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Tifo aviário

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TIFO AVIÁRIO
Angelo Berchieri Júnior • Gláucia Helaine de Oliveira
INTRODUÇÃO 
A primeira descrição do tifo aviário foi feita por Klein, em 1889, na lnglaterra. Na ocasião, a doença acomereu 400 aves, marando 200 em 2 meses e foi confundida com a cólera aviária. Contudo, ao se isolar o agenre da doença, ficou de­monstrado que se tratava de outro microrganismo. Durante a necropsia, foi observado uma enterite de caráter infeccioso, com inflamação das mucosas e serosas imestinais e diarréia amarelo-esverdeada. O baço e o Fígado estavam aumentados. Os baciJos isolados do sangue de aves doentes eram Gram­negativos, imóveis e facilmente cultiváveis. Aves inoculadas por via subcutânea, adoeciam em 5 a 6 dias e morriam 2 a 3 dias depois. 
A doença foi observada em vários países da Europa, nos Estados Unidos da América, Ásia e África. A denominação tifo aviário deveu-se à sua similaridade com a febre tifóide humana, como também para diferenciá-Ia da cólera aviária. Nos Estados Unidos da América, tem sido considerada sob controle e esse resultado deve-se a um plano nacional de pre­venção de doenças avícolas, com destaque para o comrole de salmoneloses. Na Europa, o tifo aviário voltou a ser norifica­do no início dos anos 1990.
No México, onde se adota também programas de vacina­ção para prevenir o tifo aviário, e na América do Sul, a doen­ça ainda persiste. No Brasil, os primeiros registros do tifo aviário datam de 1919, em Minas Gerais, e de 1939, em São Paulo. A doença tem sido diagnosticada em áreas de exploração de aves de postura comercial, mas também pode ocorn em aves reproduroras (para corte e postura). No Brasil, sum da doença chamaram arenção nas décadas de 1980 e 1991 mas o conhecimento sobre a situação real fica prejudicad pela falra de informações, tendo-se em vista que o diagnóst co, às vezes, é realizado com base nos sinais clínicos e alter; ções anaromoparológicas, sem a confirmação laboratorial c agente etiológico. 
A presença de Salmonella Galli narum em ovos e fezes n; é comum. Jordan I acredita que o isolamento de S. GallinarLlJ de cloaca de aves com infecção aguda de tifo aviário pode s· decorrente de aumento da excreção do microrganismo n< momentos que antecedem a morte. 
A Etlra de conhecimentos a respeito da relação entre Gallinarum e a ave, dificulra a prevenção do tifo aviário. l' década de 1990 houve um crescimento no isolamento de Gallinarum, COnfl)rme já havia sido notado no início dos an, 1980. O combate ao tifo aviário tem sido feito pelo uso ( antimicrobianos e vacinas. Enquanto, em alguns países, doença tem sido considerada sob controle, com base em pr, grama preventivo e eliminação de portadores, em outros, corr o lv!éxico, mesmo com o uso de vacinas e antibióticos, a doe ça continua causando transtornos. O uso de antimicrobian. altera o quadro geral, sem resolvê-Io e, em diversas ocasiões retirada do medicamento, diminui a mortalidade do lore. diversidade de resultados deve-se à falta de conhecimento (ciclo epidemiológico do tifo aviário. O melhor conhecimen­to a respeito da epidemiologia da doença poderá contribuir para esclarecer etapas do processo de infecção das aves, bvo­recendo a adoção de medidas mais eficazes. 
ETIOLOGIA 
Salmoneifa enterica subespécie enterica sorotipo Gallinarum é o agente do tifo aviário. Trata-se de uma Salmonella imóvel, com características mLlito semelhantes à S. Pullorum. Na soro­logia básica, para identificação do sorotipo, ambas são indis­tinguíveis. Bioquimicamente, apresentam algumas diferenças e essas provas são consideradas importantes na diferenciação desses biotipos. Contudo, cepas com comportamemo fora des­ses padrões já fl1ram isoladas. São aeróhios e anaeróbios facul­tativos, catalase-positiva, oxidase-negativa, fermemam açÚcares com produção de gás e são produtores de H2S. 
