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AS QUESTÕES AMBIENTAIS ENQUANTO PROCESSO DE PESQUISA NO SERVIÇO SOCIAL

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AS QUESTÕES AMBIENTAIS ENQUANTO PROCESSO DE PESQUISA NO SERVIÇO
SOCIAL
Marli Renate von Borstel Roesler
Eugênia Aparecida Cesconeto
Ana Rosa Salvalagio
Micheli Cristine Schneider 3 
RESUMO
A aproximação às demandas contemporâneas da questão ambiental, no contexto das
grandes mudanças sociais provocadas pela recente revolução produtiva, tecnológica e
formativa, dentre outras que se manifestam nos processos de desenvolvimento, leva-
nos a formular em 2003 o projeto de pesquisa sobre indicadores ambientais: conceitos
e aplicações, a partir de estudos de programas de gestão ambiental implementada na
região oeste do Paraná, na fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. Região essa
localizada na área limítrofe da Bacia do Paraná III e que se encontra sob o maior
manancial de água doce subterrânea transfronteiriça do mundo - o Aqüífero Guarani. A
presente pesquisa tem como um dos objetivos éticos a produção do conhecimento
emancipatório da questão ambiental e da educação ambiental na qualificação dos
acadêmicos e profissionais de Serviço Social, com reflexos nas intervenções coletivas
em conflitos nas relações da sociedade no meio ambiente. A consolidação de espaços
universitários fomentadores de pesquisas transdisciplinares e de estudos alternativos
de indicadores ambientais faz-se necessário como forma de transgredir disciplinas
científicas e fortalecer diálogos com conhecimentos extraídos também do senso
comum, das múltiplas realidades e das relações que podem vir a comprometer a
sobrevivência da humanidade e demais espécies vivas no planeta. A discussão pautada
na proposição do saber ambiental vem ganhando cada vez mais espaços nos
processos formativos e interpretativos das ciências naturais e sociais aplicadas,
destacando aqui o Serviço Social que sistematizou estudos e pesquisas envolvendo a
questão ambiental, indicadores de avaliação de atitudes e comportamentos humanos. 
PALAVRAS CHAVE: Questões ambientais, Pesquisa e Serviço Social. 
NOTAS INTRODUTÓRIAS
O presente ensaio teórico fundamenta-se no projeto de pesquisa: Estudo de
indicadores ambientais: conceitos e aplicações em projetos de gestão ambiental na
Bacia do Paraná III. Referências: Ações do Programa Nacional de Meio Ambiente II
(PNMA II) e Cultivando Água Boa, institucionalizado no ano de 2003, junto a Pró-reitoria
de Pesquisa e Pós-graduação após ter sido apreciado pelo Colegiado do Curso de
Serviço Social da UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, em
conformidade com as diretrizes implementadas no projeto Político-Pedagógico. 
A proposta investigativa sobre indicadores ambientais busca subsidiar inicialmente o
conhecimento teórico das relações natureza - sociedade, a partir do entendimento da
questão ambiental. Particularmente, em sua problematização nas transformações da
natureza, do ser e do saber, em suas implicações com o processo de desenvolvimento
em curso, tendo como base referencial às ações humanas produtivas e a apropriação
dos recursos naturais, as condições desejáveis de qualidade de vida, de consumo e de
sustentabilidade no planeta terra. 
Isso torna propício ao processo educacional o estudo de indicadores ambientais devido
à necessidade de trocar experiências interdisciplinares para superar as dificuldades em
vista do avanço do conhecimento científico e tecnológico que permita aos cidadãos a
discussão das questões ambientais e as conseqüentes transformações de
conhecimentos, valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída. 
O uso de indicadores é assim, uma metodologia indicada para avaliação do
comportamento ambiental, bem como instrumento de gestão ambiental, uma vez que,
são considerados modelos que descrevem as formas de interação das atividades
humanas com o meio ambiente. Entretanto os indicadores ambientais são apenas uma
das ferramentas disponíveis para a avaliação ambiental, sendo necessária uma
interpretação cuidadosa para que possam traduzir os seus significados efetivos.
