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RESUMO: A NORMA PENAL Direito Penal é definido como um conjunto de normas jurídicas cuja função primordial consiste na proteção subsidiária de bens jurídicos. Binding e a teoria das normas Para esse autor lei e norma são questões absolutamente distintas. O delinquente não infringia propriamente a lei penal, realizava exatamente o que a lei previa como pressuposto para a imposição de pena. Violava, na verdade, algo que está por detrás da lei: a norma jurídica. A norma cria o antijurídico; a lei, o delito. A disposição legal compõe-se de preceitos e sanções, e a norma, prévia ao Direito Penal, é proibitiva ou imperativa (daí nascem à ação e a omissão) e está dirigida a todos como pressuposto para a aplicação de pena. Embora essa concepção de Binding tenha recebido a adesão de Von Liszt, quando estabeleceu a distinção entre antijuridicidade material e formal, acabou não vingando nem na doutrina germânica nem na doutrina internacional. Classificação das normas penais 1) As normas penais incriminadoras: têm a função de definir as infrações penais, proibindo (crimes comissivos) ou impondo (crimes omissivos) a prática de condutas, sob a ameaça expressa e específica de pena, e, por isso, são consideradas normas penais em sentido estrito. Compõem-se de dois preceitos: a) Preceito primário: encerra a norma proibitiva ou mandamental, ou, em outros termos, a infração penal, comissiva ou omissiva; b) Preceito secundário: representa a cominação abstrata, mas individualizada, da respectiva sanção penal. 2) Normas penais não incriminadoras: são aquelas que estabelecem regras gerais de interpretação e aplicação das normas penais em sentido estrito, repercutindo tanto na delimitação da infração penal como na determinação da sanção penal correspondente. As normas penais não incriminadoras podem ser permissivas, complementares ou explicativas. a) As normas permissivas: são aquelas que se opõem ao preceito primário da norma incriminadora, autorizando a realização de uma conduta em abstrato proibida. BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL b) As normas penais explicativas e complementares: correspondem àquelas proposições jurídicas que esclarecem, limitam ou complementam as normas penais incriminadoras dispostas na Parte Especial. Técnica legislativa do Direito Penal Quando o direito Penal prescreve as condutas contrárias à ordem jurídica, constrói a norma penal com duplo preceito, primário e secundário, que encerra o ato proibido e a respectiva sanção e as condições necessárias para sua aplicação. Essa peculiaridade da técnica legislativo-penal decorre fundamentalmente da necessidade inafastável da prévia descrição da conduta proibida, em obediência ao primado nullum crimen sine lege. No entanto, quando estabelece normas não incriminadoras, isto é, quando não tipifica condutas puníveis, o Direito Penal não utiliza a mesma técnica, mas formula proposições jurídicas das quais se extrai o conteúdo da respectiva norma, seja ela permissiva, explicativa ou complementar. A norma penal está contida na lei penal. E é através da lei penal que o legislador enuncia normas incriminadoras, definindo a infração penal e cominando a respectiva sanção; e, igualmente, normas não incriminadoras, estabelecendo pautas e limites para o exercício do jus puniendi estatal, através de normas permissivas, complementares e explicativas. Fontes do Direito Penal Fontes do direito são todas as formas ou modalidades por meio das quais são criadas, modificadas ou aperfeiçoadas as normas de um ordenamento jurídico. A classificação mais comum, qual seja, entre fontes materiais (fontes de produção) e fontes formais (fontes de conhecimento ou cognição): as primeiras relacionam-se à origem do direito, e as outras, às formas de manifestação das normas jurídicas. O Estado é a única fonte de produção (fonte material) do Direito Penal. O instrumento para materializar sua vontade é a lei. Dessa forma, a fonte de produção legítima de Direito Penal, em nosso ordenamento jurídico, é o legislador federal através das regras do sistema político-democrático. BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL Mas as ditas fontes formais (ou de conhecimento) podem ser mediatas e imediatas. Fonte imediata é a lei e como fontes formais