A configuração antigênica de S. Gallinarum é semelhante 
" 
à\...,- .guração de S. Pullorum, apresentando os anrígenos 
somaticos 1, 9 e 12. Neste caso, não se conhece variação de antígenos como acon rece com o antÍgeno O 12 de S. Pullorum. 
É passível de confusão o diagnósrico bacteriológico do tifo aviário e da pulorose, em virtude da similaridade quanro ao comportamento bioquímico e esrrutura antigênica dessas duas salmo nelas. 
A virulência da S. Gallinarum está relacionada à compo­sição de lipopolissacarídeo - LPS (antÍgenos somáticos) e com presença de plasmídeos; cepas com o l.PS alrerado diminuem a virulência mesmo na presença desres plasmídeos (8')kb). Outros fatores de virulência como a produção de toxinas e a presença de fímbrias, parecem não ter importância na paro­genicidade da ,? Gallinarum para as aves. 
EPIDEMIOLOGIA Transmissão 
A rransmissão de S. Gallinarum pode ocorrer por via horizomal. R~laras mais antigos consideram que o agenre do tifo aviário p( \er veiculado pela transmissão vertical, embora recente­l11~e, Berchieri J r. et aI2 . .J não tenham conseguido obter ovos contaminados após infecção experimental de aves adultas. 
A bactéria pode se espalhar por todo o corpo do animal, durante a fase da doença, principalmente, na fase final, quando a ave está indo a óbito. O contato entre ave doente e ave sadia, presença de aves mortas na granja, canibalismo, são farares importantes na rransmissão do tifo aviário. Falta de higiene, falta de limpeza, a presença de moscas, pássaros, uru­bus, roedores, ete., podem contribuir para disseminar o agente da doença em propriedades avícolas. Veículos que transpor­tam aves, esterco e ovos são meios dlcientes de disseminação da bactéria, especialmeme aqueles que entram em várias gran­jas sem lavagem e desinfecção prévia. Pessoas que rrabalham em granjas ou transitam em propriedades avícolas podem aruar como elementos de disseminação do agcIlle do tifo avi,Üio. 
Desempenha importanre papel na epidemiologia do tifo aviário a presença de animais mortos na granja. Segundo Oli­veira et (/1.4, aves inlectadas, eXperimentalmente, ao morre­rem e permanecerem na gaiola por 48h, provocaram a morte de um nÚmero expressivo de aves sadias que esravam em contato, em comparação com grupo de aves, em que as aves morras eram retiradas rapidamente. 
Aves como aquelas que pertencem a linhagens leves e não apresentam morraJidade, quando inoculadas experi­men talmenre podem apresenrar alterações de órgãos i n­ternos. Mesmo sem apresentar sinais da doença, a bactéria pode ser encontrada no fígado e baço 4 semanas após a in­fecção. Nesse caso, essa ave indo a óbito, mesmo que não seja pelo tifo aviário, ocorrerá difusão da bactéria pelo corpo do an imal, que acaba se transformando em fonte de S. Ga]linarum. Galinhas infectadas, suscetíveis ou resistenres, na ausência da doença clínica, eventualmente, eliminam a bactéria nas fezes. 
Morbidade e Mortalidade 
A mortalidade pl'Ovoclda pelo tifo aviário pode chegar a 40 a 80% do planteI. Observa-se que algumas aves adoecem e aca­bam morrendo em 7 a 14 dias. Esse processo é contínuo e, aos poucos, vai acometendo mais aves do plantei, tendo-se no final, mortalidade dentl'O dos parâmerros mencionados. Muiras vezes, a morte é decorrente da doença e de intoxica­<,~ão pelos medicamentos usados para combarê-la. S. Gallinarum produz perdas econômicas por meio da mortalidade, morbidade e redução na produção de ovos. 
Smith) observou que aves adultas são mais susceríveis a infecção, porém a idade não influencia a taxa de morbidadel mortalidade, Lima que aves jovens api'esenram o mesmo com­porramento das adulras. 
