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Universidade Politécnica 
A POLITÉCNICA 
Escola Superior Aberta 
 
GUIA DE ESTUDO 
Introdução ao Estudo do Direito 
Ciências Jurídicas 
(1º Semestre) 
 
Moçambique 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 2 
 
FICHA TÉCNICA 
 
 
 
Maputo Fevereiro de 2013 
 
© Série de Guias de Estudo para o Curso de Gestão de 
Empresas (Ensino a Distância). 
 
Todos os direitos reservados à Universidade Politécnica 
 
Título: Guia de Estudo de Introdução ao Estudo do Direito 
Edição: 1ª 
 
Organização e Edição 
Escola Superior Aberta (ESA) 
 
Elaboração 
Dário Caetano de Sousa (Conteúdo) 
Benedito Marime (Revisão Textual) 
 
 
 
 
 
UNIDADES TEMÁTICAS 
 
Tema Pag. 
O Homem, a sociedade e o Direito---------------------------------------2 
O Direito e o Estado---------------------------------------------------------12 
Fontes e Ramos do Direito-------------------------------------------------21 
Teoria Geral da Relacão Juridica-----------------------------------------37 
Exercicio e Tutela dos Direitos Subjectivos-----------------------------51 
Chave de correcção das actividades-------------------------------------70 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 1 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Caro(a) estudante 
Está nas suas mãos o Guia de Estudo da disciplina de Introdução ao 
Estudo do Direito, que integra a grelha curricular do Curso de Licenciatura 
em Ciências Jurídicas, oferecido pela Universidade Politécnica na 
modalidade de Educação à Distância. 
 
Este guia tem por finalidade orientar os seus estudos individuais, neste 
semestre do curso. Ao estudar a disciplina de Introdução ao Estudo do 
Direito, você irá adquirir conhecimentos acerca da ciência do Direito, de 
como ela constitui um instrumento importante nas relações juridicas. 
 
Este Guia de Estudo contempla textos introdutórios, para situar o assunto 
que será estudado; os objectivos específicos a serem alcançados ao 
término de cada unidade temática; a indicação de textos, como leituras 
complementares que você deve realizar; as diversas actividades que 
favorecem a compreensão dos textos lidos e a chave de correcção das 
actividades, o que lhe permite verificar se você está a compreender o que 
está a estudar. 
 
Esta é a nossa proposta para o estudo de cada disciplina deste curso. Ao 
recebê-la, sinta-se como um actor que se apropria de um texto para 
expressar a sua inteligência, sensibilidade e emoção, pois você é também 
o(a) autor(a) no processo da sua formação em Ciências Jurídicas. Os seus 
estudos individuais, a partir destes guias, nos conduzirão a muitos diálogos 
e a novos encontros. 
A equipa de professores que se dedicou à elaboração, adaptação e 
organização deste guia sente-se honrada em tê-lo como interlocutor(a) em 
constantes diálogos, motivados por um interesse comum: a educação de 
pessoas e a melhoria contínua de negócios, base para o aumento do 
emprego e renda no país. 
Seja muito bem-vindo(a) ao nosso convívio. 
A Equipa da ESA 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 2 
 
UNIDADE TEMÁTICA 1 
 
O HOMEM, A SOCIEDADE E O DIREITO 
 
 Elaborado por Dário Caetano de Sousa 
 
Objectivos 
 
No fim desta unidade, você deverá ser capaz de: 
 
 Conhecer as vicissitudes da norma jurídica, desde a sua elaboração à 
extinção 
 Caracterizar a norma jurídica 
 Conhecer as diversas fontes do Direito e sua hierarquia e importância 
no ordenamento jurídico 
 Conhecer os ramos em que se subdivide a ciência jurídica. 
 
 
 
1.1 A NATUREZA SOCIAL DO HOMEM 
Na análise do comportamento dos seres humanos notar-se-á que estes 
são seres dotados de uma natureza eminentemente social. O homem é um 
animal social é de sua natureza não viver isolado, mas em convivência 
dentro de um grupo. 
 
Historicamente verificamos que deste os primórdios, o homem sempre 
viveu em comunidade com os seus semelhantes ( clãs, tribos etc). 
O homem, por instinto e raciocínio, necessita viver em grupo. No 
ensinamento de Aristóteles, o filósofo grego; o homem é um animal social. 
significa que o homem foi feito para viver em sociedade. 
 
O instinto natural forçou a aproximação com o outro; a razão indicou-lhes 
que agrupados, melhor poderiam satisfazer suas necessidades materiais e 
morais. Pois, viver é necessariamente conviver; só através de interacção 
com os outros homens o homem consegue a sua plena realização. 
Assim, formado o meio social, nasceram as relações sociais, por isso que, 
nos agregados humanos, os indivíduos são forçados a relacionar-se para a 
consecução dos actos indispensáveis e úteis à vida; convivem, pois, entre 
si auxiliando-se e contrariando-se mutuamente. 
 
A convivência em sociedade traduz-se naturalmente na entreajuda, na 
solidariedade, na divisão do trabalho, e tudo isto só é possível havendo 
padrões estabelecidos de conduta, regras que assegurem a harmonização 
das actividades entre si. Como necessário se torna a resolução de conflitos 
que a vida social inevitavelmente suscita. Neste sentido o Direito é 
necessário para promover a solidariedade de interesses e para resolver os 
conflitos de interesse. 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 3 
 
J. Dias Marques afirma que quem diz “ sociedade humana” diz “ vida de 
convivência” e quem diz “convivência” diz” regras”. Pois não podem as 
pessoas viver em comum sem que exista, ao menos, um elenco mínimo de 
princípios por que pautar os seus recíprocos modos de agir. 
 
como alguns autores e pensadores sustentaram a vida em sociedade não 
é uma tendência natural: o estado de natureza do Homem é o de isolado, e 
o estado social apresenta-se como distorção da natureza do Homem. 
Entre esses pensadores destacam-se o Rousseau- Jean Jacques ( 1712-
1778). E Thomas Hobbes.. concordando que o estado de natureza do 
Homem é o de não integração em sociedade. Contudo, o Rosseau diz que 
o estado de natureza do homem é bom, ( mito do bom selvagem) e que a 
sociedade é que o corrompe. Para Thomas Hobbes o estado de natureza 
do homem é mau ( homo homini lupus) portanto, é a sociedade que 
remedeia esta maldade natural. 
 
A ideia de estagio associal do homem é apenas uma premissa lógica, 
pretende-se dar à sociedade uma base convencional ( contrato social ) e 
não natural. 
Contudo, a maioria dos autores não concordam com esta teoria vincando 
sim a de que o homem é sim por natureza um ser sociável. 
 
 
1.2 OS CONFLITOS DE INTERESSE 
 
Desde os primórdios da humanidade, o que impulsiona a vida em 
sociedade é a disputa pelos bens, disputa essa que jamais se terminará, 
pelo simples facto de cada ser humano encerrar em si mesmo um 
universo próprio de desejos materiais, donde a necessidade de regras 
gerais é estabelecer limites que possibilitem a não invasão dos direitos de 
outrem. 
 
Acontece, frequentes vezes, ser o interesse de um contrário ao interesse 
de outro, chocando-se consequentemente os dois interesses. 
 
A interdependência dos homens e seus interesses é a força motriz que 
mantém a coesão das sociedades. Contudo nem todos os interesses 
humanos se encontram ligados pelos fortes laços da solidariedade, alguns 
há que, pelo contrário, são incompatíveis, conflituando entre si e criando 
desarmonia e desagregação social. Se as sociedades subsistem é 
exactamente porque a força de coesão dos interesses solidários supera a 
força dissolutiva dos conflitos de interesses. 
 
Nestas condições revela-se a necessidade indispensável de conciliar, 
harmonizar, o interesse dum com o interesse de outro, fixando-se para 
cada pessoa a esfera dentro da qual livrementeTodas as outras tentativas de explicação não passam de projecções desta 
verdade. Por isso, se contribuem para ilustrar raciocínios e formulações, o 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 30 
certo é que nada explicam. Como procurámos demonstrar, só numa 
perspectiva integrada cumprir a sua função analítica própria. 
 Direito Publico e Direito Privado. Dentro destes, é possível encontrar 
inúmeras distinções e outros tantos ramos de direito. 
 
Da maior parte deles já o nosso caro estudante decerto ouviu falar. Por 
isso, dentro das limitações de uma introdução, cabe agora apenas 
proceder á sua arrumação sistemática. Ora vejamos. 
 
No direito publico é possível, nomeadamente, distinguir o Direito 
Constitucional, o Direito Administrativo, o Direito Penal e o Direito 
Processual, seja ele Civil, Administrativo, fiscal, penal, ou do Trabalho. A 
partir do Direito Administrativo autonomizaram-se outros ramos do Direito, 
como, por exemplo, o Direito Financeiro, o Direito fiscal e, para alguns, o 
Direito Aduaneiro. 
 
 
RAMOS DO DIREITO PUBLICO 
 
 Fazem parte do Direito Publico : 
- Direito Constitucional 
- Direito Administrativo 
- Direito Fiscal/Aduaneiro 
- Direito Financeiro 
- Direito Penal/Criminal 
- Direito Processual 
 
Direito Constitucional – origem e conceito: 
A necessidade de preservar os chamados direitos fundamentais do 
individuo contra a prepotência do poder foi a razão fundamental que levou 
o estabelecimento de normas conducentes à limitação daquele poder. 
Recuando à Idade Media, encontramos vários exemplos de compromisso 
escritos entre reis e vassalos onde estão estatuídos os direitos 
reconhecidos pelos suseranos e aos vassalos, como por exemplo a Magna 
carta Inglesa concedida pelos barões ingleses ao Rei . 
 
O outro exemplo que podemos citar ronda do século XVIII, onde os direitos 
do homem passaram a integrarem-se no direito constitucional. Exemplo a 
constituição Francesa de 1789 é disso paradigmática. Assim, o direito 
constitucional passou a integrar os direitos fundamentais do homem e do 
cidadão ligando-os á própria estrutura interna do Estado. 
 
Deste modo, podemos definir o direito Constitucional como sendo o 
conjunto de normas que regulam a organização fundamental do Estado - 
funcionamento e competências dos órgão de Estado, cria os órgãos , 
princípios que orientam a vida política, económica e socio-cultural do País. 
Estabelece ainda os direitos e obrigações recíprocas do Estado, bem 
como os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos. 
 
A constituição corresponde a lei fundamental dum pais, que fixa os 
grandes princípios da organização politica e da ordem jurídica em geral e 
os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos. 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 31 
Assim, a constituição ocupa um lugar cimeiro na hierarquia das leis. 
A constituição pode ser entendida em sentido: 
- Material - quando à organização do Estado, aos fins que visa 
regulamentar, bem como a forma do governo. Neste sentido, inclui-se os 
costumes, as tradições e as normas escritas que caracterizam um 
determinado regime politico dum determinado Estado. 
- Formal - a palavra constituição é entendida como um texto escrito que 
codifica as normas que regulam a forma e o exercício do poder politico que 
é decretada por um órgão dotado de poderes especiais. 
 
Direito Administrativo: Regula este a organização e actividade dos órgãos 
da Administração Pública, nessa qualidade, na prossecução de interesses 
colectivos, isto é, relações que se estabelece entre o Estado/Administração 
Publica e os particulares. 
 
Direito Fiscal/Aduaneiro: regulam a criação e cobranças dos impostos de 
receitas do Estado e disciplina as importações e exportações de 
mercadoria. 
 
Direito Financeiro: Regula a actividade financeira de Estado, que é a 
criação e cobrança e aplicação das receitas para a satisfação das 
necessidades públicos, trata-se de previsão de arrecadação de receitas e 
da realização de despesa pública. 
 
Direito Penal : conjunto de normas jurídicas que regulam a sã convivência, 
protegendo a vida humana, reprime comportamentos anti-sociais, os 
chamados crimes. 
 
Direito Processual Civil e direito Processual Penal : Estes ramos de direito 
são constituídos por um conjunto de regras e mecanismos para a tutela 
dos direitos dos cidadãos juridicamente consagrados pelo direito 
moçambicano. A sua materialização é através dos tribunais, a quem 
compete a composição de litígios, obedecendo regras e princípios 
imperativos. 
 
 
RAMOS DO DIREITO PRIVADO 
 
No Direito Privado, há que fazer considerações suplementares. Como 
Direito Privado comum surge o Direito civil. E aí, respeitando a 
classificação germânica de Savigny, quatro sub-ramos fundamentais: o 
Direito das Obrigações, o Direito das coisas (ou os Direitos Reais), o 
Direito da Família e o Direito das Sucessões. A unificar e a sedimentar 
conceitos comuns, para diversos autores e no nosso Código Civil, avulta 
uma parte geral do Direito Civil, para alem destes, existem as novas 
expressões do Direito Civil, como, por exemplo o Direito de Autor, Depois 
surgem os Direitos Privados especiais - o Direito Comercial e, ainda, 
embora com naturezas mistas, em que afloram aspectos de Previdência 
Social, o Direito da Propriedade Industrial, o Direito Bancário, o Direito 
Agrário. 
 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 32 
Direito Civil: é o direito privado mais antigo do mundo e é subsidiário de 
todos os outros ramos de direito porque ele contém princípios gerais que 
podem ser aplicáveis tanto no Direito Publico como no direito privado dai 
que é considerado o deposito das normas mais antigas com características 
sistemáticas. 
 
Antes desta grande divisão do direito o direito civil tratava de todas as 
matérias relacionadas com a actividade humana dai que os romanos 
chamavam por direito das gentes. 
 
Direito da personalidade/pessoas – Livro I Capitulo I Secção II - Parte geral 
do cc: são as normas que regulam direitos ligados às pessoas humanas 
como o direito de personalidade, direito a vida , a intimidade privada, bom 
nome entre outros que podem ser encontrados também na Constituição 
da República bem como no Código civil. 
 
Direito das Obrigações Livro II: regula as situações pelas quais uma 
pessoa está vinculada a realizar em benefício de outra, uma prestação. 
Portanto, regula as relações de credito, onde encontramos uma relação de 
credor ( sujeito activo) e o devedor ( sujeito passivo), bem como as 
normas de cumprimento, responsabilidade civil por incumprimento bem 
como a responsabilidade civil no geral. Os vários tipos de contratos, as 
garantias das obrigações etc. 
 
Direitos Reais ou direito das coisas Livro III: este é o ramo que regula a 
atribuição das coisas, a titularidade de uma pessoa em relação a uma 
coisa, de tal modo que um sujeito fica com um direito oponível a terceiros 
que lhe dá a possibilidade de tirar vantagem da coisa. Este ramo assenta 
essencialmente no direito da propriedade ( o cidadão pode dispor das 
coisa como bem entender, vender, oferecer ou abandonar). 
 
Direito de Família Lei nº 10/2004 de 25 de Agosto revoga o Livro IV do cc 
artigos 1576 a 2023: Conjunto de normas jurídicas que regulam as 
relações familiares bem como a sua constituição decorrentes do 
casamento, procriação, e a adopção, encontramos também o regime de 
bens. As relações familiares podem ser pessoais ou patrimoniais. De 
salientar que família é o conjunto de pessoas ligadas entre si pelo vinculo 
conjugal, pelo parentesco, pela afinidade ou pela adopção. 
 
Direito das SucessõesLivro V: é também um sub-ramo do Direito civil que 
regula a sucessão na titularidade dos bens da pessoa falecida, isto é 
regula a passagem do património de uma pessoa falecida para os seus 
herdeiros. 
 
 
DIREITO PRIVADO ESPECIAL 
 
Direito Comercial: é um ramo do direito privado e regula de forma especial 
as relações comerciais que tem por objecto actos de comercio ( compra e 
venda ). Este direito surgiu para preencher uma lacuna existente na 
resolução de litígios decorrentes das relações comerciais e concessão de 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 33 
créditos que o direito civil não conseguia resolver de forma rápida e 
concisa. 
 
Direito do Trabalho/ laboral: conjunto de normas jurídicas que regulam as 
relações jurídicas co-laborais entre o empregador e o trabalhador. 
 
Será importante proceder a esta arrumação? Certamente que sim. 
 
É relevante a integração sistemática do ramo de Direito com que se 
trabalha. É todo um universo de referências e de conexões que se 
descobre e que terá um apreciável campo de explicação e aplicação. Por 
isso, não é indiferente que a situação da vida em causa a prossecução 
essencial ou predominante de um interesse público ou, pelo contrario a 
prossecução essencial ou predominante de um interesse privado. São dois 
hemisférios distintos, em larga medida com princípios próprios e razoes de 
decidir características. Uma prevenção deve, contudo ser aditada: 
novíssimos ramos jurídicos estão a despontar, que compreendem uma 
componente de Direito Publico e outra de Direito Privado, o que obriga a 
cuidadosa distinção, no seu seio, de tais componentes ( é o caso do Direito 
económico, do Direito Bancário, do Direito do Ambiente, do Direito do 
Urbanismo ou do Direito do Ordenamento do Território, estes últimos, alias 
crescentemente ligados). 
 
Temos assim, que a separação não é estanque ou definitiva. Pelo contrario. 
Assiste-se hoje á sua superação. E é fundamental que o leitor perceba 
correctamente o que fica dito para que possa chegar à plena compreensão 
de um dado essencial. 
 
Se já se sabe que a constituição ilumina todo o ordenamento e deve, 
assim, ser uma referencia permanente de qualquer abordagem jurídica, 
falta referir uma outra verdade fundamental. É que o Direito Privado, e 
dentro dele o Direito Civil, como Direito Privado do Comum, representa um 
património comum de toda a vida jurídica. Seja pública ou privada. 
 
No Direito Civil está o núcleo da jurisdicidade social. A fisionomia do 
sistema tem ai as suas raízes. A ordem jurídica molda-se em torno dos 
grandes princípios e regras que o conformam. 
 
Por isso, o jurista tem no Direito Civil as suas grandes referências e aí 
encontra as balizas metodológicas que lhe permitem trabalhar. 
 
A teoria geral do Direito Civil, ou o estudo da parte geral do Código Civil 
(que, curiosamente, mantêm a sua actualidade em projectos de Códigos 
civis recentíssimo como o holandês), constitui, assim, um ponto de 
referência obrigatório para qualquer jurista. 
 
Para ale deste cruzamento de referencias e implicações, que explicam a 
verdadeira dimensão sistemática do Direito, importa sublinhar que 
domínios há que dificilmente cabem na bipartição traçada. E que as 
influências recíprocas entre Direito Publico e Direito Privado tendem a 
acentuar-se. 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 34 
Ou seja, a divisão em ramos do Direito, mantendo embora uma não 
subestimavel utilidade cientifica e pedagógica, deve ser relativizada e 
completada por indagações complementares 
 
 
 
A NORMA JURÍDICA 
A norma jurídica, na sua forma primária é composta de previsão estatuição 
( quando completa) e sanção. Tomaremos a norma jurídica como 
elemento da ordem jurídica referido na definição: Sistema de normas de 
conduta social, assistido de protecção coactiva tanto que, o conteúdo do 
sistema jurídico é formado por normas em sentido restrito. 
A convivência dos indivíduos dentro da comunidade jurídica exige que, em 
cada circunstância aqueles possam saber qual a conduta que devem 
adoptar, tanto em ordem à satisfação dos interesses conflituantes que 
hajam de prevalecer, como em vista da coordenação de esforços que lhes 
é exigida para a realização dos fins próprios da mesma comunidade. 
Deste modo, é necessário que tais normas se encontrem dirigidas através 
de comandos em que se indica a forma de acção que mais convém. Estes 
comandos porque são provenientes do Estado, não são, como é obvio, de 
obediência facultativa. O seu cumprimento encontra-se tutelado pelos 
meios físicos de que o Estado dispõe. 
Toda a actividade dos indivíduos dentro da sociedade juridicamente 
organizada vem a traduzir-se na execução dos comandos por elas 
impostos, directa ou indirectamente. Tais comandos jurídicos constituem a 
essência da norma jurídica. 
 
Principais características da norma jurídica 
 
 Coercibilidade 
 Imperatividade 
 Generalidade/ Abstracção 
 violabilidade 
 
 
Classificação das normas jurídicas 
 
Normas preceptivas - estas verificam-se quando a conduta que se impõe 
é uma acção ( facere ) ex. Artigo 1323 Código Civil. 
 
Normas proibitivas - ( non facere) quando a actuação que se impõe é uma 
omissão, uma proibição – ex. As normas penais ou ainda os artigos 8, 
1458 ambos do CC. 
 
