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Isaías Claro Depressão inc

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19VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
CAPÍTULO 1
DEPRESSÃO
ABORDAGEM INICIAL
Realizando um seminário em torno do tema depres-são e ensejando a participação por meio de questio-namentos por escrito, uma jovem, com objetividade, narrou e ao final indagou:
 Conquistei tudo o que queria na vida. Hoje frequento a 
faculdade, tenho uma família maravilhosa, sou uma pessoa jo-
vem, sofro de uma depressão clinicamente comprovada e neces-
sito de ajuda para o tratamento. Sou alegre por fora e quem me 
olha não diz que sou profundamente triste. Tenho sensações 
de que, às vezes, até Jesus se esquece de mim, embora eu seja 
uma pessoa religiosa. Por que sou deprimida sem ao menos ter 
muita experiência de vida?
 Esse é somente um entre tantos casos. Em todos esses 
anos de vida profissional e razoável atividade no movimen-
to espírita, tenho compartilhado das experiências de muitas 
criaturas sofridas. Recordo-me, também, de uma senhora 
profundamente triste. Procurou-me ela dizendo que o filho, 
nos últimos meses, passara a ter um comportamento inade-
quado, insuportável. Tornara-se um dependente químico, con-
sumindo drogas muito pesadas, mudando radicalmente seu 
comportamento, sendo agora um rapaz desempregado, ocioso, 
violento, e para manter o vício e quitar as dívidas contraídas 
com os traficantes, vinha subtraindo objetos da própria casa, 
vendendo-os por preço irrisório. Não bastasse isso, vinha ame-
açando-a de maneira a causar-lhe muita apreensão e medo. 
IZAIAS CLARO20
E ela, na sua aflição, indagava-me o que fazer para auxiliar 
o filho, o que fazer para manter-se segura e tranquila, ela que 
se encontrava separada do marido há muitos anos e dependia 
exclusivamente do seu trabalho para sobreviver...
 A depressão é uma enfermidade muito comum. Afe-
ta milhões de criaturas em todo o mundo e todos os anos 
milhões de novos casos são diagnosticados. Trata-se de uma 
doença que pode atingir pessoas de todas as idades, indepen-
dentemente das condições social, econômica e cultural, mas, 
especialmente as mulheres estão mais expostas a esse mal, 
que pode atingir estágios tão graves ao ponto de levar o pa-
decente ao suicídio.3 
 Importante revista realizou oportuna reportagem 
sobre depressivos célebres, citando Beethoven, um homem 
amargurado, taciturno, vítima de amores frustrados, que 
morreu praticamente ao som da sua jubilosa nona sinfonia. 
Outros foram citados pela reportagem, como, por exemplo, 
Abraham Lincoln, Presidente dos Estados Unidos. Escreveu 
Lincoln: sou o homem mais infeliz do mundo. Se os meus sen-
timentos fossem distribuídos por toda a família humana, não 
haveria um só rosto sorridente sobre a terra. Não posso prever 
se um dia apresentarei melhoras, a minha previsão é que isso 
não acontecerá. Ficar como estou é impossível, preciso melho-
rar ou morrer.4 
 O custo do sofrimento humano não pode ser avalia-
do. O depressivo sofre muito e sofrem também aqueles que 
o amam, aqueles que o cercam. A depressão pode destruir a 
vida familiar, a vida profissional e todos os demais interesses 
do enfermo.
 Há depressivos que ignoram a própria enfermidade. 
São os não diagnosticados e consequentemente não submeti-
dos a tratamento. E há os diagnosticados que vêm se subme-
tendo a regular tratamento. Estes, evidentemente, estão em 
21
melhores condições em virtude da assistência e do acompa-
nhamento médico-psicoterápico, e acompanhamentos ou-
tros. 
 Há deprimidos que, ignorando o próprio estado, 
lamentavelmente, nem sempre demonstram interesse em 
compreender o que se passa, não procurando tratamento e 
vivendo com uma comprometida qualidade de vida, experi-
mentando sofrimentos desnecessários. Há medicamentos e 
diversas terapias disponíveis, que podem minimizar de ma-
neira muito importante o quadro vivenciado pelo depressivo, 
e até curá-lo, pois a depressão tem cura.
 Agradecendo o seu interesse por esta obra simples, 
desde já sugiro a você uma leitura atenta. E não será demais 
a leitura repetida, detendo-se nos pontos que digam mais de 
perto às suas necessidades ou às necessidades das pessoas a 
quem você deseja auxiliar. Estude e aprenda o mais possível 
sobre o tema.
 Estando em depressão, empenhe-se por fazer a sua 
parte, também procurando e aceitando a ajuda que lhe ofe-
reçam. Como já afirmado, a depressão tem cura e não há ne-
cessidade de você permanecer com esse sofrimento indefini-
damente.
 Não se encontrando enfermo, igualmente envide es-
forços no sentido de prevenir-se, de tal modo que diminua 
sensivelmente a possibilidade de você vir a cair nesse abismo. 
Informando-se e prevenindo-se, poderá também auxiliar 
com eficiência os que necessitam superar a enfermidade.5 
 Entrego a você este doce e sugestivo poema do Espí-
rito Maria Dolores: 
 Dizes que sofres angústias,
 Até mesmo quando em casa,
 Que a tua dor extravasa
 Nas cinzas da depressão.
IZAIAS CLARO22
 Que não suportas a vida,
 Nem te desgarras do tédio,
 O fantasma, em cujo assédio,
 Afirmas que tudo é vão.
 Depressão? Alma querida,
 Se tens apenas tristeza.
 Se te sentes indefesa,
 Contra a mágoa e dissabor,
 Sai de ti mesma e auxilia
 Aos que mais sofrem na estrada.
 A depressão é curada
 Pelo trabalho do amor.6
 O QUE É DEPRESSÃO?
 A depressão – dizem os especialistas - é um dos qua-
tro distúrbios psiquiátricos mais frequentes.5
 É estudada há milênios, não sendo uma doença que 
decorre somente da vida agitada dos dias atuais. Atinge pes-
soas de todos os países, regiões e condições.7 
 Sendo uma doença, é preciso se eliminem todos os 
preconceitos em torno dela, que está longe de ser uma sim-
ples desculpa para a pessoa, por exemplo, não trabalhar e não 
se manter vinculada à vida, desincumbindo-se de suas obri-
gações.
