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. Universidade Politécnica A POLITÉCNICA Escola Superior Aberta GUIA DE ESTUDO Introdução ao Estudo do Direito Ciências Jurídicas (1º Semestre) Moçambique Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 2 FICHA TÉCNICA Maputo Fevereiro de 2013 © Série de Guias de Estudo para o Curso de Gestão de Empresas (Ensino a Distância). Todos os direitos reservados à Universidade Politécnica Título: Guia de Estudo de Introdução ao Estudo do Direito Edição: 1ª Organização e Edição Escola Superior Aberta (ESA) Elaboração Dário Caetano de Sousa (Conteúdo) Benedito Marime (Revisão Textual) UNIDADES TEMÁTICAS Tema Pag. O Homem, a sociedade e o Direito---------------------------------------2 O Direito e o Estado---------------------------------------------------------12 Fontes e Ramos do Direito-------------------------------------------------21 Teoria Geral da Relacão Juridica-----------------------------------------37 Exercicio e Tutela dos Direitos Subjectivos-----------------------------51 Chave de correcção das actividades-------------------------------------70 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 1 APRESENTAÇÃO Caro(a) estudante Está nas suas mãos o Guia de Estudo da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, que integra a grelha curricular do Curso de Licenciatura em Ciências Jurídicas, oferecido pela Universidade Politécnica na modalidade de Educação à Distância. Este guia tem por finalidade orientar os seus estudos individuais, neste semestre do curso. Ao estudar a disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, você irá adquirir conhecimentos acerca da ciência do Direito, de como ela constitui um instrumento importante nas relações juridicas. Este Guia de Estudo contempla textos introdutórios, para situar o assunto que será estudado; os objectivos específicos a serem alcançados ao término de cada unidade temática; a indicação de textos, como leituras complementares que você deve realizar; as diversas actividades que favorecem a compreensão dos textos lidos e a chave de correcção das actividades, o que lhe permite verificar se você está a compreender o que está a estudar. Esta é a nossa proposta para o estudo de cada disciplina deste curso. Ao recebê-la, sinta-se como um actor que se apropria de um texto para expressar a sua inteligência, sensibilidade e emoção, pois você é também o(a) autor(a) no processo da sua formação em Ciências Jurídicas. Os seus estudos individuais, a partir destes guias, nos conduzirão a muitos diálogos e a novos encontros. A equipa de professores que se dedicou à elaboração, adaptação e organização deste guia sente-se honrada em tê-lo como interlocutor(a) em constantes diálogos, motivados por um interesse comum: a educação de pessoas e a melhoria contínua de negócios, base para o aumento do emprego e renda no país. Seja muito bem-vindo(a) ao nosso convívio. A Equipa da ESA Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 2 UNIDADE TEMÁTICA 1 O HOMEM, A SOCIEDADE E O DIREITO Elaborado por Dário Caetano de Sousa Objectivos No fim desta unidade, você deverá ser capaz de: Conhecer as vicissitudes da norma jurídica, desde a sua elaboração à extinção Caracterizar a norma jurídica Conhecer as diversas fontes do Direito e sua hierarquia e importância no ordenamento jurídico Conhecer os ramos em que se subdivide a ciência jurídica. 1.1 A NATUREZA SOCIAL DO HOMEM Na análise do comportamento dos seres humanos notar-se-á que estes são seres dotados de uma natureza eminentemente social. O homem é um animal social é de sua natureza não viver isolado, mas em convivência dentro de um grupo. Historicamente verificamos que deste os primórdios, o homem sempre viveu em comunidade com os seus semelhantes ( clãs, tribos etc). O homem, por instinto e raciocínio, necessita viver em grupo. No ensinamento de Aristóteles, o filósofo grego; o homem é um animal social. significa que o homem foi feito para viver em sociedade. O instinto natural forçou a aproximação com o outro; a razão indicou-lhes que agrupados, melhor poderiam satisfazer suas necessidades materiais e morais. Pois, viver é necessariamente conviver; só através de interacção com os outros homens o homem consegue a sua plena realização. Assim, formado o meio social, nasceram as relações sociais, por isso que, nos agregados humanos, os indivíduos são forçados a relacionar-se para a consecução dos actos indispensáveis e úteis à vida; convivem, pois, entre si auxiliando-se e contrariando-se mutuamente. A convivência em sociedade traduz-se naturalmente na entreajuda, na solidariedade, na divisão do trabalho, e tudo isto só é possível havendo padrões estabelecidos de conduta, regras que assegurem a harmonização das actividades entre si. Como necessário se torna a resolução de conflitos que a vida social inevitavelmente suscita. Neste sentido o Direito é necessário para promover a solidariedade de interesses e para resolver os conflitos de interesse. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 3 J. Dias Marques afirma que quem diz “ sociedade humana” diz “ vida de convivência” e quem diz “convivência” diz” regras”. Pois não podem as pessoas viver em comum sem que exista, ao menos, um elenco mínimo de princípios por que pautar os seus recíprocos modos de agir. como alguns autores e pensadores sustentaram a vida em sociedade não é uma tendência natural: o estado de natureza do Homem é o de isolado, e o estado social apresenta-se como distorção da natureza do Homem. Entre esses pensadores destacam-se o Rousseau- Jean Jacques ( 1712- 1778). E Thomas Hobbes.. concordando que o estado de natureza do Homem é o de não integração em sociedade. Contudo, o Rosseau diz que o estado de natureza do homem é bom, ( mito do bom selvagem) e que a sociedade é que o corrompe. Para Thomas Hobbes o estado de natureza do homem é mau ( homo homini lupus) portanto, é a sociedade que remedeia esta maldade natural. A ideia de estagio associal do homem é apenas uma premissa lógica, pretende-se dar à sociedade uma base convencional ( contrato social ) e não natural. Contudo, a maioria dos autores não concordam com esta teoria vincando sim a de que o homem é sim por natureza um ser sociável. 1.2 OS CONFLITOS DE INTERESSE Desde os primórdios da humanidade, o que impulsiona a vida em sociedade é a disputa pelos bens, disputa essa que jamais se terminará, pelo simples facto de cada ser humano encerrar em si mesmo um universo próprio de desejos materiais, donde a necessidade de regras gerais é estabelecer limites que possibilitem a não invasão dos direitos de outrem. Acontece, frequentes vezes, ser o interesse de um contrário ao interesse de outro, chocando-se consequentemente os dois interesses. A interdependência dos homens e seus interesses é a força motriz que mantém a coesão das sociedades. Contudo nem todos os interesses humanos se encontram ligados pelos fortes laços da solidariedade, alguns há que, pelo contrário, são incompatíveis, conflituando entre si e criando desarmonia e desagregação social. Se as sociedades subsistem é exactamente porque a força de coesão dos interesses solidários supera a força dissolutiva dos conflitos de interesses. Nestas condições revela-se a necessidade indispensável de conciliar, harmonizar, o interesse dum com o interesse de outro, fixando-se para cada pessoa a esfera dentro da qual livrementeTodas as outras tentativas de explicação não passam de projecções desta verdade. Por isso, se contribuem para ilustrar raciocínios e formulações, o Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 30 certo é que nada explicam. Como procurámos demonstrar, só numa perspectiva integrada cumprir a sua função analítica própria. Direito Publico e Direito Privado. Dentro destes, é possível encontrar inúmeras distinções e outros tantos ramos de direito. Da maior parte deles já o nosso caro estudante decerto ouviu falar. Por isso, dentro das limitações de uma introdução, cabe agora apenas proceder á sua arrumação sistemática. Ora vejamos. No direito publico é possível, nomeadamente, distinguir o Direito Constitucional, o Direito Administrativo, o Direito Penal e o Direito Processual, seja ele Civil, Administrativo, fiscal, penal, ou do Trabalho. A partir do Direito Administrativo autonomizaram-se outros ramos do Direito, como, por exemplo, o Direito Financeiro, o Direito fiscal e, para alguns, o Direito Aduaneiro. RAMOS DO DIREITO PUBLICO Fazem parte do Direito Publico : - Direito Constitucional - Direito Administrativo - Direito Fiscal/Aduaneiro - Direito Financeiro - Direito Penal/Criminal - Direito Processual Direito Constitucional – origem e conceito: A necessidade de preservar os chamados direitos fundamentais do individuo contra a prepotência do poder foi a razão fundamental que levou o estabelecimento de normas conducentes à limitação daquele poder. Recuando à Idade Media, encontramos vários exemplos de compromisso escritos entre reis e vassalos onde estão estatuídos os direitos reconhecidos pelos suseranos e aos vassalos, como por exemplo a Magna carta Inglesa concedida pelos barões ingleses ao Rei . O outro exemplo que podemos citar ronda do século XVIII, onde os direitos do homem passaram a integrarem-se no direito constitucional. Exemplo a constituição Francesa de 1789 é disso paradigmática. Assim, o direito constitucional passou a integrar os direitos fundamentais do homem e do cidadão ligando-os á própria estrutura interna do Estado. Deste modo, podemos definir o direito Constitucional como sendo o conjunto de normas que regulam a organização fundamental do Estado - funcionamento e competências dos órgão de Estado, cria os órgãos , princípios que orientam a vida política, económica e socio-cultural do País. Estabelece ainda os direitos e obrigações recíprocas do Estado, bem como os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos. A constituição corresponde a lei fundamental dum pais, que fixa os grandes princípios da organização politica e da ordem jurídica em geral e os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 31 Assim, a constituição ocupa um lugar cimeiro na hierarquia das leis. A constituição pode ser entendida em sentido: - Material - quando à organização do Estado, aos fins que visa regulamentar, bem como a forma do governo. Neste sentido, inclui-se os costumes, as tradições e as normas escritas que caracterizam um determinado regime politico dum determinado Estado. - Formal - a palavra constituição é entendida como um texto escrito que codifica as normas que regulam a forma e o exercício do poder politico que é decretada por um órgão dotado de poderes especiais. Direito Administrativo: Regula este a organização e actividade dos órgãos da Administração Pública, nessa qualidade, na prossecução de interesses colectivos, isto é, relações que se estabelece entre o Estado/Administração Publica e os particulares. Direito Fiscal/Aduaneiro: regulam a criação e cobranças dos impostos de receitas do Estado e disciplina as importações e exportações de mercadoria. Direito Financeiro: Regula a actividade financeira de Estado, que é a criação e cobrança e aplicação das receitas para a satisfação das necessidades públicos, trata-se de previsão de arrecadação de receitas e da realização de despesa pública. Direito Penal : conjunto de normas jurídicas que regulam a sã convivência, protegendo a vida humana, reprime comportamentos anti-sociais, os chamados crimes. Direito Processual Civil e direito Processual Penal : Estes ramos de direito são constituídos por um conjunto de regras e mecanismos para a tutela dos direitos dos cidadãos juridicamente consagrados pelo direito moçambicano. A sua materialização é através dos tribunais, a quem compete a composição de litígios, obedecendo regras e princípios imperativos. RAMOS DO DIREITO PRIVADO No Direito Privado, há que fazer considerações suplementares. Como Direito Privado comum surge o Direito civil. E aí, respeitando a classificação germânica de Savigny, quatro sub-ramos fundamentais: o Direito das Obrigações, o Direito das coisas (ou os Direitos Reais), o Direito da Família e o Direito das Sucessões. A unificar e a sedimentar conceitos comuns, para diversos autores e no nosso Código Civil, avulta uma parte geral do Direito Civil, para alem destes, existem as novas expressões do Direito Civil, como, por exemplo o Direito de Autor, Depois surgem os Direitos Privados especiais - o Direito Comercial e, ainda, embora com naturezas mistas, em que afloram aspectos de Previdência Social, o Direito da Propriedade Industrial, o Direito Bancário, o Direito Agrário. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 32 Direito Civil: é o direito privado mais antigo do mundo e é subsidiário de todos os outros ramos de direito porque ele contém princípios gerais que podem ser aplicáveis tanto no Direito Publico como no direito privado dai que é considerado o deposito das normas mais antigas com características sistemáticas. Antes desta grande divisão do direito o direito civil tratava de todas as matérias relacionadas com a actividade humana dai que os romanos chamavam por direito das gentes. Direito da personalidade/pessoas – Livro I Capitulo I Secção II - Parte geral do cc: são as normas que regulam direitos ligados às pessoas humanas como o direito de personalidade, direito a vida , a intimidade privada, bom nome entre outros que podem ser encontrados também na Constituição da República bem como no Código civil. Direito das Obrigações Livro II: regula as situações pelas quais uma pessoa está vinculada a realizar em benefício de outra, uma prestação. Portanto, regula as relações de credito, onde encontramos uma relação de credor ( sujeito activo) e o devedor ( sujeito passivo), bem como as normas de cumprimento, responsabilidade civil por incumprimento bem como a responsabilidade civil no geral. Os vários tipos de contratos, as garantias das obrigações etc. Direitos Reais ou direito das coisas Livro III: este é o ramo que regula a atribuição das coisas, a titularidade de uma pessoa em relação a uma coisa, de tal modo que um sujeito fica com um direito oponível a terceiros que lhe dá a possibilidade de tirar vantagem da coisa. Este ramo assenta essencialmente no direito da propriedade ( o cidadão pode dispor das coisa como bem entender, vender, oferecer ou abandonar). Direito de Família Lei nº 10/2004 de 25 de Agosto revoga o Livro IV do cc artigos 1576 a 2023: Conjunto de normas jurídicas que regulam as relações familiares bem como a sua constituição decorrentes do casamento, procriação, e a adopção, encontramos também o regime de bens. As relações familiares podem ser pessoais ou patrimoniais. De salientar que família é o conjunto de pessoas ligadas entre si pelo vinculo conjugal, pelo parentesco, pela afinidade ou pela adopção. Direito das SucessõesLivro V: é também um sub-ramo do Direito civil que regula a sucessão na titularidade dos bens da pessoa falecida, isto é regula a passagem do património de uma pessoa falecida para os seus herdeiros. DIREITO PRIVADO ESPECIAL Direito Comercial: é um ramo do direito privado e regula de forma especial as relações comerciais que tem por objecto actos de comercio ( compra e venda ). Este direito surgiu para preencher uma lacuna existente na resolução de litígios decorrentes das relações comerciais e concessão de Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 33 créditos que o direito civil não conseguia resolver de forma rápida e concisa. Direito do Trabalho/ laboral: conjunto de normas jurídicas que regulam as relações jurídicas co-laborais entre o empregador e o trabalhador. Será importante proceder a esta arrumação? Certamente que sim. É relevante a integração sistemática do ramo de Direito com que se trabalha. É todo um universo de referências e de conexões que se descobre e que terá um apreciável campo de explicação e aplicação. Por isso, não é indiferente que a situação da vida em causa a prossecução essencial ou predominante de um interesse público ou, pelo contrario a prossecução essencial ou predominante de um interesse privado. São dois hemisférios distintos, em larga medida com princípios próprios e razoes de decidir características. Uma prevenção deve, contudo ser aditada: novíssimos ramos jurídicos estão a despontar, que compreendem uma componente de Direito Publico e outra de Direito Privado, o que obriga a cuidadosa distinção, no seu seio, de tais componentes ( é o caso do Direito económico, do Direito Bancário, do Direito do Ambiente, do Direito do Urbanismo ou do Direito do Ordenamento do Território, estes últimos, alias crescentemente ligados). Temos assim, que a separação não é estanque ou definitiva. Pelo contrario. Assiste-se hoje á sua superação. E é fundamental que o leitor perceba correctamente o que fica dito para que possa chegar à plena compreensão de um dado essencial. Se já se sabe que a constituição ilumina todo o ordenamento e deve, assim, ser uma referencia permanente de qualquer abordagem jurídica, falta referir uma outra verdade fundamental. É que o Direito Privado, e dentro dele o Direito Civil, como Direito Privado do Comum, representa um património comum de toda a vida jurídica. Seja pública ou privada. No Direito Civil está o núcleo da jurisdicidade social. A fisionomia do sistema tem ai as suas raízes. A ordem jurídica molda-se em torno dos grandes princípios e regras que o conformam. Por isso, o jurista tem no Direito Civil as suas grandes referências e aí encontra as balizas metodológicas que lhe permitem trabalhar. A teoria geral do Direito Civil, ou o estudo da parte geral do Código Civil (que, curiosamente, mantêm a sua actualidade em projectos de Códigos civis recentíssimo como o holandês), constitui, assim, um ponto de referência obrigatório para qualquer jurista. Para ale deste cruzamento de referencias e implicações, que explicam a verdadeira dimensão sistemática do Direito, importa sublinhar que domínios há que dificilmente cabem na bipartição traçada. E que as influências recíprocas entre Direito Publico e Direito Privado tendem a acentuar-se. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 34 Ou seja, a divisão em ramos do Direito, mantendo embora uma não subestimavel utilidade cientifica e pedagógica, deve ser relativizada e completada por indagações complementares A NORMA JURÍDICA A norma jurídica, na sua forma primária é composta de previsão estatuição ( quando completa) e sanção. Tomaremos a norma jurídica como elemento da ordem jurídica referido na definição: Sistema de normas de conduta social, assistido de protecção coactiva tanto que, o conteúdo do sistema jurídico é formado por normas em sentido restrito. A convivência dos indivíduos dentro da comunidade jurídica exige que, em cada circunstância aqueles possam saber qual a conduta que devem adoptar, tanto em ordem à satisfação dos interesses conflituantes que hajam de prevalecer, como em vista da coordenação de esforços que lhes é exigida para a realização dos fins próprios da mesma comunidade. Deste modo, é necessário que tais normas se encontrem dirigidas através de comandos em que se indica a forma de acção que mais convém. Estes comandos porque são provenientes do Estado, não são, como é obvio, de obediência facultativa. O seu cumprimento encontra-se tutelado pelos meios físicos de que o Estado dispõe. Toda a actividade dos indivíduos dentro da sociedade juridicamente organizada vem a traduzir-se na execução dos comandos por elas impostos, directa ou indirectamente. Tais comandos jurídicos constituem a essência da norma jurídica. Principais características da norma jurídica Coercibilidade Imperatividade Generalidade/ Abstracção violabilidade Classificação das normas jurídicas Normas preceptivas - estas verificam-se quando a conduta que se impõe é uma acção ( facere ) ex. Artigo 1323 Código Civil. Normas proibitivas - ( non facere) quando a actuação que se impõe é uma omissão, uma proibição – ex. As normas penais ou ainda os artigos 8, 1458 ambos do CC. Normas permissivas - estatui uma permissão, uma faculdade, uma possibilidade jurídica de acção, portanto, permitem ou autorizam certo comportamento ex. artigos 1450, 1459, 223 ambos do Código Civil. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 35 Normas supletivas - estas tem como base o principio da liberdade de estipular no mundo dos negócios jurídicos. A lei admite que em certas matérias que não seja ela própria a regula-las mas sim que façam os intervenientes conforme estipula o artigo 405 Código Civil. Deste modo, as normas supletivas serão aquelas subsidiárias que se aplicam sempre que os particulares não tenham regulado a matéria de que se trata . ex. 442 CC. ESTRUTURA DA NORMA JURIDICA (ELEMENTOS) Previsão Estatuição Sanção Previsão – é a representação futura do evento ou situação da Vida. A norma jurídica fixa padrões de condutas adequadas às situações que de futuro advenham. E esta deve ser figurada de forma geral e abstracta, isto é, segundo um modelo a que se acomodarão realidade concretas futuras. Ex: artigo 1323 CC - aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem pertence ( previsão). Estatuição – é o estabelecimento, como consequência da necessidade de uma conduta. A necessidade dessa conduta, em cada pessoa a quem a norma se dirige, chama-se dever ou obrigação (vide artigo 2 CC – sobre a obrigação). A estatuição é sempre geral e abstracta, senão não estaremos perante uma norma jurídica. Ex: concluindo o artigo 1323 CC – deve restituir o animal ou a coisa a seu dono ou avisar este do achado. (estatuição) Sanção – É a parte da norma onde se estabelece a consequência imposta pela ordem jurídica pela violação da mesma norma. Portanto, a sanção será o inconveniente ou as desvantagens resultante do desrespeito de uma norma jurídica. - Cria-se para o violador da norma jurídica, um sacrifício maior que o que resultaria do facto de lhe ter obedecido. Traduz-se portanto, na organização de sanções aplicáveis em consequência da violação da norma jurídica, pois, a consequência normativa dos factos ilícitos consiste em terem os responsáveis de suportar as respectivas sanções que podem ser sanções Jurídicas e ou Materiais. ESPECIES DE SANÇÕES Sanções Materiais Sanções Jurídicas: é quando a norma nega os efeitos jurídicos pretendidosem virtude de não ter obedecido os tramites ou exigências legais. Encontramos também sanções jurídicas quando os intervenientes da relação jurídica violam propositadamente ou não as disposições legais que visam proteger os negócios jurídicos, Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 36 Ex.A pretende celebrar um contrato com B pela qual este deve cometer um crime. Pretende que com esse acordo, B fique vinculado a prestação em que se comprometeu. A reacção da ordem jurídica é simples não considera o referido acordo vinculativo vide artigo 280 CC nº1. ( simulação, vícios de forma etc). ( vide os artigos 217 a 257 do código civil ). Nestes casos a principal sanção quando se infringe estas normas que são de comando imperativo é a invalidade. A invalidade apresenta duas formas principais: que antigamente chamavam nulidade absoluta e nulidade relativa e que hoje no código civil se denominam nulidade e anulabilidade. vide artigos 285 seguintes CC – nulidade e anulabilidade. a) Nulidade – verifica-se quando o acto praticado pelas partes não produz efeitos jurídicos pretendidos e pode resultar dos seguintes factores: - Vícios de forma, artigo 220 CC; - Vícios de Objecto – artigo 280 CC; - Falta de vontade – artigo 240 nº 2, 245 e 246 ambos CC. Contrariedade à lei – artigo 294 CC. b) Anulabilidade – ao contrario da nulidade aqui os efeitos jurídicos pretendidos produzem efeitos mas ficam à mercê de uma das partes, que tem o direito de anular o negócio, isto é destruir os efeitos jurídicos retroactivamente. Decorre principalmente dos seguintes factores: - Incapacidade do agente – artigo 125 CC; - Vícios da vontade e estes podem resultar dos seguintes factores: - Erro – artigos 247, 249; 250, 251 e 252 ambos do CC; - Dolo – artigo 253 CC; - Coação – artigo 255 CC; - Incapacidade acidental – artigo 257 CC. Sanções Materiais As sanções materiais tem o seu aspectos jurídico no que concerne ao cumprimento obrigatório, ressarcimento, indemnização etc. Ex: Se A partiu um vidro de B culposamente, antes de mais verifica-se que na esfera jurídica de A surge o dever de o pagar. Mas claro que este dever é instrumental – a reintegração dar-se-á quando o vidro estiver posto ou for pago pelo B, e estas podem ser: Sanções Pecuniárias a) Cumprimento coactivo/ obrigatório – Através de mecanismos próprios, a lei faz cumprir coactivamente a norma, recorrendo-se ao património Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 37 do violador da norma e ou de terceiros que tenda vantagens patrimoniais em relação ao devedor, portanto, é a realização compulsiva da obrigação. Sempre que é possível, a lei faz cumprir coactivamente a norma. E isso é possível sempre que a norma estatui uma prestação fungível. A deve 50 a B, o tribunal vai buscar 50 ao património de A e entrega-o a B e com isso cumpre-se a norma. Embora coactiva e não voluntariamente. Para B é indiferente que os 50 lhe sejam entregues por A, por um criado de A ou por um funcionário do banco. b) Reintegração ou restituição - nas sanções pecuniárias o direito admite que o violador seja obrigado a pagar ao lesado por um bem igual ou por um valor pecuniário equivalente ao dano causado, aqui encontramos a figura de ressarcimento. Isto é, quando tal não é possível o pagamento pelo mesmo bem, estabelece-se um estado de coisa que se considera juridicamente equivalente através de bens patrimoniais do mesmo valor ou do seu preço em dinheiro ( quebrou- se uma jarra insubstituível , paga-se o seu valor ) é o que se chama reintegração por sucedâneo ou equivalente pecuniário. (Ex: A que ia entregar uma viatura a B e acidenta - ele obriga-se a entregar uma outra ou então o equivalente em dinheiro) . c) Reparação ou compensação - esta tem cabimento nas hipóteses em que não é possível realizar nem o próprio interesse ofendido ( restituição) nem um interesse pecuniariamente equivalente ( ressarcimento ) , somente atribui ao ofendido a possibilidade de realizar interesses cuja satisfação de algum modo possa atenuar a dor sofrida, incluindo aqui os danos morais ( vide artigo 496 CC ). ( Ex: o condutor que mata alguém, o valor que paga aos familiares é de compensação porque nada substitui a vida ). Portanto, não estamos perante a ideia de cumprimento efectivo ou reintegração, pois nada avalia um homem, não se avalia o sofrimento. A ideia é atribuir ao lesado uma soma da qual possam derivar algumas satisfações que sirvam de contrapartida ao sofrimento que teve. Entende-se pois, hoje que o responsável deve indemnizar pelos prejuízos que causou mesmo no domínio moral ( ver artigo 496 CC). Se A mata B, A pode ser obrigado a pagar uma indemnização ao cônjuge ou aos familiares de B pelo desgosto ou magoa que lhe causou. Se C fere D, C pode ter de indemnizar o sofrimento que lhe causou. Sanções Corporais Estas sanções correspondem a privação de liberdade e a aplicação de algumas medidas de segurança contra o infractor. Geralmente estão plasmadas na lei penal. Encontramos também as penas disciplinares que tutelam o funcionamento e a vida interna das mais variadas instituições. Podem ser de direito publico, ex. as que se aplicam aos funcionários da Administração Publica Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 38 (advertência, suspensão, expulsão despromoção etc.) , ou de direito privado como as que se encontram previstas nos estatutos das associações ( advertência, suspensão, expulsão etc. dos membros infractores. Leituras Obrigatórias Telles, Inocêncio Galvão, Introdução ao estudo do Direito,Coimbra editora,2010; Actividades A seguir, estão as actividades correspondentes a esta terceira unidade. Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção, no final do presente Guia de Estudo. Actividade 1 Carlos, fotógrafo amador, necessitando de local para morar e sabedor que seu amigo Robson possuía, vago e sem utilização, um apartamento situado em zona nobre da cidade, faz a este proposta de locação do imóvel. Para tanto, celebraram contrato de locação residencial em que estavam previstas as obrigações do,ções do locatário (Carlos) e do locador (Robson). Após um determinado tempo, Robson observa que o Carlos não vinha cumprindo com o dever contratualmente estabelecido de manter o imóvel em condições adequadas para o fim do contrato, já que ele quebrou todas as paredes internas do apartamento transformando-o em um estúdio fotográfico. Em razão disso, a questão foi levada à Justiça e o contrato foi extinto, por culpa do locatário, o qual veio, inclusive, a ser condenado a arcar com as despesas para reconstituição do imóvel no estado em que foi recebido. Levando em consideração o caso proposto, responda justificadamente. a) A relação jurídica entre Carlos e Robson está no campo do Direito Público ou Privado? O que justifica sua resposta? Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 39 UNIDADE TEMÁTICA 4 Teoria Geral da relação Juridica Elaborado por Dário Caetano de Sousa Objectivos No fim desta unidade, você deverá ser capaz de: • Reconhecer uma relação Jurídica • Distinguir as relações jurídicas das simples relações sociais • Conhecer e Explicar os elementos da relação jurídica • Capacidade e incapacidade jurídicas • As formas de suprimento das mesmas 4.1 CONCEITO E ESTRUTURA Problematizar sobre a relação juridica é questionar essencialmente se todas as relações que o homem estabelece com seussemelhantes, no ambito de sua natureza eminentemente social interessam ao Direito. A resposta é negativa. Nem todas as relações que o homem desenvolve dentro da sociedade interessam ao direito mas sim apenas aquelas relações de carácter jurídico, as previstas e protegidas pela lei. Definição: Relação jurídica é uma relação da vida social regulada pelo Direito, e que consiste na atribuição a um sujeito de um direito subjectivo e na adstrição de outro sujeito a uma vinculação jurídica – Prof. Doutor João de Castro Mendes. Assim sendo, para que estejamos perante a uma relação jurídica é necessário a existência de duas ou mais pessoas que se encontram em situação na qual a lei atribui entre elas poderes e deveres e o objecto da relação deve estar previsto num modelo jurídico. Exemplos de relações jurídicas (casamento, filiação, fornecedor e consumidor, sucessões etc.). 4.2 ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURIDICA Sujeito Objecto Facto Garantia Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 40 Objecto O objecto da relação jurídica é o elemento sobre qual a relação jurídica se constitui, e sobre o qual recai tanto a existência do credor como a obrigação do devedor. Este objecto deve ser legalmente possível, isto é, não contrário a lei conforme os artigos 280 e 294 ambos do código civil. O objecto da relação jurídica pode ser imediato e ou mediato. Objecto imediato: é a própria prestação ( de dar, fazer, ou de não fazer, restituir, etc.), formando assim o direito subjectivo e a vinculação dos sujeitos da relação. Objecto mediato: este refere-se aos bens jurídicos ou seja as coisas. Facto juridico Os factos jurídicos são os que dão origem a constituição duma relação jurídica. Os factos podem ser constitutivos, modificativos e extintivos. Garantia A garantia é composta por um conjunto de providencias coercivas de que o direito dispõe para a tutela dos sujeitos intervenientes na relação jurídica. Os sujeitos Os Sujeitos de Direito ou pessoas jurídicas, são os entes susceptíveis de serem titulares de direito e obrigações, (relações jurídicas). A nossa ordem jurídica consagra ( reconhece ) dois tipos de pessoas de direito ( sujeitos de direitos), consoante se trate de indivíduos ou instituições ou organismo, nomeadamente: a) Pessoas singulares b) Pessoas Colectivas Por sua vez os sujeitos de direitos subdividem-se em: - Sujeito Activo: aquele que esta na posição de beneficiário, titular de direito e que pode exigir numa relação jurídica ( poder ). - Sujeito Passivo: aquele que esta na posição de obrigado, devedor ( dever). INICIO DA PERSONALIDADE JURIDICA Fala-se pois, de personalidade para exprimir a qualidade ou condição jurídica de um ente. A personalidade jurídica traduz-se precisamente na susceptibilidade de ser titular de direitos e se estar vinculado à direitos e obrigações. A personalidade jurídica é inerente a todos os seres humanos e adquire-se Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 41 no momento de nascimento completo e com vida , conforme o preceituado no nº 1 do artigo 66 CC. CAPACIDADE JURIDICA Fala-se de Capacidade Jurídica para exprimir a aptidão para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações jurídicas – pode por isso ter-se uma medida maior ou menor de capacidade, segundo certas condições ou situações, sendo-se sempre pessoa, seja qual for a medida da capacidade. É a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa é susceptível,o artigo. 67º do código civil estabelece que “as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário: nisto consiste a sua Capacidade Jurídica”. A doutrina aponta dois tipos de capacidade Jurídica: a. Capacidade de gozo b. Capacidade de Exercício Capacidade de Gozo - é a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa pode ser titular, art. 67 CC e esta é inerente à personalidade Jurídica. Capacidade de Exercício, consiste na medida de direitos e de vinculações que uma pessoa pode exercer por si só pessoal e livremente. Em principio todas as pessoas singulares, ao atingirem a maioridade, adquirem capacidade de exercício, que resulta do preceituado nos artigos 130 CC ( efeitos de maioridade) e art. 133 CC ( efeitos de emancipação ). A diferença entre as duas capacidades reside no facto de a Capacidade de Gozo colocar-se no plano abstracto da titularidade de situações jurídicas, isto é, basta ser humano para ter a capacidade de gozo, na Capacidade de Exercício está-se já no plano concreto de averiguar em que medida certa pessoa pode exercer os direitos ou cumprir as obrigações que na verdade lhe podem caber enquanto sujeito. Pois, pode haver Capacidade de Gozo e não haver Capacidade de Exercício. Quanto as Pessoas Colectivas, art. 160/1 CC ao contrario do que acontece com as pessoas singulares, a capacidade de exercício/gozo de pessoas colectivas é uma capacidade específica, pois está limitada aos direitos e vinculações adequadas à prossecução dos fins comuns pelos quais se constituíram. INCAPACIDADES JURIDICAS A lei reconhece algumas situações excepcionais no exercício dos direitos e obrigações, pois, pode suceder uma pessoa ser titular de direitos, isto é, ter capacidade de gozo, e não os poder exercer, por lhe faltar a Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 42 necessária idoneidade para poder actuar juridicamente, ou seja, a necessária capacidade de exercício de direitos. O incapaz, é a pessoa que sofre de incapacidade genérica ou de incapacidade específica que abranja um número significativo de direitos e vinculações no campo pessoal ou patrimonial. A legitimidade, é a susceptibilidade de certa pessoa exercer um direito ou cumprir uma vinculação, resultante de uma relação existente entre essa pessoa e o direito ou vinculação. Para o prof. Castro Mendes, é a susceptibilidade ou insusceptibilidade de uma certa pessoa exercer um direito ou cumprir uma vinculação, resultante não das qualidades ou situações jurídicas da pessoa, mas das relações entre ela e o direito ou obrigações em causa. A esfera jurídica: É o conjunto de direitos e vinculações que certa pessoa está adstrita em determinado momento. Comporta dois hemisférios distintos: o patrimonial e o não patrimonial ou pessoal. Património: É tudo aquilo que se mostra susceptível de ser avaliado em dinheiro. O hemisfério patrimonial da esfera jurídica, é o conjunto de direitos e vinculações pertencentes a certa pessoa em determinado momento e que é susceptível de avaliação em dinheiro. O hemisfério não patrimonial da esfera jurídica, é constituído pelos demais direitos e vinculações do sujeito. Assim, a incapacidade jurídica é a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa não é susceptível de exercer. Há pessoas que são titulares da Capacidade de Gozo, mas não de exercício. Pode-se ter Capacidade de Gozo genérica e não ter uma Capacidade de Exercício genérica. A Incapacidade de Gozo reporta-se à titularidade de direitos e vinculações de que uma pessoa não pode gozar. Neste campo não é possível suprir. Na Incapacidade de Exercício está em causa a impossibilidade de certa pessoa que é titular de um determinado direito, exercê-lo pessoalmente. No entanto, já é possível a outra pessoa que venha a exercer esse mesmo direito em conjunto com o incapaz, ou em substituição deste. A isto chama-se suprimento da incapacidade de Exercício. TIPOS DE INCAPACIDADES JURIDICAS DE EXERCICIO a. Menoridade ( art. 122 e 123 ) b. Interdição ( art. 138 a 151 ) c. Inabilitação ( art. 152 a 155 ) d. Incapacidade acidental ( art. 257) Ciências Jurídicas– Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 43 a) A incapacidade por menoridade São menores todas as pessoas que nascem, até completarem 21 anos de idade (122.º do Código Civil). Segundo o artigo 123.