O estudo de indicador ambiental apresenta relevância a partir do entendimento
expresso na avaliação ambiental estratégica, na busca de novos conhecimentos da
questão ambiental, o que nos permite analisar no contexto da tradição da teoria social
crítica os problemas ambientais e sociais locais integrados, bem como formas de
soluções e/ ou enfrentamento coletivo aos seus impactos no sistema de relações entre
indivíduos pertencentes a classes sociais. Questão ambiental essa estruturada a partir
das relações de produção e que são por sua vez, constituintes da base de sustentação
da vida material e da natureza.
A metodologia utilizada para que pudéssemos desenvolver nosso estudo foi uma
aproximação da pesquisa teórica sobre o tema, isso é, através de revisões
bibliográficas buscamos colher concepções de diferentes autores que discutem os
indicadores ambientais não distanciados da compreensão da teoria social e da questão
ambiental, sob pontos de vistas avaliativos diferenciados e complementares, no sentido
de ampliar a percepção e diálogo acerca dos pressupostos conceituais e metodológicos
que orientem para uma práxis crítica em educação ambiental. Um conhecimento teórico
que contraponha o entendimento ainda restrito a perpetuação da lógica instrumental do
sistema vigente, ao reduzir o ambiental a aspectos gestionários e comportamentais,
morais e éticos, e não numa dimensão totalizante que envolve a análise estrutural dos
problemas ambientais. 
Desse modo, como descreve LOUREIRO (2000, p. 13), a ausência de crítica política e
análise estrutural dos problemas ambientais na sociedade contemporânea acabam por
reproduzir os eq uívocos da sociedade moderna, que impedem a ação educativa de ser
um dos pilares na construção de processos democráticos e participativos visando
benefícios na qualidade de vida das espécies, na consolidação de uma nova relação
sociedade-natureza, a partir de um sistema que assegure as condições materiais de
igualdade social em bases efetivamente sustentáveis. 
QUESTÕES AMBIENTAIS: AS INTERFACES DA RELAÇÃO SOCIEDADE-
NATUREZA
A Constituição Federal de 1988 criou as condições objetivas de flexibilizar a
administração da política ambiental pautando-a na descentralização, permitindo que
estados e municípios brasileiros assumissem uma posição ativa no enfrentamento das
questões ambientais locais e regionais (até então marginalizada e incipiente nas
reflexões intelectuais e discussões ambientais). Como se observa em estudos teóricos,
voltados aos movimentos sociais (onde se inclui o ambientalismo) e nas formas de
implementação das diretrizes da política ambiental nacional e no Estado do Paraná, nos
últimos anos. Projeta-se nas posições legais e institucionais o controle participativo de
proteção dos recursos naturais, busca-se maior integração entre as diversas esferas
governamentais, os agentes econômicos e o associativismo civil na implementação de
ações, programas e projetos ambientais adaptados à realidade econômica, social,
ambiental e cultural de cada Estado, bem como, seus respectivos desdobramentos
territoriais. Contudo, pode-se dizer a discussão das questões ambientais são
desafiadoras ao debate social, na sistematização de conhecimento, nas práticas
alternativas nas ciências sociais aplicadas e no Serviço Social no início do século XXI. 
Estados e regiões se destacam assim, mais que outros, na implementação de políticas
e programas de gestão ambiental integrada a outras políticas setoriais, como o caso da
agricultura, pecuária, recursos pesqueirose florestais, do saneamento básico, da
saúde, tendo em vista a singularidade dos processos sociais e produtivos em questão,
no município de Toledo e adjacências. Sendo que este tem a organização da atividade
produtiva na suinocultura, resultando em impacto ambiental, e que passam a
demonstrar a importância da consciência ecológica dos atores sociais, quanto à
necessidade de definir parâmetros produtivos e de consumo sustentável dos recursos
naturais, bem como, de consolidar medidas regulatórias de conservação dos espaços
naturais remanescentes. 
Tomamos aqui como exemplo, dados divulgados no documento “Plano de
Desenvolvimento Rural Sustentado de 2005”, que discorre sobre a produção
agropecuária do município e a necessário do trabalho interventivo frente aos problemas
ambientais advindos do processo produtivo intensivo adotado. Também se apresenta
como um problema político, pois diz respeito ao aproveitamento sustentável dos
passivos ambientais gerados nos últimos anos. Desafios esses que passam a fazer
parte do cotidiano do trabalho dos profissionais Assistentes Sociais formados pela
UNIOESTE/Campus Toledo.