Normas permissivas - estatui uma permissão, uma faculdade, uma 
possibilidade jurídica de acção, portanto, permitem ou autorizam certo 
comportamento ex. artigos 1450, 1459, 223 ambos do Código Civil. 
 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 35 
 
Normas supletivas - estas tem como base o principio da liberdade de 
estipular no mundo dos negócios jurídicos. A lei admite que em certas 
matérias que não seja ela própria a regula-las mas sim que façam os 
intervenientes conforme estipula o artigo 405 Código Civil. Deste modo, as 
normas supletivas serão aquelas subsidiárias que se aplicam sempre que 
os particulares não tenham regulado a matéria de que se trata . ex. 442 
CC. 
 
 
ESTRUTURA DA NORMA JURIDICA (ELEMENTOS) 
 
 Previsão 
 Estatuição 
 Sanção 
 
 Previsão – é a representação futura do evento ou situação da Vida. A 
norma jurídica fixa padrões de condutas adequadas às situações que de 
futuro advenham. E esta deve ser figurada de forma geral e abstracta, isto 
é, segundo um modelo a que se acomodarão realidade concretas futuras. 
Ex: artigo 1323 CC - aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel 
perdida e souber a quem pertence ( previsão). 
 
 Estatuição – é o estabelecimento, como consequência da necessidade de 
uma conduta. A necessidade dessa conduta, em cada pessoa a quem a 
norma se dirige, chama-se dever ou obrigação (vide artigo 2 CC – sobre a 
obrigação). A estatuição é sempre geral e abstracta, senão não estaremos 
perante uma norma jurídica. Ex: concluindo o artigo 1323 CC – deve 
restituir o animal ou a coisa a seu dono ou avisar este do achado. 
(estatuição) 
 
 Sanção – É a parte da norma onde se estabelece a consequência imposta 
pela ordem jurídica pela violação da mesma norma. Portanto, a sanção 
será o inconveniente ou as desvantagens resultante do desrespeito de 
uma norma jurídica. 
 
- Cria-se para o violador da norma jurídica, um sacrifício maior que o que 
resultaria do facto de lhe ter obedecido. Traduz-se portanto, na organização de 
sanções aplicáveis em consequência da violação da norma jurídica, pois, a 
consequência normativa dos factos ilícitos consiste em terem os responsáveis 
de suportar as respectivas sanções que podem ser sanções Jurídicas e ou 
Materiais. 
 
 
ESPECIES DE SANÇÕES 
 
Sanções Materiais 
 Sanções Jurídicas: é quando a norma nega os efeitos jurídicos pretendidosem virtude de não ter obedecido os tramites ou exigências legais. 
Encontramos também sanções jurídicas quando os intervenientes da 
relação jurídica violam propositadamente ou não as disposições legais que 
visam proteger os negócios jurídicos, 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 36 
 Ex.A pretende celebrar um contrato com B pela qual este deve cometer um 
crime. Pretende que com esse acordo, B fique vinculado a prestação em 
que se comprometeu. A reacção da ordem jurídica é simples não 
considera o referido acordo vinculativo vide artigo 280 CC nº1. 
( simulação, vícios de forma etc). ( vide os artigos 217 a 257 do código 
civil ). Nestes casos a principal sanção quando se infringe estas normas 
que são de comando imperativo é a invalidade. 
 
A invalidade apresenta duas formas principais: que antigamente 
chamavam nulidade absoluta e nulidade relativa e que hoje no código civil 
se denominam nulidade e anulabilidade. 
 vide artigos 285 seguintes CC – nulidade e anulabilidade. 
a) Nulidade – verifica-se quando o acto praticado pelas partes não 
produz efeitos jurídicos pretendidos e pode resultar dos seguintes 
factores: 
- Vícios de forma, artigo 220 CC; 
- Vícios de Objecto – artigo 280 CC; 
- Falta de vontade – artigo 240 nº 2, 245 e 246 ambos CC. 
Contrariedade à lei – artigo 294 CC. 
 
 b) Anulabilidade – ao contrario da nulidade aqui os efeitos jurídicos 
pretendidos produzem efeitos mas ficam à mercê de uma das partes, 
que tem o direito de anular o negócio, isto é destruir os efeitos 
jurídicos retroactivamente. Decorre principalmente dos seguintes 
factores: 
 - Incapacidade do agente – artigo 125 CC; 
 - Vícios da vontade e estes podem resultar dos seguintes factores: 
- Erro – artigos 247, 249; 250, 251 e 252 ambos do CC; 
- Dolo – artigo 253 CC; 
- Coação – artigo 255 CC; 
- Incapacidade acidental – artigo 257 CC. 
 
Sanções Materiais 
As sanções materiais tem o seu aspectos jurídico no que concerne ao 
cumprimento obrigatório, ressarcimento, indemnização etc. Ex: Se A partiu 
um vidro de B culposamente, antes de mais verifica-se que na esfera 
jurídica de A surge o dever de o pagar. Mas claro que este dever é 
instrumental – a reintegração dar-se-á quando o vidro estiver posto ou for 
pago pelo B, e estas podem ser: 
 
Sanções Pecuniárias 
a) Cumprimento coactivo/ obrigatório – Através de mecanismos próprios, a 
lei faz cumprir coactivamente a norma, recorrendo-se ao património 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 37 
do violador da norma e ou de terceiros que tenda vantagens 
patrimoniais em relação ao devedor, portanto, é a realização 
compulsiva da obrigação. 
Sempre que é possível, a lei faz cumprir coactivamente a norma. E isso é 
possível sempre que a norma estatui uma prestação fungível. A deve 50 a 
B, o tribunal vai buscar 50 ao património de A e entrega-o a B e com isso 
cumpre-se a norma. Embora coactiva e não voluntariamente. Para B é 
indiferente que os 50 lhe sejam entregues por A, por um criado de A ou 
por um funcionário do banco. 
 
b) Reintegração ou restituição - nas sanções pecuniárias o direito admite 
que o violador seja obrigado a pagar ao lesado por um bem igual ou 
por um valor pecuniário equivalente ao dano causado, aqui 
encontramos a figura de ressarcimento. Isto é, quando tal não é 
possível o pagamento pelo mesmo bem, estabelece-se um estado de 
coisa que se considera juridicamente equivalente através de bens 
patrimoniais do mesmo valor ou do seu preço em dinheiro ( quebrou-
se uma jarra insubstituível , paga-se o seu valor ) é o que se chama 
reintegração por sucedâneo ou equivalente pecuniário. 
 (Ex: A que ia entregar uma viatura a B e acidenta - ele obriga-se a 
entregar uma outra ou então o equivalente em dinheiro) . 
c) Reparação ou compensação - esta tem cabimento nas hipóteses em 
que não é possível realizar nem o próprio interesse ofendido 
( restituição) nem um interesse pecuniariamente equivalente 
( ressarcimento ) , somente atribui ao ofendido a possibilidade de 
realizar interesses cuja satisfação de algum modo possa atenuar a dor 
sofrida, incluindo aqui os danos morais ( vide artigo 496 CC ). ( Ex: o 
condutor que mata alguém, o valor que paga aos familiares é de 
compensação porque nada substitui a vida ). Portanto, não estamos 
perante a ideia de cumprimento efectivo ou reintegração, pois nada 
avalia um homem, não se avalia o sofrimento. A ideia é atribuir ao 
lesado uma soma da qual possam derivar algumas satisfações que 
sirvam de contrapartida ao sofrimento que teve. Entende-se pois, hoje 
que o responsável deve indemnizar pelos prejuízos que causou 
mesmo no domínio moral ( ver artigo 496 CC). Se A mata B, A pode 
ser obrigado a pagar uma indemnização ao cônjuge ou aos familiares 
de B pelo desgosto ou magoa que lhe causou. Se C fere D, C pode ter 
de indemnizar o sofrimento que lhe causou. 
 
Sanções Corporais 
Estas sanções correspondem a privação de liberdade e a aplicação de 
algumas medidas de segurança contra o infractor. Geralmente estão 
plasmadas na lei penal. 
Encontramos também as penas disciplinares que tutelam o funcionamento 
e a vida interna das mais variadas instituições. Podem ser de direito 
publico, ex. as que se aplicam aos funcionários da Administração Publica 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 38 
(advertência, suspensão, expulsão despromoção etc.) , ou de direito 
privado como as que se encontram previstas nos estatutos das 
associações ( advertência, suspensão, expulsão etc. dos membros 
infractores. 
 
Leituras Obrigatórias 
 
Telles, Inocêncio Galvão, Introdução ao estudo do Direito,Coimbra 
editora,2010; 
 
 
 
Actividades 
 
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta terceira unidade. 
Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, 
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção, no final do presente 
Guia de Estudo. 
 
 
 
Actividade 1 
Carlos, fotógrafo amador, necessitando de local para morar e sabedor que 
seu amigo Robson possuía, vago e sem utilização, um apartamento 
situado em zona nobre da cidade, faz a este proposta de locação do 
imóvel. Para tanto, celebraram contrato de locação residencial em que 
estavam previstas as obrigações do,ções do locatário (Carlos) 
e do locador (Robson). Após um determinado tempo, Robson observa que 
o Carlos não vinha cumprindo com o dever contratualmente estabelecido 
de manter o imóvel em condições adequadas para o fim do contrato, já que 
ele quebrou todas as paredes internas do apartamento transformando-o 
em um estúdio fotográfico. 
Em razão disso, a questão foi levada à Justiça e o contrato foi extinto, por 
culpa do locatário, o qual veio, inclusive, a ser condenado a arcar com as 
despesas para reconstituição do imóvel no estado em que foi recebido. 
Levando em consideração o caso proposto, responda justificadamente. 
a) A relação jurídica entre Carlos e Robson está no campo do Direito 
Público ou Privado? O que justifica sua resposta? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 39 
 
 
 
UNIDADE TEMÁTICA 4 
Teoria Geral da relação Juridica 
 
Elaborado por Dário Caetano de Sousa 
Objectivos 
 
 No fim desta unidade, você deverá ser capaz de: 
 • Reconhecer uma relação Jurídica 
• Distinguir as relações jurídicas das simples relações sociais 
• Conhecer e Explicar os elementos da relação jurídica 
• Capacidade e incapacidade jurídicas 
• As formas de suprimento das mesmas 
 
 
4.1 CONCEITO E ESTRUTURA 
Problematizar sobre a relação juridica é questionar essencialmente se 
todas as relações que o homem estabelece com seussemelhantes, no 
ambito de sua natureza eminentemente social interessam ao Direito. A 
resposta é negativa. Nem todas as relações que o homem desenvolve 
dentro da sociedade interessam ao direito mas sim apenas aquelas 
relações de carácter jurídico, as previstas e protegidas pela lei. 
Definição: Relação jurídica é uma relação da vida social regulada pelo 
Direito, e que consiste na atribuição a um sujeito de um direito subjectivo e 
na adstrição de outro sujeito a uma vinculação jurídica – Prof. Doutor 
João de Castro Mendes. 
Assim sendo, para que estejamos perante a uma relação jurídica é 
necessário a existência de duas ou mais pessoas que se encontram em 
situação na qual a lei atribui entre elas poderes e deveres e o objecto da 
relação deve estar previsto num modelo jurídico. 
 
Exemplos de relações jurídicas (casamento, filiação, fornecedor e 
consumidor, sucessões etc.). 
 
4.2 ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURIDICA 
 
 Sujeito 
 Objecto 
 Facto 
 Garantia 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 40 
 
Objecto 
O objecto da relação jurídica é o elemento sobre qual a relação jurídica se 
constitui, e sobre o qual recai tanto a existência do credor como a 
obrigação do devedor. Este objecto deve ser legalmente possível, isto é, 
não contrário a lei conforme os artigos 280 e 294 ambos do código civil. O 
objecto da relação jurídica pode ser imediato e ou mediato. 
Objecto imediato: é a própria prestação ( de dar, fazer, ou de não fazer, 
restituir, etc.), formando assim o direito subjectivo e a vinculação dos 
sujeitos da relação. 
Objecto mediato: este refere-se aos bens jurídicos ou seja as coisas. 
Facto juridico 
Os factos jurídicos são os que dão origem a constituição duma relação 
jurídica. Os factos podem ser constitutivos, modificativos e extintivos. 
Garantia 
A garantia é composta por um conjunto de providencias coercivas de que 
o direito dispõe para a tutela dos sujeitos intervenientes na relação jurídica. 
 
Os sujeitos 
Os Sujeitos de Direito ou pessoas jurídicas, são os entes susceptíveis de 
serem titulares de direito e obrigações, (relações jurídicas). A nossa ordem 
jurídica consagra ( reconhece ) dois tipos de pessoas de direito ( sujeitos 
de direitos), consoante se trate de indivíduos ou instituições ou organismo, 
nomeadamente: 
a) Pessoas singulares 
b) Pessoas Colectivas 
Por sua vez os sujeitos de direitos subdividem-se em: 
- Sujeito Activo: aquele que esta na posição de beneficiário, titular de 
direito e que pode exigir numa relação jurídica ( poder ). 
- Sujeito Passivo: aquele que esta na posição de obrigado, devedor 
( dever). 
 
 INICIO DA PERSONALIDADE JURIDICA 
Fala-se pois, de personalidade para exprimir a qualidade ou condição 
jurídica de um ente. 
 A personalidade jurídica traduz-se precisamente na susceptibilidade de 
ser titular de direitos e se estar vinculado à direitos e obrigações. A 
personalidade jurídica é inerente a todos os seres humanos e adquire-se 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 41 
no momento de nascimento completo e com vida , conforme o 
preceituado no nº 1 do artigo 66 CC. 
 
CAPACIDADE JURIDICA 
Fala-se de Capacidade Jurídica para exprimir a aptidão para ser titular de 
um círculo, com mais ou menos restrições, de relações jurídicas – pode 
por isso ter-se uma medida maior ou menor de capacidade, segundo 
certas condições ou situações, sendo-se sempre pessoa, seja qual for a 
medida da capacidade. 
É a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa é susceptível,o 
artigo. 67º do código civil estabelece que “as pessoas podem ser sujeitos 
de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário: nisto 
consiste a sua Capacidade Jurídica”. 
A doutrina aponta dois tipos de capacidade Jurídica: 
a. Capacidade de gozo 
b. Capacidade de Exercício 
Capacidade de Gozo - é a medida de direitos e vinculações de que uma 
pessoa pode ser titular, art. 67 CC e esta é inerente à personalidade 
Jurídica. 
Capacidade de Exercício, consiste na medida de direitos e de vinculações 
que uma pessoa pode exercer por si só pessoal e livremente. Em principio 
todas as pessoas singulares, ao atingirem a maioridade, adquirem 
capacidade de exercício, que resulta do preceituado nos artigos 130 CC 
( efeitos de maioridade) e art. 133 CC ( efeitos de emancipação ). 
A diferença entre as duas capacidades reside no facto de a Capacidade 
de Gozo colocar-se no plano abstracto da titularidade de situações 
jurídicas, isto é, basta ser humano para ter a capacidade de gozo, na 
Capacidade de Exercício está-se já no plano concreto de averiguar em 
que medida certa pessoa pode exercer os direitos ou cumprir as 
obrigações que na verdade lhe podem caber enquanto sujeito. Pois, pode 
haver Capacidade de Gozo e não haver Capacidade de Exercício. 
 Quanto as Pessoas Colectivas, art. 160/1 CC ao contrario do que 
acontece com as pessoas singulares, a capacidade de exercício/gozo de 
pessoas colectivas é uma capacidade específica, pois está limitada aos 
direitos e vinculações adequadas à prossecução dos fins comuns pelos 
quais se constituíram. 
 
INCAPACIDADES JURIDICAS 
A lei reconhece algumas situações excepcionais no exercício dos direitos 
e obrigações, pois, pode suceder uma pessoa ser titular de direitos, isto é, 
ter capacidade de gozo, e não os poder exercer, por lhe faltar a 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 42 
necessária idoneidade para poder actuar juridicamente, ou seja, a 
necessária capacidade de exercício de direitos. 
O incapaz, é a pessoa que sofre de incapacidade genérica ou de 
incapacidade específica que abranja um número significativo de direitos e 
vinculações no campo pessoal ou patrimonial. A legitimidade, é a 
susceptibilidade de certa pessoa exercer um direito ou cumprir uma 
vinculação, resultante de uma relação existente entre essa pessoa e o 
direito ou vinculação. Para o prof. Castro Mendes, é a susceptibilidade ou 
insusceptibilidade de uma certa pessoa exercer um direito ou cumprir uma 
vinculação, resultante não das qualidades ou situações jurídicas da 
pessoa, mas das relações entre ela e o direito ou obrigações em causa. 
A esfera jurídica: É o conjunto de direitos e vinculações que certa pessoa 
está adstrita em determinado momento. Comporta dois hemisférios 
distintos: o patrimonial e o não patrimonial ou pessoal. Património: É tudo 
aquilo que se mostra susceptível de ser avaliado em dinheiro. 
O hemisfério patrimonial da esfera jurídica, é o conjunto de direitos e 
vinculações pertencentes a certa pessoa em determinado momento e que 
é susceptível de avaliação em dinheiro. 
O hemisfério não patrimonial da esfera jurídica, é constituído pelos demais 
direitos e vinculações do sujeito. 
 Assim, a incapacidade jurídica é a medida de direitos e vinculações de 
que uma pessoa não é susceptível de exercer. Há pessoas que são 
titulares da Capacidade de Gozo, mas não de exercício. Pode-se ter 
Capacidade de Gozo genérica e não ter uma Capacidade de Exercício 
genérica. 
A Incapacidade de Gozo reporta-se à titularidade de direitos e vinculações 
de que uma pessoa não pode gozar. Neste campo não é possível suprir. 
Na Incapacidade de Exercício está em causa a impossibilidade de certa 
pessoa que é titular de um determinado direito, exercê-lo pessoalmente. 
No entanto, já é possível a outra pessoa que venha a exercer esse 
mesmo direito em conjunto com o incapaz, ou em substituição deste. A 
isto chama-se suprimento da incapacidade de Exercício. 
 