 A definição da doença começa com Hipócrates, o Pai 
da Medicina, que descreveu a melancolia como um estado 
de aversão à comida, desespero, falta de sono, irritabilidade e 
inquietação.8 
 De acordo com Galeno, a melancolia se manifesta em 
consequência dos medos, do descontentamento com a vida e 
do ódio a todas as pessoas. 
23VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
 Depressão é um estado anormal de tristeza.9 
 É uma tristeza profunda e prolongada.
 É denominada também transtorno do humor.
 Como já registrado, é uma síndrome que se caracte-
riza fundamentalmente por três sintomas: tristeza, inibição 
psicomotora e inibição do fluxo do pensamento.6 
 No livro Depressão - Causas, Consequências e Trata-
mento (Editora O Clarim, de Matão/SP), consignei que de-
pressão é um estado de espírito de melancolia, tristeza ou de-
sespero. A intensidade e a duração desse estado dependem da 
personalidade, dos fatores que desencadeiem o processo e da 
situação atual da vida do paciente.
 Na mesma obra mencionei que a tristeza normal 
é uma reação saudável a qualquer infortúnio, segundo o Dr. 
John Bowlby e que tristezas de domingo ou em dias chuvosos 
não são consideradas depressão.
 Um dos maiores problemas associados a quadros de-
pressivos, ainda, é a falta de informação.
 Muitos deprimidos, fechados em si mesmos, sem a 
assistência adequada, não sabem que não há necessidade de 
sofrer a dor da enfermidade, sozinhos, em silêncio e distantes 
de uma ajuda competente.
 Número considerável debate-se contra a depressão 
sem saber que sofre dessa doença. Essa luta lhes rouba a pou-
ca energia que resta. Com isso, ficam piores, mais irritados e 
impacientes, como a mulher que me procurou na Casa Es-
pírita e, conquanto estivesse com uma depressão profunda 
e necessitando de ajuda, apresentava-se inquieta e colérica, 
respondendo com indelicadeza, incapaz de perceber que o 
objetivo único era o de auxiliá-la.1 
 Muitas vezes o deprimido não reconhece que está 
sendo vítima desse mal. De outras, os sintomas levam a pes-
soa a uma prostração física, deixando-a desmotivada e sem 
IZAIASCLARO24
vontade ou energia para procurar auxílio médico.10 
 Segundo informações confiáveis, menos de um terço 
dos depressivos passam por tratamento tendo o diagnóstico 
da enfermidade. Com o desconhecimento do que se passa, a 
depressão pode vir a complicar-se por falta de adequada as-
sistência, podendo ainda ocorrer que o diagnóstico de outras 
enfermidades fique igualmente comprometido. 
 Prudente não confundir a depressão com as tristezas 
comuns, que são uma reação normal aos problemas e difi-
culdades da vida. As tristezas experimentadas em situações 
de crise não podem ser consideradas depressão, posto que 
essas tristezas não são uma enfermidade. É humano e perfei-
tamente compreensível que apresentemos reações de tristeza 
ante situações desagradáveis, desconfortáveis etc.
 Depressão não pode ser confundida com uma sim-
ples fossa, um baixo-astral passageiro, pois é uma doença e 
como tal necessita de tratamento específico, sobretudo nos 
graus moderado e grave. É uma doença que afeta a pessoa 
como um todo.5
 A enfermidade ora examinada é mais que o abati-
mento comum que todos sentem de vez em quando, e que 
passa diante de acontecimentos positivos, ainda que corri-
queiros, como a visita de um amigo, um passeio, uma cami-
nhada, uma boa notícia.
 Depressão não pode ser confundida com o luto pela 
perda de algo ou alguém, como veremos em tópico específi-
co. Como o humor se apresenta no luto, além de necessário, 
é uma reação normal, mas se esse humor persistir por tempo 
não razoável, a pessoa pode já estar sofrendo de depressão 
clínica.11 
 Como diferenciar a tristeza normal da depressão?
 A pessoa deprimida sabe que os seus sentimentos di-
ferem de uma tristeza anteriormente sentida. No estágio mais 
25VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
grave, as pessoas se isolam, perdem o interesse, algumas pro-
curando ocupar-se ao máximo numa tentativa de afastar o 
mal-estar sentido. Podem ficar mal-humoradas e insatisfeitas 
com todos e com tudo.
 Sendo uma doença, com ela vem a dificuldade de pla-
nejar o futuro, que se afigurará sombrio e sem esperança. É 
frequente a depressão acentuar-se pela manhã, com a pes-
soa apresentando-se ansiosa, apática e sem disposição para 
levantar-se ou cuidar da higiene pessoal, como, por exemplo, 
tomar banho ou barbear-se. No decorrer do dia pode ocorrer 
discreta melhora.9 
 O depressivo é alguém que necessita de compreensão, 
apoio e assistência, ainda que, em virtude da situação em que 
se encontre, não contribua ele, de início, para a própria recu-
peração.
 Em capítulo próprio, veremos que o depressivo mere-
ce e necessita ser encaminhado com toda a diligência a con-
veniente assistência, a mais ampla possível. Uma das atitudes 
a ser adotada com a brevidade possível é a de se encaminhar 
o necessitado a um clínico geral, que está apto do ponto de 
vista acadêmico e profissional a dar o primeiro e pronto aten-
dimento. Isso não impede que se procure outro profissional e 
pessoas aptas a dar eficaz atendimento.12 
 Embora a expressão saúde mental possa ter significa-
dos diferentes para diferentes pessoas, a autoestima elevada e 
a capacidade de estabelecer relações afetivas com outras pes-
soas são componentes importantes da saúde mental univer-
salmente aceitos.
 Pessoas mentalmente saudáveis compreendem que 
não são perfeitas nem podem ser tudo para todos. Elas viven-
ciam uma vasta gama de emoções, incluindo tristeza, raiva e 
frustração, assim como alegria, amor e satisfação.