Na produção agropecuária, o município de Toledo se destaca atualmente na
suinocultura ocupando o segundo lugar no conjunto da produção de valor, perdendo
unicamente para a soja. Na avicultura, o município ocupa o terceiro lugar, após a soja e
a pecuária leiteira. Na produção avícola, em 2002, Toledo contava com um plantel de
mais de 60 milhões de aves, gerando em torno de 39% do PIB agropecuário do
município, situando-o como o maior produtor de aves do Estado. Estas duas
produções, a de suínos e de aves são realizadas por meio de um sistema integrado
com empresas, como a Sadia, a Globoaves e demais cooperativas de grande porte
existentes.
De acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento
SEAB/PR e do Departamento de Economia Rural do Estado do Paraná - DERAL de
2003, o município de Toledo responde, atualmente, por 13% de toda a comercialização
estadual de suínos. Em 2002, o município foi o maior produtor do Estado, contando
com um plantel de mais de 306 mil animais, incluindo matrizes, machos e filhote. O
município também é a sede das duas únicas Estações de Testagem de Reprodutores
do Estado (ETRS), que estão sob a responsabilidade da Associação Regional dos
Suinocultores do Oeste do Paraná (Assuinoeste), que recebe animais de outras
Regiões e Estados para efetuar diversos tipos de avaliações e testes, como a medição
da espessura do toucinho, o ganho de peso por dia e a conversão alimentar.
Tabela 1. Número de cabeças de bovinos, suínos e aves no município de Toledo
(período 1989-2002).
Plantel de bovinos, suínos e aves - 1989/2002 (Alojados)
ANO BOVINOS SUÍNOS AVES
1989 83.650 cabeças 167.828 cabeças 8.860.700 cabeças
90/91 66.214 cabeças 163.820 cabeças 9.353.893 cabeças
1992 57.197 cabeças 196.875 cabeças 9.820.667 cabeças
94/95 48.504 cabeças 224.200 cabeças 12.412.141 cabeças
95/96 45.474 cabeças 182.850 cabeças 10.091.830 cabeças
98/99 72.190 cabeças 232.900 cabeças 12.642.201 cabeças
2001 54.328 cabeças 292.375 cabeças 7.951.260 cabeças
2002 54.465 cabeças 306.900 cabeças 11.842.180 cabeças
 Fonte: Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável de Toledo, 2005. 
O município de Toledo ocupa um dos primeiros lugares na produção de leite do Paraná,
tanto em volume quanto em produtividade. Trata-se, no entanto, de uma produção em
pleno crescimento. Em 2000, por exemplo, produziu 42 milhões de litros e, dois anos
depois (em 2002), ultrapassou os 53 milhões de litros. Os programas de melhoramento
genético, controle sanitário, manejo, alimentação e capacitação técnico-profissional
implantados no município são os responsáveis por este desempenho (Plano de
Desenvolvimento Rural Sustentável de Toledo, 2005, p. 27-28). 
Quanto aos aspectos ambientais o município de Toledo viveu situações profundamente
contraditórias. Inicialmente a devastação das matas, começando na beira dos rios e
subindo pelas encostas. Contudo, foram realizadas ações positivas que repercutiram
em termos nacionais, como, por exemplo, quando se tratou de estruturar o trabalho
integrado em micro-bacias hidrográficas, com a introdução do plantio direto e,
finalmente, com a campanha no sentido de institucionalizar a coleta de recipientes de
agrotóxicos nos últimos anos, ações essas que procuram reverter à crise ambiental
causada pelo homem e seu modelo de produção.
O desmatamento feito entre as décadas de 1940-1970, combinando os avanços
tecnológicos as práticas agrícolas, adotados a partir dos anos 1970, acabou
substituindo na quase totalidade a riqueza natural por obras e, sobretudo, por uma
agricultura pautada em técnicas e em produtos químicos, causando enormes
desequilíbrios ambientais e gerando ambientes extremamente artificiais. Problemas que
passam a ser sentidos pela população como um todo, principalmente no tocante a sua
saúde, fragilidades essas, que acabam por demandar investimentos financeiros e
também intelectuais. 