mediatas apontam-se os costumes, a jurisprudência, a doutrina e os princípios gerais de direito. a) Costume: o princípio nullum crimen, nulla poena sine lege impede que o costume sirva de elemento integrador das leis penais na hipótese de lacunas. No entanto não deixa de ter grande importância e validade como elemento de interpretação. Confrontado com a lei, o costume pode apresentar três aspectos distintos: • Secundum legem: é o costume que encontra suporte legal; • Praeter legem: é o costume supletivo ou integrativo, destinado a suprir eventuais lacunas da lei, consoante previsão da LINDB. • Contra legem: é o costume formado em sentido contrário ao da lei. Essa modalidade de costume levaria à não aplicação da lei em razão de seu descompasso com a realidade histórico-cultural. Costumes secundum legem e praeter legem poderão ter validade para o Direito Penal, pois não pretendem criar ou agravar normas incriminadoras, mas buscam tão somente ajustar as demais normas às concepções sociais dominantes. O costume contra legem poderá, no máximo, contribuir para a interpretação da norma e, nesse sentido, inserir-se no conhecido princípio da adequação social. b) Jurisprudência: a jurisprudência não pode igualmente constituir fonte formal do Direito Penal porque o juiz, ao julgar, aplica o direito àquele caso concreto. A jurisprudência, entendida como a repetição de decisões num mesmo sentido, tem grande importância na consolidação e pacificação das decisões dos tribunais, contudo, não se pode negar, a extraordinária importância interpretativa que a jurisprudência tem, pois é ela que, em última análise, diz o que é direito. c) Doutrina: resultado da produção científica de cunho jurídico-penal na elaboração da chamada dogmática penal, realizada pelos pesquisadores- doutrinadores, que objetivam sistematizar as normas jurídicas, construindo conceitos, princípios, critérios e teorias que facilitem a interpretação e aplicação das leis vigentes. A doutrina, através de estudos e pesquisas, elabora e emite juízos de valor, apresenta sugestões procurando iluminar e facilitar o trabalho BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL dos aplicadores da lei. É exatamente essa contribuição intelectual da doutrina que facilita a atualização e evolução da jurisprudência e a modernização das próprias leis. Concluindo, enfim, somente a lei formal é fonte imediata das normas penais incriminadoras. Contudo, fora desses limites, deve-se admitir a existência das chamadas fontes mediatas, que, indiretamente, penetram no Direito Penal através de novas leis, a despeito da independência dos poderes, os legisladores não ignoram as contribuições dos costumes, da doutrina, da jurisprudência e dos princípios gerais de direito. Da interpretação das leis penais Interpretação e aplicação da lei são conceitos que, embora distintos, não deixam de se interpenetrar e de se complementar mutuamente. O processo interpretativo deve expressar com clareza e objetividade o verdadeiro sentido e o alcance mais preciso da norma legal, considerandotodas as suas relações e conexões dentro de um contexto jurídico e político-social. O Direito Penal não exige nenhum método particular de interpretação, diferente da interpretação jurídica geral. Assim, qualquer processo idôneo de hermenêutica pode ser aplicado no âmbito do direito criminal. Afora os limites determinados pelo princípio da legalidade, os resultados poderão ir até onde uma legítima e idônea interpretação os conduza. As diversas modalidades de interpretação em matéria penal Existem vários modos ou formas de interpretação: a) quanto às fontes; b) quanto aos meios; c) quanto aos resultados. Interpretação quanto às fontes Autêntica: fornecida pelo próprio Poder Legislativo, isto é, pelo Poder que elabora o diploma legal, por isso também pode ser denominada legislativa. O legislador edita nova lei para esclarecer o conteúdo e o significado de outra já existente. Essa interpretação conferida pelo legislador é, em princípio, obrigatória, especialmente quando proveniente de outra lei, que é a dita norma interpretativa, e, nesse particular, distingue-se da interpretação judicial e doutrinária. BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL Se a lei interpretativa limitar-se a aclarar o sentido e o alcance do dispositivo