IZAIAS CLARO26
 Os mentalmente saudáveis são capazes de enfrentar 
os desafios e as mudanças da vida cotidiana, e sabem procu-
rar ajuda quando surjam dificuldades em lidar com traumas 
e transições importantes, como perda de pessoas queridas, 
conflitos conjugais, problemas escolares e profissionais ou a 
perspectiva da aposentadoria.13 
 Sendo uma doença, uma vez instalada segue seu pró-
prio curso exigindo tratamento adequado.
 Por essa razão a simples realização de viagens, a ida 
a restaurantes, a aquisição de produtos diversos como roupa 
nova, por exemplo, não bastam para a sua cura.
 Com a Doutrina Espírita, aprendemos que esses es-
tados de tristeza ou depressão podem, também, ser oriun-
dos de outras encarnações, efeitos de condutas equivocadas. 
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo cinco, temos 
uma página específica sobre a depressão com o título a me-
lancolia, cuja leitura e assimilação muito podem ajudar.
 Consoante se pode inferir da página transcrita a se-
guir, existem as tristezas úteis e as tristezas inúteis. Estas são 
as que mais comumente se observam na vida de milhões de 
criaturas humanas, e decorrem de condutas inadequadas e 
danosas. E isso se dá quando o ser se permite uma filosofia 
essencialmente fisiológica, excessivamente centrada nos inte-
resses imediatos da existência terrena. As tristezas úteis são 
as que convocam a criatura a buscar uma vida mais alta, 
além e acima dos interesses utilitaristas do estágio carnal.
 Texto do apóstolo Paulo: porque a tristeza, segundo 
Deus, opera arrependimento para a salvação, o qual não traz 
pesar; mas a tristeza do mundo gera a morte. (Paulo, aos Ro-
manos, 7:10).
 Conforme observamos na advertência de Paulo há 
‘uma tristeza segundo Deus’ e outra segundo ‘a terra’.
 A primeira soluciona problemas pertinentes à vida ver-
27VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
dadeira, a segunda é caminho para a morte, como símbolo de 
estagnação, no desvio dos sentimentos.
 Muita gente considera virtudes a lamentação incessan-
te e o tédio continuado.
 Encontramos os tristes pela ausência de dinheiro aos 
excessos; vemos os torturados que se lastimam pela impossibili-
dade de praticar o mal; ouvimos os viciados na queixa doentia, 
incapazes do prazer de servir sem aguilhões; essa é a tristeza do 
mundo que prende o Espírito à teia de reencarnações corretivas 
e perigosas.
 Raros homens se tocam da ‘tristeza segundo Deus’. 
Muitos poucos contemplam a si próprios considerando a ex-
tensão das falhas que lhes dizem respeito, em marcha para a 
restauração da vida, no presente e no porvir.
 Quem avança por esse caminho redentor, se chora ja-
mais atinge o plano do soluço enfermiço e da inutilidade, por-
que sabe reajustar-se valendo-se do tempo a golpes benditos de 
esforço para a nova edificação do destino.14
 TIPOS E GRAUS
 Tipos
 Como se dá com outras, as doenças depressivas ma-
nifestam-se de diversas maneiras. Há, pois, vários tipos.
 A depressão pode ser persistente ou recorrente. 
 Alguns termos usados pela Ciência para descrever 
a depressão: reativa (transtornos de adaptação); endógena 
(transtornos depressivos); neurótica; psicótica; bipolar (trans-
torno afetivo bipolar); unipolar (transtorno unipolar); agita-
IZAIAS CLARO28
da; retardada; distimia; mascarada; orgânica; breve recorren-
te; transtorno afetivo sazonal (TAS). 
 Segundo a Ciência especializada, são três os tipos 
mais frequentes, com variações entre eles quanto ao número, 
gravidade e duração dos sintomas: depressão maior, distimia 
e transtorno afetivo bipolar.5
 Os transtornos depressivos alteram o modo como as 
pessoas pensam, sentem e se comportam. Impedem que o 
seu portador desfrute os prazeres normais da vida, que pare-
cem ser coisas do passado.13 
 Registre-se mais uma vez o seguinte: ao contrário do 
baixo astral que todos apresentamos às vezes, a depressão se 
prolonga e se torna mais grave do que se poderia atribuir a 
certos acontecimentos da vida diária.13 
 
 Graus
 Sendo a depressão uma doença, é muito diferente dos 
sentimentos normais de tristeza ou de baixo astral, pois afeta 
acentuadamente os pensamentos, os sentimentos e o compor-
tamento.
 Alterações dos padrões de comportamento são sinais 
característicos de que a depressão pode estar escapando ao 
controle e de que se deve procurar ajuda.13
 Tendo em vista a intensidade,pode-se classificar a de-
pressão em leve, moderada e grave.
 A experiência e a observação demonstram que não há 
necessidade de tratamento com medicamentos no grau leve. 
 No grau leve, o baixo astral pode ir e voltar e a doença 
frequentemente se inicia após um acontecimento desagradável 
ou estressante. A pessoa pode sentir ansiedade ao mesmo tem-
po em que se sente por baixo.
29VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
 As mudanças do modo de vida são, frequentemente, 
os únicos meios necessários para sustar esse tipo. 
 No grau moderado, o baixo astral é persistente e há a 
manifestação de sintomas físicos, que variam de pessoa para 
pessoa. As mudanças do estilo de vida não podem, por si 
sós, produzir resultados satisfatórios definitivos, e o auxílio 
de médicos, psicoterapeutas e de outras pessoas aptas se faz 
necessário. 
 No grau grave, os sintomas são intensos e podem pôr 
em risco a vida do enfermo. A pessoa sente sintomas físicos 
e psicológicos, podendo ter delírios e alucinações se a doen-
ça apresentar-se na modalidade psicótica. É importante que 
o deprimido seja encaminhado a um médico o mais rápido 
possível.15 
 SINTOMAS PSICOLÓGICOS 
E FÍSICOS
 
 Às vezes, a depressão clínica pode se parecer com ou-
tras doenças que produzem sintomas como dores de cabeça, 
dores lombares ou articulares, problemas digestivos ou outros 
tipos de mal-estar. Pessoas mais idosas, quando deprimidas, 
frequentemente se queixam desses problemas ao invés de se 
queixarem de ansiedade, cansaço ou tristeza.
