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Patologia especial dos animais domésticos Distúrbios pulmonares (Bronquíolos, Brônquios e Alvéolos) em Animais Domésticos Anomalias ➞ As anomalias congênitas dos pulmões são raras em todas as espécies, mas são relatadas com mais frequência em bovinos e ovinos. Distúrbios Metabólicos Calcificação Pulmonar ➞ Também conhecida como “Calcinose” ➞ Geralmente em decorrência de hipervitaminose D ➞ ingestão de plantas tóxicas (hipercalcêmicas) como Solanum malacoxylon (doença depauperante de Manchester), que contêm análogos de vitamina D. ➞ Também é uma sequela comum da uremia, hiperadrenocorticismo e de necrose pulmonar (calcificação distrófica) ➞ Na maioria dos casos, tem pouca importância clínica, embora a sua causa possa ser muito importante. ➞ Os pulmões calcificados não colapsam quando a cavidade torácica é aberta, e apresentam uma textura arenosa” Ex: Pneumopatia Urêmica Resultante de Insuficiência Renal Crônica, Pulmão, Cão de 4 Anos de Idade. ➞ Microscopicamente, as lesões variam da calcificação das membranas basais alveolares à ossificação heterotópica dos pulmões. Distúrbios do Preenchimento Alveolar ➞ constituem um grupo heterogêneo de doenças caracterizadas pelo acúmulo Patologia especial dos animais domésticos de diversos compostos químicos no lúmen alveolar. Pneumonia Lipídica (Lipoide) Endógena ➞ Ocorre frequentemente nas proximidades de lesões neoplásicas do pulmão em seres humanos, gatos e cães. ➞ a patogênese seja desconhecida presume-se que lipídios do surfactante pulmonar e de células degeneradas se acumulem no interior dos macrófagos alveolares. esse acúmulo pode ocorrer devido a incapacidade dos macrófagos alveolares — que normalmente removem parte dos lipídios do surfactante — em sair do pulmão pelo elevador mucociliar ➞ As lesões macroscópicas são nódulos multifocais, brancos e firmes dispersos por todo o pulmão. ➞ Microscopicamente, os alvéolos apresentam-se preenchidos com macrófagos espumosos carregados de lipídios acompanhados por infiltração intersticial de linfócitos e plasmócitos, fibrose, epitelização alveolar e, em alguns casos, fendas de colesterol e granulomas lipídicos. Patologia especial dos animais domésticos Pneumonia Lipídica Exógena ➞ resulta da aspiração de material gorduroso Ex: administram óleo mineral a seus animais na tentativa de remover bolas de pelo ou tratar cólica (pneumonia por aspiração). Distúrbios de Inflação Pulmonar ➞ Para que ocorra troca gasosa, é preciso que haja a presença de uma proporção equilibrada de volume de ar e sangue capilar nos pulmões (relação ventilação/perfusão), e o ar e o sangue capilar devem estar bem próximos na parede alveolar. ➞ Ocorre desproporção entre ventilação e perfusão se o tecido pulmonar estiver colapsado (atelectasia) ou excessivamente inflado ou insuflado (hiperinsuflação e enfisema). Atelectasia (Congênita e Adquirida) ➞ Pulmões que não se expandem com ar no momento do nascimento congênita ou neonatal ou que colapsam após a insuflação adquirida ou colapso alveolar ex: atelectasia pulmonar, bezerro, um dia. Enfisema Pulmonar ➞ geralmente conhecido apenas como enfisema. ➞ é uma doença primária extremamente importante em seres humanos, enquanto em animais é quase Patologia especial dos animais domésticos sempre uma condição secundária resultante de uma variedade de lesões pulmonares. ➞ Na medicina humana, o enfisema é definido como uma dilatação anormal e permanente dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal acompanhada pela destruição das paredes alveolares (enfisema alveolar). ➞ O enfisema primário não ocorre em animais, razão pela qual nenhuma doença animal deve ser chamada apenas de enfisema. ➞ Em animais, essa lesão é sempre decorrente de obstrução do efluxo de ar ou é de natureza agonal no abate. ➞ O enfisema pulmonar secundário geralmente ocorre em animais com broncopneumonia, na qual o exsudato que obstrui os brônquios e bronquíolos provoca um desequilíbrio no fluxo de ar em que o volume de ar que entra no pulmão excede o volume que sai. Esse desequilíbrio geralmente é promovido pelo chamado efeito de válvula de via única (ou válvula antirretorno) causado pelo exsudato que permite a entrada de ar no pulmão durante a inspiração, mas impede o movimento de saída durante a expiração. Dependendo da localização no pulmão, o enfisema pode ser classificado como