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19VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO CAPÍTULO 1 DEPRESSÃO ABORDAGEM INICIAL Realizando um seminário em torno do tema depres-são e ensejando a participação por meio de questio-namentos por escrito, uma jovem, com objetividade, narrou e ao final indagou: Conquistei tudo o que queria na vida. Hoje frequento a faculdade, tenho uma família maravilhosa, sou uma pessoa jo- vem, sofro de uma depressão clinicamente comprovada e neces- sito de ajuda para o tratamento. Sou alegre por fora e quem me olha não diz que sou profundamente triste. Tenho sensações de que, às vezes, até Jesus se esquece de mim, embora eu seja uma pessoa religiosa. Por que sou deprimida sem ao menos ter muita experiência de vida? Esse é somente um entre tantos casos. Em todos esses anos de vida profissional e razoável atividade no movimen- to espírita, tenho compartilhado das experiências de muitas criaturas sofridas. Recordo-me, também, de uma senhora profundamente triste. Procurou-me ela dizendo que o filho, nos últimos meses, passara a ter um comportamento inade- quado, insuportável. Tornara-se um dependente químico, con- sumindo drogas muito pesadas, mudando radicalmente seu comportamento, sendo agora um rapaz desempregado, ocioso, violento, e para manter o vício e quitar as dívidas contraídas com os traficantes, vinha subtraindo objetos da própria casa, vendendo-os por preço irrisório. Não bastasse isso, vinha ame- açando-a de maneira a causar-lhe muita apreensão e medo. IZAIAS CLARO20 E ela, na sua aflição, indagava-me o que fazer para auxiliar o filho, o que fazer para manter-se segura e tranquila, ela que se encontrava separada do marido há muitos anos e dependia exclusivamente do seu trabalho para sobreviver... A depressão é uma enfermidade muito comum. Afe- ta milhões de criaturas em todo o mundo e todos os anos milhões de novos casos são diagnosticados. Trata-se de uma doença que pode atingir pessoas de todas as idades, indepen- dentemente das condições social, econômica e cultural, mas, especialmente as mulheres estão mais expostas a esse mal, que pode atingir estágios tão graves ao ponto de levar o pa- decente ao suicídio.3 Importante revista realizou oportuna reportagem sobre depressivos célebres, citando Beethoven, um homem amargurado, taciturno, vítima de amores frustrados, que morreu praticamente ao som da sua jubilosa nona sinfonia. Outros foram citados pela reportagem, como, por exemplo, Abraham Lincoln, Presidente dos Estados Unidos. Escreveu Lincoln: sou o homem mais infeliz do mundo. Se os meus sen- timentos fossem distribuídos por toda a família humana, não haveria um só rosto sorridente sobre a terra. Não posso prever se um dia apresentarei melhoras, a minha previsão é que isso não acontecerá. Ficar como estou é impossível, preciso melho- rar ou morrer.4 O custo do sofrimento humano não pode ser avalia- do. O depressivo sofre muito e sofrem também aqueles que o amam, aqueles que o cercam. A depressão pode destruir a vida familiar, a vida profissional e todos os demais interesses do enfermo. Há depressivos que ignoram a própria enfermidade. São os não diagnosticados e consequentemente não submeti- dos a tratamento. E há os diagnosticados que vêm se subme- tendo a regular tratamento. Estes, evidentemente, estão em 21 melhores condições em virtude da assistência e do acompa- nhamento médico-psicoterápico, e acompanhamentos ou- tros. Há deprimidos que, ignorando o próprio estado, lamentavelmente, nem sempre demonstram interesse em compreender o que se passa, não procurando tratamento e vivendo com uma comprometida qualidade de vida, experi- mentando sofrimentos desnecessários. Há medicamentos e diversas terapias disponíveis, que podem minimizar de ma- neira muito importante o quadro vivenciado pelo depressivo, e até curá-lo, pois a depressão tem cura. Agradecendo o seu interesse por esta obra simples, desde já sugiro a você uma leitura atenta. E não será demais a leitura repetida, detendo-se nos pontos que digam mais de perto às suas necessidades ou às necessidades das pessoas a quem você deseja auxiliar. Estude e aprenda o mais possível sobre o tema. Estando em depressão, empenhe-se por fazer a sua parte, também procurando e aceitando a ajuda que lhe ofe- reçam. Como já afirmado, a depressão tem cura e não há ne- cessidade de você permanecer com esse sofrimento indefini- damente. Não se encontrando enfermo, igualmente envide es- forços no sentido de prevenir-se, de tal modo que diminua sensivelmente a possibilidade de você vir a cair nesse abismo. Informando-se e prevenindo-se, poderá também auxiliar com eficiência os que necessitam superar a enfermidade.5 Entrego a você este doce e sugestivo poema do Espí- rito Maria Dolores: Dizes que sofres angústias, Até mesmo quando em casa, Que a tua dor extravasa Nas cinzas da depressão. IZAIAS CLARO22 Que não suportas a vida, Nem te desgarras do tédio, O fantasma, em cujo assédio, Afirmas que tudo é vão. Depressão? Alma querida, Se tens apenas tristeza. Se te sentes indefesa, Contra a mágoa e dissabor, Sai de ti mesma e auxilia Aos que mais sofrem na estrada. A depressão é curada Pelo trabalho do amor.6 O QUE É DEPRESSÃO? A depressão – dizem os especialistas - é um dos qua- tro distúrbios psiquiátricos mais frequentes.5 É estudada há milênios, não sendo uma doença que decorre somente da vida agitada dos dias atuais. Atinge pes- soas de todos os países, regiões e condições.7 Sendo uma doença, é preciso se eliminem todos os preconceitos em torno dela, que está longe de ser uma sim- ples desculpa para a pessoa, por exemplo, não trabalhar e não se manter vinculada à vida, desincumbindo-se de suas obri- gações. A definição da doença começa com Hipócrates, o Pai da Medicina, que descreveu a melancolia como um estado de aversão à comida, desespero, falta de sono, irritabilidade e inquietação.8 De acordo com Galeno, a melancolia se manifesta em consequência dos medos, do descontentamento com a vida e do ódio a todas as pessoas. 23VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO Depressão é um estado anormal de tristeza.9 É uma tristeza profunda e prolongada. É denominada também transtorno do humor. Como já registrado, é uma síndrome que se caracte- riza fundamentalmente por três sintomas: tristeza, inibição psicomotora e inibição do fluxo do pensamento.6 No livro Depressão - Causas, Consequências e Trata- mento (Editora O Clarim, de Matão/SP), consignei que de- pressão é um estado de espírito de melancolia, tristeza ou de- sespero. A intensidade e a duração desse estado dependem da personalidade, dos fatores que desencadeiem o processo e da situação atual da vida do paciente. Na mesma obra mencionei que a tristeza normal é uma reação saudável a qualquer infortúnio, segundo o Dr. John Bowlby e que tristezas de domingo ou em dias chuvosos não são consideradas depressão. Um dos maiores problemas associados a quadros de- pressivos, ainda, é a falta de informação. Muitos deprimidos, fechados em si mesmos, sem a assistência adequada, não sabem que não há necessidade de sofrer a dor da enfermidade, sozinhos, em silêncio e distantes de uma ajuda competente. Número considerável debate-se contra a depressão sem saber que sofre dessa doença. Essa luta lhes rouba a pou- ca energia que resta. Com isso, ficam piores, mais irritados e impacientes, como a mulher que me procurou na Casa Es- pírita e, conquanto estivesse com uma depressão profunda e necessitando de ajuda, apresentava-se inquieta e colérica, respondendo com indelicadeza, incapaz de perceber que o objetivo único era o de auxiliá-la.1 Muitas vezes o deprimido não reconhece que está sendo vítima desse mal. De outras, os sintomas levam a pes- soa a uma prostração física, deixando-a desmotivada e sem IZAIASCLARO24 vontade ou energia para procurar auxílio médico.10 Segundo informações confiáveis, menos de um terço dos depressivos passam por tratamento tendo o diagnóstico da enfermidade. Com o desconhecimento do que se passa, a depressão pode vir a complicar-se por falta de adequada as- sistência, podendo ainda ocorrer que o diagnóstico de outras enfermidades fique igualmente comprometido. Prudente não confundir a depressão com as tristezas comuns, que são uma reação normal aos problemas e difi- culdades da vida. As tristezas experimentadas em situações de crise não podem ser consideradas depressão, posto que essas tristezas não são uma enfermidade. É humano e perfei- tamente compreensível que apresentemos reações de tristeza ante situações desagradáveis, desconfortáveis etc. Depressão não pode ser confundida com uma sim- ples fossa, um baixo-astral passageiro, pois é uma doença e como tal necessita de tratamento específico, sobretudo nos graus moderado e grave. É uma doença que afeta a pessoa como um todo.5 A enfermidade ora examinada é mais que o abati- mento comum que todos sentem de vez em quando, e que passa diante de acontecimentos positivos, ainda que corri- queiros, como a visita de um amigo, um passeio, uma cami- nhada, uma boa notícia. Depressão não pode ser confundida com o luto pela perda de algo ou alguém, como veremos em tópico específi- co. Como o humor se apresenta no luto, além de necessário, é uma reação normal, mas se esse humor persistir por tempo não razoável, a pessoa pode já estar sofrendo de depressão clínica.11 Como diferenciar a tristeza normal da depressão? A pessoa deprimida sabe que os seus sentimentos di- ferem de uma tristeza anteriormente sentida. No estágio mais 25VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO grave, as pessoas se isolam, perdem o interesse, algumas pro- curando ocupar-se ao máximo numa tentativa de afastar o mal-estar sentido. Podem ficar mal-humoradas e insatisfeitas com todos e com tudo. Sendo uma doença, com ela vem a dificuldade de pla- nejar o futuro, que se afigurará sombrio e sem esperança. É frequente a depressão acentuar-se pela manhã, com a pes- soa apresentando-se ansiosa, apática e sem disposição para levantar-se ou cuidar da higiene pessoal, como, por exemplo, tomar banho ou barbear-se. No decorrer do dia pode ocorrer discreta melhora.9 O depressivo é alguém que necessita de compreensão, apoio e assistência, ainda que, em virtude da situação em que se encontre, não contribua ele, de início, para a própria recu- peração. Em capítulo próprio, veremos que o depressivo mere- ce e necessita ser encaminhado com toda a diligência a con- veniente assistência, a mais ampla possível. Uma das atitudes a ser adotada com a brevidade possível é a de se encaminhar o necessitado a um clínico geral, que está apto do ponto de vista acadêmico e profissional a dar o primeiro e pronto aten- dimento. Isso não impede que se procure outro profissional e pessoas aptas a dar eficaz atendimento.12 Embora a expressão saúde mental possa ter significa- dos diferentes para diferentes pessoas, a autoestima elevada e a capacidade de estabelecer relações afetivas com outras pes- soas são componentes importantes da saúde mental univer- salmente aceitos. Pessoas mentalmente saudáveis compreendem que não são perfeitas nem podem ser tudo para todos. Elas viven- ciam uma vasta gama de emoções, incluindo tristeza, raiva e frustração, assim como alegria, amor e satisfação. IZAIAS CLARO26 Os mentalmente saudáveis são capazes de enfrentar os desafios e as mudanças da vida cotidiana, e sabem procu- rar ajuda quando surjam dificuldades em lidar com traumas e transições importantes, como perda de pessoas queridas, conflitos conjugais, problemas escolares e profissionais ou a perspectiva da aposentadoria.13 Sendo uma doença, uma vez instalada segue seu pró- prio curso exigindo tratamento adequado. Por essa razão a simples realização de viagens, a ida a restaurantes, a aquisição de produtos diversos como roupa nova, por exemplo, não bastam para a sua cura. Com a Doutrina Espírita, aprendemos que esses es- tados de tristeza ou depressão podem, também, ser oriun- dos de outras encarnações, efeitos de condutas equivocadas. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo cinco, temos uma página específica sobre a depressão com o título a me- lancolia, cuja leitura e assimilação muito podem ajudar. Consoante se pode inferir da página transcrita a se- guir, existem as tristezas úteis e as tristezas inúteis. Estas são as que mais comumente se observam na vida de milhões de criaturas humanas, e decorrem de condutas inadequadas e danosas. E isso se dá quando o ser se permite uma filosofia essencialmente fisiológica, excessivamente centrada nos inte- resses imediatos da existência terrena. As tristezas úteis são as que convocam a criatura a buscar uma vida mais alta, além e acima dos interesses utilitaristas do estágio carnal. Texto do apóstolo Paulo: porque a tristeza, segundo Deus, opera arrependimento para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo gera a morte. (Paulo, aos Ro- manos, 7:10). Conforme observamos na advertência de Paulo há ‘uma tristeza segundo Deus’ e outra segundo ‘a terra’. A primeira soluciona problemas pertinentes à vida ver- 27VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO dadeira, a segunda é caminho para a morte, como símbolo de estagnação, no desvio dos sentimentos. Muita gente considera virtudes a lamentação incessan- te e o tédio continuado. Encontramos os tristes pela ausência de dinheiro aos excessos; vemos os torturados que se lastimam pela impossibili- dade de praticar o mal; ouvimos os viciados na queixa doentia, incapazes do prazer de servir sem aguilhões; essa é a tristeza do mundo que prende o Espírito à teia de reencarnações corretivas e perigosas. Raros homens se tocam da ‘tristeza segundo Deus’. Muitos poucos contemplam a si próprios considerando a ex- tensão das falhas que lhes dizem respeito, em marcha para a restauração da vida, no presente e no porvir. Quem avança por esse caminho redentor, se chora ja- mais atinge o plano do soluço enfermiço e da inutilidade, por- que sabe reajustar-se valendo-se do tempo a golpes benditos de esforço para a nova edificação do destino.14 TIPOS E GRAUS Tipos Como se dá com outras, as doenças depressivas ma- nifestam-se de diversas maneiras. Há, pois, vários tipos. A depressão pode ser persistente ou recorrente. Alguns termos usados pela Ciência para descrever a depressão: reativa (transtornos de adaptação); endógena (transtornos depressivos); neurótica; psicótica; bipolar (trans- torno afetivo bipolar); unipolar (transtorno unipolar); agita- IZAIAS CLARO28 da; retardada; distimia; mascarada; orgânica; breve recorren- te; transtorno afetivo sazonal (TAS). Segundo a Ciência especializada, são três os tipos mais frequentes, com variações entre eles quanto ao número, gravidade e duração dos sintomas: depressão maior, distimia e transtorno afetivo bipolar.5 Os transtornos depressivos alteram o modo como as pessoas pensam, sentem e se comportam. Impedem que o seu portador desfrute os prazeres normais da vida, que pare- cem ser coisas do passado.13 Registre-se mais uma vez o seguinte: ao contrário do baixo astral que todos apresentamos às vezes, a depressão se prolonga e se torna mais grave do que se poderia atribuir a certos acontecimentos da vida diária.13 Graus Sendo a depressão uma doença, é muito diferente dos sentimentos normais de tristeza ou de baixo astral, pois afeta acentuadamente os pensamentos, os sentimentos e o compor- tamento. Alterações dos padrões de comportamento são sinais característicos de que a depressão pode estar escapando ao controle e de que se deve procurar ajuda.13 Tendo em vista a intensidade,pode-se classificar a de- pressão em leve, moderada e grave. A experiência e a observação demonstram que não há necessidade de tratamento com medicamentos no grau leve. No grau leve, o baixo astral pode ir e voltar e a doença frequentemente se inicia após um acontecimento desagradável ou estressante. A pessoa pode sentir ansiedade ao mesmo tem- po em que se sente por baixo. 29VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO As mudanças do modo de vida são, frequentemente, os únicos meios necessários para sustar esse tipo. No grau moderado, o baixo astral é persistente e há a manifestação de sintomas físicos, que variam de pessoa para pessoa. As mudanças do estilo de vida não podem, por si sós, produzir resultados satisfatórios definitivos, e o auxílio de médicos, psicoterapeutas e de outras pessoas aptas se faz necessário. No grau grave, os sintomas são intensos e podem pôr em risco a vida do enfermo. A pessoa sente sintomas físicos e psicológicos, podendo ter delírios e alucinações se a doen- ça apresentar-se na modalidade psicótica. É importante que o deprimido seja encaminhado a um médico o mais rápido possível.15 SINTOMAS PSICOLÓGICOS E FÍSICOS Às vezes, a depressão clínica pode se parecer com ou- tras doenças que produzem sintomas como dores de cabeça, dores lombares ou articulares, problemas digestivos ou outros tipos de mal-estar. Pessoas mais idosas, quando deprimidas, frequentemente se queixam desses problemas ao invés de se queixarem