legal ou diploma interpretado, pode ser aplicada retroativamente a todos os fatos abrangidos por esse diploma. Havendo alguma inovação no novo diploma legal, contudo, fica vedada sua retroatividade, salvo quando tiver natureza mais benéfica Jurisprudencial: Produzida pelos tribunais por meio da reiteração de suas decisões. Não tem coercibilidade genérica, valendo, porém, de forma cogente para o caso submetido a julgamento. O direito protegido pela norma legal manifesta-se objetivamente por meio da interpretação judicial, concretizando o direito. A interpretação jurisprudencial ou judicial vincula o caso concreto que foi objeto da decisão, pela força da coisa julgada. Doutrinária: Produzida pelos doutrinadores, que interpretam a lei à luz de seus conhecimentos técnicos, com a autoridade de cultores da ciência jurídica. Quando se chega à uniformização do entendimento dos doutrinadores pode-se denominá-la communis opinio doctorum. Tem grande valor científico, pois através da doutrina se traçam os pilares do sistema jurídico-penal, contudo, a exemplo das outras fontes interpretativas, não tem força vinculante, no entanto indica o caminho a seguir, serve para fundamentar as decisões jurisprudenciais. Interpretação quanto aos meios Gramatical: também conhecida como literal, é a interpretação que se fixa no significado das palavras contidas no texto legal; em outros termos, a interpretação gramatical procura o sentido da lei através da função gramatical dos vocábulos, do significado literal das palavras utilizadas pelo legislador, ignorando, muitas vezes, que o sentido técnico de determinados termos não corresponde ao literal que a gramática normalmente lhe empresta. Nesse método interpretativo, recomenda-se que nunca se olvidem duas regras básicas: a) a lei não tem palavras supérfluas; b) as expressões contidas na lei têm conotação técnica e não vulgar. A lei jamais deve ser descartada quando está em jogo a imposição de uma sanção penal: nullum crimen sine lege. Histórica: embora não seja vinculante, oferece ao intérprete valioso dado histórico que não podem ser desprezados no ato interpretativo. Na verdade, o ideal é que ocorra aqui um entrelaçamento entre a interpretação histórica e a teleológica, perquirindo a “vontade histórica objetivada na lei”; ou seja, devem-se considerar o contexto histórico e os motivos que justificaram seu surgimento. BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL Lógico-sistemático: o intérprete investiga o sentido global do direito, que a lei expressa apenas parcialmente. Assim, busca-se situar a norma no conjunto geral do sistema que a engloba, para justificar sua razão de ser. Amplia-se a visão do intérprete, aprofundando- se a investigação até as origens do sistema, situando a norma como parte de um todo. Constitui valoroso instrumento de garantia da unidade conceitual de todo o ordenamento. Na verdade, somente se pode encontrar o verdadeiro sentido de uma norma se lhe for dada interpretação contextualizada. Com efeito, a ciência jurídico- penal constrói sistemas e microssistemas que auxiliam e facilitam a aplicação da lei penal. Dessa forma, todos os métodos interpretativos são válidos no marco do Direito Penal contemporâneo, desde que não se ignorem as peculiaridades do Direito Penal, sempre regido pelo princípio da legalidade (não admite analogia, costumes ou princípios gerais do direito nas normas incriminadoras). Sem lei não há crime nem pena. Interpretação quanto aos resultados Declarativa: expressa tão somente o sentido linguístico, literal, do texto interpretado, que seria a concordância entre o resultado da interpretação gramatical e o da lógico- sistemática. Na interpretação declarativa o texto não é ampliado nem restringido, correspondendo exatamente a seu real significado. Extensiva: procura reduzir ou limitar o alcance do texto interpretado na tentativa de encontrar seu verdadeiro sentido, porque se trata de uma exigência jurídica. Com efeito, é restritiva a interpretação quando se procura minimizar o sentido ou alcance das palavras que objetivam refletir o direito contido na norma jurídica. Lex dixit plus potius quam voluit (a lei diz mais do que quer). Restritiva: as palavras do texto legal dizem menos do que sua vontade, isto é, o sentido da norma fica aquém de sua expressão literal. Essa