Distribuição e Ocorrênda 
É uma doença de distribuição mundial, que tem estado sob controle em países da Europa e da América do Norte. O tifo aviário tem sido descrito em países cuja avicultura industrial está em desenvolvimento e naqueles onde se encontram aves criadas livremente. Mesmo assi m, essa doença tem ocorrido em países da Europa, como Alemanha e Dinamarca. Na América Latina, ocorre em virios países, entre os qLlais México. No Brasil, tem ocorrido em alguns períodos com maior imensi­dade, como aconreceu nos anos 1980 e início dos anos1990, representando 65 a 67% dos isolados totais de Salmonella, sendo de 11 % em Santa Catarina e de 50 a 69% em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Os relatos são mais comuns em granjas de postura comercial. embora o tifo aviário possa ocorrer enrre aves reprodutoras (para corre e postura comercial). 
O Brasil adotou em 199'), o qual entrou em vigor em I!' de janeiro de 1996, um conjunto de medidas consolidadas sob o chamado Programa Nacional de Sanidade Avícola. O plano visa controlar a ocorrência de doenças de Newcastle, micoplasmoses e salmoneloses. 
PATOGENIA E EPI%OOTlA Patogen iddade 
A patogenicidadc dao salmo nelas depende de uma série de [uores associados à bactéria, à ave e às condições de cria<;ão. Alguns sororipos são mais restritos ao trato intestinal, enquan­ro oLltros são capazes de invadir a corrente circulatória, po­dendo desencadear sepricemia.
 A associação e penetração da bactéria na mucosa digesti­va é um pré-requisito para a infecção sistêmica, em que ou­tros tipos de células são invadidas. As formas de invasão e colonização de salmonelas têm sido esrudadas por meio de métodos de análise de genes e cultura em sistema de tecido. 
A invasão ocorre especificamente via superfície apical onde a Salmonella induz ruptura e afastamenw das microvilosidades, que precede a endocitose. A Salmollellf/ migra através da cé­lula. Acredita-se que a invasão ocorra por um receptO[ media­dor de endocitose, embota receprores não renham sido idenrificados. A complexidade do mecanismo de invasão da Salmonella mostra sua alta capacidade de invadir diferenres tipos de células. De acordo com Kaiser et al(" Salmonellf/ Gallinarum não induz resposra inflamarória, limitando a ação do sistema imune e podendo levar a grave doença sistêmica. 
Durante a infecção sistêmica, a maioria das salmonelas estáo associadas amacrófagos e fagóciws polimorfonucleares, e a habilidade para multiplicar dentro dessas células é um pré-requisiro para a virulência. 
Uma das alteraçóes parológicas mais conhecidas do tifo aviário, a grave anemia hemolítica que pode levar à perda de mais de 70% dos eritróciros circulantes rotais, já foi descrita sob vários aspectos e provavelmente o efeito de mudanças hemarológicas pode ser altamente significativo na patogênese do tifo aviário. Essa anemia seria decorrente do ataque de anticorpos a fragmentos de LPS ligados a hemácias. 
Fatores de Virulência Lipopolissacarídeo da Parede Celular 
O andgeno lipopolissacarídeo (LI'S) da parede celular, que envolve a camada da parede celular da Salmonella, é constituí­do de lipídeos (principal endoroxina do LPS), core imerno e oligossacarídeos e é responsável pela inreração com macrófago, sensibilidade ao compJemenro, diminuição da susceribilidade aos pepddios catiônicos, ação endoróxica e proteçao contra ação anribacteriana das enzimas lisossomais. Portanto, o LPS é um importante fator para a virulência da Salmonella. 
Plasmídeos 
Plasmídeos de alto peso molecular têm sido encontrados em vários sorotipos de Salmonella. Eles estão associados à viru­lência da cepa, facilitando a invasão e o crescimento da bacté­ria em órgãos, tais como fígado, baço e macrófàgos residenres, porém, exercendo pouco ou nenhum efeito na invasão do epitélio imestinal e placas de Payers. Os plasmídeos também contribuem para aumenrar o período de sobrevivência da bactéria no sistema reticuloendotel ia\. 