 Alguns sintomas da doença como lapsos de memória e 
dificuldade de concentração podem imitar a doença de Alzhei-
mer (um tipo de demência) ou outras doenças.
IZAIAS CLARO30
 Sintomas semelhantes podem ser causados, também, 
por outros problemas físicos ou por medicamentos frequente-
mente usados por pessoas idosas. Portanto, para um diagnósti-
co adequado, é importante submeter-se o paciente a um exame 
médico minucioso para que sejam excluídas outras doenças.11
 As sensações na depressão são estritamente individu-
ais, mas o médico, o orientador ou outro profissional pode 
identificar os inúmeros tipos da doença pela causa, pelos sin-
tomas ou pela duração. 
 Sintomas 
 psicológicos
 Sentimentos persistentes de inadequação, tristeza, 
desamparo, desesperança, pessimismo excessivo e perda da 
autoconfiança são alguns dos sintomas da enfermidade. Pes-
soas deprimidas frequentemente se afastam dos amigos, de 
seus entes queridos e de ocupações e passatempos habituais, 
que anteriormente lhes eram agradáveis. Podem apresentar 
um sono mais curto e outras podem procurar alívio em ali-
mentação e sono excessivos.
 Indivíduos deprimidos são os que possuem maior 
probabilidade de considerar o suicídio como uma solução, 
dominados por um pessimismo intenso. Portadores de ou-
tros distúrbios mentais e emocionais também podem ter 
ideias suicidas. Durante os períodos de crise, as pessoas de-
vem procurar companhia, evitando se isolar. 
 Os deprimidos podem apresentar alterações bruscas 
de humor e de comportamento. Essas alterações não incluem 
atitudes deliberadas com a finalidade de adaptação à situa-
ção. Refiro-me a alterações de humor e comportamento que 
31VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
refletem profundas alterações nos hábitos normais ou no modo 
de pensar da pessoa, por exemplo, o bom aluno cujas notas 
diminuam abruptamente ou a pessoa controlada, que repen-
tinamente comece a gastar grandes somas de dinheiro. Muito 
provavelmente essas pessoas estejam apresentando problemas 
emocionais.13
 Quando identificamos que uma pessoa está com essa 
enfermidade?
 A depressão é, segundo os profissionais da saúde 
mental, sempre patológica. Por isso, o diagnóstico deve ser 
feito por um médico, preferencialmente psiquiatra. O ideal 
é um profissional que possua uma visão mais abrangente da 
alma humana.
 Como realizar o
 diagnóstico?
 Para a realização de qualquer diagnóstico, o médico 
deve ouvir as queixas que o paciente apresenta, juntamente com 
os fatos que ele e sua família relatam, além de pesquisar outras 
doenças concomitantes ou tratamentos prévios realizados. Sin-
tomas isolados, tal como tristeza ou insônia devem ser exami-
nados cuidadosamente para que se evite a realização de diag-
nósticos imprecisos ou mesmo questionáveis. Esta é uma regra 
básica para manutenção da boa prática da Medicina em qual-
quer especialidade, sendo de vital importância na Psiquiatria, 
onde exames laboratoriais são de importância apenas relativa.9
 Mesmo nas depressões leves é importante estabelecer-se 
o diagnóstico diferencial.1
 De maneira mais objetiva e articulada, são esses os sin-
tomas psicológicos:15 
IZAIAS CLARO32
 a. Baixo astral. Na depressão, apresenta-se ele muito 
mais intenso do que nas tristezas comuns e passageiras.
 b. Ansiedade. Na ansiedade normal a pessoa sente-se 
algo inquieta e tensa, preparada para agir rapidamente ou fu-
gir, se necessário. Na depressão, este estado se torna duradou-
ro, podendo transformar-se em um traço do caráter. 
 c. Embotamento emocional. O depressivo apresenta-se 
insensível, indiferente. É como se tivesse perdido seus senti-
mentos.
 d. Pensamento depressivo. A pessoa tende a ver tudo 
pelo lado negativo e desenvolve um sentimento de culpa 
maior do que deveria sentir.
 e. Dificuldades de concentração e de memória. O de-
pressivo sofre de monoideia ou ideia fixa, excessivamente 
concentrado no motivo do seu sofrimento, consumindo pre-
ciosas energias. Por consequência, os problemas com a con-
centração podem levar à indecisão e à falta de atenção, com a 
pessoa sentindo-se confusa e desorganizada. 
 f. Delírios e alucinações. A pessoa perde o sentido da 
realidade. Delírio é uma convicção falsa, considerada inabalá-
vel pela pessoa que o tem. A alucinação envolve a percepção de 
coisas que não são reais, geralmente sons.
 g. Impulsos suicidas. Quando o deprimido se encontra 
num estágio profundo de depressão, o passado lhe parece hor-
rível e cheio de erros, o presente é terrível e [a pessoa] teme o 
futuro. Algumas pessoas chegam à conclusão de que não vale 
a pena continuar vivendo, que todo mundo ficaria melhor sem 
elas e que elas devem tirar a própria vida.15 
 São estes os elementos do pensamento depressivo: 
 1. Pensamentos negativos, por exemplo: ‘eu sou um fra-
casso no trabalho.’
 2. Expectativas altas e irracionais, por exemplo: ‘eu não 
posso ser feliz a não ser que todos gostem de mim e pensem que 
sou eficiente no meu trabalho.’
33VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
 3. Erros de julgamento. Exemplos: a) tirar conclusões 
negativas; b) focalizar os detalhes negativos de uma situação e 
ignorar os aspectos positivos; c) chegar a conclusões gerais base-
ando-se em um único episódio; d) chegar à conclusão de que é 
culpado por coisas que não têm nada a ver com a pessoa.15 
 Os sintomas variam de pessoa para pessoa.
 Sintomas físicos15 
 a. Problemas de sono. Os deprimidos podem ter: 1. 
dificuldades para dormir (insônia); 2. períodos mais curtos 
de sono ou acordarem mais cedo. Os problemas com o sono 
geram cansaço e ansiedade. 
 b. Lentidão mental e física. O deprimido sente-se can-
sado e com dificuldades para executar as tarefas normais. 