TIPOS DE INCAPACIDADES JURIDICAS DE EXERCICIO 
a. Menoridade ( art. 122 e 123 ) 
b. Interdição ( art. 138 a 151 ) 
c. Inabilitação ( art. 152 a 155 ) 
d. Incapacidade acidental ( art. 257) 
 
 
 Ciências Jurídicas– Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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 a) A incapacidade por menoridade 
São menores todas as pessoas que nascem, até completarem 21 anos de 
idade (122.º do Código Civil). 
 Segundo o artigo 123.º do Código Civil, os menores carecem, em 
princípio da capacidade de exercício. 
 a maturidade se adquire gradualmente e não de um momento para o 
outro, e é alcançada por cada pessoa em tempos diferentes. Na 
impraticabilidade de averiguar caso a caso e pessoa a pessoa o grau 
de maturidade exigível e porque se tornava necessário fixar uma idade 
que de acordo com padrões de normalidade correspondesse a um 
grau de maturidade suficiente. O legislador fixou o limite de 21 anos, 
momento a partir do qual o indivíduo adquire capacidade de exercicio, 
veja o artigo 30 CC. 
 O artigo 123 do Código Civil é muito claro ao estabelecer a regra 
geral da incapacidade genérica de exercício em relação aos menores. 
Admite, com tudo, excepções quando inclui a expressão: “ salvo 
disposição em contrario. Essas excepções estão previstas nas 
seguintes situações: 
 São excepções ao regime geral de incapacidade dos menores: 
- Aos sete anos, segundo o artigo 488, nº 2 do Código Civil, cessa a 
presunção de inimputabilidade do menor; 
- o artigo 396 LF prevê o consentimento do menor de doze anos para a 
sua adopção; 
- o artigo 309 nº 2 LF impõe que o filho maior de doze anos de idade seja 
ouvido quando haja desacordo entre os pais quanto a questões 
importantes em matéria de poder paternal, “ salvo quando 
circunstâncias ponderosas o desacolhem”; 
- cessa a sua inimputabilidade penal aos 16 anos ( artigo 69 do Código 
Penal); 
- Ainda no caso do artigo 127, nº 1, alínea a), para actos de administração 
e deposição dos bens que tenha adquirido pelo seu trabalho. 
 Particularmente interessante neste tema, é o preceito da alínea b) do 
nº 1 artigo 127 do Código Civil que reconhece as capacidades, 
independente da idade, para a pratica dos “ negócios jurídicos próprios 
da vida corrente do menor que, estando ao alcance da sua capacidade 
natural, só implique despesas ou disposições de bens de pequena 
importância”. 
 Este preceito institui um regime que, com uma elasticidade muito 
grande, reconhece capacidade ao menor para a pratica dos actos que 
estejam ao alcance da sua capacidade natural. Numa orientação 
divergente da padronização do reconhecimento da capacidade aos 
vinte e um anos, faz a capacidade civil depender não de uma idade 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 44 
pré-fixada, mas sim da capacidade natural de cada um. Este regime 
não é geral e a lei restringe-o aos negócios próprios da vida corrente 
do menor que só impliquem despesas ou disposições de bens de 
pequena importância. 
 O que seja a capacidade natural do menor o que sejam negócios 
próprios da sua vida corrente e o que sejam despesas e disposição de 
pequena importância são conceitos indeterminados. A concretização 
destes conceitos é muito elástica e depende da idade e da maturidade, 
assim como o limite do valor dos actos que se podem considerar de 
pequena importância não é fixo e aumenta com a idade e a 
maturidade 
 do menor, com a dimensão da sua fortuna e a importância dos 
negócios em que esteja envolvido. 
 No artigo 127, do Código Civil excepciona expressamente a regra 
geral da incapacidade de exercícios, três categorias de actos do 
menor. 
 - Os actos de administração ou de disposição de bens que o menor 
tenha adquirido pelo seu trabalho; 
 - Os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que, 
estando ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem 
despesas, ou disposições de bens, de pequena importância; e 
 - Os negócios jurídicos relativos a profissão, arte ou oficio, que o 
menor tenha sido autorizado ao exercer ou os praticados no exercício 
dessa profissão, arte ou oficio. 
 No nº2 do mesmo artigo é limitada aos bens de que o menor tenha livre 
disposição a responsabilidade pelos actos relativos a profissão, arte ou 
oficio e pelos actos praticados no seu exercício. 
 Ao recorrer amplamente a conceitos indeterminados na redacção do 
artigo 127, o Código vem dar as excepções que consagra, uma grande 
amplitude e elasticidade. 
 No que respeita a alínea a), há que ter em atenção que o menor pode 
trabalhar em principio, desde os dezasseis anos, embora o possa 
fazer, em casos especiais desde os doze anos LT. Com o produto do 
seu trabalho pode adquirir bens com alguma importância, para cuja 
administração e disposição lhe é conferida capacidade. 
 A alínea b), da qual se falou já atrás, faz coincidir a capacidade de 
exercício com a capacidade natural. Reconhece-se, assim, ao menor 
capacidade para os actos que estejam ao alcance da sua maturidade, 
discernimento e experiência. Este regime é limitado aos actos próprios 
da vida corrente do menor. Nesta limitação a lei não se refere a vida 
corrente de um tipo de menor, mas antes a vida corrente do menor 
concreto cujos os actos em questão. A limitação de que sejam 
patrimonialmente de pequena importância não remete também para 
um conceito objectivo mas antes para algo de relativo, para valores 
que sejam de pequena importância em relação ao estatuto e a vida 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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económica do menor. Note-se que se o ato estiver, ao alcance da 
capacidade natural do menor não haverá muita razão para a lei se 
preocupar com a sua protecção em concreto. 
 Finalmente, alínea c) abrange todos os actos relativos a profissão, arte 
ou oficio que o menor seja autorizado a exercer ou praticados no seu 
exercício. Este preceito significa que na autorização para o menor 
exercer uma profissão está em implícita a atribuição de capacidade de 
exercício para os actos respectivos. Não seria verdadeiramente 
possível ao menor exercer uma profissão sob representação dos seus 
pais ou legais representantes. Com cautela a lei limita aos bens de 
que o menor tenha livre disponibilidade a responsabilidade pelos actos 
relativos a profissão arte ou oficio. 
 Portanto, apesar da incapacidade geral de exercício de que sofre, os 
menores têm algumas capacidades concretas de exercício, conforme 
situações atrás referidas. O menor só poderá actuar juridicamente 
quando cessar a sua incapacidade, antes disso, será substituído pelo 
seu representante legal. Caso o menor pratique qualquer acto jurídico 
será nulo nos termos do art. 125CC. 
 
CONSEQUENCIA DOS ACTOS PRATICADOS PELOS INCAPAZES 
 Os negócios jurídicos praticados pelo menor contrariamente à 
proibição em que se cifra a incapacidade estão feridos de 
anulabilidade nos termos do ( art. 125 CC). As pessoas com 
legitimidade Para arguir essa anulabilidade são: 
• Os representantes do menor dentro de um ano a contar do 
conhecimento do acto impugnado; 
• O próprio menor dentro de um ano a contar da cessação da 
incapacidade; 
• Qualquer herdeiro igualmente dentro de um ano a contar da morte, se 
o hereditando morreu antes de ter expirado o prazo em que podia ele 
próprio requerer a anulação ( art. 125CC). 
 O direito ao invocar a anulabilidade é vedado quando se mostre 
comportamento malicioso do menor, no caso de este ter usado de dolo 
ou má fé a fim de se fazer passar por maior ou emancipado ( art. 
126CC), entende-se assim que ficam inibidos de invocar a 
anulabilidade, não só o menor mas também os herdeiros ou seus 
representantes . 
 
OS MEIOS DE SUPRIMENTO DE INCAPACIDADE POR MENORIDADE 
São os meios de actuação estabelecidos pelo Direito, tendo em vista o 
efectivo exercício dos direitos e o cumprimento das obrigações do incapaz. 
Implicam sempre a intervenção de terceiros. 
 Existem as seguintes formas de suprimento: a representação, ( poder 
 CiênciasJurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 46 
parental e tutela), família de acolhimento e a emancipação. 
 
Representação: 
Há representação quando o incapaz não é admitido a exercer os seus 
direitos pessoalmente por força da lei, e para suprir a sua incapacidade 
tem de aparecer outra pessoa que actue em seu lugar. (art. 124 e 258 CC, 
efeitos de representação). Os actos praticados por esta outra pessoa são 
actos juridicamente, tidos pelo Direito como se fossem praticados pelo 
próprio incapaz. As incapacidades são supridas pelo instituto da 
representação. Os meios de suprimento estão consagrados nos artigos 
( 237. 281, 283, 284) da Lei nº 10/1004 de 25 de Agosto. Lei da Família e 
artigo (124 CC) 
 São formas de representação: 
- Poder paternal art. 283 a 329 lei da familia 
- Tutela ( tutor ) art. 330 a 380 ambos da Lei da Família, 
 
O PODER PARENTAL 
O conteúdo está regulado no artigo 284 da Lei 10/2004, de 25 de Agosto, 
Lei da Família. Este direito respeita a diversos planos ( pessoal e 
patrimonial). 
Plano Pessoal – ( artigo 284 nº1 LF) deve zelar pela segurança dos filhos, 
orientar a educação dos filhos; 
Plano patrimonial _ abrange o poder geral de representação dos filhos 
( art. 284 nº 2 e 287 LF)., o dever da administração geral dos bens dos 
filhos ( art. 286 LF), o dever de sustentar os filhos. 
O poder parental pertence aos pais ( mãe e o pai ), não distingue a lei, 
poderes especiais de um ou do outro existe o principio de igualdade dos 
progenitores ( art. 309 LF e art. 35 e 36 CRM) . 
 Extinção do poder parental 
Quando morre um dos progenitores, o poder parental concentra-se no 
cônjuge sobrevivo. O poder parental só se extingue com a morte dos dois 
progenitores. Quando ocorre o divorcio, neste caso a titularidade do poder 
parental não é afastado, continua a ser de ambos cônjuges. 
A atribuição do poder parental há-de seguir certas regras. 
O poder parental pode ser regulado por mutuo acordo dos progenitores. 
Homologado pelo Tribunal, tem de ser feito tendo em consideração os 
interesses do menor. O menor pode ficar à guarda de um dos cônjuges, 
de uma terceira pessoa ou de uma entidade/ instituição de educação ou 
assistência. 
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 Quando o menor é confiado á instituição ou terceiros ( assistente ) há 
limitações no exercício do poder parental até ao limite que lhe é 
consignado pelos deveres inerentes ao desempenho da sua função. 
Inibição de pleno direito art. 319 LF. Inibição decretada pelo Tribunal nos 
termos do artigo 321 LF, 
O poder parental cessa quando o menor atinge a maioridade, quando o 
menor morre, sem prejuízo do disposto no artigo 131 CC; por morte de 
ambos cônjuges. A cessação implica a necessidade do Tribunal suprir a 
incapacidade do menor através do instituto da tutela. 
 
TUTELA 
A Tutela é o meio subsidiário ou sucedâneo de suprir a incapacidade do 
menor nos casos em que o poder parental não pode em absoluto ser 
exercido. Portanto, é o meio normal de suprimento do poder parental. A 
tutela deve ser instaurada sempre que se verifique algumas das situações 
previstas no artigo 331 LF. Aqui encontramos a figura de tutor, protutor, o 
conselho de família e como órgão de controlo e vigilância , o Tribunal de 
menores. 
Quando é que a tutela é instaurada? 
O artigo 331 LF, regula a instituição da tutela. 
O menor está obrigatoriamente sujeito à tutela nos seguintes casos: 
a) Em caso de morte dos pais; 
b) Os pais inibidos do poder parental quanto à regência da pessoa do 
filho; 
c) Estando os pais há mais de seis meses impedidos de facto de exercer 
o poder parental; 
d) Pais incógnitos. 
A instituição de uma tutela depende sempre da decisão judicial, e o 
tribunal agir oficiosamente ou não art. 334 LF. Contudo, a lei estabelece 
restrições aos poderes do tutor ( este é o órgão executivo da tutela, tem 
poderes de representação abrangendo, em princípio, tal como os dos 
pais a generalidade da esfera jurídica do menor, mas o poder do tutor, é 
toda via mais reduzido que o poder parental artigos 346, 347, 348 e 349 
LF e estabelece medidas destinadas a assegurar uma boa gestão dos 
interesses e protecção do menor. 
Os objectivos e os órgão te tutela vem descritos nos artigos 333 e 336 LF. 
Órgãos de tutela ( artigos 336, 362, 365,366, )LF. 
Escolha do tutor 
 A escolha do tutor pode ser feita pelos progenitores, pela lei e ou pelo 
Tribunal, conforme consagra o artigo 338 LF. 
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Tutor designada pelos progenitores ( art. 339 ) LF, escolha testamentária. 
Tutela Legal ( art. 340 ) LF. 
Tutor designado pelo Tribunal ( art. 341 ) LF. Há lugar a designação do 
tutor pelo Tribunal quando não há nenhum familiar indicado no art. 340 LF, 
ou não tendo estes, condições para exercer a tutela. 
 Prestação de contas ( art. 342 ) LF 
 Direitos e deveres do tutelando ( art. 343 ) LF. 
 Quem não pode ser tutor ( art. 344 ) LF. 
 
Emancipação : 
Pela emancipaçãoo menor, embora não deixe de o ser, adquire em 
principio capacidade genérica de exercício, como se fosse maior art. 133, 
com excepção do artigo 136 CC. 
- Por casamento: 18 anos, art. 30, família e excepcionalmente aos 16 
anos , nº 2 do mesmo artigo; 
- Para exercer actividade empresarial : 18 anos art. 10 Código Comercial. 
- Para celebração do contrato de trabalho: art. 23 a 27 da Lei de Nº 
23/2007 Lei do Trabalho. 
 
INCAPACIDADE POR INTERDIÇÃO 
 Interdição: Esta incapacidade, a mais grave, resulta de determinadas 
deficiências psíquicas ou físicas, possuídas por certas pessoas, que lhes 
afectam a vontade e normal discernimento para poderem reger a sua 
própria vida e dispor livremente dos seus bens, tomar soluções, enfim, 
actuar juridicamente, conforme estatui o artigo 138 CC. ” podem ser 
interditos do exercício dos seus direitos todos aqueles, que por anomalia 
psíquica, surdez –mudez ou cegueira, se mostrem incapazes de governar 
suas pessoas e bens”. 
 
FORMAS DE SUPRIR 
A forma de suprir esta incapacidade é a representação legal. 
O interdito tem um regime jurídico semelhante ao menor, quer quanto ao 
valor dos actos praticados, quer quanto aos meios de suprir a sua 
incapacidade, exceptuando-se a emancipação. 
Para alguém ser considerado interdito, é necessário que a sua 
incapacidade seja declarada por sentença judicial. 
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A incapacidade por interdição só cessara se desaparecer o motivo natural 
que a originou, e depois de validada por decisão do tribunal. 
 
 INCAPACIDADE POR INABILITAÇÃO 
inabilitação: os motivos que determinam a inabilitação são os mesmos da 
interdição, mas revestidos de menor gravidade, a que se juntam ainda 
certos modos habituais de comportamento, como a prodigalidade, o 
abuso de bebidas alcoólicas ou estupefacientes art. 152 CC. 
A inabilitação, tal como interdição resulta igualmente de uma sentença 
judicial proferida no termo de uma acção interposta para este fim. 
 
FORMA DE SUPRIR 
O meio de suprimento de incapacidade por inabilitação é a assistência 
conforme o art. 153CC. 
- Assistência ( Curador ): situações em que certas pessoas são admitidas 
a exercer livremente os seus direitos. Nestes casos, o incapaz, pode exigir 
mas não sozinho. Ou seja, o suprimento da incapacidade impõe única e 
simplesmente que outra pessoa actue juntamente com o incapaz. Para 
que os actos sejam válidos, é necessário que haja um concurso de 
vontade do incapaz e do assistente. Há sempre um fenómeno de 
conjugação de vontades, isto porque o incapaz pode agir pessoal mas não 
livremente. 
 
 Modalidades da assistência ( curador)Podem revestir de três modalidades: (1) a autorização; (2) a 
comparticipação; (3) a ratificação. 
Estas modalidades verificam-se quanto ao modo pelo qual se opera essa 
conjugação de vontades do incapaz e do assistente. A conjugação destas 
modalidades baseia-se no momento logicamente anterior ao acto do 
incapaz. 
A autorização, quando a vontade do assistente se manifesta no momento 
logicamente anterior ao acto do incapaz, art. 153/1, o curador actua como 
assistente e a prática de actos jurídicos pelo inabilitado está dependente 
da autorização deste. O curador, é uma entidade a quem cabe apenas, 
em princípio, autorizar o inabilitado a alienar bens por actos entre vivos, a 
celebrar convenções antenupciais ou quaisquer outros negócios jurídicos 
que tenham sido especificados na sentença de inabilitação. 
A comparticipação, verifica-se se a vontade do assistente se manifesta no 
próprio acto, no qual o assistente deve também participar. 
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A ratificação, diz-se que há ratificação ou aprovação quando a 
manifestação de vontade do assistente é posterior à manifestação de 
vontade do incapaz. 
Esta incapacidade só cessara no caso de desaparecer o motivo que lhe 
de origem e depois de ter requerido no Tribunal o levantamento da 
inabilitação. 
Se esta tiver causa a prodigalidade, o abuso de bebidas alcoólicas ou de 
estupefacientes, há que respeitar o prazo de cinco anos após o transito 
em julgado da respectiva sentença, a fim de que o inabilitado demonstre 
com o seu procedimento que está regenerado art. 155 CC. 
 Incapacidade Acidental: esta resulta como o próprio nome sugere, de 
qualquer causa transitório, como a embriagues, intoxicação, estado 
hipnótico, etc., que leve a pessoa a agir sem ter consciência dos seus 
actos, ou seja, alguém que em determinado momento não esta em pleno 
gozo das suas capacidades mentais. 
Os actos praticados nestas condições podem ser anuláveis nos termos da 
lei. 
Art. 257 CC. A declaração negocial feita por quem, devido a qualquer 
causa, se encontrava incapacitado de entender o sentido dela ou não 
tenha o livre exercício da sua vontade é anulável, desde que o facto seja 
notório ou conhecido do declaratário. 
 
Leituras Obrigatórias 
Andrade, Manuel António Domingues, Teoria Geral da Relação Juridica 
vol I, Almedina, 1997 
Actividades 
 
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta quarta unidade. 
Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, 
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção, no final do presente 
Guia de Estudo. 
Bernardo, menor de 15 anos de idade, comprou um automóvel com o 
produto do seu trabalho de carpinteiro. Para tal, falsificou o seu BI e 
colocou umas barbas postiças para se apresentar no stand de automóveis 
como tendo 18 anos. Passados alguns meses Bernardo vem a falecer num 
acidente de viação, e os seus pais pretendem anular a compra do referido 
automóvel. Quid iuris? 
 
 
 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 51 
 
 
UNIDADE TEMÁTICA 5 
EXERCICIO E A TUTELA DOS DIREITOS SUBJECTIVOS 
 
Elaborado por Dário Caetano de Sousa 
 
Objectivos 
 Identificar a tutela publica e a tutela privada; 
 Conhecer os órgãos que compõe a tutela publica; 
 Explicar porque razão a permissão pelo direito a tutela privada; 
 Identificar as formas em que se manifesta a tutela privada; 
 Identificar as formas da Responsabilidade estudadas; 
 Saber diferenciar o ilícito civil do ilícito criminal. 
O exercício concreto dos direitos subjectivos suscita vários problemas, pois, 
as pessoas que são titulares do direito não os exercem isoladamente, pelo 
contrario, o exercício dos direitos é feito no âmbito da sociedade em que 
muitas pessoas coexistem e se relacionam, em contacto social, em 
cooperação e em conflito. 
Do contacto das pessoas umas com as outras e com as coisas, nas 
circunstancias da vida, podem resultar ( e resultam com alguma frequência) 
dificuldades que suscitam problemas no exercício dos direitos subjectivos. 
 
TUTELA PUBLICA 
Tutela Publica é a função que o Estado desempenha para tornar efectiva 
as normas jurídicas através dos tribunais como órgãos de soberania, 
imparciais e especializados. A tutela publica subdivide-se em: 
a) Tutela Administrativa – (Administração publica) 
 A Tutela administrativa é o meio mais frequente de garantia dos direitos 
dos cidadãos no domínio da administração publica. Porquanto, os 
particulares estão protegidos contra a violação dos seus direitos e 
interesses legalmente protegidos, quer por parte dos outros particulares, 
quer por parte do Estado, pois, a actuação do Estado está sujeita à 
Constituição e a Lei ( em sentido mais amplo), pelo que é necessário 
controlar a sua legalidade. É o chamado principio da legalidade da 
administração publica. 
 
b) Tutela Judicial 
A tutela judicial é por seu turno o processo normal de tutela dos 
interesses dos particulares atraves dos tribunais ( artigos 212, 213, 214, 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 52 
215) ver as especies dos tribunais artigo 223, 225, 228, 230, 
234,236,241,249). Todos da Constituição da República. 
 
 CONDUTA ILICITA, CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE E TUTELA 
PRIVADA 
 
1. NOÇAO DE ILICITUDE 
1.1 ILicito Civil e ilícito Criminal 
1.2 Ilícito intencional e ilícito meramente culposo 
1.3 Responsabilidade civil contratual, responsabilidade civil extra-
contratual e responsabilidade pelo risco 
 
 Ilicitude 
O Código Civil procurou fixar em termos mais precisos o conceito de 
ilicitude, descrevendo duas variantes, através das quais se pode relevar o 
carácter anti-jurídico ou ilícito. 
1) Violação de um direito de outrem (art. 483 CC): os direitos subjectivos 
aqui abrangidos, são, principalmente, os direitos absolutos, 
nomeadamente os direitos sobre as coisas ou direitos reais, os direitos de 
personalidade, os direitos familiares e a propriedade intelectual. 
 
2) Violação da lei que protege interesses alheios: trata-se da infracção das 
leis que, embora protejam um direito subjectivo a essa tutela; e de leis que, 
tendo também ou até principalmente em vista a protecção dos interesses 
colectivos, não deixam de atender aos interesses particulares subjacentes. 
Além disso, a previsão da lei abrange ainda a violação das normas que 
visam prevenir, não a produção do dano em concreto, mas o simples 
perigo de dano em abstracto. 
Para que o lesado tenha direito à indemnização, três requisitos se 
mostram indispensáveis: 
1) Que a lesão dos interesses do particular corresponda a violação de 
uma norma legal; 
2) Que a tutela dos interesses dos particulares figure, de facto, entre os 
fins da norma violada; 
3) Que o dano se tenha registado no círculo de interesses privados que a 
lei visa tutelar. 
 
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Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 53 
O abuso do direito 
Não se trata da violação de um direito de outrem, ou da ofensa a uma 
norma tuteladora de um interesse alheio, mas do exercício anormal do 
direito próprio. O exercício do direito em termos reprovados pela lei, ou 
seja, respeitando a estrutura formal do direito, mas violando a sua 
afectação substancial, funcional ou teleológica, é considerado como 
legítimo. Isso quer dizer que, havendo dano, o titular do direito pode ser 
condenado a indemnizar o lesado. 
Há abuso de direito (art. 334 CC), sempre que o titular o exerce com 
manifesto excesso dos limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes, 
ou pelo fim económico ou social desse direito. 
Com base no abuso de direito, o lesado pode requerer o exercício 
moderado, equilibrado, lógico, racional do direito que a lei conferea 
outrem; o que não pode é, com base no instituto, requerer que o direito 
não seja reconhecido ao titular, que este seja inteiramente despojado dele. 
 