alveolar ou intersticial. ➞ O enfisema alveolar, caracterizado pela distensão e ruptura das paredes alveolares formando bolhas de ar de tamanho variável no parênquima pulmonar, ocorre em todas as espécies. ➞ O enfisema intersticial acomete principalmente bovinos, presumivelmente por causa dos amplos septos interlobulares da espécie, e a falta de ventilação colateral nessas espécies não permite a livre movimentação do ar para os lóbulos pulmonares adjacentes. Consequentemente, o ar acumulado penetra nas paredes dos alvéolos e bronquíolos e força sua entrada no tecido conjuntivo Patologia especial dos animais domésticos interlobular, causando notável distensão dos septos interlobulares. Suspeita-se também de que os movimentos respiratórios forçados predispõem a enfisema intersticial quando o ar sob alta pressão invade o tecido conectivo frouxo dos septos interlobulares. ➞ Às vezes, essas bolhas de ar retidas no enfisema alveolar ou intersticial tornam-se confluentes, formando grandes (vários centímetros de diâmetro) bolsas de ar, conhecidas como bolhas. a lesão é denominada enfisema bolhoso. Ela não é um tipo específico de enfisema nem indica um processo patológico diferente, mas sim um acúmulo de ar um pouco maior em um determinado foco. ➞ Nos casos mais graves, o ar desloca-se dos septos interlobulares para o tecido conjuntivo que envolve os brônquios e vasos principais (feixes broncovasculares), e a partir daí vaza para o mediastino, causando inicialmente pneumomediastino, até, por fim, sair através da entrada torácica para os tecidos subcutâneos cervical e torácico, causando enfisema subcutâneo. Distúrbios Circulatórios dos Pulmões Hiperemia ➞ É um processo ativo que faz parte da inflamação aguda ➞ Nos estágios agudos iniciais da pneumonia, os pulmões apresentam-se notadamente vermelhos, e, microscopicamente, os vasos sanguíneos e os capilares alveolares estão ingurgitados com sangue da hiperemia. Congestão ➞ É um processo passivo resultante do decréscimo da drenagem do sangue venoso, como ocorre na insuficiência cardíaca congestiva. ➞ Congestão pulmonar geralmente é causada por insuficiência cardíaca, o que resulta na estagnação do sangue nos vasos Patologia especial dos animais domésticos pulmonares, causando edema e a saída de eritrócitos para os espaços alveolares. EX: Congestão pulmonar aguda, cão. ➞ congestão hipostática é outra forma de congestão pulmonar resultante dos efeitos da gravidade e da má circulação em tecidos altamente vascularizados, como o pulmão. ➞ Esse tipo de congestão gravitacional caracteriza-se pelo aumento do sangue na parte inferior do pulmão, particularmente de animais em decúbito lateral, e é mais notável em equinos e bovinos. Hemorragia Pulmonar ➞ As hemorragias pulmonares podem ser resultantes de traumatismos coagulopatias e coagulação intravascular disseminada (CID) vasculite e sepse tromboembolismo pulmonar causado por trombose da jugular ou embolismo do exsudato oriundo de abscessos hepáticos que tenham erodido a parede e rompido para dentro da veia cava(bovinos). Ex: hemorragia pulmonar fatal Edema Pulmonar ➞ Nos pulmões normais, o líquido do espaço vascular passa lenta e continuamente para o tecido intersticial, onde é rapidamente drenado pelos vasos linfáticos pulmonares e pleurais. ➞ A limpeza do fluido através do epitélio alveolar é também um importante Patologia especial dos animais domésticos mecanismo de remoção de fluido do pulmão. ➞ O edema se desenvolve quando a taxa de transudação de fluido dos vasos pulmonares para o interstício ou os alvéolos é superior à da remoção linfática e alveolar. ➞ O edema pulmonar pode ser fisiologicamente classificado cardiogênico (hidrostático; hemodinâmico). não cardiogênico (de permeabilidade). ➞ O edema pulmonar hidrostático (cardiogênico) se desenvolve quando existe uma taxa elevada de transudação de fluido decorrente do aumento da pressão hidrostática no compartimento vascular ou da redução da pressão osmótica do sangue. ➞ O edema de permeabilidade (inflamatório) ocorre quando há uma abertura excessiva das junções endoteliais ou dano às células que constituem a barreira hematoaérea (células endoteliais ou pneumócitos do tipo I). Esse tipo de edema é parte integrante e inicial da resposta inflamatória, basicamente em função do efeito dos mediadores inflamatórios. Ex: edema pulmonar, rato. Síndrome da Angústia Respiratória Aguda ➞ A síndrome da angústia respiratória aguda (adulta) (SARA; pulmão de choque). ➞ caracteriza-se por hipertensão pulmonar agregação intravascular de neutrófilos nos pulmões Patologia especial dos animais domésticos agressão pulmonar aguda lesão alveolar difusa edema de permeabilidade e formação de membranas hialinas. ➞ Essas membranas são uma mistura de proteínas plasmáticas, fibrina, surfactante e restos celulares de pneumócitos necróticos. ➞ A patogênese da SARA é complexa e multifatorial, mas, em termos gerais, pode ser definida como o dano alveolar resultante de lesões em órgãos distantes, de doenças sistêmicas generalizadas ou de lesão direta ao pulmão. Sepse, trauma extenso, aspiração de conteúdo gástrico, queimaduras extensas e pancreatite são algumas das doenças conhecidas por desencadear síndrome do desconforto respiratório agudo. ➞ Todas essas condições provocam os “macrófagos hiperreativos” a, direta ou indiretamente, produzir uma quantidade excessiva de citocinas, causando o que se conhece como “tempestade de citocinas” (em inglês, cytokine storm). ➞As principais citocinas que desencadeiam a SARA são o TNF-α, a interleucina (IL)-1, IL-6 e IL-8, que ativam os neutrófilos previamente recrutados, localizados nos capilares e alvéolos pulmonares, para liberarem enzimas citotóxicas e radicais livres. ➞Essas substâncias causam dano endotelial e alveolar grave e difuso que culmina com edema pulmonar fulminante. ➞ A síndrome do desconforto respiratório agudo acomete animais domésticos e explica por que o edema pulmonar é uma das lesões mais comuns encontrados em muitos animais que morrem por sepse, toxemia, aspiração de conteúdo gástrico e pancreatite, por exemplo. ➞ Existem relatos de uma forma hereditária de SARA em dálmatas. Patologia especial dos animais domésticos Embolismo Pulmonar ➞ Os êmbolos pulmonares mais comuns em animais domésticos são os tromboêmbolos os êmbolos sépticos (bacterianos) os êmbolos de gordura células tumorais. ➞ O tromboembolismo pulmonar refere-se tanto à formação local de trombos quanto à translocação de um trombo presente em qualquer outro local da circulação venosa. ➞ Os fragmentos liberados inevitavelmente alcançam os pulmões e ficam retidos na vasculatura pulmonar. ➞ Em geral, os tromboêmbolos pequenos e estéreis têm pouca importância clínica ou patológica porque podem ser rapidamente degradados e eliminados pelo sistema fibrinolítico. ➞ Os tromboêmbolos maiores podem causar constrição das vias aéreas menores, produção reduzida de surfactante, edema pulmonar e atelectasia, resultando em hipoxemia, hiperventilação e dispneia. ➞ Os parasitas (p. ex. Dirofilaria immitis e Angiostrongylus vasorum), as endocrinopatias (p. ex. hiperadrenocorticismo e hipotireoidismo), as glomerulopatias e os estados de hipercoagulabilidade podem ser responsáveis por trombose arterial pulmonar e tromboembolismo pulmonar em cães. ➞ Fragmentos livres de trombos da veia jugular, femoral ou uterina podem causar tromboembolismo pulmonar. ➞ O tromboembolismo pulmonar ocorre em cavalos pesados após anestesia prolongada (trombose venosa profunda), em bovinos em decúbito (“síndrome da vaca deitada”) ou em qualquer animal submetido a cateterização intravenosa de longo prazo, na qual os trombos se formam no cateter e depois se desprendem. Patologia especial dos animais domésticos Infartos Pulmonares ➞ Devido ao suprimento arterial duplo do pulmão, o infarto pulmonar é raro e geralmente assintomático. ➞ Entretanto, os infartos pulmonares podem ocorrer facilmente quando trombose e embolia pulmonares se sobrepõem a uma circulação pulmonar já comprometida, como ocorre na insuficiência cardíaca congestiva. ➞ A condição acomete também cães com torção de lobo pulmonar. ➞ Os aspectos macroscópicos dos infartos variam consideravelmente, de acordo com estágio, podendo variar de vermelhos a pretos e apresentar-se intumescidos, firmes e em forma de cone ou cunha, particularmente nas margens do pulmão. ➞ No estágio agudo, as lesões microscópicas são acentuadamente hemorrágicas, seguidas por necrose. ➞ Em um ou dois dias, desenvolve-se uma margem de células inflamatórias, e alguns dias depois, observa-se a presença de um grande número de siderófagos no pulmão necrótico. ➞ Se estéreis, os infartos pulmonares curam como cicatrizes fibróticas; se sépticos, pode se formar um abscesso delimitado por uma espessa cápsula fibrosa.