Fala pouco, de forma lenta e monótona. Os movimentos se 
tornam também lentos, o que é chamado de retardo psicomo-
tor. 
 c. Perda de apetite. A pessoa não sente fome e o ali-
mento lhe parece insosso. Com a perda do apetite, ocorre a 
perda de peso.
 d. Sintomas físicos reversos. São sintomas diferentes 
daqueles mencionados nas letras a e c. O deprimido dorme 
mais (hipersônia), tem mais apetite e ganha peso. 
 e. Outros sintomas físicos. Dores e uma sensação de 
opressão são frequentes, afetando, na maioria das vezes a cabe-
ça, face, costas, peito e intestino. Algumas pessoas imaginam 
que estãocom algum problema de coração. A dor é real, mas 
é causada pela depressão, não havendo nada errado com o ór-
gão mencionado.
 f. Vida sexual. Ocorrendo o embotamento emocional, 
a pessoa não se sente capaz de estabelecer uma relação física 
de amor. Outras apresentam dificuldades no relaxamento. 
IZAIAS CLARO34
Dificuldades outras podem surgir. 
 g. Depressão mascarada. A pessoa queixa-se de do-
res, não se sentindo deprimida. As queixas mais comuns são 
de dores pelo corpo, dor de cabeça ou cansaço.15 
 Os sintomas variam de pessoa para pessoa.
 Sintomas da mania: 1. Euforia inadequada; 2. Irrita-
bilidade inadequada; 3. Insônia grave; 4. Ideias de grandeza; 
5. Aumento do discurso (tagarelice); 6. Pensamentos desco-
nexos ou muito rápidos; 7. Aumento do interesse sexual; 8. 
Aumento acentuado da energia; 9. Redução do senso crítico; 
10. Comportamento social inadequado.5
 
 CONSEQUÊNCIAS 
Doenças psicossomáticas 
 e somatopsíquicas
 
 No livro Depressão, dediquei um capítulo para as 
consequências da enfermidade ora examinada. E, pela sua 
importância, é mister tocar novamente no tema. No capítu-
lo mencionado, algo comentei sobre o comprometimento do 
sistema imunológico, das enfermidades orgânicas, dos fato-
res destrutivos da mente e da personalidade, das tragédias 
várias e do suicídio. 
 Para se compreenderem bem as consequências da 
depressão, é preciso se tenha uma compreensão da criatu-
ra humana como um todo. Não somos somente um corpo, 
condenado ao desaparecimento pelo fenômeno denominado 
35VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
morte. Além dessa parte tangível, há outro elemento – intan-
gível que preexiste e sobrevive ao corpo, que se denomina 
alma ou Espírito.
 Valhamo-nos do magistério do Dr. Marco Aurélio 
Dias da Silva: 
 A crença na existência da alma sobrevivente ao corpo 
é das mais antigas. Ela nasceu possivelmente na confrontação 
de nossos longínquos antepassados com o fenômeno da morte, 
incluídos aí seu mistério, o medo que infundia [e infunde], a 
tentativa de sua negação como um fim último e inapelável e 
ainda a ‘persistente lembrança dos mortos’ e sua ‘visita’ duran-
te os sonhos. 
 A alma ou Espírito engloba tudo aquilo que sentimos, 
pensamos, desejamos, sonhamos etc. 
 Há ligações e interações profundas e permanentes 
entre o corpo e a alma, soma e psique nas expressões gregas. 
Com tais interações e ligações, compreensível que o estado 
de um interfira na outra, e vice-versa.
 Denomina-se moléstia psicossomática a doença do 
corpo gerada por influência de um estado enfermiço da 
alma. As moléstias psicossomáticas são uma dor do corpo 
como expressão da dor da alma. Ocorre então o que se con-
vencionou denominar somatização. Exemplos: dores de cabe-
ça, enxaqueca, dores reumáticas, dores nas costas, úlcera, gas-
trite, fígado, intestinos, obesidade, cardiovasculares, ‘derrame’, 
alergias etc.
 Denominam-se moléstias somatopsíquicas as enfer-
midades da alma geradas como reflexo do corpo doente. 
Exemplos: neuroses, psicoses, ansiedades, angústias, depres-
são, estresse etc.
 Doença é falta ou perturbação da saúde; moléstia, 
mal... Moléstia é incômodo ou sofrimento físico; sofrimento 
moral; aborrecimento, inquietação...2
IZAIAS CLARO36
 Saúde é uma expressão que vem do latim salute, que 
significa salvação, conservação da vida. Ou seja, indivíduo 
saudável é aquele cujas funções orgânicas e mentais se acham 
em situação normal.
 O cérebro funciona como uma ponte entre o corpo 
e a alma, o soma e a psique. Para compreender como alma e 
corpo se interagem, é necessário compreender o funciona-
mento do sistema nervoso, estudo que sugiro a você. 
 Para contribuir, modestamente, ainda me baseando 
na obra do Dr. Marco Aurélio há pouco referida, anoto que o 
cérebro é o órgão-sede do Sistema Nervoso Central, é o quartel-
-general de uma vasta rede de comunicações e de comando. É a 
sede da inteligência, dos atos conscientes e da sensibilidade.
 O Sistema Nervoso Periférico (SNP) e o Sistema Nervo-
so Central (SNC) comandam ou respondem pela execução de 
todos os atos que obedecem a nossa vontade consciente: andar, 
mover os braços e mãos etc.
 O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é independente 
da nossa vontade consciente. É o responsável pelo funciona-
mento automático dos órgãos: coração, estômago etc., compos-
to por dois ramos, o simpático e o parassimpático. O simpático 
faz o trabalho de ativação. O cérebro emite ordens ao hipotála-
mo, este se comunica com a glândula hipófise, que transfere o 
comando para as glândulas suprarrenais e outras estruturas 
espalhadas pelo organismo, provocando o aumento da pressão 
arterial, dos batimentos cardíacos, sendo tudo isso possível pela 
ação das substâncias denominadas catecolaminas (adrenalina, 
noradrenalina). O parassimpático exerce a função de freio, 
acalmando o organismo. 
