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Responsabilidade Civil Pré Contratual
Nem sempre a intenção de contratar se materializa em um contrato propriamente dito. Primeiro há a fase negocial, período de preparação em que as partes discutem acerca do contrato através de longas tratativas e estudos preliminares, investindo tempo, dinheiro e empenho, e visando, mesmo que vagamente, sua celebração. Por vezes, uma das partes pode entender que não é o momento de assinar o contrato definitivo, por exemplo, por ocasião de situação econômica desfavorável. Por isso, os interessados partem para uma contratação preliminar, momento em que há troca de informações, com o intuito de formar o juízo de conveniência e oportunidade sobre o negócio.
O Código Civil brasileiro trata dos princípios que devem ser observados: “Art. 422 - Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Apesar de não falar especialmente do ante-contrato, fica claro que a fase de formação do compromisso também deve ter esses aspectos respeitados em face da regra geral de responsabilidade civil presente no mesmo código.
A pré-contratualidade se dá com o contato mantido entre as partes intencionando eventualmente firmar outro negócio posterior. Pode ser entendida por qualquer exteriorização de pensamento, por forma oral, escrita ou, até mesmo, comportamental, pelo qual consiga se extrair claramente a intenção. Porém, também é necessário o consentimento da parte contrária. 
O pré-contrato consiste na negociação das bases do contrato futuro. Nessa convenção devem-se expor todos os requisitos essenciais do negócio a ser celebrado. Ela tem como objetivo a concretização de um negócio futuro e definitivo. Seu conteúdo é, então, a obrigação de firmar o contrato posterior. 
É imprescindível que na fase de negociações cada uma das partes zele pela retidão, honestidade e boa-fé, para que uma eventual desistência do contrato não acarrete em qualquer prejuízo econômico ou moral à parte contrária.
Na falta da observação desses princípios, há a quebra da responsabilidade pré-contratual, que é tradicionalmente denominada na doutrina como “dano de confiança”. Ela se caracteriza pelo rompimento abusivo e arbitrário das tratativas ou negociações preliminares. É necessário a sua observação no caso concreto, pois o estágio da negociação deve estar avançado em tal ponto em que os postulantes entendam garantida a verdadeira existência do futuro contrato. Da mesma maneira, não é qualquer forma de desistência que gerará responsabilidade, esse fenômeno requer responsabilidade subjetiva, por rompimento injustificado das tratativas. 
Um dos elementos indispensáveis para o reconhecimento da existência da responsabilidade pelo rompimento das negociações preliminares é o consentimento à realização das negociações. Ele diferencia a iniciativa própria do indivíduo da iniciativa baseada no acordo entre as partes. Um agente pode ter a atitude, por si só, de realizar pesquisas, trabalhos e averiguações, tendo em vista um contrato prévio que ele se propõe a apresentar para outro sujeito. Porém, a não aceitação posterior do contrato pelo indivíduo ao qual ele foi apresentado não configura retirada arbitrária. O possível contratante não assumiu nenhuma garantia, então não se entende formada a relação de causalidade entre o fato e o prejuízo. Vale relembrar, todavia, que a aceitação à elaboração contratual não precisa ser expressa.
A observação de quatro pressupostos impede a quebra da confiança. São eles: 
1º) A existência de uma da confiança, que se entende por boa-fé subjetiva e ética do sujeito. Ela só merece proteção quando a parte que confiou estiver de boa-fé e tenha agido com o cuidado e as precauções necessárias.
2º) O fundamento da crença do indivíduo. Ela deve estar apoiada em elementos objetivos que poderiam ser gerados em uma pessoa normal.
3º) O pressuposto em que se demonstra o investimento dessa confiança em forma de decisões efetivas nela baseadas. Deve haver exteriorização desse sentimento.
4º) É a necessidade de tomar uma segunda conduta coerente com a primeira, também conforme a boa-fé e ética. Se essa conduta não for tomada, responsabiliza-se o agente pelos danos provenientes da conduta anterior. Isso ocorre, porque ele deveria prever, utilizando da cautela requerida a qualquer negociação, que a sua conduta poderia vinculá-lo ao princípio da boa-fé objetiva. 
A indenização nem sempre será naquele valor que seria o objeto do contrato. No caso da ruptura injustificada é cabível, em princípio, apenas a indenização do interesse negativo, ou seja, interesse da parte em não ser envolvida em negociações inúteis e desleais. Assim, pagam-se perdas e danos, tendo em vista a situação fática e o efetivo prejuízo da vítima. 