 Factos ilícitos especialmente previstos na lei 
Além das duas grandes directrizes de ordem geral fixadas no art. 483 CC, 
sobre o conceito de ilicitude, como pressuposto da responsabilidade civil, 
o Código Civil trata de modo especial alguns casos de factos anti-jurídicos: 
a) Factos ofensivos do crédito ou bom-nome das pessoas (art. 484 
CC :Quem afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar o crédito 
ou o bom-nome de qualquer pessoa, singular ou colectiva responde 
pelos danos causados; 
b) Conselhos, recomendações ou informações geradoras de danos (art. 
485 1 - Os simples conselhos, recomendações ou informações não 
responsabilizam quem os dá, ainda que haja negligência da sua parte). 
 Imputabilidade do facto ao lesante ( culpa ) 
Para que o facto ilícito gere responsabilidade, é necessário que o autor 
tenha agido com culpa. Não basta reconhecer que ele procedeu 
objectivamente mal. É preciso, nos termos do art. 483 CC, que a violação 
ilícita atenha sido praticada com dolo ou mera culpa. Agir com culpa, 
significa actuar em termos de conduta do agente merecer a reprovação ou 
censura do direito. E a conduta do lesante é reprovável, quando, pela sua 
capacidade e em face das circunstâncias concretas da situação, se 
concluir que ele podia e devia agir de outro modo. 
Fala-se em nexo de imputação para significar que não basta que o agente 
tenha praticado um facto voluntário, não basta que esse facto, tendo sido 
praticado voluntariamente seja ilícito, é preciso que ele possa ser 
imputado ao agente; e só é imputado ao agente quando o agente actuou 
culposamente. 
A culpa em sentido amplo abrange duas sub-modalidades: 
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1. Culpa em sentido estrito, também designada por mera culpa ou 
negligência; 
2. Dolo. 
Há casos em que as pessoas não têm os requisitos para actuar 
culposamente. Para que uma pessoa seja susceptível do juízo de 
culpabilidade, é preciso que ela seja imputável; para lhe serem imputados 
actos é preciso que ela seja susceptível de imputação, que seja imputável 
ou tenha imputabilidade. 
 Imputabilidade 
Diz-se imputável a pessoa com capacidade natural para prever os efeitos 
e medir o valor dos actos que pratica e para se determinar de harmonia 
com o juízo que faça acerca deles (art. 488 CC). 
Ele caracteriza-se: 
 
• Pela capacidade de entendimento mínimo que permite ao sujeito 
prever as consequências dos seus actos; 
• E pelo mínimo de liberdade, que lhe permitia determinar-se. 
É imputável o sujeito que tem o mínimo de inteligência para perceber 
alcance do acto que pratica e que tem liberdade de determinação, isto 
é, que é livre de decidir ou não de praticar o acto, é isto que se chama 
imputabilidade. 
Pode dizer-se que para haver responsabilidade da pessoa inimputável é 
necessária a verificação dos seguintes requisitos: 
a) Que haja um facto ilícito; 
b) Que esse facto tenha causado danos a alguém; 
c) Que o facto tenha sido praticado em condições de ser considerado 
culposo, reprovável, se nas mesmas condições tivesse sido praticado 
por pessoa imputável; 
d) Que haja entre o facto e o dano o necessário nexo de causalidade; 
e) Que a reparação do dano não possa ser obtida dos vigilantes do 
inimputável; 
f) Que a equidade justifique a responsabilidade total ou parcial do autor, 
em face das circunstâncias concretas do caso. 
 
Culpa 
A culpa (art. 487 CC) exprime um juízo de reprovabilidade pessoal da 
conduta do agente: o lesante, em face das circunstâncias específicas do 
caso, devia e podia ter agido de outro modo. É um juízo que assenta no 
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nexo existente entre o facto e a vontade do autor, e pode revestir duas 
formas distintas: o dolo e a negligencia ou mera culpa. 
Há dolo, quando o agente actuou por forma a aceitar, a admitir, as 
consequências ilícitas da sua conduta. Diz-se dolosa a conduta quando o 
agente, não tendo previsto as consequências danosas e ilícitas que do 
seu acto iriam resultar, não fez nada para as afastar, porque as admitiu. 
 Há mera culpa, quando o agente actuou levianamente, 
imponderadamente, negligentemente, sem cuidado ou sem atenção, 
quando o agente, numa palavra, não empregou a diligência que o bom pai 
de família [38], colocado naquela situação, teria empregado. 
 
Modalidades de culpa 
A distinção entre dolo e a negligência, como modalidades de culpa, 
aparece logo referida na disposição que constitui a trave-mestra de toda a 
construção legislativa da responsabilidade civil (art. 483/1 CC). O dolo 
aparece como modalidade mais grave da culpa, aquela em que a conduta 
do agente, pela mais estreita identificação estabelecida entre a vontade 
deste e o facto, se torna mais fortemente censurável. As modalidades de 
dolo são: 
- Dolo directo, quando o agente actuou para obter a consequência ilícita 
danosa e a obteve; o agente actuou intencionalmente para o resultado 
ilícito; 
- Dolo necessário, quando o agente não tinha como objectivo do seu 
comportamento o resultado ilícito, mas sabia que o seu 
comportamento ia ter como resultado necessário, inevitável, o ilícito; 
- Dolo eventual, quando o agente prefigura a consequência ilícita e 
danosa como uma consequência possível do seu comportamento e 
não faz nada para a evitar. 
Além do nexo, entre facto ilícito e a vontade do lesante, nexo que constitui 
o elemento volitivo ou emocional do dolo, este compreende ainda um 
outro elemento, de natureza intelectual. Para que haja dolo essencial o 
conhecimento das circunstâncias de facto que integram a violação do 
direito ou da norma tuteladora de interesses alheios e a consciência da 
ilicitude do facto. 
 Mera culpa ou negligência 
Consiste na omissão da diligência exigível do agente. 
Há culpa consciente, quando o agente representou a possibilidade da 
consequência ilícita danosa e só actuou porque se convenceu de 
infundada e megalómanamente que conseguiria evitar a produção dessa 
consequência. 
Há culpa inconsciente, quando o agente não previu o resultado, não 
pensou nisso e ele ocorreu. 
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A mera culpa (consciente ou inconsciente) exprime, uma ligação da 
pessoa com o facto menos incisiva do que o dolo, mas ainda assim 
reprovável ou censurável. O grau de reprovação ou de censura será tanto 
maior quanto mais ampla for a possibilidade de a pessoa ter agido de 
outro modo, e mais forte ou intenso o dever de o ter feito. 
Causas de escusa, causas de exclusão da culpabilidade 
Há circunstâncias que em concreto afastam a culpa do agente, isto é, 
fazem com que o agente não seja objecto do juízo de culpabilidade 
quando seria normalmente se essas circunstâncias não tivessem ocorrido. 
A nossa lei faz referência a duas causas de escusa, de uma forma técnica 
nos arts. 337/2 e 338 CC. – veremos em diante. 
Faz-se referência a uma causa de exclusão de culpabilidade que é o 
medo, desde que revista certas características: 
Essencial: tenha sido ele a causa determinante do comportamento do 
agente ou, dito de outro modo, o agente só tenha actuado por causa do 
medo; 
Desculpável: isto é, seja um medo, uma situação psicológica de 
intimidação, em que o bom pai de família também teria incorrido se 
estivesses naquela situação. 
 Prova da culpa, presunção de culpa 
Sendo a culpa do lesante um elemento constitutivo do direito à 
indemnização, incumbe ao lesado, como credor, fazer a prova dela, nos 
termos gerais da repartição legal do ónus probatório (art. 342/1 CC: 
Aquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factosconstitutivos 
do direito alegado). 
Regra oposta vigora para o caso da responsabilidade contratual (art. 799/1 
Incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento 
defeituoso da obrigação não procede de culpa sua). 
Neste caso o facto constitutivo do direito de indemnização é o não 
cumprimento da obrigação, funcionando a falta de culpa como uma 
excepção, em certos termos oponível pelo devedor. 
Ao afirmar o princípio segundo o qual, na responsabilidade delitual, é ao 
lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão (art. 487/1 CC: é ao 
lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo 
presunção legal de culpa. 
E há com efeito, vários casos em que a lei presume a culpa do 
responsável. 
 
 DANO 
Para haver obrigação de indemnizar, é condição essencial que haja dano, 
que é o facto ilícito culposo tenha causado um prejuízo a alguém. 
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O dano ou prejuizo é toda a ofensa de bens ou interesses alheios 
protegidos pela ordem juridica, isto é, o prejuízo que um sujeito jurídico 
sofre ou na sua pessoa, ou nos seus bens. 
Classificação de danos: 
- Danos pessoais: aqueles que se repercutem nos direitos da pessoa; 
- Danos materiais: aqueles que respeitam a coisas; 
- Danos patrimoniais: são aqueles, materiais que consubstanciam a 
lesão de interesses avaliáveis em dinheiro, dentro destes à que 
distinguir: 
a) Danos emergentes: é a diminuição verificada no património de alguém 
em consequência de um acto ilícito e culposo de outrem, ou de um 
acto não ilícito e culposo mas constitutivo de responsabilidade civil 
para outrem; 
b) Lucros cessantes: quando em consequência do acto gerador de 
responsabilidade civil, deixa de auferir qualquer coisa que 
normalmente teria obtido se não fosse o acto que constitui o agente 
em responsabilidade. 
- Danos não patrimoniais (ou morais): são os danos que se traduzem na 
lesão de direitos ou interesses insusceptíveis de avaliação pecuniária. 
O princípio da ressarcibilidade dos danos não patrimoniais é limitado à 
responsabilidade civil extra-contratual. E não deve ser ampliado à 
responsabilidade contratual, por não haver analogia entre os dois tipos 
de situações. 
- Dano é presente ou futuro, consoante já se verificou ou ainda não se 
verificou no momento da apreciação pelo Tribunal do direito à 
indemnização; isto é, futuros, são todos os danos que ainda não 
ocorreram no momento em que o Tribunal aprecia o pedido 
indemnizatório, mas cuja ocorrência é previsível e provável. 
- Dano real: é o prejuízo efectivamente verificado; é o dano avaliado em si 
mesmo; 
- Dano de cálculo: é a transposição pecuniária deste dano, é a avaliação 
deste dano em dinheiro. 
A gravidade do dano há-de medir-se por um padrão objectivo, e não à luz 
de factores subjectivos. Por um lado, a gravidade apreciar-se-á em função 
da tutela do direito: o dano deve ser de tal modo grave que justifique a 
concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. 
A reparação obedecerá a juízos de equidade tendo em conta as 
circunstâncias concretas de cada caso (art. 496/3 CC – 494 CC). 
A indemnização, tendo especialmente em conta a situação económica do 
agente e do lesado, é assim mais uma reparação do que uma 
compensação, mais uma satisfação do que uma indemnização. 
 Nexo de causalidade entre o facto e dano 
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Para que o dano seja indemnizável é forçoso que ele seja consequência 
do facto, ilícito e culposo no domínio da responsabilidade subjectiva extra-
obrigacional, facto não culposo no domínio da responsabilidade objectiva, 
onde o facto gerador do dano pode mesmo ser um facto lícito. 
Em qualquer caso, e portanto em qualquer das modalidades da 
responsabilidade civil, tem sempre que haver uma ligação causal entre o 
facto e o dano para que o actor do facto seja obrigado a indemnizar o 
prejuízo causado. 
 Titularidade do direito à indemnização 
Tem direito à indemnização o titular do direito violado ou do interesse 
imediatamente lesado, com a violação da disposição legal, não o terceiro 
que só reflexa ou indirectamente seja prejudicado. 
Sem prejuízo do prazo correspondente à prescrição ordinária – 20 anos – 
(contado sobre a data do facto ilícito: arts. 498 - 309 CC), o direito à 
indemnização fundada na responsabilidade civil sujeito a um prazo curto 
de prescrição (três anos). A prova dos factos que interessam à definição 
da responsabilidade, em regra feita através de testemunhas, torna-se 
extremamente difícil e bastante precária a partir de certo período de tempo 
sobre a data dos acontecimentos. 
Há dois prazos de prescrição: 
- O prazo ordinário (vinte anos) conta a partir do facto danoso; 
- O prazo de três anos, conta a partir do momento em que o lesado tem 
conhecimento do seu direito, isto é, conhecimento dos factos 
constitutivos do seu direito. 
 
RESPONSABILIDADE PELO RISCO 
 A responsabilidade pelo risco caracteriza-se por não depender de culpa 
do agente. A obrigação de indemnizar nasce do risco próprio de certas 
actividades e integra-se nelas, independentemente de dolo ou culpa. 
 
Tipos de responsabilidade civil 
- Responsabilidade Contratual ou obrigacional - proveniente da falta de 
cumprimento das obrigações emergentes dos contratos . 
Resulta do incumprimento de direitos subjectivos de crédito, do 
incumprimento de obrigações em sentido técnico-jurídico. Portanto, para o 
surgimento da obrigação de indemnizar é necessário que tenha havido 
culpa do devedor no não cumprimento do contrato. 
 
- responsabilidade extra-contratual - deriva da violação de deveres ou 
vínculos jurídicos gerais, isto é, de deveres de conduta impostos a todas 
as pessoas e que correspondem aos direitos absolutos, ou ate da pratica 
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de certos actos que, embora lícitos, produzem dano a outrem. Está 
prevista e regulada nos arts. 483º segs. CC. 
Nesta definição do quadro da responsabilidade civil em sentido amplo, é 
preciso ainda ter em conta que, quer no campo da responsabilidade extra-
obrigacional, quer no campo da responsabilidade obrigacional, ainda há 
dois sub-sectores: 
 Responsabilidade subjectiva, esta verifica-se quando ela depende da 
existência de culpa do agente, de culpa do autor da lesão; 
- Responsabilidade objectiva, esta verifica-se quando o agente se 
constitui na obrigação de indemnizar independentemente de culpa. 
É de salientar que é bem possível que o mesmo acto envolva para o 
agente (ou o omitente), simultaneamente, responsabilidade contratual 
( por violar uma obrigação) e responsabilidade extra-contratual( por 
infringir ao mesmo tempo um dever geral de abstenção ou o direito 
absoluto), tal como é possível que a mesma ocorrência acarrete para o 
autor, quer responsabilidade civil, quer responsabilidade criminal, 
consoante o prisma sob o qual a sua conduta seja observada. 
 
Responsabilidade Civil e Responsabilidade Criminal 
A responsabilidade civil autonomiza-se da responsabilidade criminal ou 
penal porquanto a responsabilidade civil pertence à esfera do direito civil, 
que é direito privado, ao passo que a responsabilidade criminal se 
reconduz ao direito penal, ramo do direito publico. 
Entre o ilícito civil e o ilícito criminal há diferenças substanciais e também 
diferenças de pura índole formal, atendendo a natureza das sanções que 
a um e a outro correspondem. 
Está subjacente à responsabilidade civil a ideia de reparação patrimonial 
de um dano privado, pois o dever jurídico infringido foi estabelecido 
directamente no interesse da pessoa lesada. O que verdadeiramente 
importa nas sanções civis é a restituição dos interesses lesados daí que 
sejamprivadas e disponíveis. 
Diversos são os caracteres da responsabilidade penal, esta aparece 
como uma defesa contra os autores dos factos que atingem a ordem 
social. O ilícito penal, portanto, ofende-se um dever jurídico estabelecido 
imediatamente no interesse da colectividade. As sanções criminais visam 
defender a sociedade: propõem-se fins de prevenção geral e especial, 
através da intimidação e da reeducação do delinquente ( penas e medidas 
de segurança), e fins eticos-retributivos, através da expiação pelo 
delinquente da sua culpa ( penas ). 
Compreende-se , assim, que as sanções criminais tenham carácter 
publico e indisponível. 
 
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As duas formas de responsabilidade,a civil e a responsabilidade criminal, 
posto que sejam diversas não se excluem necessariamente. Muitas vezes 
existe apenas uma delas. Mas não é raro que um facto reuna em si as 
duas qualificações, de ilícito civil e criminal. Consideremos, por exemplo, 
um homicida: a lei civil obriga-o a reparar os prejuízos que causou aos 
familiares da vitima e a lei penal aplica-lhe uma pena ( privação da 
liberdade). Em tais casos, existira responsabilidade civil conexa com a 
criminal. 
 
Pressupostos 
Da leitura do art. 483/1( Aquele que, em dolo ou mera culpa, violar 
ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a 
proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos 
danos resultantes da violação). 
CC, mostra que vários pressupostos condicionam, no caso da 
responsabilidade por factos ilícitos, a obrigação de indemnizar o lesante: 
a) Facto (controlável pela vontade do homem); 
b) Ilicitude; 
c) Imputabilidade do facto ao lesante; 
d) Dano; 
e) Um nexo de casualidade entre o facto e o dano. 
 
Facto voluntáriodo lesante 
O elemento básico da responsabilidade do agente – um facto dominável 
ou controlável pela vontade, um comportamento ou uma forma de conduta 
humana – pois só quanto a factos dessa índole têm cabimento a ideia de 
ilicitude, o requisito da culpa e a obrigação de reparar o dano nos termos 
em que a lei a impõe. 
Este facto consiste, em regra, num acto, numa acção, ou seja, num facto 
positivo, que importa a violação de um dever geral de abstenção, do dever 
de não ingerência na esfera de acção do titular do direito absoluto. Mas 
pode traduzir-se também num facto negativo, numa abstenção ou numa 
omissão (art. 486 CC). 
Quando se alude a facto voluntário do agente, não se pretende restringir 
os factos humanos relevantes em matéria de responsabilidade dos actos 
queridos, ou seja, àqueles casos em que o agente tenha prefigurado 
mentalmente os efeitos do acto e tenha agido em vista deles. 
O que está geralmente em causa, no domínio da responsabilidade civil, 
são puras acções de facto, praticadas sem nenhum intuito declarativo. 
 
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RESPONSABILIDADE PELO RISCO 
 
A responsabilidade pelo risco caracteriza-se por não depender de culpa 
do agente. A obrigação de indemnizar nasce do risco próprio de certas 
actividades e integra-se nelas, independentemente de dolo ou culpa. 
Por força da remissão feita no art. 499 CC, deve aplicar-se à 
responsabilidade pelo risco o disposto no art. 494 CC. O facto de a 
responsabilidade objectiva não depender de culpa do agente não impede 
que a indemnização seja fixada em montante inferior ao dano, quando a 
situação económica do responsável pelo risco e do lesado e as demais 
circunstâncias o justifiquem. 
Carácter objectivo da responsabilidade 
A lei civil vigente assinala de modo inequívoco o carácter objectivo da 
responsabilidade do comitente, afirmando (art. 500/1 CC) que ele responde, 
independentemente da culpa e que (n.º 2) a sua responsabilidade não 
cessa pelo facto de o comissário haver agido contra as instruções 
recebidas. 
Não se trata de uma simples presunção de culpa, que ao comitente 
incumba elidir para se eximir à obrigação de indemnizar, trata-se de a 
responsabilidade prescindir da existência de culpa, nada adiantando, por 
isso, a prova de que o comitente agiu sem culpa ou de que os danos se 
teriam igualmente registado, ainda que não houvesse actuação culposa da 
sua parte. 
 