Em termos quantitativos, segundo dados do Instituto Ambiental do Paraná, estimou-se
em 2004, que as áreas de mata nativa no território do município, atingem não mais do
que 5%, com destaque para pequenas reservas, muitas delas urbanas, e para os
pequenos trechos de mata ciliar. Como resultado dos processos produtivos e
ambientais decorrentes das práticas humanas e fenômenos naturais, alterou-se a
própria relação água e solo proporcionando menor infiltração para os lençóis
subterrâneos e maior escorrimento superficial, causando o processo erosivo do solo,
que foi sendo facilmente desagregado e lixiviado, ficando pobre em nutrientes.
Gradativamente, com a estruturação dos sistemas produtivos com base nas micro-
bacias, realizou-se um processo de recuperação dos solos e de proteção dos recursos
hídricos (Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável de Toledo, 2005, p. 33-34).
Tabela 2: Extensão dos Rios e Arroios do município de Toledo
NOME DO RIO EXTENSÃO DO RIO (KM)
Rio Toledo 26,50
Rio São Francisco 72,10
Arroio Guaçú 20,00
Arroio Marreco 38,30
Rio Dezoito de Abril 28,00
Rio Santa Quitéria 34,70
Total 219,60
Fonte: Plano de Educação do Município de Toledo, 2004.
Um dos efeitos maiores desse processo, aliado ao avanço da suinocultura na região,
foi, certamente, a destruição dos mananciais de águas, pequenos e grandes, muitos
deles sendo assoreados, matando a vida que neles fluía. O Rio Toledo é o mais
importante recurso hídrico local, corta o perímetro urbano do município e é utilizado
para o abastecimento de água para o consumo humano, foi um dos mananciais que
sofreu maior impacto dessas transformações, de modo que, hoje, vem sendo visto
como um passivo ambiental que precisa ser imediatamente recuperado. 
Enfatizando-se que até 1970, Toledo era eminentemente agrícola. Ou seja, naquele
ano a população rural atingia quase 70% do total e ultrapassava os 50 mil habitantes,
enquanto a população urbana contava com menos de 15 mil habitantes. A partir dessa
data, por um lado, se acelerou o fluxo migratório rural-urbano e, por outro, a cidade
recebeu um número crescente de pessoas oriundas de outros pontos do Estado e do
País. Assim, no ano 2000, de acordo com os dados do Censo do IBGE, o município já
contava com quase 100 mil habitantes, sendo a população rural pouco mais de 12 mil
habitantes (12%), a urbana aproximava-se de 86 mil (88%). Esse processo passa
demandar atenção da administração pública, devidoaos problemas que se vivencia,
como a falta de postos de emprego, agravamento da “questão social”, falta de política
social e ambiental, entre outros (Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável de
Toledo, 2005, p. 21). 
É importante notar, ainda do quadro de recursos hídricos introduzido acima que os rios
e córregos que compõem a hidrografia de Toledo correm no sentido leste-oeste,
desaguando no lago da Itaipu Binacional, de modo que a sua situação se reflete numa
ampla região e num sistema hídrico extremamente importante para o abastecimento
humano e produção de energia. Decorre dali, certamente, o que já é uma das maiores
ações no processo de recuperação do sistema hídrico, a Itaipu tomando por base a
bacia do Rio Paraná III vem desenvolvendo o programa Cultivando Água Boa em
conjunto com outras iniciativas governamentais, da sociedade civil e da iniciativa
privada. 
Porém, o que está em questão na região envolvendo a política hídrica e a execução de
programas específicos, não é, apenas, a água encontrada na superfície ou pouco
profunda, mas o complexo do Aqüífero Guarani, que é maior manancial de água doce
subterrânea transfronteiriço do mundo, e que está localizado na região centro-leste da
América do Sul, entre 12º e 35º de latitude sul e entre 47º e 65º de longitude oeste e
ocupa uma área de 1,2 milhões de Km², estendendo-se pelo Brasil (840.000 Km²),
Paraguai (58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina (255.000 Km²). Sua maior
ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total), abrangendo os Estados de
Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul (Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável de Toledo, 2005, p. 35). 