Segundo Ch ristensen et af.7 a maior parte das cepas isola­das de SalmonellaGallinarum carreiam um plasmídeo de 85kb, associado à virulência, ou não carreiam nenhum plasmídeo. 
Hospedeiros 
As galinhas são os hospedeiros narurais do agenre do tifo avi­ário. Mas outros galináceos também são considerados susce­tíveis, bem como outras espécies de aves. Palmípedes e pombos parecem ser resistentes. As linhagens de galinhas leves são consideradas mais resistentes, enquanto as semipesadas e as pesadas são consideradas suscetíveis à doença. Embora não seja comum, as linhagens leves de galinha de posrura comer­cial podem desenvolver a doença clínica. Ainda não esrá claro o seu papel na epidemiologia do tifo aviário, quando não se nota manifestação clínica. SalmonellaGallinarul1l já foi isola­eia de ou tros animais, como raws, ch im panzés, raposas, coe­lhos e cobaias. 
Sinais Clínicos 
A doença rem sido mais observada em aves adultas. As aves ficam quietas, prostradas, deitam-se, não se alimentam, apre­scnram diarréia amarclo-esverdeada a esverdeada, observa-se queda de postura, dispnéia e grave anemia até à morre. Algu­mas 3ves se recuperam. O curso da doença é de 5 3 7 dias, mas pode ser mais longo. Em lores acometidos pelo tifo 3vi:í­rio, a mortalidade não ocorre de um3 só vez. No início, 3lgu­mas aves ficam doenres e, enrre estas, algumas morrem. Posreriormenrl:, esse quadro se repere v;Írias vezes, de modo que, grande parte do lote pode ser acometido e a mortalidade tlnal rorn3-se signific3tiva. Quando a doença acomete aves jovens, o quadro pode ser confundido com a pu!orose, sendo diferenciado somente apÓs o isolamento e idenritlclção do agente. 
Alterações Anatomopatológicas 
o tifo aviário é Ullla doença com características de sepricé­mia e roxemia. Haved congestão dos órgãos internos e :llle­mia provocada pela destruição de hemácias pelo sistema reticuloendorelial. Nos quadros agudos, as alterações não são muito proeminentes. O fígado e o baço aumentam de ramanho,3 a 4 vezes. O fígado rorna-se friável, esvcrde;ldo, amarelo-esverdeado a bronzeado e cheio de pontos necrÓticos (esbranquiçados) e hemorrágicos. A vesícula hiliar esrad distendida em função do aumento de volume de bile. Os pontos necróricos rambém aparecem no baço e no coração. No baço, nor3-se ainda pontos de hemorragi3. Nos casos em que o curso da doença é mais longo, podem-se observar processos inflamatórios, formando nódulos esbranquiçados no coração, no baço, nos pulmões, nos rins, na moda, no pâncreas, no duodeno e nos cecos. O processo inflamatório no coração poded atingir o pericárdio, que se tornará opaco, assim como o líquido do saco pericárdio. Os rins poderão estar amarelados e o ovário, ou atroriado ou com os folí­culos ovarianos hemorrágicos, murchos, congestos, cÍsricos, disformes, contendo material caseoso ou hemorrágico em seu interior. Em pintos novos, as lesões são semelhanres às no­tadas na pulorose. 
As aves, de linhagens leves, que são consideradas mais re­sistentes ao tifo aviário, podem apresent3r a doença clínica. De modo geral, pouco seriam as aves do lote que adoeceriam e chegariam ao óbito. Colltudo, aves infecradas experimen­ralmenre desenvolveram lesóes e queda de postura sem, no entanro, apresentarem mortalidade. 