Requisitos 
Para que exista responsabilidade prevista no (art. 500 1 - Aquele que 
encarrega outrem de qualquer comissão responde, independentemente de 
culpa, pelos danos que o comissário causar, desde que sobre este recaía 
também a obrigação de indemnizar). 
É preciso que se verifiquem cumulativamente vários requisitos: 
a) Que exista entre dois sujeitos jurídicos uma relação da comissão: é 
uma relação de comissão, é uma relação em que um dos sujeitos realiza 
um acto isolado, ou uma actividade duradoura, por conta de outrem e sob 
as instruções de outrem; 
b) O comissário tenha praticado um acto constitutivo para ele, comissário, 
de responsabilidade civil: para haver obrigação de indemnizar para o 
comitente, é indispensável que o acto do comissário constitua, para ele 
comissário, uma obrigação de indemnizar; 
c) Para que haja obrigação de indemnizar do comitente nos termos do art. 
500 CC (2 - A responsabilidade do comitente só existe se o facto danoso 
for praticado pelo comissário, ainda que intencionalmente ou contra as 
instruções daquele, no exercício da função que lhe foi confiada).a ideia é 
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a de que o comissário pratique o facto danoso e constitutivo de 
responsabilidade civil no exercício das suas funções. 
Responsabilidade do Estado e demais pessoas colectivas 
É aplicável ao Estado e às restantes pessoas colectivas públicas nos 
termos do art. 501 e 165 CC, quanto aos danos causados pelos seus 
órgãos ou representantes do exercício de actividades de gestão privada, o 
regime fixado para o comitente. 
O Estado e as demais pessoas colectivas públicas: 
a) Respondem perante o terceiro lesado, independentemente de culpa, 
desde que os seus órgãos, agentes ou representantes tenham incorrido 
em responsabilidade; 
b) Gozam seguidamente do direito de regresso contra os autores dos 
danos, para exigirem o reembolso de tudo quanto tiverem pago, excepto 
se também houver culpa da sua parte. 
São actos de gestão pública os que, visando a satisfação de interesses 
colectivos, realizam fins específicos do Estado ou outro ente público e que 
muitas vezes assentam sobre o ius auctoritatis da entidade que os pratica. 
Os actos de gestão privada são, de modo geral, aqueles que, embora 
praticados pelos órgãos, agentes ou representantes do Estado ou de 
outras pessoas colectivas públicas, estão sujeitos às mesmas regras que 
vigoraram para a hipótese de serem praticados por simples particulares. 
São actos em que o Estado ou a pessoa colectiva pública intervém como 
um simples particular, despedido do seu poder de soberania ou do seu ius 
auctoritatis. 
Os órgãos da pessoa colectiva, são as entidades, abstractamente 
consideradas, de composição singular ou colegial, às quais incumbe, por 
força da lei, ou dos estatutos, exprimir o pensamento ou traduzir e 
executar a vontade dessa pessoa. 
Os agentes são as pessoas que, por incumbência ou sob a direcção dos 
órgãos da pessoa colectiva, executam determinadas operações materiais. 
Dá-se o nome de representantes aos mandatários desses órgãos, ou seja, 
as pessoas por ele incumbidas de realizar em nome da pessoa colectiva 
quaisquer actos jurídicos. 
Responsabilidade por factos lícitos 
O acto pode ser lícito e obrigar, todavia, o agente a reparar o prejuízo que 
a sua prática porventura cause a terceiro. 
A licitude do acto não afasta necessariamente o dever de indemnizar o 
prejuízo que, num interesse de menor valor sofreu o dono dase poderia mover. Toda a 
acção desenvolvida para além dos limites fixados, invadiria a esfera de 
terceiro e, consequentemente feriria o seu interesse. Este facto é tão 
natural quanto é impossível conceber a vida dum agrupamento humano 
sem uma disciplina obrigatória entre os seus membros, sem normas de 
conduta que se imponham a todos por forma a permitir e facilitar o convívio 
dos homens, mantendo a ordem na colectividade. 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 4 
 
Desta forma Surgiram normas ou regras com o objectivo de regular, de 
disciplinar as relações entre os indivíduos, evitando-se assim o 
desequilíbrio e a desorganização no meio da social. 
 
Estas regras só se justificam porque os homens não vivem isolados, em 
estado selvagem. Um ser humano, abandonado a si mesmo numa região 
desabitada , não teria de pautar a sua conduta senão pelos seus desejos e 
pelas suas necessidades. A sua vontade seria absoluta, sem outros limites 
além dos que a sua própria natureza lhe impusesse. A sua liberdade seria 
ampla para a garantia dos seus interesses, porque não existiria a 
liberdade dum seu semelhante para restringir a sua. 
 
Não haveria lugar a normas de direito, porque estas são resultante do 
viver social e só se tornam imprescindíveis para limitar as liberdades de 
todos os indivíduos em beneficio do interesse colectivo. Sem sombra de 
dúvida, a liberdade de cada indivíduo, dentro da sociedade, cede parte da 
sua plenitude para que possam coexistir as liberdades de todos. E, a 
função primária do Direito é exactamente fixar os limites às liberdades 
individuais, de modo a permitir a vida em sociedade. 
 
 
Os conflitos de interesse tem várias causas, entretanto iremos apenas 
destacar duas, nomeadamente: 
a) Ordem quantitativa - relativa a insuficiência ou a raridade de 
determinados bens para a satisfação de todas as necessidades que 
os solicitam. 
 
b) Ordem qualitativa – relativa a impossibilidade em que se 
encontram certos bens de dar satisfação às exigências da 
demanda, estando-se, portanto, no campo da qualidade ou de 
relativismo . 
 
 
Afigura-se importante reter alguns conceitos: 
 
 Necessidade: situação de carência ou desequilíbrio, biológico ou 
psíquico, que impulsiona o homem a agir de forma a suprir a 
carência ou a restabeleçer o equilíbrio perdido. 
 
 Bem: é todo e qualquer meio capaz de satisfazer a necessidade do 
homem. Por bem deve-se entender apenas àquele que origina as 
relações jurídicas ( toda a relação da vida social regulada pelo 
direito ) e designa-se por bem jurídico. 
 
 Utilidade: a aptidão que tem o bem para realizar a satisfação 
humana. 
 
Podemos assim afirmar categoricamente que o homem é por natureza 
social tanto que ele sempre viveu em sociedade podendo recuar para às 
sociedades primitivas tais como tribo, clã, família, etc, até ao estagio de 
hoje, sociedades modernas isto é, Estados, tudo isto são manifestações 
inequívocas da sociabilidade do homem. 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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Podemos também afirmar que o homem estabelece entre si relações de 
convivência inter subjectivas que assumem grande relevância social e 
como tal é necessário estabelecer regras de convivência no seio da 
sociedade. Assim, para que seja possível a convivência humana na 
sociedade é necessário definir um conjunto de regras e padrões que 
orientem o comportamento dos indivíduos e que estabeleçam as regras da 
organização dentro da sociedade. 
 
O Direito existe para ordenar as condutas humanas, conformando a 
actuação de cada um dos membros no respeito pelos outros e 
disciplinando as condutas individuas com vista à realização de objectivos 
ou interesses individuais e ou comuns. Dai que, onde há direito há 
sociedade e onde há sociedade há homem e onde há sociedade há direito 
e vice verso. ( Ubi Jus ibi societas/ Ubi societas ibi homo/ Ubi societas ibi 
jus). 
 
 
1.3 ACEPÇOES DO TERMO DIREITO 
 
O termo Direito admite mais do que um sentido. Para sabermos o seu 
sentido exacto é preciso recorrer ao contexto frásico em que estiver 
inserido para poder identificar o exacto sentido. 
 
Alguns exemplos: 
 
1. A Elisa pagou 20.000 mts de direitos pela importação da sua 
viatura. 
 
Neste exemplo, a palavra direito tem o sentido de receita aduaneira, que é 
o imposto que o Estado cobra pela importação de bens. Num sentido mais 
amplo, é possível encontrar neste exemplo a ideia do direito Subjectivo 
bem como o direito Objectivo dependendo das situações, visto que os 
direitos alfandegários são definidos por lei. 
 
2. Na Politécnica funciona uma Faculdade de Direito. 
 
O direito refere-se ao local onde se adquire a formação especifica, uma 
formação cientifica. 
 
3. Todo o trabalhador tem o direito a um salário. 
 
O direito tem o sentido de uma vantagem, ou beneficio que um trabalhador 
tem. Por isso tem poderes de exigir que lhe seja pago. ( Direito subjectivo ). 
 
4. O Direito Moçambicano não consagra a pena de morte. 
 
O direito como norma jurídica a qual proíbe a pena de morte. Encontramos 
aqui um princípio constitucional. (Direito Objectivo) 
 
Dos exemplos acima expostos, concluímos que o termo direito admite 
varias acepções, contudo, para efeitos desta cadeira importa-nos o Direito 
Objectivo e o Direito Subjectivo. 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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1.4 O DIREITO OBJECTIVO E O DIREITO SUBJECTIVO 
 
Direito Objectivo é o conjunto de regras jurídicas vigentes num 
determinado momento, para reger as relações humanas, impostas, 
coercivamente à obediência de todos ex: as lei, os códigos civil e penal, de 
processo, o Direito de Família, Direito das Obrigações Direito das 
sucessões etc., está-se portanto, no campo do Direito Objectivo. 
 
Direito Subjectivo é a faculdade ou prerrogativa de que um indivíduo tem 
de invocar a lei na defesa dos seus interesses. Assim, ao direito subjectivo 
de uma pessoa corresponde sempre o dever de outra, que, se não o 
cumprir, poderá ser obrigada a observa-la através de procedimentos 
judiciais. Portanto, o direito subjectivo é o poder de agir garantido pela 
norma jurídica para garantir a satisfação de um interesse, juridicamente 
protegido pela lei. 
 
Deste modo, podemos afirmar que as situações de vantagens conferidas 
pela norma a pessoas para desfrute de bens e situações jurídicas 
chamam-se também direitos. Só que, para distinguir as duas acepções, 
contrapõe-se o direito objectivo – conjunto de normas e ao direito 
subjectivo situações de vantagem. 
 
 
1.5 ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA A DEFINIÇÃO DO DIREITO 
 
A noção do direito é sempre relativa ou aproximativa para delimita-lo 
precisamos de nos servir num elemento básico que são os elementos do 
direito: 
1. Sistema: significa que o Direito não é um mero conjunto ou 
complexo de normas, mas sim, um conjunto de normas ou leis que 
não se contradizem uma as outras pelo contrario complementam-se 
formando um todo, uma unidade, um sistema e que cada regra 
interliga ás outras e ajuda deste modo atingir os seus objectivos. 
 
2. Estadualidade: o Direito é produto do Estado, fruto da acção dos 
órgãos do Estado que tem o direito de produzir leis que abrangem 
toda a sociedade. 
 
3. Coercibilidade: é a susceptibilidade de utilização da força por parte 
do Estado para impedir e ou reprimir a violação da norma jurídica e 
a reposição de direitos violados. 
 
4. Imperatividade: As normas jurídicas são de cumprimento obrigatório 
para os seus destinatários. Aos membros da sociedade politica, 
não é lhes reservada a possibilidade de optar entre cumprir ou não 
cumprir. As normas jurídicas são obrigatórias dai que se diz que a 
norma jurídicas é imperativa, é obrigatória, injuntiva, porque se 
impõe a todos sem excepção. É verdadecoisa usada, 
destruída ou danificada. E por isso se impõe nuns casos, e se admite 
noutros, a fixação da indemnização a cargo do agente ou daqueles que 
tiraram proveito do acto. 
 
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CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE – ATUTELA PRIVADA 
Como vimos a Tutela publica constitui a regra geral para tutelar os 
interesses dos cidadãos. A tutela privada é excepção. 
Como se lê no artigo 1 Código de Processo Civil, ai se diz expressamente 
que a ninguém é licito o recurso a força com o fim de realizar ou assegurar 
o seu próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na 
lei. Nisto reside a proibição legal da autodefesa. O monopólio estatal da 
justiça acarreta a proibição de principio da acção directa, isto é, não é 
permitido que se faça a justiça pelas próprias mãos. O regime de 
monopólio da justiça publica estatal pressupõe que o aparelho de justiça 
e do Estado seja efectivamente capaz de assegurar num tempo e com 
qualidade razoáveis a defesa dos direitos das pessoas. A entrega pelo 
cidadão nas mãos do Estado, do monopólio da defesa dos direitos e da 
prossecução da justiça não é total nem definitiva, e o cidadão possui o 
direito natural à justiça e à defesa dos seus direitos e, pode faze-lo directa 
e pessoalmente quando o Estado por quaisquer razões o não faça. Tanto 
que o Estado não consegue assegurar sempre a todo o tempo e em toda 
parte, a defesa publica de direitos de todos. É praticamente impossível 
assegurar a defesa publica de todos os direitos, a todas as pessoas e em 
quaisquer circunstancias. Por isso a pessoa pode e lhe é licito defender-se 
ela própria e os seus direitos quando não seja possível recorrer em tempo 
útil aos meios estatais, seja à policia, seja aos tribunais. 
A justiça privada tem uma longa historia de violências e injustiças e não 
encontra hoje justificação, salvo em casos verdadeiramente raros. 
E, tendo em consideração que nem sempre é possível o recurso da tutela 
publica a lei permite em casos excepcionais e uma vez verificados todos 
os requisitos, o recurso a tutela privada, de modo que servindo-se desta 
tutela o facto praticado seja isento da responsabilidade civil e ou criminal 
por força da lei. Esta matéria é regulada no código civil nos artigos 336, 
337e 340 
 
FORMAS DE TUTELA PRIVADA – CAUSAS DE EXCLUSÃO DA 
ILICITUDE 
 
a) ACÇAO DIRECTA - o artigo 336 do código civil, permite o recurso à 
força com o fim de realizar ou assegurar o próprio. Quando a acção directa 
for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios 
coercivos normais ( tutela publica) para evitar a inutilização pratica desse 
direito, contando que o agente não exceda o que for necessário para evitar 
o prejuízo. A acção directa não é licita quando sacrificar interesses 
superiores aos que o agente visa realizar ou assegurar. Com a acção 
directa o agente pode apoderar-se de um bem, causar a destruição ou 
deterioração de uma coisa, na eliminação da resistência irregular oposta 
ao exercício do seu direito. 
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PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS DA ACÇÀO DIRECTA 
 
Conforme dispõe nos números 1 e 3 do artigo 336 CC a licitude da acção 
directa depende da verificação dos seguintes pressupostos ou requisitos 
1. que se trate de realizar ou assegurar um direito próprio; 
2. que haja impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos 
normais para evitar a inutilização pratica desse direito; 
3. que o agente não exceda o estritamente necessário para impedir o 
prejuízo; ( necessidade da proporcionalidade). 
4. que não se sacrifique interesses superiores aos que se visam defender. 
Não é permitido o exagero sob pena de ser responsabilizado, conforme 
estatui o artigo 338 CC. 
 
b) LEGITIMA DEFESA – De um modo geral, pode-se definir a legitima 
defesa como sendo a realização pelo próprio titular de um direito, ou por 
terceiro, contra uma agressão actual e ilícita a esse direito, quando não for 
possível, em tempo útil, o recurso a autoridade publica. Artigo 337 CC. 
 
PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS DA LEGITIMA DEFESA 
1. Uma agressão actual ilícita, contra a pessoa ou património do agente ou 
de terceiros; 
2. A impossibilidade de a vitima recorrer aos meios normais para afastar a 
agressão; 
3. O prejuízo causado pelo acto não ser manifestamente superior ao que 
pode resultar da agressão. ( significa que pode haver na legitima defesa 
desproporção entre os prejuízos desde que não seja manifesta.) 
verificando-se a isenção da responsabilidade, conforme o nº 2 do referido 
artigo, a defesa excessiva pode resultar de os meios utilizados serem 
mais graves do que os necessários para afastar a agressão. 
 É necessária que essa agressão seja actual, o que exclui, em principio a 
licitude de legitima defesa preventiva. A simples previsibilidade ou mesmo 
a certeza da agressão não autorizam o agente a desencadear desde logo 
a defesa. A lei não obriga, todavia o agente a protelar a defesa até à 
consumação da agressão. Logo que iniciada a agressão o agredido pode 
desencadear a defesa. Portanto, só a agressão ilícita justifica a legitima 
defesa. 
A agressão pode ter como objecto tanto a pessoa como o património, e 
tanto do agente como de terceiros. Este regime dá uma grande amplitude 
à legitima defesa. Não é apenas a defesa da pessoa que justifica a 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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reacção, também os bens patrimoniais o justificam. A justificação da 
defesa de terceiros justifica-se de acordo com os valores de solidariedade. 
Se a reacção defensiva é licita, já o não é licito o desforço ou a vingança. 
Removida a agressão, a defesa deve cessar, pois, ao agente não assiste 
o direito de vingar, nem de punir o agressor. 
Contudo, a reacção defensiva deixa de ser licita se for desproporcionada e 
causar danos manifestamente superiores aos que puderem resultar da 
agressão. Não é suficiente que esses danos sejam superiores aos que 
poderiam resultar da agressão, é necessário que o sejam manifestamente. 
Sucede, porem, com frequência, que o agente que se defende, ou que 
defende outrem, excede o que seria necessário à remoção da agressão 
( excesso da legitima defesa). Este excesso é resultado, muitas vezes, do 
calor da contenda, que a lei chama de perturbação, ou do medo do agente. 
Este excesso desde que não culposo, não afasta a legitima defesa nº 2 do 
artigo 337. 
O erro do agente sobre a verificação dos pressupostos da legitima 
defesa faz recair sobre o agente o dever de indemnizar, salvo se o erro for 
desculpável. Casos como este têm sucedido, por exemplo, quando o 
agressor usa de arma falsa ou simulada ( imitações perfeitas em plásticos) 
e suscita assim no agredido uma convicção de perigo que não 
correspondia a realidade. O erro ( falsa percepção da realidade) é então 
desculpável porque causada pelo agressor e porque não é exigível do 
agente que dele se aperceba artigo 338 CC. 
c) ESTADO DE NECESSIDADE 
O estado de necessidade ocorre quando o agente enfrenta um perigo para 
cuja remoção necessita de destruir ou danificar coisa alheia. O artigo 339 
CC reconhece ser licita a acção do agente que danifica ou destrói coisa 
alheia com o fim de remover um o perigo actual de um dano 
manifestamente superior, perigo esse que afecta o próprio agente ou outra 
pessoa. 
1. Existência de um perigo actual; 
2. Esse perigo deve ameaçar um direito ou um bem jurídico relativo a 
pessoa ou património do agente ou de terceiro; 
3. A conduta do agente de constituir meio necessário para preservar o 
direito ou bem jurídico em causa; 
4. os interesses defendidos devem ser manifestamente superiores aos 
sacrificados. 
Se o perigo não foractual, o agente deve tentar preveni-lo de outro modo, 
sem causar danos a terceiros, é necessário que exista já a situação de 
perigo. Por outro lado , a acção não é licita quando o agente causa um 
dano igual ou superior ao que pretende evitar. A lei é exigente nesta 
matéria, pois exige que o dano a evitar seja manifestamente superior ao 
que foi gerado. 
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Porem, se o perigo tiver sido criado por sua culpa exclusiva, o nº 2 do 
artigo 339 obriga o agente a indemnizar o dano que causou. Note-se que 
só da direito a indemnizar se a culpa for exclusiva do agente, o que 
significa que é excluída se houver concorrência de culpas. 
Não havendo culpa exclusiva do agente, o tribunal deverá fixar uma 
indemnização equitativa e condenar nele, não só no agente, mas também 
aqueles que tiraram proveito do acto ou contribuíram para o estado de 
necessidade - artigo 339 nº 2 in fine. 
No Estado de necessidade a situação de perigo de dano para o bem 
jurídico em causa tanto pode resultar de uma agressão como de caso 
fortuito ou de força maior ex. O capitão que lança a mercadoria para o 
mar com o fim de evitar o naufrágio do navio, o bombeiro que danificam 
imóveis e outros bem para que o incêndio não se propague a diferença 
entre a Legitima Defesa e o Estado de Necessidade reside no facto de na 
legitima defesa se age contra quem criou a situação de perigo e no Estado 
de Necessidade se salvaguarda o direito através da lesão de interesses 
de terceiros que nada contribuíram para a situação de perigo. Concui-se 
que o Estado de Necessidade é subsidiário em relação a Legitima Defesa. 
Compreende-se que o agente só possa proteger o seu direito com 
sacrifício da esfera jurídica de terceiros, quando não possa faze-lo a custa 
da esfera jurídica do agressor. 
Acção Directa se trata de assegurar um direito próprio, enquanto que a 
Legitima Defesa e o Estado de Necessidade referem-se tanto a protecção 
de interesses do agente como de terceiros. 
d) CONSENTIMENTO DO LESADO 
Consiste na autorização do titular à pratica do acto que, sem ela 
constituiria uma violação desse direito ou ofensa de uma norma tutelada 
do respectivo interesse art. 340 CC. 
 