Fatos esses que nos colocam desafios a serem enfrentados, um deles, é o foco da
pesquisa acadêmica em curso, ou seja, discutir e subsidiar ações que garantam o
acesso e controle social do uso múltiplo dos recursos hídricos, direito humano e bem
público, pois, os impactos ambientais desse processo produtivo e de consumo afetam
às condições e características da natureza e da sobrevivência humana. Propõe-se
assim a alteração desse processo degradante, modificando ao longo da história a
promoção do desenvolvimento focado em parâmetros ampliados de sustentabilidade:
social, ambiental, política, econômica, produtiva, ética, dentre outras. 
O que nos leva a considerar que o planejamento ambiental deve ocorrer de forma
integrada, ou seja, não se limitando a divisão geopolítica ou territorial, nesse sentido às
ações por sub-bacias hidrográficas que formam a Bacia do Paraná III passa a ser uma
grande estratégia de gestão, frente à complexa interface da natureza-sociedade. 
Conduzindo-nos a pensar e estudar os problemas ambientais nas suas relações
interdependentes e multicausais, segundo padrões societários vigentes, dentre ele, os
desencadeados no processo de desenvolvimento em curso no Oeste do Paraná, região
formada por 51 municípios, e que conta com quase dois milhões de habitantes segundo
dados estimados pelo IBGE em 2005, num contexto territorial limítrofe com o Lago
Binacional de Itaipu e de fluxos populacionais migratórios na tríplice fronteira, isto é,
envolvendo os países sulamericanos Brasil, Paraguai e Argentina. 
Desta forma, os Programas de Controle da Contaminação Ambiental Decorrente da
Suinocultura no Estado do Paraná - PNMA II e Cultivando Água Boa, foram os pontos
de partida do estudo em questão, apresentam a princípio como foco de intervenção o
estimulo às mudanças produtivas e comportamentais necessárias à melhoria da
qualidade da água na bacia hidrográfica selecionada e os assentamentos humanos ali
localizados. 
Justifica-se assim que as ações de gestão ambiental a serem implementadas busquem
o entendimento ampliado do ambiente e da natureza associado às condições
estruturais, assegurando uma sociedade sustentável nas múltiplas dimensões que
compõem a vida. Mudanças de mentalidades, de transformação ética do conhecimento
e de práticas sociais produtivas mais sustentáveis passam a motivar novas relações
sociais e referenciais do saber ambiental na academia, que orientam os assentamentos
humanos na construção de um desenvolvimento em bases de eqüidade, democracia e
proteção da biodiversidade. Neste momento, com a atenção direcionada aos ativos
ambientais - isto é, aos recursos naturais que fornecem importantes serviços,
benefícios sócio-econômicos e tecnológicos para as comunidades locais, para fins de
produção e consumo, para a manutenção do equilíbrio ecossistêmico da Bacia do
Paraná III, para a consolidação da cidadania plena e ecológica. 
Destaca-se aqui que a bacia hidrográfica do Rio Paraná III segundo a Secretaria
Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, constitui-se como uma bacia peculiar
em termos de uso e conservação dos recursos hídricos nos 29 municípios de sua
abrangência direta na região oeste e no Estado do Paraná (www.sema.gov.br/2003).
Sua área de drenagem contribui para o potencial energético da maior hidrelétrica do
mundo e passa a desafiar o coletivo dos atores sociais no planejamento e gestão do
uso múltiplo ou social dos recursos hídricos e naturais além dos limites do reservatório
da Itaipu Binacional, tanto no lado brasileiro como paraguaio. Uma realidade geopolítica
e de gestão ambiental que reflete as conseqüências e responsabilidades nacionais e
internacionais, como a poluição sem fronteiras; a degradação dos ecossistemas; e o
uso dos recursos naturais disponíveis. 
As sub-bacias hidrográficas dos Rios Toledo e São Francisco Verdadeiro por sua vez
que, passam a serem entendidas como unidades de planejamento e de ações
integradas de gestão ambiental localizada, na perspectiva da consciência ecológica e
com incentivo às praticas inovadoras, tendo em vista a necessária promoção de
mudanças comportamentais dos cidadãos oestinos na sustentabilidade dos recursos
naturais. O projeto Controle de Ativos Ambientais - PNMA II implementado na sub-
bacia do rio Toledo sofreu em 2003 readequações e atrasos na execução das metas
planejadas em 2001-2202, com a participação de docentes da UNIOESTE e técnicos
das demais entidades conveniadas. Quanto aos recursos hídricos da sub-bacia do
São Francisco Verdadeiro, a mesma passa a ter maior atenção nas ações planejadas
pelo Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional e em fase de implementação
de mais de 60 projetos focalizados, muitos deles conforme diretrizes priorizadas pelos
Comitês Gestores. 