º do Código Civil, os menores carecem, em princípio da capacidade de exercício. a maturidade se adquire gradualmente e não de um momento para o outro, e é alcançada por cada pessoa em tempos diferentes. Na impraticabilidade de averiguar caso a caso e pessoa a pessoa o grau de maturidade exigível e porque se tornava necessário fixar uma idade que de acordo com padrões de normalidade correspondesse a um grau de maturidade suficiente. O legislador fixou o limite de 21 anos, momento a partir do qual o indivíduo adquire capacidade de exercicio, veja o artigo 30 CC. O artigo 123 do Código Civil é muito claro ao estabelecer a regra geral da incapacidade genérica de exercício em relação aos menores. Admite, com tudo, excepções quando inclui a expressão: “ salvo disposição em contrario. Essas excepções estão previstas nas seguintes situações: São excepções ao regime geral de incapacidade dos menores: - Aos sete anos, segundo o artigo 488, nº 2 do Código Civil, cessa a presunção de inimputabilidade do menor; - o artigo 396 LF prevê o consentimento do menor de doze anos para a sua adopção; - o artigo 309 nº 2 LF impõe que o filho maior de doze anos de idade seja ouvido quando haja desacordo entre os pais quanto a questões importantes em matéria de poder paternal, “ salvo quando circunstâncias ponderosas o desacolhem”; - cessa a sua inimputabilidade penal aos 16 anos ( artigo 69 do Código Penal); - Ainda no caso do artigo 127, nº 1, alínea a), para actos de administração e deposição dos bens que tenha adquirido pelo seu trabalho. Particularmente interessante neste tema, é o preceito da alínea b) do nº 1 artigo 127 do Código Civil que reconhece as capacidades, independente da idade, para a pratica dos “ negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que, estando ao alcance da sua capacidade natural, só implique despesas ou disposições de bens de pequena importância”. Este preceito institui um regime que, com uma elasticidade muito grande, reconhece capacidade ao menor para a pratica dos actos que estejam ao alcance da sua capacidade natural. Numa orientação divergente da padronização do reconhecimento da capacidade aos vinte e um anos, faz a capacidade civil depender não de uma idade Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 44 pré-fixada, mas sim da capacidade natural de cada um. Este regime não é geral e a lei restringe-o aos negócios próprios da vida corrente do menor que só impliquem despesas ou disposições de bens de pequena importância. O que seja a capacidade natural do menor o que sejam negócios próprios da sua vida corrente e o que sejam despesas e disposição de pequena importância são conceitos indeterminados. A concretização destes conceitos é muito elástica e depende da idade e da maturidade, assim como o limite do valor dos actos que se podem considerar de pequena importância não é fixo e aumenta com a idade e a maturidade do menor, com a dimensão da sua fortuna e a importância dos negócios em que esteja envolvido. No artigo 127, do Código Civil excepciona expressamente a regra geral da incapacidade de exercícios, três categorias de actos do menor. - Os actos de administração ou de disposição de bens que o menor tenha adquirido pelo seu trabalho; - Os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que, estando ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem despesas, ou disposições de bens, de pequena importância; e - Os negócios jurídicos relativos a profissão, arte ou oficio, que o menor tenha sido autorizado ao exercer ou os praticados no exercício dessa profissão, arte ou oficio. No nº2 do mesmo artigo é limitada aos bens de que o menor tenha livre disposição a responsabilidade pelos actos relativos a profissão, arte ou oficio e pelos actos praticados no seu exercício. Ao recorrer amplamente a conceitos indeterminados na redacção do artigo 127, o Código vem dar as excepções que consagra, uma grande amplitude e elasticidade. No que respeita a alínea a), há que ter em atenção que o menor pode trabalhar em principio, desde os dezasseis anos, embora o possa fazer, em casos especiais desde os doze anos LT. Com o produto do seu trabalho pode adquirir bens com alguma importância, para cuja administração e disposição lhe é conferida capacidade. A alínea b), da qual se falou já atrás, faz coincidir a capacidade de exercício com a capacidade natural. Reconhece-se, assim, ao menor capacidade para os actos que estejam ao alcance da sua maturidade, discernimento e experiência. Este regime é limitado aos actos próprios da vida corrente do menor. Nesta limitação a lei não se refere a vida corrente de um tipo de menor, mas antes a vida corrente do menor concreto cujos os actos em questão. A limitação de que sejam patrimonialmente de pequena importância não remete também para um conceito objectivo mas antes para algo de relativo, para valores que sejam de pequena importância em relação ao estatuto e a vida Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 45 económica do menor. Note-se que se o ato estiver, ao alcance da capacidade natural do menor não haverá muita razão para a lei se preocupar com a sua protecção em concreto. Finalmente, alínea c) abrange todos os actos relativos a profissão, arte ou oficio que o menor seja autorizado a exercer ou praticados no seu exercício. Este preceito significa que na autorização para o menor exercer uma profissão está em implícita a atribuição de capacidade de exercício para os actos respectivos. Não seria verdadeiramente possível ao menor exercer uma profissão sob representação dos seus pais ou legais representantes. Com cautela a lei limita aos bens de que o menor tenha livre disponibilidade a responsabilidade pelos actos relativos a profissão arte ou oficio. Portanto, apesar da incapacidade geral de exercício de que sofre, os menores têm algumas capacidades concretas de exercício, conforme situações atrás referidas. O menor só poderá actuar juridicamente quando cessar a sua incapacidade, antes disso, será substituído pelo seu representante legal. Caso o menor pratique qualquer acto jurídico será nulo nos termos do art. 125CC. CONSEQUENCIA DOS ACTOS PRATICADOS PELOS INCAPAZES Os negócios jurídicos praticados pelo menor contrariamente à proibição em que se cifra a incapacidade estão feridos de anulabilidade nos termos do ( art. 125 CC). As pessoas com legitimidade Para arguir essa anulabilidade são: • Os representantes do menor dentro de um ano a contar do conhecimento do acto impugnado; • O próprio menor dentro de um ano a contar da cessação da incapacidade; • Qualquer herdeiro igualmente dentro de um ano a contar da morte, se o hereditando morreu antes de ter expirado o prazo em que podia ele próprio requerer a anulação ( art. 125CC). O direito ao invocar a anulabilidade é vedado quando se mostre comportamento malicioso do menor, no caso de este ter usado de dolo ou má fé a fim de se fazer passar por maior ou emancipado ( art. 126CC), entende-se assim que ficam inibidos de invocar a anulabilidade, não só o menor mas também os herdeiros ou seus representantes . OS MEIOS DE SUPRIMENTO DE INCAPACIDADE POR MENORIDADE São os meios de actuação estabelecidos pelo Direito, tendo em vista o efectivo exercício dos direitos e o cumprimento das obrigações do incapaz. Implicam sempre a intervenção de terceiros. Existem as seguintes formas de suprimento: a representação, ( poder CiênciasJurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 46 parental e tutela), família de acolhimento e a emancipação. Representação: Há representação quando o incapaz não é admitido a exercer os seus direitos pessoalmente por força da lei, e para suprir a sua incapacidade tem de aparecer outra pessoa que actue em seu lugar. (art. 124 e 258 CC, efeitos de representação). Os actos praticados por esta outra pessoa são actos juridicamente, tidos pelo Direito como se fossem praticados pelo próprio incapaz. As incapacidades são supridas pelo instituto da representação. Os meios de suprimento estão consagrados nos artigos ( 237. 281, 283, 284) da Lei nº 10/1004 de 25 de Agosto. Lei da Família e artigo (124 CC) São formas de representação: - Poder paternal art. 283 a 329 lei da familia - Tutela ( tutor ) art. 330 a 380 ambos da Lei da Família, O PODER PARENTAL O conteúdo está regulado no artigo 284 da Lei 10/2004, de 25 de Agosto, Lei da Família. Este direito respeita a diversos planos ( pessoal e patrimonial). Plano Pessoal – ( artigo 284 nº1 LF) deve zelar pela segurança dos filhos, orientar a educação dos filhos; Plano patrimonial _ abrange o poder geral de representação dos filhos ( art. 284 nº 2 e 287 LF)., o dever da administração geral dos bens dos filhos ( art. 286 LF), o dever de sustentar os filhos. O poder parental pertence aos pais ( mãe e o pai ), não distingue a lei, poderes especiais de um ou do outro existe o principio de igualdade dos progenitores ( art. 309 LF e art. 35 e 36 CRM) . Extinção do poder parental Quando morre um dos progenitores, o poder parental concentra-se no cônjuge sobrevivo. O poder parental só se extingue com a morte dos dois progenitores. Quando ocorre o divorcio, neste caso a titularidade do poder parental não é afastado, continua a ser de ambos cônjuges. A atribuição do poder parental há-de seguir certas regras. O poder parental pode ser regulado por mutuo acordo dos progenitores. Homologado pelo Tribunal, tem de ser feito tendo em consideração os interesses do menor. O menor pode ficar à guarda de um dos cônjuges, de uma terceira pessoa ou de uma entidade/ instituição de educação ou assistência. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 47 Quando o menor é confiado á instituição ou terceiros ( assistente ) há limitações no exercício do poder parental até ao limite que lhe é consignado pelos deveres inerentes ao desempenho da sua função. Inibição de pleno direito art. 319 LF. Inibição decretada pelo Tribunal nos termos do artigo 321 LF, O poder parental cessa quando o menor atinge a maioridade, quando o menor morre, sem prejuízo do disposto no artigo 131 CC; por morte de ambos cônjuges. A cessação implica a necessidade do Tribunal suprir a incapacidade do menor através do instituto da tutela. TUTELA A Tutela é o meio subsidiário ou sucedâneo de suprir a incapacidade do menor nos casos em que o poder parental não pode em absoluto ser exercido. Portanto, é o meio normal de suprimento do poder parental. A tutela deve ser instaurada sempre que se verifique algumas das situações previstas no artigo 331 LF. Aqui encontramos a figura de tutor, protutor, o conselho de família e como órgão de controlo e vigilância , o Tribunal de menores. Quando é que a tutela é instaurada? O artigo 331 LF, regula a instituição da tutela. O menor está obrigatoriamente sujeito à tutela nos seguintes casos: a) Em caso de morte dos pais; b) Os pais inibidos do poder parental quanto à regência da pessoa do filho; c) Estando os pais há mais de seis meses impedidos de facto de exercer o poder parental; d) Pais incógnitos. A instituição de uma tutela depende sempre da decisão judicial, e o tribunal agir oficiosamente ou não art. 334 LF. Contudo, a lei estabelece restrições aos poderes do tutor ( este é o órgão executivo da tutela, tem poderes de representação abrangendo, em princípio, tal como os dos pais a generalidade da esfera jurídica do menor, mas o poder do tutor, é toda via mais reduzido que o poder parental artigos 346, 347, 348 e 349 LF e estabelece medidas destinadas a assegurar uma boa gestão dos interesses e protecção do menor. Os objectivos e os órgão te tutela vem descritos nos artigos 333 e 336 LF. Órgãos de tutela ( artigos 336, 362, 365,366, )LF. Escolha do tutor A escolha do tutor pode ser feita pelos progenitores, pela lei e ou pelo Tribunal, conforme consagra o artigo 338 LF. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 48 Tutor designada pelos progenitores ( art. 339 ) LF, escolha testamentária. Tutela Legal ( art. 340 ) LF. Tutor designado pelo Tribunal ( art. 341 ) LF. Há lugar a designação do tutor pelo Tribunal quando não há nenhum familiar indicado no art. 340 LF, ou não tendo estes, condições para exercer a tutela. Prestação de contas ( art. 342 ) LF Direitos e deveres do tutelando ( art. 343 ) LF. Quem não pode ser tutor ( art. 344 ) LF. Emancipação : Pela emancipaçãoo menor, embora não deixe de o ser, adquire em principio capacidade genérica de exercício, como se fosse maior art. 133, com excepção do artigo 136 CC. - Por casamento: 18 anos, art. 30, família e excepcionalmente aos 16 anos , nº 2 do mesmo artigo; - Para exercer actividade empresarial : 18 anos art. 10 Código Comercial. - Para celebração do contrato de trabalho: art. 23 a 27 da Lei de Nº 23/2007 Lei do Trabalho. INCAPACIDADE POR INTERDIÇÃO Interdição: Esta incapacidade, a mais grave, resulta de determinadas deficiências psíquicas ou físicas, possuídas por certas pessoas, que lhes afectam a vontade e normal discernimento para poderem reger a sua própria vida e dispor livremente dos seus bens, tomar soluções, enfim, actuar juridicamente, conforme estatui o artigo 138 CC. ” podem ser interditos do exercício dos seus direitos todos aqueles, que por anomalia psíquica, surdez –mudez ou cegueira, se mostrem incapazes de governar suas pessoas e bens”. FORMAS DE SUPRIR A forma de suprir esta incapacidade é a representação legal. O interdito tem um regime jurídico semelhante ao menor, quer quanto ao valor dos actos praticados, quer quanto aos meios de suprir a sua incapacidade, exceptuando-se a emancipação. Para alguém ser considerado interdito, é necessário que a sua incapacidade seja declarada por sentença judicial. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 49 A incapacidade por interdição só cessara se desaparecer o motivo natural que a originou, e depois de validada por decisão do tribunal. INCAPACIDADE POR INABILITAÇÃO inabilitação: os motivos que determinam a inabilitação são os mesmos da interdição, mas revestidos de menor gravidade, a que se juntam ainda certos modos habituais de comportamento, como a prodigalidade, o abuso de bebidas alcoólicas ou estupefacientes art. 152 CC. A inabilitação, tal como interdição resulta igualmente de uma sentença judicial proferida no termo de uma acção interposta para este fim. FORMA DE SUPRIR O meio de suprimento de incapacidade por inabilitação é a assistência conforme o art. 153CC. - Assistência ( Curador ): situações em que certas pessoas são admitidas a exercer livremente os seus direitos. Nestes casos, o incapaz, pode exigir mas não sozinho. Ou seja, o suprimento da incapacidade impõe única e simplesmente que outra pessoa actue juntamente com o incapaz. Para que os actos sejam válidos, é necessário que haja um concurso de vontade do incapaz e do assistente. Há sempre um fenómeno de conjugação de vontades, isto porque o incapaz pode agir pessoal mas não livremente. Modalidades da assistência ( curador)Podem revestir de três modalidades: (1) a autorização; (2) a comparticipação; (3) a ratificação. Estas modalidades verificam-se quanto ao modo pelo qual se opera essa conjugação de vontades do incapaz e do assistente. A conjugação destas modalidades baseia-se no momento logicamente anterior ao acto do incapaz. A autorização, quando a vontade do assistente se manifesta no momento logicamente anterior ao acto do incapaz, art. 153/1, o curador actua como assistente e a prática de actos jurídicos pelo inabilitado está dependente da autorização deste. O curador, é uma entidade a quem cabe apenas, em princípio, autorizar o inabilitado a alienar bens por actos entre vivos, a celebrar convenções antenupciais ou quaisquer outros negócios jurídicos que tenham sido especificados na sentença de inabilitação. A comparticipação, verifica-se se a vontade do assistente se manifesta no próprio acto, no qual o assistente deve também participar. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 50 A ratificação, diz-se que há ratificação ou aprovação quando a manifestação de vontade do assistente é posterior à manifestação de vontade do incapaz. Esta incapacidade só cessara no caso de desaparecer o motivo que lhe de origem e depois de ter requerido no Tribunal o levantamento da inabilitação. Se esta tiver causa a prodigalidade, o abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, há que respeitar o prazo de cinco anos após o transito em julgado da respectiva sentença, a fim de que o inabilitado demonstre com o seu procedimento que está regenerado art. 155 CC. Incapacidade Acidental: esta resulta como o próprio nome sugere, de qualquer causa transitório, como a embriagues, intoxicação, estado hipnótico, etc., que leve a pessoa a agir sem ter consciência dos seus actos, ou seja, alguém que em determinado momento não esta em pleno gozo das suas capacidades mentais. Os actos praticados nestas condições podem ser anuláveis nos termos da lei. Art. 257 CC. A declaração negocial feita por quem, devido a qualquer causa, se encontrava incapacitado de entender o sentido dela ou não tenha o livre exercício da sua vontade é anulável, desde que o facto seja notório ou conhecido do declaratário. Leituras Obrigatórias Andrade, Manuel António Domingues, Teoria Geral da Relação Juridica vol I, Almedina, 1997 Actividades A seguir, estão as actividades correspondentes a esta quarta unidade. Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção, no final do presente Guia de Estudo. Bernardo, menor de 15 anos de idade, comprou um automóvel com o produto do seu trabalho de carpinteiro. Para tal, falsificou o seu BI e colocou umas barbas postiças para se apresentar no stand de automóveis como tendo 18 anos. Passados alguns meses Bernardo vem a falecer num acidente de viação, e os seus pais pretendem anular a compra do referido automóvel. Quid iuris? Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 51 UNIDADE TEMÁTICA 5 EXERCICIO E A TUTELA DOS DIREITOS SUBJECTIVOS Elaborado por Dário Caetano de Sousa Objectivos Identificar a tutela publica e a tutela privada; Conhecer os órgãos que compõe a tutela publica; Explicar porque razão a permissão pelo direito a tutela privada; Identificar as formas em que se manifesta a tutela privada; Identificar as formas da Responsabilidade estudadas; Saber diferenciar o ilícito civil do ilícito criminal. O exercício concreto dos direitos subjectivos suscita vários problemas, pois, as pessoas que são titulares do direito não os exercem isoladamente, pelo contrario, o exercício dos direitos é feito no âmbito da sociedade em que muitas pessoas coexistem e se relacionam, em contacto social, em cooperação e em conflito. Do contacto das pessoas umas com as outras e com as coisas, nas circunstancias da vida, podem resultar ( e resultam com alguma frequência) dificuldades que suscitam problemas no exercício dos direitos subjectivos. TUTELA PUBLICA Tutela Publica é a função que o Estado desempenha para tornar efectiva as normas jurídicas através dos tribunais como órgãos de soberania, imparciais e especializados. A tutela publica subdivide-se em: a) Tutela Administrativa – (Administração publica) A Tutela administrativa é o meio mais frequente de garantia dos direitos dos cidadãos no domínio da administração publica. Porquanto, os particulares estão protegidos contra a violação dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, quer por parte dos outros particulares, quer por parte do Estado, pois, a actuação do Estado está sujeita à Constituição e a Lei ( em sentido mais amplo), pelo que é necessário controlar a sua legalidade. É o chamado principio da legalidade da administração publica. b) Tutela Judicial A tutela judicial é por seu turno o processo normal de tutela dos interesses dos particulares atraves dos tribunais ( artigos 212, 213, 214, Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 52 215) ver as especies dos tribunais artigo 223, 225, 228, 230, 234,236,241,249). Todos da Constituição da República. CONDUTA ILICITA, CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE E TUTELA PRIVADA 1. NOÇAO DE ILICITUDE 1.1 ILicito Civil e ilícito Criminal 1.2 Ilícito intencional e ilícito meramente culposo 1.3 Responsabilidade civil contratual, responsabilidade civil extra- contratual e responsabilidade pelo risco Ilicitude O Código Civil procurou fixar em termos mais precisos o conceito de ilicitude, descrevendo duas variantes, através das quais se pode relevar o carácter anti-jurídico ou ilícito. 1) Violação de um direito de outrem (art. 483 CC): os direitos subjectivos aqui abrangidos, são, principalmente, os direitos absolutos, nomeadamente os direitos sobre as coisas ou direitos reais, os direitos de personalidade, os direitos familiares e a propriedade intelectual. 2) Violação da lei que protege interesses alheios: trata-se da infracção das leis que, embora protejam um direito subjectivo a essa tutela; e de leis que, tendo também ou até principalmente em vista a protecção dos interesses colectivos, não deixam de atender aos interesses particulares subjacentes. Além disso, a previsão da lei abrange ainda a violação das normas que visam prevenir, não a produção do dano em concreto, mas o simples perigo de dano em abstracto. Para que o lesado tenha direito à indemnização, três requisitos se mostram indispensáveis: 1) Que a lesão dos interesses do particular corresponda a violação de uma norma legal; 2) Que a tutela dos interesses dos particulares figure, de facto, entre os fins da norma violada; 3) Que o dano se tenha registado no círculo de interesses privados que a lei visa tutelar. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 53 O abuso do direito Não se trata da violação de um direito de outrem, ou da ofensa a uma norma tuteladora de um interesse alheio, mas do exercício anormal do direito próprio. O exercício do direito em termos reprovados pela lei, ou seja, respeitando a estrutura formal do direito, mas violando a sua afectação substancial, funcional ou teleológica, é considerado como legítimo. Isso quer dizer que, havendo dano, o titular do direito pode ser condenado a indemnizar o lesado. Há abuso de direito (art. 334 CC), sempre que o titular o exerce com manifesto excesso dos limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes, ou pelo fim económico ou social desse direito. Com base no abuso de direito, o lesado pode requerer o exercício moderado, equilibrado, lógico, racional do direito que a lei conferea outrem; o que não pode é, com base no instituto, requerer que o direito não seja reconhecido ao titular, que este seja inteiramente despojado dele. Factos ilícitos especialmente previstos na lei Além das duas grandes directrizes de ordem geral fixadas no art. 483 CC, sobre o conceito de ilicitude, como pressuposto da responsabilidade civil, o Código Civil trata de modo especial alguns casos de factos anti-jurídicos: a) Factos ofensivos do crédito ou bom-nome das pessoas (art. 484 CC :Quem afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar o crédito ou o bom-nome de qualquer pessoa, singular ou colectiva responde pelos danos causados; b) Conselhos, recomendações ou informações geradoras de danos (art. 485 1 - Os simples conselhos, recomendações ou informações não responsabilizam quem os dá, ainda que haja negligência da sua parte). Imputabilidade do facto ao lesante ( culpa ) Para que o facto ilícito gere responsabilidade, é necessário que o autor tenha agido com culpa. Não basta reconhecer que ele procedeu objectivamente mal. É preciso, nos termos do art. 483 CC, que a violação ilícita atenha sido praticada com dolo ou mera culpa. Agir com culpa, significa actuar em termos de conduta do agente merecer a reprovação ou censura do direito. E a conduta do lesante é reprovável, quando, pela sua capacidade e em face das circunstâncias concretas da situação, se concluir que ele podia e devia agir de outro modo. Fala-se em nexo de imputação para significar que não basta que o agente tenha praticado um facto voluntário, não basta que esse facto, tendo sido praticado voluntariamente seja ilícito, é preciso que ele possa ser imputado ao agente; e só é imputado ao agente quando o agente actuou culposamente. A culpa em sentido amplo abrange duas sub-modalidades: Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 54 1. Culpa em sentido estrito, também designada por mera culpa ou negligência; 2. Dolo. Há casos em que as pessoas não têm os requisitos para actuar culposamente. Para que uma pessoa seja susceptível do juízo de culpabilidade, é preciso que ela seja imputável; para lhe serem imputados actos é preciso que ela seja susceptível de imputação, que seja imputável ou tenha imputabilidade. Imputabilidade Diz-se imputável a pessoa com capacidade natural para prever os efeitos e medir o valor dos actos que pratica e para se determinar de harmonia com o juízo que faça acerca deles (art. 488 CC). Ele caracteriza-se: • Pela capacidade de entendimento mínimo que permite ao sujeito prever as consequências dos seus actos; • E pelo mínimo de liberdade, que lhe permitia determinar-se. É imputável o sujeito que tem o mínimo de inteligência para perceber alcance do acto que pratica e que tem liberdade de determinação, isto é, que é livre de decidir ou não de praticar o acto, é isto que se chama imputabilidade. Pode dizer-se que para haver responsabilidade da pessoa inimputável é necessária a verificação dos seguintes requisitos: a) Que haja um facto ilícito; b) Que esse facto tenha causado danos a alguém; c) Que o facto tenha sido praticado em condições de ser considerado culposo, reprovável, se nas mesmas condições tivesse sido praticado por pessoa imputável; d) Que haja entre o facto e o dano o necessário nexo de causalidade; e) Que a reparação do dano não possa ser obtida dos vigilantes do inimputável; f) Que a equidade justifique a responsabilidade total ou parcial do autor, em face das circunstâncias concretas do caso. Culpa A culpa (art. 487 CC) exprime um juízo de reprovabilidade pessoal da conduta do agente: o lesante, em face das circunstâncias específicas do caso, devia e podia ter agido de outro modo. É um juízo que assenta no Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 55 nexo existente entre o facto e a vontade do autor, e pode revestir duas formas distintas: o dolo e a negligencia ou mera culpa. Há dolo, quando o agente actuou por forma a aceitar, a admitir, as consequências ilícitas da sua conduta. Diz-se dolosa a conduta quando o agente, não tendo previsto as consequências danosas e ilícitas que do seu acto iriam resultar, não fez nada para as afastar, porque as admitiu. Há mera culpa, quando o agente actuou levianamente, imponderadamente, negligentemente, sem cuidado ou sem atenção, quando o agente, numa palavra, não empregou a diligência que o bom pai de família [38], colocado naquela situação, teria empregado. Modalidades de culpa A distinção entre dolo e a negligência, como modalidades de culpa, aparece logo referida na disposição que constitui a trave-mestra de toda a construção legislativa da responsabilidade civil (art. 483/1 CC). O dolo aparece como modalidade mais grave da culpa, aquela em que a conduta do agente, pela mais estreita identificação estabelecida entre a vontade deste e o facto, se torna mais fortemente censurável. As modalidades de dolo são: - Dolo directo, quando o agente actuou para obter a consequência ilícita danosa e a obteve; o agente actuou intencionalmente para o resultado ilícito; - Dolo necessário, quando o agente não tinha como objectivo do seu comportamento o resultado ilícito, mas sabia que o seu comportamento ia ter como resultado necessário, inevitável, o ilícito; - Dolo eventual, quando o agente prefigura a consequência ilícita e danosa como uma consequência possível do seu comportamento e não faz nada para a evitar. Além do nexo, entre facto ilícito e a vontade do lesante, nexo que constitui o elemento volitivo ou emocional do dolo, este compreende ainda um outro elemento, de natureza intelectual. Para que haja dolo essencial o conhecimento das circunstâncias de facto que integram a violação do direito ou da norma tuteladora de interesses alheios e a consciência da ilicitude do facto. Mera culpa ou negligência Consiste na omissão da diligência exigível do agente. Há culpa consciente, quando o agente representou a possibilidade da consequência ilícita danosa e só actuou porque se convenceu de infundada e megalómanamente que conseguiria evitar a produção dessa consequência. Há culpa inconsciente, quando o agente não previu o resultado, não pensou nisso e ele ocorreu. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 56 A mera culpa (consciente ou inconsciente) exprime, uma ligação da pessoa com o facto menos incisiva do que o dolo, mas ainda assim reprovável ou censurável. O grau de reprovação ou de censura será tanto maior quanto mais ampla for a possibilidade de a pessoa ter agido de outro modo, e mais forte ou intenso o dever de o ter feito. Causas de escusa, causas de exclusão da culpabilidade Há circunstâncias que em concreto afastam a culpa do agente, isto é, fazem com que o agente não seja objecto do juízo de culpabilidade quando seria normalmente se essas circunstâncias não tivessem ocorrido. A nossa lei faz referência a duas causas de escusa, de uma forma técnica nos arts. 337/2 e 338 CC. – veremos em diante. Faz-se referência a uma causa de exclusão de culpabilidade que é o medo, desde que revista certas características: Essencial: tenha sido ele a causa determinante do comportamento do agente ou, dito de outro modo, o agente só tenha actuado por causa do medo; Desculpável: isto é, seja um medo, uma situação psicológica de intimidação, em que o bom pai de família também teria incorrido se estivesses naquela situação. Prova da culpa, presunção de culpa Sendo a culpa do lesante um elemento constitutivo do direito à indemnização, incumbe ao lesado, como credor, fazer a prova dela, nos termos gerais da repartição legal do ónus probatório (art. 342/1 CC: Aquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factosconstitutivos do direito alegado). Regra oposta vigora para o caso da responsabilidade contratual (art. 799/1 Incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa sua). Neste caso o facto constitutivo do direito de indemnização é o não cumprimento da obrigação, funcionando a falta de culpa como uma excepção, em certos termos oponível pelo devedor. Ao afirmar o princípio segundo o qual, na responsabilidade delitual, é ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão (art. 487/1 CC: é ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo presunção legal de culpa. E há com efeito, vários casos em que a lei presume a culpa do responsável. DANO Para haver obrigação de indemnizar, é condição essencial que haja dano, que é o facto ilícito culposo tenha causado um prejuízo a alguém. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 57 O dano ou prejuizo é toda a ofensa de bens ou interesses alheios protegidos pela ordem juridica, isto é, o prejuízo que um sujeito jurídico sofre ou na sua pessoa, ou nos seus bens. Classificação de danos: - Danos pessoais: aqueles que se repercutem nos direitos da pessoa; - Danos materiais: aqueles que respeitam a coisas; - Danos patrimoniais: são aqueles, materiais que consubstanciam a lesão de interesses avaliáveis em dinheiro, dentro destes à que distinguir: a) Danos emergentes: é a diminuição verificada no património de alguém em consequência de um acto ilícito e culposo de outrem, ou de um acto não ilícito e culposo mas constitutivo de responsabilidade civil para outrem; b) Lucros cessantes: quando em consequência do acto gerador de responsabilidade civil, deixa de auferir qualquer coisa que normalmente teria obtido se não fosse o acto que constitui o agente em responsabilidade. - Danos não patrimoniais (ou morais): são os danos que se traduzem na lesão de direitos ou interesses insusceptíveis de avaliação pecuniária. O princípio da ressarcibilidade dos danos não patrimoniais é limitado à responsabilidade civil extra-contratual. E não deve ser ampliado à responsabilidade contratual, por não haver analogia entre os dois tipos de situações. - Dano é presente ou futuro, consoante já se verificou ou ainda não se verificou no momento da apreciação pelo Tribunal do direito à indemnização; isto é, futuros, são todos os danos que ainda não ocorreram no momento em que o Tribunal aprecia o pedido indemnizatório, mas cuja ocorrência é previsível e provável. - Dano real: é o prejuízo efectivamente verificado; é o dano avaliado em si mesmo; - Dano de cálculo: é a transposição pecuniária deste dano, é a avaliação deste dano em dinheiro. A gravidade do dano há-de medir-se por um padrão objectivo, e não à luz de factores subjectivos. Por um lado, a gravidade apreciar-se-á em função da tutela do direito: o dano deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. A reparação obedecerá a juízos de equidade tendo em conta as circunstâncias concretas de cada caso (art. 496/3 CC – 494 CC). A indemnização, tendo especialmente em conta a situação económica do agente e do lesado, é assim mais uma reparação do que uma compensação, mais uma satisfação do que uma indemnização. Nexo de causalidade entre o facto e dano Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 58 Para que o dano seja indemnizável é forçoso que ele seja consequência do facto, ilícito e culposo no domínio da responsabilidade subjectiva extra- obrigacional, facto não culposo no domínio da responsabilidade objectiva, onde o facto gerador do dano pode mesmo ser um facto lícito. Em qualquer caso, e portanto em qualquer das modalidades da responsabilidade civil, tem sempre que haver uma ligação causal entre o facto e o dano para que o actor do facto seja obrigado a indemnizar o prejuízo causado. Titularidade do direito à indemnização Tem direito à indemnização o titular do direito violado ou do interesse imediatamente lesado, com a violação da disposição legal, não o terceiro que só reflexa ou indirectamente seja prejudicado. Sem prejuízo do prazo correspondente à prescrição ordinária – 20 anos – (contado sobre a data do facto ilícito: arts. 498 - 309 CC), o direito à indemnização fundada na responsabilidade civil sujeito a um prazo curto de prescrição (três anos). A prova dos factos que interessam à definição da responsabilidade, em regra feita através de testemunhas, torna-se extremamente difícil e bastante precária a partir de certo período de tempo sobre a data dos acontecimentos. Há dois prazos de prescrição: - O prazo ordinário (vinte anos) conta a partir do facto danoso; - O prazo de três anos, conta a partir do momento em que o lesado tem conhecimento do seu direito, isto é, conhecimento dos factos constitutivos do seu direito. RESPONSABILIDADE PELO RISCO A responsabilidade pelo risco caracteriza-se por não depender de culpa do agente. A obrigação de indemnizar nasce do risco próprio de certas actividades e integra-se nelas, independentemente de dolo ou culpa. Tipos de responsabilidade civil - Responsabilidade Contratual ou obrigacional - proveniente da falta de cumprimento das obrigações emergentes dos contratos . Resulta do incumprimento de direitos subjectivos de crédito, do incumprimento de obrigações em sentido técnico-jurídico. Portanto, para o surgimento da obrigação de indemnizar é necessário que tenha havido culpa do devedor no não cumprimento do contrato. - responsabilidade extra-contratual - deriva da violação de deveres ou vínculos jurídicos gerais, isto é, de deveres de conduta impostos a todas as pessoas e que correspondem aos direitos absolutos, ou ate da pratica Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 59 de certos actos que, embora lícitos, produzem dano a outrem. Está prevista e regulada nos arts. 483º segs. CC. Nesta definição do quadro da responsabilidade civil em sentido amplo, é preciso ainda ter em conta que, quer no campo da responsabilidade extra- obrigacional, quer no campo da responsabilidade obrigacional, ainda há dois sub-sectores: Responsabilidade subjectiva, esta verifica-se quando ela depende da existência de culpa do agente, de culpa do autor da lesão; - Responsabilidade objectiva, esta verifica-se quando o agente se constitui na obrigação de indemnizar independentemente de culpa. É de salientar que é bem possível que o mesmo acto envolva para o agente (ou o omitente), simultaneamente, responsabilidade contratual ( por violar uma obrigação) e responsabilidade extra-contratual( por infringir ao mesmo tempo um dever geral de abstenção ou o direito absoluto), tal como é possível que a mesma ocorrência acarrete para o autor, quer responsabilidade civil, quer responsabilidade criminal, consoante o prisma sob o qual a sua conduta seja observada. Responsabilidade Civil e Responsabilidade Criminal A responsabilidade civil autonomiza-se da responsabilidade criminal ou penal porquanto a responsabilidade civil pertence à esfera do direito civil, que é direito privado, ao passo que a responsabilidade criminal se reconduz ao direito penal, ramo do direito publico. Entre o ilícito civil e o ilícito criminal há diferenças substanciais e também diferenças de pura índole formal, atendendo a natureza das sanções que a um e a outro correspondem. Está subjacente à responsabilidade civil a ideia de reparação patrimonial de um dano privado, pois o dever jurídico infringido foi estabelecido directamente no interesse da pessoa lesada. O que verdadeiramente importa nas sanções civis é a restituição dos interesses lesados daí que sejamprivadas e disponíveis. Diversos são os caracteres da responsabilidade penal, esta aparece como uma defesa contra os autores dos factos que atingem a ordem social. O ilícito penal, portanto, ofende-se um dever jurídico estabelecido imediatamente no interesse da colectividade. As sanções criminais visam defender a sociedade: propõem-se fins de prevenção geral e especial, através da intimidação e da reeducação do delinquente ( penas e medidas de segurança), e fins eticos-retributivos, através da expiação pelo delinquente da sua culpa ( penas ). Compreende-se , assim, que as sanções criminais tenham carácter publico e indisponível. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 60 As duas formas de responsabilidade,a civil e a responsabilidade criminal, posto que sejam diversas não se excluem necessariamente. Muitas vezes existe apenas uma delas. Mas não é raro que um facto reuna em si as duas qualificações, de ilícito civil e criminal. Consideremos, por exemplo, um homicida: a lei civil obriga-o a reparar os prejuízos que causou aos familiares da vitima e a lei penal aplica-lhe uma pena ( privação da liberdade). Em tais casos, existira responsabilidade civil conexa com a criminal. Pressupostos Da leitura do art. 483/1( Aquele que, em dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação). CC, mostra que vários pressupostos condicionam, no caso da responsabilidade por factos ilícitos, a obrigação de indemnizar o lesante: a) Facto (controlável pela vontade do homem); b) Ilicitude; c) Imputabilidade do facto ao lesante; d) Dano; e) Um nexo de casualidade entre o facto e o dano. Facto voluntáriodo lesante O elemento básico da responsabilidade do agente – um facto dominável ou controlável pela vontade, um comportamento ou uma forma de conduta humana – pois só quanto a factos dessa índole têm cabimento a ideia de ilicitude, o requisito da culpa e a obrigação de reparar o dano nos termos em que a lei a impõe. Este facto consiste, em regra, num acto, numa acção, ou seja, num facto positivo, que importa a violação de um dever geral de abstenção, do dever de não ingerência na esfera de acção do titular do direito absoluto. Mas pode traduzir-se também num facto negativo, numa abstenção ou numa omissão (art. 486 CC). Quando se alude a facto voluntário do agente, não se pretende restringir os factos humanos relevantes em matéria de responsabilidade dos actos queridos, ou seja, àqueles casos em que o agente tenha prefigurado mentalmente os efeitos do acto e tenha agido em vista deles. O que está geralmente em causa, no domínio da responsabilidade civil, são puras acções de facto, praticadas sem nenhum intuito declarativo. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 61 RESPONSABILIDADE PELO RISCO A responsabilidade pelo risco caracteriza-se por não depender de culpa do agente. A obrigação de indemnizar nasce do risco próprio de certas actividades e integra-se nelas, independentemente de dolo ou culpa. Por força da remissão feita no art. 499 CC, deve aplicar-se à responsabilidade pelo risco o disposto no art. 494 CC. O facto de a responsabilidade objectiva não depender de culpa do agente não impede que a indemnização seja fixada em montante inferior ao dano, quando a situação económica do responsável pelo risco e do lesado e as demais circunstâncias o justifiquem. Carácter objectivo da responsabilidade A lei civil vigente assinala de modo inequívoco o carácter objectivo da responsabilidade do comitente, afirmando (art. 500/1 CC) que ele responde, independentemente da culpa e que (n.º 2) a sua responsabilidade não cessa pelo facto de o comissário haver agido contra as instruções recebidas. Não se trata de uma simples presunção de culpa, que ao comitente incumba elidir para se eximir à obrigação de indemnizar, trata-se de a responsabilidade prescindir da existência de culpa, nada adiantando, por isso, a prova de que o comitente agiu sem culpa ou de que os danos se teriam igualmente registado, ainda que não houvesse actuação culposa da sua parte. Requisitos Para que exista responsabilidade prevista no (art. 500 1 - Aquele que encarrega outrem de qualquer comissão responde, independentemente de culpa, pelos danos que o comissário causar, desde que sobre este recaía também a obrigação de indemnizar). É preciso que se verifiquem cumulativamente vários requisitos: a) Que exista entre dois sujeitos jurídicos uma relação da comissão: é uma relação de comissão, é uma relação em que um dos sujeitos realiza um acto isolado, ou uma actividade duradoura, por conta de outrem e sob as instruções de outrem; b) O comissário tenha praticado um acto constitutivo para ele, comissário, de responsabilidade civil: para haver obrigação de indemnizar para o comitente, é indispensável que o acto do comissário constitua, para ele comissário, uma obrigação de indemnizar; c) Para que haja obrigação de indemnizar do comitente nos termos do art. 500 CC (2 - A responsabilidade do comitente só existe se o facto danoso for praticado pelo comissário, ainda que intencionalmente ou contra as instruções daquele, no exercício da função que lhe foi confiada).a ideia é Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 62 a de que o comissário pratique o facto danoso e constitutivo de responsabilidade civil no exercício das suas funções. Responsabilidade do Estado e demais pessoas colectivas É aplicável ao Estado e às restantes pessoas colectivas públicas nos termos do art. 501 e 165 CC, quanto aos danos causados pelos seus órgãos ou representantes do exercício de actividades de gestão privada, o regime fixado para o comitente. O Estado e as demais pessoas colectivas públicas: a) Respondem perante o terceiro lesado, independentemente de culpa, desde que os seus órgãos, agentes ou representantes tenham incorrido em responsabilidade; b) Gozam seguidamente do direito de regresso contra os autores dos danos, para exigirem o reembolso de tudo quanto tiverem pago, excepto se também houver culpa da sua parte. São actos de gestão pública os que, visando a satisfação de interesses colectivos, realizam fins específicos do Estado ou outro ente público e que muitas vezes assentam sobre o ius auctoritatis da entidade que os pratica. Os actos de gestão privada são, de modo geral, aqueles que, embora praticados pelos órgãos, agentes ou representantes do Estado ou de outras pessoas colectivas públicas, estão sujeitos às mesmas regras que vigoraram para a hipótese de serem praticados por simples particulares. São actos em que o Estado ou a pessoa colectiva pública intervém como um simples particular, despedido do seu poder de soberania ou do seu ius auctoritatis. Os órgãos da pessoa colectiva, são as entidades, abstractamente consideradas, de composição singular ou colegial, às quais incumbe, por força da lei, ou dos estatutos, exprimir o pensamento ou traduzir e executar a vontade dessa pessoa. Os agentes são as pessoas que, por incumbência ou sob a direcção dos órgãos da pessoa colectiva, executam determinadas operações materiais. Dá-se o nome de representantes aos mandatários desses órgãos, ou seja, as pessoas por ele incumbidas de realizar em nome da pessoa colectiva quaisquer actos jurídicos. Responsabilidade por factos lícitos O acto pode ser lícito e obrigar, todavia, o agente a reparar o prejuízo que a sua prática porventura cause a terceiro. A licitude do acto não afasta necessariamente o dever de indemnizar o prejuízo que, num interesse de menor valor sofreu o dono dase poderia mover. Toda a acção desenvolvida para além dos limites fixados, invadiria a esfera de terceiro e, consequentemente feriria o seu interesse. Este facto é tão natural quanto é impossível conceber a vida dum agrupamento humano sem uma disciplina obrigatória entre os seus membros, sem normas de conduta que se imponham a todos por forma a permitir e facilitar o convívio dos homens, mantendo a ordem na colectividade. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 4 Desta forma Surgiram normas ou regras com o objectivo de regular, de disciplinar as relações entre os indivíduos, evitando-se assim o desequilíbrio e a desorganização no meio da social. Estas regras só se justificam porque os homens não vivem isolados, em estado selvagem. Um ser humano, abandonado a si mesmo numa região desabitada , não teria de pautar a sua conduta senão pelos seus desejos e pelas suas necessidades. A sua vontade seria absoluta, sem outros limites além dos que a sua própria natureza lhe impusesse. A sua liberdade seria ampla para a garantia dos seus interesses, porque não existiria a liberdade dum seu semelhante para restringir a sua. Não haveria lugar a normas de direito, porque estas são resultante do viver social e só se tornam imprescindíveis para limitar as liberdades de todos os indivíduos em beneficio do interesse colectivo. Sem sombra de dúvida, a liberdade de cada indivíduo, dentro da sociedade, cede parte da sua plenitude para que possam coexistir as liberdades de todos. E, a função primária do Direito é exactamente fixar os limites às liberdades individuais, de modo a permitir a vida em sociedade. Os conflitos de interesse tem várias causas, entretanto iremos apenas destacar duas, nomeadamente: a) Ordem quantitativa - relativa a insuficiência ou a raridade de determinados bens para a satisfação de todas as necessidades que os solicitam. b) Ordem qualitativa – relativa a impossibilidade em que se encontram certos bens de dar satisfação às exigências da demanda, estando-se, portanto, no campo da qualidade ou de relativismo . Afigura-se importante reter alguns conceitos: Necessidade: situação de carência ou desequilíbrio, biológico ou psíquico, que impulsiona o homem a agir de forma a suprir a carência ou a restabeleçer o equilíbrio perdido. Bem: é todo e qualquer meio capaz de satisfazer a necessidade do homem. Por bem deve-se entender apenas àquele que origina as relações jurídicas ( toda a relação da vida social regulada pelo direito ) e designa-se por bem jurídico. Utilidade: a aptidão que tem o bem para realizar a satisfação humana. Podemos assim afirmar categoricamente que o homem é por natureza social tanto que ele sempre viveu em sociedade podendo recuar para às sociedades primitivas tais como tribo, clã, família, etc, até ao estagio de hoje, sociedades modernas isto é, Estados, tudo isto são manifestações inequívocas da sociabilidade do homem. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 5 Podemos também afirmar que o homem estabelece entre si relações de convivência inter subjectivas que assumem grande relevância social e como tal é necessário estabelecer regras de convivência no seio da sociedade. Assim, para que seja possível a convivência humana na sociedade é necessário definir um conjunto de regras e padrões que orientem o comportamento dos indivíduos e que estabeleçam as regras da organização dentro da sociedade. O Direito existe para ordenar as condutas humanas, conformando a actuação de cada um dos membros no respeito pelos outros e disciplinando as condutas individuas com vista à realização de objectivos ou interesses individuais e ou comuns. Dai que, onde há direito há sociedade e onde há sociedade há homem e onde há sociedade há direito e vice verso. ( Ubi Jus ibi societas/ Ubi societas ibi homo/ Ubi societas ibi jus). 1.3 ACEPÇOES DO TERMO DIREITO O termo Direito admite mais do que um sentido. Para sabermos o seu sentido exacto é preciso recorrer ao contexto frásico em que estiver inserido para poder identificar o exacto sentido. Alguns exemplos: 1. A Elisa pagou 20.000 mts de direitos pela importação da sua viatura. Neste exemplo, a palavra direito tem o sentido de receita aduaneira, que é o imposto que o Estado cobra pela importação de bens. Num sentido mais amplo, é possível encontrar neste exemplo a ideia do direito Subjectivo bem como o direito Objectivo dependendo das situações, visto que os direitos alfandegários são definidos por lei. 2. Na Politécnica funciona uma Faculdade de Direito. O direito refere-se ao local onde se adquire a formação especifica, uma formação cientifica. 3. Todo o trabalhador tem o direito a um salário. O direito tem o sentido de uma vantagem, ou beneficio que um trabalhador tem. Por isso tem poderes de exigir que lhe seja pago. ( Direito subjectivo ). 4. O Direito Moçambicano não consagra a pena de morte. O direito como norma jurídica a qual proíbe a pena de morte. Encontramos aqui um princípio constitucional. (Direito Objectivo) Dos exemplos acima expostos, concluímos que o termo direito admite varias acepções, contudo, para efeitos desta cadeira importa-nos o Direito Objectivo e o Direito Subjectivo. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 6 1.4 O DIREITO OBJECTIVO E O DIREITO SUBJECTIVO Direito Objectivo é o conjunto de regras jurídicas vigentes num determinado momento, para reger as relações humanas, impostas, coercivamente à obediência de todos ex: as lei, os códigos civil e penal, de processo, o Direito de Família, Direito das Obrigações Direito das sucessões etc., está-se portanto, no campo do Direito Objectivo. Direito Subjectivo é a faculdade ou prerrogativa de que um indivíduo tem de invocar a lei na defesa dos seus interesses. Assim, ao direito subjectivo de uma pessoa corresponde sempre o dever de outra, que, se não o cumprir, poderá ser obrigada a observa-la através de procedimentos judiciais. Portanto, o direito subjectivo é o poder de agir garantido pela norma jurídica para garantir a satisfação de um interesse, juridicamente protegido pela lei. Deste modo, podemos afirmar que as situações de vantagens conferidas pela norma a pessoas para desfrute de bens e situações jurídicas chamam-se também direitos. Só que, para distinguir as duas acepções, contrapõe-se o direito objectivo – conjunto de normas e ao direito subjectivo situações de vantagem. 1.5 ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA A DEFINIÇÃO DO DIREITO A noção do direito é sempre relativa ou aproximativa para delimita-lo precisamos de nos servir num elemento básico que são os elementos do direito: 1. Sistema: significa que o Direito não é um mero conjunto ou complexo de normas, mas sim, um conjunto de normas ou leis que não se contradizem uma as outras pelo contrario complementam-se formando um todo, uma unidade, um sistema e que cada regra interliga ás outras e ajuda deste modo atingir os seus objectivos. 2. Estadualidade: o Direito é produto do Estado, fruto da acção dos órgãos do Estado que tem o direito de produzir leis que abrangem toda a sociedade. 3. Coercibilidade: é a susceptibilidade de utilização da força por parte do Estado para impedir e ou reprimir a violação da norma jurídica e a reposição de direitos violados. 4. Imperatividade: As normas jurídicas são de cumprimento obrigatório para os seus destinatários. Aos membros da sociedade politica, não é lhes reservada a possibilidade de optar entre cumprir ou não cumprir. As normas jurídicas são obrigatórias dai que se diz que a norma jurídicas é imperativa, é obrigatória, injuntiva, porque se impõe a todos sem excepção. É verdadecoisa usada, destruída ou danificada. E por isso se impõe nuns casos, e se admite noutros, a fixação da indemnização a cargo do agente ou daqueles que tiraram proveito do acto. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 63 CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE – ATUTELA PRIVADA Como vimos a Tutela publica constitui a regra geral para tutelar os interesses dos cidadãos. A tutela privada é excepção. Como se lê no artigo 1 Código de Processo Civil, ai se diz expressamente que a ninguém é licito o recurso a força com o fim de realizar ou assegurar o seu próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei. Nisto reside a proibição legal da autodefesa. O monopólio estatal da justiça acarreta a proibição de principio da acção directa, isto é, não é permitido que se faça a justiça pelas próprias mãos. O regime de monopólio da justiça publica estatal pressupõe que o aparelho de justiça e do Estado seja efectivamente capaz de assegurar num tempo e com qualidade razoáveis a defesa dos direitos das pessoas. A entrega pelo cidadão nas mãos do Estado, do monopólio da defesa dos direitos e da prossecução da justiça não é total nem definitiva, e o cidadão possui o direito natural à justiça e à defesa dos seus direitos e, pode faze-lo directa e pessoalmente quando o Estado por quaisquer razões o não faça. Tanto que o Estado não consegue assegurar sempre a todo o tempo e em toda parte, a defesa publica de direitos de todos. É praticamente impossível assegurar a defesa publica de todos os direitos, a todas as pessoas e em quaisquer circunstancias. Por isso a pessoa pode e lhe é licito defender-se ela própria e os seus direitos quando não seja possível recorrer em tempo útil aos meios estatais, seja à policia, seja aos tribunais. A justiça privada tem uma longa historia de violências e injustiças e não encontra hoje justificação, salvo em casos verdadeiramente raros. E, tendo em consideração que nem sempre é possível o recurso da tutela publica a lei permite em casos excepcionais e uma vez verificados todos os requisitos, o recurso a tutela privada, de modo que servindo-se desta tutela o facto praticado seja isento da responsabilidade civil e ou criminal por força da lei. Esta matéria é regulada no código civil nos artigos 336, 337e 340 FORMAS DE TUTELA PRIVADA – CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE a) ACÇAO DIRECTA - o artigo 336 do código civil, permite o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio. Quando a acção directa for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais ( tutela publica) para evitar a inutilização pratica desse direito, contando que o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo. A acção directa não é licita quando sacrificar interesses superiores aos que o agente visa realizar ou assegurar. Com a acção directa o agente pode apoderar-se de um bem, causar a destruição ou deterioração de uma coisa, na eliminação da resistência irregular oposta ao exercício do seu direito. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 64 PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS DA ACÇÀO DIRECTA Conforme dispõe nos números 1 e 3 do artigo 336 CC a licitude da acção directa depende da verificação dos seguintes pressupostos ou requisitos 1. que se trate de realizar ou assegurar um direito próprio; 2. que haja impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais para evitar a inutilização pratica desse direito; 3. que o agente não exceda o estritamente necessário para impedir o prejuízo; ( necessidade da proporcionalidade). 4. que não se sacrifique interesses superiores aos que se visam defender. Não é permitido o exagero sob pena de ser responsabilizado, conforme estatui o artigo 338 CC. b) LEGITIMA DEFESA – De um modo geral, pode-se definir a legitima defesa como sendo a realização pelo próprio titular de um direito, ou por terceiro, contra uma agressão actual e ilícita a esse direito, quando não for possível, em tempo útil, o recurso a autoridade publica. Artigo 337 CC. PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS DA LEGITIMA DEFESA 1. Uma agressão actual ilícita, contra a pessoa ou património do agente ou de terceiros; 2. A impossibilidade de a vitima recorrer aos meios normais para afastar a agressão; 3. O prejuízo causado pelo acto não ser manifestamente superior ao que pode resultar da agressão. ( significa que pode haver na legitima defesa desproporção entre os prejuízos desde que não seja manifesta.) verificando-se a isenção da responsabilidade, conforme o nº 2 do referido artigo, a defesa excessiva pode resultar de os meios utilizados serem mais graves do que os necessários para afastar a agressão. É necessária que essa agressão seja actual, o que exclui, em principio a licitude de legitima defesa preventiva. A simples previsibilidade ou mesmo a certeza da agressão não autorizam o agente a desencadear desde logo a defesa. A lei não obriga, todavia o agente a protelar a defesa até à consumação da agressão. Logo que iniciada a agressão o agredido pode desencadear a defesa. Portanto, só a agressão ilícita justifica a legitima defesa. A agressão pode ter como objecto tanto a pessoa como o património, e tanto do agente como de terceiros. Este regime dá uma grande amplitude à legitima defesa. Não é apenas a defesa da pessoa que justifica a Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 65 reacção, também os bens patrimoniais o justificam. A justificação da defesa de terceiros justifica-se de acordo com os valores de solidariedade. Se a reacção defensiva é licita, já o não é licito o desforço ou a vingança. Removida a agressão, a defesa deve cessar, pois, ao agente não assiste o direito de vingar, nem de punir o agressor. Contudo, a reacção defensiva deixa de ser licita se for desproporcionada e causar danos manifestamente superiores aos que puderem resultar da agressão. Não é suficiente que esses danos sejam superiores aos que poderiam resultar da agressão, é necessário que o sejam manifestamente. Sucede, porem, com frequência, que o agente que se defende, ou que defende outrem, excede o que seria necessário à remoção da agressão ( excesso da legitima defesa). Este excesso é resultado, muitas vezes, do calor da contenda, que a lei chama de perturbação, ou do medo do agente. Este excesso desde que não culposo, não afasta a legitima defesa nº 2 do artigo 337. O erro do agente sobre a verificação dos pressupostos da legitima defesa faz recair sobre o agente o dever de indemnizar, salvo se o erro for desculpável. Casos como este têm sucedido, por exemplo, quando o agressor usa de arma falsa ou simulada ( imitações perfeitas em plásticos) e suscita assim no agredido uma convicção de perigo que não correspondia a realidade. O erro ( falsa percepção da realidade) é então desculpável porque causada pelo agressor e porque não é exigível do agente que dele se aperceba artigo 338 CC. c) ESTADO DE NECESSIDADE O estado de necessidade ocorre quando o agente enfrenta um perigo para cuja remoção necessita de destruir ou danificar coisa alheia. O artigo 339 CC reconhece ser licita a acção do agente que danifica ou destrói coisa alheia com o fim de remover um o perigo actual de um dano manifestamente superior, perigo esse que afecta o próprio agente ou outra pessoa. 1. Existência de um perigo actual; 2. Esse perigo deve ameaçar um direito ou um bem jurídico relativo a pessoa ou património do agente ou de terceiro; 3. A conduta do agente de constituir meio necessário para preservar o direito ou bem jurídico em causa; 4. os interesses defendidos devem ser manifestamente superiores aos sacrificados. Se o perigo não foractual, o agente deve tentar preveni-lo de outro modo, sem causar danos a terceiros, é necessário que exista já a situação de perigo. Por outro lado , a acção não é licita quando o agente causa um dano igual ou superior ao que pretende evitar. A lei é exigente nesta matéria, pois exige que o dano a evitar seja manifestamente superior ao que foi gerado. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 66 Porem, se o perigo tiver sido criado por sua culpa exclusiva, o nº 2 do artigo 339 obriga o agente a indemnizar o dano que causou. Note-se que só da direito a indemnizar se a culpa for exclusiva do agente, o que significa que é excluída se houver concorrência de culpas. Não havendo culpa exclusiva do agente, o tribunal deverá fixar uma indemnização equitativa e condenar nele, não só no agente, mas também aqueles que tiraram proveito do acto ou contribuíram para o estado de necessidade - artigo 339 nº 2 in fine. No Estado de necessidade a situação de perigo de dano para o bem jurídico em causa tanto pode resultar de uma agressão como de caso fortuito ou de força maior ex. O capitão que lança a mercadoria para o mar com o fim de evitar o naufrágio do navio, o bombeiro que danificam imóveis e outros bem para que o incêndio não se propague a diferença entre a Legitima Defesa e o Estado de Necessidade reside no facto de na legitima defesa se age contra quem criou a situação de perigo e no Estado de Necessidade se salvaguarda o direito através da lesão de interesses de terceiros que nada contribuíram para a situação de perigo. Concui-se que o Estado de Necessidade é subsidiário em relação a Legitima Defesa. Compreende-se que o agente só possa proteger o seu direito com sacrifício da esfera jurídica de terceiros, quando não possa faze-lo a custa da esfera jurídica do agressor. Acção Directa se trata de assegurar um direito próprio, enquanto que a Legitima Defesa e o Estado de Necessidade referem-se tanto a protecção de interesses do agente como de terceiros. d) CONSENTIMENTO DO LESADO Consiste na autorização do titular à pratica do acto que, sem ela constituiria uma violação desse direito ou ofensa de uma norma tutelada do respectivo interesse art. 340 CC. Leituras Obrigatórias Machado, João Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, Almedina, 2000 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 67 CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES UNIDADE TEMÁTICA 1 – Actividade 1 a) direito subjectivo (2) direito objectivo (3) direito subjectivo (4) sentido de justo,(5) correto; (6) ciencia juridica, (7) direito subjectivo (8) direito positivo. b) O Direito Natural é aquele que não se consubstancia em regras impostas ao indivíduo pelo Estado, mas de uma lei anterior e superior a este, que se impõe a todos os povos pela própria força dos princípios supremos dos quais resulta, constituídos pela própria natureza e não pela criação dos homens, como, por exemplo, o direito de reproduzir, o direito á vida, etc. O Direito Positivo, é o direito que depende da vontade humana compreende o conjunto de regras jurídicas em vigor num país determinado e numa determinada época. É o Direito histórica e objectivamente estabelecido, encontrado em leis, códigos, tratados internacionais, decretos, regulamentos, costumes. C) trata-se do Direito subjectivo que é a faculdade ou prerrogativa de que um indivíduo tem de invocar a lei na defesa dos seus interesses. Assim, ao direito subjectivo de uma pessoa corresponde sempre o dever de outra, que, se não o cumprir, poderá ser obrigada a observa-la através de procedimentos judiciais. Portanto, o direito subjectivo é o poder de agir garantido pela norma jurídica para garantir a satisfação de um interesse, juridicamente protegido pela lei. 2-a) Partimos da premissa de que o homem é um ser social .Desde os primórdios da humanidade, o que impulsiona a vida em sociedade é a disputa pelos bens, disputa essa que jamais terminará, pelo simples facto de cada ser humano encerrar em si mesmo um universo próprio de desejos materiais, donde a necessidade de regras gerais é estabelecer limites que possibilitem a não invasão dos direitos de outrem. Os instrumentos de controle social, a que chamamos ordens normativas são um conjunto de normas ou ordens que visam moldar as condutas sociais com vista à paz e harmonia dentro das sociedades, as normas morais e as normas juridicas fazem parte destes instrumentos. b) coercibilidade – podemos distinguir a moral da regra jurídica pelo coercibilidade que assiste ao direito, a afirmação é verdadeira porque a ordem da moral é incoercível, porque nenhum poder exterior pode impor que os homens sejam melhores. A coercibilidade caminha ao lado do Estado porque somente este tem o poder de obrigar com susceptibilidade de uso de força a certas condutas. Exterioridade - o direito e a moral tem pontos de partida diferentes: um assenta no lado exterior e o outro no lado interior das condutas humanas. Isto porque os fins visados pela ordem da moral e pela ordem jurídica são diversos. A ordem moral é uma ordem das consciências, pretende o aperfeiçoamento dos indivíduos, orientando-os para o bem. Pelo contrario, o direito pretende ordenar os aspectos fundamentais da convivência, Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 68 criando as condições que permitam a conservação da sociedade e a realização pessoal dos seus membros, não assenta, portanto, na ordem interna das acções humanas. UNIDADE TEMÁTICA 2 Actividade 1 Para os jusnaturalistas, justiça encontra-se num conjunto de princípios universais e imutáveis com existência objectiva e independente do conhecimento do homem. Para os juspositivistas , a justiça é um conjunto de princípios criados pelo intelecto humano e cuja vitalidade radica principalmente, no sentido de justiça existente no coração de todos os homens, sejam quais forem os tempos ou lugares em que existam ou hajam existido. Assim a justiça não é imutável mas sim variável segundo as épocas e os países. Para Aristóteles filósofo grego a Justiça pode ser encarada de três formas: - Justiça Distributiva ou proporção geométrica – é aquela que corresponderia à distribuição das vantagens entre todos os membros da sociedade; - Justiça Comutativa ou sinalagmática – é a que corresponderia às relações dos indivíduos entre si, na perspectiva de que as pessoas apresentam-se em pé de igualdade, e essa igualdade deve ser salvaguardado pelo direito, abrangendo tanto nos negócios jurídicos bem como nos actos ilícitos. A critica recai sobre tudo nos crimes pois, para este filosofo o juiz iguala o proveito de um e a perda de outro através da pena, e compara a proporção aritmética. E ele mesmo corrigiu e avançou com a justiça geral. - Justiça Geral ou Legal - é a que corresponde as relações entre os indivíduos e a sociedade mas no tocante aos cargos que exercem que devem ser repartidos por todos. Conclui-se que , fazer justiça é respeitar o direito, e abster-se de qualquer acção que perturbe o equilíbrio social. por outro lado a segurança, exprime a aspiração a regras certas, isto é, suscetíveis de serem conhecidas, uma vez que tal certeza corresponde a uma necessidade de previsibilidade e estabilidade na vida jurídica (cada um possa prever as consequências jurídicas dos seus atos, saber o que é permitido e proibido) pretende-se ainda que o Direito proteja os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e os defenda das eventuais arbitrariedades dos poderes públicos ou abusos do poder. UNIDADE TEMÁTICA 3 – Actividade 1 Para responder se determinado ramo de Direito ou determinada relação juridica pertence ao Direito público ou privadoa doutrina avança tres critérios a saber: o critério da natureza dos interesses, o Critério da qualidade dos Sujeitos e o Critério da posição relativa dos sujeitos. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 69 De acordo com o critério da natureza dos interesses, Direito Publico é formado pelas normas que regulam predominantemente ou essencialmente à prossecução de interesses públicos e Direito Privado serve predominante ou essencialmente a prossecução de interesses privados . Para o critério da qualidade dos sujeitos , é publico o Direito que regula situações em que intervenha o Estado ou qualquer ente público e privado o Direito que regula as situações dos particulares. Finalmente , o critério da posição dos sujeitos que diz que Direito Publico é àquele que constitui e organiza o Estado e os demais entes públicos e regula a sua actividade como entidades dotadas de jus imperii (ou poder de autoridade) ou sujeitas a restrições peculiares e que Direito Privado é àquele que regula as situações em que os sujeitos estão em posição de paridade. Por outro lado se olharmos ao Direito das Obrigações Livro II do Código Civil: regula as situações pelas quais uma pessoa está vinculada a realizar em benefício de outra, uma prestação. Portanto, regula as relações de credito, onde encontramos uma relação de credor ( sujeito activo) e o devedor (sujeito passivo), bem como as normas de cumprimento, responsabilidade civil por incumprimento bem como a responsabilidade civil no geral. Os vários tipos de contratos, as garantias das obrigações etc. Como se vê o caso em análise enquadra-se nestes pressupostos. UNIDADE TEMÁTICA 4 – Actividade 1 O caso em apreço enquadra-se na matéria dos elementos da relação juridica, donde para o caso em concreto importa o sujeito, é deste que se levanta a questão principal, a sua capacidade juridica. Por capacidade juridica entende-se a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa é susceptível,o artigo. 67º do código civil estabelece que “as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário: nisto consiste a sua Capacidade Jurídica”. Segundo a Doutrina encontrámos dois tipos de capacidade, a capacidade de gozo e a capacidade de exercicio, sendo esta ultima a que interessa ao caso em análise. consiste na medida de direitos e de vinculações que uma pessoa pode exercer por si só pessoal e livremente. Em principio todas as pessoas singulares, ao atingirem a maioridade, adquirem capacidade de exercício, que resulta do preceituado nos artigos 130 CC ( efeitos de maioridade) e art. 133 CC ( efeitos de emancipação ). Os negócios jurídicos praticados pelo menor contrariamente à proibição em que se cifra a incapacidade estão feridos de anulabilidade nos termos do ( art. 125 CC). As pessoas com legitimidade Para arguir essa anulabilidade são: Os representantes do menor dentro de um ano a contar do conhecimento do acto impugnado; Pela emancipação o menor, embora não deixe de o ser, adquire em principio capacidade genérica de exercício, como se fosse maior art. 133, com excepção do artigo 136 CC. - Para celebração do contrato de trabalho: art. 23 a 27 da Lei de Nº 23/2007 Lei do Trabalho. Conforme preceitua o artigo 26 Lei do trabalho o empregador só pode admitir ao trabalho o menor que tenha completado 15 anos mediante autorização do representante legal, presume-se neste caso Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 70 pelos factos apresentados que esta autorização não foi facultada. Assim sendo o menor em questão não foi emancipado para o trabalho pelo que como acima dissemos podem os pais arguir a anulabilidade do contrato. Sendo anulável o contrato de trabalho, também o será o contrato de compra e venda celebrado uma vez que faltará ao menor capacidade para receber a remuneração pelo trabalho e desse modo tambem qualquer acto de disposição do produto desse trabalho. Podem por isso os pais de Bernardo arguir a anulabilidade do contrato de compra e venda.que nem todas as normas do direito tem ordem imperativa. Ex.: as normas que fixam permissão, faculdade, estas, observa quem quiser, são voluntárias, mas como regra geral, as normas jurídicas são dotadas de imperatividade e, é dessa obrigatoriedade que decorre a Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 7 coercibilidade. ( mas mesmo estas se há uma regra por exemplo: permite-se que se pise a relva). É uma norma jurídica assistida de tutela, significa que impõe a todos que não se oponham a que os outros pisem a tal relva. 5. Generalidade e abstracção : as normas jurídicas uma vez prescritas, dirigem-se a todos os membros da sociedade sem excepção. Prevê conduta necessária de modo abstracta, indicando um padrão ou modelo de condutas determinadas de modo geral, ou seja numa generalidade de destinatários e não numa única pessoa concreta. Mesmo as normas aplicam-se sempre a uma pessoa - ex. as que pautam a actuação do presidente da Republica – aplicam-se a quem for indicado para aquele cargo. Dai a generalidade também mesmo naquelas situações. 6. Regulação das relações sociais. As normas existem para regular as relações entre os indivíduos, razão pela qual, o direito não regula o homem isolado Agora vamos Definir o Direito: 1. Direito é o conjunto organizado de normas jurídicas provenientes do Estado que regulam as relações sociais numa determinada sociedade politica. 2. Direito é o sistema de regras jurídicas criadas e impostas sobre a sociedade pelo Estado para regular as relações sociais. 3. Direito é o sistema de normas jurídicas gerais imperativas e coercivas criadas pelo Estado para regular as relações sociais. 4. Direito é o sistema de regras jurídicas assistidas de protecção coactiva. 1.6 O DIREITO E OUTRAS ORDENS NORMATIVAS O Direito não é o único sistema normativo por que se pauta a conduta humana, pois, na verdade existe um conjunto de normas ou ordens que visam moldar as condutas sociais com vista à paz e harmonia dentro das sociedades, são estas : as norma social ou de cortesia, norma da moral, norma religiosa, norma natural. Contudo, não se deve confundir com as normas jurídicas. Ordem do Trato Social ( cortesia ): É o conjunto de normas que se exprimem através da vontade humana, as quais pretendem moldar a convivência social. Estas normas expressam-se pelos usos ou convencionalismos sociais, ordem não se aplica coercivamente na medida em que mantém ao indivíduo a liberdade de violar, modificar, rebelar-se ou até extinguir, portanto, domina o princípio da vontade, são normas de cortesia. Porem, a violação desta ordem provoca reprovação social e até sanções sociais difusas, como por exemplo a segregação ( separação, descriminação ) de quem é considerado inconveniente. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 8 Ordem da moral: É uma norma de conduta social que orienta o indivíduo a um aperfeiçoamento da sua conduta. Destina-se ao aperfeiçoamento da pessoa, dirigindo-a para o Bem. É em grande parte uma ordem infra- individual pois, dirige-se ao aperfeiçoamento individual e não da organização da sociedade. As normas da moral definem o bem, lícito, justo conforme a consciência. A infracção de uma norma da moral preconiza uma sanção diversa, a reprovação social ( falam mal, menosprezo, ) a moral pode apresentar uma sanção de auto crítica – remorsos íntimo. Estas normas determinam comportamentos e relações sociais em medida necessariamente vasta, pois, o aperfeiçoamento individual só se realiza na participação social. O Direito e a Moral - Distinção Vários critérios têm sido apresentados. Alguns são insustentáveis, outros trazem aspectos verdadeiros, mas não bastam por si para a distinção. a) Teoria do Mínimo ético – esta teoria diz que nem tudo o que a moral ordena é prescrito também pelo direito, pois este só recebe da moral aqueles preceitos que se impõem com muito particular vigor. É um mínimo em relação à moral, mas um mínimo cuja observância se reclama com um máximo de intensidade. Direito e a moral surgem-nos assim como círculos concêntricos. A área mais ampla da moral representa um núcleo que é acolhido e garantido pelo direito, porque é imprescindível à vida na sociedade. Esta teoria é amplamente criticada porque ela implica a atribuição de carácter moral a toda regra jurídica, quando a maioria dos preceitos jurídicos é, sob o ponto de vista moral, neutra, pois, encontramos varias normas jurídicas com carácter organizacionais. Ex. ( os de transito, sobre as ferias judiciais, procedimentos administrativos etc.) estas regras, de moral nada tem. Na realidade, a coincidência ou pretensa coincidência da regra moral e da regra jurídica só se dá num sector muito restrito, sobretudo no domínio penal. b) coercibilidade - outros autores distinguem a moral da regra jurídica pelo coercibilidade que assiste o direito, a afirmação é verdadeira porque a ordem da moral é incoercível, porque nenhum poder exterior pode impor que os homens sejam melhores. A coercibilidade caminha ao lado do Estado porque somente este tem o poder de obrigar com susceptibilidade de uso de força a certas condutas. c) Exterioridade - o direito e a moral tem pontos de partida diferentes: um assenta no lado exterior e o outro no lado interior das condutas humanas. Isto porque os fins visados pela ordem da moral e pela ordem jurídica são diversos. A ordem moral é uma ordem das consciências, pretende o aperfeiçoamento dos indivíduos, orientando-os para o bem. Pelo contrario, o direito pretende Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 9 ordenar os aspectos fundamentais da convivência, criando as condições que permitam a conservação da sociedade e a realização pessoal dos seus membros, não assenta, portanto, na ordem interna das acções humanas. Ordem Religiosa: é o conjunto de normas que regula as condutas dos crentes nas suas relações com as respectivas entidades e com Deus nas diversas religiões. Portanto, a função especifica das normas religiosas é a de regular as relações entre o homem e Deus. É uma ordem normativa que assenta num sentido de transcendência, ordena as condutas tendo em vista as relações com Deus. A ordem religiosa é em parte infra-individual: como na zona relevantíssima em que ordena cada pessoa a Deus. Mas repercute-se também na ordem social enquanto, com a mesma finalidade, ordena condutas exteriores de membros da sociedade. Ordem Jurídica: é o conjunto de normas jurídicas existentes num determinado País que regulam as relações sociais num dado momento histórico. A coercibilidade é o elemento principal da ordem jurídica. Esta distingue-se das outras ordens porque ela está dotada de coercibilidade e imperatividade. A coercibilidade é a susceptibilidade de utilização da força por parte do Estado. A Ordem jurídica é uma ordem que regula os aspectos mais importantes da convivência na sociedade, visando à assistência, cooperação, subordinação dos indivíduos e dos grupos sociais ao Estado, com vista a atingir a justiça e a segurança social. Apesar da ordem jurídica ser um ordenamento de normas de comando imperativos existem na sociedade condutas que se desviam dos comandos jujurídicos, condutas contrarias à ordem jurídica. A violação das normas jurídica desencadeia reacções diversas, e a mais frequente é a aplicação coerciva de sanções pecuniárias, ou restritivas de liberdade, ou ainda liberdade condicional. A ordem jurídica tem sido apontada como sendo aquela que melhor prossegue os fins do homem, que melhor ordena os interesses da sociedade e os valores elementares da convivência social. Como pudemos ver, a ordem jurídica aocontrario das outras ordens, serve-se da coacção como meio de garantia para impor o cumprimento das normas jurídicas. Posto isto, estamos em condições de dizer que apesar do homem pautar a sua conduta em conformidade com as várias ordens, apenas a ordem jurídica faz parte do Direito. Direito Positivo e Direito Natural O Direito Positivo compreende o conjunto de regras jurídicas em vigor num país determinado e numa determinada época. É o Direito histórica e objectivamente estabelecido, encontrado em leis, códigos, tratados internacionais, decretos, regulamentos, costumes. É com esse significado que nos referimos ao direito romano, ao direito português, ao direito moçambicano, etc . Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 10 O Direito Natural é aquele que não se consubstancia em regras impostas ao indivíduo pelo Estado, mas de uma lei anterior e superior ao Direito Positivo, que se impõe a todos os povos pela própria força dos princípios supremos dos quais resulta, constituídos pela própria natureza e não pela criação dos homens, como, por exemplo, o direito de reproduzir, o direito á vida, etc. Numa palavra, o Direito Positivo, é o direito que depende da vontade humana, enquanto o Direito Natural, é o que independe do acto de vontade, por reflectir exigências sociais da natureza humana, comuns a todos os homens. Por outro lado, podemos dizer que o direito natural é composto por um conjunto de princípios normativos impostos pela própria natureza humana com vista á realização da justiça e que a nossa razão é capaz de apreender, pela observação daquela mesma natureza. As condições do mundo actual permitem compreender mais facilmente o sentido da concepção jusnaturalista . o direito natural á uma ideologia que aparece nas civilizações já evoluídas e que reveste uma carácter funcional. Tem sido uma alavanca que se destina a modificar o direito e a introduzir instituições mais conformes às aspirações da época. O direito natural aparece-nos hoje longe daquelas concepções históricas, pois em todas as sociedades os homens podem encontrar um conjunto de princípios que tomam como ponto de referência para as suas condutas. Verifica-se pois, hoje devido a evolução das sociedades a necessidade de regresso ao direito natural, as sociedades reclamam, por isso o direito natural exercendo este hoje, uma importante influencia quer no momento da elaboração quer no momento da aplicação do Direito. 1.7 O DIREITO COMO CIÊNCIA A ciência do direito parte da visão do fenómeno jurídico como facto, embora facto cultural, pois que resulta da livre articulação do homem e não apenas do impacto de fenómenos naturais. Assim, a ciência do direito procura apreender esse facto como ele é na realidade e dai que o objectivo da ciência do direito seja extrair de determinado facto jurídico em norma que lhe está implícita: a descoberta da norma é a finalidade ultima do jurista. No entanto, para descobrir a norma, não basta o exame de preceitos ou dados jurídicos isolados. O jurista, ultrapassando todo o empirismo, é obrigado a elevar-se a um sistema, em que cada norma ocupará o seu lugar próprio. É por tudo isto que o direito é uma ciência. Como toda a ciência, também esta tem, necessariamente, um método próprio, não existindo contudo consenso entre os autores na sua determinação. Para chegar à solução dos casos, o jurista tem de proceder a 4 operações que são: - A Exegese -A Dogmática - A Determinação das regras - A Solução de casos concretos Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 11 Em seguida vamos analisar cada uma destas operações: A Exegese – significa isto dizer que perante um texto legal, há que interpreta-lo de maneira a verificar qual o seu verdadeiro sentido. A Dogmática - a exegese não basta para resolver os casos, pois, existe um sistema de normas e, é necessário ir combinar os dados parciais, de modo a chegar a figuras mais gerais, recorrendo-se a métodos essencialmente lógicos para atingir assim a unidade do sistema jurídico. A determinação da regra - assim, depois das operações da exegese e da dogmática chega-se naturalmente à verdadeira norma jurídica. A solução de casos concretos - já determinamos a regra aplicável através das 3 operações anteriores? É só aplica-la ao caso concreto. Assim, podemos concluir que o direito é uma ciência pois. Possui suas formas próprias de estudo e de encontrar a solução para aplicação da norma jurídico, tem material próprio de estudos.etc 1.8 A ARTICULAÇÃO DO DIREITO COM OUTRAS CIENCIAS O direito não é um fenómeno isolado da natureza, mas sim um fenómeno humano e sendo um fenómeno humano não é do homem isolado mas sim do homem social. Ora se o direito se verifica em sociedade, o fenómeno social aparece-nos como condicionamento do fenómeno jurídico. 