Leituras Obrigatórias 
Machado, João Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, 
Almedina, 2000 
 
 
 
 
 
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CHAVE DE CORRECÇÃO DAS ACTIVIDADES 
UNIDADE TEMÁTICA 1 – 
Actividade 1 
a) direito subjectivo (2) direito objectivo (3) direito subjectivo (4) sentido de 
justo,(5) correto; (6) ciencia juridica, (7) direito subjectivo (8) direito positivo. 
b) O Direito Natural é aquele que não se consubstancia em regras 
impostas ao indivíduo pelo Estado, mas de uma lei anterior e superior a 
este, que se impõe a todos os povos pela própria força dos princípios 
supremos dos quais resulta, constituídos pela própria natureza e não pela 
criação dos homens, como, por exemplo, o direito de reproduzir, o direito á 
vida, etc. O Direito Positivo, é o direito que depende da vontade humana 
compreende o conjunto de regras jurídicas em vigor num país determinado 
e numa determinada época. É o Direito histórica e objectivamente 
estabelecido, encontrado em leis, códigos, tratados internacionais, 
decretos, regulamentos, costumes. 
C) trata-se do Direito subjectivo que é a faculdade ou prerrogativa de que 
um indivíduo tem de invocar a lei na defesa dos seus interesses. Assim, ao 
direito subjectivo de uma pessoa corresponde sempre o dever de outra, 
que, se não o cumprir, poderá ser obrigada a observa-la através de 
procedimentos judiciais. Portanto, o direito subjectivo é o poder de agir 
garantido pela norma jurídica para garantir a satisfação de um interesse, 
juridicamente protegido pela lei. 
2-a) Partimos da premissa de que o homem é um ser social .Desde os 
primórdios da humanidade, o que impulsiona a vida em sociedade é a 
disputa pelos bens, disputa essa que jamais terminará, pelo simples facto 
de cada ser humano encerrar em si mesmo um universo próprio de 
desejos materiais, donde a necessidade de regras gerais é estabelecer 
limites que possibilitem a não invasão dos direitos de outrem. 
Os instrumentos de controle social, a que chamamos ordens normativas 
são um conjunto de normas ou ordens que visam moldar as condutas 
sociais com vista à paz e harmonia dentro das sociedades, as normas 
morais e as normas juridicas fazem parte destes instrumentos. 
b) coercibilidade – podemos distinguir a moral da regra jurídica pelo 
coercibilidade que assiste ao direito, a afirmação é verdadeira porque a 
ordem da moral é incoercível, porque nenhum poder exterior pode impor 
que os homens sejam melhores. A coercibilidade caminha ao lado do 
Estado porque somente este tem o poder de obrigar com susceptibilidade 
de uso de força a certas condutas. 
Exterioridade - o direito e a moral tem pontos de partida diferentes: um 
assenta no lado exterior e o outro no lado interior das condutas humanas. 
Isto porque os fins visados pela ordem da moral e pela ordem jurídica são 
diversos. A ordem moral é uma ordem das consciências, pretende o 
aperfeiçoamento dos indivíduos, orientando-os para o bem. Pelo contrario, 
o direito pretende ordenar os aspectos fundamentais da convivência, 
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criando as condições que permitam a conservação da sociedade e a 
realização pessoal dos seus membros, não assenta, portanto, na ordem 
interna das acções humanas. 
 
UNIDADE TEMÁTICA 2 
Actividade 1 
 
Para os jusnaturalistas, justiça encontra-se num conjunto de princípios 
universais e imutáveis com existência objectiva e independente do 
conhecimento do homem. 
Para os juspositivistas , a justiça é um conjunto de princípios criados pelo 
intelecto humano e cuja vitalidade radica principalmente, no sentido de 
justiça existente no coração de todos os homens, sejam quais forem os 
tempos ou lugares em que existam ou hajam existido. Assim a justiça não 
é imutável mas sim variável segundo as épocas e os países. 
Para Aristóteles filósofo grego a Justiça pode ser encarada de três formas: 
 - Justiça Distributiva ou proporção geométrica – é aquela que 
corresponderia à distribuição das vantagens entre todos os membros da 
sociedade; 
- Justiça Comutativa ou sinalagmática – é a que corresponderia às 
relações dos indivíduos entre si, na perspectiva de que as pessoas 
apresentam-se em pé de igualdade, e essa igualdade deve ser 
salvaguardado pelo direito, abrangendo tanto nos negócios jurídicos bem 
como nos actos ilícitos. A critica recai sobre tudo nos crimes pois, para 
este filosofo o juiz iguala o proveito de um e a perda de outro através da 
pena, e compara a proporção aritmética. E ele mesmo corrigiu e avançou 
com a justiça geral. 
- Justiça Geral ou Legal - é a que corresponde as relações entre os 
indivíduos e a sociedade mas no tocante aos cargos que exercem que 
devem ser repartidos por todos. 
Conclui-se que , fazer justiça é respeitar o direito, e abster-se de qualquer 
acção que perturbe o equilíbrio social. 
por outro lado a segurança, exprime a aspiração a regras certas, isto é, 
suscetíveis de serem conhecidas, uma vez que tal certeza corresponde a 
uma necessidade de previsibilidade e estabilidade na vida jurídica (cada 
um possa prever as consequências jurídicas dos seus atos, saber o que é 
permitido e proibido) pretende-se ainda que o Direito proteja os direitos e 
liberdades fundamentais dos cidadãos e os defenda das eventuais 
arbitrariedades dos poderes públicos ou abusos do poder. 
 
 
UNIDADE TEMÁTICA 3 – 
Actividade 1 
Para responder se determinado ramo de Direito ou determinada relação 
juridica pertence ao Direito público ou privadoa doutrina avança tres 
critérios a saber: o critério da natureza dos interesses, o Critério da 
qualidade dos Sujeitos e o Critério da posição relativa dos sujeitos. 
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De acordo com o critério da natureza dos interesses, Direito Publico é 
formado pelas normas que regulam predominantemente ou 
essencialmente à prossecução de interesses públicos e Direito Privado 
serve predominante ou essencialmente a prossecução de interesses 
privados . 
Para o critério da qualidade dos sujeitos , é publico o Direito que regula 
situações em que intervenha o Estado ou qualquer ente público e privado o 
Direito que regula as situações dos particulares. 
Finalmente , o critério da posição dos sujeitos que diz que Direito Publico é 
àquele que constitui e organiza o Estado e os demais entes públicos e 
regula a sua actividade como entidades dotadas de jus imperii (ou poder 
de autoridade) ou sujeitas a restrições peculiares e que Direito Privado é 
àquele que regula as situações em que os sujeitos estão em posição de 
paridade. 
Por outro lado se olharmos ao Direito das Obrigações Livro II do Código 
Civil: regula as situações pelas quais uma pessoa está vinculada a realizar 
em benefício de outra, uma prestação. Portanto, regula as relações de 
credito, onde encontramos uma relação de credor ( sujeito activo) e o 
devedor (sujeito passivo), bem como as normas de cumprimento, 
responsabilidade civil por incumprimento bem como a responsabilidade 
civil no geral. Os vários tipos de contratos, as garantias das obrigações etc. 
Como se vê o caso em análise enquadra-se nestes pressupostos. 
 
UNIDADE TEMÁTICA 4 – 
Actividade 1 
 
O caso em apreço enquadra-se na matéria dos elementos da relação 
juridica, donde para o caso em concreto importa o sujeito, é deste que se 
levanta a questão principal, a sua capacidade juridica. Por capacidade 
juridica entende-se a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa 
é susceptível,o artigo. 67º do código civil estabelece que “as pessoas 
podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal 
em contrário: nisto consiste a sua Capacidade Jurídica”. 
Segundo a Doutrina encontrámos dois tipos de capacidade, a capacidade 
de gozo e a capacidade de exercicio, sendo esta ultima a que interessa ao 
caso em análise. consiste na medida de direitos e de vinculações que uma 
pessoa pode exercer por si só pessoal e livremente. Em principio todas as 
pessoas singulares, ao atingirem a maioridade, adquirem capacidade de 
exercício, que resulta do preceituado nos artigos 130 CC ( efeitos de 
maioridade) e art. 133 CC ( efeitos de emancipação ). 
Os negócios jurídicos praticados pelo menor contrariamente à proibição 
em que se cifra a incapacidade estão feridos de anulabilidade nos termos 
do ( art. 125 CC). As pessoas com legitimidade Para arguir essa 
anulabilidade são: 
Os representantes do menor dentro de um ano a contar do conhecimento 
do acto impugnado; 
Pela emancipação o menor, embora não deixe de o ser, adquire em 
principio capacidade genérica de exercício, como se fosse maior art. 133, 
com excepção do artigo 136 CC. 
- Para celebração do contrato de trabalho: art. 23 a 27 da Lei de Nº 
23/2007 Lei do Trabalho. Conforme preceitua o artigo 26 Lei do trabalho o 
empregador só pode admitir ao trabalho o menor que tenha completado 15 
anos mediante autorização do representante legal, presume-se neste caso 
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pelos factos apresentados que esta autorização não foi facultada. Assim 
sendo o menor em questão não foi emancipado para o trabalho pelo que 
como acima dissemos podem os pais arguir a anulabilidade do contrato. 
Sendo anulável o contrato de trabalho, também o será o contrato de 
compra e venda celebrado uma vez que faltará ao menor capacidade para 
receber a remuneração pelo trabalho e desse modo tambem qualquer 
acto de disposição do produto desse trabalho. Podem por isso os pais de 
Bernardo arguir a anulabilidade do contrato de compra e venda.que nem todas as normas 
do direito tem ordem imperativa. Ex.: as normas que fixam 
permissão, faculdade, estas, observa quem quiser, são voluntárias, 
mas como regra geral, as normas jurídicas são dotadas de 
imperatividade e, é dessa obrigatoriedade que decorre a 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 7 
coercibilidade. ( mas mesmo estas se há uma regra por exemplo: 
permite-se que se pise a relva). É uma norma jurídica assistida de 
tutela, significa que impõe a todos que não se oponham a que os 
outros pisem a tal relva. 
 
5. Generalidade e abstracção : as normas jurídicas uma vez 
prescritas, dirigem-se a todos os membros da sociedade sem 
excepção. Prevê conduta necessária de modo abstracta, indicando 
um padrão ou modelo de condutas determinadas de modo geral, ou 
seja numa generalidade de destinatários e não numa única pessoa 
concreta. 
 
Mesmo as normas aplicam-se sempre a uma pessoa - ex. as que pautam 
a actuação do presidente da Republica – aplicam-se a quem for indicado 
para aquele cargo. Dai a generalidade também mesmo naquelas situações. 
6. Regulação das relações sociais. As normas existem para regular as 
relações entre os indivíduos, razão pela qual, o direito não regula o homem 
isolado 
 
 Agora vamos Definir o Direito: 
 
1. Direito é o conjunto organizado de normas jurídicas provenientes do 
Estado que regulam as relações sociais numa determinada 
sociedade politica. 
 
2. Direito é o sistema de regras jurídicas criadas e impostas sobre a 
sociedade pelo Estado para regular as relações sociais. 
 
3. Direito é o sistema de normas jurídicas gerais imperativas e 
coercivas criadas pelo Estado para regular as relações sociais. 
 
4. Direito é o sistema de regras jurídicas assistidas de protecção 
coactiva. 
 
 
1.6 O DIREITO E OUTRAS ORDENS NORMATIVAS 
 
O Direito não é o único sistema normativo por que se pauta a conduta 
humana, pois, na verdade existe um conjunto de normas ou ordens que 
visam moldar as condutas sociais com vista à paz e harmonia dentro das 
sociedades, são estas : as norma social ou de cortesia, norma da moral, 
norma religiosa, norma natural. Contudo, não se deve confundir com as 
normas jurídicas. 
 
Ordem do Trato Social ( cortesia ): É o conjunto de normas que se 
exprimem através da vontade humana, as quais pretendem moldar a 
convivência social. Estas normas expressam-se pelos usos ou 
convencionalismos sociais, ordem não se aplica coercivamente na 
medida em que mantém ao indivíduo a liberdade de violar, modificar, 
rebelar-se ou até extinguir, portanto, domina o princípio da vontade, são 
normas de cortesia. Porem, a violação desta ordem provoca reprovação 
social e até sanções sociais difusas, como por exemplo a segregação 
( separação, descriminação ) de quem é considerado inconveniente. 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 8 
 
Ordem da moral: É uma norma de conduta social que orienta o indivíduo a 
um aperfeiçoamento da sua conduta. Destina-se ao aperfeiçoamento da 
pessoa, dirigindo-a para o Bem. É em grande parte uma ordem infra-
individual pois, dirige-se ao aperfeiçoamento individual e não da 
organização da sociedade. As normas da moral definem o bem, lícito, 
justo conforme a consciência. A infracção de uma norma da moral 
preconiza uma sanção diversa, a reprovação social ( falam mal, 
menosprezo, ) a moral pode apresentar uma sanção de auto crítica – 
remorsos íntimo. 
 
Estas normas determinam comportamentos e relações sociais em medida 
necessariamente vasta, pois, o aperfeiçoamento individual só se realiza na 
participação social. 
 
 
O Direito e a Moral - Distinção 
 
Vários critérios têm sido apresentados. Alguns são insustentáveis, outros 
trazem aspectos verdadeiros, mas não bastam por si para a distinção. 
 
a) Teoria do Mínimo ético – esta teoria diz que nem tudo o que a 
moral ordena é prescrito também pelo direito, pois este só recebe 
da moral aqueles preceitos que se impõem com muito particular 
vigor. É um mínimo em relação à moral, mas um mínimo cuja 
observância se reclama com um máximo de intensidade. 
 
Direito e a moral surgem-nos assim como círculos concêntricos. A área 
mais ampla da moral representa um núcleo que é acolhido e garantido 
pelo direito, porque é imprescindível à vida na sociedade. Esta teoria é 
amplamente criticada porque ela implica a atribuição de carácter moral a 
toda regra jurídica, quando a maioria dos preceitos jurídicos é, sob o ponto 
de vista moral, neutra, pois, encontramos varias normas jurídicas com 
carácter organizacionais. Ex. ( os de transito, sobre as ferias judiciais, 
procedimentos administrativos etc.) estas regras, de moral nada tem. 
Na realidade, a coincidência ou pretensa coincidência da regra moral e da 
regra jurídica só se dá num sector muito restrito, sobretudo no domínio 
penal. 
 
b) coercibilidade - outros autores distinguem a moral da regra jurídica 
pelo coercibilidade que assiste o direito, a afirmação é verdadeira 
porque a ordem da moral é incoercível, porque nenhum poder 
exterior pode impor que os homens sejam melhores. A 
coercibilidade caminha ao lado do Estado porque somente este tem 
o poder de obrigar com susceptibilidade de uso de força a certas 
condutas. 
 
c) Exterioridade - o direito e a moral tem pontos de partida diferentes: 
um assenta no lado exterior e o outro no lado interior das condutas 
humanas. Isto porque os fins visados pela ordem da moral e pela 
ordem jurídica são diversos. A ordem moral é uma ordem das 
consciências, pretende o aperfeiçoamento dos indivíduos, 
orientando-os para o bem. Pelo contrario, o direito pretende 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 9 
ordenar os aspectos fundamentais da convivência, criando as 
condições que permitam a conservação da sociedade e a 
realização pessoal dos seus membros, não assenta, portanto, na 
ordem interna das acções humanas. 
 
Ordem Religiosa: é o conjunto de normas que regula as condutas dos 
crentes nas suas relações com as respectivas entidades e com Deus nas 
diversas religiões. Portanto, a função especifica das normas religiosas é a 
de regular as relações entre o homem e Deus. É uma ordem normativa 
que assenta num sentido de transcendência, ordena as condutas tendo 
em vista as relações com Deus. 
 
A ordem religiosa é em parte infra-individual: como na zona relevantíssima 
em que ordena cada pessoa a Deus. Mas repercute-se também na ordem 
social enquanto, com a mesma finalidade, ordena condutas exteriores de 
membros da sociedade. 
 
Ordem Jurídica: é o conjunto de normas jurídicas existentes num 
determinado País que regulam as relações sociais num dado momento 
histórico. A coercibilidade é o elemento principal da ordem jurídica. Esta 
distingue-se das outras ordens porque ela está dotada de coercibilidade e 
imperatividade. A coercibilidade é a susceptibilidade de utilização da força 
por parte do Estado. A Ordem jurídica é uma ordem que regula os 
aspectos mais importantes da convivência na sociedade, visando à 
assistência, cooperação, subordinação dos indivíduos e dos grupos sociais 
ao Estado, com vista a atingir a justiça e a segurança social. Apesar da 
ordem jurídica ser um ordenamento de normas de comando imperativos 
existem na sociedade condutas que se desviam dos comandos jujurídicos, 
condutas contrarias à ordem jurídica. 
 
A violação das normas jurídica desencadeia reacções diversas, e a mais 
frequente é a aplicação coerciva de sanções pecuniárias, ou restritivas de 
liberdade, ou ainda liberdade condicional. A ordem jurídica tem sido 
apontada como sendo aquela que melhor prossegue os fins do homem, 
que melhor ordena os interesses da sociedade e os valores elementares 
da convivência social. 
 
Como pudemos ver, a ordem jurídica aocontrario das outras ordens, 
serve-se da coacção como meio de garantia para impor o cumprimento 
das normas jurídicas. Posto isto, estamos em condições de dizer que 
apesar do homem pautar a sua conduta em conformidade com as várias 
ordens, apenas a ordem jurídica faz parte do Direito. 
 
 
 Direito Positivo e Direito Natural 
 
O Direito Positivo compreende o conjunto de regras jurídicas em vigor 
num país determinado e numa determinada época. É o Direito histórica e 
objectivamente estabelecido, encontrado em leis, códigos, tratados 
internacionais, decretos, regulamentos, costumes. É com esse significado 
que nos referimos ao direito romano, ao direito português, ao direito 
moçambicano, etc . 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 10 
O Direito Natural é aquele que não se consubstancia em regras impostas 
ao indivíduo pelo Estado, mas de uma lei anterior e superior ao Direito 
Positivo, que se impõe a todos os povos pela própria força dos princípios 
supremos dos quais resulta, constituídos pela própria natureza e não pela 
criação dos homens, como, por exemplo, o direito de reproduzir, o direito á 
vida, etc. Numa palavra, o Direito Positivo, é o direito que depende da 
vontade humana, enquanto o Direito Natural, é o que independe do acto de 
vontade, por reflectir exigências sociais da natureza humana, comuns a 
todos os homens. Por outro lado, podemos dizer que o direito natural é 
composto por um conjunto de princípios normativos impostos pela própria 
natureza humana com vista á realização da justiça e que a nossa razão é 
capaz de apreender, pela observação daquela mesma natureza. 
 
As condições do mundo actual permitem compreender mais facilmente o 
sentido da concepção jusnaturalista . o direito natural á uma ideologia que 
aparece nas civilizações já evoluídas e que reveste uma carácter funcional. 
Tem sido uma alavanca que se destina a modificar o direito e a introduzir 
instituições mais conformes às aspirações da época. 
 
O direito natural aparece-nos hoje longe daquelas concepções históricas, 
pois em todas as sociedades os homens podem encontrar um conjunto de 
princípios que tomam como ponto de referência para as suas condutas. 
Verifica-se pois, hoje devido a evolução das sociedades a necessidade de 
regresso ao direito natural, as sociedades reclamam, por isso o direito 
natural exercendo este hoje, uma importante influencia quer no momento 
da elaboração quer no momento da aplicação do Direito. 
 
 
1.7 O DIREITO COMO CIÊNCIA 
 
A ciência do direito parte da visão do fenómeno jurídico como facto, 
embora facto cultural, pois que resulta da livre articulação do homem e não 
apenas do impacto de fenómenos naturais. 
Assim, a ciência do direito procura apreender esse facto como ele é na 
realidade e dai que o objectivo da ciência do direito seja extrair de 
determinado facto jurídico em norma que lhe está implícita: a descoberta 
da norma é a finalidade ultima do jurista. 
 
No entanto, para descobrir a norma, não basta o exame de preceitos ou 
dados jurídicos isolados. 
 
O jurista, ultrapassando todo o empirismo, é obrigado a elevar-se a um 
sistema, em que cada norma ocupará o seu lugar próprio. É por tudo isto 
que o direito é uma ciência. Como toda a ciência, também esta tem, 
necessariamente, um método próprio, não existindo contudo consenso 
entre os autores na sua determinação. 
 
Para chegar à solução dos casos, o jurista tem de proceder a 4 operações 
que são: 
- A Exegese 
-A Dogmática 
- A Determinação das regras 
- A Solução de casos concretos 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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Em seguida vamos analisar cada uma destas operações: 
A Exegese – significa isto dizer que perante um texto legal, há que 
interpreta-lo de maneira a verificar qual o seu verdadeiro sentido. 
 
A Dogmática - a exegese não basta para resolver os casos, pois, existe 
um sistema de normas e, é necessário ir combinar os dados parciais, de 
modo a chegar a figuras mais gerais, recorrendo-se a métodos 
essencialmente lógicos para atingir assim a unidade do sistema jurídico. 
 
A determinação da regra - assim, depois das operações da exegese e da 
dogmática chega-se naturalmente à verdadeira norma jurídica. 
 