interpretação ocorre sempre que o intérprete amplia o sentido ou alcance da lei examinada. A analogia e sua aplicação in bonam partem A analogia não se confunde com a interpretação extensiva ou mesmo com a interpretação analógica. A analogia, convém registrar desde logo, não é propriamente forma de interpretação, mas de aplicação da norma legal. A função da analogia não é, por conseguinte, interpretativa, mas integrativa da norma jurídica. Com a analogia procura-se aplicar determinado preceito ou mesmo os próprios princípios gerais doBITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL direito a uma hipótese não contemplada no texto legal, isto é, com ela busca-se colmatar uma lacuna da lei A doutrina tem dividido o instituto da analogia em duas espécies: analogia legis e analogia juris. Ocorre a primeira hipótese quando se aplica uma norma legal a determinado fato não contemplado no texto legal, e a segunda quando o que se aplica são os princípios gerais de direito. A analogia é um processo que pretende cobrir essa lacuna, não criando uma nova lei, mas aplicando lei que discipline casos semelhantes. Ela não implica, por conseguinte, a criação de nova norma jurídica, mas o reconhecimento de um direito que já existe no sistema jurídico (analogia legis). Em síntese, a analogia supre uma lacuna do texto legal, ao passo que a interpretação extensiva procura harmonizar o texto legal com sua finalidade, isto é, com a chamada volunta legis O recurso à analogia não é ilimitado, sendo excluído das seguintes hipóteses: a) nas leis penais incriminadoras, como essas leis, de alguma forma, sempre restringem a liberdade do indivíduo, é inadmissível que o juiz acrescente outras limitaçõesalém daquelas previstas pelo legislador. Em matéria penal, repetindo, somente é admissível a analogia quando beneficia a defesa; b) nas leis excepcionais, os fatos ou aspectos não contemplados pelas normas de exceção são disciplinados pelas de caráter geral, sendo desnecessário apelar a esse recurso integrativo (que pressupõe a não contemplação em lei alguma do caso a decidir); c) nas leis fiscais, estas têm caráter similar às penais, sendo recomendável a não admissão do recurso à analogia para sua integração. Analogia e interpretação analógica: processo integrativo versus processo interpretativo A analogia tampouco se confunde com a interpretação analógica (que é uma espécie de interpretação extensiva), na medida em que esta decorre de determinação expressa da própria lei. Não se trata de analogia em sentido estrito, como processo integrativo da norma lacunosa, mas de “interpretação por analogia”, isto é, de um processo interpretativo analógico previamente determinado pela lei, ou seja, um meio indicado BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL para integrar o preceito normativo dentro da própria norma, estendendo-o a situações análogas. A interpretação analógica utilizada em muitos dispositivos penais, não deixa de ser uma espécie de interpretação extensiva, conhecida como interpretação analógica, em que a própria lei determina que se amplie seu conteúdo ou alcance, e fornece critério específico para isso. A “interpretação analógica”, repetindo, é processo interpretativo, distinguindo-se, portanto, da “analogia”, que é processo integrativo e tem por objeto a aplicação de lei. A interpretação analógica, ao contrário da analogia, pode ser, e normalmente é aplicada às normas penais incriminadoras. Estas, em obediência ao princípio nullum crimen, nulla poena sine lege, não podem ter suas lacunas integradas ou colmatadas pela analogia, em obediência exatamente ao princípio nullum crimen sine praevia lege. Analogia in bonam partem As normas penais não incriminadoras, que não são alcançadas pelo princípio nullum crimen nulla poena sine lege, podem perfeitamente ter suas lacunas integradas ou complementadas pela analogia, desde que, em hipótese alguma, agravem a situação do infrator64. Trata-se, nesses casos, da conhecida analogia in bonam partem. Em um Estado Democrático de Direito, jamais se deve admitir qualquer violação ao primado do princípio da reserva legal. Por isso, o aplicador da lei deve buscar o melhor sentido da lei, sem criá-la, sendo-lhe facultada, inclusive, em determinadas circunstâncias a interpretação extensiva da lei penal. A