 No hipotálamo encontra-se a sede das emoções. Men-
cione-se ainda a existência do Sistema Límbico, que faz a su-
pervisão e a coordenação dos diferentes centros reguladores das 
relações entre o cérebro e os outros órgãos internos. Não apenas 
37VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
regula as atividades dos órgãos, como também participa das 
experiências afetivas. Pelos caminhos, aqui resumidamente 
mencionados e descritos, transitam os afetos e os desafetos, que 
auxiliam ou agridem o corpo.
 Quando a criatura se conduz por pensamentos e sen-
timentos positivos, consome pouca quantidade de energia, 
mantendo-se saudável por um maior período. Quando o ser 
se deixa consumir por pensamentos e sentimentos negativos, 
aumentando consideravelmente o sofrimento, gasta um maior 
volume de energia psíquica, que causa a destruição e a morte, 
em virtude da desorganização do sistema, suportando as ma-
léficas consequências das tensões internas. 
 Os profissionais da área médica valem-se da expres-
são entropia, emprestada à física. Entropia é a quantidade de 
energia necessária à manutenção de um sistema. Quanto mais 
elevado o nível de energia, mais próximo da desorganização e 
da destruição estaria esse sistema.
 Ou seja, quanto mais consumo de energia em virtude 
da depressão (para nos atermos ao tema) maior a possibilidade 
de a criatura enfermar-se, pois a homeostase (equilíbrio inter-
no) está agora comprometida, como, também, o sistema imu-
nológico que tem a missão de proteger/defender o organismo. 
Comprometidos o sistema de defesa e o equilíbrio interno, sur-
gem as doenças ou o agravamento das doenças já existentes.16 
 Outra obra muito oportuna foi elaborada por 
Thorwald Dethlefsen e Rudiger Dahlke. Também esses au-
tores compartilham do entendimento segundo o qual o ser 
humano é um todo composto de corpo e alma formando uma 
unidade. Trabalhando com a medicina psicossomática, asse-
veram eles que a doença do corpo é uma expressão da do-
ença da alma e que é possível, partindo-se do órgão afetado, 
chegar-se às razões profundas do adoecer.17 
 A depressão é fator de risco para diversas doenças, 
IZAIAS CLARO38
principalmente as cardiovasculares. Segundo o cardiologista 
Marcos Benchimol, 30% dos pacientes que chegam pela pri-
meira vez ao seu consultório com sintomas cardíacos estão em 
depressão ou já manifestam a doença. Segundo ele um estu-
do sobre o assunto foi desenvolvido entre dois grupos: com e 
sem depressão. Foi constatado que as pessoas deprimidas têm 
60% a mais de chance de desenvolver doenças como a isquemia 
(entupimento das coronárias) do que o grupo sem depressão. 
Além disso, os pacientes com sintomas da depressão registra-
ram mortalidade 40% a mais que o segundo grupo. Para Ben-
chimol, esse dado deve servir de alerta para os médicos.18
 SUICÍDIO
 O suicídio é, de todas, a consequência mais difícil e 
lamentável, tanto para aquele que se impõe essa solução falsa 
como para os familiares e amigos. Como anotadono livro 
Depressão, estes atravessarão largo período da existência se 
perguntando: o que aconteceu para que ele/ela fizesse isto? e 
agora, o que será de nosso ente querido? como ficaremos nós 
sem a sua presença amada e com essa profunda dor? onde e 
como teremos falhado para com ele/ela?...19 
 Certos fatores aumentam o risco de suicídio. Citem-se 
os seguintes: 1. desesperança; 2. morar sozinho; 3. idade avan-
çada; 4. sexo masculino... 
 Os antecedentes devem ser levados em conta, tais 
como tentativas anteriores de suicídio, tentativas de suicídio 
ou suicídio na família, história familiar de uso de drogas ou 
álcool. Outras doenças não psiquiátricas, psicoses e uso de 
drogas ou álcool são outros fatores de risco de suicídio.12 
 Relato o caso seguinte para ilustrar, consoante narra-
do pelo próprio enfermo, profundamente infeliz: casado há 
39VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
19 anos, pai de dois filhos com treze e dez anos de idade, há 
dez meses encontrava-se separado da esposa e dos filhos, que 
ficaram sob a guarda da ex-companheira. Os três mudaram-se 
para uma cidade de outro estado. A partir da separação e em 
face da distância dos afetos, passou a ingerir bebida alcoólica 
de maneira excessiva, reconhecendo-se em profunda tristeza. 
Não procurou por atendimento médico ou psicológico. Em uma 
sexta-feira, ficou praticamente o dia inteiro dentro do quarto 
de sua residência e, terminado o expediente do seu estabele-
cimento comercial, encontrando-se completamente sozinho, 
passou a ingerir bebida alcoólica embriagando-se ao ponto de 
não conseguir conciliar o sono. Por volta das quatro horas da 
manhã resolveu pôr fim à sua vida, intenção esta acalentada 
há uma semana e, agindo como deliberara, tentou matar-se, 
felizmente sem êxito em virtude de ter sido eficazmente socor-
rido. Em prantos comentou da depressão profunda em que se 
encontrava.
 Pelo que se observa em muitas ocasiões, o que a pes-
soa efetivamente deseja não é matar a vida, mas tentar elimi-
nar aquilo que a está matando, que é a sua profunda tristeza, 
a sua amargura, o seu desencanto e o desgosto da vida. 
 Todos os pacientes com depressão grave devem ser ava-
liados quanto ao risco de suicídio, por meio de perguntas di-
retas sobre ideias, impulsos suicidas e histórias por tentativas 
anteriores de suicídio. Pode-se preceder as perguntas com uma 
explicação de que é frequente que pessoas em estado depressivo 
pensem mais em morte ou achem a vida um fardo excessivo ou 
desejem morrer. Os pacientes sentem-se reconfortados quando 
entendem que ideias suicidas são um sintoma comum de de-
pressão e não um sinal de loucura. 