A indenização do interesse positivo, equivalente às vantagens que seriam auferidas pela parte com a conclusão e execução do negócio jurídico, pode ser necessária em alguns casos específicos. É possível, por exemplo, que a parte lesada tenha, durante as tratativas, recusado negociar com outras pessoas, por observação da boa-fé. Nesse caso, cabe a avaliação também do interesse positivo, pois apesar de não parecer, à primeira vista, razoável colocar o lesado em situação mais vantajosa do que alcançaria com o final positivo das negociações, todos os danos em relação de causalidade devem ser indenizados. Não é razoável a parte lesada ter de arcar com o comportamento desleal da outra. 
É bom salientar que é imprópria a propositura de ação de obrigação de fazer para que a parte desistente cumpra com o contrato. Cabe ao postulante, portanto, fazer o pedido indenizatório levando suas perdas em consideração e cabe ao juiz analisá-lo ao decidir. Esse pedido em juízo pode incluir tanto danos patrimoniais como morais. A ruptura de tratativas pré-contratuais gera essencialmente danos materiais, pelos valores já gastos durante as tratativas, porém podem ocorrer também danos imateriais. Eles são de mais difícil constatação e prova, e têm caráter retributivo. 
O parâmetro para a fixação do quantum indenizatório não deve ser o valor do contrato planejado pelas partes. Ele deve advir dos danos efetivamente sofridos por quem confiou legitimamente na conclusão do negócio jurídico. As perdas diretamente ligadas à ruptura injusta e desleal podem até mesmo superar o valor do contrato não firmado. É o chamado princípio da reparação integral dos danos que rege a responsabilidade pré-contratual.
	Dessa forma, haverá responsabilidade contratual no caso de um dos contratantes ter efetuado gastos gerais na elaboração do pré-contrato em virtude das fundadas expectativas geradas pelo outro contratante no sentido de futuro acordo definitivo. É importante entender que a violação da boa-fé pode ocorrer apesar da ruptura ser considerada, à primeira vista, legítima. Isso ocorre porque deve ser levada em conta a intensidade da confiança existente entre as partes, que é o grande vetor neste campo. Sendo assim, entende-se que a ilegitimidade dos motivos do rompimento dependerá diretamente do nível de confiança previamente estabelecido na relação, pois ela é o pressuposto para a legitimidade ou ilegitimidade dessa ruptura.
	Para formar a prova de confiança legítima nas discussões anteriores ao tratado, utilizam-se os instrumentos feitos para documentar as negociações e fixar os pontos já discutidos. Esses instrumentos provam, além da existência verdadeira de negociações, o nível de confiança produzido à contraparte sobre a conclusão do contrato. Assim, demonstram através de dados objetivos, que qualquer pessoa na mesma situação confiaria plenamente na celebração definitiva entre as partes, provando a ideia de estabilidade gerada.
	É importante deixar claro que a confiança que comprova a ilegitimidade da ruptura da relação pré-contratual não pode ser entendida como um sentimento subjetivo. Ela deve estar embasada em dados concretos e objetivos. Essa é a relevância da prova das conversas e tratativas e da formacomo foram executadas. Apesar disso, devem ser levadas em consideração, primeiramente, as condições pessoais das partes. Se houver, por exemplo, desnível concreto entre elas, de forma que uma esteja em posição de superioridade em relação à outra, pode-se entender que para quem está em posição inferior a certeza na conclusão do contrato surja antes do que surgiria para alguém acostumado a contratar.
	Outro pressuposto relevante para comprovar a confiança é o progresso das conversações, porque à medida que os pontos do futuro contrato vão sendo acertados, maior torna-se a certeza de que as negociações serão encerradas com sucesso. Na hora de mensurar o quão perto do fim estavam as tratativas, o juiz vale-se apenas dos pontos essenciais já acordados, deixando de lado os pontos acessórios.
Bibliografia:
FRITZ, Karina Nunes. A responsabilidade pré-contratual por ruptura injustificada das negociações. Revista dos Tribunais, v.883, p.9. 2009
FIOR, Mirella Cristina. A responsabilidade civil pré-contratual. Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v.9, n.9. 2012.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos. 5. ed, vol. 2. São Paulo: Editora Atlas, 2005.
SANTOS, Paula Ferraresi. Responsabilidade civil e teoria da confiança: análise da responsabilidade pré-contratual e o dever de informar. Revista de Direito Privado, v.49, p.209. 2012.
CHAVES, Antonio. Responsabilidade pré-contratual. Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil, v.2, p. 245. 2011.

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