitória – que é aquela em que se busca a extinção do contrato mais perdas e danos. As perdas e danos dependem da prova da má-fé do alientante. Depende. Se bem móvel, é de trinta dias. Se o bem é imóvel, é de um ano. O prazo é con- tado da entrega efetiva do bem (tradição). Existem duas exceções a esta regra: (1) se a pessoa já estava na posse, o prazo se conta da alienação, reduzindo-o à metade; (2) se o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido posteriormente, conta-se o prazo do seu conhecimento,a te o máximo de cento e oitenta dias para bens móveis e um ano para bens imóveis. Os prazos sãodecadenciais. 43 - Os estabelecimentos comerciais (e outros fornecedores de bens ou serviços) podem co- brar mais caro pelo produto caso o consumidor opte por pagar com cartão de crédito ou com cheque em vez de pagar com dinheiro? POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL ANTES DA MP 764/2016: NÃO. Caracteriza prática abusiva quando o fornecedor de bens e serviços prevê preços mais favoráveis para o consumi- dor que paga em dinheiro ou cheque em detrimento daquele que paga em cartão de crédito. Segundo decidiu o STJ, o preço à vista deve ser estendido também aos consumidores que pa- gam em cartão de crédito, os quais farão jus, ainda, a eventuais descontos e promoções porven- tura destinados àqueles que pagam em dinheiro ou cheque. STJ. 2ª Turma. REsp 1.479.039-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015 (Info 571). POSICIONAMENTO APÓS A MP: SIM Art. 1º Fica autorizada a diferenciação de preços de bens e serviços oferecidos ao público, em função do prazo ou do instrumento de paga- mento utilizado. Parágrafo único. É nula a cláusula contratual, estabelecida no âmbito de arranjos de pagamento ou de outros acordos para prestação de ser- viço de pagamento, que proíba ou restrinja a diferenciação de preços facultada no caput. 44 - O regime de bens do casamento pode ser alterado? A exigência de justo motivo não macula o princípio da não interferência estatal nas relações familiares? Um exemplo em que a alteração de regime pode prejudicar direito de terceiros? Esse terceiro pode ser o Poder Público? Se alteração do regime de bens bene ciar os credores, ele deve ser obstado? Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, esti- 84 pular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.§ 1o O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento.§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. Ver artigo 734, caput, do NCPC. Há quem entenda dessa forma, pois haveria uma intervenção dispensável do Estado nas questões familiares, o que macularia o princípio da não intervenção, previsto no art.1513, do Código Civil. Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família. Sim, não pode vim a macular dívidas tributárias, por exemplo. Se esse benefício não ocorrer em detrimento de nenhum outro credor, não haveria óbice legal para tanto. 45 - De na alienação duciária. Vamos supor uma alienação duciária de um bem móvel, em que o credor duciário é uma instituição nanceira. Em caso de inadimplemento das parce- las do devedor duciário, é necessário que este seja noti cado para que a instituição nan- ceira interponha a devida ação de busca e apreensão? Essa noti cação precisa ser realizada por intermédio do Cartório de Títulos e Documentos? O art.3, §2, do DL 911/69 prever que, após o cumprimento da liminar em uma ação de busca e apreensão, o devedor pode pagar a integralidade da dívida pendente e reaver o bem. O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? É todo o valor ou apenas as parcelas vencidas? A alienação duciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em con ança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, cando esta parte (uma instituição nanceira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando veri cada a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565). No contrato de alienação duciária, a mora decorre do simples vencimento do prazo para pagamento, mas a lei exige que o credor (mutuante) demonstre a ocorrência desse atraso noti cando o devedor. Assim, o credor deverá fazer a noti cação extrajudicial do devedor de que este se encon- tra em débito, comprovando, assim, a mora. Essa noti cação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de busca e apreensão. 85 Súmula 72 do STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado duciariamente. NÃO. Essa noti cação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser realizada por intermédio do Cartório de RTD.Essa foi uma das mudanças operadas pela Lei n.º 13.043/2014 no § 2º do art. 2º do DL 911/69. 03. O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor? NÃO. A Lei nº 13.043/2014 alterou o § 2º do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que não se exige que a assinatura constante do aviso de recebi- mento seja a do próprio destinatário. Todo o débito. Segundo decidiu o STJ, a Lei n.º 10.931/2004, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente as prestações vencidas. Para que o devedor duciante consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução da liminar. 04.Se o devedor do contrato de alienação duciária estiver em processo de recuperação judicial ou extrajudicial, mesmo assim será possível a busca e apreensão do bem? SIM. Mesmo já existindo pedido de recuperação judicial ou extrajudicial envolvendo o devedor do contrato de alienação duciária, tal fato não impedirá a distribuição e a busca e apreensão do bem (art. 6º-A do DL 911/69, inserido pela Lei n.º 13.043/2014). 05. Se, além da instituição nanceira mutuante, o devedor do contrato de alienação duciária possuir débitos com outros credores, estes poderão pedir o bloqueio judicial do bem objeto da alienação duciária? NÃO. Não será aceito bloqueio judicial de bens constituídos por alienação duciária de que trata o DL 911/69. Se os outros credores quiserem ale- gar que possuem créditos preferenciais em relação à instituição nanceira mutuante, tal discussão sobre concursos de preferências deverá ser resol- vida pelo valor da venda do bem após ele ser apreendido (art. 7º-A do DL 911/69, inserido pela Lei nº 13.043/2014). Fonte Dizer o Direito. 86 DIREITO PROCESSUAL CIVIL RESPONSÁVEL: ÁLVARO VERAS 1 - É exigível a obrigação reconhecida por sentença, já transitada em julgado, em razão título fundado em Lei que foi declarada inconstitucional pelo STF? E se a decisão do STF for poste- rior ao trânsito em julgado? Encerrada a fase de conhecimento, na fase executiva, ainda que tenha havido o trânsito em julgado, é inexigível a obrigação reconhecida em sentença com base em lei tido coma como incompatível com a Constituição ou declarada inconstitucional pelo STF, na dicção clara do art. 525, § 1º, III e § 12 do CPC/2015, podendo o executado alega-la por meio de impugnação ao cumprimento da sentença, verbis: Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. § 1o Na impugnação, o executado poderá alegar: III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; [...] § 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1o deste artigo, conside- ra-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpre- tação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de consti- tucionalidade concentrado ou difuso. Contudo, a norma destes dispositivos aplica-se somente quando a declaração de incons- titucionalidade da Lei na qual se funda o título foi publicada antes do transito em julgado da sentença. Caso o trânsito em julgado ocorra depois, não é possível alegar a inexigibilidade do título em sede