1.9 AS DIVERSAS CIENCIAS QUE ESTUDAM O DIREITO Como dissemos anteriormente que o fenómeno jurídico é um fenómeno social e cultural e por conseguinte também ele próprio pode ser estudado sob múltiplos pontos da vista, isto é, pode ser objecto de uma pluralidade de ciências. Dentre estas áreas podemos apontar as seguintes: - Historia do Direito - Filosofia do Direito - Sociologia do Direito - Direito Comparado - Politica Legislativa - Etnologia Jurídica. Leituras Obrigatórias A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 12 Texto 1 Constituição da República de Moçambique DE SOUSA, Marcelo Rebelo e Galvão Sofia, Introdução ao estudo do Direito, lex Lisboa 2000 Para você ampliar os seus conhecimentos, sugerimos a leitura do capítulo 1, referente a sociedade, o poder e o Direito, e o capítulo 3, sobre o que é o Direito e como regula a vida em sociedade. MACHADO, João Baptista, introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, Almedina 2011 Ler da página 55 a 97 Actividades A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção, no final do presente Guia de Estudo. Actividade 1 1- O direito (1) à vida e à saúde é tutelado no direito (2) moçambicano e cabe ao Estado cuidar da saúde e da assistência pública. Com base nestes argumentos, Pedro teve reconhecido o direito (3) a receber medicamentos do Estado para tratamento de uma doença que contraíra. Realmente, não parece direito (4) deixar um cidadão direito (5) desassistido. Mas, nem sempre foi assim: apenas com o passar do tempo, o estudo do direito (6) reconheceu esses direitos (7) sociais, transformando-os em direito (8). Com base neste texto, responda justificadamente: a) Identifique os diversos significados da palavra “direito” no texto acima, estabelecendo correspondências com os seguintes significados: direito subjetivo, direito objetivo, direito positivo, justo, correto e ciência jurídica. b) Diferencie direito positivo de direito natural. c) Quando nos referimos ao direito de uma pessoa ou de muitas, estamos nos referindo a que tipo de direito? Conceitue este direito. 2- Um adolescente que mandou uma mensagem obscena para 15.000 telefones celulares foi o primeiro réu a ser condenado pela prática de spam na Rússia. O estudante de Chelyabinsk invadiu o sistema de uma das maiores operadoras de celular e usou um programa especial para mandar a mensagem. Ele foi condenado a um ano sob observação e uma multa de 3.000 rublos (cerca de 150 USD). Fonte: Reuters, 26/04/2004.Desconsiderando o fato de a situação ter se passado com um adolescente na Rússia, responda ao que se pede justificadamente. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 13 a) As normas morais e jurídicas são instrumentos de controle social? Fundamente sua resposta. b) Diferencie a Moral de Direito, a partir das suas características. REFERÊNCIAS SOUSA E GALVÃO, Marcelo Rebelo De e Sofia. Introdução ao Estudo do Direito. LEX: Lisboa, 2000. MACHADO, João Baptista. Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, Almedina, 2011. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 14 UNIDADE TEMÁTICA 2 O DIREITO E O ESTADO Objectivos No fim desta unidade, você deverá ser capaz de: Identificar o nascimento do Estado; Relacionar o direito e o Estado; Explicar os elementos constitutivos do Estado; Compreender as funções e os poderes do Estado; Identificar os fins do Estado; Explicar os fins do Direito. 2.1 FUNÇÕES DO DIREITO a) Função moderadora O Direito procura criar um ambiente de harmonia e paz social ao estabelecer limites de actuação, fixando o que cada um deve ou não fazer de modo a não prejudicar o outro em beneficio de toda a colectividade. - O Direito proíbe certos comportamentos; - O Direito obriga a seguir certas condutas - O direito fixa direitos e deveres aos cidadãos; - O Direito dá liberdade de o individuo adoptar ou não certo comportamento. Estas situações resumem-se em proibições, imposições, faculdades etc. formando assim um sistema de normas jurídicas coerentes e que não se contradizem – o Direito. b) Função protectora O Direito protege a cada cidadão para permitir que ele exerça os seus direitos atribuindo aos cidadãos garantia, a confiança no circuito das relações juridicas, com vista a prossecução dos seus objectivos. A seguir vamos abordar alguns dispositivos respeitante às garantia individuais, temos entre outras as seguintes: c) Função Organizadora O Direito organiza a sociedade e confere legitimidade a todas as transformações que se dão dentro da sociedade Ex. Sempre que a sociedade quiser alterar a organização política administrativa, primeiro deve se elaborar a lei que lhe permita tal alteração. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 15 d) Função Política As leis exprimem os interesses dos governantes, organizando o poder politico, económico e social em prol da vontade nacional, traçando as estratégias politicas e organizacionais do respectivo pais. 2.2 OS FINS DO DIREITO O Direito visa alcançar essencialmente dois fins,a justiça e a segurança. A palavra justiça vem do latim justitia que significa justiça. É uma palavra que admite vários significados. Deste modo, da palavra justiça pode-se subentender os seguintes significados: - A virtude ou a vontade firme e perpetua de dar a cada um o que é seu ( conceito clássico) - O reconhecimento do mérito de alguém ou de algo; - Conformidade dos factos com o direito; - O poder de fazer valer o direito de alguém ou de cada um ; - A justiça é a procura do bem nas relações nas relações sociais para cada um dos indivíduos; - A actividade dos tribunais, abrangendo também aos órgãos de que dispõe a justiça; - A justiça é tida também como atributo divino. - É frequentemente encarada, ainda hoje, como virtude total, soma de todas as outras virtudes. Para abordagem desta matéria encontramos duas concepções fundamentais a saber: a) Jusnaturalistas – de acordo com os defensores desta ideia a justiça encontra-se vertida em um conjunto de princípios universais e imutáveis com existência objectiva e independente do conhecimento do homem. E afirmam ainda os tais princípios não encontram a existência pelo facto de os homens os conhecerem, pois ainda que estes os não conhecessem sempre eles, por si memo, existiriam. Por outro lado os jusnaturalistas admitem a possibilidade de os homens os apreenderem, ainda que imperfeitamente, isto porque tais princípios são considerados inerentes à própria natureza humana. Só para lembrar, os jusnaturalistas são os seguidores da teoria do direito Natural os quais definem o Direito natural como sendo o conjunto de princípios normativos universais e imutáveis que, demandando da própria natureza do homem, regulam as suas condutas em ordem à realização da justiça. Logicamente que as suas características principais serão a unidade no espaço, ( universalidade) e no tempo ( imutabilidade) tanto que a natureza humana é única no tempo e no espaço. É uma concepção a-historica, objectiva e absoluta sobre a justiça. b) juspositivista - para estes, a justiça é um conjunto de princípios criados pelo intelecto humano e cuja vitalidade radica principalmente, no sentido de justiça existente no coração de todos os homens, sejam quais forem os Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 16 tempos ou lugares em que existam ou hajam existido. Assim a justiça não é imutável mas sim variável segundo as épocas e os países. Para estes não existe um ideal jurídico sempre igual a si mesmo, mas ideais jurídicos que uns aos outros se sucedem ao sabor das múltiplas contingências de ordem histórica, económica, social, religiosa etc. a que se encontram sujeitas as sociedades humanas. Como pudemos ver, são duas teses conflituando-se uma da outra sem avançar objectivamente com uma definição objectiva e clara sobre a justiça. As duas concepções são a-historicas sendo a primeira com um carácter objectivo e absoluta e a segunda com um carácter evolutivo e ambas baseiam-se no Direito Natural ( jusnaturalistas) e a segunda no direito positivo ( as leis ). Também, desde a antiguidade houve a preocupação de procurar indicar especificações de justiça, isto é, de que forma se manifesta no seio das sociedades. A este respeito importa abordar a classificação avançada pelo Aristóteles e seguida mais tarde por numerosos outros autores. Segundo este filosofo grego, distingue três termos: - Justiça Distributiva ou proporção geométrica – é aquela que corresponderia à distribuição das vantagens entre todos os membros da sociedade; - Justiça Comutativa ou sinalagmática – é a que corresponderia às relações dos indivíduos entre si, na perspectiva de que as pessoas apresentam-se em pé de igualdade, e essa igualdade deve ser salvaguardado pelo direito, abrangendo tanto nos negócios jurídicos bem como nos actos ilícitos. A critica recai sobre tudo nos crimes pois, para este filosofo o juiz iguala o proveito de um e a perda de outro através da pena, e compara a proporção aritmética. E ele mesmo corrigiu e avançou com a justiça geral. - Justiça Geral ou Legal - é a que corresponde as relações entre os indivíduos e a sociedade mas no tocante aos cargos que exercem que devem ser repartidos por todos. Como pudemos ver ainda encontramos dificuldades de encontrar em objectivamente de que forma se manifesta a justiça no seio das sociedades através do Direito. Por tudo acima exposto conclui-se que é verdade que em todos os Estados existe a ideia de que deve se seguir a lei mesmo que os objectos de justiça almejada sejam realizados somente de forma indirecta ou ainda imperfeita. A utilização da força por parte do Estado como mecanismo coercivo para conter as agressões à integridade humana, promove a consolidação de um ambiente socialmente equilibrado nas relações entre os indivíduos. A estrutura da existência de paz exige para a sua regular continuidade , que se respeitem certas normas de conduta social permeadas pela determinaçãode relações de respeito e equidade dentro do esquema socio-político, enfim, exige-se um sistema coordenado que vai deste às instituições estaduais para a existência do Direito, caracterizada por Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 17 significar a utilização sensata dos meios coactivos disponíveis dentro do Estado para a materialização daquilo que são os objectivos primordiais do Direito a justiça e a segurança. Pois, o principal objectivo do Direito é o de manter a ordem e a paz social que se traduz em bem estar harmoniosa no seio da sociedade e coordenar as relações sociais dentro das comunidades e tudo isto não seria possível se o direito se afastasse da justiça. Enfim, fazer justiça é respeitar o direito, e abster-se de qualquer acção que perturbe o equilíbrio social. 2.3 A SEGURANÇA Segurança no sentido de ordem e de paz social: o Direito destina-se a garantir a convivência entre os homens prevenindo e solucionando os conflitos que surgem na vida. Assim, o Direito, tem de cumprir uma missão pacificadora. Segurança no sentido de certeza jurídica: exprime a aspiração a regras certas, isto é, suscetíveis de serem conhecidas, uma vez que tal certeza corresponde a uma necessidade de previsibilidade e estabilidade na vida jurídica (cada um possa prever as consequências jurídicas dos seus atos, saber o que é permitido e proibido). Na Ordem Jurídica encontramos inúmeras ocasiões em que se manifesta a preocupação de atender à certeza e estabilidade, é o caso dos princípios: 1 - Princípio da não retroatividade, procura-se evitar que as leis venham a produzir efeitos imprevisíveis e alterar situações ou direitos adquiridos (assim evita que qualquer pessoa venha a ser punida por um facto que não era considerado crime ao tempo da sua pratica); 2 - Princípio do caso julgado, não há possibilidade de recurso ordinário contra decisões transitadas em julgado. Segurança no seu sentido mais amplo: pretende-se que o Direito proteja os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e os defenda das eventuais arbitrariedades dos poderes públicos ou abusos do poder. 2.4 NOÇÃO DO ESTADO O Estado nem sempre existiu, não surgiu ao mesmo tempo com o homem, surgiu mais tarde como resultado do desenvolvimento das sociedades primárias. O Estado que consubstancia o modelo organizativo mais avançado da sociedade humana, é o resultado de um longo processo de aprendizagem do homem com vista ao aperfeiçoamento da vida em sociedade. Com efeito, toda a experiência acumulada pelo homem desde as primeiras comunidades baseadas na consanguinidade ate as formas cada vez mais elaboradas na vida em sociedade como as tribos veio a ser recolhida para a constituição do Estado. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 18 O instinto gregário do homem cedo o impulsionou a procurar formas de associativismo de modo que lhe permitisse vencer e aproveitar as forças da natureza. Nao obstante, o instinto individualista existente também em cada homem cedo o obrigou a procurar certos mecanismos que disciplinassem a actividade de cada um em beneficio da comunidade. Assim, o Estado aparece como instituição que vai organizar melhor a sociedade, impor a ordem e a disciplina dentro da sociedade e também administrar os assuntos de interesses comuns ou seja, resolver os problemas das comunidades de modo a trazer o bem estar aos seus membros. Deste modo, o Estado surge como uma necessidade imperiosa para a vida em sociedade usando como instrumento de comunicação com a sociedade que são as Leis. A lei aparece assim como instrumento capaz de regular as relações que se estabelecem entre os membros da sociedade quando os meros laços de sangue se tornam impotentes para disciplinar os seus membros menos razoáveis e cuja acção poderia por em perigo a existência da própria sociedade. Tornou-se pois, necessário a existência de uma instituição que situando-se acima da comunidade fosse capaz de solucionar pela aplicação das leis os diferendos que surgiram entre os seus membros e que providenciasse ao mesmo tempo a sobrevivência da comunidade. Há assim uma estreita interdependência entre o Estado e o Direito, entendido este como um complexo de normas que obrigam por um lado a atribuem faculdades por outro, aos membros da sociedade. O Estado ao ser ao mesmo tempo autor e interprete das leis assume-se como uma forma de regulamentar a vida do homem em Sociedade. Em seguida vamos analisar os conceitos de Estado para dai retirar aquilo que são os seus elementos. Para o efeito vários autores debruçaram-se sobre o conceito do Estado. Contudo, para esta cadeira iremos apenas citar dois autores que definem o Estado como sendo: - Para Freitas do Amaral, o Estado é uma comunidade constituída por um povo que, a fim de realizar os seus ideais de segurança, justiça e bem estar, se assenhoreia de um território e nele institui, por autoridade própria, o poder de dirigir os destinos nacionais e de impor as normas necessárias à vida colectiva - para Marcelo Caetano, o Estado é um povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse território institui, por autoridade própria, os órgãos que elaborem as leis necessárias à vida colectiva e imponham a respectiva execução . Como pudemos ver nas duas definições enfatizam-se três elementos do estado. Porem, a delimitação do conceito jurídico do Estado por recurso a estes elementos fundamentais é a mais refundida, embora com algumas variações na generalidade da doutrina. Pode se perguntar, porque definir o Estado baseando-se nos seus elementos? Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 19 - Primeiro tem a ver com a natureza didáctica, traduzindo a observação das comunidades estaduais, constituiria uma razoável ponto de partida para o estudo da sua estrutura; - Segunda é de ordem filosófica, evitaria árduas discussões; - Terceira é eminentemente prático, traduziria a relevância que efectivamente tem o povo o território e o poder politico. Na verdade, é indispensável em primeiro lugar um substrato pessoal, a existência de uma comunidade de indivíduos que buscam uma forma conjunta de resolução dos seus problemas e de objectivação dos seus anseios. Se é verdade que sem povo não pode haver Estado, não é menos certo que não pode haver povo, em sentido jurídico politico, se não existir um Estado, na justa medida em que é o nascimento deste que dá lugar ao surgimento de uma nova realidade, que é a ligação a uma entidade politica de um conjunto de indivíduos através do vinculo de cidadania. 2.5 OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO O Estado como vimos, aparece como uma necessidade de o homem dar resposta aos desafios que a natureza e os outros homens lhe colocavam. A sociedade ao pretender a segurança das pessoas e bens consentiu em alienar parte da sua liberdade em favor de um grupo, geralmente constituído pelos mais hábeis, mais ricos ou mais velhos. Assim, este pequeno grupo passou a gerir os destinos da Sociedade. São elementos do Estado: - Povo - Território - Soberania ou poder politico Povo – é o conjunto de indivíduos que se encontram ligados ao Estado pelo vinculo da nacionalidade ou cidadania. Pessoas que tem um vínculo jurídico com o Estado sendo estas pessoas titulares e portadores de direitos, deveres e obrigações. O povo é o elemento humano que dinamiza o Estado porque é nas pessoas onde encontramos o dinamismo na sociedade. Não confundir o povo com a população pois, este tem um conceito de base económico com conteúdo demográfico. Portanto, população designa o conjunto de residentes em dado território independentemente de serem nacionais, estrangeiros ou apátridas.O conceito de povo restringe-se apenas aos nacionais. Também não confundir a nação do povo, pois a nação corresponde ao elemento espiritual e cultural de um povo. Território – É o espaço geográfico no qual o Estado se encontra implantado e exerce a sua jurisdição. O elemento território é importante na medida em que é onde vive o povo, desenvolve as suas actividades, busca os recursos no solo, sob solo e este , por sua vez o divide-se em: a) Território Terrestre ou território sólido: é a parte sólida onde se encontra estabelecido o povo e exerce as suas actividades. Este é delimitado pelas fronteiras Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 20 b) Território aquático ou liquido - é constituído por riachos, lagos, rios, plataforma continental, ou seja a zona marítima costeiras, que pertence ao Estado; c) Território Aéreo - é o espaço acima do território sólido e liquido; d) Território fictício - é constituído pelas representações culturais, militares, diplomáticas, de um determinado Estado e, nelas usa-se a bandeira nacional do respectivo país. Soberania ou poder politico – Citando o professor Marcelo Rebelo de Sousa, poder politico é a faculdade de que é titular um povo de, por autoridade própria, instituir órgãos que exerçam com relativa autonomia a jurisdição sobre um território nele criando e executando normas jurídicas usando os necessários meios de coacção. Disto resulta que, o poder politico há de ser a capacidade de um povo traçar o seu próprio destino, administrar-se, governar-se de acordo com os seus interesses. Esse poder politico deve ser soberano ou seja, o Estado deve ser capaz de definir politicas próprias, fazer opções de desenvolvimento, elaborar e aplicar leis, gerir e administrar os interesses da comunidade sem ingerências externas e a soberania contem 3 características a saber: a) indivisível - significa que dentro do Estado só há uma soberania e está cristalizada no povo que a exerce através do seu voto. b) imprescritível - significa que não prescreve, não caduca, não envelhece. c) inalienável - a soberania não se vende nem se empresta, só o povo e o seu Estado a podem exercer sob ponto de vista jurídico. São órgãos de soberania na no Estado moçambicano - ver artigo 133 CRM ) Presidente da Republica, AR, Governo, - artigo 200 e 2001 CRM, os Tribunais e o Conselho Constitucional . 