A solução de casos concretos - já determinamos a regra aplicável através 
das 3 operações anteriores? É só aplica-la ao caso concreto. 
Assim, podemos concluir que o direito é uma ciência pois. Possui suas 
formas próprias de estudo e de encontrar a solução para aplicação da 
norma jurídico, tem material próprio de estudos.etc 
 
 
1.8 A ARTICULAÇÃO DO DIREITO COM OUTRAS CIENCIAS 
 
O direito não é um fenómeno isolado da natureza, mas sim um fenómeno 
humano e sendo um fenómeno humano não é do homem isolado mas sim 
do homem social. 
Ora se o direito se verifica em sociedade, o fenómeno social aparece-nos 
como condicionamento do fenómeno jurídico. 
 
1.9 AS DIVERSAS CIENCIAS QUE ESTUDAM O DIREITO 
 
Como dissemos anteriormente que o fenómeno jurídico é um fenómeno 
social e cultural e por conseguinte também ele próprio pode ser estudado 
sob múltiplos pontos da vista, isto é, pode ser objecto de uma pluralidade 
de ciências. 
 
Dentre estas áreas podemos apontar as seguintes: 
- Historia do Direito 
- Filosofia do Direito 
- Sociologia do Direito 
- Direito Comparado 
- Politica Legislativa 
- Etnologia Jurídica. 
 
Leituras Obrigatórias 
 
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para 
a compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades 
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de 
estudá-los. 
 
 
 
 
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Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 12 
Texto 1 
 
Constituição da República de Moçambique 
 
DE SOUSA, Marcelo Rebelo e Galvão Sofia, Introdução ao estudo do 
Direito, lex Lisboa 2000 
 
Para você ampliar os seus conhecimentos, sugerimos a leitura do capítulo 
1, referente a sociedade, o poder e o Direito, e o capítulo 3, sobre o que é 
o Direito e como regula a vida em sociedade. 
 
MACHADO, João Baptista, introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, 
Almedina 2011 
Ler da página 55 a 97 
 
 
Actividades 
 
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. 
Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, 
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção, no final do presente 
Guia de Estudo. 
 
 
Actividade 1 
 
1- O direito (1) à vida e à saúde é tutelado no direito (2) moçambicano e 
cabe ao Estado cuidar da saúde e da assistência pública. Com base 
nestes argumentos, Pedro teve reconhecido o direito (3) a receber 
medicamentos do Estado para tratamento de uma doença que contraíra. 
Realmente, não parece direito (4) deixar um cidadão direito (5) 
desassistido. Mas, nem sempre foi assim: apenas com o passar do tempo, 
o estudo do direito (6) reconheceu esses direitos (7) sociais, 
transformando-os em direito (8). 
Com base neste texto, responda justificadamente: 
a) Identifique os diversos significados da palavra “direito” no texto acima, 
estabelecendo correspondências com os seguintes significados: direito 
subjetivo, direito objetivo, direito positivo, justo, correto e ciência jurídica. 
b) Diferencie direito positivo de direito natural. 
c) Quando nos referimos ao direito de uma pessoa ou de muitas, estamos 
nos referindo a que tipo de direito? Conceitue este direito. 
 
2- Um adolescente que mandou uma mensagem obscena para 15.000 
telefones celulares foi o primeiro réu a ser condenado pela prática de spam 
na Rússia. O estudante de Chelyabinsk invadiu o sistema de uma das 
maiores operadoras de celular e usou um programa especial para mandar 
a mensagem. Ele foi condenado a um ano sob observação e uma multa de 
3.000 rublos (cerca de 150 USD). 
Fonte: Reuters, 26/04/2004.Desconsiderando o fato de a situação ter se passado com um adolescente 
na Rússia, responda ao que se pede justificadamente. 
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a) As normas morais e jurídicas são instrumentos de controle social? 
Fundamente sua resposta. 
b) Diferencie a Moral de Direito, a partir das suas características. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
SOUSA E GALVÃO, Marcelo Rebelo De e Sofia. Introdução ao Estudo 
do Direito. LEX: Lisboa, 2000. 
MACHADO, João Baptista. Introdução ao Direito e ao Discurso 
Legitimador, Almedina, 2011. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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UNIDADE TEMÁTICA 2 
O DIREITO E O ESTADO 
 
Objectivos 
 
 No fim desta unidade, você deverá ser capaz de: 
 
 Identificar o nascimento do Estado; 
 Relacionar o direito e o Estado; 
 Explicar os elementos constitutivos do Estado; 
 Compreender as funções e os poderes do Estado; 
 Identificar os fins do Estado; 
 Explicar os fins do Direito. 
 
 
2.1 FUNÇÕES DO DIREITO 
 
a) Função moderadora 
 
O Direito procura criar um ambiente de harmonia e paz social ao 
estabelecer limites de actuação, fixando o que cada um deve ou não fazer 
de modo a não prejudicar o outro em beneficio de toda a colectividade. 
 
- O Direito proíbe certos comportamentos; 
- O Direito obriga a seguir certas condutas 
- O direito fixa direitos e deveres aos cidadãos; 
- O Direito dá liberdade de o individuo adoptar ou não certo 
 comportamento. 
 
Estas situações resumem-se em proibições, imposições, faculdades etc. 
formando assim um sistema de normas jurídicas coerentes e que não se 
contradizem – o Direito. 
 
b) Função protectora 
 
O Direito protege a cada cidadão para permitir que ele exerça os seus 
direitos atribuindo aos cidadãos garantia, a confiança no circuito das 
relações juridicas, com vista a prossecução dos seus objectivos. A seguir 
vamos abordar alguns dispositivos respeitante às garantia individuais, 
temos entre outras as seguintes: 
 
c) Função Organizadora 
 
O Direito organiza a sociedade e confere legitimidade a todas as 
transformações que se dão dentro da sociedade Ex. Sempre que a 
sociedade quiser alterar a organização política administrativa, primeiro 
deve se elaborar a lei que lhe permita tal alteração. 
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d) Função Política 
 
As leis exprimem os interesses dos governantes, organizando o poder 
politico, económico e social em prol da vontade nacional, traçando as 
estratégias politicas e organizacionais do respectivo pais. 
 
 
2.2 OS FINS DO DIREITO 
 
O Direito visa alcançar essencialmente dois fins,a justiça e a segurança. 
 
A palavra justiça vem do latim justitia que significa justiça. É uma palavra 
que admite vários significados. Deste modo, da palavra justiça pode-se 
subentender os seguintes significados: 
 
- A virtude ou a vontade firme e perpetua de dar a cada um o que é seu 
( conceito clássico) 
- O reconhecimento do mérito de alguém ou de algo; 
- Conformidade dos factos com o direito; 
- O poder de fazer valer o direito de alguém ou de cada um ; 
- A justiça é a procura do bem nas relações nas relações sociais para cada 
um dos indivíduos; 
 - A actividade dos tribunais, abrangendo também aos órgãos de que 
dispõe a justiça; 
- A justiça é tida também como atributo divino. 
- É frequentemente encarada, ainda hoje, como virtude total, soma de 
todas as outras virtudes. 
 
Para abordagem desta matéria encontramos duas concepções 
fundamentais a saber: 
a) Jusnaturalistas – de acordo com os defensores desta ideia a justiça 
encontra-se vertida em um conjunto de princípios universais e imutáveis 
com existência objectiva e independente do conhecimento do homem. E 
afirmam ainda os tais princípios não encontram a existência pelo facto de 
os homens os conhecerem, pois ainda que estes os não conhecessem 
sempre eles, por si memo, existiriam. Por outro lado os jusnaturalistas 
admitem a possibilidade de os homens os apreenderem, ainda que 
imperfeitamente, isto porque tais princípios são considerados inerentes à 
própria natureza humana. 
 
Só para lembrar, os jusnaturalistas são os seguidores da teoria do direito 
Natural os quais definem o Direito natural como sendo o conjunto de 
princípios normativos universais e imutáveis que, demandando da própria 
natureza do homem, regulam as suas condutas em ordem à realização da 
justiça. Logicamente que as suas características principais serão a unidade 
no espaço, ( universalidade) e no tempo ( imutabilidade) tanto que a 
natureza humana é única no tempo e no espaço. 
 
É uma concepção a-historica, objectiva e absoluta sobre a justiça. 
 
b) juspositivista - para estes, a justiça é um conjunto de princípios criados 
pelo intelecto humano e cuja vitalidade radica principalmente, no sentido 
de justiça existente no coração de todos os homens, sejam quais forem os 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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tempos ou lugares em que existam ou hajam existido. Assim a justiça não 
é imutável mas sim variável segundo as épocas e os países. Para estes 
não existe um ideal jurídico sempre igual a si mesmo, mas ideais jurídicos 
que uns aos outros se sucedem ao sabor das múltiplas contingências de 
ordem histórica, económica, social, religiosa etc. a que se encontram 
sujeitas as sociedades humanas. 
 
Como pudemos ver, são duas teses conflituando-se uma da outra sem 
avançar objectivamente com uma definição objectiva e clara sobre a justiça. 
As duas concepções são a-historicas sendo a primeira com um carácter 
objectivo e absoluta e a segunda com um carácter evolutivo e ambas 
baseiam-se no Direito Natural ( jusnaturalistas) e a segunda no direito 
positivo ( as leis ). 
 
Também, desde a antiguidade houve a preocupação de procurar indicar 
especificações de justiça, isto é, de que forma se manifesta no seio das 
sociedades. 
 
A este respeito importa abordar a classificação avançada pelo Aristóteles 
e seguida mais tarde por numerosos outros autores. Segundo este filosofo 
grego, distingue três termos: 
- Justiça Distributiva ou proporção geométrica – é aquela que 
corresponderia à distribuição das vantagens entre todos os membros da 
sociedade; 
- Justiça Comutativa ou sinalagmática – é a que corresponderia às 
relações dos indivíduos entre si, na perspectiva de que as pessoas 
apresentam-se em pé de igualdade, e essa igualdade deve ser 
salvaguardado pelo direito, abrangendo tanto nos negócios jurídicos bem 
como nos actos ilícitos. A critica recai sobre tudo nos crimes pois, para 
este filosofo o juiz iguala o proveito de um e a perda de outro através da 
pena, e compara a proporção aritmética. E ele mesmo corrigiu e avançou 
com a justiça geral. 
- Justiça Geral ou Legal - é a que corresponde as relações entre os 
indivíduos e a sociedade mas no tocante aos cargos que exercem que 
devem ser repartidos por todos. 
Como pudemos ver ainda encontramos dificuldades de encontrar em 
objectivamente de que forma se manifesta a justiça no seio das 
sociedades através do Direito. 
 
Por tudo acima exposto conclui-se que é verdade que em todos os 
Estados existe a ideia de que deve se seguir a lei mesmo que os objectos 
de justiça almejada sejam realizados somente de forma indirecta ou ainda 
imperfeita. 
 
A utilização da força por parte do Estado como mecanismo coercivo para 
conter as agressões à integridade humana, promove a consolidação de um 
ambiente socialmente equilibrado nas relações entre os indivíduos. 
 
A estrutura da existência de paz exige para a sua regular continuidade , 
que se respeitem certas normas de conduta social permeadas pela 
determinaçãode relações de respeito e equidade dentro do esquema 
socio-político, enfim, exige-se um sistema coordenado que vai deste às 
instituições estaduais para a existência do Direito, caracterizada por 
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significar a utilização sensata dos meios coactivos disponíveis dentro do 
Estado para a materialização daquilo que são os objectivos primordiais do 
Direito a justiça e a segurança. 
 
Pois, o principal objectivo do Direito é o de manter a ordem e a paz social 
que se traduz em bem estar harmoniosa no seio da sociedade e coordenar 
as relações sociais dentro das comunidades e tudo isto não seria possível 
se o direito se afastasse da justiça. Enfim, fazer justiça é respeitar o direito, 
e abster-se de qualquer acção que perturbe o equilíbrio social. 
 
 
2.3 A SEGURANÇA 
 
Segurança no sentido de ordem e de paz social: o Direito destina-se a 
garantir a convivência entre os homens prevenindo e solucionando os 
conflitos que surgem na vida. Assim, o Direito, tem de cumprir uma missão 
pacificadora. 
 
Segurança no sentido de certeza jurídica: exprime a aspiração a regras 
certas, isto é, suscetíveis de serem conhecidas, uma vez que tal certeza 
corresponde a uma necessidade de previsibilidade e estabilidade na vida 
jurídica (cada um possa prever as consequências jurídicas dos seus atos, 
saber o que é permitido e proibido). 
 
Na Ordem Jurídica encontramos inúmeras ocasiões em que se manifesta 
a preocupação de atender à certeza e estabilidade, é o caso dos princípios: 
 
1 - Princípio da não retroatividade, procura-se evitar que as leis venham a 
produzir efeitos imprevisíveis e alterar situações ou direitos adquiridos 
(assim evita que qualquer pessoa venha a ser punida por um facto que não 
era considerado crime ao tempo da sua pratica); 
2 - Princípio do caso julgado, não há possibilidade de recurso ordinário 
contra decisões transitadas em julgado. 
 
Segurança no seu sentido mais amplo: pretende-se que o Direito proteja 
os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e os defenda das 
eventuais arbitrariedades dos poderes públicos ou abusos do poder. 
 
 
2.4 NOÇÃO DO ESTADO 
 
O Estado nem sempre existiu, não surgiu ao mesmo tempo com o homem, 
surgiu mais tarde como resultado do desenvolvimento das sociedades 
primárias. 
 
O Estado que consubstancia o modelo organizativo mais avançado da 
sociedade humana, é o resultado de um longo processo de aprendizagem 
do homem com vista ao aperfeiçoamento da vida em sociedade. 
Com efeito, toda a experiência acumulada pelo homem desde as primeiras 
comunidades baseadas na consanguinidade ate as formas cada vez mais 
elaboradas na vida em sociedade como as tribos veio a ser recolhida para 
a constituição do Estado. 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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O instinto gregário do homem cedo o impulsionou a procurar formas de 
associativismo de modo que lhe permitisse vencer e aproveitar as forças 
da natureza. Nao obstante, o instinto individualista existente também em 
cada homem cedo o obrigou a procurar certos mecanismos que 
disciplinassem a actividade de cada um em beneficio da comunidade. 
 
Assim, o Estado aparece como instituição que vai organizar melhor a 
sociedade, impor a ordem e a disciplina dentro da sociedade e também 
administrar os assuntos de interesses comuns ou seja, resolver os 
problemas das comunidades de modo a trazer o bem estar aos seus 
membros. Deste modo, o Estado surge como uma necessidade imperiosa 
para a vida em sociedade usando como instrumento de comunicação com 
a sociedade que são as Leis. 
 
A lei aparece assim como instrumento capaz de regular as relações que se 
estabelecem entre os membros da sociedade quando os meros laços de 
sangue se tornam impotentes para disciplinar os seus membros menos 
razoáveis e cuja acção poderia por em perigo a existência da própria 
sociedade. 
 
Tornou-se pois, necessário a existência de uma instituição que situando-se 
acima da comunidade fosse capaz de solucionar pela aplicação das leis os 
diferendos que surgiram entre os seus membros e que providenciasse ao 
mesmo tempo a sobrevivência da comunidade. 
 
Há assim uma estreita interdependência entre o Estado e o Direito, 
entendido este como um complexo de normas que obrigam por um lado a 
atribuem faculdades por outro, aos membros da sociedade. O Estado ao 
ser ao mesmo tempo autor e interprete das leis assume-se como uma 
forma de regulamentar a vida do homem em Sociedade. 
 
Em seguida vamos analisar os conceitos de Estado para dai retirar aquilo 
que são os seus elementos. 
 
Para o efeito vários autores debruçaram-se sobre o conceito do Estado. 
Contudo, para esta cadeira iremos apenas citar dois autores que definem o 
Estado como sendo: 
- Para Freitas do Amaral, o Estado é uma comunidade constituída por um 
povo que, a fim de realizar os seus ideais de segurança, justiça e bem 
estar, se assenhoreia de um território e nele institui, por autoridade própria, 
o poder de dirigir os destinos nacionais e de impor as normas necessárias 
à vida colectiva 
- para Marcelo Caetano, o Estado é um povo fixado num território, de que 
é senhor, e que dentro das fronteiras desse território institui, por autoridade 
própria, os órgãos que elaborem as leis necessárias à vida colectiva e 
imponham a respectiva execução . 
 
Como pudemos ver nas duas definições enfatizam-se três elementos do 
estado. Porem, a delimitação do conceito jurídico do Estado por recurso a 
estes elementos fundamentais é a mais refundida, embora com algumas 
variações na generalidade da doutrina. 
Pode se perguntar, porque definir o Estado baseando-se nos seus 
elementos? 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 19 
- Primeiro tem a ver com a natureza didáctica, traduzindo a observação 
das comunidades estaduais, constituiria uma razoável ponto de partida 
para o estudo da sua estrutura; 
- Segunda é de ordem filosófica, evitaria árduas discussões; 
- Terceira é eminentemente prático, traduziria a relevância que 
efectivamente tem o povo o território e o poder politico. 
 
Na verdade, é indispensável em primeiro lugar um substrato pessoal, a 
existência de uma comunidade de indivíduos que buscam uma forma 
conjunta de resolução dos seus problemas e de objectivação dos seus 
anseios. Se é verdade que sem povo não pode haver Estado, não é 
menos certo que não pode haver povo, em sentido jurídico politico, se não 
existir um Estado, na justa medida em que é o nascimento deste que dá 
lugar ao surgimento de uma nova realidade, que é a ligação a uma 
entidade politica de um conjunto de indivíduos através do vinculo de 
cidadania. 
 
 
2.5 OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO 
 
O Estado como vimos, aparece como uma necessidade de o homem dar 
resposta aos desafios que a natureza e os outros homens lhe colocavam. 
A sociedade ao pretender a segurança das pessoas e bens consentiu em 
alienar parte da sua liberdade em favor de um grupo, geralmente 
constituído pelos mais hábeis, mais ricos ou mais velhos. Assim, este 
pequeno grupo passou a gerir os destinos da Sociedade. São elementos 
do Estado: 
- Povo 
- Território 
- Soberania ou poder politico 
 
Povo – é o conjunto de indivíduos que se encontram ligados ao Estado 
pelo vinculo da nacionalidade ou cidadania. Pessoas que tem um vínculo 
jurídico com o Estado sendo estas pessoas titulares e portadores de 
direitos, deveres e obrigações. O povo é o elemento humano que dinamiza 
o Estado porque é nas pessoas onde encontramos o dinamismo na 
sociedade. 
 
Não confundir o povo com a população pois, este tem um conceito de base 
económico com conteúdo demográfico. Portanto, população designa o 
conjunto de residentes em dado território independentemente de serem 
nacionais, estrangeiros ou apátridas.O conceito de povo restringe-se 
apenas aos nacionais. Também não confundir a nação do povo, pois a 
nação corresponde ao elemento espiritual e cultural de um povo. 
 
Território – É o espaço geográfico no qual o Estado se encontra 
implantado e exerce a sua jurisdição. O elemento território é importante na 
medida em que é onde vive o povo, desenvolve as suas actividades, busca 
os recursos no solo, sob solo e este , por sua vez o divide-se em: 
 a) Território Terrestre ou território sólido: é a parte sólida onde se encontra 
estabelecido o povo e exerce as suas actividades. Este é delimitado pelas 
fronteiras 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 20 
b) Território aquático ou liquido - é constituído por riachos, lagos, rios, 
plataforma continental, ou seja a zona marítima costeiras, que pertence ao 
Estado; 
c) Território Aéreo - é o espaço acima do território sólido e liquido; 
d) Território fictício - é constituído pelas representações culturais, militares, 
diplomáticas, de um determinado Estado e, nelas usa-se a bandeira 
nacional do respectivo país. 
 
Soberania ou poder politico – Citando o professor Marcelo Rebelo de 
Sousa, poder politico é a faculdade de que é titular um povo de, por 
autoridade própria, instituir órgãos que exerçam com relativa autonomia a 
jurisdição sobre um território nele criando e executando normas jurídicas 
usando os necessários meios de coacção. Disto resulta que, o poder 
politico há de ser a capacidade de um povo traçar o seu próprio destino, 
administrar-se, governar-se de acordo com os seus interesses. Esse poder 
politico deve ser soberano ou seja, o Estado deve ser capaz de definir 
politicas próprias, fazer opções de desenvolvimento, elaborar e aplicar leis, 
gerir e administrar os interesses da comunidade sem ingerências externas 
e a soberania contem 3 características a saber: 
 
a) indivisível - significa que dentro do Estado só há uma soberania e está 
cristalizada no povo que a exerce através do seu voto. 
 b) imprescritível - significa que não prescreve, não caduca, não envelhece. 
 c) inalienável - a soberania não se vende nem se empresta, só o povo e o 
seu Estado a podem exercer sob ponto de vista jurídico. São órgãos de 
soberania na no Estado moçambicano - ver artigo 133 CRM ) Presidente 
da Republica, AR, Governo, - artigo 200 e 2001 CRM, os Tribunais e o 
Conselho Constitucional . 
 