de ansiedade, cansaço ou tristeza. Alguns sintomas da doença como lapsos de memória e dificuldade de concentração podem imitar a doença de Alzhei- mer (um tipo de demência) ou outras doenças. IZAIAS CLARO30 Sintomas semelhantes podem ser causados, também, por outros problemas físicos ou por medicamentos frequente- mente usados por pessoas idosas. Portanto, para um diagnósti- co adequado, é importante submeter-se o paciente a um exame médico minucioso para que sejam excluídas outras doenças.11 As sensações na depressão são estritamente individu- ais, mas o médico, o orientador ou outro profissional pode identificar os inúmeros tipos da doença pela causa, pelos sin- tomas ou pela duração. Sintomas psicológicos Sentimentos persistentes de inadequação, tristeza, desamparo, desesperança, pessimismo excessivo e perda da autoconfiança são alguns dos sintomas da enfermidade. Pes- soas deprimidas frequentemente se afastam dos amigos, de seus entes queridos e de ocupações e passatempos habituais, que anteriormente lhes eram agradáveis. Podem apresentar um sono mais curto e outras podem procurar alívio em ali- mentação e sono excessivos. Indivíduos deprimidos são os que possuem maior probabilidade de considerar o suicídio como uma solução, dominados por um pessimismo intenso. Portadores de ou- tros distúrbios mentais e emocionais também podem ter ideias suicidas. Durante os períodos de crise, as pessoas de- vem procurar companhia, evitando se isolar. Os deprimidos podem apresentar alterações bruscas de humor e de comportamento. Essas alterações não incluem atitudes deliberadas com a finalidade de adaptação à situa- ção. Refiro-me a alterações de humor e comportamento que 31VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO refletem profundas alterações nos hábitos normais ou no modo de pensar da pessoa, por exemplo, o bom aluno cujas notas diminuam abruptamente ou a pessoa controlada, que repen- tinamente comece a gastar grandes somas de dinheiro. Muito provavelmente essas pessoas estejam apresentando problemas emocionais.13 Quando identificamos que uma pessoa está com essa enfermidade? A depressão é, segundo os profissionais da saúde mental, sempre patológica. Por isso, o diagnóstico deve ser feito por um médico, preferencialmente psiquiatra. O ideal é um profissional que possua uma visão mais abrangente da alma humana. Como realizar o diagnóstico? Para a realização de qualquer diagnóstico, o médico deve ouvir as queixas que o paciente apresenta, juntamente com os fatos que ele e sua família relatam, além de pesquisar outras doenças concomitantes ou tratamentos prévios realizados. Sin- tomas isolados, tal como tristeza ou insônia devem ser exami- nados cuidadosamente para que se evite a realização de diag- nósticos imprecisos ou mesmo questionáveis. Esta é uma regra básica para manutenção da boa prática da Medicina em qual- quer especialidade, sendo de vital importância na Psiquiatria, onde exames laboratoriais são de importância apenas relativa.9 Mesmo nas depressões leves é importante estabelecer-se o diagnóstico diferencial.1 De maneira mais objetiva e articulada, são esses os sin- tomas psicológicos:15 IZAIAS CLARO32 a. Baixo astral. Na depressão, apresenta-se ele muito mais intenso do que nas tristezas comuns e passageiras. b. Ansiedade. Na ansiedade normal a pessoa sente-se algo inquieta e tensa, preparada para agir rapidamente ou fu- gir, se necessário. Na depressão, este estado se torna duradou- ro, podendo transformar-se em um traço do caráter. c. Embotamento emocional. O depressivo apresenta-se insensível, indiferente. É como se tivesse perdido seus senti- mentos. d. Pensamento depressivo. A pessoa tende a ver tudo pelo lado negativo e desenvolve um sentimento de culpa maior do que deveria sentir. e. Dificuldades de concentração e de memória. O de- pressivo sofre de monoideia ou ideia fixa, excessivamente concentrado no motivo do seu sofrimento, consumindo pre- ciosas energias. Por consequência, os problemas com a con- centração podem levar à indecisão e à falta de atenção, com a pessoa sentindo-se confusa e desorganizada. f. Delírios e alucinações. A pessoa perde o sentido da realidade. Delírio é uma convicção falsa, considerada inabalá- vel pela pessoa que o tem. A alucinação envolve a percepção de coisas que não são reais, geralmente sons. g. Impulsos suicidas. Quando o deprimido se encontra num estágio profundo de depressão, o passado lhe parece hor- rível e cheio de erros, o presente é terrível e [a pessoa] teme o futuro. Algumas pessoas chegam à conclusão de que não vale a pena continuar vivendo, que todo mundo ficaria melhor sem elas e que elas devem tirar a própria vida.15 São estes os elementos do pensamento depressivo: 1. Pensamentos negativos, por exemplo: ‘eu sou um fra- casso no trabalho.’ 2. Expectativas altas e irracionais, por exemplo: ‘eu não posso ser feliz a não ser que todos gostem de mim e pensem que sou eficiente no meu trabalho.’ 33VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO 3. Erros de julgamento. Exemplos: a) tirar conclusões negativas; b) focalizar os detalhes negativos de uma situação e ignorar os aspectos positivos; c) chegar a conclusões gerais base- ando-se em um único episódio; d) chegar à conclusão de que é culpado por coisas que não têm nada a ver com a pessoa.15 Os sintomas variam de pessoa para pessoa. Sintomas físicos15 a. Problemas de sono. Os deprimidos podem ter: 1. dificuldades para dormir (insônia); 2. períodos mais curtos de sono ou acordarem mais cedo. Os problemas com o sono geram cansaço e ansiedade. b. Lentidão mental e física. O deprimido sente-se can- sado e com dificuldades para executar as tarefas normais. Fala pouco, de forma lenta e monótona. Os movimentos se tornam também lentos, o que é chamado de retardo psicomo- tor. c. Perda de apetite. A pessoa não sente fome e o ali- mento lhe parece insosso. Com a perda do apetite, ocorre a perda de peso. d. Sintomas físicos reversos. São sintomas diferentes daqueles mencionados nas letras a e c. O deprimido dorme mais (hipersônia), tem mais apetite e ganha peso. e. Outros sintomas físicos. Dores e uma sensação de opressão são frequentes, afetando, na maioria das vezes a cabe- ça, face, costas, peito e intestino. Algumas pessoas imaginam que estãocom algum problema de coração. A dor é real, mas é causada pela depressão, não havendo nada errado com o ór- gão mencionado. f. Vida sexual. Ocorrendo o embotamento emocional, a pessoa não se sente capaz de estabelecer uma relação física de amor. Outras apresentam dificuldades no relaxamento. IZAIAS CLARO34 Dificuldades outras podem surgir. g. Depressão mascarada. A pessoa queixa-se de do- res, não se sentindo deprimida. As queixas mais comuns são de dores pelo corpo, dor de cabeça ou cansaço.15 Os sintomas variam de pessoa para pessoa. Sintomas da mania: 1. Euforia inadequada; 2. Irrita- bilidade inadequada; 3. Insônia grave; 4. Ideias de grandeza; 5. Aumento do discurso (tagarelice); 6. Pensamentos desco- nexos ou muito rápidos; 7. Aumento do interesse sexual; 8. Aumento acentuado da energia; 9. Redução do senso crítico; 10. Comportamento social inadequado.5 CONSEQUÊNCIAS Doenças psicossomáticas e somatopsíquicas No livro Depressão, dediquei um capítulo para as consequências da enfermidade ora examinada. E, pela sua importância, é mister tocar novamente no tema. No capítu- lo mencionado, algo comentei sobre o comprometimento do sistema imunológico, das enfermidades orgânicas, dos fato- res destrutivos da mente e da personalidade, das tragédias várias e do suicídio. Para se compreenderem bem as consequências da depressão, é preciso se tenha uma compreensão da criatu- ra humana como um todo. Não somos somente um corpo, condenado ao desaparecimento pelo fenômeno denominado 35VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO morte. Além dessa parte tangível, há outro elemento – intan- gível que preexiste e sobrevive ao corpo, que se denomina alma ou Espírito. Valhamo-nos do magistério do Dr. Marco Aurélio Dias da Silva: A crença na existência da alma sobrevivente ao corpo é das mais antigas. Ela nasceu possivelmente na confrontação de nossos longínquos antepassados com o fenômeno da morte, incluídos aí seu mistério, o medo que infundia [e infunde], a tentativa de sua negação como um fim último e inapelável e ainda a ‘persistente lembrança dos mortos’ e sua ‘visita’ duran- te os sonhos. A alma ou Espírito engloba tudo aquilo que sentimos, pensamos, desejamos, sonhamos etc. Há ligações e interações profundas e permanentes entre o corpo e a alma, soma e psique nas expressões gregas. Com tais interações e ligações, compreensível que o estado de um interfira na outra, e vice-versa. Denomina-se moléstia psicossomática a doença do corpo gerada por influência de um estado enfermiço da alma. As moléstias psicossomáticas são uma dor do corpo como expressão da dor da alma. Ocorre então o que se con- vencionou denominar somatização. Exemplos: dores de cabe- ça, enxaqueca, dores reumáticas, dores nas costas, úlcera, gas- trite, fígado, intestinos, obesidade, cardiovasculares, ‘derrame’, alergias etc. Denominam-se moléstias somatopsíquicas as enfer- midades da alma geradas como reflexo do corpo doente. Exemplos: neuroses, psicoses, ansiedades, angústias, depres- são, estresse etc. Doença é falta ou perturbação da saúde; moléstia, mal... Moléstia é incômodo ou sofrimento físico; sofrimento moral; aborrecimento, inquietação...2 IZAIAS CLARO36 Saúde é uma expressão que vem do latim salute, que significa salvação, conservação da vida. Ou seja, indivíduo saudável é aquele cujas funções orgânicas e mentais se acham em situação normal. O cérebro funciona como uma ponte entre o corpo e a alma, o soma e a psique. Para compreender como alma e corpo se interagem, é necessário compreender o funciona- mento do sistema nervoso, estudo que sugiro a você. Para contribuir, modestamente, ainda me baseando na obra do Dr. Marco Aurélio há pouco referida, anoto que o cérebro é o órgão-sede do Sistema Nervoso Central, é o quartel- -general de uma vasta rede de comunicações e de comando. É a sede da inteligência, dos atos conscientes e da sensibilidade. O Sistema Nervoso Periférico (SNP) e o Sistema Nervo- so Central (SNC) comandam ou respondem pela execução de todos os atos que obedecem a nossa vontade consciente: andar, mover os braços e mãos etc. O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é independente da nossa vontade consciente. É o responsável pelo funciona- mento automático dos órgãos: coração, estômago etc., compos- to por dois ramos, o simpático e o parassimpático. O simpático faz o trabalho de ativação. O cérebro emite ordens ao hipotála- mo, este se comunica com a glândula hipófise, que transfere o comando para as glândulas suprarrenais e outras estruturas espalhadas pelo organismo, provocando o aumento da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, sendo tudo isso possível pela ação das substâncias denominadas catecolaminas (adrenalina, noradrenalina). O parassimpático exerce a função de freio, acalmando o organismo. No hipotálamo encontra-se a sede das emoções. Men- cione-se ainda a existência do Sistema Límbico, que faz a su- pervisão e a coordenação dos diferentes centros reguladores das relações entre o cérebro e os outros órgãos internos. Não apenas 37VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO regula as atividades dos órgãos, como também participa das experiências afetivas. Pelos caminhos, aqui resumidamente mencionados e descritos, transitam os afetos e os desafetos, que auxiliam ou agridem o corpo. Quando a criatura se conduz por pensamentos e sen- timentos positivos, consome pouca quantidade de energia, mantendo-se saudável por um maior período. Quando o ser se deixa consumir por pensamentos e sentimentos negativos, aumentando consideravelmente o sofrimento, gasta um maior volume de energia psíquica, que causa a destruição e a morte, em virtude da desorganização do sistema, suportando as ma- léficas consequências das tensões internas. Os profissionais da área médica valem-se da expres- são entropia, emprestada à física. Entropia é a quantidade de energia necessária à manutenção de um sistema. Quanto mais elevado o nível de energia, mais próximo da desorganização e da destruição estaria esse sistema. Ou seja, quanto mais consumo de energia em virtude da depressão (para nos atermos ao tema) maior a possibilidade de a criatura enfermar-se, pois a homeostase (equilíbrio inter- no) está agora comprometida, como, também, o sistema imu- nológico que tem a missão de proteger/defender o organismo. Comprometidos o sistema de defesa e o equilíbrio interno, sur- gem as doenças ou o agravamento das doenças já existentes.16 Outra obra muito oportuna foi elaborada por Thorwald Dethlefsen e Rudiger Dahlke. Também esses au- tores compartilham do entendimento segundo o qual o ser humano é um todo composto de corpo e alma formando uma unidade. Trabalhando com a medicina psicossomática, asse- veram eles que a doença do corpo é uma expressão da do- ença da alma e que é possível, partindo-se do órgão afetado, chegar-se às razões profundas do adoecer.17 A depressão é fator de risco para diversas doenças, IZAIAS CLARO38 principalmente as cardiovasculares. Segundo o cardiologista Marcos Benchimol, 30% dos pacientes que chegam pela pri- meira vez ao seu consultório com sintomas cardíacos estão em depressão ou já manifestam a doença. Segundo ele um estu- do sobre o assunto foi desenvolvido entre dois grupos: com e sem depressão. Foi constatado que as pessoas deprimidas têm 60% a mais de chance de desenvolver doenças como a isquemia (entupimento das coronárias) do que o grupo sem depressão. Além disso, os pacientes com sintomas da depressão registra- ram mortalidade 40% a mais que o segundo grupo. Para Ben- chimol, esse dado deve servir de alerta para os médicos.18 SUICÍDIO O suicídio é, de todas, a consequência mais difícil e lamentável, tanto para aquele que se impõe essa solução falsa como para os familiares e amigos. Como anotadono livro Depressão, estes atravessarão largo período da existência se perguntando: o que aconteceu para que ele/ela fizesse isto? e agora, o que será de nosso ente querido? como ficaremos nós sem a sua presença amada e com essa profunda dor? onde e como teremos falhado para com ele/ela?...19 Certos fatores aumentam o risco de suicídio. Citem-se os seguintes: 1. desesperança; 2. morar sozinho; 3. idade avan- çada; 4. sexo masculino... Os antecedentes devem ser levados em conta, tais como tentativas anteriores de suicídio, tentativas de suicídio ou suicídio na família, história familiar de uso de drogas ou álcool. Outras doenças não psiquiátricas, psicoses e uso de drogas ou álcool são outros fatores de risco de suicídio.12 Relato o caso seguinte para ilustrar, consoante narra- do pelo próprio enfermo, profundamente infeliz: casado há 39VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO 19 anos, pai de dois filhos com treze e dez anos de idade, há dez meses encontrava-se separado da esposa e dos filhos, que ficaram sob a guarda da ex-companheira. Os três mudaram-se para uma cidade de outro estado. A partir da separação e em face da distância dos afetos, passou a ingerir bebida alcoólica de maneira excessiva, reconhecendo-se em profunda tristeza. Não procurou por atendimento médico ou psicológico. Em uma sexta-feira, ficou praticamente o dia inteiro dentro do quarto de sua residência e, terminado o expediente do seu estabele- cimento comercial, encontrando-se completamente sozinho, passou a ingerir bebida alcoólica embriagando-se ao ponto de não conseguir conciliar o sono. Por volta das quatro horas da manhã resolveu pôr fim à sua vida, intenção esta acalentada há uma semana e, agindo como deliberara, tentou matar-se, felizmente sem êxito em virtude de ter sido eficazmente socor- rido. Em prantos comentou da depressão profunda em que se encontrava. Pelo que se observa em muitas ocasiões, o que a pes- soa efetivamente deseja não é matar a vida, mas tentar elimi- nar aquilo que a está matando, que é a sua profunda tristeza, a sua amargura, o seu desencanto e o desgosto da vida. Todos os pacientes com depressão grave devem ser ava- liados quanto ao risco de suicídio, por meio de perguntas di- retas sobre ideias, impulsos suicidas e histórias por tentativas anteriores de suicídio. Pode-se preceder as perguntas com uma explicação de que é frequente que pessoas em estado depressivo pensem mais em morte ou achem a vida um fardo excessivo ou desejem morrer. Os pacientes sentem-se reconfortados quando entendem que ideias suicidas são um sintoma comum de de- pressão e não um sinal de loucura. Se o suicídio parece ser um risco evidente (quando exis- tem planos específicos ou fatores de risco significativos), con- sulte um médico imediatamente, outro profissional da saúde IZAIAS CLARO40 mental ou alguém que possa prestar imediata assistência. O paciente pode precisar de cuidados especializados ou interna- ção.12 Recordemos aos necessitados de