interpretação analógica é perfeitamente admissível pelo próprio ordenamento jurídico nacional. Permanece, contudo, a vedação absoluta do emprego da analogia, em razão do mesmo princípio da legalidade, salvo quando for para beneficiar a defesa. Leis penais em branco A maioria das normas penais incriminadoras, ou seja, aquelas que descrevem condutas típicas, compõe-se de normas completas, possuindo preceitos e sanções; consequentemente, referidas normas podem ser aplicadas sem a complementação de outras. Há, contudo, algumas normas incompletas, com preceitos genéricos ou indeterminados, que precisam da complementação de outras normas, sendo conhecidas, por isso mesmo, como normas penais em branco, também denominadas normas imperfeitas.BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL A inexistência da norma complementadora impede que a descrição da conduta proibida se complete, ficando em aberto a descrição típica. A norma complementar de uma lei penal em branco integra o próprio tipo penal. A doutrina tem distinguido, com fundamento na origem legislativa das normas, a sua classificação em normas penais em branco, em sentido lato e em sentido estrito. Em sentido lato: são aquelas cujo complemento é originário da mesma fonte formal da norma incriminadora. Nessa hipótese, a fonte encarregada de elaborar o complemento é a mesma fonte da norma penal em branco. Constata-se que há homogeneidade de fontes legislativas. Em sentido estrito: são aquelas cuja complementação é originária de outra instância legislativa, diversa da norma a ser complementada. Diz-se que há heterogeneidade de fontes, ante a diversidade de origem legislativa. É indispensável que essa integração ocorra nos parâmetros estabelecidos pelo preceito da norma penal em branco, sob pena de violar o princípio da reserva legal de crimes e respectivas sanções. A validez da norma complementar decorre da autorização concedida pela norma penal em branco, como se fora uma espécie de mandato, devendo-se observar os seus estritos termos, cuja desobediência ofende o princípio constitucional da legalidade. Por esse motivo também é proibido no âmbito das leis penais em branco o recurso a analogia, assim como a interpretação analógica. Funções e conteúdo da norma penal A norma penal tem a função de proteger as condições elementares da convivência humana, e motivar aos indivíduos a que se abstenham de desrespeitar essas condições mínimas. A função de proteção da norma penal consiste na proteção subsidiária de bens jurídicos. Além disso, a norma penal exerce a função de motivação do comportamento adequado ao Direito em sociedade, estabelecendo pautas mínimas de conduta que devem ser atendidas em benefício do bem-estar social. A interiorização dessas normas pelos membros da sociedade produz-se através de ameaça da imposição coercitiva de sanções penais. O Direito Penal é a única instância de controle social formalizado que pode exercê-la através de meios coercitivos formais, isto é, através da imposição de pena. Esse BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1 RESUMO: A NORMA PENAL entendimento se ajusta perfeitamente com o caráter fragmentário e de última ratio do Direito Penal, pois é, precisamente, pelo fato de que suas normas se aplicam em último caso para a proteção dos bens jurídicos mais relevantes para a sociedade, que lhe é permitida a utilização dos meios mais drásticos de coerção. A norma penal deve ser concebida como norma de valoração na medida em que contêm um juízo de valor acerca do justo e do injusto. Por outro lado, a norma penal expressa mandados e proibições de caráter imperativo, incidindo sobre a conduta de seus destinatários, para que atuem em conformidade com o Direito. Nesse sentido, a norma penal é concebida como norma de determinação e seu objetivo é fomentar, através da motivação coercitiva, as condições de convivência pacífica em sociedade. Deve-se, de fato, admitir que o conteúdo imperativo da norma penal está vinculado com a função preventivo geral da pena que, por sua vez, há de estar limitada pelo conteúdo valorativo da norma penal, cujo referente material consiste na proteção subsidiária de bens jurídico BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 17. Ed. São Paulo:Saraiva, 2012. V.1
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