 
 2.6 AS FUNÇÕES DO ESTADO 
 
O Estado como direcção da sociedade possui determinados e funções 
pelas quais concorrem à satisfação das necessidades fundamentais da 
sociedade, necessidades essas respeitantes a manutenção, sobrevivência 
e ao desenvolvimento da sociedade política através dos seus órgãos. 
 
Nos tempos actuais, todo o cidadão é súbdito de um Estado. Como súbdito 
desse Estado ele é compelido a obediência a normas de conduta de 
carácter obrigatório. Só o estado tem poder para impor e fazer cumprir 
essas normas todas os cidadãos que vivem dentro das suas fronteiras. 
Com efeito o Estado diferencia-se dos outros agrupamentos sociais, pela 
possibilidade de obrigar os indivíduos a sujeitarem-se às suas leis, 
podendo fazer uso da coacção para assegurar a obediência. 
- Função Legislativa 
- Função Executiva 
- Função Judicial 
 
Função legislativa - Consiste na elaboração das leis gerais que regem a 
vida na sociedade. Em cada Estado existe um órgão que tem competência 
legislativa no nosso caso esse órgão designa-se por Assembleia da 
Republica art. 168, 169 179 e 182 CRM. 
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Função judicial - esta função cabe aos tribunais que através dos juízes 
fazem a justiça, julgam e sancionam as violações da lei quer resulte dos 
cidadãos em prejuízo dos outros, quer resultante do Estado em prejuízo 
dos cidadãos ou vice versa. Ver as espécies dos tribunais na Constituição 
da Republica artigos (212, 213, 214, 215) 223, 225, 228, 230, 
234,236,241,249). 
 
Função executiva - é a que tem a função primordial de administrar a coisa 
pública, aplicando a lei e adoptar outras providencias necessárias. 
Portanto, consiste na materialização do conteúdo das orientações 
pertinentes ao desenvolvimento do país. Ex. no domínio das áreas 
económicas, sociais e culturais - no domínio das exportações e 
importações, desenvolvimento agrícola, comercialização dos produtos, 
criação de postos de trabalho, saúde, educação meio de transporte etc. 
Com vista a satisfação dos interesses da colectividade, esta função é 
responsável pela administração dos interesses públicos e sempre de 
acordo com uma recomendação magna. 
 
 
2.7 FINS DO ESTADO 
 
A doutrina constitucionalista clássica distingue normalmente três grandes 
objectivos a atingir pelo Estado: a segurança, a justiça e o bem estar 
económico em social. Pois, o cidadão necessita de ter a certeza de que 
através da normas jurídicas executadas pelos órgãos do Estado, lhe são 
reconhecidos direitos e deveres. Mas não só a segurança individual deve 
ser assegurada pelo Estado, também a segurança colectiva, enquanto 
defesa da colectividade face ao exterior, deve ser um objectivo ou seja, fim 
do Estado. 
 
Compete igualmente ao poder politico assegurar a justiça nas relações 
entre os homens, substituindo nessas relações o arbítrio da violência 
individual, por um conjunto de regras capazes de satisfazer o instinto 
natural da justiça. 
 
O bem estar económico e social é para alguns autores o fim mais 
importante da Estado. Este fim envolve a promoção das condições de vida 
dos cidadãos através do acesso a bens e serviços considerados 
fundamentais para a colectividade, bens que permitam a satisfação normal 
das necessidades, tais como a Educação, a saúde, e a segurança social. 
 
Em jeito de conclusão, podemos dizer que não se pode falar em ordem 
social sem que esteja implicitamente a ideia de Justiça e Segurança, a 
ordem não existe ou se existe é imperfeita, o que mancharia a 
possibilidade de realização total dos fins da sociedade e das pessoas que 
a compõem. 
 
Conforme atrás referimos, todas as sociedades ( Estados), que se 
presumem organizadas possuem um sistema de normas – o Direito, 
como vimos em capítulos anteriores, Ibi societas, ibi Jus (onde há 
sociedade, há direito). Esse Direito, deve ser elaborado necessariamente 
por um órgão estadual com competência para o efeito. A forma mais 
importante da sociedade na actualidade é o Estado, e, cada Estado tem o 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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seu direito. Assim como o Estado é hoje a forma mais importante da 
sociedade, através da qual se organizam os homens sobre a terra, o 
Direito é hoje a forma mais importante para a organização desse mesmo 
Estado. 
 
Como é sabido, o principal objectivo do Estado é o de manter a ordem e a 
paz social que se traduz em bem estar harmoniosa no seio da sociedade e 
coordenar as relações sociais dentro das comunidades e tudo isto não 
seria possível se o direito se afastasse do Estado. Por outro lado, a justiça 
e a segurança são manifestamente visíveis na medida em que o direito 
proporciona a realização do bem estar comum mediante a garantia da 
liberdade plena, da igualdade material e da autonomia dos indivíduos. 
 
Por outro lado, definimos o Estado como uma comunidade cujos fins são a 
realização dos ideais de segurança, justiça e o bem estar. São estes os 
fins do Estado. Assegurar a justiça e a segurança nas relações entre os 
homens, promover os princípios de igualdade entre os indivíduos, os 
princípios da proporcionalidade, e a materialização das liberdades e 
garantias dos cidadãos. 
 
O bem estar económico e social, que envolve por parte do Estado a 
promoção das condições de vida dos cidadãos, através do acesso a bens 
e serviços essenciais e, também, a prestaçãode serviços fundamentais, 
como a Educação, Saúde, a Segurança Social, etc. 
 
Assumem também relevância a preservação do ambiente e a protecção e 
valorização do património cultural. 
 
Naturalmente que em todos os Estados existe a ideia de que deve se 
seguir a lei mesmo que os objectos de justiça almejada sejam realizados 
somente de forma indirecta ou ainda imperfeita. 
 
O Estado tem uma relação permanente com o Direito e, essa relação é 
tripla: 
1. O Estado vai buscar ao Direito a fonte ou a base da sua legitimidade. A 
ideia da legitimidade pressupõe a conformidade com as normas jurídicas. 
2. O Estado organiza-se através do Direito. E, a ideia de organização 
pressupõe a elaboração de normas genéricas de execução permanente. 
3. O Estado encontra-se subordinado ao Direito. E, a ideia de 
subordinação pressupõe o dever de obediência às normas em todas as 
actividades do Estado. 
 
 
Leituras Obrigatórias 
 
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para 
a compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades 
propostas para esta unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los. 
 
Caetano, Marcelo, Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional, 
Tomo I, Almedina, 2012 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 23 
De Sousa, Marcelo Rebelo, Galvão, Sofia, Introdução ao Estudo do Direito, 
publicações Europa- América, 1997 
 
 
Actividades 
 
A seguir, estão as actividades correspondentes a esta unidade. Resolva os 
exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua 
resposta na Chave de Correcção, no final do presente Guia de Estudo. 
 
 
Actividade 1 
1. A justiça e a segurança são dois fins do Direito, refira-se 
pormenorizadamente a cada um deles 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
Caetano, Marcelo, Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional, 
Tomo I, Almedina, 2012 
De Sousa, Marcelo Rebelo, Galvão, Sofia, Introdução ao Estudo do Direito, 
publicações Europa- América, 1997 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ciências Jurídicas – Introdução Estudo Direito – Semestre 1 
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UNIDADE TEMÁTICA 3 
 FONTES E RAMOS DO DIREITO 
 
Elaborado por Dário Caetano de Sousa 
 
Objectivos 
 
 No fim desta unidade, você deverá ser capaz de: 
 
 Explique a razão de ser da divisão do direito em Ramos; 
 Saber explicar critérios da sua distinção; 
 Saber distinguir o Direito Publico do Direito Privado; 
 Identificar os sub ramos do Direito Publico; 
 Identificar os sub ramos do Direito Privado; 
 Distinguir o direito Processual Civil do Direito processual Penal. 
 
 
3.1 DAS FONTES DO DIREITO 
Como vimos, o Direito é constituído de normas jurídicas que regulam a 
vida do homem em sociedade. Importa, pois, saber como e onde nascem 
essas normas, como se formam e se revelam aos particulares. Estas 
indagações constituem a problemática das fontes do Direito. 
Tomaremos a expressão fontes de Direito no seu sentido técnico-jurídico, 
que se traduz nos modos de formação e revelação das normas jurídicas. 
Neste sentido, consideram-se fontes do Direito: 
Fontes imediatas ou Directas do Direito 
 
São aquelas que criam normas jurídicas. 
 
Fontes Mediatas ou Indirectas 
 
São aquelas que não criam normas jurídicas, mas contribuem para a sua 
formação. 
 
São enumeradas tradicionalmente quatro fontes do direito: 
- A lei; 
- O costume; 
- A jurisprudência; 
- A doutrina. 
 
Como iremos ver de seguida, o Código Civil estabelece, nos artigos 1.º a 
4.º, disposições sobre as fontes do direito e considera a lei como única 
fonte imediata do direito, em contraposição aos usos (art.º 3º) e à equidade 
(artº4º), cuja força vinculativa provém da lei, ou seja, os usos e a equidade 
só têm relevância jurídica, quando a lei assim o determine. 
 
 
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Portanto, temos: 
- A lei, como fonte imediata do direito 
- Os usos e a equidade são fontes mediatas do Direito 
 
 
A Lei 
 
A lei é considerada uma fonte imediata do direito, e, enquanto para alguns 
autores, ela é a única fonte imediata admissível, para outros autores, ao 
lado da Lei, o costume também é fonte imediata do direito. 
 
No entanto, o art. 1º do Código Civil acolhe a Lei como a única fonte 
imediata do Direito. 
 
Portanto, a lei como fonte imediata do direito, cria normas jurídicas, com 
carácter vinculativo, emanadas do órgão dotado de competência legislativa, 
a Assembleia da República. 
 
Art. 1º (fontes imediatas do direito) 
 
1. São fontes imediatas do direito as leis [...]; 
2. Consideram-se leis todas as disposições genéricas provindas dos 
órgãos estaduais competentes; 
 
Neste artigo 1º, a lei é empregue em sentido amplo. 
 
O termo lei pode ter vários significados: 
 
 Tem o significado de ordenamento jurídico, como por exemplo no art. 
35 Constituicao da República de Moçambique onde se consagra que 
todos os cidadãos são iguais perante a lei. 
 Tem o significado de acto legislativo (lei [acto legislativo da Assembleia 
da República] ou Decreto [acto legislativo do Governo]) como, por 
exemplo, no art. 127º/2 CRM, onde se consagra que os impostos são 
criados por lei. 
 Tem o significado de Direito 
 E tem ainda o significado de diplomas legislativos. 
 
Para se compreender verdadeiramente o termo lei, temos que ter em conta 
a distinção entre os vários sentidos em que a lei se apresenta: 
 
Lei em sentido amplo 
 
Refere-se a qualquer diploma que consagre normas jurídicas emanadas 
dos órgãos estaduais competentes, pela Assembleia da República, 
Governo, as Assembleias Municipais, ou seja, leis, decretos, regulamentos, 
portarias, posturas. 
 
Resumindo, a lei, em sentido amplo, abrange todos os diplomas que 
consagram normas jurídicas. 
 
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Lei em sentido restrito (lei propriamente dita) 
 
Refere-se aos diplomas emanados pela Assembleia da República (Lei) 
 
O Costume 
O costume é prática de uma conduta social reiterada e constante, 
acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade pela comunidade. 
O costume é constituído por dois elementos essenciais que devem estar 
sempre presentes, sob pena de não ser costume: 
Corpus (usus) - uma prática social reiterada e constante. 
Animus - a convicção da respectiva obrigatoriedade, como se estivesse a 
obedecer a uma norma geral e abstracta 
Do ponto de vista da lei, o costume pode ser de três espécies: 
 
Costume Secundum Legem (segundo a lei), quando o costume confirma 
ou interpreta. A lei moçambicana ignora-o, o que significa que não o 
considera relevante. 
 
Costume Praeter Legem (para além da lei), quando o costume regula 
aspectos não regulados pela lei. O nosso Código Civil, no artigo 10º, não 
alude ao costume como meio de integração de lacunas da lei; logo, não é 
admitido no Direito moçambicano. 
 
Costume Contra Legem (o costume contrário a lei), quando o costume cria 
uma regulamentação contrária à lei. Este costume não é admitido no 
ordenamento jurídico moçambicano, porque se o fosse, implicaria a 
cessação da vigência da lei. E a lei só deixa de vigorar se for revogada por 
outra lei (art. 7º CC). 
 
O Código Civil moçambicano exclui o costume como fonte imediata de 
direito e nem sequer o reconhece como meio de integração das lacunas da 
lei. 
 
O legislador apenas admitiu que os usos tinham relevância jurídica quando 
a lei para ele remete e portanto nunca contra a lei - fonte mediata de 
Direito (art. 3º/1 CC). 
 
Aliás, quando na lei civil nos aparece a referência ao costume é mais no 
sentido de uso, como por exemplo no art. 737º/1 a), 1400º/1 etc. 
 
Diferente do costume é o uso, ou seja, o uso é prática reiterada de uma 
conduta a que falta a convicção darespectiva obrigatoriedade (o animus). 
É admitido o número de disposições com referência aos usos (por exemplo 
art. 885º/2 CC). 
 
No direito internacional público, o costume é uma importante fonte de 
direito 
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A Jurisprudência 
 
Jurisprudência é o conjunto de decisões constantes sobre a mesma 
matéria (sentenças e acórdãos), proferidas pelos tribunais, ao fazerem a 
interpretação e aplicação da lei aos casos concretos que lhe são 
submetidos. 
 
 
Tipos de decisões judiciárias: 
 
Sentenças, são as decisões proferidas pelos tribunais singulares, ou seja, 
decisões proferidas por um único juiz; 
 
Acórdãos, são as decisões proferidas por tribunais colectivos, que são 
constituídos por três juízes. 
Em Moçambique, temos acórdãos do Tribunal Supremo e dos tribunais 
superiores de recurso. 
 
A Jurisprudência é, apenas, uma fonte mediata do Direito por apresentar 
um papel de relevo, como contributo para a formação de normas jurídicas, 
cuja criação fica reservada ao poder legislativo (Assembleia da República 
e Governo) 
As decisões dos tribunais só vinculam o caso concreto sobre o qual é 
proferida a decisão do tribunal. 
 
 
 
Papel Importante Desempenhado Pela Jurisprudência 
 
A jurisprudência desempenha um papel importante, sobretudo a 
proveniente dos tribunais superiores, em que os acórdãos têm um peso 
efectivo nas decisões futuras, pois muitas vezes são referidos ou citados, 
quando se entende que o novo caso sub judice é análogo ao que foi 
decidido por um desses acórdãos. Em todo o caso, não vinculam os 
tribunais, mas contribuem para aquilo que se chama a jurisprudência 
uniformizada, a fim de se atingir maior segurança nas decisões e evitar 
desperdício da actividade jurisprudencial em casos semelhantes. 
 
 
A Doutrina 
 
Doutrina é o conjunto de estudos, opiniões e pareceres dos jurisconsultos 
sobre a forma adequada de interpretação, integração ou aplicação do 
Direito. 
Jurisconsultos são juristas qualificados, em geral, professores nas 
Universidades. 
A doutrina consta de tratados, manuais, comentários às leis (Códigos) e à 
jurisprudência, monografias e estudos jurídicos vários. 
A doutrina não é considerada fonte imediata ou directa do Direito, uma vez 
que ela não cria normas jurídicas e, por conseguinte, não tem carácter 
vinculativo. 
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A doutrina é uma fonte mediata do direito, pois, apesar de não criar Direito, 
tem uma importante relevância prática na revelação do próprio Direito, 
dado que as opiniões dos Jurisconsultos contribuem para esclarecer o 
sentido e o alcance de determinadas normas jurídicas e ajudam a colmatar 
algumas omissões na lei. 
Uma outra relevância importante da Doutrina é a influência que ela exerce 
na feitura das leis, nas decisões judiciais e na actuação da administração 
pública. 
 
Apesar de a doutrina não ter carácter vinculativo, nem força obrigatória 
para os tribunais nem para os particulares, tem, no entanto, uma força 
persuasiva que é tanto maior quanto maior for o prestígio reconhecido ao 
seu autor e à sua reputação no mundo jurídico. 
Por vezes, é usual documentarem-se processos em tribunal com 
pareceres sobre matéria jurídica, emitidos pelos jurisconsultos. 
 
RAMOS DO DIREITO 
 
Vamos agora em seguida analisar cada um dos mais importantes Ramos 
de Direito. 
É importante reter que em Roma, Ulpiano ensaiou a distinção. De então 
para cá, multiplicaram-se as tentativas para apurar critérios e aperfeiçoar 
formulações. Hoje, há quem diga que é possível referenciar mais de uma 
centena de enunciados. Mas, nos vamos apontar apenas os seguintes 
critérios de distinção: 
São três os critérios principais: 
(1) Critério da Natureza dos Interesses; 
(2) Critério da Qualidade dos Sujeitos; 
(3) Critério da Posição Relativa dos sujeitos na relação Jurídica. 
 
De acordo com o critério da natureza dos interesses, Direito Publico é 
formado pelas normas que regulam predominantemente ou 
essencialmente à prossecução de interesses públicos e Direito Privado 
serve predominante ou essencialmente a prossecução de interesses 
privados. 
 
Para o critério da qualidade dos sujeitos, é publico o Direito que regula 
situações em que intervenha o Estado ou qualquer ente público e privado o 
Direito que regula as situações dos particulares. 
 
Finalmente, o critério da posição dos sujeitos que diz que Direito Publico é 
àquele que constitui e organiza o Estado e os demais entes públicos e 
regula a sua actividade como entidades dotadas de jus imperii (ou poder 
de autoridade) ou sujeitas a restrições peculiares e que Direito Privado é 
àquele que regula as situações em que os sujeitos estão em posição de 
paridade. 
 
Por qual deles optar? 
 
Comecemos por exclusão de partes. O critério da qualidade dos sujeitos 
não parece servir. Muitas vezes o estado e outros organismos públicos 
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intervêm na vida jurídica em condições exactamente idênticas as dos 
particulares. Por exemplo, o município de Maputo, pode ser condenado ao 
pagamento de uma indemnização por danos causados a um munícipe nos 
termos gerais do Direito Privado , o Estado pode ser herdeiro nos termos 
gerais do Direito Privado. Não é qualidade pública dos sujeitos que afecta 
a natureza privada das situações jurídicas constituídas. O critério não 
esclarece e é por isso, de afastar. 
 
E o que dizer do critério da posição dos sujeitos? É obvio que ele surge 
para responder as insuficiências do critério anterior. 
 
Mas tê – lo á conseguido? É certo que com ele a realidade encontra 
melhor enquadramento jurídico. Quando o Estado expropria um terreno , 
multa uma empresa , ou cobra um imposto, age munido de poderes de 
autoridade que justificam a natureza publica das situações jurídicas em 
causa. Mas já quando é investido na qualidade de herdeiro, quando é 
condenado a pagar uma indemnização, quando vende um veiculo 
automóvel ou toma de arrendamento um prédio age em condições de 
igualdade com a outra parte, sem que a sua qualidade publica afecte a 
natureza privada das situações em que se envolveu. 
 
Tudo isto é certo, mas falha o decisivo. O critério descreve mas não 
explica. Falta perceber por que é que nuns casos o Estado e as entidades 
publicas agem dotados de jus imperii e noutros não. E não é critério da 
posição dos que certos poderes de autoridade ou restrições mais gravosas 
existem, precisamente, porque está em causa um interesse que determina 
e não o contrario - o interesse explica tais poderes ou deveres especiais. 
 
Ora bem, o caro estudante já terá, porventura, percebido o problema. É 
que, na verdade, só o critério do interesse parece revelar-se esclarecedor. 
Só ele parece justificar o que os outros, melhor ou pior, se limitam a 
descrever. 
 
Quando o Estado ou outra qualquer entidade publica agem numa posição 
de autoridade, o que está em causa é, essencial ou predominantemente, a 
prossecução de interesses públicos. E quando o Estado ou outra entidade 
publica agem numa posição de paridade reconhece, que não é o interesse 
publico que está predominantemente em causa mas sim um interesse 
privado. 
É a natureza publica ou privada do interesse, essencial ou 
predominantemente prosseguido, que explica o recurso a poderes de 
autoridade ou deveres específicos, por um lado, ou a actuação paritária, 
por outro. 
É o interesse que traça as fronteiras. Autoridade e competência 
caracterizam a prossecução essencial ou predominante de interesses 
públicos. Igualdade e liberdade marcam a prossecução essencial ou 
predominante de interesses privados. Só a esta luz se compreende a 
essência da divisão essencial.

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