Imunidade 
A imunidade da ave contra o agcnre elo tifo 3viário é pouco conhecida. A presença de aglulininas não significa proteção. Emhora os anticorpos devam participar do processo de eli­minação de S. Caliinarul11 pela ave, o sucesso dependerá da imunidade celular. Este controle tem sido atribuído ao sisrema reticuloendotelial (SRE). Duranre a fase aguda da infec­ção, ocorre a reaçáo antígeno-anticorpo, que resultaria em um tipo de I-e<lÇão anaflLítica de hipersensibilidade, que po­r:leria resultar em sintomarologia e morte. Esse raciocínio foi usado para explicar a anemia das aves. De acordo com esses autores, a destruição da bactéria por lise do LPS, culminaria no seqüestro dos fragmentos pelas hem,kias e, estas, seriam destruídas pelo SRE. 
DIAGNÓSTICO 
o diagnóstico do tifo avi,írio é feito com base nos achados clínicos, anatomopatológicos e exames laboratoriais. Provas soro lógicas, como os testes de pulorose e soroaglurinação lenta detectam anticorpos ami-S. Gal!inarum. Os resultados são passíveis de confusão com aves infecradas por S. Pullorum ou por outras salmonelas que possuam antígenos em co­mum, como aquelas do grupo D. O ensaio imunoenzim,írico < \orção em fase sólida, EUSA, pode apresentar resulta­db,mais específicos, mas sem diferenciar a resposta entre aves infectadas por S. Gallinarum ou S. Pullorum; porém, diferencia-osde 5'. En teri tidis. Enrretan to, para a definição do diagnóstico, deve-se realizar o isolamento e a idenrifica­ção da Sa/monefLa, que produz colônias pequenas em meios seletivos em ágar e produzem pouco ou nenhum I-!2S em ágarTS! (ágar tríplice açÚcar ferro). Uma análise bioquími­ca mais completa e a sorologia complementam as etapas necessárias para a definição correta do soroeipo. Destaca-se entre os órgãos de eleição para pesquisa do agente: baço. fígado, ovário e coração. 
Diagnóstico Diferencial 
o diagnóstico diferencial deve ser feito com relação :ts outras salmoI1eloses. Mesmo considerando-se que o quadro seja o tifo aviário, o isolamento e a identificação do agenre são im­prescindíveis para o diagnósrico final. Doenças infecciosas. como colibacilosc, pasteurelose, micoplasmoses e doença de Marek, podem ser confundidas com o ti!;) aviário. 
TRATAMENTO 
o tratamento pode reduzir a mortalidade, mas náo elimina o portador. Sulfonamidas e nitrofuranos são drogas que a(LIam sobre Sa/monefLa. As sulfonamidas podem reduzir a ingestáo de ,ígua e alimento e prejudicar o desenvolvimento da ave e a produção de ovos. 
As sulEls englobam sulhdiazina. sulf-amerazina, sulfatiazol e slIJbquinoxalina. A utilização de sulfas nos primeiros 5 a 10 dias de vida reduz ,i mortalidade. Entretanto. a mortalidade volta a ocorrer após a retirada do medicamento. Vários anti­bióticos, como clorallfenicol. clortetraciclina e apramicina, são indicados para reduzir a mortaliclade. 
Já foi observada resisrência para todas as drogas mencio­nadas. Assim, a recomendação de drogas antimicrobianas deve ser precedida de antibiograma. Tendo em visra que a doença é mais comum em aves adultas e a mortalidade pode persisrir por períodos prolongados, é preciso tomar cuidado para não intoxicar as aves com a administraçáo prolongada de antimicrobi:lI1os. Mesmo na presença de U.iTl surro de tifo aviáriO. o maior aliado do rratamento é a adoção de medidas de limpeza e higiene bem como a eliminaçáo rápi­da e correra de aves mo nas. 
PREVENÇÃO E CONTROLE 
O conrrole da Sa/monel/a foi conseguido em muitos países pela adoçáo de medidas coordenadas de vigilância sanirária. associada a exames sorológicos e sacrifício compulsório para as aves infectadas por S. Pul!orum e S. Gallinarum. 
A manurenção do ambiente livre de microrganismos. ou pelo menos a sua manurençáo em um nível mínimo de con­raminaçáo, reduz o aparecimenro de doenças. Para se obter uma eficaz redução, nccessira-se basicamenre de granjas iso­ladas, limpas e desinfetadas (aviário e equipamentos), con­troles de insetos. roedores. pássaros, manejo de cama correm. idade única de criação, equipamentos bem dimensionados e modernos. conrrole de visitas e de animais domésticos, além dos registros dos dados de prod uçáo, ete. 