Nessa direção, podemos aproximar a posição da Organização das Nações Unidas -
ONU, que o mundo tem que melhorar a gestão de seus recursos hídricos caso
contrário esperam-nos graves conseqüências, como divulgado no dia mundial da
água, em 22 de março de 2003. A água além de ser um elemento fundamental para a
sobrevivência humana proporciona dignidade à vida dos indivíduos atendendo às
necessidades básicas, dentre elas higiene e saneamento. Contudo, mais de um bilhão
de pessoas em todo o globo não tem acesso à água tratada e quase 2.5 milhões de
pessoas vivem sem saneamento básico, e a falta de água potável é responsável por
80% das doenças e das mortes no chamado mundo em desenvolvimento. 
Para LOUREIRO (2000, p. 24) é relevante relacionar que as causas da degradação
ambiental e da crise na relação sociedade-natureza não emergem apenas de fatores
conjunturais ou do instinto perverso da humanidade. As conseqüências da
degradação ambiental ou da falta de acesso a condições ambientais favoráveis a
dignidade àvida dos indivíduos e outros seres vivos são conseqüências dos usos
indevidos dos recursos naturais dadas por um conjunto de variáveis interconexas,
derivadas das categorias: capitalismo, modernidade, industrialização, urbanização,
tecnocracia. 
A desejada sociedade sustentável supõe a perspectiva crítica das relações sociais e
de produção, tanto quanto ao valor conferido à dimensão da natureza no
entendimento da ética ecológica e da consolidação dos direitos humanos. Para
LOUREIRO (2000), o pragmático na construção da sociedade sustentável tem que ter
implícito o filosófico e o teórico, a gestão com qualidade, o tipo de sistema político e
econômico que a sustenta, a luta pelos direitos a natureza. 
O estudo de indicadores ambientais torna-se assim cada vez mais complexo exigindo
a troca de experiências para superar as dificuldades, e propor avanços no
conhecimento científico, entendido aqui, como pressuposto para uma prática
interventiva e educativa do Serviço Social. 
A avaliação dos indicadores ambientais requer uma relação que demanda ações de
indivíduos e grupos, que se fundamentem em aspectos psicológicos, culturais e
sociais, cujos reflexos são observados no modo como são explorados, os elementos
matriz, dos recursos naturais disponíveis. O uso de indicadores é assim, uma
metodologia indicada para avaliação do comportamento ambiental, bem como, um
instrumento de gestão ambiental, uma vez que, são considerados modelos que
descrevem as formas de interação das atividades humanas com o meio ambiente. 
Os indicadores ambientais referem-se a: 1) ao estado físico ou biológico do mundo
natural (indicadores de estado); 2) às pressões de atividades humanas que causam
modificações deste estados (indicadores de pressão; 3) indicadores das medidas da
política adotada como resposta a estas pressões, na busca da melhora do meio
ambiente ou da mitigação da degradação (indicadores de resposta). Assim, tem-se um
conhecimento que permite analisar problemas locais, subsidiar as ações a serem
desenvolvidas, e possivelmente apontar soluções concretas para eles (GRÜN, 1999:
p.88).
Essa exigência afeta diretamente tanto o campo da pesquisa da problemática ambiental
como o do ensino direcionada a formação acadêmica no Serviço Social compromissada
com decisões humanas, as quais são influencias por normas, símbolos, hábitos,
atitudes e valores culturais que incidem diretamente nos atos e comportamentos dos
indivíduos, no seu modo de viver e de trabalhar, socialmente determinado, conjugados
por elementos políticos e estruturais. Portanto, a problemática do meio ambiente, como
fenômeno sócio-ambiental lança-a na esfera política, entendida como esfera pública e
de decisões comuns. 