 Se o suicídio parece ser um risco evidente (quando exis-
tem planos específicos ou fatores de risco significativos), con-
sulte um médico imediatamente, outro profissional da saúde 
IZAIAS CLARO40
mental ou alguém que possa prestar imediata assistência. O 
paciente pode precisar de cuidados especializados ou interna-
ção.12 
 Recordemos aos necessitados de assistência que o 
suicídio é falta grave e que nada resolve.
 A Vida, concessão de Deus!, é um bem indisponível, 
com objetivos superiores. Portanto, criatura alguma pode 
dispor do que não lhe pertence com exclusividade, sob pena 
de comprometer-se profundamente.
 Allan Kardec, ao organizar a Doutrina Espírita, abor-
dou esse tema, dedicando várias questões a ele. Perguntou o 
Codificador às Entidades venerandas se tem o homem o direi-
to de dispor da sua vida, delas obtendo por resposta: não; só a 
Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário importa numa 
transgressão desta lei.20 
 Vários fatores e causas podem levar alguém ao gesto 
extremo do autocídio. Postos de lado os que se dão em estado 
de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de in-
conscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um 
descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particula-
res que se lhe apontem. O desgosto da vida que se apodera de 
certos indivíduos, levando muitos ao suicídio, nasce como efei-
to da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade.20 
 Haja o que houver, portanto, que continuemos aman-
do a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mes-
mos.
 Estejamos absolutamente certos de que com o amor 
podemos superar tudo, tudo mesmo. Não há dificuldade ou 
desafio existencial, por mais grave e complexo, que não se 
possa vencer com esse sentimento divino por natureza. O 
amor é Deus em nós e com Ele tudo podemos!
 Viver intensamente! Nisso encontramos a plenitude, 
a felicidade, a paz... 
41VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
 E se algum afeto partiu através da porta falsa do sui-
cídio, ainda assim, que não nos permitamos a desesperação 
sem consolo.
 Se com a Doutrina Espírita aprendemos que o ato é 
falta grave, também com ela aprendemos que não há crime 
irremissível, que para Deus tudo é possível e, no momento 
oportuno e por meio de recursos diversos, o ser querido será 
resgatado e conduzido à recuperação, pois o Pai não quer a 
morte do pecador, mas que ele se arrependa e viva, consoante 
anotado nas Escrituras. 
 O Espiritismo nos ensina e nos demonstra, pela me-
diunidade educada e bem conduzida, que é possível e útil a 
oração confiante em favor dos afetos infelizes, auxiliando-os 
na superação da tormenta.
 Allan Kardec perguntou aos nobres Instrutores: será 
útil que oremos pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? E, 
nesse caso, como lhes podem as nossas preces proporcionar alí-
vio e abreviar os sofrimentos? Tem elas o poder de abrandar a 
justiça de Deus? 20 
 E os Espíritos lhe responderam: “a prece não pode 
ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma por 
quem se ora experimenta alívio, porque recebe assim um tes-
temunho do interesse que inspira àquele que por ela pede 
e também porque o desgraçado sente sempre um refrigério, 
quando encontra almas caridosas que se compadecem de 
suas dores. Por outro lado, mediante a prece, aquele que ora 
concita o desgraçado ao arrependimento e ao desejo de fazer 
o que é necessário para ser feliz. Nesse sentido é que se lhe 
pode abreviar a pena, se, por sua parte, ele secunda a pre-
ce com a boa vontade. O desejo de melhorar-se, despertado 
pela prece, atrai para junto do Espírito sofredor Espíritos me-
lhores, que o vão esclarecer, consolar e dar-lhe esperanças. 
Jesus orava pelas ovelhas desgarradas, mostrando-vos, desse 
IZAIAS CLARO42
modo, que culpados vos tornareis, se não fizésseis o mesmo 
pelos que mais necessitam das vossas preces.” 20 
 Como sugestão, registro esta prece por um suicida, 
constante de O Evangelho Segundo o Espiritismo:
 “Sabemos, ó meu Deus, qual a sorte que espera os que 
violam a tua lei, abreviando voluntariamente seus dias; mas, 
também sabemos que infinita é a tua misericórdia. Digna-te, 
pois, de estendê-la sobre a alma de N... Possam as nossas 
preces e a tua comiseração abrandar a acerbidade dos sofri-
mentos que ele está experimentando, por não haver tido a 
coragem de aguardar o fim de suas provas.
 Bons Espíritos, que tendes por missão assistir os des-
graçados, tomai-o sob a vossa proteção; inspirai-lhe o pesar 
da falta que cometeu. Que a vossa assistência lhe dê forças 
para suportar com mais resignação as novas provas por que 
haja de passar, a fim de repará-la. Afastai dele os maus Espí-
ritos, capazes de o impelirem novamente para o mal e pro-
longar-lhe os sofrimentos, fazendo-o perder o fruto de suas 
futuras provas.
 A ti, cuja desgraça motiva as nossas preces, nos di-
rigimos também, para te exprimir o desejo de que a nossa 
comiseração te diminua o amargor e te faça nascer no íntimo 
a esperança de melhor porvir! Nas tuas mãos está ele; confia 
na bondade de Deus, cujo seio se abre a todos os arrependi-
mentos e só se conserva fechado aos corações endurecidos.”21
 O LUTO 
 Luto pode ser definido comoum sentimento de dor 
pela morte ou perda de algo ou alguém que, para nós, tenha 
importância.15 
43VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
 Há pontos de contato entre o luto e a depressão. É 
possível que ocorra uma depressão com o advento do luto, 
embora este acontecimento não seja uma regra.
 Como o luto pode apresentar alguns dos sintomas da 
depressão, pode ser confundido com ela, mas, um e outra são 
estados diferentes.
 O luto, conquanto seja muito doloroso, em regra não 
exige tratamento médico.
 Existem o luto normal e o luto anormal.15 
 O luto normal faz parte da vida e todos o experimen-
tamos em algumas oportunidades.
 Quando normal, apresenta três fases bem distintas. 