A limpeza e desinfecçáo exercem importante papel na minimizaçáo de fontes ambienrais de Sa/mone//a para a ave. No entanto, programas inadequados e a ineficiência de al­guns produtos na presença de maréria orgânica, não COIlSe­guem evitar a conraminaçáo das aves. 
A prática da desinfecçáo é muito importante, pois é sabi­do que o sistema imunológico dos pintainhos ao nascer, pos­sui apenas 30% de seu desenvolvimento. Assim, o melhor programa de prevenção baseia-se na limpeza, higiene e desin­fecção da granja. Cuidados com dejetos, evitar água parada. destino correto e rápido de animais mortos, cuidado com veículos que transportam aves, raçáo e suas matérias-primas, fezes (cama) e ovos. entre outros. 
Além das medidas de ordem geral, imprescindíveis para o controle do tifo avi,írio, estáo disponíveis vacinas vivas e inativadas (bacterinas) contra o tifo aviário. As bacterinas não conseguem apresentar resultados satisf-arórios, embora promo­vam resposta intensa de anticorpos. As vacinas vivas constitu­em-se de cepas de S. Cal! inaruI11, que tiveram atenuada a sua patogenicidade. A mais conhecida é a 9R. Esta vacina foi ela­borada com uma cepa rugosa de S. Gallinarum, caracterizan­do-se pela indução de uma resposta imune sem causar danos graves à economia animal, embora haja registros de que a vaci­na possa provocar alterações comuns ao tifo aviário. 
Relata-se que vacinas mortas não protegem contra tiFo aviário. entretanto, investigações realizadas por Bouzoubaa et a/s mostraram que :l proteçáo conrra S. Callinaru m pode ocorrer quando se usa uma proteína de membrana externa. 
Zhang-Barber et (z/.'i demonstraram proteção contra tifo aviário em infecções experimentais por uma cepa modificada (nuoG; que não possui arividade enzimática desidrogenase 1. 
Destino das Aves Mortas 
As aves monas rcprcsentam uma tome de contaminação pai-a a granja. Uma maneir:l dicienre e prática de eliminar as aves mor­tas é: incineraçáo. autoclave, digestor ou enterramento. Na im­possibilidade de utilizar esses métodos, pode-se tentar dar outras formas de desrinos :ts aves mortas. como a construçáo de uma fossa, que deve ser revesticla e coberta com lajes de concreto, com uma abertura de tampa móvel para a introdução dessas aves.
Paratifo Aviário 
Raphael Lucia Andreatti Filho 
INTRODUÇÃO 
o termo salmonelose aviária designa os vários grupos de do­enças das aves determinados por qualquer membro do gêne­ro Salmonelfa. Porém, somente a Salmonelfa Pullorum, responsável pela pulorose, e a Salmrme!/aCallinarum, respons;í­vel pelo tifo avi<írio, determinam doenças clínicas caracterís­ticas que podem acarretar enormes prejuízos à avicultura mundial, estando classificadas como sorovares hospedeiro­específicos das aves e com a peculiaridade comum de ausên­cia de motilidade. Os demais sorovares de Sabnonella com potencial para determinar problemas às aves, ou mesmo ape­nas as colonizar, estão agrupados como paratifo aviário ou, também, infecção pararifóide, cuja característica comum é a morilidade desses sorovares. Pulorose e tifo aviário são doen­ças já erradicadas em muitos países. Na América Larina, prin­cipalmente nas rrês Úlrimas décadas, e sob controle aparenre, ocorreram alguns surros ou isolamentos em reprodutoras so­bretudo em poedeiras comerciais vennelhas. Diferentemen­te dos sorovares Pullorum e Gallinarum, que se encontram erradicados ou sob estrito conrrole na maioria dos países de avicultura desenvolvida, os demais esrão presentes e ocorrem em todo os ripos de criação de aves no mundo inteiro. Entre os diversos sorovares isolados de aves, apresenrando ou não si nais da doença, estão o Enteri ridis, princi palmente nas duas Úlrimas décadas, seguido pelo Typhimurium, assim como Agona, Anarum, Cubana, Hadar, Heidelberg, Mbandaka, Monrevideo e Senftenberg, entre outros, foram identificados. 