A ação investigativa abriu espaço e oportunidade de abordagens interdisciplinares na
execução do projeto: Gestão Integrada de Ativos Ambientais - Fase: Controle da
Contaminação Ambiental Decorrente da Suinocultura no Estado do Paraná - regiões:
oeste e sudoeste do Paraná e do Programa Cultivando Água Boa, parceria com a Itaipu
Binacional e outros órgãos regionais. Uma ação de profissionais do Serviço Social a ser
efetivada em conjunto com docentes e discentes da UNIOESTE e demais atores
sociais envolvidos. 
Estabelecendo como objetivos a participação nas atividades propostas pelos
programas; participar da programação dos seminários temáticos e dos sistemas de
avaliação dos trabalhos realizados; coordenar grupos de estudos acadêmicos sobre
indicadores sociais e ambientais emergentes do modelo produtivo sustentável;
aprofundar discussões sobre questões ambientais, políticas ambientais, e as diretrizes
da Agenda 21 Nacional/Estadual para a implementação de projetos locais e regionais
de desenvolvimento sustentável; participar da elaboração de textos e artigos voltados
aos interesses dos Projetos. Assim como, buscar o aprofundamento das leituras
bibliográficas; contribuir com subsídios teóricos do saber ambiental na execução do
projeto político pedagógico do Curso de Serviço Social/ UNIOESTE/Campus de Toledo,
com atenção às propostas apresentadas no Núcleo Temático: Políticas de População,
Desenvolvimento e Meio Ambiente e pelo Grupo de Estudo em Agronegócio e
Desenvolvimento Regional -GEPEC; desenvolver ações voltadas à educação ambiental
em parceria com órgãos locais, estaduais, nacionais e internacionais.
Sendo que parte desses objetivos transformou-se em projeto de iniciação científica,
possibilitando as acadêmicas do Serviço Social uma aproximação a temática de forma
sistematizada e organizada, conforme regulamentação interna da UNIOESTE. Por ser
uma experiência nova acreditamos que será de grande valia ao processo formativo,
ampliando as áreas de intervenção do Serviço Social frente às necessidades regionais
e aos problemas que se apresentam no cotidiano dos profissionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A região oeste do Paraná vem se destacando nestes últimos anos, no contexto
integrado do desenvolvimento econômico e social, pelas formas setoriais priorizadas
nos processos produtivos: agricultura, pecuária, indústria, transporte etc, cujas ações
impactam o ativo ambiental trabalhado e potencializado para a promoção das
condições de vida das comunidades locais. No que se refere à aplicabilidade dos
dispositivos das políticas ambientais, em especial, a de recursos hídricos, a
suinocultura é classificada como atividade produtiva com grande potencial poluidor,
pelos seguintes aspectos: grande volume de dejeto produzido pelo suíno; sistema de
criação por confinamento, que traz um aumento de volume e concentração de desejos
poluentes em pequenas áreas; concentração das propriedades ao redor de grandes
plantas industriais, regionalizando a atividade. 
É imprescindível a adequação desta atividade em expansão produtiva, tecnológica,
social, de competividade comercial nacional e internacional com as normas ambientais
em vigor, assegurando-se fundamentalmente, a qualidade de vida dos trabalhadores e
das comunidades locais dos assentamentos humanos direta ou indiretamente
favorecidos e desfavorecidos pelo processo produtivo. Assim, as ações norteadoras do
projeto de pesquisa estão voltadas para a política ambiental, e a sua operacionalização
através da educação ambiental dos diversos atores sociais envolvidos, entendendo-a
como um processo de formação social orientado para o desenvolvimento de atividades
e idéias que levam o homem a conhecer e utilizar os recursos do ambiente de modo
sustentado. 
Espera-se também, que esse projeto possa fortalecer as ações interdisciplinares na
formação universitária; e de avaliação dos espaços emergentes para a intervenção do
Serviço Social nas questões ambientais e definição de políticas ambientais; contribuir
com novos elementos teóricos e práticos para a consolidação do saber ambiental, e de
subsídios para os projetos locais e regionais de gestão ambiental integrada com
implicações transformadoras e sustentáveis nas atividades da suinocultura e outras;
integração com os projetos e ações coordenadas por órgãos governamentais e não
governamentais.
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www.sanepar.com.br/2003. 2003 - Ano Internacional da água doce. 
www.sema.gov.br/2003. A bacia hidrográfica do Paraná III.

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