2.6 AS FUNÇÕES DO ESTADO O Estado como direcção da sociedade possui determinados e funções pelas quais concorrem à satisfação das necessidades fundamentais da sociedade, necessidades essas respeitantes a manutenção, sobrevivência e ao desenvolvimento da sociedade política através dos seus órgãos. Nos tempos actuais, todo o cidadão é súbdito de um Estado. Como súbdito desse Estado ele é compelido a obediência a normas de conduta de carácter obrigatório. Só o estado tem poder para impor e fazer cumprir essas normas todas os cidadãos que vivem dentro das suas fronteiras. Com efeito o Estado diferencia-se dos outros agrupamentos sociais, pela possibilidade de obrigar os indivíduos a sujeitarem-se às suas leis, podendo fazer uso da coacção para assegurar a obediência. - Função Legislativa - Função Executiva - Função Judicial Função legislativa - Consiste na elaboração das leis gerais que regem a vida na sociedade. Em cada Estado existe um órgão que tem competência legislativa no nosso caso esse órgão designa-se por Assembleia da Republica art. 168, 169 179 e 182 CRM. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 21 Função judicial - esta função cabe aos tribunais que através dos juízes fazem a justiça, julgam e sancionam as violações da lei quer resulte dos cidadãos em prejuízo dos outros, quer resultante do Estado em prejuízo dos cidadãos ou vice versa. Ver as espécies dos tribunais na Constituição da Republica artigos (212, 213, 214, 215) 223, 225, 228, 230, 234,236,241,249). Função executiva - é a que tem a função primordial de administrar a coisa pública, aplicando a lei e adoptar outras providencias necessárias. Portanto, consiste na materialização do conteúdo das orientações pertinentes ao desenvolvimento do país. Ex. no domínio das áreas económicas, sociais e culturais - no domínio das exportações e importações, desenvolvimento agrícola, comercialização dos produtos, criação de postos de trabalho, saúde, educação meio de transporte etc. Com vista a satisfação dos interesses da colectividade, esta função é responsável pela administração dos interesses públicos e sempre de acordo com uma recomendação magna. 2.7 FINS DO ESTADO A doutrina constitucionalista clássica distingue normalmente três grandes objectivos a atingir pelo Estado: a segurança, a justiça e o bem estar económico em social. Pois, o cidadão necessita de ter a certeza de que através da normas jurídicas executadas pelos órgãos do Estado, lhe são reconhecidos direitos e deveres. Mas não só a segurança individual deve ser assegurada pelo Estado, também a segurança colectiva, enquanto defesa da colectividade face ao exterior, deve ser um objectivo ou seja, fim do Estado. Compete igualmente ao poder politico assegurar a justiça nas relações entre os homens, substituindo nessas relações o arbítrio da violência individual, por um conjunto de regras capazes de satisfazer o instinto natural da justiça. O bem estar económico e social é para alguns autores o fim mais importante da Estado. Este fim envolve a promoção das condições de vida dos cidadãos através do acesso a bens e serviços considerados fundamentais para a colectividade, bens que permitam a satisfação normal das necessidades, tais como a Educação, a saúde, e a segurança social. Em jeito de conclusão, podemos dizer que não se pode falar em ordem social sem que esteja implicitamente a ideia de Justiça e Segurança, a ordem não existe ou se existe é imperfeita, o que mancharia a possibilidade de realização total dos fins da sociedade e das pessoas que a compõem. Conforme atrás referimos, todas as sociedades ( Estados), que se presumem organizadas possuem um sistema de normas – o Direito, como vimos em capítulos anteriores, Ibi societas, ibi Jus (onde há sociedade, há direito). Esse Direito, deve ser elaborado necessariamente por um órgão estadual com competência para o efeito. A forma mais importante da sociedade na actualidade é o Estado, e, cada Estado tem o Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 22 seu direito. Assim como o Estado é hoje a forma mais importante da sociedade, através da qual se organizam os homens sobre a terra, o Direito é hoje a forma mais importante para a organização desse mesmo Estado. Como é sabido, o principal objectivo do Estado é o de manter a ordem e a paz social que se traduz em bem estar harmoniosa no seio da sociedade e coordenar as relações sociais dentro das comunidades e tudo isto não seria possível se o direito se afastasse do Estado. Por outro lado, a justiça e a segurança são manifestamente visíveis na medida em que o direito proporciona a realização do bem estar comum mediante a garantia da liberdade plena, da igualdade material e da autonomia dos indivíduos. Por outro lado, definimos o Estado como uma comunidade cujos fins são a realização dos ideais de segurança, justiça e o bem estar. São estes os fins do Estado. Assegurar a justiça e a segurança nas relações entre os homens, promover os princípios de igualdade entre os indivíduos, os princípios da proporcionalidade, e a materialização das liberdades e garantias dos cidadãos. O bem estar económico e social, que envolve por parte do Estado a promoção das condições de vida dos cidadãos, através do acesso a bens e serviços essenciais e, também, a prestaçãode serviços fundamentais, como a Educação, Saúde, a Segurança Social, etc. Assumem também relevância a preservação do ambiente e a protecção e valorização do património cultural. Naturalmente que em todos os Estados existe a ideia de que deve se seguir a lei mesmo que os objectos de justiça almejada sejam realizados somente de forma indirecta ou ainda imperfeita. O Estado tem uma relação permanente com o Direito e, essa relação é tripla: 1. O Estado vai buscar ao Direito a fonte ou a base da sua legitimidade. A ideia da legitimidade pressupõe a conformidade com as normas jurídicas. 2. O Estado organiza-se através do Direito. E, a ideia de organização pressupõe a elaboração de normas genéricas de execução permanente. 3. O Estado encontra-se subordinado ao Direito. E, a ideia de subordinação pressupõe o dever de obediência às normas em todas as actividades do Estado. Leituras Obrigatórias A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los. Caetano, Marcelo, Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional, Tomo I, Almedina, 2012 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 23 De Sousa, Marcelo Rebelo, Galvão, Sofia, Introdução ao Estudo do Direito, publicações Europa- América, 1997 Actividades A seguir, estão as actividades correspondentes a esta unidade. Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta na Chave de Correcção, no final do presente Guia de Estudo. Actividade 1 1. A justiça e a segurança são dois fins do Direito, refira-se pormenorizadamente a cada um deles REFERÊNCIAS Caetano, Marcelo, Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional, Tomo I, Almedina, 2012 De Sousa, Marcelo Rebelo, Galvão, Sofia, Introdução ao Estudo do Direito, publicações Europa- América, 1997 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 24 UNIDADE TEMÁTICA 3 FONTES E RAMOS DO DIREITO Elaborado por Dário Caetano de Sousa Objectivos No fim desta unidade, você deverá ser capaz de: Explique a razão de ser da divisão do direito em Ramos; Saber explicar critérios da sua distinção; Saber distinguir o Direito Publico do Direito Privado; Identificar os sub ramos do Direito Publico; Identificar os sub ramos do Direito Privado; Distinguir o direito Processual Civil do Direito processual Penal. 3.1 DAS FONTES DO DIREITO Como vimos, o Direito é constituído de normas jurídicas que regulam a vida do homem em sociedade. Importa, pois, saber como e onde nascem essas normas, como se formam e se revelam aos particulares. Estas indagações constituem a problemática das fontes do Direito. Tomaremos a expressão fontes de Direito no seu sentido técnico-jurídico, que se traduz nos modos de formação e revelação das normas jurídicas. Neste sentido, consideram-se fontes do Direito: Fontes imediatas ou Directas do Direito São aquelas que criam normas jurídicas. Fontes Mediatas ou Indirectas São aquelas que não criam normas jurídicas, mas contribuem para a sua formação. São enumeradas tradicionalmente quatro fontes do direito: - A lei; - O costume; - A jurisprudência; - A doutrina. Como iremos ver de seguida, o Código Civil estabelece, nos artigos 1.º a 4.º, disposições sobre as fontes do direito e considera a lei como única fonte imediata do direito, em contraposição aos usos (art.º 3º) e à equidade (artº4º), cuja força vinculativa provém da lei, ou seja, os usos e a equidade só têm relevância jurídica, quando a lei assim o determine. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 25 Portanto, temos: - A lei, como fonte imediata do direito - Os usos e a equidade são fontes mediatas do Direito A Lei A lei é considerada uma fonte imediata do direito, e, enquanto para alguns autores, ela é a única fonte imediata admissível, para outros autores, ao lado da Lei, o costume também é fonte imediata do direito. No entanto, o art. 1º do Código Civil acolhe a Lei como a única fonte imediata do Direito. Portanto, a lei como fonte imediata do direito, cria normas jurídicas, com carácter vinculativo, emanadas do órgão dotado de competência legislativa, a Assembleia da República. Art. 1º (fontes imediatas do direito) 1. São fontes imediatas do direito as leis [...]; 2. Consideram-se leis todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes; Neste artigo 1º, a lei é empregue em sentido amplo. O termo lei pode ter vários significados: Tem o significado de ordenamento jurídico, como por exemplo no art. 35 Constituicao da República de Moçambique onde se consagra que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Tem o significado de acto legislativo (lei [acto legislativo da Assembleia da República] ou Decreto [acto legislativo do Governo]) como, por exemplo, no art. 127º/2 CRM, onde se consagra que os impostos são criados por lei. Tem o significado de Direito E tem ainda o significado de diplomas legislativos. Para se compreender verdadeiramente o termo lei, temos que ter em conta a distinção entre os vários sentidos em que a lei se apresenta: Lei em sentido amplo Refere-se a qualquer diploma que consagre normas jurídicas emanadas dos órgãos estaduais competentes, pela Assembleia da República, Governo, as Assembleias Municipais, ou seja, leis, decretos, regulamentos, portarias, posturas. Resumindo, a lei, em sentido amplo, abrange todos os diplomas que consagram normas jurídicas. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 26 Lei em sentido restrito (lei propriamente dita) Refere-se aos diplomas emanados pela Assembleia da República (Lei) O Costume O costume é prática de uma conduta social reiterada e constante, acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade pela comunidade. O costume é constituído por dois elementos essenciais que devem estar sempre presentes, sob pena de não ser costume: Corpus (usus) - uma prática social reiterada e constante. Animus - a convicção da respectiva obrigatoriedade, como se estivesse a obedecer a uma norma geral e abstracta Do ponto de vista da lei, o costume pode ser de três espécies: Costume Secundum Legem (segundo a lei), quando o costume confirma ou interpreta. A lei moçambicana ignora-o, o que significa que não o considera relevante. Costume Praeter Legem (para além da lei), quando o costume regula aspectos não regulados pela lei. O nosso Código Civil, no artigo 10º, não alude ao costume como meio de integração de lacunas da lei; logo, não é admitido no Direito moçambicano. Costume Contra Legem (o costume contrário a lei), quando o costume cria uma regulamentação contrária à lei. Este costume não é admitido no ordenamento jurídico moçambicano, porque se o fosse, implicaria a cessação da vigência da lei. E a lei só deixa de vigorar se for revogada por outra lei (art. 7º CC). O Código Civil moçambicano exclui o costume como fonte imediata de direito e nem sequer o reconhece como meio de integração das lacunas da lei. O legislador apenas admitiu que os usos tinham relevância jurídica quando a lei para ele remete e portanto nunca contra a lei - fonte mediata de Direito (art. 3º/1 CC). Aliás, quando na lei civil nos aparece a referência ao costume é mais no sentido de uso, como por exemplo no art. 737º/1 a), 1400º/1 etc. Diferente do costume é o uso, ou seja, o uso é prática reiterada de uma conduta a que falta a convicção darespectiva obrigatoriedade (o animus). É admitido o número de disposições com referência aos usos (por exemplo art. 885º/2 CC). No direito internacional público, o costume é uma importante fonte de direito Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 27 A Jurisprudência Jurisprudência é o conjunto de decisões constantes sobre a mesma matéria (sentenças e acórdãos), proferidas pelos tribunais, ao fazerem a interpretação e aplicação da lei aos casos concretos que lhe são submetidos. Tipos de decisões judiciárias: Sentenças, são as decisões proferidas pelos tribunais singulares, ou seja, decisões proferidas por um único juiz; Acórdãos, são as decisões proferidas por tribunais colectivos, que são constituídos por três juízes. Em Moçambique, temos acórdãos do Tribunal Supremo e dos tribunais superiores de recurso. A Jurisprudência é, apenas, uma fonte mediata do Direito por apresentar um papel de relevo, como contributo para a formação de normas jurídicas, cuja criação fica reservada ao poder legislativo (Assembleia da República e Governo) As decisões dos tribunais só vinculam o caso concreto sobre o qual é proferida a decisão do tribunal. Papel Importante Desempenhado Pela Jurisprudência A jurisprudência desempenha um papel importante, sobretudo a proveniente dos tribunais superiores, em que os acórdãos têm um peso efectivo nas decisões futuras, pois muitas vezes são referidos ou citados, quando se entende que o novo caso sub judice é análogo ao que foi decidido por um desses acórdãos. Em todo o caso, não vinculam os tribunais, mas contribuem para aquilo que se chama a jurisprudência uniformizada, a fim de se atingir maior segurança nas decisões e evitar desperdício da actividade jurisprudencial em casos semelhantes. A Doutrina Doutrina é o conjunto de estudos, opiniões e pareceres dos jurisconsultos sobre a forma adequada de interpretação, integração ou aplicação do Direito. Jurisconsultos são juristas qualificados, em geral, professores nas Universidades. A doutrina consta de tratados, manuais, comentários às leis (Códigos) e à jurisprudência, monografias e estudos jurídicos vários. A doutrina não é considerada fonte imediata ou directa do Direito, uma vez que ela não cria normas jurídicas e, por conseguinte, não tem carácter vinculativo. Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 28 A doutrina é uma fonte mediata do direito, pois, apesar de não criar Direito, tem uma importante relevância prática na revelação do próprio Direito, dado que as opiniões dos Jurisconsultos contribuem para esclarecer o sentido e o alcance de determinadas normas jurídicas e ajudam a colmatar algumas omissões na lei. Uma outra relevância importante da Doutrina é a influência que ela exerce na feitura das leis, nas decisões judiciais e na actuação da administração pública. Apesar de a doutrina não ter carácter vinculativo, nem força obrigatória para os tribunais nem para os particulares, tem, no entanto, uma força persuasiva que é tanto maior quanto maior for o prestígio reconhecido ao seu autor e à sua reputação no mundo jurídico. Por vezes, é usual documentarem-se processos em tribunal com pareceres sobre matéria jurídica, emitidos pelos jurisconsultos. RAMOS DO DIREITO Vamos agora em seguida analisar cada um dos mais importantes Ramos de Direito. É importante reter que em Roma, Ulpiano ensaiou a distinção. De então para cá, multiplicaram-se as tentativas para apurar critérios e aperfeiçoar formulações. Hoje, há quem diga que é possível referenciar mais de uma centena de enunciados. Mas, nos vamos apontar apenas os seguintes critérios de distinção: São três os critérios principais: (1) Critério da Natureza dos Interesses; (2) Critério da Qualidade dos Sujeitos; (3) Critério da Posição Relativa dos sujeitos na relação Jurídica. De acordo com o critério da natureza dos interesses, Direito Publico é formado pelas normas que regulam predominantemente ou essencialmente à prossecução de interesses públicos e Direito Privado serve predominante ou essencialmente a prossecução de interesses privados. Para o critério da qualidade dos sujeitos, é publico o Direito que regula situações em que intervenha o Estado ou qualquer ente público e privado o Direito que regula as situações dos particulares. Finalmente, o critério da posição dos sujeitos que diz que Direito Publico é àquele que constitui e organiza o Estado e os demais entes públicos e regula a sua actividade como entidades dotadas de jus imperii (ou poder de autoridade) ou sujeitas a restrições peculiares e que Direito Privado é àquele que regula as situações em que os sujeitos estão em posição de paridade. Por qual deles optar? Comecemos por exclusão de partes. O critério da qualidade dos sujeitos não parece servir. Muitas vezes o estado e outros organismos públicos Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 29 intervêm na vida jurídica em condições exactamente idênticas as dos particulares. Por exemplo, o município de Maputo, pode ser condenado ao pagamento de uma indemnização por danos causados a um munícipe nos termos gerais do Direito Privado , o Estado pode ser herdeiro nos termos gerais do Direito Privado. Não é qualidade pública dos sujeitos que afecta a natureza privada das situações jurídicas constituídas. O critério não esclarece e é por isso, de afastar. E o que dizer do critério da posição dos sujeitos? É obvio que ele surge para responder as insuficiências do critério anterior. Mas tê – lo á conseguido? É certo que com ele a realidade encontra melhor enquadramento jurídico. Quando o Estado expropria um terreno , multa uma empresa , ou cobra um imposto, age munido de poderes de autoridade que justificam a natureza publica das situações jurídicas em causa. Mas já quando é investido na qualidade de herdeiro, quando é condenado a pagar uma indemnização, quando vende um veiculo automóvel ou toma de arrendamento um prédio age em condições de igualdade com a outra parte, sem que a sua qualidade publica afecte a natureza privada das situações em que se envolveu. Tudo isto é certo, mas falha o decisivo. O critério descreve mas não explica. Falta perceber por que é que nuns casos o Estado e as entidades publicas agem dotados de jus imperii e noutros não. E não é critério da posição dos que certos poderes de autoridade ou restrições mais gravosas existem, precisamente, porque está em causa um interesse que determina e não o contrario - o interesse explica tais poderes ou deveres especiais. Ora bem, o caro estudante já terá, porventura, percebido o problema. É que, na verdade, só o critério do interesse parece revelar-se esclarecedor. Só ele parece justificar o que os outros, melhor ou pior, se limitam a descrever. Quando o Estado ou outra qualquer entidade publica agem numa posição de autoridade, o que está em causa é, essencial ou predominantemente, a prossecução de interesses públicos. E quando o Estado ou outra entidade publica agem numa posição de paridade reconhece, que não é o interesse publico que está predominantemente em causa mas sim um interesse privado. É a natureza publica ou privada do interesse, essencial ou predominantemente prosseguido, que explica o recurso a poderes de autoridade ou deveres específicos, por um lado, ou a actuação paritária, por outro. É o interesse que traça as fronteiras. Autoridade e competência caracterizam a prossecução essencial ou predominante de interesses públicos. Igualdade e liberdade marcam a prossecução essencial ou predominante de interesses privados. Só a esta luz se compreende a essência da divisão essencial.