assistência que o suicídio é falta grave e que nada resolve. A Vida, concessão de Deus!, é um bem indisponível, com objetivos superiores. Portanto, criatura alguma pode dispor do que não lhe pertence com exclusividade, sob pena de comprometer-se profundamente. Allan Kardec, ao organizar a Doutrina Espírita, abor- dou esse tema, dedicando várias questões a ele. Perguntou o Codificador às Entidades venerandas se tem o homem o direi- to de dispor da sua vida, delas obtendo por resposta: não; só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário importa numa transgressão desta lei.20 Vários fatores e causas podem levar alguém ao gesto extremo do autocídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de in- conscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particula- res que se lhe apontem. O desgosto da vida que se apodera de certos indivíduos, levando muitos ao suicídio, nasce como efei- to da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade.20 Haja o que houver, portanto, que continuemos aman- do a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mes- mos. Estejamos absolutamente certos de que com o amor podemos superar tudo, tudo mesmo. Não há dificuldade ou desafio existencial, por mais grave e complexo, que não se possa vencer com esse sentimento divino por natureza. O amor é Deus em nós e com Ele tudo podemos! Viver intensamente! Nisso encontramos a plenitude, a felicidade, a paz... 41VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO E se algum afeto partiu através da porta falsa do sui- cídio, ainda assim, que não nos permitamos a desesperação sem consolo. Se com a Doutrina Espírita aprendemos que o ato é falta grave, também com ela aprendemos que não há crime irremissível, que para Deus tudo é possível e, no momento oportuno e por meio de recursos diversos, o ser querido será resgatado e conduzido à recuperação, pois o Pai não quer a morte do pecador, mas que ele se arrependa e viva, consoante anotado nas Escrituras. O Espiritismo nos ensina e nos demonstra, pela me- diunidade educada e bem conduzida, que é possível e útil a oração confiante em favor dos afetos infelizes, auxiliando-os na superação da tormenta. Allan Kardec perguntou aos nobres Instrutores: será útil que oremos pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? E, nesse caso, como lhes podem as nossas preces proporcionar alí- vio e abreviar os sofrimentos? Tem elas o poder de abrandar a justiça de Deus? 20 E os Espíritos lhe responderam: “a prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma por quem se ora experimenta alívio, porque recebe assim um tes- temunho do interesse que inspira àquele que por ela pede e também porque o desgraçado sente sempre um refrigério, quando encontra almas caridosas que se compadecem de suas dores. Por outro lado, mediante a prece, aquele que ora concita o desgraçado ao arrependimento e ao desejo de fazer o que é necessário para ser feliz. Nesse sentido é que se lhe pode abreviar a pena, se, por sua parte, ele secunda a pre- ce com a boa vontade. O desejo de melhorar-se, despertado pela prece, atrai para junto do Espírito sofredor Espíritos me- lhores, que o vão esclarecer, consolar e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas desgarradas, mostrando-vos, desse IZAIAS CLARO42 modo, que culpados vos tornareis, se não fizésseis o mesmo pelos que mais necessitam das vossas preces.” 20 Como sugestão, registro esta prece por um suicida, constante de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Sabemos, ó meu Deus, qual a sorte que espera os que violam a tua lei, abreviando voluntariamente seus dias; mas, também sabemos que infinita é a tua misericórdia. Digna-te, pois, de estendê-la sobre a alma de N... Possam as nossas preces e a tua comiseração abrandar a acerbidade dos sofri- mentos que ele está experimentando, por não haver tido a coragem de aguardar o fim de suas provas. Bons Espíritos, que tendes por missão assistir os des- graçados, tomai-o sob a vossa proteção; inspirai-lhe o pesar da falta que cometeu. Que a vossa assistência lhe dê forças para suportar com mais resignação as novas provas por que haja de passar, a fim de repará-la. Afastai dele os maus Espí- ritos, capazes de o impelirem novamente para o mal e pro- longar-lhe os sofrimentos, fazendo-o perder o fruto de suas futuras provas. A ti, cuja desgraça motiva as nossas preces, nos di- rigimos também, para te exprimir o desejo de que a nossa comiseração te diminua o amargor e te faça nascer no íntimo a esperança de melhor porvir! Nas tuas mãos está ele; confia na bondade de Deus, cujo seio se abre a todos os arrependi- mentos e só se conserva fechado aos corações endurecidos.”21 O LUTO Luto pode ser definido comoum sentimento de dor pela morte ou perda de algo ou alguém que, para nós, tenha importância.15 43VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO Há pontos de contato entre o luto e a depressão. É possível que ocorra uma depressão com o advento do luto, embora este acontecimento não seja uma regra. Como o luto pode apresentar alguns dos sintomas da depressão, pode ser confundido com ela, mas, um e outra são estados diferentes. O luto, conquanto seja muito doloroso, em regra não exige tratamento médico. Existem o luto normal e o luto anormal.15 O luto normal faz parte da vida e todos o experimen- tamos em algumas oportunidades. Quando normal, apresenta três fases bem distintas. Alguns estudiosos falam em quatro e até cinco fases, a de- pender das circunstâncias e das condições das pessoas envol- vidas. As três fases: 1. embotamento; 2. período de sofrimento pela perda; 3. aceitação.15 A fase do embotamento pode durar de algumas ho- ras a