Quadros enréricos dererminados por sorovares do grupo pararifóide são relarivamente comuns, enquanto formas agu­das rendem a se manifesrar somenre em aves jovens ou adul­tas sob condições estressantes, como a presença de outra doença e dieta e/ou manejo inadequados. Em geral, os soro­vares pertencentes ao grupo paratifóide colonizam o trato intestinal, sem determinar qualquer sinromatologia, uma vez que não são específicos de aves, mas com adapração suflcien­re para persistir no intestino destas, possibilitando a eventual contaminação das carcaças e ovos. 
Os produtos de origem avícola, juntamente com os lácteos, são comumenre implicados em surros de salmonelose em humanos. E é esse aspecto que vem m;lximizando a importân­cia dos sorovares paratifóides, especialmente Enreritidis, no con­rexto amplo da avicultura industrial, pois enquanto Pullorum e Callinarum determinam sérios prejuízos à produção avícob e não se relacionam com a doença em humanos, os paratiFóides conrrapõem essas caracterísricas, sendo respons,íveis por gra­ves doenças gastroinrestinais em hu manos. Alguns desses sorovares, intrinsecamente adaptados às aves, podem, a par­tir do trato gasrroinreslinal, invadir a correnre sangiiínea c atingir órgãos como Fígado, coração e ovário, proporcionan­do a transmissão rransovariana e possibilirando amplas con­dições para a contaminação das carcaças, racilitada durame oprocessamenro industrial destas, bem como a contamina­ção dos ovos, propiciada pelo manuseio inadequado desse~ e condições não apropriadas de armazenamento. 
O gênero Salmonellaapresenta essa denominação em ho­menagem ao vcterin,íriu e bacreriologisra Oaniel E. Salmun. Sáo conhecidos mais de 2.500 surovares, capazes de infectar além do homem, uma extensa lista de animais de sangue quen­te e fi-io. A sorotipagem de Salmollella spp. baseia-se na iden­tificação dos antígenos somáricos (O), capsular (Vi) e flagclares (H). Os antígenos son1<Íricos são represenrados por meio de' nÚmeros arábicos, enquanto us flagelares são designados por lerras minllsculas do alfabeto c por nÚmeros arábicos, sendo esses Úlrimos portadores de duas ras<'s, denominadas I e 2. Esse esquema de classificação, desenvolvido por KauFfmann­Whire, permite praticidade na idenrificação dos milhares de sorovares diferentes de Salmonella conhecidos atualmenre. O sistema de classificação e nomenclatura do gênero Sa/monella vem sendo modificado, ao longo do rempo, para melhor aten­der e corresponder ao ecossistema dessas bactérias. Recenre­mente, o Centro de Referência e Pesquisa de Sa!rnor/e//rz, sugetiu que o gênero Salmone!la seja c1assificadu em apenas duas espécies, ou seja, S. enterica, isolada mais comumente do homem e de animais de sangue quente e S. bongori, isolada usualmente de animais de sangue f·i-io. A espécie enterictl fi­cou dividida em seis subespécies: enterica, salamae, arizolltle, diarizollae, hOlltenae e indica. Na subespécie enterica, estariam enquadtados os principais sorovares patatifóides, em especial, Emeritidis e Typhimurium. Assim sendo, os sorovares receberiam a grafla de S. enterim sp. mterica sorova r Enreritidis ou'lyph i­murium. A denominação dos sorovares foi, a princípio, baseada nas espécies de animais aferados, como é o caso da S. Aborrus­ovis no aborto de ovinos ou S. Typhimurium de epidemia, em ratos. Entreranro, atualmente, denominam-se os novos sorovares com base na origem geográfica, ou seja, onde estes

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