Alguns estudiosos falam em quatro e até cinco fases, a de-
pender das circunstâncias e das condições das pessoas envol-
vidas. As três fases: 1. embotamento; 2. período de sofrimento 
pela perda; 3. aceitação.15
 A fase do embotamento pode durar de algumas ho-
ras a uma semana. Nesse período o enlutado pode sentir-se 
fragilizado emocionalmente ou ter dificuldade em admitir a 
morte do ente querido. Recordo-me de uma genitora que me 
procurou, acompanhada de sua filha. Ambas atravessavam 
um período de luto extremamente doloroso. O filho e irmão 
(com pouco mais de trinta anos de idade!) sofrera um infar-
to fulminante. O embotamento da genitora era tão profundo 
que, não aceitando a realidade da morte, prosseguia espe-
rando o retorno do filho nos mesmos horários em que ele 
costumava retornar para casa, e prosseguia cuidando de suas 
roupas, do seu quarto e a preparar os alimentos que eram 
postos regularmente à mesa.
 O período de sofrimento pela perda, em regra, dura 
de uma semana a seis meses (ou um pouco mais), sendo mais 
intenso nos primeiros três meses, e mais leve a partir de então. 
É muito comum, nessa fase, o enlutado sentir tristeza, ter pou-
IZAIAS CLARO44
co apetite, chorar muito, ficar agitado ou ansioso e ter reduzi-
da sua concentração, dependendo das circunstâncias em que 
ocorreu a morte. O enlutado pode sentir-se culpado ou achar 
que não fez o suficiente pelo falecido. É comum, também, o 
enlutado acusar o profissional que atendeu o caso ou acusar os 
amigos e a família pelo sucedido. Também podem apresentar-se 
sintomas físicos, como algumas dores localizadas.15
 A aceitação do acontecimento que provocou o luto se 
dá a partir dos seis meses (às vezes um pouco depois). O en-
lutado, diante da irreversibilidade da situação, aceita a morte 
da pessoa querida e esforça-se para retomar a normalidade 
da vida, o que demandará ainda algum tempo.
 A partir dessa fase, os sintomas experimentados du-
rante o período de perda vão diminuindo gradativamente.
 Sendo o luto uma experiência normal, assim como os sen-
timentos experimentados, o ideal é o seu enfrentamento da 
maneira mais natural e corajosa possível, porque se não hou-
ver este enfrentamento o luto poderá arruinar espiritualmen-
te e organicamente a pessoa, levando-a a uma depressão, ao 
comprometimento da qualidade de vida.
 Desaconselhável, portanto, o uso de medicação. Se 
houver comprometimento do nível de sono, pode ser que os 
profissionais indiquem um calmante para ensejar à pessoa o 
repouso necessário, mas que essa medicação não sirva para 
reprimir o luto, que precisa ser vivenciado em todos os seus 
estágios.15 
 No enfrentamento do luto, o ideal é que a pessoa se 
apoie na família e nos amigos, embora também estes em mui-
tas ocasiões estejam necessitados do mesmo apoio. 
 Existem grupos especializados que podem contribuir 
muito positivamente para que o enlutado atravesse esse pe-
ríodo. Se for o seu caso, não se constranja e busque a ajuda 
necessária. Esses grupos estão em condições de auxiliar você 
no enfrentamento e na superação dessa dor.
45VIVA MAIS | VENÇA E PREVINA A DEPRESSÃO
 É muito importante abrir-se um espaço para que uma 
pessoa de luto fale sobre seus sentimentos. A maioria pensa 
que deve dizer-lhe que o falecido era uma ótima pessoa, mas 
isso, frequentemente, não é o apoio de que se necessita. Ela 
precisa de espaço para falar sobre como se encontra emo-
cionalmente. Necessita que lhe seja permitido dizer dos seus 
medos, das suas angústias e ansiedades, como se sente, se 
culpada ou com raiva, o quanto lamenta por ter dito alguma 
coisa desagradável ao falecido e como a morte lhe faz lembrar 
sua própria fragilidade.
 Também tive oportunidade de atender a uma outra 
senhora e à sua filha, esta com aproximadamente trinta anos 
de idade. Enquanto a primeira recordava a felicidade vivida 
no casamento, narrando as vivências saudáveis e alegres, a 
segunda, a filha, apresentava-se profundamente triste ao re-
conhecer que falhara em alguns pontos no relacionamento 
com o genitor, a quem não dera a atenção e o afeto devidos.
 Todos esses pensamentos e sentimentos são normais 
e necessitam ser expressos. 
 O comportamento
 anormal no luto15 
 Há os que não conseguem passar com segurança e 
tranquilidade, ainda que relativas, pelos estágios do luto.
 Os que não atravessam os períodos normais, defron-
tam-se com problemas persistentes. Foi o que ocorreu com 
minha mãezinha, que faleceu sem se conformar com a ocor-
rência.
 Outros julgam difícil contristar-se e não reconhecem 
a morte de maneira nenhuma. Algumas pessoas sentem-se 
consumidas por uma raiva intensa ou por sentimentos de 
IZAIAS CLARO46
traição, que duram meses e até anos.
 Participando do Encontro para o Estudo da Ciência 
Espírita, em Poços de Caldas/MG, após uma palestra atendi 
a uma senhora nesse estado de raiva intensa. E sua raiva era 
contra Jesus, a quem culpava pela morte do filho! O tema da 
palestra foi Jesus, Modelo e Guia da Humanidade e, felizmen-
te, a abordagem auxiliou a mãezinha sofrida a perceber que 
não era Jesus o responsável por sua desdita, reconciliando-se 
com Ele e libertando-se daquela raiva que a consumia! 
 Em quadros dessa natureza, oportuna e necessária a as-
sistência médica ou de terapeutas/orientadores para o auxílio.
 Causas de um 
 pesar intenso
 Embora a morte de uma pessoa seja sempre difícil de 
suportar (especialmente das mais próximas e amadas), cer-
tas situações tornam o pesar ainda mais intenso: se a morte 
é repentina e inesperada; se a morte resulta em culpa para o 
sobrevivente; quando uma criança morre; quando o pai ou a 
mãe de uma criança pequena morre; quando um adulto era 
dependente da pessoa que morreu; quando o sobrevivente tem 
dificuldades em expressar seus sentimentos; quando o sobrevi-
vente está em fase de adaptação a uma perda recente; quando 
o sobrevivente está socialmente isolado; quando o sobrevivente 
tem filhos dependentes.15

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