uma semana. Nesse período o enlutado pode sentir-se fragilizado emocionalmente ou ter dificuldade em admitir a morte do ente querido. Recordo-me de uma genitora que me procurou, acompanhada de sua filha. Ambas atravessavam um período de luto extremamente doloroso. O filho e irmão (com pouco mais de trinta anos de idade!) sofrera um infar- to fulminante. O embotamento da genitora era tão profundo que, não aceitando a realidade da morte, prosseguia espe- rando o retorno do filho nos mesmos horários em que ele costumava retornar para casa, e prosseguia cuidando de suas roupas, do seu quarto e a preparar os alimentos que eram postos regularmente à mesa. O período de sofrimento pela perda, em regra, dura de uma semana a seis meses (ou um pouco mais), sendo mais intenso nos primeiros três meses, e mais leve a partir de então. É muito comum, nessa fase, o enlutado sentir tristeza, ter pou- IZAIAS CLARO44 co apetite, chorar muito, ficar agitado ou ansioso e ter reduzi- da sua concentração, dependendo das circunstâncias em que ocorreu a morte. O enlutado pode sentir-se culpado ou achar que não fez o suficiente pelo falecido. É comum, também, o enlutado acusar o profissional que atendeu o caso ou acusar os amigos e a família pelo sucedido. Também podem apresentar-se sintomas físicos, como algumas dores localizadas.15 A aceitação do acontecimento que provocou o luto se dá a partir dos seis meses (às vezes um pouco depois). O en- lutado, diante da irreversibilidade da situação, aceita a morte da pessoa querida e esforça-se para retomar a normalidade da vida, o que demandará ainda algum tempo. A partir dessa fase, os sintomas experimentados du- rante o período de perda vão diminuindo gradativamente. Sendo o luto uma experiência normal, assim como os sen- timentos experimentados, o ideal é o seu enfrentamento da maneira mais natural e corajosa possível, porque se não hou- ver este enfrentamento o luto poderá arruinar espiritualmen- te e organicamente a pessoa, levando-a a uma depressão, ao comprometimento da qualidade de vida. Desaconselhável, portanto, o uso de medicação. Se houver comprometimento do nível de sono, pode ser que os profissionais indiquem um calmante para ensejar à pessoa o repouso necessário, mas que essa medicação não sirva para reprimir o luto, que precisa ser vivenciado em todos os seus estágios.15 No enfrentamento do luto, o ideal é que a pessoa se apoie na família e nos amigos, embora também estes em mui- tas ocasiões estejam necessitados do mesmo apoio. Existem grupos especializados que podem contribuir muito positivamente para que o enlutado atravesse esse pe- ríodo. Se for o seu caso, não se constranja e busque a ajuda necessária. Esses grupos estão em condições de auxiliar você no enfrentamento e na superação dessa dor. 45VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO É muito importante abrir-se um espaço para que uma pessoa de luto fale sobre seus sentimentos. A maioria pensa que deve dizer-lhe que o falecido era uma ótima pessoa, mas isso, frequentemente, não é o apoio de que se necessita. Ela precisa de espaço para falar sobre como se encontra emo- cionalmente. Necessita que lhe seja permitido dizer dos seus medos, das suas angústias e ansiedades, como se sente, se culpada ou com raiva, o quanto lamenta por ter dito alguma coisa desagradável ao falecido e como a morte lhe faz lembrar sua própria fragilidade. Também tive oportunidade de atender a uma outra senhora e à sua filha, esta com aproximadamente trinta anos de idade. Enquanto a primeira recordava a felicidade vivida no casamento, narrando as vivências saudáveis e alegres, a segunda, a filha, apresentava-se profundamente triste ao re- conhecer que falhara em alguns pontos no relacionamento com o genitor, a quem não dera a atenção e o afeto devidos. Todos esses pensamentos e sentimentos são normais e necessitam ser expressos. O comportamento anormal no luto15 Há os que não conseguem passar com segurança e tranquilidade, ainda que relativas, pelos estágios do luto. Os que não atravessam os períodos normais, defron- tam-se com problemas persistentes. Foi o que ocorreu com minha mãezinha, que faleceu sem se conformar com a ocor- rência. Outros julgam difícil contristar-se e não reconhecem a morte de maneira nenhuma. Algumas pessoas sentem-se consumidas por uma raiva intensa ou por sentimentos de IZAIAS CLARO46 traição, que duram meses e até anos. Participando do Encontro para o Estudo da Ciência Espírita, em Poços de Caldas/MG, após uma palestra atendi a uma senhora nesse estado de raiva intensa. E sua raiva era contra Jesus, a quem culpava pela morte do filho! O tema da palestra foi Jesus, Modelo e Guia da Humanidade e, felizmen- te, a abordagem auxiliou a mãezinha sofrida a perceber que não era Jesus o responsável por sua desdita, reconciliando-se com Ele e libertando-se daquela raiva que a consumia! Em quadros dessa natureza, oportuna e necessária a as- sistência médica ou de terapeutas/orientadores para o auxílio. Causas de um pesar intenso Embora a morte de uma pessoa seja sempre difícil de suportar (especialmente das mais próximas e amadas), cer- tas situações tornam o pesar ainda mais intenso: se a morte é repentina e inesperada; se a morte resulta em culpa para o sobrevivente; quando uma criança morre; quando o pai ou a mãe de uma criança pequena morre; quando um adulto era dependente da pessoa que morreu; quando o sobrevivente tem dificuldades em expressar seus sentimentos; quando o sobrevi- vente está em fase de adaptação a uma perda recente; quando o sobrevivente está socialmente isolado; quando o sobrevivente tem filhos dependentes.15
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